Trabalho Individual Heurísticas
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Escola Superior de Educação Jean Piaget
Campus Académico de Vila Nova de Gaia
Conferência realizada pelo Professor Lou Brown,
na Fundação Calouste Gulbenkian, 12 de Junho de
2002
PÓS-GRADUAÇÃO/ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL: DOMÍNIO COGNITIVO E MOTOR
UNIDADE CURRICULAR: INTERVENÇÃO PRECOCE - DOMÍNIO COGNITIVO E MOTOR
Andreia Fonseca Lopes da Costa
Docente: Mestre Maria de Belém de Oliveira Cunha
Vila Nova de Gaia Abril 2015
Currículos Funcionais
Transição para a Vida Ativa
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ÍNDICE
O Autor…………………………………………..…………………………...
Resumo da Conferência ………………………………………………..…
Primeira Parte……………….....……………………………………………
Segunda Parte………………………………………………...…………….
Considerações Finais ……………………...………………………………
Referências Bibliográficas………………………………………………….
Andreia Fonseca Lopes da Costa (52650)
Currículos Funcionais
Transição para a Vida Ativa
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O AUTOR
Lou Brown, conhecido Defensor dos Currículos Funcionais, exerce funções no
Departamento de Reabilitação, Psicologia e Educação Especial da
Universidade de Wisconsin – EUA. Considerado um especialista na área
deficiência intelectual acentuada, possui uma longa experiência de vida na
conceção e implementação de programas educativos direcionados para a
preparação de alunos com necessidades educativas especiais para uma vida
autónoma e integrada.
A sua obra tem revelado enorme eficácia na inclusão educativa, social e
profissional de alunos com deficiências intelectuais acentuadas que constituem
1% da população normalmente distribuída.
Muitos dos programas educativos e de transição para a vida ativa
desenvolvidos hoje pelas escolas são já proclamados e defendidos por Lou
Brown há décadas. É assim um dos autores que mais tem contribuído para a
implementação de uma orientação escolar numa perspetiva de ação centrada
na pessoa.
Este autor é-nos assim apresentado como um estudioso desta temática, com
vasta experiência de vida na conceção e implementação de programas
educativos com o objetivo de preparar alunos com necessidades educativas
especiais para uma vida autónoma e integrada.
No dia 12 de Junho de 2002 o professor Lou Brown realizou uma Conferência
na Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito da temática de Currículos
Funcionais - Transição para a Vida Ativa. A Conferência teve dois momentos
distintos mas complementares, a primeira parte foi destinada à educação de
crianças e jovens com deficiência intelectual acentuada, e a segunda parte à
transição para a vida adulta de crianças e jovens com deficiência intelectual
acentuada. É sobre o seu excelente testemunho e partilha que iremos falar e
tentar refletir.
Currículos Funcionais
Transição para a Vida Ativa
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RESUMO DA CONFERÊNCIA
A Primeira Parte
Ao longo da primeira parte da conferência, o autor aborda a temática da
educação de crianças e jovens com deficiência intelectual acentuada.
Depressa entendemos que para Lou Brown a escolaridade não representa um
fim em si, mas apenas um meio para atingir um fim. Assim, a escola regular é
perspetivada como o espaço privilegiado para contribuir para uma sociedade
solidária e plural, capaz de promover a utilização da sua comunidade como
ambiente educativo, facilitar o acesso ao seu meio familiar e proporcionar o
desenvolvimento de relações sociais com colegas não deficientes.
No entender do autor é necessário aumentar o número de locais onde as
pessoas com deficiência podem ir, sendo que o ideal seria irem exatamente
aos locais que as pessoas sem deficiência naturalmente vão. Lou Brown, no
seu trabalho, utiliza uma estratégia a que chama “análise da vida no espaço
e no tempo” em que ele e a sua equipa estudam a vida da pessoa com
deficiência severa durante vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana,
para assim poderem contar o número de locais onde estes vão. A conclusão
desta análise é quase sempre a mesma, as pessoas com deficiências severas
não vão a muitos sítios.
