Trecho de Escolha Sua Vida

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ESCOLHA SUA VIDA

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Confira o trecho do livro Escolha Sua Vida da autora Paula Abreu

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ESCOLHA SUA VIDA

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PAULA ABREU

ESCOLHA SUA VIDA

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Para Davi

“Não estar morto não é estar vivo.”

– e.e. cummings

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sumário

introdução 91. breve explicação ou não diga que eu não avisei! 102. agora sim, a introdução 123. “se você encontrar o Buda, mate-o.” (Mestre Linji) 15

parte i. como eu escolhi a minha vida 171. “despertencendo” em Paris 182. primeiros movimentos 223. o Universo sempre responde 254. meu momento “arrá” 295. o meu dia perfeito 33

parte ii. oi, quem é você? 371. qual é o seu propósito de vida? 402. quais são os seus valores? 453. o que sua mãe não lhe ensinou sobre ser feliz 51

parte iii. escolha sua vida 551. o que você quer ser antes de morrer? 58

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2. assuma a responsabilidade por não seguir seus sonhos 633. elimine as crenças negativas 68

parte iv. no meio do caminho tinha uma pedra 731. medo 762. procrastinação 923. falta de dinheiro 1034. falta de tempo 1135. críticas alheias 123

e agora? 133

gratidão 139

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introdução

“Sempre que você estiver do lado da maioria,

é hora de parar e refletir.”

– mark twain

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1. breve explicação ou não

diga que eu não avisei!

Cuidado! Este é um livro muito perigoso. Ele vai deixar

você incomodado, porque vai destruir todas as suas

desculpas para não estar vivendo hoje a vida que

gostaria. Vai provar que a responsabilidade por isso é toda

sua. Ao terminar de ler, você poderá ter vontade de largar o

emprego, terminar seu relacionamento, mudar de cidade, vi-

rar sua vida de cabeça para baixo.

Vou lhe contar como mudei a minha própria vida –

como escapei do mundo corporativo, aposentei meu carro,

me tornei mais saudável, criei mais tempo e felicidade para

mim. E vou fazer uma dancinha feliz sacudindo as mãozi-

nhas para o alto. Desculpe, não é por mal, mas eu não con-

sigo resistir!

Depois, quando você começar a dizer “Ah, mas você só

conseguiu porque era x, y, z, ou tinha x, y, z, ou podia x, y, z,

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só que EU não sou x, y, z, não tenho x, y, z, ou não posso x, y, z,

e nunca poderia fazer algo assim…”, vou apontar o dedo para

o seu nariz e mostrar que você não é uma vítima do mundo,

da sociedade, da família, do emprego chato. E vou provar-lhe

que você já tem todos os recursos de que precisa para dar o

primeiro passo em direção à mudança.

Você vai ver que, na verdade, escolheu cada uma das coi-

sas irritantes, chatas e frustrantes que existem na sua vida. E

que, a cada dia, refaz essas escolhas.

O lado bom (tinha que ter um!) é que, assim como a cada

dia você refaz – muitas vezes de forma inconsciente – as

escolhas que mantêm a sua vida exatamente do jeitinho que

ela é, também tem a chance de fazer escolhas diferentes. De

recomeçar. De mudar.

Só leia este livro se estiver disposto a seguir um novo cami-

nho, em vez de ficar sentado esperando que um super-herói

qualquer apareça para salvá-lo de sua própria vida.

Se estiver preparado para agarrar a segunda chance que

o mundo lhe dá todos os dias, repensar toda sua vida, des-

cobrir quem você é de verdade e escolher uma existência

mais autêntica e feliz, então este livro é para você.

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2.

agora sim, a introdução

Nos dias de hoje, existe uma epidemia global de des-

contentamento. De acordo com uma pesquisa re-

cente da Deloitte, uma companhia norte-americana

de consultoria empresarial, a maioria das pessoas entrevis-

tadas – oitenta por cento – está insatisfeita com o emprego

atual. Se você está lendo este livro, desconfio que faça parte

desse grupo e que exista algo que o incomode.

