TRANSFORMAÇÕES QUE OCORRERAM NO PROCESSO DE … · Este artigo aborda a evolução das técnicas...

29
TRANSFORMAÇÕES QUE OCORRERAM NO PROCESSO DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIO NUM CONTEXTO GLOBAL E LOCAL BORBA, Ana Maria Stelle, Licenciada em Geografia e História, especialista em Metodologia de Ensino de 1º e 2º Graus , discente do Programa de Desenvolvimento Educacional, turma 2007 RESUMO Este artigo aborda a evolução das técnicas utilizadas na produção agropecuária num contexto histórico-geográfico, em escala global, nacional e local, desde meados do século XVIII, na Europa Ocidental, assim como sua associação à ocupação do território paranaense, especialmente da região dos Campos Gerais, com objetivo de destacar a importância da imigração holandesa de tipo capitalista estabelecida no município de Castro em 1951, em formação cooperativista, contribuindo para a alteração da estrutura agrária paranaense com a introdução de novas técnicas numa economia agropastoril, formando a Colônia e Cooperativa Agropecuária Castrolanda. O estudo realizou-se inicialmente através de uma revisão literária e posteriormente com pesquisas realizadas pelos alunos de Geografia do Ensino Fundamental do CEEBJA Paschoal Salles Rosa em Ponta Grossa, entrevista semi-estruturada com um pequeno produtor, engenheiro agrônomo da EMATER e com holandeses da Colônia, além da aplicação de questionário aos produtores cooperados. Percebe-se que transformações resultantes dos processos globais redefinem a prática agropecuária, impondo como necessidade o uso da tecnologia, a geração de sistemas que possibilitem maior produção, melhor qualidade do produto e maior racionalização do processo produtivo, destacando-se a liderança das cooperativas no agronegócio regional no segmento da produção do leite. No processo de construção do espaço geográfico, a sociedade é responsável pela organização, produção, permanências e/ou mudanças na região onde se encontra inserida, sendo de fundamental a implementação de políticas públicas, as parcerias para viabilizar a produção aos produtores, sem distinção. Palavras-chave: espaço geográfico, agropecuária, tecnologia, cooperativismo.

Transcript of TRANSFORMAÇÕES QUE OCORRERAM NO PROCESSO DE … · Este artigo aborda a evolução das técnicas...

TRANSFORMAÇÕES QUE OCORRERAM NO PROCESSO

DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIO NUM CONTEXTO GLOBAL E LOCAL

BORBA, Ana Maria Stelle, Licenciada em Geografia e História, especialista

em Metodologia de Ensino de 1º e 2º Graus , discente do Programa de

Desenvolvimento Educacional, turma 2007

RESUMO

Este artigo aborda a evolução das técnicas utilizadas na produção agropecuária num contexto histórico-geográfico, em escala global, nacional e local, desde meados do século XVIII, na Europa Ocidental, assim como sua associação à ocupação do território paranaense, especialmente da região dos Campos Gerais, com objetivo de destacar a importância da imigração holandesa de tipo capitalista estabelecida no município de Castro em 1951, em formação cooperativista, contribuindo para a alteração da estrutura agrária paranaense com a introdução de novas técnicas numa economia agropastoril, formando a Colônia e Cooperativa Agropecuária Castrolanda. O estudo realizou-se inicialmente através de uma revisão literária e posteriormente com pesquisas realizadas pelos alunos de Geografia do Ensino Fundamental do CEEBJA Paschoal Salles Rosa em Ponta Grossa, entrevista semi-estruturada com um pequeno produtor, engenheiro agrônomo da EMATER e com holandeses da Colônia, além da aplicação de questionário aos produtores cooperados. Percebe-se que transformações resultantes dos processos globais redefinem a prática agropecuária, impondo como necessidade o uso da tecnologia, a geração de sistemas que possibilitem maior produção, melhor qualidade do produto e maior racionalização do processo produtivo, destacando-se a liderança das cooperativas no agronegócio regional no segmento da produção do leite. No processo de construção do espaço geográfico, a sociedade é responsável pela organização, produção, permanências e/ou mudanças na região onde se encontra inserida, sendo de fundamental a implementação de políticas públicas, as parcerias para viabilizar a produção aos produtores, sem distinção.

Palavras-chave: espaço geográfico, agropecuária, tecnologia, cooperativismo.

2

2

INTRODUÇÃO

Muitas preocupações e necessidades fazem parte da sociedade atual. Entre

elas destaca-se a qualidade de vida, a questão ambiental e o sistema alimentar, que

se interligam no processo da produção agropecuária.

A maior conscientização sobre a necessidade de uma alimentação saudável,

o processo de mundialização do comércio, o uso da tecnologia, são fatores que

interferem nos padrões de consumo, métodos e técnicas de gerenciamento, nos

processos de produção e serviços, exigindo maior qualificação profissional.

Trabalhar a geografia dentro de numa perspectiva crítica exige pensar as

relações espaço geográfico e sociedade, escala global e local, tradicional e

moderno, fundamentais para a compreensão da realidade. Considerando essa

temática como num conteúdo significativo, propusemos este trabalho com o objetivo

de destacar o uso da tecnologia na produção agropecuária, considerando o sistema

capitalista.

O trabalho desenvolveu-se no período de fevereiro a setembro, em três

fases. A primeira, buscou reconstruir a trajetória das transformações que ocorreram

no processo produtivo das atividades agropecuárias, a partir do século XVIII, na

Europa Ocidental, considerando sua gradativa apropriação por parte da indústria e

o desenvolvimento tecnológico.

Destacamos na segunda fase, a importância da atividade agrícola, com a

cultura da cana-de-açúcar e pecuária, como alicerces da ocupação do território

brasileiro e paranaense, respectivamente. A referência à cultura da cana-de-açúcar,

justificou-se por implantar, a partir de sua produção, uma nova configuração no

espaço geográfico brasileiro e criar novas relações de trabalho. Foi ressaltada

também sua relevância como matéria-prima para a fabricação do álcool combustível

e do biocombustível.

A atividade pecuária foi abordada como atividade que constituiu a base

econômica paranaense e também foi responsável pela ocupação da região dos

Campos Gerais, que se deu através de “Caminhos Históricos” onde estabeleceram-

se aglomerados populacionais que resultaram em várias cidades do Paraná Velho.

Enfatizou-se à colonização por contribuir significativamente, não só para a ocupação

territorial, mas também para a alteração da estrutura agrária paranaense.

No Paraná, duas fases marcaram o processo de colonização: a do tipo

3

3

camponês e a do tipo capitalista. Esta constituiu o foco central do trabalho que se

desenvolveu através um resgate histórico do grupo de imigrantes holandeses, que

se fixou em 1951 no município de Castro, cidade que se formou em decorrência da

atividade pecuária, com a rota dos tropeiros e ainda tem a atividade como um

suporte para sua economia.

A questão regional merece destaque quando trabalhamos as disciplinas,

especialmente quando se trata da Geografia. Neste sentido, foi estabelecido um

recorte da região dos Campos Gerais, especificamente do município de Castro,

região onde está inserida a Cooperattiva Agropecuária Castrolanda, formada pelos

referidos imigrantes, para servir como objeto deste estudo.

Os holandeses que fundaram a colônia Castrolanda contribuíram, através de

sua prática agropastoril, para a alteração da estrutura agrária paranaense.

Desenvolvendo-se através do sistema cooperativista, conseguiram valorizar as

terras da região, consideradas de solo pobre, e fundar, juntamente com outros

imigrantes da colônia de Carambeí, a Cooperativa Central de Laticínios do Paraná

Ltda em 1957, formada então pelas cooperativas Castrolanda e Batavo,

respectivamente.

Procurou-se neste trabalho, destacar a importância do sistema cooperativista,

as formas de produzir no campo, estabelecendo a relação de dependência do

processo produtivo agropecuário com a indústria, tendo em vista as imposições do

mundo globalizado.

Em decorrência da globalização, as empresas, de modo geral, estão mais

sujeitas à concorrência, intensificando as parcerias na montagem de cadeias

produtivas descentralizadas, articuladas em conglomerados rurais-industriais

financeiros. As atividades agropecuárias também estão inseridas nesse contexto de

mudanças.

Um conjunto de atividades está ligado à produção agropecuária: pesquisa

científica, fornecedores de insumos, equipamentos, industrialização, serviços. Essa

cadeia produtiva alimentar torna-se bastante complexa, uma vez que impõem

relações biológicas com toda a diversidade relacionada à vida vegetal e animal e

suas conexões com as econômicas.

As práticas desenvolvidas pela cooperativa Castrolanda, dentro dos

princípios cooperativistas, estão inseridas na problemática atual que envolve

pesquisa, tecnologia, desenvolvimento sustentável e cadeia alimentar do

4

4

agronegócio. As cooperativas agropecuárias de produção representam um dos

termômetros do agronegócio brasileiro, principalmente no Paraná.

