Travessia Artigo

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XIX ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, São Paulo, 2009, pp. 1-17 QUAL FOI A TRAVESSIA?: UM PERCURSO HISTÓRICO DA REVISTA DO MIGRANTE Lúcia Cavalieri Doutoranda do Departamento de Geografia da USP [email protected] Tânia Biazioli Mestranda da Faculdade de Psicologia da USP [email protected] Resumo: Este texto se propõe a apresentar uma leitura histórica dos 20 anos da Travessia – Revista do Migrante. Ao longo de seu percurso, a revista, cujo tema principal é migração, passou por diferentes momentos. Um dos objetivos do texto é apresentar, além do percurso histórico da Revista, a atuação da Igreja junto aos movimentos migratórios que enlaçam campo-cidade. Palavras-Chave: CEM, SPM, movimentos migratórios, Revista Travessia Abstract: This work aims to present a historical view on the 20 years of Travessia – Revista do Migrante (Journal). Throughout this time, the journal, which main theme is migration, went through different moments. One of the goals of this work is to present, along with the historical memory of the journal, the Church’s action related to the migratory movements intertwining town and countryside. keywords: CEM, SPM, migratory movements, Revista Travessia

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  • XIX ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRRIA, So Paulo, 2009, pp. 1-17

    QUAL FOI A TRAVESSIA?: UM PERCURSO HISTRICO DA REVISTA DO MIGRANTE

    Lcia Cavalieri Doutoranda do Departamento de Geografia da USP

    [email protected]

    Tnia Biazioli Mestranda da Faculdade de Psicologia da USP

    [email protected]

    Resumo: Este texto se prope a apresentar uma leitura histrica dos 20 anos da Travessia Revista do Migrante. Ao longo de seu percurso, a revista, cujo tema principal migrao, passou por diferentes momentos. Um dos objetivos do texto apresentar, alm do percurso histrico da Revista, a atuao da Igreja junto aos movimentos migratrios que enlaam campo-cidade. Palavras-Chave: CEM, SPM, movimentos migratrios, Revista Travessia

    Abstract: This work aims to present a historical view on the 20 years of Travessia Revista do Migrante (Journal). Throughout this time, the journal, which main theme is migration, went through different moments. One of the goals of this work is to present, along with the historical memory of the journal, the Churchs action related to the migratory movements intertwining town and countryside. keywords: CEM, SPM, migratory movements, Revista Travessia

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    Este texto, com alguma modificao, foi apresentado para o curso Migrao e Dinmicas Territoriais nos Processos de Modernizao ministrado pelo Professor Dieter Heidemann no primeiro semestre de 2008 na Faculdade de Geografia USP. O objetivo da disciplina consistia em discutir e apresentar as vrias leituras e discusses sobre a questo migratria. Para tanto, lemos e discutimos em seminrios diversos autores e materiais diferentes para nos acercamos da complexidade da questo e das diferentes abordagens epistemolgicas sobre o tema. A Igreja, notoriamente, realiza um trabalho a partir da pastoral do migrante - Servio Pastoral do Migrante (SPM) e do Centro de Estudos Migratrios (CEM) atuando nos lugares de destino e de origem dos migrantes. No Brasil o envolvimento da Igreja com a migrao data da chegada dos imigrantes italianos no final do sculo XIX com os irmos scalabrinianos que viajaram para todos os pases os quais receberam os imigrantes. A Travessia revista do migrante editada pelo CEM, ligado atualmente Pastoral da Mobilidade Humana, foi nosso objeto de estudo por ser uma publicao nacional de referncia sobre a migrao e por revelar a ao de uma parcela de Igreja catlica. Nosso desafio naquele momento era analisar as transformaes pelas quais a Revista passou ao longo de seus 20 anos. No incio da pesquisa, nossa metodologia de trabalho consistiu na colheita de temas dos nmeros da revista e a leitura de alguns editoriais. Pretendamos desprender desta tarefa um panorama histrico da revista. Logo vimos, contudo, que o conhecimento das temticas e dos editoriais no lanavam luz para uma ampliao desta histria. Muitos editoriais eram apresentaes dos artigos da revista. Poucos foram queles dedicados a discorrer de maneira terica ou crtica sobre o tema elegido para a revista. Nossa pesquisa ento tomou outros rumos aps acompanharmos a formulao de algumas hipteses para uma leitura histrica da revista, com o Prof. Dieter Heidemann. Houve, ento, o re-direcionamento de nosso olhar para a diferena entre as primeiras revistas e as publicaes dos ltimos 10 anos levando em conta trs indicadores:

