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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
CAROLINNE DE MORAIS GONÇALVES
TRANSPORTE PÚBLICO EM FAVELAS: ANÁLISE DAS
CARACTERÍSTICAS DOS USUÁRIOS E ACESSIBILIDADE DO
TELEFÉRICO DO ALEMÃO
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia de Transportes do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia de Transportes. Orientador: Profª. Renata Albergaria de Mello Bandeira – D.Sc.
Rio de Janeiro
2015
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c2015 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha
Rio de Janeiro – RJ CEP: 22290-270
Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-lo
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É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre bibliotecas
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e que seja feita a referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es) e do(s)
orientador(es).
629.04
Gonçalves, Carolinne de Morais
G635t Transporte público em favelas: análise das características dos usuários e acessibilidade do teleférico do alemão / Carolinne de Morais Gonçalves, orientada por Renata Albergaria de Mello Bandeira – Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2015. 154p.: il. Dissertação (Mestrado) – Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, 2015. 1. Curso de Engenharia de Transportes – teses e dissertações. 2. Transporte público. 3. Acessibilidade. I. Gonçalves, Carolinne de Morais. II. Título. III. Instituto Militar de Engenharia.
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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
CAROLINNE DE MORAIS GONÇALVES
TRANSPORTE PÚBLICO EM FAVELAS: ANÁLISE DAS
CARACTERÍSTICAS DOS USUÁRIOS E ACESSIBILIDADE DO
TELEFÉRICO DO ALEMÃO
Dissertação de mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia de
Transportes do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Ciências em Engenharia de Transportes.
Orientador: Prof.ª Renata Albergaria de Mello Bandeira – D.Sc.
Aprovada em 29 de maio de 2015 pela seguinte Banca Examinadora:
________________________________________________________________________
Cap. Renata Albergaria de Mello Bandeira – D.Sc. do IME – Presidente
________________________________________________________________________
Prof.ª Vânia Barcellos Gouvêa Campos – D.Sc. do IME
________________________________________________________________________
Prof. Romulo Dante Orrico Filho – D.Sc. da UFRJ
________________________________________________________________________
Prof. Luiz Carlos Brasil de Brito Mello – D.Sc. da UFF
Rio de Janeiro
2015
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Dedico este trabalho à vida, que sempre tenta me dar
uma rasteira e nunca consegue.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela sabedoria que me envia nos momentos em que mais necessito e,
também, pela força e disposição dada para que eu não desistisse e seguisse em frente com a
pesquisa.
A minha família por ser compreensível e acreditar em mim.
Ao meu irmão pela paciência e compreensão nas noites em que precisei ficar acordada
até mais tarde, atrapalhando seu sono.
Ao meu noivo Bruno pelos momentos que me aconchegou em seus braços para me
acalmar quando achava que não seria capaz de seguir em frente.
A minha amiga Priscilla que me apresentou a pós-graduação do IME, caso contrário não
estaria aqui hoje defendendo este produto do meu esforço.
A Cap. Renata pela orientação, amizade e paciência, e, também, por acreditar no tema
que não é muito procurado no meio acadêmico, principalmente no IME.
A minha amiga Tássia que foi companheira ao longo deste curso e dos “desbravamentos”
feitos em alguns cantos do Rio de Janeiro e de Curitiba.
Ao amigo Jefferson pelas risadas, conversas e pelo título de “Miss Transbordo” dedicado
a mim, por sair do subúrbio (da Central) e ir até a zona sul utilizando os mais variados meios
de transportes.
A amiga Virlene por ser companheira e animada. A SE/2 sem você não é a mesma coisa,
mineirinha de Divinolândia.
Aos amigos Bárbara, Daniel Schmitz, Daniel Galhardo, Therezinha e Cynthia pelo
carinho e atenção dedicados a minha pessoa.
Ao Diego Garcia e prof. Silveira Lopes pelos contatos realizados com a SuperVia para
que eu pudesse realizar a pesquisa de campo no Teleférico do Alemão.
A SuperVia, em especial ao Marcos Medeiros e Maycon Sá, gerente do Teleférico e
responsável pelo setor de Operação e Manutenção, respectivamente, por permitirem que eu
realizasse a pesquisa no interior das estações do Teleférico do Alemão.
Aos funcionários das estações Adeus, Baiana, Alemão, Itararé e Palmeiras, pela atenção
dada e todo auxílio prestado a mim durante os dias em que realizei as entrevistas.
Aos passageiros do Teleférico do Alemão por terem tido paciência em responder meu
questionário.
6
A diretora do EDI Henrique Foréis, Patrícia Bandeira, por ter cedido o espaço na creche
para que pudesse ser realizadas entrevistas com os responsáveis e funcionários do local.
Aos presidentes das Associações de Moradores da Baiana e da Joaquim de Queiroz por
serem solícitos e me auxiliarem nas entrevistas com os moradores nas ruas próximas às
associações.
Aos moradores do Complexo do Alemão que participaram das entrevistas, meu muito
obrigado por colaborarem com meu estudo.
A CAPES pelo apoio financeiro fundamental para a realização da pesquisa.
Ao Instituto Militar de Engenharia por ter me ofertado a oportunidade de estudar em uma
instituição de grande excelência, com professores do mais alto gabarito que são capazes de
formar e preparar alunos com potencial de competir no mercado de trabalho ou para
prosseguir no meio acadêmico.
Aos membros da banca pela gentileza em aceitar o convite para avaliar este trabalho.
7
“É comum, é normal
Sou mais um no Brasil da Central
Da minhoca de metal que entorta as ruas
Da minhoca de metal que entorta as ruas
Como um Concorde apressado, cheiro de força
Voa, voa mais pesado que o ar
É o avião, o avião, o avião do trabalhador”.
Rodo Cotidiano – O Rappa
8
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................................... 11
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. 13
LISTA DE EQUAÇÕES .......................................................................................................... 15
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ........................................................................ 16
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 19
1.1. Relevância do problema .............................................................................................. 20
1.2. Objetivo ....................................................................................................................... 21
1.3. Estrutura da dissertação ............................................................................................... 22
2. TRANSPORTE PARA A POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA ........................... 23
2.1. Assentamentos urbanos informais (favelas) ................................................................ 24
2.2. Sistemas de transportes em favelas ............................................................................. 26
2.3. Revisão bibliográfica sobre sistemas de transporte urbano em comunidades de baixa renda……………………………………………………………………………….…28
3. TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS PARA O TRANSPORTE PÚBLICO ....... 35
3.1. Tecnologias alternativas de transporte público ............................................................ 35
3.1.1. Sistema CPT .......................................................................................................................... 36
3.2.1.1. Sistema ART ......................................................................................................................... 37
3.2.1.2. Funicular ................................................................................................................................ 38
3.2.2. Escadas rolantes .................................................................................................................... 39
3.2.3. Elevador urbano .................................................................................................................... 40
3.2.4. Monotrilho ............................................................................................................................. 41
3.3. Aplicações das tecnologias alternativas no transporte público ................................... 42
3.3.1. Sistema ART ......................................................................................................................... 42
3.3.1.1. Metrocable de San Agustín – Caracas, Venezuela ........................................................... 43
3.3.1.2. Metrocable de Medellín – Medellín, Colômbia................................................................ 44
3.3.2. Funicular ................................................................................................................................ 46
3.3.2.1. Plano inclinado do Dona Marta – Rio de Janeiro, Brasil ................................................ 46
3.3.2.2. Plano inclinado do Pavão-Pavãozinho – Rio de Janeiro, Brasil ..................................... 47
9
3.3.3. Escadas rolantes .................................................................................................................... 48
3.3.3.1. Escadas rolantes da Comuna 13 – Medellín, Colômbia .................................................. 48
3.3.4. Elevadores urbanos............................................................................................................... 49
3.3.4.1. Complexo Rubem Braga – Rio de Janeiro, Brasil ........................................................... 49
3.3.5. Monotrilho ............................................................................................................................. 50
3.3.5.1. Monotrilho Linha 15-Prata – São Paulo, Brasil ............................................................... 50
3.4. Comparativo técnico entre as tecnologias ................................................................... 51
4. MEDIDAS DE ACESSIBILLIDADE DOS ESPAÇOS URBANOS EM FAVELA ……………………………………………………………..………………………….55
4.1. Conceitos de mobilidade e acessibilidade ................................................................... 55
4.2. Medidas de avaliação do espaço do pedestre .............................................................. 56
5. PESQUISA DE CAMPO NAS COMUNIDADES DO COMPLEXO DO ALEMÃO…………………………………………………………………………….67
5.1. Caracterização da área de estudo ................................................................................. 67
5.1.1. Complexo do Alemão ........................................................................................................... 68
5.1.2. Teleférico do Alemão ............................................................................................................ 70
5.2. Metodologia de pesquisa .............................................................................................. 71
5.2.1. Design do questionário ......................................................................................................... 72
5.2.2. Tamanho da amostra ............................................................................................................. 73
5.3. Coleta de informações .................................................................................................. 74
5.3.1. Aplicação do questionário piloto ......................................................................................... 74
5.3.2. Aplicação dos questionários nas estações do Teleférico do Alemão .............................. 74
5.3.3. Aplicação do questionário aos moradores do complexo do alemão que não utilizam o teleférico ....................................................................................................................... 75
5.3.4. Descrição das informações coletadas .................................................................................. 75
6. ANÁLISE DOS RESULTADOS .............................................................................. 77
6.1. Pesquisa de opinião do Teleférico do Alemão ............................................................. 77
6.1.1. Característica do entrevistado .............................................................................................. 77
6.1.2. Caracterização da viagem ..................................................................................................... 79
6.1.3. Opinião do entrevistado ........................................................................................................ 84
6.2. Pesquisa de opinião dos não usuários do Teleférico do Alemão ................................. 89
10
6.2.1. Características do entrevistado ............................................................................................ 89
6.2.2. Caracterização da viagem ..................................................................................................... 90
6.2.3. Opinião do entrevistado ........................................................................................................ 92
6.3. Análise comparativa das percepções dos passageiros e não usuários do sistema ........ 97
6.4. Análise dos resultados de acordo com as características dos passageiros ................... 98
6.4.1. Sexo ......................................................................................................................................... 99
6.4.2. Faixa etária ........................................................................................................................... 100
6.4.3. Escolaridade ......................................................................................................................... 102
6.4.4. Uso do teleférico por semana ............................................................................................. 102
6.5. Análise dos resultados de acordo com as características dos respondentes que não utilizam o sistema de teleférico .................................................................................. 106
6.5.1. Sexo ....................................................................................................................................... 107
6.5.2. Faixa etária ........................................................................................................................... 108
6.5.3. Escolaridade ......................................................................................................................... 110
6.5.4. Veículo .................................................................................................................................. 111
6.6. Análise dos resultados de acordo com as estações de embarque e desembarque ...... 112
7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .............................................................. 126
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................... 130
9. APÊNDICE ............................................................................................................... 141
9.1. Apêndice 1: resumo bibliográfico sobre sistemas de transporte urbano em favelas . 142
9.2. Apêndice 2: resumo das metodologias de avaliação do pedestre .............................. 146
9.3. Apêndice 3: correlação entre as variáveis de avaliação do espaço urbano do pedestre levantadas e as perguntas desenvolvidas nos questionários ....................................... 149
9.4. Apêndice 4: modelo de questionário aplicado aos passageiros do teleférico do alemão . ……….……………………………………………………...………………………..151
9.5. Apêndice 5: modelo de questionário aplicado aos não usuários do Teleférico do Alemão……………………………………….………………………………………153
11
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIG. 2. 1 (a) Porcentagem de viagens realizadas dentro das favelas e (b) Porcentagens de
viagens fora das favelas .......................................................................................... 27
FIG. 3. 1 (a) Metrocable de Medellín, (b) Singapura Cable Car, (c) Koblenz Rheinseilbahn e
(d) Roosevelt Island Tram ....................................................................................... 38
FIG. 3. 2 (a) Via dupla no trecho de ultrapassagem e (b) Funicular híbrido ........................... 39
FIG. 3. 3 Escadas Rolantes na Comuna 13, Medellín .............................................................. 40
FIG. 3. 4 Complexo Rubem Braga, Rio de Janeiro.................................................................. 41
FIG. 3. 5 Monotrilho Linha 15-Prata, São Paulo ..................................................................... 42
FIG. 3. 6 (a) e (b) Estações Metrocable de San Agustín .......................................................... 44
FIG. 3. 7 (a) Linha J e (b) Linha L ........................................................................................... 45
FIG. 3. 8 (a) Veículo do plano inclinado e (b) Estação 3, local de transferência para o trecho
superior .................................................................................................................... 47
FIG. 3. 9 (a) Veículo e (b) Estação .......................................................................................... 48
FIG. 3. 10 (a) Comuna 13 e (b) escadas rolantes ..................................................................... 49
FIG. 3. 11 Complexo Rubem Braga ......................................................................................... 50
FIG. 3. 12 Monotrilho Modelo Innovia Monorail 300 ............................................................ 51
FIG. 5. 1 Mapa da rede ferroviária administrada pela SuperVia, em destaque o Teleférico do
Alemão ................................................................................................................... 68
FIG. 5. 2 Delimitação da área ocupada pelo Complexo do Alemão ...................................... 69
FIG. 5. 3 Teleférico do Alemão ............................................................................................. 71
FIG. 6. 1 (a) Faixa etária dos entrevistados e (b) Escolaridade dos entrevistados ................. 78
FIG. 6. 2 (a) Local de origem dos entrevistados e (b) Frequência de uso do teleférico ........ 79
FIG. 6. 3 (a) Motivo na origem da viagem e (b) Motivo no destino da viagem .................... 80
FIG. 6.4 (a) Local de origem das viagens realizadas pelos entrevistados e (b) Local de destino
das viagens realizadas pelos entrevistados ............................................................... 80
FIG. 6. 5 Percentual de embarque/desembarque por estação ................................................. 81
FIG. 6. 6 (a) Percentual de modos utilizados para chegar/ sair das estações e (b) Tempo de
deslocamento de chegada/saída às estações ............................................................ 81
FIG. 6. 7 Modos de transporte utilizados pelos moradores antes da implantação do Teleférico
do Alemão ............................................................................................................... 82
12
FIG. 6. 8 Tempo de deslocamento interno antes da implantação do Teleférico do Alemão ... 82
FIG. 6. 9 Comparação de tempo de viagem interna por estação - antes x depois .................... 83
FIG. 6. 10 Importância dos aspectos que influenciam a escolha de utilizar o teleférico ......... 83
FIG. 6. 11 Impacto na utilização do Teleférico devido a problemas de segurança pública ..... 84
FIG. 6. 12 Classificação da facilidade de acesso a uma estação do Teleférico........................ 85
FIG. 6. 13 Nível de dificuldade de aspectos que atrapalhariam o trajeto até o teleférico ........ 86
FIG. 6. 14 Importância de aspectos que influenciam na escolha de um caminho para chegar às
estações ................................................................................................................... 86
FIG. 6. 15 Sugestões de novos horários de funcionamento do Teleférico do Alemão ............ 87
FIG. 6. 16 Preferências de modais de transporte para substituir o sistema de teleférico ......... 88
FIG. 6. 17 (a) Faixa etária dos entrevistados e (b) Nível de escolaridade dos entrevistados ... 89
FIG. 6. 18 Frequência das visitas dos moradores a outras comunidades do Complexo .......... 90
FIG. 6. 19 Lugares externos ao Complexo do Alemão mais visitados .................................... 91
FIG. 6. 20 Motivo de ir ao local externo ao Complexo do Alemão ......................................... 91
FIG. 6. 21 (a) Porcentagem de modais utilizados para o deslocamento no interior da
comunidade e (b) Tempo gasto para o deslocamento por dentro do Complexo do
Alemão ............................................................................................................... 92
FIG. 6. 22 Classificação da qualidade do serviço prestado pelo teleférico à comunidade ...... 93
FIG. 6. 23 Escala de importância de aspectos que podem ter influenciado a escolha de não
utilizar o teleférico ................................................................................................ 94
FIG. 6. 24 Nível de dificuldade de aspectos que atrapalhariam o trajeto até o teleférico ........ 95
FIG. 6. 25 Possibilidade de utilização do Teleférico do Alemão no futuro ............................. 95
FIG. 6. 26 Escala de importância dos aspectos que podem aumentar as chances de uso do
teleférico ............................................................................................................... 96
FIG. 6. 27 Preferências de modos de transporte para substituir o sistema de teleférico .......... 96
FIG. 6. 28 Representação gráfica das áreas de influência das estações ................................. 114
13
LISTA DE TABELAS
TAB. 3. 1 Componentes do sistema CPT ................................................................................. 36
TAB. 3. 2 Tipos de ART .......................................................................................................... 37
TAB. 3. 3 Características Técnicas das linhas do Metrocable de Medellín ............................. 45
TAB. 3. 4 Comparações Técnicas entre as Tecnologias ART, Funicular, Monotrilho, Elevador
Urbano e Escadas Rolantes .................................................................................... 52
TAB. 4. 1 Variáveis aplicáveis ao estudo da acessibilidade ao Teleférico do Alemão ........... 65
TAB. 5. 1 Estações do teleférico do Alemão ........................................................................... 70
TAB. 6. 1 Classificação do serviço prestado ........................................................................... 98
TAB. 6. 2 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico ....................................................... 98
TAB. 6. 3 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico ..................................................... 100
TAB. 6. 4 Aspectos importantes para escolha do trajeto à estação ........................................ 100
TAB. 6. 5 Aspectos que dificultam o acesso às estações (teste ANOVA) ............................ 101
TAB. 6. 6 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico (teste Post Hoc) .......................... 101
TAB. 6. 7 Aspectos que influenciam o uso do teleférico (teste ANOVA) ............................ 103
TAB. 6. 8 Facilidade de acesso às estações (teste ANOVA) ................................................. 103
TAB. 6. 9 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico (teste ANOVA) .......................... 103
TAB. 6. 10 Aspectos que influenciam o uso do teleférico (teste Post Hoc) .......................... 104
TAB. 6. 11 Facilidade de acesso às estações (teste Post Hoc) ............................................... 105
TAB. 6. 12 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico (teste Post Hoc) ........................ 105
TAB. 6. 13 Aspectos que influenciam a não utilizar o teleférico .......................................... 108
TAB. 6. 14 Aspectos que dificultam o acesso às estações ..................................................... 108
TAB. 6. 15 Aspectos que influenciam a não utilizar o teleférico (teste ANOVA) ................ 108
TAB. 6. 16 Aspectos que aumentam as chances de uso do teleférico (teste ANOVA) ......... 109
TAB. 6. 17 Aspectos que influenciam a não utilizar o teleférico (teste Post Hoc) ................ 109
TAB. 6. 18 Aspectos que aumentariam as chances de usar o teleférico (teste Post Hoc) ..... 110
TAB. 6. 19 Aspectos que influenciam a não utilizar o teleférico (teste ANOVA) ................ 112
TAB. 6. 20 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico (teste ANOVA) ........................ 112
TAB. 6. 21 Aspectos que influenciam a não utilizar o teleférico (teste Post Hoc) ................ 112
TAB. 6. 22 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico (teste Post Hoc) ........................ 112
14
TAB. 6. 23 Raio de influência de cada estação ...................................................................... 113
TAB. 6. 24 Aspectos que influenciam o uso do teleférico (teste ANOVA) .......................... 115
TAB. 6. 25 Facilidade de acesso às estações (teste ANOVA) ............................................... 115
TAB. 6. 26 Aspectos que dificultam o acesso às estações (teste ANOVA) .......................... 115
TAB. 6. 27 Aspectos importantes para a escolha do trajeto à estação (teste ANOVA) ........ 115
TAB. 6. 28 Aspectos que influenciam o uso do teleférico (teste Post Hoc) .......................... 116
TAB. 6. 29 Facilidade de acesso às estações (teste Post Hoc) ............................................... 117
TAB. 6. 30 Aspectos que dificultam o acesso às estações (teste Post Hoc) .......................... 118
TAB. 6. 31 Aspectos importantes para a escolha do trajeto às estações (teste Post Hoc) ..... 121
TAB. 6. 32 Crosstab entre grupo e estações (Análise de cluster) ......................................... 123
TAB. 9. 1 Resumo bibliográfico sobre sistemas de transporte urbano em favelas ................ 142
TAB. 9. 2 Resumo das metodologias de avaliação do espaço do pedestre ............................ 146
TAB. 9. 3 Variáveis de avaliação do espaço urbano do pedestre e sua pergunta relacionada no
questionário .......................................................................................................... 149
15
LISTA DE EQUAÇÕES
E.Q. 5. 1 Tamanho da amostra ................................................................................................. 73
E.Q. 5. 2 Número de entrevistados ........................................................................................... 73
16
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
ABREVIATURAS
ART – Aerial Ropeway Transit
AUIP – Assentamentos urbanos informais precários
BDG – Bicable Detachable Gondola
CODESCO – Companhia de Desenvolvimento de Comunidades
COHAB – Companhia de Habitação Popular
CHISAM – Coordenação da Habitação de Interesse Social da Área Metropolitana do
Grande Rio
CPT – Cable-Propelled Transit
EDI – Espaço de Desenvolvimento Infantil
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IQC – Índice de qualidade das calçadas
MDG – Monocable Detachable Gondola
NS – Nível de serviço
ONU – Organização das Nações Unidas
PROFACE – Programa de Favelas da CEDAE
SIG – Sistema de informações geográficas
TDG/3S – Tricable Detachable Gondola
UTO – Unatteended Train Operation
SÍMBOLOS
n – Número de entrevistas a serem realizadas
p – Proporção de usuários de teleférico
e – Nível aceitável de erro
Z – Valor do erro padrão
N – Tamanho da população
17
RESUMO
De 2000 a 2010, a população mundial que vive em favelas passou de 777, 6 para 826,7 milhões e, até 2020, esse número deve aumentar para 889 milhões de habitantes (ONU, 2010). Estudos mostram que a caminhada é o principal modo de transporte para os moradores das favelas. No entanto, devido ao relevo acidentado, típico das favelas brasileiras, especialmente aquelas situadas no Rio de Janeiro, fazer caminhadas nestes locais é muito difícil. Esta dificuldade, associada à carência de oferta de serviços de transporte público convencional, facilita o surgimento de iniciativas de transporte informais (como serviços de vans e moto-táxi não regularizados). A fim de reduzir a incidência deste tipo de serviço de transporte e melhorar a mobilidade e acessibilidade, tecnologias alternativas de transporte público, tais como teleféricos, planos inclinados, elevadores e escadas rolantes urbanas, têm sido usadas em favelas do Rio ao longo dos últimos anos: plano inclinado no Dona Marta (2006), elevador público no Cantagalo (2010) e teleféricos no Complexo do Alemão (2011) e Providência (2014). Porém, no caso do sistema do teleférico implementado no Complexo do Alemão, o número de passageiros que utiliza o serviço é baixo quando comparado às proporções da comunidade e estudos de previsão de demanda realizados anteriormente. Aspectos como a baixa acessibilidade física e a falta de integração com um sistema de transporte complementar no interior da favela devem ser considerados para uma melhor explicação da baixa adesão. Neste contexto, este trabalho tem como objetivo analisar as características dos usuários do Teleférico do Alemão, bem como apresentar uma análise de acessibilidade às estações do teleférico, com base em uma pesquisa realizada com 140 residentes do Complexo (100 usuários e 40 não usuários do serviço de teleférico). A análise estatística foi realizada com o objetivo de comparar as percepções dos passageiros e dos respondentes que não utilizam o sistema. Também foi realizada a análise das respostas de acordo com as variáveis dos respondentes, de modo a possibilitar a determinação de diferenças no julgamento em relação às características dos passageiros (sexo, faixa etária, escolaridade, freqüência de uso do teleférico e propriedade de veículo). Enfim, realizou-se a análise comparativa das respostas dos usuários das diferentes estações, com o intuito de identificar se as características do entorno influenciam ou não na decisão de usar o teleférico. Os resultados indicam que, segundo as percepções dos entrevistados, a baixa acessibilidade física, a falta de infraestrutura local e a não integração com os serviços de transporte complementar existentes colaboram com o atual padrão de demanda.
18
ABSTRACT
From 2000 to 2010, the world´s population living in favelas (slums) grew from 777,6 to 826,7 millions, and by 2020 this figure can increase up to 889 million inhabitants (ONU, 2010). Studies show that walking is the main mode for favelas’ residents. However, the steep hillsides, typical of Brazilian favelas, especially for those located in Rio de Janeiro, make walking in these locations very hard. This difficult, combined with the lack in the supply of conventional public transport services, facilitates the rise of informal transport initiatives (such as vans and moto-táxis services not regulated). In order to reduce the incidence of this type of transportation service and improve mobility and accessibility, alternative technologies for public transportation, such cable cars, funiculars, urban elevators and escalators, have been used in favelas in Rio over the last few years: a funicular in Dona Marta (2006), public elevator in Cantagalo (2010), and cable cars in Complexo do Alemão (2011) and Providência (2014). However, in the case of the cable car system implemented in Complexo do Alemão, the number of passengers using the service is low when compared to community proportions and demand forecast studies previously conducted. Aspects such as low physical accessibility and lack of integration with complementary transport system within the favela should be considered for a better explanation of this poor adherence. In this context, this work aims to analyze the characteristics of the users of Teleférico do Alemão, as well as to present an analysis of the accessibility to cable car’s stations, based upon a survey of 140 residents (100 users and 40 non-users of the cable car service). Statistical analysis was performed in order to compare the perceptions of passengers and respondents who do not use the system. It also promoted the analysis of the responses according to the variables of the respondents, in order to enable the determination of differences in judgment regarding passenger characteristics (gender, age, education, frequency of use of the cable car and vehicle ownership). Anyway, there was a comparative analysis of the responses from users from different stations, in order to identify whether the surrounding characteristics influence or not the decision to use the cable car. The results indicate that, in the perception of respondents, low physical accessibility, lack of local infrastructure and the lack of integration with existing complementary transport services collaborate with the current pattern of demand.
19
1. INTRODUÇÃO
Alternativas de transportes urbanos voltados para diminuir a pobreza e a desigualdade
ainda não são amplamente discutidos no Brasil, embora as precárias condições de mobilidade
se coloquem como obstáculos à superação da pobreza e da exclusão social dos cidadãos mais
carentes do país (ITRANS, 2004).
Entretanto, no Rio de Janeiro, estão sendo implantadas algumas iniciativas na tentativa de
diminuir os grandes problemas de transporte urbano nas comunidades carentes, gerados por
décadas de crescimento descontrolado, falta de planejamento e de fiscalização. Dentro deste
contexto, o processo de reurbanização das favelas cariocas apresenta enormes desafios,
principalmente quando se discute a possibilidade da rede estruturada de transportes.
A topografia acidentada (morros e encostas) é uma situação comum às favelas brasileiras,
em especial as cariocas. Segundo Lindau et al. (2011), os estreitos e íngremes canais viários
restringem a instalações de modalidades convencionais de transporte coletivo nestas
comunidades, bem como atendimento emergencial de saúde, bombeiros, coleta de lixo e
transporte de cargas em geral. Entre as possíveis alternativas de tecnologias para transporte
urbano para favelas, destacam-se as baseadas em propulsão a cabo, ou Cable-Propelled
Transit (CPT), que devem estar associadas à qualificação do transporte não motorizado com
melhorias de vielas e escadas. Porém, é importante destacar que, de acordo com Lindau et al.
(2011), estes sistemas de transportes requerem um forte equacionamento financeiro por
demandar custos elevados de implantação, operação e manutenção.
O sistema CPT, em especial a tecnologia Aerial Ropeway Transit (ART), ficou bastante
conhecido através do Metrocable de Medellín, que é integrado ao metrô local. A ideia do
modelo colombiano serviu de inspiração para sistemas parecidos na Venezuela e no Brasil.
No Rio de Janeiro, foram implantados, nas comunidades do Complexo do Alemão, do Morro
Dona Marta, do Morro Pavão-Pavãozinho, do Morro do Cantagalo e do Morro da
Providência, sistemas CPT para auxiliar o deslocamento dos moradores. Os sistemas do
Complexo do Alemão e do Morro da Providência são teleféricos, enquanto os outros são
planos inclinados e elevador urbano.
A implantação do teleférico no Complexo do Alemão, inaugurado em 2011, teve como
inspiração o modelo adotado em Medellín, na Colômbia, em que houve um estudo de
20
urbanização e investimentos em mobilidade em áreas informais no inicio dos anos 2000.
Entretanto, apesar de Teleférico do Alemão estar integrado aos trens da SuperVia, no caso
carioca, não houve um planejamento urbano e de transportes compatíveis, demonstrado pelo
número de passageiros que utilizam o sistema, considerado baixo comparado às proporções
da comunidade e à previsão levantada por estudos de demanda. Aspectos como baixa
acessibilidade física e a não integração com os sistemas de transporte vigentes no interior do
complexo (transportes informais) devem ser consideradas para uma melhor explicação da
baixa adesão.
1.1. RELEVÂNCIA DO PROBLEMA
Segundo a ONU (2013), através do relatório World Economic and Social Survey 2013,
haverá três bilhões de pessoas vivendo em favelas até 2050. Atualmente, um milhão de
pessoas vivem em locais sem infraestrutura e serviços básicos. Este crescimento urbano sem
um planejamento adequado, juntamente com o atual modelo de oferta de transporte público,
formam barreiras para a inclusão social (Cardozo et al., 2009).
A mobilidade da população pobre nas grandes cidades brasileiras, medida pelo número
médio de deslocamentos diários por pessoa, é muito baixa (ITRANS, 2004), indicando
problemas de acesso ao trabalho e às oportunidades de emprego, a atividades de lazer e a
equipamentos sociais básicos (Lindau et al., 2011). Estas precárias condições de mobilidade
se colocam como obstáculos à superação da pobreza e da exclusão social para cerca de 45%
da população urbana brasileira, que tem renda mensal familiar inferior a três salários mínimos
(ITRANS, 2004). Portanto, há a necessidade de investimentos na área de transportes para
proporcionar uma melhor mobilidade das pessoas nas favelas. No entanto, é importante
destacar que investimentos em transporte por si só não garantem a redução das diferenças
sociais (Mourello, 2002). Tais investimentos devem vir acompanhados por um planejamento
de transportes, pois, se esse planejamento não for executado de forma adequada, pode
contribuir para o aumento da segregação sócio-espacial, ou seja, a exclusão social (Siebert,
2001).
O deslocamento a pé é muito comum nas comunidades carentes. No Brasil, 12,3% da
população realiza viagens a pé e, na região sudeste, esse valor cai a 8,3% (IPEA, 2011).
21
Muitos desses deslocamentos ocorrem por falta de dinheiro e uma disponibilidade de serviço
de transporte muito ruim ou inexistente na região onde moram (Gomide, 2003). A topografia
acidentada, encontrada na maioria das favelas cariocas, serve como entrave para a
implantação do transporte convencional, pois demandaria grandes investimentos e também
modificação do relevo. Neste cenário, onde a rede de transportes regulamentada não garante o
acesso da população a todo o espaço urbano, surgem oportunidades para o crescimento do
transporte informal, como vans e moto-táxi.
Entretanto, novas alternativas de se levar o transporte coletivo formal a essas
comunidades estão surgindo, como uma forma de garantir uma melhor mobilidade a áreas de
difícil acesso. Um exemplo são as gôndolas urbanas (teleféricos) e os funiculares (planos
inclinados). Contudo, para garantirem uma maior mobilidade, estas tecnologias devem estar
integradas a rede transporte convencional local, garantindo uma melhor acessibilidade a
todos. Quanto mais acessível, maior a facilidade de locomoção e melhor qualidade de vida do
usuário do serviço de transporte.
Neste contexto, o estudo propõe analisar o padrão de demanda destas tecnologias de
transporte aplicadas em favelas, bem como a acessibilidade a elas, com isso, verificar a
configuração da mobilidade nestes locais.
1.2. OBJETIVO
O objetivo geral a ser alcançado na dissertação consiste na análise das características dos
usuários do Teleférico do Alemão, bem como apresentar uma análise de acessibilidade às
estações do teleférico.
Os objetivos específicos deste trabalho são:
• Examinar como se processa a acessibilidade local às estações do Teleférico do Alemão,
tanto em deslocamento a pé quanto em motorizados;
• Avaliar de que forma a acessibilidade às estações do Teleférico do Alemão - tendo em
conta as especificidades locais, como ruas estreitas e íngremes, calçadas deficientes ou
inexistentes - influencia na escolha de utilizar ou não o transporte;
• Examinar quais seriam as principais barreiras para melhoria das condições gerais da
acessibilidade motorizada e a pé às estações.
22
1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
A presente dissertação está estruturada da seguinte forma:
Capítulo 1 – Introdução: Neste capítulo são apresentadas as considerações iniciais sobre
o assunto, o objetivo, a justificativa e a composição da dissertação.
Capítulo 2 – Transporte para a população de baixa renda: Neste capítulo, é
apresentada uma revisão bibliográfica sobre estudos já desenvolvidos sobre sistemas de
transportes em comunidades de baixa renda. Ainda, é analisada a dinâmica dos transportes
encontrados nestas comunidades.
Capítulo 3 – Tecnologias alternativas para o transporte público: Neste capítulo, são
apresentadas as tecnologias não convencionais de transporte público utilizadas em áreas com
grande aclive, abordando termos técnicos e exemplificando locais onde estas tecnologias
foram utilizadas como transporte público. Além disto, é apresentada a comparação para a
utilização destas diferentes tecnologias.
Capítulo 4 – Medidas de acessibilidade dos espaços urbanos em favela: Este capítulo
apresenta uma revisão bibliográfica das metodologias e variáveis utilizadas para avaliar o
espaço urbano sob a ótica do transporte nas comunidades de baixa renda.
Capítulo 5 – Pesquisa de campo nas comunidades do Complexo do Alemão: Neste
capítulo, é apresentado um panorama geral sobre a comunidade e o sistema de teleférico, bem
como os dados a serem levantados e o tamanho da amostra a ser entrevistada.
