TRAJETOS DO MEDO: A profissão dos mototaxistas de ... · experiências de trabalho nas quais...

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1 TRAJETOS DO MEDO: A profissão dos mototaxistas de Imperatriz-ma 1 Ana Paula Pinto Pereira 2 , UFMA Jesus Marmanillo Pereira 3 , UFMA RESUMO - O presente texto busca analisar como o sentimento de medo compõe o cotidiano dos mototaxistas da cidade de Imperatriz-MA. Para tanto, desenvolvemos uma narrativa focada na compreensão da formação e cotidiano desse grupo de trabalhadores e dos efeitos do sentimento de medo nas interações vividas por eles, durante o tempo de profissão. Para tanto, buscamos nos aproximar da perspectiva da etnografia da duração. Fazemos, portanto, a utilização de imagens enquanto meios para trazer à tona narrativas de experiências que retratem o sentimento de medo, insegurança e vulnerabilidade dos mototaxistas. Orientados por autores como Koury (2005), Barreira (2013), Rocha e Eckert (2013), verificamos que tais sentimentos coexistiram com a própria história da regularização do ofício e que as experiências desses trabalhadores apontam para percepções e classificações de lugares e formas de interagir em meio aos contextos de medo, insegurança e vulnerabilidade. Palavras Chaves: Medo. Mototaxistas. Imperatriz (MA). Key words: Fear. Bike taxi. Imperatriz (MA) INTRODUÇÃO Partindo da leitura dos Jornais “O Progresso” e o “O Capital”, periódicos impressos na cidade de Imperatriz durante a década de 1990, notamos que nessa década emergiu uma nova modalidade de transporte público na cidade de Imperatriz: a dos mototaxistas. Trata-se de um tipo de profissional que estava inserido em uma configuração (ELIAS, 1999) composta por outras modalidades de serviço de transporte 1 “Trabalho apresentado no II Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, realizado entre os dias 25 e 27 de outubro de 2016, Belém/PA” 2 Ana Paula Pinto Pereira [email protected] Acadêmica do curso de Ciências Humanas/Sociologia na Universidade Federal do Maranhão e integrante do Laboratório de Estudos e Pesquisas Sobre Cidades e Imagens (LAEPCI) 3 [email protected] Doutor em Sociologia (UFPB). Professor do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Sociologia, da Universidade Federal do Maranhão. Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas Sobre Cidades e Imagens (LAEPCI)

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TRAJETOS DO MEDO:

A profissão dos mototaxistas de Imperatriz-ma1

Ana Paula Pinto Pereira2, UFMA

Jesus Marmanillo Pereira3, UFMA

RESUMO - O presente texto busca analisar como o sentimento de medo compõe o

cotidiano dos mototaxistas da cidade de Imperatriz-MA. Para tanto, desenvolvemos

uma narrativa focada na compreensão da formação e cotidiano desse grupo de

trabalhadores e dos efeitos do sentimento de medo nas interações vividas por eles,

durante o tempo de profissão. Para tanto, buscamos nos aproximar da perspectiva da

etnografia da duração. Fazemos, portanto, a utilização de imagens enquanto meios para

trazer à tona narrativas de experiências que retratem o sentimento de medo, insegurança

e vulnerabilidade dos mototaxistas. Orientados por autores como Koury (2005),

Barreira (2013), Rocha e Eckert (2013), verificamos que tais sentimentos coexistiram

com a própria história da regularização do ofício e que as experiências desses

trabalhadores apontam para percepções e classificações de lugares e formas de interagir

em meio aos contextos de medo, insegurança e vulnerabilidade.

Palavras Chaves: Medo. Mototaxistas. Imperatriz (MA).

Key words: Fear. Bike taxi. Imperatriz (MA)

INTRODUÇÃO

Partindo da leitura dos Jornais “O Progresso” e o “O Capital”, periódicos

impressos na cidade de Imperatriz durante a década de 1990, notamos que nessa década

emergiu uma nova modalidade de transporte público na cidade de Imperatriz: a dos

mototaxistas. Trata-se de um tipo de profissional que estava inserido em uma

configuração (ELIAS, 1999) composta por outras modalidades de serviço de transporte

1 “Trabalho apresentado no II Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, realizado entre

os dias 25 e 27 de outubro de 2016, Belém/PA” 2Ana Paula Pinto Pereira

[email protected]

Acadêmica do curso de Ciências Humanas/Sociologia na Universidade Federal do Maranhão e integrante

do Laboratório de Estudos e Pesquisas Sobre Cidades e Imagens (LAEPCI) 3 [email protected]

Doutor em Sociologia (UFPB). Professor do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Sociologia, da

Universidade Federal do Maranhão. Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas Sobre Cidades e

Imagens (LAEPCI)

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público, como, por exemplo, ônibus coletivos e táxi. Observamos um contexto dividido

entre os que apoiavam a nova modalidade e os que se posicionavam contrários.

Em meio a esse conjunto de atores sociais e relações, um aspecto já se fazia

presente no cotidiano desse grupo: a vulnerabilidade ao qual estavam expostos,

inclusive dentro da própria categoria de prestadores de serviço do transporte. Nesse

âmbito, o presente artigo pretende analisar a relação entre a profissão e o sentimento de

medo na cidade de Imperatriz-MA. Mais especificamente analisar as formas como o

medo influencia (direta ou indiretamente) as relações entre mototaxistas e passageiros,

e, também, nas classificações de locais denominados perigosos. Apresentaremos,

portanto, um estudo qualitativo e descritivo, orientado pela noção de etnografia da

duração (ECKERT e ROCHA, 2011) cujo objetivo é destacar intrigas e compreender o

cotidiano dos mototaxistas na perspectiva do medo e sociabilidade. Foram considerados

também as contribuições de Koury (2005), Rocha e Eckert (2013), Barreira (2013) e

outros autores que exploram a relação entre o medo e formas de sociabilidade.

Em termos metodológicos, nossa pesquisa de campo foi composta por um

conjunto de operações como observação direta em dois pontos de mototaxis localizados

no centro de cidade de Imperatriz, realização de seis entrevistas tanto com trabalhadores

que vivem desse ofício, quanto por outros que vivenciaram essa experiência de trabalho,

nos períodos iniciais da organização dessa categoria de trabalhadores. Foram coletadas,

também, fontes documentais no Sindicato dos mototaxistas (Sindmoto), e recortes dos

jornais O Progresso e o Capital que contemplavam as décadas de 1970 e 1990,

presentes no Acervo do Curso de Comunicação da UFMA de Imperatriz.

O resultado disso, nas pesquisas de campo, foi à utilização de imagens (anexo

II) – retiradas de jornais e de reportagens recentes da web– com o intuito de auxiliar no

processo de rememoração do passado, das intrigas vividas por esses atores sociais.

Assim, o uso das fotografias tinha o intuito de fazer os entrevistados relembrarem de

experiências de trabalho nas quais tiveram os sentimentos de medo e vulnerabilidade.