    (1) O auge da Teologia da Libertao e seu declnio e a atuao de uma parcela da Igreja;

    (2) A mudana do Centro de Estudos Migratrios (CEM) do Ipiranga para o Glicrio. A hiptese era que a separao fsica do Servio Pastoral do

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    Migrante (SPM) da sede do CEM revelava uma ciso das aes polticas no interior da Igreja. A partir desta separao, o CEM parecia se desligar da Pastoral do Migrante vertente poltica, ligada CNBB e s pastorais sociais, tais como a Pastoral Operria e a Comisso Pastoral da Terra, e se identificar com a Pastoral da Mobilidade Humana vertente religiosa-pastoral, centrada nas discusses das polticas migratrias do Estado;

    (3) A edio especial, dedicada a Abdelmalek Sayad1. A hiptese era que tal edio representou um redirecionamento na perspectiva terica da revista. A Travessia partiu de leituras sociolgicas e marxistas, tendo em Jos de Souza Martins um de seus expoentes, para anlises culturalistas, inspiradas em Pierre Bourdieu e Abdelmalek Sayad. Outra expresso possvel desta mudana est nas capas da revista. As primeiras, com inspirao sovitica, apresentam trabalhadores com enxada na mo. J as mais novas mostram capas coloridas para homenagear as festas folclricas, no mesmo estilo das revistas vendidas em bancas de jornal.

    Estes trs indicadores se tornaram o guia da pesquisa. Passamos, ento, a investigar e analisar algumas destas hipteses.

    Visitamos o Centro de Estudos Migratrios para conversar com Dirceu Cutti, o editor da Travessia e fomos conhecer o Servio Pastoral do Migrante, onde conversamos com Nelson e Ary.

    Apresentaremos o material recolhido dividido em partes. A primeira parte traz o depoimento de Dirceu Cutti e ser entrelaada com artigos do nmero 52 da Travessia2 para compreendermos o legado do bispo Scalabrini e a histria do Centro de Estudos Migratrios, o contexto eclesial e as relaes entre CEM e o SPM. A segunda parte traz o depoimento de Nelson e Ary sobre o Servio Pastoral do Migrante praticamente por inteiro, sem enxertos. A terceira parte apresenta algumas consideraes sobre o surgimento da revista, segundo Cutti. Por fim, passamos em exame as hipteses surgidas no incio da pesquisa.

    1 A edio especial dedicada a Sayad localiza-se entre a 35 e 36 edio no incio do ano 2000.

    2 Travessia revista do migrante, n. 52, mai-ago/2005. Edio dedicada ao exame do legado Scalabrini.

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    1. Depoimento de Dirceu Cutti Iniciamos a entrevista com trs grandes blocos de perguntas para Dirceu: a

    importncia e a histria da revista, a relao da revista com a igreja e as relaes da revista com o Centro de Estudos Migratrios.

    Dirceu comeou a entrevista com o histrico da Congregao Scalabrini para explicar os passos do Centro de Estudos Migratrios.

    1.1 O legado de Scalabrini A Igreja Catlica na Itlia, desde a unificao do pas em 1871, perdeu seu lugar

    de prestgio e poder, o pas encontrava-se em uma crise poltica e econmica e muitos italianos se viram forados a buscar o sonho da Amrica, migrar para algum dia voltar Itlia. No Brasil, no final do sculo 19, a preocupao com a substituio da mo-de-obra escrava j era grande, em 1886 foi fundada a Hospedaria dos Imigrantes no Brs com o intuito de receber os imigrantes, trat-los na quarentena e distribui-los para o interior do estado para as fazendas de caf. Alguns grandes cafeicultores como o Visconde de Parnaba tomaram frente no negcio de substituio da mo-de-obra escrava para a livre no Brasil.

    O bispo Scalabrini, natural da Itlia, descobriu em Milo na estao ferroviria o drama da emigrao. Sensvel grande emigrao de italianos, fundou uma congregao de missionrios para acolher os italianos no local de partida e na Amrica, local de chegada. Fundava assim o ideal de assistncia os imigrantes no lugar de origem e de destino. Devido a sua boa oratria, atraiu industriais para financiar sua causa e missionrios para entrar na congregao. Assim, conseguiu eliminar mais de 700 coyotes, chamados por Scalabrini de agenciadores de carne humana3.

