Tribuna Portuguesa

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QUINZENÁRIO INDEPENDENTE AO SERVIÇO DAS COMUNIDADES DE LÍNGUA PORTUGUESA 2 a Quinzena de Maio de 2010 Ano XXX - No. 1086 Modesto, California $1.50 / $40.00 Anual www.portuguesetribune.com www.tribunaportuguesa.com [email protected] Antigos Alunos dos Liceus e Escola dos Açores - a importância de se recordar o passado e reviver amizades pág. 35 Festa do Espírito Santo em Hilmar - uma festa única na California pág.18,19 A J uventude dos 50's Hilmar Nove Ilhas em Festa

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Portuguese Tribune May 15th

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Page 1: Tribuna Portuguesa

QUINZENÁRIO INDEPENDENTE AO SERVIÇO DAS COMUNIDADES DE LÍNGUA PORTUGUESA

2a Quinzena de Maio de 2010Ano XXX - No. 1086 Modesto, California$1.50 / $40.00 Anual

www.portuguesetribune.com www.tribunaportuguesa.com [email protected]

Antigos Alunos dos Liceus e Escola dos Açores - a importância de se recordar o passado e reviver amizades pág. 35

Festa do Espírito Santo em Hilmar - uma festa única na California pág.18,19

A Juventude dos 50's

Hilmar • Nove Ilhas em Festa

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2 15 de Maio de 2010SEGUNDA PÁGINA

Year XXX, Number 1086, May 15th, 2010

Falar de Portugal...

EDITORIAL

Nunca se falou tanto de Portugal na imprensa internacional como agora.Não porque temos das melhores praias do mundo, não porque a nossa comida seja exce-

lente, não porque temos um clima privilegiado, não por-que somos mesmo um País lindo de norte a sul, não porque temos a 3ª melhor selecção de futebol do Mundo.Falaram de nós porque estivemos, estamos e estaremos em maus lençois financeiros, até que, como POVO, possamos compreender que um País só terá futuro quando a sua pro-dutividade do trabalho seja compensadora de riqueza e o seu crescimento económico seja constante.O nosso défice é inferior ao da Alemanha, Italia, Espanha, Irlanda, França, mas a diferença está em que estes países crescem económicamente e nós estamos estagnados já há anos. Que fazer?

Leaim com atenção a crónica do nosso amigo Diniz Bor-ges. É um retrato crítico de uma sociedade comunitária que atravessa um deserto de liderança, um deserto de ideias, não se prevendo um futuro brilhante. Não fomos capazes, em devido tempo, de criar novas lideranças no passado. E é por isso que a nossa melhor juventude vive numa outra California que não a nossa. Andámos muito tempo a olhar para o nosso umbigo, criando egos desme-surados cujos resultados negativos estão à vista. Perdemos o comboio da mudança. Que fazer?

jose avila

As MAIS da QuinzenaO distrito escolar onde Diniz Bor-ges trabalha decidiu que, apesar das reduções e do seu défice de quase 4 milhões de dólares, irá abrir as can-didaturas para um Professor de Por-tuguês que substituirá a Professora Nilza Bettencourt que se aposenta este ano depois de ter feito um tra-balho magnífico. Havia uma certa ansiedade na nossa comunidade de Tulare porque com as reduções existe sempre a possibilidade de reduzirem os cursos. Ainda bem que não o fizeram. Ainda bem que Diniz Borges e outros lutaram para que isso não acontecesse, o que os deixaram eufóricos de alegria pela justa decisão do distrito escolar. Tulare tem 160 alunos inscritos nes-sas duas escolas e se não substitu-íssem Nilza Bettencourt seria uma catástrofe para a presença da nossa língua e cultura no ensino oficial americano em Tulare. Agora é uma questão de colocarem o anuncio e de conseguimos bons candidatos. Esta não é a notícia da quinzena, mas pela importância que tem, é mesmo a NOTÍCIA DO ANO.