Após isso, buscamos explorar aspectos das interações relatadas, enfatizando as formas

de classificação e construção de estigmas. Enfim, tais opções influenciaram a

organização do texto para a elucidação de 1) aspectos históricos do cenário urbano de

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Imperatriz e da organização dos mototaxistas e 2) a questão do medo, quais as

implicações do sentimento do medo, de vulnerabilidade frente ao outro desconhecido.

CENÁRIOS URBANOS: MOTOTAXISTAS, ASPECTOS HISTÓRICOS E O

ENCONTRO COM O MEDO.

A princípio, por volta da década de 1970 e 1980, o transporte público de

Imperatriz se resumia aos ônibus coletivos de empresas privadas e aos taxis, que eram

uma forma de transporte alternativo autônomo e regularizado. Naquele período, a

urbanização e desemprego, relatado pelos cinco informantes (Anexo II) eram aspectos

que podiam ser relacionados, facilmente, ao surgimento de novas formas de emprego e

de trabalhadores como, por exemplo, os mototaxistas – trabalhadores que possuíam

atividades similares aos dos taxistas, contudo realizadas na motocicleta, o que gerava

um baixo custo, tanto para quem oferecia o serviço, quanto pra quem o utilizava.

Gráfico 1- Aumento da população na cidade de Imperatriz-MA

Fonte: IBGE (2016)

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

1970 1980 1991 2000 2010

Urbana

Rural

Total

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Para compreender um pouco do processo de urbanização da cidade de

Imperatriz-MA e, mais especificamente, dos períodos que compreendem as décadas de

1970 e 1980 basta verificar no gráfico 1. O instituto mostra que no decorrer dessas

décadas ocorreram aumentos populacionais respectivos de 321,7% e 188,2%, o que

significou uma mudança de 34.698 habitantes em 1970 para 111.619 em 1980, e

210.051 em 1991. Isso nos faz imaginar que a densidade das ruas da cidade já que era

como o se os transeuntes passassem de um para, aproximadamente, quatro na primeira

década e para quase o dobro na década seguinte.

O mesmo gráfico aponta a diminuição da população rural no do município de

Imperatriz-MA, explicada por Franklin (2005) em função da grande perda territorial

ocorrida no inicio da década de 1990: ocasionada pela criação dos municípios de Edison

Lobão, Divinópolis, São Francisco do Brejão, São Pedro da Água Branca e Vila Nova

dos Martírios4. Além disso, o autor enfatiza que entre as décadas de 1970 e 1980 o

município recebeu 93.077 imigrantes constituídos por: 60.025 (64,5%) maranhenses,

7.077 goianos, 4.460 piauienses, 3.959 cearenses, 3.843 mineiros, 2.984 paraenses,

1.138 pernambucanos e 1.116 capixabas. E, no período posterior, entre 1980 e 1991

recebeu 88.560 que representou 32% do total da população. Tanto as migrações quanto

as divisões territoriais foram responsáveis uma série de mudanças na cidade, no

decorrer da década de 1990, especialmente em relação à oferta de serviços

especializados como internet, cinema e, principalmente, de transportes que

possibilitassem o deslocamento e conexão ao longo da crescente área urbana cuja

expansão era alimentada pelos contingentes migrantes.

Em um contato preliminar com os jornais das décadas de 1970 e 1990,

observamos um conjunto de 30 notícias jornalísticas5 que nos possibilitaram ter uma

noção do processo de implementação e expansão dos transportes públicos e alternativos

em Imperatriz-MA. Notícias como: “Ônibus estenderão linhas aos subúrbios:

beneficiados os de Maranhão Novo e Bacuri” (O Progresso, 14/05/1991) e “A

população quer terminal integrado (O Capital, 12/09/1997) sinalizam uma expansão do

4 Dessa forma, grandes porções de áreas rurais dos municípios de Imperatriz passaram a ser contabilizado

nos municípios recém-criados, o que significou uma perda de mais de cinco mil quilômetros quadrados, e

reforço da população urbana, que segundo Franklin (2005) passou a ter uma representatividade de 95%

do total do município. 5 Verificar nas referências

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centro comercial rumo aos bairros adjacentes e a necessidade e carência de transportes

públicos na cidade”.

Foi nesse contexto, da década de 1990, que os mototaxistas passaram a transitar

pelas ruas de Imperatriz. Tratava-se de novos atores sociais que estavam inseridos em

uma configuração (Elias, 1999) composta por outros tipos de trabalhadores do

transporte: motorista de táxi e de ônibus. Uma primeira relação observada entre essas

diferentes modalidades de transporte foi quanto ao preço do serviço, mais baixo para o

deslocamento realizado com o mototáxi, em relação ao taxi. Tal observação advém da

leitura de reportagens como: Táxi: é hora da tabela (O progresso 20/10/1972); Tabelas

de preço e emplacamento: duas exigências para o táxi (O progresso, 25/12/1972); Táxi:

batida e exploração (O progresso, 26/12/ 1972) que enfatizavam a necessidade do

estabelecimento de um preço menor e que não fosse arbitrário.

Notamos que em julho de 1996, os mototaxistas iniciaram suas reivindicações

por meio de uma associação profissional em torno dessa categoria de trabalho. Por

meio desta, se mobilizaram e passaram por diversas mudanças até alcançar

regulamentação e o reconhecimento nacional, por meio da lei N° 12.009 de 2009. Além

de regulamentar o exercício das atividades dos profissionais em transporte de

passageiros com o uso de motocicleta, “mototaxista”, essa lei alterava a Lei no 9.503, de

23 de setembro de 1997, para dispor sobre regras de segurança dos serviços de

transporte remunerado de mercadorias em motocicletas e motonetas – moto-frete –,

estabelecendo regras gerais para a regulação desse serviço.

A regulamentação dessa forma de trabalho é fruto de mobilizações, debates e

embates de diversas posições, pois a motocicleta a priori não era contemplada na

legislação de trânsito como um transporte de aluguel para fazer o transporte de

passageiros. Sobre isso, Eliaquin Damacena, que era do Conselho Nacional de

Trânsito, afirmava publicamente, no jornal O Progresso de 11/02/ 1997, que esse

transporte colocava em risco a vida das pessoas que o utilizavam. Em contrapartida,

existiam também os que eram a favor dos mototaxistas, a exemplo do vereador Joel

Gomes Costa6, que em 1997 defendia, na câmara dos vereadores de Imperatriz, a

regularização dessa atividade. Para ele, se um motoqueiro, em alta velocidade, sofresse

6 Câmara discute regulamentação (O Progresso 11 /04/ 1997)

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acidentes este seria um problema dele e da polícia de trânsito, no entanto, se um moto-

taxista fosse flagrado com velocidade acima do permitido, no trânsito, já seria um

problema do usuário e de toda a sociedade, e por isso a atividade deveria ser

regularizada.

