Treze truques de magia

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    Nota do tradutor*.

    No decorrer da obra, a palavra "comportamento" foi traduzida para o equivalenteem portugus, "comportamento". Logo, s partes do livro onde se encontravam expressescomo "la conducta o comportamiento" foram adaptadas para, somente, "o

    comportamento".

    ocorrncia de silepses (concordncia com a idia de uma orao e no com apalavra expressa) da lngua espanhola (p. e., "as pessoas temos dentro de ns"), optou-seem alguns casos por modificar os pronomes, ou acrescent-los, no intuito de eliminar afigura de estilo.

    * Traduo por Thomas Pierre Castegnaro, graduando do Curso de Psicologia da UFSC, em 2007.

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    TREZETRUQUESDEMAGIA

    A ORIGEM VERBAL DOS MITOS EM PSICOLOGIA

    EXPLICAES FICTCIAS OU PSEUDO-EXPLICAES SOBRE O COMPORTAMENTOHUMANO

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    Dedicamos este livro aos estudantes de psicologia de qualquer lugar do mundo,convidando-os a terminar esta carreira como cientistas do comportamento e no comomgicos.

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    INTRODUO

    Este livro se refere s descries e explicaes fictcias (pseudo-explicaes) sobreo comportamento humano. Infelizmente, esta classe de "descries" e "explicaes"persistem atualmente no campo da psicologia e impedem o progresso desta disciplinacomo cincia, obstaculizando a compreenso genuna (efetiva) do comportamentohumano, de nosso comportamento.

    Por meio de um espetculo que inclui treze truques de magia, um mgico tocomum quanto surpreendente executa alguns dos truques que a maioria da gente,incluindo psiclogos, realizam ao tratar de explicar o comportamento humano. Estestruques consistem em meras prticas verbais, as quais, infelizmente, so to estendidas

    quanto inapropriadas e prejudiciais.Este livro, como qualquer outro, produto de muitas pessoas, por isso usarei o

    pronome ns e no o eu.

    Escrevemos este livro pensando no pblico em geral, no apenas naqueles queconhecem sobre psicologia, por isso tratamos de escrever o mais claro possvel, utilizandopalavras simples.

    Claro, nosso objetivo no esgotar o tema sobre as explicaes do comportamento.Est claro que outros psiclogos, lingistas e filsofos podero decidir muito mais sobre

    este tpico. Tambm eles poderiam nos criticar pelo que dizemos, mas nosso interesse promover a reflexo, mais que tentar apresentar a "Verdade Completa".

    Se a leitura deste livro lhe til para refletir sobre o tema que aqui se trata,independentemente de que esteja ou no de acordo com ele, ns sentiremos terconseguido nosso objetivo.

    Tambm esperamos que o contedo do mesmo lhe ajude a compreender ocomportamento humano, de maneira que esta compreenso lhe permita viver melhor eajudar a outros a faz-lo.

    Talvez o comportamento humano no seja to complexo como o consideramos;fazemo-lo complexo com nossa maneira de descrev-lo e tratar de explic-lo.

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    PARTE1OSTREZETRUQUESDEMAGIA

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    PREMBULO

    O espetculo que descreveremos em seguida se desenvolve em um teatro, e o atorprincipal um talentoso mgico. Participam tambm dois atores mais, Joo e Pedro, quepermanecero no cenrio durante toda a apresentao, ainda que seus papis ativosterminaro muito rapidamente.

    Muitos so os espectadores no teatro, poderamos dizer milhares; entre eles,estamos voc e eu. Viemos juntos para desfrutar da apresentao.

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    I

    INCIO

    Levanta-se a cortina e no centro do cenrio aparece um mgico. Veste-se comotradicionalmente o fazem os mgicos: traje negro de gala, camisa branca engomada,gravata borboleta, cartola e uma varinha em sua mo. Um momento depois aparecem emcena duas pessoas mais e apresentam-se ao pblico com os nomes de Joo e Pedro.

    Todos ns aplaudimos, uns de ns ficamos em p.

    Enquanto o mgico sada e agradece nossa presena, Joo se aproxima de Pedro egolpeia-lhe fortemente na face. Todos nos surpreendemos. O mgico se dirige at ns, e

    com voz tranqila e cerimoniosa, diz:

    - Acabamos de observar uma ao, comportamento ou comportamento1 quechamamos golpear2. Peo-lhes, por favor, que no se angustiem pelo ocorrido; asseguro-lhes que Joo no voltar a golpear Pedro. Esta vez o golpeou a pedido meu para poderrealizar os treze truques de magia deste espetculo3.

    Todos os expectadores, inclusive voc e eu, relaxamos. Certamente nos pareceumuito estranho que uma pessoa golpeasse a outra como parte de uma apresentao demagia.

    - Seria interessante acrescenta o mgico conhecer por que os seres humanosnomeiam este comportamento ou ao com a palavra "golpear"4; mas esta umaapresentao de magia e no uma conferncia sobre a origem das palavras. Portanto, bastacom que todos ns estejamos de acordo que Joo golpeou a Pedro. A propsito, esto deacordo? pergunta o mgico.

    - Sim, estamos de acordo! responde a maioria dos espectadores.

    Voc e eu permanecemos calados. Talvez emocionados pela grandeza do teatro e agrande quantidade de pessoas que vieram desfrutar a apresentao.

    - Perfeito diz o mgico sorrindo e movendo graciosamente sua cabea para oslados. Sempre busco que meus atos de magia sejam interativos, gosto que o pblicoparticipe como vocs o fazem agora: interagindo como aprendemos.

    Sorrio e volto a olhar para voc. Voc tambm sorri. Para ambos muito agradvelconhecer um mgico que leva em considerao seu pblico.

    - Como todos sabemos continua dizendo o mgico com firmeza , as aes oucomportamentos se nomeiam ou descrevem5 com palavras que chamamos "verbos"6. Nodescrevemos aes com substantivos7 nem adjetivos, muito menos com artigos. Um verbose conjuga porque todos ns atuamos: tu, ele, ela, vocs, eles e eu: todos!, incluindo aosorganismos no humanos, como os ratos e as pombas. Todos, como seres vivos que somos,nos comportamos. Esto de acordo com essa afirmao?

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    - Sim! gritamos. O teatro retumba, o mgico assente com a cabea e coloca avarinha mgica sob o brao.

    - Pelo tanto, tudo o que as pessoas fazem como golpear, falar, brincar, caminhar,ler, pensar8, bater, beijar, sentir, acreditar, imaginar, escrever, se nomeia ou descreve com

    verbos. Esto de acordo? volta a perguntar o mgico.

    - Sim! respondemos aplaudindo efusivamente, no porque seja admirvel o queele fez at agora, mas porque j queremos que iniciem os atos de magia.

    Nesse momento o mgico caminha at o centro do cenrio e anuncia o queespervamos:

    - Agora, amvel pblico, no h tempo a perder. Executarei o primeiro truque.

    As aes ou comportamentos se nomeiam e descrevem com palavras quechamamos "verbos".

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    II

    PRIMEIRO TRUQUE

    O mgico d uns passos at a frente do cenrio, colocando ao mesmo tempo umasluvas brancas que pega do bolso de seu casaco.

    - Apresentar-lhes-ei o primeiro ato de magia. A Associao Internacional deMgicos o chama Re-verbalizao Redutiva1. anuncia ajeitando cuidadosamente agravata. H uns momentos dissemos que utilizamos verbos para nomear nossas aes;agora diremos tambm que possvel utilizar verbos para nomear a um grupo de aes oucomportamentos.

    O mgico introduz dentro de sua cartola os verbos "golpear", "bater", "empurrar","beliscar", e agita-a, misturando todas estas palavras. Imediatamente depois tira da cartolao verbo agredir2.

    Todos ns aplaudimos.

    -Agredir um verbo que acabou de aparecer e chamo-o "genrico"3 diz o mgico,mostrando-nos o verbo como se fosse uma pomba.

    Todos ns concordamos e o mgico continua:

    - Notem que agredir um verbo; no um substantivo, nem um adjetivo, muitomenos um artigo. Agredir um verbo genrico, ou seja, um verbo que nomeia uma classede aes ou comportamentos que, por sua vez, so nomeadas por outros verbos4 esclareceo mgico.

    Todos ns aplaudimos.

    - Ento, podemos dizer que continuao mgico o que faz Joo no s se podernomear com o verbogolpear, mas tambm com o verbo agredir. Fica claro: agredirnomeiao comportamento de Joo.

    At aqui o espetculo me parece bastante interessante, excetuando a importnciaque o mgico confere s palavras.

    "No vim ao teatro para ter uma classe de gramtica", penso. Olho para voc e vocme diz:

    - Simples, no ?

    Afirmo sorrindo.

    - Antes de continuar adverte-nos o mgico , quero informar-lhes que este truquecomo todos os que executarei em seguida parecem simples, mas na verdade no o so. No fcil transformar vrios verbos em um. Precisou-se de milhares de anos para que ahumanidade o fizesse, assim como tomou muitssimo tempo nomear uma ao ou

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    comportamento com uma palavra que se pudesse aplicar, com pequenas modificaes, aoque todos fazemos; ao que vocs, ns, ele, ela e eu fazemos, fizemos e faremos.

    - verdade voc diz afirmando com a cabea a, aprender a falar nos tomoumilhares de anos.

    - Por isso acrescenta o mgico , antes de continuar, quero confirmar que todosestamos de acordo em que com o verbo agredirpodemos nomear5 uma grande variedadede atos ou comportamentos, como golpear, bater, beliscar, empurrar, e no apenas umcomportamento em particular.

    Todos os espectadores aplaudem como mostra de aceitao.

    Nesse momento sobe ao estrado apressadamente uma bonita jovem; coloca naparte de trs uma mesinha com uma jarra de gua e um vaso. O mgico unicamente diz"obrigado". A jovem sorri, desce e senta-se entre o pblico.

    Tambm possvel utilizar verbos para nomear a um grupo de aes oucomportamentos.

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    III

    SEGUNDO TRUQUE

    - At aqui, com os verbosgolpearou agredirs nomeamos o que fez Joo1 - explicao mgico ajeitando delicadamente a cartola. Agora, ensinar-lhes-ei como descrever ocomportamento de Joo, de maneira que a descrio em si mesma seja til para explicarseu comportamento2 ou, ao menos, para iniciar uma explicao adequada do mesmo.

    Todos aplaudimos e, sem esperar que deixemos de faz-lo, o mgico continua.

    - Vocs sabem que quando queremos compreender o comportamento, no nosinteressa apenas nome-lo ou descrev-lo, mas o fazer de tal forma que facilite explic-lo.

    No apenas queremos saber como se comporta uma pessoa; mas por que se comportacomo o faz3. Claro, tudo o que nos conduz a sab-lo bem-vindo.

    Todos assentimos. surpreendente a clareza e a preciso com que o mgico seexpressa. Lembra-me do professor que tive sorte de ter na faculdade. Falava pouco, masmuito bem.

    - A este truque se lhe conhece com o nome de Descrio Fictcia I4 dizo mgico,retrocedendo e girando sua varinha. Por favor, prestem muita ateno e respondam estapergunta: O que vocs acreditam que fez Joo quando golpeou Pedro?... Seguramenterespondero que simplesmente lhe golpeou. Mas no, olhem bem o que farei com o verboagredir, mesmo verbo que utilizei para nomear o comportamento de Joo. Toc-lo-ei com avarinha, e o que fez Joo, ele golpeou, converter-se- em agrediu. Portanto, Joo nosomentegolpeou Pedro, como tambm o agrediu5.

