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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO INSTITUTO DE PSICOLOGIA

    Departamento de Psicologia Experimental

    Paulo Roberto Abreu

    UM MODELO EXPERIMENTAL DO TRANSTORNO OBSESSIVO-

    COMPULSIVO BASEADO NAS RELAES FUNCIONAIS ENTRE

    RESPOSTAS VERBAIS E NO VERBAIS

    So Paulo

    2013

  • PAULO ROBERTO ABREU

    UM MODELO EXPERIMENTAL DO TRANSTORNO OBSESSIVO-

    COMPULSIVO BASEADO NAS RELAES FUNCIONAIS ENTRE

    RESPOSTAS VERBAIS E NO VERBAIS

    So Paulo

    2013

    Tese apresentada ao Instituto de

    Psicologia da Universidade de So

    Paulo, como parte dos requisitos para

    a obteno do grau de Doutor em

    Psicologia.

    rea de Concentrao: Psicologia

    Experimental

    Orientadora: Profa. Dra Maria Martha

    Costa Hbner

    Orientadora: Dra Maria Martha Costa

    Hbner

  • AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL E PARCIAL DESTE

    TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA

    FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

    Catalogao na publicao

    Biblioteca Dante Moreira Leite

    Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo

    Abreu, Paulo Roberto.

    Um modelo experimental do transtorno obsessivo-compulsivo baseado nas

    relaes funcionais entre respostas verbais e no verbais / Paulo Roberto

    Abreu; orientadora Maria Martha Costa Hbner. So Paulo, 2013.

    88p.

    Tese (Doutorado Programa de Ps-Graduao em Psicologia. rea de concentrao: Psicologia Experimental) Instituto de Psicologia da

    Universidade de So Paulo.

    1. Modelo experimental. 2. Transtorno obsessivo-compulsivo. 3. Anlise do

    Comportamento. I. Ttulo

  • i

    FOLHA DE APROVAO

    Paulo Roberto Abreu

    Um modelo experimental do transtorno obsessivo-compulsivo baseado nas relaes

    funcionais entre respostas verbais e no verbais.

    Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da

    Universidade de So Paulo para a obteno de ttulo de

    Doutor em Psicologia Experimental.

    rea de concentrao: Psicologia Experimental

    Orientao: Profa Dra Maria Martha Costa Hbner

    Aprovada em:

    Banca Examinadora

    Prof.

    Instituio: Assinatura:

    Prof.

    Instituio: Assinatura:

    Prof.

    Instituio: Assinatura:

    Prof.

    Instituio: Assinatura:

    Prof.

    Instituio: Assinatura:

  • ii

    AGRADECIMENTOS

    Ao longo desses anos todos acabei me apaixonando pela Anlise Experimental do

    Comportamento Verbal, ainda que eu j tivesse alguma familiaridade com esse fenmeno

    dentro da rea aplicada. Mas minha experincia com a aplicao no bastou. Meus

    interesses migraram de forma irreversvel para a rea de pesquisa bsica. O que me seduziu

    mesmo foi o mtodo experimental de produzir conhecimento em psicologia. Penso que

    fazer experimentaes controladas utilizar o mtodo experimental para investigar

    quaisquer fenmenos comportamentais, independentemente de onde se julgue que as suas

    anlises sejam importantes, seja no laboratrio ou na aplicao. Aprendi isso tudo no em

    textos, mas dentro das salas e corredores do Instituto de Psicologia da USP.

    E foi fundamental ter algum que me conduziu nessa empreitada de apreo pelo

    conhecimento.

    A diversidade de conhecimentos e interesses faz parte dos seus repertrios. Pesquisa

    bsica, aplicada e conceitual. Foram muitos projetos em que voc me convidou,

    acadmicos ou at mesmo de divulgao cuidadosa de nossa cincia. O cansao pela

    responsabilidade veio em alguns momentos, verdade, mas nunca desprovido de enorme

    satisfao pelos pequenos progressos. Quando as coisas no davam to certo, no faltaram

    ternura e compresso de sua parte. Em cada dia de minha vida tento exercitar isso. Aprendi

    contigo que mais importante do que saber verbalizar sobre reforadores, ser uma pessoa

    reforadora. Obrigado pelo carinho e amizade Martha Hbner.

    famlia Abreu com grande amor - Teodoro Abreu, meu pai, minha fortaleza.

    Nunca mediu esforos para dar o melhor em educao. Amante dos fatos, muitas vezes

  • iii

    mais do que se possa falar sobre eles. O melhor leitor de contingncias que j conheci.

    Maria de Lourdes Abreu, minha me, minha alegria de viver v cores em coisas muito

    singelas transforma em alegria as pequenas coisas do cotidiano. Mostra que no

    necessrio muito para um resultado grandioso. Marcelo Abreu, meu irmo, meu modelo de

    profissional. Assisti graciosidade e firmeza na maneira com que lida com o trabalho.

    Voc pode no ter se dado conta, mas bom humor e reinveno foi o que aprendi.

    Alexsandra Abreu, meu primeiro e nico contato com a psicologia. Eu no seria psiclogo

    se no tivesse sido por voc, e essa misso vou carregar pelo resto de minha vida. Catiane

    Abreu e Adilsom Silva, meus cunhados queridos, amo muito vocs. Nicole Abreu e Bianca

    Abreu Silva, minhas sobrinhas lindas, brincar a melhor coisa que vocs me lembram de

    fazer.

    famlia Silvrio Srgio Silvrio, preocupao extrema para que esse estudo de

    doutorado ocorresse. Lucas Silvrio, voc conseguiu transformar a preparao do

    restaurante experimental em uma atividade divertida. Vera, Bruno, Tatiana e Rodolfo

    sempre curiosos para saber do progresso de toda a pesquisa. Amo vocs! Muito obrigado.

    Ao meu amigo Antnio Pinto. Obrigado por ter concedido o espao do seu

    restaurante para que essa pesquisa fosse rodada. Sou muito grato receptividade com que

    recebeu toda a equipe de pesquisa.

    Sonia Meyer, ler o Comportamento Verbal sob a sua tutoria foi apaixonante. Mais

    do que isso. Aprender contigo sobre esse livro, aplicado na clnica comportamental, foi um

    privilgio.

  • iv

    Miriam Mijares mostrou que o estudo primoroso dos modelos experimentais de

    psicopatologia e da farmacologia comportamental pode, certamente, ser uma das maiores

    contribuies para o entendimento contextual e tratamento das psicopatologias.

    Roberto Banaco voc continua sendo para mim um modelo de dedicao

    interdisciplinaridade. Suas articulaes do laboratrio com a clnica comportamental

    encantam. Sua contribuio como modelo de terapeuta brasileiro foi definitiva na minha

    formao.

    Denis Zamignani, o maior especialista comportamental em TOC que conheo. Se

    no fossem as suas primeiras experincias e textos abordando o assunto, ento essa tese

    nunca teria sido escrita.

    Agradeo imensamente a secretria do PSE Sonia Maria Caetano de Souza, que no

    mediu esforos para me acolher no programa e que sempre ajudou com os incontveis

    trmites acadmicos. Sonia receba o meu mais sincero obrigado.

    Ao longo de todo o percurso muitos amigos fizeram parte da jornada. Erickson

    Dambrs, meu irmo, continuamos a caminhada de longa data. Alexandre Werpachowski,

    sempre otimista. Marina, amiga guerreira, no cansa de sempre fazer mais, inspira.

    Obrigado pela parceria.

  • v

    DEDICATRIA

    Juliana Helena

    Quando eu tomo uma deciso boa, voc otimista.

    Quando eu tomo uma deciso ruim, voc otimista.

    Amo muito essa sua teimosia.

  • vi

    The battle over Skinners ideas is just beginning. It promises to be one of the most interesting contests of

    our generation. (Gail Boyer, 1974, St. Louis Post-Dispatch)

  • vii

    RESUMO

    Abreu, P. R. (2013). Um modelo experimental do transtorno obsessivo-compulsivo baseado

    nas relaes funcionais entre respostas verbais e no verbais. Tese de Doutorado, Instituto

    de Psicologia, Universidade de So Paulo, So Paulo.

    Modelos experimentais do transtorno obsessivo compulsivo (TOC) com humanos mostram

    que uma forma de evocar comportamentos de checagem apresentar instrues que

    especificam consequncias aversivas para o comportamento inefetivo na execuo de

    tarefas. Atualmente h na rea somente um estudo experimental com delineamento de

    sujeito nico. Os presentes dois experimentos com 16 participantes verbalmente

    habilidosos tiveram o objetivo de testar se instrues com especificao de consequncia

    aversiva ou apetitiva poderiam ter o efeito de produzir respostas de checagem. Em um

    restaurante experimental, as instrues foram apresentadas durante uma tarefa de separao

    de sementes misturadas. No Experimento 1, cinco de oito participantes apresentaram

    maiores porcentagens de checagens sob especificao de consequncia aversiva. No

    Experimento 2, sete de oito participantes apresentaram maiores porcentagens sob

    especificao de consequncia apetitiva. Concluiu-se que determinadas instrues

    alteraram a funo discriminativa e/ou motivadora dos estmulos envolvidos na tarefa

    experimental. Sugere-se que o presente delineamento pode permitir a formulao de

    anlises funcionais do fenmeno comportamental normalmente envolvido em alguns casos

    de TOC.

    Palavras-chave: comportamento governado por regras, modelo experimental,

    comportamento de checagem, estmulo especificador de contingncia, comportamento de

    checagem, transtorno obsessivo-compulsivo.

  • viii

    ABSTRACT

    Abreu, P. R. (2013). An experimental model of obsessive-compulsive disorder based on the

    functional relations between verbal and nonverbal responses. PhD dissertation, Instituto de

    Psicologia, Universidade de So Paulo, So Paulo.

    Experimental models of obsessive compulsive disorder (OCD) with humans show that a

    way to evoke checking behaviors is to provide instructions that specify aversive

    consequences for behavior ineffective in performing tasks. Currently there is only one

    experimental study with a single subject design in this area. The present study presents two

    experiments with 16 verbally skilled participants tested whether instructions specifying the

    appetitive or aversive consequence could have the effect of producing checking behaviors.

