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Transtorno de Personalidade Borderline
O transtorno de quem sofre e faz sofrer.
Sônia Nemi
Este texto é uma “colagem” de trechos de links e artigo relacionados ao final, por esta razão
sugiro que visitem os autores originais; além disso também sugiro que, ao ler, “antes de achar que você
é Borderline, ou que alguém na sua família tem essa doença, você deve consultar um bom profissional,
já que os sintomas também ocorrem em outras patologias”1.
Introdução2
Imagine estar diante de uma situação que precisa ser resolvida – um pneu furado, uma pia
entupida ou um desentendimento com seu cônjuge, amigo(a), amante, filho(a), etc. No entanto, em vez
de buscar uma solução, você se apavora. Você começa a sentir um desconforto generalizado, um
incômodo no estômago ou tórax, sentimentos de ansiedade e uma sensação crescente de
intranquilidade e inquietude; seguido a isso vem a raiva, que vai aumentando progressivamente e se
torna tão forte que lhe inunda, embora perceba que é excessiva. Durante os próximos minutos outras
sensações negativas vão lhe tomando – incluindo recordações dolorosas do passado – até você sentir
intensamente tudo de ruim que pode ocorrer a um ser humano.
É como se você estivesse preso numa armadilha, completamente vulnerável. Suas defesas
psicológicas estão subjugadas por uma dor emocional insuportável. Você se sente deprimido e incapaz
de lutar, uma vez que sua mente e corpo estão agora em total pânico. Você perde a percepção da
realidade e tira conclusões errôneas num esforço inútil para compreender o que está acontecendo.
Como a dor se intensifica, seu sistema nervoso cria sensações estranhas como vazio, entorpecimento e
irrealismo. Você vai se tornando incapaz de pensar racionalmente, à medida que o pânico continua a
piorar.
Sua mente tenta descobrir um modo de se livrar da dor e busca soluções, agora
desesperadamente. Você tenta lembrar o que fez no passado para sair de situação semelhante. Quando
consegue pensar em algo sua mente tenta fazer a mesma coisa, num esforço sobre-humano, resultando
finalmente em uma mudança bioquímica, liberando substâncias químicas do cérebro que param a dor e
lhe fazem “normal” novamente.
1 Link nº 3. 2 Link nº 2.
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Mas como voltar à normalidade sabendo que essa experiência horrível poderá acontecer outra
vez a qualquer momento? Como retomar a vida depois que seus comportamentos destrutivos e
impróprios foram testemunhados por família, amigos, empregadores ou colegas de trabalho? Como
encarar as pessoas com naturalidade outra vez? Como fazer isso se as consequências resultaram
também em dificuldades financeiras, interpessoais, físicas ou legais?
O funcionamento Borderline não é frescura; é uma ferida aberta por dentro (por isso ninguém
enxerga), e dói mais ainda que se fosse por fora! Traz sérias consequências para a pessoa e seus
familiares; as perturbações sofridas por seu portador afetam negativamente as relações de todas as
áreas da vida: social, profissional, familiar e casal.
O objetivo desta colagem é proporcionar um número de informações significativas àquele que
tem o funcionamento Borderline e seus familiares para lhes dar condições de entender o que acontece
em um sistema que inclui tal dinâmica; ainda que em um primeiro momento possa ser assustador,
identificar qual a questão é o primeiro passo para resolvê-la. Insisto em dizer que em vez de afirmar que
você é ou alguém de sua responsabilidade é Borderline, procure um psiquiatra que possa realmente
diagnosticar.
Entendendo a dinâmica e sua origem
Para Guy Tonella, analista bioenérgetico, o Borderline não é um transtorno e também não é um
caráter como são considerados os funcionamentos que Alexander Lowen esquematizou: Esquizóide,
Oral, Psicopata, Masoquista e Rígido. O Borderline é um estado resultado de experiências traumáticas
que mantêm a pessoa aprisionada entre sua primeira e segunda fase de vida:
1ª fase: a gestação e o nascimento;
2ª fase: a fase oral, período quando precisaria ter sido amamentada/maternada.
Traumático aqui não significa necessariamente ter sido mal tratado ou abandonado. É
traumático para um recém nascido receber os cuidados básicos (ser banhado, alimentando, ninado) se a
pessoa que os provê não está de fato presente para a criança; ou seja, se a mãe está tão somente
cumprindo tarefa sem conectar-se com aquele ser (por estar cheia de problemas práticos ou por estar
infeliz emocionalmente) a experiência é vivenciada pelo bebê como traumática, uma vez que ele é
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totalmente dependente da mãe e ela teria que estar centrada em atender a necessidade dele.3 Durante
o período entre a primeira e a segunda fase, se o bebê não vivenciou a experiência da simbiose natural
da forma que precisaria ter sido, como pode vivenciar separação mais adiante? Como pode se estruturar
com segurança, estar em grounding e formar bons vínculos na vida adulta? A simbiose natural é a
possibilidade de aquele ser ir se descobrindo para finalizar o desenvolvimento físico e psíquico a que
tem direito. Isso fica evidenciado no texto de José Henrique Volpi quando ele diz que durante o período
neonatal “é de suma importância que a mãe não apenas alimente fisicamente a criança, mas se coloque
disponível emocionalmente para o ato de amamentar seu bebê”. Volpi cita o estudo de Navarro que
demonstra que, quando “o bebê alterna o olhar entre o rosto da mãe e o bico do peito num clima
agradável e receptivo, permite a execução dos movimentos em toda a musculatura extrínseca dos olhos,
prevenindo assim uma futura miopia”4. Mais adiante ele explica como o momento bebê-mãe evita
hipermetropia e a presbiopia. Ou seja, a simbiose natural é a base da saúde emocional e também da
saúde física do ser humano.
A Análise Bioenergética deita o olhar não apenas na história e no funcionamento da pessoa na
vida, mas igualmente à forma como a energia se apresenta no corpo. No caso do Borderline, o analista
bioenergético pode encaminhar seu cliente para que um psiquiatra possa avaliar a necessidade de
tratamento medicamentoso, mesmo quando o funcionamento do Borderline não é grave, caso ele
apresente sintomas que interfiram na sua qualidade de vida garantindo que o processo terapêutico
possa evoluir melhor.