Imagem 1- A questão da regularização na câmara de vereadores

Fonte: Jornal O Progresso – 12 de julho de 1997

Segundo a fonte o recorte jornalístico (imagem 1) o debate sobre a

regulamentação já ia se estendendo ao longo de cinco meses. Ressalta que os próprios

mototaxistas, apesar de desejarem a legalização, também a temiam, pois havia um

grande número de trabalhadores que se valiam do serviço e que com a regulamentação

seriam descredenciados, uma vez que apenas um pequeno grupo iria dispor dos alvarás.

De acordo com quem, na época, a seleção dos primeiro trabalhadores regulamentados

de mototáxi aconteceu por meio de sorteio.

Ao explicar que muitos mototaxistas e lideres do sindicato compareceu para

acompanhar os debates da sessão dos parlamentares, o documento nos mostra a

participação desse grupo de trabalhadores que não se pouparam na participação de

manifestações em torno da regulamentação do serviço de mototáxi. Um pouco dessa

trama de debates em torno da justiça e ações coletivas nas ruas, pode ser acompanhada

em algumas manchetes retiradas de jornais que retratam essa questão: “Serviço de

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moto-taxista é proibido pela justiça” (O Capital 13/12/1997), “Mototaxistas reagem à

determinação de Raimundo Cutrin – o sindicato da categoria garante cumprir a ordem,

mas promete lutar pra reverter a situação” (O Capital14/12/1997), “Mototaxistas fazem

manifestações em frente a prefeitura de Araguaína”(O Progresso 09/07/1997), “Ônibus

são depredados por mototaxistas”(O Progresso 10/07/1997), “Mototaxistas Lei de

regulamentação fica sub-júdice”(O Progresso 02/06/1997). O resultado de tudo isso, foi

que em 03 de julho de 1998, o prefeito da época, Ildon Marques de Sousa, sancionou a

lei N° 859/98 que regulamentou o serviço de táxi-lotação na cidade de Imperatriz. A fim

de obter mais informações sobre a organização atual dessa categoria de trabalhadores,

nos dirigimos para a sede do Sindicato dos Mototaxistas (Sindmoto), existente desde

1996, e localizada no N° 88 da Rua Barão do Rio Branco.

Imagem 2- Sindicato dos Mototaxistas

Autor: Pereira (a) (2016)

Tendo como lema “a união faz a força” (Imagem 1) o sindicato em questão foi

constituído para fins de defesa, estudo, coordenação, orientação e representação legal da

categoria, como afirma o próprio estatuto. O sindicato é administrado por uma diretoria

composta por três membros: presidente, o diretor-secretário e o diretor-tesoureiro,

eleitos a cada três anos - e conta ainda com 100 associados.

Segundo a secretária da organização, atualmente há mais de 30 pontos de

mototaxis espalhados por toda a cidade e não há alvarás específicos por cada ponto.

Dessa forma qualquer mototaxistas pode trabalhar em qualquer ponto, contudo,

observamos que geralmente eles acabam fixando-se em determinados pontos e

desenvolvendo um sentimento de pertencimento, e amizades. Existem os pontos criados

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pela Secretaria Municipal de Trânsito e transporte (Setram) e há aqueles que os próprios

trabalhadores criam, ou mesmo organizam o ponto existente: alugando algum espaço,

colocando bebedouro, dividindo as despesas e etc. Para Araujo (2016) esses 30 pontos

recebem 650 profissionais credenciados pela mesma secretaria de Transito. Sobre a

organização de trabalho nesses pontos, verificamos que há uma ordem de chegada: o

mototaxista que chega primeiro atende o passageiro e assim por diante.

Uma trajetória interessante por meio da qual é possível visualizar o que foi

exposto até então é a do senhor Carlito Batista Pereira, filho de lavradores que nasceu

em Tocantinópolis-TO7 no ano de 1961. Ele explica que veio para Imperatriz-MA em

1985, que deixou a cidade para ir trabalhar no garimpo no Estado do Pará e retornou em

1992, quando passou a trabalhar como vigia e posteriormente acumulou, em 1996, o

ofício de mototaxista. Tendo a experiência de ter participado dos primeiros anos de

formação do sindicato, o senhor Carlito foi mototaxista por oito anos e depois ingressou

em outra modalidade de transporte conhecida como taxi-lotação. Com a mudança,

passou a alugar o alvará da moto para outro trabalhador.

Sobre o sindicato, nosso informante recorda que era organizado e buscava

melhorias para a categoria, exemplo disso é que por meio da união desses trabalhadores,

foram organizados rifas e bingos que resultaram na obtenção de uma sede própria e até

uma chácara. Observando o contexto atual, notamos que esses tipos de eventos ainda

ocorrem quando buscam construir algo, e que a coesão do grupo é bem expressada em

situações nas quais algum membro é colocado em risco. Um exemplo disso foi notado

em fevereiro de 2016 quando ocorreu o assassinato do mototaxista Erislândio Rodrigues

Martins8 que gerou um cortejo fúnebre com tom de protesto. Os colegas de profissão

passaram pelas principais ruas do centro da cidade, inclusive em frente à Delegacia

Regional com o intuito de pedir justiça pela morte do colega. Aspecto semelhante foi

percebido por Anny Veiga ao estudar os mototaxistas de Campina Grande:

Estando neste ambiente urbano heterogêneo, onde as relações entre os

motoqueiros aparecem em um misto de “cumplicidade” e concorrência,

podemos encontrar esta cumplicidade entre os mototaxistas, quando acontece

7 Cidade que na época pertencia ao estado de Goiás Após 1988 a região norte de Goiás se emancipa para

se tornar o estado do Tocantins. 8 http://www.idifusora.com.br/2016/02/07/mototaxista-e-assassinado-a-facadas-em-imperatriz/ acessado

em dia 18 de agosto de 2016

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um acidente, por exemplo, ou quando algum condutor critica alguma

manobra dos mototaxistas, de forma rápida e em conjunto, eles se unem para

dar apoio ao seu “colega de trabalho”. (VEIGA, 2013, p. 04)

Embora essa categoria de trabalho tenha obtido a regulamentação e outras

conquistas, como, por exemplo, os cursos de capacitação promovidos pela Prefeitura,

eles ainda enfrentam diversos problemas e dificuldades, dentre as quais destacamos os

sentimentos de medo, o risco e a sensação de vulnerabilidade gerada pelas situações de

violência no trânsito e em alguns bairros da cidade.

Essa sensação está diretamente vinculada às experiências negativas de alguns

trabalhadores e a um conjunto de notícias9 sobre mototaxistas vítimas de assaltos,

agressões e homicídios ocorridos desde os tempos iniciais dessa categoria. O medo e

risco de acidentes também é algo percebido na própria fala desses profissionais, como

foi possível verificar nas palavras de um entrevistado, no qual denominaremos de

informante A, que possui 10 anos de experiência na profissão, e assim como o senhor

Carlito também desenvolve ofício de vigilante. Quando perguntamos sobre os perigos

cotidianos, ele fala:

“[...] o povo não respeita as faixas, as placas, as preferenciais, a gente tem

que andar pela gente e pelo os outros... Eu mesmo já levei um acidente,

quase morri, passei 22 dias na UTI, foi um milagre [...].” (informante A,

2016 – Entrevistado no dia 12/09/2016).