    In an experimental restaurant, the instructions were presented during a task of separation of

    mixed seeds. In Experiment 1, five of eight participants showed higher percentages of

    checks under specification of aversive consequence. In Experiment 2, seven of eight

    participants had higher percentages under specification of appetitive consequence. It was

    concluded that certain instructions alter the discriminative and motivate function of the

    stimuli involved in experimental task. It is suggested that this design may allow the

    formulation of functional analysis of behavioral phenomenon normally involved in some

    cases of OCD.

    Key words: rule-governed behavior, experimental model, checking behavior, contingency-

    specifying stimulus, obsessive compulsive disorder.

  • ix

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 - Porcentagens das respostas de checagem apresentadas pelos

    participantes P1, P3, P5 e P7 ao longo das fases experimentais ABA do

    Experimento 1. ........................................................................................................................................ 38

    FIGURA 2 Porcentagens das respostas de checagem apresentadas pelos

    participantes P2, P4, P6 e P8 ao longo das fases experimentais BAB do

    Experimento 1. ........................................................................................................................................ 40

    FIGURA 3 - Porcentagens das respostas de checagem apresentadas pelos

    participantes P9, P11, P13 e P15 ao longo das fases experimentais ABA do

    Experimento 2. ........................................................................................................................................ 51

    FIGURA 4 - Porcentagens das respostas de checagem apresentadas pelos

    participantes P10, P12, P14 e P16 ao longo das fases experimentais BAB do

    Experimento 2. ........................................................................................................................................ 53

  • x

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 Apresentao da sequncia de fases programadas ABA para cada

    participante do Experimento 1. ........................................................................................... 34

    TABELA 2 Apresentao da sequncia de fases programadas BAB para cada

    participante do Experimento 1. ........................................................................................... 36

    TABELA 3. Amplitude e porcentagem mdia de concordncia entre

    observadores para cada participante do Experimento 1. ...................................................... 42

    TABELA 4 Apresentao da sequncia de fases programadas ABA para cada

    participante do Experimento 2. ........................................................................................... 48

    TABELA 5 Apresentao da sequncia de fases programadas BAB para cada

    participante do Experimento 2. ........................................................................................... 50

    TABELA 6. Amplitude e porcentagem mdia de concordncia entre

    observadores para cada participante do Experimento 2. ...................................................... 55

  • SUMRIO

    Resumo .................................................................................................................................................... vii

    Abstract ............................................................................................................................ viii

    Lista de figuras ................................................................................................................... ix

    Lista de tabelas .................................................................................................................... x

    Comportamento verbal e comportamento governado por regras ........................................... 4

    Regras como estmulos alteradores de funo ................................................................... 8

    Pesquisa experimental, modelos de psicopatologia e o comportamento

    governado por regras .......................................................................................................... 10

    Estudos bsicos de orientao cognitiva .......................................................................... 12

    Estudos bsicos de orientao analtico-comportamental ................................................. 20

    Problemas de pesquisa e experimentos propostos ............................................................... 30

    Experimento 1.................................................................................................................... 31

    Mtodo ........................................................................................................................... 31

    Resultados ...................................................................................................................... 37

    Discusso ....................................................................................................................... 42

    Experimento 2.................................................................................................................... 45

    Mtodo ........................................................................................................................... 46

    Resultados ...................................................................................................................... 51

    Discusso ....................................................................................................................... 55

    Discusso geral .................................................................................................................. 57

    Referncias ........................................................................................................................ 62

    Apndices ................................................................................................................................................ 68

  • 1

    ntroduo

    Para a Anlise do Comportamento, o conjunto de fenmenos a que se convencionou

    chamar de psicopatologia nada mais do que o aumento ou diminuio da frequncia de

    certos comportamentos, em geral no desejados na cultura da pessoa, e que por isso mesmo

    podem trazer sofrimento significativo e prejuzo funcional (Ullmann & Krasner, 1975).

    Dentro dessa concepo, os comportamentos patolgicos no diferem dos de uma pessoa

    considerada normal, exceto pela diferena expressiva em sua frequncia (Ferster, 1973).

    Assim tambm a cincia bsica comportamental prope que os modelos experimentais de

    psicopatologia no seriam de natureza distinta dos comportamentos assumidos como

    normais. Para que um modelo prove ser adequado nas investigaes experimentais

    necessrio unicamente que ele englobe variveis relevantes aos problemas de sade mental

    (Skinner, 1972).

    Comumente a Psicologia e a Anlise Experimental do Comportamento empregam

    sujeitos animais nos modelos, vistos os problemas ticos, sociais, legais ou financeiros

    envolvidos em se utilizar humanos. Animais so utilizados em laboratrio sob a suposio

    tambm de que ao pesquisador possvel modelar o comportamento patolgico semelhante

    ao que ocorre em humanos (Mijares-Garcia, 2005). Dentre as psicopatologias j

    contempladas pelo desenvolvimento de modelos experimentais, destaca-se o transtorno

    obsessivo-compulsivo (TOC).

    No TOC a polidipsia induzida por esquema tem sido o modelo mais amplamente

    reproduzido em laboratrio (Silva, Guerra, & Alves, 2005). Na polidipsia ocorre o beber

  • 2

    excessivo em ratos privados de gua, quando so submetidos a um esquema intermitente de

    liberao de alimento. O beber excessivo acontece logo aps a ingesto do alimento e

    excede bastante a ingesto diria de sujeitos sob as mesmas condies de privao (Woods

    et al., 1993). Embora o modelo da polidipsia induzida por esquema tenha o potencial de

    explicar as compulses em ratos, ainda assim continuaria existindo uma limitao relevante

    no seu alcance explicativo dos comportamentos observados em humanos com o diagnstico

    - ela no explica os pensamentos repetidos ou obsesses, um fenmeno verbal

    caracterstico do TOC.

    Em alguns casos de TOC, por exemplo, indivduos mostram comportamentos de

    lavar repetidamente as mos, que supostamente estariam sob o controle verbal de auto-

    regras especificadoras de contaminao. Dentro desse contexto, o estudo bsico do

    comportamento governado por regras pode ser importante para o aprimoramento dos

    modelos de TOC, pois algumas relaes entre variveis verbais e no verbais so de grande

    relevncia na reproduo do fenmeno clnico em laboratrio.

    O presente estudo se prope a apresentar um modelo experimental analtico-

    comportamental de TOC com humanos, baseado nas relaes funcionais entre o

    comportamento verbal e o no-verbal. Pelo fato do fenmeno clnico envolver relaes

    verbais, ser feito inicialmente uma apresentao do referencial terico adotado para a

    linguagem, sob a justificativa de que ele pode ser adequadamente aplicado na investigao

    do modelo. Para isso, sero apresentadas e discutidas as concepes behavioristas do (1)

    comportamento verbal e do (2) comportamento governado por regras. O estudo apresentar

    tambm uma (3) reviso da literatura, com estudos bsicos cognitivos e comportamentais,

    que avaliam o efeito de diferentes instrues, com especificao de consequncias

  • 3

    aversivas, sobre as respostas de checagem. Nesse tpico, ainda, tentar-se- desenvolver

    uma articulao terica crtica entre essas duas correntes de pesquisa em psicologia. Em

    seguida sero apresentados o (4) problema de pesquisa e os (5) Experimentos 1 e 2,

    utilizando instrues com especificao de consequncia aversiva e apetitiva,

    respectivamente. O trabalho ser finalizado com uma (6) discusso geral sobre a relevncia

    do mtodo de pesquisa adotado na construo de um modelo experimental que explicite

    algumas variveis de controle dos comportamentos obsessivos e compulsivos.

  • 4

    COMPORTAMENTO VERBAL E COMPORTAMENTO GOVERNADO POR

    REGRAS

    O comportamento operante age sobre o meio modificando-o, em uma ao

    mecnica direta. As consequncias do comportamento alteraro por sua vez a probabilidade

    de emisso futura desse mesmo comportamento. Mas conforme sinaliza Skinner

    (1957/1992), muitas vezes o homem age indiretamente sobre seu ambiente, por intermdio

    de um outro homem. O agir de forma indireta aumenta a extenso com que um falante pode

    modificar seu ambiente, sobretudo quando o falante no tem repertrio efetivo para a

    mudana desejada. Um pedido ou uma ordem de um falante controla o comportamento de

    outra pessoa caso essa tenha sido especialmente modelada em faz-lo por uma comunidade

    verbal, ou seja, por um grupo de pessoas que falam entre si reforando as verbalizaes

    umas das outras (Baum, 2005). Dentro da comunidade verbal, a pessoa que medeia o

    reforamento para o comportamento verbal do falante chamada de ouvinte. A mediao

    do ouvinte relacionada aos eventos ambientais enfatiza o carter mediacional que distingue

    o operante verbal dos outros comportamentos que mantm contato direto com as

    consequncias produzidas (Vargas,1998). O comportamento verbal , portanto, definido

    como sendo o comportamento cujas consequncias so mediadas por uma audincia que

    participa da mesma comunidade verbal que o falante (Skinner, 1957/1992).

    Skinner (1957/1992) ilustra a mediao social do reforamento dizendo que

    Um homem sedento, por exemplo, em vez de dirigir-se a uma fonte, pode

    simplesmente pedir um copo de gua, isto , pode produzir um comportamento

  • 5

    constitudo por certo padro sonoro, o qual por sua vez induz algum a lhe dar

    um copo de gua. (...) A consequncia ltima, o recebimento de gua, no

    mantm qualquer relao geomtrica ou mecnica com a forma do

    comportamento de pedir gua. (p. 1)

    Em uma anlise funcional do comportamento do falante como a descrita pelo autor,

    inicialmente feita uma especificao do operante verbal de interesse para, em seguida,

    explicitar quais so as condies ambientais relevantes das quais ouvinte e falante

    participam. As descries interligadas do comportamento do ouvinte e do falante

    descrevem uma explicao do episdio verbal total (Skinner, 1957/1992). Nesse sentido, o

    comportamento verbal opera como um sistema de relaes contingentes interativas de

    aes mediadas (Vargas, 1998).

    No mbito do estudo do comportamento verbal, deu-se uma ateno especial ao

    aprendizado por regras, pois o comportamento por elas especificado pode ser aprendido

    mais rapidamente, proporcionando com isso algumas vantagens adaptativas, dentre elas a

    preservao dos indivduos de nossa espcie em muitas situaes de perigo (Skinner,

    1974/1976). Assim, as pessoas de uma determinada comunidade ensinam a seus membros

    habilidades importantes, sem que esses necessitem aprender unicamente por meio das

    contingncias especificadas pelas regras (Skinner, 1988).