Ao mesmo tempo, no mundo todo, desponta um novo

movimento de pessoas que não se conformam mais com a

mediocridade de uma vida sem propósito. Elas acreditam

que o trabalho deve ser baseado em alegria, espírito de co-

munidade e contribuição.

E você – veja que sorte! – está vivo justamente agora e tem

a oportunidade de testemunhar uma das maiores – embora

silenciosa – revoluções que a história já viu.

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Quando a humanidade conseguir unir a descoberta do

eu interior com a ação exterior – o trabalho –, entraremos

numa nova fase. No momento em que isso acontecer, final-

mente haverá o encontro dos valores que têm sido alme-

jados de forma isolada pelo Oriente (a verdade, o mundo

interior) com os do Ocidente (o trabalho, a ação, o mundo

material).

A unificação desses valores será a grande revolução que

irá gerar uma nova forma de vida.

Aposto que, se você parar cinco minutos para pensar, vai

lembrar de algum conhecido que recentemente largou tudo

para seguir uma nova carreira, muitas vezes alternativa, e

está muito mais feliz e realizado.

Este não é um livro de autoajuda tradicio-

nal. Ele não vai lhe ensinar a fazer amigos,

ter sucesso, ganhar mais dinheiro, organizar

melhor a sua casa ou ser mais produtivo.

Também não vai ajudá-lo a se enquadrar no

conceito tradicional de sucesso e felicidade,

porque eu acredito que essa noção é falsa e

precisa ser destruída.

Se você não está totalmente feliz com a sua vida, já pensou

que talvez não seja você que tem um “problema” que precisa

de ajuda para resolver? Que talvez não seja você que tenha

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que “melhorar” para se enquadrar? Talvez só precise criar

uma vida nova.

Para isso, tem que descobrir mais sobre si mesmo, parar e

entender por que não está feliz e o que pode fazer para mudar

não a si mesmo, mas o mundo que o cerca.

Você só precisa escolher uma vida melhor.

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3. “se você encontrar o Buda,

mate-o.” (mestre linji)

“Se existe um caminho,

não é o seu caminho.”

– joseph campbell

Nessa jornada para escolher uma vida melhor, nunca

deixe que ninguém – nem mesmo eu! – diga o que

você deve querer, o que é ser bem-sucedido ou o

que é seguir a sua paixão.

Afinal, o que você quer? O que é sucesso para você? Quais

são as suas paixões? Enquanto não tiver as respostas a essas per-

guntas – e a tantas outras que encontrará ao longo deste livro –,

você não terá como criar as próprias regras ou a vida perfeita.

A beleza de escolher a própria vida é que só você pode fa-

zer isso. Cada um tem o direito e o dever de descobrir o pró-

prio conceito de felicidade.

Eu escrevo sobre o meu caminho, mas ele é meu. O obje-

tivo deste livro é motivá-lo a encontrar o seu caminho e es-

colher como quer levar a vida. Não sou sua mestra ou guru

nessa busca.

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Você é seu próprio mestre. Tudo o que precisa descobrir

já está dentro de você. Eu vou só segurar a lanterna enquan-

to você dá uma olhada no fundo da bolsa para achar suas

chaves.

Meu propósito é fazê-lo acordar, sair da inércia, motivá-lo

a fazer as perguntas certas a si mesmo. São perguntas que eu

mesma me fiz – algumas das quais ainda faço – no meu pro-

cesso de mudança. Em alguns momentos, posso até falar das

minhas conclusões, das respostas a que cheguei. Mas não se

espelhe nisso: encontre as suas próprias.

Procure grupos de discussão no Google, vídeos no YouTube,

leia blogs, crie um blog, descubra outros livros, conheça pes-

soas, crie o seu próprio exército, sua própria tribo, e comece

a própria revolução. Não espere que surja um mestre para lhe

dizer o que fazer. Não siga supostos mestres.

