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nova Economia_Belo Horizonte_16 (3)_375-406_setembro-dezembro de 2006 Transições e duração do desemprego: uma revisão da literatura com novas evidências para Belo Horizonte Mariangela Furlan Antigo Cedeplar/UFMG Ana Flávia Machado Cedeplar/UFMG Resumo Este trabalho investiga os fluxos entre os estados do mercado de trabalho – ocupação, desemprego e inatividade – e a permanência no estado de de- semprego na Região Metropolitana de Belo Ho- rizonte, com base nos dados da PME, entre 1997 e 2001. Entre as características individuais, os re- sultados apontam que o comportamento do de- semprego para jovens e mulheres é afetado mui- to mais pela maior incidência desses grupos nesse estado, porque são observadas maior intensidade e maior freqüência dos fluxos entre os outros es- tados de ocupação – desemprego e inatividade – do que por um longo período de permanência no desemprego. No caso de longa duração, os indi- víduos mais escolarizados que estão há mais tem- po sem trabalho e que, na última ocupação, ti- nham carteira de trabalho assinada são os mais atingidos. Percebe-se que a seletividade do mer- cado de trabalho, as formas precárias de inser- ção e o comportamento da atividade econômica dessa região contribuem para o aumento tanto do desemprego quanto da rotatividade entre os grupos com menor estabilidade no mercado de trabalho. Nesse sentido, conclui-se que o fenô- meno do desemprego na RMBH é afetado não só por fatores individuais, como também pelo comportamento da atividade econômica, con- firmando, assim, o predito pelos modelos de busca de emprego. Abstract This work investigates movement between the states of the labor market – occupation, unemployment and inactivity – and the duration of unemployment in the Belo Horizonte Metropolitan Region, between 1997 and 2001, using panel data from IBGEs Monthly Employment Survey (PME). Among the individual characteristics, the results show that the behavior of unemployment for young people and women is much more affected by the higher incidence of these groups in this state. This is so because greater intensity and longer stays are observed for these groups in the other two states, unemployment and inactivity, than by long periods of unemployment. Individuals with higher education levels who had signed labor contracts in their last jobs were the hardest hit by long-term unemployment. The selectiveness of the labor market, precarious labor relations and the behavior of economic activity in this region contribute to the increase in both unemployment and in turnover among groups with less stability in the labor market. The study concludes that the phenomenon of unemployment in the BH Metropolitan Area is affected not only by individual factors, but also by economic activity, thus confirming what the employment search models predicted. Palavras-chave desemprego, transição, modelos de sobrevivência. Classificação JEL J64. Key words unemployment, mobility, survival models JEL Classification J64.

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nova Economia_Belo Horizonte_16 (3)_375-406_setembro-dezembro de 2006

Transições e duração do desemprego:

uma revisão da literatura com novas evidências para Belo Horizonte

Mariangela Furlan AntigoCedeplar/UFMG

Ana Flávia MachadoCedeplar/UFMG

Resumo

Este trabalho investiga os fluxos entre os estadosdo mercado de trabalho – ocupação, desempregoe inatividade – e a permanência no estado de de-semprego na Região Metropolitana de Belo Ho-rizonte, com base nos dados da PME, entre 1997e 2001. Entre as características individuais, os re-sultados apontam que o comportamento do de-semprego para jovens e mulheres é afetado mui-to mais pela maior incidência desses grupos nesseestado, porque são observadas maior intensidadee maior freqüência dos fluxos entre os outros es-tados de ocupação – desemprego e inatividade –do que por um longo período de permanência nodesemprego. No caso de longa duração, os indi-víduos mais escolarizados que estão há mais tem-po sem trabalho e que, na última ocupação, ti-nham carteira de trabalho assinada são os maisatingidos. Percebe-se que a seletividade do mer-cado de trabalho, as formas precárias de inser-ção e o comportamento da atividade econômicadessa região contribuem para o aumento tantodo desemprego quanto da rotatividade entre osgrupos com menor estabilidade no mercado detrabalho. Nesse sentido, conclui-se que o fenô-meno do desemprego na RMBH é afetado nãosó por fatores individuais, como também pelocomportamento da atividade econômica, con-firmando, assim, o predito pelos modelos debusca de emprego.

Abstract

This work investigates movement between the states of

the labor market – occupation, unemployment and

inactivity – and the duration of unemployment in the

Belo Horizonte Metropolitan Region, between 1997

and 2001, using panel data from IBGE’s Monthly

Employment Survey (PME). Among the individual

characteristics, the results show that the behavior of

unemployment for young people and women is much

more affected by the higher incidence of these groups

in this state. This is so because greater intensity and

longer stays are observed for these groups in the other

two states, unemployment and inactivity, than by long

periods of unemployment. Individuals with higher

education levels who had signed labor contracts in

their last jobs were the hardest hit by long-term

unemployment. The selectiveness of the labor market,

precarious labor relations and the behavior of

economic activity in this region contribute to the

increase in both unemployment and in turnover

among groups with less stability in the labor market.

The study concludes that the phenomenon of

unemployment in the BH Metropolitan Area is

affected not only by individual factors, but also by

economic activity, thus confirming what the

employment search models predicted.

Palavras-chave

desemprego, transição,modelos de sobrevivência.

Classificação JEL J64.

Key words

unemployment, mobility,

survival models

JEL Classification J64.

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1_ IntroduçãoO ambiente macroeconômico vivencia-do pela economia brasileira na década de1990 afetou intensamente o desempenhodo mercado de trabalho. Uma das caracte-rísticas mais marcantes observadas nesseperíodo foi o aumento das taxas de de-semprego, em que a evolução desfavorá-vel é ainda agravada pela elevação simul-tânea da duração média do fenômeno,pelas fortes alterações ocorridas na suacomposição, passando a atingir os maisdiversos segmentos da força de trabalho.Outra característica das mudanças no mer-cado de trabalho brasileiro parece ter si-do o aumento dos fluxos de entrada e saí-da da ocupação, desemprego e inativi-dade. Nesse sentido, a problemática do

desemprego ganhou grande relevância nosanos 90 e tem ocupado lugar de destaqueno debate econômico nacional.

As taxas mensais de desempregono Brasil metropolitano permaneceramem níveis relativamente baixos do inícioda década de 90 até meados de 1997,quando passaram a apresentar leve ten-dência de crescimento, confirmada, a par-tir de 1998, em todas as regiões metro-politanas, como pode ser observado nográfico a seguir. Contudo, a Região Me-tropolitana de Belo Horizonte1 apresentaum quadro mais alarmante, já que, de umaposição relativa com baixos níveis de de-semprego, passa a figurar entre as regiõesde níveis mais elevados (Gráfico 1).

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Gráfico 1_ Taxa de Desemprego, Regiões Metropolitanas, 1991/2002

Fonte: IBGE, Pesquisa Mensal de Emprego, 1991/2002.

1 Doravante denominada RMBH.

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Concomitantemente a esse panora-ma vislumbrado pela RMBH, observou-se, ao longo dos anos 90, nessa região, co-mo retratado em Lemos (2004), um esgo-tamento de sua capacidade de crescimentosustentado e diferenciado, evidenciando,assim, uma perda de posição relativa nocontexto econômico nacional.

Como fatores inibidores à susten-tação do crescimento econômico dessaregião, tem-se a precária situação atual desua malha de transporte rodoviário inter-regional, que resulta em aumento do cus-to de transporte dos fluxos inter-regionaisde bens e serviços e menor acessibilidadeao mercado nacional, a redução nas in-tenções de investimento, principalmentea partir do final da década e, sobretudo,o pequeno dinamismo recente da indús-tria metropolitana de Belo Horizonte.Tais dificuldades estruturais criam empe-cilhos para a retomada de um novo ciclode expansão econômica (Lemos, 2004).

Esse reduzido dinamismo obser-vado na indústria é dado pelo fato de Be-lo Horizonte se enquadrar como umametrópole da segunda geração da indus-trialização brasileira, enquanto São Pauloe Rio de Janeiro compõem seu primeirociclo. Estas apresentam, por isso mesmo,uma estrutura diversificada, enquanto Be-lo Horizonte detém uma estrutura pro-dutiva mais especializada, que talvez se

reflita no desempenho e nas característi-cas do seu mercado de trabalho.

A estrutura produtiva especializa-da e o comportamento menos dinâmicodessa base contribuíram para o cresci-mento dos serviços tradicionais de baixaprodutividade, para o aumento de ocupa-ções informais (precários, temporários,conta própria) e o de indivíduos que nãoconseguem se inserir no mercado de tra-balho. O setor terciário dessa região que,nos anos 70 e 80, foi caracterizado poruma modernização muito superior às de-mais regiões metropolitanas brasileiras,sofre interrupção dessa modernização naúltima década, fruto, principalmente, dorefreamento da dinâmica industrial (Si-mões et al., 2004).

Tal contexto indica, assim, as difi-culdades de aprofundar suas cadeias pro-dutivas, bem como de diversificar sua es-trutura industrial, o que afeta, de formadecisiva, a posição competitiva de BeloHorizonte no contexto nacional e inter-nacional, refletindo-se diretamente nofuncionamento do seu mercado de traba-lho, em que os fenômenos do desempre-go e da deterioração das condições detrabalho passaram a ocupar lugar de des-taque entre os problemas enfrentados naregião. O mercado de trabalho da RMBHparece apresentar características própriasdado o seu padrão de industrialização.