Com opinião semelhante, Pedro Moraes da Silva Junior que é um mototaxista

de 28 anos, nascido em Grajaú, mas criado em Imperatriz, reforça: “tem que ficar ligado

direto, ter atenção dobrada pra andar nesse trânsito aê.” (Entrevista realizada no dia

12/08/ 2016). Ele possui dois anos de experiência e, assim como os outros dois

anteriores, possuía, inicialmente, dois trabalhos: como vendedor de autopeças pelo dia e

mototaxista pela noite. Além dos riscos que eles enfrentam referente ao trânsito outro

aspecto que abordaremos com mais ênfase é o medo do outro, a sua vulnerabilidade

frente ao outro- desconhecido.

9 Ladrões de moto voltam a agir (O Capital, 26/09/1997), Moto-taxista é assaltado na JK(O Capital,

26/09/1997), Moto-taxista não tem moto tomada em assalto(O Capital, 27/09/1997), Moto-taxista é

assaltado na BR 010(O Capital, 18/10/1997), Crimes de taxistas continuam sem pistas(O Capital,

21/11/1997), Taxista baleado não corre risco de vida(O Progresso, 19/06/1997), Moto-taxista é assaltado

por “passageiro” (O Progresso, 02/07/1997)

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TRAJETOS DO MEDO: INTERAÇÕES IMAGÉTICAS E LOCAIS

PERIGOSOS

Ser mototaxista é um meio de trabalho e é por meio deste ofício que muitos

pais de famílias colocam o pão na mesa. Quando não é a principal fonte de sustento da

sua família, auxiliam como complemento de renda, caracterizando os “trajetos do

medo” como uma forma necessária de obter o sustento econômico na cidade. Para uns,

este emprego é tudo; para outros, é uma profissão sofrida, ou ainda apenas um meio de

trabalho, mas classificada como uma profissão perigosa. Nas entrevistas, eles são

enfáticos na questão dos acidentes ocorridos no trânsito e na existência de uma sensação

de medo do outro: do bandido, do mal feitor etc.

Este artigo tem por objetivo compreender a relação entre o medo e a profissão

de mototaxista em Imperatriz. Para tal, nos orientamos por pesquisas (Koury, 2005) que

abordam a relação entre medo e as formas de sociabilidade, compreendendo-o como

fenômeno que varia de acordo com cada situação, e como construção sócio-histórica.

Consideramos também o artigo “Cidade sitiada, o medo como intriga”, vinculado ao

documentário “Cidade sitiada, seus fantasmas e seus medos” (Eckert e Rocha,2008).

Trata-se de uma produção complexa que envolve pesquisa e produção audiovisual

focado sobre a construção de uma cultura do medo presente nos habitantes da cidade de

Porto Alegre (RS). Neste sentido, são narradas as mudanças nas formas de

sociabilidades, quais os novos hábitos que surgem por conta do sentimento de medo,

quais as mudanças no tempo baseados no sentimento de medo, vulnerabilidade e

insegurança vividos pelos habitantes.

De forma prática, buscou-se interpretar as experiências de medo e risco dos

mototaxistas por meio da noção de etnografia da duração (ECKERT e ROCHA, 2001),

compreendendo as falas dos entrevistados de acordo com as intrigas, diversidades de

imagens e de dramas que configuram o cotidiano citado por eles. Por esse caminho

tentou-se pensar uma espécie de mapeamento simbólico do emaranhando dos ritmos

vividos por eles nos territórios da cidade. Nesse processo, nos valemos de imagens de

casos de violências contra esses profissionais, com o intuito de rememorar tempos

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passados, pois concordamos com Samain (2012) que a imagem é fenômeno, isto é, algo

que traz a luz. Após mostrar as imagens10

que retratavam situações de medo,

vulnerabilidade, violência contra os mototaxistas, os indagamos sobre o que vinha na

mente deles ao visualizar as fotografias, obtendo as seguintes respostas:

“A questão do medo é constate entendeu? a gente tá nesse trabalho aqui

ninguém sabe quem é o bom quem é o ruim, entendeu? A gente fica a mercê

do bom e do bandido também, ninguém sabe quem é bom e quem é ruim, a

qualquer momento pode acontecer comigo ou com um colega meu”

(FRANCISCO – Entrevista realizada no dia 21/09/2016)

“Dá medo né, a gente sempre fica assim né, é atencioso, a gente fica, mas é

como falam né é o ofício da gente, é o trabalho e a gente tem que encarar,

devido às essas malésias, a gente tem que ir a luta e encarar.” (JOÃO

POFILHO - Entrevista realizada no dia 21/09/2016)

João Porfilho da Silva Barros é Imperatrizense e possui 39 anos e trabalha

como mototaxista há 13 anos; já Francisco Carlos Bezerra de 44 anos, apesar de ter

nascido em Porção da Pedra-MA, possui 40 anos de residência em Imperatriz e 20 anos

trabalhando nesse ofício. Ambas são pessoas cujas famílias eram de origem humilde e

os pais dedicavam-se, respectivamente, as atividades de motorista e serviços gerais.

Trata-se de pessoas com grande conhecimento e experiência sobre a cidade, que moram

respectivamente nos bairros da Juçara e Nova Imperatriz11

, e que chegaram ao ofício de

mototaxista motivados pela situação de desemprego.

Nas narrativas de ambos, o desconhecimento sobre o outro é um dos principais

fatores de medo, mais especificamente o medo da violência física. A partir das respostas

dos entrevistados podemos constatar que há uma cultura do medo presente nesta

profissão. Afinal, os mototaxistas lidam todos os dias com pessoas que não conhecem.

Como Francisco afirma: “a gente fica a mercê do bom e do bandido”. Quando

dialogamos sobre esses riscos, João Porfilho explica: “é o ofício da gente, é o trabalho e

a gente tem que encarar”. Portanto, o sujeito se enquadra e se reconhece como sendo

vulnerável diante de situações ameaçadoras, mas sempre está lá, sempre se mantém

sujeito-cidade.

10 Ver imagens em anexo II 11 Locais vizinhos ao centro

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Nessa percepção de medo social, o sujeito é habitante de seu tempo na cidade

disjuntiva que concebe as formas dos sentidos de interação: “sujeito moderno”, fugaz,

contraditório, paradoxal, efêmero, vulnerável, mas sempre lá, sujeito-cidade. (ECKERT

E ROCHA, 2008). Sujeito que pode ser pensado em uma sociedade erguida sob a

perspectiva do medo, um medo capaz de construir e reconstruir novas formas de

relações sociais (KOURY, 2005). Essas abordagens consagradas da Antropologia

urbana e das emoções foram evidenciadas quando questionamos um dos entrevistados, a

respeito da relação entre ele e os passageiros. Segundo ele:

É com o coração na mão, Deus tá no controle ...as vezes a mulher pega a moto, e já tem um cara esperando a gente lá com a arma, ninguém vai

desconfiar que a mulher vai fazer nada com a gente, mas chega lá tem um

cara esperando pra assaltar a gente, já aconteceu várias vezes isso.

