Transtornos Decorrentes do Uso de Substâncias Psicoativas

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FUNDAO EDSON QUEIROZ

FUNDAO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZACentro de Cincias Humanas CCH Curso de Psicologia Disciplina: Psicopatologia geralTranstornos Decorrentes do Uso de

Substncias PsicoativasAna Beatriz DinizIndira Guedis Guimares

Karol Ramalho

Marianne Cortez Moreira Dantas

Raphael AlmeidaFortaleza-CE

2012

SUMRIO

1. INTRODUO

2. AS SUBSTANCIAS PSICOATIVAS E SEU USO INADEQUADO

3. A PATOLOGIA E O OLHAR DA PSIQUIATRIA

4. AS POSSIBILIDADES DE TRATAMENTO SOB A OTICA DA PSICOLOGIA

5. AS POLITICAS PUBLICAS EXISTENTES PARA COMBATE E TRATAMENTO VINCULADO AO USO INADEQUADO DE SUBSTANCIAS PSICOATIVAS

6. OS VRIOS SERVIOS DE ATENO AO DEPENDENTE7. CONCLUSO

8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

1.INTRODUO

A compreenso que fazemos do nosso mundo subjetivo e interior criado por nossos sentidos, em relao ao mundo fsico, os objetos e eventos que nos cercam to concreta e real que acreditamos que o mundo deve existir exatamente como percebemos.Decidimos comear com esta forma de definio do mundo para que entendamos que a proposta deste trabalho apresentar um breve relato pela amplitude da temtica dos transtornos decorrentes do uso de substancias psicoativas.

Desde a remota antiguidade, o homem faz o uso de drogas no seu cotidiano, seja para livrar-se de suas dores e angustias, seja em cerimnias religiosas e rituais. Os indgenas, por exemplo, usavam bebidas ou outras drogas retiradas da natureza em seus rituais sagrados. O pio era utilizado pelos gregos e rabes para fins medicinais. Ainda hoje, o vinho utilizado em cerimnias religiosas catlicas e protestantes, bem como no judasmo, no candombl ou em outras prticas da religio.

Foi somente no inicio do sculo XX, com a exploso dos processos de urbanizao e industrializao que o uso e abuso de vrios tipos de drogas passaram a ser um problema. Ao longo desses ltimos 30 anos, os efeitos do lcool e de outras drogas ficaram mais conhecidos e popularizados. A partir desse processo, um novo contexto surgiu, e com eles novas formas de uso e abuso.

Desde ento casos de dependncia qumica vem infelizmente crescendo muito rapidamente, hoje ele constitui-se uma das enfermidades psquicas mais constantes. Apesar de na ltima dcada o uso da cocana ter decrescido, o uso do crack no somente ocupou esses nmeros como tambm se tornou mais amplo que a cocana pois consegue chegar de forma mais impactante e veloz ao Sistema Nervoso Central, portanto sua dependncia muito maior e suas conseqncias muito mais graves no sentido de tratar e sanar.

Segundo a OMS Organizao Mundial de Sade, dependncia qumica : o estado caracterizado pelo uso descontrolado de uma ou mais substncias qumicas psicoativas com repercusses negativas em uma ou mais reas da vida do indivduo.

Entendemos que so diversos fatores que contribuem para que o sujeito venha a se tornar um dependente qumico, sendo eles de ordem biopsicossocial. Em alguns casos a prpria substncia desencadeadora da dependncia, que justamente o caso do crack, que pode gerar um elo forte com os usurios em questo de dias, mesmo em quem tem um aparelho biopsicossocial competente para resistir seduo das drogasBuscou-se num primeiro momento historiar a nvel de mundo a percepo do munto doas substancias psicoativas e a relao delas com a sociedade. J num segundo momento, ainda com viso histrica buscou-se focar no brasil e a forma de lidar com este problemas.No terceiro capitulo aborda-se a patologia propriamente dita e a viso da psiquiatria. Que ser contraposta logo em seguida no capitulo 4 pelo olhar da psicologia e suas diferentes abordagens.

Por ultimo e no menos importantes temos os captulos 5 e 6 abordando politicas publicas e outras alternativas da sociedade para tratamento dos dependentes e a relao deles com a comunidade.

E finamente fecha-se o trabalho com a concluso destes estudos e o que agregou-se de conhecimento a partir da busca deles.

Com toda essa riqueza que nos leva o estudo da compreenso deste mundo dos transtornos decorrentes de substancias psicoativas, este trabalho vem expor o que encontramos em nossas pesquisas bibliogrficas e que nos serviram como forma de iniciarmos um aprendizado e um debate sobre o tema.2.AS SUBSTANCIAS PSICOATIVAS E SEU USO INADEQUADOBreve Histrico sobre o uso de drogas no decorrer da histriaCom o estudo das civilizaes identifica-se o consumo de substncias psicoativas existe desde os primrdios da histria do homem, em praticamente todas as culturas conhecidas. Curiosidade, desejo de transcendncia, busca da imortalidade, do prazer, da sabedoria, so alguns dos motivos que aparecem, desde sempre, associados ao desejo por alguma droga. Masur & Carlini (1989) definem drogas como substncias que interferem com o funcionamento dos neurotransmissores, provocando alteraes e distrbios no comportamento.

Ao longo da histria da humanidade, o uso de drogas insere-se em vrios contextos. Desde o mstico, associado aos rituais e busca de transcendncia, at o econmico, do qual a Guerra do pio e a economia paralela de pases como a Colmbia so alguns exemplos (Totugui, 1988). Em nosso meio, praticamente todas as pessoas fazem uso de algum tipo de droga. Medicamentos, lcool e tabaco so drogas legalmente comercializadas. Cada cultura determina quais drogas devem ser consideradas legais e ilegais. Isso est mais relacionado a aspectos antropolgicos e econmicos do que a morais ou ticos, ou mesmo aos efeitos ou caractersticas farmacolgicas das substncias em questo (Bucher, 1992).Nos anos 50 e 60 Jellinek definiu o alcoolismo como doena para casos onde estivessem presentes a tolerncia, a sndrome de abstinncia e a perda de controle e admitiu que a doena poderia receber influncias de aspectos culturais, demogrficos, polticos e econmicos. Como tambm desenvolveu uma classificao do alcoolismo bastante difundida na poca, principalmente por pases anglo-saxnicos. Ele acreditava que o conceito de doena ampliaria o

acesso aos servios mdicos. (TOSCANO JR., 2001)Cabe aqui retomar a evoluo desses conceitos feita por Berridge (1994). :

Na dcada de 50: as definies de adico adotadas pela OMS enfatizando o fator bioqumico so redefinidas em 1957 quando se inclui o item desejo fsico irresistvel acompanhado de fatores psicolgicos Em 1964: adio e hbito so incorporados no conceito nico dependncia de drogas Final dos anos 70: descobertas de outros pesquisadores, dentre eles Edwards conduzem ao surgimento dos critrios para sndrome de dependncia de lcool, depois estendido as outras drogas no DSM-III-R,DSM-IV (Classificao da Psiquiatria) e na CID-10 (Classificao Internacional de Doenas). Dcada de 70 e 80: a perspectiva behaviorista (comportamental) retoma seu posicionamento de oposio a concepo de doena, trazendo influncia para os conceitos 1977: a OMS associa sndrome de dependncia de lcool idia de deficincias relacionadas ao lcool, reunindo dependncia fsica e psicolgica, o que suscitou controvrsia.