    No editorial da revista dedicada ao exame do legado Scalabrini, no ano de seu centenrio, Dirceu enfatizou o carisma de Joo Batista Scalabrini que com 36 anos tornou-se bispo no norte da Itlia e procurou dialogar com a modernidade que assolava o pas. Foi definido por Dirceu como homem de ao e dilogo. Seu maior legado, no entanto, encontra-se no campo da migrao. Em 1887, estava fundada a Congregao para acompanhar os italianos no exterior. Inicialmente rejeitado pelo Parlamento Italiano teve posteriormente um projeto de lei transformado em lei acerca da migrao o que revela a importncia poltica que a Congregao passou a ter.

    3 As aspas referem-se as falas na ntegra dos entrevistados.

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    Sclabrini foi sim, um homem de seu tempo, mas do ponto de vista da mobilidade humana, o ultrapassou ao afirmar: Para o migrante a ptria a terra que lhe d o po. (depoimento de Dirceu Cutti)

    O bispo esteve no Brasil em 1904 por cinco meses. O pano de fundo da ao dos padres e seu diferencial era criar uma pastoral supra-paroquial, permitir a entrada de brasileiros na Congregao e estudar o fenmeno migratrio.

    A Congregao surgiu assim junto com o grande fluxo migratrio italiano do final do sculo 19. Foi organizada em provncias em que as decises eram votadas em assemblias e foi determinado que cada provncia deveria ter um CEM Centro de Estudos Migratrios. Muitas provncias tiveram importantes CEM como Nova Iorque, Paris, Basilia, Buenos Aires, Filipinas, Caracas e alguns CEM foram chamados para assessorar os rumos da poltica migratria nos parlamentos. O CEM So Paulo teve sua origem ligada distribuio histrica-geogrfica dos irmos carlistas (scalabrinianos) no mundo porm, aqui, surgiu com o cordo umbilical ligado s lutas sociais das dcadas de 60 e 70. O CEM de So Paulo foi fundado em 1969 nas dependncias do Seminrio Joo XXIII.

    1.2 O Contexto Eclesial O momento eclesial vivido com Joo XXIII (1958 a 1963) e com Joo Paulo VI

    (1963 a 1978) difere em muito do vivido com Joo Paulo II (1978 a 2003) e mais ainda com Bento XVI (2004 at o presente). O momento atual apontado como o de uma involuo na pastoral. As determinaes da cria romana e o peso do bispado tambm se refletem na atual gesto da CNBB.

    O contexto eclesial vivido na dcada de 60 teve importantes marcos: a) auge da Teologia da Libertao Nomes como Gutirrez, Juan Luis Segundo, Boff (Leonardo e Clodovis), Joan Sobrinho passam a fazer parte dos estudos no Instituto Teolgico de So Paulo - ITESP e dos estudos nas comunidades perifricas. Segundo Iokoi (1996), os mais atuantes propositores foram Gutirrez (bispo no Peru) e Leonardo Boff (So Paulo). Os grupos religiosos da Amrica Latina, ainda que com diferentes formas de atuao, chamaram para a Teologia da Libertao a discusso sobre a possibilidade que os sujeitos sociais possuam para alterar a realidade a partir da nova prtica dos cristos;

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    b) auge das CEBs As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) foram inspiradas pela Pedagogia da ao catlica, uma nova leitura da Bblia promoveria reflexes sobre os problemas sociais, Paulo Freire foi o grande inspirador desta nova pedagogia. A inspirao do agir funda-se na busca por solues coletivas. Prxis e teoria estabelecem uma ao hermenutica. CUT, PT, Pastoral Operria, CPT nasceram profundamente relacionadas s CEBs;

    c) atuao da CNBB O episcopado brasileiro, na figura de alguns bispos, dava suporte s prticas crists mais politizadas. Dom Paulo Evaristo Arns esteve frente da CNBB por muitos anos e transformou a entidade religiosa em um rgo frente de seu tempo dada a sua opo poltica;

    d) surgimento e ao das pastorais sociais no seio da CNBB Algumas pastorais oferecem servios e discusses mais especficas como a CPT, a Pastoral Operria....