Capítulo 6 – Análise de resultados: Neste capítulo, é analisado, com base nos resultados
das entrevistas realizadas na pesquisa de campo, os perfis distintos de cada grupo analisado
(usuários e não usuários). Esta análise será feita em duas partes: apresentação geral dos dados
coletados e análise estatística por estratos.
Capítulo 7 – Conclusões e recomendações: Neste capítulo, são apresentadas as
conclusões do estudo, bem como são sugeridas propostas para estudos futuros.
23
2. TRANSPORTE PARA A POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA
Estudos realizados sobre desenvolvimento urbano constataram o crescimento
desorganizado dos centros urbanos em países em desenvolvimento e o consequente aumento
da população residente em assentamentos urbanos informais ou favelas. Segundo Kaltheier
(2002), metade da população das grandes cidades vive em comunidades carentes na periferia,
em bairros pobres ou mesmo nas ruas, muita das vezes em condições desumanas. O autor
(2002) destaca que este número pouco mudou nos últimos 10 anos, porém a falta de acesso à
infraestrutura das cidades para essas pessoas aumentou consideravelmente.
Os habitantes da periferia urbana realizam um esforço sobre-humano para poder ter
acesso aos serviços básicos ofertados pela cidade, o que os tornam cada vez mais excluídos da
vida social e política local (Kaltheier, 2002). Entretanto, o planejamento urbano e o uso do
solo adequado nas favelas tendem a reduzir à falta de acesso à infraestrutura da cidade.
Desde a década de 30, programas de urbanização de comunidades carentes têm sido
implantados na cidade do Rio de Janeiro. Dentre os projetos realizados com o propósito de
urbanizar favelas, destacam-se o Programa Favela Bairro e o Morar Carioca. O primeiro,
realizado na década de 90, não visava uma alteração brusca no traçado das comunidades
atendidas e nem considerava a preocupação com a questão do transporte. Contudo, o
Programa Morar Carioca, iniciado em 2010, inova ao propor mudanças no tecido urbano local
e implantação de novas tecnologias de transporte para melhorar a acessibilidade e mobilidade
local.
A necessidade do transporte para permitir o acesso à cidade formal é fundamental para a
redução da pobreza. Uma infraestrutura de transporte bem planejada permite a integração da
favela com a cidade formal a partir da implantação de um sistema de transporte eficiente e de
baixo custo para o morador (Kaltheier, 2002), diminuindo a incidência das alternativas
informais e inseguras.
Este capítulo explora a temática do transporte público para a população de baixa renda. A
abordagem tem foco em estudos apresentados na literatura, nacional e internacional, sobre o
tema, assim como nos estudo de urbanização dos assentamentos urbanos informais e nos
modos de transporte já utilizados por aqueles que vivem nas favelas.
24
2.1. ASSENTAMENTOS URBANOS INFORMAIS (FAVELAS)
De acordo com o censo de 2010 (IBGE, 2010), 6% da população brasileira (cerca de 11,4
milhões de habitantes) residiam em 3.224.529 domicílios localizados em 6.329 favelas.
Segundo a definição do IBGE (2010), uma favela é um aglomerado subnormal com mais de
509 unidades domiciliares (domicílios/favelas).
Entretanto, é importante ressaltar que as favelas, também denominadas agrupamentos
informais ou assentamentos urbanos informais precários (AUIP), não devem ser
caracterizadas simplesmente como um aglomerado habitacional subnormal. Dispostas
desordenadamente, a maior parte das favelas ocupa densamente terrenos de terceiros (Cezar,
2002) ou terras públicas, sejam elas da União, do Estado ou do Município (Rodrigues, 1988).
Em geral, são áreas com maior declividade, insalubres e sujeitas a enchentes e desabamentos,
deixando seus moradores expostos ao risco de perder não só a moradia como a própria vida
(Rodrigues, 1988). Assim, define-se favela como uma “área predominantemente habitacional,
caracterizada por ocupação da terra por população de baixa renda e por precariedade da
infraestrutura urbana e de serviços públicos, com vias estreitas e de alinhamento irregular,
lotes de forma e tamanho irregulares e construções não licenciadas, em desconformidade com
os padrões legais” (Plano Diretor Decenal da Cidade do Rio de Janeiro. Prefeitura da Cidade
do Rio de Janeiro 1993).
No Rio de Janeiro, desde os anos 30, a urbanização das favelas já era tratada pelo poder
público, porém nem sempre de maneira satisfatória para os moradores. Silva Junior (2006)
enumera os principais projetos desenvolvidos pelo governo local e federal como políticas de
urbanização de favelas cariocas; são eles: os parques proletários provisórios da Gávea, Caju e
Leblon (1940); as intervenções da Fundação Leão XIII (1946) e Cruzada São Sebastião
(1955) em Morro Azul e Parque Alegria; as habitações populares da Companhia de Habitação
Popular (COHAB) (1960) na Cidade de Deus, Vila Kennedy e Vila Aliança; os projetos de
urbanização propostos pela Companhia de Desenvolvimento de Comunidades (CODESCO)
(1968) para as favelas de Brás de Pina, Morro União e Mata Machado; a política
“remocionista” propagada pela Coordenação da Habitação de Interesse Social da Área
Metropolitana do Grande Rio (CHISAM) (1976) responsável pela remoção da Praia do Pinto;
o Projeto Mutirão (1981) idealizado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social
(SMDS) para 15 favelas cariocas; o Programa de Favelas da CEDAE (PROFACE) (1983) e o
25
programa Cada Família um Lote (1985) que beneficiavam as famílias com saneamento básico
e regularização fundiária. Silva Junior (2006) destaca que, a partir da década de 90, as
principais intervenções governamentais são os programas Favela-Bairro, realizado durante a
década de 90, e Morar Carioca, iniciado em 2010. Estas, por serem as mais recentes, serão
detalhadas nesta dissertação.
Em 1992, o prefeito Marcello Alencar sancionou o Plano Diretor da Cidade do Rio de
Janeiro, privilegiando a via urbanizadora e transformação da favela em bairro popular. Este
plano define a favela através de critérios técnicos, focados nas características espaciais e na
falta de infraestrutura (Silva Junior, 2006), além de destacar a necessidade de urbanização,
moradias populares e regularização fundiária para as favelas, implantando os loteamentos de
baixa renda.
O plano diretor serviu de norte para a criação do Programa Favela-Bairro, pois incluiu as
favelas nos mapas e cadastros da cidade e outras diretrizes que definiam a participação de
moradores no processo de urbanização, integração da favela ao bairro e preservação do tipo
de ocupação local. A realização deste programa ocorreu durante a gestão do prefeito César
Maia (1993-1996) e tinha como objetivo construir ou complementar a estrutura urbana
principal e oferecer condições ambientais de leitura da favela como bairro da cidade (Silva
Junior, 2006). No entanto, o investimento desse projeto, no que tange ao sistema de
transportes, ficou restrito a pavimentação de vias e melhorias de escadas (Koch; Lindau;
Nassi, 2013).
O Programa Morar Carioca foi lançado em 2010, pela Prefeitura do Rio de Janeiro, com o
objetivo de uma nova abordagem urbanística que incorporasse conceitos de sustentabilidade
ambiental, moradia saudável e ampliações das condições de acessibilidade (Leitão; Delecave,
2013). De acordo com Leitão e Delecave (2013), o Morar Cariocar se diferencia do programa
anterior por propor um novo tecido urbano às favelas, construção de unidades habitacionais
verticalizadas onde houvessem vazios ocasionados por desapropriações e considerar a
mobilidade local através do uso de teleféricos e elevadores.
O programa Favela-Bairro visava retirar o mínimo de desapropriações e suas
intervenções restringiam-se à qualificação do espaço público e melhoria de serviços de
infraestrutura local. Por sua vez, o Morar Carioca foi mais ousado nesse sentido, propondo a
reestruturação da malha urbana da favela, com abertura de vias de grande porte e construção
de teleféricos e planos inclinados (Leitão; Delecave, 2013). Esta mudança de visão é
fundamental para garantir a acessibilidade dos moradores das favelas, reduzindo o isolamento
26
espacial e a exclusão social (Suzuki; Cervero; Iuchi, 2013). Afinal, de acordo com dados do
Banco Mundial (2013), o transporte urbano pode contribuir na redução da pobreza tanto
indiretamente, por meio de seu impacto sobre a economia da cidade e, consequentemente, no
seu desenvolvimento, como diretamente, por meio do atendimento das necessidades diárias de
pessoas pobres.
Entretanto, a qualificação dessas medidas deve ser feita com base no conhecimento das
peculiaridades locais. As favelas cresceram sem um projeto viário, a partir de um arranjo das
construções e redes de canais de movimentação. Essa rede tem uma hierarquia própria.
Apesar do aparente caos, as favelas são estruturas urbanas caracterizadas por uma ordem
hierárquica não linear e fragmentada, com uma lógica de circulação que lembram a malha
viária da cidade formal (Sobreira; Barros, 2002). Desta forma, é preciso compreender a
hierarquia de movimentação e peculiaridades locais para propor políticas conjuntas de
planejamento urbano e de transporte nestes assentamentos urbanos informais precários. Neste
contexto, a seção a seguir apresenta os principais sistemas de transportes adotados pela
população de baixa renda nas favelas.
2.2. SISTEMAS DE TRANSPORTES EM FAVELAS
As viagens a pé prevalecem na população residente em favelas, devido à falta de dinheiro
para pagar a tarifa e à baixa oferta de transporte nestas comunidades (Gomide, 2003; Santos,
1990 apud Cardoso, 2008; Koch, Lindau, Nassi, 2013), que resulta do alto custo para adequar
a topografia desses locais para a implantação do transporte formal (Lindau et al, 2011).
Koch, Lindau e Nassi (2013) desenvolveram estudos em três favelas do Rio de Janeiro –
Complexo da Penha, Batam e Chapéu Mangueira/Babilônia – com o intuito de compreender o
transporte individual dos moradores dessas comunidades. Os autores analisaram a divisão
modal para o transporte dentro e fora das comunidades (FIG. 2.1a e na FIG 2.1b), verificando
que cerca de 90% das viagens internas a favela é realizada a pé, e 10% das viagens com
destino externo à comunidade são feitas caminhando. Os resultados da pesquisa de Koch,
Lindau e Nassi (2013) também apontam a realização de deslocamentos internos por carro,
ônibus, moto, moto-táxi, vans e kombis, conhecidas também como cabritinhos.
FIG 2. 1 (a) Porcentagem de viagens realizada
Fonte: Adaptado de Koch, Lindau e Nassi, 2013
Segundo Lindau et al. (2011), a
sistema troncal que se articula com nós espalhados pelo int
pontos estruturais que terão caráter de centralidade. Para que isso ocorra, é necessária uma
qualificação da estrutura viária existente. Vans
necessitam de vias com larguras mínimas para sua
para embarque e desembarque dos passageiros (Lindau
pequeno de vans e kombis (cabritinhos)
(Fabricius 2008 apud Koch, Lindau, Nass
comunitário realizado pelas kombis, ou “cabritinhos” como são popularmente conhecidas, foi
legalizado pela prefeitura e teve itinerários definidos em 20 favelas cariocas (
O relevo íngreme, as ativi
encostas e becos estreitos favoreceram o uso da motocicleta como meio de transporte nas
favelas (Fonseca, 2006). As motocicletas vencem os
estreitas, comumente encontradas nas favelas cariocas
desenvolveu-se o serviço de moto
cariocas e em outras cidades do país, sendo regulamentado em algumas delas. A Rocinha foi
pioneira na implantação desse tipo de serviço e
anos 90 (Fonseca, 2006).
Como alternativa de transporte individual, as bicicletas são bastante utilizadas nas
favelas, quando estas estão localizadas em áreas de pouca declivida
Sanjay Camp, localizada em Delhi na Índia, mostram que 21% da população local utilizam a
27
(a) Porcentagem de viagens realizadas dentro das favelas e (b) Porcentagens de
viagens fora das favelas
Fonte: Adaptado de Koch, Lindau e Nassi, 2013
(2011), a rede de transporte de uma favela tem como base um
sistema troncal que se articula com nós espalhados pelo interior da comunidade
pontos estruturais que terão caráter de centralidade. Para que isso ocorra, é necessária uma
qualificação da estrutura viária existente. Vans, kombis (cabritinhos)
necessitam de vias com larguras mínimas para sua circulação, além de condições satisfatórias
para embarque e desembarque dos passageiros (Lindau et al, 2011). Assim, u
(cabritinhos) é capaz de penetrar nas ruas estreitas das favelas
Koch, Lindau, Nassi, 2013). Atualmente, o serviço de transporte
comunitário realizado pelas kombis, ou “cabritinhos” como são popularmente conhecidas, foi
legalizado pela prefeitura e teve itinerários definidos em 20 favelas cariocas (
O relevo íngreme, as atividades concentradas próximas ao asfalto, ocupação vertical das
encostas e becos estreitos favoreceram o uso da motocicleta como meio de transporte nas
s motocicletas vencem os greides mais elevados e atendem vias
te encontradas nas favelas cariocas (Lindau et al
se o serviço de moto-táxi, exercido principalmente por jovens, nas favelas
e em outras cidades do país, sendo regulamentado em algumas delas. A Rocinha foi
plantação desse tipo de serviço e que teria surgido na comunidade no meio dos
Como alternativa de transporte individual, as bicicletas são bastante utilizadas nas
favelas, quando estas estão localizadas em áreas de pouca declividade. Estudos realizados em
Sanjay Camp, localizada em Delhi na Índia, mostram que 21% da população local utilizam a
(a)
s dentro das favelas e (b) Porcentagens de
tem como base um
da comunidade e geram
pontos estruturais que terão caráter de centralidade. Para que isso ocorra, é necessária uma
(cabritinhos) e micro-ônibus
circulação, além de condições satisfatórias
Assim, um número
é capaz de penetrar nas ruas estreitas das favelas
o serviço de transporte
comunitário realizado pelas kombis, ou “cabritinhos” como são popularmente conhecidas, foi
legalizado pela prefeitura e teve itinerários definidos em 20 favelas cariocas (PCRJ, 2015).
dades concentradas próximas ao asfalto, ocupação vertical das
encostas e becos estreitos favoreceram o uso da motocicleta como meio de transporte nas
mais elevados e atendem vias
et al, 2011). Assim,
por jovens, nas favelas
e em outras cidades do país, sendo regulamentado em algumas delas. A Rocinha foi
teria surgido na comunidade no meio dos
Como alternativa de transporte individual, as bicicletas são bastante utilizadas nas
de. Estudos realizados em
Sanjay Camp, localizada em Delhi na Índia, mostram que 21% da população local utilizam a
(b)
28
bicicleta para se deslocar até o local de trabalho (Anand; Tiwari, 2006). A bicicleta, por ter
um baixo custo de aquisição, torna-se mais acessível até para usuários de camada social mais
carente. Ela pode ser utilizada tanto para o lazer quanto para o próprio deslocamento interno.
Porém, um dos maiores empecilhos está relacionado à questão da segurança, que envolve os
possíveis acidentes e também a possibilidade de furto da bicicleta. No entanto, um fator
desestimulante, principalmente nas favelas cariocas, é a topografia local, que acaba se
transformando em um local propício para as motocicletas.
Enfim, para diminuir a incidência do transporte coletivo informal e abranger uma
integração maior com a cidade formal e seus transportes, está havendo o investimento em
tecnologias alternativas de transporte público. Essas tecnologias, baseadas em propulsão a
cabo, começaram a ser implantadas como alternativa de transporte em áreas de baixa renda
com restrições geográficas. As mais conhecidas são os funiculares (planos inclinados) e as
gôndolas urbanas (teleféricos). Medellín (Metrocable de Medellín), Caracas (Metrocable de
San Agustín) e Rio de Janeiro (Teleférico do Alemão e Teleférico da Providência) são cidades
que utilizaram esse tipo de tecnologia para o transporte público em áreas carentes. Esses
sistemas de teleféricos estão integrados com outros meios de transporte de massa, como metrô
e trens urbanos. Porém, é visto que há uma baixa demanda de usuários, principalmente no
Teleférico do Alemão e no Metrocable de San Agustín.
Convém destacar que o estudo da mobilidade da população de baixa renda deve
considerar as particularidades locais, como relevo, a malha viária e tipologia dos edifícios.
Tais características fazem com que o transporte em favelas seja muito peculiar. No entanto,
são poucas as pesquisas acadêmicas sobre o tema. A seção a seguir apresenta uma revisão
bibliográfica sobre os sistemas de transporte urbano em favelas na literatura nacional e
internacional.
2.3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE SISTEMAS DE TRANSPORTE URBANO EM
COMUNIDADES DE BAIXA RENDA
Esta seção apresenta uma visão geral sobre o estágio atual da literatura nacional e
internacional sobre o tema do transporte urbano em comunidades carentes. Conforme
apontado por Koch, Lindau e Nassi (2013), este tema de pesquisa ainda é incipiente,
29
principalmente na literatura nacional, apresentando diversas oportunidades de estudo. Para
Salon e Gulyani (2010), embora existam publicações sobre o transporte urbano em países em
desenvolvimento, estas se concentram em temas como congestionamento de tráfego,
segurança rodoviária e qualidade do ar, sendo poucos os estudos voltados para os problemas
de transporte enfrentados pela população mais pobre. Kochi, Lindau e Nassi (2013) afirmam
que sua pesquisa é uma das primeiras a investigar uma série de questões relacionadas ao
transporte em comunidades carentes na América Latina.
Neste contexto, foi realizada uma pesquisa nas principais bases de dados bibliográficas
com intuito de identificar artigos indexados sobre o tema. O processo de coleta dos artigos
publicados foi realizado em três bases ISI Web of Knowledge, Scopus e ScienceDirect,
considerando-se os últimos 25 anos. Foram utilizadas as palavras-chave “Transport”,
“Transportation”, “Transportes”, “Slums” e “Favelas”, nas seguintes combinações:
(“Transport” E “Slums”) OU (“Transportation” E “Slums”) OU (“Transportes” E “Favelas”).
Entretanto, foram levantados apenas oito artigos sobre o tema, o que reforça que este ainda é
um tema de pesquisa incipiente. Destaca-se que esta busca limitou-se a artigos em periódicos
indexados nas principais bases de pesquisa referenciadas, não abrangendo dissertações, teses e
artigos não acadêmicos sobre o tema.
A relação entre pobreza e transporte é o foco principal dos artigos analisados. Ao abordar
o impacto que o crescimento urbano desordenado traz ao sistema de transporte, Patel e
Sharma (1998) mostram a problemática do transporte público em Mumbai, na Índia. O
sistema de transporte da cidade já foi considerado o melhor de todo o país. No entanto, devido
ao crescimento urbano desordenado, ocasionado por milhares de migrantes à procura de uma
melhor condição de vida, o sistema de transportes de Mumbai deixou de ser barato e eficiente,
sendo condenado ao colapso. Como a riqueza da cidade não é uniformemente distribuída, fato
comum a muitos países em desenvolvimento, comunidades carentes foram surgindo em áreas
governamentais, privadas e ao longo da ferrovia, principal sistema de transporte local (Patel;
Sharma, 1998). Atualmente, existem construções a apenas um metro de distância da linha
férrea. Assim, por questões de segurança, os trens precisam reduzir sua velocidade a 5 km/h
em trechos ocupados por favelas. Desta forma, Patel e Sharma (1998) discutem soluções
sobre a desapropriação da faixa de domínio de modo a possibilitar o aumento da velocidade
adotada na rede ferroviária local.
Power (2012) também aponta o crescimento desordenado das cidades e o uso excessivo
do carro no deslocamento pessoal como os principais fatores que levaram à deterioração do
30
transporte público e ao aumento da segregação social enfrentada pelos mais pobres. O estudo
de Power (2012) conecta desenvolvimento urbano com a exigência moderna de haver o
aumento da mobilidade. Com isto, houve um excesso de deslocamento de automóveis,
resultando em problemas ambientais e na redução de investimentos em sistemas de transporte
público. Assim, o aparecimento de bairros de baixa renda colaborou com a concentração de
pobreza e ligações mais difíceis de transportes (Power, 2012). Desta forma, a autora (2012)
ressalta a necessidade de se avaliar o uso de tecnologias de transporte alternativas, já
utilizadas em outros lugares do mundo, como forma de redução da desigualdade social e das
barreiras da mobilidade.
Transporte e gênero também servem de temática para alguns estudos focados no
preconceito sofrido por moradoras de favelas, observando a restrição à mobilidade imposta a
elas. Anand e Dwari (2006) constatam que as mulheres pobres não possuem mobilidade
dentro da cidade de Nova Deli devido a restrições em relação ao sexo. Assim, as mulheres
indianas, uma importante força de trabalho dentro das favelas de Deli, acabam tendo acesso
apenas a meios de transporte inferiores, de baixa qualidade, principalmente em deslocamentos
pendulares. Salon e Gulyani (2010) também constataram que a maioria das mulheres,
moradoras das favelas de Nairóbi, no Quênia, não pode pagar pelas opções de transporte
motorizado, de modo que acabam optando pelas caminhadas em seus deslocamentos
pendulares. Por sua vez, Venter, Vokolkova e Michalek (2007) discutem a restrição à
mobilidade imposta a moradoras de comunidades de baixa renda na África do Sul, mostrando
que a localidade tem uma forte influência na mobilidade entre os gêneros, principalmente em
favelas e em localidades rurais.
Salon e Gulyani (2010) ressaltam a importância dos modos não motorizados como
principal meio de deslocamento não só para as mulheres, mas para os moradores de
comunidades carentes de forma geral. Os autores (2010) destacam que há a oferta de
transportes por vans e pequenos ônibus (matatus) nas favelas de Nairóbi. Porém, os
moradores, em geral, não os utilizam porque não possuem meios de pagar por esse serviço: a
maioria ganha US$ 1,40 por dia e a passagem custa cerca de US$ 0,67 (Salon; Gulyani,
2010).
Salon e Aligula (2012) realizaram uma pesquisa sobre o padrão de viagens urbanas dos
moradores de Nairóbi, Quênia, cujos resultados indicam que grande parcela da população não
tem condição de pagar pelo transporte motorizado, de modo que acabam residindo em favelas,
em áreas próximas aos empregos, e se deslocando a pé. Aqueles que podem pagar pelo
31
transporte motorizado utilizam os informais, representados pelas vans e matatus, pequenos
ônibus que atendem a população local (Salon; Aligula, 2012).
Lucas (2011) também destaca a importância do transporte não motorizado para o
deslocamento da população de baixa renda da África do Sul. Segundo a autora (2011), a baixa
qualidade do transporte público ofertado tornou-se um empecilho para a mobilidade desta a
parcela da população. Cerca de 70% das famílias de baixa renda não tem acesso a estação de
trem e 40% não tem acesso ao serviço de ônibus (Lucas, 2011). A baixa oferta de meios de
transporte à população pobre local implica na redução na procura por emprego, na oferta de
serviços de saúde, perda de empregos e aumento do isolamento social (Lucas, 2011).
Guillen, Ishida e Okamoto (2013) analisam o uso de modos informais de transporte
público em países em desenvolvimento, em especial nas Filipinas, concluindo que habitantes
das favelas são os principais usuários deste tipo de transporte. Além disto, os resultados da
pesquisa indicam que o hábito e o costume são fatores determinantes na escolha modal.
Assim, além de ser necessário planejar a oferta de novas tecnologias de transporte em favelas,
é preciso entender a psicologia dos moradores destas comunidades carentes como passageiros,
de modo a estimular estes novos hábitos de viagem. Esta pode ser uma das razões que levou a
uma demanda inferior à esperada após a implantação do teleférico no Complexo do Alemão.
Assim, os planejadores de transporte precisam entender as necessidades de infraestrutura,
conexões multimodais e, sobretudo a qualidade de serviço prestado em um contexto de uma
comunidade carente de uma cidade emergente em um país em desenvolvimento (Guillen;
Ishida; Okamoto, 2013).
Observa-se que um limitado número de artigos publicados em periódicos indexados nas
bases ISI Web of Knowledge, Scopus e ScienceDirect sobre o transporte urbano em
comunidades carentes. Assim, devido à limitada quantidade de artigos publicados sobre esta
temática em periódicos indexados, foi necessário ampliar o limite da pesquisa para artigos
publicados em congressos, working papers e revistas não indexadas, sendo realizada uma
busca, com as mesmas palavras-chave, no Google Acadêmico para ampliar os resultados.
Foram obtidos dez artigos sobre a temática.
Assim como Anand e Dwari (2006), Venter, Vokolkova e Michalek (2007), Astrop
(1996) também aborda o preconceito sofrido por mulheres, observando a restrição à
mobilidade imposta a elas. Astrop (1996) enfatiza a restrição do acesso ao transporte publico
das moradoras de favelas em Pune, na Índia, ressaltando o uso do transporte não motorizado,
32
através da caminhada ou por bicicletas, como modo de deslocamento pendular destas
mulheres (Astrop, 1996).
Tal como Salon e Gulyani (2010), Lucas (2011) e Salon e Aligula (2012) buscaram em
suas pesquisas entender o acesso da população pobre ao transporte motorizado e a
importância do transporte não-motorizado para estas pessoas, Baker et al. (2005) analisam a
oferta de transporte para os moradores de favelas em Mumbai, na Índia, destacando a
importância do transporte não motorizado para os mais pobres (61% se desloca através de
caminhadas e 6% utilizam bicicletas). Também foi constatado que 15% da renda dos
moradores de comunidades carentes é destinada ao custo com o transporte, tornando-o caro e
prejudicando a mobilidade destes moradores (Baker et al., 2005).
Gulyani, Talukdar e Jack (2010), em estudo desenvolvido para o Banco Mundial,
compararam indicadores de desenvolvimento, infraestrutura e condições de vida em favelas
em três cidades africanas: Dakar, Joanesburgo e Nairóbi. A cidade de Joanesburgo é a única
que oferece transporte público para os moradores de favelas; nas outras cidades pesquisadas,
os moradores das favelas realizam seus deslocamentos a pé: 55% em Nairóbi e 46% em
Dakar. O baixo acesso ao transporte motorizado em Dakar e Nairóbi é reflexo da combinação
entre a baixa renda familiar e a restrição de oferta do serviço (Gulyani; Talukdar; Jack, 2010).
Como alternativas de melhoria na oferta de transporte para moradores de baixa renda e
ainda integrá-los a cidade formal, novas tecnologias foram utilizadas de maneira satisfatória
em alguns países, principalmente na América Latina. Blanco e Kobayashi (2009) destacam os
projetos realizados pela prefeitura de Medellín, na Colômbia, em áreas de assentamentos
urbanos informais precários para melhoria de vida da população. Segundo os autores (2009),
a introdução do Metrocable, sistema de gôndolas aéreas ligadas à rede de metrô, em uma das
áreas mais marginalizadas da Colômbia foi o pontapé inicial para a transformação física e
social do local.
Brand e Dávila (2011) afirmam que a instalação dos sistemas de teleféricos nos setores
mais carentes e violentos da cidade de Medellín foi influenciada pela hipótese de que a
melhoria de acesso e mobilidade dos moradores levaria a uma maior qualidade de vida. Tal
fato foi observado em maior escala na primeira linha implantada (Linha K), porém o sucesso
não foi repetido nas posteriores (Linha L e J), expondo que há necessidade de condições
mínimas de morfologia urbana e social e uma articulação cuidadosa com a rede de transporte
público de massa existente (Brand; Dávila, 2011).
33
No Brasil, Lindau et al. (2011) observam que as favelas possuem condições geográficas
desfavoráveis, muitas em regiões de aclive, dificultando a implantação de tecnologias
convencionais de transporte. Os autores (2011) destacam o uso de novas tecnologias de
transporte, baseadas em propulsão a cabo (CPT – Cable Propelled Transit; e ART – Aerial
Ropeway Transit), e a priorização do transporte não motorizado, como formas sustentáveis de
mobilidade nas favelas brasileiras, levando em conta custos de implantação, operação e
manutenção, assim como a qualificação dos becos e vielas para caminhadas e uso de bicicleta.
Aquino, Pereira e Pereira (2011) desenvolveram “um estudo sobre o perfil de viagem dos
moradores do Complexo do Alemão (Rio de Janeiro – RJ), baseadas em pesquisas de campo
efetuadas para o estudo de viabilidade de implantação de teleférico na região”. Por sua vez,
Gonçalves, Portugal e Nassi (2012) afirmam que, a partir do início do funcionamento do
Teleférico do Alemão, houve um aumento da taxa de embarque dos moradores nos trens ao
qual o sistema está integrado, o que contribui para a redução da exclusão social, pois
proporciona mais oportunidades de trabalho e integração com os outros moradores e com os
equipamentos urbanos da cidade. Gonçalves, Andrade e Portugal (2014) analisam a inclusão
social dos moradores de favelas, no Rio de Janeiro, através do transporte ferroviário. Segundo
os autores (2014), a implantação de sistema ferroviário como eixo estruturador da urbanização
local servirá de atenuante para o problema de exclusão social causado pela falta de acesso ao
transporte, aumentando as oportunidades para os moradores de favelas.
Koch, Lindau e Nassi (2013) analisaram os padrões de viagens realizadas nas
comunidades cariocas de Batam, Complexo da Penha e Babilônia/Chapéu Mangueira. Os
autores (2013) destacam a existência de uma lacuna a ser preenchida na literatura brasileira e
internacional sobre o transporte em áreas de baixa renda ou favelas.
De fato, observa-se que, entre os poucos artigos publicados sobre o transporte urbano em
favelas, dois tratam da relação entre pobreza e a restrição à mobilidade (Patel e Sharma, 1998;
Power, 2012); três dos artigos abordam a restrição à mobilidade sofrida por mulheres
moradoras de assentamentos urbanos informais precários em Nova Deli, Pune e em Durban
(Anand e Dwari, 2006; Astrop, 2006; Venter, Vokolkova e Michalek, 2007); cinco artigos
analisam o padrão de viagens urbanas dos moradores de favelas, destacando a importância de
meios não motorizados, como deslocamentos a pé e por bicicleta, para esta população que não
tem condições de pagar as tarifas cobradas pelo transporte público motorizado (Baker et al.,
2005; Gulyani, Talukdar e Jack, 2010; Salon e Gulyani, 2010; Lucas, 2011; Salon e Aligula,
2012;); um artigo analisa o uso de modos informais de transporte público em países em
34
desenvolvimento, mostrando que o hábito e o costume são fatores determinantes na escolha
modal por habitantes de assentamentos urbanos informais precários (Guillen; Ishida;
Okamoto, 2013); quatro artigos tratam do uso de novas tecnologias de transporte implantadas
em comunidades carentes e a melhoria do acesso dos moradores a cidade (Blanco e
Kobayashi, 2009; Aquino, Pereira e Pereira, 2011; Brand e Dávila, 2011; Lindau et al., 2011);
dois artigos abordam o uso dos sistema ferroviário como forma de reduzir a exclusão social
imposta aos moradores de favelas (Gonçalves, Portugal e Nassi, 2012; Gonçalves, Andrade e
Portugal, 2014); e um dos artigos analisa os padrões de viagens da população pobre residente
em três comunidades carentes no Rio de Janeiro (Koch, Lindau e Nassi, 2013).
Enfim, os estudos apresentados nesta seção retratam o cenário da literatura, nacional e
internacional, voltada para a temática do transporte urbano em favelas. O Apêndice 1 reúne o
material encontrado, em ordem cronológica, destacando o ano da publicação, o local de
estudo e o método de análise utilizado por cada autor para obter os resultados encontrados em
suas pesquisas.
Destaca-se que a temática sobre transporte para população de baixa renda, em especial
em favelas, ainda é pouco discutida e difundida na academia, comprovada pela pouca
quantidade de estudos sobre este tema. A maioria das pesquisas com esse foco está localizada
em cidades africanas e indianas. São poucos os estudos, publicados em periódicos indexados,
que incluem cidades da América Latina, mesmo que algumas já tenham implantado
programas de urbanização em favelas e até adotado tecnologias alternativas, como planos
inclinados, teleféricos e elevador urbano, para o transporte público nestas comunidades. Desta
forma, no capítulo a seguir, apresenta-se uma contextualização das principais tecnologias
alternativas de transporte público que podem ser usadas em regiões de aclive.
35
3. TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS PARA O TRANSPORTE PÚBLICO
A topografia acidentada (morros e encostas) é uma situação comum não só nas favelas
como também na cidade formal. Os estreitos e íngremes canais viários restringem a instalação
de modalidades convencionais de transporte coletivo e transporte de cargas em geral (Lindau
et al., 2011). Dentre estas possíveis alternativas, destacam-se tecnologias baseadas em
propulsão a cabo (do inglês Cable-Propelled Transit - CPT), sendo teleféricos e planos
inclinados os mais utilizados. Estas tecnologias, integradas aos meios transportes
convencionais, garantem uma maior mobilidade urbana a quem reside em áreas de difícil
acesso, melhorando a qualidade de vida. Porém, estes sistemas de transportes, por demandar
custos elevados de implantação, operação e manutenção, requerem um forte equacionamento
financeiro (Lindau et al., 2011).
Este capítulo aborda tecnologias alternativas de transporte público mais utilizadas.
Através de pesquisas sobre o tema, o resultado alcançado é um trabalho que traz não somente
conceitos técnicos, como também compara a aplicação destas tecnologias e ilustra, com
exemplos, situações em que cidades as utilizam como transporte coletivo.
3.1. TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS DE TRANSPORTE PÚBLICO
A topografia irregular de algumas cidades, assim como a configuração informal do
espaço comum em favelas, constituem fatores que dificultam ou impedem a implantação dos
meios de transporte convencionais. Desta forma, algumas cidades da América Latina, como
Medellín, Caracas e Rio de Janeiro, adotaram novas tecnologias baseadas no sistema de
propulsão a cabo. São denominados Cable Propeled Transit (CPT) e abrangem, entre outras
tecnologias, o Aerial Ropeway Transit (ART) e o Funicular (Lindau et al., 2011). Além das
tecnologias citadas, o uso da escada rolante em favelas está aos poucos se configurando como
um novo sistema de transporte. Outros meios de transporte como elevadores e até o
monotrilho também podem ser alternativas de transporte público.