(INFORMANTE A - Entrevista realizada no dia12/09/2016)

É notório que o sentimento do medo, vulnerabilidade e desconfiança expressos

nas falas, o deixaram em estado de alerta constante para qualquer situação que lhe

pudesse parecer estranha. Retomando os estudos de Koury (2005), a declaração do

entrevistado transmite um ar de mistério, segredo que envolve o “outro” fazendo com

que sejam estabelecidas certas barreiras, distâncias e diferenças orientadas pelo medo da

traição. Portanto, o desconhecimento a cerca do outro vai sempre gerar o sentimento de

medo, de vulnerabilidade, o indivíduo, no caso o mototaxista, sempre andará

apreensivo, porque o passageiro vai sempre ser o outro desconhecido, causando

insegurança e incerteza a cada trajeto traçado.

O medo, portanto, também pode ser compreendido como um importante

“combustível” no desenvolvimento de estigmas e pode-se falar até em uso social dele

para gerar estereótipos sobre determinados grupos. Portanto, buscamos compreender

quais os sinais e símbolos observados por esses trabalhadores, em suas interações com

os passageiros, e como esses podem ser utilizados no processo de construção de

classificações relacionadas a situações de risco e perigo. Assim, indagamos sobre como

constroem uma percepção a respeito do perigo relacionado a um “falso passageiro” com

intenção de cometer algum crime e obtemos as seguintes respostas:

“Pela fisionomia da pessoa, pela conversa, pelo jeito, pelo valor que a gente

cobra, e ele diz, não tá bom, a gente cobra um valor estipulado pra ver se ele

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vai..aí a gente fica mais confiado né...” (INFORMANTE A - Entrevista

realizada no dia12/09/2016)

“a questão dos bandidos, dos passageiro né, a gente vai muito pela aparência,

o modo de conversar, e aí a gente tenta se livrar” (JOÃO POFILHO -

Entrevista realizada no dia 21/09/2016)

As citações indicam que nesse cotidiano de trajetos perigosos, o componente

visual é fundamental no processo classificatório realizados por esses taxistas durante as

primeiras interações com os passageiros. Sobre a importância do elemento visual nas

interações estabelecidas, Matos Júnior (2008) nota que a manipulação dos aspectos

visuais de criminalidade é técnicas socialmente apreendidas, pelos atores, por meio da

cultura desenvolvida no cotidiano dos bairros, e explica que:

No processo de construção de um "outro" potencialmente perigoso, ou seja,

na objetivação corporizada do medo em indivíduos próximos e imediatos, a

"leitura" dos corpos, confundidos com indicadores fidedignos de intenções e

personalidades, são elementos essenciais da identificação de "elementos"

socialmente perigosos. Portadores de estilos, roupas e adereços que marcam a diferença, definem individualidades e autonomia em uma sociedade

imagética de consumo (Canclini, 1996), os protagonistas dos medos são

monocromaticamente concebidos através de suas composições estéticas e

possibilidades performativas (MATOS JÚNIOR, 2008, p. 77-78)

A apreciação da fisionomia, busca de indicadores, comportamentos e estilos de

roupa considerados por Matos Júnior (2008) são elementos de aproximação e/ ou

distanciamento social fundamentais nas analises Goffmanianas(1981) que as entendem,

também, como informações sociais: gestos, símbolos e expressões corporais. Por meio

dessas os mototaxistas tentam caracterizar determinado tipo de pessoa- se ele pertence

ou não a um grupo, e reproduzir classificações que acarretam na construção social da

Identidade Deteriorada. Aprofundando o debate sobre essas interações, o autor discorre:

As rotinas de relação social em ambientes estabelecidos nos permitem um

relacionamento com "outras pessoas" previstas sem atenção ou reflexão

particular. Então, quando um estranho nos é apresentado, os primeiros

aspectos nos permitem prever a sua categoria e os seus atributos, a sua

"identidade social" - para usar um termo melhor do que "status social", já que

nele se incluem atributos como "honestidade", da mesma forma que atributos

estruturais, como "ocupação" (GOFFMAN, 1891, p. 5)

Enfim, no jogo de classificação do “outro”, valem os componentes visuais

presentes nas primeiras interações, a classificação de informações sociais e elementos

estruturais que podem ser apreendidos por meio: “do modo de conversar”, “do

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comportamento em relação aos valores do deslocamento” e “pelos locais de transito e

destino solicitados pelos passageiros”. Sobre esse último aspecto, convém ressaltar o

relato de Carlito:

“Eu fui levar um passageiro, ai quando eu cheguei lá, aí eu peguei, aí o

homem caçando dinheiro aqui pra me pagar, ai o quando eu cheguei, eu

parei, aí o cara desceu e meteu o dinheiro no bolso pra pegar o dinheiro pra

me pagar sabe, só que quando ele botou a mão no bolso aqui, a gente tava assim olhando um pro outro né, quando a gente deu fé, a gente suntou mexer

assim na piçarra como quem vinha andando né, aí vinha dois cara de bicicleta

né, aí como a gente já tem medo de ver dois cara de bicicleta, a gente já sabe

que num é boa coisa, moço e o cara partindo em nosso rumo, quando ele

partiu em nosso rumo esse cara quase sobe no muro de costa e eu do jeito que

tava aqui só fiz botar a primeira e arrastei na moto... Agora medo grande num

foi aí, medo grande foi depois, eu arrudiei no parque buriti ali num sabe, no

parque buriti tinha um bocado de rua que não tinha saída, moço eu rudiei por

um monte de lugar, mas pra todo lugar que eu ia as ruas num tinha saída,

então eu tinha que ir rudiando e voltando, e num é que quando eu volto eu

peguei uma rua assim que eu vou – essa aqui dá pra mim sair – quando eu volto que eu olho lá vem os cara no meu rumo, nessa rua tinha tanto buraco

que eu acelerei a moto mas a moto num conseguia andar era caindo assim

dentro dos buraco “thubucothubucothubuco” e o cara lá vem e eu vou pra

cima dos cara e o cara no meu rumo, e o cara desceu, e eu pois pronto, vai me

atirar agora, e eu acelerei essa moto assim por cima das calçadas aí eu desci,

aí foi que eu sai ali naquela rua da Simplício Moreira, aí moço eu parei lá na

frente, perto da praça, aí eu cacei as pernas, cadê, eu pensei que tinha perdido

as penas... Eu nem recebi o dinheiro do cabra, ele me pagou depois, ou vez,

com muito tempo aí eu levei ele de novo né, aí eu levava ele, num tem aquele

cabra que num trabalha de moto-táxi de noite, aí tem aqueles cabra que a

gente sabe onde que pega e os horários né, dá certin, eu já ia esperar o caba na bucana, aí nesse dia eu levei ele, eu já tinha levado ele muitas vezes, mas

nesse dia aconteceu isso aí.” (CARLITO- Entrevistado no dia 13/09/2016)

Ao relatar uma situação ocorrida no bairro Parque do Buriti, Carlito enfatiza

a percepção dele e do passageiro em relação aos dois homens de bicicleta. Explicou o

sentimento de medo não apenas em relação aos referidos homens, mas da possibilidade

de falha de saída do bairro, caracterizado por ele como cheio de ruas sem-saída. Essa

experiência de vida do entrevistado é importante quando a consideramos como uma

forma de transmissão de visão de mundo e de determinadas práticas situacionais

(MATOS, JÚNIOR, 2008), principalmente pelo fato de o senhor Carlito possuir maior

experiência de vida e manter uma relação de amizade com outros trabalhadores da

categoria, possibilitando, assim, a transmissão e a socialização das informações.