    Aplaudimos de novo, surpreendidos de que j em seu segundo ato, o mgico nosrevelou o que Joo realmente fez.

    - Golpear uma ao ou comportamento que no somente consiste em tocarbruscamente algum. A um nvel mais profundo, quando Joo golpeia Pedro, agride-o; ouseja, o que na realidade faz Joo agredirPedro. Em poucas palavras: Joo agrediuPedro,

    compreendem? - pergunta o mgico.- Sim respondemos, ainda que no saibamos a razo de todas as diferenas

    assinaladas pelo mgico.

    Volto a olhar para voc e voc me diz em voz baixa:

    - Para mim, o que fez Joo foi golpear Pedro, e ainda que utilizemos outras palavraspara descrever o que fez Joo, como agredir, estas sempre se referiro a golpear6.

    - Assim respondo gaguejando. Mas, temos que aceitar que o mgico teve xitoem convencer o resto do pblico que a melhor maneira de descrever um comportamento dar-lhe um nome que ignore as comportamentos particulares. Pelo tanto, dizer que Joo

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    agrediu Pedro descreve melhor o que fez Joo, que dizer que Joo golpeou Pedro 7 -acrescento.

    - Bom voc responde , provavelmente assim, mas...

    Nesse momento, a pessoa que est sentada ao nosso lado volta-se e pede-nossilncio:

    - "No viemos aqui para conversar, muito menos em voz alta, mas para desfrutardos truques do mgico. Ademais, no h por que duvidar de sua sabedoria". Pedimos-lhedesculpas e continuamos esperando em silncio.

    - Fixe-se bem, neste ato de magia no s descrevi o comportamento de Joo, comotambm comecei a explic-lo informa-nos o mgico tirando e pondo a cartola. O fato que se descrevemos o que realmente Joo fez a Pedro, comearemos a explicar por que ofez, ou seja, as razes ou causas de seu comportamento acrescenta.

    Eu me pergunto: Como possvel que uma palavra que utilizamos para nomear ocomportamento de golpear possa-nos conduzir explicao desse comportamento?

    Todos aplaudem, inclusive voc. Sinto-me confuso; no sei se o mgico, o que elediz e faz, ou a multido no teatro. Respiro profundamente duas ou trs vezes e tranqilizo-me um pouco.

    - Agora, simplesmente com o propsito de confirmar se me entenderam, farei umpar de perguntas que eu mesmo responderei. Espero que estejam de acordo com minhasrespostas diz o mgico movendo-se com rapidez de um lado a outro pelo cenrio. Se

    lhes pergunto, o que fez Joo?, em vez de dizer "golpeou Pedro" vocs podem responder"agrediu Pedro". Mas se lhes pergunto: como o fez?, vocs respondero "dando-lhe umgolpe na face", no ?

    - Sim contestamos em unssono.

    - Muito bem, esperava o seu acordo, no poderia ser de outra maneira conclui omgico atirando a varinha para cima e pegando-a com a outra mo por trs das costas comuma velocidade surpreendente.

    Volto a olhar para voc e voc sorri.

    O mgico diz: Joo no apenas golpeou Pedro, mas tambm o agrediu.

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    IV

    TERCEIRO TRUQUE

    - Agora anuncia o mgico dou incio ao terceiro truque de magia. A RealAcademia de Mgicos conhece-o com trs nomes, Substantivao1, Nominao doVerbo2ou Reificao3.

    Ele tira a cartola e coloca dentro o verbo agredir que apareceu no ato anterior.Pronuncia as palavras mgicas e tira da cartola o substantivo agresso.

    Todos ns ovacionamos o mgico. Isto precisamente o que espervamos. maravilhoso ver como, baseando-se unicamente no comportamento de golpear, o mgico

    foi capaz de fazer aparecer o verbo agredir e, depois de introduzi-lo em sua cartola,transformou-o no substantivo agresso. Ento penso: "o que fez o mgico foi ir do golpe ao

    golpear, do golpear ao agredir, e do agredir agresso. Ou seja, de algo que se faz enomeia-se com um verbo, a algo que e que se nomeia com um substantivo".

    - Surpreendente! exclama voc e eu me estremeo. Como pode converter algodinmico, que ocorre como ao ou comportamento de agredir, em algo esttico, em umacoisa: a agresso4?

    Concordo com a cabea sentindo-me menos confuso e recuperado do susto.

    O mgico faz uma pausa e dirige-se pequena mesa que a jovem colocou no fundodo cenrio ao final do primeiro ato. Serve-se de gua e bebe apressadamente para depoisvoltar para frente.

    O que fez o mgico foi ir do golpe ao golpear, do golpear ao agredir, e do agredir agresso. Ou seja, de algo que se faz e nomeia-se com um verbo, a algo que e que senomeia com um substantivo.

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    V

    QUARTO TRUQUE

    - Em continuao anuncia orgulhosamente o mgico , vou apresentar o quartotruque. Conhece-se-lhe pelo nome de Descrio Fictcia II1. Prestem muita atenoporque o que farei to delicado como colocar algo dentro de uma pessoa sem a ferir. Sim,acreditem-me, colocarei algo dentro de Joo, e ele no sentir a mnima dor!

    Ento, o mgico toma o substantivo agresso que apareceu no truque anterior ecom muito cuidado coloca-o justamente sobre a cabea de Joo. Depois pronuncia umaspalavras mgicas que no consegui escutar. Ato seguido, a agresso desaparece.

    Todos nos espantamos ao observar que Joo no sentiu dor, pelo menos no omostrou em seu rosto.

    - Por isso, de hoje em diante, quando observarmos Joo golpear Pedro,descreveremos seu comportamento referindo-nos ao que tem e no ao que faz; diremos:"Joo tem agresso nele: e no apenas "Joo golpeia ou agride Pedro"2. Ao diz-lo assimconseguiremos descrever com mais preciso o comportamento de Joo e alm dissocomearemos a explic-la referindo-nos ao que Joo tem dentro, ou seja, a agresso3, comoo indica nosso senso comum.

    Todos ns estamos felizes por termos descoberto, graas ao mgico, a existncia daagresso. indubitvel que unicamente um mgico possa ajudar-nos a descobrir o que hdentro de cada um de ns. Observo para os lados e vejo todos os espectadorescompletamente absortos; alguns desfrutam do espetculo com a boca aberta.

    - A agresso uma emoo; negativa, mas ao fim e ao cabo uma emoo afirma omgico e todas as emoes, todas, esto localizadas dentro de ns4. claro que umaemoo no pode existir fora de algum. Ou por acaso algum de vocs viu uma emoovoando?

    Todos ns rimos. Volto a olhar para voc e pergunto-me, em que lugar dentro dele

    estar localizada a agresso? Deve estar a penso escondida em alguma parte do seucorpo esperando o momento preciso para converter-se em um golpe 5 ou em um gritoviolento ou, por que no?, em uma careta agressiva.

    Durante quase um minuto, o mgico permanece em silncio e todos ns com ele.Sinto-me incomodado, s escuto algumas pessoas tossirem. Acomodo-me vrias vezes napoltrona e olho de novo para trs. O teatro est completamente cheio e agora em silncio.Pergunto-me qual ser a inteno do mgico ao interromper a apresentao. Talvez desejeque suas revelaes se aprofundem, que todos nos convenamos de que o que ele mostrourealmente existe.

    Nesse momento voc se volta e diz-me em voz muito baixa:

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    - bvio, Joo no apenas golpeou Pedro, mas como tambm o agrediu; e noapenas o agrediu, mas como tambm tem agresso dentro dele. Ningum pode neg-lo,no ? Seria estpido dizer que mentira, no ?

    Afirmo com a cabea sentindo que aceito uma explicao que na realidade no me

    convence. Analisando o que aconteceu at o momento, advirto que do comportamento degolpear, o mgico fez aparecer o agredir; logo afirmou que uma pessoa que golpeia outra,agride-a; e finalmente concluiu que se uma pessoa agride, deve ter algo dentro dela que sechama agresso. Mas, apesar de que eu me d conta de todos estes truques verbais, prefiroacreditar que no o so, que so realidades e no meras palavras que se derivam umas deoutras. Ademais, ningum quer ser um estpido. Como dizia o meu av: "H um prazer nosmitos que difcil refutar, como h uma atrao na multido da qual difcil escapar".

    Sem me dar conta, repito o que pensei em voz alta: "H um prazer nos mitos que difcil refutar..."

    Neste momento voc se volta para mim e pergunta:

    - O que disse?

    - Nada, s estava pensando.

    - Pois pensa em volume muito alto comenta voc, rindo-se de sua piada.

    - Agora, como complemento deste truque lhes apresentarei um que chamo SentirFictcio I6- dizo mgico enquanto se dirige para onde se encontram Joo e Pedro. De pem frente a Pedro, pergunta-nos com sua voz ressoante:

    - O que vocs acreditam que sentiu Pedro quando Joo o golpeou?

    - Sentiu dor! respondemos rapidamente.

    - Esto certos de que unicamente sentiu dor? No acham que sentiu o golpe etambm a agresso?

    - Sim, Pedro sentiu trs coisas respondemos em unssono.

    - Isso! Muito bem! exclama o mgico emocionado, estendendo sua mo parafrente e contando com seus dedos. Sentiu o golpe, a dor e a agresso.

    Volto a olhar para voc e pergunto-lhe intrigado:

    - O que voc acha? Concorda que Pedro sentiu isso tudo?

    - Acho, quando nos golpeiam sentimos trs coisas: o golpe, a dor e a agresso dequem nos golpeou.

    Sorrio e volto a sentir que, de uma maneira muito sutil, o mgico nos estenganando. Mas na verdade no importa; de qualquer forma, estamos aprendendo adescrever e a explicar o comportamento. Ademais, se todo o pblico parece de acordo,

    qual a razo para eu no estar?

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    Agora, para assegurar-se de que entendemos, o mgico pergunta:

    - Como acreditam que se sentiu Pedro quando Joo o golpeou? Contente ouagredido?

    -Agredido respondemos.

    - Assim , sentiu-se agredido, porque sentiu agresso.

    Todos ns ficamos olhando fixamente o mgico. Ele sorri satisfeito e observo queseus dentes so muito brancos e esto perfeitamente alinhados.

    - Sentir dor, sentir agresso e sentir-se agredido so emoes distintas acrescenta.

    surpreendente nos darmos conta como, de truque em truque, aumenta nossoconhecimento acerca do comportamento. Ademais, sentimo-nos muito satisfeitos por vir

    ao teatro e orgulhosos de responder corretamente todas as perguntas que nos punha omgico. Noto que minha confuso e mal-estar diminuram ao longo do espetculo.

    Sinto-me melhor e concluo: "No normal duvidar do que to evidente, de algocom o que esto de acordo todos os presentes. No tenho por que sentir que me estoenganando".

    H um prazer nos mitos que difcil refutar, como h uma atrao na multido daqual difcil escapar.

    O mgico diz: Quando observarmos Joo golpear Pedro, descreveremos seucomportamento referindo-nos ao que tem e no ao que faz; diremos: "Joo tem agressonele: e no apenas "Joo golpeia ou agride Pedro".

    O mgico diz: Quando nos golpeiam sentimos trs coisas: o golpe, a dor e aagresso de quem nos golpeou.

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    VI

    QUINTO TRUQUE

    - Estamos j no quinto truque, que se chama: "Colocar um trao"1. Ainda que estetruque seja simples, peo-lhes que prestem muita ateno porque o resultado sumamente importante par entender o comportamento humano assinala o mgico comcerta ironia.