Para a psiquiatria, o termo "fronteiriço" não se refere ao limite entre um estado normal e um
psicótico, mas à instabilidade constante de humor. Caracteriza-se por uma desregulação emocional, com
raciocínio do tipo “8 ou 80”, “branco ou preto”, totalmente bom ou totalmente mau, extremo ou cisão e
relações caóticas, interferindo na possibilidade da pessoa se desenvolver e ter qualidade de vida5.
Apesar disso, alguns Borderlines conseguem focalizar a vida no trabalho, escolhendo atividades em que
tenham alguma autonomia e/ou segurança, mantendo-se protegidos contra situações de estresse; se
for professor, provavelmente dará aulas individuais ou com poucos alunos; qualquer coisa para evitar se
expor a dificuldades relacionais e possibilidades de confrontação; no entanto, mesmo se tornando
altamente produtivos, não desfrutam de lazer ou prazer, não intimam, principalmente por estarem
sempre em estado de alerta, em prontidão para se defender de qualquer possível ataque. 3 A diferença que os pais precisam fazer entre autoritarismo e autoridade quando os filhos estão maiores pode evidenciar como essa conexão precisa ser: uma figura parental usa de autoritarismo quando decide o que o filho deve fazer baseado no que é mais interessante para si e usa de autoridade quando decide o que o filho deve fazer baseado no que é melhor para o filho. 4 Link nº 9. 5 Link nº 6.
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As pessoas são únicas inclusive nas suas dificuldades, portanto, ainda que os Borderlines possam
ter funcionamentos equivalentes, alguns podem ter suas defesas mais ou menos moderados, no
entanto, eles são em geral extremamente impacientes, têm dificuldade em esperar, querem tudo na
hora e do seu jeito; não conseguem tolerar decepções e frustrações, além da grande dificuldade de
concluir alguma tarefa; tentam, enrolam, dão inúmeras voltas nas coisas a serem feitas, mas não têm
estabilidade, paciência e persistência suficiente para levar adiante. É importante notar o medo excessivo
de serem abandonados, separados, rejeitados e/ou trocados; sendo assim, são ciumentos e possessivos
e, muitas vezes, fazem esforços frenéticos para evitar o abandono (real ou imaginado). Quando
percebem uma rejeição fazem qualquer coisa para se defender dessa dor; podem fazer ameaças
suicidas dramaticamente, além de sofrer dissociações. De qualquer forma, o medo é a emoção mais
presente em todas as suas decisões, ainda que esses medos possam ser muito disfarçados.
Características6
O Borderline é um dos principais distúrbios associados à autoagressão; o paciente tende a ter
pensamentos e/ou atitudes autodestrutivas, muitas vezes propositais, como forma de autopunição e/ou
manipulação. Casos comuns são: tomar inúmeros medicamentos de uma vez só, com ou sem intenção
de suicídio; abusar de drogas e bebidas, automutilar-se, colocar-se em risco, provocar acidentes, etc,
quando sem os devidos cuidados e terapia. Um exemplo real é a história de uma mulher que, com tal
transtorno, separada aos 31 anos, vivia fantasiando que se mataria, mas antes escreveria, em vermelho,
na parede de seu quarto, uma frase que fizesse seu ex-marido sentir-se culpado pelo resto da vida
(apesar de saber que nunca concretizaria o fato em função dos filhos).
Borderlines são vítimas de uma doença inacreditavelmente dolorosa: a inconstância; ou seja, o
indivíduo sofre em função de oscilações de humor (intensas, frequentes e imprevisíveis), que interferem
nos esforços para ter uma vida feliz e próspera, e também de mudanças de profissão, opinião, moradia,
etc. São pessoas que se sentem infelizes por não conseguirem entender porque não podem ser felizes.
A pessoa pode ser adorável, comportada, tímida, simpática e amável, dentro de um contexto
social, mas age de maneira totalmente diferente nas suas relações de intimidade, onde é vista como
agressiva, irritante, rebelde, explosiva, intolerante, irritável, e, não raro, mal-humorada. A pessoa com
esse transtorno não tem culpa de sua doença, mas os sintomas são tão desagradáveis para quem
interage cotidianamente com ela que é quase impossível sentir compreensão e compaixão; ao contrário,
6 Link nº 6.
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há críticas e cobranças por todo o potencial que possui impedido de desabrochar. Mas ela não suporta
críticas, mesmo positivas, pois sempre as encara como rejeição; então reage e se defende cada vez mais.
Ela tem capacidade para argumentar, se justificando para manter seu status quo, além de ser muito
hábil para manipular os outros; dessa forma é comum ocorrerem brigas no ambiente familiar. O
Borderline quer desesperadamente ser amado, mas sua patologia inviabiliza que ele se sinta amado; por
esta razão, vive aterrorizado com a perspectiva de ser abandonado a qualquer momento; apesar de
tudo, não tem poder para impedir que seu mal destrua suas relações, pois as pessoas que o amam
acabam estourando ou se afastando, dando a impressão de que não ama mais.
Nessas pessoas, a capacidade de planejar pode ser mínima e os acessos de raiva intensa podem,
com frequência, levar a explosões comportamentais e até violência. Tais acessos de fúria acontecem
quando os indivíduos são confrontados ou se frustram. Mesmo com membros da família a pessoa é
altamente sensível à rejeição e também reage a afastamentos, por mais simples que sejam, pois são
sentidos como separação, rompimento ou abandono, por exemplo: férias repentinas de alguém
próximo, um negócio desfeito ou uma mudança na arrumação de casa feita sem seu prévio
consentimento ou conhecimento. Essa sensibilidade a rejeição está relacionada ao medo de abandono,
que por sua vez, está relacionado à dificuldade primitiva (na primeira infância) em se conectar
emocionalmente às pessoas importantes quando fisicamente ausentes, o que a faz se sentir perdida e
até sem valor na vida adulta.
A pessoa com Transtorno de Personalidade Borderline vivencia “altos e baixos” - especialmente
quando se confronta com estresse. Ela precisaria viver numa bolha para não se indispor com nada nem
ninguém ao seu redor e é isso que busca com suas defesas (manter o outro longe não aprofundando
vínculos, por exemplo).
Suas experiências podem ser as mais diversas, mas uma das piores é a disforia7, pois
freqüentemente invade a vida da pessoa que tem TPB. A maior parte das vezes, quando o indivíduo age
de modo impulsivo e autodestrutivo está se esforçando para aliviar a disforia.