    Para Skinner (1969), regras so estmulos verbais especificadores de contingncias

    que exercem funo discriminativa para um ouvinte. Uma regra na funo de antecedente

    verbal pode especificar o desempenho requerido do ouvinte sem fazer qualquer aluso s

    consequncias de seu no seguimento (Catania, 2003; Catania, Matthews, & Shimoff,

  • 6

    1982). Nesses moldes, uma regra pode ser observada em formulaes que especificam

    somente o comportamento a ser seguido, quando um falante diz pare, no faa assim

    ou saia. De outro modo, a regra pode especificar toda a contingncia com sua

    consequncia, a exemplo de algum a quem dito o que acontecer se no disser ou fizer

    algo (Catania, 2003; Catania et al., 1982). As pessoas frequentemente optam por especificar

    as contingncias que esto operando em determinado ambiente, sobretudo quando solicitam

    do outro comportamentos considerados apropriados ao contexto social. Dessa forma, por

    exemplo, as agncias controladoras frequentemente promovem o seguimento de regras por

    meio da especificao de consequncias aversivas a curto, mdio e longo prazo para o no

    seguimento (Sidman, 1989/2001; Skinner 1953/1968). A ameaa do inferno para os

    comportamentos pecaminosos ou as placas de trnsito que trazem avisos de multa para as

    infraes, normalmente observados em igrejas e governos, respectivamente, so exemplo

    de regras que podem especificar os trs termos da trplice contingncia1.

    Orientaes, leis, conselhos, avisos e ordens so tidos como bons exemplos de

    controle por regras. Dentro desse contexto, um controle instrucional ocorre sob a instruo

    verbal do falante que especifica um modo especial de agir do ouvinte. De fato, a funo

    mais ampla do comportamento verbal a possibilidade do falante dizer ao ouvinte o que

    fazer ou o que dizer.

    Regras como instrues evocam comportamentos do ouvinte porque o seu

    comportamento de seguir regras foi substancialmente reforado no passado por uma

    1 Segundo Matos (2001), o termo regra frequentemente tem sido usado para descrever uma variedade de

    circunstncias antecedentes e de respostas, embora estudos recentes tragam a expresso instrues para

    especificar as circunstncias em que acontece a ao. Similarmente abordagem da autora, na presente tese

    os dois termos sero utilizados indistintamente.

  • 7

    comunidade verbal. Por esse motivo, Catania (2003) define o comportamento governado

    por regras como sendo um operante de ordem superior, cujos membros seriam casos

    particulares do seguimento de regras especficas. No operante de ordem superior as

    consequncias mediadas socialmente so as variveis responsveis pela instalao e

    manuteno do comportamento de seguir regras.2 Assim, por exemplo, as pessoas em

    culturas judaico-crists historicamente aprendem a dar comida, bens ou dinheiro para

    pedintes em necessidade, por meio do reforo mediado pelos membros da comunidade. Por

    outro lado, as consequncias atuais mediadas socialmente, produzidas pelos casos

    particulares, podem alterar a probabilidade futura de certos comportamentos de seguir

    regras (Perone, Galizio, & Baron, 1988). Dessa forma, um ouvinte que tenha aprendido a

    dar dinheiro aos necessitados poder vir a deixar de faz-lo, ainda que abra concesses

    quanto comida. Isso ocorre em circunstncias em que a comunidade verbal passa a punir

    o comportamento de dar dinheiro sob o controle de regras que alertam para os problemas

    gerados pela prtica de dar esmolas.

    2 No episdio verbal, tanto o comportamento do falante reforado pela mediao social do ouvinte, como o

    comportamento de seguir a regra do ouvinte reforado pela mediao social do falante (Greer, 2009).

  • 8

    Regras como Estmulos Alteradores de Funo

    Desde a publicao de o Comportamento Verbal (Skinner, 1957/1992), poucos

    analistas do comportamento abordaram o efeito alterador de funo do estmulo verbal (e.g.

    Alessi, 1992; Hayes & Hayes, 1989; Hayes, Barnes-Holmes, & Roche, 2001; Palmer, 1998,

    2007; Schlinger & Blakely, 1987, 1994). Para Schlinger e Blakely (1987) as regras so

    estmulos verbais alteradores de funo por modificarem a funo de estmulos no verbais

    por elas especificados, produzindo com isso mudanas no comportamento evocado. Essa

    interpretao aproximaria os efeitos comportamentais do estmulo verbal dos efeitos

    alteradores de funo encontrados no condicionamento operante e respondente (Michael,

    1983). Os autores utilizaram o termo Estmulo Especificador da Contingncia (CSS) de

    Skinner (1969), e tambm operao verbal alteradora de funo (Schlinger , 2008a; 2008b),

    para se referir regra como sendo um estmulo que teria a funo de modificar a funo

    dos estmulos ambientais arbitrariamente relacionados. Dessa forma, um CSS produz

    mudanas nos estmulos especificados da contingncia, sendo estes estmulos

    discriminativos, eliciadores, operaes estabelecedoras (OEs) ou estmulos consequentes

    (Schlinger, 1993). Mas segundo a conceituao de Schlinger e Blakely (1987), o efeito

    evocativo residiria no estmulo discriminativo (SD) especificado na regra, no na regra em

    si, conforme descreve a conceituao skinneriana clssica (cf., Schlinger, 1990, 1993).

    Dessa forma, em uma instruo como quando voc vir o chefe lhe d os parabns, a regra

    seria um CSS e, o estmulo chefe, o SD. A emisso do CSS altera a funo do estmulo

    chefe para uma funo discriminativa que ir controlar a resposta do ouvinte de dar os

    parabns. Sendo assim, a regra no poder exercer diretamente a funo de SD, pois o

  • 9

    ouvinte s parabenizar o chefe quando este estiver na sua presena. Em o Comportamento

    Verbal, Skinner (1957/1992) d um exemplo similar, ilustrando o efeito alterador de funo

    exercido pelo estmulo verbal. Diz o autor que:

    O estmulo verbal Quando eu disser trs, v! pode no ter efeito imediato

    classificvel como uma resposta, mas ele muda o comportamento subsequente

    do ouvinte com relao ao estmulo Trs. Ns estamos... preocupados... com o

    comportamento operante de ir evocado pelo estmulo discriminativo trs.

    (pp. 358-359).

    Anteriormente a essa instruo, o comportamento verbal trs no evocaria o

    comportamento de sair em disparada. Mas a resposta verbal Quando eu disser trs

    momentaneamente aumenta a funo evocativa do estmulo trs, v. Assim, possvel

    afirmar que o estmulo verbal trs teve sua funo alterada para uma funo

    discriminativa para a resposta de ir.

    Em uma outra interpretao da funo de estmulo, regras poderiam ser entendidas

    como sendo unicamente operaes estabelecedoras, haja vistas as suas propriedades de

    aumentar a efetividade de algum objeto/evento consequente como reforador e de evocar

    qualquer comportamento que tenha produzido dado reforador no passado (Malott, 1988;

    Malott, 1989). Contingncias de controle aversivo normalmente so bons exemplos de OE

    por aumentar o valor da suspenso da estimulao aversiva e por evocarem os

    comportamentos de fuga ou esquiva (Michael, 1982, 1993, 2000).

  • 10

    Uma instruo que especifique a resposta a ser seguida pelo ouvinte, sinalizando

    consequncias aversivas para o no seguimento, poderia preencher esses critrios. Assim,

    uma instruo como a se voc no tirar as roupas do varal elas vo molhar na chuva,

    estabeleceria como condies aversivas a resposta concorrente ao seguimento da regra e

    sua consequncia (e.g., ficar jogando vdeo game). J o seguimento da regra suspenderia ou

    reduziria a aversividade. Um possvel seguimento de regra, nesse contexto, seria o ouvinte

    retirar a roupa do varal em um comportamento de esquiva. Determinada regra evocaria o

    seu seguimento atenuando com isso a aversividade para o no seguimento (Braam &

    Malott, 1990; Malott, 1988; Malott, 1989).

    PESQUISA EXPERIMENTAL, MODELOS DE PSICOPATOLOGIA E O

    COMPORTAMENTO GOVERNADO POR REGRAS

    As explicaes cognitivas para o TOC enfatizam o papel singular da varivel verbal

    quando focam os pensamentos do obsessivo-compulsivo no desenvolvimento, manuteno

    e modificao das checagens (Rachman, 2002). Pela contiguidade consistente entre

    pensamentos e rituais, no seria de se estranhar que a cincia psicolgica tenha perseguido

    uma determinao cognitiva para os comportamentos compulsivos. O modelo enfatiza a

    relao causal R-R (resposta encoberta-resposta aberta) como sendo uma explicao causal

    til no entendimento do fenmeno. Esse tipo de interpretao rapidamente alcanou um

    alto status conceitual dentro da pesquisa bsica e aplicada, e hoje constitui o mainstream

    interpretativo de escolha naquela abordagem.

  • 11

    Um subtipo de indivduos com o diagnstico de TOC, chamados de checadores

    (Franklin, & Foa, 2008), parece tambm apresentar uma relao R-R entre respostas abertas

    e encobertas. Nela, o primeiro elo da dade seria constitudo pelas auto-regras contidas nas

    respostas obsessivas e o segundo elo pelas respostas verbalmente governadas,

    tradicionalmente concebido na literatura como sendo constitutivo das compulses (Abreu

    & Prada, 2004, 2005; Zamignani, 2001; Zamignani, & Banaco, 2005). De acordo com essa

    conceituao clssica, os indivduos poderiam apresentar compulses de checagem sob o

    controle de obsesses, relacionadas s regras que especificam responsabilidade pessoal,

    como em uma auto-instruo em que um indivduo diz a si mesmo que sua famlia correr

    perigo se no conferir a vlvula do gs.

    Posturas interpretativas cognitivas compreendem que o comportamento controlado

    por processos simblicos localizados na conscincia ou mente. Matos (2001) afirma que no

    behaviorismo radical tanto a linguagem, os processos simblicos e as regras so

    comportamento verbal, gerados no ambiente social. O comportamento governado por

    regras seria, portanto, sub-produto da interao social e no causa de outros

    comportamentos (Matos, 2001). De acordo com essa concepo, na anlise de uma relao

    R-R entre auto-regras e respostas abertas, precisaramos antes investigar quais so as

    variveis atuais (e histricas) antecedentes e consequentes que estariam controlando

    determinada relao. No TOC, por exemplo, a checagem controlada por regras ocorreria

    por meio de respostas repetidas, cuja funo seria esquivar ou escapar de algum evento

    aversivo externo ao organismo, sendo este evento, em geral, consequente a uma resposta

    inefetiva em produzir mudanas especficas no ambiente. Nesse sentido, para o indivduo

    com TOC, o contato com o evento aversivo consequncia de uma resposta de checagem

  • 12

    inefetiva, e para que isso no ocorra, novas respostas de checagem devero, portanto, ser

    emitidas.