Os próprios trabalhadores dizem que ganham confiança de acordo com o

comportamento, modo de vestir, pela conversa etc. Situação bem exemplificada no caso

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narrado pelo senhor Carlito, que apesar de ter relatado que não viu nenhum tipo de

arma, enfatizou: “[...] como a gente já tem medo de ver dois cara de bicicleta, a gente já

sabe que num é boa coisa [...]. Logo há uma espécie de estranhamento com relação ao

outro desconhecido, estigmatizado e misterioso.

A relação entre o mototaxista e o passageiro normalmente é impessoal e

permeada pelo sentimento de medo, de insegurança, de vulnerabilidade, frente ao outro

desconhecido, o que segundo Eckert e Rocha (2008) leva o indivíduo a espreitar suas

práticas sociais num quadro de probabilidades de riscos, o que empresta a imagem de

sujeição a formas individualizadas de vitimização. Consequentemente, aquele grupo de

trabalhadores sempre cria estereótipos de determinados bairros, as quais eles classificam

como os bairros que “se podem andar tranquilamente” ou “perigosos nos quais devemos

evitar passar e/ou transportar passageiros”. Sobre essa “evitação” de determinados

bairro Araujo (2016) nos fornece o seguinte levantamento:

Quadro 1 - Bairros recusados, segundo os mototaxistas

Bairros mais recusados Distância do centro de Imperatriz

Vila Leandra Três Quilômetros

Vila Cafeteira Três Quilômetros

Conjunto Planalto Seis Quilômetros

Vila Fiquene Oito Quilômetros

Brasil Novo Sete Quilômetros

Fonte: Araujo (2016)

Se as informações visuais são os primeiros sinais para se construir uma

imagem que materialize o sentimento e medo e desconfiança, as localizações dos

bairros são um elemento a mais na construção dos cenários nos quais se desenrolam as

interações permeadas pelo sentimento de medo. A expressão concreta disso pode ser

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visualizada no relato anterior do informante A, quando explicou “... às vezes a mulher

pega a moto, e já tem um cara esperando a gente lá com a arma” (INFORMANTE A -

12/09/2016). Esse “lá” do informante faz referencia justamente ao componente espacial

da possível interação. Trata-se de um “lá” facilmente associado aos bairros que

compõem o quadro 1. Sobre essa situação, Araujo (2016) traz dois exemplos: o da

operadora de caixa Erlany Rodrigues, que ao finalizar o expediente de trabalho às 23

horas tinha sempre dificuldade de conseguir algum mototaxistas que a levasse para a

residência. Segundo ela “Apesar de ser mulher muitos se recusavam a me levar, por

causa do meu bairro”, lamenta.”. Reforçando essa ideia, o autor discorre sobre um

mototaxista, novato, chamado Italo, de 25 anos, que trabalha no ponto em frente ao

hospital municipal, ressaltando que ele se recusa a transportar pessoas para os bairros

Vila Leandra, Caema e Cafeteira.

Uma estratégia para quebrar com essa desconfiança e conseguir realizar o

transporte, segundo a própria Erlany e por outro taxista chamado Juvenal Mendes, de 55

anos, é o estabelecimento de laços de amizade, e realização de contratos mensais com os

mototaxistas. Segundo esse trabalhador “Quem anda de mototáxi à noite, já tem o seu

próprio mototaxista, isso é bom tanto para mim quanto para o cliente” (ARAUJO,

2016). Uma questão fundamental nesses casos é a importância da informação social

relacionada ao passageiro, para o estabelecimento do laço de confiança e quebra com o

medo, ou seja, uma das possibilidades de quebra com o medo e estigmas é possível por

meio do prolongamento e continuidade de interação. E quando não há o prolongamento

da interação, o primeiro contato, normalmente, se inicia com percepções de medo e

desconfiança como as dos relatos a seguir:

“O receio maior é no bairro da Caema, e naquela vila lá detrás do bairro da

Caema, que mototaxista não gosta de ir, mesmo que as pessoas sejam boas mas as vezes a gente não quer, as pessoas, muitas vezes, não entende a

gente, mas infelizmente, as vezes, a gente trata eles como bandidos né, por

que ninguém quer ir lá.” (FRANCISCO –21/09/2016)

“Bairro daCaema, bairro Leandra, cafeteira, multirão, o bairro que o povo

tem mais medo né, São josé, os bairros assim mais distantes que pode ter

alguns elementos perigosos que pode ter por lá, por que tem movimento de

drogas, assalto, são os bairros perigosos da cidade ... Mas todo lugar é perigosos.” (INFORMANTE A - 12/09/2016)

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“Não é questão de discriminação, mas os mototaxistas tem muito receio de ir

no bairro da Caema, Vila Leandra, Vila Fiqueni, entendeu? Parque Alvorada,

os mototaxistas tem medo de andar nesse lugar (por quê?) Ah seilá, pela taxa

de crime que é alta nesses bairros né, aí a gente fica com medo de se deslocar

pra esses lugares, normalmente quando os passageiros chega que procura a

gente pra ir a gente sempre inventa uma dificuldade pra num ir num tem,

muitas vezes quando a pessoa convence a gente vai, mas a gente tem receio

de ir nesses lugar.” (JOÃO POFILHO - Entrevista realizada no

dia21/09/2016)

Rapaz lugar perigoso que a gente num vai é numa boca né, quando a gente

sabe que ali tem uma boca a gente não vamos, quando a gente sabe que um

cara é mala e quer ir numa boca a gente num vai, o bairro da Caema, por

exemplo, as vezes a gente não vai, as vezes vai com medo. (PEDRO JUNIOR

– Entrevista realizada no dia12/09/2016)

Tais relatos coletados em dois pontos distintos12

são parte de um conjunto mais

amplo de informações negativas sobre os referidos bairros, que acabam sendo

caracterizados como locais a serem evitados (de “evitação”). Isso porque segundo os

entrevistados e dados jornalísticos13

tais locais possuem grandes índices de violência e

são associados ao trafico de drogas, expressos nas denominadas “bocas de fumo”. Nesse

âmbito, a ação social torna-se um jogo imaginado e perigoso de adesão no qual as

direções, orientações e sentidos de deslocamento na cidade podem significar a sensação

de suspeita.

