Traquina, Nelson. Jornalismo Questões, Teorias e Estórias

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TRAQUINA, Nelson

TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: questes, teorias e estrias. Lisboa: Vega, 1993.INTRODUO Traquina

Notcias

determinam quais so os acontecimentos (assuntos e problemticas) com direito a existncia pblica e que, por isso, figuram na agenda de preocupaes, como temas importantes da opinio pblica ( o conceito de agenda-setting) (p. 11)

Memria x agendaFornecer as formas nas quais as declaraes aparecem

Campo jornalstico tem o poder de criar acontecimentos com o intuito de Gerir as notcias e impor os seus acontecimentos (assuntos ou problemticas) numa luta simblica de vital interesse. (p. 11)RODRIGUES, Adriano Duarte. O acontecimento. In: TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: questes, teorias e estrias. Lisboa: Vega, 1993.No discurso jornalstico, o acontecimento constitui o eferente de que se fala, o efeito de realidade da cadeia dos signos, uma espcie de ponto zero da significao. Por isso, uma das regras da prtica jornalstica consiste em afirmar que a opinio livre, mas que os factos so soberanos. (p. 27)

acontecimento tudo aquilo que irrompe na superfcie lisa da histria de uma multiplicidade aleatria de factos virtuais. (p. 27)

Se situa na escalada das probabilidades de ocorrncia, sendo tanto mais imprevisvel quanto menos provvel for a sua realizao. (p. 27)

Fato, adquire estatuto de acontecimento quando: quanto menos previsvel for, mais probabilidades tem de se tornar notcia e de integrar assim o discurso jornalstico. (p. 27)

O acontecimento jornalstico , por conseguinte, um acontecimento de natureza especial, distinguindo-se do nmero indeterminado dos acontecimentos possveis em funo de uma classificao ou de uma ordem ditada pela lei das probabilidades. (p. 27)

o acontecimento jornalstico irrompe sem enx aparente nem causa conhecida e , por isso, notvel, digno de ser registrado na memria. (p. 28)Vrios registros da noticiabilidade dos fatos.

Registros do excesso, da falha, da inverso (homem morder o co). P. 28

O discurso do acontecimento uma anti-histria, o relato das marcas da dissoluo da identidade das coisas, dos corpos, do devir. Pertence, por conseguinte, ao mundo do acidente, que deixa vestgios e altera a substncia do mundo das coisas, das pessoas, das instituies. (p. 29)

Na Folha no o contrrio?Por isso, a notcia no mundo moderno o negativo da racionalidade, no sentido fotogrfico deste termo. O racional da ordem do previsvel, da sucesso montona das causas, regida por regularidades e por leis; o acontecimento imprevisvel, irrompe acidentalmente superfcie epidrmica dos corpos como reflexo inesperado. (p. 29) o prprio discurso do acontecimento que emerge como acontecimento notvel a partir do momento em que se torna dispositivo de visibilidade universal, assegurando assim a identificao e a notoriedade do mundo, das pessoas, das coisas, das instituies. (p. 29)

Meta-acontecimentos (acontecimentos segundos), provocados pela prpria existncia do discurso jornalstico

O que torna o discurso jornalstico fonte de acontecimentos notveis o faacto de ele prprio ser dispositivo de noticiabilidade. (p. 29)Meta-acontecimento regido pelas prticas do mundo simblico, o mundo da enunciao. sempre uma ordem ditada em funo das dimenses associadas do querer-dizer, do saber-dizer e do poder-dizer. Articula as instncias enunciativas do sujeito e do objecto da enunciao, individuais ou colectivas, os agentes e os actores. a realizao tcnica das instncias discursivas; um discurso feito aco e uma aco feita discurso. (p. 30)

Os meta-acontecimentos so por isso a face perversa da informao, da transformao logotcnica da linguagem em acontecimento dissuasor da exploso do imprevisvel no mundo contemporneo. (p. 30)

Meta-acontecimento so acontecimentos discursivos actualizaes de enunciados pertencentes a vrios regimes enunciativos que se encadeiam entre si segundo regras de encadeamento prprias. (p. 30)

Ao relatar um acontecimento, os media, alm do acontecimento relatado, produzem ao mesmo tempo o relato do acontecimento como um novo acontecimento que vem integrar o mundo. (p. 31)

TUCHMAN, Gaye. A objectividade como ritual estratgico: uma anlise das noes de objectividade dos jornalistas. In: TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: questes, teorias e estrias. Lisboa: Vega, 1993.Objetividade ritual estratgico que protege os jornalistas dos riscos de sua profisso.