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Nesse sentido, é importante co-nhecer, na RMBH, os determinantes daduração do desemprego, bem como acomposição dos fluxos de entrada e saídada força de trabalho da ocupação, desem-prego e inatividade, ou seja, qualificá-loe quantificá-lo em termos de seus prin-cipais atributos. A identificação das ca-racterísticas do desemprego e o conhe-cimento de sua composição têm impor-tantes implicações para a eficácia de polí-ticas públicas que devem ser desenhadasde acordo com a sua estrutura.

O artigo está, portanto, divididoem seis seções, considerando esta intro-dução. Na próxima seção, mostra-se omodelo de busca por emprego que nor-teia toda a análise, apresentando-se, naterceira, algumas evidências de estudosinternacionais e nacionais semelhantes.Na quarta e quinta seções são descritos ametodologia e os resultados obtidos, e,na última, traçam-se algumas considera-ções gerais sobre o trabalho.

2_ Modelo de busca por emprego

Ao se considerar o fenômeno do desem-prego, os modelos de busca por empregoapresentam grande relevância, tendo si-do muito utilizados em estudos empíri-cos. Esses modelos consideram que o

desemprego não é afetado somente pelocomportamento da atividade econômica,mas também por atributos pessoais da-queles que buscam uma ocupação. Ouseja, tais modelos procuram fornecer mi-crofundamentos para o desemprego, en-fatizando as condições de busca e as ca-racterísticas pessoais do desempregado,na tentativa de explicar o desemprego.

De acordo com Layard, Nickell eJackman (1991), o desemprego dependenão apenas de pressões salariais, tais co-mo as exercidas pelos sindicatos e/oupela generosidade do sistema de benefí-cios, mas também da efetividade de bus-ca do desempregado. Nessa efetividadede busca, são considerados quaisquer fa-tores que afetem a velocidade com a qualo desempregado encontra emprego, co-mo a eficiência da transmissão de infor-mação com relação a vagas, ao tempoe ao esforço dedicado pelo desemprega-do para buscar emprego, sua preferên-cia com relação a vagas e empregos ofe-recidos e às práticas de recrutamento dosempregadores.

Os modelos de busca partem deuma função contratação em que o núme-ro de pessoas que deixam o desempregopor período (H) é em decorrência do nú-mero de vagas existentes na economia(V) e do número de indivíduos que efeti-vamente procurou emprego (cU), sendo

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U o número de pessoas desempregadas,e c a efetividade média de busca. Assim,H h V cU� ( , ).

A função contratação, H(.), é umafunção linear homogênea de grau 1, emque o número de contratações dobra, seV e U fazem o mesmo. Dividindo-se am-bos os lados por cU, tem-se:

H

Uch

V

cU� �

��

��, 1

Para a qual, a taxa de saída do de-semprego depende apenas da razãode vagas com relação ao desemprego�H/�V > 0 e da efetividade de busca dosdesempregados �H/�cU > 0 .

Um indivíduo i, com efetividadec i , terá a probabilidade de deixar o de-semprego dado por sua efetividade debusca individual c i e pelas mesmas variá-veis agregadas, isto é,

h

Uc h

V

cU

ii� �

��

��, 1

Assim, há dois conjuntos de fatoresque afetam a obtenção de um posto detrabalho:

1. Os fatores individuais, os quaissão funções do rendimento rela-tivo e dos atributos pessoais, sãodados por:

c cB

qii

w

i��

���

���

,

em que Bi é a renda de reserva do

indivíduo, e w, o salário médioque o trabalhador espera ganhar,

de forma que Bi/w reflete umamedida de rendimento relativo. Avariavel q i representa os atributospessoais, como sexo, cor, idade,condição na família, experiênciaanterior, obtidos originalmente eao longo do período de desem-prego, que alteram a efetividadede se encontrar um emprego;

2. O grau de competição por vagasque reflete as variáveis agrega-das macroeconômicas, ou seja,como o comportamento da ativi-dade econômica afeta a obten-ção de um posto de trabalho.

Nesse sentido, tem-se para o indi-víduo que:

h cB

q hV

cUi

i

w

i��

���

���

��

��

, , 1 .

As equações h U c h V cUi i/ ( / , )� 1e h c B q h V cUi i w i� ( / , ) ( / , ) 1 introdu-zem uma forma funcional multiplicativaespecífica. Ou seja, uma mudança nas con-dições econômicas afeta as probabilidadesde saída de todos os indivíduos do desem-

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prego em igual proporção. Um aumentode 10% no número de vagas, mantido maisconstante, aumentará as chances de obterum emprego na mesma proporção.

O recurso à forma multiplicativada função de contratação permite de-sagregar a taxa de desemprego de acor-do com as características individuais eo comportamento macroeconômico daeconomia, de modo que os fatores indi-viduais tendem a explicar a duração mé-dia do desemprego e os efeitos macroe-conômicos, a incidência dos indivíduosno desemprego.

Nesse contexto, alguns autores par-tem da efetividade de busca para mostrarque certos grupos demográficos são maisdiscriminados no mercado de trabalhoem detrimento de outros.

De acordo com Blanchard e Dia-mond (1994), as decisões de contrataçãodas firmas, quando essas recebem pro-postas múltiplas aceitáveis de emprego,são feitas por “ranking” de candidatos aoemprego. Ou seja, as firmas contratamprimeiro o trabalhador que se encontradesempregado há pouco tempo. Para tal,consideram que as decisões de contrata-ção não atingem os trabalhadores contra-tados, mas determinam quais serão con-tratados, afetando, assim, a distribuiçãodo desemprego. Desse modo, assumemque a duração do desemprego é utilizada

como o único critério na contratação dasfirmas. E os desempregados de longoprazo estão menos propensos a ser con-tratados do que os de curto prazo, ou se-ja, o trabalhador que sobrevive mais tem-po no desemprego tende a ficar mais es-tigmatizado, uma vez que as firmas ten-dem a não contratá-lo.

Com uma suposição alternativa,porém, com implicações equivalentes àsencontradas por Blanchard e Diamond(1994), Pissarides (1992) assume que hádeterioração das habilidades dos traba-lhadores com a duração do desempre-go, de forma que, enquanto os trabalha-dores são “contratáveis”, a firma prefe-re aqueles que estão desempregados porum tempo menor. Mediante um modelode busca, tem-se que longa duração nodesemprego desencoraja a abertura denovas vagas pelas firmas, dado que impli-ca menor qualidade do pool de desempre-gados. A ocorrência de um choque nega-tivo no emprego em um dado períodoreduz a contratação e, assim, prolonga aduração do desemprego, levando à perdade alguma qualificação dos trabalhadoresdesempregados e, por conseqüência, estesse tornam menos atraentes para as firmas,contribuindo para reduzir a oferta de pos-tos de trabalho no próximo período e,conseqüentemente, ampliando a duraçãodo desemprego.

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Por sua vez, Montgomery (1991)considera o papel da estrutura social da-da pelo padrão de vínculos sociais entreos indivíduos na determinação dos resul-tados do mercado de trabalho. Por meiode um modelo de seleção adversa, o au-tor mostra que os trabalhadores que es-tão bem conectados às informações refe-rentes a vagas no mercado de trabalhopodem se submeter às melhores vagasque os deficientemente conectados. As-sim, aqueles que se encontram no estadode desemprego há muito tempo perdemtanto a capacidade de se manter atualiza-do sobre tais informações quanto a pos-sibilidade de encontrar vagas de melhorqualidade do que os demais.

3_ Evidências empíricas

No que tange aos fluxos de entrada e saídano mercado de trabalho, um instrumentalutilizado é a matriz de transição, que, co-mo o próprio nome diz, mensura as pro-babilidades de transição entre os estados.No que diz respeito à duração do desem-prego, um dos métodos mais utilizados éa análise de sobrevivência,2 por meio dosmétodos não paramétricos e dos modelossemiparamétricos e paramétricos.

As transições no mercado de tra-balho tendem a atingir com mais inten-sidade alguns grupos de trabalhadores.

Entre as características consideradas, me-rece destaque o sexo e a idade dos indiví-duos. Ao se considerar o sexo, diferençassubstanciais nas estimativas das probabi-lidades de transição são encontradas porBivar (1993), que, entre as probabilida-des consideradas, constata que as res-ponsáveis pelo diferencial nas taxas dedesemprego de homens e mulheres sãoa maior probabilidade de mudança daocupação para a inatividade, para asmulheres, e, para os homens, a maiorprobabilidade de obter uma ocupação.Contudo, quando considerado o gêneroapenas dos jovens, Clark e Summers(1990b) verificam pequena diferença nes-sas probabilidades.

Além disso, a partir das probabili-dades de transição, uma nova estimativadas taxas de desemprego e de participa-ção na força de trabalho realizada por Bi-var (1993) mostra que as taxas de desem-prego são mais sensíveis às mudançasnas probabilidades de transição da ocu-pação para o desemprego e do desem-prego para a ocupação, e que a taxa departicipação é mais sensível à probabili-dade de realizar entrada bem-sucedidano mercado de trabalho. Tais resultadoslevam à idéia de segmentação do merca-do de trabalho por gênero.