No contexto produtivo, destacou-se a atividade pecuária, uma vez que no

Paraná, as cooperativas dominam a industrialização do leite. A região dos Campos

Gerais apresenta uma produção leiteira significativa no Estado e a Cooperativa

Agropecuária Castrolanda, uma das maiores do sul do Brasil, responde pela maior

parte dessa produção.

O Paraná tem um valor expressivo na exportação de produtos agrícolas e de

origem animal, gerando recursos não só para o Estado, mas também para o Brasil,

na medida em que gera emprego no campo, ocupa mão-de-obra nas indústrias

processadoras de alimentos, nas fornecedoras de insumos, equipamentos e

segmentos de serviços associados às cadeias produtivas do agronegócio.

As imposições econômicas e tecnológicas do mundo globalizado, transforma

intensamente suas espacialidades e inter-relações. Assim, novas exigências vêm se

impondo não só aos mercados, às instituições, à política e à economia, mas

também aos indivíduos, em termos de formação. Diante desse contexto, as

cooperativas do agronegócio vêm atingindo sustentabilidade num ambiente de

acirrada competitividade, aprimorando sua capacidade gerencial, investindo em

tecnologia e exigindo cada vez qualificação profissional.

O conhecimento que sempre foi o fator primordial para o desenvolvimento,

passa a ser cada vez mais avolumado e abrangente, tendo em vista a intensidade

das informações através dos meios de comunicação. Esse cenário torna necessário

uma aprendizagem constante para que os indivíduos tornem-se agentes criativos,

ativos, sujeitos plenos numa sociedade plural, cada um no seu lugar, mas sempre

em interação com o outro.

Cabe então à educação proporcionar um conhecimento que lhe permita

discernir as condições em que vivem, estabelecendo análise, comparação, reflexão

sobre a realidade, perceber o que aparece como incoerência, contradição, assim

como estabelecer relações e significados aos movimentos da história, em seus

respectivos espaços geográficos.

A Geografia, enquanto ciência social, estuda, analisa e tenta explicar o

espaço geográfico, instância das relações de produção que acarretam

comportamentos espaciais e estruturas territoriais diferenciados. A interpretação do

fluxo de mudanças exige um sistema teórico que permita à disciplina trabalhar

5

5

criticamente aspectos da realidade, mais permanentes e estruturais de longa

duração.

Através da reconstituição de uma trajetória, recuperamos idéias,

posicionamentos, história. A valorização do tempo torna-se fundamental quando

trabalhamos com objetos em movimento, em processo.

Como forma de oferecer subsídios teóricos para fundamentar o tema,

utilizamos no terceiro momento deste trabalho, a exibição de imagens por constituir-

se num importante instrumento de estímulo a aprendizagem. Através da linguagem

audio-visual os alunos observaram imagens sobre a trajetória da ocupação do

território paranaense, partindo do litoral até o segundo planalto paranaense,

chegando à colônia e cooperativa Castrolanda. Uma imagem aérea da área onde a

mesma se encontra, possibilitou a compreensão do seu complexo de produção.

No processo de ensino-aprendizagem, cabe ao professor exercer o papel de

motivador para buscar a emancipação do aluno e a pesquisa apresenta-se como

proposta emancipatória, criativa. Foi proposto aos alunos a realização de pesquisas

em diferentes fontes sobre as atividades agropecuárias, sem tema especifico, para

permitir a autonomia dos mesmos em buscar o que lhes parecesse mais

significativo.

O registro é fundamental para o resgate histórico de uma realidade. Neste

sentido, os alunos realizaram, inicialmente, a apresentação de suas pesquisas para

proporcionar um debate, posicionamentos, discussões sobre o tema pesquisado.

Posteriormente foi feita a seleção das pesquisas e reportagens que acharam mais

significativas para fazer parte de um jornal informativo que foi distribuído aos demais

alunos e professores da disciplina para trabalhos futuros.

Como instrumento de pesquisa ainda foi utilizada a entrevista semi-

estruturada realizada com um produtor de hortaliças da cidade de Ponta Grossa e

com um engenheiro agrônomo da EMATER, para obtenção de dados a respeito da

condição dos pequenos e médios produtores agrícolas diante das exigências do

mercado, assim como da implementação de algumas políticas públicas da

Secretaria de Agricultura.

Para vivenciar a realidade estudada, realizou-se uma visita à colônia

Castrolanda, onde foram entrevistados imigrantes do local. A partir da coleta das

informações, oportunizou-se uma discussão sobre o tema em sala de aula,

oportunizando aos alunos realizar uma análise sobre o contexto estudado, assim

6

6

como estabelecer comparações e posicionamento crítico.

Como complemento, distribuiu-se questionários aos produtores associados

objetivando coletar dados sobre sua prática, assim como verificar seu

posicionamento diante das atividades que desenvolvem no contexto atual.

É fundamental refletir sobre o espaço geográfico e buscar seu valor

explicativo. Os indivíduos precisam conhecer o movimento da história, os contextos,

estabelecer relações, para que possam discernir a realidade em que vivem e

posicionar-se de forma crítica.

DESENVOLVIMENTO

A existência humana segundo Soja (1993), fundamenta-se em três

dimensões: o tempo, o espaço e o ser. “O estudo da relação homem-natureza

acompanha o desenvolvimento da Geografia desde sua origem.” (...) “A

indissociabilidade espaço/tempo é uma característica importante da análise

geográfica e passa pelo entendimento de como o homem reagiu e vem reagindo às

influências da natureza ao longo do tempo.” (FERREIRA, 2002: 287)

A sociedade constituiu-se inicialmente por agrupamentos humanos que

dependiam exclusivamente da natureza e buscavam adaptar-se aos sistemas

naturais. Gradativamente foram criando instrumentos artificiais necessários ao

domínio desse mundo natural, o que provocou a transformação e a organização do

espaço geográfico, que segundo Santos e Silveira (2005), se define como união

indissolúvel de sistemas de objetos e sistemas de ações, e suas formas híbridas, as

técnicas.

Apropriando-se de idéias, das capacidades e técnicas, os indivíduos foram

produzindo no espaço geográfico, sua vida material e sua existência social. Na

busca da satisfação de suas necessidades, foram produzindo diferentes

instrumentos e formas de fazer, chegando a domesticação de plantas e animais. A

prática da agricultura associou-se ao desmatamento. Para Santos e Silveira (2005),

esse processo significou “a imposição à natureza de um primeiro esboço de

presença técnica, pois ritmos e regras humanas buscavam sobrepor-se às leis

naturais”.

As atividades agrícola e pecuária foram sofrendo gradativas transformações

7

7

ao longo do tempo, influenciadas pelas necessidades da estruturação social,

econômica e política. Essa influência repercutiu e repercute na formulação do

pensamento científico que é profundamente dinâmico.

As transformações que ocorreram nas atividades agropecuárias levando a

uma apropriação pré-industrial do processo natural de produção, se deu no final do

século XVIII e início do século XIX, na Europa Ocidental, quando o crescimento

populacional e a urbanização “intensificaram as pressões por demanda sobre a

base agrícola de recursos, dando incentivo às mudanças pré-industriais já em

andamento nas safras de criação de animais domésticos”. (GOODMAN, 1990: 20).

A rotação de culturas com plantas forrageiras e a associação das atividades

agrícolas com a pecuária foram técnicas que passaram a ser intensificadas e

constituíram-se na primeira revolução agrícola.

A nova criação de animais domésticos transformou as práticas existentes ao

introduzir um sistema diversificado de rotação de culturas, mais intensivo quanto ao

uso da terra, que ocasionou tanto um aumento no rendimento dos grãos quanto

maior capacidade relativamente ao número de animais de criação. Esse sistema de

rotação baseava-se no cultivo arável de forragens leguminosas e de variedades de

raiz grossa de plantas tradicionais, que reduziam a extensão de terras

obrigatoriamente alqueiradas, liberando a terra para o cultivo e fornecendo pasto e

forragem invernal para inúmeros crescentes de animais de criação. Essa prática

possibilitou a renovação da fertilidade do solo devido as propriedades de retenção

do nitrogênio derivadas das culturas das ervas forrageiras e ao aumento da

quantidade de esterco disponível.

Entre as décadas de 1820 e 1870, a agricultura passou por uma segunda

revolução agrícola quando se estabeleceram direções no processo de apropriação

industrial com a introdução de forragem animal industrialmente processada e o

crescimento de fertilizantes inorgânicos. Houve assim, um certo distanciamento

entre as duas atividades, uma vez que o esterco animal foi substituído por alguns

produtos químicos (GOODMAN, 1990).