    - Simples? voc me pergunta. No creio que exista algo simples nocomportamento humano.

    Passa um momento e esperamos em completo silncio.

    - Mas, esquecia-me de dizer-lhes explica o mgico olhando-nos profundamente ,que antes de colocar um trao, executarei rapidamente trs truques, um que chamo SentirFictcio II, outro que chamo Re-substantivao, e outro que os mgicos conhecem comoConstrutivao.

    O mgico tira a cartola e arrumando seu cabelo, continua:

    - Prestem muita ateno: dissemos que o que sentiu Pedro quando Joo o golpeoufoi agresso, no apenas o golpe e a dor2. Agora, por favor, sejam amveis em meresponder a esta pergunta: o que acreditam que Joo sentiu ao golpear Pedro? Sim, olhem

    bem, refiro-me ao que sentiu Joo, no ao que sentiu Pedro esclarece.

    -Agresso tambm respondemos.

    - Perfeito, sua resposta est correta, ambos sentiram a emoo que chamamosagresso3. Pedro sentiu a agresso de Joo e este sentiu a agresso dentro de si mesmo.

    Todos aplaudimos. Olho para voc e voc me diz: "Todos temos emoes em nossointerior. Nem voc nem eu, nem ningum viu jamais uma emoo fora de nosso corpo".

    Fora de nosso corpo digo-me em silncio.

    - evidente afirma o mgico que dentro de Joo est a emoo chamadaagresso.

    - Sim, dentro dele est essa emoo respondemos todos e aplaudimos.

    - Agora passo ao truque resubstantivao4 diz o mgico. Primeiro tomo osubstantivo agresso, que fiz aparecer anteriormente, e transformo-o no substantivoagressividade5.

    Outra mais das magnficas aparies do mgico penso.

    - Agora sim anuncia esfregando as mos em frente ao seu rosto e soprando executarei o ato que chamo "colocar um trao". Por favor, observem como, com a ajuda de

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    minha varinha mgica, colocarei a recm-aparecida agressividade em Joo. Mas primeiroterei que fazer aparecer o que chamamospersonalidade. Para isso, executarei outro truqueque denomino: Constructivao6.

    O mgico pega as mos de Joo e as introduz na cartola, depois pe suas mos e

    tira apersonalidade7.

    Todos aplaudimos, inclusive alguns gritam.

    - Agora sim poderei colocar a agressividade em Joo.

    O mgico pronuncia as palavras mgicas e ocorre a transferncia.

    - Como podem confirm-lo, agora Joo no apenas tem dentro dele a emoo quechamamos agresso, como tambm o trao de personalidade que chamamos agressividade diz e, ao terminar, inclina-se cerimoniosamente ante ns.

    Surpreendidos, todos aplaudimos.

    Eu deduzo o seguinte e digo-lho sem reserva:

    - " verdade que Joo no somente golpeou Pedro, mas o agrediu, como tambm o, que Joo tem agresso dentro dele ou, melhor dizendo, tem agressividade. Isso tobvio como estamos aqui sentados neste imenso teatro".

    Voc sorri e acrescenta:

    - "Mas lembre-se de que Joo no s tem agressividade, tambm tem uma

    personalidade, e uma personalidade agressiva; isto to real como o que voc acaba dedizer".

    - Sim, claro respondo, corrigindo interiormente minha omisso.

    O mgico diz: Pedro sentiu a "agresso" de Joo e este sentiu a "agresso" dentrode si mesmo.

    O mgico diz: Agora passo ao truque re-substantivao. Tomo o substantivo"agresso", que fiz aparecer anteriormente, e transformo-o no substantivo"agressividade".

    O mgico diz: Colocarei a recm aparecida "agressividade" em uma parte de Jooque chamarei "personalidade".

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    VI

    SEXTO TRUQUE

    - A Real Academia de Mgicos chama ao seguinte truque Gerundizao1. tosimples como o anterior, por isso raramente o incluo como parte do espetculo. Noobstante, nessa ocasio, e s desta vez, execut-lo-ei como resposta a seus amveis ecalorosos aplausos diz o mgico arrumando sua gravata borboleta e sua cala folgada.

    - Estamos de acordo com que o que faz Joo agredir; mas na realidade, enquantoJoo golpeia Pedro, no faz precisamente isso diz o mgico esfregando o verbo agredircom suas mos.

    Uns segundos depois, ele abre suas mos e mostra-nos o agredindo.

    Todos aplaudimos. O agredirse transformou em agredindo.

    - Por isso interroga-nos o mgico , o que me responderiam se eu lhesperguntasse o que est fazendo Joo?

    - Agredindo Pedro respondemos, e assombro-me pela facilidade com queentendemos.

    - Perfeito, agredindo no um substantivo, mas um modo do verbo agredir.

    Agredindo descreve algo que est ocorrendo agora mesmo. Por isso, se queremos falarcom preciso, devemos dizer que no momento em que Joo golpeia Pedro no o agride,mas que o est agredindo diz o mgico enquanto ajeita com a varinha o engomado de suacamisa. Todos rimos, pois o faz com muita graa e habilidade.

    A apresentao no apenas se est tornando interessante, como tambm divertida. surpreendente a forma como o mgico manipula sua varinha e fala do comportamento,utilizando palavras que tira de sua cartola.

    verdade, concluo, que uma coisa que Joo golpeie a Pedro, outra que o agrida eoutra mais que o esteja agredindo nesse momento.

    O mgico diz: Falando com preciso, devemos dizer que no momento em que Joogolpeia Pedro no o agride, mas que o est agredindo.

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    VIII

    STIMO TRUQUE

    - Pessoalmente, inventei e intitulei o seguinte truque anuncia o mgico combastante arrogncia. Chamei-o Adverbializao1. Meses depois, a Real Academia deMgicos o fez seu. Devo confessar-lhes que o plgio tambm existe na comunidade demgicos acrescenta sorrindo.

    Ento introduz com presteza o substantivo agressividade na cartola e golpeia-otrs vezes com a varinha mgica, convertendo-o no advrbio agressivamente.

    - Observamos que Joo golpeou Pedro; vocs acreditam que o fez amavelmente?

    pergunta o mgico.

    - No, ele o fez agressivamente! respondemos.

    - Sua resposta to rpida quanto correta! exclama o mgico inclinando suacartola para ns como mostra de aprovao.

    - Agora entendemos perfeitamente que a ao de agredir, feita por uma pessoa quetem o trao de agressividade em sua personalidade, executada agressivamente2 -acrescenta.

    O pblico aplaude, tambm eu e voc. O mgico nos corresponde aplaudindo. claro que todos estamos aprendendo coisas muito diferentes sobre a natureza humana,melhor dizendo, sobre o comportamento humano.

    O mgico introduz o substantivo "agressividade" na cartola e golpeia-o trs vezescom a varinha mgica, convertendo-o no advrbio "agressivamente".

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    IX

    OITAVO TRUQUE

    - Este truque se conhece com o nome de Adjetivao1 e o executarei rapidamenteporque tenho vrias apresentaes mais para frente informa-nos o mgico. Ento,utilizando novamente a varinha mgica, com grande habilidade converte o nome agressono adjetivo agressivo. Sua execuo to sbita quanto surpreendente.

    - Agora, Joo no apenas tem agresso, mas tambm agressivo assinala o mgicocom sua voz potente.

    To logo o disse, repito " Joo no apenas tem agresso dentro dele, mas tambm

    agressivo".

    Depois, tocando o seu ombro, eu digo-lhe: " lgico que se uma pessoa temagresso dentro dela, seja agressiva2, no ?

    "Certo" respondes com firmeza , "seria um estpido se no estivesse de acordocom isso. to claro, no ?"

    Eu unicamente sorrio e espero com impacincia o ato seguinte.

    O mgico converte o nome "agresso" no adjetivo "agressivo".

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    X

    NONO TRUQUE

    - Agora, por favor, observem com cuidado pede-nos o mgico. Executarei umpequeno truque que se conhece como Etiquetar o ator1.

    Ento ele coloca os substantivos agressividade e agresso dentro da cartola e,utilizando a varinha, converte-os no adjetivo agressor.

    - Aqui est o adjetivo agressor, o qual utilizamos para dizer o que Joo . Ele umagressor porque tem agresso ou agressividade nele conclui o mgico ensinando oadjetivo ao pblico.

    Todos assentimos. Parece-nos uma concluso correta. Ento o mgico tira umafolha do bolso de seu casaco.

    Agora nos ler algo penso.

    O mgico desdobra a folha com cuidado e diz-nos:

    - Para que no se lhes esquea o que aprenderam at agora, ensin-los-ei umacano que compus h anos. Por favor, repitam junto comigo: "Tralal; quando Joogolpeia, Joo agride. Lalal; quando Joo agride o faz agressivamente".

    Todos tratamos de imit-lo e o mgico continua:

    - Tralal; se Joo agride, ento agressivo. Lalal; se Joo agressivo, ento temagresso. Tralal; se tem agresso, ento tem em sua personalidade um trao deagressividade. Lalal..."

    A cano ridiculamente montona, mas ao fim deste truque todos a cantamosdivertidos.

    O mgico diz: Joo um agressor, porque tem agressividade nele.

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    XI

    DCIMO TRUQUE

    - Perfeito! diz o mgico e aplaude-nos com entusiasmo. Escutar esta cano muito inspirador, sua letra fundamental para entender o comportamento humano.Tenham-na sempre em sua memria.

    Ter algo na memria, guard-la sempre ali penso.

    - Sim continua o mgico , na verdade me sinto muito, mas muito satisfeito deestar-lhes divertindo. Ademais, no achem que minto, se lhes digo que vocs so toafinados quanto eu.

    Todos rimos e imediatamente depois ele d alguns passos para frente e detm-sejustamente na borda do cenrio. Um momento depois nos pede que fiquemos em silnciocolocando o dedo indicador sobre seus lbios e inclinando-se um pouco para frente. Todosobedecemos impressionados de sua maestria e autoridade.

    - A este truque se lhe chama Explicao Fictcia I. Peo-lhes que prestem muitaateno, porque o que vamos fazer aprender a explicar o comportamento. Sim, nossocomportamento! exclama o mgico.

    Aprenderei a explicar o comportamento, por fim saberei por que sou como sou

    penso.

    - Fiz aparecer a agressividade e a personalidade agressiva continua o mgico ,justamente o que necessitamos para saber por que nos comportamos como o fazemos.Agora introduzo na cartola a pergunta: "Por que Joo golpeou Pedro?", e obtenho aresposta: "Porque tem uma personalidade agressiva ou algo dentro dele que se chamaagressividade". Agora coloco a pergunta: "Como sabemos que ele tem uma personalidadeagressiva ou agressividade?", e obtenho a resposta: "Porque golpeou Pedro"1.

    Muito simples, no h mais o que pensar.

    Volto a olhar para voc e voc parece to impressionado quanto eu e o resto dopblico.

    - Esto de acordo? pergunta o mgico sorrindo.

    - Sim, claro que sim respondemos imediatamente.

    Ainda que, pensando-o melhor, dou-me conta de que, com este truque, o mgiconos faz acreditar que explicamos o comportamento de Joo, usando somente palavras queele fez aparecer anteriormente baseando-se no verbogolpear. Mas apesar de dar-me contadisso, estou muito surpreso com os poderes explicativos do mgico ou de sua grande

    criatividade verbal.

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    - O que acha dessa magia? pergunto-lhe, confuso.