No que concerne à idade, Clark eSummers (1990b) encontram diferenças

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2 A denominação “análise desobrevivência” originou-se naMedicina, em que o tempo desobrevivência consiste notempo médio de vida dedeterminado grupo depacientes. Quando aplicadapara estudos de desemprego,o tempo de sobrevivênciaconsiste no tempo em que oindivíduo permanece noestado de desemprego.

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notáveis entre as probabilidades de tran-sição dos jovens que estão na escola efora dela, brancos e não-brancos e entrejovens e adultos. A freqüência e a intensi-dade de movimentos entre os estados dedesemprego e inatividade evidenciadosneste estudo apontam, segundo os auto-res, para uma difícil distinção entre am-bos, indicando, assim, dúvida em distin-guir o desemprego e a inatividade para aspessoas jovens. Isso corrobora uma con-clusão mais geral encontrada em um es-tudo anterior desses autores.3

Confirmando os resultados encon-trados para o comportamento dos jo-vens, Flori (2003) mostra que, estandoem qualquer um dos três estados do mer-cado de trabalho em t, o adulto sempreapresenta maior probabilidade de estarocupado em t + 1 comparado ao jovem,e o jovem de se encontrar desempregadoou inativo do que o adulto. Comparativa-mente, os adultos passam mais tempoocupados do que os jovens, e estes, porsua vez, passam mais tempo no desem-prego e na inatividade do que os adultos,resultando em uma taxa de desempregomuito maior para os jovens do que paraos adultos.4 Além disso, a autora mostraque, com as probabilidades de transiçãode ocupação do adulto, o jovem aumentasensivelmente seu tempo na ocupação ediminui o tempo no desemprego e na

inatividade, ao passo que o adulto, comas probabilidades do jovem, tende a au-mentar seu tempo no desemprego e nainatividade e a reduzir seu tempo na ocu-pação. Assim sendo, conclui que o com-portamento da transição da ocupaçãopara os três estados do mercado de traba-lho é fator determinante da alta ou da ba-ixa taxa de desemprego tanto para jovensquanto para adultos.

Concernente aos estudos que tra-tam a duração do desemprego, busca-seconstatar, considerando tanto as evidên-cias internacionais como para o Brasil,se existe relação entre os atributos pes-soais e a duração do desemprego e se asquestões macroeconômicas são relevan-tes para explicar a duração. Os autoresutilizam, em sua quase totalidade, o ins-trumental dos métodos não paramétri-cos e dos modelos semiparamétricos eparamétricos para mensurar a duraçãodo desemprego, bem como variáveis quepodem afetar esse tempo.

A duração média estimada do de-semprego varia entre os autores, depen-dendo do período e da região conside-rada. Roed, Raaum e Goldstein (1999)constatam para a Noruega, em outubrode 1990, 6.3 meses de desemprego, emmédia. Galiani e Hopenhayn (2000), paraa Argentina,5 no período de 1989-1998,verificam uma duração média de 7.4 me-

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3 Clark e Summers(1990a). “Labor market

dynamics and unemployment:

a reconsideration”.4 A taxa de desemprego deestado estacionárioencontrada foi de 13,5e 5,1% para jovens e adultos,respectivamente. Já a taxa dedesemprego observada naPME foi de 13,8% para osjovens e de 5,1% para osadultos. As taxas dedesemprego efetiva e calculadasão muito próximas,indicando, assim, que ahipótese forte de Markov nãocria viés nos resultados.5 Os autores utilizam dadospara Buenos Aires, visto(dado) que esse mercado detrabalho cobre,aproximadamente, metade daforça de trabalho do país.

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ses. Em relação às evidências para o casobrasileiro, para a Região Metropolitanade São Paulo, Bivar (1993) verifica umaduração média do desemprego de 6,2meses, para o período de 1983 a 1990,Menezes-Filho e Picchetti (2000), 6,64meses, para o ano de 1997, e Avelino(2001), 4,25 meses, para o período entre1984 e 1997. Para o ano de 1999, Penidoe Machado (2003a) apuram duração mé-dia estimada de, aproximadamente, 10 me-ses, nas seis regiões metropolitanas pes-quisadas da PME6 no ano de 1999. E, porfim, uma duração do desemprego de 6,76meses é constatada por Penido e Macha-do (2003b) na RMBH, no ano de 1999.

As características dos indivíduosguardam forte relação com o tempo depermanência nesse estado. As mulheres,por exemplo, apresentam menor proba-bilidade de encontrar uma ocupação doque os homens (Foley, 1997; Roed, Raaume Goldstein, 1999; Galiani e Hopenhayn,2000; Weber e Hofer, 2004; Bivar (1993);Menezes-Filho e Picchetti, 2002; Aveli-no, 2001; Oliveira, 2002; Malbouisson eMenezes, 2004).

Os chefes de família apresentammenor duração do desemprego do queos não-chefes (Menezes-Filho e Picchetti,2000 e 2002; Avelino, 2001; Malbouissone Menezes; 2004), e, de acordo com Peni-do e Machado (2003a), os filhos possu-

em menor probabilidade de encontrarum novo posto de trabalho. Além disso, aidade contribui para aumentar a duraçãodo desemprego, e, assim, os indivíduosmais velhos tendem a permanecer maistempo no estado de desemprego do queos mais jovens (Nickell, 1979; Foley,1997; Lancaster, 1979; Chuang, 1999;Roed, Raaum e Goldstein, 1999; Weber eHofer, 2004; Menezes-Filho e Picchetti,2000 e 2002; Oliveira, 2002). Por outrolado, Malbouisson e Menezes (2004) cons-tatam que a duração média de acordocom a idade é praticamente a mesma paraos grupos considerados.

Com relação aos anos de estudo,quanto maior a escolaridade dos indiví-duos, maior a duração do desemprego(Roed, Raaum e Goldstein, 1999; Mene-zes-Filho e Picchetti, 2000 e 2002; Aveli-no, 2001; Penido e Machado, 2003a e b;Oliveira, 2002; Malbouisson e Menezes,2004). Mas, para Foley (1997), a dura-ção do desemprego não se altera quandocomparados os níveis de educação dife-renciados e, de acordo com Galiani eHopenhayn (2000), a escolaridade possuium efeito não monotônico na duração e,às vezes, ambíguo.

Somando-se aos atributos pessoais,de acordo com as características do últi-mo posto de trabalho do indivíduo, veri-fica-se maior probabilidade de encontrar

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6 As seis regiões abrangidaspela Pesquisa Mensal deEmprego são: São Paulo, BeloHorizonte, Rio de Janeiro,Porto Alegre, Salvador e Recife.

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uma ocupação para os indivíduos quetrabalharam anteriormente na constru-ção civil (Avelino, 2001; Penido e Macha-do, 2003a) e no comércio (Penido e Ma-chado, 2003a). Por sua vez, os indivíduosque se empregaram anteriormente no se-tor de serviços, quando comparados aosque se empregaram na indústria, possu-em menor probabilidade de encontrarum novo posto de trabalho (Penido eMachado, 2003a). Além disso, maior du-ração é verificada para aqueles que pos-suíam emprego no setor formal (Mene-zes-Filho e Picchetti, 2000).

É constatado, também, que o tem-po de trabalho na última ocupação con-tribui para aumentar a duração do de-semprego, visto que, quanto maior otempo trabalhado na ocupação anterior,maior a probabilidade de permanecer noestado de desemprego (Avelino, 2001;Menezes-Filho e Picchetti, 2000 e 2002).Relativo ao tempo de não-trabalho, aque-les há mais tempo sem trabalho apre-sentam menor taxa de saída do estado dedesemprego para a ocupação (Penido eMachado, 2003a e 2003b).

Ademais, pessoas demitidas da úl-tima ocupação têm maior duração no es-tado de desemprego relativa àquelas quesaíram voluntariamente (Foley, 1997; Me-nezes-Filho e Picchetti, 2000 e 2002).A posse de carteira assinada na ocupa-

ção anterior aumenta o tempo de perma-nência no desemprego (Menezes-Filho ePicchetti, 2002; Avelino, 2001), bem co-mo o recebimento de FGTS (Menezes-Filho e Picchetti, 2002; Penido e Macha-do, 2003a). Somando-se a isso, no quetange aos benefícios recebidos na últimaocupação, maior duração do desempregoé verificada para aqueles que apresentammaior razão de substituição, medida porNickell (1979) como a relação benefíci-os/renda recebida na última ocupação epor Lancaster (1979) como a razão entrebenefícios do desemprego e renda obti-da na última ocupação vezes um fator,dependendo da duração do desempre-go decorrida. Roed, Raaum e Goldstein(1999) verificam um efeito positivo dosbenefícios do seguro desemprego na dura-ção desse estado, e Weber e Hofer (2004)retratam que o acesso a benefícios e as-sistência aumenta a sua duração.

Por fim, é verificado que indivídu-os com experiência de trabalho anteriorapresentam menor duração do desem-prego (Menezes-Filho e Picchetti, 2000 e2002; Avelino, 2001) e indivíduos que es-peram receber salários maiores e que utili-zam agências governamentais para buscade um emprego possuem menor proba-bilidade de sair do estado de desemprego(Chuang, 1999).