Com a unificação mundial dos mercados de grãos e a competição imposta

pelos produtos de monoculturas no Novo Mundo, o “circuito fechado” da produção

desintegrou-se gradativamente, após 1915, à medida que crescia a demanda dos

insumos produzidos externamente à unidade agrícola: forragem animal processada

individualmente e fertilizantes (GOODMAN, 1990).

8

8

As tendências básicas da apropriação industrial se deram no oeste europeu e

nos Estados Unidos, porém distintas nos padrões de apropriação. Enquanto a

Europa fez avanços no sistema natural de restauração dos nutrientes do solo

desenvolvendo a indústria química, pelas dificuldades relacionadas a exaustão dos

solos, por possuir uma estrutura agrária rígida, os Estados Unidos, possuindo

abundância de terras, escassez de mão-de-obra, utilização da energia humana e

animal como base do processo de trabalho, investiu na engenharia mecânica e

automotora.

Surge então a intervenção nos determinantes biológicos da produtividade

agrícola. Pesquisas foram desenvolvidas voltadas à inovação biológica e genética.

Todos os setores agroindustriais ou de maquinário agrícola, o químico e o de

processamento foram forçados a adaptar suas estratégias de crescimento a fim de

incorporar as oportunidades revolucionárias criadas pelas sementes híbridas e pela

nova genética das plantas (GOODMAN, 1990).

A primeira apropriação real do processo de produção natural ocorreu na

genética das plantas e as técnicas de hibridização de safras tornaram-se o pivô do

desenvolvimento agroindustrial subseqüente.

As culturas foram necessitando cada vez mais de aplicações intensivas de

fertilizantes e produtos químicos para que o rendimento de sua produção fosse cada

vez mais elevado. A indústria química se expandiu e difundiu na Europa e no mundo

com maior intensidade em algumas regiões. O ritmo da produção de alimentos

cresceu extraordinariamente, ocorrendo, desta forma, uma verdadeira revolução – a

Revolução Verde, como foi chamada.

Essa revolução “intensificou ainda mais os índices de desempenho da

atividade agrícola, pois aliou a engenharia genética, que produziu para a agricultura

variedades geneticamente melhoradas, adaptadas ao solo e clima totalmente

diferente do seu ambiente natural (...)” (CAMPOS & TSUKAMOTO, 2003: 19).

A Revolução Verde marcou uma maior homogeneização do processo de

produção agrícola, através da difusão internacional das técnicas da pesquisa

agrícola. As empresas multinacionais de adubos, agrotóxicos, sementes e maquinas

agrícolas foram favorecidas, uma vez que a falta desses produtos aos agricultores

criou uma dependência dos mesmos às referidas empresas.

No caso da pecuária, a apropriação industrial seguiu uma dinâmica diferente,

uma vez que a terra não é fator decisivo para seu desenvolvimento. Desde o início,

9

9

a apropriação desenvolveu-se principalmente, pela eliminação da terra enquanto

espaço. A forragem animal e os equipamentos de capital puderam ser concentrados

em locais convenientes (GOODMAN, 1990).

A prática de rotação de cultura utilizada no século XVIII, contribuiu para o

aumento dos suprimentos de forragem, o que levou os agricultores da Europa

ocidental a substituir a pastagem permanente por métodos de criação e alimentação

em confinamento. A pecuária absorveu tecnologias avançadas desenvolvidas em

outros setores industriais, incorporando inicialmente os motores elétricos, os

sistemas computadorizados e a partir de 1950, o tempo biológico ou reprodutivo

começou a ceder ao “apropriacionismo” industrial (GOODMAN, 1990).

O avanço da ciência animal, especialmente relacionado ao controle de

doenças, permitiu a organização de áreas de criação de gado de corte, introduzidos

inicialmente na Califórnia, Estados Unidos, no séc. XX, criando-se as unidades de

confinamento total da criação de porcos e as granjas avícolas.

As inovações que ocorreram na pecuária proporcionaram o crescimento de

indústrias especializadas no fornecimento de forragem processada, formulada por

computador, equipamentos para ordenha, antibióticos, vacinas e outros produtos

farmacêuticos. O apropriacionismo industrial ficou evidenciado no processo

biológico de produção e criação dos animais domésticos, buscando-se inicialmente

o cruzamento com a obtenção de linhas genéticas com características hereditárias

desejáveis (GOODMAN, 1990).

O conhecimento mais profundo do processo produtivo nos animais de

fazenda e na busca de traços economicamente valiosos caracteriza uma nova era

científica da criação de animais associada particularmente com a difusão da

inseminação artificial na indústria americana de laticínios, proporcionando

crescimento na produção animal do leite e na redução do número de vacas leiteiras.

Os capitais industriais passaram então a obter lucros com a manipulação da

fisiologia reprodutiva dos animais.

Associada à pratica da inseminação artificial, surgiram inovações correlatas

na genética aplicada como a transferência do embrião, a ovulação múltipla,

detecção do estro, sincronização do estro, que permitiram o controle de grande

parte do processo reprodutivo animal (GOODMAN, 1990).

O fundamento da avançada tecnologia de reprodução está na transferência

de embrião, que implica na renovação de embriões de um animal e seu transporte

10

10

no útero de outro. Essa transferência de embrião passou a ter valor comercial na

década de 70.

O processo produtivo relacionado ao modo de produção capitalista,

juntamente com as inovações técnicas, fez com que essas práticas avançassem

influenciando as decisões de planejamento e organização do espaço geográfico,

criando também espaços econômicos desiguais. O uso do território pode ser

definido pela implantação de infra-estruturas e também pelo dinamismo da

economia e da sociedade.

Para podermos explicar o espaço produzido pelos indivíduos, necessitamos

delimitar períodos, redescobrir contextos através da análise dos arranjos espaciais

nas diferentes escalas. Os sistemas de objetos e de ações e suas formas híbridas,

as técnicas, nos indicam como o território é usado, onde, por quem, por quê e para

que. “O território, visto como unidade e diversidade é uma questão central da

história humana e de cada país e constitui o pano de fundo do estudo das sua

diversas etapas e do momento atual” (SANTOS & SILVEIRA, 2005, p.20).

As técnicas são representativas das épocas históricas. Assim, os sistemas

técnicos incluem de um lado a materialidade e de outro, seus modos de

organização e regulação. Elas autorizam, a cada momento histórico, uma forma e

uma distribuição do trabalho. Um dado importante para o entendimento das

situações atuais, é o estudo do povoamento, abordado sobretudo em sua

associação com a ocupação econômica.

Essa abordagem teórica realizada e repassada aos alunos, permitiu-lhes

perceber que ao longo da história da agricultura, o desenvolvimento do capitalismo

foi, gradativamente, tornando as atividades agropecuárias interligadas à indústria.

As relações de produção foram estabelecendo elos que tornaram a cadeia produtiva

alimentar bastante complexa por impor relações biológicas que englobam toda a

diversidade relacionada às vidas vegetal e animal e suas conexões com as

econômicas (FERREIRA, 2002).

Como estratégia de ensino-aprendizagem utilizou-se a pesquisa, considerada

parte integradora na construção do conhecimento. A partir dos fundamentos

teóricos, os alunos tiveram a liberdade de pesquisar os assuntos que mais lhes

chamassem atenção em diferentes fontes.

O registro é fundamental para o resgate histórico de uma realidade. Neste

sentido, foi oportunizado aos alunos a possibilidade agirem como construtores e

11

11

transmissores do conhecimento a partir da realização e apresentação oral de suas

pesquisas, que serviram como fonte de discussões, análises, posicionamentos.

A atividade de seleção dos principais assuntos e a organização dos

mesmos para a elaboração de um jornal agropecuário – Jornal Rural, assim

denominado pelos mesmos, serviu como fonte de informação aos demais colegas e

professores da disciplina de Geografia.

Pensando as relações espaço geográfico e sociedade, global e local,

procuramos destacar a ocupação do território, entendido como sinônimo de espaço

geográfico, por constituir-se na base da vida material e conteúdo das relações

sociais de todo tipo. Destacou-se a importância das atividades agrícola e pecuária,

respectivamente, como fatores essenciais no processo de ocupação e organização

espacial do território brasileiro e paranaense, sob o ponto de vista econômico.

A atividade agrícola, com a cultura da cana-de-açúcar, definiu a forma de

ocupação do território brasileiro, atendendo interesses dos europeus, organizados

sob a forma do sistema capitalista. Criaram aqui uma nova configuração do espaço

geográfico através do convívio obrigatório de pessoas, animais e plantas de três

continentes, uma vez que esse espaço já pertencia aos indígenas, organizados nos

moldes da comunidade primitiva. Assim, o sentido do trabalho, o valor da terra, não

era o mesmo para indígenas e europeus.

