Trecho Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil

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    ndios 13

    sumrio

    prefcio

    ntroduo

    ndio

    ero

    critore

    sama

    guerra do parauai

    leijadinho

    cresanto umont

    mrio

    omunita

    bilioraa

    ndice

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    elogiomonarquia

    se voc teve um profeor ranzinza na aula de

    histria da escola, deve ter aprendido a se envergonhar

    do Brasil do sculo 19. Enquanto revolucionrios e li-

    bertadores de boa parte do mundo travavam batalhas he-

    roicas e conseguiam se livrar das garras das elites e dos

    pases colonialistas, por aqui no aconteceu nada, nada:

    camos sempre no quase. As revoltas populares quase

    deram certo, mas foram sufocadas; os heris quase ven-

    ceram, mas foram perseguidos e mortos. As mudanas

    que aconteceram foram todas de cima para baixo, com

    pouca participao do povo. Fomos o ltimo pas a abo-

    lir a escravido, o ltimo a proclamar a Repblica. At

    a Independncia decepciona, j que foi proclamada pelo

    prprio prncipe do reino portugus no Brasil. Quando o

    professor revelava esse passado montono, baixvamos a

    cabea desanimados com a histria nacional. Mal imagi-

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    do brasileiro de deixar as coisas como esto. Os mais in-

    uentes deputados, senadores, ministros e conselheiros do

    Estado eram to idealistas quanto os libertadores da Am-

    rica, mas de uma ideologia que desprezava revolues, mu-

    danas bruscas e atos heroicos contrrios realidade. Num

    livro j clssico, A Construo da Ordem, o historiador Jos

    Murilo de Carvalho revelou o perl comum dos polticos

    e magistrados daquela poca. A maioria deles tinha uma

    formao prossional e ideolgica muito parecida: erambacharis formados na Universidade de Coimbra, um dos

    polos do pensamento conservador da Europa.

    No m do sculo 18 e comeo do sculo 19, quem

    quisesse ser poltico, advogado, juiz ou funcionrio p-

    blico de um bom escalo tinha que estudar fora do Bra-

    sil. Como ainda no havia faculdades de direito por aqui

    (as primeiras, de So Paulo e Olinda, so de 1828), qua-

    se todos os jovens mais ricos se mudavam para Portugal.

    Entre 1822 e 1831, todos os ministros brasileiros que ti-

    nham educao superior haviam estudado em Portugal

    72% deles em Coimbra. Enquanto as teorias amejantes

    que motivaram a Revoluo Francesa tomavam o mundo,

    a Universidade de Coimbra tentava manter seus alunos

    distncia das ideias libertrias da moda. Coimbra foi

    particularmente ecaz em evitar contato mais intenso de

    seus alunos com o Iluminismo francs, politicamente pe-

    rigoso, arma Jos Murilo de Carvalho em A Construo

    da Ordem.2 Era preciso contrabandear livros de Voltaire e

    Rousseau, pois a universidade os proibia. O iluminismo

    propagado em Coimbra era mais comedido e cauteloso. Os

    estudantes liam Adam Smith, o pai do liberalismo econ-

    mico, e Edmund Burke, o pai do conservadorismo britni-

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    co dois autores que foram traduzidos para o portugus

    por Jos da Silva Lisboa, o viconde de airu.

    No Segundo Reinado, ex-alunos de Coimbra se torna-

    ram os cabeas do Partido Conservador, o principal partido

    do Imprio. Os polticos do grupo saquarema se inspiravam

    nos grandes tericos do conservadorismo para fundamen-

    tar a misso de evitar revolues e o caos no Brasil. O vis-

    conde de Uruguai, que foi deputado, senador, ministro e

    conselheiro de dom Pedro II, acreditava que era precisoempregar todos os meios para salvar o pas do esprito re-

    volucionrio, porque este produz a anarquia, e a anarquia

    destri, mata a liberdade, a qual somente pode prosperar

    com a ordem.3 Bernardo Pereira de Vasconcelos, o mais sar-

    cstico e inuente orador do Parlamento brasileiro e autor

    do Cdigo Criminal de 1830, no tinha vergonha de dizer

    que vinha da classe dos capitalistas, dos negociantes, dos

    homens industriosos, dos que se do com anco s artes e

    cincias: daqueles que nas mudanas repentinas tm tudo a

    perder, nada a ganhar.4

    Criou-se assim um ambiente em que era deselegante

    e infantil pregar revolues e reformas radicais. Havia um

    consenso, mesmo entre os polticos brasileiros de grupos ini-

    migos, que mudanas, se necessrias, deveriam passar por

    um processo lento e gradual, sem sobressaltos e traumas,

    garantindo liberdades individuais. A maioria dos polticos

    tanto era contra o Antigo Regime (em que o rei tinha poder

    absoluto nas decises), mas ningum defendia revolues

    que cortassem a cabea dos padres e dos reis e resultassem

    em caos da economia e terror entre os cidados, como acon-

    teceu na Frana a partir de 1789.Buscavam mudanas ino-

    vadoras, mas ao mesmo tempo queriam conservar o esprito

    airu foi o homem que

    aconselhou domJoo VI, quando

    este chegou Bahia,

    a abrir os portos

    brasileiros s

    naes amigas.

    ee ponto de vita,

    a monarquia teve

    para o sculo 19 o

    mesmo papel da

    ditadura militar no

    sculo 20: evitar

    que baixarias

    ideolgicas

    instaurassem

    o caos entre

    os cidados.

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    das antigas estruturas econmico-sociais, explica a histo-

    riadora Lcia Bastos Pereira das Neves no livro Corcundas e

    Constitucionais, outro clssico sobre a mentalidade poltica

    daquela poca.5 No meio do caminho entre as reformas e a

    necessidade de manter a tradio, esses polticos so cha-

    mados hoje de liberais-conservadores.6

    Aqueles homens participaram de uma escolha cons-

    ciente, um projeto bem pensado e posto em prtica para

    manter a unidade do Brasil e moderniz-lo sem correr o ris-co de entreg-lo a aventureiro a cavalo. No que tenham so-

    lucionado os problemas do pas ou cado livres de picare-

    tagens e privilgios, como a nomeao de amigos e parentes

    a deliciosos cargos pblicos. Mas o Imprio teve virtudes

    que so frequentemente esquecidas, ao mesmo tempo em

    que alvo de acusaes injustas e da viso simplista de que

    teria atendido somente a interesses da elite. Por mais fora

    de moda que isso parea, preciso defender a poltica da

    poca. A seguir, trs defesas a ataques comuns que se fazem

    monarquia no Brasil.

    aacusao:obrasilfoiumdosltimospasesdaamricaavirarrepblica

    adefesa:amonarquiabrasileiraeramaisrepublicanaqueasrepblicasvizinhas

    No m de 1889, quando um grupo de militares li-

    derado pelo marechal Deodoro da Fonseca proclamou a

    Repblica e mandou a famlia real embora do Brasil, os

    observadores mais atentos dos pases vizinhos entende-

    ram muito bem o que a mudana signicava. Rojas Pal,

    presidente da Venezuela, resumiu a queda da monarquia

    iferentemente do

    heris bravos e

    fortes do resto da

    Amrica Latina,

    muitos dos polticos

    imperiais eram

    velhos curvados e

    doentes. Dois deles,

    Bernardo Pereira de

    Vasconcelos e opadre Feij,

    tinham problemas

    de locomoo.

    Discutiam no

    Parlamento

    esticando-se numa

    cadeira de rodas.