Dcada de 80: a definio de uso problema proposta por sanitaristas, epidemiologistas e economistas a tnica dos discursos a respeito de uma nova sade pblica, com nfase nos cuidados primrios, planejamento de sade e nos indicadores de sade. Porm, o eixo base da dependncia continua na prtica clnica.Uma viso histrica e antropolgica do consumo das drogas mostra que desde os primrdios de sua histria, o homem tem demonstrado curiosidade ou desejo de alguma droga. A histria do homem e seus mitos e lendas, est repleta de exemplos de revolta contra as contingncias que limitam seu desejo de transcendncia.Breve Histrico sobre o uso de drogas no BrasilHistoricamente, a regulao do uso destas substncias se estabeleceu em contextos scio-culturais especficos, porm o isolamento de princpios ativos de substncias psicoativas e sua industrializao no incio do sculo XIX, somado a popularizao crescente do consumo e ao prprio contexto histrico brasileiro, marcado por intensa urbanizao e aumento das desigualdades sociais, contriburam para a concretizao de uma emergente demanda social. Um posicionamento repressivo ao enfrentamento das drogas, assumido inicialmente pelo Estado Brasileiro, foi fortemente influenciado por movimentos e decises internacionais. As aes dos Estados Unidos da Amrica (EUA) e o posicionamento proibicionista, devido ao exponencial crescimento da industrializao de bebidas alcolicas no pas, constituram-se no alicerce ideolgico para as polticas pblicas sobre drogas ao redor do mundo, o qual desencadeou uma srie de outros eventos que culminaram com a discusso da questo do pio no Encontro de Xangai, em 1906 e 1911, e nas Conferncias de Haia em 1912 e 1914. Aqum as medidas repressivas ao consumo de drogas de abuso pelo Estado moderno, registros histricos relatam que a primeira lei proibicionista no Brasil data de 1830, cuja responsvel Cmara Municipal do Rio de Janeiro - aplicava penalidades aos negros vadios que fossem pegos fumando maconha. Mas foi o Cdigo Penal Republicano, de 1890, o primeiro diploma penal brasileiro incriminador, que expressamente disps, no artigo 159, sobre a proibio a algumas substncias tidas como venenosas. imprescindvel destacarmos que at os anos de 1950 as drogas no eram vistas como hoje porque no tinha a mesma importncia econmica e poltica da atualidade nem o seu consumo havia atingido propores to elevadas. Era mais um universo misterioso devido ao destacado uso de opiceos, como a morfina e a herona, prprio de grupos marginais da sociedade, desde integrantes da aristocracia europia, mdicos, intelectuais, msicos, delinqentes e at mesmo grupos da elite da Amrica Latina. Aps o final da Segunda Guerra Mundial e ascenso dos ideais neoliberais difundidos por meio da globalizao da economia, viu-se surgir outra globalizao de carter mais poltico, baseado na exportao de leis em matria de drogas que buscavam legitimar o discurso jurdico-poltico e o esteretipo poltico-criminoso das substncias psicoativas alm das fronteiras nacionais. Assim, especialistas internacionais valorizados pela Organizao Mundial da Sade (OMS) e pela Organizao das Naes Unidas (ONU) criaram comisses que emitiram suas primeiras observaes e medidas de controle dessas substncias pautadas em termos farmacolgicos, mdicos e jurdicos. Posteriormente, foi substituda pela Lei 6.368 de 1976, que dispe sobre medidas de preveno e represso ao trfico ilcito e uso indevido de substncias entorpecentes ou que determinem dependncia fsica ou psquica. A nova lei apresentou certo avano, principalmente por ampliar o leque de aes preventivas, destinando aes para os dependentes de entorpecentes e no apenas para os infratores viciados. Fica evidente no contedo de ambas as leis a forte influncia da concepo mdico- psiquitrica, na qual o usurio de drogas passou a ser considerado um doente e os hospitais psiquitricos tornaram-se os dispositivos assistenciais privilegiados de ateno, sendo importante ressaltar que tais portas assistenciais foram abertas aos consumidores de drogas, inicialmente, sob a alada do Ministrio da Justia. A partir de 1980, o Conselho Federal de Entorpecentes (COFEN), foi o responsvel pela formulao de polticas pblicas para o enfrentamento das drogas. Embora a atuao do COFEN tenha privilegiado as atividades de represso produo, trfico e consumo de drogas, algumas iniciativas deste rgo promoveu um desenvolvimento das prticas de ateno ao usurio de lcool e outras drogas. Dentre essas iniciativas, ressalta-se, o apoio aos centros de referencia em tratamento, pesquisas em preveno na rea de lcool e outras drogas, s comunidades teraputicas e aos programas de reduo de danos voltados para a preveno da Aids entre usurios de drogas injetvel.Tambm no ano de 2002, instituda a Lei 10.409, essa nova lei afirma que o tratamento do dependente ou usurio ser feito de forma multiprofissional e, sempre que possvel, com a assistncia de sua famlia. Foi a primeira meno na legislao brasileira sobre reduo de danos, onde o Ministrio da Sade foi o incumbido desta regulao.Essa importante mudanas ocorridas no cenrio poltico da poca, somada a experincias adquiridas na implementao de programas de reduo de danos na ateno sade de usurios de drogas injetveis e a formulao da Poltica do Ministrio da Sade Para Ateno Integral a Usurios de lcool e Outras Drogas, contriburam para o realinhamento discursivo na poltica do CONAD, a comear pelo nome, que mudou de Antidrogas para Polticas sobre Drogas.O texto da Lei 10.216, de 06 de abril de 2001, marco legal da Reforma Psiquitrica, ratificou, de forma histrica, as diretrizes bsicas que constituem o Sistema nico de Sade; garante aos usurios de servios de sade mental e, consequentemente, aos que sofrem por transtornos decorrentes do consumo de lcool e outras drogas a universalidade de acesso e direito assistncia, bem como sua integralidade; valoriza a descentralizao do modelo de atendimento, quando determina a estruturao de servios mais prximos do convvio social de seus usurios, configurando redes assistenciais mais atentas s desigualdades existentes, ajustando de forma equnime e democrtica as suas aes s necessidades da populao. A reforma psiquitrica no Brasil um movimento histrico, de carter poltico, social e econmico, iniciado, ao final dos anos 70, na crise do modelo de assistncia centrado no hospital psiquitrico, e aos esforos dos movimentos sociais pelos direitos dos pacientes psiquitricos. Esse importante movimento somado a movimentao da reforma sanitria na dcada 1980, forneceram o alicerce ideolgico necessrio para a criao do atual sistema de sade brasileiro, o SUS em 1990, que por sua vez reafirmando o j exposto pela constituio brasileira almeja garantir o direito de acesso universal sade para toda a populao. Desta forma, apesar do atraso histrico em considerar os usurios de lcool e outras drogas como um assunto de sade pblica, em 2003, o Ministrio da Sade publicou o documento A Poltica do Ministrio da Sade para Ateno Integral a Usurios de lcool e Outras Drogas, diretriz principal na rea da sade pblica. Essa poltica tem nos princpios do SUS e da Reforma Psiquitrica seus eixos centrais, a partir dos quais trabalha as especificidades de seu pblico-alvo. Suas principais orientaes visam o estabelecimento e fortalecimento de um trabalho em rede, para proporcionar ateno integral, acesso facilitado aos servios, participao do usurio no tratamento e a criao de servios de ateno diria como alternativa ao hospital psiquitrico - os Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) e os Centros de Apoio Psicossocial lcool e drogas (CAPSad). Esses CAPS e sua modalidade para atendimento exclusivo para usurio de lcool e drogas CAPSad - a expresso prtica da Reforma Psiquitrica, pois trata-se de uma modalidade de ateno sade centrada na comunidade, caracterizada por atendimento ambulatorial realizado por uma equipe multiprofissional especializada, articulando aes de reduo de danos, preveno, recuperao, tratamento e reinsero social dos usurios de drogas de abuso.Talvez possamos afirmar que um dos maiores dificuldade ao enfrentamento das drogas no mundo que em muitos casos elas no so vistas como drogas, elas so utilizadas para diversos fins desde a antiguidade. Podem ser utilizadas para curar doenas ou obter prazer.

Entre as drogas lcitas esto os medicamentos em geral (os quais s so permitidos sob prescrio mdica), o lcool e o cigarro, alm dos alimentos j citados. J entre as principais drogas ilcitas esto a maconha, a cocana, o ecstasy, o crack, a herona, etc. Existem ainda outras substncias que causam dependncia, mas que so vendidas livremente para outros fins como a cola de sapateiro e o hypnol. H diversas outras drogas que tambm so utilizadas da mesma maneira e algumas delas ainda nem so conhecidas pelos sistemas de sade e pelas autoridades judiciais.Drogas lcitas so aquelas permitidas por lei, as quais so compradas praticamente de maneira livre, e seu comrcio legal. Drogas ilcitas so as cuja comercializao proibida pela justia, estas tambm so conhecidas como drogas pesadas e causam forte dependncia.Faamos um breve apanhado da situao no mundo:

ALCOOL - 320 mil jovens com idade entre 15 e 29 anos morrem por ano devido a causas

relacionadas ao lcool = 9% de todas as mortes nessa faixa etria (OMS 2011). No Brasil segundo dados de ANDRADE (2010), a epidemiologia no Brasil est percentualmente em uso do lcool para a populao geral: 50%, ensino mdio e fundamental: 42% Universitrios: 72%, nvel de abuso/dependncia do lcool par a populao geral: 12%

TABACO - Segunda a OMS existe 1 bilho de fumantes em todo o mundo, com ascenso em regies em desenvolvimento, como por exemplo: China, ndia e Amrica do Sul. No Brasil segundo dados de ANDRADE (2010), o uso no ultimo ano de tabaco se classifica desta forma: Populao geral 19%, Ensino fundamental e mdio 10% Universitrios: 28%DROGA ILICITA Segundo o IPQ, a partir de pesquisas do UNODOC de 2011, 210 milhes de pessoas usaram alguma substancia ilcita ao menos uma vez nos ltimos 12 meses, ou seja 4,8% da populao mundial entre 15 e 64 anos. No Brasil segundo dados de ANDRADE (2010), o uso na vida de qualquer droga, exceto lcool e tabaco se classifica desta forma: Populao geral 23%, Ensino fundamental e mdio 26% Universitrios: 49%

Apesar dos avanos observados, cabe ressaltar, que lidar com o enfrentamento do consumo de lcool e outras drogas como atirar em um alvo em movimento, dada a velocidade com que novas drogas so postas em circulao e os problemas decorrentes de seu uso, cada vez mais complexo. Como o caso do crack, que surgiu no Brasil a partir da dcada de 80, um composto extremamente potente, de efeito curto e por isso com alto potencial para desenvolver dependncia. E mais recentemente, em 2011, o oxi, um desenvolvimento moderno do crack, que agrega em sua composio substncias potencialmente mais txica. Estes novos tipos de drogas de abuso, somadas aos velhos conhecidos, como o lcool, o tabaco, a maconha ou haxixe, o pio, a cocana, outras produzidas em laboratrios, como o ecstasy (metanfetaminas), solventes e inalantes, o LSD (dietilamida do cido lisrgico), constituem o foco de ao das polticas pblicas dos Estados modernos.3.A PATOLOGIA E O OLHAR DA PSIQUIATRIA

Antes de nos debruarmos sobre o questionamento das polticas pblicas para este problema, nos cabe parar e fazer um passeio pela forma como vista e descrita patologicamente esta dependncia e as formas determinadas para trata-la.Comecemos analisando as definies de substancias psicoativas, tambm chamadas de drogas, pelas diversas cincias que tem interface com o tema:

Medicina: qualquer substancia que previne ou cura doenas ou melhora o bem estar

Farmcia: qualquer agente qumico que altere processos bioqumicos e fisiolgicos Psiquiatria: considerada substncia psicoativa (drogas) qualquer substncia que, utilizada por qualquer via de administrao, altera o humor, o nvel de percepo ou o funcionamento cerebral, podendo ser legalmente usadas, prescritas ou ilcitas (ilegais).Psicologia: As drogas so substncias capazes de produzir alteraes nas sensaes fsicas, psquicas e emocionais interferindo no funcionamento do organismo humano. Dependendo da natureza e composio das mesmas elas podem agir em determinados locais ou no organismo como um todo. Toda droga tem seus efeitos, porm eles no se manifestam da mesma maneira em todos os organismos.

Geral: produtos qumicos, psicotrpicos ou psicoativos, de origem natural ou sinttica, que produzem efeitos sobre o SNC e resultam em alteraes na mente, corpo e/ou comportamento

Importante deixar claro que a substncia psicoativa (SPA) atua sobre o SNC (sistema nervoso central), alterando o estado normal de viglia e sensopercepo, que um pouco diferente da substncia psicotrpica que alm do efeito psicoativo pode levar dependncia. E exatamente por isso nem toda substancia psicoativa tem potencial de causar dependncia, como por exemplo os neurolpticos.Para a psiquiatria a forma de trabalhar a dependncia qumica nos pacientes comea pela compreenso de como estas drogas atuam no corpo humano, tomando por base o sistema nervoso central (SNC). Assim para que fique mais clara a compreenso desta abordagem a seguir segue tabela do instituto de Psiquiatria que apresenta a classificao das rogas segundo o efeito das mesmas junto ao SNC.