36
3.1.1. SISTEMA CPT
O sistema CPT é uma tecnologia de transporte que move as pessoas em veículos
propulsionados por cabos. As duas configurações mais conhecidas são os com suporte
superior e os com suporte inferior (Creative Urban Project, 2013). Seus componentes básicos
são: suporte, motor, pegas, torres, estações e veículos (Creative Urban Project, 2011), sendo
descritos na TAB. 3.1:
TAB. 3. 1 Componentes do sistema CPT
Componente Descrição
Suporte
Descreve o caminho o caminho ao longo do qual um veículo se desloca, podendo ser fornecido por trilhos ou cabos. O suporte pode ser superior (gôndolas e bondes aéreos) ou inferior (funicular). • Suporte superior: gôndolas, teleféricos e bondes aéreos são suportados por cabos e o número de cabos varia de acordo com a tecnologia específica: MDG (Monocable Detachable
Gondola), composto por um cabo para propulsão e apoio; BDG (Bicable Detachable
Gondola), com dois cabos utilizados exclusivamente para apoio da cabine e propulsão; e o TDG/3S (Tricable Detachable Gondola), com três cabos, dois para apoio e um para propulsão. • Suporte inferior: funiculares e cable liners são exemplos de apoio por trilhos com impulsionamento por cabos.
Motor
Os veículos que compõem o sistema CPT não possuem motores, sua propulsão é fornecida por motores externos e sua movimentação é dada por auxilio decabos, podendo ou não serem fixados por pegas, como nos casos dos MDG, BD e TDG/3S. O sistema básico de propulsão é composto por duas grandes roldanas, também conhecidas como bullwhell, uma roda de acionamento, impulsionado por um motor, e uma roda de retorno, livre de fiação para suportar a outra extremidade do cabo. Rodas de reflexão também são encontradas e servem para desviar ou alterar a direção do cabo.
Pegas
São equipamentos que fazem a ligação do veículo ao cabo, podendo ser fixas ou removíveis. • Fixas: Faz ligação permanente do veículo ao cabo. Quando um veículo para ou retarda, todo sistema é afetado. Aerial Trams e Pulsed Gondolas ão exemplos que possuem pega fixa. Este tipo de tecnologia pode alcançar mais velocidade, porém exige espera longa e menor capacidade. • Removíveis: As pegas removíveis, como o nome diz, separam-se do cabo. Foi inventada em 1872 pelo austríaco Orbach. Esta tecnologia permite que a cabine retarde ou pare em uma estação sem afetar todo o sistema. Exemplos que utilizam pegas removíveis são os MDG, BDG e TDG/3S.
Torres
São estruturas que suportam os cabos entre os terminais. O tamanho das torres depende da tecnologia escolhida, capacidade do sistema e distâncias. Em sistemas como o MDG, que são mais leves, as torres são cilíndricas e pequenas, porém em sistemas TDG/3S, mais pesados, são maiores e treliçadas. Quanto maior a capacidade e distância, maiores serão as torres.
Estações Em sistemas ART existem dois terminais: um de movimentação e um de retorno. Se existe uma variação vertical, estes terminais são chamados de superior e inferior. Em teleféricos, uma estrutura pode ser utilizada para alterar seu alinhamento, denominada estação angular.
Veículo Conjunto estrutural e mecânico pelo qual os passageiros são transportados. Podem ser largas cabines, como no Aerial Tramway, ou pequenas e médias, como nas gôndolas. São descritos pela capacidade e completamente fechados
Fonte: Alshalalfah, Shalaby e Ohman, 2010; Creative Urban Project, 2011, adaptada
pela autora
37
3.2.1.1. SISTEMA ART
Dentre os tipos de transporte que compõe o sistema CPT, a tecnologia conhecida como
ART (Aerial Ropeway Transit) é composta por sistemas de transporte aéreo em que os
passageiros são transportados por uma cabine suspensa e a mesma é puxada por cabos. É
originário dos teleféricos utilizados nas estações de esqui para o transporte de esquiadores e
turistas (Alshalalfah; Shalaby; Ohman, 2010). Esta tecnología é subdivida em: Monocable
Detachable Gondola (MDG), Bicable Detachable Gondola (BDG), Tricable Detachable
Gondola (TDG/3S), Aerial Tram, Furnitel e Pulsed Gondola.Entretanto, nem todas essas
tecnologias ART são utilizadas com frequência no meio urbano, destcando-se o MDG, o
BDG, o TDG e o Aerial Tram. Abaixo, segue a descrição daquelas que são mais utilizadas
(TAB. 3.2):
TAB. 3. 2 Tipos de ART
Modelo Definição Informação
da Figura
Monocable
Detachable
Gondola (MDG)
Os MDG são o sistema ART mais comum de se encontrar, pois seu baixo custo é atrativo para implantação como transporte público em países em desenvolvimento. Foram instalados em cidades na Colômbia, Venezuela, Argélia, Inglaterra, Cingapura e Brasil. Possuem capacidade intermediária (e compatível com bondes urbanos). Dado ao seu único cabo, são propensos a paradas devido a ventos superiores a 70 km/h. Podem ser usados como linha principal de média capacidade ou alimentador para outras linhas de trânsito de ordem superior (por exemplo, metrô e trem).
FIG. 3.1a
Bicable
Detachable
Gondola (BDG)
São raramente utilizados. Originalmente tinham estabilidade para ventos superiores a 70 km/h. Podem chegar a velocidades mais altas que o MDG, mas sem o custo e a complexidade de um TDG/3S. Apesar dessas vantagens, seu benefício é mínimo comparado ao custo de implantação e a complexidade do segundo cabo. Também utilizam a tecnologia dos bondes reversíveis, permitindo um maior vão de cabo para superar condições de terrenos difíceis.
FIG. 3.1b
Tricable
Detachable
Gondola
(3S/TDG)
O termo 3S origina de frases alemãs drei Seile or drei Seil que traduzidas significam três cordas ou três cabos. Dois dos cabos são para apoio e o terceiro é para propulsão. Semelhante ao MDG e BDG, suas cabines ficam em loop contínuo. Os cabos extras, ao contrário dos sistemas anteriormente apresentados, permitem o aumento da estabilização ao vento e capacidade adicional (suportam mais peso).
FIG. 3.1c
Aerial Tram
É o tipo original de teleférico, possuindo dois veículos, duas estações e pegas não destacáveis. São limitados em sua capacidade, mas com velocidade alta podendo movimentar-se bem entre dois pontos de distância curta (duas cabines não são eficientes para distâncias longas). Os veículos estão ligados aos seus cabos de propulsão, com pegas não destacáveis e duas cabines opostas às estações. Esses bondes aéreos também são conhecidos como bondes reversíveis. Essa tecnologia originalmente foi desenvolvida para estações de esqui e ao longo dos anos foi adotada como modo de transporte em outros lugares, como em Portland, Nova York.
FIG. 3.1d
Fonte: Alshalalfah; Shalaby; Ohman, 2010, Creative Urban Project, 2011, adaptada
pela autora
38
FIG. 3. 1 (a) Metrocable de Medellín, (b) Singapura Cable Car, (c) Koblenz
Rheinseilbahn e (d) Roosevelt Island Tram
Fonte: Creative Urban Project, 2011
3.2.1.2. FUNICULAR
Conhecido como plano inclinado no Brasil, o funicular utiliza as tecnologias de um
elevador e de uma via férrea. Este sistema pode cobrir grandes extensões bastando dividir o
trajeto em distâncias adequadas ao sistema. O funicular clássico é composto por dois veículos
de passageiros, sem operadores, e permanentemente presos ao mesmo cabo (Grava, 2003).
Cada carro possui seu próprio trilho, mas não é incomum compartilharem o mesmo trilho
possuindo um pequeno trecho em pistas duplas para permitir ultrapassagem (FIG. 3.2a). A
capacidade do sistema é limitada ao tamanho do carro, podendo carregar de 12 a 100
passageiros, e o tempo que leva para completar o percurso (Grava, 2003).
Os funiculares são utilizados principalmente em áreas urbanas com inclinações curtas.
São vantajosos por ocuparem pouco espaço, são seguros, confortáveis, econômicos,
silenciosos, pouca manutenção, extremamente resistentes a intempéries naturais e
adaptabilidade ao terreno existente. A desvantagem é a baixa capacidade que possuem.
(Hoffmann, 2006).
(a) (b)
(c) (d)
39
Avanços tecnológicos permitem que funiculares se adaptem a condições topográficas
variáveis de terreno. O funicular híbrido (FIG. 3.2b) possibilita que chassis e cabines alinhem-
se separadamente um do outro, fazendo que cabines possam ficar paralelas na linha do
horizonte enquanto o chassi permanece alinhado ao trilho. Este tipo de funicular é capaz de se
deslocar por diferentes greides, percorrendo pequenas e grandes inclinações durante o mesmo
percurso sem oferecer inclinações excessivas aos passageiros (Lindau et al., 2011).
FIG. 3. 2 (a) Via dupla no trecho de ultrapassagem e (b) Funicular híbrido
Fonte: (a) http://www.flickr.com/ e (b) Creative Urban Project, 2011
3.2.2. ESCADAS ROLANTES
As escadas rolantes são amplamente utilizadas como transporte interno de pessoas de um
nível mais baixo para outro mais alto, estando sempre associada sua implantação a shoppings
e galerias comerciais. Recentemente passaram a serem usadas como solução de mobilidade
urbana para áreas com restrições geográficas.
Em 2011, a cidade Medellín foi a primeira a utilizar escadas rolantes como meio de
transporte público em favelas (FIG. 3.3). Elas foram instaladas na região de Las
Independencias, na parte alta da Comuna 13, atendendo a 12 mil pessoas que percorrem o
caminho em 6 minutos (Veja, 2012), substituindo os 350 degraus de concreto existentes
(Diário de Pernambuco, 2013).
O investimento para implantação, feito pela prefeitura de Medellín, foi equivalente a U$$
5 milhões e emprega jovens da comunidade na orientação sobre a utilização correta das
escadas. O horário de funcionamento é de segunda a sexta de 5 as 22hrs, e sábado e domingo
de 8 as 19hrs (Diário de Pernambuco, 2013).
(a) (b)
40
O Governo do Estado do Rio de Janeiro pretende implantar um projeto nos moldes do
colombiano nas favelas do Complexo da Penha e Tijuca, Mangueira e Rocinha, porém não há
data definida (Veja, 2012).
FIG. 3. 3 Escadas Rolantes na Comuna 13, Medellín
Fonte: http://www.skyscrapercity.com
3.2.3. ELEVADOR URBANO
É um sistema que pode ser considerado uma derivação do teleférico, pois tanto a tração
quanto a sustentação da cabine é fornecida por cabo. A diferença principal é que no elevador a
movimentação é no sentido vertical (Ferraz; Torres, 2004).
O uso de elevadores como transporte público começou a partir do século XIX. No Brasil,
o primeiro elevador a ser construído com essa finalidade foi o Elevador Lacerda, localizado
na cidade de Salvador. Ele possui duas torres, quatro cabines que transportam 27 passageiros
cada. Além deste, a capital baiana chegou a ter outro elevador, o do Taboão, desativado nos
anos 50 (Andrade Junior, 2012).
Em 2010, na comunidade do Cantagalo, situada no Rio de Janeiro, foi implantado um
complexo composto por duas torres de elevadores panorâmicos e um mirante, integrado a
estação do metrô General Osório (FIG. 3.4). A ligação das torres a comunidade é feita através
de uma passarela e esta termina em uma região conhecida como Quebra-Braço (Cunha, 2011).
As duas torres, uma com 64 m e a outra com 31 m, possuem capacidade para transportar 100
pessoas por viagem (Odebrecht, 2010).
41
FIG. 3. 4 Complexo Rubem Braga, Rio de Janeiro
Fonte: http://www.ultimosegundo.ig.com.br
3.2.4. MONOTRILHO
É um sistema de transporte público em que as rodas do veículo se movimentam apoiadas
em um trilho de aço ou uma viga de concreto (Ferraz; Torres, 2004). Podem ter composições
de 4, 6 ou 8 carros (FIG. 3.5). A distância entre os trilhos de ida e volta depende da largura do
trem, porém é menor que a dos sistemas equivalentes (trens e metrô) (Freitas Junior; Araújo,
2012). Existem três tipos de monotrilho: apoiados pelo fundo, suspenso pelo teto e apoiados
lateralmente (Ferraz; Torres, 2004).
A dirigibilidade pode ser obtida por dois modos diferentes. O primeiro é através de rodas
de aço com dupla flange sobre o trilho; o segundo é a utilização de pequenas rodas
pneumáticas laterais que giram pressionadas a mureta lateral, este e o modo mais comum
(Ferraz; Torres, 2004).
A via em que o veículo se desloca é elevada, esbelta, causando menor impacto visual e
menor desapropriação de moradores no local onde será implantado. Por isso, liberam espaço
para os modais terrestres e em alguns casos transpassam barreiras físicas (Zanotelli; Guedes,
2007).
O monotrilho é uma boa opção para mobilidade urbana nos grandes centros, e comparado
ao metrô, possui um custo de implantação 50% menor e tempo de construção de cinco anos
(ANPTrilhos, 2012). Esse sistema pode alcançar a demanda horária de 50.000
pass/hora/sentido com a velocidade de 90 km/h, não interferindo no tráfego de veículos
42
(Freitas Junior; Araújo, 2012). O monotrilho pode se tornar opção de transporte público de
uma comunidade carente que apresente o relevo plano, desde que leve em conta as projeções
de demanda, podendo integrá-lo com os outros modos de transporte existentes.
FIG. 3. 5 Monotrilho Linha 15-Prata, São Paulo
Fonte: http://www.g1.com
3.3. APLICAÇÕES DAS TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS NO TRANSPORTE
PÚBLICO
Nesta seção, são apresentados exemplos em que essas tecnologias foram utilizadas como
transporte público.
3.3.1. SISTEMA ART
Como transporte público em área de favelas, o uso do sistema ART é ainda recente, data
do início do século XX com a implantação do Metrocable de Medellín na Colômbia, que
serivu de inspiração para a implantação deste sistema em Caracas (Metrocable de San
Agustín) e Rio de Janeiro (Teleférico do Alemão).
43
3.3.1.1. METROCABLE DE SAN AGUSTÍN – CARACAS, VENEZUELA
O Metrocable de San Agustín foi implantado em uma comunidade carente com o objetivo
de proporcionar integração com a rede de metrô da cidade de Caracas, na Venezuela. O
projeto teve início no ano de 2007, com um valor estimado de 54 milhões de dólares,
ultrapassado ao longo do desenvolvimento das obras, e teve sua inauguração ocorrida em 20
de janeiro de 2010. Está localizado no setor sul de San Agustín, considerado com menores
recursos para a população, permitindo a conexão com o metrô através da estação Parque
Central. Inicialmente, a tarifa foi gratuita, porém com o tempo passou a ser cobrada podendo
ser simples ou integrada ao metrô (Naranjo, 2012).
O Metrocable foi projetado para ter uma demanda diária de 15.000 passageiros e a horária
de 1.200 passageiros, pela extensão de 1,8km e 5 estações (Naranjo, 2012). Duas estações
estão no vale e se conectam diretamente ao sistema de transporte público de Caracas, e três
estações estão ao longo da montanha (FIG. 3.6a e 3.6b), em lugares que respondem a
demanda por acesso pela comunidade (Urban-Think Tank, 2011). As cabines tem capacidade
para 8 pessoas, 6 sentadas e 2 em pé, com velocidade de 5 m/s e completa o percurso total em
9 minutos (Naranjo, 2012).
Este sistema trouxe consigo o aumento da acessibilidade geral a rede de transporte
público, redução do tempo de viagem para conectar-se a cidade formal, acessibilidade a
pessoas com necessidades especiais e melhora na infraestrutura pontual (escadas, lixeiras,
escolas, espaços esportivos e empregos diretos para os moradores do setor) (Naranjo, 2012).
No ano de 2012, o sistema transportou 4.500 passageiros por dia, enquanto a demanda
esperada era de 11.000 passageiros por dia (Naranjo, 2012). O número de usuários ainda é
baixo para a capacidade total do Metrocable e alguns fatores devem ser considerados como
explicação: falta de conexão ao sistema para os habitantes da parte baixa do bairro, falta de
conexão para o pedestre entre as estações, impossibilidade de levar carga nas cabines (os
moradores criaram expectativas quanto a isso antes da implantação, principalmente para quem
trabalha no comércio) (Naranjo, 2012).
Como não houve a criação de uma linha turística no Metrocable de San Agustín, ao
contrário da Linha K do Metrocable de Medellín, faltaram atrativos turísticos e a segurança
fica restrita ao interior da estação. Moradores reclamam da falta de privacidade por parte dos
44
usuários do transporte, devido à proximidade dos terraços e varandas da rota das cabines
(Naranjo, 2012).
FIG. 3. 6 (a) e (b) Estações Metrocable de San Agustín
Fonte: Urban-Think Tank, 2011
3.3.1.2. METROCABLE DE MEDELLÍN – MEDELLÍN, COLÔMBIA
A primeira linha do Metrocable de Medellín, linha K, foi inaugurada em 2004 e conecta
as comunas nororientales, bairros conhecidos pela pobreza, violência e controle absoluto das
milícias ilegais e do narcotráfico, ao sistema de metrô da cidade (Dávila, 2012). É um projeto
do setor público, co-financiado pelo município e pela Metro de Medellín, empresa pública
que administra o metrô da cidade (Brand; Dávila, 2011).
Após o funcionamento da primeira linha do Metrocable, outras duas foram implantadas: a
segunda em 2008 (Linha J) e a terceira em 2010 (Linha L), esta é exclusivamente turística. As
linhas K e J atendem respectivamente os bairros de Santo Domingo e Vallejuelos, onde as
vias sinuosas e planejadas que sobem o morro apenas permitem a passagem de um veículo
por vez.
Este novo meio de transporte faz parte do sistema de metrô, composto por 2 linhas
elevadas e 3 linhas aéreas: Linha K, ligando as comunas 1 e 2 ao noroeste do município;
Linha J (FIG. 3.7a), que liga as comunas 7 e 13 a leste; e a Linha L (FIG. 3.7b), linha turística
que atende ao Parque Arvi (Brand; Dávila, 2012). A tarifa das duas primeiras linhas é
gratuita, pagando apenas a tarifa do metro (US$ 0,97), enquanto a da linha turística é de US$
1 (Brand; Dávila, 2011).
(a) (b)
45
O custo da Linha K foi de US$ 24 milhões e o da Linha J, de US$ 47 milhões. Estes
custos podem ser comparados com os dos sistemas de BRT e ferroviários (Brand; Dávila,
2011). A tabela abaixo (TAB 3.3) faz uma comparação de dados técnicos de cada linha.
TAB. 3. 3 Características Técnicas das linhas do Metrocable de Medellín
Linha K Linha J Linha L
Extensão (km) 2,1 2,8 4,5
Velocidade Comercial (m/s) 5 5 6
Estações 4 4 2
Número de cabines 93 119 27
Demanda horária (pass/h) 3000 3000 1200
Fonte: Brand; Dávila, 2012
Além da instalação do teleférico, houve um planejamento urbano que trouxe para a
comunidade construções de novas residências, espaços urbanos e equipamentos
complementares. Porém, menos de 10% dos moradores utilizam esses equipamentos e os
benefícios para economia local foram limitados e o estimulo a ele se restringiu ao entorno das
estações, pois não incentivou o mercado de moradias para além dessa área de influência
(Brand; Dávila, 2011).
FIG. 3. 7 (a) Linha J e (b) Linha L
Fonte: http://gondolaproject.com/
Este modelo inspirou a implantação do Teleférico do Alemão, situado no Rio de Janeiro,
em 2011. Tal como o Metrocable de Medellín, o exemplo brasileiro está integrado a um
transporte de massa, neste caso os trens da SuperVia. O Teleférico do Alemão será detalhado
no capítulo 5 deste estudo.
(a) (b)
46
3.3.2. FUNICULAR
O funicular, ou plano inclinado, tem sido utilizado como alternativa de transporte para
moradores de algumas favelas cariocas, tal como apresentado nesta seção.
3.3.2.1. PLANO INCLINADO DO DONA MARTA – RIO DE JANEIRO, BRASIL
O Plano Inclinado do Morro Dona Marta, localizado no bairro de Botafogo, foi
implantado através do programa Favela-Bairro. A comunidade, cujo nome é Santa Marta,
ocupa uma colina íngreme e, antes do plano inclinado, o deslocamento dos moradores era
feito por escada, dificultando o transporte de mercadorias e causando desconforto aos
moradores (Ferrolatino, 2009).
Este plano inclinado é dividido em dois trechos: inferior e superior. Em setembro de 2006
foi inaugurada a parte superior com duas estações (estações 4 e 5). A linha possui um veículo
com capacidade de 20 passageiros (FIG. 3.8a). O acionamento do motor é feito na estação 5
(Ferrolatino, 2009).
O trecho inferior, após sucessivos adiamentos, entrou em operação nos primeiros meses
de 2008. É separado do outro segmento, devido ao fato de estar em uma inclinação mais
baixa. Assim como o trecho mais antigo, também possui um único veículo, com capacidade
de 25 passageiros, e o acionamento elétrico é na parte superior (estação 3). Possui três paradas
(estações 1, 2 e 3) e a transferência para a parte superior é feita na terceira estação, conforme
FIG. 3.8b (Ferrolatino, 2009). Não há cobrança de tarifas em nenhum dos trechos. O custo
total da implantação do sistema ficou em R$ 22 milhões (GERJ, 2008).
47
FIG. 3. 8 (a) Veículo do plano inclinado e (b) Estação 3, local de transferência para o
trecho superior
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/
3.3.2.2. PLANO INCLINADO DO PAVÃO-PAVÃOZINHO – RIO DE JANEIRO, BRASIL
O Plano Inclinado Pavão-Pavãozinho foi inaugurado em 1985 e passou por obras de
modernização no ano de 2011, tendo o custo de R$ 692,4 mil (Romar, 2011). Atende as
comunidades do Pavão-Pavãzozinho e Cantagalo que fazem parte de um complexo situado no
Morro do Cantagalo e faz divisa entre os bairros de Ipanema e Copacabana, na zona sul do
Rio de Janeiro.
O sistema é composto por cinco estações, o veículo, semi-panoramico (FIG. 3.16a e
3.16b), é capaz de carregar até 18 passageiros (Ferrolatino, 2009). São dois pares de trilhos
com bitolas diferentes: o mais largo é por onde circula o carro e o mais estreito é por onde
passa o contrapeso, conforme FIG. 3.9a e 3.9b. No carro há um compartimento especial para
cargas para até 400 kg. Cada estação possui contêineres instalados pela Comlurb para receber
o lixo descartado pelos moradores. O lixo é recolhido pelos garis diariamente, transportado no
compartimento de cargas do veículo até a caixa compactadora que fica na parte baixa da
comunidade (JB, 2011). Assim como o Plano Inclinado do Morro Dona Marta, não há
cobrança de tarifa para quem utiliza o transporte.
(a) (b)
48
FIG. 3. 9 (a) Veículo e (b) Estação
Fonte: (a) http://g1.globo.com e (b) http://www.skyscrapercity.com
3.3.3. ESCADAS ROLANTES
As escadas rolantes recentemente passaram a serem usadas como solução de mobilidade
urbana para áreas com restrições geográficas. Medellín foi a primeira cidade a adotar tal
tecnologia para transportar os moradores de uma favela local.
3.3.3.1. ESCADAS ROLANTES DA COMUNA 13 – MEDELLÍN, COLÔMBIA
Com a proposta de melhoria na acessibilidade local e integração com a cidade, as escadas
rolantes implantadas, em 2011, na Comuna 13 trouxeram mais qualidade de vida aos
moradores que antes subiam 384 m a pé (FIG. 3.10a).
A tecnologia das escadas foi importada do Japão (FIG. 3.10b). O custo total da obra, que
inclui reformas urbanísticas, foi de US$ 23 milhões. Deste montante, US$ 8 milhões foram
para a compra das escadas (Veja, 2012).
O horário de funcionamento do equipamento é o mesmo do metrô local: de 5 as 22 hrs,
atendendo 12 mil pessoas por dia (Veja, 2012). Nos fins de semana, o funcionamento é de 8
as 19hrs (Diário de Pernambuco, 2013). São seis lances de escadas, percorrendo todo o trajeto
em 5 min (Veja, 2012). O corpo de funcionários é composto por jovens que moram na
comunidade.
(a) (b)
49
FIG. 3. 10 (a) Comuna 13 e (b) escadas rolantes
Fonte: (a) http://portal.aprendiz.uol.com.br e (b) http://www.edu.gov.co
3.3.4. ELEVADORES URBANOS
O exemplo mais famoso de utilização de elevadores para o transporte público em regiões
de aclive, no Brasil, é o Elevador Lacerda em Salvador. No Rio de Janeiro, esta tecnologia foi
utilizada para melhorar o acesso de uma favela na zona sul da cidade.
3.3.4.1. COMPLEXO RUBEM BRAGA – RIO DE JANEIRO, BRASIL
Em 2010, na comunidade do Cantagalo, foi instalado um complexo composto por duas
torres de elevadores panorâmicos e um mirante, integrado ao metro através da estação
General Osório. Situado no bairro de Ipanema, o complexo, denominado Complexo Rubem
Praga, interliga-se a comunidade através de uma passarela (FIG. 3. 11) (Cunha, 2011)
Este complexo é composto por um túnel de 260 m, escavado na rocha que faz a ligação
entra a estação de metrô e as duas torres de elevadores (de 64 e 31 metros de altura) que
transportam 100 passageiros por viagem. No topo da torre mais alta está localizado o Mirante
da Paz (Odebrecht, 2010).
(a) (b)
50
FIG. 3. 11 Complexo Rubem Braga
Fonte: http://www.archdaily.com.br/
3.3.5. MONOTRILHO
No Brasil, as cidades do Rio de Janeiro (atendia os usuários de um shopping na Barra da
Tijuca) e Poços de Caldas (fazia serviço turístico) possuíram monotrilhos, porém não
integrados a um transporte de massa, como o metrô, como ocorrerá na cidade de São Paulo.
3.3.5.1. MONOTRILHO LINHA 15-PRATA – SÃO PAULO, BRASIL
Por ter grande capacidade de transporte, porém inferior quando comparado a outros
modais de grande porte que utilizam trilhos (metrô e trens), e ser uma opção mais barata que o
metrô, o monotrilho foi o modal escolhido pelo governo de São Paulo. O projeto da linha,
conhecida como Linha 15-Prata, sairá da estação Vila Prudente, da Linha 2-Verde do metrô,
até o bairro Cidade Tiradentes, região carente de transporte público (ANPTrilhos, 2012).
Com o investimento de R$ 4,9 milhões, será o de maior capacidade do mundo: o modelo
Innovia Monorail 300 (FIG. 3.12), fornecido pela Bombardier, foi projetado para atender a
demanda de 48.000 passageiros por hora e por sentido (ANPTrilhos, 2012). O diferencial
deste modelo é a tecnologia UTO (Unatteended Train Operation), que permite que o
monotrilho seja guiado sem condutor (ANPTrilhos, 2012).
A extensão total do trecho é 24,5 km, com 17 estações e 2 pátios de manobra. Esse trecho,
antes percorrido em 2 horas, com o monotrilho reduzirá a 50 min
80 km/h. (ANPTrilhos, 2012).
foi entregue no ano de 2014, sendo a previsão de funcionamento completo para o ano de
2016.
FIG. 3. 12
Fonte: http://www.bombardier.com
3.4. COMPARATIVO TÉCNICO ENTRE AS TECNOLOGIAS
Os sistemas CPT são geralmente indicados para áreas urbanas que apresentam restrições
geográficas para a implantação
em que a área é praticamente plana, o sistema de um único trilho (monotrilho) é mais
indicado. Porém, é fundamental para os planejadores urbanos conhecer as principais
características e diferenças entre as gôndolas urbanas (teleféricos), os funiculares (planos
inclinados), os monotrilhos, os elevadores urbanos e as escadas rolantes. A TAB. 3.
tecnicamente as tecnologias ART (
Urbano e Escada Rolante.
51
o trecho é 24,5 km, com 17 estações e 2 pátios de manobra. Esse trecho,
antes percorrido em 2 horas, com o monotrilho reduzirá a 50 minutos, graças a velocidade de
80 km/h. (ANPTrilhos, 2012). As obras de implantação estão divididas em fases e a primeira
entregue no ano de 2014, sendo a previsão de funcionamento completo para o ano de
12 Monotrilho Modelo Innovia Monorail 300
Fonte: http://www.bombardier.com
COMPARATIVO TÉCNICO ENTRE AS TECNOLOGIAS
Os sistemas CPT são geralmente indicados para áreas urbanas que apresentam restrições
geográficas para a implantação de um sistema de transporte convencional. Em outros casos,
em que a área é praticamente plana, o sistema de um único trilho (monotrilho) é mais
Porém, é fundamental para os planejadores urbanos conhecer as principais
entre as gôndolas urbanas (teleféricos), os funiculares (planos
inclinados), os monotrilhos, os elevadores urbanos e as escadas rolantes. A TAB. 3.
tecnicamente as tecnologias ART (Aerial Ropeways Transit), Funicular, Monotrilho, Elevador
o trecho é 24,5 km, com 17 estações e 2 pátios de manobra. Esse trecho,
, graças a velocidade de
As obras de implantação estão divididas em fases e a primeira
entregue no ano de 2014, sendo a previsão de funcionamento completo para o ano de
300
Os sistemas CPT são geralmente indicados para áreas urbanas que apresentam restrições
de um sistema de transporte convencional. Em outros casos,
em que a área é praticamente plana, o sistema de um único trilho (monotrilho) é mais
Porém, é fundamental para os planejadores urbanos conhecer as principais
entre as gôndolas urbanas (teleféricos), os funiculares (planos
inclinados), os monotrilhos, os elevadores urbanos e as escadas rolantes. A TAB. 3.4 compara
), Funicular, Monotrilho, Elevador
52
TAB. 3. 4 Comparações Técnicas entre as Tecnologias ART, Funicular, Monotrilho, Elevador Urbano e Escadas Rolantes
ART Funicular Monotrilho
Elevador
Urbano
Escadas
Rolantes MDG BDG TDG/3S Aerial Tram
Greide até 45º até 45º até 45º até 45º até 60º 6º Não se aplica 30º Distância entre torres (km)
0,35 0,70 3 até 1 Não se aplica Não se aplica Não se aplica Não se aplica
Distância total/Altura máxima (km)
6 6 6 2 1,5 Varia de
acordo com o projeto
0,50** até 0,013
Nº de estações/Paradas
Múltiplas estações Múltiplas estações Múltiplas estações 3 Múltiplas estações
Múltiplas estações
até 32 2
Cabines/Carros
Mais de 100 (depende do tamanho da corda e do
headway)
Mais de 100 (depende do tamanho da corda e do
headway)
Mais de 100 (depende do tamanho
da corda e do
headway)
2 2 4, 6 ou 8 Varia de
acordo com o projeto
Não se aplica
Capacidade da cabine/Carro (pass.)
10 16 35 100 a 200 12 a 100 100 a 500 30 Não se aplica
Capacidade horária (pass/h)
4500 5000 5000 2000 600 10000 a 50000 até 100 Varia de
acordo com o projeto
Velocidade (km/h)
22 25 29 43 15 80 a 90 até 36 3
Custo de implantação (US$/km)
5 a 10 milhões 15 a 25 milhões 10 a 24 milhões 10 a 30 milhões 37 milhões 40 a 70 milhões
- 5 a 10 milhões
Restrição operacional
A distância não pode se estender acima de 6 km, caso isso ocorra, é necessária a instalação de outro trecho . As torres não podem mudar a direção do cabo em mais de 2º e ao todo, não mais que 15º. Caso seja necessário uma
linha ficar com uma direção maior que 15º, deve-se colocar estações angulares. Propensos a paradas devido a ventos superiores a 100 km/h. A distância não pode se estender acima de 6km, caso isso ocorra, é
necessária a instalação de outro trecho . As torres não podem mudar a direção do cabo em mais de 2º e ao todo, não mais que 15º. Caso seja necessário uma
linha ficar com uma direção maior que 15º, deve-se colocar estações angulares. O MDG é propenso a paradas devido a ventos superiores a 70 km/h, enquanto o BDG e TDG são propensos a paradas devido a ventos
superiores a 100 km/h.
As cabines não podem, em movimento,
serseparadas do cabo. São limitados em sua capacidade, podendo se
mover com alta velocidade em
distâncias curtas (duas cabines não são
eficientes para longas distâncias).
Este sistema pode cobrir extensões
maiores desde que o trajeto seja dividido em distâncias apropriadas. Possui baixa capacidade.
Não se aplica
A altura máxima é o
fator e restrição e varia com o modelo
escolhido. Caso precise ultrapassá-la, outra torre deve ser construída
A distância não pode exceder 0,013 km.
Caso exceda, outro trecho deve ser criado.
52
53
ART Funicular Monotrilho
Elevador
Urbano
Escadas
Rolantes MDG BDG TDG/3S Aerial Tram
Principal aplicação
Linha principal de média capacidade ou
alimentador para outras linhas de trânsito de
ordem superior, como, por exemplo, metrô e
trem.
Raramente aplicado, pois seu benefício é mínimo comparado ao custo de
implantação e a complexidade do segundo
cabo.
São ideais para cidades, por causa da
alta velocidade.
São mais utilizados para atividades turísticas.
São utilizados em áreas
urbanas com inclinações curtas.
Pode ser um dos principais de meios de transporte local,
integrado aos modais
existentes
Deslocamento vertical em edifícios,
apesar de seu uso voltado
para o transporte urbanos, em algumas
cidades, ter iniciado ainda no século XIX.
Comumente utilizada em centros
comerciais e edificios, para deslocamento
de um pavimento ao
outro, atualmente
tornou-se uma nova
alternativa de transporte para
regiões geográficas
com restrições.
Principais vantagens
Baixo custo de implantação é atrativo para ser implantado
como transporte público em países em
desenvolvimento.
Vãos de cordas maiores entre torres se
comparados ao MDG.
Possuem alta velocidade, alta capacidade e
dimensões reduzidas para a implantação quando comparados ao MDG e BDG.
É melhor para trechos com pequenas
mudanças de elevação.