    Para Pe Alfredo,

    Uma concluso se impe: o trabalho pastoral nas comunidades da periferia, a participao nos movimentos estudantis, a contribuio organizao dos operrios e o estudo da teologia constituam dimenses distintas de uma mesma ao social. Como pano de fundo descortinava-se o horizonte da transformao social, poltica, econmica e cultural. Enquanto os instrumentos de anlise vinculavam-se matriz marxista, as motivaes vitais provinham do clamor dos pobres e da experincia bblica, especialmente na leitura dos Livros do xodo e dos profetas. Por isso que a vida social e poltica que fervia l fora, nas ruas, fbricas e comunidades, repercutia com fora e intensidade dentro do seminrio, tanto na liturgia comunitria quanto nas salas de aula do ITESP. (Travessia, n52, p.21/22)

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    Pe Alfredo deixa no final de seu artigo uma pergunta:

    (...) continuar sendo o Seminrio Joo XXIII, junto com o CEM, o SPM e o ITESP uma oficina de uma ao pastoral voltada, simultaneamente, para os apelos de Deus e os desafios da histria na pessoa dos migrantes? (idem, p.24)

    Tanto Dirceu Cutti como o depoimento de Pe Alfredo na Revista apontam que a atuao especfica da Igreja no Brasil foi forjada junto contestao que se vivia durante a ditadura militar.

    1.3 Seminrio Joo XXIII e CEM O atendimento aos imigrantes italianos, no ps-guerra, perdeu sua intensidade e

    os padres, com formao e tradio voltada para os imigrantes/emigrantes, voltaram-se s migraes internas do Brasil. Os seminaristas do Seminrio Joo XXIII comearam a desenvolver uma ao pastoral em trs frentes: (a) algumas viagens s regies onde a migrao representava um grande desafio; (b) Operao Periferia para estar nos locais em que chegavam grandes levas de migrantes internos; (c) contatos com os padres que estavam frente do Centro de Estudos Migratrios.

    Num artigo da revista n 52, dedicado aos relatos de viagens pelas ferrovias Central do Brasil e Alta Sorocabana, os padres Alberto Romano Zambiazi e Alvrio Mores4 descrevem todo o trabalho de campo realizado na origem e no destino dos migrantes, defendendo-os como pessoas dignas e no como preguiosos e vagabundos. Expem a chaga da migrao nos trilhos das ferrovias que vinham e saiam de So Paulo:

    Apenas escurece, as mes vo acomodando as crianas sobre os assentos e os adultos procuram um lugar para deitar-se debaixo dos mesmos. (...) Assim, aquele cho sujo, imundo, repleto de escarros torna-se o leito comum onde a maioria descansa em sono profundo... Durante toda a noite no se abre uma janela. Por isso, o xido de carbono produzido por to elevado nmero de pessoas, e o mau odor causado pela grande falta de higiene dos viajantes, provocam constantes dores de cabea e mal-estar nos passageiros. (...) No

    4 Zambiasi, A. R e Mors, A. A realidade sobre a migrao brasileira. Relato de viagens pelas ferrovias Central do

    Brasil 1968 e Alta Sorocabana 1969. Na poca eram seminaristas no Seminrio Maior Joo XXII. Zambiazi interrompeu seus estudos de teologia para estudar sociologia.

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    faltam os que acordaram molhados pelas crianas que dormiram sobre os assentos. O trem no poder ultrapassar os 15 km horrios para chegar ao destino sem haver sofrido acidentes. (...) Os animais e minrios ocupam os vages mais protegidos, e os migrantes os que tm maior probabilidade de descarrilamento. 5

    Terminam o artigo afirmando:

    Cremos que a principal e mais autntica caracterstica dessa eficincia de servio por parte dos scalabrianos, a preparao para misso proftica dentro da Igreja e da sociedade. impossvel que ns queiramos assumir todos os contingentes migratrios no mundo to atual, to pluralista. Por isso nossa misso ser, como foi a de Scalabrini, o profetismo: conhecermos as situaes e condies dos migrantes, estud-las, analis-las e compreend-las. (....) Precisamos ser ns os primeiros migrantes isto , devemos ser os vanguardeiros nos contingentes migratrios. (Revista Travessia, n 52, p.16)

    J a campanha Operao Periferia foi estimulada na dcada de 70, pelo cardeal de So Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, sob a orientao do Conclio do Vaticano II e de Medelln. A ao da Igreja chegava s periferias.

    Num outro artigo da revista, escrito pelo Pe. Alfredo, acompanhamos a relao ntima entre o Seminrio Joo XXIII e a criao e atuao do CEM6. O ano de 1968 apontado como de entusiasmo, de muita fora para a luta no somente para entender o fenmeno migratrio mas tambm para superao da ditadura militar que se instalava. A pastoral deixou de ser autorizada no Seminrio para se tornar praticamente obrigatria, integrada vida comunitria e estudantil.