O jornalista Jason Oliveira, com 34 anos idade, é um dos membros mais novos do Society of Portuguese-American Students Hall of Fame. É que ao longo dos últimos cinco anos, esta associação estudantil tem dis-tinguido membros da comunidade portuguesa local pelos seus contri-butos nas mais variadas áreas. Todos os anos os MVPA-Awards (Most Valuable Portuguese-Ame-ricans) reconhecem alunos exem-plares e membros da comunidade local que se tenham distinguido. O processo de escolha é feito ao longo de um "retiro" de um dia em que os jovens apresentam e analisam os vá-rios candidatos. (leia mais na página 5)

A maior perseguição da Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado da Igreja. Por isso a Igreja tem uma ne-cessidade profunda de reapren-der a penitência e aceitar a pu-rificação, de aprender por um lado, o perdão, mas também a necessidade de justica", disse o Papa Bento XVI, quando ain-da voava para Portugal. Palavras profundas de um Papa interessa-do em renovar a imagem de uma Igreja ferida no seu interior.

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3COLABORAÇÃO

Tribuna da Saudade

Ferreira Moreno

Através da imprensa regional tive conhecimento que a Câ-mara Municipal da Lagoa, em S. Miguel, havia organizado

novamente o tradicional Concurso de Espantalhos, ou seja, a quinta edição do concurso “A Praga dos Melros nas Sea-ras”, referindo que a execução de espan-talhos é uma expressão da cultura popular, ocupando um lugar de relevo na memória colectiva do povo açoriano.De facto, já no século 16 os agricultores das ilhas açorianas construiam espanta-lhos a fim de afastar a praga dos melros nas colheitas. Dest’arte, a edilidade lago-ense tenciona recuperar e dinamizar uma tradição significativa dos tempos antigos nas nossas ilhas, e de que ainda retenho imagens gravadas nas recordações da mi-nha infância.Na série “Tradições, Costumes & Turis-mo”, em Junho de 1947, o saudoso “Mes-tre” Carreiro da Costa referiu-se aos es-pantalhos numa narrativa a propósito do vigiar da praga, descrevendo que pelos so-alheiros dias de Junho “quem percorrer os campos de cultura de quase todas as ilhas açorianas, e se detiver junto dos trigais já louros e prestes a amadurecerem, verifi-cará uma algazarra inundando várzeas e encostas”. Tamanha algazarra traduzia-se no vozear do rapazio atento por atalhos e veredas, juntamente com o chocalhar de latas e campainhas espalhadas pela cor-renteza das terras. No dizer de Carreiro da Costa, “era este o quadro alegre e pitoresco do vigiar da praga dos melros que, vendo as searas já sazonadas, começam a rondá-

las aos bandos, na luta de debicarem uns grãos louros que telintam como guizos nas espigas, ao mínimo sopro da viração”.Constituia um vistoso espectáculo ver o frenético esvoaçar da passarada, de mis-tura com prodígios de equilíbrio sobre as espigas, num constante bica-que-bica dos grãos de trigo. No entanto, era imperativo zelar pela seara. Por isso, tornava-se ur-gente o recurso a todas as artimanhas pos-síveis e imaginárias p’ra afugentar a inva-são dos melros, mais conhecida por praga.No número de artimanhas alinhavam-se paus e canas com pequenas bandeirolas nas pontas, bem como espécies de palan-quins aonde convergia uma série de fios fazendo mover latas e espantalhos em diversos locais do trigal, e ainda bonecos disformes agitando os braços ao sopro do vento. A tudo isto acumulava-se o ruidoso berreiro da rapaziada.Consoante o testemunho de Gaspar Fru-tuoso (Saudades da Terra, Livro IV), já no século 16 existia em S. Miguel grande infinidade de pássaros de diversas sortes e muitas outras aves. Igualmente sabemos que, nos primeiros decénios da vida insu-lar, os Açores foram um importante centro de produção cerealífera. Por conseguinte, com tanta passarada à volta ultrapassando o número de povoadores, foi por vezes de-terminado pelas autoridades usar medidas preventivas com vista a abater a nefanda praga dos melros.Carreiro da Costa apresentou uma selecta lista de provisões municipais a este respei-to, e de que me abstenho enumerar aqui e agora. Neste momento bastará apontar