CID-10:
Borderline é o transtorno de personalidade caracterizado por tendência nítida a agir de modo
imprevisível sem consideração pelas consequências; humor imprevisível e caprichoso; tendência a
acessos de cólera e uma incapacidade de controlar os comportamentos impulsivos; tendência a adotar
7 Disforia é uma mudança repentina e transitória do estado de ânimo, tais como sentimentos de tristeza, pena, angústia. É um
mal estar psíquico acompanhado por sentimentos depressivos, tristeza, melancolia e pessimismo.
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um comportamento briguento e a entrar em conflito com os outros, particularmente quando os atos
impulsivos são contrariados ou censurados. Há dois tipos distintos: o impulsivo, caracterizado
principalmente por uma instabilidade emocional e falta de controle dos impulsos; e o "Borderline",
caracterizado, além disto, por perturbações da autoimagem, do estabelecimento de projetos e das
preferências pessoais, por uma sensação crônica de vacuidade, por relações interpessoais intensas e
instáveis e por uma tendência a adotar um comportamento autodestrutivo, compreendendo tentativas
de suicídio e gestos suicidas.
DSM-IV
Caracteriza-se por um padrão invasivo de instabilidade nos relacionamentos interpessoais,
autoimagem e afetos, bem como acentuada impulsividade, que começa no início da vida adulta e está
presente em uma variedade de contextos, indicado por cinco (ou mais) dos critérios por ele definido.
O corpo do Borderline8
O limite mais primitivo entre o self e o outro é formado a partir da consciência tátil da pele e o
campo de energia emanado do corpo. Quando Reich declara que no Borderline o ego é formado, porém
rasgado, refere-se ao entendimento de que a camada de pele é sentida e reconhecida como o perímetro
do self. Entretanto, é também o sentir da camada muscular, além da camada de pele e do campo de
energia, que define o ego para as estruturas de personalidade mais “maduras” (isto é, aquelas formadas
mais tarde, na infância).
Tônus muscular, força e mobilidade contribuem com a habilidade de experimentar o self como
autônomo, isto é, separado de outras pessoas. Como esperado, essa camada é fraca e subformada no
Borderline. Ele não pode usar seus músculos para conter sentimentos ou reter instintos agressivos e
sexuais o suficiente. Similarmente não pode usar seus músculos como um pára-choque contra traumas
vindos do meio ambiente (ler texto S.E., Experiência Somática para Trautamento do Trauma).
As estruturas psíquicas que correspondem ao lado instintivo da personalidade (id) incluem os
olhos, o conduto boca-ânus, o diafragma e os órgãos sexuais. Devido ao padrão de permissividade
precoce e desenvolvimento sexual prematuro no Borderline, essas estruturas psíquicas ficam
sobrecarregadas. Sem a força necessária na musculatura para conter a alta carga de energia central, ele
8 Artigo: Grounding o Borderline - Mágica para Músculo (ver referência no final do texto).
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não consegue frear seus instintos agressivos e sexuais impulsivamente. Outro fator que contribui para
sua inabilidade de conter sentimentos é a falta de um superego consciente ou seguro.
A atuação do Borderline toma muitas formas e pode ser direcionada ao ambiente ou para
dentro, contra o self. Por exemplo, alguns podem ter muita dificuldade para conter uma explosão de
raiva em resposta a alguma crítica percebida, e então se volta para dentro e se pune pelo ato hostil
mutilando algumas partes do próprio corpo (ex.: queimando-se com cigarro, pequenos cortes). A
mutilação do self pode dar-lhe alívio emocional por algum tempo. Entretanto, atuar contra o ambiente
ou contra o self, ao final, reforça seu sentido de indignidade e alienação
O superego em todos os tipos de caráteres é estruturado no corpo como desenvolvimento
muscular, bem como o grau de tensão crônica nos grupos de músculos usados para inibir ou bloquear
um impulso em particular. Por exemplo, a proibição de bater em alguém com raiva fica evidente pela
fragilidade no desenvolvimento do extensor (tríceps) e abductor (deltóide, lastíssimo dorso), que são os
grupos de músculos usados para retrair os braços e ombros. Como o superego é reprimido no Borderline
o corpo é normalmente flácido, muito similar àqueles com estruturas de personalidades orais.
Entretanto, quando o superego ameaça romper, o Borderline se contrai fortemente no centro (olhos,
canal boca-ânus, diafragma e órgãos sexuais), pescoço e ombros, em antecipação ao ataque interno.
Isso resulta em sintomas tais como enxaqueca, náusea, tremores e, ao final, paralisação das áreas
contraídas.
Incapaz de descarregar tensões em quantidades moderadas quer através de exercícios físicos,
quer em intimidade sexual, ele cria um extraordinário aumento de tensão, realizada explosivamente
numa variedade de maneiras. Muitos Borderlines falam em “desmoronar”, experienciando episódios em
que gritam e tremem incontrolavelmente, seguidos por um período de exaustão. Outros falam que se
sentem “inundados” pelas emoções que o corpo não consegue suportar. Como relata uma mulher que
tendo sido confrontada em uma reunião sobre sua atuação profissional, sentiu-se emocionalmente
inundada, mas segurou as sensações ainda que além da capacidade do seu corpo; ao final da reunião,
indo para casa, depois de dirigir por trinta minutos se deu conta que estava indo para a direção oposta à
sua residência.
Essas tormentas mentais têm a função de liberar a tensão, mas ao preço de reforçar o
sentimento de desamparo e vulnerabilidade à figura parental severa (superego). O processo é análogo à
situação do depressivo que recebe terapia de eletrochoque; a liberação é garantida, porém a pessoa
nada aprende sobre como lidar com a próxima situação de tensão e ansiedade. Para quebrar o padrão
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de constantemente estar em guerra com o mundo e com o self, o Borderline precisa aprender como se
tornar grounded.
Para a Análise Bioenergética grounding, corporalmente falando, é “levar” os sentimentos até o
abdômen e depois fazê-los chegar até as pernas para senti-las como raízes móveis. Em termos psíquicos
estar grounded é estar em contato com a realidade. É muito importante que a pessoa com
funcionamento Borderline se trabalhe corporalmente, descarregando a energia da pélvis e pernas
através de intimidade sexual e outras formas de movimentos psíquicos vigorosos (por exemplo, dançar
e correr). No entanto, fazer exercícios aeróbicos ou trabalhar-se corporalmente assusta o Borderline,
pois o “obriga” a entrar em contato com o corpo, consequentemente com o self, além de fazê-lo se
perceber separado do outro, experiência profundamente temida por ele que o faz ficar em estado de
alerta. Por essa razão, o conceito tradicional de “ficar em seus próprios pés” não se aplica a esse tipo de
paciente, do modo geralmente utilizado pelo analista bioenergético, especialmente nos primeiros
estágios do processo terapêutico.