São vantajosos por ocuparem
pouco espaço, são seguros, confortáveis, econômicos, silenciosos,
pouca manutenção, extremamente resistentes a intempéries naturais e
adaptabilidade ao terreno existente.
Causa menor impacto visual
e menor desapropriação de moradores no local onde
será implantado
Permitem transporte de bagagens, compras e cargas.
Menor área de implantação e menor número de moradias
desapropriadas.
* Varia com o modelo.
Fonte: Alshalalfah, Shalaby e Othman, 2010; Creative Urban Project, 2013; Freitas Junior e Araújo, 2012; GERJ, 2008; Hoffmann,
2006; Leitner Ropeways, 2012; Otis, 2014; Schindler, 2014
53
Enfim, o uso dos sistemas CPT para o transporte público tem atraído o olhar dos
governantes para um planejamento de transportes voltado ao atendimento da mobilidade
urbana de quem reside em área de aclive e de baixa renda. Isto pode ser comprovado com a
implantação dos teleféricos nas favelas da Colômbia, Venezuela e Brasil. Outras tecnologias,
como a escada rolante, os elevadores urbanos e o monotrilho, também estão tornando-se
opções de baixo impacto no tecido urbano, seja para regiões com restrições geográficas ou
não. Quando integrados com outros meios de transporte convencionais, estes sistemas
garantem acesso à cidade formal e inclusão social àqueles que utilizam, no caso de serem
aplicados em áreas de favelas, proporcionando também uma redução de tempo do
deslocamento desse usuário do seu ponto de origem ao seu ponto de destino.
Tal qual o sistema de transporte convencional, as tecnologias apresentadas neste capítulo
são importantes como integrantes da matriz de transportes e requer manutenção constante e
investimentos em melhorias e modernização, pois quando desativadas causam transtornos
prejudicando a mobilidade alcançada.
54
55
4. MEDIDAS DE ACESSIBILLIDADE DOS ESPAÇOS URBANOS EM FAVELA
O presente capítulo apresenta diversas formas de avaliação do espaço público do
pedestre. A abordagem é focada em pesquisas que apresentam métodos qualitativos para
avaliar calçadas e travessias de pedestres, mencionando a importância da acessibilidade e
mobilidade através da definição dos conceitos destes termos.
4.1. CONCEITOS DE MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE
Muitas vezes confundida com acessibilidade, a mobilidade pode ser interpretada como a
capacidade dos indivíduos se moverem de um lugar para o outro e está relacionada aos
deslocamentos diários da população no espaço urbano, incluindo a possibilidade ou facilidade
de que ocorram (Sales Filho, 1997 apud Cardoso, 2008). Segundo Raia Junior (2000), este
conceito envolve dois componentes: desempenho do sistema de transporte e características do
indivíduo. O primeiro está relacionado à efetividade do transporte em conectar localidades
diferentes; o segundo é associado a como um indivíduo é capaz de fazer uso deste sistema de
transporte.
A mobilidade é o elemento que baliza o desenvolvimento urbano. Ao se proporcionar
uma adequada mobilidade para todas as classes sociais, se constitui uma ação no processo de
desenvolvimento econômico e social das cidades (Ferraz; Torres, 2004). Seu conceito mais
usual está associado a locomoção, viagem e alcance das atividades, cujo o foco fundamenta o
planejamento de transporte urbano e suas políticas de decisão (Lemos, 2004). Também pode
estar relacionado ao local onde o deslocamento pode acontecer e depende do nível de
adequação entre as características da pessoa ou objeto que se deseja transportar com a
capacidade do sistema de transporte e sua infraestrutura (IPEA, 2011).
Segundo Raia Junior, Silva e Brondino (1997) e Lima (1998), o conceito de acessibilidade
é definido como uma medida de esforço para se transpor uma separação espacial,
caracterizada por oportunidades individuais ou em grupo para que se exerçam as atividades
tendo o transporte como parte integrante, tornando possível o acesso das pessoas aos locais de
56
estudo, emprego, lazer, equipamentos públicos, e esta em função do uso do solo e dos
transportes (Raia Junior; Silva; Brondino, 1997; Lima, 1998). Serve de indicador para avaliar
a facilidade de acesso da população a empregos e aos equipamentos sociais da cidade
(Sanches, 1996 apud Lima, 1998).
Quando relacionada ao transporte coletivo, a acessibilidade corresponde a distância que os
usuários necessitam caminhar para utilizar o transporte na realização de uma viagem e
compreende a distância da origem até o local de embarque e deste até o destino final (Ferraz,
1999 apud Raia Junior, 2000).
A lógica da acessibilidade está associada à busca da capacidade de atingir destinos
desejados do que pelo movimento em si, onde os destinos mais próximos possuem
acessibilidade maior, mesmo se a velocidade do deslocamento é menor (Levine, 1998).
Existe uma relação entre os conceitos de mobilidade, necessidade e acessibilidade
defendidos por Souza (1990 apud Lemos, 2011). A interseção entre necessidade (ou
mobilidade desejada) e a acessibilidade resulta na mobilidade efetiva; a mobilidade desejada
menos a mobilidade efetiva tem como resultado a mobilidade reprimida; e a acessibilidade
menos a mobilidade efetiva indica a mobilidade disponível não utilizada (Souza, 1990 apud
Lemos, 2011).
Assim sendo, Litman (2014) considera que a mobilidade privilegia a movimentação de
bens e pessoas; a acessibilidade enfatiza a capacidade do sistema de transporte para obtenção
de serviços e atividades. São consideradas modalidades de deslocamento para a mobilidade
somente os meios de locomoção motorizados (automóvel, caminhão e transporte coletivo) e
para a acessibilidade, acrescenta às modalidades anteriores os modais de transportes não
motorizados (caminhadas e bicicletas) (Litman, 2014). Estes são os principais modos de
transportes nas comunidades carentes, objeto de estudo desta dissertação.
4.2. MEDIDAS DE AVALIAÇÃO DO ESPAÇO DO PEDESTRE
Todo pedestre tem o direito de circular em via pública sem correr o risco de
atropelamento, sem ter sua integridade física e mental ameaçada, sem sofrer com a poluição
ambiental e, principalmente, sem reduzir sua mobilidade e acessibilidade (Monteiro, 2011).
No entanto, ao caminhar, o indivíduo está exposto ao meio que circunda, interagindo com os
57
veículos e com o ambiente construído por onde passa (Aguiar, 2010). Desta forma, o espaço
destinado à circulação de pedestres deve ser planejado, considerando o seu entorno, com o
intuito de proporcionar ao pedestre um deslocamento com segurança e sem obstáculos.
Porém, a realidade nem sempre é essa. As vias públicas, em sua maioria, estão construídas de
forma errada, com calçadas estreitas e com piso inadequado, esburacadas, cheias de
obstáculos e degraus, entre outras coisas que dificultam o deslocamento das pessoas (ANTP,
2006). Esta situação é ainda mais alarmante em áreas de favelas.
Esta dissertação se propõe a analisar o acesso às tecnologias alternativas de transporte
público em favelas. Neste caso, os principais fatores que interferem no acesso a um sistema
de transporte através da caminhada são: a distância percorrida para iniciar/finalizar a viagem
pelo transporte público e a comodidade experimentada no percurso percebida pelas condições
das calçadas, declividade do percurso, facilidade para cruzar as ruas no trajeto, existência de
iluminação pública, segurança, etc (Ferraz; Torres, 2004).
Para identificar quais fatores possam interferir na acessibilidade às estações do Teleférico
do Alemão, realizou-se uma pesquisa entre artigos acadêmicos e normas técnicas, tendo como
resultado o levantamento de vinte e dois métodos para avaliação física e qualitativa do espaço
do pedestre. Entre os métodos levantados, apenas um avalia fisicamente o espaço do pedestre,
os outros avaliam qualitativamente este espaço.
Sendo o único método, dentre os levantados, a avaliar o espaço físico, a norma técnica
NBR 9050 (ABNT, 2004) determina, através de parâmetros técnicos, critérios a serem
observados em projetos de construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliários,
espaços e equipamentos urbanos para que sejam acessíveis a todos. A NBR 9050 recomenda
largura mínima de calçadas, o tipo de piso, largura de rampas de acesso e o tratamento de
desníveis e degraus (ABNT, 2004).
Dentre os métodos que avaliam o qualitativamente o espaço do pedestre, Fruin (1971) foi
o primeiro pesquisador a estudar o tema. Seu estudo baseava-se no nível de serviço do
automóvel para caracterizá-lo nas calçadas. O autor, através de fotografias tiradas em
pequenos intervalos de tempo, estabeleceu relações de volume, velocidade e conveniência
humana para diferentes concentrações de pedestres, definindo níveis de serviço que variavam
de A (melhor) e F (pior) para qualificar o espaço de uso do pedestre (Fruin, 1971 apud
Monteiro, 2011).
Mori e Tsukaguchi (1987) propuseram dois métodos para avaliação da qualidade das
calçadas. Uma das metodologias baseia-se no comportamento dos pedestres e a outra na
58
opinião dos mesmos. No primeiro método os autores utilizaram os índices de densidade de
pedestres e a largura das calçadas para estimar o nível de serviço (NS). O segundo método é
baseado nas opiniões dos pedestres, por meio de suas percepções sobre as características
físicas das calçadas, como largura total da calçada, largura efetiva da calçada (faixa livre),
tipo da calçada, taxa de obstáculos (divisão da área de obstáculos pela largura da calçada),
taxa de áreas verdes (porcentagem da área verde nas calçadas), fluxo de tráfego, fluxo de
pedestres e número de veículos estacionados (Mori; Tsukaguchi, 1987).
O estudo de Khisty (1994) analisa o tráfego juntamente com o comportamento do
pedestre para avaliar as calçadas, utilizando medidas baseadas em Mori e Tsukaguchi (1987),
que se fundamentam na opinião do usuário. Este método é resumido em seis etapas: escolher
medidas de desempenho para poder aplicá-las no método de comparação por pares,
determinar o tamanho da amostra, examinar e listar as medidas de desempenho por prioridade
e peso, adotar escalas para indicar o nível de satisfação do usuário e escolher as rotas em que
serão realizadas as pesquisas com usuários regulares, para posterior avaliação e determinação
de níveis de serviço (Khisty, 1994). Khisty (1994) hierarquizou estas medidas de acordo com
os dados obtidos na pesquisa de campo com o uso do método de comparação por pares. O
resultado final foi um quadro de melhorias necessárias e os locais mais necessitados.
Sarkar (1995) realizou uma análise dos ambientes de pedestres com auxílio de textos e
fotografias de cidades européias e utilizando fatores baseados no método de Fruin (1971),
com o intuito de transformar as calçadas e interseções urbanas em locais seguros para
usuários vulneráveis como idosos, crianças e pessoas com dificuldade de locomoção (Sarkar,
1995).
A metodologia de Dixon (1996) avalia os espaços de pedestres nos corredores urbanos
para incentivar o uso dos modais de transporte não motorizados. A autora avalia os níveis de
serviço, que variam de A a F, considerando fatores como volume, capacidade, instalações
básicas, conflitos, amenidades, demanda de transporte, nível de serviço de veículos
automotores e conexão com outros modos de transporte (Dixon, 1996).
O estudo de Ferreira e Sanches (2001) faz a avaliação das calçadas de acordo com as
características ambientais que são importantes para a determinação da percepção do espaço
pelo pedestre, obtendo assim o nível de serviço. Estas características são incorporadas aos
Indicadores de Qualidade das Calçadas (IQC) mais relevantes, considerando fatores como
atratividade visual, conforto, continuidade, segurança e seguridade. Ferreira e Sanches (2001)
59
dividiram o método em três estágios: avaliação técnica dos espaços para pedestres, análise dos
atributos de acordo com a percepção do usuário e cálculo do IQC.
Gallin (2001) realizou um estudo que teve como base atributos relacionados aos níveis de
serviço em locais destinados a pedestres, sendo alocados em três categorias: características
físicas do local, características ambientais do local e características pessoais do pedestres. O
autor (2001) desenvolveu um modelo que permitiu tanto a criação de uma base sólida para
medir continuamente o nível de serviço para os pedestres quanto a indicação de fatores que
colaboram para que este seja considerado alto ou baixo. Foi realizada pesquisa com pessoas
que fazem seus deslocamentos diários a pé para a definição dos fatores que afetam o nível de
serviço. Segundo Gallin (2001), há duas maneiras para medir os fatores que interferem no
nível de serviço. A primeira é a realização de pesquisas que avaliam o volume de pedestres, a
continuidade da rota e a largura do caminho através de dados disponíveis e mapas urbanos. A
segunda é a realização de pesquisas de campo com o objetivo de coletar informações que não
foram obtidas na primeira tentativa, além da conferência dos dados colhidos anteriormente.
Rastogi e Krishna Rao (2002) realizaram uma pesquisa na cidade de Mumbai, Índia, para
mapear os padrões de acesso ao transporte coletivo e estabelecer uma política de escolha
modal referentes a esses acessos, definindo as características socioambientais de
acessibilidade ao transporte coletivo. A pesquisa de Rastogi e Krishina Rao (2002) concluiu
que os usuários não consideram os trechos a pé e os a bordo como componentes distintas, o
que coloca em debate a questão da qualidade do acesso como elemento importante da escolha
modal.
A pesquisa de Martincigh e Urbani (2004) observou a relação entre mobilidade do
pedestre e o transporte público, tendo como princípio a importância da qualidade dos acessos
como fator para a melhoria da oferta dos modais de transporte. O principal argumento do
estudo parte da concepção de que a mobilidade urbana está baseada na caminhada e no
transporte público. Martincigh e Urbani (2004) afirmam que há uma relação direta entre
pedestre e distribuição modal do transporte público. Quanto maior o uso do transporte
público, maior a participação do pedestre, indicando que ambos completam um ao outro.
O projeto apresentado por Ackerson (2005) baseia-se em métodos anteriormente
estabelecidos para avaliar a caminhabilidade em macro escala, utilizando-se de análises de
comportamento do transporte, do design da rua e densidade do uso do solo. Ackerson (2005)
adota um instrumento de avaliação do ambiente do pedestre e uma pesquisa domiciliar para
fornecerem ao trabalho informações em micro e macro escala sobre a caminhabilidade local e
60
a segurança do pedestre. A pesquisa possui três objetivos principais: avaliar o entorno das
escolas escolhidas para o trabalho em relação ao conforto e infraestrutura para melhoria da
segurança do pedestre, avaliar a caminhabilidade utilizando características da paisagem
urbana da vizinhança como variáveis de estudo e comparar o comportamento pedestre com as
características de segurança da caminhada em quatro bairros de Spriengfield e Bend
(Ackerson, 2005).
Carvalho (2006) desenvolveu uma metodologia para dimensionamento de calçadas em
vias urbanas, considerando o nível de satisfação dos pedestres. O autor (2006) aplicou sua
metodologia em um conjunto de vias na cidade de Boa Vista, Roraima, que apresentava um
bom fluxo de pedestres e ciclista no horário de pico. Os dados recolhidos, tanto da contagem
dos fluxos quanto das entrevistas com os pedestres, foram agrupados em planilhas, cujos
resultados foram necessários para auxiliar na elaboração do modelo de dimensionamento de
calçadas, baseado em árvore de decisão e regressão robusta.
Leslie, Butterworth e Edwars (2006) realizaram um estudo que descreve os principais
atributos utilizados como índices de caminhabilidade para o uso da caminhada como
transporte e não como lazer, abrindo discussões sobre como este pode ajudar governos locais
a promover medidas de planejamento que favoreçam o caminhar nas comunidades. Os
atributos escolhidos para a análise são: densidade habitacional, conectividade, uso do solo
diversificado e área de comércio e serviços. Para mensurar objetivamente os elementos
construídos que influenciam o ato de caminhar, foi feito o uso da ferramenta SIG e para
calcular a pontuação de cada atributo utilizou-se como dado o censo populacional (Leslie;
Butterworth; Edwars, 2006).
Passmore (2007) utiliza métodos qualitativos para avaliar as calçadas da cidade de São
Paulo, dividindo-o em três etapas: entrevistas com pedestres antes e durante a caminhada até
o transporte público, entrevistas com profissionais e análise de documentos legais sobre o
tema. As entrevistas com pedestre abordaram questões sobre condições do ambiente, como
iluminação, superlotação, condições topográficas de rua, calçadas e estradas, atratividade,
clima, poluição atmosférica e sonora, condições de travessia de rua, coleta de lixo, vendedores
ambulantes e interação com os outros, cujo objetivo era explorar profundamente uma série de
percepções que podem ser desenvolvidas com as variações de experiência dos pedestres
(Passmore, 2007). As entrevistas com os especialistas tinham como objetivo destacar como a
cidade lida com questões de acessibilidade e como isso influenciou as políticas orçamentárias
(Passmore, 2007). Segundo Passmore (2007), a segurança foi uma preocupação dominante
61
entre os entrevistados. Outro ponto preocupante relatado foi o perigo ocasionado aos
pedestres pelo tráfego motorizado, pois, segundo os entrevistados, os motoristas não dão aos
pedestres o direito a travessia e este fator é agravado pela falta de infraestrutura adequada,
representado por calçadas irregulares, desvios inconvenientes, obstáculos, canteiros de obras e
postes de iluminação mal localizados (Passmore, 2007).
Agrawal, Schlossberg e Irvin (2008) desenvolveram novas ferramentas para identificar
distâncias de viagens a pé, caracterizando o ambiente local através do ponto de vista do
pedestre. Foram realizadas entrevistas em cinco estações ferroviárias, distribuídas nas regiões
da Baia de São Francisco, de San Jose, de El Cerrito e de Portland. Os entrevistados
responderam um questionário com perguntas abertas e fechadas, sobre tempo de caminhada,
fatores que influenciaram na escolha da rota, comportamento durante a caminhada e dados
demográficos, além de traçarem em um mapa a rota que utilizaram para chegar à estação.
Com isso, os pesquisadores conseguiram mapear os trajetos mais utilizados e os mais evitados
(Agrawal; Schlossberg; Irvin, 2008). Os resultados da pesquisa sugerem que o pedestre faz
suas escolhas de rotas baseadas na tentativa de reduzir o tempo e a distância do deslocamento
casa x estação. Outros fatores como segurança, atratividade da via, qualidade das calçadas e
menor tempo de espera nos semáforos também influenciam na escolha do melhor caminho,
cabendo ao poder público local prover recursos que os tornem adequados a caminhadas
(Agrawal; Schlossberg; Irvin, 2008).
Fontenelle et al. (2008) fizeram um levantamento na região central de Florianópolis para
determinar o nível de serviço das calçadas. A metodologia proposta desenvolveu-se em quatro
etapas: avaliar tecnicamnte as características do passeio, aplicação de questionário aos
pedestres com o bjetivo de caracterizar atributos que influenciam a sua escolha de percurso,
contagem de pessoas paradas e em movimento nas calçadas e ponderar os resultados das
etapas 1 e 2 para determinar o nível de serviço da calçada. (Fontenelle et al., 2008). Os
resultados obtidos mostram que a opinião do pedestre segue a ordem de importância (do
menos ao mais importante): segurança, atratividade, conforto, manutenção e segurança
pública, sendo que segurança pública foi o item com mais peso na avaliação técnica,
impactando o resultado final do nível de serviço. Lugares com pouca iluminação, campo de
visão e policiamento reduzido tendem a ser locais com maiores índices de criminalidade,
estimulando o desuso pelos pedestres (Fontenelle et al., 2008). Os autores (2008) concluem
que seu estudo fornece base para o entendimento da dinâmica do movimento do pedestre,
62
discriminando pontos onde melhorias são mais urgentes e necessárias, sendo uma ferramenta
fácil para uso dos órgãos públicos e administradores municipais.
Antunes (2010) buscou a realização da análise espacial da preferência do pedestre, tendo
como ponto de partida o princípio de que a qualidade do trajeto não é baseada exclusivamente
nos critérios da norma de acessibilidade, podendo apresentar outros fatores que interferem
como atratividade visual, conforto e ambiência urbana, continuidade e forma urbana,
segurança e seguridade. A partir destes aspectos, foram definidas variáveis que buscavam
relacioná-los aos trajetos escolhidos pelos usuários, divididas em dependentes (avaliação do
trajeto escolhido) e independentes (caracterização do usuário e atributos dos trajetos). A
metodologia definida por Antunes (2010) é apresentada em quatro etapas: pesquisa junto a
fontes secundárias, pesquisa de campo (com instrumentos que avaliam o entorno dos pontos
de embarque/desembarque e a opinião do usuário) e procedimento e análise dos resultados.
Segundo Antunes (2010), os resultados obtidos com a pesquisa mostram o perfil dos usuários
do transporte coletivo e indicam a questão da segurança como sendo a de maior relevância na
escolha dos trajetos, indicando que a criação de rotas acessíveis não está relacionada somente
as características do passeio, estendendo aos aspectos do desenho urbano e dinâmica social.
Larrañaga, Ferret e Cybis (2011) propuseram uma metodologia para avaliação das
características físicas das calçadas, que consiste em atribuir critérios de desempenho a três
indicadores para caracterizar aspectos diferentes da qualidade das calçadas: atratividade
visual, conforto e presença de obstáculos. Os atributos selecionados são os mais expressivos
para a descrição das características físicas das calçadas e os indicadores de qualidade tiveram
como base os estudos de Fruin (1971), Khisty (1994), Dixon (1996) e Ferreira e Sanches
(2001).
Monteiro (2011), em sua pesquisa, propôs indicadores para avaliar os espaços urbanos
para pedestres e ciclistas. Com auxílio de pesquisa realizada em três estações do metrô do Rio
de Janeiro (General Osório, Colégio e Pavuna) e revisão bibliográfica, foram selecionadas
sete características que influenciam na escolha dos caminhos por pedestres e ciclistas e
avaliam o espaço urbano, sendo eles: densidade, diversidade do uso do solo, desenho urbano,
facilidades para pedestres e ciclistas, acessibilidade e mobilidade, segurança e seguridade
(Monteiro, 2011). Com o auxílio dessas características, definiu-se um conjunto de
indicadores, sendo sua análise dividida em duas etapas. A primeira agrupa os indicadores
possuem relação com o uso urbano, e a segunda reúne aqueles relacionados às características
físicas dos locais pesquisados (Monteiro, 2011). Monteiro (2011) conclui, com os resultados
63
obtidos em sua pesquisa, que há a necessidade de adequar as calçadas nos bairros de Ipanema
e Pavuna, onde estão localizadas as estações de metrô General Osório e Pavuna, para
melhorar o nível de satisfação do usuário, com rigorosa fiscalização quanto ao uso e ocupação
desses espaços. O procedimento proposto por Monteiro (2011) serve de instrumento
facilitador na identificação dos problemas mais urgentes e como também auxilia a elaboração
de estratégias de planejamento.
Para avaliar a qualidade das calçadas situadas na região sudeste de Recife, Figueirêdo e
Maia (2013) realizaram uma pesquisa domiciliar para saber qual atributo o pedestre acha
importante em seu local de caminhada. Os atributos selecionados foram: segurança viária,
conforto, manutenção, presença de obstáculos, segurança pública, intensidade do fluxo na
calçada e limpeza. O questionário utilizado nas entrevistas foi elaborado com base na
metodologia IQC, com ajustes nos termos de linguagem para simplificá-lo e ser entendido
mais facilmente pelos entrevistados, obtendo resultados mais condizentes ao local da pesquisa
(Figueirêdo; Maia, 2013). O principal resultado encontrado pelas autoras (2013) ressaltou que
um lugar seguro e com baixo índice de ocorrências policiais, tende a incentivar a caminhada
como forma de deslocamento para exercer suas atividades, e consequentemente, um local com
altos índices de assaltos faz com que se iniba a caminhada e incentive o uso de modais
motorizados.
Main (s.d.) utiliza, em sua metodologia, dados do Sistema de Informação Geográfica
(SIG) para identificar fatores que afetam a caminhabilidade, verificando as condições de uso
do solo e políticas de transporte existentes. O método é dividido em etapas que formam
cenários possíveis para o planejamento e desenvolvimento urbano das áreas, incluindo
medições em SIG de doze indicadores (Main, s.d.). A análise inicia com a montagem da base
de dados para o uso do solo e transportes, preenchida de acordo com os fatores, anteriormente
definidos, que influenciam a caminhada. Para o uso do solo, são consideradas as variáveis
densidade populacional, parcelamento do solo, diversidade do uso do solo, densidade de
empregos, proximidade entre residências e serviços. Já para o transporte, consideram
proximidade entre residência e pontos de ônibus, proximidade entre empregos e pontos de
ônibus, densidade da rede viária, conectividade, cobertura da calçada, distância das travessias
e facilidade de visualização das rotas de caminhada (Main, s.d.). No passo seguinte, os
indicadores são ponderados de acordo com o nível de influência sobre as viagens de
pedestres, com a criação de uma reclassificação por notas, dando a dimensão da possibilidade
de caminhabilidade, obtendo o primeiro conjunto de resultados (Main, s.d.). Os resultados são
64
divididos em áreas que atendem aos pedestres, em áreas que não atendem e em áreas vazias
que não possuem classificação, originando mapas que delimitam cada situação (Main, s.d.). A
próxima etapa consiste em criar planos para remediar as áreas desfavoráveis e criar ambientes
para caminhada em áreas vazias. Esses planos são incluídos nos bancos de dados SIG para ser
modelado, utilizando os doze indicadores descritos anteriormente (Main, s.d.). É realizada
uma nova medição com estes indicadores, mas, desta vez, o resultado é usado para delinear
áreas que, com o auxílio de planejamento, tornam-se aceitáveis e outras que ainda
permanecem desfavoráveis. Com isso, segundo o autor (s.d.), as antigas áreas sem condições
para caminhadas se tornariam adequadas ao longo do tempo, corrigindo as deficiências
originais.
Enfim, os estudos apresentados nesta seção reúnem as metodologias de avaliação do
espaço do pedestre. O Apêndice 2 resume as metodologias analisadas, em ordem cronológica,
destacando o ano de publicação, objetivo e variáveis utilizadas por cada autor. Entretanto, é
importante destacar que as metodologias analisadas não contemplam a avaliação do espaço
urbano do pedestre em favelas, ficando restritas a avaliações genéricas de calçadas e
travessias de pedestres. A carência de uma metodologia específica para avaliar esse espaço
em comunidades carentes, especialmente em regiões de aclive, demonstra que há campo para
pesquisas e alguma falta de interesse em trabalhar esse tema. Ressalta-se a necessidade de
desenvolver pesquisas neste campo, identificando as variáveis necessárias para analisar o
espaço do pedestre em favelas, que, diferentemente de outras regiões, possui particularidades
próprias, como vias estreitas, escadarias, falta de calçadas, etc. Desta forma, foi necessária a
adaptação dos estudos, apresentados neste capítulo e resumidos no Apêndice 2, para análise
do espaço urbano do pedestre em comunidades carentes localizadas em regiões de aclive, tal
como se propõe este trabalho. Assim, foram selecionadas, entre as variáveis utilizadas pelas
diferentes metodologias analisadas, aquelas que podem ser aplicadas à realidade das favelas,
conforme apresentado na TAB. 4.1.
TAB. 4. 1 Variáveis aplicáveis ao estudo da acessibilidade ao Teleférico do Alemão
Variáveis
Mori e
Tsukaguchi
(1987)
Khisty
(1994)
Sarkar
(1995)
Dixon
(1996)
Ferreira e
Sanches
(2001)
Gallin
(2001)
Rastogi e
Krishna
Rao (2001)
NBR 9050
(ABNT)
(2004)
Ackerson
(2005)
Passmore
(2007)
Agrawal,
Schlossber
g e Irvin
(2008)
Fontenelle
et al. (2008)
Antunes
(2010)
Larrañaga,
Ferret e
Cybis
(2011)
Monteiro
(2011)
Figueirêdo
e Maia
(2013)
Tipo de calçada X
Taxa de obstáculos X
Número de veículos
estacionados X
Atratividade
X
X
X
Conforto
X
X
X
X
X
Segurança
X
X
X
Seguridade
X
X
Conflitos
X
Obstruções nas
calçadas X
Possibilidades de
quedas e ferimentos X
Percepção de
seguridade X
Infraestrutura
disponível para
pedestres
X
Conflitos entre
pedestres e veículos
motorizados
X
Amenidades ao
longo das vias X
Acessibilidade ao
transporte coletivo X
Atratividade visual
X
X X
Qualidade da
superfície X
Tipo de usuário
X
Segurança pessoal
X
X
Variáveis
socioeconômicas X
Informações sobre
viagens realizadas X
Piso
X
65
66
Variáveis
Mori e
Tsukaguchi
(1987)
Khisty
(1994)
Sarkar
(1995)
Dixon
(1996)
Ferreira e
Sanches
(2001)
Gallin
(2001)
Rastogi e
Krishna
Rao (2001)
NBR 9050
(ABNT)
(2004)
Ackerson
(2005)
Passmore
(2007)
Agrawal,
Schlossber
g e Irvin
(2008)
Fontenelle
et al. (2008)
Antunes
(2010)
Larrañaga,
Ferret e
Cybis
(2011)
Monteiro
(2011)
Figueirêdo
e Maia
(2013)
Superfície de
caminhada X
Elementos da
paisagem urbana X
Iluminação
X
Condições
topográficas da rua,
calçada e estradas
X
Condições de
travessia da rua X
Coleta de lixo
X
Tempo de
caminhada X
Fatores que
influenciam a
escolha da rota
X
Manutenção
X
X
Segurança pública
X
X
Conforto e
ambiência urbana X
Continuidade e
forma urbana X
Segurança e
seguridade X
X
Presença de
obstáculos X
X
Desenho urbano
X
Acessibilidade e
mobilidade X
Segurança viária
X
Limpeza
X
66
5. PESQUISA DE CAMPO NAS COMUNIDADES DO COMPLEXO DO ALEMÃO
Assim como em outras comunidades inseridas na cidade do Rio de Janeiro, a ocupação
que originou o Complexo do Alemão ocorreu de maneira espontânea e irregular pela extensão
da Serra da Misericórdia. As barreiras físicas impostas pelo relevo acidentado da comunidade
dificultam e até mesmo impedem que sejam implantadas as modalidades tradicionais de
transporte público, segregando ainda mais a população residente.
Com o objetivo de integrar a comunidade a cidade e facilitar o deslocamento dos
moradores, o Teleférico do Alemão foi instalado. Iniciou seu funcionamento no ano de 2011 e
atualmente transporta, nos dias úteis (segunda a sexta), 10 mil pessoas (Medeiros, 2014).
Entretanto, este número não representa a demanda estimada quando o sistema foi implantado.
Algumas questões surgiram sobre quais causas podem ter levado a baixa utilização do
transporte pelos moradores (Gonçalves et al., 2014). Para compreendê-las, a pesquisa de
campo se fez necessária tanto nas estações do Teleférico do Alemão (entrevistas com
usuários) como em locais externos ao sistema de transporte (entrevistas com não usuários).
Deste modo, o presente capítulo apresenta um panorama geral sobre a comunidade e o
sistema de teleférico, bem como os dados a serem levantados e o tamanho da amostra a ser
entrevistada.
5.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A escolha do local para aplicação da pesquisa de campo teve como fatores principais o
relevo montanhoso do Complexo do Alemão e o sistema de teleférico, implantado no local
em 2011 e integrado a rede ferroviária local administrada pela SuperVia (FIG. 5.1). As
particularidades encontradas no local motivaram o estudo, pois incidem diretamente na
acessibilidade ao sistema de transporte e em seu número de usuários.
67
68
FIG. 5. 1 Mapa da rede ferroviária administrada pela SuperVia, em destaque o
Teleférico do Alemão
Fonte: Adaptado de SuperVia, 2015
5.1.1. COMPLEXO DO ALEMÃO
O Complexo do Alemão é um conjunto formado por 12 comunidades, Morro da Baiana,
Morro do Alemão, Itararé/Alvorada, Morro do Adeus, Morro da Esperança, Morro dos
Mineiros, Nova Brasília, Palmeiras, Fazendinha, Grota, Reservatório de Ramos Casinha,
construído sobre a Serra da Misericórdia, zona norte do Rio de Janeiro (Nery; Flaeschen,
2010). Abrange os bairros de Bonsucesso, Ramos, Olaria, Inhaúma e Higienópolis (FIG. 5.2).
Sua ocupação foi realizada de forma irregular e espontânea a partir da ausência do poder
público na região (Meirelles; Moreira; Borin, 2012).
Segundo Nery e Flaeschen (2010), a história do Complexo do Alemão iniciou em 1928,
na região onde hoje é conhecida como Morro do Alemão. Este local recebeu esta
nomenclatura devido ao proprietário de uma fazenda, Leonard Kaczmarkiewicz, que
aparentava ser de origem alemã, mas na verdade era polonês. Leonard, na década de 50,
loteou as terras que lhe pertenciam, dando inicio a ocupação do Complexo (Nery; Flaeschen,
2010). A primeira região a ser ocupada foi a do Relicário por trabalhadores da Companhia
Algodoeira Fernandes S/A. Na mesma década, houve grande aumento da população nas
regiões onde hoje concentram as comunidades de Joaquim de Queiroz e Nova Brasília. No
final da década de 70, o crescimento populacional ocorreu em Parque Alvorada, Morro das
Palmeiras e Morro da Baiana (PCRJ, 2014).
69
Em 1993, o Complexo do Alemão foi reconhecido como bairro com área de 186 ha,
ocupado por 56 mil pessoas e densidade de 302 hab/ha, superando a densidade média do
município do Rio de Janeiro, que naquele ano era de 49 hab/ha (Meirelles; Moreira; Borin,
2012). De acordo com o Censo Favelas, estima-se que a população do Complexo do Alemão
atualmente supere 70 mil pessoas (GERJ, 2010).
FIG. 5. 2 Delimitação da área ocupada pelo Complexo do Alemão
Fonte: Adaptado de Google Earth, 2014
Segundo dados do recenseamento, realizado em 2010, constatou-se que a comunidade
Nova Brasília é a mais populosa, correspondendo a 31% da população. O Morro do Alemão,
apesar de ser a comunidade mais extensa do Complexo do Alemão, é a segunda com mais
população concentrada, possuindo 24% do total. Ao considerar todo o Complexo, percebe-se
que as pessoas se concentram nas comunidades mais populosas: Nova Brasília, Morro do
Alemão, Parque Alvorada e Joaquim de Queiroz, representando 81% da população total e
ocupando 75% da área do Complexo do Alemão (PCRJ, 2014).