Além dos atributos pessoais e de ca-racterísticas do último posto de trabalho,

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Transições e duração do desemprego384

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alguns autores levam em consideração in-formações que refletem as condiçõesconjunturais do ambiente econômico queo desempregado encontra no momentoem que começa a procurar uma ocupação,na tentativa de mensurar se as questõesmacroeconômicas são relevantes para ex-plicar a duração do desemprego. Nickell(1979) e Foley (1997) constatam que ascondições de demanda do mercado detrabalho local medidas pela razão vaga/desemprego apresentam efeito significati-vo na duração do desemprego, uma vezque menor razão vaga/desemprego leva amaior permanência no estado de desem-prego. Roed, Raaum e Goldstein (1999) eFoley (1997) verificam que indivíduos deregiões com maiores taxas de desempregoapresentam maiores períodos de perma-nência nesse estado, e Menezes-Filho ePicchetti (2002) apontam importantes di-ferenças na relação entre desemprego re-gional e a duração do desemprego. Altodesemprego na época em que o indivíduoperde a ocupação tende a aumentar a du-ração do desemprego na Região Metropo-litana de Porto Alegre e Recife e a redu-zir a duração nas Regiões Metropolitanasde São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Ja-neiro e Salvador.

Como pode ser observado, a ma-ior parte dos estudos relatados com re-lação ao desemprego, em nível interna-cional e para o caso do Brasil, apresenta

algumas semelhanças. De forma geral,pôde-se constatar que as mulheres, osindivíduos mais velhos, com nível edu-cacional mais elevado, que foram demi-tidos da última ocupação, com maiortempo de trabalho, que receberam FGTSna última ocupação, aqueles há maistempo sem trabalhar e aqueles que re-cebem benefícios apresentam maior du-ração do desemprego, ao passo que oschefes de família, os casados e os indi-víduos com experiência de trabalho an-terior tendem a apresentar maior pro-babilidade de encontrar um posto detrabalho.

Em que pese à vasta literatura so-bre o tema, a sua dimensão deletéria so-bre a sociedade requer que ainda hajamaior investimento em pesquisa e formu-lação de políticas públicas. Sendo assim, ointuito deste trabalho, em uma regiãometropolitana específica, é:

_ identificar as características da-queles mais sujeitos às transi-ções que envolvem a condiçãode desempregado;

_ identificar as características daque-les mais envolvidos em maior per-manência no desemprego;

_ contrapor atributos pessoais econdições macroeconômicas nadeterminação da duração do de-semprego.

Mariangela Furlan Antigo_Ana Flávia Machado 385

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4_ Metodologia

4.1_ Matrizes de probabilidadesde transição

A metodologia adotada para analisar a di-nâmica entre os três estados do mercadode trabalho – ocupação, desemprego einatividade – utiliza como referencial otrabalho de Clark e Summers (1990c), noqual se assume que o comportamento in-dividual pode ser caracterizado por umamatriz de probabilidades de transição p i ,

dada por:

p

p p p

p p p

p p p

i

ooi

oui

oni

uoi

uui

uni

noi

nui

nni

���

���

(1)

em que p jki representa a probabilidade de

o indivíduo i estar no estado k no perío-do t + 1, condicionado ao fato de ele seencontrar no estado j em t. É possívelcalcular, da matriz de probabilidade detransição p i , a proporção do tempo alo-cado em cada estado do mercado de tra-balho por cada indivíduo i. Considerando� j

i como a fração de tempo que o indiví-duo i aloca para o estado j, tem-se que:

�ji

oi

ui

ni

���

���

(2)

Dado que � ji não é uma variável

observável, considera-se a suposição deque as transições entre os estados domercado de trabalho são tratadas comoum processo de Markov, no qual o de-senvolvimento futuro do processo, pos-to que o indivíduo se encontra em um es-tado, depende apenas desse estado, e nãode como se chegou a ele. O uso de matri-zes de transição de Markov envolve, as-sim, a suposição que as decisões de tran-sição dos indivíduos não dependem dotempo que eles permanecem em deter-minado estado.

Logo, o Teorema Básico das Ca-deias de Markov postula que qualquersistema caracterizado por tal matriz al-cançará um estado estacionário que éindependente de condições iniciais, e aproporção de estado estacionário em ca-da estado deve ser encontrada como umafunção da matriz de transição inteira. Arelação entre � t

i e � ti� 1 pode ser escrita na

forma matricial como: � �ti

t tip� �

'1. Em

estado estacionário, � �ti

ti� �1, de forma

que � �ti

t tip� ' .

Utilizando a condição de estado es-tacionário e o fato de as probabilidades detransição entre os estados serem indepen-dentes do tempo que o indivíduo perma-nece em um estado particular, tem-se que:

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Transições e duração do desemprego386

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Qualquer equação do sistema li-near acima é linearmente dependente dasoutras. Contudo, pode-se utilizar a pro-priedade segundo a qual � � �o

iui

ni� � �1,

substituí-la em qualquer uma das equa-ções e, por esse processo, resolver osistema.

A taxa de desemprego é dada por:

� �u

u o�.

A distribuição no estado estacio-nário da população (N) nos estados domercado de trabalho pode ser encontra-da pelas probabilidades médias individu-ais. Isto é:

� � ���j j

i

i

N

N

1

1

de forma que

� ��u

u o

caracteriza a taxa de desemprego agregada.

A principal crítica em tratar as ma-trizes de transição como um processo deMarkov é a dependência das probabilida-

des de transição entre os estados e a dura-ção em cada um. Essa crítica tende a sermais acentuada no que tange ao estado dedesemprego, dado que, quanto mais tem-po o indivíduo se encontra nesse estado,menor será a probabilidade de saída delepara uma ocupação. Já está evidenciadoque pessoas que permanecem por maistempo nessa situação apresentam, emmédia, menor propensão a se encontra-rem ocupadas do que aquelas desempre-gadas por período menor. Neste caso, ahipótese adotada é muito forte e reduz aprecisão das estimativas, gerando resulta-dos enviesados. Para verificar se o usodessa hipótese reduz a precisão dos re-sultados, comparam-se as taxas de de-semprego do estado estacionário com asde desemprego observadas na PesquisaMensal de Emprego. Se as duas taxas sãopróximas, pode-se inferir que os resulta-dos obtidos não são enviesados.

O conhecimento dos fatores de-terminantes dos fluxos no mercado detrabalho se torna crucial para o entendi-mento da composição do desemprego e,assim, de seus fatores discriminatórios.

Mariangela Furlan Antigo_Ana Flávia Machado 387

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p

p p p

p p p

p p p

t ti

ti

ooi

uoi

noi

oui

uui

nui

oni

uni

nni

' � �� �

���

���

���

���

���

���

��

oi

ui

ni

oi

ui

ni

oop ioi

uoi

ui

noi

ni

oi

oui

oi

uui

ui

nui

ni

p p

p p p

� � � �

� � � �

� � �

� � � � ui

oni

oi

uni

ui

nni

ni

nip p p� � � �� � � �

(3)

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4.2_ Análise de sobrevivência

Para estimar a duração do desemprego ea taxa de saída do indivíduo desemprega-do para a condição de ocupado, utiliza-secomo referencial a análise de sobrevivên-cia retratada em Colosimo (2001).

Esta análise admite que o tempode falha, ou seja, a duração observada datransição de um estado para outro, é umavariável aleatória não negativa T, que éusualmente especificada pela sua funçãosobrevivência ou pela função risco (outaxa de falha). A função sobrevivênciaS(t ) é definida como a probabilidade dedeterminado indivíduo sobreviver ao tem-po t, e, em termos probabilísticos, é escrita

como S(t ) = P(T � t ); a função risco h(t )indica a probabilidade de a falha ocorrerem um intervalo de tempo ( )t t1 2� epode ser expressa em termos da funçãosobrevivência como S t S t( ) ( )1 2� . Essafunção pode ser definida como a proba-bilidade de a falha ocorrer no intervalo( )t t1 2� , dado que não ocorreu antes det 1, dividida pelo comprimento do inter-valo. Pode, assim, ser expressa por

S t S t

t t S t

( ) ( )

( ) ( )1 2

2 1 1

Redefinindo o intervalo como( , )t t t�� , tem-se que:

h tS t S t t

tS t( )

( ) ( )

( )�

� � �

�.

Com �t bem pequeno, h(t ) repre-senta a taxa de falha instantânea no tem-po t condicional à sobrevivência até otempo t. Portanto,

h tP t T t t T t

tt( )

( / )�

� � � ��

lim�

�0

Ou seja, quando �t tende a zero, a fun-ção risco indica o limite da razão entre aprobabilidade de ocorrência do eventoentre t e �t , posto que o indivíduo sobre-viveu ao tempo T e à variação do tempo.

Nesse contexto, a variável depen-dente considerada é o tempo transcorri-do até a ocorrência da falha, ou seja, até asaída do estado de desemprego para a en-trada no estado de ocupado. Entretanto,a informação referente a esse tempo nãoé exata, uma vez que alguns indivíduosque estão desempregados durante o pe-ríodo da pesquisa não encontram umaocupação antes de o estudo terminar, deforma que se sabe que o desempregodessas pessoas durou, no mínimo, o quefoi observado na amostra, mas não setem condições de precisar o tempo. Taisinformações são ditas censuradas à direi-ta. Todos os métodos de estimação defunções risco e sobrevivência as utilizam,

nova Economia_Belo Horizonte_16 (3)_375-406_setembro-dezembro de 2006

Transições e duração do desemprego388

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ao invés de descartá-las da amostra; po-rém as tratam de forma diferenciada dasinformações que não estão censuradas.