    Dirceu conta que sua gerao de seminaristas estava envolvida com as lutas polticas e que muitas no cabiam mais nos contornos da Igreja. Quiseram ir, por exemplo, morar nas periferias junto aos migrantes porm, seria muito custoso ter que viajar todos os dias para o seminrio para continuar o curso de teologia no Ipiranga, sede do Seminrio Joo XXIII. Nesta poca, os seminaristas tiveram a opo, devido sada de seu coordenador, de assumir a direo do Centro de Estudos Migratrios, o que era interessante politicamente Estabeleceram como garantia para assumir o CEM que, aps serem ordenados, ao menos dois deles continuariam frente do Centro. Isto

    5 Relato de dirio de viagem publicado pela primeira vez no Jornal Arquidiocesano O So Paulo.

    6 Gonalves, A. J. e Cutti, D. O Seminrio Joo XXIII e Centro de Estudos Migratrios. Memria de um Passado

    Recente. Revista Travessia, n52.

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    evitaria que eles se dispersassem. Luiz Bassegio e Dirceu Cutti foram os escolhidos para assumir o CEM, apoiados pelo padre Alfredo.

    O CEM neste momento caminhava em duas direes: por um lado havia os estudos e os seminrios, a biblioteca mais especializada forma-se neste momento; por outro, havia o envolvimento nas pastorais sociais vinculadas CNBB. Em 1976 iniciam-se os cursos de formao da pastoral migratria que se abrem mais a partir de 1979, poca em que os seminaristas estavam a frente do CEM.

    1.4 Relao CEM/SPM O CEM articulava e assessorava as pastorais, organizava os seminrios e

    firmou-se na divulgao e publicao de material para ser distribudo por todo o pas. Em 1980, Padre Alfredo se juntou aos cortadores de cana da regio de Ribeiro Preto para compreender a realidade dos migrantes temporrios. Toda a reflexo da experincia era realizada no seminrio, dentro do CEM, que se tornou uma oficina para compartilhar novos caminhos para a ao pastoral. Foi nestas oficinas que a Pastoral dos Migrantes (SPM) se forjou.

    Segundo Pe Alfredo, a partir da Campanha da Fraternidade de 1980 cujo lema era Para onde vais?, o CEM passou a ser um interlocutor que dinamizou e articulou a Pastoral Migratria, gestando o que seria o atual Servio Pastoral dos Migrantes.

    O SPM nasceu em 1985 e no se vinculou congregao dos scalabrinianos, atrelou-se a chamada linha 6 da CNBB junto com o conjunto das pastorais sociais da Igreja no Brasil. Segundo Pe Alfredo, Implicitamente ou explicitamente houve uma certa diviso de trabalho entre o CEM e o SPM. O primeiro voltado mais para o estudo e a pesquisa, o segundo dedicado atividade pastoral. O SPM inicialmente abrigava-se nas dependncias do Joo XXIII, posteriormente passou para uma sede prpria. O CEM mudou-se para o complexo da Igreja Nossa Senhora da Paz onde se encontra atualmente.

    Em 2004/2005, com a nova reestruturao da CNBB, formou-se o Setor de Mobilidade Humana.

    2. Depoimento de Nelson e Ary 2.1 Servio Pastoral do Migrante Nelson e Ary tambm iniciaram a conversa ressaltando o legado dos scalabrinianos e a histria do Centro de Estudos Migratrios para contar o surgimento do Servio Pastoral do Migrante.

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    Relembram que o CEM criado no final da dcada de 60 e formado por muitos padres scalabrinianos e seminaristas se envolviam nas discusses sobre as condies de vida dos migrantes na cidade de So Paulo, concentrados nas favelas e periferias. Enquanto o Centro de Estudos Migratrios recebia forte influncia da congregao e do Vaticano e deixava de realizar o trabalho de base, nascia o Servio Pastoral do Migrante em 1985/6, que se agregou CNBB e as Pastorais Sociais da Igreja no Brasil. O SPM, segundo os entrevistados, trabalha junto s comunidades em 3 setores: migrantes temporrios (cortadores de cana); imigrantes (bolivianos, paraguaios, argentinos) e urbanos.

    Sobre os migrantes sazonais, eles chamaram a nossa ateno para o fato de 80% dos cortadores de cana da regio de Ribeiro Preto serem migrantes, oriundos do Vale do Jequitinhonha, Maranho, Piau, Cear e Alagoas. Ao todo so cerca de 80.000 cortadores. O SPM acolhe os migrantes c e l. Na origem, tentam fortalecer alternativas migrao, como a construo em mutiro das cisternas, a luta por reforma agrria, a melhoria das escolas juntamente com a Critas, os sindicatos e a Comisso Pastoral da Terra. Alm disso, concebem que mesmo quando vem apenas o homem para o trabalho temporrio, toda a famlia e a comunidade migram. Para o combate depresso das mulheres no Vale do Jequitinhonha (as vivas de maridos vivos), por exemplo, so criados grupos de gerao de renda associados s prefeituras, ao SPM, a Critas e a CPT.