Seja o seu próprio mestre. Procure respostas para as suas perguntas. Só depende de você.

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parte i

como eu escolhi a minha vida

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1.

“despertencendo” em Paris

Aos 34 anos, eu finalmente estava em Paris. Em todas

as minhas fantasias sobre a cidade, nunca tinha me

imaginado chegando lá tão sozinha. Paris romântica.

Paris, a cidade do amor. A minha Paris era outra. Era a Paris

de quem está perdido. Paris da encruzilhada da minha vida.

Eu não pertencia àquela cidade, mas também não pertencia

a nenhum outro lugar.

Já estava tão perdida que talvez o segredo para me encon-

trar fosse justamente me perder por completo. Meu único

destino em Paris era eu mesma.

Menos de seis meses antes, tinha terminado um casa-

mento de quase dez anos, num divórcio complicado. Esta-

va fisicamente exausta e emocionalmente destruída, mas

havia decidido manter a viagem que tinha planejado com

meu ex.

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Ao longo dos seis meses anteriores, havia perdido metade

do meu dinheiro no divórcio, além da minha força e da minha

paz. Como se não bastasse, logo em seguida conseguira me

meter em um relacionamento problemático com um sujeito

que, ao brincar que um dia acabaria virando personagem de

um dos meus livros, se autobatizou “o Ignorantão”.

Antes da minha chegada a Paris, o Ignorantão tinha sido...

bem, ignorantão comigo em Londres. Lá também, meu en-

tão chefe, bêbado e depois de vomitar duas vezes nos meus

pés, havia me chamado carinhosamente de “loira burra”. Para

quem não me conhece, um esclarecimento: sou morena.

Minha autoestima já tinha visto dias melhores.

Fiquei em Paris uma semana. Sem falar francês, passei

dias inteiros sem dizer praticamente nada a ninguém. Quan-

do, em vez de ir à padaria da esquina pedir um croissant, eu

tomava o café da manhã no meu apartamento alugado, horas

e horas se passavam antes que eu pronunciasse a primeira

palavra do dia.

Nunca, em toda a minha vida, eu tinha ficado tão sozinha.

Cresci numa casa cheia, com meus pais e um casal de ir-

mãos, e casei duas vezes: a primeira aos 21 anos e a segunda

aos 25. Nunca tinha morado sozinha por mais de seis meses.

Nunca tinha viajado sozinha. Aquela foi uma experiência to-

talmente nova para mim.

Já a sensação de “despertencer” era antiga para mim. Nas-

cida no Rio de Janeiro, já havia vivido por um ano em Nova

York e por quatro em São Paulo. Em termos geográficos, já

não me sentia “em casa” em lugar algum.

Na vida profissional, também despertencia desde sempre.

Advogada, eu tinha feito parte de um grande escritório por

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treze anos e, na época da viagem a Paris, trabalhava para uma

multinacional fazia um ano. Apesar disso, nunca me sentira

bem no mundo corporativo. Dentro dele, me via como uma

extraterrestre, um camaleão que podia, com alguma facilida-

de, mudar de cor e passar despercebido, mas que no fundo

não pertencia àquela paisagem.

Eu já era escritora, com dois livros publicados, mas tinha

um filho pequeno para sustentar. Não via a menor possibili-

dade de escapar do mundo corporativo e viver de arte, ainda

que sentisse a cada dia que aquele ambiente aos poucos su-

gava minha alma e me transformava em alguém que eu não

reconhecia e não me orgulhava de ser.

Naquela semana em Paris, tive uma overdose de mim

mesma. Afoguei-me nos meus pensamentos. E senti uma fal-

ta absurda do meu filho. De repente me dei conta, um tanto

assustada, de que ele era a única coisa importante na minha

vida. Absolutamente tudo naquele ano tinha dado errado, e

não só erradinho, mas erradíssimo, como em um filme, com

dramalhão, bullying, muito choro e ranger de dentes. E as

perspectivas para o futuro não eram as melhores.