Nos últimos anos, a região onde está situada a comunidade sofreu um processo de
esvaziamento econômico, representado por empresas que deixaram o local como Coca-Cola e
Souza Cruz (Gonçalves; Portugal; Nassi, 2012). Além disto, o Complexo do Alemão é um
bairro segregado, tanto do ponto de vista das estruturas físicas quanto das características
socioeconômicas de seus moradores. Os equipamentos e bens públicos existem de maneira
precária e insuficiente (Nery; Flaeschen, 2010). Isto, aliado ao crescimento urbano não
planejado em área com alta declividade, contribui para a redução da mobilidade ocasionada
pela dificuldade de acesso (Meirelles; Moreira; Borin, 2012). A implantação do sistema do
teleférico visa contribuir para a acessibilidade e mobilidade local.
70
5.1.2. TELEFÉRICO DO ALEMÃO
O teleférico do Complexo do Alemão foi parte integrante das obras do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento) realizadas na comunidade. Seu projeto tem autoria de Jorge
Mario Jáuregui e iniciou seu funcionamento em 2011. Foram investidos US$ 103 milhões na
implantação do sistema de transporte e sua construção levou três anos com a geração de 3.500
vagas de empregos, muitas destas foram ocupadas por moradores da comunidade (Silva,
2012).
Inspirado no modelo utilizado em Medellín, o sistema é composto por 24 pilares dispostos
em 3,4km de extensão, 152 gôndolas para transportar até 8 passageiros cada e 6 estações,
sendo elas: Bonsucesso, Adeus, Baiana, Alemão, Itararé e Palmeiras, conforme FIG. 5.3
(Jáuregui, 2011; SuperVia, 2011; Silva, 2012). Cada uma das estações possui um conjunto de
serviços, equipamentos de lazer e espaços culturais disponíveis para a população,
exemplificadas pela TAB. 5.1.
TAB. 5. 1 Estações do teleférico do Alemão
Estação Atividades
Bonsucesso/TIM
A estação intermodal é situada no centro do bairro, sendo integrada com o meio de transporte ferroviário, além de servir de instrumento de revitalização urbanística para a localidade. Esta estação abrigava um posto do RioCard para os moradores do Complexo do Alemão, mas o mesmo foi transferido para a estação de trem Central do Brasil. Os moradores cadastrados possuem o direito de duas gratuidades por dia no Teleférico.
Adeus É localizada em uma das comunidades mais importantes do Complexo, onde antes só havia acesso por escadarias. Esta estação conta com uma agência do Banco do Brasil e caixas eletrônicos da Caixa Econômica Federal e do Banco Bradesco.
Baiana Trata-se da estação motriz de todo o sistema. Localizada no bairro de Ramos, é o "coração" motor do teleférico. Abriga um posto de orientação urbanística e social da prefeitura (Pouso) e um caixa eletrônico da Caixa Econômica Federal.
Alemão Situada na comunidade que batiza o Complexo, essa estação abriga vários equipamentos sociais: o Centro de Referência da Juventude (CRJ), Centro de Assistência Social (CRAS), um posto de atendimento do INSS e uma agência dos Correios.
Itararé
Mais uma das estações intermediárias inseridas no cerne da comunidade. Esta estação promove a integração com o conjunto habitacional da Poesi, na Estrada do Itararé, bem como o Colégio Estadual Tim Lopes, além de ceder espaço a um posto do Educamais do Sesi em Ação que oferece cursos para a comunidade.
Palmeiras Estação final ou de retorno do teleférico, localizada no bairro de Inhaúma, possui uma visão fascinante do Complexo do Alemão. Nela há um grande espaço destinado à formação de um centro cultural, com auditório, biblioteca, entre outros.
Fonte: SuperVia, 2011
O trajeto Bonsucesso a Palmeiras, que antes levava cerca de 1 hora caminhando, com o
teleférico foi reduzido para 17 minutos e conta com a vantagem de estar integrado com os
71
trens da SuperVia. Os moradores possuem gratuidade em todas as passagens, e para garanti-lo
devem se cadastrar previamente (Silva, 2012; GERJ, 2015). A proposta do Teleférico do
Alemão é diminuir o tempo de deslocamento, facilitar o acesso aos lugares de trabalho, lazer e
cultura, e melhorar a mobilidade urbana, principalmente para o topo dos morros, local de
difícil acesso ao transporte (Silva, 2012).
FIG. 5. 3 Teleférico do Alemão Fonte: http://www.flickr.com/
5.2. METODOLOGIA DE PESQUISA
Esta pesquisa tem como objetivo analisar as características dos usuários do Teleférico
do Alemão, bem como apresentar uma análise de acessibilidade às estações do teleférico.
Espera-se examinar como se processa a acessibilidade às estações do Teleférico do Alemão e
identificar quais principais barreiras que impedem melhorias das condições gerais da
acessibilidade motorizada e a pé às estações.
Para atingir este objetivo, foram realizadas entrevistas com grupos de usuários e não
usuários, totalizando 100 entrevistados para o grupo de usuários e 40 para o grupo de não
usuários. Os dados foram obtidos entre os meses de outubro de 2014 e fevereiro de 2015.
O desenvolvimento desta metodologia realizou-se nas seguintes etapas: elaboração das
questões abordadas no questionário, escolha dos locais para levantamento de dados (estações
72
do Teleférico do Alemão, escola e associação de moradores) e realização de um estudo-piloto
no teleférico.
5.2.1. DESIGN DO QUESTIONÁRIO
O modelo do questionário foi definido a partir da seleção das variáveis compatíveis a
realidade do Complexo do Alemão, apresentadas no capítulo 4, e adaptações dos modelos
utilizados por Ainsworth (2002), Ackerson (2005), Antunes (2010) e COPPETEC (2013). O
Apêndice 3 é composto por tabela que apresenta as variáveis de avaliação do espaço urbano
do pedestre e as perguntas do questionário a partir das quais elas são avaliadas.
Como seriam aplicados para grupos distintos, criaram-se dois modelos com perguntas em
comum e outras específicas para cada conjunto de entrevistados. Estes foram apresentados
para quatro acadêmicos da área de transporte para serem analisados criticamente, ocasionando
em modificações de layout e redução do número inicial de perguntas (cada questionário
possuía 41 itens) para atender aos objetivos principais da pesquisa. Os modelos finais ficaram
com 26 questões para o questionário a ser aplicado aos usuários do teleférico e 21 questões
para o de não usuários.
O questionário com perguntas voltadas para os usuários do Teleférico do Alemão,
aplicado em cada uma das estações do sistema, está dividido em quatro seções: característica
do entrevistado, caracterização da viagem, opinião do entrevistado e perfil, conforme
apresentado no Apêndice 4. O questionário com perguntas voltadas para os não-usuários do
Teleférico do Alemão, residentes no Complexo do Alemão, também contém estas quatro
seções, conforme apresentado no Apêndice 5. Este questionário foi aplicado em alguns locais
da comunidade.
Algumas questões tiveram o formato adaptado à escala Likert (1932 apud Vieira;
Dalmoro, 2008), para que o entrevistado gradue com as seguintes opções: Muito importante a
Sem importância, Dificulta muito a Não dificulta, Atrapalha muito a Não atrapalha, Ótimo a
Péssimo e Aumenta muito e Não aumenta.
73
5.2.2. TAMANHO DA AMOSTRA
Os dados populacionais foram obtidos com o recenseamento feito pelo Governo do Estado
do Rio de Janeiro entre 2008 e 2009. Foram utilizadas as informações contidas no censo
domiciliar, estimando um total de 70 mil moradores (GERJ, 2010).
De acordo com dados repassados pela SuperVia, empresa que administra o Teleférico do
Alemão, durante os dias úteis (segunda a sexta) passam cerca de 10 mil pessoas pelo sistema.
Este número não discrimina embarque/desembarque em cada estação. O tamanho da amostra
para aplicação do questionário foi calculada com base na estimativa da proporção
populacional, segundo E.Q. 5.1.
� ≥�×�����
������������
(E.Q. 5. 1)
Onde:
n – número de entrevistas a serem realizadas;
p – proporção de usuários do teleférico;
e – nível aceitável de erro (proporção): e =10%;
z – valor do erro padrão da curva normal para o nível de significância: z = 1,96;
N – tamanho da população do Complexo do Alemão.
Adotando-se o grau de confiança de 95%, o valor crítico Zα/2 é 1,96. Considerando-se a
proporção de usuários do teleférico (p) para pior hipótese (0,50), o erro máximo aceitável (e)
de 10% e a população de moradores do Complexo do Alemão N = 70 mil, tem-se (E.Q. 5.2):
� ≥,×���,�
�,��,��
���, ���, �
�
≥ ����������� (E.Q. 5. 2)
Deste modo, o número de passageiros do teleférico a serem entrevistados, para que se
tenha um nível de confiabilidade adequado, deve ser superior a 96 indivíduos. Portanto, foram
realizadas 100 entrevistas no período do pico da tarde, uma vez que o movimento neste
horário tem sido superior ao do pico matutino (Gonçalves; Portugal; Nassi, 2012). Também
foram entrevistados 40 moradores que não utilizam o Teleférico do Alemão com o objetivo de
identificar motivos que os fariam escolher outro modal de transporte ao invés do teleférico.
74
5.3. COLETA DE INFORMAÇÕES
A coleta dos dados foi realizada dentro das estações que compõem o sistema do
Teleférico do Alemão, no Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Henrique Foréis e C. E.
Olga Benário Prestes e nas ruas próximas as associações de moradores das comunidades da
Baiana e da Joaquim de Queiroz, com abordagem direta aos entrevistados.
5.3.1. APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO PILOTO
A aplicação do questionário-piloto ocorreu na estação Bonsucesso, pois a mesma faz
integração do Teleférico do Alemão com os trens. Foram aplicados dez questionários com
pessoas que embarcavam no teleférico no período inicial do pico vespertino. Neste primeiro
contato, foi detectada a necessidade de ajustes para facilitar a compreensão do entrevistado e
redução do tempo das entrevistas, ocasionando readequação das questões e do layout.
Realizadas as alterações necessárias, houve o retorno a campo para aplicação da versão final.
5.3.2. APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS NAS ESTAÇÕES DO TELEFÉRICO DO
ALEMÃO
Entre os meses de outubro e novembro de 2014, foram aplicados 100 questionários nas
cinco estações que compõem o sistema do Teleférico do Alemão. Excluiu-se a estação
Bonsucesso por não estar situada dentro do Complexo do Alemão e ter seu atendimento mais
amplo por atender também aos moradores do bairro de Bonsucesso. A amostra para cada
estação foi de 20 entrevistados.
As entrevistas foram realizadas em dias variados, sempre entre segunda e sexta-feira (dias
úteis), no período de pico vespertino (entre 17 e 20hrs). A escolha deste horário foi motivada
por informações recolhidas na SuperVia, em entrevista com o gerente do teleférico, em que se
75
comprovava o maior uso do sistema pelos moradores da comunidade neste período
(Medeiros, 2014).
A pesquisa nas estações ocorreu sem transtorno algum, mesmo havendo alterações dos
dias de visita ao local devido aos conflitos que a região vem enfrentando. Em grande parte do
levantamento de dados, a equipe contou com dois integrantes.
5.3.3. APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO AOS MORADORES DO COMPLEXO DO
ALEMÃO QUE NÃO UTILIZAM O TELEFÉRICO
Foram aplicados questionários a moradores que não utilizavam o Teleférico do Alemão,
entre os meses de outubro e fevereiro, totalizando quarenta entrevistas. Houve contatos com
as direções do EDI Henrique Foréis e do C. E. Olga Benário Prestes para entrevistar
responsáveis e alunos; presidência e vice-presidência das Associações de Moradores da
Comunidade da Baiana e da Comunidade da Joaquim de Queiroz para que as entrevistas
fossem realizadas com moradores próximos a esses locais.
Realizou-se as entrevistas em dias variados, sempre entre segunda e sexta-feira (dias
úteis), porém sem um horário pré-definido. No EDI Henrique Foréis, foram aproveitados os
horários de entrada e saída do turno da manhã para entrevistar os responsáveis, já no C. E.
Olga Benário Prestes entrevistou-se os alunos no final das aulas do turno da manhã, como
também pessoas que transitavam pela rua do colégio. No caso das associações de moradores
contatadas, as entrevistas realizaram-se nas ruas próximas as mesmas, com abordagem direta
ao morador entre o fim da manhã e o início da tarde.
Não foi aplicada a mesma quantidade de questionários devido a problemas de segurança
pública que inviabilizavam as entrevistas. Essa etapa foi realizada por apenas um integrante.
5.3.4. DESCRIÇÃO DAS INFORMAÇÕES COLETADAS
Após coletar as informações com a pesquisa realizada nas estações do Teleférico do
Alemão e com os não-usuários do sistema, os dados foram digitalizados e tabulados no
76
programa Microsoft Excel 2007 e analisado estatisticamente pelo programa IBM SPSS
Statistics 22.
A pesquisa de campo teve como enfoque principal a determinação das características do
trajeto que o entrevistado percorre (ou percorreria) até uma estação do Teleférico do Alemão,
o que inclui analisar, com o auxílio de graus de importância, a acessibilidade do mesmo para
o pedestre que o percorre. Como fatores secundários, porém não menos importantes,
destacam-se o conhecimento do perfil dos entrevistados (usuários e não usuários) e suas
opiniões sobre o transporte implantado.
77
6. ANÁLISE DOS RESULTADOS
A partir da pesquisa survey realizada no Complexo do Alemão, com os usuários dentro
das estações do Teleférico e com os não usuários no interior da comunidade,foi possível
levantar dados importantes para avaliação da demanda atual do transporte, proporcionando
assim a caracterização de perfis distintos para cada grupo analisado. A apresentação dos
resultados está dividida em duas partes. Inicialmente, é realizada a apresentação dos dados
coletados, agrupados com as características dos usuários e dos não usuários. Em seguida,
apresentam-se os resultados da análise estatística por estratos, realizada por meio dos testes T
e ANOVA, a fim de possibilitar a determinação de diferenças no julgamento e no
comportamento em relação às características dos passageiros e dos não usuários. Também
para determinar o perfil dos usuários que embarcam em diferentes estações, efetua-se a
Análise de Clusters.
6.1. PESQUISA DE OPINIÃO DO TELEFÉRICO DO ALEMÃO
Inicialmente, para provar a consistência dos dados referentes às respostas dos passageiros
do teleférico, realizou-se o Teste Alfa de Cronbach (Cronbach, 1951). O valor encontrado foi
igual a 0,77. Conclui-se, então, que os dados apresentam alta consistência, uma vez que os
valores são superiores a 0,70 (Hair et al., 2005). Nesta seção, é apresentada a compilação dos
dados coletados nas entrevistas realizadas nas estações do Teleférico do Alemão, segundo as
características dos passageiros, as características da viagem realizada e a opinião do usuário.
6.1.1. CARACTERÍSTICA DO ENTREVISTADO
78
Nesta seção, é apresentado o perfil dos usuários do teleférico do Alemão, caracterizados
conforme sexo, idade, escolaridade, local de residência, origem da viagem, dificuldade de
locomoção, frequência de utilização do sistema por semana e propriedade de veículo.
A maioria dos entrevistados é do sexo feminino (63%) e 50% das pessoas entrevistadas
estão na faixa etária entre 20-39 anos, compreendendo a uma parcela da população
economicamente ativa, conforme apresentado na FIG. 6.1a. 28% dos respondentes têm ensino
fundamental incompleto e o mesmo percentual de respostas foi obtido para a opção ensino
médio completo. A FIG. 6.1b apresenta o grau de escolaridade dos entrevistados.
FIG. 6. 1 (a) Faixa etária dos entrevistados e (b) Escolaridade dos entrevistados
Também foi observado que a grande maioria dos entrevistados (98%) não possuía
dificuldade de locomoção, o que se explica pelo fato de que as gôndolas do teleférico não
possuem acessibilidade adequada a cadeirantes (JB, 2013). Além disto, a grande maioria dos
entrevistados (78%) não possui algum tipo de veículo, caracterizando a caminhada como
meio de locomoção principal para o deslocamento interno na comunidade. Apenas 13% dos
passageiros entrevistados possuem automóveis, 5% possuem bicicletas e 4% possuem motos.
Foi identificado que 90% dos passageiros reside na comunidade e, dentre os usuários que
não residem no Complexo do Alemão, grande parte (80%) veio de algum bairro da zona norte
carioca (FIG. 6.2a). Os bairros citados foram Ilha do Governador, Penha, Inhaúma, Benfica,
Coelho Neto, Bonsucesso e Pavuna. Este resultado é reflexo dos horários e dias escolhidos
pela equipe para a realização das entrevistas, pois aos finais de semana o número de
visitantes, que vêm até de outros países, chega a 60% do número de usuários totais do
teleférico (O GLOBO, 2013).
Os resultados indicam uma intensa utilização do sistema do teleférico em dias úteis: 48%
dos entrevistados utilizam o teleférico diariamente, seguido por 22% que adotam o uso do
(a) (b)
79
transporte de 3 a 5 vezes por semana. A FIG. 6.2b apresenta a frequência de utilização do
transporte por semana por parte dos entrevistados.
FIG. 6. 2 (a) Local de origem dos entrevistados e (b) Frequência de uso do teleférico
6.1.2. CARACTERIZAÇÃO DA VIAGEM
• DE ONDE VEM, PARA ONDE VÃO
Essa seção tem enfoque na caracterização da viagem do usuário, de modo a identificar
qual a origem e o destino de cada entrevistado, a estação que embarcou e desembarcou, como
chegou ou sairá da estação, o tempo gasto com esse deslocamento, bem como a maneira que
realizava a viagem dentro da comunidade antes do teleférico e o tempo gasto com isso.
As FIG. 6.3a e 6.3b apresentam os motivos de viagem, tanto na origem quanto no
destino. Como motivo de origem de viagem, destaca-se que 64% das respostas foi “trabalho”
(FIG. 6.3a). Como motivo de destino de viagem, 85% dos entrevistados responderam “casa”
(FIG. 6.3b). Os resultados mostram que a maioria das viagens realizadas pelos usuários do
teleférico tem caráter pendular, tendo como trajeto casa x trabalho x casa. Esta característica
pode ser explicada pelo fato de a coleta de dados ter sido realizada no horário de pico
vespertino, onde muitas pessoas estavam retornando de sua jornada de trabalho.
(b) (a)
80
FIG. 6. 3 (a) Motivo na origem da viagem e (b) Motivo no destino da viagem
67% das pessoas entrevistadas responderam que a origem de sua viagem se deu na zona
norte da cidade, com destaque para o bairro de Bonsucesso como o mais citado. A maioria
dos passageiros (93%) respondeu como destino de sua viagem ruas dentro da própria
comunidade. As FIG. 6.4a e 6.4b apresentam, respectivamente, os locais de origem e destino
das viagens realizadas pelos entrevistados.
FIG. 6. 4 (a) Local de origem das viagens realizadas pelos entrevistados e (b) Local de
destino das viagens realizadas pelos entrevistados
As FIG. 6.5a e 6.5b apresentam, respectivamente, as estações de embarque e
desembarque dos entrevistados. A estação com maior quantidade de embarques foi a
Bonsucesso. Esse destaque é explicado porque a coleta de dados foi realizada no horário de
pico vespertino, quando muitas pessoas vinham de fora do Complexo para a comunidade, e
por esta estação ter integração com os trens e ser a “porta de entrada” para a comunidade.
Entretanto, com relação ao número de desembarques, este número é mais homogêneo entre as
diferentes estações. A estação com maior número de desembarques foi Itararé (21%), seguida
de Palmeiras e Baiana, ambas com 20%. Contudo, das pessoas entrevistadas que
(a) (b)
(a) (b)
81
desembarcavam em Palmeiras, grande parte eram visitantes. O desembarque é obrigatório nas
estações de Bonsucesso e Palmeiras.
FIG. 6. 5 Percentual de embarque/desembarque por estação
Constatou-se que a maioria dos passageiros (81%) caminham para ter acesso ou sair das
estações do Teleférico do Alemão. Este resultado corrobora com o fato de que o deslocamento
a pé ainda é o principal modo de deslocamento para população de baixa renda, independente
das condições geográficas do local que residem, conforme apontado em estudo realizado por
Koch, Lindau e Nassi (2014) no Complexo da Penha, Batam e Babilônia/Chapéu Mangueira,
em que 89,8% dos respondentes declararam que se deslocavam nos interior destes locais por
caminhada. A grande maioria dos passageiros (71%) também respondeu que gastava até de 10
minutos para realizar esse trajeto, o que comprova que o teleférico está próximo da origem de
sua viagem ou do seu destino final. As figuras FIG 6.6a e 6.6b apresentam, respectivamente,
os principais modos utilizados e o tempo gasto no deslocamento até a estação do teleférico ou
da estação até o destino final.
FIG. 6. 6 (a) Percentual de modos utilizados para chegar/ sair das estações e (b) Tempo
de deslocamento de chegada/saída às estações
(a) (b)
82
• COMO SE DESLOCAVAM ANTES DO TELEFÉRICO DO ALEMÃO
Os passageiros moradores do Complexo do Alemão foram questionados sobre como
realizavam o deslocamento interno antes da implantação do Teleférico do Alemão. Grande
parte dos entrevistados respondeu (48%) que se deslocavam por caminhadas e 12% o faziam
por vans (ou kombis como relatadas nas entrevistas), como apresentado na FIG. 6.7. Também
foi perguntado a estes entrevistados quanto tempo ele levava para realizar o percurso, sendo
que, em média, o trajeto era realizado em 26 minutos. A distribuição destes tempos de viagem
é apresentada na FIG. 6.8. A FIG. 6.9 apresenta o tempo médio de viagem interna realizado
pelos entrevistados de cada estação, comparando o antes e o depois, ressaltando a diferença
provocada pela utilização do teleférico como parte do percurso.
FIG. 6. 7 Modos de transporte utilizados pelos moradores antes da implantação do Teleférico do Alemão
FIG. 6. 8 Tempo de deslocamento interno antes da implantação do Teleférico do Alemão
83
FIG. 6. 9 Comparação de tempo de viagem interna por estação - antes x depois
Foi solicitado aos entrevistados que graduasse a importância dos fatores que os
influenciaram a utilizar o teleférico, variando de “Muito importante” a “Sem importância”. Os
fatores enumerados pelos respondentes em ordem de importância são: (i) Redução do tempo
da viagem, (ii) Conforto no transporte, (iii) Preço da passagem, (iv) Facilidade de acesso às
estações, (v) Segurança e Frequência/disponibilidade de horários, (vi) Integração com os trens
(FIG. 6.10). Contudo, deve-se ressaltar que grande parte dos entrevistados não utiliza o
transporte ferroviário em conjunto com o teleférico.
FIG. 6. 10 Importância dos aspectos que influenciam a escolha de utilizar o teleférico
84
Uma situação comum no dia-a-dia de quem usa o teleférico com frequência se refere às
paradas por questão de segurança pública (confrontos ocorridos na comunidade). Foi
perguntado aos passageiros residentes no Complexo o quanto isso atrapalha na utilização do
transporte. 35% das pessoas entrevistas disseram que “atrapalha muito”, enquanto a mesma
porcentagem respondeu que “não atrapalha” (FIG. 6.11), enfatizando que a importância do
sistema do teleférico depende da localidade da moradia, e, principalmente, da topografia da
região.
FIG. 6. 11 Impacto na utilização do Teleférico devido a problemas de segurança pública
6.1.3. OPINIÃO DO ENTREVISTADO
Essa seção do questionário aborda a opinião do usuário sobre o trajeto percorrido do
teleférico ao seu destino final na comunidade ou do seu destino inicial dentro do Complexo
do Alemão até ao sistema de transporte, as dificuldades encontradas para percorrê-lo, quais
aspectos são importantes para escolher um caminho. Além disso, há questões sobre a
qualidade do atendimento do Teleférico do Alemão, sugestões para sua melhoria e se por qual
tipo de transporte o substituiria.
Foi questionado, aos passageiros que residem no Complexo, sobre a facilidade de acesso
às estações do teleférico, sendo os resultados ilustrados na FIG. 6.12. É importante ressaltar
que, mesmo com o relevo acidentado, 77% das pessoas entrevistadas não possuem
dificuldades para caminhar pelo Complexo do Alemão até chegar às estações. Estes
85
entrevistados também foram questionados com relação à existência de calçadas no caminho
percorrido até a estação do teleférico ou da mesma até seu destino final dentro da
comunidade. Apesar de ter muitos becos, vielas e escadarias no Complexo do Alemão, 61%
das respostas indicaram existência de calçadas no trajeto percorrido pelas pessoas
entrevistadas; 9% responderam que há calçadas em apenas alguns trechos do caminho
percorrido. Observa-se que a acessibilidade às estações do teleférico não é impedida pela
existência ou não de calçadas nas vias de acesso.
FIG. 6. 12 Classificação da facilidade de acesso a uma estação do Teleférico
Para entender o grau de dificuldade enfrentado por quem se desloca pela comunidade até
chegar à estação do teleférico, foram listados aspectos em que o entrevistado graduaria entre
“Dificulta muito” e “Não dificulta”, conforme resultado apresentado na FIG. 6.13. Os
entrevistados enumeraram os fatores de acordo com a importância, apresentando-se na
seguinte ordem: (i) Sujeira/lixo no trajeto, (ii) Insegurança, (iii) Inclinação do trajeto e
Entulhos no trajeto, (iv) Carros/motos estacionados, (v) Falta de policiamento, (vi) Rua com
buracos, (vii) Falta de iluminação no trajeto e Excesso de escadas/degraus, (viii) Rua sem
pavimentação, (ix) Obstrução por vegetação (“matagal”), (x) Inexistência de calçadas e (xi)
Obstruções no caminho (postes, latas de lixo).
Também foram apresentados aos entrevistados uma lista de fatores determinantes para a
escolha do caminho percorrido até a estação do Teleférico do Alemão, de modo que
graduassem seu grau de importância (de “Muito importante” a “Sem importância”), tendo os
seguintes fatores enumerados pelos respondentes em ordem de importância: (i) Menor
distância, (ii) Aspecto visual/limpeza, (iii) Sensação de segurança, (iv) Menor inclinação
narua, (v) Calçadas e (vi) Arborização, sendo que este último fator destaca-se como o de
86
menor importância porque os entrevistados temem que as árvores sirvam de esconderijos para
pessoas que queiram praticar algum tipo de violência.Os resultados são apresentados na FIG.
6.14.
FIG. 6. 13 Nível de dificuldade de aspectos que atrapalhariam o trajeto até o teleférico
FIG. 6. 14 Importância de aspectos que influenciam na escolha de um caminho para chegar às estações
87
Atualmente, o serviço do teleférico inicia às 6 horas em dias úteis e às 8 horas em fins de
semana. O mesmo se encerra às 21hrs nos dias úteis e às 20hrs nos fins de semana. Foi
perguntado aos entrevistados se este horário de funcionamento atendia suas necessidades:
69% dos entrevistados responderam que o horário atual é satisfatório; 28% dos entrevistados
relataram que o horário não atende suas necessidades; e 3% não responderam esta questão.
Para os que responderam que o horário não atendia (28%), perguntou-se qual horário
atenderia sua demanda (FIG. 6.15). Destes, 34% ficariam satisfeitas com a extensão do
horário até 22hrs; 30% responderam que se o teleférico iniciasse seu funcionamento antes das
6hrs atenderia melhor.
FIG. 6. 15 Sugestões de novos horários de funcionamento do Teleférico do Alemão
Com o objetivo de avaliar a qualidade do serviço oferecido pelo teleférico aos usuários,
perguntou-se na como o entrevistado o classificaria. A maioria classificou como “Ótimo”
(60%) e “Bom” (39%). Apenas 1% dos entrevistados classificou o serviço como “Regular” e
não houve indicações negativas, como “Ruim” ou “Péssimo”, neste quesito.
Aos entrevistados que responderam que possuíam alguma dificuldade para chegar à
estação do teleférico (respostas “difícil” e “muito difícil”), foi perguntado como poderia ser
melhorado o acesso às estações do Teleférico do Alemão. Como resultado, 41% respondeu
que a principal melhoria seria integrá-lo ao metrô na estação Inhaúma, e 18% disseram que
seria melhor que a integração fosse na estação Engenho da Rainha. Apenas 6% acham que
colocar um plano inclinado facilitaria o acesso às estações do teleférico por moradores da
parte baixa do Complexo do Alemão.
Também foi perguntado aos entrevistados se haveria a preferência por instalação de outro
modal de transporte no lugar do teleférico, sendo listadas opções como “Escada rolante”,
88
“Elevador Urbano”, “Plano inclinado” e “Monotrilho”. Os resultados, apresentados na FIG.
6.16, mostram que o teleférico agradou a maioria, pois 69% dos entrevistados relataram não
precisar trocá-lo. Para os que decidiram trocar, 17% elegeram a “Escada rolante” como o
modal de transporte substituto, mas, na verdade, este modo teria maior utilidade se
implantado de forma complementar ao teleférico, para facilitar o acesso às estações ou em
áreas onde o sistema não atende.
FIG. 6. 16 Preferências de modais de transporte para substituir o sistema de teleférico
Enfim, foi solicitado aos entrevistados que deixassem alguma crítica ou sugestão ao
sistema de teleférico. A reclamação com maior grau de incidência se refere à falta de ar-
condicionado nas gôndolas, apontada por 14% dos entrevistados. As demais reclamações
feitas são: integração com van (3%), iniciar o funcionamento a partir das 7hrs (2%), melhorar
o acesso com escadas rolantes (2%), ampliar o horário de funcionamento (1%), aumentar a
velocidade (1%), coincidir o horário de funcionamento com o horário dos trens (1%),
construção de uma estação perto da Av. Itaoca (1%), integração com o metrô (est. Del
Castilho) (1%), integração com o ônibus (1%), mais estações (1%), mais ventilação (1%),
melhorar acesso com plano inclinado (região da Grota e Nova Brasília), o valor da passagem
em dinheiro (R$ 5,00) é muito caro (1%), parar gôndola para embarque/desembarque (1%),
poder recarregar o RioCard do teleférico em ônibus (1%) e voltar o cadastramento do
RioCard para a estação Bonsucesso (1%). Porém, a maioria (71%) respondeu não possuir
críticas ao sistema de transporte.
89
6.2. PESQUISA DE OPINIÃO DOS NÃO USUÁRIOS DO TELEFÉRICO DO ALEMÃO
Esta seção apresenta a compilação dos dados coletados nas entrevistas realizadas com os
moradores no EDI Henrique Foréis, C. E. Olga Benário Prestes e em ruas internas do
Complexo do Alemão. O valor encontrado para o alfa de Cronbach para esta amostra
corresponde a 0,842, o que caracteriza a consistência dos dados coletados.
6.2.1. CARACTERÍSTICAS DO ENTREVISTADO
Nesta seção, é apresentado o perfil de quem utiliza o Teleférico do Alemão, através de
dados como idade, sexo, escolaridade e propriedade de veículo. Destaca-se que esta etapa de
aplicação de questionário foi voltada somente para moradores do Complexo do Alemão.
A maioria dos entrevistados é do sexo feminino (57%) e 30% das pessoas entrevistadas
estão na faixa etária entre 20-39 anos, compreendendo a uma parcela da população
economicamente ativa. Há também uma grande parcela de moradores que estão acima dos 60
anos (22%), conforme apresentado na FIG. 6.17a. Por sua vez,no que se refere ao grau de
escolaridade dos entrevistados (FIG. 6.17b), verificou-se que 40% da amostra possuía o
ensino fundamental incompleto e 22% o ensino médio incompleto.
FIG. 6. 17 (a) Faixa etária dos entrevistados e (b) Nível de escolaridade dos entrevistados
(a) (b)
Ainda é importante destacar que, mesmo que a grande maioria (73%) não possua
veículos, os respondentes ainda optam por não utilizar o serviço do teleférico. Apenas 13%
dos entrevistados possuem bicicletas, 11% possuem automóveis e 3% possuem motos.
6.2.2. CARACTERIZAÇÃO DA VIAGEM
• DE ONDE VEM, PARA ONDE VÃO
Foi perguntado aos entrevistados q
pertencentes ao Complexo do Alemão. A grande maioria (51%) respondeu que não visitava
outras comunidades e apenas 27% dos entrevistados responderam que raramente visitam
outras comunidades dentro do Compl
esse resultado que não há um grande deslocamento interno por parte destes moradores.
FIG. 6. 18 Frequência das visitas dos moradores a outras comunidades do Complexo
Os entrevistados também foram questionados sobre os locais fora do Complexo do
Alemão que visitavam. Os bairros da Zona Norte 74% das respostas, tendo Olaria como o
bairro mais citado. O segundo destino mais citado foi o Centro, obtendo 8% das respostas.
Municípios da baixada fluminense também foram citados, conforme apresentado na FIG.
6.19. Para aqueles que responderam que visitavam algum local externo a comunidade,
90
Ainda é importante destacar que, mesmo que a grande maioria (73%) não possua
, os respondentes ainda optam por não utilizar o serviço do teleférico. Apenas 13%
dos entrevistados possuem bicicletas, 11% possuem automóveis e 3% possuem motos.
CARACTERIZAÇÃO DA VIAGEM
DE ONDE VEM, PARA ONDE VÃO
Foi perguntado aos entrevistados qual a frequência com que visitam outras comunidades
pertencentes ao Complexo do Alemão. A grande maioria (51%) respondeu que não visitava
outras comunidades e apenas 27% dos entrevistados responderam que raramente visitam
outras comunidades dentro do Complexo, conforme FIG. 6.18. Assim, é possível aferir com
esse resultado que não há um grande deslocamento interno por parte destes moradores.