O grounding apropriado deve ter início a partir de uma posição mais segura: o contato gradativo
com a realidade, construindo a habilidade de experienciar o self relacionado com o outro, mesmo
separado dele. Se pedirmos ao Borderline para ficar de pé e focalizarmos suas questões internas, várias
coisas podem ocorrer:
1º) A ação aumenta o número de sensações e sentimentos no corpo. Um aumento na carga de
energia desorganiza e ameaça o pouco que percebe de si como ser autônomo. A camada
muscular é incapaz de administrar a alta carga interna, se o terapeuta a aumenta demais,
colocando os pés do cliente em posição de tensão para construir carga e grounding; isso
pode precipitar um episódio regressivo no paciente.
2º) Se o cliente é levado para dentro de si, pode não se sentir em sintonia com o outro - isso é
muito ameaçador. Portanto, para o processo de grounding ser iniciado é importante
colocar o paciente numa postura psíquica que o faça sentir-se seguro e lhe dê condições de
continuar a rastrear os movimentos do terapeuta.
Como na vida, em terapia o Borderline não consegue tolerar sentimentos separados dos do
terapeuta. Portanto, toda sua atenção fica voltada para perceber o que se passa com o profissional. Seu
único estado seguro é quando está fundido a outra pessoa; os dois estão em completo acordo o tempo
todo e ele acredita que os dois existem como se fossem um.
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O paciente idealiza o terapeuta vendo-o como perfeito e benevolente e espera que ele possa
defender seu ego fraco contra ataques do superego reprimido (o pai “mau”). Ao manter sua atenção
constante em cada movimento de seu cuidador, procura ajustar seus próprios comportamentos de
forma a evitar qualquer crítica ou possível rejeição.
O profissional precisar utilizar seu conhecimento do funcionamento do cliente Borderline, mas
também seu coração e sentimentos. Como o melhor instrumento de trabalho com o Borderline é o
vínculo e ele resiste a rotinas, regras e é avesso a se entregar nas relações, é preciso lidar com ele como
se faz com “tatu-bola”. Aproximar-se abruptamente do tatu-bola o faz reagir fechando-se totalmente e
apenas volta a se abrir muito, muito tempo depois. Uma cliente relata que se sentiu muito mais
confortável para ficar no processo terapêutico porque sua terapeuta disse que poderia fazer com ela um
contrato livre em vez do compromisso de uma sessão por semana sistematicamente. Em pouco tempo
ela solicitou que tivesse um horário em dia predeterminado. Ou seja, sentir-se livre possibilitou que ela
pudesse aceitar o vínculo.
Ao mesmo tempo, quando o vínculo já está estabelecido, é importante que o terapeuta seja
verdadeiro na relação, como por exemplo, relata uma mulher que se sentiu mais segura quando, depois
de alguns anos em terapia com o mesmo profissional, o ouviu dizer que ele já havia sentido raiva dela
quando ela teve com ele reação irracional do tipo que ela estava relatando ter tido com uma amiga que
se afastou dela.
Sintomas9
Nem toda pessoa com funcionamento Borderline tem todos os sintomas a seguir; existem
diferentes níveis de intensidade no funcionamento de cada pessoa. Chamam mais a atenção os casos
severos que incluem todas as características, especialmente vícios, automutilação evidentes e busca de
suicídio; outras pessoas podem ter funcionalidade na vida, “disfarçando” (dissociando de si mesmo)
todo sofrimento de vazio e medos que mantêm dentro de si:
• Angústia - crônica e difusa. Trata-se de um afeto contínuo e surdo com possibilidade de
manifestar-se como uma crise de angústia aguda e com sintomas somáticos correspondentes. Pode
sobrevir uma crise histérica com comprometimento de todas as funções psíquicas, junto a
manifestações somáticas variadas, a exemplo de vertigem, taquicardia e outros sinais característicos do
9 Baseados no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – versão IV (DSM-IV) e a Classificação Internacional de
Doenças – versão 10 (CID-10) e nos Link nº 4 e nº 8.
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Transtorno de Ansiedade Aguda. A desrealização e a despersonalização aparecem como extremos
dessas crises, também acompanhadas de sintomas somáticos. É uma angústia ligada à perda de sentido,
quando diante de perspectivas ou ameaças de separação.
• Depressão – Caracteriza-se basicamente por sentimentos de vazio e solidão. A diferença do
que ocorre no verdadeiro depressivo, no qual existe medo da destruição do objeto amado, são as
explosões de ira ou raiva contra o objeto considerado frustrante. As distorções na cognição e no sentido
do self podem conduzir a frequentes mudanças (de valores, objetivos e planos profissionais,
atividades/empregos, círculos de amizade) a longo prazo. Mesmo quando esses pacientes têm
condições intelectuais normais, faltam-lhes capacidade para a concentração para a perseverança e
desejo para um esforço mais firme. Outros fatores que contribuem para a instabilidade ocupacional são
baixa tolerância à frustração, hipersensibilidade às críticas e expectativa de conseguir recompensas
totalmente desproporcionais. Também deve ser destacada a incapacidade de aceitar regras e rotina. Por
tudo isso, eles acabam sendo despedidos de seus empregos ou eles mesmos pedem demissão.
• Alta sensibilidade a qualquer sensação de rejeição/abandono – uma necessidade constante,
agonizante, de nunca se sentir sozinho, rejeitado e sem apoio, gera atitudes defensivas e reativas, numa
busca frenética para evitar um abandono real ou imaginado; pequenas rejeições provocam grandes
tempestades emocionais: uma breve viagem de negócios do namorado(a) ou marido/esposa pode
desencadear uma tempestade emocional completamente desproporcional (acusar o outro(a) de
rejeição, abandono, menosprezo às suas necessidades, egoísmo , etc.). Aliás, como diz Elizabeth Cunha
citando Vanda Di Iório, o “Borderline não tem necessidade, tem urgência. Não sabe adiar e não agüenta
esperar”10. Apesar de não suportar ficar sozinho(a), tem muita dificuldade para participar de grupos
e/ou trabalhar em equipe.