A ação de estigmatização dos mototaxistas frente aos passageiros visualmente

classificados como perigosos e de trajetos suspeitos é diretamente associada à ideia de

prevenção, sinalizando um tipo de “jogo social” (ECKERT E ROCHA, 2008) no qual

os indivíduos interagem ou se evitam, se encontram ou se afastam orientados pelo

sentimento de medo e de insegurança. Situação que pode ser percebida no relato de

experiência de Pedro Junior, que segue abaixo:

“Teve uma situação que eu é ... fui deixar um rapaz num certo local e se

deslocou um pouco da cidade, no local x combinado da corrida ele queria que

eu avançasse, daquele local combinado num sabe, a partir daquela hora ali eu

não eu não fui mais, eu temi, fiquei com medo, por que eu acho que se eu

12 O primeiro fica localizado na Rua Getúlio Vargas, esquina com a Pernambuco, em frente a farmácia

Econômica, o segundo fica localizado na Paraíba, entre a Rua Dorgival e a Rua João Lisboa ao lado da

loja da Iamaha. 13

Na reportagem Bairros perigosos de Imperatriz, disponível nos links:

http://www.idifusora.com.br/2014/01/02/video-imperatriz-lista-bairros-mais-

perigosos/https://www.youtube.com/watch?v=_NbaVZFFs7U. Acessado dia 16 de agosto de 2016,é

possível verificar a reprodução da idéia de violência e trafico de drogas associadas aos bairros citados

pelos mototaxistas.

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passasse dali algo de ruim ia acontecer comigo, eu eu procurei evitar ne

momento aí, mas no momento eu senti medo, o passageiro ele, o passageiro

ele ficou meio assim, olhando pra mim, mas eu procurei parar a moto no

local onde tinha gente, por que se eu passasse dali, num tinha mais

negociação, tava só eu e ele, aí era do jeito dele, aí tudo bem eu me entendi

com ele numa boa, cheguei até a dispensar a corrida.” (PEDRO JUNIOR –

Entrevista realizada no dia12/09/2016)

No contexto de cultura do medo ultrapassar o limite do conhecido pode

significar se colocarem uma situação de extrema vulnerabilidade, pois o local já não era

povoado, e nem o passageiro lhe transmitia a sensação de segurança. Percebe-se, assim

que as sociabilidades, atualmente, em grande parte são conduzidas e delimitadas pelo

medo e pela sensação de insegurança que prevalece. A violência está adestrando os

comportamentos sociais, delimitando o que é possível e o que não é possível, o

permitido e o negado, o proibido e o aceito socialmente. As classificações morais dos

lugares perigosos são cada vez mais crivadas de cuidados e proibições, intensivamente

baseadas em preconceitos, estigmas e estereótipos. (Barreira, 2012)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da pesquisa ficou claro que o sentimento de medo vem desde a

formação dos mototaxistas, que é uma categoria que teve seu surgimento a partir da

urbanização e crescimento da cidade e Imperatriz-MA, e tem modificado as formas de

sociabilidade até hoje. Portanto, a violência difusa dentro da cidade de Imperatriz, em

especial a sofrida pelos motociclistas, é responsável pelo sentimento de insegurança e

vulnerabilidade que permeiam a relação com o outro desconhecido.

Ao analisar narrativas que retratam o sentimento de medo compreendemos que

é uma relação complexa. A profissão de mototaxista, se olhada pela perspectiva do

medo é extremamente perigosa, principalmente se levamos em conta que os meios de

comunicação apresentam Imperatriz como uma cidade. Atrelado a isso, é importante

destacar que o passageiro na maioria das vezes é pessoas desconhecidas, o que faz com

que os trabalhadores busquem elementos e informações sociais que o transmitam

segurança. Nessa busca, os componentes visuais: estilo de roupa, comportamento,

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destino e localização solicitada são informações que influenciam diretamente a

interação entre passageiros e mototaxistas.

O componente visual é parte essencial na classificação do outro e tem como

efeito uma sociabilidade que pode resultar tanto numa aproximação quanto num

distanciamento. Partindo desse pressuposto podemos perceber a questão do estigma.

Esses trabalhadores vão distanciar ou aproximar-se do “outro” sempre levando em

consideração o cenário, que envolve tanto os espaços quanto os atores (o visual) sociais

na interação, tal atitude reflete uma forma de se prevenir contra o outro misterioso,

desconhecido e ameaçado.

Portanto, a cultura do medo é evidenciada nas narrativas que apontam sempre

para um sentimento de insegurança frente ao outro desconhecido. Para cessar com tais

visões estigmatizadas em relação aos cenários é necessário ter conhecimento e

informações dos atores envolvidos. Logo, uma saída, em especial para aqueles que

moram em bairros perigosos, é fazer laços de amizades com esses trabalhadores,

estreitando suas relações e cessando com o desconhecimento e mistério que muitas

vezes envolve esses trajetos. Contudo, ao mesmo que tempo que essas informações

sociais são a solução é também um problema, pois é inviável ter conhecimento de todos

os habitantes da cidade, e se torna quase que uma obrigação desses trabalhadores levar

não somente o “conhecido”, mas também o “desconhecido”, pois é uma exigência do

próprio ofício. E cabe a indagação será possível cessar com o estigma?

REFERÊNCIAS

BARREIRA, C..Violência difusa, medo e insegurança: as marcas recentes da

crueldade. Revista Brasileira de Sociologia, v. 01, p. 05, 2013.

ELIAS, Norbert. Modelos de jogos. In: Introdução à Sociologia. Lisboa: Edições 70,

1999.

GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada.

4ª ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 4° ed, 1891.

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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Medos Corriqueiros e Sociabilidade. João

Pessoa, Edições do GREM, Editora Universitária UFPB, 2005.

MATOS JUNIOR, Clodomir Cordeiro de. Violência, Cidadania e Medo: experiências

urbanas em Fortaleza. Dissertação defendida no programa de Sociologia da UFC,

Fortaleza, CE: [s.n], 2008.

PEREIRA, Jesus Marmanillo. O Medo do Outro: Violência e Desagregação das

Relações Sociais Urbanas. 2016.

ROCHA, Ana Luiza Carvalo; ECKERT, Cornélia. Etnografia da Duração nas Cidades

em suas Considerações Temporais.Revista de Ciências Sociais - Política & Trabalho.

Paraíba, n. 34, p.107-126, Abril de 2011.

ROCHA, Ana Luiza Carvalo; ECKERT, Cornélia. Cidade Sitiada: o medo como

intriga. Revista Iluminuras – Publicação Eletrônica do Banco de Imagens e Efeitos

VIsuais. Rio Grande do Sul, v.9, n.21, 2008.

