Primeiro capítulo do livro "Guia Politicamente Incorreto do Futebol"
Trecho Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil
-
Upload
guiaincorreto -
Category
Documents
-
view
226 -
download
0
Transcript of Trecho Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil
-
8/7/2019 Trecho Guia Politicamente Incorreto da Histria do Brasil
1/10
-
8/7/2019 Trecho Guia Politicamente Incorreto da Histria do Brasil
2/10
ndios 13
sumrio
prefcio
ntroduo
ndio
ero
critore
sama
guerra do parauai
leijadinho
cresanto umont
mrio
omunita
bilioraa
ndice
15
21
28
76
110
140
170
200
220
242
268
292
343
355
-
8/7/2019 Trecho Guia Politicamente Incorreto da Histria do Brasil
3/10
guiapoliticamenteincorretodahistriadobrasil268
-
8/7/2019 Trecho Guia Politicamente Incorreto da Histria do Brasil
4/10
269comunistas
-
8/7/2019 Trecho Guia Politicamente Incorreto da Histria do Brasil
5/10
-
8/7/2019 Trecho Guia Politicamente Incorreto da Histria do Brasil
6/10
elogiomonarquia
se voc teve um profeor ranzinza na aula de
histria da escola, deve ter aprendido a se envergonhar
do Brasil do sculo 19. Enquanto revolucionrios e li-
bertadores de boa parte do mundo travavam batalhas he-
roicas e conseguiam se livrar das garras das elites e dos
pases colonialistas, por aqui no aconteceu nada, nada:
camos sempre no quase. As revoltas populares quase
deram certo, mas foram sufocadas; os heris quase ven-
ceram, mas foram perseguidos e mortos. As mudanas
que aconteceram foram todas de cima para baixo, com
pouca participao do povo. Fomos o ltimo pas a abo-
lir a escravido, o ltimo a proclamar a Repblica. At
a Independncia decepciona, j que foi proclamada pelo
prprio prncipe do reino portugus no Brasil. Quando o
professor revelava esse passado montono, baixvamos a
cabea desanimados com a histria nacional. Mal imagi-
-
8/7/2019 Trecho Guia Politicamente Incorreto da Histria do Brasil
7/10
-
8/7/2019 Trecho Guia Politicamente Incorreto da Histria do Brasil
8/10
imprio 273
do brasileiro de deixar as coisas como esto. Os mais in-
uentes deputados, senadores, ministros e conselheiros do
Estado eram to idealistas quanto os libertadores da Am-
rica, mas de uma ideologia que desprezava revolues, mu-
danas bruscas e atos heroicos contrrios realidade. Num
livro j clssico, A Construo da Ordem, o historiador Jos
Murilo de Carvalho revelou o perl comum dos polticos
e magistrados daquela poca. A maioria deles tinha uma
formao prossional e ideolgica muito parecida: erambacharis formados na Universidade de Coimbra, um dos
polos do pensamento conservador da Europa.
No m do sculo 18 e comeo do sculo 19, quem
quisesse ser poltico, advogado, juiz ou funcionrio p-
blico de um bom escalo tinha que estudar fora do Bra-
sil. Como ainda no havia faculdades de direito por aqui
(as primeiras, de So Paulo e Olinda, so de 1828), qua-
se todos os jovens mais ricos se mudavam para Portugal.
Entre 1822 e 1831, todos os ministros brasileiros que ti-
nham educao superior haviam estudado em Portugal
72% deles em Coimbra. Enquanto as teorias amejantes
que motivaram a Revoluo Francesa tomavam o mundo,
a Universidade de Coimbra tentava manter seus alunos
distncia das ideias libertrias da moda. Coimbra foi
particularmente ecaz em evitar contato mais intenso de
seus alunos com o Iluminismo francs, politicamente pe-
rigoso, arma Jos Murilo de Carvalho em A Construo
da Ordem.2 Era preciso contrabandear livros de Voltaire e
Rousseau, pois a universidade os proibia. O iluminismo
propagado em Coimbra era mais comedido e cauteloso. Os
estudantes liam Adam Smith, o pai do liberalismo econ-
mico, e Edmund Burke, o pai do conservadorismo britni-
-
8/7/2019 Trecho Guia Politicamente Incorreto da Histria do Brasil
9/10
guiapoliticamenteincorretodahistriadobrasil274
co dois autores que foram traduzidos para o portugus
por Jos da Silva Lisboa, o viconde de airu.
