Tragedia Em Onibus Assassinadas Em Trans

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  • 8/17/2019 Tragedia Em Onibus Assassinadas Em Trans

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    Reportagem Especial

    2 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, SEGUNDA-FEIRA, 06 DE AGOSTO DE 2012

    TRAGÉDIA NO ÔNIBUS

    Assassinadas em Transcol lotadoMarido entrou noônibus e matou a mulhere uma passageira a tirosna Serra, diante decerca de 60 pessoas.Houve pânico no local

    RODRIGO GAVINI/AT

    PERITO observa o corpo de Rosiane. Ela estava sentada na fileira do motorista, perto da porta do meio no ônibus

    Eliane ProscholdtMichelli Possmozer

    Os planos de comemorar oaniversário de 22 anos napraia de Camburi, em Vitó-

    ria, foram interrompidos antesmesmo da manicure Rosiane Bor-ges Carvalho chegar ao seu desti-no. Sem aceitar o fim do relaciona-mento, seu marido a matou dentrodo Transcol e ainda tirou a vida deoutra passageira.

    Mas a cena ocorrida às 9h50 deontem, no bairro Eldorado, na Ser-ra, não parou por aí. Após matar amulher e a outra passageira, o ma-rido, o ajudante de pedreiro Glau-cio Araújo Farias, 24, pegou o seurevólver calibre 32 que tinha com-prado naúltima quinta-feira e deuum tiro na testa.

    Glaucio foi socorrido e levadopara Hospital Dório Silva, em La-

    ranjeiras, na Serra, onde permane-ce internado. O hospital informouque oquadro dele é grave. Já aSe-cretaria de Estado daSaúde (Sesa)disse que ele está estável.

    Rosiléia Alvarenga, 19, que nãotinha nada a ver com a confusão, selevantou assustada na hora da bri-ga do casal e foi atingida com umtiro. Ela também foi socorrida parao mesmo hospital, onde morreu.

    Diante desse cenário,cerca de 60passageiros que viajavam no ônibus,da linha 856, Terminal Laranjei-ras/Cidade Pomar, via PortoCanoa,entraram em pânico.

    O motorista do ônibus, Agustinhode Araújo Neto, 49 anos, contou quesaiu de Cidade Pomar em direção aoTerminal de Laranjeiras, às 9h20.

    Eram 9h50, quando ele ouviu ostiros e pessoas gritando. “Eu não vinada. Só ouvi o barulhodos tiros ea confusão. Só pensei em abrir asportas para o pessoal descer”.

    O casal morou junto por cercade cinco anos, segundo a família,mas há três semanas a manicuredecidiu colocar fim ao relaciona-mento, que era muito conturbado.

    Eles já tinham se separado vá-rias vezes, por conta de agressões,mas ela retornava por causas dasameaças, inclusive a familiares.

    “Mãe, Glaucio vai me matar”Prevendo que iria morrer, a ma-

    nicure Rosiane Borges Carvalhopediu socorro à mãe pelo telefone,enquanto discutia com o maridoGlaucio Araújo Farias.

    “Ela ligou para mim e disse 'mãe,mãe, me acolhe aqui que o Glauciovai me matar'”, contou aos prantosa mãe Rosalina Borges, 56 anos,que é dona de casa.

    Em estado de choque, Rosalinatentava saber onde a filha estava,mas ela não conseguiu mais ouvir

    a voz da jovem.Em seguida, a irmã da vítimaItalva Borges Moreira, 36, que éauxiliar de serviços gerais, pegou ocelular e tentava de alguma formaajudar a manicure.

    Mas segundo a irmã, ela ouviuquando o marido deu um tapa no

    rosto de Rosiane. Logo depois, ocelular caiu no chão do ônibus.

    “Ele começou a bater nela, comsocos e chutes, e eu consegui ouvirminha irmã gritando por socorro.Fiquei desesperada e impotente”.