De facto, se pensarmos e analisarmos alguns dos casos que conhecemos,
verificamos que os locais onde estas pessoas se deslocam é muito restrito. O
mundo das pessoas com deficiência intelectual severa é reduzido a dois ou três
locais e é urgente ampliá-lo…É precisamente aqui que reside um primeiro
objetivo e estratégia a adotar como educadores: fazer tudo o que pudermos
para aumentar o número de locais onde as pessoas com deficiência se
possam deslocar.
Só assim eles se sentirão plenamente integrados e só assim a sociedade se
habituará a vê-los como parte da mesma. Segregação leva a mais segregação
e Integração leva a mais integração. Só depois deste último é que poderemos
aspirar à inclusão…
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Assim com o aumento do número de locais, inevitavelmente estaremos a
aumentar o número de pessoas com que este se vai relacionar, ou seja
aumentamos a extensão das suas relações sociais. E aqui não nos estamos a
referir às pessoas remuneradas que fazem parte das suas vidas. Por vezes
estas não podem ser dispensadas, contudo, devemos sempre que possível
substituí-las por pessoas a quem não seja preciso pagar. Este será para nós
enquanto educadoras outro objetivo/estratégia: aumentar o número de
pessoas não remuneradas com quem possam interagir.
Todas as pessoas têm o direito de interagir com quem acham mais atraente,
contudo muitas das pessoas com deficiência intelectual severa não têm essa
oportunidade pois normalmente, na nossa realidade, estas pessoas estão com
pessoas com o mesmo problema. Como refere Lou Brown, “ historicamente, de
um modo terrível, confinámos as relações sociais de pessoas com deficiência a
pessoas com a mesma deficiência” e acrescenta algo simples que
consideramos deveras esclarecedor e uma regra a ter em conta, “quanto mais
deficiente se é mais se precisa de ter relações sociais com pessoas não
deficientes”.
Perante esta reflexão podemos então concluir que o lugar mais adequado para
estarem pessoas com deficiência será certamente a escola de ensino regular.
As escolas do ensino regular são locais privilegiados para a educação destes
alunos, visto terem condições naturais para proporcionar o apoio e o ambiente
favorável para que estes alunos possam estabelecer interações sociais
significativas, que os ajude a sentir que fazem parte do grupo e da comunidade
a que pertencem.
Será assim nas escolas de ensino regular que as pessoas com deficiência
poderão tornar o âmbito das suas relações mais abrangente e estendê-las para
fora da escola. E este será o terceiro objetivo a ter em mente: construir uma
variedade de relações sociais com os colegas da escola de ensino regular
e conseguir que essas mesmas relações se mantenham fora da escola.
E isto, tal como nos é dito por Lou Brown, só será possível se lhe
proporcionarmos experiências comuns e contatos frequentes. Eles
precisam de algo para partilhar. Lou Brown dá vários exemplos do dia-a-dia
que podem proporcionar momentos de partilha: uma sala de aula, um exercício
na aula de ginástica, a viagem no autocarro... Tudo experiências comuns que
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podem recordar juntos. Contudo o mais difícil será ultrapassar problemas de
comunicação. Este é um processo moroso e que deve ser feito diariamente,
várias vezes por dia.
Após estas condições (que são tudo menos fáceis) estarem reunidas estamos
preparados para gerar experiências significativas e individualizadas, de acordo
com os seus interesses pessoais e expetativas. Devemos escolher as coisas
mais importantes e não fazer o aluno perder tempo com coisas inúteis, ou seja
selecionar matérias de interesse que estejam dentro da sua capacidade de
aprendizagem. E aqui surge mais um objetivo/ estratégia pelo qual nos
devemos guiar: ensinar de forma concreta e atingível, de uma forma
sensata e empírica.