Tabela -01 Classificao das drogas segundo efeitos no SNC

Fonte: IPQ Instituto de psiquiatria

Buscamos analisar a forma como a dependncia classificada patologicamente no SID 10, segundo a categoria V -transtornos mentais e comportamentos, e a classificao F-19 - transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de mltiplas drogas e ao uso de outras substncias psicoativasNeste grupamento existem 19 subclassificaes que se enumeram da seguinte forma:

F19.0 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de mltiplas drogas e ao uso de outras substncias psicoativas - intoxicao aguda

HYPERLINK "http://cid10.bancodesaude.com.br/cid-10-f/f191/transtornos-mentais-e-comportamentais-devidos-ao-uso-de-multiplas-drogas-e-ao-uso-de-outras-substancias-psicoativas-uso-nocivo-para-a-saude"

F19.1 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de mltiplas drogas e ao uso de outras substncias psicoativas - uso nocivo para a sade

HYPERLINK "http://cid10.bancodesaude.com.br/cid-10-f/f192/transtornos-mentais-e-comportamentais-devidos-ao-uso-de-multiplas-drogas-e-ao-uso-de-outras-substancias-psicoativas-sindrome-de-dependencia"

F19.2 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de mltiplas drogas e ao uso de outras substncias psicoativas - sndrome de dependncia

HYPERLINK "http://cid10.bancodesaude.com.br/cid-10-f/f193/transtornos-mentais-e-comportamentais-devidos-ao-uso-de-multiplas-drogas-e-ao-uso-de-outras-substancias-psicoativas-sindrome-estado-de-abstinencia"

F19.3 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de mltiplas drogas e ao uso de outras substncias psicoativas - sndrome [estado] de abstinncia

HYPERLINK "http://cid10.bancodesaude.com.br/cid-10-f/f194/transtornos-mentais-e-comportamentais-devidos-ao-uso-de-multiplas-drogas-e-ao-uso-de-outras-substancias-psicoativas-sindrome-de-abstinencia-com-delirium"

F19.4 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de mltiplas drogas e ao uso de outras substncias psicoativas - sndrome de abstinncia com delirium

HYPERLINK "http://cid10.bancodesaude.com.br/cid-10-f/f195/transtornos-mentais-e-comportamentais-devidos-ao-uso-de-multiplas-drogas-e-ao-uso-de-outras-substancias-psicoativas-transtorno-psicotico"

F19.5 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de mltiplas drogas e ao uso de outras substncias psicoativas - transtorno psictico

HYPERLINK "http://cid10.bancodesaude.com.br/cid-10-f/f196/transtornos-mentais-e-comportamentais-devidos-ao-uso-de-multiplas-drogas-e-ao-uso-de-outras-substancias-psicoativas-sindrome-amnesica"

F19.6 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de mltiplas drogas e ao uso de outras substncias psicoativas - sndrome amnsica

HYPERLINK "http://cid10.bancodesaude.com.br/cid-10-f/f197/transtornos-mentais-e-comportamentais-devidos-ao-uso-de-multiplas-drogas-e-ao-uso-de-outras-substancias-psicoativas-transtorno-psicotico-residual-ou-de-instalacao-tardia"

F19.7 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de mltiplas drogas e ao uso de outras substncias psicoativas - transtorno psictico residual ou de instalao tardia

HYPERLINK "http://cid10.bancodesaude.com.br/cid-10-f/f198/transtornos-mentais-e-comportamentais-devidos-ao-uso-de-multiplas-drogas-e-ao-uso-de-outras-substancias-psicoativas-outros-transtornos-mentais-ou-comportamentais"

F19.8 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de mltiplas drogas e ao uso de outras substncias psicoativas - outros transtornos mentais ou comportamentais

HYPERLINK "http://cid10.bancodesaude.com.br/cid-10-f/f199/transtornos-mentais-e-comportamentais-devidos-ao-uso-de-multiplas-drogas-e-ao-uso-de-outras-substancias-psicoativas-transtorno-mental-ou-comportamental-nao-especificado"

F19.9 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de mltiplas drogas e ao uso de outras substncias psicoativas - transtorno mental ou comportamental no especificado

A forma de classificar com a devida numerao e encaixe adequado para diagnstico dever ser feita com base nas descries do CID 10, conforme segue abaixo:Este agrupamento compreende numerosos transtornos que diferem entre si pela gravidade varivel e por sintomatologia diversa, mas que tm em comum o fato de serem todos atribudos ao uso de uma ou de vrias substncias psicoativas, prescritas ou no por um mdico. O terceiro caractere do cdigo identifica a substncia implicada e o quarto caractere especifica o quadro clnico. Os cdigos devem ser usados, como determinado, para cada substncia especificada, mas deve-se notar que nem todos os cdigos de quarto caractere podem ser aplicados a todas as substncias.

A identificao da substncia psicoativa deve ser feita a partir de todas as fontes de informao possveis. Estas compreendem: informaes fornecidas pelo prprio sujeito, as anlises de sangue e de outros lquidos corporais, os sintomas fsicos e psicolgicos caractersticos, os sinais e os comportamentos clnicos, e outras evidncias tais como as drogas achadas com o paciente e os relatos de terceiros bem informados. Numerosos usurios de drogas consomem mais de um tipo de substncia psicoativa. O diagnstico principal dever ser classificado, se possvel, em funo da substncia txica ou da categoria de substncias txicas que a maior responsvel pelo quadro clnico ou que lhe determina as caractersticas essenciais. Diagnsticos suplementares devem ser codificados quando outras drogas ou categorias de drogas foram consumidas em quantidades suficientes para provocar uma intoxicao (quarto caractere comum .0), efeitos nocivos sade (quarto caractere comum .1), dependncia (quarto caractere comum .2) ou outros transtornos (quarto caractere comum.3-.9).

O diagnstico de transtornos ligados utilizao de mltiplas substncias (F19.-) deve ser reservado somente aos casos onde a escolha das drogas feita de modo catico e indiscriminado, ou naqueles casos onde as contribuies de diferentes drogas esto misturadas.

Exclui:abuso de substncias que no produzem dependncia (F55)

As subdivises seguintes de quarto caractere devem ser usadas com as categoriasF10-F19:

.0Intoxicao agudaEstado conseqente ao uso de uma substncia psicoativa e compreendendo perturbaes da conscincia, das faculdades cognitivas, da percepo, do afeto ou do comportamento, ou de outras funes e respostas psicofisiolgicas. As perturbaes esto na relao direta dos efeitos farmacolgicos agudos da substncia consumida, e desaparecem com o tempo, com cura completa, salvo nos casos onde surgiram leses orgnicas ou outras complicaes. Entre as complicaes, podem-se citar: traumatismo, aspirao de vmito, delirium, coma, convulses e outras complicaes mdicas. A natureza destas complicaes depende da categoria farmacolgica da substncia consumida assim como de seu modo de administrao.

Bebedeira SOE

Estados de transe e de possesso na intoxicao por substncia psicoativa

Intoxicao alcolica aguda

Intoxicao patolgica

Ms viagens (drogas)

Exclui:intoxicao significando envenenamento (T36-T50)

.1Uso nocivo para a sadeModo de consumo de uma substncia psicoativa que prejudicial sade. As complicaes podem ser fsicas (por exemplo, hepatite conseqente a injees de droga pela prpria pessoa) ou psquicas (por exemplo, episdios depressivos secundrios a grande consumo de lcool).

Abuso de uma substncia psicoativa

.2Sndrome de dependnciaConjunto de fenmenos comportamentais, cognitivos e fisiolgicos que se desenvolvem aps repetido consumo de uma substncia psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de tomar a droga, dificuldade de controlar o consumo, utilizao persistente apesar das suas conseqncias nefastas, a uma maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigaes, a um aumento da tolerncia pela droga e por vezes, a um estado de abstinncia fsica.

A sndrome de dependncia pode dizer respeito a uma substncia psicoativa especfica (por exemplo, o fumo, o lcool ou o diazepam), a uma categoria de substncias psicoativas (por exemplo, substncias opiceas) ou a um conjunto mais vasto de substncias farmacologicamente diferentes.

Alcoolismo crnico

Dipsomania

Toxicomania

.3Sndrome [estado] de abstinnciaConjunto de sintomas que se agrupam de diversas maneiras e cuja gravidade varivel, ocorrem quando de uma abstinncia absoluta ou relativa de uma substncia psicoativa consumida de modo prolongado. O incio e a evoluo da sndrome de abstinncia so limitadas no tempo e dependem da categoria e da dose da substncia consumida imediatamente antes da parada ou da reduo do consumo. A sndrome de abstinncia pode se complicar pela ocorrncia de convulses.

.4Sndrome de abstinncia com deliriumEstado no qual a sndrome de abstinncia tal como definida no quarto caractere.3se complica com a ocorrncia de delirium, segundo os critrios emF05.-. Este estado pode igualmente comportar convulses. Quando fatores orgnicos tambm esto considerados na sua etiologia, a afeco deve ser classificada emF05.8.

Delirium tremens (induzido pelo lcool)

.5Transtorno psicticoConjunto de fenmenos psicticos que ocorrem durante ou imediatamente aps o consumo de uma substncia psicoativa, mas que no podem ser explicados inteiramente com base numa intoxicao aguda e que no participam tambm do quadro de uma sndrome de abstinncia. O estado se caracteriza pela presena de alucinaes (tipicamente auditivas, mas freqentemente polissensoriais), de distoro das percepes, de idias delirantes (freqentemente do tipo paranide ou persecutrio), de perturbaes psicomotoras (agitao ou estupor) e de afetos anormais, podendo ir de um medo intenso ao xtase. O sensrio no est habitualmente comprometido, mas pode existir um certo grau de obnubilao da conscincia embora possa estar presente a confuso mas esta no grave.