    Ary entende que enquanto a sociedade no resolver seu padro de consumo, no haver soluo possvel. O fortalecimento das comunidades uma conquista que no visa somente s reformas mas sim superao do modelo econmico centrado no consumo.

    O trabalho do SPM concentra-se no lugar de origem e de destino segundo as primeiras orientaes do Bispo Scalabrini h mais de um sculo. No destino, a ao da pastoral, junto aos cortadores de cana, vigiada pelos gatos. Eles querem impedir a organizao dos trabalhadores, apenas permitem a entrada dos religiosos para intervenes religiosas. A pastoral proibida de entrar nos alojamentos das usinas, onde esto instalados os trabalhadores.

    Relembram que na poca da ditadura, viviam-se efervescncias: movimentos sindicais, partidos polticos, Teologia da Libertao, comunidades eclesiais de base.... Hoje, vivem-se os esvaziamentos: as comunidades eclesiais de base viraram parquias institucionalizadas. A igreja perdeu o contato com a comunidade. A formao

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    dos seminaristas reproduz um modelo burgus. Esta crtica estende-se a todos os nveis da sociedade. Reforam que o mundo neoliberal operou uma grande mudana econmica e cultural. A sociedade vai pagar um custo muito alto daqui a 10, 12, 15 anos quando os mais velhos no puderem mais lutar.

    O comeo da presso do Vaticano contra o trabalho dos seminaristas nas comunidades aparece dentro do prprio Seminrio Joo XXIII. Relembram que mais da metade dos seminaristas na dcada de 80 deixaram o ITESP7. Contaram que um padre veio de Roma para tomar conta dos rebeldes e acabou ficando com uma mulher casada.

    O Vaticano sempre ofereceu uma frma para todas as Conferncias de Bispos, porm a CNBB do Brasil se mostrou sempre com mais autonomia e rebeldia. Depois da sada de D. Luciano e da entrada de D. Lucas de Moreira Neves (de Salvador), h o incio de uma poca em que de fato a orientao mais retrgrada do Vaticano tornou-se mais presente.

    Apesar de Ary mostrar claramente em seu discurso uma insatisfao com a linha poltica da Igreja8, entende que a Pastoral deve reivindicar seu espao no interior da CNBB, caso contrrio, a Pastoral se tornaria uma ONG. Porm, o SPM no recebe apoio financeiro da Igreja e, tal qual uma ONG, eles aprenderam a captar recursos junto a entidades europias que teriam uma dvida com o mundo pobre. Politicamente o SPM reivindica seu lugar e sua ao junto ao Vaticano. Economicamente aprenderam a captar recursos para poder continuar um trabalho de base.

    De forma mas explcita, Ary e Nelson expuseram as tenses existentes entre o CEM e a SPM.

    Por uma exigncia de Roma, foi criada a Pastoral da Mobilidade Humana em 2004. Para esta Pastoral, os migrantes so confundidos com caminhoneiros e ciganos, no so diferenciados nem mesmo dos turistas. Esta concepo esvazia o conflito poltico, perde-se de vista a importncia das lutas de classe, segundo o SPM, pois todos ns poderamos ser considerados migrantes

    Ary e Nelson acreditam que as diferenas entre a Pastoral do Migrante e a Pastoral da Mobilidade Humana apaream na ao de cada um, junto aos migrantes. Como exemplo citam que enquanto a Pastoral denomina como trabalho escravo ou, no mnimo, degradante o trabalho dos bolivianos nas oficinas de costura, o CEM est interessado nas suas festas e tradies culturais. O SPM oferece atendimento jurdico 7 As dcadas de 80 e 90 foram duramente marcada pela poltica de Joo Paulo II.

    8 Desde Joo Paulo II, foram 24 anos com a predominncia de uma linha centro-direira no interior da Igreja.

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    aos imigrantes no CAMI Centro de Apoio ao Migrante localizado no Pari. A Pastoral discute as leis de imigrao e a legalizao das oficinas de costura, junto com o Ministrio Pblico e o Ministrio do Trabalho. J o CEM, oferece a acolhida do migrante na Casa do Migrante, albergue localizado no Glicrio. Assim, querem indicar que o trabalho da Pastoral do Migrante est voltado para as polticas pblicas enquanto o trabalho da Pastoral da Mobilidade Humana assistencialista e folclorista.