Pela primeira vez em minha existência, eu tinha chegado

ao fundo do poço e, exceto pelo relacionamento com o meu

filho, toda a minha vida estava ruindo. Eu podia ouvir o baru-

lho das rachaduras ficando cada vez maiores.

Naquele momento, percebi que o fundo do poço era liber-

tador: desde que eu e meu filho estivéssemos bem, com saú-

de e juntos, eu ficaria feliz. E isso era razoavelmente simples

de manter.

Com essa visão do que era de fato essencial para mim, veio

também uma revelação inesperada: todo o resto começou a

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me parecer supérfluo, dispensável. Voltei para casa com uma

sensação incômoda de que a vida era mais do que apenas fi-

car sentada em um escritório o dia inteiro e assistir os dias

passarem por mim. Tinha que existir algo maior!

Não queria mais construir a minha vida em

torno do meu trabalho, e sim o contrário.

Meu objetivo era construir o meu trabalho

em torno da vida que eu queria escolher vi-

ver. Ainda não via um caminho, mas sabia

que havia um.

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2.

primeiros movimentos

Voltei para o Brasil e resolvi que precisava fazer algu-

ma coisa. Não sabia para onde ir, mas tinha cons-

ciência de que precisava dar o primeiro passo. Tinha

que tomar alguma atitude para recuperar minha vida.

Comecei a conversar com um amigo publicitário sobre

montarmos uma agência de marketing. Ele já tinha um es-

critório, experiência e clientes. Era o mestre das imagens, en-

quanto eu dominava as palavras; ele morava em São Paulo e

eu no Rio – éramos a combinação perfeita. Antes do fim do

ano, escolhemos um nome e nos programamos para traba-

lhar naquele projeto no ano seguinte.

Aparentemente, tudo continuou igualzinho. Mas, olhan-

do para trás, sei que foi naquele momento, quando come-

cei a agir, que a minha vida começou a mudar, ainda que

nada do que eu planejei ali tenha se concretizado da forma

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que eu previa, e embora mil reviravoltas ainda estivessem

por acontecer antes que eu enfim chegasse aonde estou

hoje.

Ali, naquele momento, deixei claro para o Universo que eu

não aceitava mais uma vida sem propósito.

O novo ano começou e meu amigo desapareceu. Não fa-

lávamos mais da tal empresa, e era como se a ideia tivesse

morrido. Mas eu já estava no modo “movimento” e não podia

mais ficar parada. Então, quando uma amiga me perguntou

se eu tinha interesse em substituí-la como diretora jurídica

na multinacional em que ela trabalhava, eu disse que sim.

Qualquer mudança me parecia bem-vinda.

Ela estava prestes a se mudar para os Estados Unidos, bus-

cava uma sucessora e achava que eu me encaixaria bem na

vaga. Eu vi aquilo como uma possibilidade de recomeço –

uma nova empresa, com novas pessoas.

O processo seletivo ia bem quando, de repente, meu ami-

go publicitário ressurgiu das cinzas. Numa segunda-feira de

abril, ele me ligou, superentusiasmado:

– Nossa empresa está bombando! Já temos quatorze clien-

tes aqui em São Paulo! Chegou a hora de você começar a to-

car a sede do Rio!

– Como assim? – perguntei, totalmente surpresa com o

reaparecimento dele, e com novidades tão incríveis.

Então ele me explicou que vinha trabalhando no projeto

desde o começo do ano, que tinha conseguido fechar negó-

cio com um grupo de investidores responsável por uma série

de restaurantes em São Paulo e no Rio, que já tinha, inclusi-

ve, montado uma sede para a empresa no bairro dos Jardins.

Pelo jeito, já tínhamos até uma funcionária.