O início da ocupação econômica do território brasileiro é em boa medida uma

pressão política exercida sobre Portugal e Espanha pelas demais nações européias.

(...) “tornava-se cada dia mais claro que se perderiam as terras americanas a menos

que fosse realizado um esforço de monta para ocupá-las permanentemente”.

(FURTADO, 1999: 6).

O açúcar era uma das especiarias mais valorizadas no comércio europeu. No

século XV havia dificuldades para se conhecer qualquer técnica de produção de

produção e também proibia-se a exportação de equipamentos. Neste sentido pode

ser explicado o êxito da “primeira grande empresa colonial agrícola européia”, assim

caracterizada por (FURTADO, 1999, p.9), no Nordeste brasileiro, tendo em vista o

domínio da técnica de fabricação do açúcar por parte dos portugueses.

A contribuição para o desenvolvimento comercial desse produto na segunda

metade do século XVI foi dada pelos holandeses, que nessa época eram os únicos

a dispor de suficiente organização comercial para criar um mercado de grandes

dimensões para um produto praticamente novo (FURTADO 1999).

12

12

A explicação sobre a importância da cana-de-açúcar, para a organização

inicial do território brasileiro e também como matéria prima para o álcool

combustível e o biodiesel despertou o interesse dos alunos, provocando discussões

em relação à importância do domínio técnico para desenvolver uma produção, à

poluição e o uso do biocombustível, a substituição de algumas áreas da região

Norte do Paraná, anteriormente utilizadas para pastagem, destinadas atualmente

ao cultivo da cana.

Pode-se observar que o plantio dessa cultura avança além das áreas

tradicionais, da região nordeste, do interior paulista. A preocupação ambiental, a alta

nos preços do petróleo e a possibilidade de o Brasil oferecer o biocombustível em

larga escala incentiva a iniciativa privada a ampliar e construir novas usinas. Esse

contexto se diferencia dos anos 70 com o álcool combustível, que teve a iniciativa

governamental.

No Estado do Paraná, a atividade pecuária constituiu a base da economia do

Paraná Velho ou Tradicional. A ocupação da área que corresponde ao Estado do

Paraná se deu através de processos históricos-geográficos e econômicos

diferentes, caracterizando uma diversidade territorial.

Havia três subsistemas econômicos diferentes e que praticamente não

mantinham relação entre si: o Paraná Velho, com um processo de ocupação da

planície litorânea que teve início no século XVII, relacionado à procura de metais

preciosos. Esse processo de ocupação atingiu o primeiro e segundo planaltos e

região centro-sul do Estado; o norte do Estado, iniciando seu processo na segunda

metade do século XIX, ligado a expansão da cafeicultura de São Paulo e a região

sudoeste, constituindo o terceiro processo no início do século XX, com a

suinocultura, produção de soja, milho.

Pode-se dizer que o Paraná Velho era a única parte do Estado que podia ser

considerada “paranaense”. Nos séculos XVII e XIX, um movimento em direção sul-

norte e norte-sul, fez com que a ocupação se desse através de “Caminhos

Históricos”, de condições bastante precárias, que permitiam praticamente apenas o

trânsito de tropas de gado bovino e muar. (PADIS, 1981).

Deve-se a esses caminhos, a ocupação de uma parte considerável do

território paranaense. O estabelecimento de aglomerados populacionais que

resultaram em várias cidades do Paraná Velho está relacionado ao caminho do

Viamão a Sorocaba, que ligava os centros criadores localizados no Rio Grande do

13

13

Sul ao principal mercado da época, Sorocaba.

A vegetação natural, a ocorrência de campos em considerável parte dessa

região dos planaltos, foi importante para a economia que se desenvolveu no Estado:

o mate, o pinheiro e a pecuária. As atividades ligadas à pecuária recebiam grandes

investimentos, ficando em segundo plano a produção de alimentos.

Durante o século XIX, enquanto a Europa Ocidental sentia a necessidade de

aumentar a produção de alimentos e revolucionava a produção agropecuária com a

utilização de novas técnicas, a Província do Paraná enfrentava problemas em

relação à escassez de alimentos. Além da falta de investimento na produção de

gêneros alimentícios, outros fatores contribuíram para a crise agroalimentar:

métodos bastante simples de cultivo, como trabalho manual, queimadas, ausência

de um sistema viário que integrasse as diversas regiões.

O abandono da produção agrícola de subsistência em escala comercial gerou

a crise de alimentos. Essa crise fez com que o governo da Província do Paraná

manifestasse sua preocupação em resolver o problema. A estrutura agrária

paranaense era constituída por um sistema agrícola separado da pecuária. A vinda

de imigrantes europeus era considerada uma alternativa para mudança nesse

sistema, tendo em vista a tradição rural diferenciada dos europeus.

Partindo desse referencial teórico, os alunos puderam compreender a

movimentação da população em decorrência da questão econômica, dos

interesses, que devem ser analisados numa dimensão histórica e que os mesmos

interferem na organização e configuração do espaço geográfico, marcada também

pela cultura.

Como complementação do tema proposto, utilizou-se a exibição de imagens

em datashow, por constituir-se num importante instrumento de aprendizagem.

Através da linguagem audiovisual os alunos puderam observar imagens do litoral

paranaense, onde foram apresentadas: algumas construções antigas da cidade de

Paranaguá, que evidenciam traços culturais e históricos; o porto D. Pedro II; a Serra

do Mar.

As imagens relacionadas ao primeiro planalto, destacaram o Palácio Iguaçu,

e a Assembléia Legislativa. No segundo planalto, foi destacada a vegetação, os

símbolos do tropeirismo que estão presentes na cidade de Ponta Grossa e Castro.

Uma imagem aérea cedida pela Cooperativa Agropecuária Castrolanda foi

fundamental para a compreensão do complexo produtivo da mesma, permitindo que

14

14

os alunos pudessem estabelecer comparações entre o espaço rural tradicional e o

tecnificado.

Ainda como parte integrante da construção do conhecimento, foi realizada

uma entrevista semi-estruturada com um dos engenheiros agrônomos da EMATER,

que foi enriquecedora sob o ponto de vista do conhecimento a respeito do papel

desse órgão junto ao pequeno produtor que se depara, em muitas regiões, com

dificuldades de produzir em solos de baixa aptidão agrícola e enfrentar as

mudanças que ocorreram no processo produtivo agrícola. Neste sentido, fica clara a

importância da implementação de políticas públicas.

Achou-se oportuno destacar exemplos de algumas ações desenvolvidas pela

Secretaria de Agricultura do Paraná, que buscam a inclusão social, o

desenvolvimento rural sustentável e o fortalecimento das economias locais.

Destacou-se o apoio aos pequenos agricultores com a prestação de suporte técnico,

relacionado à prática do sistema de Plantio Direto, que tem se mostrado uma

técnica economicamente viável para o pequeno produtor e protege o meio

ambiente.

Outra ação que merece destaque foi o dia de campo promovido pela

Prefeitura de Ariranha do Ivaí e EMATER, com objetivo de discutir com os

agricultores do município a tecnologia de produção de leite. A vivência do pequeno

produtor também serviu para que os alunos conhecessem a realidade desse

segmento tão importante.

Ainda complementando as atividades, uma das alunas envolvidas neste

trabalho, entrevistou um produtor de hortaliças, onde deixou claro que a terra é o

fator essencial para sua sobrevivência e o cuidado com a mesma. Ao responder as

perguntas diz:

“trabalho com a agricultura há 25 anos com a minha esposa. Tenho duas filhas, que hoje trabalham em loja.(...) Os instrumentos que utilizo para produzir é um trator, e enxada, que é muito utilizada. Minha produção vai para as feiras livres do produtor e também para um supermercado. (...) Eu, na minha terra, utilizo adubação verde, aveia, restos das próprias folhas das verduras como adubo, adubo orgânico. As próprias minhocas servem como adubo para a terra. Uso água da minha própria propriedade aonde existe uma mina na qual já fiz até análise em laboratório que constatou água própria para o consumo ...”.

Abordar a questão regional é importante quando trabalhamos as disciplinas,

especialmente quando se trata da Geografia. Neste sentido, estabelecemos um

recorte da região dos Campos Gerais, especificamente da região onde está inserida

a Colônia Castrolanda, fundada por imigrantes holandeses que fizeram parte da

15

15

última etapa da colonização, que se deu em duas fases no Paraná: a de tipo

camponês e a de tipo capitalista. Esta constituiu o foco central deste estudo.

Pretendeu-se discutir a história do território, considerado como sinônimo do

espaço, a partir do seu uso pelo grupo de imigrantes citados, que se desenvolveu

dentro de um sistema cooperativo e contribuiu para a alteração da estrutura agrária

paranaense. A imigração européia era uma estratégia de povoamento, com a

finalidade de inovar as técnicas, introduzindo novos padrões de produção,

promovendo assim a modernização.