    - Neste momento no sei o que lhe dizer responde-me voc , de alguma maneiraque ainda no posso explicar o mgico nos est fazendo acreditar em alguma coisa que no muito certa.

    - Provavelmente nos est enganando, mas, seja o que for, no podemos negar agrandiosidade de cada um de seus truques respondo-lhe e confirmo que, geralmente, osbons amigos pensam o mesmo.

    O mgico introduz na cartola a pergunta: "Por que Joo golpeou Pedro?", e obtm aresposta: "Porque tem uma personalidade agressiva ou algo dentro dele que se chamaagressividade". Agora coloca a pergunta: "Como sabemos que ele tem uma personalidadeagressiva ou agressividade?", e obtm a resposta: "Porque golpeou Pedro".

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    XII

    DCIMO PRIMEIRO TRUQUE

    Ajustando as mangas de sua camisa e com voz rigorosa, o mgico anuncia:

    - seguinte execuo se lhe nomeia Explicao Fictcia II. Introduzo na cartola apergunta: "Por que Joo golpeou Pedro?, e obtemos a resposta: "Porque agressivo". Agoracoloco na cartola a pergunta: "Por que agressivo?", e obtemos a resposta: "Porquegolpeou Pedro"1.

    Passam alguns segundos e o mgico, olhando-nos misteriosamente, interroga-nos:

    - Esto de acordo?- Sim, claro, tambm com isto estamos de acordo respondemos e escuto que voc

    acrescenta: "totalmente".

    No me explico por que nossas dvidas desaparecem gradualmente. Talvez faaparte da magia.

    Repito para mim: "Joo golpeia porque agressivo e agressivo porque golpeia.No h dvida, esta uma boa explicao de seu comportamento".

    O mgico introduz na cartola a pergunta: "Por que Joo golpeou Pedro?, e obtm aresposta: "Porque agressivo". Depois coloca na cartola a pergunta: "Por que agressivo?",e obtm a resposta: "Porque golpeou Pedro".

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    XII

    DCIMO SEGUNDO TRUQUE

    Considero que estes so os melhores truques de magia que j desfrutei em minhavida. surpreendente que a partir de um comportamento to simples e pontual como Joogolpeando Pedro, o mgico tenha feito aparecer coisas novas e interessantes.

    Claro concluo deve existir uma cincia que se dedique a estudar cada um dostruques e das coisas que o mgico fez aparecer. Seria uma lstima que tudo isso ficassesem anlise, sem uma cincia que o considerasse como seu objeto de estudo1.

    Agora o mgico, com uma expresso de completa confiana e satisfao, apresenta

    o seguinte ato.

    - O seguinte truque se intitula: Explicao Fictcia III. Introduzo na cartola apergunta: "Por que Joo agressivo?", e obtenho a resposta: "Porque tem agresso". Agoracoloco a pergunta: "Por que tem agresso?", e obtenho a resposta: "Porque agressivo"1.

    Nessa ocasio o mgico no confirma se estamos de acordo com sua afirmao.Talvez para ele seja bvio que concordamos. E verdade. Como poderamos negar algoque to claro e evidente?

    "Joo agrediu porque tem agresso e tem agresso porque agressivo", repito em

    voz alta tratando de aprender esta admirvel e completa explicao sobre ocomportamento humano.

    O mgico introduz na cartola a pergunta: "Por que Joo agressivo?", e obtm aresposta: "Porque tem agresso". Depois coloca a pergunta: "Por que tem agresso?", eobtm a resposta: "Porque agressivo".

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    XIV

    DCIMO TERCEIRO TRUQUE

    - Agora, com o mgico nmero treze chegamos ao ltimo truque. Espero quetenham desfrutado da apresentao e aprendido a nomear, descrever e explicar ocomportamento, seja o de vocs ou o dos outros anuncia o mgico com um sorriso deplena satisfao.

    Eu penso que sim, ento me volto para voc e, com curiosidade, lhe pergunto:

    - Voc aprendeu algo?

    - Sim, claro, aprendi muitssimo sobre o comportamento humano responde-meconvencido.

    Sorrio como mostra de acordo e acomodo-me na poltrona. Ento, o mgico tropeacom o microfone, ouvindo-se um forte rudo no teatro.

    - Perdo! exclama o mgico inclinando-se imediatamente para levant-lo , nesteltimo ato sempre me sinto muito nervoso porque, ainda que parea simples, extremamente difcil. Precisa-se de uma longa preparao para poder realiz-lo, por estarazo sempre o deixo para o fim do espetculo. Por favor, prestem muita ateno a tudo oque fao e digo adverte-nos.

    O mgico caminha lentamente at a parte de trs do cenrio. Apagam-se todas asluzes exceto uma que permanece dirigida a ele. Seu traje negro brilha mais do que antes.Todos estamos em completo silncio.

    - Amvel pblico diz , tudo o que fiz aparecer tem que ocorrer e existir emalguma parte1. Em algum lugar tem que estar a agresso, a agressividade, o agressivo, emalgum lugar do qual surja. Como poderia ser de outra maneira? pergunta-nos.

    Ento, avana dois passos lentamente at a frente e a luz o segue. A cena se tornaestranha, um tanto mstica.

    - Agora lhes mostrarei de onde ocorreu tudo o que sucedeu ao longo daapresentao; revelar-lhes-ei as misteriosas origens do comportamento oucomportamento humano exclama o mgico com uma voz forte e penetrante.

    Pela primeira vez se escuta msica de fundo, no identifico a melodia, mas clssica. Pode ser Beethoven ou Mozart. Ento o mgico caminha at a frentepronunciando as palavras mgicas e aparece:A Mente.

    - Esta A Mente! exclama o mgico levantando os braos at o cu. Ela explicatoda o comportamento e contm todas as causas de nosso comportamento. Sem ela

    seramos animais irracionais.

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    Muitos dos presentes se inclinam e sinto calafrios. Sem dvida este foi o truquemais impressionante que jamais presenciei em toda minha vida. Depois todos aplaudimosto efusivamente que chegamos a nos aturdir. Alguns de ns ficamos em p e gritamosemocionados: "Viva, viva o mgico! Viva, vivaA Mente!".

    - Na mente est a agresso que a causa de que Joo agrida acrescenta o mgicoem voz alta, aparentando no se importar com os aplausos. Foi A Mente o queprimeiramente converteu Joo em agressivo e depois o fez com que golpeasse Pedro. naMente que reside a agresso de Joo. Ela a com que faz que algum seja um agressoreque atue agressivamente. Nela est tudo e a explicao de tudo, assim, milagrosamentesimples. Nossa personalidade, o que somos na realidade, est na Mente.

    "Assim, milagrosamente simples", repito para mim.

    Ento, o mgico d uns passos para trs e a luz continua sobre ele.

    - Repito, a Mente contm tudo e a causa e a origem de todo comportamento. Sema Mente nem vocs nem eu nos comportaramos como o fazemos. No h mais o que dizer.

    Nesse momento algum do pblico grita:

    - Joo golpeou Pedro porque quis. Ele o fez porque sentiu vontade de faz-lo,porque era sua inteno ou propsito. Essa a explicao verdadeira2!

    O mgico caminha para frente, olha fixamente o indivduo que o interrompeu eadmoesta-o apontando-lhe o dedo indicador.

    - Escute bem; no quero que nem voc nem todos os demais que esto aquiabandonem o teatro sem entender que, ao referir-nos a um sentimento como a causa deum comportamento, sem explicar de onde se origina esse sentimento, um velho truquede magia. Um truque passado de moda, verdadeiramente ridculo. Sim, ridculo repete omgico em voz alta3.

    O indivduo admoestado se senta lentamente e eu concluo que a causa de seucomportamento que sente vergonha. To logo o penso dou-me conta que precisamenteestou explicando suo comportamento referindo-me a um sentimento, vergonha. Volto aolhar o mgico temendo que ele se tenha dado conta de meu erro. certo que o criador damente tambm tem o poder de l-la.

    - por isso que no incluo este ato em meu repertrio acrescenta o mgicoimpaciente dando alguns passos para trs. No h dvida, os sentimentos e intenesno se auto-originam, mas que se originam na Mente4. Lembrem-se: a Mente sempre primeira, a Mente primeira! repete o mgico apontando para a cabea.

    A pessoa que interrompeu pede desculpas de seu lugar, mas o faz de uma maneirato infantil que todos nos rimos.

    - Talvez grita outro espectador Joo golpeou Pedro porque tem pensamentosou crenas irracionais, porque pensa e acredita em algo que no certo.

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    - Voltamos ao mesmo responde incomodado o mgico. Mas suponhamos queassim fosse; em todo caso, no se explica como se originam os pensamentos irracionais ouas falsas crenas5 esclarece. A origem a Mente, lembrem-se: a origem a Mente. No necessrio buscar outra resposta insiste.

    Nesse momento um jovem que est em frente a ns se pe em p e grita comfrustrao:

    - Creio que Joo golpeou Pedro porque Pedro iria golpe-lo.

    O mgico se volta para ele e sinto que me olha a mim. Sorrio nervosamente.

    - Sim, este pode ser outro truque, mas infelizmente, devido ao pouco tempo hojeno o apresentarei. Conhece-se-lhe com o nome de Teleologia6 econsiste em lograr quealgo que ocorrer no futuro, seja a causa de algo que ocorre no presente. Se houver tempo,prometo-lhes executar esse truque na seguinte apresentao; confesso-lhes que bastante

    interessante.

    O jovem se senta e eu me recupero de meu nervosismo. Nesse momento outrapessoa do pblico objeta:

    - Todos os seus truques so excelentes, mas opino que Joo golpeou Pedro porquetem um gene agressivo ou alguma desordem orgnica7.

    O mgico ri estrepitosamente, golpeando o piso vrias vezes com o p direito. Huma mudana de luzes, agora a luz que o ilumina avermelhada.

    - Devo admitir que os truques mais populares na atualidade so os genticos oubiolgicos. Mas, pessoalmente, desagradam-me porque so muito simplistas;reducionistas, diria eu e continua rindo-se.

    - Simplistas, reducionistas? pergunta ainda perturbado o mesmo indivduo quefez a interveno.

    - Sim responde o mgico com um gesto de indiferena. Simplistas, porque seno se sabe como explicar um comportamento, inventa-se um gene ou uma causaorgnica. E reducionistas, porque se tenta explicar tudo fazendo referncia ao organismo.Isto no tem nada de profissional, no ?

    Murmuramos com assombro. O mgico grandioso, suas respostas so totalmenteconvincentes.

    Outro espectador, um ancio de barba branca que est sentado na parte maisescura do teatro grita com dificuldade:

    - Todos vocs esto equivocados, todos, inclusive o mgico! Joo golpeou Pedroporque tem uma desordem mental e nada mais8!

    O mgico sorri maliciosamente e, dirigindo-se ao ancio, declara:

    - Com todo o respeito que o senhor e todos merecem, digo-lhes que inventar umadesordem mental ou psicolgica mais fcil ainda que inventar uma orgnica. assim,

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    porque no existe nenhuma possibilidade de determinar se uma desordem mental existeou no. Certamente que existe a Mente, mas nunca poderemos v-la... Senhor, devo dizerque esse um truque de principiantes, ainda que eu admita que muito atrativo.

    Imediatamente ao terminar esse comentrio o mgico faz uma caravana, indicando

    com isso que sua apresentao havia terminado. A iluminao passa do vermelho a umazul muito tnue. Aplaudimos pela ltima vez e vemo-lo retirar-se lentamente pelo ladodireito do cenrio.