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Pegar no sono naquele dia foi complicado. Fiquei olhan-

do para o teto e pensando que não conseguiria conduzir por

muito tempo uma empresa em paralelo com meu emprego

atual. Dez anos antes, já tinha montado uma editora e, depois

de um período, havia constatado que era impossível viver a

vida de empresária e de empregada simultaneamente.

Por outro lado, não podia parar de trabalhar. Tinha um

filho e, sobretudo depois de ter perdido metade do meu di-

nheiro no divórcio, não podia me dar ao luxo de ficar sem ga-

nhar nada. Precisava permanecer no emprego ao menos até

que a empresa nova começasse a gerar alguma receita.

Eu continuei presa ao mundo corporativo.

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3.

o Universo sempre responde

No dia seguinte, fui para o trabalho normalmente.

Logo depois do almoço, meu chefe foi à minha mesa

e perguntou se eu tinha um tempinho.

– Claro – respondi.

Peguei meu laptop e o segui até uma sala de reuniões.

Chegando lá, vi a diretora de recursos humanos já acomoda-

da. Alguma confusão grande devia estar acontecendo.

Então, meu chefe começou um discurso pronto que não

durou mais que cinco minutos:

– Bom, como você sabe, a empresa está passando por uma

reestruturação e algumas posições estão sendo extintas. A

sua é uma delas.

Pá!

– A empresa está oferecendo um pacote para todos os fun-

cionários que estão sendo desligados, blá-blá-blá, eu sinto

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muito, blá-blá-blá, a fulana do RH está aqui para lhe expli-

car como vai ser o seu pacote, blá-blá-blá, o seu computador

já está desconectado da rede da empresa, blá-blá-blá, você

pode pedir ao pessoal da informática para fazer backup do

que vai precisar, blá-blá-blá... – continuou ele.

Eu já não estava mais ouvindo.

Não voltei mais à minha mesa. Na própria sala de reu-

niões, entreguei as chaves do carro da empresa, o BlackBerry

e o laptop. Uma colega de trabalho pegou minha bolsa e algu-

mas coisas pessoais, e o resto seria entregue depois na minha

casa por um funcionário.

Meu coração flutuava dentro do peito.

Depois de quinze anos no mundo corporativo, depois de

um mestrado numa universidade estrangeira, depois de ter

sido apontada por uma respeitável publicação internacional,

no ano anterior, como um dos talentos em destaque no Bra-

sil, eu estava sendo chutada para fora junto com um monte

de gente. Era apenas mais uma.

Por um lado, embora eu conhecesse muito bem todas as

variáveis que tinham levado àquele momento, meu ego es-

tava mortalmente ferido, e ainda demoraria um tempo para

que eu percebesse que o que acontecera tinha sido uma enor-

me bênção. Por outro lado, em termos práticos, era inegável a

minha sorte – eu recebi uma polpuda indenização para fazer

exatamente o que queria – cair fora.

Tinha passado a noite anterior inteira acordada pensando

em como poderia escapar daquele mundo sem ter dinheiro,

e ali estava, naqueles papéis na mão da moça do RH, a res-

posta do Universo à minha pergunta.

Apesar do ego destroçado, senti-me ao mesmo tempo

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inexplicavelmente feliz. Naquela noite, saí com dois amigos

para beber cerveja e comer pastéis. Enquanto eles se preocu-

pavam com o meu futuro, eu sabia – ainda que não entendes-

se muito bem como – que tinha tirado a sorte grande.

No dia seguinte, fui à praia e fiquei olhando o mar. Se aceitas-

se uma vaga em outra multinacional, em um cargo com ainda

mais responsabilidade e poder, seria “um novo começo”, e eu me

empolgaria por algum tempo com as novas pessoas e funções.

Mas, certamente, após alguns meses, estaria entediada e infeliz.