    3. Revista Travessia9 Posto em linhas gerais o contexto de criao do CEM, do SPM, as mudanas na

    atuao da Igreja nas ltimas quatro dcadas, possvel entender a criao da Revista Travessia e compreender a realidade que ela revela.

    Todo CEM, como um centro de estudos, deveria tambm ter uma publicao cientfica. No Brasil este projeto foi adiado pois os padres no concordavam com a proposta das grandes revistas existentes que at hoje so publicadas nos outros pases e que gozam de muito prestgio como a Internacional Migration Review.

    Lanaram o Boletim C e L para relatar as experincias dos seminaristas junto realidade dos migrantes. O Pe Alfredo Gonalves e Antenor della Vecchia quando eram ainda seminaristas foram para o eito, para Dobrada (prximo de Guariba) e ficaram trs meses cortando cana; criaram empatia com os bias-frias. O Pe Bragueto da CPT morava em Guariba e acolheu os padres carlistas. Segundo Dirceu, os bias-frias vieram mais intensamente a partir da dcada de 70 com o Prolcool. A CPT, os sindicatos e outros movimentos sociais no queriam acolher os migrantes dado sua mobilidade, sua transitoriedade e, portanto, falta de enraizamento em um lugar para a formao de uma conscincia transformadora. O CEM de So Paulo caracterizou-se como um espao de conscientizao, organizao, apoio aos movimentos populares e produo de material. No havia uma preocupao com a autoria ou com os direitos autorais pois a orientao socialista era clara: multiplicar o que era bom e fazer chegar no povo10. Alm disso, queriam analisar o fenmeno migratrio com o respaldo dos intelectuais, tais como Bresser Pereira, Paul Singer, Jos de Souza Martins; Luis Eduardo Wanderley, Otvio Ianni, Jos Graziano da Silva.

    9 As informaes sobre a revista Travessia foram obtidas na entrevista com Dirceu Cutti.

    10 Esta uma chave importante para entendermos os editoriais no assinados dos primeiros nmeros da revista

    Travessia e a prprio Vai e Vem.

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    Sob a presso de ter publicao cientfica, o CEM criou como resistncia ao modelo intelectualizado das publicaes de outros pases, o Vai e Vem com influncia de George Martine entre outros. O boletim trazia notcias das viagens realizadas pelos padres na busca de entender o c e l. O Vai e Vem11 uma publicao do SPM. O CEM ainda precisava criar sua publicao cientfica. Duas reunies foram realizadas com intelectuais e Dirceu, que havia abandonado a batina e estava empregado num banco, foi chamado pelo Pe Alfredo, diretor do CEM e portanto da nova publicao poca (segunda metade da dcada de 80), para trabalhar no projeto da revista. Dirceu nos mostrou as revistas publicadas em outros CEM tidas como referncia tais como a Migrations Societe, Studi Emigrazione, Estdios Migratorios Latino Americanos (AR), International Migration Review (IMR), APMS (asitica). Nenhuma destas revistas apresentava a cara que o CEM So Paulo, to ligado s assessorias, cursos, seminrios no seio das lutas sociais, queria ter. O exame das publicaes brasileiras como a Tempo e Presena (CEDI), Revista Proposta (FASE), cadernos do CEAS (publicao de jesutas e leigos do NE) tampouco ofereceu um modelo a ser seguido pelo CEM.

    O Conselho Editorial do nmero da revista (ainda sem nome) surgiu com Jos de Souza Martins, Ermnia Maricato, Firmino Fecchio, Carlos Vainer entre outros e decidiu lanar uma revista que fosse temtica, que oferecesse espao para que todos os trabalhos de migrao circulassem, fossem divulgados e que fosse acessvel, portanto a linguagem e o formato deveriam ser simplificados. Dirceu ocupou-se da diagramao da revista.

    O nome Travessia surgiu num momento de pausa com po, queijo e vinho trazidos da colnia, algum se lembrou do final do Grande Serto: Veredas.

    Uma grande preocupao e autocrtica da revista, segundo Dirceu, : (...) divulgar a voz do migrante em sua luta e na vida, ter relatos de experincia porm, os militantes e intectuais de esquerda no sabem escrever assim, no d para escrever como militante de palanque tampouco elitizar a revista e torn-la um veculo de publicao acadmica.