Alucinose

Cimesalcolica(o)(os)

Parania

Psicose SOE

Exclui:transtornos psicticos induzidos pelo lcool ou por outras substncias psicoativas, residuais ou de instalao tardia (F10-F19com quarto caractere comum.7)

.6Sndrome amnsicaSndrome dominada pela presena de transtornos crnicos importantes da memria (fatos recentes e antigos). A memria imediata est habitualmente preservada e a memria dos fatos recentes est tipicamente mais perturbada que a memria remota. Habitualmente existem perturbaes manifestas da orientao temporal e da cronologia dos acontecimentos, assim como ocorrem dificuldades de aprender informaes novas. A sndrome pode apresentar confabulao intensa, mas esta pode no estar presente em todos os casos. As outras funes cognitivas esto em geral relativamente bem preservadas e os dficits amnsicos so desproporcionais a outros distrbios.

Psicose ou sndrome de Korsakov, induzida pelo lcool ou por outra substncia psicoativa ou no especificada

Transtorno amnsico induzido pelo lcool ou por drogas

Exclui:psicose ou sndrome de Korsakov no-alcolica (F04)

.7Transtorno psictico residual ou de instalao tardiaTranstorno no qual as modificaes, induzidas pelo lcool ou por substncias psicoativas, da cognio, do afeto, da personalidade, ou do comportamento persistem alm do perodo durante o qual podem ser considerados como um efeito direto da substncia. A ocorrncia da perturbao deve estar diretamente ligada ao consumo de uma substncia psicoativa. Os casos nos quais as primeiras manifestaes ocorrem nitidamente mais tarde que o (s) episdio(s) de utilizao da droga s devero ser codificados neste caractere onde existam evidncias que permitam atribuir sem equvoco as manifestaes ao efeito residual da substncia. Os flashbacks podem ser diferenciados de um estado psictico, em parte porque so episdicos e freqentemente de muito curta durao, e em parte porque eles reproduzem experincias anteriores ligadas ao lcool ou s substncias psicoativas.

Demncia:

alcolica SOE

e outras formas leves de alteraes duradouras das funes cognitivas

Flashbacks

Sndrome cerebral crnica de origem alcolica

Transtorno (da) (das):

afetivo residual

percepes persistentes induzidos pelo uso de alucingenos

personalidade e do comportamento residual

psictico de instalao tardia, induzido pelo uso de substncias psicoativas

Exclui:estado psictico induzido pelo lcool ou por substncia psicoativa (F10-F19com quarto caractere comum.5)

sndrome de Korsakov, induzida pelo lcool ou por substncia psicoativa (F10-F19com quarto caractere comum.6)

.8Outros transtornos mentais ou comportamentais.9Transtorno mental ou comportamental no especificadoComo pode-se observar o CID-10 interessante porque realmente precisamos ter um parmetro de orientao, mas cabe fazer a ressalva que no se pode simplesmente pegar um paciente e enquadrar nesta classificao sem muitas vezes buscar o porque e o a busca por uma maior compreenso do todo.

Sem levantar criticas, mas apenas constatando, vimos trazer o texto que consta no documento do Ministrio da Justia apontando o tratamento psiquitrico para pacientes com Transtornos por Uso de Substncias (TUS)

Segundo este documento a avaliao psiquitrica crucial no continuo processo de escolher entre varias formas de tratamento, monitorar o estado clinico do paciente e coordenar os diferentes componentes do tratamento. De modo geral, seus objetivos especficos so:

1.1.Estabelecer e Manter Uma Aliana Teraputica:

Uma caracterstica essencial do manejo psiquitrico de paciente com TUS o estabelecimento e manuteno de uma aliana teraputica em que o psiquiatra, empaticamente: Obtm informaes necessrias ao diagnostico e tratamento, Ganha a confiana do paciente e de outras pessoas importantes de seu convvio, Mostra-se disponvel em momentos de crise.

Objetivos primrios do tratamento:

1. O aprendizado;

2. A pratica;

3. As mudanas nas atitudes e comportamentos direcionados a preveno de recadas.

1.2.Monitorar o Estado Clnico do Paciente:

A avaliao de segurana do paciente critica, visto que seu quadro clnico pode mudar a qualquer momento. Visto que a recada comum e faz parte do processo, a monitorao laboratorial atravs de testes de sangue, saliva e urina para as drogas de abuso para ser til na sua deteco precoce. Porem, o emprego destes testes na pratica clinica bastante discutvel.

1.3. Manejo da Intoxicao e dos Quadros de Abstinncia:

Os pacientes agudamente intoxicados necessitam de monitorao clnica e um ambiente seguro, visando diminuir a estimulao externa e promover reorientao e testes de realidade. O tratamento tambm dirigido para acelerar a remoo da substancia no organismo, a qual pode ser realizada atravs de lavagem gstrica, no caso de drogas que foram ingeridas recentemente, ou atravs de tcnicas que aumenta as taxas de excreo da mesma ou de seus metablicos ativos. Os efeitos das drogas podem ainda ser revertido atravs da administrao de medicamentos que antagonizam seus efeitos.

Nem todos os indivduos intoxicados desenvolveram sintomas de abstinncia. Isto geralmente ocorre em indivduos tolerantes e/ou dependentes fisicamente que descontinuam ou reduzem o uso aps um perodo de consumo pesado e prolongado.

1.4 Reduzir a Morbidade e Seqelas Transtornos por Uso de Substncia

O psiquiatra deve engajar o paciente de seus familiares no desenvolvimento de um plano de tratamento que compreenda: Suas reas de sade fsica e psicolgica; Funcionamento social; Necessidades vocacionais, educacionais e de lazer; Tratamento de todo e qualquer transtorno clinico ou psiquitrico concomitante, incluindo outros transtornos por uso de substncias que podem estar presentes.

1.5 Facilitar a Aderncia ao Plano de Tratamento e Prevenir Recadas

freqente a ambivalncia dos pacientes quanto a motivao para cessar o uso de substncia, sendo que os psiquiatras devem monitorar, durante todas as fases do tratamento, as atitudes paciente sobre sua participao e comprimento de recomendaes especficas.

As barreiras ao tratamento incluem:

- Negao do problema pelo paciente e seus familiares ou colegas de trabalho;

- Padres de comportamento que facilitam o uso de substncias (p.ex., atividade criminosa ou contato constante com indivduos que usam drogas).

- Reaparecimento de fissura;

- Atitude de desvalorizao com relao ao trabalho, disfunes psicossociais e vocacionais continuas;

- Comorbidade psiquitrica ou clnica.

Tais barreiras devem ser discutidas no inicio e durante todo o curso do tratamento. O psiquiatra deve atuar nessas barreiras tentando aumentar a motivao do paciente.

H tcnicas especificas para motivao, tais como:

- Encorajando-o a participar de grupos de mutua-ajuda,

- Reestruturar seus laos de amizade e seu estilo de vida,

- Ajudando-o a desenvolver tcnicas que melhorem suas relaes na famlia, no trabalho e no convvio social,

- Encoraj-lo a procurar por novas experincias por regras consistentes com novo estilo de vida,

- Orient-lo quanto ao risco de recada ao se instituir grandes mudanas de vida,

- Providenciar tratamento para as comorbidades psiquitricas e clinicas.

1.6 Promover Educao Sobre os Transtornos por Uso de Substncias e Seus Tratamentos

Os pacientes com TUS devem receber orientao no que diz respeito doena, prognstico e tratamento. O psiquiatra deve educar o paciente e, quando apropriado, seus familiares quanto : Etiologia e curso de doena; A necessidade de abstinncia; O risco de mudana de dependncia; A identificao de situaes que possam levar a recadas e os tratamentos disponveis. Quando necessrio, o profissional deve promover educao sobre problemas mdicos gerais associados (infeco pelo HIV, efeito de lcool e outras drogas no feto, etc.) e orientar como prevenir complicaes. 1.7 Diagnosticar e Tratar Transtorno Psiquitrico Associados

A comorbidade, tambm conhecida como diagnostico duplo, o diagnostico de dois ou mais transtorno psiquitrico em um nico paciente.

Dados do Epidemiologic Catchment rea (ECA) Study sugerem que mais da metade das pessoas que abusam de outras drogas que no lcool tem, ao menos, um transtorno mental comorbido, sendo que os usurios abusivos de cocana apresentam uma doena psiquitrica adicional em 76% dos casos.

Os transtorno psiquitricos geralmente associados com abuso de substancia psicoativa so:

Transtornos ansiosos, incluindo transtorno de ansiedade generalizada, ataque pnico, transtorno obsessivo-compulsivo e quadros fbicos: dos 22,5% da populao norte-americana que apresenta transtornos psiquitricos diagnosticvel, aproximadamente 29% tinha uma historia de vida de abuso ou dependncia de drogas.

Transtorno de humor: ex. transtorno depressivo, distimia, transtorno efetivo bipolar.A depresso maior e distimia so 1,5 a 2 vezes mais comum em alcoolista. Homens alcoolistas apresentam uma taxa de frequncia na vida de 5% para a depresso contra 3% na populao geral, enquanto em mulheres alcoolista, essa taxa era de 19% contra 7% na populao em geral.

Transtornos psicticos: encontraram a esquizofrenia como sendo quatro vezes mais prevalente em alcoolistas do que em no-alcoolistas.