Por que as notcias so como so ?

Pq a realidade assim as determina? (teoria do espelho) notcias apenas refletem o mundo exterior porque os jornalistas so observadores neutros que apenas reproduzem o acontecimento na notcia

Primeiro paradigma Gatekeeping

as mensagens existentes passam por uma srie de reas de deciso (gates) at chegarem ao destinatrio ou consumidor. O termo gatekeeper refere-se pessoa que toma a deciso. (p. 134)

Srie de escolhas e decises que precisam passar pelos portes

Processo de seleo subjetivo e arbitrrio.

Notcias explicadas como um produto das pessoas e das suas intenes,

Newsmaking noticias esto tambm condicionadas na estrutura burocrtica das organizaes jornalsticas.

TRAQUINA, Nelson. As notcias. In: TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: questes, teorias e estrias. Lisboa: Vega, 1993.O objectivo declarado de qualquer rgo de informao o de fornecer relatos dos acontecimentos julgados significativos e interessantes. (p. 167)

Mitos teoria do espelho: observador neutro, desligado dos acontecimentos e cauteloso em no emitir opinies pessoais. (p. 167)

Meados do sc XIX novo jornalismo separao entre fatos e opiniao jornalismo informativo.

Positivismo espelho capaz de reproduzi um mundo real. ideologia da objetividade

Com a ideologia da objectividade, os jornalistas substituram uma f simples nos factos por uma fidelidade s regras e procedimentos criados para um mundo no qual at os factos eram postos em dvida. (Schudson, 1978: 122. In Traquina, p. 168)

Ideologia da objetividade - empirismo ingnuo ainda reinante no campo do jornalismo, onde as notcias so vistas como emergindo naturalmente dos acontecimentos do mundo real, bastando ao jornalista ser o espectador do que se passa transmitindo-o fielmente. (p. 168)Problematizar depois de SodrEspelho jornalista como simples mediador, sua existncia se anula na simples reproduo do acontecimento na notcia.Este artigo defende que os jornalistas no so simplesmente observadores passivos mas participantes activos no processo de construo da realidade. E as notcias no podem ser vistas como emergindo naturalmente dos acontecimentos do mundo real; as notcias acontecem na conjuno de acontecimentos e de textos. Enquanto o acontecimento cria a notcia, a notcia tambm cria o acontecimento. (p. 168)

Ligar ao meta-acontecimento de Rodrigues.E a existncia de um acordo de cavalheiros entre jornalistas e leitores pelo respeito dessa fronteira que torna possvel a leitura das notcias enquanto ndice do real. (p. 169)

Narrativas. Embora sendo ndice do real, as notcias registram as formas literrias e as narrativas (new frames) utilizadas pelos jornalistas para organizar o acontecimento. (p. 168)

a necessidade de selecionar, excluir, acentuar diferentes aspectos do acontecimento processo alis orientado pela narrativa escolhida so alguns exemplos de como a notcia, criando o acontecimento, constri a realidade. (Carey, 1986. in traquina 168)

Escolha da narrativa feita pelo jornalista no inteiramente livre.

as narrativas garantem que o jornalista, sobre a presso tirnica do factor tempo, consegue transformar, quase instantaneamente, um acontecimento numa notcia. (p. 169)

As notcias so o resultado de um processo de produo, definido como a percepo, seleco e transformao de uma matria-prima (os acontecimentos) num produto (as notcias). Os acontecimentos constituem um imenso universo de matria-prima; a estratificao deste recurso consiste na seleo do que ir ser tratado, ou seja, na escolha do que se julga ser matria-prima digna de adquirir a existncia pblica de notcia, numa palavra noticivel. (p. 169)

Eixo central do jornalismo fator tempo.

Influencia na cobertura jornalstica do acontecimento

Mas o prprio tempo pode ser, e , utilizado como news peg, nomeadamente os aniversrio: um acontecimento notcia porque aconteceu, faz hoje, um, cinco, dez anos. (p. 1 74)

1.uma notcia que forma a base ou justificao para uma reportagem, editorial, cartoon poltico, ou coisa parecida.2.referncia em uma reportagem, editorial, ou similar, para o evento interessante que est por trs ou justifique .Tambm chamado depeg.

Read more:news peg: meaning and definitions Infoplease.comhttp://dictionary.infoplease.com/news-peg#ixzz1RtwoaPMiem termos sociais, justificam que se fale (comemore) de um assunto e, em termos jornalsticos, tornando actual a abordagem deste assunto, ou seja, servido de news peg para a transformao deste assunto em notcia. (p. 175)Autor Contra a teoria do espelho. Para ele as notocias registram:

- formas narrativas e literrias e organizam os acontecimentos em notcias

- so baseadas pelos constrangimentos organizacionais que condiciona o processo de produo das notcias.