    No local do crime, as pessoasdisseram que Rosiane e Rosiléia

     Alvarenga, que foi atingida antesda manicure, eram amigas. No en-tanto, familiares de ambas garanti-ram que elas não se conheciam.

    Uma testemunha que estava no

    ônibus suspeitou que Rosiléia foimorta porque viu Glaucio armado,se levantou assustada e tentou cor-re r.

    “Acho que ele imaginou que elairia reagir e acabou atirando nela”,contou o passageiro, que pediu pa-ra não ser identificado.

    PERFIS

    Rosiane Carvalho> NASCEU EM CONCEIÇÃO da Barra, no

    Norte do Estado. Na infância, mudoupara a Grande Vitória.> COM 17 ANOS, começou a namorar

    com Glaucio Araújo Farias. Depois deseis meses, foram morar juntos.

    > ELA ERA católica, torcedora do Fla-mengo e deixou 9 irmãos.

    > ERAmanicure. Seu sonho era montarum salão de beleza.

    Como foi o crime Assassino entrou no ônibus e sentou perto da vítima

    Rosiléia Alvarenga> NASCEU EM NOVA VENÉCIA, mas

    com 3 anos mudou com a família pa-ra São Mateus, no Norte do Estado.> MOROU EM FUNDÃO, onde concluiu

    o ensinomédio e atualmenteestavamorando com os pais no bairro Cida-de Pomar, na Serra.

    > ERA CATÓLICA e torcedora do Vasco.> TINHAnamorado e sonhava em arru-

    mar um emprego.

    Bolo de presentede aniversário

    na vésperado crimeNo sábado à noite, um dia antes

    de Rosiane Borges Carvalho com-pletar 22 anos, o marido levou um

     bolo de festa e dois litros de refri-gerante na casa onde ela moravacom a mãe, em Cidade Pomar.

    De acordo com Italva BorgesMoreira, que é irmã da vítima, elanão estava em casa quando o mari-do chegou para entregar o bolo.

    “Na mesma hora, eu mandeiuma mensagem para a minha ir-mã, dizendo que não era para virembora porque a gente já sabiaque ele iria matá-la”, relatou.

    Rosiane só voltou para casa de-pois que Glaucio já havia ido em- bora. Ao chegar na casa da mãe, ela jogou o bolo no lixo, pois pensouque estava envenenado.

    Junto como bolo, ele teria man-dado o recado “feliz aniversárioporque você vai morrer”.

    O EMBARQUEAs duas jovens estavam em

    cadeiras separadas. O marido deRosiane (de branco), Glaucio, seguiuo ônibus e embarcou três pontosdepois. Ele sentou atrás das duas.

    1 A DISCUSSÃOQuando o ônibus passava emEldorado, na Serra, o marido sentoudo lado da manicure. Ela estava aolado do corredor. Os dois discutiram eela ligou para a mãe, sendo agredida.

    2 PRIMEIRO TIROAo ver a discussão e a arma, aoutra passageira, que estava sentadana frente da manicure, teria levantado,sendo atingida por um tiro no rosto.Ela caiu no chão, agonizando.

    3 OUTROS TIROSDesesperada, a manicure selevantou, mas foi atingida em seguidacom dois tiros: rosto e costas. Elamorreu na hora. Os passageirosentraram em pânico.

    4 TIRO NA TESTAO marido deu um tiro na testa,caindo no chão. Os passageirosligaram para a polícia pedindosocorro, momento em que Glaucio,agonizando, implorou por ajuda.