No Segundo Reinado, ex-alunos de Coimbra se torna-
ram os cabeas do Partido Conservador, o principal partido
do Imprio. Os polticos do grupo saquarema se inspiravam
nos grandes tericos do conservadorismo para fundamen-
tar a misso de evitar revolues e o caos no Brasil. O vis-
conde de Uruguai, que foi deputado, senador, ministro e
conselheiro de dom Pedro II, acreditava que era precisoempregar todos os meios para salvar o pas do esprito re-
volucionrio, porque este produz a anarquia, e a anarquia
destri, mata a liberdade, a qual somente pode prosperar
com a ordem.3 Bernardo Pereira de Vasconcelos, o mais sar-
cstico e inuente orador do Parlamento brasileiro e autor
do Cdigo Criminal de 1830, no tinha vergonha de dizer
que vinha da classe dos capitalistas, dos negociantes, dos
homens industriosos, dos que se do com anco s artes e
cincias: daqueles que nas mudanas repentinas tm tudo a
perder, nada a ganhar.4
Criou-se assim um ambiente em que era deselegante
e infantil pregar revolues e reformas radicais. Havia um
consenso, mesmo entre os polticos brasileiros de grupos ini-
migos, que mudanas, se necessrias, deveriam passar por
um processo lento e gradual, sem sobressaltos e traumas,
garantindo liberdades individuais. A maioria dos polticos
tanto era contra o Antigo Regime (em que o rei tinha poder
absoluto nas decises), mas ningum defendia revolues
que cortassem a cabea dos padres e dos reis e resultassem
em caos da economia e terror entre os cidados, como acon-
teceu na Frana a partir de 1789.Buscavam mudanas ino-
vadoras, mas ao mesmo tempo queriam conservar o esprito
airu foi o homem que
aconselhou domJoo VI, quando
este chegou Bahia,
a abrir os portos
brasileiros s
naes amigas.
ee ponto de vita,
a monarquia teve
para o sculo 19 o
mesmo papel da
ditadura militar no
sculo 20: evitar
que baixarias
ideolgicas
instaurassem
o caos entre
os cidados.
-
8/7/2019 Trecho Guia Politicamente Incorreto da Histria do Brasil
10/10
imprio 275
das antigas estruturas econmico-sociais, explica a histo-
riadora Lcia Bastos Pereira das Neves no livro Corcundas e
Constitucionais, outro clssico sobre a mentalidade poltica
daquela poca.5 No meio do caminho entre as reformas e a
necessidade de manter a tradio, esses polticos so cha-
mados hoje de liberais-conservadores.6
Aqueles homens participaram de uma escolha cons-
ciente, um projeto bem pensado e posto em prtica para
manter a unidade do Brasil e moderniz-lo sem correr o ris-co de entreg-lo a aventureiro a cavalo. No que tenham so-
lucionado os problemas do pas ou cado livres de picare-
tagens e privilgios, como a nomeao de amigos e parentes
a deliciosos cargos pblicos. Mas o Imprio teve virtudes
que so frequentemente esquecidas, ao mesmo tempo em
que alvo de acusaes injustas e da viso simplista de que
teria atendido somente a interesses da elite. Por mais fora
de moda que isso parea, preciso defender a poltica da
poca. A seguir, trs defesas a ataques comuns que se fazem
monarquia no Brasil.
aacusao:obrasilfoiumdosltimospasesdaamricaavirarrepblica
adefesa:amonarquiabrasileiraeramaisrepublicanaqueasrepblicasvizinhas
No m de 1889, quando um grupo de militares li-
derado pelo marechal Deodoro da Fonseca proclamou a
Repblica e mandou a famlia real embora do Brasil, os
observadores mais atentos dos pases vizinhos entende-
ram muito bem o que a mudana signicava. Rojas Pal,
presidente da Venezuela, resumiu a queda da monarquia
iferentemente do
heris bravos e
fortes do resto da
Amrica Latina,
muitos dos polticos
imperiais eram
velhos curvados e
doentes. Dois deles,
Bernardo Pereira de
Vasconcelos e opadre Feij,
tinham problemas
de locomoo.
Discutiam no
Parlamento
esticando-se numa
cadeira de rodas.