que, na história da vida humana nos Aço-res, aquela animada tradição tem os seus precedentes, quando nos campos de cul-tura volteavam ranchos de rapazes pelas searas, gritando e cantando, manejando espantalhos, latas e campainhas por entre as espigas loiras, na ânsia e azáfama de es-pantar a canalhada de melros numa porfia endiabrada.Em inglês, espantalho toma o nome de scarecrow. Na Grécia antiga foi costume colocar nos campos estátuas de madeira com a efígie de Priapus, filho de Afrodi-te, mas com aparência de homem velho, gordo e cómico. (The Oxford Illustrated Companion to World Mythology). Aparen-temente, os pássaros evitavam pousar nos campos onde Priapus presidia. A influên-cia grega estendeu-se ao território romano, cujos agricultores adoptaram semelhante modalidade.Em japonês, o espantalho recebe o nome de kakashi. Original-mente era feito com trapos, campainhas e paus, afixos num mastro levantado no campo e ao qual se pegava fogo. Presentemente, usam-se espantalhos de forma de bonecos com chapéus e casacas de chuva. Na Eu-ropa medieval emprega-vam-se crianças a correr e a gritar pelos campos a fim de estorvar os mel-ros. Mais tarde, devido à peste e mortalidade in-

fantil, os agricultores resolveram utilizar bonecos de palha chamados guardiões das colheitas.Os scarecrows (espantalhos) marcaram a sua presença entre as tribos dos Nativos Norte-Americanos, antecedendo a chega-da dos emigrantes europeus e seus costu-mes caseiros. Na Califórnia é mais popular o uso de fitas, reflexivas e alumiosas, ata-das às plantas, e assim criando um inten-so tremeluzir dos raios do sol, inibindo a aterragem da passarada.

Chocalheiras, invejosas,Não querem bem a ninguém;São espantalhos da má língua,Tiram a honra a quem na tem.

Rapariga, se casares,Toma conselho primeiro:Mais vale um rapaz sem nada,Do que um espantalho com dinheiro.

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4 15 de Maio de 2010COLABORAÇÃO

Açores: A Agropecuária Precisa Nova Estratégia

A produção e exporta-ção açoriana tem sido marcada por épocas distintas como a da

laranja, a do pastel, e nas últimas décadas a do leite (vaca), e seus derivados, bem como a carne. Contudo a presente situação eco-nómica mundial, bem como o sis-tema de cotas atribuídas à produ-ção de leite pela União Europeia (UE) para os Açores, têm criado dificuldades na quantidade da produção, estrangulando-a. A excedente produção de leite açoriano pode paralisar a indús-tria leiteira, por não haver merca-do que o assimile. Isso não é nada de novo, porque antes de sermos membros da UE já o leite era ex-cedentário na Europa. Hoje temos uma crise económica na UE, e um euro demasiado forte que limita a exportação dos nossos produ-tos, pelo que os Açores têm que criar produtos alternativos de boa qualidade e rentabilidade para contra-balançar a flutuação eco-nómica. Como tal hoje há neces-sidade de criatividade e atenção à demanda. Parece-me que o gover-no dos Açores terá que repensar a orientação a dar à agropecuária regional. Os produtos biológicos (naturais) são, cada vez mais pro-curados pelo consumidor que não aceita comer carne ou beber leite e seus derivados provenientes de animais alimentados com ração. A carne e o leite produzido por estes animais contêm substân-cias tóxicas e produtos alterados geneticamente. Todas essas subs-tâncias (bioquímicos) debilitam o sistema imunitário humano, tor-nando-o receptivo a um número ilimitado de doenças, passando