Frequência das visitas dos moradores a outras comunidades do Complexo
revistados também foram questionados sobre os locais fora do Complexo do
Alemão que visitavam. Os bairros da Zona Norte 74% das respostas, tendo Olaria como o
bairro mais citado. O segundo destino mais citado foi o Centro, obtendo 8% das respostas.
ios da baixada fluminense também foram citados, conforme apresentado na FIG.
Para aqueles que responderam que visitavam algum local externo a comunidade,
Ainda é importante destacar que, mesmo que a grande maioria (73%) não possua
, os respondentes ainda optam por não utilizar o serviço do teleférico. Apenas 13%
dos entrevistados possuem bicicletas, 11% possuem automóveis e 3% possuem motos.
ual a frequência com que visitam outras comunidades
pertencentes ao Complexo do Alemão. A grande maioria (51%) respondeu que não visitava
outras comunidades e apenas 27% dos entrevistados responderam que raramente visitam
. Assim, é possível aferir com
esse resultado que não há um grande deslocamento interno por parte destes moradores.
Frequência das visitas dos moradores a outras comunidades do Complexo
revistados também foram questionados sobre os locais fora do Complexo do
Alemão que visitavam. Os bairros da Zona Norte 74% das respostas, tendo Olaria como o
bairro mais citado. O segundo destino mais citado foi o Centro, obtendo 8% das respostas.
ios da baixada fluminense também foram citados, conforme apresentado na FIG.
Para aqueles que responderam que visitavam algum local externo a comunidade,
91
também foi questionado o motivo de ir a esse lugar, sendo “compras” (29%) e “trabalho”
(17%) os mais citados (FIG. 6.20).
FIG. 6. 19 Lugares externos ao Complexo do Alemão mais visitados
FIG. 6. 20 Motivo de ir ao local externo ao Complexo do Alemão
Os entrevistados também foram questionados sobre os pontos de origem e destino das
viagens realizadas. Todos os locais de origem citados foram dentro da comunidade, tendo a
Rua Joaquim de Queiroz obtido mais respostas (19%), seguida da Rua Canitar com 17%.
Porém, a maioria dos entrevistados (59%) apontou bairros da Zona Norte do Rio de
Janeirocomo destino de seu deslocamento, sendo Madureira e Olaria os bairros mais citados.
21% dos respondentes se deslocam internamente no Complexo, 8% têm o Centro como
destino de suas viagens, e 7% se destinam a municípios da Baixada Fluminense,
especialmente para Vilar dos Teles, Belford Roxo e Queimados.
92
Para quem respondeu que se desloca para fora do Complexo do Alemão, foi solicitado
que indicasse por onde costuma deixar a comunidade rumo a estes lugares. Com 23% das
respostas, a Estrada do Itararé foi a via mais citada, seguida da Rua Joaquim de Queiroz e da
Rua Canitar, ambas com 16% das respostas. Estas são vias importantes do bairro, onde é
possível encontrar vans para várias partes da cidade e ainda serviço de moto-táxi. Na Estrada
do Itararé e na Rua Canitar, ainda é possível encontrar serviço de ônibus.
Os entrevistados também foram questionados sobre como se deslocavam internamente na
comunidade. Ficou constatado que a maioria utiliza a caminhada (84%) como meio de
locomoção (FIG. 6.21a). Esse resultado evidencia que o deslocamento a pé ainda é o principal
modal de transporte para a população de baixa renda, independente das condições geográficas
do local que residem. Também procurou-se saber qual o tempo gasto para esse deslocamento.
A grande maioria respondeu que gastava até de 10 minutos (57%) para realizar esse trajeto
(FIG. 6.21b).
FIG. 6. 21 (a) Porcentagem de modais utilizados para o deslocamento no interior da
comunidade e (b) Tempo gasto para o deslocamento por dentro do Complexo do Alemão
6.2.3. OPINIÃO DO ENTREVISTADO
Essa seção do questionário aborda a opinião do morador sobre aspectos que
influenciaram a sua decisão por não utilizar o sistema de teleférico, bem como as dificuldades
encontradas no trajeto que estes fariam até a estação do Teleférico do Alemão e quais os
fatores que aumentariam as chances de utilizá-lo. Há também questões sobre a qualidade do
(a) (b)
93
atendimento do teleférico, se há possibilidade de utilização do mesmo no futuro, sugestões
para sua melhoria e por qual tipo de transporte o substituiria.
Com o objetivo de avaliar a qualidade do serviço oferecido pelo teleférico à comunidade,
perguntou-se como o morador o classificaria. Com 49% das respostas, a classificação “Bom”
foi o destaque. Indicações negativas também apareceram nas respostas, porém em baixo
número. Apenas 3% responderam que o transporte era ruim para o Complexo do Alemão
(FIG. 6.22).
FIG. 6. 22 Classificação da qualidade do serviço prestado pelo teleférico à comunidade
Foi solicitado aos entrevistados que graduasse a importância de fatores que os
influenciaram a não utilizar o teleférico, variando de “Muito importante” a “Sem
importância”. Os fatores enumerados pelos respondentes em ordem de importância são: (i)
Medo de altura e não atende, (ii) Preço da passagem e Distância ás estações, (iii) Dificuldade
de acesso às estações, (iv) Necessidade de transbordo e Possui outro modo de locomoção, (v)
Restrição de mobilidade (PNE, idoso, criança), (vi) Impossibilidade de transportar carga, (vii)
Necessidade de cadastro para passagem gratuita, (viii) dificuldade Não há redução do tempo
de viagem, (ix) Sensação de insegurança, (x) Horário de funcionamento limitado e (xi)
Dificuldade de embarque/desembarque, conforme apresentado na FIG. 6.22.
94
FIG. 6. 23 Escala de importância de aspectos que podem ter influenciado a escolha de
não utilizar o teleférico
Para compreender quais dificuldades o entrevistado teria ao se deslocar pela comunidade
até chegar ao teleférico, também foram listados aspectos para que o respondente graduasse
entre “Dificulta muito” e “Não dificulta”. Os fatores enumerados pelos entrevistados em
ordem de importância são: (i) Inclinação do trajeto, (ii) Excesso de escadas/degraus, (iii)
Carros/motos estacionados, (iv) Sujeira/lixo no trajeto, (v) Falta de iluminação no trajeto, (vi)
Insegurança, (vii) Rua com buracos, (viii) Entulho no trajeto, (ix) Inexistência de calçadas, (x)
Obstrução por vegetação (“matagal”), (xi) Obstruções no caminho (postes, latas de lixo), (xii)
Rua sem pavimentação e (xiii) Falta de policiamento, conforme resultado apresentado na FIG.
6.24.
95
FIG. 6. 24 Nível de dificuldade de aspectos que atrapalhariam o trajeto até o teleférico
Os entrevistados foram questionados com relação ao possível uso do teleférico no futuro.
A maioria das pessoas entrevistadas respondeu que usaria (35%). Porém, cerca de 40% dos
entrevistados responderam de maneira negativa a possibilidade de usar o transporte, segundo
a FIG. 6.25. Devido a este alto índice, os entrevistados foram questionados sobre os fatores
que poderiam aumentar as chances de utilização do Teleférico do Alemão. Os fatores
enumerados pelos respondentes em ordem de importância são: (i) Melhorar os meios de
acesso às estações, (ii) Construção de mais estações, (iii) Integração com o metrô – Estação
Inhaúma e (iv) Integração com o metrô – Estação Eng. da Rainha, conforme apresentado na
FIG. 6.26.
FIG. 6. 25 Possibilidade de utilização do Teleférico do Alemão no futuro
96
FIG. 6. 26 Escala de importância dos aspectos que podem aumentar as chances de uso do teleférico
É interessante notar que, apesar da amostra ser composta por não usuários do sistema, os
resultados apresentados na FIG. 6.27 mostram que o teleférico agradou a 33% dos
entrevistados. Entretanto, para 28% dos entrevistados, o modal de transporte deveria ser
substituído por escadas rolantes. Ressalta-se, mais uma vez, que a escada rolante seria uma
alternativa a complementar o serviço oferecido ao sistema do teleférico, de modo a facilitar o
acesso a estações ou melhorar a oferta de transportes em áreas onde o serviço não é oferecido,
e não de forma concorrente como entendido pelos entrevistados.
FIG. 6. 27 Preferências de modos de transporte para substituir o sistema de teleférico
Enfim, foi solicitado aos entrevistados que deixassem alguma crítica ou sugestão ao
sistema de teleférico. A reclamação com maior grau de incidência se refere à melhoria do
97
acesso às estações com a instalação de escadas rolantes, apontada por 7% dos entrevistados.
As demais reclamações feitas são: ar-condicionado nas gôndolas (5%), levar o teleférico até a
Penha (5%), música nas gôndolas (5%), integração com van (3%), melhorar o acesso com
elevador (2%), não devia ter sido construído (2%), reduzir o preço da passagem (2%), reduzir
a velocidade de embarque/desembarque (2%), ampliar o horário de funcionamento (4hrs a
meia-noite) (2%), fazer uma estação próxima ao C. E. Olga Benário Prestes (2%) e
funcionamento 24hrs (2%). Porém, a maioria (61%) respondeu não haver críticas ao
transporte.
6.3. ANÁLISE COMPARATIVA DAS PERCEPÇÕES DOS PASSAGEIROS E NÃO
USUÁRIOS DO SISTEMA
A presença de mulheres é predominante tanto no grupo de respondentes que utilizam o
sistema do teleférico quanto para os não usuários, sendo 63% entre os usuários e 57% entre os
não usuários. Os passageiros do teleférico possuem, em sua maioria, idade variando entre 30 e
49 anos (44%), já 40% dos não usuários são jovens com idade entre 10 e 29 anos. A maioria
dos entrevistados possui até o ensino médio (87% usuários e 94% não usuários) e tem o
Complexo do Alemão como destino de sua viagem (89% dos usuários e 22% dos não
usuários). Segundo os usuários, o motivo da realização da viagem é retornar para casa (82%),
mas para os não usuários fazer compras é a principal motivação das viagens que realizam
(30%). Para 29% dos passageiros do teleférico, a viagem teve início em Bonsucesso,
enquanto para 92% dos não usuários, o Complexo do Alemão foi o ponto de partida do seu
deslocamento.
Foi questionada a opinião dos usuários e dos não usuários do sistema do teleférico sobre a
qualidade do serviço prestado e os “Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico”, com o
intuito de verificar se estes fatores têm influência na decisão de utilizar o sistema. De forma a
determinar as possíveis diferenças no julgamento dos passageiros e dos não usuários do
teleférico, realizou-se o Teste T, com auxílio do software IBM SPSS Statistics 22, com o
objetivo de determinar a existência de uma diferença expressiva entre as médias obtidas para
cada grupo, adotando-se o nível de significância de 5%.
98
• O grau de satisfação com a qualidade do serviço prestado pelo Teleférico do Alemão
apresentou diferenças significativas de percepção entre passageiros e não usuários (TAB.
6.1). Conforme esperado, aqueles que estão mais satisfeitos com o sistema tendem a
utilizá-lo em seus deslocamentos. O serviço foi considerado ótimo pelos passageiros e
bom por aqueles que não utilizam o teleférico.
• Com relação aos “Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico”, apenas os critérios
“inclinação do trajeto” e “excesso de escadas/degraus” apresentaram diferenças
significativas em relação ao julgamento dos usuários e não usuários do sistema (TAB.
6.2).
• Os não usuários mostraram maior insatisfação com o greide elevado e com os inúmeros
degraus, que dificultam o acesso até a estação mais próxima de sua residência.
• Não foram observadas diferenças na opinião dos passageiros e dos não usuários com
relação aos demais aspectos que dificultam o acesso ao teleférico (insegurança,
obstruções, falta de iluminação, problemas na pavimentação e existência de calçadas),
evidenciando assim a importância de facilitar o acesso às estações para aumentar a
demanda pelo teleférico. Isto pode ser realizado pela instalação de escadas rolantes ou
mesmo com a integração do Teleférico do Alemão com o sistema de kombis (cabritinhos)
e moto-táxi.
TAB. 6. 1 Classificação do serviço prestado
Variável Sig Média
Usuário Não usuário
Classificação do teleférico 0,000 4,59 3,51
TAB. 6. 2 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico
Variável Sig Média
Usuário Não usuário
Inclinação do trajeto 0,015 2,56 3,46 Excesso de escadas/degraus 0,003 2,38 3,35
6.4. ANÁLISE DOS RESULTADOS DE ACORDO COM AS CARACTERÍSTICAS DOS
PASSAGEIROS
99
A análise das respostas foi realizada de acordo com as variáveis dos respondentes, de
modo a possibilitar a determinação das diferenças no julgamento em relação às características
dos passageiros. Foram consideradas as seguintes variáveis e categorias constituintes para a
caracterização dos passageiros: 1. Sexo (Masculino e Feminino); 2. Faixa etária (10 a 29 anos;
30 a 49 anos; 50 anos ou mais); 3. Escolaridade (sem instrução; até ens. médio, a partir do
ens. superior); 4. Uso do teleférico por semana (diariamente; de 3 a 5 vezes; de 1 a 2 vezes;
raramente; não respondeu).
A pesquisa foi efetuada com auxílio do software IBM SPSS Statistics 22. Para as
variáveis com duas categorias (sexo), foi realizado o Teste T, com o objetivo de determinar a
existência de uma diferença expressiva entre as médias obtidas para cada uma das distintas
categorias das variáveis, adotando-se o nível de significância de 5%. Para variáveis com mais
de duas categorias (faixa etária, escolaridade, uso do teleférico por semana), optou-se por
realizar a análise de variância (ANOVA), adotando também o nível de significância de 5%.
6.4.1. SEXO
O gênero não parece influenciar o motivo e nem o local de destino das viagens realizadas
pelos respondentes. A maioria das mulheres (84%) e dos homens (78%) que participou da
pesquisa realiza viagens pendulares, tendo como principal destino o Complexo do Alemão
(92% das mulheres e 84% dos homens). Isto pode ser explicado pelo fato de a coleta de dados
ter sido realizada no pico vespertino, quando os passageiros retornavam às suas residências.
Ainda, independentemente do gênero do passageiro, a caminhada é o principal modo de
acesso às estações do teleférico (82% das mulheres e 78% dos homens).
A opinião dos usuários sobre a qualidade do serviço prestado pelo teleférico não é
influenciada por questões de gênero. No que se refere à variável “Sexo”, também não houve
diferenças significativas em relação à percepção dos usuários sobre os “Aspectos que
influenciam o uso do teleférico” e nem sobre a percepção dos usuários sobre a “Facilidade de
acesso às estações”.
• Entretanto, quanto aos “Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico”, a insegurança foi
o único fator que apresentou diferenças significativas de percepção entre homens e
100
mulheres (TAB. 6.3), tendo as mulheres entrevistadas atribuído maior grau de importância
à questão da segurança.
• O único critério referente aos “Aspectos importantes para a escolha do trajeto à estação”
que apresentou diferença significativa em relação à variável “Sexo” foi a questão da
“Menor inclinação na rua”. Para as mulheres entrevistadas, a inclinação das ruas é um
fator importante para a escolha do caminho a percorrer entre teleférico x residência e vice-
versa (TAB. 6.4).
TAB. 6. 3 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico
Variáveis Sig Média
Feminino Masculino
Insegurança 0,030 2,900 2,140
TAB. 6. 4 Aspectos importantes para escolha do trajeto à estação
Variáveis Sig Média
Feminino Masculino
Menor inclinação na rua 0,040 4,060 3,460
6.4.2. FAIXA ETÁRIA
O retorno para a casa é apontado como o principal motivo de viagem para todas as faixas
etárias (78% dos usuários entre 10 e 29 anos; 84% entre 30 e 49 anos; e 87% com 50 anos ou
mais), sendo o Complexo do Alemão o principal destino do deslocamento realizado por todos
os passageiros, independentemente de sua idade (93% dos usuários entre 10 e 29 anos; 93%
entre 30 e 49 anos; 93% com 50 anos ou mais). A faixa etária dos passageiros também não
influencia o modo de acesso às estações do teleférico. De 80% a 83% dos passageiros de
todas as faixas etárias se deslocam a pé até as estações, demorando, em média, 10 minutos
para realizar este percurso.
No que se refere à variável “Faixa Etária”, não houve diferenças significativas em relação
à percepção dos usuários sobre os “Aspectos que influenciam o uso do teleférico” e nem
sobre a percepção dos usuários sobre a “Facilidade de acesso às estações”. A opinião dos
usuários sobre a qualidade do serviço prestado pelo teleférico também não é influenciada por
sua idade, assim como os “Aspectos importantes na escolha do trajeto às estações”.
101
A TAB. 6.5 apresenta as variáveis com diferenças significativas para as diferentes faixas
etárias, de acordo com os resultados do Teste ANOVA, para os “Aspectos que dificultam o
acesso às estações”. Para complementar a análise destes itens, realizou-se o teste Post Hoc,
que é mais preciso e capaz de identificar as categorias divergentes, sendo os resultados
apresentados na TAB. 6.6.
• Verificou-se que os respondentes com idade acima de 50 são mais exigentes na avaliação
com relação aos “aspectos que dificultam o acesso às estações”. As avaliações desta faixa
etária apresentaram diferenças significativas com relação às demais, considerando que os
fatores “ruas não asfaltadas”, “presença de veículos (carros e motos) estacionados de
maneira irregular” e “presença de postes e latas de lixo instaladas incorretamente” têm
maior impacto na dificuldade de acesso às estações. Este resultado era esperado, pois com
a idade mais avançada, mais difícil se torna a mobilidade dos usuários e estes critérios
passam a ter um impacto maior no acesso às estações. A falta de um revestimento
adequado, por exemplo, prejudica a caminhada em dias de chuva.
TAB. 6. 5 Aspectos que dificultam o acesso às estações (teste ANOVA)
Variáveis Sig
Rua sem pavimentação 0,048 Carros/motos estacionados 0,015 Obstruções no caminho (postes, latas de lixo) 0,015
TAB. 6. 6 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico (teste Post Hoc)
Variável (I) Faixa etária (J) Faixa etária Sig Média
10 a 29 anos 30 a 49 anos 50 anos ou mais
Rua sem pavimentação
10 a 29 anos 30 a 49 anos 0,509
2,00 2,20 3,07
50 anos ou mais 0,015
30 a 49 anos 10 a 29 anos 0,509
50 anos ou mais 0,045
50 anos ou mais 10 a 29 anos 0,015 30 a 40 anos 0,045
Carros/motos estacionados
10 a 29 anos 30 a 49 anos 0,348
2,12 2,48 3,67
50 anos ou mais 0,004
30 a 49 anos 10 a 29 anos 0,348
50 anos ou mais 0,024
50 anos ou mais 10 a 29 anos 0,004 30 a 40 anos 0,024
Obstruções no caminho (postes,
latas de lixo)
10 a 29 anos 30 a 49 anos 0,536
1,76 1,59 2,67
50 anos ou mais 0,016
30 a 49 anos 10 a 29 anos 0,536
50 anos ou mais 0,004
50 anos ou mais 10 a 29 anos 0,016 30 a 40 anos 0,004
102
6.4.3. ESCOLARIDADE
O grau de escolaridade não influencia o motivo e nem o local de destino das viagens
realizadas pelos respondentes. Retornar a residência foi o motivo de viagem mais relatado por
todos os graus de escolaridade (100% dos usuários sem escolaridade; 83% dos que possuem
até o ensino médio; e 70% que estão cursando a partir do ensino superior), tendo o Complexo
do Alemão o principal destino do deslocamento realizado (100% dos usuários sem
escolaridade; 93% dos que possuem até o ensino médio; e 90% que estão cursando a partir do
ensino superior). A escolaridade dos usuários também não induz o modo de acesso às
estações do teleférico. De 70% a 83% dos passageiros de todos os graus de escolaridade
caminham até as estações, demorando cerca de 10 minutos para realizar este percurso.
De acordo com os resultados do Teste ANOVA, a variável “Escolaridade” não influencia
a opinião dos usuários sobre a “Facilidade de acesso às estações”, sobre os “Aspectos
importantes para a escolha do trajeto à estação”, os “Aspectos que influenciam no uso do
teleférico”, sobre os “Aspectos que dificultam o acesso às estações”, e nem com relação à
“qualidade do serviço prestado pelo teleférico”.
6.4.4. USO DO TELEFÉRICO POR SEMANA
O retorno para a casa é apontado como o principal motivo de viagem para os passageiros
que utilizam o teleférico com alguma regularidade (92% dos passageiros que usam
diariamente; 91% de 3 a 5 vezes por semana; e 87% de 1 a 2 vezes por semana). Entretanto, é
importante destacar que a maioria dos entrevistados que raramente usam o transporte (40%)
declarou que o motivo da viagem era fazer turismo, apontando que a maioria de passageiros
deste estratoéformada por visitantes.
O Complexo do Alemão é o principal destino do deslocamento realizado por todos os
passageiros, independentemente da frequência de uso do transporte (92% diariamente; 95%
de 3 a 5 vezes por semana; 93% de 1 a 2 vezes por semana; e 93% raramente). A variável
“Uso do teleférico por semana” também não influencia o modo de acesso às estações do
teleférico. Para os diferentes estratos, a maioria dos usuários (60% a 100% dos passageiros
103
das variadas frequências de utilização) se desloca a pé até as estações, demorando, em média,
10 minutos para realizar este percurso.
No que se refere à variável “Uso do teleférico por semana”, não houve diferenças
significativas em relação à percepção dos usuários sobre os “Aspectos importantes na escolha
do trajeto às estações”e nem a respeito da qualidade do serviço prestado pelo teleférico.
As tabelas TAB. 6.7, 6.8 e 6.9 apresentam as variáveis com diferenças significativas para
as diferentes frequências de uso do teleférico, de acordo com os resultados do Teste ANOVA,
para os “Aspectos que influenciam o uso do teleférico”, “Facilidade de acesso às estações” e
“Aspectos que dificultam o acesso às estações”. Para complementar a análise destes itens,
realizou-se o teste Post Hoc, cujos resultados são apresentados nas TAB. 6.10, 6.11 e 6.12.
TAB. 6. 7 Aspectos que influenciam o uso do teleférico (teste ANOVA)
Variáveis Sig
Redução do tempo de viagem 0,000 Facilidade de acesso às estações 0,021 Conforto no transporte 0,011 Frequência/disponibilidade de horários 0,027 Segurança 0,003
TAB. 6. 8 Facilidade de acesso às estações (teste ANOVA)
Variáveis Sig
Classificação da chegada ao teleférico 0,000
TAB. 6. 9 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico (teste ANOVA)
Variáveis Sig
Inclinação do trajeto 0,020 Inexistência de calçadas 0,025 Obstruções no caminho (postes, latas de lixo) 0,050
Observa-se, a partir dos resultados da TAB. 6.10, que há uma correlação entre o grau de
importância atribuído aos “aspectos que influenciam o uso do teleférico” e a frequência com
que os respondentes utilizam o sistema.
• Os usuários que fazem uso frequente do teleférico consideram que as variáveis “redução
do tempo de viagem”, “facilidade de acesso às estações”, “conforto no transporte”,
“freqüência/disponibilidade de horários” e “segurança” têm maior importância e
influência em sua escolha para utilizar o teleférico como modo de transporte em seus
104
deslocamentos diários. Esse resultado está de acordo com o esperado, pois aqueles que
têm melhor percepção do serviço prestado tendem a utilizá-lo com maior regularidade.
• De fato, conforme pode ser verificado a partir dos resultados apresentados na TAB. 6.11,
os respondentes que utilizam o sistema com maior frequência estão mais satisfeitos com
relação à facilidade de acesso às estações. Conclui-se, então, que os usuários com maior
facilidade de acesso ao sistema são de fato aqueles que mais o utilizam.
TAB. 6. 10 Aspectos que influenciam o uso do teleférico (teste Post Hoc)
Variável
(I) Uso do
teleférico por
semana
(J) Uso do
teleférico por
semana
Sig
Média
Diariamente De 3 a 5
vezes
De 1 a 2
vezes Raramente
Redução do tempo de viagem
Diariamente De 3 a 5 vezes 0,869
4,65 4,68 4,33 3,40
De 1 a 2 vezes 0,215 Raramente 0,000
De 3 a 5 vezes Diariamente 0,869
De 1 a 2 vezes 0,222 Raramente 0,000
De 1 a 2 vezes Diariamente 0,215
De 3 a 5 vezes 0,222 Raramente 0,003
Raramente Diariamente 0,000
De 3 a 5 vezes 0,000 De 1 a 2 vezes 0,003
Facilidade de acesso às estações
Diariamente De 3 a 5 vezes 0,772
4,27 4,18 3,80 3,20
De 1 a 2 vezes 0,184 Raramente 0,003
De 3 a 5 vezes Diariamente 0,772
De 1 a 2 vezes 0,340 Raramente 0,015
De 1 a 2 vezes Diariamente 0,184
De 3 a 5 vezes 0,340 Raramente 0,170
Raramente Diariamente 0,003
De 3 a 5 vezes 0,015 De 1 a 2 vezes 0,170
Conforto no transporte
Diariamente De 3 a 5 vezes 0,201
4,50 4,18 4,33 3,53
De 1 a 2 vezes 0,558 Raramente 0,001
De 3 a 5 vezes Diariamente 0,201
De 1 a 2 vezes 0,638 Raramente 0,046
De 1 a 2 vezes Diariamente 0,558
De 3 a 5 vezes 0,638 Raramente 0,025
Raramente Diariamente 0,001
De 3 a 5 vezes 0,046 De 1 a 2 vezes 0,025
Frequência/disponibilidade de
horário
Diariamente De 3 a 5 vezes 0,296
4,44 4,18 4,80 3,80
De 1 a 2 vezes 0,198 Raramente 0,025
De 3 a 5 vezes Diariamente 0,296
De 1 a 2 vezes 0,054 Raramente 0,231
De 1 a 2 vezes Diariamente 0,198
De 3 a 5 vezes 0,054
105
Variável
(I) Uso do
teleférico por
semana
(J) Uso do
teleférico por
semana
Sig
Média
Diariamente De 3 a 5
vezes
De 1 a 2
vezes Raramente
Raramente 0,005
Raramente Diariamente 0,025
De 3 a 5 vezes 0,231 De 1 a 2 vezes 0,005
Segurança
Diariamente De 3 a 5 vezes 0,651
4,08 3,95 4,47 3,00
De 1 a 2 vezes 0,242 Raramente 0,001
De 3 a 5 vezes Diariamente 0,651
De 1 a 2 vezes 0,168 Raramente 0,011
De 1 a 2 vezes Diariamente 0,242
De 3 a 5 vezes 0,168 Raramente 0,000
Raramente Diariamente 0,001
De 3 a 5 vezes 0,011 De 1 a 2 vezes 0,000
TAB. 6. 11 Facilidade de acesso às estações (teste Post Hoc)
Variável
(I) Uso do
teleférico por
semana
(J) Uso do
teleférico por
semana
Sig
Média
Diariamente De 3 a 5
vezes
De 1 a 2
vezes Raramente
Facilidade de acessoàs estações
Diariamente De 3 a 5 vezes 0,036
4,25 3,64 4,20 2,40
De 1 a 2 vezes 0,880 Raramente 0,000
De 3 a 5 vezes Diariamente 0,036
De 1 a 2 vezes 0,136 Raramente 0,001
De 1 a 2 vezes Diariamente 0,880
De 3 a 5 vezes 0,136 Raramente 0,000
Raramente Diariamente 0,000
De 3 a 5 vezes 0,001 De 1 a 2 vezes 0,000
• A TAB. 6.12 apresenta as diferenças significativas em relação aos “Aspectos que
dificultam o acesso ao teleférico”. Para os itens “inclinação do trajeto”, “inexistência de
calçadas”, “obstruções no caminho (postes, latas de lixo)”, os entrevistados alegaram
pouca dificuldade nestes aspectos, independente da frequência de utilização do transporte.
Acredita-se que as vias percorridas por eles estejam em bom estado de conservação e não
apresentam inclinação elevada, permitindo a caminhada.
TAB. 6. 12 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico (teste Post Hoc)
Variável
(I) Uso do
teleférico por
semana
(J) Uso do
teleférico por
semana
Sig
Média
Diariamente De 3 a 5
vezes
De 1 a 2
vezes Raramente
Inclinação do trajeto
Diariamente De 3 a 5 vezes 0,039
2,29 3,18 1,80 3,27 De 1 a 2 vezes 0,317
Raramente 0,049
De 3 a 5 vezes Diariamente 0,039
De 1 a 2 vezes 0,014
106
Variável
(I) Uso do
teleférico por
semana
(J) Uso do
teleférico por
semana
Sig
Média
Diariamente De 3 a 5
vezes
De 1 a 2
vezes Raramente
Raramente 0,879
De 1 a 2 vezes Diariamente 0,317
De 3 a 5 vezes 0,014 Raramente 0,017
Raramente Diariamente 0,049
De 3 a 5 vezes 0,879 De 1 a 2 vezes 0,017
Inexistência de calçadas
Diariamente De 3 a 5 vezes 0,068
2,21 1,55 1,67 2,87
De 1 a 2 vezes 0,192 Raramente 0,114
De 3 a 5 vezes Diariamente 0,068
De 1 a 2 vezes 0,796 Raramente 0,006
De 1 a 2 vezes Diariamente 0,192
De 3 a 5 vezes 0,796 Raramente 0,020
Raramente Diariamente 0,114
De 3 a 5 vezes 0,006 De 1 a 2 vezes 0,020
Obstruções no caminho (postes,
latas de lixo)
Diariamente De 3 a 5 vezes 0,140
1,79 1,32 2,00 2,47
De 1 a 2 vezes 0,570 Raramente 0,068
De 3 a 5 vezes Diariamente 0,140
De 1 a 2 vezes 0,102 Raramente 0,007
De 1 a 2 vezes Diariamente 0,570
De 3 a 5 vezes 0,102 Raramente 0,303
Raramente Diariamente 0,068
De 3 a 5 vezes 0,007 De 1 a 2 vezes 0,303
6.5. ANÁLISE DOS RESULTADOS DE ACORDO COM AS CARACTERÍSTICAS DOS
RESPONDENTES QUE NÃO UTILIZAM O SISTEMA DE TELEFÉRICO
A análise das respostas foi realizada de acordo com as variáveis dos respondentes, de
modo a possibilitar a determinação das diferenças no julgamento em relação às características
dos passageiros. Foram consideradas as seguintes variáveis e categorias constituintes para a
caracterização dos não usuários: 1. Sexo (Masculino e Feminino); 2. Faixa etária (10 a 29
anos; 30 a 49 anos; 50 anos ou mais); 3. Escolaridade (sem instrução; até ens. médio, a partir
ens. superior); 4. Veículo (não possui; carro; moto; bicicleta; e van).
A pesquisa foi efetuada com auxílio do software IBM SPSS Statistics 22. Para as
variáveis com duas categorias (sexo), foi realizado o Teste T, com o objetivo de determinar a
existência de uma diferença expressiva entre as médias obtidas para cada uma das distintas
107
categorias das variáveis, adotando-se o nível de significância de 5%. Para variáveis com mais
de duas categorias (faixa etária, escolaridade e veículo), optou-se por realizar a análise de
variância (ANOVA), adotando também o nível de significância de 5%.
6.5.1. SEXO
O gênero influencia o motivo e o local de destino das viagens realizadas pelos
respondentes. A maioria das mulheres (38%) afirmaram realizar viagens para fazer compras,
já os homens dividiram as respostas em três motivos: compras (19%), trabalho (19%) e visitar
parentes (19%). O Complexo do Alemão é o principal destino para 38% dos homens, porém
as respondentes do sexo feminino relataram como destinos Madureira e Olaria, ambos com
14% das respostas. Ainda, independentemente do gênero do passageiro, a caminhada é o
principal modo de deslocamento no interior da favela (100% das mulheres e 59% dos
homens), demorando, em média, até 10 minutos para percorrê-lo.
No que se refere a variável “Sexo”, não houve diferenças significativas em relação à
percepção dos usuários sobre os “Aspectos que aumentam as chances de uso do teleférico” e
nem sobre a qualidade do serviço prestado pelo teleférico.
• Entretanto, quanto aos “Aspectos que influenciam a não utilizar o teleférico”, a restrição
de mobilidade (idoso, portadores de necessidades especiais, crianças etc) foi o único fator
que apresentou diferenças significativas de percepção entre homens e mulheres (TAB.
6.13), tendo os homens entrevistados atribuído maior grau de importância a esta questão,
pois a maioria dos entrevistados possui idade elevada e podem apresentar algum tipo de
dificuldade de locomoção que impeça o uso do transporte.
• Por sua vez, os critérios referentes aos “Aspectos dificultam o acesso às estações” que
apresentaram diferenças significativas em relação à variável “Sexo” foram as questões de
“Inclinação do trajeto” e “Sujeira/lixo no trajeto”. Para as mulheres entrevistadas, ruas
muito íngremes e com sujeira dificultam o deslocamento para acessar as estações do
teleférico (TAB. 6.14). Este resultado está em concordância com as respostas dadas pelos
usuários do sistema, cujas respondentes mulheres também declararam procurar vias com
menor inclinação em seus trajetos até as estações (TAB. 6.3).
108
TAB. 6. 13 Aspectos que influenciam a não utilizar o teleférico
Variáveis Sig Média
Feminino Masculino
Restrição de mobilidade (idoso, PNE, criança) 0,002 2,190 3,500
TAB. 6. 14 Aspectos que dificultam o acesso às estações
Variáveis Sig Média
Feminino Masculino
Inclinação do trajeto 0,019 4,100 2,630 Sujeira/lixo no trajeto 0,046 3,570 2,440
6.5.2. FAIXA ETÁRIA
Fazer compras é apontado como o principal motivo de viagem para todas as faixas etárias
(27% dos usuários entre 10 e 29 anos; 37% entre 30 e 49 anos; e 28% com 50 anos ou mais),
porém houve variação dos destinos destas viagens, prevalecendo o Complexo do Alemão
(40% dos usuários entre 10 e 29 anos), Olaria (28% entre 30 e 49 anos) e Centro (28% com
50 anos ou mais) como os locais mais citados. A faixa etária dos passageiros não influencia o
modo como se deslocam por dentro do Complexo do Alemão. De 69% a 91% dos passageiros
de todas as faixas etárias se deslocam a pé até as estações, demorando, em média, 10 minutos
para realizar este percurso.