    To logo desaparece sentimos um enorme apreo por ele. claro que foi ele quemnos brindou com a oportunidade de descobrir o que j existia, ainda que no nos dssemosconta e, sobretudo, quem nos revelou o lugar onde ocorre e origina-se todo ocomportamento ou comportamento, onde sucede o que nos faz seres humanos.

    Volto-me para ver voc e voc me diz:

    - Continua me parecendo maravilhoso que o mgico tenha feito aparecer tantascoisas, baseando-se em um comportamento to simples como golpear9.

    - surpreendente, de fato acrescento e, emocionado, esfrego as mos.

    Todas as pessoas se levantam; em contraste, ns ficamos sentados para esperarque se descongestione a sada. Passam-se uns minutos e de novo se abre o telo. O mgicoest a, outra vez, informando que apresentar outra apresentao. Algumas pessoas,incluindo ns, permanecemos sentados para ver de novo sua demonstrao. Minutosdepois descobrimos que so os mesmos truques e, ainda que sejam interessantes, no soo suficiente para v-los uma segunda vez. Finalmente decidimos nos ir. Caminhamos at o

    que parece ser a sada principal do teatro e por sorte encontramos um lanterninha.

    - Por favor, poderia voc nos indicar a sada? perguntamos-lhe.

    - Com gosto, ainda que vocs possam permanecer na sala o tempo que quiserem,lembrem-se de que no se cobra nada por esta apresentao.

    - Obrigado, voc muito amvel, mas precisamos ir, temos coisas para fazer voco responde apressadamente.

    - No h de que, mas insisto que seria melhor que permanecessem na sala insiste

    o lanterninha. Se ficarem, asseguro-lhes que cada vez entendero melhor os truques e,com sorte, terminaro fazendo-os vocs mesmos em suas casas frente a familiares ouamigos, ser muito divertido.

    - Obrigado, mas por favor, mostre-nos a sada voc insiste, quase rogando.

    - Se isso o que querem, assim o farei; mas no entendo a sua pressa respondesecamente o lanterninha.

    Passamos entre centenas de pessoas que entram e saem do teatro, todos se vememocionados. Finalmente chegamos a uma sala que est quase vazia e caminhamos

    justamente pelo centro. O piso de mrmore, sente-se muito frio o ambiente e, ainda que asala tenha grandes janelas, est muito escura.

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    Ante o silncio aproveito para pedir ao lanterninha que nos explique o que naverdade est acontecendo no teatro.

    - Quanto tempo se est exibindo essa apresentao?

    - Mais de dois mil anos.

    - Dois mil anos?! perguntamos surpresos.

    - Sim, desde os tempos da antiga Grcia, milhes de espectadores assistiram. Todoseles foram e continuaram sendo enganados. Agora tambm vocs tiveram esse privilgio.

    - Voc diz que o mgico nos enganou e que ser enganado um privilgio? vocpergunta imediatamente, mostrando claramente o seu desacordo, para no dizer a suaraiva.

    - Claro. Vocs e toda a humanidade tm sido e continuam sendo enganados

    diariamente em todas as apresentaes. um privilgio ser como todos, ou seja, sernormal, no ?

    - Bom, no necessariamente voc responde, perturbado.

    O lanterninha sorri e convida-nos de novo para regressar ao teatro.

    - No poderia dizer, por favor, exatamente em que fomos enganados?

    - Em muitas coisas que se resumem no seguinte: faz-los acreditar que todapalavra necessariamente tem um referente, algo que existe e que nomeia prossegue o

    lanterninha sem nos olhar nos olhos. Palavras que se referem unicamente a outraspalavras ou a nada, esse foi o engano.

    - Ento, o mgico nos enganou intencionalmente? voc pergunta, aflito.

    O lanterninha se detm rapidamente e olhando-nos nos olhos, responde:

    - Acaso isso importa? De qualquer maneira o efeito o mesmo. Os espectadores,incluindo vocs, acabam acreditando que o comportamento ou o comportamento sepodem explicar por meio de truques ou artifcios verbais, com palavras que o mgico tirada cartola.

    - Truques verbais repito em voz baixa.

    - Sim, truques lingsticos responde o lanterninha, dando mostra de suacapacidade auditiva , artifcios semnticos ou gramaticais que...

    - Entendemos, entendemos perfeitamente voc interrompe e eu vejo em seurosto uma expresso de angstia , mas ainda assim, no entendo o que na verdade estacontecendo nesse teatro.

    O lanterninha continua caminhando e ns o seguimos, perplexos.

    - Olhem, vocs devem entender que os mgicos vivem de seus truques e fazemtodo o possvel para manter o pblico enganado, ou dito elegantemente, entretido. Claro

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    que nenhum mgico deseja que o pblico descubra seus segredos. De que viveriam osmgicos se no enganassem as pessoas?

    Sinto-me enjoado. difcil respirar. Olho para trs e a sala, que h poucos segundosestava quase vazia, agora est completamente cheia. Voc pede ao lanterninha que, por

    favor, apresse-se e mostre-nos a sada. Pressuponho que voc se sente como eu.

    - Por aqui diz o lanterninha saindo da sala , no h necessidade para seangustiarem, asseguro-lhes que nada de mal acontecer, ademais do que j passa h tantossculos.

    Durante vrios minutos continuamos por um corredor longo e estreito. H quadroscolados em ambas as paredes. Ao incio so imagens de filsofos gregos e orientais, e aofinal, fotos de psiclogos modernos. O ltimo quadro contm a foto de uma pessoa maiorcom frente muito ampla. O quadro est inclinado e tem o cristal roto. Na parte inferior dafoto se diz com letras muito pequenas: "B. F. Skinner"10.

    Nesse momento, o lanterninha se detm e olhamos intrigados para ele.

    - Ali est a sada diz-nos, assinalando-nos uma estreita porta ao final do corredor. Podem ir vocs sozinhos, eu fico aqui. No encontraria trabalho fora do teatro acrescenta com voz entrecortada.

    - Obrigado dizemos e aceleramos o passo, deixando para trs o lanterninha. Sintopena por ele. Por seu tom de voz e sua maneira de caminhar que me do a impresso deque queria vir conosco e sair do teatro.

    Passamos atravs da porta com muita dificuldade, como se uma lufada de ventonos empurrasse para dentro.

    Nesse momento tudo me parece um sonho, ou melhor dizendo, um pesadelo. O quequero estar fora do teatro o mais rpido possvel.

    Uma vez fora, busco por voc, mas no lhe encontro em lugar algum, seguramentevoc caminhou mais rpido do que eu ou talvez no conseguiu resistir ao vento.

    Agora posso respirar sem dificuldade e sinto-me melhor. Antes de ir para casa olhorapidamente para trs para procurar por voc pela ltima vez, mas no voc est. Sinto

    tristeza, e entristeo ainda mais quando me dou conta de que poderias ficar vendo aapresentao mil e uma vezes. Dou uns passos para frente, no sei se volto ou vou paracasa. Nesse momento descubro um enorme cartaz colocado em frente ao teatro, com letrasgrandes e luminosas diz: "Psicologia". Sob elas, com letras menores, mas chamativas, diz:"Bem-vindos ao teatro mais antigo do mundo", mais abaixo anuncia o nome do mgico:"O Grande Psiclogo" e o nome da apresentao: "Treze truques de magia". Na partedireita do cartaz diz com letras diferentes e cores muito brilhantes: "Apresentaesdirias e contnuas. Admisso grtis para crianas e adultos". Ao ler isso,indubitavelmente decido ir para casa.

    De alguma maneira, sinto que perdi voc.

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    - Esta A Mente! exclama o mgico levantando os braos para o cu. Ela explicatodo comportamento, ela contm todas as causas de nosso comportamento.

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    PARTEIIAPRENDERASERMGICO

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    Para facilitar que o leitor aprenda os treze truques de magia executados pelomgico, em seguida descrevemos cada um deles. Pensamos que isto poderia animar aoleitor a executar estes truques frente a seus familiares e amigos.

    Lembre-se de que a nica coisa em que o mgico se baseou para executar os trezetruques foi no comportamento ou comportamento de golpearJoo. Tanto o mgico comons nomeamos o que Joo fez a Pedro com o verbo "golpear".

    TRUQUE1

    Nome: Re-verbalizao redutiva

    Descrio do truque: neste primeiro truque, o mgico nomeia a ao de golpearcom o verbo "agredir". Justifica o uso do verbo agredir, porque com ele podemos designaruma grande variedade de atos ou comportamentos, como golpear, bater, beliscar,empurrar. Tambm justifica a mudana de nome dizendo que, quando golpear tem ainteno (funo ou propsito) de machucar, mais apropriado usar o termo "agredir".

    Note que o mgico somente mudou o nome do comportamento de Joo: de"golpear" para "agredir".

    Se voc deseja executar esse e os seguintes truques, pode pedir de favor a umamigo e a namorada de seu amigo que lhe sirvam de sujeitos.

    Para realizar este truque, primeiro pea a seu amigo que beije-a, abrace-a, quepegue a mo dela e acaricie-lhe. Se voc executar com xito esse truque, seu amigo e anoiva de seu amigo terminaro designando o comportamento de beijar com a palavra"amar".

    Note que voc s mudou o nome do comportamento de seu amigo: de "beijar" para"amar".

    TRUQUE2

    Nome: Descrio Fictcia I

    Descrio do truque: neste truque, o mgico faz aparecer o termo "agrediu" eutiliza-o para descrever o comportamento de golpear de Joo. Para o mgico, Joo nogolpeou Pedro, mas o "agrediu" dando-lhe um golpe.

    Voc pode executar este truque fazendo aparecer a palavra "amou" e utilizando-apara descrever o que seu amigo fez com sua namorada, no lugar da palavra "beijou". Claroque a namorada de seu amigo se lhe agradecer, porque se sentir melhor ao saber queseu namorado no apenas a beijou, mas que tambm a amou.

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    TRUQUE3

    Nome: Substantivao, nominao do verbo ou reificao

    Descrio do truque: neste ato o mgico converte o verbo "agredir" no substantivo

    "agresso".Aqui voc pode fazer o "amar", que voc mesmo fez aparecer no truque um,

    converter-se em "amor".

    Agora existe o "amor", mas nem voc nem eu nem ningum saberia dizer ondeest: se em seu amigo, em sua namorada, em ambos, ou justamente entre ambos. certoque seus amigos se maravilharo com este truque. Voc fez aparecer o amor!

    TRUQUE4

    Nome: Descrio Fictcia II

    Descrio do truque: neste ato o mgico introduz "a agresso" dentro de Joo. Omgico, como resultado de sua magia, conclui que uma melhor descrio docomportamento de Joo dizer que "tem agresso".

    Junto com este truque o mgico executa outro ao qual lhe chama Sentir Fictcio I.Como resultado desta magia, o mgico conclui que quando Joo golpeou Pedro, este sentiu"agresso", no apenas dor.

    Continuando com sua tentativa de ser mgico. Voc pode introduzir o "amor"dentro de seu amigo. No se angustie, no lhe far mal; fazemos isso o tempo todo. Agorapodemos dizer que, se seu amigo beija a namorada, descreveremos melhor o que fezafirmando que seu amigo "tem amor" dentro dele. Claro, podemos esquecer-nos do beijo.Que importncia tem um beijo quando existe amor?

    TRUQUE5

    Nome: Colocar um trao

    Descrio do truque: o mgico converte "a agressividade" em um trao depersonalidade.