• Intolerância à solidão – Sua modalidade de relacionamento é do tipo anaclítica11. A
intolerância a estar só se manifesta como um afã de prender-se vorazmente, através da voz ou da
presença física do outro ou, em determinados casos, por intermédio do abuso na ingestão de drogas,
álcool ou alimento, segundo seja a adicção, como tentativa frustrada de supressão da falta. Na
realidade, toda tensão de separação é intolerável ao Borderline, produzindo condutas de aderência
exagerada ao outro.
• Anedonia – incapacidade de sentir prazer. Insatisfação permanente e manifesta e frustração
constante; os objetivos de prazer pretendidos nunca são obtidos. Ou, pior ainda, quando alcançados
10 Link nº 3. 11
Questões primitivas vivenciadas do nascimento às primeiras experiências de corte e perda.
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perdem valor imediatamente. No Borderline a tendência em evitar o desprazer é mais forte que a busca
do prazer.
• Dificuldade para administrar emoções – sente tudo tão intensamente que fica inundado por
suas emoções; é como se em torno de si existisse uma membrana tão porosa que permite entrar muito
dos estímulos externos, afetando seu mundo interno desordenadamente; a falta de proteção provoca
reações inadequadas e exageradas ou dificuldade para controlar o estado emocional (demonstrações
frequentes de irritação, raiva constante, medo excessivo ou tristeza profunda), confundindo-se com a
instabilidade de humor (as oscilações podem durar minutos, horas ou dias e incluem depressões,
ataques de ansiedade, aborrecimento, ciúme patológico, hetero e auto-agressividade). Exemplo: uma
paciente marca a consulta informando estar super deprimida, querendo morrer. No dia seguinte chega à
consulta bem humorada, bem vestida, maquiada e vaidosa.
• Instabilidade afetiva – devido à acentuada reatividade do humor tem episódios de intensa
disforia (NR: 7), irritabilidade ou ansiedade, geralmente durando algumas horas e às vezes alguns dias.
Existem várias possibilidades para o contato social; a evitação, por exemplo, acontece nos casos do
Borderline esquizóide e depressivo; nas reações paranóides, tão comuns entre esses pacientes, a
conduta social pode ser agressiva.
• Impulsividade – em algumas áreas a impulsividade o prejudica: gastos financeiros; compulsão
por comida e sexo; abuso de substâncias como drogas e bebidas; direção imprudente; roubo compulsivo
e patológico, entre outros.
• Perturbação da identidade – instabilidade acentuada e resistente da autoimagem ou do
sentimento de self (si mesmo).
• Sentimentos crônicos de vazio – às vezes o paciente experimenta a consciência de um vazio
afetivo, despersonalização e incapacidade para sentir emoções. Outras vezes vêm episódios do tipo
histérico, com reações emocionais exageradas; ingere álcool ou drogas, comete delitos ou tem relações
sexuais patológicas para libertar-se da sensação de vazio existencial. Ainda que não consiga
experimentar emoções genuínas, também não pode suportá-las, caso existam. Protege-se contra os
sentimentos mantendo as relações em um nível superficial ou mudando frequentemente de trabalho,
amigos ou do lugar onde vive.
• Problemas de autoestima – sente-se desvalorizado, incompreendido, vazio; não tem uma
visão muito objetiva de si mesmo. Fantasia a respeito de pessoas recém-conhecidas – desenvolve
admiração de maneira fulminante da mesma forma como se desencanta por alguém muito
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rapidamente. A mistura de idealização e a extrema sensibilidade às pequenas rejeições, em verdade,
parte de qualquer relacionamento, são a receita ideal para relacionamentos conturbados e instáveis,
rompimentos e o estabelecimento imediato de novas ligações afetivas dentro dos mesmos padrões.
• Recorrência de comportamentos, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento
automutilante, autodestrutivo – se cortar, se queimar ou práticas como a tricotilomania (hábito de
arrancar continuamente os cabelos – ver mais em http://tricotilomaniaonline.tripod.com/id33.html); ou
ainda tentativas de suicídio, mais frequentemente as de impulso do que as planejadas. A pessoa pode
dizer que se machuca para satisfazer uma necessidade irresistível de sentir dor, ou porque a dor no
corpo "é melhor que a dor na alma".
Comorbidade
A inteligência do Borderline não é afetada, mas sua habilidade para organizar, estruturar o
tempo e realizar projetos pode ser terrivelmente prejudicada. Não há qualquer associação com a
Esquizofrenia. No entanto, ele geralmente sofre de outras questões que merecem acompanhamento
clínico, como tensão pré-menstrual, hipotireoidismo e deficiência de vitamina B12, além das seguintes
possibilidades:
a) Fobias múltiplas, especialmente a agorafobia. Essas sensações, associadas a tendências
paranóides, originam sérias inibições sociais; a pessoa se sente observada, perseguida, motivo de
chacotas, acreditando que todos estão contra ela ou que é alvo de comentários “pelas costas”;
isto pode estar relacionado ao estresse ou a severos sintomas dissociativos (por exemplo, a
despersonalização).
b) Sintomas obsessivos-compulsivos.
c) Múltiplos sintomas de conversão quando se transforma um conflito psicológico num sintoma
físico. Isso desvia sua atenção de uma questão emocional perturbadora num mal físico, que pode
ser menos temível. Qualquer sintoma virtualmente imaginável pode vir a ser uma metáfora do
problema psicológico. Por exemplo, uma dor no peito pode ser simbolicamente a dor de um
coração ferido, depois da rejeição por um ente querido; uma dor nas costas pode ser o sinal de
problemas encarados como demasiado difíceis de suportar.
d) Reações dissociativas.
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e) Hipocondria e exagerada preocupação com a saúde e temor crônico de vir a adoecer. Referir-se
não só ao corpo, mas também à mente. Descrever minuciosamente seu mal-estar, com reações e
sensações esdrúxulas. É comum o medo de enlouquecer.
f) Descontrole de impulsos: alcoolismo, drogadição, bulimia, compras descontroladas, cleptomania,
são sintomas impulsivos comuns entre os Borderlines.