Enquanto isso, compraria um carro novo, roupas novas,

um computador novo, novas geringonças tecnológicas. E fi-

caria ainda mais presa à vida da qual queria fugir.

Comecei a fazer contas e pensar nas alternativas. O di-

nheiro da indenização me permitiria ficar uns bons meses

sem receber nada, tentando algo diferente. A mera possibi-

lidade de abandonar aquele mundo, ainda que por ora, me

deu uma sensação indescritível de liberdade.

Mas e se desse tudo errado? Como eu poderia pagar por

todo o conforto a que estava acostumada? Como seria capaz

de manter aquele padrão de vida?

Naquele instante, tive meu primeiro momento de clareza:

todo aquele conforto e aqueles bens mate-

riais não me faziam feliz. Eu não precisava

de nada daquilo. Ter sido até então bem-

-sucedida naquele universo não havia me

trazido realização alguma. Tinha me dado

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independência financeira, claro, e muitas

posses, mas a um preço que eu não estava .

Passei então a repensar, ali sobre a areia da praia, todas as

minhas conquistas materiais. Foi ficando cada vez mais claro

que eu podia viver muito bem sem nada daquilo – ou com

muito menos – e ainda assim me sentir muito mais satisfeita.

Morar em um apartamento enorme com uma vista des-

lumbrante, andar em um carro zero imenso, usar produtos de

grife, entrar no shopping e poder comprar qualquer coisa sem

sequer perguntar o preço, nada disso era para mim. Não mais.

Eu tinha aprendido, no fundo do poço, o que era essen-

cial na minha vida: eu e meu filho juntos, com saúde. Se des-

se tudo errado, mas tudo mesmo, eu me mudaria para uma

cidadezinha no interior do Nordeste, pagaria um aluguel

irrisório, seria garçonete num restaurante de pescadores,

matricularia meu filho numa escola pública e continuaría-

mos sendo muito felizes.

Levantei e andei até a arrebentação. Fiz uma pequena pre-

ce agradecendo ao Universo por todas as minhas experiên-

cias até então, por todas as pessoas maravilhosas que tinha

conhecido enquanto trabalhara como advogada, por todas as

oportunidades que me tinham sido dadas e por tudo o que

havia aprendido, especialmente sobre mim mesma.

Uma onda bateu no meu pé. Naquele momento, me des-

pedi de toda uma vida e enterrei a Paula advogada nas areias

da praia.

Page 26: Trecho de Escolha Sua Vida

4.

meu momento “arrá”

“O sentido da vida é a felicidade.”

– dal ai l ama

Alguns dias depois, criei uma página no Facebook

e comecei a escrever sobre todas as minhas novas

escolhas, as mudanças na minha vida: não advogar

mais; não ter mais um carro; me alimentar melhor; correr

todos os dias. Enfim, falei sobre minha opção de levar uma

vida mais simples e mais feliz.

Nos meses seguintes, vi aquela página florescer e crescer

rápido. Em paralelo, eu realizava alguns trabalhos de pesqui-

sa e redação com meu sócio na agência de publicidade. Era

um trabalho criativo e gostoso de fazer, e eu não me sentia

vendendo minha alma ao diabo. Mas meu maior prazer era

escrever e interagir com meus leitores.

De repente, me dei conta de que tinha caído mais uma vez

na armadilha: a agência era o meu “emprego”, o meu traba-

lho, a resposta que eu dava quando alguém me perguntava

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o que estava fazendo da vida. Escrever continuava a ser só

uma atividade paralela que eu podia ou não realizar quando

tivesse tempo livre.

Eu amava o que escrevia, me emocionava diariamente

com as mensagens dos leitores contando que algo na pági-

na tinha tocado a vida deles, feito-os pensar, inspirado mu-

danças. Eu respondia a essas mensagens, dava conselhos,

ajudava quem parecia estar na mesma situação que eu um

ano antes: preso e infeliz no mundo corporativo, em busca

de uma saída.