SAMAIN, Ettiene. As Peles da Fotografia: fenômeno, memória/arquivo, desejo.

Revista Visualidades, Goiânia v.10 n.1 p. 151-164, jan-jun 2012.

VEIGA TIMOTEO, AnnyGlayni. A Luta Diária dos Mototaxistas em Campina

Grande-PB. Revista Iluminuras, Porto Alegre, v. 14, n. 33, p. 184-195, jul./dez. 2013.

Reportagens

Táxi é hora da tabela. O Progresso.( 28/10/1972)

Táxi batida e Exploração. O Progresso.( 26/11/1972)

Tabela dos preços e emplacamento. O Progresso. (25/12/1972)

Portaria (táxi tabela). O Progresso. (30/12/1972)

Táxi desafiam o trânsito. O Progresso (21/03/1973)

Táxi sem placa atropela (idosa). O Progresso. (28/10/1973)

Táxi: qual o seu preço. O Progresso (18/11/1973)

Ônibus estenderão linhas aos subúrbios: beneficiados os de Maranhão Novo e Bacuri. O

Progresso (14/05/1991)

Crise obriga taxista a fazer promoção. O Progresso (20/03/1997)

Ciretran fecha cerco contra motorista não habilitado. O Progresso (25/03/1997)

Moto-táxi Câmara discute regulamentação. O Progresso (11/04/1997)

Mototaxi Lei de Regulamentação fica sub júdice. O Progresso (12/06/1997)

Taxista baleado não corre risco de vida. O Progresso (19/06/1997)

Moto-táxi Contran não aprova o serviço. O Progresso (02/07/1997)

Moto-táxi Contran não aprova o serviço. O Progresso. (02/07/1997)

Moto-taxista é assaltado por “passageiro”. O Progresso. (02/07/1997)

Moto-taxistas fazem manifestações em frente à prefeitura de Araguaíma. O Progresso.(

09/07/1997)

Ônibus são depredados por mototaxistas. O Progresso. (10/07/1997)

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Moto-táxi. O Progresso. (12/07/1997)

Ameaçapara lutar projeto ao mototáxi. O Progresso. ( 13/07/1997)

Moto-taxista não tem pistas de moto tomada em assalto. O Progresso. (S/D)

Ladrões de moto voltam a agir. O Capital (26/09/1997)

Moto-taxista é assaltado na JK. O Capital (26/09/1997)

Moto-taxista não tem moto tomada em assalto. O Capital (27/09/1997)

Moto-taxista é assaltado na BR 010. O Capital (18/10/1997)

A população quer terminal integrado. O Capital (12/09/1997)

Crimes de taxistas continuam sem pistas. O Capital (21/11/1997)

Sindicato dos moto-taxistas realizam reunião. O Capital (22/12/1997)

Serviço de moto-táxi é proibido pela justiça. O Capital (13/12/1997)

Mototaxistas reagem a determinação de Raimundo Cutrim. O Capital (14/12/1997)

(P.S.) Mototaxistas respiram aliviados. O Capital (16/12/1997)

Sites de internet

ASMOIMP. Mototáxi é morto a facadas em Imperatriz. Disponível em:

http://www.asmoimpcomduduzao.com.br/2014/11/moto-taxi-e-morto-facadas-em-

imperatriz.html. Acessado em agosto de 2016.

BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística. Contagem Populacional. Disponivel em:

<http://www.sidra.ibge.gov.br/. Acesso em: setembro. 2016

FOLHA DO BICO. Moto-taxista é assassinado a tiros de maneira misteriosa em

Imperatriz. Disponível em: http://www.folhadobico.com.br/02/2012/mototaxista-e-

assassinado-a-tiros-de-maneira-misteriosa-em-imperatriz.php. Acessado em Agosto de

2016.

G1. Estudo aponta Imperatriz como cidade mais violenta do Maranhão. Disponível em:

http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2012/05/estudo-aponta-imperatriz-como-

cidade-mais-violenta-do-maranhao.html. Acessado em Setembro de 2016

IDIFUSORA. Moto-taxista é morto a facadas em Imperatriz. Disponível em:

http://www.idifusora.com.br/2016/02/07/mototaxista-e-assassinado-a-facadas-em-

imperatriz/. Acessado em agosto de 2016.

IDIFUSORA. Vídeo: Imperatriz lista bairros mais perigosos. Disponível em:

http://www.idifusora.com.br/2014/01/02/video-imperatriz-lista-bairros-mais-perigosos/.

Acessado em agosto de 2016.

PARACATINEWS. Moto-taxista é morto a tiros em possível assalto em Paracatu.

Disponível em: http://paracatunews.com.br/noticias/cidade-paracatu/mototaxista-e-

morto-a-tiros-em-possivel-tentativa-de-assalto-em-paracatu/5957. Acessado em agosto

de 2016.

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PLANALTO. Lei nº 12.009, de 29 de julho de 2009. Disponível em:

.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12009.htm. Acessado

em Setembro de 2016.

TNH1. Moto-taxista é morto após ser rendido por falso passageiro e reagir a assalto.

Disponível em: http://www.tnh1.com.br/noticias/noticias-detalhe/policia/mototaxista-

trava-luta-corporal-com-falso-passageiro-e-termina

morto/?cHash=ed84ab0173f653106296eff353b39e76. Acessado em Agosto de 2016.

VIAALAGOAS. Moto-taxista é morto em tentativa de assalto no centro e idoso é

baleado na parte alta de São Miguel dos Campos. Disponível em:

http://www.viaalagoas.com.br/31/12/2015/mototaxista-e-morto-em-tentativa-de-assalto-

o-centro-de-sao-miguel-dos-campos/. Acessado em agosto de 2016.

_____. Moto-táxis podem ganhar taxímetro. Jornal Bom dia Brasil. Disponível em:

http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2016/09/mototaxis-podem-ganhar-

taximetros.html. Acessado em Setembro de 2016.

_____. Moto-taxistas fazem protesto após a morte de um colega em Imperatriz-ma.

Jornal Bom dia Mirante. Disponível em: http://g1.globo.com/ma/maranhao/bom-dia-

mirante/videos/v/mototaxistas-fazem-protesto-apos-morte-de-colega-em-imperatriz-

ma/4806443/. Acesso em Setembro de 2016.

ANEXO I – Entrevistas

Nº ENTREVISTADO DATA DURAÇÃO

1 Informante A 12/08/ 2016 12:30

2 Carlito Batista Pereira 13/09/2016 5:31

Carlito Batista Pereira 01/10/2016 3:07

3 Francisco Carlos Bezerra 06/10/2016 2:07

Francisco Carlos Bezerra 21/09/2016 6:22

4 João Pofilho da S. Barros 21/09/2016 8:06

João Pofilho da S. Barros 06/10/2016 1:42

5 Pedro Moraes da S. Junior 04/10/2016 2:14

Pedro Moraes da S. Junior 12/08/ 2016 6:49

ANEXO II – Imagens utilizadas nas entrevistas

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