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HALL, Stuart, et al. A produo social das notcias. O mugging dos media. In: TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: questes, teorias e estrias. Lisboa: Vega, 1993.Os media no relatam simplesmente de uma forma transparente acontecimentos que so s por si naturalmente noticiveis. As notcias so o produto final de um processo complexo que se inicia numa escolha e seleo sistemtica de acontecimentos e tpicos de acordo com um conjunto de categorias socialmente construdas. (p. 224)

Organizao da rotina dos jornais separar vrios itens para o interesse do leitor. Ideologia profissional daquilo que pode se constituir como boas notcias. O sentido do valor da notcia para o jornalista e sua organizao.Produo social das notcias organizao burocrtica dos media, produzindo noticias de acordo com categorias especficas , ordenando e selecionando determinadas estrias de acordo com valores notcia

Momento de construo da prpria notcia apresentao ao pblico

Se o mundo no para ser representado como uma confuso de acontecimentos desordenados e caticos, ento estes acontecimentos devem ser identificados (isto , designados, definidos, relacionados com outros acontecimento do conhecimento pblico) e inseridos num contexto social (isto , colocados num quadro de significados familiares ao pblico). Este processo a identificao e a contextualizao- um dos mais importantes, atravs do qual os acontecimentos so tomados significativos pelos media. Um acontecimento s faz sentido se se puder colocar num mbito de conhecidas identificaes sociais e culturais. (PC 225-226)

Memria pertencimento Halbwachs. A identificao social, classificao e contextualizao de acontecimentos noticiosos em termos destes quadros de referencia de fundo constitui o processo fundamental atravs do qual os media tornam o mundo a que eles fazem referncia inteligvel a leitores e espectadores. Este processo de tornar um acontecimento inteligvel um processo social constitudo por um nmero de prticas jornalsticas especficas. (p. 226)Uma tal assuno de fundo constitui a natureza consensual da sociedade: o processo de significao dando significados sociais aos acontecimentos tanto assume como ajuda a construir a sociedade como um consenso. (p. 226)

Acontecimentos so enquadrados dentro desta noo de consenso, variedades de explicaes que, em discursos articulam o que o pblico supe pensar e saber da sociedade. (p. 227)

Qual , ento, o significado subjacente do enquadramento e da funo interpretativa da apresentao noticiosa? Sugerimos que esteja no facto de os media apresentarem frequentemente informaes de acontecimentos que ocorrem fora da experincia directa da maioria da sociedade. Os media, desta forma, apresentam a primeira, e muitas vezes a nica, fonte de informao acerca de muitos acontecimentos e questes importantes. (p. 228)

Media definem para a maioria da populao os acontecimentos significativos e mais que isso, oferecem interpretaes poderosas de como devemos compreender estes acontecimentos.

Seletividade, impe critrios de noticiabilidade aos acontecimentos

Trabalho dos media transformar um acontecimento numa notcia acabada

Cada jornal tem seu modo especfico de trabalhar com o acontecimento que o caracteriza .

A linguagem utilizada ser, pois, a prpria verso do jornal da linguagem do pblico a que se dirige principalmente: a sua verso da retrica, da imagem e stock comum de conhecimento subjacente que supe que o seu pblico partilha e que, deste modo, constitui a base de reciprocidade produtor-leitor. (p. 232)

Falar pelo pblico: supe que a vasta maioria do pblico pensa, este inscrever da legitimidade pblica nas perspectivas que so impressas pelo prprio jornal, representa os media no seu papel mais activo de fazer campanha o ponto onde os media mais activa e abertamente modelam e estruturam a opiniao pblica. Este tipo de editorial toma habitualmente a forma ou o apoio para uma aco de contrapeso, em relao a uma medida j tomada, ou, ainda mais frequentemente, duma exigncia da necessidade duma aco mais forte porque a maioria o exige. (p. 234)os mediaestabelecem uma ponte de mediao crucial entre o aparelho de controlo social e o pblico. A imprensa pode legitimar e reforar as accoes dos controladores trazendo os seus prprios argumentos independentes para influencar o pblico na defesa das aces propostas. (p. 234)

o editorial parece fornecer um ponto de referencia objectivo e externo para mobilizar a opinio pblica. (p. 234)

Introducao p. 3 TRAQUINA

Noticias como estrias, narrativas, como forma cultural, um produto cultural, encaradas como uma construo