Vi que era isso que eu queria fazer. Todos os dias. O tempo

todo.

Tinha passado a vida inteira querendo ser escritora. Mas,

mesmo já tendo publicado dois livros, nunca tinha me sen-

tido tão realizada como naquele momento. Minha primei-

ra obra, um romance, tinha sido elogiada por ídolos meus,

como Millôr Fernandes. Eu adorava o que tinha criado, mas

ao me perguntarem quando eu escreveria o próximo livro, eu

respondia: “Quando tiver outra história para contar.” Eu sabia

que meu romance tinha tocado a vida de várias pessoas, mas

ainda não era exatamente o que eu queria.

Meu segundo livro, sobre adoção, era um misto de manual

e relato biográfico. Toda semana eu recebia mensagens de

futuras mães adotivas me agradecendo e dizendo quanto a

obra as tinha ajudado a aplacar a ansiedade durante o perío-

do de espera por um filho. Apesar de ver que o que eu tinha

escrito de fato podia ajudar outras pessoas, também ainda

não era o que eu queria.

O que eu escrevia agora, na página do Facebook, motivava e

ajudava meus leitores a pensar, a refletir e a mudar. Então tive

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o meu momento “arrá”, como diria Oprah Winfrey: era aquilo

que eu desejava, aquele era o meu emprego dos sonhos!

O único problema é que era um emprego que não existia.

Mas algo assustador tinha acontecido. Ago-

ra que eu tinha descoberto quem era, não

podia ser nada menos que aquilo. Não po-

dia não fazer o que queria. Preferiria mor-

rer, porque viver qualquer outra coisa não

faria mais sentido.

Ao mesmo tempo, essa revelação era também libertadora.

Porque, se eu preferiria morrer a não fazer o que desejava, o

fato de aquele meu emprego dos sonhos não existir não tinha

mais nenhuma importância. Eu precisava dar um jeito, por-

que tinha virado uma questão de vida ou morte.

Se não existia um caminho, então eu viraria o Rambo, mor-

deria uma faca e abriria um caminho, nem que fosse na marra.

Comecei a pesquisar dia e noite sobre outras pessoas que

tinham abandonado o mundo corporativo para viver do que

amavam. Passei a estudar tudo sobre negócios, empreende-

dorismo, estratégia digital, marketing on-line, e-books, e-

-commerce, multipotencialidade, nômades digitais.

Cada vez que descobria alguém, em algum lugar do mun-

do, que tinha conseguido abrir o próprio caminho e criar seu

emprego dos sonhos, meu coração ficava num misto de entu-

siasmo e paz. Eu sabia que também conseguiria. Ao contrário

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do que sempre tinha ouvido de todo mundo – e acreditado –,

não, não era impossível.

Investi meu tempo e meu dinheiro em livros e cursos que

mostravam a trajetória que outros haviam percorrido para

chegar aonde eu também queria chegar. Juntei um time de

pessoas extremamente competentes para transformar o meu

plano em realidade.

Continuei escrevendo textos em que abria meu coração

por completo, contava as minhas mais profundas – e algu-

mas recém-descobertas – verdades e dividia tudo o que es-

tava aprendendo sobre ter uma vida alternativa. A cada texto

novo, centenas de novos leitores se juntavam à minha tribo.

Pouco tempo depois, de forma espontânea e orgânica, me

vi dando sessões de coaching. O que começou com amigos

e leitores pedindo ajuda e conselhos sobre como descobrir

suas paixões e transformar suas vidas – e também com al-

guns leitores a quem tomei a iniciativa de oferecer ajuda, por

ter me interessado pelas suas histórias e pelo seu potencial

– passou a atrair gente que eu não conhecia e que chegava a

mim pelos mais variados caminhos, pessoas incríveis cujas

histórias me inspiram todos os dias.

Foi assim que, poucos meses depois de abandonar minha

carreira, ganhei o meu primeiro dinheiro como não advogada.

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