pelas alergias, asma, bronquites e outras mais, incluindo o cancro. Por exemplo, o milho que hoje é consumido, e que compõem os mais variados produtos alimen-tares, è na sua maioria genética-mente alterado para que o grão seja maior, mais resistente a in-sectos e doenças que interferem com a sua produção massiva. É bem possível que hoje nos Aço-res não se encontre um único lavrador que possua sementes de milho, originadas há duas ou mais dezenas de anos. Assim, as sementes que hoje se lançam à terra são geneticamente altera-das, influenciando o nosso siste-ma imune, deixando-o mais débil contra doenças, todas as vezes que nos alimentamos. Se a gente dos Açores quer fazer algo pela sua agricultura e pecuária tem que pensar numa mudança que leve as ilhas a serem reconhe-cidas como uma das regiões do país, e do mundo mais ecológica, orgânica e biológica. Isso será um cartaz altamente convidativo para quem pelo mundo procura países, terras ou localidades que garantem a experiência de uma alimentação biológica. A UE já aboliu o uso de todo o tipo de hormonas sintéticas no alimen-to animal, pelo que, por si é um grande passo neste sentido, res-tando aos Açores uma estratégia inteligente que conduza a uma pecuária e agricultura com futu-ro a longo prazo. A deputados açorianos na UA pesa a tarefa da aprovação de um plano económico de apoiou à agricultura orgânica. Para tal, um estudo científico das proprieda-des do solo por ilha é uma priori-

dade. Como é óbvio, as explorações orgâ-nicas excluem pro-dutos bioquímicos, incluindo hormonas e antibióticos. Re-comendações que são essenciais para o tratamento dos ani-mais, na sua repro-dução e produção. O estômago dos bo-vinos é desenhado para digerir erva e milho basto, e não milho em grão ou ração. Os Açores possuem excelentes pasta-gens e milho basto para alimentação de bovinos e não só, mas o solo não tem a base orgânica ne-cessária, por não ser adubado com produtos naturais. Os porcos e as galinhas gostam mais de grão, mas hoje são ali-mentados com ração e milho ge-neticamente alterado, o que terá de ser corrigido.

A maioria dos animais nos Açores vivem ao ar livre, contudo os que ainda vivem qua-

se exclusivamente amarrados e em alpendres, alimentados com ração, têm que mudar de dieta, vir para a rua pastar livremente, e respirar ar puro, o que garantirá uma melhor condição de vida. Nos últimos meses têm-se insis-tido na agropecuária, agricultu-ra e pescas, surpresa agradável porque até há pouco só se falava do turismo, sem transportes, avi-

ões ou barcos. É bom que assim seja, pois a agricultura e as pes-cas serão talvez, as garantias da subsistência e autonomia do ar-quipélago. O peixe dos Açores é dos mais biológicos do mercado, mas a indústria açoriana da pesca necessita de mais apoio técnico e menos burocracia até mesmo no transporte do pescado. A nossa carne é de boa qualidade mas poderá ser excelente se seguir-mos os métodos de alimentação orgânica, que os japoneses usam na alimentação dos bovinos pro-dutores do famoso KOBE BEEF.A agropecuária biológica no século XXI deve ser a grande aposta dos governantes da região Açores. O solo dos Açores quan-do organicamente preparado para além de dar vida à indústria lei-teira, pode produzir milho, trigo,

cevada, legumes, vegetais e fruta de excelente qualidade, com óp-tima aparência e excelente sabor. Os Açores è uma região muito pe-quena para competir com o mer-cado mundial, mas pode produzir produtos de muito boa qualidade orgânicos/biológicos, como o peixe a carne e o leite que toda a Europa e não só, pode comprar. Na página da NET Organic Val-ley Cooperation, pode-se encon-trar informação muito válida sobre o desenvolvimento da ex-ploração agropecuária orgânica/biológica. Esta contém resultados da investigação científica levada a cabo nesta área. www.organi-cvalley.coop/why-organic

ApontamentoSerafim [email protected]

