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Treinador Michael Lewis apresentação e posfácio de bernardinho

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TreinadorMichael Lewis

apresentação e posfácio debernardinho

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Para Quinn e Dixie

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na vida como no esporte

Este é o segundo título da coleção Na Vida Como no Esporte, organizada pelo técnico da seleção

brasileira masculina de voleibol, Bernardinho. Com o objetivo de revelar os princípios e valores pelos quais grandes atletas e treinadores pautaram suas trajetó-rias, a série teve início com Nunca deixe de tentar, um depoimento de Michael Jordan sobre a busca pela excelência.

Cada livro traz lições simples e diretas daqueles que lideraram suas equipes nas batalhas esportivas e nos momentos de decisão ou tiveram atuações im-portantes mesmo como meros participantes, sendo considerados heróis e muitas vezes – por que não? – até mesmo vilões.

A maneira como valorizam o processo de prepa-ração, a importância que dão ao verdadeiro espírito

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de equipe, o modo como lidam com a derrota e re-sistem às armadilhas do sucesso e, principalmente, a determinação permanente, sua principal virtude, são fundamentais para quem deseja encontrar o caminho do sucesso.

Esses grandes personagens tiveram a coragem de fazer a coisa certa, não visaram à sua conveniência nem cederam às mínimas transgressões. Entenderam que a coragem não é a ausência do medo e que as difi -culdades podem ser usadas como fonte de motivação e percebidas como oportunidades.

A coleção trará ainda nomes como John Wooden, Vince Lombardi, Bobby Knight e muitos outros – personalidades bastante diferentes, de várias mo-dalidades de esporte, que vão nos guiar por viagens emocionantes.

Suas experiências, no entanto, transcendem o mundo esportivo e são úteis em diversas áreas da vida profi ssional e pessoal.

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apresentação

Para o segundo livro da série Na Vida Como no Esporte, escolhemos a história do temido

Treinador Fitz, técnico de beisebol de uma pequena escola de Nova Orleans, nos Estados Unidos. Embora desconhecido do público em geral, Fitz reúne todas as virtudes de um grande líder.

A inspiradora trajetória do Treinador é contada por um ex-aluno que teve sua vida transformada pelas lições que aprendeu com o mestre. O jovem confuso, que vivia arrumando encrenca com os professores, hoje é o renomado jornalista Michael Lewis, autor de vá-rios livros de sucesso, entre eles The Blind Side, que foi adaptado para o cinema com o título Um sonho possível e rendeu a Sandra Bullock o Oscar de Melhor Atriz.

Não é de hoje que admiro o trabalho de Lewis. Seu livro Moneyball (O jogo do dinheiro), que fala de

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B e r n a r d i n h o

um time americano de beisebol que conseguiu resul-tados impressionantes com um pequeno orçamento, foi importante na minha formação ao mostrar um método inovador de garimpar talentos.

Treinador, por sua vez, é a história de um verda-deiro professor e sua missão: transformar e preparar jovens por meio dos valores do esporte. Ao relembrar seus tempos de jogador sob o comando do temido Fitz, Lewis demonstra respeito e gratidão eternos por tudo aquilo que mais tarde percebeu que o técnico representara para a sua vida e a de tantos outros ex- -alunos.

Durão e extremamente dedicado, Fitz exigia de seus atletas um absoluto comprometimento com sua equipe e seus objetivos. Trabalhava para incutir nos jovens o valor da disciplina, que é “a ponte que liga nossos sonhos às nossas realizações”, como bem disse o jogador de futebol americano Pat Tillman.

O Treinador Fitz acreditava na preparação per-manente e na perseverança como ingredientes funda-mentais para se atingir o sucesso. Ele provocava e ins-tigava seus garotos para que não se acomodassem nem desistissem diante dos desafi os, citando sempre uma frase do treinador de beisebol Lou Piniella: “Aquele

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A p r e s e n ta ç ã o

que não sabe se sentir à vontade com o fato de não estar à vontade nunca será um competidor forte.”