Após o reconhecimento do even-to de interesse (encontrar um posto detrabalho) e dos indivíduos censurados,pode-se estimar a função sobrevivência,que fornece a probabilidade do indiví-duo continuar desempregado no períodot, e a função risco, que indica a probabili-dade de o desemprego terminar em dadoperíodo, tendo em vista que ele já durouaté aquela data.

Essas funções podem ser obtidasvalendo-se dos métodos não paramétri-cos7 e dos modelos semiparamétricos eparamétricos. Os modelos paramétricossão mais eficientes, todavia menos flexí-veis do que os modelos semiparamétri-cos. Além das variáveis utilizadas nestesúltimos, é necessária a especificação deuma distribuição de probabilidade para otempo de falha na função de risco.

Entre as distribuições de probabi-lidade que podem ser assumidas neste ti-po de análise, destacam-se as distribui-ções exponencial, de Weibull, log-normale a gama generalizada. Tais distribuiçõessão historicamente conhecidas por suaadequação às situações respostas de tem-po até a ocorrência do evento considera-do. A distribuição exponencial apresentauma função risco constante, e a de Wei-

bull se caracteriza por ser monótona, ouseja, crescente, decrescente ou constante.A função risco da distribuição log-nor-mal, por sua vez, não apresenta forma es-pecífica, crescendo a partir da origem atéatingir um valor máximo e decrescendoa partir de então. Por sua vez, a distribui-ção gama generalizada assume uma va-riedade imensa de formas.

Das distribuições de probabilidadecitadas, destaca-se a gamma generalizadapor apresentar uma função risco flexível,a qual permite várias inclinações e incluias distribuições de Weibull, exponencial elog-normal como casos especiais.

Uma vez especificada a distribui-

ção de probabilidade e supondo que � re-presente o vetor de parâmetros dos da-dos e que a densidade da duração de t

seja dada por f (t ; ��, a função de verossi-

milhança para � será dada por:

L f t i

i

n

( ) ( ; )� ���

�1

As observações são divididas em doisgrupos, em que as r primeiras são as nãocensuradas (1, 2, ... r) e as n-r seguintessão as censuradas (r + 1, r + 2, ... n). Afunção de verossimilhança assume, as-sim, a seguinte forma:

L f t S ti

i

r

i

i r

n

( ) ( ; ) ( ; )� � ��� � �

� �1 1

Mariangela Furlan Antigo_Ana Flávia Machado 389

nova Economia_Belo Horizonte_16 (3)_375-406_setembro-dezembro de 2006

7 Os métodos nãoparamétricos são importantespara descrever os dados desobrevivência pela suasimplicidade e facilidade deaplicação, posto que exigemapenas a variável tempo deduração do desemprego. Aprincipal característica destemétodo é dada pelanão-exigência de umaespecificação da função risco.Entretanto, inviabiliza umaanálise mais elaborada quepermita a inclusão deco-variadas na análise. Nosresultados, informa-se, porlimitação do tamanho doartigo, apenas a duração média.

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A maximização dessa função geraas estimativas dos coeficientes e do parâ-metro de duração.

4.3_ Fonte de dados e variáveisselecionadas

A fonte de dados empregada neste traba-lho é a Pesquisa Mensal de Emprego(PME) do Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE). Trata-se deum inquérito domiciliar realizado men-salmente para seis regiões metropolita-nas do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro,Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife eSalvador), na forma de um painel rotati-vo. A natureza da informação longitudi-nal, ainda que de painel rotativo, possibi-lita a aplicação de modelos de análise desobrevivência. Os indivíduos em um do-micílio são entrevistados por quatro me-ses, saem da amostra por oito meses e re-tornam por mais quatro meses no anosubseqüente, quando são excluídos defi-nitivamente da amostra.

A PME é utilizada para a constru-ção de dois bancos de dados em que umdeles é destinado para o cálculo das pro-babilidades de transição dos indivíduosnos três estados do mercado de trabalhoe possíveis simulações, ao passo que ooutro banco é utilizado para a análise desobrevivência dos indivíduos no desem-

prego no mesmo período. Os dados daPME são informações individuais quepodem ser divididas em qualitativas equantitativas. As variáveis qualitativasse referem a sexo, condição na família,ramo de atividade anterior, posição naocupação anterior, posse de carteira assi-nada, se era remunerado na ocupação an-terior, recebimento de FGTS, motivo pe-lo qual entrou no estado de desempregoe providência tomada para encontrar em-prego. Já as variáveis quantitativas são:idade, nível de escolaridade, tempo deprocura, tempo no último emprego etempo de não-trabalho.

O primeiro banco é formado va-lendo-se das duas primeiras entrevistasmensais dos indivíduos, no intuito decaptar sua transição no mercado de tra-balho de um mês para o outro. É impor-tante ressaltar que a análise das probabili-dades de transição é realizada em cada di-mensão isoladamente, de forma que, combase nos resultados obtidos, torna-se pos-sível comparar diversos aspectos dos in-divíduos, como homens e mulheres, jo-vens, adultos e idosos. O período consi-derado para a construção desse bancoestendeu-se de outubro de 1997 a setem-bro de 2000 e foi assim definido por pos-sibilitar maior número de observaçõesdisponíveis para os mesmos indivíduos.

nova Economia_Belo Horizonte_16 (3)_375-406_setembro-dezembro de 2006

Transições e duração do desemprego390

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Selecionaram-se, ainda, pessoas com idadeentre 18 e 65 anos. Para o primeiro período(1997/1998), foram apreciadas 24.484 ob-servações e, para o período subseqüente,26.221 observações. Na amostra total, emmédia, 46% são homens. A idade média daamostra pesquisada é de 37 anos com umdesvio-padrão da ordem de 1,3, e a médiade anos de estudo dos indivíduos é de seteanos com desvio de 4,2.

Para a análise de sobrevivência, osegundo banco é formado apenas pelosindivíduos que se declararam desempre-gados na primeira entrevista e que se en-contram na faixa etária entre 18 e 65anos. Nesse banco, consideram-se as oitoentrevistas dos indivíduos, e o períodoestende-se de outubro de 1997 a setem-bro de 2001. A amostra é formada por794 observações em que 67% são ho-mens e 42% são chefes de família. A mé-dia de idade é de 31 anos, e a amostraapresenta média de 8 anos de estudo. Noque concerne à última ocupação, em mé-dia, 21% são provenientes da indústria,54% eram empregados com carteira detrabalho assinada, 20% pediram para sairda última ocupação, 64% consultaramempregadores para obter um posto detrabalho e 97% possuem experiência detrabalho anterior.

A variável duração do desempre-go considera o período de procura por

trabalho reportado pelo entrevistadomais os meses das oito entrevistas daamostra, em que o indivíduo declarou-sesem ocupação e à procura desta. Outravariável foi construída: a variável temposem trabalho, por meio da informaçãoindividual de período sem trabalho regis-trado na PME. Todas as duas variáveispodem apresentar o viés decorrente deerro de memória dos entrevistados, namedida em que consideram informaçõesretrospectivas. Assim como em outrostrabalhos, não é feita correção para esseviés. A variável duração do desemprego,além de apresentar censura à esquerda,como já descrito, apresenta censura in-tervalar, uma vez que se supõe que, nosoito meses em que não é entrevistado,o indivíduo permanece no mesmo esta-do relatado no último mês da primeiraremessa (quarto mês da amostra destetrabalho). O procedimento foi o mesmode Avelino (2001).

Além dos dados disponíveis naPME, nesta análise é utilizada umadummy temporal, para mensurar os efei-tos do comportamento econômico naduração do desemprego. São considera-dos dois biênios – 1998/1999 e 2000/2001 –, no intuito de verificar se há umefeito de período sobre a duração do de-semprego na RMBH.8

Mariangela Furlan Antigo_Ana Flávia Machado 391

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8 Embora variáveis comofaturamento na indústria,utilização da capacidadeinstalada, indicador dedesempenho do comérciovarejista e produto internobruto, entre outras, devessemser consideradas na análisepara melhor retrato dosaspectos macroeconômicos daRMBH, essas infelizmente nãopuderam ser consideradas, emrazão da indisponibilidadedesses dados em periodicidademensal para a metrópole deBelo Horizonte.

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5_ Resultados

5.1_ Matrizes de probabilidadesde transição

Analisam-se, a seguir, os resultados domodelo de transição entre os três estadosno mercado de trabalho (ocupação, de-semprego e inatividade) segundo sexo,idade e escolaridade.

5.1.1 Sexo

A população feminina possui taxa de par-ticipação na força de trabalho historica-mente menor do que a da masculina.Embora a participação da mulher na for-ça de trabalho tenha aumentado, a taxade atividade masculina ainda é superior.

Assim sendo, há maior probabilidade deencontrar homens na condição de ocu-pação, e mulheres na inatividade.

As probabilidades de transição dosindivíduos, total e por sexo, podem servisualizadas na Tabela 1.