Page 5: Tribuna Portuguesa

5COLABORAÇÃO

Este ano foram distinguidos como Negócio do Ano a padaria portuguesa de Tulare, Portugal Imports and Bakery; o leiteiro do ano for Joa-quim Mattos e filhos; a organização do ano, o Tulare-Angrense Atlético Clube; a voluntária do ano Irene Santos; o "honorary Portuguese-American" distinção dada a alguém que não sendo português tenha contribuído para a cul-tura portuguesa, foi o Monsenhor Rick Uri-zalqui; a professora do ano, Nilza Bettencourt que depois de dar aulas de português duran-te 14 anos, aposenta-se neste ano escolar; o galardão inspiração do ano foi dado a Daniel Macedo. É que este ancião da nossa comu-nidade dedicou os últimos 30 anos a ensinar jovens luso-descendentes a tocarem vários instrumentos de corda, incluindo a viola da terra da ilha Terceira.Por último, foi apresentado o mais prestigioso galardão: O SOPAS Hall of Fame. Esse galar-doado o jovem jornalista da televisão ameri-cana: Jason Oliveira. Filho de pais oriundos de Portugal Continental, Dominic e Jacinta Oliveira, Jason nasceu em Connecticut mas com 4 anos veio para Tulare. Estudou nas es-colas publicas de Tulare, foi membro do clube Português e frequentou o curso de português da mesma escola. Licenciou-se em jornalis-mo pela Universidade estadual da Califórnia em Fullerton e desde o ano 2001 é jornalista televisivo, tendo estado na Fox News de Los Angeles, no estado de Oaklahoma e ultima-mente como director desportivo dos noticiá-rios do canal KFSN-ABC30 em Fresno.Recorde-se que a primeira pessoa a receber o Hall of Fame foi o Congressista luso-descen-dente Devin Nunes, o segundo galardoado foi o distinto juiz Dr. William Silveira Jr., a ter-ceira pessoa foi a Dra. Lúcia Noia, a quarta a Professora Doutora Deolinda Adão e este ano Jason Oliveira.

Crónicas Terceirenses

Victor Rui Dores

[email protected] Lima

Os que ainda o conheceram lem-bram-se dele sentado num dos bancos da Praça Velha. Era de baixa estatura e vestia-se in-

variavelmente de preto. Ali ficava ele, à sombra dos ramos das majestosas árvores daquele espaço, o queixo apoiado sobre as mãos que se cruzavam no castão de prata da inseparável bengala. Dotado de um re-finadíssimo sentido de humor, gozava de grande popularidade por ser homem sim-ples e humilde.Dele reteve o imaginário popular vários episódios, havendo um, recordado por Au-gusto Gomes em Filósofos da rua, que se conta da seguinte maneira. Gervásio Lima lançara o alvitre para a realização da primeira comemoração da Batalha da Salga, sugestão que recebera acolhimento entusiástico. Após intensos meses de laborioso trabalho preparatório, chegara o dia da comemoração que raiara esplendoroso, fazendo-se sentir um calor insuportável à medida que se ia aproxi-mando a hora das solenidades. Só que, nesse preciso momento, o autor da inicia-tiva encontrava-se placidamente sentado no seu habitual banco da Praça Velha. Um amigo, estranhando o facto, perguntou-lhe:-Ó Gervásio. Ainda aí estás?-Onde querias que eu estivesse?! – respon-deu-lhe o interpelado a simular admira-ção.-Na Salga, onde havia de ser?-Na Salga?!... Com este calor? Só quem es-tiver doido!... – retorquiu Gervásio aparen-tando indiferença, ao mesmo tempo que se abanava com um jornal.Gervásio Lima nasceu no dia 26 de Março de 1876, na então vila da Praia da Vitória, filho de Rosa Leontina de Menezes Lima

e Manuel Joaquim da Silva L i m a , terceiren-ses, fi-cando ór-fão de pai com ape-nas cinco m e s e s de idade. A mãe e duas tias