Pelas caraterísticas destas crianças e pelas dificuldades que habitualmente
apresentam em transferir e generalizar, nunca devemos ensinar nada que eles
não tenham oportunidade de praticar de preferência dentro de um contexto
previamente preparado para eles. Se conhecermos as caraterísticas de
aprendizagem destes alunos, mais fácil a será atingir os objetivos
anteriormente referidos. A ideia é conseguir que as aprendizagens destes
alunos sejam transferidas para o seu dia-a-dia. Mesmo que aprenda na escola,
se não as levar para a sua vida, significa que não pratica, significa que vai
esquecer…
Para Lou Brown, no caso das pessoas com deficiência intelectual severa, o que
se pretende é que aprendam a funcionar como um ser individual numa situação
integrada, a fazer qualquer coisa apropriada e com significado, sem interferir na
produtividade e bem-estar de pessoas não deficientes que estejam com ela.
Neste contexto o autor salienta a importância das atividades extracurriculares
promovidas pela escola, na medida em que estas são recreativas e, na sua
opinião, podem representar o princípio do futuro, da passagem para a vida
adulta.
O autor é da opinião que a aprendizagem deve ser feita mediante um
curriculum funcional. E acrescenta que quanto maior for o número de
competências funcionais, maior a privacidade, maior o número de escolhas,
maior a autonomia pessoal, maior a dignidade em variados contextos.
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É a participação ativa em experiências variadas e diversificadas, realizadas em
diferentes contextos, que ajuda a aprender as coisas mais simples da vida
(Orelove, Sobsey e Silberman, 2004, cit. por Nunes, 2005, pág. 67).
Com base nesta última referência, é evidente a importância de aumentar o
repertório de competências funcionais das pessoas com deficiência. Como já
foi referido anteriormente, é muitíssimo importante gerar experiências que
sejam significativas, aumentando desta forma a sua competência funcional.
Tal como Lou Brown refere, “significativo é pedir menos aos outros”, “dá-lhe
mais escolhas”. Assim poderemos esperar mais dele e elevar as nossas
expetativas de trabalho.
No fundo o que o autor defende é que estas pessoas devem estar inseridas
nas suas vizinhanças, na sua comunidade. Todas as aprendizagens devem-se
traduzir em experiências significativas. É através das experiências que
qualquer indivíduo aprende e se desenvolve. Cabe ao educador selecionar e
organizar a informação que seja útil e tenha interesse, deverá ter uma base
ecológica, onde as interações indivíduo/meio estejam subjacentes: a
criança/jovem movimenta-se na escola, em casa, na rua e as aprendizagens
proporcionadas deverão ir ao encontro das suas necessidades e interesses,
por forma, a diminuir cada vez mais a sua dependência dos outros (ao nível
pessoal, familiar, comunitário) (Nunes, 2010).
Por outras palavras, trata-se de utilizar um Currículo Funcional de forma
adequada para cada aluno e elaborar programas educativos numa perspetiva
funcional e da expansão de projetos de transição para a vida ativa.
Os ambientes educativos de aprendizagem onde estas crianças/jovens se
encontram devem ser: estimulantes; refletir os seus interesses e necessidades
(atuais e futuras); respeitar os seus ritmos de aprendizagem; considerar as
necessidades das suas famílias; proporcionar aprendizagens significativas e
ajudá-los a adquirir o máximo de independência pessoal (Nunes, 2008).
É necessário prestar atenção à forma como os ambientes de aprendizagem
são organizados. Devem ser ambientes estruturados e securizantes de forma a
criarem oportunidades para que os alunos com deficiências intelectuais
severas possam realizar trabalhos de parceria em pequenos grupos e possam
ter a atenção individualizada de que necessitam.
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Assim, educar alunos com deficiência Intelectual severa passou a ter como
objetivo central não unicamente a sua capacitação académica, mas, sobretudo,
o desenvolvimento de competências que contribuam para uma futura inserção
social e profissional e para uma vida autónoma e integrada.
