Tracionamento dentário mitos, coincidências e fatos Parte ll

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Controvérsias na Ortodontia

Tracionamento dentário: mitos, coincidências e fatos - Parte IIEste procedimento provoca anquilose alveolodentária?

O tracionamento tem como finalidade redirecionar a trajetória eruptiva e auxiliar, ou até substituir, a força eruptiva do dente não irrompido.

A posição intra-óssea do dente está condicionada pela posição original do germe, cronologia e seqüência de erupção, tamanho do maxilar, vetores de crescimen-to, relação de proximidade com os demais dentes e do funcionamento harmonioso dos genes relacionados à posição e demais caracte-rísticas dentárias.

A “força” eruptiva corresponde ao conjunto de movimentos que o germe executa desde a sua cripta inicial até quando boa parte da sua raiz já está formada e o dente localizado no plano oclusal.

Para estes movimentos acontecerem o folículo pericoronário libera mediadores que induzem as células ósseas à reabsor-ção. No ápice, provavelmente, a bainha de Hertwig faz o mesmo papel liberando mediadores para a reabsorção óssea peria-pical dar lugar à formação radicular. O dente assim se aproxima cada vez mais da mucosa bucal.

O folículo pericoronário tem uma exuberante estrutu-ra epitelial representada pelo epitélio reduzido do esmalte, além de cordões e ilhotas deixadas “propositadamente” pela fragmentação da lâmina dentária durante o seu desa-parecimento. Este epitélio libera o Fator de Crescimento Epidérmico – EGF – que inicia a cascata de eventos que resulta na reabsorção óssea pericoronária com inúmeros outros mediadores envolvidos.

No tracionamento dentário se não se obter 1,5 vez a distância mesiodistal da coroa do canino, por exemplo, pode aplicar uma grande força que o dente não chegará no seu lugar no arco dentário. O tracionamento não terá sucesso se não for para colaborar com o “motor” da erup-ção, ou seja, o folículo pericoronário. Para um carro ser tracionado, o motor deve ir junto, o mesmo deve ocorrer com o dente não irrompido, deve haver espaço para o folículo pericoronário.

Na raiz formada do dente não irrompido os Restos Epiteliais de Malassez (REM) liberam o EGF e estimula constantemente a reabsorção óssea periodontal, manten-do o espaço periodontal, sua principal função. Esta rede epitelial dos REM faz parte da estrutura periodontal. Sem função o ligamento periodontal pode atrofiar-se com redução do espaço periodontal e REM mais delicados e

esparsos. O osso alveolar pode em alguns pontos se aproximar e soldar-se ao dente iniciando um processo de anquilose alve-olodentária que apenas muito mais tarde, quando muito bem evoluída se revelará radiograficamente.

Outro detalhe importante: se no tracio-namento for aplicada uma força despropor-cional haverá rompimento do ligamento periodontal como na luxação e na avulsão. Não podemos confundir: tracionamento não lesa o ligamento, se isto acontecer o correto é chamarmos este procedimento de subluxação, luxação ou avulsão.

Concluindo: tracionamento provoca anquilose alveolodentária? Não. A anqui-lose se diagnosticada durante o traciona-

mento pode ser assim interpretada: 1) ela pré-existia por atrofia do ligamento ou traumatismo dentário prévio e ainda não aparecia radiograficamente; 2) no procedimento cirúrgico ou na aplicação da força houve subluxação ou lu-xação com rompimento focal ou total do ligamento perio-dontal; 3) houve manipulação excessiva da região cervical com eliminação indevida dos tecidos moles pericoronários durante a cirurgia para colagem do braquete.

O tracionamento dentário planejado adequadamente com espaço para o dente e seu folículo e realizado com forças adequadas deve ser comparado com o movimento dentário normal, especialmente com a extrusão, desde que também não se confunda extrusão com avulsão ou luxação.

por Alberto Consolaro

Prof. Dr. Alberto ConsolaroProfessor Titular em Patologia Bucal pela Faculdade de Odontologia de Bauru - FOB-USP - e-mail: [email protected]

100 • R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 2, n. 6, p. 100 - dez. 2003/jan. 2004