encarregaram-se da sua educação. Aos 11 anos entrou para o serviço de seu padrinho Gervásio Lourenço, escrivão-notário com cartório em Angra do Heroísmo. Desde muito cedo revelou vocação para as Le-tras, entregando-se com entusiasmo à lei-tura dos clássicos e, deste modo, adquiriu uma sólida formação livresca. Aos 18 anos colaborava já em vários jornais e revistas. O seu baptismo literário far-se-ia com um livro de contos intitulado Saudades, edita-do pela livraria Sousa & Andrade. Seguir-se-iam uma série de folhetos e vasta co-laboração em jornais e revistas regionais, nacionais e estrangeiros.Exemplo de autodidacta, possuidor de um estilo ultra-romântico e francamente hi-perbólico, foi um dos mais fecundos escri-tores açorianos da sua época. Dedicou-se ao jornalismo, à poesia, ao conto, ao tea-tro, à monografia e à investigação histórica e etnográfica. Exerceu, durante toda a sua vida, o cargo de bibliotecário da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. Munido de lápis e papel, foi um dos primeiros ter-ceirenses a fazer recolha de materiais de cultura popular, nomeadamente as quadras de cantadores, improvisadores e outros

poetas populares, sobre quem viria depois a publicar várias colectâneas. (Deve-se a ele, por exemplo, a primeira recolha, in situ, da canção “ As Velhas”).Gervásio Lima foi contemporâneo de ou-tros terceirenses, também autodidactas e sem formação académica, mas com nomes bem firmados na actividade literária, artís-tica e jornalística local: João Carlos Moniz (1882-1955), José Augusto Pereira (1885-1969), Raimundo Belo (1897-1958), Madu-ro Dias (1904-1986), entre outros.Em 1928 Gervásio Lima publicou a sua obra maior: A Pátria Açoreana, com o ob-jectivo expresso de comemorar o 5º cen-tenário do descobrimento dos Açores. A pátria, “terra-mater”, é, na sua visão, um “título carinhoso, sintético da Pátria Por-tuguesa”, uma forma de expressão con-densada e sublime das virtudes nacionais que encontraram, nos Açores, as condições ideais para se desenvolverem. Por isso, o autor, utilizando o discurso nacionalista da época, começa por enaltecer globalmente a terra açoriana. Depois debruça-se sobre cada ilha e sobre as suas belezas naturais, para caracterizar, em seguida, o açoria-no como tipo genérico. A mulher merece um capítulo específico e termina com um vasto rol de heróis que ilustram a História insular: navegadores, apóstolos, santos, homens das letras, das ciências e das artes. O povo açoriano não se define, segundo Gervásio Lima, pela diferença em relação aos outros portugueses, mas por ser o lídi-mo representante do que há de mais genui-namente português, ancestral e elevado na alma da nação. Ao longo da obra, o escri-tor recorre a citações de muitos autores e viajantes para melhor demonstrar a exce-lência da terra e das gentes açorianas.Uma outra obra de referência deste autor

é o Breviário Açoreano (1934), repositório de acontecimentos históricos marcantes vividos nos Açores. Também aqui o autor se empenha em redimir do esquecimento as mais variadas figuras açorianas. E, mais uma vez, estamos perante páginas repas-sadas de vigorosa exaltação patriótica.Em 1932 Gervásio Lima organizou, na cidade de Angra do Heroísmo, o Torneio Açoriano Literário e Artístico, cujo relato consta em três volumes sob aquele título.Dos muitos títulos honoríficos consegui-dos pelo seu trabalho dedicado às Letras, destaque-se o de Cavaleiro da Ordem Mi-litar de S. Tiago da Espada (cf. foto do escritor), por indicação do então Ministro do Interior. Muitas outras homenagens lhe foram prestadas por diversas Academias e Institutos (nacionais e estrangeiros), bem como por Câmaras Municipais dos Açores.Este terceirense era o sócio fundador mais velho do Instituto Histórico da ilha Tercei-ra quando este foi criado em 1943. Faleceu, dois anos mais tarde, em Angra do Hero-ísmo, no dia 25 de Fevereiro, deixando quarenta e cinco publicações editadas ao longo de uma vida de estudo e pesquisa.De referir ainda que Gervásio Lima com-punha e imprimia os seus livros no rés-do-chão da sua própria casa, situada na Rua de Santo Espírito (nº 23). Nesta casa há uma lápide onde se lê: Aqui viveu Gervá-sio Lima/ cantando a sua terra/ Os amigos da Terceira, 1945. A casa onde nasceu, na Praia da Vitória, está igualmente assina-lada com uma lápide, fazendo o seu nome parte da toponímia daquela cidade – Rua Gervásio Lima. Tinha por ele uma grande estima e sobre ele escreveu algumas pági-nas de apreço um outro praiense: Vitorino Nemésio.