Como refere o autor a determinada altura da conferência, “ se o seu filho tiver
deficiência intelectual severa vamos ensinar-lhe as mesmas atividades que
todas as pessoas precisam de saber fazer, desde que apropriadas. Se não as
conseguir fazer como os outros, modificamo-las especialmente para essa
criança. E se isso não for possível, arranjamos uma atividade alternativa dentro
da sala de aula de ensino regular.
A Segunda Parte
Na segunda parte, o autor fala sobre a transição para a vida adulta de
crianças e jovens com deficiência intelectual acentuada. O autor considera que
a preparação profissional destes alunos é extremamente importante para
atingir o grande objetivo da educação especial e do processo educativo em
geral, a transição para a vida ativa.
Lou Brown preocupa-se com a empregabilidade de pessoas com deficiência
intelectual severa, mais concretamente como colocá-las no mercado do
trabalho. Ao longo da conferência apresenta noções que apoiam a participação
ativa destes jovens e das suas famílias, no processo de Transição para a Vida
Ativa. Revela como preparar estes os jovens para uma vida ativa e para uma
inserção social e profissional com qualidade. Esta perspetiva educativa
funcional visa não só a criança e o jovem em idade escolar, mas procura,
igualmente, promover a sua qualidade de vida enquanto adulto. Este tipo de
ideologia e pensamento contribuiu para que, em muitos países, se
desenvolvessem novas estratégias capazes de fomentar o emprego, a
residência em espaços de tipo familiar, a existência de grupos de apoio
promotores de auto-estima e auto determinação, o suporte a jovens que
decidem criar laços conjugais, o apoio genérico de ordem social, cultural e
formativo.
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Como agentes educativos que somos a introdução destes aluno no mundo do
trabalho deve ser um objetivo primordial a ter em conta ao longo de todo o
processo educativo. Quando um aluno com deficiência intelectual severa
ingressa no ensino, espera-se que no final da sua escolaridade ele esteja
preparado para trabalhar no mundo real. Claro que, se num aluno dito normal,
este processo por vezes não é pacífico nem bem sucedido, com estes alunos o
risco é muito maior. Desta forma há que implementar estratégias para que seja
o mais bem sucedido possível.
Lou Brown fala-nos da sua vasta experiência em colocar alunos no mundo do
trabalho e explica toda a sua estratégia e processo. É evidente que ao ouvi-lo
tudo parece simples, mas a realidade para nós é outra. Contudo, temos noção
que o caminho também passa certamente por “descomplicar” e lidar com este
assunto com a maior naturalidade possível, acreditando sempre que é possível.
A grande questão que se coloca após a saída destes alunos da escola é: como
vamos conseguir que alunos com deficiência intelectual severa estejam
preparados para trabalhar no mundo real?
Na ótica de Lou Brown a necessidade passa por “conseguir abrir as portas das
empresas, para que os deixem entrar”. Só assim estes alunos estarão aptos
para entrarem no mundo real e o mundo real apto para os receber. A máxima
“ver e ser visto” poderá funcionar bem neste caso concreto. Quanto mais a
sociedade se habituar a ver e a lidar com pessoas com deficiência, menos
estranhará a sua presença e mais respeito haverá pela diferença. Teremos
assim uma sociedade mais evoluída…
Lo Brown e a sua equipa utilizam um método por fases, para conseguir colocar
os seus alunos no mercado de trabalho, na vida ativa. A primeira fase,
apelidada por “análise do meio laboral”, resume-se a ir ao local de trabalho,
ver o tipo de trabalho que é feito, as suas especificações e arranjar uma
pessoa com deficiência que se adeque a esse trabalho. Posteriormente ensina-
se as tarefas necessárias ao desempenho desse trabalho no próprio ambiente
de trabalho. Dado que estes alunos não têm capacidade de generalização, este
ensino deve estar relacionado essencialmente com a aquisição de requisitos de
comportamento inerentes ao próprio trabalho. Se a combinação for bem feita,
resolve-se de imediato o problema, caso contrário será terrível.