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    FOTOS: FACEBOOK

    ROSIANEera mulher do assassino ROSILÉIAera a passageira

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    Reportagem Especial

    VITÓRIA, ES, SEGUNDA-FEIRA, 06 DE AGOSTO DE 2012 ATRIBUNA 3

    TRAGÉDIA NO ÔNIBUS

    “A polícia negou ajudaa minha filha”, diz mãeInterrompendo a fala em váriosmomentos por causa do choro,a dona de casa Rosalina Borges,mãe de Rosiane Borges Carvalho,afirmou estar indignada com aseis, que liberam a pessoa que foi

    presa com pagamento de fiança.Ela também criticou a polícia ale-

    gando que a filhaprocurou o De-partamento de Polícia Judiciária(DPJ) dois dias antes de morrer,mas um policial teria dito que ela te-ria que esperar o resultadode umaaudiência que aconteceria no pró-ximo dia 12 para prestar queixa.

    Essa audiência seria referente àtentativa de homicídio em feverei-ro de 2011, quando ele tentou ma-tá-la a facadas.

    A TRIBUNA - Por que o Glauciomatou sua filha?

    ROSALINA BORGES - Po rqu e

    ele não aceitava a separação. Mi-

    nha filha estava cansada de apa-nhar. Ele era um psicopata! Tantoque já chegou a espancá-la com

    socos e chutes no meio da rua.>E a família já tentou intervirno casamento?

    Já sim. A gente falou para ela seseparar e ela tentou, masele sem-pre insistia e minha filha acabava

     voltando. Até que ela não aguentoumais e separou de vez. Eu pedi tan-to a ele para deixar minha meninaem paz, mas ele disse que não dei-xava porque gostava dela.> Falou com a Rosiane hoje

    (ontem)?Sim. Ela não dormiu direito à

    noite porque já sabia que ele queriamatá-la. Como hoje (ontem) eraaniversário da minha filha, eu deium abraço nela e disse “feliz ani-

     versário, filha! Eu não tenho nada

    para te dar, mas desejo que esse ra-

    paz te deixe em paz” ( c h o ro ) .>Como ela soube que ele que-

    ria matá-la?

     A mãe dele ligou para o celulardela na quinta-feira, dizendo queele havia comprado uma armapa-ra matá-la. Na sexta, ela foi ao DPJda Serra, mas os policiais disseramque ela não poderia registrar quei-xa, já que teria uma audiência nopróximo dia 12.>Por que essa audiência?Porque em fevereiro do ano pas-

    sado ele tentou matar a minha fi-lha a facadas. Desde então, ela es-tava com medida protetiva.>O que a família espera?Se ele ficar vivo, eu quero que ele

    pague pelo que fez na cadeia. Euquero justiça, porque hoje a pessoamata, paga um valor na delegacia eé solta. Se ele estivesse preso mi-

    nha menina estaria aqui! (choro).

    JULIA TERAYAMA/AT

    ROSALINA BORGES, mãe da manicure morta, disse que a mãe do assassino alertou que ele queria matar sua filha

    Delegado desconhece as queixasO delegado de plantão Adelias

    Vieira da Costa, que deu início àsnvestigações no caso de Rosiane

    Borges Carvalho, afirmou que nãoteve conhecimento de que a vítimaprocurou o DPJ antes de ser assas-sinada pelo marido dentro doTranscol na manhã de ontem.

    Segundo o delegado, ele ouviuuma das irmãs da vítima, a dona decasa Kátia Borges, 26 anos, e emnenhum momento do depoimento

    foi informado que Rosiane procu-rou o DPJ da Serra na sexta-feirapara prestar queixa de ameaça dem o r t e.

    No entanto, ele relatou que casoela tenha procurado a delegacia,deveria ter sido registrado o bole-tim de ocorrência.

    “O correto seria ela procurar aDelegacia da Mulher no municí-pio, se foi no meio da semana. Mas,o procedimento normal de quei-

    xasde ameaça demorteé que sejaregistrada a ocorrência e, depen-dendo, o autor das ameaças podeser intimado ou até preso”.