    A concepo analtico-comportamental se mostra bastante dspar dos entendimentos

    trazidos na psicologia tradicionalmente orientada para explicaes internalistas para os

    problemas de comportamento. Por esse motivo, transpor explicaes mentalistas para as

    psicopatologias tem ainda se tornado um grande desafio.

    Estudos bsicos de orientao cognitiva

    Estudos experimentais dentro da tradio cognitiva mostram que uma forma efetiva

    de levar algum a apresentar comportamentos de checagem apresentar instrues

    especificadoras de consequncias negativas que atribuem excessiva responsabilidade na

    execuo de uma tarefa (Arntz, Voncken, & Goosen, 2007; Bouchard, Rhaume, &

    Ladouceur, 1999; Mancini, DOlimpio, & Cieri, 2004; Ladouceur et al., 1995; Ladouceur,

    Rhaume, & Aublet, 1997; Lopatka & Rachman, 1995). A responsabilidade definida

    dentro da hiptese cognitiva como uma crena que algum traz de possuir um poder de

    provocar ou prevenir consequncias negativas cruciais (Salkovskis, Richards, & Forrester,

    1995). Determinadas consequncias podem ser concretas ou morais (Salkovskis et al.,

    1995). Dito de outra forma, guardam relao direta com as contingncias ou apenas so

    especificadas pelas regras sociais. O conceito enfatiza duas distores cognitivas

    relacionadas: a influncia pessoal e as consequncias negativas. Uma consequncia

    negativa seria um evento cuja probabilidade de ocorrncia no dependeria diretamente do

    comportamento do indivduo. Assim por exemplo, para um participante de pesquisa, uma

  • 13

    consequncia negativa pode vir a ocorrer como consequncia do desempenho de mais de

    uma pessoa. Por seu turno, a influncia pessoal seria a percepo do indivduo sobre o

    seu papel causal na produo do evento. Nesse sentido, o participante teria a conscincia

    verbal de que o evento negativo foi diretamente produzido pelo seu desempenho inefetivo.

    Ladouceur e colaboradores (1995) publicaram dois experimentos examinando

    diferentes nveis de responsabilidade e sua influncia em comportamentos de checagem,

    verificando algumas semelhanas com os comportamentos compulsivos observados no

    transtorno obsessivo-compulsivo. Com resultados relevantes, o Experimento 2 adotou

    como tarefa uma classificao em contexto farmacolgico. No experimento, quarenta

    participantes adultos foram orientados a separar plulas coloridas misturadas. Foram

    confeccionadas duzentas cpsulas farmacuticas de acar, com dez combinaes de cores,

    sendo vinte cpsulas de cada cor. As cpsulas foram colocadas misturadas em uma bacia e

    quinze garrafas vazias semitransparentes foram dispostas para acondicionar as plulas de

    acordo com a cor designada

    Os participantes foram distribudos randomicamente entre um grupo de alta

    responsabilidade (HR) e outro de baixa responsabilidade (LR). Ambos os grupos foram

    instrudos a pegar uma cpsula por vez, sem olhar para a bacia, colocando nas garrafas de

    acordo com a cor designada. Os participantes teriam que classificar as plulas

    adequadamente o mais rpido possvel. Poderiam conferir as garrafas e corrigir os erros o

    tanto quanto achassem necessrio, em casos que hesitassem ou apresentassem alguma

    dvida durante na tarefa. As seguintes instrues foram apresentadas para o grupo HR e

    LR, respectivamente:

  • 14

    Induo de responsabilidade (HR): O experimentador falava para os participantes

    que o grupo de pesquisa era especializado na percepo de cores e que havia sido

    recentemente contratado por uma indstria farmacutica para trabalhar em um estudo

    relacionado exportao de uma nova droga, criada para tratar um vrus que estava

    devastando o sudeste da sia. Aos participantes foi dito ainda que a regio era muito pobre

    e que por isso sua populao no tinha muito estudo. Por esse motivo houve a necessidade

    de que se desenvolvesse um sistema de cores que tornasse a distribuio das novas plulas

    segura para os habitantes. Foi enfatizado que o papel dos participantes seria crucial para o

    sucesso do projeto e que seus resultados seriam decisivos, j que o estudo estava em sua

    fase final. Adicionou-se tambm a informao de que poderiam prevenir srias

    consequncias, pois os resultados do trabalho influenciariam diretamente a manufatura das

    drogas.

    Reduo de responsabilidade (LR): Era dito aos participantes que o experimentador

    estaria interessado apenas na percepo das cores e que o experimento era somente um

    treino a ser realizado antes de o estudo comear. Acrescentou-se que os resultados

    individuais no seriam analisados.

    Para verificar os efeitos da manipulao, quatro questes foram feitas. As questes

    eram relativas percepo da probabilidade e severidade das consequncias negativas,

    alm da influncia do participante sobre as consequncias e sua percepo de

    responsabilidade. Utilizaram-se ainda como variveis de controle o Inventrio Beck de

    Depresso (BDI; Beck, Rush. Shaw, & Emory, 1979), o Inventrio Beck de Ansiedade

    (BAI; Beck, Epstein, Brown, & Steer, 1988) e o Inventrio Pdua (PI; Sanavio, 1988). O

  • 15

    inventrio Pdua permite acessar diferentes aspectos do TOC como os impulsos, lavagens,

    checagens, ruminaes e preciso.

    As variveis dependentes foram medidas por observao direta. Quatro topografias

    de resposta foram ento categorizadas:

    (1) Hesitaes, definidas como a observao atenta da garrafa por 2s ou mais, ou como o

    movimento das mos do participante entre duas plulas diferentes por pelo menos 2s;

    (2) Conferncias e modificaes durante a tarefa, definidas como a interrupo da

    separao em uma determinada garrafa, por aproximadamente 1s, com o despejamento para

    observao do seu interior. O esvaziamento do contedo da garrafa na palma da mo

    tambm foi contabilizado. As modificaes referiam-se a qualquer mudana feita durante a

    tarefa em que se tenha adicionado ou subtrado uma ou mais cpsulas de alguma garrafa;

    (3) O nmero de erros ocorridos durante a tarefa;

    (4) O tempo demandado na classificao.

    As variveis subjetivas foram avaliadas com um questionrio incluindo (1) dvidas

    e urgncia em conferir; (2) desconforto experienciado durante a tarefa e (3) os nmeros de

    erros subjetivos feitos ao longo da tarefa.

    Ao final da sesso o experimentador revelava o experimento, explicando ao

    participante os objetivos e procedncia da pesquisa com a solicitao de assinatura em

    termo de consentimento para o uso dos dados.

    Os resultados mostraram que os participantes do grupo HR hesitaram e conferiram

    mais do que o grupo LR. Tambm apresentaram maior preocupao e ansiedade com os

    erros durante a tarefa. De acordo com a definio de responsabilidade de Salkoviskis e

    colaboradores (1995), tanto a influncia individual como tambm os aspectos cruciais das

  • 16

    consequncias negativas estariam envolvidos na percepo de responsabilidade.

    Concluram Ladouceur e colaboradores (1995) que os dados so interessantes por darem

    suporte emprico para a relao direta entre a percepo de responsabilidade e os

    comportamentos de checagem. Contudo, para os autores, esse estudo no pde avaliar o

    efeito de ambas as variveis em separado no controle dos comportamentos de checagem.

    Em um estudo posterior Ladouceur e colaboradores (1997) testaram o efeito da

    influncia pessoal e o efeito das consequncias negativas em situaes de tomada de

    deciso em adultos. O objetivo do delineamento seria isolar a varivel crtica na

    determinao das checagens. Setenta e sete participantes foram distribudos em quatro

    amostras instrudas a separar as cpsulas. Foram empregadas duzentas plulas de diferentes

    cores (onze tipos, vinte plulas de cada) e quinze garrafas semitransparentes. As variveis

    dependentes desse estudo relacionadas aos comportamentos de checagem foram iguais s

    variveis do primeiro estudo (Ladouceur et al., 1995).

    As seguintes instrues foram ento apresentadas s quatro amostras,

    respectivamente:

    Condio combinada: Foi dada a mesma instruo do estudo de Ladouceur e

    colaboradores (1995) referente instruo de induo de responsabilidade somada s

    consequncias negativas

    Condio de influncia: Com o objetivo de aumentar a influncia pessoal, foi

    adicionada, s instrues da condio combinada, a informao de que os participantes

    eram parte de uma pequena amostra de trs pessoas e que devido a esse fato, seus

    resultados teriam uma influncia direta nas concluses do estudo.

  • 17

    Condio de consequncias negativas: As instrues gerais da condio combinada

    foram apresentadas, exceto que, com o objetivo de reduzir a influncia pessoal, foi dito aos

    participantes que eles compunham uma equipe de dois mil participantes que levantariam

    dados para as concluses do estudo.

    Condio de controle: Apenas foi esclarecido que a fase era ainda uma situao de

    treino, portanto sem nenhuma consequncia, j que os resultados no seriam analisados.

    Trs questes foram feitas para a conferncia do efeito das manipulaes

    experimentais. As questes eram relativas percepo da probabilidade e severidade das

    consequncias negativas, alm da influncia do participante sobre as consequncias e a sua

    percepo de responsabilidade.

    Ao final da sesso o experimentador revelava os objetivos reais do experimento,

    solicitando a assinatura do termo de consentimento, para o uso dos dados.

    Os resultados mostraram, para os autores, que a denominada influncia pessoal o

    melhor preditor da percepo da responsabilidade. O aumento do potencial das

    consequncias negativas foi suficiente para iniciar algumas topografias relacionadas a

    hesitaes nos participantes, mas a combinao da influncia e das consequncias negativas

    foi necessria para produzir comportamentos de checagem. Ao discutirem os resultados,

    Ladouceur e colaboradores (1997) concluram que ainda que a probabilidade e severidade

    da consequncia negativa estejam relacionadas responsabilidade, seus efeitos foram

    menos acentuados (p. 426).