Com a visão privilegiada de quem foi personagem da história e não mero narrador, Michael Lewis des-creve com sensibilidade a complexa relação de Fitz e seus comandados, marcada por difi culdades, incom-preensão e muitas vezes o tardio reconhecimento.

Em uma de suas conversas com o autor, Fitz re-vela que é um líder movido por uma enorme paixão e dotado de uma esperança infi nita. Mesmo enfren-tando sérios problemas com uma equipe repleta de jogadores mimados, indisciplinados e com resultados medíocres, o treinador não hesitou em dizer que ainda acreditava em seu grupo: “Nunca podemos desistir de um time. Da mesma forma que não desistimos de um garoto. Mas vai dar trabalho...”

Com verdadeiras lições do jogo da vida, Trei-

nador é um pequeno livro com uma grande his-tória, voltado para pais, professores, treinadores, líderes, jovens atletas e todos aqueles que buscam exemplos inspiradores que os motivem a seguir em busca da excelência e da evolução constante.

Bernardinho

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Treinador Fitz: exemplo de dedicação e perseverança.

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Quando eu tinha 12 anos, não entendia nada dos confl itos mundiais que lia nas manche-

tes. Achava que minha calça dourada era o máximo. Mantinha sempre debaixo da cama um saco enorme de biscoitos de chocolate para que estivessem ao meu alcance numa emergência – uma enchente ou um fu-racão, talvez. Aos 43 anos, portanto a uma distância segura, “12” parece mais uma doença do que uma ida-de, e consegui me livrar de quase todas as lembranças dessa época – não dos acontecimentos e das pessoas, mas dos sentimentos que davam sentido a eles. Mas há algumas exceções. Algumas poucas pessoas e ex-periências simplesmente se recusam a ser banalizadas pela passagem do tempo.

Existem professores que têm um dom raro de entrar na mente de uma criança. É como se esse dom

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por si só lhes desse o direito de permanecer lá dentro para sempre. Tive um professor como esses. Seu nome era Billy Fitzgerald, mas todo mundo o chamava de Treinador Fitz.

Esquecer Fitz seria impossível – e logo vou ex-plicar por quê –, mas evitá-lo teria sido um alívio. E por cerca de 30 anos quase não tive contato com ele nem com a escola onde ele foi meu treinador, a Isidore Newman. Mas, no ano passado, ouvi duas notícias a seu respeito que, somadas, fi zeram com que ele me parecesse algo até então impensável: um mistério.

A primeira chegou até mim na primavera passada, quando David Pointer, um de seus antigos jogadores, teve a ideia de reformar o velho ginásio da escola e ba-tizá-lo de Treinador Fitz. Pointer, hoje com 44 anos e trabalhando como especialista em fi nanças, começou a telefonar para todo mundo e descobriu que centenas de antigos jogadores e seus pais compartilhavam do mesmo entusiasmo pelo ex-técnico, e o dinheiro co-meçou a entrar. “O que mais ouvi dos pais foi que Fitz fazia todo o trabalho duro”, disse Pointer.

Então veio a segunda notícia: durante a tempora-da de verão de beisebol, Fitz fi zera um discurso para seus atuais jogadores da Escola Newman. Aquela tinha sido uma temporada longa e deprimente: os ga-

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rotos, que durante o ano conquistaram o campeonato estadual de beisebol da Louisiana, haviam perdido o interesse. Fitz foi fi cando cada vez mais chateado com eles, até que, depois da fi nal, começou a andar pela sala, explicando o que havia de errado com cada um. Um jogador tinha faltado ao treino e dado uma jus-tifi cativa falsa; outro culpava todo mundo, menos a si mesmo, por seu fracasso; um terceiro desperdiçara seu talento correndo atrás de uma vida fácil; um quarto havia concordado antes das férias em perder sete qui-los e em vez disso ganhara cinco. Os garotos voltaram para casa e reclamaram de Fitz para a família. Os pais de oito alunos – metade do time de beisebol – apre-sentaram queixa ao diretor. Vários deles queriam que Fitz fosse demitido.