Transtorno de personalidade: segundo Nace e col. (1991), 57% dos pacientes usurios de drogas preenchiam critrios do DSMIII-R para transtorno de personalidade, sendo o transtorno de personalidade bordeline o mais comum.Observa-se que em nenhum momento se aborda nestas normas de lide com o problema do usurio de drogas outros profissionais ligados a sade, como por exemplo o psiclogo e avaliando de forma mais ampla e elevando o debate a uma questo mais sria... porque esta determinao consta no Ministrio da Justia? Porque no Brasil tramita na Cmara, o PLC 37/2013 que altera o Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre Drogas (Sisnad). Entre os diversos temas em debate, est a internao involuntria de dependentes de drogas. Muitos entendem ser contra esse tipo de abordagem, por consider-lo um retrocesso na histria da reforma psiquitrica. Como bem coloca o mdico Dartiu Xavier da Silveira, professor da Universidade Federal de So Paulo (Unifesp), representante da Rede Nacional Interncleos de Luta Antimanicomial, que alm de questionarem a internao involuntria dos dependentes qumicos, questionam tambm o tratamento especial s comunidades teraputicas no PLC 37/2013, No sou contra a internao. Sou contra a internao como poltica pblicaCom este mesmo pensamento o Senador Humberto Costa, acredita que o tema das drogas e seus dependentes pertence esfera da sade e no penal. Segundo pesquisas recentes, disse o senador, a maioria dos usurios de crack declara espontaneamente querer tratamento especializado contra o vcio .

inaceitvel que um pas como o nosso queira se valer de um expediente reducionista com a finalidade de limpar as ruas de usurios, especialmente os de crack. No assim que ns vamos resolver essa chaga social. O que ns precisamos no Brasil de uma abordagem multifatorial para enfrentar esse problema que nos distancie cada vez mais da ideia de ampliar penas e criminalizar condutas de usurios Senador Huberto CostaO senador sugere a ampliao da rede pblica e filantrpica de atendimento psicossocial e aumento dos chamados "consultrios de rua" e regulamentao das comunidades teraputicas. Segundo ele: O tratamento para salvar o dependente, no pode ser jamais para puni-lo ou criminaliz-lo. Temos de criminalizar, reprimir e fazer com que sejam punidos os traficantes, mas o usurio deve ser objeto de uma abordagem para o tratamento, especialmente dos que so dependentes. Usurios de drogas no podem ser tipificados como traficantes. So, antes de tudo, seres humanos dos quais o Estado tem a obrigao de resgatar a cidadania perdida Com este novo olhar, onde acreditamos que o problema do usurio de drogas vai muito alm da especificao do CID, do tratamento com frmacos, ou mesmo das legislaes e sistemas de coao... acreditamos que este problema envolve diversos fatores da sociedade, desde educao, hbitos e costumes, envolvimento com a sociedade, as necessidades individuais de cada ser, a relao de uns com outros, a forma como cada individuo se relaciona com ele mesmo, com o mundo e com suas angustias... e a partir desta questo que passamos a buscar um auxilio na forma de tratar disso pela psicologia...

4.AS POSSIBILIDADES DE TRATAMENTO SOB A OTICA DA PSICOLOGIA

A questo da drogadio (adio, apego, uso, dependncia de drogas) complexa, uma vez que envolve a causa original, psquica, alm da dependncia qumica, com seus consequentes danos fsicos e pessoais nem sempre reconhecidos e as situaes envolventes familiares e sociais. A psicologia no tem como enxergar apenas o individuo drogado sem entender o contexto que o mesmo est inserido. Mas mesmo na psicologia existem algumas linhas de tratamento e aqui tentaremos fazer um breve passeio por estas abordagens!

A psicoterapia psicanaltica opera sobre o traumtico que caracteriza uma situao de crise, incidindo sobre o excesso de energia que transborda, oferecendo contornos simblicos que possa cont-la e transform-la em objeto do pensar. O objetivo do tratamento psicanaltico , ento, transformar a linguagem sintomtica em realidade psquica ou, dito em outros termos, transmutar o que se manifesta na ordem do corpo em palavra, o que permite inscrever o sofrimento no plano psquico.De forma mais objetiva pode-se pontuar que esta abordagem ao lidar com estas questes busca, segundo Dr. Jos Carlos Zanin:1. A compreenso do problema. Atravs do uso de drogas o indivduo estabelece e inicia uma atividade compulsiva onde a motivao interna, inconsciente, de se livrar de um estado ntimo perturbado ou de um sentimento ruim interno e de tudo que sentido como indesejvel ou intolervel, mesmo o que natural e prprio da realidade. Isso feito com a impresso ilusria de que est buscando algo bom. H elementos psquicos primitivos operando fortemente: a intolerncia frustrao, aos limites, espera, acionando a compulso repetio, associada voracidade e, o que menos reconhecido, ao da auto-destrutividade. Esta uma fora psquica instintiva, primitiva e inconsciente, com efeitos prejudiciais e desastrosos na relao da pessoa com ela mesma e com os demais; mas h muita resistncia em reconhec-la e admiti-la.

2. H na drogadio uma busca de certa substituio (infrutfera) do que falta pessoa em auto-estima, em tolerncia realidade, em realizaes construtivas e do que sobra em desconhecidos conflitos emocionais, interiores, fazendo-a levar-se por sensaes causadas quimicamente pela droga que est sua mo. o imediatismo e a iluso de poder, em lugar da construo de uma realizao, ou seja, de uma satisfao dentro da realidade.

3. A negao e a eliminao dos limites, das dificuldades naturais, da realidade objetiva e do outro (aquele de quem se precisa) predominante no usurio de drogas (drogadito). Assim como a negao para si mesmo da intensidade da dependncia ( to comum se ouvir: quando eu quiser, eu paro...) e dos danos e prejuzos que se causa.E como pode a psicanlise, em sua prtica teraputica, ajudar aqueles que sofrem de dependncia qumica, fsica e psquica? Quando algum chega a um psicanalista, desde o incio se estabelece uma parceria, a dupla de trabalho, o que por si s um alento significativo para quem sofre principalmente se h alguma conscincia de que vem se causando srios prejuzos.Esta parceria terapeuta-paciente, o compromisso compartilhado, numa continuidade intensiva, estimula a busca e a descoberta do conhecer a si mesmo, indispensvel para possibilitar uma mudana interna. Haver, ento, um trabalho de conhecimento e compreenso de como se estabeleceu e porque se repete a dependncia. Esta uma situao (a do entendimento) muito diferente do que o usurio de drogas est acostumado a encontrar na famlia e na sociedade: reprovao, cobrana ou desqualificaes. Com o progresso do tratamento e o entrosamento da dupla analtica, comea a haver progressivamente um reconhecimento pelo analisando do quanto ele mesmo o causador de seus sofrimentos, de sua dependncia. Isto sem que haja um estado de culpa reprobatria, mas sim o de lamento e pesar que sugere superar-se. Assim, vai ficando claro que, mais do que ningum ou que qualquer medicao, o prprio usurio de drogas, agora tambm analisando, quem poder consertar o que desarrumou e danificou em seu mundo mental e pessoal. Isto ir ocorrer atravs do exerccio continuado, em cada sesso, do uso da capacidade de pensar: descobrir e identificar os componentes psquicos, emocionais, em litgio internamente, desenvolvendo-se, ento, impulsos de mudana e transformaes. Muitos exemplos da experincia clnica elucidariam este processo teraputico, mas no cabem neste contexto.

Segundo ZANIN, o tratamento psicanaltico no se limita apenas a ajudar na descoberta e superao de conflitos internos e seus sintomas e distrbios decorrentes, mas ainda, e de forma intensa, na possibilidade de o analisando reconhecer muitas capacidades criativas e atributos de crescimento e desenvolvimento que so desconhecidas por ele e esto presas, obstaculizadas pela drogadio. impressionante perceber na prtica clnica o quanto que as pessoas no tm conscincia dos distrbios internos prprios (que causam srios prejuzos em suas vidas), como tambm no conhecem os muitos recursos e potenciais construtivos que possuem. O aspecto mais grave da drogadio de sua patologia e seus danos no perceptveis, no admitidos, disfarados, minimizados. A sua prtica realizada em grupos, adeptos tambm, banalizada, justificada at, vai reforando mecanismos que seduzem e estimulam seu reasseguramento, no permitindo autocrtica. Quando os prejuzos e sofrimentos se tornam evidentes e dramticos, j so casos avanados, complicados. O mtodo psicanaltico de tratamento tem condies de alcanar os nveis inconscientes, identificar os conflitos que se transformam em sintomas e compulses e, com isso, muitas vezes, se torna uma experincia preventiva, uma mudana de rumo que auxilia a evitar maior comprometimento com as drogas.

Certamente os casos de dependncia qumica requerem procedimentos teraputicos intensivos e rigorosos, cuidados indispensveis. Alm deles, junto a eles, a recomendao da teraputica psicanaltica vlida como um recurso especfico para alcanar a conscientizao do que est por trs da dependncia, na origem psquica, onde os medicamentos no alcanam. E para os casos menos graves ou situaes de risco de cair na drogadio, teraputica muito favorvel.

Sobre as tcnicas de modificao do comportamento, Bucher (1992) ressalta que seu nascimento ocorreu nos Estados Unidos com ampla difuso delas no tratamento dos dependentes de drogas pelo pas de origem, em pases da Europa e no Japo. A nfase na capacidade do indivduo desenvolver autocontrole sobre seu comportamento. As tcnicas so oriundas de diversas disciplinas de observao do comportamento e da psicologia experimental. Assim, a abordagem comportamental foi alvo de ateno de amplos setores dos poderes pblicos por apresentar-se como mecanismo eficaz de represso e controle do uso de drogas, sendo consideradas capazes de substituir os tratamentos tradicionais da psiquiatria ou da desintoxicao, descritos anteriormente. Os grupos de mtua-ajuda utilizam diversas estratgias comportamentais. Sugerem que os pacientes evitem hbitos, pessoas e lugares de ativa (risco para o uso da droga) e tambm que evitem o primeiro gole, para assim evitar os outros. E ainda ressaltam a necessidade de tentar no beber por 24 horas. Entendem que uma vez dependente sempre dependente, estando uns em recuperao e outros na ativa, no uso. Para eles quem se tornou adicto no poder consumir a substncia, mesmo que em pequenas quantidades e com menor freqncia. No possvel ser novamente um usurio social. Rigidez criticada por outras correntes como a psicanlise que encaram o uso de drogas como sintoma e compulso que sendo tratada viabiliza ao sujeito estabelecer nova relao com estas. No Brasil, a abordagem comportamental utilizada por diversas instituies religiosas que oferecem tratamento aos adictos na modalidade de internao de longo prazo, em mdia de dois a nove meses, aliado de princpios religiosos. Em tratamento ambulatorial com o objetivo de abstinncia, a abordagem comportamental, inclui consultas individuais e de grupo, terapia de famlia e contratos teraputicos baseados em regras. Sobre os resultados desse tipo de tratamento Bucher (1992) afirma que muitos pacientes no suportam a rigidez das instituies que trabalham nessa direo e acabam abandonando o tratamento, embora passem inicialmente por seleo criteriosa, em sua grande maioria. O terapeuta no assume papel autoritrio e diretivo, antes compreende a responsabilidade pela mudana como algo a ser feito pela prpria pessoa. Esta respeitada em suas escolhas e livre para aceitar ou no as orientaes daquele. As estratgias so mais persuasivas que coercitivas e mais encorajadoras que argumentativas. Busca-se assim criar uma atmosfera positiva que conduza mudana.A teoria comportamental da dependncia qumica tem seu foco nas teorias do aprendizado social (condicionamento clssico, aprendizagem instrumental e modelagem). A teoria cognitiva (TC) tem como uma de suas premissas bsicas o fato de que a cognio tem primazia sobre a emoo e sobre o comportamento. Em outras palavras, para a teoria cognitiva, mais importante que a situao real so as cognies associadas a elas, so as avaliaes atribudas situao especfica que influenciam as emoes e os comportamentos. Alm disso, no processo teraputico, as mudanas cognitivas precedem as mudanas emocionais e comportamentais. Segundo Jeronimo Silva Embora haja significativas diferenas entre a teoria cognitiva e a teoria comportamental, tem sido debatido, ultimamente, que a teoria cognitiva constitui-se como unificadora para a psicoterapia e para a psicopatologia.Skinner.demonstrou que reforos positivos (satisfatrios) ou negativos (desprazer) influenciavam o comportamento. A BT (Terapia Coportamental) postula que a vida do dependente qumico desprovida das recompensas cotidianas (contatos sociais, amigos, diverses). Alm disso, os pacientes tm dificuldades para lidar com afetos negativos, crticas ou frustraes.