    Antes deste truque, o mgico executa trs truques aos quais nomeia: Sentir FictcioII, Re-substantivao e Construtivao.

    Como resultado do truque Sentir Fictcio II, o mgico afirma que Joo sentiu"agresso" quando golpeou Pedro.

    Como resultado do truque Re-substantivao, o mgico faz aparecer o substantivo

    "agressividade" baseando-se no substantivo "agresso. "

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    Como resultado do truque Construtivao, o mgico faz aparecer apersonalidade.

    Voc pode executar estes truques sem dificuldade. Primeiro, afirme que seu amigo"sentiu amor" quando beijou sua namorada. Logo, faa aparecer o substantivo"amorosidade", baseando-se no substantivo "amor". Logo, introduza as mos de seu amigo

    na cartola e faa aparecer apersonalidade.

    Por ltimo, coloque a "amorosidade" na recm aparecida personalidade de seuamigo.

    Se lhe perguntarem: "Onde est a personalidade?", voc responde: "Bom, veremosno truque 13".

    Claro, a palavra "amorosidade" no existe em portugus, mas no se angustie, osdicionrios finalmente acrescentam palavras que o pblico usa. Lembre-se: os dicionriosos fazemos ns. Tudo questo de tempo, do nmero de pessoas que utilizem as palavras

    que depois incluiro.

    TRUQUE6

    Nome: Gerundizao

    Descrio do truque: o mgico converte o termo "agredir" no termo "agredindo" econclui que no momento em que Joo golpeia Pedro no o agride, mas o est agredindo.

    Voc pega agora o verbo "amar" e converte-o em "amando". Se obtiver xito, seuamigo no estar unicamente beijando a sua namorada, nem ter "amor" dentro dele; masestar "amando"-a. Claro, a namorada de seu amigo lho agradecer. to bonito saber quealgum nos est amando!

    TRUQUE7

    Nome:Adverbializao

    Descrio do truque: o mgico converte o substantivo "agressividade" no advrbio

    "agressivamente".

    Continuando com seu interesse pela magia, voc pode tomar o substantivo "amor"(o que tem seu amigo dentro dele) e convert-lo no advrbio: "amorosamente".

    Desta maneira, seu amigo trata "amorosamente" a sua namorada, no apenas aama ou lhe d um beijo. Claro, a namorada ficar contente com o resultado do truque e nodemorar para dizer que seu amigo a trata "amorosamente".

    TRUQUE8

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    Nome:Adjetivao

    Descrio do truque: o mgico converte o substantivo "agresso" no adjetivo"agressivo". Assim, o mgico conclui que Joo no apenas "tem agresso", mas que "agressivo".

    Voc pode executar este truque sem dificuldade. Tome o substantivo "amor" econverta-o em "amoroso". provvel que a namorada de seu amigo tenha executado esseato de magia antes que voc, dizendo a seu amigo "amoroso". Mas no se sinta mal, os atosde magia que voc est aprendendo ns todos os executamos, constantemente e sem nosdarmos conta. Talvez seja precisamente nisso onde reside a destreza dos mgicos:ensinam-nos a executar este e outros truques desde que somos crianas, sem dar-se contado que fazem.

    TRUQUE9

    Nome: Etiquetar o ator

    Descrio do truque: o mgico converte a "agressividade" e a "agresso" noadjetivo "agressor".

    Por sua vez, tome voc com muito cuidado a "amorosidade" e o "amor" de seuamigo; misture-os e converta-os em "amante" ou em "amador". A namorada de seu amigoagora tem um amante ou amador. Na verdade no sei dizer como responder ela com apalavra "amante", j que esta tem tanto conotaes positivas como negativas. Para alguns,

    um amante algum que vem, ama e vai; para outros, algum que ama como se estivessesempre muito privado de amor. Por isso melhor que unicamente lhe informe que seuamigo um "amador".

    TRUQUE10

    Nome: Explicao Fictcia I

    Descrio do truque: neste truque o mgico faz aparecer a seguinte "explicao":

    Joo golpeou Pedro porque tem agressividade ou umapersonalidade agressiva.

    Se a namorada de seu amigo lhe pergunta: Por que ele me beijou?, responda:"Porque tem uma personalidade amorosa ou amorosidade". Asseguro-lhe que ela ficarsatisfeita com a resposta.

    TRUQUE11

    Nome: Explicao Fictcia II

    Descrio do truque: o mgico faz aparecer a seguinte "explicao": Joo golpeouPedro porque agressivo.

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    Aqui, diga-lhe, melhor dizendo, explique namorada que seu amigo a beijouporque amoroso.

    TRUQUE12

    Nome: Explicao Fictcia III

    Descrio do truque: neste truque o mgico faz aparecer a seguinte "explicao":Joo agressivo porque tem agresso, ou uma personalidade agressiva ou porque temagressividade.

    Aqui voc pode dizer namorada de seu amigo que ele amoroso porque temamor, uma personalidade amorosa ou porque tem amorosidade. Asseguro-lhe que elagostar de o saber. Dir surpreendida: "Ento ele no apenas me beija, nem apenas me

    ama, mas sua maneira de ser, sua personalidade amorosa. Que emoo!"

    TRUQUE13

    Nome:Apario da Mente

    Descrio do truque: neste ltimo truque o mgico faz aparecer a mente, na qual(segundo os psiclogos em geral) reside o comportamento e as causas do mesmo.

    Na verdade, no sei se voc poder realizar este truque, nem sequer estou seguro

    de que seja conveniente que voc trate de o aprender. Creio que melhor deix-lo apenasaos mgicos.

    Em seguida, os truques que o mgico e voc executaram.

    1. Reverbalizao Redutiva

    O mgico:

    Do "golpear", "bater", "empurrar", "beliscar" ao "agredir".

    Voc:

    Do "beijar", "abraar", "tomar a mo", e "acariciar" ao "amar".

    2. Descrio Fictcia IO mgico:

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    Do "golpeou" ao "agrediu".

    Voc:

    Do "beijou" ao "amou".

    3. Substantivao, nominao ou reificao

    O mgico:

    Do "agredir" "agresso".

    Voc:

    Do "amar" ao "amor".

    4. Descrio Fictcia II

    O mgico:

    Do "Joo golpeia ou agride Pedro" ao "Joo tem agresso nele".

    Voc:

    Do "seu amigo beija sua namorada", ao "seu amigo tem amornele".

    Sentir Fictcio I

    O mgico:

    De que Pedro "sinta o golpe" a que Pedro "sinta a agresso".

    Voc:

    De que a namorada de seu amigo "sinta o beijo" a que ela "sinta o amor".

    5. Colocar um trao

    O mgico:

    Da "agressividade" a coloc-la na personalidade (personalidade agressiva).

    Voc:

    Da "amorosidade" a coloc-la na personalidade (personalidade amorosa).

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    Sentir Fictcio II

    O mgico:

    De que Joo "sinta que golpeia Pedro" a que Joo "sinta agresso".

    Voc:

    De que seu amigo "sinta que beija sua namorada" a que ele "sinta amor".

    Re-substantivao

    O mgico:

    Do substantivo "agresso" ao substantivo "agressividade".

    Voc:

    Do substantivo "amor" ao substantivo "amorosidade".

    Construtivao

    O mgico:

    Aparece apersonalidade.

    Voc:

    Aparece apersonalidade.

    6. Gerundizao

    O mgico:

    Do "agredir" ao "agredindo".

    Voc:

    Do "amar" ao "amando".

    7. Adverbializao

    O mgico:

    Da "agressividade" ao "agressivamente".

    Voc:

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    Da "amorosidade" ao "amorosamente".

    8. Adjetivao

    O mgico:

    Da "agresso" ao "agressivo".

    Voc:

    Do "amor" ao "amoroso".

    9. Etiquetar o ator

    O mgico:

    Da "agressividade" e "a agresso" ao "agressor".

    Voc:

    Da "amorosidade" e "o amor" ao "amante" ou "amador".

    10. Explicao Fictcia I

    O mgico:

    Por que Joo golpeou Pedro? Porque tem "agressividade", uma "personalidadeagressiva". Como se sabe que tem "agressividade" ou uma "personalidade agressiva"? Porque Joo golpeou Pedro.

    Voc:

    Por que seu amigo beijou sua namorada? Porque tem "amor", uma"personalidade amorosa". Como se sabe que tem "amor" ou uma "personalidadeamorosa"? Porque seu amigo beijou sua namorada.

    11. Explicao Fictcia II

    O mgico:

    Por que Joo golpeou Pedro? Porque "agressivo". Por que Joo "agressivo"? Porque Joo golpeou Pedro.

    Voc:

    Por que seu amigo beijou sua namorada? Porque "amoroso". Por que seuamigo "amoroso"? Porque beijou sua namorada.

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    12. Explicao Fictcia III

    O mgico:

    Por que Joo "agressivo"? Porque tem "agresso". Por que tem "agresso"? Porque "agressivo".

    Voc:

    Por que seu amigo "amoroso"? Porque tem "amor". Por que tem "amor"? Porque "amoroso".

    13. A apario da Mente

    O mgico:

    Da "agresso", a "agressividade", a "personalidade agressiva" e do "agressivo" Mente.

    Voc:

    Do "amor", "amorosidade", a "personalidade amorosa" e do "amoroso" Mente.

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    PARTEIIINOTAS

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    Colocamos as notas ao final do livro e no ao p de cada pgina para no distrair oleitor.

    Na medida do possvel, escrevemos as notas de maneira que voc entenda o quedizem sem necessidade de recorrer ao texto ao qual se referem.

    Lembre-se de que as notas, como todo o contedo desse livro, no so um produtoacabado (no tudo o que se pode dizer sobre o tema, nem a melhor forma de diz-lo). Souma inveno para refletir e precisar o que os autores trataram aqui.

    Este livro est em processo, no um livro acabado. Esperamos seus comentrios.

    I

    1. Ao longo deste livro utilizamos os termos "ao", "comportamento" e"comportamento" de maneira indistinta. Ainda que reconheamos a importncia daanlise destes conceitos, realizar esta anlise no agora nosso objetivo.

    2. "Golpear" (o comportamento de Joo), um verbo freqentativo ou iterativo

    (expressa uma ao que consiste na repetio de um mesmo ato), ainda que nesse casoJoo golpeasse Pedro somente uma vez.

    Existe uma grande quantidade de aes ou comportamentos humanas nas quais omgico, voc e todos nos podemos basear para executar estes truques. Na parte II destelivro voc se baseou no comportamento de beijar.

    Ao ler este livro, descobrir que a maioria dos termos que utiliza a psicologia paradescrever e explicar o comportamento so produtos de magia, truques executados porpsiclogos ao longo da histria desta cincia, ou seja, so truques psicolgicos.

    3. muito importante ter presente que a nica coisa que fez Joo no cenriofoi golpear Pedro. O mesmo que importante lembrar que o fez porque o mgicose o pediu, e se o pediu para poder executar seus treze truques de magia. Portanto, aexplicao do comportamento de Joo (por que ocorreu o comportamento) porque omgico pediu a Joo que o fizesse. Se o mgico no lhe pedisse, Joo no golpearia Pedro(ao menos nesse momento).

    Claro, Joo cumpre com a instruo do mgico, porque o mgico lhe paga para isso.O mgico reforou com dinheiro o comportamento de Joo de cumprir suas instrues. Seum dia Joo no golpeasse Pedro na apresentao (no cumprisse com as instrues do

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    mgico), muito provavelmente o mgico o despedir e Joo ficar sem trabalho e semdinheiro.