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    Para os limites deste trabalho no foi possvel realizar uma leitura comparando as publicaes Travessia com o Boletim Vai e Vem. Tal comparao poderia esclarecer ainda mais as diferenas entre SPM e CEM.

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    A inteno que as diversas correntes tericas que se ocupam da migrao possam publicar. Desde o incio h uma flexibilidade quanto ao nmero de pginas dos artigos e da revista

    A revista de tema Migrar e Morar de 1992 (n14), apresentou uma ruptura na edio da Revista. Padre Alfredo conversou com Kleber, um fotgrafo que se disps a tirar as fotos para a revista. s vsperas da Revista ir para a grfica o fotgrafo cobrou pelas fotos que comporiam a publicao. Este episdio torna-se um marco na histria da revista. Inicia-se a era de autoria de fotos, capas, editoriais....Dirceu tambm passou a assinar os editoriais, por ele chamado de apresentao.

    O Conselho Editorial da Revista, sempre segundo Dirceu, democrtico e tem autonomia nas decises, no h censura. Muitos nomes permanecem desde os primrdios da revista, h 20 anos.

    As reunies de Conselho em que os trs temas do ano eram sugeridos ocorriam presencialmente; hoje Dirceu explica-nos que a virtualidade tambm tomou conta da revista. Muitos membros do Conselho, s tm como participar virtualmente. Dirceu pr-seleciona os textos e manda alguns para certos membros do Conselho, os que podem estar mais presentes naquele momento. Cada membro do Conselho fica o tempo que pode. O Conselho foi apresentado como soberano tanto na escolha dos temas como dos artigos. H casos de artigos de membros do Conselho serem rejeitados bem com de intelectuais renomados.

    Dirceu mostrou ainda muita clareza e autocrtica em relao repetio dos temas da Revista (talvez a proposta da revista temtica esteja chegando ao fim) e ao formato que se comunica com a necessidade, ainda que com toda autonomia da revista, de publicao dos acadmicos num mundo mediado tambm pelo fetiche da publicao.

    Consideraes Finais Revendo as hipteses inicias da pesquisa, pudemos constatar: A igreja brasileira assim como em diversos outros pases latino-americanos encontrou uma forma muito singular de agir nas dcadas de 60 e 70. A Teologia da Libertao orientava as discusses e prticas de uma parcela da Igreja. A criao do CEM e posteriormente o surgimento do SPM esto intimamente ligados Teologia. Tantos os depoimentos de Dirceu Cutti como os de Ary e Nelson revelam uma nostalgia desta Igreja combativa que acreditava numa transformao social. Foi a igreja

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    quem primeiro se debruou sobre a questo migratria e criou estratgias de luta e resistncia sem perder o vnculo com a eucaristia e com a necessidade e de se produzir estudos e pesquisas. Ao que parece, a Igreja tambm vive e viveu a crise pela qual passaram todas as instituies polticas reivindicatrias no final na dcada de 80. Segundo os entrevistados, j no se formam hoje mais padres que tenham este sonho de transformao, os novos padres podem ter uma orientao muito mais burguesa. Os depoimentos tambm revelaram que a atual gesto da CNBB tem um vnculo mais estreito com as orientaes da cria romana que encontra-se, nas ltimas dcadas, numa via mais reacionria.

    Entendermos este contexto fundamental para que leiamos com mais crtica a revista ao longo dos ltimos 20 anos

    No interior da prpria Igreja h uma ciso entre SPM e CEM. Enquanto a primeira parece estar mais interessada no trabalho pastoral supraparoquial e vinculada s lutas, o CEM estaria, desde a dcada de 90, mais envolvido na produo de conhecimento com vnculos acadmicos e mais ligada cria romana no seu intento de criar a pastoral da mobilidade humana que, com j exposto, aniquilaria o carter de denncia e da ao da pastoral do migrante tal como ainda se apresenta nos dias de hoje

    Dirceu apontou para um cenrio muito realista da dcada de noventa e incio desta nossa dcada: os pesquisadores so cada vez mais pressionados a publicar os resultados de suas investigaes, esta presso alimenta a revista que se aprimora na publicao de artigos que, espera-se, estejam em uma linguagem mais simplificada para alcanar um nmero mais de leitores.

    A revista portanto expe no somente as contradies no interior da prpria Igreja ao longo dos ltimos anos como tambm expe o campo acadmico no seu fetiche de excelncia.

    A qualidade de muitos artigos e sua histria tornam a revista de leitura obrigatria para os estudiosos da questo migratria.

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