De forma geral, é possível notarprobabilidade elevada de um indivíduopermanecer no mesmo estado do merca-do de trabalho nos dois períodos emquestão, com exceção apenas para aque-les que, em t, se encontram desemprega-dos. Para estes últimos, as probabilidadesde transição para os três estados apresen-tam-se bem significativas, ainda que a decontinuar desempregado seja maior.

nova Economia_Belo Horizonte_16 (3)_375-406_setembro-dezembro de 2006

Transições e duração do desemprego392

Tabela 1 – Probabilidades de transição total e por sexo, para a RMBH, no período de 1997 a 2000

Ocupados

(t + 1)

Desempregados

(t + 1)

Inativos

(t + 1)

97/98 99/00 97/98 99/00 97/98 99/00

Ocupados (t )

Total 91.38 91.01 2.09 2.34 6.52 6.65

Homens 92.99 92.54 2.46 2.75 4.55 4.71

Mulheres 89.00 88.92 1.56 1.78 9.45 9.29

Desempregados (t )

Total 28.13 27.77 43.84 42.98 28.03 29.25

Homens 33.79 36.07 47.27 44.14 18.95 19.79

Mulheres 21.86 19.15 40.04 41.77 38.10 39.08

Inativos (t )

Total 8.58 8.93 2.99 3.85 88.43 87.22

Homens 12.59 13.30 4.56 5.48 82.84 81.21

Mulheres 7.05 7.07 2.40 3.15 90.56 89.78

Fonte: Elaboração própria com base nos microdados da PME de 1997, 1998, 1999 e 2000.

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As mulheres, estando ocupadas oudesempregadas em t, apresentam maiorprobabilidade de transitar para a inativi-dade no período seguinte, bem como depermanecer na inatividade em t + 1, en-contrando-se inativas no período t.

Ao se encontrarem desemprega-dos em t, os homens apresentam maiorprobabilidade de permanecer na forçade trabalho, em razão da maior possibi-lidade de obter um posto de trabalho emt + 1 e pela probabilidade muito menorde desistir de procurar uma ocupação esair do mercado de trabalho. Além dis-so, é importante salientar que, no grupodos desempregados, as mulheres possu-em uma transição para a inatividade sig-nificativamente superior à dos homens,ficando próxima às probabilidades ob-servadas de permanência no desempre-go. De maneira geral, os resultados in-dicam menor estabilidade do sexo femi-nino e a presença de alta rotatividade en-tre os estados do mercado de trabalhopara as mulheres.

Quando a análise se estende notempo, a probabilidade de os indivíduosocupados, desempregados e inativos, tan-to totais como segmentados por sexo,transitarem para outro estado ou aindapermanecerem no mesmo estado é con-

firmada. Embora as evidências apontemqueda na probabilidade dos desempre-gados permanecerem nesse estado porcausa do aumento na inatividade, o resul-tado pode estar relacionado ao desalen-to,9 e não propriamente à inatividade,visto que o ano de 1999 é marcado pormudanças políticas e econômicas no País,que geraram um ambiente de grande in-certeza em relação à economia. Isso afe-ta o comportamento dos indivíduos nabusca por uma ocupação, que, diantedas dificuldades, se tornam desencoraja-dos, declarando a não-procura. Em fun-ção disso, pode estar ocorrendo umatransferência do número de desempre-gados para a inatividade, e não de fatouma redução no desemprego.

A Tabela 2 registra as estimativas,para homens e mulheres, das frações detempo em cada estado do mercado detrabalho – ocupação, desemprego e inati-vidade – e suas respectivas taxas de de-semprego de estado estacionário (taxa dedesemprego calculada) e observadas naPME (taxas de desemprego efetivas) noperíodo de 1999/2000. As estimativaspara o período de 1997/1998 e para asdemais características foram realizadas, eos resultados foram os esperados.

Mariangela Furlan Antigo_Ana Flávia Machado 393

nova Economia_Belo Horizonte_16 (3)_375-406_setembro-dezembro de 2006

9 A PME capta a condiçãode ocupação na semana dereferência; assim sendo,parcela dos que sedeclaram sem trabalho e semprocura de trabalho sãoconsiderados inativos.

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Os homens, na maior parte dotempo, estão ocupados, ao passo que asmulheres passam mais tempo na inativi-dade. Na condição de desemprego, oshomens se sobressaem, em relação àsmulheres; dessa forma permanecem umtempo muito mais expressivo na força detrabalho do que o sexo oposto.

As diferenças comportamentais en-tre homens e mulheres resultam principal-mente dos distintos papéis que eles desem-penham no lar. O comportamento da for-ça de trabalho feminina é mais errático doque o masculino, posto que a entrada e apermanência da mulher no mercado detrabalho ainda é associada à atividade dochefe do domicílio. Embora o papel queas mulheres desempenham historicamenteno lar esteja passando por significativas al-terações oriundas das mudanças demográ-ficas e do mercado de trabalho, há, ainda,maior irregularidade na inserção. A decisãode trabalhar ou não das mulheres tende

ainda a responder principalmente a fatoreseconômicos como inovação nas oportuni-dades de ocupação dos maridos ou varia-ção em seus salários.

A taxa de desemprego de estadoestacionário é de 7,61 e 9,14%, respecti-vamente, para homens e mulheres. A ta-xa de desemprego efetiva, a qual leva emconsideração o número de pessoas de-sempregadas e ocupadas da PME, foide 7,55% para os homens e de 8,95% pa-ra as mulheres. As taxas de desempregoefetiva e calculada são muito próximas, e,assim, pode-se inferir que a hipótese for-te de Markov10 considerada não tende aenviesar os resultados.

5.1.2_ Idade

As decisões de oferta de trabalho dos indi-víduos são feitas continuamente ao longodo ciclo de vida ativa da população, e a alo-cação do tempo no mercado de trabalho éfeita em diferentes direções nos diversosestágios do ciclo de vida. A taxa de partici-

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Transições e duração do desemprego394

Tabela 2_ Fração de tempo em cada estado do mercado de trabalho e taxas de desemprego,calculada e efetiva, segundo o sexo, para a RMBH, no período de 1999/2000

Fração de Tempo (%) Taxa de Desemprego

Categoria Ocupação Desemprego Inatividade Calculada Efetiva1

Homens 70,20 5,78 24,02 7,61 7,55

Mulheres 41,54 4,18 54,28 9,14 8,95

Fonte: Elaboração própria com base nos microdados da PME de 1999 e 2000.

Nota: (1) Para o cáculo da taxa de desemprego observada na PME, considera-se a segunda entrevista de cada indivíduo,do respectivo período considerado.

10 A hipótese forte de Markovadmite que as probabilidadesde transição entre os trêsestados do mercado detrabalho não dependem dotempo que os indivíduos estãoem determinado estado.

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pação relativa à idade apresenta padrão se-melhante a um U-invertido, em que a parti-cipação no mercado de trabalho aumentaconforme a idade dos indivíduos até deter-minado ponto, quando se atinge o auge davida produtiva. A partir desse ponto, a saí-da do mercado de trabalho começa a sersignificativa, principalmente nos anos pró-ximos à aposentadoria. Nesse sentido, astaxas de participação tendem a ser menorespara trabalhadores jovens, maiores para tra-balhadores no auge do ciclo de vida ativo, e

também menores para trabalhadores maisvelhos. Espera-se, assim, que a inatividadeentre os jovens e os mais idosos se apre-sente de forma mais acentuada do que paraos indivíduos no auge do ciclo de vida ativo.

A Tabela 3 retrata as probabilida-des de transição, de acordo com a idadedos indivíduos, para a região metropoli-tana. É possível observar uma tendên-cia diferenciada, dependendo do perío-do do ciclo de vida ativo em que o indi-víduo se encontra.

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Tabela 3_ Probabilidades de transição segundo grupos de idade, para a RMBH,no período de 1997 a 2000

Idade

Ocupados

(t + 1)

Desempregados

(t + 1)

Inativos

(t + 1)

97/98 99/00 97/98 99/00 97/98 99/00

Ocupados (t )

18 a 24 89.88 89.43 3.84 4.03 6.28 6.54

25 a 30 91.05 92.38 3.21 2.89 5.74 4.74

31 a 50 93.72 93.17 1.56 1.93 4.72 4.90

50 a 65 88.61 87.43 1.03 1.40 10.36 11.17

Desempregados (t )

18 a 24 25.30 24.71 45.43 45.18 29.27 30.12

25 a 30 34.74 28.68 47.37 48.90 17.89 22.43

31 a 50 28.57 32.20 45.48 41.27 25.95 26.53

50 a 65 29.69 27.27 28.13 34.09 42.19 38.64

Inativos (t )

18 a 24 13.76 14.55 9.51 12.90 76.73 72.55

25 a 30 8.51 12.35 6.70 8.50 84.79 79.15

31 a 50 12.07 12.29 3.29 4.86 84.63 82.84

50 a 65 7.96 8.74 0.85 1.34 91.19 89.92

Fonte: Elaboração própria com base nos microdados da PME de 1997, 1998, 1999 e 2000.

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Entre os mais jovens, com idadeentre 18 e 24 anos, que se encontramocupados no período t, há maior proba-bilidade de saída da força de trabalho doque de permanência na procura de umaocupação. Quando desempregados em t,

a probabilidade de saírem da força de tra-balho torna-se mais significativa ainda,alcançando em média 30%, contra pro-babilidades, em média, de 45 e 25% depermanecerem no desemprego e encon-trarem uma ocupação, respectivamente.Por sua vez, quando inativos, apresentamprobabilidade em torno de 75% de per-manecerem no mesmo estado em t + 1.

Por sua vez, os indivíduos no augede seu ciclo de vida ativo (aqueles comidade entre 31 e 50 anos) apresentamprobabilidades mais favoráveis que os jo-vens quando ocupados em t, graças à ma-ior probabilidade de se manterem ocupa-dos em t + 1 e menor probabilidade de seencontrarem desempregados ou inativos.