Levantando o problema da relao entre a realidade e as estrias sobre a realidade, as notcias como estrias constituem uma construo que sublinha a importncia do factor cultural. (p. 251)

TUCHMAN, Gaye. Contando estrias. In: TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: questes, teorias e estrias. Lisboa: Vega, 1993.Os relatos de acontecimentos noticiosos so estrias nem mais nem menos. (p. 258)

Os reprteres descobrem acontecimentos nos quais conseguem localizar os temas e os conflitos de uma sociedade particular. Estes acontecimentos so recontados essencialmente atravs da mesma estria de ano para ano ou mesmo de dcada para dcada. (p. 258)

Estrias mecanismos que transformam os acontecimentos

BIRD, S. Elizabeth; DARDENNE, Robert W. Mito, registro e estrias: explorando as qualidades narrativas das notcias. In: TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: questes, teorias e estrias. Lisboa: Vega, 1993.estrias narrativas culturalmente construdas.

Jornaistas constumam ter a pretenso de afirmar que as estrias surgem d iretamente dos fatos dos acontecimentos. (defesa da objetividade

Histria/historiadores

Acontecimentos x estrias acerca dos acontecimentos

Histria objetiva- hoje vista como ingnua.

Jornalismo, histria, etc, narram acontecimentos reais, e os seus profissionais esto a descobrir que para compreender as suas narrativas tem de analisar como so construdas, incluindo os mecanismos de contar a estria que constituem parte integrante dessa construo. (p.; 264)

Noticia como tipo especfico de sistema simblico.

Noticia como narrativa e estria e, deste modo, a relao nada pacfica entre a realidade e as estrias sobre a realidade. (p. 264)

Buca-se assim uma compresso mais ntida do contexto no qual os jornalistas constroem estrias e de como estas se relacionam com a cultura na qual eles so tanto o reflexo como a representao. (p. 264)

Considerar as notcias como narrativas no nega o valor de as considerar como correspondentes da realidade exterior, afectando ou sendo afectadas pela sociedade, como produto de jornalistas ou da organizao burocrtica, mas introduz uma outra dimenso s notcias, dimenso essa na qual as estrias de notcias transcendem as suas funes tradicionais de informas e explicar. (p. 265)

Narrativas so culturais, no naturais dotam os aconetcimentos do passado de fronteiras artificiais, construindo totalidades significativas a partir de acontecimentos dispersos. (RICOEUR, 1981, p. 278. In: p. 265)

Assim, mais que considerar a exactidodos factos e sua correspondncia com uma realidade externa, podemos consider-los como contributos da narrativa, como elementos numa ordenao humana dos mesmos. (p. 265)

no existe um nico mito ou narrativa que seja meramente repetido; no entanto, para continuar a ter forca, os mitos devem ser constantemente recontados. Mais, os temas so rearticulados e reinterpretados ao longo do tempo, temas que provm da cultura e para a qual retornam. As estriasno so reinventadas sempre que h necessidade; em vez disso, voc retira constantemente do inventrio o discurso que foi estabelecido ao longo do tempo. (HALL, 1984, p. 06. In: p. 267)

De facto, os valores-notcia, que os jornalistas frequentemente sugerem ser algo de intrnseco aos acontecimentos, para serem deduzidos utilizando o sentido noticioso, so cdigos culturalmente especficos de contar estrias. (p. 268)

importante comear a olhar mais criticamente para as qualidades narrativas das notcias. Embora as notcias no sejam fico, uma estria sobre a realidade, no a realidade em si. Contudo, devido ao seu estatuto privilegiado como realidade e verdade, os poderes sedutores das suas narrativas so particularmente significantes. (p. 276)

As noticias tm a funo de fazer o registro e fazem-no com o pano de fundo de narrativas que recontam o s acontecimentos noticiveis. (p. 276)

A preparao dos jornalistas, familiarizados com a ideologia da realidade objectiva, leva-os a exprimir-se numa voz narrativa. Dentro do paradigma noticioso, eles enquadram o problema do impulso para moralizar a realidade em termos de dicotomias facto/fico ou verdadeiro/falso e voltam a retornar tcnica do registro. (p. 277)

Os jornalistas , na verdade, tendem a contar as mesmas estrias de maneiras idnticas: o contar de uma estria exclui, por conseguinte, todas as outras estrias que nunca so contadas. (p. 277)

Fazer esta relao das estrias e contrariamente da obsesso da Folha em ser sempre plural, livre, portadora de um discurso da verdade (espelho)

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