Por outro lado, os prprios efeitos bioqumicos da droga provocam sintomas desagradveis e disfricos na ausncia dela. De acordo com a Teoria da Aprendizagem Instrumental, a droga representa um reforo positivo momentneo para o paciente que no encontra recompensas em outros comportamentos.O terapeuta comportamental encoraja o paciente a encontrar prazer em outras situaes que no ofeream riscos e ajuda no manejo da sndrome de abstinncia, com vistas a encontrar outras recompensas que no sejam pelo uso da droga.Atualmente, com os avanos das pesquisas neuroqumicas em dependncia qumica, esta tcnica pode ser questionada por dois caminhos: 1) Pesquisas recentes postulam a hiptese de que algumas pessoas apresentam uma dificuldade biologicamente determinada para obter prazer em atividade cotidianas e tendem a busc-lo em atividades de risco como esportes radicais e uso de drogas. Postulou-se que essas pessoas tinham "Deficincia do Sistema de Recompensa Cerebral". Embora ainda no comprovada, esta teoria invalidaria a tcnica de busca por atividades prazerosas em coisas simples. 2) Na busca por outras atividades recompensadoras, o paciente pode manter algumas cognies distorcidas. Ele pode esperar que encontre em alguma atividade livre de riscos o mesmo prazer, intenso e imediato, ocasionado no momento de uso de droga. Entretanto, por questes bvias, nenhum prazer se equipara quele ocasionado pela droga e o paciente pode se frustrar e passar a no acreditar na terapia e no terapeuta. O terapeuta comportamental deve estar atento a estas questes, para no gerar expectativas infundadas.J a o objetivo da TC reestruturar as cognies disfuncionais e dar flexibilidade cognitiva no momento de avaliar situaes especficas., visa resoluo de problemas focais, objetivando, em ultima anlise, dotar o paciente de estratgias cognitivas para perceber e responder ao real de forma funcional.A TC contrasta com a BT por dar maior nfase s experincias internas (pensamentos, sentimentos, desejos), onde o terapeuta cognitivo formula as ideias e crenas disfuncionais do paciente sobre si, sobre suas experincias e sobre seu futuro em hipteses e, ento, testa a validade dessas hipteses de uma forma objetiva e sistemtica. Os pilares conceituais da prtica de TC so os seguintes: Esquemas e Crenas Bsicas, Pensamentos automticos e Estratgia compensatriaTomando por ultimo a viso fenomenolgica do tratamento, precisamos entender a fenomenologia como uma atitude e um mtodo. Segundo Goto:

O clnico deve agir de acordo com a sua forma de ver o mundo e de acordo com tudo o que j viu ou vivenciou fora da atuao clnica. Caso contrrio, no seria justo erigir um projeto diagnstico com base na forma pela qual o paciente se relaciona com o mundo. O mais contundente pressuposto existencialista serve de base para todo este trabalho: a existncia precede a essncia. Para ns profissionais de sade mental isto quer dizer que antes de nos tornarmos psiclogos somos homens ou mulheres que j devem ter construdo uma forma de ver o mundo. Assim, no s nos livros tcnicos que devemos basear a nossa formao clnica. Devemos conhecer melhor o mundo, desenvolvendo a habilidade necessria para lidar com a complexidade humana, muito bem expressa, por exemplo, na literatura. O conhecimento da arte leva a um contato profundo com o ser humano, posto que os artistas expressam o ser humano de formas alternativas, pouco ortodoxas e, por isso mesmo talvez, reveladoras. (2008, p. 07).Nesta atuao clnica, percebe-se que alguns diagnsticos tendem a conduzir os profissionais envolvidos a uma atuao simplificada para lidar com um problema altamente complexo, muitas vezes observa-se, que a simplificao da pessoa pode ser constatada apenas muito mais tarde, quando os tratamentos exclusivos mostram alto ndice de lapsos e de recadas.

Vale ressaltar que no podemos afirmar que o tratamento exclusivo ineficaz para todos os casos. Apenas a fenomenologia oferece uma outra abordagem do problema para aqueles casos em que o que se tem como estratgia convencional no funciona aps vrias tentativas, ou vrios anos de tratamento.

Procura-se tambm, investigar e levantar hipteses quanto participao da famlia no tratamento e no sofrimento de pessoas que usam o drogas de forma abusiva. Que tipo de participao deve ter a famlia no tratamento de um dependente? Como devemos proceder nos casos em que a famlia se encontra distante e fragmentada e o paciente no pode contar com o apoio mais prximos de seus consanguneos?

Enfim, tem-se como objetivo final, oferecer uma alternativa ao tratamento exclusivo da dependncia qumica, demonstrando como uma compreenso fenomenolgica dos casos pode proporcionar uma viso suficientemente abrangente, a fim de comportar a complexidade e singularidade de cada um dos casos.

Portanto neste ponto chegamos a concluso que no existe um modelo ideal, padro, nico e fechado... dentro da prpria psicologia vemos diversas formas de se trabalhar com este tema, e diversas formas de reao. Caber a cada caso ser analisado de forma singular e verificado que tipo de tratamento melhor compem com o paciente na busca de um melhor resultado.5.AS POLITICAS PUBLICAS EXISTENTES PARA COMBATE E TRATAMENTO VINCULADO AO USO INADEQUADO DE SUBSTANCIAS PSICOATIVAS

Nos anos 80, vrios debates sobre os direitos humanos tiveram como ponto culminante a elaborao da Constituio de 1988, onde a sade foi destacada com uma das condies essenciais vida digna, sendo, portanto, um direito fundamental. A Poltica de Sade Brasileira foi elaborada a fim de garantir e viabilizar atravs de normas o direito sade.

Conforme j falado anteriormente o Sistema nico de Sade (SUS) foi implantado e fundamentado com base nas Leis n 8.080/90 e 8.142/90, onde a partir da a sade passa a ser pensada como obrigao do Estado, por meio da responsabilidade das esferas do governo federal, estadual e municipal, concebido a partir dos seguintes princpios:

Universalidade: assegura o direito sade a todos os cidados, independente de condies de sade, gnero, idade, regio, condies financeiras, etc.

Integralidade: Considera as diversas dimenses do processo sade-doena que afetam o indivduo e a coletividade, atuando, portanto, na promoo, preveno e tratamento de agravos.

Equidade: direito assistncia de acordo com o nvel de complexidade.

O SUS, a partir da, torna-se o arranjo organizacional para a implantao de polticas de sade, embora algumas questes que afetam a sade da populao ainda no estivessem claras nessa agenda poltica, como a questo do uso de lcool e outras drogas, que foi alvo de abordagens moralistas e reducionistas.

At ento, a questo do uso abusivo e/ou dependncia de lcool e outras drogas tem sido historicamente abordada por uma tica predominantemente psiquitrica ou mdica. Destacamos tambm que o tema sempre estar associado criminalidade e prticas anti-sociais e oferta de tratamentos inspirados em modelos de excluso/separao dos usurios do convvio social, disseminando uma cultura de combate onde o indivduo e seu meio de convvio fiquem aparentemente afastados a um plano menos importante. Isto por vezes confirmada pela multiplicidade de propostas e abordagens preventivas e teraputicas consideravelmente ineficazes, por vezes at reforadoras da prpria situao de uso abusivo e/ou dependncia.

Em 2003 foi publicado no Brasil a Poltica do Ministrio da Sade para Ateno Integral aos Usurios de lcool e Outras Drogas que se comprometeu a enfrentar os diferentes problemas associados ao consumo de lcool e outras drogas como uma questo de poltica de sade pblica.Resumidamente, a histria das polticas pblicas de sade mental no Brasil foi marcada por embates e disputas de diferentes interesses, o que levou uma mobilizao de diversos setores da sociedade para que houvesse um cuidado mais digno e humanizado aos portadores de sofrimento mental. Este movimento ficou conhecido como Luta Antimanicomial e props as mudanas para a consolidao da Reforma Psiquitrica que defendia a inverso do sistema de manicmios fechados para o tratamento de portadores de sofrimento mental, os quais na maioria das vezes eram excludentes e desumanizados, para servios de base comunitria, extra-hospitalares e chamados de porta aberta, como os Centros de Ateno Psicossocial (CAPS AD). A partir de experincias exitosas que aconteceram no Brasil houve a reformulao da Poltica de Sade Mental do Ministrio da Sade.

A poltica voltada para os usurios de lcool e outras drogas est articulada Poltica de Sade Mental do Ministrio da Sade. A lei n 10.216/01 um importante marco constitucional, o qual dispe sobre a proteo e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, entre eles os usurios lcool e outras de drogas, destacando que responsabilidade do Estado o desenvolvimento de aes de assistncia e promoo da sade a esta populao. E especificamente em relao s polticas de lcool e outras drogas existe a Lei n 11.343/06 que outro marco legislativo relevante, a qual prescreve medidas de preveno do uso, ateno e reinsero social de usurios dependentes de drogas e estabelece represso produo no autorizada e ao trfico ilcito de drogas. Com isso, houve uma superao do modelo moralizante do cuidado e o resgate da cidadania dos usurios enquanto sujeitos com plenos direitos, inclusive o de se cuidar.