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A segunda fase, a “supervisão natural”, está relacionada com quantidade de
ajuda que estas pessoas devem ter. Algumas destas pessoas vão precisar de
ajuda o resto da vida, contudo quanto menos pessoas pagas tiverem a tomar
conta delas, mais capazes e individualmente conseguirão agir. Pois, tal com o
refere o autor, estas pessoas têm que funcionar individualmente num
determinado ambiente sem terem alguém pago para tomar conta delas e isto é
a supervisão natural.
Outra questão importante para que todo este processo corra bem, é a
proximidade que estes trabalhos devem ter das expetativas da pessoa com
deficiência e também da sua família. Assim, Lou Brown e a sua equipa põem
em prática uma estratégia que apelidam “plano de futuro pessoal”, que
basicamente é implicarem os pais na elaboração do plano de futuro do seu
filho. Através da realização de uma lista dos sonhos dos filhos e dos empregos
que sonhavam para eles, consegue-se chegar a pistas para empregos, que
conduzirão mais facilmente a uma combinação emprego-aluno bem sucedida.
No fundo, trata-se de uma estratégia direcionada para encontrar uma
combinação entre o que eles querem fazer, o que sabem fazer bem e o que
está disponível na comunidade.
Lou Brown , através de vários exemplos elucida-nos sobre algumas estratégias
para que as empresas/comunidade abram as portas a estes alunos. Algumas
destas estratégias estão intimamente relacionadas com as suas vivências e as
relações sociais que ele próprio estabeleceu. O autor alerta para a
importância das relações sociais e para a atenção que devemos dar àquele
amigo ou àquele conhecimento que nos pode abrir algumas portas ou fazer
chegar a alguém que possibilite essa abertura. Esta estratégia é apelidada por
Lou Brown de “estratégia de ambientes”, as páginas amarelas do nossa lista
telefónica…
De acordo com um estudo realizado no âmbito do projeto “Currículos
Funcionais – Transição para a Vida Ativa” pelo Instituto de Inovação
Educacional, um dos principais obstáculos sentidos pelas escolas na Transição
para a Vida Ativa situa-se precisamente na área laboral, ou seja, na dificuldade
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de aceitação de estágios pelas empresas e na procura de emprego (Costa,
2004).
De uma forma prática Lou Brown conta como fazem: pomos um pin num mapa
a indicar o sítio onde vive e pomos outro onde se encontra a primeira empresa.
Desenhamos um círculo à volta desses dois e começamos o trabalho de
angariação, a bater às portas e a falar com as pessoas.
Parece-me necessário refletir acerca da importância desta atitude e questionar
se todos os educadores responsáveis por este processo estarão disponíveis
para a tomar. Infelizmente, e de acordo com a nossa experiência, sabemos que
não e percebemos que para se desempenhar tais funções é necessário acima
de tudo ter o perfil adequado. No nosso entender ser professor de Educação
Especial requer todo um envolvimento emocional e confiança pessoal, capaz
de fazer ultrapassar possíveis obstáculos e frustrações inerentes ao próprio
trabalho.
Todo este processo de Transição para a Vida Ativa deve ser feito procurando
um progresso não de tipo vertical, mas horizontal, ou seja, aprender mais
coisas significativas, no mesmo nível de dificuldade. Princípio este que
evidentemente, funciona muito melhor em locais de trabalho do que na escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura da Conferência realizada pelo Professor Lou Brown, na Fundação
Calouste Gulbenkian traz, para os realmente interessados numa formação rica,
grande quantidade de conteúdos qualitativos e necessários para que se possa
entender o complexo assunto sobre deficientes.
No nosso ponto de vista esta conferência dá um contributo importante para a
compreensão dos fatores que podem levar a um aumento da empregabilidade
das pessoas com deficiência.