O passado não condizia com o presente. Enquan-to choviam doações dos antigos jogadores e dos pais deles, que queriam batizar o novo ginásio em home-nagem ao treinador, seu atual time e seus responsáveis estavam fazendo o possível para convencer o diretor a se livrar de Fitz. Resolvi ligar para alguns dos jogado-res envolvidos. Os pais deles estavam entre os que ti-nham reclamado, mas eles falavam do episódio como se fosse uma espécie de desastre natural, algo além do seu controle. Um deles chamou seus companheiros de

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“um bando de chorões” e explicou que Fitz estava en-crencado daquele jeito porque “muitos dos pais eram grandes doadores de dinheiro para a escola”.

Minha curiosidade a respeito desse assunto cresceu a ponto de me fazer pegar um avião até Nova Orleans para me encontrar com o diretor. A Isidore Newman é o tipo de escola particular pequena e rica que existe em toda cidade média americana. A maior parte das cerca de 70 crianças da minha turma viera de famílias prósperas pelos padrões locais. A característica mais marcante da escola era ter sido fundada em 1903 como um centro de treinamento para trabalhos manuais vol-tado para órfãos judeus. Mais ou menos metade dos meus colegas de classe era composta de judeus, mas eu não conhecia nenhum órfão. De qualquer maneira, o diretor atual chama-se Scott McLeod e, segundo ele, a escola que passara a dirigir a partir de 1993 era bem diferente daquela na qual eu tinha me formado em 1978. “A maneira nada saudável como os pais se dispõem a interceder em favor dos fi lhos, tomar o partido deles e protegê-los vem se intensifi cando ano após ano”, contou ele. “Isso vale tanto para os esportes quanto para a sala de aula. E só tende a piorar.”

Fitz fi gurava no topo da lista de sofrimentos dos quais os pais queriam livrar os fi lhos. Aliás, o primeiro

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telefonema irritado que McLeod recebeu assim que assumiu a direção veio de um pai que fi cara chateado porque Fitz não estava deixando o fi lho jogar.

Desde então o assediado diretor passou a se sentir como um homem em meio a um terremoto vendo uma fenda se abrir no chão entre suas pernas. De um lado ele tinha esse treinador extremamente querido por seus antigos jogadores; de outro, os recém-organizados e indignados pais do time atual. Quando lhe perguntei por que simplesmente não ignorava os pais, ele disse que não podia fazer isso, pois eram os seus clientes. “Eles pagam uma mensalidade alta. Isso lhes dá o direito de serem ouvidos”, justifi cou. Mas, quando lhe perguntei se alguma vez chegara a pensar seriamente em demitir o Treinador Fitz, ele teve de parar e pen-sar a respeito. “Os pais desejam muito que os fi lhos tenham sucesso, ou o que eles entendem por sucesso. Querem que entrem para as melhores faculdades e que consigam os melhores empregos. Então, se veem seu fi lho fracassar – se ele só conseguiu um lugar no time reserva ou se o técnico está gritando com ele –, de algum modo a escola é responsável por isso.” E, embora ele não conseguisse se imaginar “demitindo uma lenda viva”, acreditava poder mudar a atitude do técnico. Em várias ocasiões durante a sua gestão, ele

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se viu fazendo algo que nenhum de seus antecessores fi zera: chamar Fitz até a sua sala e insistir para que ele revisse seu comportamento. “E reconheço que foi o que ele fez”, disse o diretor.

Obviamente, o que quer que Fitz tivesse feito para alterar sua conduta não foi sufi ciente para satis-fazer seus críticos. Ainda havia um longo caminho a percorrer.

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