Esse foi o caso das 64 famílias holandesas que saíram do norte da Holanda,

em 1951 e vieram para o Paraná, instalando-se numa área de 7.000 hectares, no

município de Castro, região dos Campos Gerais.

Para a instalação dos colonos holandeses, cooperaram o governo estadual, o

governo federal e a instituição Christian Emigration Centre.

Duas fases marcaram o sistema de colonização no Paraná: a das colônias de

tipo camponês e as colônias de tipo capitalista que se desenvolveram em formações

cooperativistas. O sucesso das colônias de tipo capitalista, analisado sob o ponto de

vista econômico, esteve condicionado ao desenvolvimento de uma “economia de

mercado, às facilidades de financiamento e, bem como sua fundamentação em uma

organização de sistema cooperativo” (BALHANA, et al, 1969: 226).

Nesse grupo de colônias que se desenvolveram em formações

cooperativistas estão as colônias holandesas de Carambeí e Castrolanda, Tronco,

Arapoti, a colônia Witmarsum e os colonos japoneses, instalados em Castro, com a

Cooperativa Cotia. Esse tipo de colônia marcou a última fase de colonização e

contribui para modificar a estrutura agrária paranaense que era constituída por um

sistema agrícola dissociado da criação. Dentro do projeto de modernização, a

colonização representou a introdução de novos padrões de produção, novas

relações sociais.

O grupo de holandeses que se fixou no município de Castro trouxe 1250

cabeças de gado leiteiro, tratores, implementos e equipamentos para uma indústria

de laticínios. Apoiados em estudos e pesquisas de alto nível da Central de

Imigração da Holanda, dedicaram-se à pecuária leiteira e também à produção

agrícola, formando a colônia e Cooperativa Castrolanda. As Cooperativas Batavo e

Castrolanda criadas respectivamente em 1941 e 1951, constituíram a CCLPL

(Cooperativa Central de Laticínios do Paraná Ltda), uma usina moderna construída

16

16

no município de Castro e que atualmente faz parte de Carambeí, município

desmembrado de Castro em 1988.

Os primeiros anos dos imigrantes que fundaram a Cooperativa Castrolanda

foram da adaptação à realidade. A venda de gado constituía a renda principal.

Organizou-se um dia de gado leiteiro, inicialmente em algumas propriedades e

posteriormente foi adquirido um terreno para exposições (KIERS, 2000:139).

Buscando cada vez mais a melhoria na produção, foram organizados

cursos de ordenha, e iniciado o controle leiteiro. Em 1955 a colônia contava com um

posto de inseminação artificial onde eram mantidos touros selecionados com

excelentes listas genealógicas e assistido por médicos veterinários. Eram realizados

também exames de tuberculose e controle de febre aftosa. Houve um grande

progresso tanto em qualidade como em produção do leite. Num jornal da época a

fábrica de laticínios foi considerada como a mais moderna da América Latina.

A agricultura também foi significativa para a colônia. O governo holandês

cedeu consultores agronômicos que muito contribuíram para o desenvolvimento das

três colônias do Paraná: Castrolanda, Batavo e Arapoti. Importante também foi a

fundação da escola agrícola, em 1958, onde eram ministradas aulas de botânica,

adubação, pecuária, entre outras (KIERS, 2000:146).

Dez anos mais tarde foi inaugurado o Colégio Agrícola do Instituto Cristão,

onde os alunos tiveram a oportunidade de aprender as atividades agropecuárias e

aplicá-las na prática das propriedades. Através da Associação de Jovens

agricultores fundada sob a direção de engenheiros agrônomos, era possível trocar

idéias a partir de suas experiências, procurando ficar próximos dos níveis da

Holanda. (KIERS: 2001)

Formaram também, pequenos campos experimentais, onde a comissão

agrícola priorizava a produção de sementes. Eram organizadas excursões

instrutivas a propriedades e instituições e os dias de campo, que atraíam firmas que

comercializavam máquinas agrícolas e implementos. A agricultura teve um grande

progresso e passou a contribuir significativamente para o meio de vida da colônia

(KIERS, 2000:147).

A expansão agrícola esteve relacionada ao cultivo da soja e do milho. O

trigo era plantado com segunda cultura, crescendo também a cultura do arroz e do

feijão. Uma comissão formada para os campos experimentais realizava testes com

grande variedade de culturas, para indicar as mais apropriadas para a região,

17

17

considerando as diferenças de clima e solo para determinar a adubação, plantio e

pulverizações. Os campos experimentais permitem aos agricultores a observação

do ensaios que estavam sendo feitos e aplicá-los, se achassem conveniente, em

suas propriedades.

Foi na década de 60, durante o estado desenvolvimentista, que o governo

brasileiro passou atuar decisivamente e com propósitos definidos na agricultura

brasileira. As ações de política agrícola acompanharam as alterações ocorridas na

percepção do papel do estado na economia. A essência desta intervenção está,

num certo sentido, interpretada como a criação de mecanismos institucionais que

transferissem recursos financeiros de outros setores para as atividades agrárias,

sobretudo através do Banco do Brasil que passou a conceder crédito abundante e

subsidiado (SILVA, 2000).

A partir de 1970, implantou-se no Brasil, uma transformação da base

técnica de produção seguindo a Revolução Verde ocorrida na Europa, com

propósito de aumentar a produção de alimentos, dentro dos moldes capitalistas de

produção no campo. Os anos 70 ficou conhecido no Brasil como milagre

econômico. Buscava-se maior produção e diversificação das exportações agrícolas.

O Estado brasileiro viabilizou o processo de modernização da agricultura,

reforçando medidas já existentes na década anterior, como incentivos fiscais,

créditos rural, implantação de grandes eixos rodoviários.

Buscou-se, porém, atender os setores mais capitalizados. A absorção das

novas tecnologias de produção foi específica a algumas áreas, sendo

intrinsecamente relacionada a determinados tipos de culturas caracterizadas por

mercado em forte expansão no comércio internacional, com destaque para a soja

(CAMPOS & TSUKAMOTO, 2003). A modernização da agricultura, analisada sob o

contexto espacial, definiu espaços diferenciados, tendo em vista a maior ou menos

adesão às técnicas modernas.

Críticas também foram feitas à Revolução Verde, quando associada aos

movimentos ecológicos e ambientalistas, que para Moreira (2000), se desenvolve

em três aspectos: sociais, econômicos e técnicos. No aspecto social, a crítica se dá

na própria natureza do capitalismo na formação social brasileira e da tradição das

políticas na área econômica e no campo político de definição de prioridades. O

aspecto econômico refere-se à elevação dos custos do pacote tecnológico desta

Revolução, associada à crise do petróleo, onde houve redução dos subsídios de

18

18

crédito. O terceiro aspecto – o técnico, leva em consideração a poluição, o

envenenamento dos recursos naturais e dos alimentos, a perda da biodiversidade, a

destruição dos solos.

O incremento da cultura da soja, a expansão de novas áreas de cultivo

ocorreu de forma rápida, desordenada e destrutiva através da utilização do fogo,

arado, grade. Muitas regiões com variadas coberturas naturais, em diferentes

condições de clima e relevo foram desbravados. Na mesma proporção que

aumentava-se a área de produção, aumentava também as perdas de solo

(PEREIRA, 2000). Tornava-se necessário uma melhor eficiência em conservação do

solo e manejo das culturas.

Ainda no final da década de 60 foram iniciados, os primeiros trabalhos de

conservação do solo, porém com o uso da mecanização. “Nos países de clima

tropical e subtropical, a erosão causada pelas fortes chuvas ocorre com gravíssimas

conseqüências, com gigantescas perdas de solos, nutrientes e insumos, estes de

elevado custo e de difícil reprodução nas áreas afetadas” (PERERIRA, 2000:

Uma técnica de plantio sem o uso de mecanização estava sendo avaliada e

aplicada em países de clima temperado. No Brasil, a erosão hídrica, eólica e

financeira representava um grande problema a ser enfrentado naquele momento.

Foi iniciado um esforço conjunto integrando pesquisa e extensão oficiais,

cooperativas e produtores, para adotar medidas que minimizassem a degradação

dos solos. A integração resultou num novo sistema de produção chamado Plantio

Direto e posteriormente complementado para Plantio Direto na Palha “por depender

de um solo coberto, protegido e estável, totalmente diferente de tudo o que se tinha

visto e realizado até aquele momento” (PEREIRA, 2000).