    Na trajetria das pesquisas cognitivas, os experimentos iniciais sobre o

    comportamento de checagem, empregando participantes no clnicos, deram margem a um

    outro questionamento emprico - se indivduos com o diagnstico de TOC iriam se engajar

  • 18

    em checagens, mais do que as outras pessoas, quando colocados em situaes que lhes

    fosse exigida responsabilidade pessoal. Para testar essa hiptese, Arntz e colaboradores

    (2007) estudaram vinte e sete participantes com TOC como primeiro diagnstico, trinta e

    sete participantes com outro transtorno de ansiedade como primeiro diagnstico e sem TOC

    como segundo e, ainda, vinte e oito participantes sem nenhum diagnstico do Eixo-1 do

    DSM-VI-TR (American Psychiatric Association, 2003).

    Similarmente ao estudo de Ladouceur e colaboradores (1995), os participantes

    foram instrudos a separar duzentas cpsulas, de onze cores diferentes, acondicionadas em

    um pote. Atrs desse pote principal, quinze potes menores foram dispostos em linha para

    separao.

    O delineamento do estudo foi um fatorial 2x3, com duas condies experimentais -

    denominadas alta responsabilidade (HiRes) e baixa responsabilidade (LoRes) - e trs grupos

    de participantes, a saber, pacientes com diagnstico de TOC (OCD patients), pacientes com

    diagnstico de ansiedade (Anx patients) e no pacientes do grupo controle (NonPt

    controls).

    Na instruo de baixa responsabilidade foi dada a mesma instruo empregada no

    estudo de Ladouceur e colaboradores (1995). A instruo de alta responsabilidade tambm

    foi similar ao do estudo anterior, mas adicionou-se a informao de que um estudo prvio

    empregou participantes que no se sentiram responsveis o suficiente, fazendo por isso um

    pssimo trabalho de classificao (Arntz et al., 2007, p. 427). O objetivo desse acrscimo

    foi aumentar o controle da instruo sobre os participantes j que em um estudo piloto a

    instruo descrita em Ladouceur e colaboradores (1995) no exerceu seu efeito.

  • 19

    No estudo de Arntz e colaboradores (2007), algumas respostas encobertas foram

    aferidas por meio da escala anloga visual (VASs). Essa escala mediu as experincias

    subjetivas relatadas com relao ao comportamento de checagem. A varivel dependente

    foi tambm o comportamento de checagem, definido de acordo com as mesmas topografias

    operacionalizadas por Ladouceur e colaboradores (1995). Foi tambm adotado o inventrio

    Pdua para mensurar diferentes aspectos do TOC.

    Nos resultados, a anlise do principal componente na escala VAS revelou, segundo

    os autores (Arntz et al., 2007), trs fatores subjetivos relevantes: (1) perigo (2)

    responsabilidade e (3) desconforto e experincias subjetivas de TOC. De especial

    relevncia, nas experincias subjetivas de TOC o grupo TOC HiRes diferiu

    significativamente dos outros grupos. Somado a isso, os participantes do grupo TOC

    HiRes checaram com maior frequncia, diferindo tambm significativamente dos outros

    grupos. J o tempo dispendido na finalizao da tarefa foi significativo somente entre

    pacientes e no pacientes.

    Os autores concluram que situaes de alta responsabilidade induzem checagem

    em maior frequncia e com maiores escores de experincias subjetivas de TOC (Arntz et

    al., 2007). Os resultados confirmaram a hiptese de que somente o grupo TOC HiRes

    relataria experincias subjetivas de TOC alta. Mais importante, somente o grupo TOC

    HiRes, e no o grupo TOC LoRes, apresentou novos comportamentos de checagem.

  • 20

    Estudos bsicos de orientao analtico-comportamental

    Para Willner (1991), o desenvolvimento de um modelo experimental de

    psicopatologia dever ser pautado em trs critrios para ser considerado vlido: (1) o

    critrio preditivo, (2) o critrio nominal e o (3) critrio de validade de construto.

    O primeiro critrio (preditivo), afirma que o desempenho do modelo deve predizer o

    desempenho na situao modelada. Nesse sentido, o modelo de Ladouceur e colaboradores

    atendeu ao critrio. Os participantes submetidos s instrues com especificao de

    consequncias aversivas aumentaram a frequncia das respostas de checagem em contextos

    anlogos (Arntz, et al., 2007; Bouchard, et al., 1999; Mancini, et al., 2004; Ladouceur et al.,

    1995; Ladouceur, et al., 1997; Lopatka & Rachman, 1995).

    O segundo critrio de Willner (nominal) especifica a necessidade da similaridade de

    fenmenos entre o modelo e a condio modelada. O mtodo desenvolvido para o estudo

    das respostas de checagem em laboratrio reproduziu alguns padres comportamentais

    observados nos indivduos diagnosticados com um subtipo clnico do TOC (Ladouceur et

    al, 1997).

    Finalmente, o terceiro critrio (de validade de construto), estabelece que o modelo

    precisa estar embasado em uma teoria robusta sobre o comportamento a que se deseja

    estudar. Mas o modelo de TOC desenvolvido por Ladouceur e colaboradores (1997),

    embora atinja os dois primeiros critrios, no est sobremaneira embasado em uma teoria

    robusta, pois conforme sinaliza De Rose (1999), apesar de assumirem entidades iniciadoras

    do comportamento, portanto internas ao organismo, as teorias cognitivas s podem inferir

    essas entidades a partir de eventos comportamentais.

  • 21

    A explicao cognitiva para os dados levantados no estudo de Ladouceur e

    colaboradores (1997) enfatiza que os comportamentos de checagem ocorrem quando os

    indivduos trazem crenas relacionadas alta responsabilidade em prevenir danos.

    Contudo os experimentos cognitivos aqui descritos aferiram apenas o efeito produzido pela

    apresentao de instrues com especificao de consequncias aversivas, que, na

    concepo cognitiva, se referem especificao de responsabilidade pessoal aumentada e

    consequncias negativas.

    A Anlise Experimental do Comportamento traz dados que poderiam favorecer uma

    interpretao das contingncias envolvidas no governo verbal observado nos estudos

    cognitivos sobre comportamentos de checagem (Arntz et al., 2007; Ladouceur et al., 1995;

    Ladouceur et al., 1997). Em especial, o experimento conduzido por Braam e Malott (1990),

    investigou se o controle por regras alterado tambm por meio da manipulao da

    formulao verbal.

    No estudo de Braam e Malott (1990), quatro regras similares foram apresentadas

    para oito crianas pr-escolares de aproximadamente quatro anos de idade. As

    contingncias descritas pelas regras variaram na especificao dos prazos e no atraso para a

    apresentao dos reforos. As respostas medidas foram o pegar os brinquedos solicitados

    ou a montagem de um quebra-cabea. Para tanto, quatro condies foram programadas em

    que cada tipo de regra era apresentada. As sesses de coleta aconteciam duas vezes por

    semana, ao longo de trinta minutos. As condies experimentais foram dispostas da

    seguinte forma:

    Condio de Pedidos: Na primeira condio em que eram apresentados os pedidos,

    o experimentador descrevia regras incompletas. O experimentador solicitava que os

  • 22

    participantes pegassem os brinquedos, mas no especificava prazos ou o reforamento na

    instruo dada. Assim era dito criana Nicole, voc poderia pegar os brinquedos?

    (Braam & Malott, 1990, p. 70). Aps 5 minutos uma nova solicitao era feita

    independentemente de a criana ter atendido a instruo.

    Condio de Prazos: Nessa condio o experimentador descrevia regras com prazos

    e reforadores imediatos para que a criana pegasse os brinquedos (eg., Se voc pegar o

    brinquedo agora, poder brincar na Caixa Mgica3 depois.). Randomicamente era

    apresentada uma condio denominada S

    , em que as regras descreviam apenas a resposta

    de pegar os brinquedos e o prazo, mas no o reforamento para o cumprimento da tarefa

    (eg., Se voc pegar o brinquedo agora, no poder brincar na Caixa Mgica depois.).

    Esse esquema foi adotado para verificar se a resposta das crianas estaria sob o controle da

    especificao das contingncias pelas regras ou sob o controle generalizado das demandas

    caractersticas do ambiente escolar infantil (e.g., na hiptese de que a resposta estivesse sob

    o controle das demandas, as crianas pegariam o brinquedo mesmo na condio S

    ).

    Diferentes crianas estavam em diferentes condies no mesmo dia (eg., reforamento

    versus no reforamento). Contudo, somente uma condio estava vigorando para uma

    dada criana, consistindo de uma ou duas tentativas.

    Condio sem prazos e com reforos atrasados: Nessa condio o experimentador

    apresentava uma regra que descrevia o reforador atrasado de uma semana e nenhum prazo

    para o cumprimento da tarefa. (e.g., Aqui est uma quebra cabeas que voc pode montar.

    Eu no me importo se voc montar ou no. Essa a regra: no importa se voc montar bem

    3 A Caixa Mgica continha uma variedade de reforadores, como pequenos dinossauros, carros, adesivos,

    estampas, etc)

  • 23

    o quebra-cabea, voc s poder brincar na Caixa Mgica uma semana depois que terminar

    de mont-lo.).

    Condio com prazos e com reforos atrasados: Durante essa condio o

    experimentador apresentava regras com especificao de prazos e com a especificao do

    reforamento atrasado de uma semana. (e.g., Aqui est um quebra-cabea que voc pode

    montar. Eu no me importo se voc montar ou no. Essa a regra: se voc montar o

    quebra-cabea agora, voc s poder brincar na Caixa Mgica uma semana depois que

    terminar de mont-lo.)

    Os resultados do estudo mostraram que na condio de pedidos as regras que

    descreviam somente o comportamento esperado, portanto sem a especificao do prazo e

    de reforamento, no exerceram controle sobre o comportamento das crianas. Somente

    42% dessas regras foram seguidas pelo grupo. Quando as regras apresentavam prazos e

    reforo imediato, 97% das regras apresentadas foram seguidas pelo grupo. Nas tentativas

    em S

    o grupo respondeu a apenas 31% das regras. Esse dado evidencia que as respostas

    do grupo ficaram, sobretudo, sob o controle da regra com especificao de prazo e

    reforador imediato, e no das caractersticas do ambiente ou do experimentador. Na

    condio sem prazos e reforo atrasado as regras descritas estabeleceram um fraco controle

    operante. Somente 28 % das tarefas solicitadas foram atendidas pelo grupo. Por fim, na

    condio com prazos e reforo atrasado, observou-se que 74% das solicitaes foram

    atendidas pelo grupo. Esse resultado mostra que a especificao de prazo para a finalizao

    da tarefa pode aumentar o controle das instrues sobre as crianas, mesmo nos casos em

    que a consequncia anunciada for atrasada.