E, por fim, no que concerne aos maisidosos, a probabilidade de se tornareminativos no período subseqüente é muitomais elevada do que para os demais, in-dependentemente do estado em que es-ses se encontram no período t.

Os resultados retratados aqui cor-roboram estudos anteriores como o deClark e Summers (1990b), que evidenciamque a maior parte dos fluxos para o empre-go dos jovens é dada por aqueles que se en-contram na inatividade, e que grande partedos jovens que deixam um emprego tendea sair da força de trabalho. Somando-se aeste, Flori (2003) aponta resultados seme-lhantes no que tange à saída da força de tra-balho pelos mais jovens para todas as re-giões metropolitanas no ano de 2001.

As estimativas das frações de tem-po de cada faixa etária nos três estados,bem como as taxas de desemprego gera-das, para o período de 1999/2000, sãoilustradas abaixo (Tabela 4).

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Transições e duração do desemprego396

Tabela 4_ Fração de tempo em cada estado do mercado de trabalho e taxas de desemprego,calculada e efetiva, segundo grupos de idade, para a RMBH, no período de 1999/2000

Fração de Tempo (%) Taxa de Desemprego

Categoria Ocupação Desemprego Inatividade Calculada Efetiva

18 a 24 anos 62,41 10,90 26,69 14,87 15,56

25 a 30 anos 68,88 7,91 23,21 10,31 10,23

31 a 50 anos 68,89 4,45 26,66 6,07 5,75

51 a 65 anos 40,88 1,88 57,24 4,39 4,31

Fonte: Elaboração própria com base nos microdados da PME de 1999 e 2000.

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Os indivíduos mais jovens (18 a 24anos) encontram-se mais tempo desem-pregados do que os demais, passando umpouco mais de 60% de seu tempo ocupa-dos e em torno de 25% na inatividade.Esses resultados geram taxa de desempre-go de 14,87%, a maior taxa se comparadaàs demais. Os indivíduos com idade entre31 e 50 anos, ou seja, aqueles que tendema permanecer no mercado de trabalho deforma mais estável, apresentam taxa dedesemprego bem menor do que a dos jo-vens, ficando mais tempo ocupados e,conseqüentemente, menos tempo no es-tado de desemprego. Por fim, os mais ido-sos passam a maior parte do tempo nainatividade, e as frações de tempo na ocu-pação e no desemprego apresentam-seem menor magnitude, gerando, assim, ataxa de desemprego mais baixa, na ordemde 4,39%. É importante destacar, maisuma vez, que as taxas de desemprego cal-culadas e efetivas são bem próximas.

5.1.3_ Anos de estudo

Pessoas com mais escolaridade tendema permanecer em uma ocupação commaior facilidade, principalmente no mer-cado de trabalho urbano, como é o casoda região metropolitana. Assim sendo,espera-se maior probabilidade de perma-nência na ocupação, ou seja, menos tran-sição entre as três condições para aquelesque detêm maior escolarização.

Estando ocupados no período t, aprobabilidade de continuar nesse estadoem t + 1 é crescente com os anos de estu-do, e de transitar para o desemprego oupara a inatividade decresce à medida quea escolaridade aumenta.

De forma geral, o comportamentodas probabilidades de transição se man-tém no tempo, com algumas exceçõesque apresentam variações de grande mag-nitude, principalmente entre aqueles quese encontram desempregados no perío-do t, que figuram como sem instrução ecom mais de 11 anos de estudo. Quandosão considerados os dois períodos, osanalfabetos apresentam redução de gran-de magnitude na probabilidade de encon-trar uma ocupação e probabilidade muitomaior de se encontrar na inatividade.

Essa grande variação pode estar re-lacionada ao contexto macroeconômicoque marcou o ano de 1999. É acentuado oaumento da probabilidade de esses se en-contrarem na inatividade quando se com-para ao período anterior. Contudo, valeressaltar que talvez não seja um aumentoda inatividade em sentido estrito, mas,sim, do desemprego pelo desalento, que,diante da dificuldade de serem absorvidospelo mercado, os menos educados tende-ram a transitar para a inatividade.

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Transições e duração do desemprego398

Tabela 5_ Probabilidades de transição segundo os anos de escolaridade, para a RMBH,no período de 1997 a 2000

Anos

de Estudo

Ocupados

(t + 1)

Desempregados

(t + 1)

Inativos

(t + 1)

97/98 99/00 97/98 99/00 97/98 99/00

Ocupados (t )

0 86.60 83.83 2.13 3.00 11.28 13.16

1 a 3 87.30 86.25 2.85 3.13 9.85 10.62

4 a 7 89.91 88.98 2.45 2.77 7.64 8.24

8 a 10 91.60 91.60 2.20 2.34 6.20 6.06

11 a 14 93.95 93.29 1.64 1.98 4.41 4.73

Mais de 15 95.79 96.67 0.98 1.00 3.23 2.33

Desempregados (t )

0 34.78 19.23 34.78 34.62 30.43 46.15

1 a 3 25.40 40.66 44.44 31.87 30.16 27.47

4 a 7 31.01 32.62 36.18 38.33 32.82 29.05

8 a 10 24.31 30.68 51.38 41.43 24.31 27.89

11 a 14 26.18 19.86 49.82 49.66 24.00 30.47

Mais de 15 31.11 24.14 46.67 53.45 22.22 22.41

Inativos (t )

0 5.48 6.00 0.65 0.66 93.87 93.34

1 a 3 8.97 7.76 1.53 1.58 89.50 90.67

4 a 7 8.78 9.58 2.76 3.36 88.46 87.06

8 a 10 10.18 10.20 6.05 6.20 83.77 83.60

11 a 14 8.62 9.19 4.74 7.90 86.65 82.91

Mais de 15 9.94 10.99 4.42 3.66 85.64 85.35

Fonte: Elaboração própria com base nos microdados da PME de 1997, 1998, 1999 e 2000.

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A fração de tempo na condição deocupado é crescente com os anos de estu-do, ao passo que a parcela de tempo na ina-tividade decresce à medida que os anos deestudo aumentam. A permanência no esta-do de desemprego também revela relaçãocrescente com o nível de escolaridade naregião metropolitana, com exceção apenaspara os indivíduos que possuem pelo me-nos nível superior completo (mais de 15anos de estudo), que tendem a permanecerpor um período curto nesse estado. A taxade desemprego desses indivíduos figura,assim, como a de menor magnitude. As

taxas relativas dos demais grupos consi-derados aumentam conforme os anos deestudo. É importante ressaltar a pequenavariação entre as taxas de desemprego cal-culadas e efetivas, gerando, assim, resulta-dos não enviesados (Tabela 6).

Em face do exposto acima, obser-va-se a importância dos anos de estudona determinação das taxas de desempre-go, bem como na parcela de tempo emcada estado do mercado de trabalho, emque maior grau de escolaridade tende aaumentar a permanência na ocupação eno estado de desemprego.

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Tabela 6_ Fração de tempo em cada estado do mercado de trabalho e taxas de desemprego,calculada e efetiva, segundo grupos de anos de estudo, para a RMBH,no período de 1999/2000

CategoriaFração de Tempo (%) Taxa de Desemprego

Ocupação Desemprego Inatividade Calculada Efetiva

0 anos de estudo 28,16 1,99 69,84 6,61 6,37

1 a 3 anos de estudo 41,23 3,20 55,57 7,20 7,30

4 a 7 anos de estudo 51,44 4,67 43,89 8,32 8,02

8 a 10 anos de estudo 61,35 5,92 32,73 8,79 8,85

11 a 14 anos de estudo 62,57 7,19 30,24 10,31 9,85

Mais de 15 anos de estudo 79,57 3,07 17,36 3,72 3,78

Fonte: Elaboração própria com base nos microdados da PME de 1999 e 2000.

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5.2_ Duração do desemprego

A duração média estimada do períodocompleto de desemprego na RMBH, noperíodo de 1997/2001, é de 3,69 meses,tendo em vista o modelo não-paramétri-co de Kaplan Meyer. Penido e Machado(2003b) encontraram uma duração deaproximadamente sete meses para essaregião, no ano de 1999. Provavelmente,a diferença da duração pode ser atribuí-da à crise da economia brasileira nesseano, marcada pela crise cambial comconseqüente mudança no regime e efei-tos deletérios sobre o nível de atividadeeconômica. Por outro lado, o períodotrabalhado neste estudo é mais abrangen-te, o que suaviza os efeitos de crise ou aexpansão econômica.

Ao se considerar os modelos para-métricos, deve-se procurar a melhor dis-tribuição de probabilidade para descre-ver a variável duração do desemprego,visto que, se a distribuição não for ade-quada, os resultados ficarão comprome-tidos. Na busca da melhor distribuiçãopara descrever a variável duração do de-semprego, dois métodos foram conside-rados: um método gráfico e o teste da ra-zão de verossimilhança. Esses métodossão apresentados a seguir.

Primeiramente, para testar a ade-quação da distribuição de Weibull e ex-ponencial ao modelo, plota-se o gráficode log{-log[S(t )]} contra ln(t ), em queS(t ) é a função de sobrevivência obtidapelo estimador de Kaplan-Meier. Deacordo com Colosimo (2001), a distribui-ção de Weibull é a mais adequada se ográfico obtido for aproximadamente li-near. Se, além de linear, o gráfico passarpela origem e apresentar inclinação iguala um, a melhor adequação é dada peladistribuição exponencial (Gráfico 2).