No que se refere à variável “Faixa Etária”, não houve diferenças significativas em relação
à percepção dos usuários sobre os “Aspectos que dificultam o acesso às estações” e nem sobre
a qualidade do serviço prestado pelo teleférico.
As tabelas TAB. 6.15 e 6.16 apresentam as variáveis com diferenças significativas para
as diferentes faixas etárias, de acordo com os resultados do teste ANOVA, para os “Aspectos
que influenciam a não utilizar o teleférico” e “Aspectos que aumentam as chances de uso do
teleférico”. Para complementar a análise destes itens, realizou-se o teste Post Hoc, cujos
resultados são apresentados na TAB. 6.17 e 6.18.
TAB. 6. 15 Aspectos que influenciam a não utilizar o teleférico (teste ANOVA)
Variáveis Sig
Preço da passagem 0,019 Possui outro modo de locomoção 0,031 Medo de altura 0,013
109
TAB. 6. 16 Aspectos que aumentam as chances de uso do teleférico (teste ANOVA)
Variáveis Sig
Construção de mais estações 0,001 Integração com metrô: estação Inhaúma 0,006 Melhoria das vias de acesso 0,000
• Verifica-se, a partir dos resultados apresentados na TAB. 6.17, que o preço da passagem e
possuir outro modo de locomoção são fatores importantes para os respondentes com
idades entre 10 a 29 anos se afastarem do uso do teleférico, indicando que a presença de
outros modais facilita o deslocamento pela favela, além do custo elevado da passagem,
cujo valor é de R$ 5,00 para pagamento em dinheiro, que sobrecarrega a renda familiar
por não serem cadastrados e não possuírem o direito de usufruir de passagens gratuitas.
• Entretanto, usuários com idade mais avançada mostraram-se mais temerosos com relação
à questão da altura. O estrato de respondentes com mais de 50 anos considerou o medo de
altura como um aspecto importante que os influencia a não utilizar o teleférico.
TAB. 6. 17 Aspectos que influenciam a não utilizar o teleférico (teste Post Hoc)
Variável (I) Faixa etária (J) Faixa etária Sig Média
10 a 29 anos 30 a 49 anos 50 anos ou mais
Preço da passagem
10 a 29 anos 30 a 49 anos 0,025
3,93 2,64 2,45
50 anos ou mais 0,012
30 a 49 anos 10 a 29 anos 0,025
50 anos ou mais 0,762
50 anos ou mais 10 a 29 anos 0,012 30 a 49 anos 0,762
Possui outro modo de locomoção
10 a 29 anos 30 a 49 anos 0,039
3,53 2,45 2,27
50 anos ou mais 0,017
30 a 49 anos 10 a 29 anos 0,039
50 anos ou mais 0,739
50 anos ou mais 10 a 29 anos 0,017 30 a 49 anos 0,739
Medo de altura
10 a 29 anos 30 a 49 anos 0,012
2,87 3,49 3,91
50 anos ou mais 0,012
30 a 49 anos 10 a 29 anos 0,012
50 anos ou mais 1,000
50 anos ou mais 10 a 29 anos 0,012 30 a 49 anos 1,000
• Observa-se também que mudanças no sistema atrairiam usuários mais jovens a utilizar o
teleférico como meio de transporte. Para os usuários mais jovens, a “construção de mais
estações”, a “integração com o metrô/estação Inhaúma” e “melhoria das vias de acesso”
aumentariam consideravelmente a atratividade do teleférico como meio de transporte.
Entretanto, quanto maior a faixa etária do respondente, menor era o peso atribuído a estas
variáveis (TAB. 6.18).
110
TAB. 6. 18 Aspectos que aumentariam as chances de usar o teleférico (teste Post Hoc)
Variável (I) Faixa etária (J) Faixa etária Sig Média
10 a 29 anos 30 a 49 anos 50 anos ou mais
Construção de mais estações
10 a 29 anos 30 a 49 anos 0,000
4,00 1,36 2,64
50 anos ou mais 0,037
30 a 49 anos 10 a 29 anos 0,000
50 anos ou mais 0,068
50 anos ou mais 10 a 29 anos 0,037 30 a 49 anos 0,068
Integração com metrô: estação Inhaúma
10 a 29 anos 30 a 49 anos 0,002
3,93 1,73 3,36
50 anos ou mais 0,383
30 a 49 anos 10 a 29 anos 0,002
50 anos ou mais 0,024
50 anos ou mais 10 a 29 anos 0,383 30 a 49 anos 0,024
Melhoria das vias de acesso
10 a 29 anos 30 a 49 anos 0,000
4,27 1,55 3,27
50 anos ou mais 0,094
30 a 49 anos 10 a 29 anos 0,000
50 anos ou mais 0,009
50 anos ou mais 10 a 29 anos 0,094 30 a 49 anos 0,009
6.5.3. ESCOLARIDADE
O grau de escolaridade não influencia o motivo e o local de destino das viagens
realizadas pelos respondentes que não utilizam o teleférico. Fazer compras foi o principal
motivo declarado para realização do deslocamento, sendo o Complexo do Alemão o destino
mais citado. A escolaridade dos usuários também não induz o modo de deslocamento no
interior da comunidade. De 81% a 100% dos passageiros de todos os graus de escolaridade
caminham no interior do Complexo do Alemão, demorando cerca de 10 minutos para realizar
o percurso.
No que se refere à variável “Escolaridade”, não houve diferenças significativas sobre a
percepção dos usuários em relação aos “Aspectos que influenciam a não utilizar o teleférico”,
“Aspectos que dificultam o acesso às estações” e “Aspectos que aumentariam as chances de
uso do teleférico”. A opinião dos passageiros sobre a qualidade do serviço prestado pelo
teleférico também não é influenciada pela escolaridade. É importante destacar que o grau de
escolaridade não influenciou a percepção dos respondentes que utilizam o teleférico em seus
deslocamentos.
111
6.5.4. VEÍCULO
A posse de veículos influencia o motivo e o local das viagens realizadas pelos
entrevistados que não fazem uso do sistema do teleférico. Quem não possui veículo declarou
fazer compras como principal motivo de viagens (30%), sendo este também relatado por 40%
dos usuários com bicicletas. Os entrevistados que dispõem de carros responderam três
motivos diferentes, sendo eles: compras (25%), pagar contas (25%) e trabalho (25%). Olaria
(15%) e Complexo do Alemão (15%) foram os destinos mais citados pelos entrevistados sem
posse de veículo. O Complexo do Alemão também é local de destino de 80% das portadores
de bicicleta, enquanto Bonsucesso, Engenho da Rainha, Inhaúma e Madureira receberam
25%, cada, das respostas daqueles que possuem carro.
O fato de “possuir veículo” não induz o modo de deslocamento no interior da
comunidade. A maioria dos passageiros que não possuem veículo (93%), dos que possuem
carro (75%) e dos portadores bicicleta (40%) se desloca a pé pela favela. Porém, 40% dos que
têm bicicleta a utilizam para realizar o percurso. A maioria dos usuários respondeu demorar,
em média, 10 minutos para realizá-lo (48% dos passageiros sem veículo; 80% com bicicleta;
e 100% com carro).
No que se refere à variável “Veículo”, não houve diferenças significativas em relação à
percepção dos usuários sobre os “Aspectos que aumentam as chances de uso do teleférico”e
nem sobre a qualidade do serviço prestado pelo teleférico. Contudo, apresentou diferenças
significativas, de acordo com os resultados do teste ANOVA, para os “Aspectos que
influenciam a não utilizar o teleférico” e “Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico”,
conforme apresentado na TAB. 6.19 e 6.20. Para complementar a análise destes itens,
realizou-se o teste Post Hoc, cujos resultados são apresentados na TAB. 6.21 e 6.22.
• A dificuldade em acessar às estações é um fator importante na decisão dos respondentes
com carro em não utilizar o teleférico, destacando a influência do relevo acidentado da
região na escolha dos entrevistados que possuem outra alternativa para realizar seu
deslocamento. Entretanto, para quem possui bicicleta, a impossibilidade de transportar
carga no teleférico foi um aspecto importante para não utilizar o transporte. Acredita-se
que o motivo seja a impossibilidade de transportar sua bicicleta no teleférico e depois
continuar seu deslocamento pedalando (TAB. 6.21).
112
• De acordo com os resultados apresentados na TAB. 6.22, a inclinação do trajeto foi um
fator muito importante na decisão dos entrevistados com carro em não usar o teleférico. O
relevo acidentado da região influenciou bastante nessa decisão, porque dificulta tanto o
deslocamento por caminhada quanto percurso com carro.
TAB. 6. 19 Aspectos que influenciam a não utilizar o teleférico (teste ANOVA)
Variáveis Sig
Dificuldade de acesso às estações 0,012 Impossibilidade de transportar carga 0,045
TAB. 6. 20 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico (teste ANOVA)
Variáveis Sig
Inclinação do trajeto 0,007
TAB. 6. 21 Aspectos que influenciam a não utilizar o teleférico (teste Post Hoc)
Variável (I) Veículo (J) Veículo Sig Média
Não possui Carro Bicicleta
Dificuldade de acesso às estações
Não possui Carro 0,017
2,85 4,60 1,80
Bicicleta 0,140
Carro Não possui 0,017 Bicicleta 0,004
Bicicleta Não possui 0,140
Carro 0,004
Impossibilidade de transportar carga
Não possui Carro 0,056
2,70 1,40 3,60
Bicicleta 0,182
Carro Não possui 0,056 Bicicleta 0,015
Bicicleta Não possui 0,182
Carro 0,015
TAB. 6. 22 Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico (teste Post Hoc)
Variável (I) Veículo (J) Veículo Sig Média
Não possui Carro Bicicleta
Inclinação do trajeto
Não possui Carro 0,093
3,56 5,00 1,40
Bicicleta 0,014
Carro Não possui 0,093 Bicicleta 0,002
Bicicleta Não possui 0,014
Carro 0,002
6.6. ANÁLISE DOS RESULTADOS DE ACORDO COM AS ESTAÇÕES DE
EMBARQUE E DESEMBARQUE
113
Para a avaliação do entorno das estações que compõem o sistema do Teleférico do
Alemão, foram entrevistados grupos de 20 passageiros por estação, com a exclusão da estação
Bonsucesso, por ser integrada aos trens urbanos e não atender exclusivamente o Complexo do
Alemão. A cada entrevistado era apresentado um mapa do entorno das estações, dividido em
quadrículas, para que o mesmo indicasse o local aproximado de origem/destino de sua
viagem, mantendo a privacidade do lugar de moradia do passageiro e permitindo traçar a área
de influência de cada estação, que pode ser definida como uma delimitação par o alcance do
atendimento da maior parte de sua demanda. Os raios destas áreas foram obtidos com o
auxílio do software TransCAD e apresentados na TAB. 6.23.
TAB. 6. 23 Raio de influência de cada estação
Estação Raio (km)
Adeus 0,20 Baiana 0,21 Alemão 0,24 Itararé 0,37
Palmeiras 0,30
A representação gráfica das áreas de influência, apresentada na FIG. 6.28, destaca que as
estações Itararé e Palmeiras possuem os maiores raios. Observou-se, nos locais, que a área de
entorno destas estações e da estação do Alemão é menos íngreme que às demais. O menor
raioé observado na estação Adeus, que destaca o quão difícil é acessá-la devido ao relevo
bastante acidentado, principalmente pelos moradores da parte baixa do morro, pois
necessitam percorrer uma longa escadaria em más condições de uso.
Observa-se que a área de influência da estação de Palmeiras tangencia à Rua Canitar e à
Rua Joaquim de Queiroz, que são vias locais asfaltadas, com calçamento e pontos de
comércio, onde são oferecidos os serviços de vans e moto-táxi. As áreas de influência da
estação Itararé e da estação do Alemão tangenciam à Rua Joaquim de Queiroz e a se
aproximam da Estrada do Itararé, por onde circulam linhas de ônibus convencionais. A área
de influência da estação da Baiana tangencia apenas a Estrada do Itararé. Estas vias acabam se
tornando “limitadores” da área de influência, pois, para os moradores que estão no sopé do
morro e próximos a estas vias, o ônibus ou o serviço de vans se torna mais eficiente e
econômico.
114
FIG. 6. 28 Representação gráfica das áreas de influência das estações
Independentemente da estação de embarque/desembarque, o deslocamento pendular foi o
motivo de viagem mais relatado (90% Adeus; 80% Baiana; 85% Alemão; 95% Itararé; e 65%
Palmeiras), tendo Complexo do Alemão o destino mais citado pelos respondentes (95%
Adeus; 90% Baiana; 90% Alemão; 100% Itararé; e 90% Palmeiras). A variável “Estação”
também não influencia o modo de acesso às estações do teleférico. A maioria dos passageiros
que embarcam/desembarcam nas estações (50 a 100%) se deslocam a pé até elas, demorando,
em média, 10 minutos para realizar este percurso. Esta falta de integração torna-se um fator
importante para explicar a baixa demanda no uso do teleférico.
No que se refere a variável “Estações”, não houve diferenças significativas sobre a
percepção dos usuários em relação ao “Impacto das paradas do teleférico no uso pelo
morador” e nem sobre a qualidade do serviço prestado.
As tabelas TAB. 6.24, 6.25, 6.26 e 6.27 apresentam as variáveis com diferenças
significativas para as estações do teleférico, de acordo com os resultados do Teste ANOVA,
para os “Aspectos que influenciam o uso do teleférico”, “Facilidade de acesso às estações”,
“Aspectos que dificultam o acesso às estações” e “Aspectos importantes para a escolha do
trajeto à estação”. Para complementar a análise destes itens, realizou-se o teste Post Hoc,
conforme apresentado nas TAB. 6.28, 6.29, 6.30 e 6.31.
115
TAB. 6. 24 Aspectos que influenciam o uso do teleférico (teste ANOVA)
Variáveis Sig
Preço da passagem 0,048 Redução do tempo de viagem 0,028 Conforto no transporte 0,030
TAB. 6. 25 Facilidade de acesso às estações (teste ANOVA)
Variáveis Sig
Classificação chegada ao teleférico 0,002
TAB. 6. 26 Aspectos que dificultam o acesso às estações (teste ANOVA)
Variáveis Sig
Inexistência de calçadas 0,000 Rua sem pavimentação 0,000 Rua com buracos 0,008 Falta de iluminação no trajeto 0,015 Obstrução por vegetação (“matagal”) 0,000
TAB. 6. 27 Aspectos importantes para a escolha do trajeto à estação (teste ANOVA)
Variáveis Sig
Aspecto visual/limpeza 0,001 Arborização 0,028 Menor inclinação na rua 0,007 Calçadas 0,018 Menor distância 0,050 Sensação de segurança 0,023
• De acordo com os resultados apresentados na TAB. 6.28, a assimilação dos passageiros da
estação Palmeiras quanto aos aspectos que influenciam o uso do teleférico apresenta
diferenças significativas para a variável “preço da passagem”. Os entrevistados desta
estação atribuíram menor importância a este aspecto na sua escolha em utilizar o serviço
do teleférico. Acredita-se que esta diferença se deva ao fato de que a maioria dos
entrevistados da estação Palmeiras não são moradores locais e, por isto, não são
cadastrados para o uso de passagens gratuitas.
• A percepção do mesmo grupo de passageiros quanto aos aspectos que influenciam o uso
do teleférico apresenta diferenças significativas para a variável “redução do tempo de
viagem”. Os passageiros da estação Palmeiras atribuíram menor importância para a
influência deste aspecto na sua opção de utilizar o serviço do teleférico. Supõe-se que esta
diferença se deva ao fato de que, por estarem próximos às ruas Canitar e Joaquim de
Queiroz, estes passageiros possuem outras opções de transporte oferecidas pelos serviços
116
de vans e moto-táxi, de modo que o serviço do teleférico trouxe um menor impacto na
redução do tempo de viagem destes respondentes.
• O conforto das gôndolas também não pareceu atrair os usuários da estação Palmeiras, pois
atribuíram baixo grau de importância para este aspecto.
• O fato de possuir outros modais de transporte em ruas próximas a estação, associado à
menor inclinação da área ao entorno, pode ser o motivo dos passageiros da estação
Palmeiras terem atribuído menor importância para a facilidade de acesso às estações, tal
como apresentado na TAB 6.29. Além disto, os passageiros da estação Palmeiras são, em
sua maioria, visitantes e não percorreram o interior da favela para chegar ao teleférico,
não sofrendo as dificuldades impostas pelo relevo acidentado do Complexo do Alemão.
TAB. 6. 28 Aspectos que influenciam o uso do teleférico (teste Post Hoc)
Variável (I) Estações (J) Estações Sig Média
Adeus Baiana Alemão Itararé Palmeiras
Preço da passagem
Adeus
Baiana 0,151
4,05 4,55 3,86 4,53 3,70
Alemão 0,573 Itararé 0,177
Palmeiras 0,314
Baiana
Adeus 0,151 Alemão 0,045 Itararé 0,946
Palmeiras 0,016
Alemão
Adeus 0,573 Baiana 0,045 Itararé 0,056
Palmeiras 0,646
Itararé
Adeus 0,177 Baiana 0,946 Alemão 0,056
Palmeiras 0,020
Palmeiras
Adeus 0,314 Baiana 0,016 Alemão 0,646 Itararé 0,020
Redução do tempo de viagem
Adeus
Baiana 0,605
4,60 4,45 4,48 4,74 3,85
Alemão 0,665 Itararé 0,641
Palmeiras 0,011
Baiana
Adeus 0,605 Alemão 0,927 Itararé 0,329
Palmeiras 0,040
Alemão
Adeus 0,665 Baiana 0,927 Itararé 0,370
Palmeiras 0,031
Itararé
Adeus 0,641 Baiana 0,329 Alemão 0,370
Palmeiras 0,003
Palmeiras Adeus 0,011 Baiana 0,040
117
Variável (I) Estações (J) Estações Sig Média
Adeus Baiana Alemão Itararé Palmeiras
Alemão 0,031 Itararé 0,003
Conforto no transporte
Adeus
Baiana 0,144
4,15 4,60 4,19 4,63 3,75
Alemão 0,894 Itararé 0,123
Palmeiras 0,194
Baiana
Adeus 0,144 Alemão 0,178 Itararé 0,919
Palmeiras 0,007
Alemão
Adeus 0,894 Baiana 0,178 Itararé 0,153
Palmeiras 0,148
Itararé
Adeus 0,123 Baiana 0,919 Alemão 0,153
Palmeiras 0,005
Palmeiras
Adeus 0,194 Baiana 0,007 Alemão 0,148 Itararé 0,005
TAB. 6. 29 Facilidade de acesso às estações (teste Post Hoc)
Variável (I) Estações (J) Estações Sig Média
Adeus Baiana Alemão Itararé Palmeiras
Facilidade de acesso às estações do
teleférico
Adeus
Baiana 1,000
4,10 4,10 4,05 4,11 2,80
Alemão 0,889 Itararé 0,989
Palmeiras 0,001
Baiana
Adeus 1,000 Alemão 0,889 Itararé 0,989
Palmeiras 0,001
Alemão
Adeus 0,889 Baiana 0,889 Itararé 0,879
Palmeiras 0,001
Itararé
Adeus 0,989 Baiana 0,989 Alemão 0,879
Palmeiras 0,001
Palmeiras
Adeus 0,001 Baiana 0,001 Alemão 0,001 Itararé 0,001
A TAB. 6.30 apresenta as diferenças significativas sobre os “Aspectos que dificultam o
acesso às estações”.
• Os passageiros das estações Alemão e Palmeiras mostraram-se indiferentes com relação à
influência das variáveis “inexistência de calçadas”, “ruas sem pavimentação” e “ruas com
buracos” no grau de dificuldade de acesso às estações. Entretanto, os usuários das estações
118
Adeus, Itararé e Baiana consideram que estas variáveis dificultam pouco o acesso às
estações.
• Os usuários da estação Palmeiras mostraram maior insatisfação com relação à iluminação
pública no trajeto às estações, o que indica a necessidade de uma interferência da
Prefeitura com relação à este quesito no entorno da estação. Para os passageiros das
demais estações, a variável “iluminação pública” tem pouca influência no grau de
dificuldade de acesso às estações, indicando que a iluminação pública está em boas
condições no entorno destas estações.
• Para os respondentes das estações Baiana e Itararé, a vegetação não obstrui o caminho
percorrido por eles para obter acesso à estação. Os passageiros das estações de Palmeiras
declararam que a obstrução de vias por vegetação dificultam pouco o acesso às estações,
enquanto os passageiros das estações de Adeus e Alemão são indiferentes com relação a
este aspecto.
TAB. 6. 30 Aspectos que dificultam o acesso às estações (teste Post Hoc)
Variável (I) Estações (J) Estações Sig Média
Adeus Baiana Alemão Itararé Palmeiras
Inexistência de calçadas
Adeus
Baiana 0,141
1,70 1,10 3,00 1,79 2,75
Alemão 0,002 Itararé 0,827
Palmeiras 0,011
Baiana
Adeus 0,141 Alemão 0,000 Itararé 0,095
Palmeiras 0,000
Alemão
Adeus 0,002 Baiana 0,000 Itararé 0,004
Palmeiras 0,532
Itararé
Adeus 0,827 Baiana 0,095 Alemão 0,004
Palmeiras 0,021
Palmeiras
Adeus 0,011 Baiana 0,000 Alemão 0,532 Itararé 0,021
Rua sem pavimentação
Adeus
Baiana 0,473
2,05 1,75 3,10 1,37 2,90
Alemão 0,013 Itararé 0,109
Palmeiras 0,044
Baiana
Adeus 0,473 Alemão 0,002 Itararé 0,368
Palmeiras 0,007
Alemão
Adeus 0,013 Baiana 0,002 Itararé 0,000
Palmeiras 0,636
119
Variável (I) Estações (J) Estações Sig Média
Adeus Baiana Alemão Itararé Palmeiras
Itararé
Adeus 0,109 Baiana 0,368 Alemão 0,000
Palmeiras 0,000
Palmeiras
Adeus 0,044 Baiana 0,007 Alemão 0,636 Itararé 0,000
Rua com buracos
Adeus
Baiana 0,107
2,55 1,80 2,90 1,79 3,15
Alemão 0,438 Itararé 0,107
Palmeiras 0,196
Baiana
Adeus 0,107 Alemão 0,017 Itararé 0,982
Palmeiras 0,004
Alemão
Adeus 0,438 Baiana 0,017 Itararé 0,018
Palmeiras 0,591
Itararé
Adeus 0,107 Baiana 0,982 Alemão 0,018
Palmeiras 0,004
Palmeiras
Adeus 0,196 Baiana 0,004 Alemão 0,591 Itararé 0,004
Falta de iluminação no trajeto
Adeus
Baiana 0,487
1,75 2,10 2,38 2,21 3,45
Alemão 0,206 Itararé 0,367
Palmeiras 0,001
Baiana
Adeus 0,487 Alemão 0,572 Itararé 0,828
Palmeiras 0,008
Alemão
Adeus 0,206 Baiana 0,572 Itararé 0,735
Palmeiras 0,033
Itararé
Adeus 0,367 Baiana 0,828 Alemão 0,735
Palmeiras 0,016
Palmeiras
Adeus 0,001 Baiana 0,008 Alemão 0,033 Itararé 0,016
Obstrução por vegetação
("matagal")
Adeus
Baiana 0,000
3,05 1,20 2,86 1,21 2,35
Alemão 0,664 Itararé 0,000
Palmeiras 0,121
Baiana
Adeus 0,000 Alemão 0,000 Itararé 0,982
Palmeiras 0,012
Alemão
Adeus 0,664 Baiana 0,000 Itararé 0,000
Palmeiras 0,254 Itararé Adeus 0,000
120
Variável (I) Estações (J) Estações Sig Média
Adeus Baiana Alemão Itararé Palmeiras
Baiana 0,982 Alemão 0,000
Palmeiras 0,014
Palmeiras
Adeus 0,121 Baiana 0,012 Alemão 0,254 Itararé 0,014
A TAB. 6.31 apresenta a análise em relação aos “Aspectos importantes para a escolha do
trajeto à estação”.
• Os aspectos “limpeza das vias” e “presença de arborização” receberam piores avaliações
de acordo com o grupo de respondentes da estação Itararé e de Palmeiras, que atribuíram
menor importância deste fator na sua escolha de trajeto do que os respondentes das
estações de Baiana, Adeus e Alemão. É importante destacar que alguns moradores do
entorno da estação Palmeiras declararam avaliar de maneira negativa o item
“Arborização” por medo de que as árvores sirvam de esconderijo para quem deseja
cometer atos de violência. Este resultado é contrário ao que era esperado, pois, segundo os
conceitos básicos de acessibilidade, a arborização traz mais conforto aos pedestres, tendo
assim um impacto positivo na escolha da rota.
• Uma rua menos inclinada é um fator que aumenta muito a probabilidade de escolha de
uma rota como local de caminhada de acordo com os passageiros das estações Baiana e
Adeus, tendo este aspecto uma importância menor para os passageiros das estações
Alemão, Itararé e Palmeiras. Isto pode ser explicado pelo fato de que o entorno destas
estações é mais plano do que das estações Baiana e Adeus.
• Possuir calçadas é um fator importante para a escolha de um caminho até a estação,
segundo usuários entrevistados nas estações Alemão, Adeus e Baiana.
• O trajeto mais curto a uma estação do teleférico foi o fator com maior peso na avaliação
dos entrevistados da estação Baiana, apesar de ter sido o critério avaliado com maior peso
para os passageiros de todas as estações.
• Sentir-se seguro nas vias de acesso ao teleférico obteve melhor avaliação para os
passageiros das estações Adeus, Baiana e Alemão, indicando a este fator como muito
importante para a escolha do trajeto.
Desta forma, percebe-se os passageiros das estações de Baiana e Adeus atribuíram os
maiores graus de importância a todos os aspectos que influenciam na escolha do trajeto às
estações. A percepção destes grupos se diferenciou da avaliação dos passageiros da estação
121
Alemão apenas para o fator “inclinação”, uma vez que o entorno a esta estação apresenta
relevo mais plano em relação às demais. Destaca-se que a semelhança na avaliação entre os
passageiros de Baiana e Alemão já era esperada devido à proximidade das duas estações.
TAB. 6. 31 Aspectos importantes para a escolha do trajeto às estações (teste Post Hoc)
Variável (I) Estações (J) Estações Sig Média
Adeus Baiana Alemão Itararé Palmeiras
Aspecto visual/limpeza
Adeus
Baiana 0,309
4,30 4,75 4,29 2,95 3,50
Alemão 0,974 Itararé 0,003
Palmeiras 0,072
Baiana
Adeus 0,309 Alemão 0,289 Itararé 0,000
Palmeiras 0,006
Alemão
Adeus 0,974 Baiana 0,289 Itararé 0,003
Palmeiras 0,074
Itararé
Adeus 0,003 Baiana 0,000 Alemão 0,003
Palmeiras 0,218
Palmeiras
Adeus 0,072 Baiana 0,006 Alemão 0,074 Itararé 0,218
Arborização
Adeus
Baiana 0,153
4,20 3,50 3,81 2,68 3,15
Alemão 0,418 Itararé 0,003
Palmeiras 0,033
Baiana
Adeus 0,153 Alemão 0,520 Itararé 0,101
Palmeiras 0,473
Alemão
Adeus 0,418 Baiana 0,520 Itararé 0,023
Palmeiras 0,173
Itararé
Adeus 0,003 Baiana 0,101 Alemão 0,023
Palmeiras 0,346
Palmeiras
Adeus 0,033 Baiana 0,473 Alemão 0,173 Itararé 0,346
Menor inclinação na rua
Adeus
Baiana 0,485
4,30 4,60 3,62 3,21 3,45
Alemão 0,111 Itararé 0,014
Palmeiras 0,050
Baiana
Adeus 0,485 Alemão 0,023 Itararé 0,002
Palmeiras 0,009
Alemão Adeus 0,111 Baiana 0,023 Itararé 0,343
122
Variável (I) Estações (J) Estações Sig Média
Adeus Baiana Alemão Itararé Palmeiras
Palmeiras 0,690
Itararé
Adeus 0,014 Baiana 0,002 Alemão 0,343
Palmeiras 0,582
Palmeiras
Adeus 0,050 Baiana 0,009 Alemão 0,690 Itararé 0,582
Calçadas
Adeus
Baiana 1,000
4,15 4,15 3,76 2,95 3,30
Alemão 0,350 Itararé 0,006
Palmeiras 0,045
Baiana
Adeus 1,000 Alemão 0,350 Itararé 0,006
Palmeiras 0,045
Alemão
Adeus 0,350 Baiana 0,350 Itararé 0,055
Palmeiras 0,266
Itararé
Adeus 0,006 Baiana 0,006 Alemão 0,055
Palmeiras 0,407
Palmeiras
Adeus 0,045 Baiana 0,045 Alemão 0,266 Itararé 0,407
Menor distância
Adeus
Baiana 0,174
4,40 4,85 4,29 3,89 4,05
Alemão 0,725 Itararé 0,132
Palmeiras 0,289
Baiana
Adeus 0,174 Alemão 0,085 Itararé 0,005
Palmeiras 0,017
Alemão
Adeus 0,725 Baiana 0,085 Itararé 0,237
Palmeiras 0,469
Itararé
Adeus 0,132 Baiana 0,005 Alemão 0,237
Palmeiras 0,642
Palmeiras
Adeus 0,289 Baiana 0,017 Alemão 0,469 Itararé 0,642
Sensação de segurança
Adeus
Baiana 0,496
4,25 4,55 4,10 3,37 3,35
Alemão 0,722 Itararé 0,051
Palmeiras 0,043
Baiana
Adeus 0,496 Alemão 0,298 Itararé 0,009
Palmeiras 0,008
Alemão
Adeus 0,722 Baiana 0,298 Itararé 0,102
Palmeiras 0,089
123
Variável (I) Estações (J) Estações Sig Média
Adeus Baiana Alemão Itararé Palmeiras
Itararé
Adeus 0,051 Baiana 0,009 Alemão 0,102
Palmeiras 0,967
Palmeiras
Adeus 0,043 Baiana 0,008 Alemão 0,089 Itararé 0,967
Enfim, realizou-se a análise de clusters com o objetivo de verificar se passageiros das
mesmas estações seriam divididos em diferentes grupos. A análise de clusters tem como
objetivo agrupar determinados dados (no caso, os passageiros) em classes que são
semelhantes entre si, classificando-os. Com esta análise, esperava-se verificar se os
respondentes seriam agrupados de acordo com a sua estação de embarque/desembarque.
Neste estudo, foi adotado o método k-means para encontrar uma parcela de dados que
“minimize o quadrado da distância euclidiana ao centro do cluster, procurando grupos
homogêneos” (Sousa; Galante; Figueiredo, 2003). Entretanto, ao se realizar a análise de
cluster, dividindo os respondentes, passageiros do Teleférico do Alemão, em cinco grupos,
não se obteve uma concentração maior de passageiros de determinadas estações de
embarque/desembarque em um mesmo grupo, conforme observado na TAB. 6.32.
TAB. 6. 32 Crosstab entre grupo e estações (Análise de cluster)
Grupo Estações Total
grupo Adeus Baiana Alemão Itararé Palmeiras
1 3 1 9 1 7 21 2 6 2 2 1 7 18 3 6 9 6 11 3 35 4 5 8 3 7 2 25 5 0 0 0 0 1 1
Observa-se que os usuários do teleférico tendem a avaliar melhor o serviço prestado pelo
transporte, porém as dificuldades encontradas no entorno das estações, como vias com
inclinação elevada e excesso de degraus/escadas, são fatores com maior grau de importância
para os não usuários.
Os passageiros do sexo feminino atribuíram maiores graus de importância à insegurança
e a menor inclinação na rua como aspectos que dificultam o acesso às estações, tendo este
último grau de importância equivalente para as mulheres não usuárias do teleférico. A idade
dos respondentes influenciou nas respostas. Aspectos que dificultam o acesso ao teleférico,
como “ruas não asfaltadas”, “presença de veículos estacionados irregularmente” e “presença
124
de postes e latas de lixo instaladas incorretamente”, tiveram maior peso para os passageiros
com idade acima de 50 anos, evidenciando a restrição de mobilidade encontrada em pessoas
com idade avançada. Entre os não usuários do transporte, os mais idosos relataram possuir
medo de altura, enquanto os mais jovens se afastaram do teleférico pelo atual valor da
passagem e também por possuírem outro meio de locomoção. Porém, mudanças no sistema,
como a construção de mais estações, integração com o metro na estação Inhaúma e melhoria
nas vias de acesso às estações, atrairiam esse grupo de moradores mais jovens.
A escolaridade dos respondentes não influenciou nas respostas dos entrevistados. Porém,
quanto à frequência de uso, os passageiros que mais utilizam o teleférico atribuem maior
importância aos seguintes aspectos que influenciam sua decisão a utilizar o sistema: a redução
do tempo de viagem, a facilidade de acesso às estações, o conforto proporcionado pelo
transporte, a boa disponibilidade de horários e a segurança ofertada. Entre os não usuários, os
aspectos que dificultam o acesso ao teleférico, como dificuldade de acessar as estações,
impossibilidade de transportar carga e a inclinação da via foram fatores importantes para o
afastamento dos moradores do uso do transporte, influenciados, também, pela possibilidade
de uso de outro meio de transporte que atenda a sua demanda e facilite seu deslocamento pela
comunidade.
Com relação à análise por estações, os passageiros da estação Palmeiras atribuíram menor
importância para alguns aspectos que influenciam no uso do teleférico, como o preço da
passagem, redução do tempo da viagem e o conforto do transporte, evidenciando que não
foram essas fatores que atraíram os respondentes a usar o teleférico. Também atribuíram
menor grau de importância na facilidade de chegar às estações, evidenciando que a maioria
dos entrevistados desta estação são visitantes e não percorrerão o interior da favela. Em
relação a iluminação pública do trajeto, outro aspecto que dificulta o acesso ao teleférico, os
entrevistados da estação Palmeiras manifestaram maior insatisfação, o mesmo não foi
observado nas respostas dos passageiros das estações Adeus, Baiana, Alemão e Itararé, que
atribuíram pouca influência no grau de dificuldade de acessar o teleférico.