    4. A palavra "golpe" vem do latim "colaphus" que significa bofetada ou murro, e dogrego "klaphos", que significa bofeto.

    5. "As aes ou comportamentos se nomeiam ou descrevem..." diz o mgico.

    Diferena entre nomeare descrever.

    Existe uma diferena entre nomear e descrever um comportamento ou

    comportamento. Observamos que Joo com seu punho fechado toca violentamente Pedrona face e nomeamos esse comportamento com o termo golpear. Descrevemos ocomportamento de Joo dizendo: "Joo golpeia Pedro com o punho". A descrio podevariar em nveis de especificao. Por exemplo: "Joo golpeia Pedro uma vez na face, com opunho de sua mo direita" descreve melhor o comportamento do que dizer: "Joo golpeiaPedro".

    "Golpear" a resposta pergunta: Como se nomeia ao ou comportamento deJoo?

    "Joo golpeia Pedro com o punho" a resposta pergunta: O que fez Joo?

    "Golpeando" ("Joo est golpeando Pedro") descreve o comportamento de Joonesse momento e responde a pergunta: O que est fazendo Joo agora?

    "Golpeou" ("Joo golpeou Pedro") descreve o comportamento passada de Joo, eresponde pergunta: O que fez Joo?

    6. "Golpear": um verbo

    Golpear o verbo no infinitivo. Verbo no infinitivo: forma do verbo que expressa aao em abstrato, sem objetivar uma pessoa, um tempo ou um nmero (PequenoLarousse, 2002).

    "Golpeando" e "golpeou" no so formas de verbo no infinitivo. Para nomear umcomportamento usamos verbos no infinitivo, ainda que no o faamos para descrever umcomportamento.

    "Falar", "correr", "pensar", "imaginar", "sentir" e muitos outros so verbos noinfinitivo que nomeiam comportamentos.

    Definio de verbo

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    "Verbo" se define como a palavra com que se expressam as aes e o estado dosseres, e os processos. Uma definio tomada de "El Diccionario del Uso del Espaol" (MaraMoliner. Editorial Gredos, 1998), a seguinte: "palavra que se conjuga, ou seja, que susceptvel de mudanas que lhe permitem expressar os acidentes de tempo, nmero,pessoa e modo".

    Classificao de verbos

    Existem vrios tipos de verbos. interessante referir-nos a alguns deles e dar-nosconta de que utilizamos diferentes tipos de verbos para falar de processos decomportamento (caminhar) ou de processos no de comportamento (chover). Umprocesso algo que ocorre (que sucede) e no algo que , no uma coisa; uma sucessoou evento.

    Em seguida apresentamos uma classificao de verbos:

    Do ponto de vista formal, os verbos podem ser regulares, irregulares e defectivos.

    Segundo critrios morfossintticos, os verbos se classificam em verbos auxiliares,plenos, copulativos, predicativos, transitivos, intransitivos, pronominais e impessoais.

    Segundo seu significado lxico, em verbos perfectivos e imperfectivos, incoativos,freqentativos e iterativos.

    Verbo pleno. Verbo que possui contedo semntico pleno. Exemplo: chorar,golpear, dormir, correr, comer.

    Verbo atributivo ou copulativo. Verbo usado para unir um atributo ao sujeitoque se predica. Os verbos "ser" e "estar" so fundamentalmente atributivos. Exemplo:"Voc amvel", "Suo comportamento amvel".

    Note-se que quando dizemos "Voc amvel" o verbo atributivo ("ser") oaplicamos a uma pessoa, e quando dizemos "Suo comportamento amvel" o verboatributivo ("ser") o aplicamos a um comportamento, no a uma pessoa. Os mgicosrotulam pessoas. O comportamentalismo no rotula pessoas, mas comportamentos. Osmgicos dizem que uma pessoa " esquizofrnica", que uma criana " autista", oscomportamentalistas dizem que o comportamento da pessoa esquizofrnico, que ocomportamento da criana autista.

    Verbo predicativo. Verbo que tem significado pleno e constitui o ncleo sintticoe semntico do predicado. Exemplo: "o gato dorme", "o empregado trabalha", "a mquinafunciona".

    Verbo transitivo. Verbo que necessita de um objeto ou complemento direto paracompletar eu significado. Exemplo: "Joo come verduras".

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    Verbo intransitivo. Verbo que no necessita um complemento direto, temsignificado completo. Exemplo: "Joo corre".

    Verbo causativo ou factivo. Verbo que significa fazer ou realizar a algo ou aalgum a ao expressada. Exemplo: "Subir em", "Fazer subir ao segundo piso", "Fazer

    chorar algum", "No teatro Joo fez Pedro sofrer".

    Verbo pronominal ou pronominado. Verbo que se conjuga somente com umpronome reflexivo. Exemplo: "arrepender-se", "atrever-se", "alegrar-se", "entristecer-se","manchar-se", "assombrar-se".

    Verbo impessoal. Verbo que carece de sujeito, principalmente se se refere afenmenos atmosfricos. Exemplo: "chove", "neva", "troveja". Claro, fica explcito que nemtodos os verbos se referem ao comportamento de um organismo, o comportamento domundo fsico e outros processos que no so o comportamento dos organismos tambm sedescrevem com verbos. Os mundos fsico e qumico tambm se comportam.

    Verbo perfectivo. Verbo que expressa uma ao cuja realizao instantnea ou expressada como acabada. Exemplo: "estalar", "sair", "morrer", "nascer".

    Verbo imperfectivo. Verbo que no necessita alcanar sua culminao para que aao ou processo tenha lugar ou seja completa. Exemplo: "nadar", "pintar", "ler","escrever", "andar".

    Verbo incoativo. Verbo que enuncia a iniciao de uma ao ou a passagem acerto estado. Exemplo: "empalidecer", "florescer", "irritar-se", "entristecer-se","enriquecer-se". Este verbo muito importante como descritor do comportamento. O

    comportamento um processo, uma sucesso, no uma coisa; portanto, um verboincoativo a descreve melhor. Por exemplo, mais exato dizer: "comportamento de irritar-se", que dizer: "comportamento de estar irritado ou de irritao".

    Verbo freqentativo. Verbo que indica uma ao freqente ou habitual. Exemplo:"cortejar", "tutear".

    Verbo iterativo ou reiterativo. Verbo que expressa uma ao que consiste narepetio do mesmo ato. Exemplo: "golpear", "pestanejar", "vagabundear", "bater".

    Outros tipos de verbos so:

    Verbo determinado. Verbo que rege a outros formando orao com ele. Exemplo:em "quero vir" ("quero" o verbo determinante e "vir" o determinado). "Joo desejogolpear Pedro e por isso o golpeou" seria a forma pela qual o mgico explicou ocomportamento de golpear.

    A traduo correta para este verbo seria "tratar por tu", uma vez que na lngua espanhola,bem como em outros idiomas, impolido conversar com as pessoas com quem no se temintimidade tratando-as pela segunda pessoa do singular ("tu"); indica-se nesses casos ou o

    pronome de tratamento ("voc" "usted") ou a segunda pessoa do plural ("vs" "vosotros"). Nalngua portuguesa do Brasil, essa diferena de tratamento no corrente. [Nota do tradutor.]

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    Verbo de lngua. Verbo que expressa uma ao que consiste em dizer ou falar.Exemplo: "Joo disse o seguinte...".

    Verbo modal ou de vontade. Verbo que exprime uma ao em que h umaparticipao da vontade, o entendimento, a afetividade ou outra faculdade do sujeito.

    Exemplo: "dever", "desejar", "tentar", "mandar", "poder", "querer", "saber", "temer". Osverbos modais foram os mais utilizados pela psicologia. Muitos deles foram inventadospor psiclogos. Exemplo: "traumatizar".

    Verbo reflexivo. A ao do verbo recai no mesmo sujeito que a realiza. Exemplo:"Tapando-me a boca deixei de falar".

    Verbo substantivo. Verbo que pode funcionar como substantivo em uma orao.Os verbos "ser", "fazer", "viver", "amar" pode ser verbos substantivos nos casos de "o ser","o fazer", "o viver" e "o amar". "O viver to difcil quanto o amar".

    Verbo recproco. Verbo que se refere a uma ao que afeta a todos os sujeitosenvolvidos. Exemplo: amamo-nos, agredimo-nos.

    Verbo quase-reflexo oblquo. Verbo que expressa emoo ou estado de nimo.Exemplo, "voc se espanta de mim" e "espanto-me de tudo".

    Verbo quase-reflexo pronominal enftico. Exemplo: "voc bebeu uma copa","voc decidiu escrever".

    Verbo quase-reflexo pronominal obrigatrio. Exemplo: "voc se engana" (nopodemos dizer apenas "engana").

    Apresentamos alguns tipos de verbos para mostrar a amplia variedade de palavras(verbos) que inventamos para falar sobre o comportamento ou sobre outros eventosnaturais que so processos, no coisas. A utilizao de verbos nos levou milhares de anos.De fato, todavia ainda estamos aprendendo a usar verbos e no substantivos para nosreferirmos comportamento.

    7. Verbo substantivo

    Como o vimos, existe uma classe especial de verbos que se lhes chama: verbossubstantivos, "o golpear" e "o agredir" so verbos substantivos.

    8. Pensar um comportamento

    Os exemplos citados pela edio em espanhol ("beber-se" e "decidir-se") sopronominados; em portugus, ambos so verbos transitivos no pronominados. Seria mais

    conveniente, para a traduo, utilizar verbos como "fazer-se" ("voc se fez gente"). [Nota dotradutor.]

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    Pensar algo que uma pessoa faz, portanto, nomeia-se com um verbo: voc pensa,eu penso.

    Pensar um comportamento, e como tal, podemos observ-lo e registr-lo. Porexemplo: podemos observar e registrar as vezes que pensamos sobre algo em particular

    durante o dia. Podemos observar que deixamos de comportar-nos de uma forma (deescrever) e comportamo-nos pensando. Assim dizemos: "Deixei de escrever e agora estoupensando sobre o que escrevi", "deixei de falar e agora estou pensando".

    Claro, pensar no um comportamento discreto, com um incio e um finalfacilmente identificveis. Se nesse momento digo ao leitor: "Por favor, conte do um ao dez;mas os nmeros do seis em diante no os diga, mas apenas os pense", muito provvelque o leitor observe quando comeou a dizer "seis" pensando e quando terminou de dizer"dez" pensando. Neste caso o comportamento de pensar discreto.

    claro que sempre que pensamos, pensamos em algo. Como sempre que falamos,

    falamos algo. Posso pensar em algo: em minha amiga ou no final de semana que passei napraia. Posso registrar as vezes que durante o dia penso sobre o que minha amiga e eufizemos na praia.

    II

    1. Re-verbalizao redutiva

    "Re-verbalizao redutiva" um termo inventado pelo autor, uma palavra queno existe no dicionrio.

    O neologismo "re-verbalizao" significa: integrar a vrios verbos em um s. Porexemplo: o verbo "amar" pode aglutinar os verbos "beijar", "acariciar", "compreender","ajudar", "abraar". Classificamos a re-verbalizao como redutiva quando de muitosverbos fazemos um. O termo "re-verbalizao extensiva" o usamos para nos referirmos aofato de ir de um verbo a muitos.

    2. Significado etimolgico do termo "agredir".

    O verbo agredir provm do latim aggredi que significa "ir at" (com hostilidade).Gradi significa ir, caminhar.