O termo “plantio direto “origina-se do conceito de plantar diretamente sobre

o solo não lavrado, e o termo “na palha” acrescenta a idéia de manter o solo sempre

protegido por resíduos” (CARDOSO, 1998:5 )”. Nesse sistema, a rotação de

culturas viabiliza o controle de doenças e produção de palha para proteção do

solo.principalmente em relação ao controle de doenças e produção de palha

proteção do solo, que “sob vegetação natural encontra-se em equilíbrio dinâmico

em relação às propriedades que o caracterizam, pois está em conformidade com o

clima, o material de origem e a posição ocupada no relevo” (FANCELI, 2000:16).

“O sistema de Plantio Direto na Palha originou-se da intenção de combater

a erosão. Esse efeito resulta do controle do escorrimento da água de chuva por

19

19

meio de resíduos que conduzem a velocidade da água em movimento dando mais

tempo para infiltração. O movimento suave da água sobre o solo não perturbado

reduz dramaticamente sua ação erosiva (CARDOSO, 1998).

Para Cury (2000), a filosofia do PDP tem em sua essência o equilíbrio do

ecossistema , já que possibilita a auto-sustentação em termos econômicos, sociais

e ecológicos. Buscando esses benefícios, a Cooperativa Agropecuária Castrolanda

utiliza o sistema de PD em 100% de sua produção, o que resulta em grandes

benefícios ambientais, uma vez que há possibilidade de se preservar os recursos

naturais, reduzindo os níveis de contaminação dos cursos d' água e também para

os produtores que, entre outros ganhos, reduzem o uso de herbicidas, adquirem

maior produtividade das culturas, uma vez que podem regular a temperatura do

solo.

O PD é uma tecnologia importante também para a agricultura familiar. “O

marco do desenvolvimento dessa tecnologia para a pequena propriedade ocorreu

em meados da década de 80, quando foi lançado o primeiro protótipo de

semeadora-adubadora de plantio direto e tração animal Gralha Azul / IAPAR” (

RIBEIRO & MIRANDA, 2000 p:190).

A Cooperativa Agropecuária Castrolanda, é uma das mantenedoras da

Fundação ABC, primeira instituição de pesquisa aplicada à agropecuária criada por

produtores rurais e também uma das pioneiras no desenvolvimento do PD no país.

A década de 70 foi muito significativa para a atividade agropecuária

brasileira. Grandes avanços ocorreram na avicultura, suinocultura, nas técnicas

ligadas à bovinocultura, como a inseminação artificial, confinamento, forragens e

manejo. A criação da Embrapa em 1973, deu impulso à pesquisa na agricultura.

Para a Cooperativa Castrolanda, nos anos 70 houve crescimento horizontal

e os anos 80 favoráveis para o seu crescimento vertical. Na década de 80, ocorreu

uma mudança do papel do estado na economia de mercado. O intervencionismo foi

substituído pelo neoliberalismo, onde considera-se que as forças do mercado são

mais eficazes para promover a prosperidade econômica. O reflexo da política

neoliberal no setor agrícola, fez com que os subsídios fossem eliminados e também

reduzia sua importância na oferta de crédito, procurando transferir para o mercado

as tarefas antes exercidas pelo governo.

A agropecuária brasileira sofreu grandes mudanças significativas na década

de 90, com a abertura e globalização dos mercados. Nos anos 90, a política de

20

20

inserção internacional e de comércio, exigia, entre outros pontos, o aumento de

eficiência na produção, com a incorporação de tecnologia e padrões de

produtividade internacionais, modernizar o sistema logístico de exportação, expor a

indústria nacional à concorrência e à capacidade competitiva internacional.

Em 1995, houve queda nos preços dos produtos agropecuários, a correção

dos financiamentos e a alta da inflação deixou muitos produtores em situação difícil.

“A ordem era baixar os custos, melhorar a produtividade, ser competitivo eficiente.

As cooperativas não ficaram fora desse ambiente” (BORG, 2001, p:132).

De acordo com Garcias (2002), no período de 1995-1999, o governo

brasileiro estabeleceu uma Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior,

considerando o processo de globalização que exigia a participação e expansão no

mercado internacional, inserindo-se dessa forma nos mercados internacionais e nos

processos globais apresentando níveis de competitividade compatíveis com os

padrões internacionais.

Partindo desse contexto, o governo brasileiro sentiu necessidade de

desenvolver políticas de incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologia, de

capacitação profissional, gestão empresarial, aliados a programas de

desenvolvimento da qualidade e produtividade nas empresas (GARCIAS, 2002). A

tomada de decisões estratégicas, como fusões, alianças entre empresas, passou a

fazer parte do mundo globalizado.

As cooperativas paranaenses de leite constituem três grupos: as do Norte,

as do Oeste e as do Sul, que movimentam o maior volume de leite comercializado.

A Coopersul ( voltada para grãos) e a CCLPL ( atuação no processo de recebimento

e comercialização do leite), são as duas centrais que possuem em seu quadro de

associados cooperativas singulares que comercializam leite. Diante da necessidade

de racionalizar as atividades de acordo com um novo arranjo organizacional, em

1996 as cooperativas singulares Batavo, Capal e Castrolanda, que pertenciam às

duas centrais passaram a participar somente da CCLPL. GARCIAS, 2002).

A Cooperativa Castrolanda, deixou a participação societária da Coopersul

por entender que a “atividade de esmagamento da soja não mais trazia vantagens

de valor agregado ao produto, nem tampouco representava uma garantia de

escoamento da safra aos produtores e também por agregar um fator de risco

financeiro” (BORG, 2001,: 133)

21

21

Em 1998, a Cooperativa Central criou uma nova empresa com o nome

Batávia S/A da qual ela mesma era acionista, com 46,% das ações, a Parmalat com

51% e a Agromilk com 3%. Esta empresa ficou com o parque industrial da CCLPL,

sendo a indústria de laticínios, frigorífico de suínos e aves. Em 2000 a Batavia S/A

vendeu a área de carne para a Perdigão S/A, ficando na Batávia S/A a indústria de

laticínios e a marca Batavo para lácteos e carnes. Em 2006 a Perdigão comprou as

ações da Parmalat. Em 2007 a CCLPL vendeu suas ações na Batávia para a

Perdigão S/A. Enquanto isto as Cooperativas Agropecuárias Batavo, Castrolanda e

Arapoti continuam suas atividades servindo os associados com prestação de

assistência técnica e comercializando a produção dos mesmos, como o leite a

granel, suínos vivos e grãos, fazendo com que estes obtenham o melhor preço no

mercado. as cooperativas garantem a organização social dos produtores e as

entidades de classe, a representatividade no setor, mas é o campo que dá a

sustentabilidade dessa cadeia produtiva.

Como forma de vivenciar os conteúdos trabalhados em sala de aula com a

realidade, os alunos realizaram uma visita à Castrolanda, para que através do

estudo do local, pudessem vivenciar o uso do território, considerado como sinônimo

de espaço geográfico. Foi possível observar aspectos do espaço vivido no passado

e no presente e perceber que as mudanças determinadas de fora, interferem na

significação do território, em suas relações econômicas, sociais e individuais,

tornando possível perceber os aspectos do global nos lugares.

O museu da colônia, um importante referencial histórico, mostra através de

sua construção e mobiliário, instrumentos de trabalho, a sua cultura, fatores estes

que serviram como base para o estabelecimento de comparações:

mudanças/permanências.

A entrevista realizada com uma senhora holandesa, que chegou na colônia

aos 11 anos, falou sobre as dificuldades de adaptação, mencionando a necessidade

de voltarem suas atividades também para a agricultura, uma vez que sua prática

estava relacionada à pecuária. O gado também passou por um período de

adaptação em relação ao pasto e ao clima. Destacou que a união e a cooperação

entre as famílias foi fundamental a adaptação e o desenvolvimento da colônia.

Durante a visita os alunos também tiveram a oportunidade de observar o

solo utilizado com o sistema de Plantio Direto assim como o conhecimento da

Cooperativa Central de Laticínios do Paraná no município Carambeí. O objetivo

22

22

dessa visita foi tornar mais compreensível as interferências do processo de

globalização no ambiente institucional, tendo em vista as políticas econômicas e sua

influência na formação de alianças estratégicas da cooperativa que passou a operar

com outros grupos.

Ficou bastante evidente a atualização tecnológica no processo de produção

da Cooperativa Castrolanda, que visa o contínuo investimento em pesquisas,

buscando parcerias com empresas privadas, através de contratos de cooperação

técnica. Mantém também vínculos com empresas de pesquisa pública como IAPAR,

UFPR, EMBRAPA, UEPG, UEL, UNIOESTE, ESALQ-USP, UFRGS, UPF, dentre

outras. Neste sentido proporciona aos seus cooperados o suporte técnico

necessário para o alcance de uma alta produtividade com qualidade, exigências do

mercado global.