  • 24

    O fraco controle das regras que estipulavam somente o comportamento (sem o

    anncio de prazos e consequncias) foi evidenciado com os dados de Braam e Malott

    (1990). Contudo um elemento novo para discusso ocorreu na condio de regras com

    prazos imediatos e consequncias atrasadas. Os autores interpretaram esse ltimo dado

    tambm com base nos efeitos do controle aversivo estabelecido pela comunidade verbal no

    seguimento de regras. Dizem os autores que embora o reforamento atrasado no controle

    comportamento, a estipulao de prazos na instruo estabeleceria uma contingncia de

    esquiva com reforo prximo, sendo essa regra a especificao de uma contingncia que

    atuaria diretamente. A regra estabeleceria funo aversiva para o comportamento de no

    seguimento. Ento, quanto mais prximo do prazo estabelecido, tanto maior seria o efeito

    reforador para o comportamento de esquiva.

    Mistr e Glenn (1992), mais tarde, com seu estudo reiteraram a hiptese levantada

    por Braam e Malott (1990) para os dados inicialmente encontrados, porm pontuaram que a

    condio aversiva aprendida seria estabelecida pelo fato da formulao verbal funcionar

    como um Estmulo Especificador da Contingncia (CSS). Dada aproximao conceitual

    denota, em alguma medida, um dilogo possvel com a interpretao de Schlinger e Blakely

    (1987; Blakely & Schlinger, 1987).

    Ainda que o seguimento de uma regra no ocorra somente em funo do controle

    aversivo exercido por um falante4, conforme parecem sugerir as anlises prvias de Malott

    4 Hayes Zettle e Rosenfarb, (1989) sugeriram subtipos de comportamento governado por regras. De interesse,

    o operante chamado de rastreamento, o comportamento governado por regras sobre o controle da aparente

    correspondncia entre a regra e os eventos ambientais. Uma das caractersticas do rastreamento que ele

    influenciado pela histria do ouvinte de contato com as consequncias naturais por ter seguido a regra, pela

    correspondncia entre essa regra e as outras regras ou eventos na histria do ouvinte e pela importncia da

    consequncia implicada na regra. Sendo assim, um rastreamento poderia ser reforado positivamente por

    colocar o ouvinte em contato com fraes importantes do seu ambiente. Skinner (1957/1992) ao seu tempo

  • 25

    (1988, 1989), a hiptese do autor pode ser bastante til na anlise de alguns tipos de

    comportamento governado por regras. Uma anlise de contingncias como a trazida por

    Braam e Malott (1990), sugere o histrico de reforamento negativo para o seguimento de

    regras e o papel do reforamento prximo na aquiescncia do ouvinte. Essas poderiam ser

    tambm variveis relevantes nos estudos sobre o controle verbal dos comportamentos de

    checagem (Arntz et al., 2007; Ladouceur et al., 1995; Ladouceur et al., 1997). Neles, a

    regra com especificao de alta responsabilidade pessoal poderia ter funo de estmulo

    similar funo da regra com especificao de prazo de Braam e Malott (1990). A nica

    diferena residiria no fato de que nos estudos sobre o comportamento de checagem a

    consequncia aversiva especificada na instruo supostamente incidiria sobre outras

    pessoas (e.g., se o participante apresentar uma separao inefetiva das plulas, as pessoas

    consumiro o remdio errado e por isso passaro mal), enquanto no estudo de Braam e

    Malott (1990) a consequncia incidiria sobre as prprias crianas (e.g., se a criana no

    guardar os brinquedos no prazo solicitado, no poder brincar depois na caixa mgica). Em

    comum, ambos os tipos de regras pareceram ter exercido um efeito de aumentar a

    frequncia dos comportamentos de esquiva. Em ltima instncia, ambos parecem ter

    especificado uma contingncia de reforo negativo, em que o seguimento da regra seria

    consequenciado com a suspenso da condio aversiva.

    Recentemente Abreu e Hbner (2011) apresentaram um estudo feito a partir do

    trabalho de Ladouceur e colaboradores de 1997, utilizando tambm instrues com

    classificou um subtipo de mando, chamando-o de conselho. O conselho seria um mando em que o ouvinte

    experienciaria o reforamento por responder a formulao verbal do falante. Mas o falante no participa

    diretamente da consequncia. Semelhantemente ao que ocorre no rastreamento, o seguimento de um conselho

    poderia tambm ser reforado positivamente. Em comum, parece que tanto o conselho como o rastreamento

    beneficiariam o ouvinte, e no o falante.

  • 26

    especificaes de consequncias aversivas. No estudo de Abreu e Hbner (2011) dois

    participantes adultos do sexo feminino, verbalmente habilidosos e com 33 e 28 anos, foram

    convidados por terceiros a ajudar em uma tarefa de separao de sementes em uma loja de

    cereais. Quatro tipos de sementes de cores e dimenses semelhantes foram misturados em

    um saco plstico prprio para transporte: Feijo Bolinha, Feijo Fradinho, Gro de Soja e

    Tremoo Achatado. Os participantes realizaram a separao das sementes em uma mesa no

    centro do primeiro andar. A coleta aconteceu em um domingo, estando a loja fechada para

    os clientes. Na separao foram utilizados quatro potes de plstico semitransparentes com

    capacidade para dois litros.

    Durante a separao foram contadas as respostas de checagem, definidas

    operacionalmente como verificao das sementes j separadas nos potes com funo de se

    evitar erros. Na checagem as seguintes topografias de resposta foram registradas: a

    manipulao dentro do prprio pote, o despejar na mo ou mesa para nova conferncia, o

    transferir as sementes erroneamente separadas de um pote para outro, o inclinar/mexer o

    pote para uma melhor visualizao durante 2s ou mais e a observao do pote por 2s ou

    mais sem manipulao direta.

    A sesso experimental teve durao de sessenta minutos, divididos em quatro fases

    de quinze minutos. Utilizou-se um delineamento sujeito nico ABCA disposto da seguinte

    maneira:

    Fase A / Linha de base: Foi apresentada pessoalmente a seguinte instruo para o

    participante - Aqui esto quatro tipos de sementes nobres misturadas. Sua tarefa vai ser

  • 27

    separar as quatro e coloc-las nesses quatro potes. Voc ter uma hora para fazer isso. Eu

    vou estar em reunio l e cima e por isso se precisar falar com voc, farei pelo telefone.

    Fase B: Por telefone foi dada a seguinte instruo para o participante aps 15

    minutos transcorridos desde a instruo A - Separe com muita ateno. Foi adicionado o

    autocltico muita instruo de separar com o objetivo de testar o controle verbal sobre o

    participante.

    Fase C: Aps 15 minutos transcorridos desde a instruo B, foi apresentada a

    seguinte instruo, via telefone, com especificao de consequncias aversivas: Na

    verdade esse lote tem um tipo de semente que est com uma quantidade grande de

    agrotxico que pode dar diarreia nas pessoas que comerem. Como essa mistura ser

    fornecida para a merenda das crianas de uma escola, muito importante que voc as

    separe com muita ateno. Nessa fase foi adicionada a especificao de toda a

    contingncia na instruo para a separao com o objetivo de testar o controle verbal sobre

    o participante.

    Fase A / Reverso: Aps 15 minutos transcorridos desde a instruo C, foi

    apresentada a seguinte instruo, via telefone, sem especificao de consequncias

    aversivas: Eu e meu chefe vimos que esse lote que voc est separando um lote mais

    antigo que no tem as sementes contaminadas. Ento s voc separar as sementes. Nessa

    fase foi dada a instruo com o objetivo de promover a reverso para uma frequncia de

    respostas de checagem semelhantes linha de base.

    Seguindo o modelo de Laudouceur e colaboradores (1997) e de outros experimentos

    dessa rea de investigao (Arntz, et al., 2007; Bouchard et al., 1999; Mancini et al., 2004;

    Ladouceur et al., 1995; Lopatka & Rachman, 1995), somente ao final da sesso o

  • 28

    experimentador revelou o estudo, explicando ao participante os objetivos e procedncia da

    pesquisa com a solicitao de assinatura em termo de consentimento sobre o uso dos dados

    obtidos.

    Como resultados, P1 apresentou quatro respostas de checagem na linha de base,

    nenhuma na fase de instruo com autocltico, trs respostas aps a instruo com

    especificao de consequncias aversivas e zero emisses na fase de reverso. Durante a

    entrevista final, P1 relatou5 que aps ter recebido a primeira instruo foi estudando at

    descobrir um mtodo para separar as sementes que pudesse lhe trazer melhores resultados.

    P2, ao seu turno, apresentou nenhuma checagem na linha de base, trs na fase de instruo

    com autocltico, quatro respostas aps a instruo com especificao de consequncias

    aversivas e uma emisso na fase de reverso.

    Esses resultados mostraram que ambos os participantes apresentam notria

    variabilidade inter-sujeitos em relao frequncia de respostas de checagem. Como

    regularidades comportamentais, observou-se que os participantes aumentaram a frequncia

    dos comportamentos de checagem na fase C, sendo que P1 o fez em relao fase B

    (instruo com autocltico) e P2 em relao linha de base. Igualmente semelhante, na fase

    de reverso, ambos diminuram a frequncia aps apresentao da instruo sem

    especificao de consequncias aversivas. P1 apresentou reverso total, e P2 reverso

    parcial.

    5 Aps o final das fases o experimentador entrevistou pessoalmente os participantes com o objetivo de, se

    necessrio, apenas complementar os dados empricos. As informaes levantadas pela entrevista no foram o

    foco principal na anlise dos dados visto a falta de controle do mtodo. Por esse motivo seus dados foram

    muito pouco utilizados. Entrevistas frequentemente permitem certo vis nas respostas verbais dos

    participantes devido ao mltiplo controle de estmulos envolvido. Alguns desses problemas podem ser

    evidenciados nas pesquisas sobre a correspondncia entre o fazer e o relatar (c.f., Lloyd, 2002).