A mensagem transmitida pelo Professor Lou Brown é sustentada a maior parte
das vezes por exemplos reais, vividos por ele no seu contexto laboral, o que
faz com que seja de fácil compreensão e claramente difundida.
Ao longo da conferência o autor, através de uma linguagem muito clara e
precisa, apresenta os mais importantes aspetos que permeiam os sentimentos,
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direitos e necessidades dos deficientes e da sua família. Liga todos estes
fatores dando exemplos do trabalho real e efetivo de uma equipa
multidisciplinar que participa no processo da transição para a vida ativa da
pessoa que apresenta deficiência. A passagem dos seus conhecimentos foi de
facto possível e feita de forma notável. Não ficaram dúvidas sobre a
importância e a relevância do seu trabalho.
A postura de Lou Brown e a sua perspetiva educativa funcional leva-nos a
sentir uma extrema necessidade de aprofundar estes e outros assuntos de
forma a obter a capacidade de participar realmente deste "mundo" tão frágil e
ao mesmo tempo tão forte em que a pessoa com deficiência está inserida.
Pessoalmente esta conferência trouxe uma contribuição muito valiosa para a
construção da perceção de que o deficiente não deve ser motivo de dó, é um
indivíduo com características especiais que devem ser trabalhadas para atingir
a plena adaptação e auto-realização. Esta perspetiva transmitida por Lou
Brown, servirá certamente para no futuro nos ajudar a “traçar” o caminho a
seguir, pois acreditamos piamente na potencialidade dos seus métodos e
estratégias.
Sendo o processo de educação e transição de pessoas com deficiência
intelectual severa de grande complexidade e implicando uma análise
individualizada de cada aluno e de todo o contexto em que a sua vida se
desenvolve, parece-nos que o conhecimento do “tipo” de trabalho realizado
pelo professor Lou Brown e a sua equipa, pode ajudar a perceber a importância
que é caminharmos todos para o mesmo lado.
Assim, futuramente procurarei transmiti-lo, ainda que contextualizado a uma
realidade diferente, onde encontraremos variadíssimos obstáculos de várias
ordens…Contudo, sinto que se conseguirmos ter em mente estas
palavras/mensagem, isso talvez nos ajude a seguir um caminho com mais
firmeza e segurança, procurando sempre que a nossa intervenção educativa
junto destes alunos tenha como objetivo primordial a sua futura qualidade de
vida.
No nosso entender, as situações retratadas por Lou Brown vêm abrir os
horizontes, contudo também vêm revelar o longo caminho que ainda há a
percorrer não só pela organização escolar, como pelos agentes educativos
responsáveis pelo processo de educação e transição.
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No final e depois de absorver as palavras de Lou Brown, apraz-me citar um
provérbio que, de alguma forma, encerra o que anteriormente foi dito:
Siga os bons e aprenda com eles. Se não houver
frutos, valeu a beleza das flores. Se não houver flores, valeu a
sombra das folhas. Se não houver folhas, valeu a intenção das
sementes.
(Provérbio chinês)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Costa, A. et al (2004). Educação e transição para a vida pós-escolar de alunos
com deficiência intelectual acentuada: caracterização das respostas educativas
proporcionadas aos alunos dos 2º e 3º ciclos com currículos alternativos ao
abrigo do DL 319/91. Lisboa: Ministério da Educação.
Nunes, C., (2005). Os alunos com multideficiência na sala de aula. Parte IV. In:
SIMSIM, I. (Org.) Necessidades Educativas Especiais: Dificuldades da Criança
ou da Escola? Lisboa: Texto Editores.
Nunes, C. (2008). Alunos com Multideficiência e com Surdocegueira Congénita
– Organização da resposta educativa. Ministério da educação. Lisboa:
Departamento de Educação Básica.
Nunes, I. (2010). Planeamento Educativo e Programação de Atividades para
Alunos com Multideficiência. (Tese de Mestrado não publicada). Lisboa:
Instituto Politécnico de Lisboa, Escola Superior de Educação.