    Existem outras palavras que se derivam da palavra latina "aggredi", comocongresso (caminhar juntos), egresso, progresso (caminhar para frente). Provavelmentese utilizou a palavra "agredir" porque ao faz-lo "sempre uma parte de nosso corpo oualgo vai at algo ou algum".

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    3. Verbo genrico

    Verbo genrico um termo inventado pelo autor. um verbo que nomeia umaclasse de verbos.

    Classe de verbos: verbos que descrevem comportamentos com uma funo ouelemento em comum. "Acariciar" um verbo genrico porque nomeia vriascomportamentos com uma funo equivalente. Podemos acariciar de muitas maneiras.

    4. Como dissemos na nota 7 do captulo I, existem verbos que se utilizam paranomear um comportamento, a estes verbos se lhes chama: verbos substantivos. Assimdizemos: "o golpear", "o agredir".

    Note-se que neste truque (primeiro truque da apresentao) o mgico prope umamudana de nome comportamento de Joo, ou seja, em lugar de nome-la com a palavra"golpear", prope nome-la com a palavra "agredir". Isto no representa um problemapara a cincia do comportamento, j que o mgico simplesmente sugere outra palavrapara nomear a mesmo comportamento. Poderia ter selecionado a palavra "rontiar" ehaveria dado no mesmo. Lembre-se de que o uso de uma palavra sempre arbitrrio.

    5. Note-se que o mgico est utilizando o verbo "agredir" para nomear umconjunto de comportamentos as quais, por sua vez, foram nomeadas por outros verbos. Omgico faz isso ao executar o truque: re-verbalizao redutiva.

    Por que inventamos os verbos genricos?

    provvel que o uso de verbos genricos se deva aos benefcios implicados emeconomizar palavras. Assim, em lugar de dizer: "Maria beija, abraa, acaricia, compreende,sente falta, defende, cuida, elogia, admira Jos", dizemos: "Maria ama Jos".

    O emprego dos verbos genricos para nomear classes de comportamentos noteria sido um obstculo para a compreenso cientfica do comportamento, se seu uso setivesse restringido a descries resumidas de comportamento (nomear a um conjunto decomportamentos que tm um ou vrios elementos em comum, ou seja, alguma funosimilar), se estes verbos no tivessem sido usados para tentar "explicar" ocomportamento. Por exemplo: no h problema em designar com o verbo "amar" vrioscomportamentos de Maria, mas sim, ao tratar de explicar estes comportamentos dizendo:"Maria beija Jos porque o ama".

    III

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    1. O mgico usa os verbos "golpear" e "agredir" para nomear tantocomportamentos especficas como classes de comportamentos. s comportamentosespecficas, de golpear, bater, beliscar e empurrar, nomeou-as com o verbo "agredir". Osautores prope o adjetivo "genrico" para nomear essa "classe de verbos".

    Classe de verbos

    Classe de verbos o conjunto de verbos que nomeiam comportamentos que tmuma funo similar. O termo "funo" pode ser sinnimo do termo objetivo, meta,

    propsito, ou inteno, ainda que seja conveniente considerar que estes termos tmconotaes que no se ajustam a uma terminologia cientfica comportamental: ocomportamento no propositiva, no atuamos como o fazemos para obter objetivos oumetas, ou porque temos a inteno de faz-lo. Atuamos como o fazemos porque nopassado atuar de modo similar teve certo tipo de conseqncias. Ou seja, porque como

    resultado de nosso comportamento, no passado, obtivemos algo agradvel (reforadorpositivo) ou se nos reduziu ou eliminou algo desagradvel (reforador negativo).

    Ento, para o comportamentalismo no temos objetivos nem metas na vida?

    Claro que na vida temos objetivos, metas, propsitos ou intenes (dizemos: "vouconseguir isso", "de hoje em diante este ser o meu objetivo, meu propsito", "trabalhareipara me comprar uma casa", "tenho a inteno de ir ver minha famlia"). Mas no soobjetivos, metas, propsitos ou intenes as razes pelas quais nos comportamentos como

    o fazemos. "Ter objetivos", "fixar metas", "ter propsitos" ou "ter intenes" socomportamentos que necessitam ser explicados. Eles no podem provocar outroscomportamentos.

    verdade que um estudante tem como objetivo obter boas notas no exame deamanh, mas no verdade que as boas notas de amanh sejam o que o faz estudar agora.Como pode um evento que no aconteceu afetar a outro que est acontecendo agora?

    Desta maneira, a explicao comportamentalista de por que um estudante estudaagora, porque no passado, quando estudou, obteve boas notas ou evitou ms notas. Seucomportamento de estudar foi reforado. A explicao de um comportamento no est noque vai acontecer, mas no que j aconteceu.

    2. importante observar que o termo que se utiliza para nomear umcomportamento pode j conter uma (ou o incio de uma) explicao fictcia (pseudo-explicao) da mesma. Por exemplo, se observamos que Marta beija e acaricia Roberto, enomeamos seu comportamento com a palavra "amar", muito provvel que quando se nosperguntem: por que Marta beija e acaricia Roberto?, respondamos: "porque o ama,porque tem amor nela", ou "porque tem um sentimento chamado amor". Assim a pessoa,

    neste caso Marta, no s faz alguma coisa (comportamento) que nomeamos com a palavra"amar", mas tem algo nela que nomeamos com a palavra "amor".

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    Segundo o mgico, como a maioria dos psiclogos, as pessoas tm algo dentro de sique faz com que se comportem da maneira como o fazem, terem pensamentos esentimentos que as fazem comportar-se de uma ou outra forma. Marta tem amor e oexpressa com beijos e carcias. Jos tem dio e o expressa com golpes e gritos. Eu tenhovontade de escrever e voc tem vontade de ler; por isso eu escrevo e voc l.

    Claro, para os comportamentalistas, as pessoas sentem e pensam, mas no "tmsentimentos ou pensamentos" nem estes so a causa de suo comportamento. O pensar esentir so comportamentos, como tambm o so beijar, acariciar, golpear e gritar.

    Sentir e ter

    importante observar que, para os mgicos, a palavra "sentir" implica que existealgo que se sente. Assim, para eles, algo existe e logo se sente.

    Se o mgico diz: "ao apanhar um lpis sentimos o lpis na mo. Sentir que temos olpis na mo uma coisa e o lpis outra", estamos de acordo. Mas se diz: "sente-se umsentimento, e este sentimento existe independentemente do que sentimos", no estamosde acordo. Os sentimentos no so objetos como o lpis, no esto ali e os pomos dentrode ns para senti-los. O que se sente no um sentimento; o que se sente o sentimento.

    Para o mgico, primeiro existe oamor, e logo o sentimos. Para ele, o que sentimosno amor, mas algo que primeiro existe, e logo o sentimos.

    Para isso, os mgicos utilizam a palavra sentirpara referir-se a sentir "o amor", "o

    dio", "a fome", "o medo", etc., como se fossem algo. Mas "o amor", "o dio", "a fome", "omedo" no so algo, no so entes que existem independentemente do sentido. So osentir em si mesmo. Por exemplo: o frio e o calor no existem como algo; no se os sente,mas so o sentido em si mesmo. O frio e o quente so o sentido. Assim, mais precisodizer: "sinto frio ou calor", que dizer: "sinto o frio ou o calor".

    O sentido sempre um estado corporal. Ocorre em nosso organismo e a issochamamos frio, calor, fome, etc.. Ocorre algo no organismo e a isso chamamos "tristeza".

    Algum se sente deprimido ou com fora, tenso ou relaxado, segundo o estado denosso organismo. Claro, os estados de nosso organismo no se auto-originam, mas so

    produto de nossa interao com o meio.

    3. A cincia do comportamento (Anlise do Comportamento) no se interessaunicamente na observao e descrio do comportamento, mas de sua explicao. Osanalistas do comportamento esto interessados no apenas em observar e descrever ocomportamento, mas em explic-la.

    4. Chamamos fictcia ou "pseudo-explicao" a um tipo de descrio que:

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    a) Refere-se ao que no existe. Por exemplo, dizer: "o tritano um elementoqumico composto de potssio e zinco", quando na verdade "tritano" no existe. A palavra"tritano" no tem nenhum referente.

    b) No descreve o que tenta descrever. Por exemplo: descrever a "mesa" dizendo:

    "a mesa tem uma superfcie onde possvel sentar-se e um encosto onde possveldescansar". (Descrio que corresponde cadeira, no mesa).

    Quando o mgico utiliza a palavra "agrediu" e refere-se com ela a algo mais que oque fez Joo, ou funo do que fez (machucar Pedro), a palavra "agrediu" descreve outracoisa.

    No problemtico dizer: "Joo 'agrediu' Pedro" quando "agrediu" sinnimo de"golpeou com a inteno de machucar", e no quando se refere a outra coisa. Assim,podemos dizer que algum tem a "inteno de machucar aos outros" quando aconseqncia que mantm o seu comportamento o machucado que causa aos outros.

    Contudo, problemtico dizer: "Joo no apenas golpeou Pedro como o agrediu porquetem agresso".

    5. O mgico afirma que: "Joo no apenas golpeou Pedro mas tambm o agrediu".Aqui importante considerar de novo que a distino feita pelo mgico poderia serapropriada. Agredir difere de golpear, enquanto que o termo agredirno faz refernciaapenas ao golpe mas "inteno" ou a funo do golpear, que machucar. No caso de queJoo golpeia distraidamente Pedro, no exato dizer que Joo agrediu Pedro, ainda que otenha golpeado.

    Desta maneira, com o termo "agredir" se nomeiam duas coisas: o comportamentodegolpeare a funo da mesma, ou seja, o que se faz e o que mantm ao que se faz: causardano. Em termos comportamentais diramos: se o comportamento de golpear de Joo estmantida por machucar Pedro, ento podemos rotular este comportamento com a palavra"agresso".

    Justifica-se que o mgico invente e utilize a palavra "agresso", s se com ela vnomear outras comportamentos que se executam com a mesma inteno de machucar aosoutros; melhor dizendo, comportamentos que se mantm porque tm como conseqncia

    machucar aos outros. Mas no se justifica usar a palavra "agresso" como substantivo paraexplicar o comportamento de agredir, como quando o mgico diz: "Joo agride Pedroporque tem agresso".

    6. "Para mim, o que fez Joo foi golpear Pedro, e ainda que utilizemos outraspalavras para descrever o que fez Joo, como agredir, estas sempre se referiro a golpear",diz meu amigo.

    Se o mgico logo utiliza a palavra "agredir" para descrever o que Joo fez (golpear

    Pedro)e a funo do que fez (machucar Pedro), ento o mgico est utilizandoapropriadamente a palavra "agredir". Portanto, a afirmao de meu amigo de que

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    "agredir" sempre se referir a golpear verdadeira, ainda que incompleta. verdade,porque o termo "agredir" nomeia o comportamento de golpear de Joo; mas incompleta,porque "agredir" tambm se refere funo do comportamento de golpear de Joo:machucar.

    Do ponto de vista da cincia do comportamento, no existe nenhum problema comque o mgico use a palavra "agredir" para nomear o golpear ou qualquer outrocomportamento de uma pessoa que machuca a outra. O problema se inicia quando, com otermo "agredir" se nomeia algo mais que no seja o comportamento e sua funo: algo queexplica o comportamento de golpear ou agredir.

    7. Por que melhor dizer: "Joo agrediu Pedro", que dizer: "Joo golpeou Pedro"?Talvez, como dissemos anteriormente, porque o termo agredir implica a inteno demachucar a outros ou a um objeto; em termos comportamentais, porque o comportamento

    de agredir tem a funo de causar dano a outros ou