O gráfico acompanha o formatode uma reta, não apresentando nenhumdesvio muito significativo. Entretanto, asduas outras condições não são atendidas,a saber: reta com inclinação unitária eque passa pela origem.

Buscando verificar a acuidade daanálise gráfica, efetua-se o teste de máxi-ma verossimilhança. Para tal procedimen-to, realiza-se a seleção das variáveis rele-vantes do modelo, uma vez que o ajustede todos esses modelos não se tornariafactível para a seleção do melhor deles,visto que a combinação das doze variáveisconsideradas gera 4.096 possíveis mode-los para descrever a probabilidade de sairdo estado do desemprego.

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Transições e duração do desemprego400

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Assim sendo, foi feita a seleçãodas variáveis relevantes para o modelo,11

assumindo a distribuição gamma gene-ralizada para o tempo de sobrevivênciano desemprego, porque tal distribuição éum modelo geral, em que as distribuiçõesexponenciais, Weibull e log-norma, sãocasos particulares desta. A melhor espe-cificação é descrita a seguir:

_ Modelo Final = 0 a 3 anos de estu-do + 8 a 10 anos de estudo + 11a 14 anos de estudo + 15 anos oumais de estudo + empregado semcarteira na ocupação anterior +empregador ou conta própria naocupação anterior + pediu parasair da última ocupação + maisde um ano sem trabalho + biênio

+ tempo de não trabalho* se-gundo grau incompleto + moti-vo de saída* superior completoou mais + tempo de não traba-lho* conta própria ou emprega-dor na ocupação anterior.

Tendo-se por referência esse mo-delo, procede-se, então, o teste de má-xima verossimilhança. Este é realizadomediante testes de hipótese, em que ahipótese a ser testada é a adequação domodelo. A distribuição gamma generali-zada é a utilizada como modelo geral aser comparado com as demais distribui-ções. O melhor deles é aquele que maisse aproxima do valor da máxima veros-similhança do modelo com distribuiçãogamma generalizado.

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Gráfico 2_ Teste de adequação

Fonte: Elaboração própria com base nos microdados PME de 1997, 1998, 1999, 2000 e 2001.

11 A metodologia utilizada naseleção do modelo é retratadaem Colosimo (2001), e asvariáveis de referência são:homens, chefes de família,com idade entre 31 e 50 anos,primeiro grau incompleto,trabalho anterior na indústria,empregado com carteira naocupação anterior, demitidosda última ocupação, menos deum ano de não-trabalho, compermanência no últimoemprego de um a três anos,consulta a empregadorescomo providência tomadapara obter uma ocupaçãoe biênio 2000/2001.

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Conforme a Tabela 7, percebe-seque a distribuição de Weibull é a que apre-senta a melhor adequação. Esse resultadoconfirma as conclusões obtidas por meioda análise gráfica. Dessa forma, o modelocom distribuição de Weibull para o tempode sobrevivência no estado de desempre-go é aquele considerado na análise.12

O modelo paramétrico com distri-buição de Weibull para a variável tempode sobrevivência no desemprego foi esti-mado, e os resultados podem ser obser-vados a seguir (Tabela 8).

A interpretação da razão de riscodepende do fator encontrado ser maiorou menor do que um. Se a razão for maiordo que um, a probabilidade de o grupoconsiderado encontrar uma ocupação émaior do que para os demais, ou seja, es-ses indivíduos apresentam maior riscocom relação aos outros.

Diante dos resultados encontrados,constatam-se riscos menores para os indi-víduos mais escolarizados, comparadosàqueles com primeiro grau incompleto.Cabe lembrar que, embora o tempo de so-brevivência no desemprego seja maior pa-ra os mais escolarizados, uma vez obtidauma ocupação, esses tendem a permanecermais tempo nela do que os menos escolari-zados, como observado na seção anterior.No que concerne ao período de não-traba-lho, os indivíduos sem trabalho há mais deum ano apresentam menor probabilidadede sair do estado de desemprego e encon-trar uma ocupação em relação àqueles quese encontram nesse estado há menos deum ano. Tal fato é esperado, como lembraPissarides (1992), uma vez que, estando hámuito tempo sem trabalho, os indivíduostendem a ficar estigmatizados e haverá ten-dência de deterioração de suas habilidades.

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Transições e duração do desemprego402

Tabela 7_ Teste de Verossimilhança

Distribuição (–)2LogL Estatística Significância

Gamma 2019,3834 –

Weibull 2020,0354 0,652 *

Exponencial 2085,9302 66,5468

Log-normal 2078,3816 58,9982

Fonte: Elaboração própria com base nos microdados PME de 1997, 1998, 1999, 2000 e 2001.

12 Foi realizado o teste deCox para os resíduos,e esse mostrou queo modelo se ajusta bemaos dados, confirmando,assim, a adequaçãodo modelo escolhido.

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Constata-se, ainda, considerando aposição ocupada no trabalho anterior, queas pessoas que trabalharam sem carteira as-sinada apresentam maior probabilidade deencontrar uma ocupação do que aquelasque, na última ocupação, tinham posse decarteira assinada. Isso se caracteriza, so-bretudo, pelo fato de essas não recebe-rem indenizações, quando demitidas, e

de não serem elegíveis para o seguro de-semprego. Os que trabalharam por contaprópria ou como empregadores no tra-balho anterior apresentam também me-nor tempo de desemprego relativo àque-les que tinham carteira assinada. O riscode encontrar uma ocupação para esses in-divíduos é 1,32 vezes maior do que paraaqueles com carteira na última ocupação.

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Tabela 8_ Estimativa das razões de risco para variáveis selecionadas, RMBH, 1997/2001

Variável Categoria Razão de risco Desvio-Padrão

Anos de estudo

0 a 3 1,008442 0,144696

8 a 10 0,692400* 0,080870

11 a 14 0,805658** 0,074515

15 anos ou mais 0,596341* 0,119739

Posição na ocupação anteriorEmpregado sem carteira 1,220409** 0,102315

Conta própria ou empregador 1,317732*** 0,221633

Motivo de saída da últimaocupação

Pediu para sair 1,089700 0,111267

Tempo de não-trabalho Mais de um ano 0,360299* 0,039365

Biênio 1998/1999 0,865489** 0,064890

Termo de interação

Tempo de não-trabalho*segundo grau incompleto

1,710585** 0,377582

Motivo de saída*superior completo ou mais

2,105403** 0,729542

Tempo de não-trabalho*Conta própria ou empregador

0,608752*** 0,168559

(*) significante ao nível de 1%;

(**) significante ao nível de 5%;

(***) significante ao nível de 10%.

Fonte: Elaboração própria com base nos microdados PME de 1997, 1998, 1999, 2000 e 2001.

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Tal resultado também é obtido nos acha-dos das matrizes de transição e por algunsautores como Menezes-Filho e Picchetti(2000 e 2002) e Avelino (2001).

Outro importante resultado é ofato de o tempo de desemprego dos indi-víduos ser afetado pela variável biênio.Essa reflete efeitos de período que indi-retamente captam o comportamento ma-croeconômico da região metropolitana.Esse resultado confirma o predito pelomodelo teórico de busca de emprego,que mostra que a obtenção de um postode trabalho é afetada tanto pelos fatoresindividuais como pelo comportamentoda atividade econômica. Pode ser verifi-cado, para a RMBH, no biênio 1998/1999, menor probabilidade de o indiví-duo obter uma ocupação do que no biê-nio 2000/2001. No biênio 1998/1999,reflexos de crises financeiras internacio-nais com propagação para a economiabrasileira, refletiram-se no comportamentodo produto, tendo posteriormente (2000/2001) voltado a crescer.

6_ Considerações finais

Os resultados deste artigo mostram queo comportamento do desemprego naRMBH é afetado não só pelas caracte-rísticas individuais, como também pelocomportamento da atividade econômica,confirmando, assim, o predito pelos mo-

delos de busca de emprego. Concernenteàs características individuais, percebe-seque alguns grupos são atingidos princi-palmente pelo tempo de permanência nodesemprego, enquanto outros apresen-tam maior incidência nesse estado.

Entre as características do indiví-duo, os resultados apontam que o compor-tamento do desemprego para jovens e mu-lheres é afetado muito mais pela maiorincidência desses grupos no estado de de-semprego, em que é observado intensidadee freqüência dos fluxos entre os estados deocupação, desemprego e inatividade maior,do que um longo período de permanênciano estado de desemprego, como é o casodaqueles que possuem maior instrução, in-divíduos que estão há mais tempo sem tra-balho e que, na última ocupação, tinhamcarteira de trabalho assinada. Merece des-taque os jovens e aqueles que se encontramhá mais tempo desempregados, visto quesão esses os grupos, respectivamente, queapresentam maior incidência no desempre-go e menor probabilidade de saída desseestado para a obtenção de uma ocupação.

Percebe-se que a seletividade domercado de trabalho, as formas precáriasde inserção e o comportamento da ativi-dade econômica dessa região contribuemtanto para o aumento do desempregoquanto para o da rotatividade entre osgrupos com menor estabilidade no mer-cado de trabalho.

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Transições e duração do desemprego404

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Artigo recebido em agosto de 2005; aprova-

do em agosto de 2006.