    O delegado afirmou, portanto,que não pode responder sobre aida de Rosiane ao DPJ, pois o casoprecisa ser informado primeiropelos familiares à Divisão de Ho-micídios e Proteção à Pessoa

    (DHPP), para depois ser apurado.No decorrer da semana, outros

    familiares de Rosiane serão ouvi-dos no inquérito para saber se a ví-tima procurou o DPJ antes de serassassinada.

    Segundo o “Mapa da Violênciano Brasil de 2012”, 101 mulheresforam assassinadas desde o iníciodeste ano.

    Desconfiança de gravidezDesconfiada de que estava grávi-

    da de dois meses, Rosiane Borges Araújo morreu com as mãos na barriga.

     A dona de casa Rosalina Borges,mãe da vítima, contou que a filhairia procurar o laboratório hoje pa-ra fazer o exame, pois já estava hácerca de dois meses com a mens-truação atrasada.

     Ainda segundo a mãe, o maridoGlaucio Araújo Farias sabia dasuspeita de gravidez.

    Chorando, a irmã de Rosiane,Italva Borges Moreira, contou que,no começo deste ano, a manicureperdeu um bebê, no quarto mês degesta ção.

    Ela relatou que, mesmo diantedas ameaças, sua irmã estava feliz,pois tinha conseguido um empre-go em uma padaria, como aten-dente, cujo primeiro dia de traba-lho seria hoje.

    “Minha irmã fazia unha, aten-dendo de porta em porta, mas es-

    tava feliz, pois com esse novo em-prego pretendia juntar dinheiro emontar um salão de beleza”.

    Ela disse que a irmã também es-

    tava feliz, pois estava concluindo oensino fundamental. “Ela dizia quesonhava em fazer faculdade e seralguém importante um dia”.

    Quanto ao relacionamento comGlaucio, a dona de casa Kátia Bor-ges, 26 anos, disse que a irmã gostoumuito de Glaucio, mas que, por con-ta das brigas, ela confessou há algumtempo que não era feliz com ele.

    VELÓRIOO velório dela está sendoem um

    antigo ponto de comércio, em Cida-de Pomar, onde ela morava. O sepul-tamento seráàs 10 horas de hoje nocemitério São Domingos, na Serra.

    Já o velório de Rosiléia estáocorrendo na casa do irmão, emNova Carapina II, na Serra, e ocorpo será enterrado no mesmocemitério do enterro da manicure.

    JUSSARA MARTINS/AT

    KÁTIA tenta consolar a irmã, desesperada com a morte de Rosiane

    Pena pode chegar a 30 anosSe condenado, Glaucio Araújo

    Farias pode pegar de 12 a 30 anosde prisão, de acordo com o titularda Divisão de Homicídio e Prote-ção à Mulher (DHPM), delegado

     Adroaldo Lopes.Com base no depoimento de fa-

    miliares das vítimas, Glaucio foi

    autuado em flagrante por duplohomicídio e está internado noHospital Dório Silva sob escoltapolicial.

    De acordo com o delegado deplantão Adelias Vieira da Costa,depois que o acusado receber altado hospital, será encaminhado pa-ra o presídio. A previsão é de que o

    inquérito seja concluído em 10d i as.

    A JU DAUma testemunha que estava no

    ônibus contou que logo depois dedar um tiro na testa, Glaucio pediuajuda.

    “Um passageiro estava ligandopara a polícia ou Samu para pedirsocorro para Rosiléia Alvarenga eele, enquanto agonizava, dizia,com dificuldades de falar: 'me aju-da'”, contou uma testemunha, quepediu para não ser identificada.

    Revoltado, o passageiro xingou:'ajuda, o c...'”

    RODRIGO GAVINI/AT

    PARENTE de uma das vítimas chora dentro do ônibus onde ocorreu o crime

    RODRIGO GAVINI/AT

    ARMA usadapor Glaucioficou ao ladodo corpo deRosiane, dentrodo Transcol

    “Ele nãoaceitava a

    separação. Chegoua espancá-la comsocos e chutes nomeio da rua e meufilho teve queseparar”

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