Causas orgânicas prováveis
Borderlines têm propensão a ter um desequilíbrio do neurotransmissor serotonina - uma
substância química de suma importância para o cérebro.
Problemas com essa substância podem causar ansiedade, depressão, mudanças de humor,
desordens, percepção inadequada da dor, agressividade, alcoolismo, desordens alimentares,
impulsividade e especialmente comportamento suicida. Pacientes com baixo nível de serotonina
metabolizado no fluido espinhal têm aumentado o risco de ações autodestrutivas ou impulsivas durante
uma crise.
Fatores genéticos são importantes. O risco de desenvolver tal transtorno é seis vezes maior
quando o pai ou a mãe tem a patologia. Pesquisando gêmeos idênticos, os cientistas descobriram que
muitas características de personalidade são geneticamente determinadas.
Os fatos que indicam uma origem médica pesquisados são impressionantes: estudos de onda
cerebral, exames físicos neurológicos, a função glandular e o sono são frequentemente anormais. A
resposta para alguns medicamentos é estranha. Por exemplo, se qualquer pessoa toma procaína
intravenosa normalmente sente sono; uma pessoa com TPB sente disforia (NR: 7). Se esse distúrbio
fosse exclusivamente emocional por que todas estas anormalidades neurológicas estariam presentes?
Enquanto muitos portadores de TPB sofreram vivências traumáticas (reais ou imaginadas) na
infância (abuso psicológico, sexual, negligência, terror psicológico ou físico, separação dos pais, morte
dos pais ou o sentimento de orfandade, incesto12, vulnerabilidade individual13, estresse ambiental),
alguns desenvolveram o transtorno em função de pancadas na cabeça, epilepsia ou infecções no
cérebro.
12 Conclusões do tipo "você foi abusado(a)" ou "você foi aterrorizado(a)" podem não ser verdadeiras e acabar sendo
precipitadas, ainda que o que a pessoa registrou como verdade quando criança deva ser considerada. 13
Associada a comportamentos que criam oportunidades para infectar-se nas situações (sexo, drogas, transfusão e TV) em contexto individual e social (a vulnerabilidade como inverso do empoderamento).
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Evolução
Os sintomas normalmente começam a se manifestar do final da adolescência ao início da vida
adulta e persistem geralmente por toda a vida. A fase inicial pode ser desafiadora para o paciente, seus
familiares e seus terapeutas. Com o passar dos anos o número de episódios diminui e, na maioria das
vezes, a severidade do transtorno também regride, talvez pelo amadurecimento ainda que possa
promover uma velhice difícil.
Fatores de bom prognóstico:
• Boa rede de relacionamentos familiares, sociais, afetivos e profissionais.
• Participação em atividades comunitárias: igrejas, clubes, associações culturais, artísticas, etc.
• Frequência baixa ou ausente de autoagressão.
• Frequência baixa ou ausente de tentativas de suicídio.
• Ser casado(a).
• Ter filhos.
• Não ser promíscuo(a).
Tratamento.
A integração de tratamentos medicamentosos mais psicoterápicos traz grandes progressos no
tratamento do Borderline.
• Medicação:
A depender do nível de dificuldade que a pessoa vivencia, ela precisa estar medicada
(antidepressivos, neurolépticos, ansiolíticos, etc.) para tentar reduzir as consequências que a doença
traz. O tratamento medicamentoso inclui estabilizadores de humor para conter a impulsividade e as
oscilações de humor. Antidepressivos e tranquilizantes não têm a mesma eficácia que teriam em casos
de depressões ou ansiedades "puras", mas certamente são úteis.
Devido ao desenvolvimento da medicina o tratamento traz hoje excelentes resultados; a
medicação em geral interrompe a variação do humor em poucos dias. Quando o paciente entende a
existência da doença no cérebro, normalmente sente-se aliviado, pois naturalmente pode voltar a
enxergar seu valor como ser humano; só em saber que seu mal pode ser tratado, seus sentimentos de
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desespero e desesperança são frequentemente substituídos por otimismo e motivação e começa a
perceber a possibilidade real de uma vida mais feliz e mais próspera.
Nenhum medicamento deve ser consumido sem supervisão médica. Isto é particularmente
verdade nesses casos, pois algumas drogas pioram o funcionamento do sistema neurológico. Estima-se
que um terço dos Borderlines seja potencialmente suscetíveis a hipotiroidismo e, apesar dos resultados
normais no exame TSH, pode haver necessidade de cuidar da tireóide. É importante também ter
atenção com o período da anterior à menopausa e durante a menopausa. Algumas pessoas precisam
usar os remédios indefinidamente, enquanto outras param após um ano, com a estabilização do humor.
Neurolépticos são muito úteis para controlar disforia (NR: 7), pensamentos persecutórios e
organizar as idéias e podem ser preventivos quando a pessoa está sob tensão. Eles desaceleram os
pensamentos quando eles estão intensos, mas só devem ser usados com precaução, quando necessário,
e em doses baixas sob acompanhamento médico.
O envolvimento do lobo temporal (semelhante à epilepsia) pode complicar o transtorno;
sintomas comuns incluem certa tendência à percepção irreal da vida e entorpecimento de partes do
corpo. Esses sintomas são mais comuns em situações de estresse, depressão e disforia (NR: 7) severa.
Embora a medicação seja importante ela é pode ser, em alguns casos, coadjuvante quando o
ator principal no tratamento é a Psicoterapia. A medicação pode servir de apoio inicial, no entanto, a
psicoterapia adequada como, por exemplo, a Experiência Somática, pode ajudar a restaurar o equilíbrio
fisiológico e eventualmente a pessoa possa deixar de usar medicação. Naturalmente existem níveis de
Borderlines que precisam do medicamento para o resto da vida, da mesma forma quem tem
hipertensão e outras doenças.
• Psicoterapia:
Borderlines não causaram a própria doença. Eles querem ser tratados e merecem essa
oportunidade. Todo paciente precisa de acompanhamento terapêutico sistemático; é impossível viver
anos seguidos sem ajuda psicológica. Enquanto os problemas subjacentes provavelmente são
estruturais dentro do cérebro, ele tem uma vida repleta de experiências ruins, e está também
despreparado para se recuperar.