Quanto a vegetação crescente nas vias de acesso, uma dificuldade encontrada ao acessar
o teleférico, os respondentes das estações Baiana e Itararé admitiram que não há problemas de
obstrução de vias por causa delas, o mesmo observado nas respostas dos passageiros que
embarcavam/desembarcavam nas estações Adeus, Alemão e Palmeiras. Ruas mais limpas e
presença de árvores nas vias, características importantes para a escolha do trajeto até o
teleférico, foram avaliados de maneira negativa pelos respondentes das estações Itararé e
125
Palmeiras. A arborização é vista como algo negativo porque pode servir de esconderijo para
pessoas que desejam cometer atos violentos. Percebe-se os passageiros das estações de Baiana
e Adeus atribuíram os maiores graus de importância a menor inclinação da rua, existência de
calçadas, trajeto mais curto e sensação de segurança, outras características importantes para a
escolha do percurso até a estação. Os respondentes das outras estações atribuíram menor
importância a esses aspectos.
126
7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Este trabalho foi desenvolvido com a finalidade de analisar as características dos usuários
do Teleférico do Alemão e a acessibilidade ao sistema, segundo as percepções dos
passageiros e moradores que não utilizam o transporte. Para alcançar o objetivo, foram
realizadas pesquisas de campo nas estações do teleférico e nas ruas do Complexo do Alemão.
A partir dos resultados obtidos, foi possível traçar o perfil dos entrevistados, bem como seus
julgamentos em relação às características do entorno das estações do Teleférico do Alemão.
A temática deste estudo ainda é pouco abordada e difundida na academia. Durante o
desenvolvimento da revisão bibliográfica, observou-se que existem poucas publicações com
foco no transporte para a população de baixa renda, em especial, em favelas. A maioria das
pesquisas sobre o tema foi desenvolvida em cidades africanas e indianas, sendo poucos os
estudos que incluem cidades da América Latina. O trabalho de Koch, Lindau e Nassi (2013) é
um dos primeiros a investigar questões relacionadas ao transporte em favelas latino-
americanas.
Os estreitos e íngremes canais viários, comuns às favelas cariocas, restringem a instalação
de modalidades convencionais de transporte coletivo e transporte de cargas em geral. Desta
forma, tecnologias alternativas de transporte público, tais como teleféricos, planos inclinados,
elevadores e escadas rolantes urbanas, têm sido usadas, integradas aos meios transportes
convencionais, de modo a garantir maior mobilidade urbana a quem reside em áreas de difícil
acesso.
O uso dos sistemas CPT para o transporte público é recente, mas tem atraído o olhar dos
governantes para um planejamento de transportes voltado ao atendimento da mobilidade
urbana de quem reside em área de aclive e de baixa renda. Ao longo dos últimos anos, foram
implementados nas favelas do Rio de Janeiro: o plano inclinado no Dona Marta (2006), o
elevador público no Cantagalo (2010) e os teleféricos no Complexo do Alemão (2011) e
Providência (2014). Porém, no caso do sistema do teleférico implementado no Complexo do
Alemão, o número de passageiros que utiliza o serviço é baixo quando comparado às
proporções da comunidade e estudos de previsão de demanda realizados anteriormente.
No caso específico do Complexo do Alemão, o relevo é um fator importante para
compreensão da mobilidade interna e do acesso ao teleférico. Portanto, para o
127
desenvolvimento desta pesquisa, foi necessário realizar um levantamento de estudos sobre a
avaliação do espaço do pedestre, de modo a atender o objetivo de analisar a acessibilidade às
estações do sistema do teleférico. Destaca-se que, na revisão bibliográfica, não foi
identificada nenhuma pesquisa que tratasse da avaliação do espaço do pedestre
especificamente em regiões de aclive ou de baixa renda, sendo necessária a adaptação dos
conceitos para a realidade da favela.
Tendo estabelecido o objetivo e selecionado as variáveis para avaliar a acessibilidade às
estações do teleférico, foi desenvolvido um questionário a ser aplicado para dois grupos
distintos: passageiros do sistema e moradores que não o utilizam. O primeiro grupo foi
entrevistado durante o pico vespertino nas estações do teleférico e o segundo, nas ruas
internas da comunidade e em escolas, totalizando 140 entrevistas.
Os resultados obtidos com as entrevistas identificaram que tanto os passageiros como os
não usuários classificaram de maneira positiva o serviço prestado pelo teleférico. Entretanto,
os passageiros consideraram o serviço como ótimo, enquanto aqueles que não utilizam o
teleférico o consideraram bom. Assim, aqueles que estão mais satisfeitos com o sistema
tendem a utilizá-lo em seus deslocamentos. Verificou-se ainda que o grupo de não usuários
deu maior importância para a inclinação elevada das vias internas e o excesso de
degraus/escadas existentes no interior da favela, destacando estes aspectos como os que mais
dificultam o acesso ao teleférico e, consequentemente, reduzem seu interesse em utilizar o
sistema em seus deslocamentos.
O estudo também permitiu caracterizar o perfil dos passageiros do serviço. Ao analisar
por gênero, constatou-se que as mulheres procuram vias com menores inclinações no seu
percurso até as estações. Elas também estão mais preocupadas que os homens com relação à
questão da segurança no trajeto à estação.
Na análise por faixa etária, verificou-se que os entrevistados mais idosos são mais
exigentes na avaliação e consideraram que a falta de pavimentação das ruas, presença de
veículos (carros e motos) estacionados irregularmente e a instalação incorreta de mobiliário
urbano dificultam muito o acesso às estações. Outro fator presente nas respostas deste grupo
foi o medo de altura como motivo de afastamento do uso do transporte. Entre os mais jovens,
moradores do Complexo do Alemão e não usuários do teleférico, o alto valor da passagem e a
existência de outras formas de locomoção foram fatores que afastaram este grupo do uso do
teleférico. Porém, os mesmos seriam atraídos se houvessem mudanças no sistema, como
128
construção de novas estações, integração com o metrô na estação de Inhaúma e melhoria das
vias de acesso às estações.
Observou-se que a escolaridade dos entrevistados não influenciava nas respostas dos
mesmos. Porém, verificou-se que os respondentes que utilizam o sistema com maior
frequência estão mais satisfeitos com relação à facilidade de acesso às estações, de modo que
pode-se concluir que os usuários com maior facilidade de acesso ao sistema são de fato
aqueles que mais o utilizam. Também foi possível observar uma correlação entre o grau de
importância atribuído aos “aspectos que influenciam o uso do teleférico” e a frequência com
que os respondentes utilizam o sistema. Os usuários que o utilizam o teleférico com maior
frequência conferiram maior importância para a redução do tempo de viagem, a facilidade de
acesso às estações, o conforto proporcionado pelo transporte, a frequência/disponibilidade de
horários de funcionamento e a segurança ofertada em sua escolha para utilizar o teleférico
como modo de transporte em seus deslocamentos diários.
Também é importante destacar que o fato de “possuir veículo” não influencia o modo de
deslocamento no interior na comunidade. A maioria dos respondentes se desloca a pé no
interior do Complexo, mesmo que possuam carros, bicicletas ou motocicletas. Entretanto, a
dificuldade de acessar às estações e a inclinação excessiva das vias são fatores importantes na
decisão dos respondentes com carro em não utilizar o teleférico, destacando a influência do
relevo acidentado da região na escolha dos entrevistados. A impossibilidade de transportar
carga também afasta os proprietários de bicicletas do sistema, uma vez que não é possível
transportar a bicicleta no interior do teleférico e, posteriormente, continuar seu deslocamento
pedalando. A possibilidade de uso de outro meio de transporte que atenda a sua demanda
contribuiu, também, para o afastamento dos moradores do uso do teleférico.
Ainda, os resultados obtidos permitiram a análise das características do entorno das
estações do Teleférico do Alemão. Os passageiros da estação Palmeiras atribuíram menor
grau de importância aos seguintes aspectos que influenciam o uso do teleférico: o valor da
passagem, a redução do tempo de viagem, o conforto do transporte e a facilidade de acesso ao
teleférico. Destaca-se que a estação fica próxima as ruas Canitar e Joaquim de Queiroz, locais
com outras opções de transporte oferecidas pelos serviços de vans e moto-táxis. Além disto, a
maioria dos entrevistados que desembarcam na estação Palmeiras é visitante, de modo que
não pretendem sair desta estação e caminhar pelas ruas da comunidade.
A falta de calçadas, ruas sem asfalto e com buracos são fatores que não possuem
importância para os respondentes de todas as estações. Porém, a iluminação pública foi um
129
fator que gerou maior insatisfação entre os entrevistados da estação Palmeiras, indicando a
necessidade de intervenção do órgão responsável pela manutenção. Este quesito obteve menor
importância para os passageiros das outras estações. Segundo os entrevistados das estações
Baiana e Itararé, o acesso a elas não são obstruídos por vegetação, indicando frequência de
limpeza nestes locais. Para os passageiros da estação Palmeiras, a existência de vegetação nas
vias dificulta um pouco o acesso à estação, enquanto os respondentes das estações Adeus e
Alemão são indiferentes a este aspecto.
Os passageiros das estações Itararé e Palmeiras atribuíram menor importância para os
aspectos “limpeza das vias” e “arborização” na escolha do seu trajeto à estação. Convém
destacar que o medo de que árvores sirvam de esconderijo para criminosos influenciou os
moradores a avaliar de maneira negativa a presença de arborização nas vias, contrariando
conceitos básicos de avaliação do espaço do pedestre, que considera positiva a presença de
árvores por trazer maior conforto ao pedestre. Entre os passageiros das estações Adeus e
Baiana, ruas com menores inclinações aumentam a probabilidade de escolha de uma rota
como local de caminhada. A presença de calçadas também é um fator importante na escolha
do caminho a percorrer até a estação, segundo passageiros entrevistados nas estações Adeus,
Baiana e Alemão. Enfim, o menor percurso até uma estação do teleférico e a segurança do
trajeto são aspectos com maior importância na avaliação dos respondentes de todas as
estações.
Desta forma, conclui-se que o estudo realizado conseguiu o identificar as principais
características que influenciam a demanda de passageiros do Teleférico do Alemão e sinalizar
quais aspectos dificultam a acessibilidade ao sistema.
Para o enriquecimento e aprimoramento deste trabalho no futuro, recomenda-se que seja
realizada a análise das vias de acesso para cada estação do teleférico, com proposição de
indicadores para analisar a acessibilidade local pelo pedestre. Esse processo deverá ser
realizado através mapeamento local com desenvolvimento de ficha de avaliação do espaço
(calçadas, ruas, escadarias...) e levantamento fotográfico para auxiliar no processo. Também
sugere-se que a análise do padrão de demanda do teleférico seja refeita após a mudança
proposta pelo governo estadual. Durante o desenvolvimento do trabalho, o morador tinha
direito a duas passagens gratuitas por dia, mediante cadastro. Contudo, em março deste ano
foi liberado o embarque gratuito de moradores sem limitação do número de viagens. Acredita-
se que esta medida possa aumentar a demanda do Teleférico do Alemão.
130
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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141
9. APÊNDICE
142
9.1. APÊNDICE 1: RESUMO BIBLIOGRÁFICO SOBRE SISTEMAS DE TRANSPORTE
URBANO EM FAVELAS
A Tabela TAB. 9.1 reúne os estudos apresentados no capítulo 2 que retratam o cenário da
literatura, nacional e internacional, voltada para a temática do transporte urbano em favelas.
Os artigos são apresentados em ordem cronológica, destacando o ano da publicação, o local
de estudo e o método de análise utilizado por cada autor para obter os resultados encontrados
em suas pesquisas.
TAB. 9. 1 Resumo bibliográfico sobre sistemas de transporte urbano em favelas
Autor Ano Local Método de Análise Conclusões
Astrop 1996 Índia Pesquisa de Campo
A autora enfatiza a restrição do acesso ao transporte publico às moradoras de favelas em Pune, na Índia, buscando a compreensão do comportamento das viagens realizadas por elas. O uso do transporte não motorizado (caminhada e bicicletas) está cada vez mais enraizado como modo de deslocamento pendular das moradoras das comunidades carentes locais.
Patel e Sharna 1998 Índia Estudo de caso
Os assentamentos urbanos informais ao longo da linha férrea em Mumbai, Índia, prejudicam a velocidade dos trens, que chegam a circular a 5km/h nos trechos ocupados. Assim, as autoras discutem, no artigo, soluções para desapropriação da faixa de domínio da ferrovia para possibilitar o aumento da velocidade da rede ferroviária local.
Baker et al. 2005 Índia Pesquisa de campo
Os autores analisam a oferta de transporte para os moradores de favelas em Mumbai, na Índia. A maioria desta população se desloca por caminhadas (61%), apesar de 6% utilizarem a bicicleta, 16% os trens e 15% os ônibus, destacando a importância do transporte não motorizado para os mais pobres. Também foi constatado que 15% da renda dos moradores de comunidades carentes se destinam a gastos com transporte, prejudicando a mobilidade desta fatia da população.
Anand e Dwari 2006 Índia Pesquisa de campo Grupos de discussões
O artigo analisa o problema da mobilidade de mulheres pobres em Nova Déli devido a restrições em relação ao sexo. Mesmo sendo uma importante força de trabalho dentro das favelas locais, as indianas possuem acesso apenas a transportes inferiores, de baixa qualidade, principalmente em deslocamentos pendulares.
Venter, Vokolkova e Michalek
2007 África do Sul
Pesquisa de campo Teste chi-quadrado Pearson Kruskal-Wallis Test
O artigo aborda a temática do transporte e gênero, discutindo o preconceito sofrido pelas mulheres moradoras de comunidades de baixa renda na África do Sul, observando a restrição à mobilidade imposta a elas. Os resultados da pesquisa mostram que a localidade tem forte influência na mobilidade entre os gêneros, principalmente em assentamentos urbanos informais precários e em localidades rurais.
Blanco e Kobayashi 2009 Colômbia Estudo de caso
O artigo analisa os projetos realizados pela prefeitura de Medellín, na Colômbia, em áreas de assentamentos urbanos informais precários. A introdução do Metrocable, sistema de gôndolas aéreas ligadas a rede
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Autor Ano Local Método de Análise Conclusões
de metrô, em uma das áreas mais marginalizadas da Colômbia foi o pontapé inicial para a transformação física e social do local. A integração entre esses modais (Metrocable e metrô) permite o acesso da população de baixa renda residente em comunidades carentes à cidade formal.
Aquino, Pereira e Pereira
2010 Brasil Pesquisa de campo
Os autores realizaram pesquisa de campo no Complexo de Campo para traçar o perfil de viagens de seus moradores. Eles detectaram que, devido a carência de um sistema de transportes adequado, os transportes informais tem grande aceitação pela população local, impactando nas prioridades dos moradores em relação a melhorias para a comunidade.
Gulyani, Talukdar e Jack
2010
África do Sul, Quênia e Senegal
Pesquisa de campo
Os autores comparam indicadores de desenvolvimento, infraestrutura e condições de vida em assentamentos urbanos informais em três cidades africanas: Dacar, Joanesburgo e Nairóbi. A cidade de Joanesburgo é a única que oferece transporte público aos moradores de comunidades carentes. Nas outras cidades pesquisadas, os moradores das favelas realizam seus deslocamentos a pé: 55% em Nairóbi e 46% em Dakar. O baixo acesso ao transporte motorizado em Dakar e Nairóbi é reflexo da combinação entre a baixa renda familiar e a restrição de oferta do serviço.
Salon e Gulyani 2010 Quênia
Pesquisa de campo Modelo logit Modelo multinomial logit
Os autores concluem que as mulheres moradoras das favelas de Nairóbi, no Quênia, não podem pagar pelas opções de transporte motorizado, portanto optam pelas caminhadas em seus deslocamentos pendulares. É ressaltada a importância dos modos não motorizados como principal meio de deslocamento não somente para as mulheres, como também para todos os moradores de assentamentos urbanos informais. Os autores destacam que há a oferta de transportes por vans e pequenos ônibus (matatus) nas comunidades carentes locais, porém os moradores, em geral, não os utilizam porque não possuem meios de pagar por esse serviço.
Brand e Dávila 2011 Colômbia Estudo de caso
A instalação dos teleféricos nos setores mais carentes e violentos da cidade de Medellín foi influenciada pela hipótese de que a melhoria de acesso e mobilidade levaria a uma maior qualidade de vida. Porém, tal fato foi observado em maior escala na primeira linha implantada (Linha K) e o sucesso não foi repetido nas posteriores (Linha L e J), expondo a necessidade de condições mínimas de morfologia urbana e social, além da articulação cuidados e com a rede de transporte público de massa existente.
Lindau et al. 2011 Brasil Revisão bibliográfica
Os autores apontam que a concepção de sistemas sustentáveis e que atendam a demanda da população como um desafio para planejadores urbanos e de transporte. É destacado o uso de novas tecnologias de transporte, baseadas em propulsão a cabo (CPT - Cable
Propelled Transit; e ART - Aerial Ropeway Transit), e a priorização do transporte não motorizado, como formas sustentáveis de mobilidade nas favelas, levando em conta custos de implantação, operação e manutenção, assim como a qualificação dos becos e vielas para caminhadas e uso de bicicleta.
Lucas 2011 África do Sul
Pesquisa qualitativa SIG
O artigo destaca a importância do transporte não motorizado para o deslocamento da população de baixa renda na África do Sul. A maioria se desloca a pé, pois somente 26% das famílias de baixa renda tem acesso ao automóvel, 70% não tem acesso a estação de trem e 40% quase não tem acesso ao serviço de ônibus. A
144
Autor Ano Local Método de Análise Conclusões
baixa qualidade do transporte público ofertado à população pobre local é apontada como um empecilho à mobilidade dessas pessoas. A ineficácia no transporte não está somente na falta de infraestrutura dos serviços e nos custos, mas também nos tempos de espera pelo mesmo e viagem até o destino. A falta de oferta de meios de transporte à população pobre local implica na redução na procura por emprego, na oferta de serviços de saúde, perda de empregos e aumento do isolamento social.
Gonçalves, Portugal e Nassi
2012 Brasil Grafos Cálculo da centralidade
Os autores afirmam que, a partir do início do funcionamento do Teleférico do Alemão, instalado no Complexo do Alemão, houve um aumento da taxa de embarque dos moradores nos trens ao qual o sistema está integrado. Segundo os autores, o aumento do uso do modal ferroviário pela população dos assentamentos urbanos informais precários contribui para a redução da exclusão social, pois proporciona oportunidades de trabalho e integração com os outros moradores e com os equipamentos urbanos da cidade.
Power 2012 Reino Unido
Pesquisa bibliográfica
O artigo aponta o crescimento desordenado das cidades e o uso excessivo do carro no deslocamento pessoal como os principais fatores que levaram à deterioração do transporte público e ao aumento da segregação social enfrentada pelos mais pobres. O estudo conecta desenvolvimento urbano com a exigência moderna de haver o aumento da mobilidade. Power (2012) ressalta a necessidade de se avaliar o uso de tecnologias de transporte alternativas, já utilizadas em outros lugares do mundo, como forma de redução da desigualdade social e das barreiras da mobilidade.
Salon e Aligula 2012 Quênia
Pesquisa em campo Modelo logit Modelo multinomial logit
Os resultados da pesquisa indicam que grande parcela da população não tem condição de pagar pelo transporte motorizado, de modo que acabam residindo em favelas próximas aos empregos. Cerca de um milhão de pessoas em Nairóbi vive nestas comunidades, onde não há infraestrutura necessária para utilização de meios não motorizados, como deslocamentos a pé e por bicicleta, colocando em risco a vida dos usuários. Aqueles que podem pagar pelo transporte motorizado utilizam os informais, representados pelas vans e matatus, pequenos ônibus que atendem a população local.
Guillen, Ishida e Okamoto
2013 Filipinas Pesquisa de campo Regressão linear
Os autores analisam o uso dos modos informais de transporte públicos em países em desenvolvimento, em especial nas Filipinas. Os habitantes de regiões de baixa renda, tais como assentamentos urbanos informais precários, são os principais usuários deste tipo de transporte. Ainda, os resultados da pesquisa indicam que o hábito e o costume são fatores determinantes na escolha modal. Portanto, alem de ser necessário planejar a oferta de novas tecnologias de transporte em favelas, é preciso entender a psicologia dos moradores destas comunidades carentes como passageiros, de modo a estimular estes novos hábitos de viagem.
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Autor Ano Local Método de Análise Conclusões
Koch, Lindau e Nassi 2013 Brasil Pesquisa de campo
O artigo analisa os padrões de viagens realizadas nas comunidades cariocas de Batam, Complexo da Penha e Babilõnia/Chapéu Mangueira, analisando o índice de mobilidade, propriedade de veículos, deslocamentos não motorizados, tempos de viagens e os motivos delas, além de comparar as viagens internas aos assentamentos urbanos informais precários com as viagens realizadas para a cidade formal. Foi identificada uma lacuna a ser preenchida na literatura brasileira e internacional sobre o transporte em áreas de baixa renda ou favelas.
Gonçalves, Andrade e Portugal
2014 Brasil Revisão bibliográfica
O artigo analisa a inclusão social dos moradores de favelas no Rio de Janeiro através do transporte ferroviário. Segundo os autores, a implantação de sistema ferroviário como eixo estruturador da urbanização local servirá de atenuante para o problema de exclusão social causado pela falta de acesso ao transporte, aumentando as oportunidades para os moradores de favelas.
146
9.2. APÊNDICE 2: RESUMO DAS METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO DO PEDESTRE
A TAB. 9.2 reúne os estudos apresentados na seção 4, em ordem cronológica, destacando
o ano da publicação, o objetivo e as variáveis estudadas por cada autor para obter os
resultados encontrados em suas pesquisas.
TAB. 9. 2 Resumo das metodologias de avaliação do espaço do pedestre
Metodologias Ano Objetivo Variáveis
Fruin 1971 Descrição de conforto devido à noção de distância entre os traseuntes e a liberdade de manobra
Volume de pedestres
Velocidade da caminhada
Conveniência
Mori e Tsukaguchi 1987
Propõem dois métodos diferentes para avaliar a qualidade das calçadas, o primeiro a partir do comportamento dos pedestres e o segundo a partir da opinião dos mesmos.
Largura total da via e calçada Largura efetiva da calçada Tipo de calçada Taxa de obstáculos Taxa de área verde Fluxo de tráfego Fluxo de pedestres Número de veículos estacionados
Khisty 1994 Propõe uma metodologia baseada no ponto de vista do usuário, avaliando os elementos qualitativos dos espaços para pedestre
Atratividade Coerência no sistema Conforto Conveniência Segurança Seguridade Continuidade do sistema
Sarkar 1995
Tem como propósito tornar as calçadas e interseções urbanas seguras para grupos de usuários considerados vulneráveis (idosos, crianças, pessoas com necessidades especiais).
Separação entre os modos Conflitos Obstruções nas calçadas Obstruções nas interseções Projeto visual e psicológico Possibilidade de quedas e ferimentos Percepção de seguridade
Dixon 1996 Avalia o nível de serviço para pedestres em corredores viários, visando encorajar o uso dos modos de transporte não motorizados
Infraestrutura disponível para pedestres Conflitos entre pedestres e veículos motorizados Amenindades ao longo das vias Nível de serviço para veículos motorizados Acessibilidade ao transporte coletivo
Ferreira e Sanches 2001
Avaliar a qualidade dos espaços para pedestres considerando aspectos ambientais que determinam a percepção da qualidade atribuida pelos pedestres e estes espaços que caracterizam o NS das calçadas
Atratividade visual Conforto Continuidade do sistema
Segurança
Seguridade
Gallin 2001 Desenvolver um modelo simples para avaliar o quanto os caminhos e ruas suprem as necessidades dos pedestres
Largura das calçadas Qualidade da superfície Conectividade OD
Volume de pedestres
Tipo de usuários
147
Metodologias Ano Objetivo Variáveis
Segurança pessoal
Rastogi e Krishna Rao
2001
Mapear padrões de acesso ao transporte coletivo e estabelecer uma política de escolha modal referente a esses acessos. Definir características socioambientais de ac essibilidade ao transporte coletivo
Variáveis socioeconômicas Informações sobre viagens realizadas Políticas públicas para o transporte
Martincigh e Urbani 2004
Observar a relação entre mobilidade do pedestre e o transporte público, verificando a qualidade dos acessos como fator de melhoria da oferta dos modais de transporte
Qualidade dos pontos de ônibus Acesso do pedestre aos pontos de ônibus Informações contidas nos pontos de ônibus Qualidade da plataforma de embarque/desembarque/espera Qualidade do acesso ao veículo
NBR 9050 (ABNT) 2004
Determinar critérios a serem observados em projetos de construção, instalação e adaptação de edificação, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos para que sejam acessíveis a todos
Largura da calçada
Piso
Largura da rampa
Largura da escada
Ackerson 2005 Avaliar a caminhabilidade em macro escala utilizando-se de análises do comportamento do transporte, do design da rua e da densidade do uso do solo
Segurança pessoal Elementos do tráfego Superfície de caminhada
Via de estacionamento
Elementos da paisagem urbana Escolas Parques
Carvalho 2006 Definir um modelo para dimensionamento de calçadas em vias urbanas, considerando o nível de satisfação dos pedestres
Fluxo de pedestres Fluxo de veículos motorizados Número de faixas de rolamento Largura da faixa de rolamento Largura efetiva da calçada Fluxo de ciclistas
Leslie, Butterworth e Edwards
2006
Criar uma forma de direcionar investimentos para o espaço de pedestres e assim promover a melhoria da qualidade de vida da população, uma vez que, além de ser uma forma mais sustentável do ponto de vista ambiental, a caminhada é também uma prática saudável
Densidade de residências Conectividade Diversidade de uso do solo
Rede comercial
Passmore 2007 Avaliar as calçadas da cidade de São Paulo com auxilio das percepções variadas das experiências dos pedestres
Iluminação Superlotação Condições topográficas da rua, calçada e estradas Atratividade Clima Poluição atmosférica e sonora Condições de travessia da rua Coleta de lixo Vendedores ambulantes Interação com os outros
Agrawal, Schlossberg e Irvin
2008 Desenvolver ferramentas para identificação de viagens a pé, caracterizando o ambiente local através do ponto de vista do pedestre
Tempo de caminhada Fatores que influenciam na escolha da rota Comportamento durante a caminhada Dados demográficos
Fontenelle et al. 2008 Determinar o nível de serviço das calçadas na região central de Florianópolis
Segurança Atratividade Conforto Manutenção Segurança pública
Antunes 2010 Proporcionar maior familiaridade com a questão dos pedestres e sua relação com as viagens em transporte coletivo, objetivando identificar aspectos relativos à
Atratividade visual Conforto e ambiência urbana Continuidade e forma urbana
148
Metodologias Ano Objetivo Variáveis
percepção dos pedestres, distâncias de caminhada e fatores que influenciam as escolhas dos trajetos
Segurança e seguridade
Larrañaga, Ferret e Cybis
2011
Avaliar as características físicas das calçadas, atribuindo critérios de desempenho a três indicadores para caracterizar aspectos distintos da qualidade das calçadas
Atratividade visual Conforto
Presença de obstáculos
Monteiro 2011 Propor indicadores para avaliação dos espaços urbanos para pedestres e ciclistas
Densidade Diversidade do uso do solo Desenho urbano Facilidades para pedestres e ciclistas
Acessibilidade e mobilidade
Segurança e seguridade
Figueirêdo e Maia 2013 Avaliar a qualidade das calçadas da região sudeste de Recife
Segurança viária
Conforto Manutenção Presença de obstáculos Segurança pública Intensidade do fluxo na calçada Limpeza
Main sem data Identificar fatores que afetam a caminhabilidade, verificando as condições de uso do solo e políticas de transporte existentes
Densidade populacional Parcelamento do solo Diversidade do uso do solo Densidade de empregos Proximidade entre residências e serviços Proximidade entre residências e pontos de ônibus Proximidade entre empregos e pontos de ônibus Densidade da rede viária Conectividade Cobertura da calçada Distância das travessias Facilidade de visualização das rotas de caminhada
149
9.3. APÊNDICE 3: CORRELAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS DE AVALIAÇÃO DO
ESPAÇO URBANO DO PEDESTRE LEVANTADAS E AS PERGUNTAS
DESENVOLVIDAS NOS QUESTIONÁRIOS
A Tabela TAB. 9.3 reúne os as variáveis de avaliação do espaço urbano do pedestre e as
perguntas dos questionários a partir das quais elas são avaliadas. As variáveis estão
apresentadas de acordo com o autor que a utilizou e qual pergunta ela está relacionada.
TAB. 9. 3 Variáveis de avaliação do espaço urbano do pedestre e sua pergunta
relacionada no questionário
Variáveis Autores Perguntas dos questionários
Tipo de calçada Mori e Tsukaguchi (1987) Há calçadas no seu trajeto? Taxa de obstáculos
Mori e Tsukaguchi (1987) Em quais aspectos listados abaixo dificultam seu
trajeto até a estação? Número de veículos estacionados
Atratividade Khisty (1994), Passmore (2007) e
Fontenelle et al. (2008)
Qual a importância dos seguintes aspectos na sua opção por utilizar o teleférico?, Qual a importância
dos aspectos listados abaixo na sua opção por NÂO utilizar o teleférico?
Conforto
Khisty (1994), Ferreira e Sanches (2001), Fontenelle et al. (2008),
Larrañaga, Ferret e Cybis (2011) e Figueirêdo e Maia (2013)
Segurança Khisty (1994), Ferreira e Sanches (2001), Fontenelle et al. (2008),
Antunes (2010) e Monteiro (2011)
Seguridade Khisty (1994), Ferreira e Sanches
(2001), Antunes (2010) e Monteiro (2011)
Conflitos
Sarkar (1995)
Em quais aspectos listados abaixo dificultam seu trajeto até a estação?
Obstruções nas calçadas Possibilidades de quedas e ferimentos Percepção de seguridade Infraestrutura disponível para pedestres
Dixon (1996) Conflitos entre pedestres e veículos motorizados
Amenidades ao longo das vias Dixon (1996) Qual a importãncia dos aspectos abaixo na escolha
do seu caminho? Acessibilidade ao transporte coletivo
Dixon (1996) Como você classifica a facilidade de chegar à
estação?
Atratividade visual Ferreira e Sanches (2001), Antunes (2010) e Larrañaga, Ferret e Cybis
(2011)
Qual a importãncia dos aspectos abaixo na escolha do seu caminho?
Qualidade da superfície Gallin (2001) Em quais aspectos listados abaixo dificultam seu
trajeto até a estação?
Tipo de usuário Gallin (2001) Morador, Dificuldade de locomoção, Quantas vezes utiliza o teleférico por semana?, Idade,
Sexo, Escolaridade, Posse de veículo
Segurança pessoal Gallin (2001) e Ackerson (2005) Em quais aspectos listados abaixo dificultam seu
trajeto até a estação? Variáveis socioeconômicas Krishna Rao e Rastogi (2001) Idade, Sexo, Escolaridade, Posse de veículo
150
Variáveis Autores Perguntas dos questionários
Informações sobre viagens realizadas
Krishna Rao e Rastogi (2001)
Qual motivo da viagem?, De que local foi originado a viagem?, Qual o local de destino da
viagem?, Como chegou/sairá a/da estação?, Quanto tempo levou até a estação/ou da estação ao destino no Complexo?, Antes do teleférico, como
realizava seu deslocamento pela comunidade?, Quanto tempo levava para percorrer este trajeto?, Com que frequência visita outras comunidades do Complexo do Alemão?, Qual bairro mais visitado fora do Complexo?, Qual razão da ida a este bairro
com frequência?, Qual o ponto de saída da comunidade?, Qual (is) modal (is) utilizado (s) no seu deslocamento dentro da comunidade?, Qual o
tempo deste deslocamento? Piso NBR 9050 (ABNT) (2004)
Em quais aspectos listados abaixo dificultam seu trajeto até a estação?
Superfície de caminhada Ackerson (2005)
Elementos da paisagem urbana Iluminação
Passmore (2007) Condições topográficas da rua, calçada e estradas Condições de travessia da rua Coleta de lixo
Tempo de caminhada Agrawal, Schlossberg e Irvin (2008)
Quanto tempo levou até a estação/ou da estação ao destino no Complexo?, Quanto tempo levava para
percorrer este trajeto?, Qual o tempo deste deslocamento?
Fatores que influenciam a escolha da rota
Agrawal, Schlossberg e Irvin (2008) Qual a importãncia dos aspectos abaixo na escolha
do seu caminho?
Manutenção Fontenelle et al. (2008) e Figueirêdo e
Maia (2013) Em quais aspectos listados abaixo dificultam seu
trajeto até a estação?
Segurança pública Fontenelle et al. (2008) e Figueirêdo e
Maia (2013)
Em quais aspectos listados abaixo dificultam seu trajeto até a estação?, O quanto as constantes
paradas por problemas de segurança atrapalham sua utilização?
Conforto e ambiência urbana Antunes (2010)
Qual a importãncia dos aspectos abaixo na escolha do seu caminho?
Continuidade e forma urbana
Presença de obstáculos Larrañaga, Ferret e Cybis (2011) e
Figueirêdo e Maia (2013) Desenho urbano Monteiro (2011)
Acessibilidade e mobilidade Monteiro (2011)
Em quais aspectos listados abaixo dificultam seu trajeto até a estação?, De que maneira poderia ser
melhorado o acesso às estações do teleférico?, Indique o quanto cada uma dessas situações
apresentadas aumenta as suas chances de usar o teleférico.
Segurança viária Figueirêdo e Maia (2013)
Em quais aspectos listados abaixo dificultam seu trajeto até a estação? Limpeza
151
9.4. APÊNDICE 4: MODELO DE QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PASSAGEIROS
DO TELEFÉRICO DO ALEMÃO
152
153
9.5. APÊNDICE 5: MODELO DE QUESTIONÁRIO APLICADO AOS NÃO USUÁRIOS
DO TELEFÉRICO DO ALEMÃO
154