  • 29

    Abreu e Hbner (2011) discutiram os dados dizendo que a instruo dada pelo

    experimentador na fase C especificou a consequncia para uma separao no-efetiva das

    sementes. A especificao de toda a contingncia funcionou como uma operao que

    estabeleceu o valor aversivo para o comportamento inefetivo, sendo este decorrente de um

    no seguimento da regra. A esquiva do evento aversivo envolveria simplesmente seguir a

    instruo, sendo portanto reforada com a suspenso da provvel consequncia aversiva.

    Concluram os autores que o seguimento das instrues pde ser evidenciado atravs do

    aumento da frequncia das respostas de checagem. Dadas respostas teriam a funo de

    evitar os erros na separao das sementes.

    No experimento outros dados tambm de interesse foram verificados a partir do

    emprego dos autoclticos (Abreu & Hbner, 2011). O autocltico uma unidade de

    comportamento verbal que depende de outro comportamento verbal para sua ocorrncia,

    aumentando o controle daquela sobre o comportamento do ouvinte (Skinner, 1957/1992;

    Hbner, 2003; Hbner, Austin, & Miguel, 2008). Pode, devido a essa particularidade, ser

    classificado como um operante verbal de ordem superior (Borloti, 2004). De acordo com

    Abreu e Hbner (2011), na fase B do estudo, o operante verbal muita poderia ser

    classificado com sendo um autocltico quantificador do operante verbal de primeira ordem,

    no caso o operante ateno. O autocltico teve o efeito de modificar a reao do P2 na

    tarefa de separao das sementes. Esse participante apresentou um aumento na frequncia

    das respostas de checagem. Contrariamente ao efeito esperado, P1 no apresentou respostas

    de checagem na apresentao da instruo. No foi observado o aumento na frequncia das

    checagens em relao fase de linha de base, fato que, conforme pontuaram os autores,

    impediria at mesmo a identificao dessa instruo como exercendo funo autocltica.

  • 30

    O trabalho de Abreu e Hbner (2011) foi um esforo inicial para trazer essa linha de

    pesquisa para a agenda da Anlise Experimental do Comportamento. O estudo dos autores

    apresentou algumas limitaes devido ao nmero de participantes adotado e pela

    variabilidade encontrada nas frequncias das respostas de checagem. Esse fato impediria a

    generalidade dos dados obtidos. Contudo, algumas regularidades comportamentais foram

    encontradas em ambos os participantes como o aumento de frequncia das checagens na

    fase C (em relao fase B para P1 e fase A para P2) e como a diminuio na fase de

    reverso. Novas pesquisas nesse campo sero necessrias na identificao mais precisa das

    variveis experimentais. Um mtodo experimental comparando o sujeito consigo prprio,

    sob o efeito de diferentes manipulaes verbais, poder ter o potencial de especificar mais

    claramente quais so os processos envolvidos no controle das respostas de checagem

    (Abreu & Hbner, 2010).

    PROBLEMAS DE PESQUISA E EXPERIMENTOS PROPOSTOS

    Os Experimentos 1 e 2 se propuseram a ser uma variao metodolgica do estudo

    inicial de Abreu e Hbner (2011). Com o objetivo de testar o controle de regras

    semelhantes s instrues adotadas pelos autores, foi usado um delineamento de grupo com

    reverso e controle de ordem inter-sujeitos (Cooper, Heron, & Heward, 2007).

    Segundo Cooper e colaboradores (2007) a combinao do delineamento de grupo

    inter-sujeitos e as tticas de reverso permitem uma demonstrao mais convincente do

    controle experimental do que uma ttica em isolado. Primeiro por que o delineamento inter-

  • 31

    sujeitos permite que se obtenha um isolamento mais preciso do efeito das fases

    experimentais atravs da alterao sistemtica de sua sequncia entre diferentes

    participantes. Segundo porque o delineamento no abre mo do controle experimental intra-

    sujeito, programado para ocorrer com a ttica de reverso para cada participante.

    Diferentemente ainda do estudo de Abreu e Hbner (2011), os Experimentos 1 e 2

    utilizaram dez tipos de sementes com o objetivo de aumentar o custo de resposta na

    execuo da tarefa. Outra mudana relevante foi o aumento do nmero de participantes,

    com o emprego de dezesseis adultos verbalmente habilidosos, sendo oito designados para

    cada experimento.

    EXPERIMENTO 1

    O objetivo do Experimento 1 foi testar (1) se uma instruo com especificao de

    consequncia aversiva pode ter o efeito de produzir respostas de checagem; e (2) se aps

    essa manipulao, seria possvel produzir reverso com a apresentao de uma nova

    instruo verbal.

    MTODO

    Participantes

    Oito participantes adultos, sendo sete mulheres e um homem, verbalmente

    habilidosos, entre 22 e 60 anos.

  • 32

    Ambiente experimental

    Os participantes realizaram a separao das sementes no segundo andar de um

    restaurante. Esse andar esteve vazio, sem a circulao de pessoas no recinto. Para separao

    foram utilizados dez potes de plstico opacos com capacidade para um litro cada. Os potes

    traziam etiqueta como nome das sementes. Os potes foram dispostos em cima de uma mesa

    de 120X80 cm, colocada logo abaixo da cmera de segurana prpria do estabelecimento.

    No incio da separao, os potes j estavam parcialmente cheios em 1/3 de sua capacidade.

    Dez tipos de sementes de cores e dimenses semelhantes foram misturados em uma bacia

    retangular com capacidade para 20 litros (e.g., fava branca, feijo rajado, feijo bolinha,

    soja, feijo de corda, feijo carioca, feijo roxo, feijo branco, feijo jalo e feijo fradinho).

    As sementes foram misturadas em igual proporo.

    Procedimento

    Na ocasio do convite para participar da tarefa, os participantes no foram

    informados de que se tratava de um experimento de psicologia. Eles foram apenas

    convidados na rua por um auxiliar de pesquisa a ajudar em uma tarefa de separao de

    sementes em um restaurante, sendo conduzidos at o local. Foi instrudo que o trabalho

    demandaria 45 minutos e que ganhariam R$ 20,00 como ajuda de custos ao final da tarefa.

    Igualmente aos experimentos anteriores (Abreu & Hbner, 2011; Arntz et al., 2007;

    Ladouceur et al., 1995; Ladouceur et al., 1997), somente ao final da sesso o

    experimentador revelou o estudo, explicando ao participante os objetivos e procedncia da

    pesquisa com a solicitao de assinatura em termo de consentimento sobre o uso dos dados

    obtidos. O termo de consentimento livre e esclarecido foi previamente aprovado pelo

  • 33

    Conselho de tica em Pesquisa HU/USP: 1161/11, sob o registro SISNEP CAAP:

    0048.0.198.000-11 no Sistema Nacional de tica em Pesquisa.

    As sesses experimentais de 45 minutos foram divididas em trs fases de 15

    minutos. O tempo da apresentao das instrues no foi contabilizado vista a variao na

    diferena do tamanho das frases. O cronmetro foi iniciado ao final da apresentao da

    instruo e pausado ao trmino do tempo de cada fase. Com exceo da primeira instruo

    que foi feita pessoalmente, as outras instrues foram passadas por um telefone celular,

    dado pelo experimentador ao final da primeira instruo para fins de comunicao ao longo

    da tarefa. Depois de apresentada a primeira instruo, o experimentador foi para uma sala

    ao lado do recinto experimental, assistindo e gravando o desempenho do participante por

    meio de uma cmera do restaurante. Em um delineamento de grupo com reverso e

    controle de ordem inter-sujeitos, quatro sujeitos foram submetidos sequncia de fases

    ABA, e outros quatro sequncia BAB. Para a sequncia de fases ABA, as seguintes

    instrues foram assim dispostas:

    Fase A: Foi apresentada pessoalmente a seguinte instruo para o participante - [Nome do

    participante], aqui esto misturadas dez tipos de sementes nobres. Sua tarefa vai ser separ-

    las e coloc-las nesses dez potes menores. Eu vou estar em reunio em outra sala, mas se

    precisar falar com voc, farei por este telefone celular.

    Fase B (Especificao de consequncia aversiva): Aps 15 minutos transcorridos desde a

    instruo A, por telefone foi apresentada a seguinte instruo com especificao de

    consequncia aversiva: [Nome do participante], essas sementes vo ser fornecidas para a

  • 34

    merenda das crianas de uma escola. Por isso, se encontrar erros na separao, meu chefe

    pode querer descontar dinheiro dos seus R$ 20,00.

    Fase A: Aps 15 minutos transcorridos desde a instruo B, por telefone foi apresentada a

    seguinte instruo para a reverso: [Nome do participante], eu e meu chefe vimos que esse

    um lote mais antigo que no ir para a merenda das crianas. Ento s voc separar as

    sementes. Daremos garantidos seus R$ 20,00 no final.

    A Tabela 1 apresenta a sequncia das fases programadas para cada participante:

    Participante

    Fase A

    Instruo para a

    separao das

    sementes

    Fase B

    Instruo com

    especificao de

    consequncia

    aversiva

    Fase A

    Instruo para a

    separao das

    sementes

    P1 15 min 15 min 15 min

    P3 15 min 15 min 15 min

    P5 15 min 15 min 15 min

    P7 15 min 15 min 15 min

    Tabela 1 Apresentao da sequncia das fases programadas para cada participante,

    num total de 45 minutos de sesso experimental. O delineamento ABA foi dividido em

    trs perodos de 15 minutos. Inicialmente foi apresentada a instruo referente

    separao das sementes / linha de base (Fase A); aps 15 minutos transcorridos desde a

    instruo A, foi apresentada a instruo com especificao de consequncia aversiva

    (Fase B); e aps 15 minutos transcorridos desde a instruo B, foi apresentada a

    instruo para a separao das sementes / reverso (Fase A). O tempo total da sesso

    excluiu as pausas no cronmetro no momento da apresentao das instrues.

  • 35

    Para os quatro participantes que foram submetidos sequncia de fases BAB,

    instrues semelhantes foram apresentadas. Contudo a sesso experimental iniciou e

    finalizou com as fases de instruo com especificao de consequncia aversiva (e.g., fases

    B). A sequncia de apresentao das instrues foi disposta da seguinte forma:

    Fase B (Especificao de consequncia aversiva): Foi apresentada pessoalmente a seguinte

    instruo para o participante - [Nome do participante], essas sementes vo ser fornecidas

    para a merenda das crianas de uma escola. Por isso, se encontrar erros na separao, meu

    chefe pode querer descontar dinheiro dos seus R$ 20,00. Eu vou estar em reunio em outra

    sala, mas se precisar falar com voc, farei por este telefone celular.