Naturalmente os medicamentos ajudam a eliminar alguns sintomas, uma vez que o cérebro está
doente. Da mesma forma que depois de um AVC é necessário terapia para suas áreas saudáveis
assumirem funções de regiões danificadas, o cérebro do Borderline também precisa. Além da medicação
é muito importante estar em terapia. O processo terapêutico habilita o indivíduo a interagir
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naturalmente nas relações, treinando seu cérebro para isso. Não é uma tarefa fácil e é terapia de longa
duração. Todos os acontecimentos da "vida real" se repetem no consultório: instabilidade, alternância
de amor e ódio, idealização e desapontamento com o terapeuta, reatividade, sedução, impulsividade,
etc.
Assim, o tratamento exige que o cliente deseje de fato se tratar e também além de
conhecimento e muita experiência, paciência, disciplina, sistematicidade, boa vontade e acima de tudo,
sensibilidade e disponibilidade do profissional escolhido para que ele tenha competência para facilitar a
permanência da pessoa no processo uma vez que “qualquer” coisa pode fazer o Borderline abandonar a
terapia; como o tatu bola que quando sente que alguém se aproxima abruptamente se fecha, o
Borderline precisa de alguém que possa ir se chegando bem devagar, passo a passo; sucesso do trabalho
depende basicamente da qualidade do vínculo entre o paciente e o terapeuta, pois mais que com outro
cliente, tudo o que precisa acontecer para o processo ser bem sucedido passa por essa relação.
A psicologia do pensamento positivo é muito útil para o cliente; o uso de afirmações funciona
bem, pois o cérebro humano pode acreditar em quase qualquer coisa, se afirmada um número
significativo de vezes. Por essa razão a inclusão de técnicas de Hipnoterapia pode ser eficaz. É preciso
uma reeducação maciça, pelo menos durante seis meses a um ano, lendo livros de autoajuda, escutando
fitas motivationais, sempre em contato com ambientes favoráveis a mudanças.14
Naturalmente, toda abordagem terapêutica tem sua forma de tratar o TPB e cada uma utiliza
seus recursos. A Análise Bioenergética, entre outras, pode ser apropriada se o terapeuta selecionar
trabalhos corporais adequados, que não inclui bater raquete ou equivalentes.
Compreendido que, como dito por Guy Tonella, o Borderline é um estado que resulta de
experiências traumáticas e mantêm a pessoa aprisionada nos períodos da gestação, nascimento e fase
oral, é natural que a S.E. (Somatic Experience), que é uma abordagem baseada na neurobiologia para
trabalhar com o trauma, seja muito eficaz para pacientes com tal funcionamento. A suavidade e
amorosidade, características da abordagem, com que são treinados os terapeutas possibilita bordo para
que o cliente possa liberar, devagar e de modo gentil com a própria fragilidade, a sobrecarrega de
energia deixada por experiências primitivas acumulada no seu sistema nervoso, desde a época em que,
ainda feto, recém nascido ou bebê, ele não poderia auto-regular.
14 Link nº 2.
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Peter A. Levine15, PhD, fundador da Experiência Somática, afirma que o trauma se instala no
Sistema Nervoso e não no evento em si; ou seja, é a memória da experiência, registrada no sistema
nervoso que permanece com a pessoa, uma vez que o evento fica no passado. No entanto, uma situação
semelhante no presente, pode acionar a memória traumática antiga, fazendo a pessoa sentir a mesma
coisa que sentiu na ocasião do trauma, ainda que racionalmente não faça sentido ou nem lembre mais
de ter vivenciado aquela experiência. Em se tratando do Borderline cujos traumas são bem primitivos,
dificilmente, a pessoa vai lembrar ou relacionar à forma como vive a sua vida adulta ao que
experimentou como feto, recém nascido ou bebê, se não estiver em um processo terapêutico
adequado.
A abordagem S.E. cria condições para que, durante a sessão, após conectar-se com a experiência
original (o que não significa regressão), o cliente possa descarregar a energia contida, recompor sua
fisiologia e resgatar seu direito a uma vida saudável, através da renegociação e resolução dos sintomas
traumáticos. Isso acontece sem o risco de retraumatizá-lo e sem qualquer tipo de catarse – tudo é
experimentado muito suave e protegidamente, em direção a sua educação emocional e somática e
à conquista da resiliência.
É inclusive interessante a forma como o Borderline é visto pela S.E. O cliente Borderline é
entendido como uma pessoa, cujo organismo está desregulado, seu sistema nervoso central
sobrecarregado, e, por esta razão responde globalmente e com alta intensidade a cada estímulo; ou
seja, a partir de uma estimulação externa, ele ativa todo o sistema nervoso central, apresentando
dificuldade para expressar ou lidar com suas emoções, uma vez que tem pouca capacidade de auto-
regulação. Por tudo isso, o trabalho com ele precisa ser contínuo e de longo prazo, pois se trata da
mudança do padrão básico do trabalho do seu sistema nervoso, demanda contenção apropriada e muita
amorosidade. Toda conquista no processo é reconhecida e validada, ainda que seja apenas uma
pequena redução na sua ativação; qualquer mudança pode demonstrar o inicio da conquista da
capacidade de auto-regulação. Para isso é necessário que o cliente vá aprendendo a se recursar,
identificando formas de se sentir seguro para que, se educando, ele possa cuidar de si mesmo em
situações do seu cotidiano.
Além disso, é igualmente importante a família aprender a se relacionar com o paciente para ser
apoio, em vez de mantenedor da dificuldade como fazem, por exemplo, as críticas e as desqualificações.
A postura adequada precisa promover acolhimento e garantia do amor, sem para isso “passar a mão
15 Link nº 10.
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pela cabeça”; um relacionamento verdadeiro, direto, claro e especialmente firme dos pais ou cônjuge
com o paciente pode muito bem ajudá-lo a aprender a se sentir amado. Muitas vezes a família precisa
ser incluída no processo terapêutico familiar para se enquadrar no propósito do tratamento do
Borderline rompendo o padrão muitas vezes simbiótico que mantém tal funcionamento.
Depoimento.
O depoimento é de uma mulher com funcionamento Borderline, que está sendo atendida pela
abordagem em S.E.; este depoimento foi enviado, em forma de email para quatro pessoas importantes
da sua vida e autorizado a ser utilizado na presente colagem:
“Meu corpo está totalmente esvaziado das medicações. Já não tomo, há mais de 3 meses, o conjunto de antidepressivos que me ajudou a me centrar nos últimos 8 anos. Eu reconheço e identifico a ausência dessas medicações no meu corpo e no meu comportamento.