No contexto atual, as parcerias, a atuação dos órgãos estaduais são

fundamentais para o desenvolvimento e aplicabilidade da tecnologia. Destacou-se o

papel do IAPAR (instituto Agronômico do Paraná), órgão vinculado à Secretaria de

Agricultura e Abastecimento. Fundado em 1972, busca melhorar a produção das

lavouras e criações do Paraná. Desenvolve tecnologias, adequadas ao perfil do

produtor paranaense, que minimizem o impacto ambiental; fornece suporte científico

aos programas do governo para o setor rural e trabalha em colaboração com

universidades e institutos de pesquisa do país e do exterior, prefeituras, empresas

privadas e cooperativas.

A globalização econômica provocou a concentração de renda e exclusão. O

cooperativismo busca a união, a inclusão, o desenvolvimento econômico e social

tecnológico com elevado potencial para investimentos, proporcionando a

possibilidade dos produtores inserirem-se no mercado competitivo que exige alto

investimento tecnológico. As cooperativas garantem a organização social dos

produtores e as entidades de classe, a representatividade no setor.

Neste cenário, as cooperativas do agronegócio estão “atingindo maturidade e

sustentabilidade em um ambiente concorrencial de acirrada competitividade,

particularmente com as multinacionais de alimentos, imprimindo melhoria e

treinamento intensivo no aprimoramento de sua capacidade gerencial, tecnológica e

na formação e capacitação de seus funcionários e associados” (NEVES, 2005: 43).

Para Neves (2005:107), a cadeia produtiva agroalimentar é longa e

complexa, uma vez que o complexo industrial impõe relações biológicas com toda a

23

23

diversidade relacionada às vidas vegetal e animal e suas conexões com as

econômicas. Exige um esforço de equipe inter e multidisciplinar. A cadeia produtiva

do agronegócio, que tem como base as atividades agropecuárias e engloba todo o

complexo para sua produção, é competitiva e busca cada vez mais eficiência e

avanço.

Aplicando-se a essa cadeia uma concepção de corrente, pode-se dizer que

tem seu elo inicial representado pelo “antes da porteira” englobando áreas de

Ciência e Tecnologia, Pesquisa e Desenvolvimento, em organizações públicas e

privadas, conectado seqüencialmente pelo estabelecimento agrícola, com toda a

diversidade no “dentro da porteira” e seguido pelos elos do “pós-porteira”, com a

industrialização, transformação, o processamento, os equipamentos atacadistas e

varejistas, até chegar ao elo final, que se espalha por todo o mundo: o consumidor.

Também devem ser considerados os elos de suporte representados pelos agentes

do setor terciário. (NEVES, 2005)

O crescimento das cooperativas brasileiras do agronegócio é favorecido

pelas oportunidades de mercado, implementação de uma administração profissional

e qualificação dos profissionais dos diferentes segmentos, prática dos princípios do

cooperativismo, melhor dimensionamento e escalonamento de investimentos, e

também pelo constante investimento em tecnologia.

Essas cooperativas são vistas, segundo Neves (2005), como o motor da

interiorização do desenvolvimento, por unir um contingente enorme de agentes

econômicos e arregimentar um sem-número de mini, pequenos, médios e grandes

produtores rurais, ser a grande fonte geradora de emprego ao longo da cadeia

alimentar por incrementar a renda e a formação de capital e ser também a grande

ativadora do setor terciário regional.

O Brasil lidera o mercado de diversos produtos agropecuários e o

agronegócio apresenta-se como uma potência na economia brasileira.

As cooperativas exercem um papel fundamental na industrialização do leite

no Paraná, estado que possui uma das principais bacias leiteiras do Brasil. A

Cooperativa Agropecuária Castrolanda responde pela maior parte da produção de

leite.

A posição de destaque da Cooperativa é resultado do constante

investimento tecnológico, destacando-se a atuação da Fundação ABC, uma

instituição de caráter particular mantida pelas cooperativas Capal (Arapoti), Batavo e

24

24

Castrolanda, que desenvolve pesquisas, realiza cursos periódicos, simpósios, dias

de campo, recebe apoio técnico para o desenvolvimento das práticas de seus

cooperados.

A Cooperativa Castrolanda, apresenta anualmente na feira de tecnologia

leiteira, a Agroleite, considerada uma referência nacional, o processo produtivo da

cadeia do leite, demonstrando o potencial e a qualidade de sua produção. Como no

início de sua formação, continua realizando leilões de gado, o Leilão Elite, onde

juízes do Brasil e de outros países, continuam participando do julgamento dos

animais, que pertencem às raças pardo-suíço, Jersey e simental.

AUBL (Usina de Beneficiamento de Leite), inaugurada no segundo semestre

de 2008, também coloca a Cooperativa como referência na industrialização de

derivados lácteos. Chegam na unidade, 700 mil litros de leite/dia, vindos dos

produtores que fazem parte do POOL ABC, formado pelas cooperativas Capal,

Batavo e Castrolanda. A UBL funciona como um centro de inspeção. Nela o leite é

evaporado a vácuo, num processo que mata germes e pasteuriza o produto.

Considerando o avanço das pesquisas científicas no setor pecuário, destaca-

se as tecnologias de reprodução bovina que permite uma previsão sobre o

rendimento da carne ou do leite de cada animal. O sêmem sexado, possibilita a

escolha do sexo do bezerro, permitindo a escolha de machos ou fêmeas,

dependendo do tipo de produção desenvolvida pelo pecuarista.

Diante de tanta evolução tecnológica, percebe-se as grandes

transformações no mundo rural e a necessidade de se apoiar técnica e

financeiramente o pequeno e médio produtor que é parte integrante do processo

produtivo.

A preservação ambiental, o desenvolvimento sustentável, deve ser um

compromisso para quem produz, visando a restauração e manutenção do equilíbrio

ecológico. As cooperativas garantem a organização social dos produtores e as

entidades de classe, a representatividade no setor, mas é o campo que dá a

sustentabilidade dessa cadeia produtiva.

Para complementar este estudo, foram distribuídos questionários ao

produtores cooperados, para que os dados obtidos permitissem uma melhor

compreensão da composição e dinâmica de produção desse local.

Através da pesquisa pudemos constatar na região que serviu de base para

este estudo, a coexistência da pequena, média e grande propriedade numa mesma

25

25

área. As propriedades produtivas tem uma área que varia entre 1.000 ha a 12 ha.

Os produtores são, na maioria, proprietários de toda a área destinada a sua

produção e contam como suporte de armazenagem, silos para forragem e grãos em

suas propriedades.

A trajetória histórica das relações de trabalho mostra que as mesmas se

alteraram passando pelo trabalho escravo, o colonato, a parceria, chegando ao

trabalho familiar, onde a atividade agrícola e/ou pecuária, são para a maioria,

atividades de sua sobrevivência e o que almejam é permanecer na terra.

Constatou-se, através pesquisa realizada com os produtores ligados à

cooperativa, que a maioria deles está instalada na região há vários anos, porém

alguns se estabeleceram mais recentemente. As culturas que desenvolvem está

relacionada às culturas de milho, aveia, azevém e sorgo. Praticam, em grande parte

das propriedades, a integração da atividade agrícola com a pecuária, predominando

nesta, a criação de gado leiteiro e em menor escala, suínos e aves.

O uso da tecnologia de ponta cria dificuldades aos produtores, que muitas

vezes é suprida com a terceirização dos trabalhos e serviços.. Ela representa um

fator que contribuiu para a liberalização da mão-de-obra para outros serviços.

Pudemos constatar neste estudo, que a renda familiar de alguns produtores é

complementada com o trabalho de seus familiares em outro segmento, como:

comércio, associação trabalhista, assistente técnico de ordenhadeira, funcionário

público, transporte, professor, e autônomo.

A prática produtiva da Cooperativa Castrolanda está inserida no contexto da

trajetória de transformações pela qual passou e vem passando a atividade

agropecuária, motivo este, que se tornou o objeto deste estudo.

O sistema cooperativo demonstra sua importância numa atuação de

integração lavoura-pecuária. Essa integração, considerada o ponto fundamental

para a primeira revolução agrícola, é complementado atualmente com a exploração

do mercado de créditos de carbono, e também com o manejo da madeira. Essa

prática evidencia a possibilidade e produzir e obter lucros de uma forma sustentável.

A preservação ambiental, o desenvolvimento sustentável, deve ser um

compromisso para quem produz, visando a restauração e manutenção do equilíbrio

ecológico.

A tecnologia tem papel fundamental na produção do sistema agroalimentar.

Porém, é imprescindível que os indivíduos não percam a visão de si mesmos, da

26

26

integração, da interação, da cooperação, enfim, da inter-relação entre suas ações e

a natureza.