    Fase A: Aps 15 minutos transcorridos desde a instruo B, por telefone foi apresentada a

    seguinte instruo para a separao das sementes: [Nome do participante], eu e meu chefe

    vimos que esse um lote mais antigo que no ir para a merenda das crianas. Ento s

    voc separar as sementes. Daremos garantidos seus R$ 20,00 no final.

    Fase B (Especificao de consequncia aversiva): Aps 15 minutos transcorridos desde a

    instruo A, por telefone foi apresentada novamente a instruo com especificao de

    consequncia aversiva: Desculpe, eu me enganei. Esse lote o que realmente vai para a

    merenda da escola. Por isso, se encontrar erros na separao, meu chefe pode querer

    descontar dinheiro dos seus R$ 20,00.

  • 36

    A Tabela 2 apresenta a sequncia das fases programadas para cada participante:

    Participante

    Fase B

    Instruo com

    especificao de

    consequncia

    aversiva

    Fase A

    Instruo para a

    separao das

    sementes

    Fase B

    Instruo com

    especificao de

    consequncia

    aversiva

    P2 15 min 15 min 15 min

    P4 15 min 15 min 15 min

    P6 15 min 15 min 15 min

    P8 15 min 15 min 15 min

    Tabela 2 Apresentao da sequncia das fases programadas para cada participante,

    num total de 45 minutos de sesso experimental. O delineamento BAB foi dividido em

    trs perodos de 15 minutos. Inicialmente foi apresentada a instruo com especificao

    de consequncia aversiva / linha de base (Fase B); aps 15 minutos transcorridos desde

    a instruo B, foi apresentada a instruo para a separao das sementes (Fase A); e

    aps 15 minutos transcorridos desde a instruo A, foi apresentada a instruo com

    especificao de consequncia aversiva / reverso (Fase B). O tempo total da sesso

    excluiu as pausas no cronmetro no momento da apresentao das instrues.

    Embora a instruo de linha de base seja topograficamente diferente da ltima

    instruo de reverso, o critrio que permitiu correlacion-los no delineamento ABA ou

    BAB adotado foi o efeito de reverso exercido sobre as respostas de checagem. Portanto,

    preencheu-se um critrio funcionalmente-orientado para a reverso (Abreu & Hbner,

    2011).

  • 37

    Varivel Dependente

    Como dimenso da varivel dependente no Experimento 1, foram mensuradas as

    porcentagens das respostas de checagem de cada fase. As respostas de checagem so

    definidas operacionalmente como sendo a verificao das sementes j separadas nos potes

    com funo de evitar ou corrigir erros. Na checagem as seguintes topografias de resposta

    foram registradas: a manipulao dentro do pote sem separao de sementes, isto , a

    retirada de uma das sementes; o despejar na mo ou mesa e retirada de uma semente de um

    grupo j separado; o tirar uma semente de um pote; o transferir a semente erroneamente

    separada de um pote para outro; o inclinar/mexer o pote para uma melhor visualizao

    durante 2s ou mais; e a observao do pote por 2s ou mais sem manipulao direta.

    RESULTADOS

    A Figura 1 apresenta as porcentagens das respostas de checagem do Experimento 1,

    sequncia de fases ABA, para os participantes P1, P3, P5 e P7.

  • 38

    Figura 1 - Porcentagens das respostas de checagem apresentadas pelos participantes P1, P3, P5 e P7 ao longo das fases experimentais ABA do Experimento 1. Cada fase

    experimental foi programada para demandar 15 minutos.

    P1 apresentou 29% das respostas de checagem na fase A, 42% na fase B de

    apresentao da instruo com especificao de consequncia aversiva, retornando para

    29% das checagens na fase A de reverso.

    P3 apresentou 0% das respostas checagens na fase A, 100% na fase B e 0% na fase

    A.

    P5 apresentou 17% das respostas de checagem na fase A, aumentando para 66% na

    fase B, e retornando para 17% na fase A de reverso.

  • 39

    P7 apresentou 62% das respostas de checagem na fase A, diminuindo para 12% na

    fase B para, a seguir, aumentar para 26% de checagens na fase A de reverso.

    Como efeito comum entre os participantes, observa-se uma maior porcentagem das

    respostas de checagem nas fases B (de instruo com especificao de consequncia

    aversiva) para P1, P3 e P5, com 42%, 100% e 66% das checagens, respectivamente.

    Diferentemente, na fase B, o P7 apresentou 12% das checagens, sendo essa a menor

    porcentagem apresentada por esse participante em uma fase.

    Para os participantes que apresentaram as maiores porcentagens de checagens nas

    fases B, observa-se efeito de reverso total na fase A, no comportamento de P1, P3 e P5,

    com 29%, 0% e 17% das checagens, respectivamente. Essas porcentagens so exatamente

    as mesmas apresentadas por esses participantes nas fases A de linha de base.

    A Figura 2 apresenta as porcentagens das respostas de checagem do Experimento 1,

    sequncia de fases BAB, para os participantes P2, P4, P6 e P8.

  • 40

    Figura 2 Porcentagens das respostas de checagem apresentadas pelos participantes

    P2, P4, P6 e P8 ao longo das fases experimentais BAB do Experimento 1. Cada fase

    experimental foi programada para demandar 15 minutos.

    P2 apresentou 93% das respostas de checagem na fase B, 0% na fase A, e 7% das

    checagens na fase B de reverso.

    P4 apresentou 94% das respostas de checagem na fase B, 0% na fase A e 6% das

    checagens na fase B de reverso.

    P6 no apresentou checagem ao longo das fases experimentais BAB.

    P8 apresentou 15% das respostas de checagem na fase B, aumentando para 65% na

    fase A para, a seguir, diminuir para 20% das checagens na fase B de reverso.

    Como efeito comum entre os participantes, observa-se que h uma maior

    porcentagem de respostas de checagem nas fases B (de instruo com especificao de

  • 41

    consequncia aversiva) para P2 e P4, com respectivamente, 93% e 94% nas fases B de

    linha de base, 7% e 6% nas fases B de reverso.

    Diferentemente dos outros participantes, P6 no apresenta qualquer emisso de

    respostas de checagem ao longo das fases experimentais. J P8 apresenta uma maior

    porcentagem na fase A de instruo para separao em relao s fases B de linha de base e

    reverso.

    Para P2 e P4 que apresentam as maiores porcentagens de checagens nas fases B,

    observa-se ainda uma expressiva menor porcentagem das checagens na fase B de reverso

    comparativamente com as fases B de linha de base (B93% - B7% e B94% - B6%,

    respectivamente).

    Concordncia entre os Observadores

    No Experimento 1, com o uso da gravao em vdeo, um segundo observador independente

    tambm fez as medies das respostas de checagem apresentadas pelos participantes. O

    acordo foi obtido a partir do tempo integral de cada fase. Para cada participante foi feito

    ento o clculo de concordncia entre os observadores (CEO), do tipo mdia de contagem

    por intervalo (Cooper et al., 2007), atravs da frmula [(CEO fase 1 + CEO fase 2 + CEO

    fase 3) / 3 fases] X 100. A Tabela 3 mostra as porcentagens mdias de acordo entre

    observadores:

  • 42

    Participante

    Condio

    Amplitude CEO mdia CEO fase A CEO fase B CEO fase A

    P1 94 100 87 87-100 94

    P3 100 93 100 93-100 98

    P5 100 100 100

    100

    P7 100 100 100

    100

    CEO fase B CEO fase A CEO fase B

    P2 96 100 100 96-100 99

    P4 85 100 100 85-100 95

    P6 100 100 100

    100

    P8 100 100 100 100

    Tabela 3. Amplitude e porcentagem mdia de concordncia entre observadores para

    cada participante do Experimento 1.

    DISCUSSO

    No Experimento 1, cinco de oito participantes apresentaram maiores porcentagens de

    checagens sob especificao de consequncia aversiva. Sobre a propriedade de evocar as

    respostas especificadas, Schlinger e Blakely (1987; Blakely & Schlinger, 1987) pontuam que

    uma regra no pode ter funo de SD para o seu seguimento, pois antes, ela altera a funo

    dos estmulos especificados na formulao verbal. Dessa forma, no comportamento

    governado por regras os autores aproximam os efeitos comportamentais do estmulo verbal

    dos efeitos alteradores de funo do condicionamento operante e respondente. Por esse

    motivo, ao invs do termo regra, os autores adotaram o termo Estmulo Especificador da

    Contingncia (CSS) (Blakely & Schlinger, 1987; Schlinger e Blakely, 1987), e mais

    recentemente, operao verbal alteradora de funo (Schlinger 2008a; 2008b). Um CSS

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    produz mudanas nos estmulos especificados pela regra, sendo eles estmulos

    discriminativos, eliciadores, operaes estabelecedoras (OEs) ou estmulos consequentes. Nos

    presentes experimentos, opta-se por adotar o termo CSS, visto a especificao da

    contingncia, embora Schlinger (1993; 2008a; 2008b) tenha ressaltado mais recentemente a

    no necessidade de qualquer requerimento formal como a especificao da contingncia de

    reforamento no estmulo verbal.

    No Experimento 1, ainda que os CSSs apresentados pessoalmente (e.g., fase de linha

    de base) ou por telefone (e.g., outras fases) tenham controlado o comportamento de separao

    como evento antecedente, sua a caracterstica principal alterar a funo estabelecedora e

    discriminativa de estmulos previamente neutros, fortalecendo ou enfraquecendo as relaes

    que dados estmulos guardam com as respostas de checagem. Assim, a estimulao

    proprioceptiva aversiva da resposta inefetiva de separao (e.g., eliciada pelo histrico de

    pareamento das respostas com consequncias que levaram a punies sociais por no terem

    atingido certos critrios de desempenho) e os erros contidos nos potes (e.g., colocar o feijo

    branco no bote da fava branca) controlaram uma maior porcentagem das respostas de

    checagem.

    O seguimento dos CSSs com a especificao de consequncia aversiva para a

    resposta inefetiva de separao pode ser evidencia