No corpo o que fica mais evidente é na pele quando arde/queima e no coração quando fica angustiado. É muito desagradável sentir isso no corpo, mas ele fala comigo. E isso é bom. As medicações criavam o bordo que me deixava segura dentro de mim, dentro da minha pele, mas eu quero eu mesma ser esse bordo.
No comportamento percebo que fico mais reativa, agressiva (não tanto quanto no passado).
Esses últimos dias que foram recheados de muitas situações estressantes, eu estava me sentindo misturada nas sensações que estavam voltando, super/hiper frágil. Como se pudesse partir em pedaços a qualquer momento; como se não pudesse suportar ou lidar com nenhuma atitude mais dura de qualquer pessoa. Todas as pessoas voltaram a ser uma ameaça para mim. Eu estava muito assustada, triste, amedrontada, apavorada. Sei qual é o diagnóstico que me é dado, mas quero ser maior do que ele. É muito desconfortável estar nesse corpo da forma que estou agora principalmente porque já estive nesse mesmo corpo muito confortavelmente.
A reação amorosa e cuidadosa de meu filho comigo depois de uma situação delicada antes do almoço na véspera de Natal e um email amoroso de uma amiga pra mim em resposta a um email que eu havia enviado pra ela me ajudaram a restaurar a percepção de mim para mim mesma de quem eu sou e que necessariamente as pessoas não estão contra mim.
Apesar de tudo isso que descrevo, existe uma diferença gritante em relação a como eu era antes da medicação anos atrás e agora: EU.
Eu penso diferente do que sinto. Não sei explicar, mas é como se essas sensações fossem do corpo, mas não da minha essência. Eu agora, depois do tratamento com S.E., confio em mim e no meu discernimento. Confio na minha compreensão, no meu bom senso. Mas também acredito no raciocínio corpomente. E ai, como fica? Essa é a minha confusão do momento.
Eu confio que eu estou criando a saída pra esse sofrimento que é ser quem sou. Ou seja, mesmo que eu estou sentindo tudo como sentia antigamente e que me fazia recuar e me esconder para não ser dura com o outro e não retirar o outro definitivamente de minha vida, eu estou mantendo as mudanças que pude fazer durante o tempo que usei medicação e agora com o tratamento em SE. Preciso ser paciente comigo mesma.
Eu estou sentindo tudo de novo, mas dessa vez eu estou deixando minha cara na tela. Só que pra isso preciso da ajuda de algumas pessoas. Ou seja, preciso que algumas pessoas que eu confio saibam que eu estou passando por isso. Só saibam. Eu não estou mais sozinha porque posso dizer pra essas pessoas o que está acontecendo comigo. Para quem entende tecnicamente
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o que é isso tudo vai ser mais fácil. Pra quem não entende sugiro que leia sobre o assunto ou converse com quem entende.
Em resumo: eu quero me curar e resolvi me denunciar a algumas pessoas em quem confio. Eu denuncio meu estado a você que lê esse email.
Minha pele arde e queima, meu coração aperta, eu sinto uma grande tristeza e algumas vezes quando sinto isso, choro. Ao mesmo tempo eu sei quem eu sou e eu sou maior do que isso que se passa em meu corpo. Eu sou uma pessoa de bem e do bem. Eu sou uma pessoa que ama e que quer somar na vida. Eu tenho orgulho de ser quem sou e de tudo que sou capaz de fazer e ser para mim e para o outro. Eu sou uma pessoa que vale a pena existir na vida das pessoas e nas suas relações. Quem souber aproveitar da minha relação vai poder estar comigo do lugar de filho, irmão, amigo, marido, tia, avó enfim, vai descobrir que vale a pena ter a mim na vida.
Mas eu preciso de ajuda. Não é uma ajuda que implica em você fazer alguma coisa por mim ou vir até a mim pra conversar ou fazer companhia pra mim. Não. A ajuda que preciso e peço é apenas que saiba que eu estou me sentindo do jeito que descrevo. Peço que me trate e que lide comigo da forma natural que sentir. Não deixe de ser como é pra lidar comigo. Só lembre que eu estou me sentindo assim e que a mais profunda parte de mim não tem intenção de ferir você ou atacar você. Se eu estiver mais frágil ou ficar mexida com algo que você diga ou faça eu vou falar.
Quando se relacionar comigo peço que esteja desarmado, pois quando você está desarmado eu também me desarmo. Eu estou dizendo que eu estou aberta, cheia de desejo e esperança de ser quem sou do jeito que sou verdadeiramente, mesmo que isso signifique que sou frágil, assustada ou o que for. Mas eu sou do bem. A minha intenção é a melhor. Pode confiar. Se eu tiver uma reação incoerente com o que eu prego pode me alertar. Só peço que seja gentil comigo. Peço que antes de me dizer alguma coisa que eu preciso ouvir, diga algo que me lembre que você esta do meu lado e não contra mim. Eu preciso que seja assim por um tempo; e, porque eu confio que eu vou me curar, você não vai ter que fazer nenhum esforço pra lidar comigo.”
Referências
Como dito inicialmente, o texto Transtorno de Personalidade Borderline é uma colagem de
trechos dos links (em 03/07/2010) e artigo relacionados a seguir:
1. Grounding o Borderline - Mágica para Músculo16, por Caron Fisher, LSCW e Ferrel Irvine, MS,
RSW, Copyright 1987, preparado para a Conferência de Bioenergética Noroeste do Pacífico
de1987
2. www.biologicalunhappiness.com/4h.htm
3. http://elisabetecunha2008.wordpress.com/category/reconciliacao/
4. www.mentalhelp.com/Borderline.htm
5. http://www.depression-guide.com/lang/pt/Borderline-personality-disorder-symptom.htm
16
Direitos Autorais Caron Fischer e Ferrel Irvine, 1987
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20
6. http://cristianccss.wordpress.com/2008/10/29/transtorno-de-personalidade-limitrofe-
Borderline/
7. http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigosP.asp?id=20412
8. http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?sec=91&art=150 - Ballone GJ - Personalidade
Borderline - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005.
9. http://www.centroreichiano.com.br/artigos/Artigos/VOLPI,%20Jos%C3%A9%20Henrique%2
0-%20Os%20olhos%20que%20veem.pdf
10. www.traumatemcura.com.br