A poltica para os usurios de lcool e outras drogas convergente com os princpios e orientaes dos SUS, buscando a universalidade do acesso e do direito assistncia aos usurios. possvel verificar com a perspectiva de Poltica de Sade Brasileira os seguintes pontos principais da Poltica de lcool e outras drogas:

Integralidade das aes, que vai envolver desde aes de promoo e preveno destinadas populao geral, at aes assistenciais para aqueles usurios que necessitam de tratamento;

Descentralizao e autonomia de gesto pelos nveis estaduais e municipais para o desenvolvimento em aes voltadas para lcool e outras drogas e estruturao dos servios mais prximos do convvio social;

Equidade do acesso dos usurios de lcool e outras drogas s aes de preveno, tratamento e reduo de danos, de acordo com prioridades locais e grau de vulnerabilidade;

Mobilizar a sociedade civil bem como estabelecer parcerias locais para a defesa e promoo dos direitos.

Para a execuo de tais objetivos, a poltica estabeleceu uma rede de ateno aos usurios de lcool e outras drogas, como forma de trabalhar a assistncia em sua totalidade, sem fragmentao em um modelo extra-hospitalar, inserido na comunidade, de carter interdisciplinar e que evita a segregao dos pacientes e o isolamento social, chamados Centro de Ateno Psicossocial (CAPS AD).

As atividades e funes dos CAPS AD so:

Prestar atendimento dirio aos usurios dos servios, dentro da lgica de reduo de danos;

Gerenciar os casos, oferecendo cuidados personalizados;

Oferecer atendimento nas modalidades intensivas, semi-intensiva e no-intensiva, de acordo com a necessidade do usurio garantindo que eles recebero ateno e acolhimento;

Oferecer condies para repouso e desintoxicao ambulatorial de usurios que necessitem de tais cuidados;

Oferecer cuidados aos familiares dos servios;

Promover, mediante diversas aes, esclarecimento e educao da populao, a reinsero social dos usurios, utilizando recursos intersetoriais;

Trabalhar, junto a usurios e familiares, os fatores de proteo para o uso e dependncia de substncias psicoativas, buscando ao mesmo tempo minimizar a influncia dos fatores de risco para tal consumo;

Trabalhar a diminuio do estigma e preconceito relativos ao uso de substncias, mediante atividades de cunho preventivo/educativo.

importante enfatizar que os CAPS AD so instncias de cuidado aos usurios, mas tambm de organizao e articulao de toda a rede de ateno aos usurios de lcool e outras drogas. Em Fortaleza existem 06 CAPS AD subordinados respectivamente s Secretarias Executivas Regionais com vagas insuficientes para atender a demanda e j preciso encontrar uma nova estratgia de atuao. Com isso, Instituies privadas, no-governamentais, grupos de autoajuda e igrejas tm surgido para dar suporte a essa demanda. Talvez o nico problema nesse cenrio seja a falta de fiscalizao dos mtodos teraputicos utilizados e controle da eficcia de tais mtodos.

6.OS VRIOS SERVIOS DE ATENO AO DEPENDENTE

As primeiras abordagens teraputicas para o tratamento de dependentes qumicos datam do sculo XIX com usurios de lcool, embora existam relatos de quadro de alcoolismo desde a antiguidade.

Os profissionais que trabalham com usurios de substncias psicoativas (SPA) precisam, inicialmente, conhecer os efeitos agudos e crnicos das drogas de abuso, suas formas de uso, a prevalncia e os padres de uso mais tpicos.

Na maioria das vezes o dependente qumico nem percebe que possui algum problema relacionado ao uso de substncia, para isso necessrio alcanar um nvel de participao e motivao suficiente para manter o tratamento a mdio e longo prazo. Apenas enfatizando, de modo no generalizado, que normalmente o usurio dependente incapaz de cumprir combinaes ou acordos pr-estabelecidos, o que dificulta o tratamento e o leva ao r-uso ou recada.

O tipo de tratamento a escolher depende da gravidade do uso e dos recursos disponveis para o encaminhamento. Sempre interessante obter a escuta de um especialista para identificar o grau de dependncia e o modelo adequado de tratamento.

6.1Clnicas Especializadas

indicada apenas para dependentes que precisam de desintoxicao e cuidado mdico. A desintoxicao pode ser realizada em trs nveis com complexidade crescente: tratamento ambulatorial, internao domiciliar e internao hospitalar. A durao desse tipo de tratamento varia de 15 a 45 dias (ou mais) dependendo do grau de complexidade do caso. Nesse tipo de atendimento normalmente utilizam-se medicamentos para alvio dos sintomas de abstinncia, como os benzodiazepnicos, antipsicticos, entre outros.

Os objetivos da desintoxicao so:

Alvio dos sintomas existentes;

Preveno do agravamento do quadro ( convulses, por exemplo);

Vinculao e engajamento do indivduo ao tratamento.

Aps a alta, o dependente dever buscar outras formas de atendimento para lidar com dependncia.

6.2 Comunidades Teraputicas

A comunidade Teraputica um ambiente estruturado no qual os indivduos com transtornos por uso de substncias psicoativas, residem para alcanar a reabilitao. Operam sob normas estritas e so dirigidas principalmente por pessoas que se recuperaram de uma dependncia. So isoladas geograficamente. ( FEBRACT Federao Brasileira de Comunidades Teraputicas / Site: www. frebact.org.br)

O programa teraputico-educativo a ser desenvolvido no perodo de tratamento na CT tem como objetivo ajudar o dependente qumico a se tornar uma pessoa livre atravs de mudanas de seu estilo de vida. A proposta deve considerar que o dependente pode desenvolver-se nas diversas dimenses de um ser humano integral atravs de uma comunicao livre entre a equipe e os residentes, em uma organizao solidria democrtica e igualitria.

Possuem as mais variadas orientaes tericas e, em geral, utilizam uma filosofia teraputica baseada em disciplina, trabalho e religio. Esse recurso deve ser reservado para indivduos que necessitam de um ambiente altamente estruturado e para aqueles com necessidade de controle externo (nenhuma capacidade de manter abstinncia sem auxlio). Algumas disponibilizam atendimento mdico e a grande maioria trabalham com a mesma metodologia dos 12 passos de AA/NA.

O comportamento do residente comea a mudar atravs de auto-iniciativa. Como ele vem de uma vivncia de sub-cultura (valores no aceito pela sociedade), solicitado que ele exercite o agir com honestidade, pontualidade, solidariedade, etc. (valores aceitos pela sociedade) para que os internalize e os vivencie atravs das mudanas de estilo de vida.

As regras fundamentais da CT so:

No ao uso de substncia psicoativas;

No violncia;

No ao sexo.

Sobre a regra de renunciar, temporariamente as relaes sexuais importante resaltar que a sexualidade uma energia de comunicao e a interrupo das relaes sexuais estimula o residente a comunicar-se de outras maneiras tendo uma nova forma de aprendizado social. Permite tambm desenvolver aquela parte da afetividade que, at agora, permaneceu escondidas e foi negada devido aos preconceitos em funo de experincias pessoais. (OBID Observatrio Brasileiro de Informaes sobre Drogas. Site: www.obid.senad.gov.br)

O tempo de recuperao proposto pelas comunidades teraputicas variam de 6 meses 1 ano. Infelizmente no existe parceria governamental que financie a permanncia do dependente nesses espaos. O valor varia de R$ 545,00 em diante podendo chegar a quase R$ 3.000,00 mensais.

6.3 Narctico Annimos (NA)

Narctico Annimos (N.A.) uma irmandade de adictos a drogas em recuperao, iniciado em meados de 1953. um dos maiores movimentos e mais antigos nesse formato com aproximadamente quarenta mil reunies semanais em mais de 130 pases.

A base do programa de recuperao de Narcticos Annimos uma srie de atividades pessoais conhecida como Doze Passos, adaptados de Alcolicos Annimos. Estes "passos" incluem a admisso de que existe um problema, a busca de ajuda, auto-avaliao, partilha em nvel confidencial, reparar danos causados e trabalhar com outros adictos a drogas que queiram se recuperar. Algo importantssimo no programa a nfase no que chamado "despertar espiritual", ressaltando o seu valor prtico e no sua importncia filisfica ou metafsica, o que facilitou a traduo do programa, mesmo considerando-se barreiras culturais. NA em si, no um programa religioso e encoraja cada membro a cultivar um entendimento pessoal, religioso ou no, deste "despertar espiritual." (N.A. Narcticos Annimos. Site: www.na.org.br)

Os doze passos de recuperao de N.A. adaptado e autorizado pelo A.A.:

1.Admitimos que ramos impotentes perante a nossa adico, que nossas vidas tinham se tornado incontrolveis.

2.Viemos a acreditar que um Poder maior do que ns poderia devolver-nos sanidade.

3.Decidimos entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados de Deus, da maneira como ns o compreendamos.

4.Fizemos um profundo e destemido inventrio moral de ns mesmos.

5.Admitimos a Deus, a ns mesmos e a outro ser humano a natureza exata das nossas falhas.

6.Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de carter.

7.Humildemente pedimos a Ele que removesse nossos defeitos.

8.Fizemos uma lista de todas as pessoas que tnhamos prejudicado, e dispusemo-nos a fazer reparaes a todas elas.

9.Fizemos reparaes diretas a tais pessoas, sempre que possvel, exceto quando faz-lo pudesse prejudic-las ou a outras.

10.Continuamos fazendo o inventrio pessoal e, quando estvamos errados, ns o admitamos prontamente.

11.Procuramos, atravs de prece e meditao, melhorar nosso contato consciente com Deus, da maneira como ns O compreendamos, rogando apenas o conhecimento da Sua vontade em relao a ns, e o poder de realizar essa vontade.

12.Tendo experimentado um despertar espiritual, como resultado destes passos, procuramos levar esta mensagem a outros adictos e praticar estes princpios em todas as nossas atividades.

As reunies acontecem regularmente em local definidos em formatos de reunies abertas (onde qualquer pessoa da comunidade pode participar) ou reunies fechadas (restritas a membros da irmandade e para pessoas que acreditam possuir algum problema com drogas).