CONCLUSÃO

O objetivo fundamental deste trabalho consistiu em reconstruir, a partir de

uma revisão literária, a trajetória do processo de transformação que a produção

agropecuária sofreu a partir do final do século XVIII e início do século XIX, no oeste

europeu, sua repercussão numa escala global, assim como a importância dessas

atividades para a economia brasileira, especialmente paranaense, na região dos

Campos Gerais.

O surgimento de necessidades implica em ações para saná-las ou minimizá-

las. As mudanças gradativas que ocorreram no processo de produção agropecuária

estiveram relacionadas, inicialmente, ao aumento da produtividade. Posteriormente,

as mudanças se deram a partir de apropriações sucessivas, porém parciais, de

substitutos industriais para os produtos rurais. Diferentes aspectos da produção

agrícola foram transformados em setores específicos da atividade industrial,

surgindo ramos industriais autônomos: o de maquinários agrícolas e o de

fertilizantes, sementes híbridas.

As bases do sistema alimentar foram preservadas, porém, surgiram capitais

industriais em torno de sistemas agrícolas, de comercialização e de processamento

de grãos e criações. O processo de apropriação industrial de setores da atividade

agrícola não seguiu os mesmos passos da manufatura, nem poderia, uma vez que a

agricultura confronta o capitalismo com um processo de produção natural.

Com a impossibilidade de criar um processo de produção unificado, os

capitalistas industriais foram adaptando-se às especificidades da natureza. O

desenvolvimento do complexo agroindustrial foi sendo determinado pelas inovações

mecânicas, químicas e genéticas.

O conhecimento científico permitiu a interferência na produção biológica. As

novas biotecnologias, particularmente da engenharia genética, marcaram um

avanço na manipulação industrial da natureza e deram início a uma revolução

tecnológica na reprodução de plantas e animais domésticos, nos agroquímicos e na

fabricação de alimentos.

O processo de reprodução de animais e plantas está se constituindo em lucro

27

27

aos capitais industriais. A ciência, a competitividade, o lucro, fazem parte do cenário

global, onde o conhecimento passou a ser a peça chave do desenvolvimento das

sociedades.

No Brasil, o agronegócio vem se fortalecendo, aumentando a competitividade

do país no mercado mundial. Porém, sua sustentabilidade depende de tecnologias

inovadoras que agreguem valor, sejam compatíveis com as preferências dos

consumidores, associando-as à sustentabilidade não só econômica, mas também

social e ambiental.

Essa necessidade vem se refletindo nos rumos da educação. Algumas

instituições já vem se ajustando às novas exigências desenvolvendo programas

educacionais voltados a essa necessidade.

A preocupação das empresas vai além da fabricação do produto. A

qualidade do mesmo é que faz a diferença e aí se faz necessária a atuação de

equipes inter e multidisciplinares para colocar no mercado produtos que atendam as

mais diversas necessidades do consumidor que busca cada vez mais uma

alimentação saudável sob o ponto de vista ambiental, clínico e nutricional.

As alterações que ocorreram e vem ocorrendo no processo produtivo

agropecuário tiveram uma grande repercussão econômica no campo, porém seus

reflexos estendem-se também no aspecto social, ambiental, técnico e humano. No

aspecto social percebeu-se uma certa exclusão por parte dos produtores, tendo em

vista a sua possibilidade ou não de ter acesso à tecnologia, a informação, mercado,

apoio financeiro e técnico.

Pudemos aprofundar, através deste trabalho, o conhecimento sobre as

interferências do processo de globalização também no ambiente institucional, tendo

em vista as políticas econômicas e sua influência na formação de alianças

estratégicas como ocorreu com a Cooperativa.

Possuindo um comportamento voltado para o desenvolvimento, a

cooperativa vem demonstrando sua preocupação constante com a pesquisa e o uso

da tecnologia de ponta. Constitui um pólo difusor do cooperativismo apresentando

como resultado dos investimentos alta qualidade e produtividade. Representa um

modelo na produção de grãos pela prática do sistema de Plantio Direto em 100% de

sua produção.

A valorização do consumidor, associada às políticas de desregulamentação e

de abertura da economia, tornam o ambiente da cadeia do leite cada vez mais

28

28

competitivo. Atendendo as imposições do mercado, a cooperativa, através do

processo produtivo dessa cadeia tornou-se uma referência nacional. Comprova

essa colocação, a realização da Agroleite, o Leilão Elite e a UBL.

O espaço rural apresenta uma diversidade de pequenas, médias, grandes

propriedades, produções, relações de trabalho, unidades familiares, empresas de

comercialização, cooperativas, constituindo um todo produtivo que está em grande

parte atrelado à indústria, ao capital financeiro e outros setores. Faz-se necessário

neste contexto as parcerias, a implementação de políticas públicas.

A modernização do processo agropecuário trouxe dificuldades em relação à

necessidade de readequação da pequena propriedade com novas formas de

produzir, como a integração de atividades, a pluriatividade, suporte técnico,

competitividade, exigências de mercado.

O uso da tecnologia proporcionou a possibilidade de um melhor manejo nas

áreas produtivas, considerando também a questão ambiental, exploração de

diferentes culturas que podem ser adaptadas aos diferentes tipos de solo e clima,

diversificando a alimentação, criando também novos setores de trabalho.

Este trabalho constituiu uma rica oportunidade para que o ensino-

aprendizagem tivesse ótimo resultado por oportunizar diferentes metodologias e

valorizar a disciplina. Pode-se chegar a essa conclusão através da avaliação feita

pelos alunos, como considerou um dos alunos:

“pra mim foi muito importante estudar geografia por que eu aprendi muitas coisas que eu nem imaginava que existia, (...) aprendi, talvez não perfeitamente, mas quando eu ouvir falar e alguma coisa que eu ouvi dentro da sala eu vou saber o que é. Foi uma aula que deu para viajar pelo mundo, conhecer a tecnologia saber sobre a agricultura conhecer novas culturas. foi realmente muito bom.

Ciência, conhecimento, tecnologia, competitividade, produtividade, lucro!

Palavras de ordem no mundo atual. Neste contexto é imprescindível que os

indivíduos não se esqueçam das “três dimensões da existência humana: o espaço,

o tempo e o ser.”

Diante das grandes transformações que ocorreram nas práticas agrícolas e

no sistema alimentar, ainda temos um caminho que será determinado pelas

“limitações estruturais do processo de produção agrícola representado pela

natureza enquanto conversão biológica de energia, enquanto tempo biológico no

crescimento das plantas e na gestação animal e enquanto espaço nas atividades

rurais baseadas na terra”.(GOODMAN: 1990:1).

29

29

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BALHANA, A.P; MACHADO, B.P. Campos Gerais: estruturas agrárias. Curitiba: UFPR- Faculdade de Filosofia, 1968. BONI, C. E; CUNHA, M.S. Evolução da estrutura fundiária no Estado do Paraná no período de 1970 a 1995/96. Agronegócio Paranaense: Potencialidades e desafios.Edunioeste, 2002. CARVALHO, M.S de. Geografia, meio ambiente e desenvolvimeno.UEL.2003 CUNHA, M.S; SHIKIDA, P.F.A; JÚNIOR, W.F.R. Agronegócio Paranaense. FERREIRA, Darlene A.O. O mundo rural e geografia. Geografia Agrária no Brasil.São Paulo:Unesp.2002. FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 2 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1998. GOODMAN, D; SORJ, B; WILKINSON, J. Da lavoura às biotecnologias. Agricultura e indústria no sistema internacional.Rio de Janeiro: Campus, 1990. KIERS POT, C.H.L. Castrolanda 50 Anos 1951-2001 NADALIN,S.O.Paraná:ocupação do território, população e migrações.Curitiba:SEED, 2001 NEVES, M.F. Agronegócio do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2005. OLIVEIRA, Ricardo Costa de. A construção do Paraná Moderno. Políticos e Políticas no Governo do Paraná de 1930 a 1980: Curitiba, SETI, 2004. PADIS, P. Formação de uma economia periférica: o caso Paraná. Curitiba/São Paulo: Hucitec/SECE, 1981. SANTOS, M; SILVEIRA, M.L. O Brasil: Território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro/ São Paulo: Record, 2005. SANTOS, C. História da alimentação no Paraná. Curitiba: F. Cultural, 1995. SOJA, E. Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: Zahar, 1993. Guia para plantio direto. Coordenação: Grupo Plantio Direto. Colaboração: Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP). Julho 2000. CARDOSO, F.P. Plantio Direto na Palha – PDP, 3 ed: GPD, 1998. Informativo IAPAR. SEAB. Agosto, 2004. Informativo de resultados da ação extensionista - O Homem e a Terra. Abril/maio de 2007, ano 6, n. 33. Jornal Gazeta do Povo – Caminhos do Campo, 19, 26 de agosto de 2008.