Nas reunies cada membro pode decidir partilhar suas dificuldades e experincias com os demais companheiros, havendo assim uma ajuda mtua baseada na identificao de situaes vividas. No existem profissionais terapeutas, psiclogos, psiquiatras ou similares. um programa de adictos para adictos. Um adicto simplesmente um homem ou mulher cuja vida controlada pelas drogas (N.A. Livro Azul, p. 3)

N.A. encoraja seus membros a se manterem abstinentes de qualquer droga, inclusive o lcool e o nico requisito para se tornar um membro o desejo de parar de usar, independente de posio social, orientao sexual, cor, raa, credo. No cobra taxas e nem mensalidades. A participao gratuita e no possui vnculos com igrejas, partidos polticos, associaes, polcia, pois uma irmandade independente e auto-sustentvel.

Como forma de incentivo e encorajamento seus membros recebem chaveiros com cores diferenciadas de acordo com seu tempo limpo:

Chaveiro branco: S POR HOJE ( Recebe ao ingressar a irmandade);

Chaveiro laranja: LIMPO E SERENO POR 30 DIAS;

Chaveiro Verde: LIMPO E SSERENO POR 60 DIAS;

Chaveiro vermelho: LIMPO E SERENO POR 90 DIAS;

Chaveiro azul: LIMPO E SERENO POR 6 MESES;

Chaveiro amarelo: LIMPO E SERENO POR NOVE MESES;

Chaveiro luminescente: LIMPO E SERENO POR UM ANO;

Chaveiro cinza: LIMPO E SERENO POR 18 MESES;

Chaveiro preto: LIMPO E SERENO POR MLTIPLOS ANOS.

O N.A. possui hoje 40 salas divididas em 40 grupos em todo o Cear, sendo que 36 desses esto distribudos na capital e regio metropolitana. um espao de recuperao que tem funcionado para milhares de dependentes qumicos que continuam voltando diariamente s salas para partilharem suas dores e alegrias, onde juntos aprendem e constroem uma nova maneira de viver.

6.4 Igrejas

A religio (independente da f professada) um instrumento que tem contribudo significativamente na recuperao de dependentes de drogas, influenciando inclusive na reduo de recadas de pacientes que participam de algum tipo de tratamento e como forma de preveno ao uso, pois a religiosidade tambm atua como protetora ao consumo de substncias psicoativas entre os seus membros praticantes e assduos.

Zila e Solange (2008 apud SANCHEZ e NAPPO, p. 266) mencionam um estudo qualitativo no Brasil que identificou que a maior diferena entre usurios e no-usurios de drogas psicotrpicas, de classe socioeconmica baixa, era a religiosidade e a de sua famlia. Foi observado que 81% dos no-usurios praticavam a religio professada por vontade prpria e admirao e que apenas 13% dos usurios de drogas faziam o mesmo.

Atualmente catlicos, evanglicos e espritas tem se mobilizado no combate ao uso indevido de substancias que causam dependncia, assim como tem contribudo com vrios tipos de intervenes, seja atravs de levar a palavra de Deus em locais de uso, na pregao voltada especificamente para a populao usuria como cultos de cura e libertao e na criao de casas de recuperao onde a maior ferramenta e nico mtodo teraputico so os hinos de louvores e estudo das escrituras sagradas.

As ferramentas utilizadas pelas instituies religiosas tm como objetivo a abstinncia total. Atravs da orao que promove a f, o dependente divide a responsabilidade do tratamento com Deus, o que ameniza o peso da luta solitria e permite Sua interveno protetora, frente aos espritos do mal ou do diabo.

A Igreja Catlica possui a Pastoral da Sobriedade que atua na preveno e recuperao da dependncia qumica. uma ao conjunta que busca a integrao entre todas as pastorais, movimentos, comunidades teraputicas, casas de recuperao, para atravs da pedagogia de Jesus-libertador, resgatar e reinserir os excludos, propondo uma mudana de vida atravs da converso. (Pastoral da Sobriedade Site: www.sobriedadade.org.br)

A pastoral da sobriedade adaptou os 12 passos de AA/NA e adequou alguns princpios doutrinrios para ajudar a fortalecer a f na recuperao entre seus membros:

1. Senhor ADMITO minha dependncia dos vcios e pecados, e que sozinho, no posso venc-los. Liberta-me!

2. Senhor, CONFIO em Ti, ouve o meu clamor. Cura-me!

3. Senhor, ENTREGO minha vida, minhas dependncias, em tuas mos. Espero em Ti. Aceita-me!

4. Senhor, ARREPENDIDO de tudo que fiz, quero voltar para a tua graa, para casa do Pai. Acolhe-me!

5. Senhor, CONFESSO meus pecados, e publicamente, peo teu perdo e o perdo dos meus irmos. Absolve-me!

6. Senhor, RENASO no teu Esprito para a sobriedade. O homem velho passou, eis que sou uma criatura nova. Batiza-me!

7. Senhor, REPARO financeira e moralmente a todos que, na minha dependncia, eu prejudiquei. Ajuda-me a resgatar minha dignidade e a confiana dos meus. Restaura-me!

8. Senhor, PROFESSO que creio na Santssima Trindade e peo a ajuda da Igreja, com a interseo de todos os santos. Instrui-me na Tua Palavra!

9. Senhor, ORANDO e VIGIANDO para no cair em tentao, seremos perseverantes nos teus ensinamentos. D-me a Tua paz!

10. Senhor, SERVINDO, a exemplo de Maria, nossa me e de todos, queremos, gratuitamente, fazer dos excludos os nossos preferidos, atravs da Pastoral da Sobriedade.

11. Senhor, CELEBRANDO a Eucaristia, em comunidade com os irmos, teremos fora e graa, para perseverarmos nesta caminhada. Alimenta-nos no Corpo e Sangue de Jesus!

12. Senhor, FESTEJANDO os 12 passos para a sobriedade crist, irmanados com todos, na mesma esperana, por um sculo sem drogas, queremos partilhar e anunciar Jesus Cristo Redentor, pelo nosso testemunho. Amm.

As reunies da Pastoral da Sobriedade so abertas ao pblico, no faz acepo de pessoas quanto ao credo ou substancia de uso e tambm desenvolve trabalho de acolhida aos familiares co-dependentes. Os encontros de autoajuda so realizados em dois momentos, sendo que o primeiro est mais voltado para a espiritualidade (orao, meditao, contemplao da palavra de Deus) e no segundo momento acontecem as partilhas das experincias, momento rico de identificao do problema atravs da fala.

De acordo com Rogrio Melo, Coordenador Regional da Pastoral da Sobriedade, em Fortaleza e regio metropolitana existem 23 grupos da Pastoral da Sobriedade, onde atendem cerca de 1.600 pessoas, entre elas dependentes e co-dependentes que se renem regularmente em busca de encontrar a sobriedade atravs da fora transformadora de Jesus-Libertador.

7.CONCLUSO

A percepo um dos campos mais antigos dos processos fisiolgicos e cognitivos envolvidos. Com base no que foi detalhado no decorrer deste trabalho possvel afirmar que a percepo exerce importncia fundamental para a compreenso de mundo do ser humano, pois a partir dela que se estabelece a relao com o mundo propriamente dito, a partir dela que se constri formas de viver melhor e tambm a partir dela que podemos identificar as percepes normais e as possibilidades de deficincia de alguns indivduos pela perda delas.

O homem em sua trajetria de vida sempre se relacionou com as drogas seja por fatos culturais, seja por fatos religiosos, seja para amenizar ou anestesiar problemas, seja para transgredir padres ou agredir os mesmos, seja para se socializar melhor ou se isolar; ou seja: a histria do homem com as drogas acontece desde os primrdios da humanidade e bastante provvel que continue fazendo parte de sua histria por muito mais tempo que possamos imaginar. As vrias formas de o individuo se relacionar com as drogas sejam elas lcitas ou no que podem causar prejuzos biolgicos, psicolgicos e sociais e isso o que justifica tanta preocupao e esforos para lutar a favor de polticas pblicas que favoream o controle, a educao, a sade e a informao clara e confivel a respeito deste problema que nos afeta a todos de forma direta ou indiretamente.Diante da evoluo do homem e sua relao com as drogas e principalmente diante do uso de novas tcnicas de aprimoramento, manipulao e potencializao das mesmas, mudou-se tambm o conceito, a percepo e o julgamento moral sobre as drogas e seus usurios. Somente nos dois ltimos sculos que as drogas e seus efeitos sobre o homem comearam a receber a devida ateno no que diz respeito ao aspecto sade e isso de grande importncia visto que ainda temos em nossos dias atuais uma sociedade que julga, exclui e olha para o dependente qumico de forma preconceituosa, vendo o dependente como um portador de uma grave falha de carter e desprovido de fora de vontade.Esperamos ter nosso objetivo principal alcanado neste trabalho que foi o de tratar de forma objetiva sob diversos olhares, histrico, patolgico, psiquitrico, psicolgico e o vis da responsabilidade publico social, enfocando os porqus, as formas e as consequncias do uso de subtancias psicoativas e os transtornos delas decorrentes no corpo e mente do usurio e principalmente focalizando as vrias possibilidades de recuperao do sujeito. Mostrando tambm e principalmente que este problema de grande desafio tanto do governo quanto da sociedade necessita de uma poltica de interveno integrada, que inclua alm de aes relacionadas promoo de sade, tambm planos de conscientizao e informao sobre os diversos tipos de drogas, ampliando os servios de atendimento, acompanhamento e tratamento do individuo usurio. preciso entender por fim que estamos lidando no somente com uma epidemia, mas estamos lidando com a manifestao de uma doena progressiva e fatal que a dependncia.O presente estudo tentou introduzir os conceitos principais frente ao tema, mas entendemos que ainda muito pouco frente ao estudo que requer a importncia do assunto para a psicologia visto que o comportamento das pessoas baseado na interpretao que fazem da realidade e no na realidade em si. Por este motivo, a percepo do mundo diferente para cada um de ns, cada pessoa percebe um objeto ou uma situao de acordo com os aspectos que tm especial importncia para si prpria e por consequncia a sua forma de convvio com o mundo e com seus problemas completamente individualizada.Espera-se que, a partir deste trabalho, ns que estudamos para comp-lo tenhamos sido instigados a pesquisar mais sobre o assunto e tenhamos nossa curiosidade para a dependncia aguada. Espera-se tambm que contribua de alguma forma, para o aprofundamento destes estudos por novos pesquisadores que valorizem a importncia do tema para a psicologia j que as partes nem sempre compem um todo.

8.REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS

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