Jornalista da TV Americana O evento contou com a participação do Cônsul Geral de Portugal em São Francisco, do Di-rector do Distrito Escolar de Tulare Howard Berger, com o Mayor da cidade de Tulare, as-sim como representação da legisladora Connie Conway e do congressista Devin Nunes, am-bos agraciando os premiados com certificados da Assembleia e do Congresso.Cerca de 360 pessoas assistiram ao evento. O jornal de Tulare, o Advance-Register cogno-minou o evento como: "o grande evento da co-munidade portuguesa local. Os prémios mais distintos que a comunidade local apresenta." O acontecimento também teve cobertura de primeira página pelo jornal Tulare Voice que é distribuído a milhares de habitantes desta cida-de. O Presidente da Câmara de Tulare, Craig Vejvoda salientou a importância do evento, di-zendo que o mesmo faz parte das actividades significantes da cidade. O Cônsul Geral de Portugal em São Francisco Dr. António Costa Moura, que também estava em representação do Senhor Embaixador de Portugal em Wa-shington falou da importância das comunida-des e da relevância dos cursos de língua e cul-tura portuguesas nas escolas do ensino oficial americano.O evento foi coordenado por Diniz Borges, professor de português na escola secundária Tulare Union High School, director do depar-tamento de línguas estrangeiras da mesma es-cola e o professor encarregado da associação SOPAS na Tulare Union. O evento foi organi-zado pelos alunos com a colaboração de alguns pais. Para Luís Rebelo, presidente a associa-ção estudantil SOPAS no campus da escola Tulare Union, este acontecimento é "marcante na vida dos alunos e da comunidade." Todos os anos há em simultâneo uma celebra-ção cultural. Este ano o momento cultural foi dedicado ao Nobel da Literatura José Saramago.

Page 6: Tribuna Portuguesa

6 15 de Maio de 2010COLABORAÇÃO

A Foto da Quinzena autor desconhecido

Auxilio de CompaixãoMilhares de pessoas vão beneficiar de um processo novo para benefícios de defici-ências (disability), com o novo Seguro Social chamado, “auxílio de compaixão”. Auxílio de compaixão é uma maneira de identificar doenças e condições sérias. O Seguro Social anunciou agora mais de 38 condições novas para a lista das 50 con-dições originais (25 doenças raras, e 25 tipos de cancer) que já tinha sido falado em Outubro 2008. Exemplos das condi-ções novas são doenças do cérebro e do-enças raras que afectam crianças. Com este processo, milhares de pessoas com estas condições devastadoras, vão ver aprovados os benefícios em dias, em vez de meses ou anos. Alzheimer's é uma das doenças deste proceso.

Você esta poupando para o futuro?

Só 43% dos americanos tem poupado menos de $10,000.00 para a sua reforma. 27% pouparam menos de $1,000.00. Se você ainda não o fez, agora é tempo para começar a poupar dinheiro para a sua re-forma, não importando a sua idade. Pou-pando dinheiro quando se é mais novo é bom nos seus investimentos, porque vai ganhar mais juros. Visite a internet para ver quanto vai receber da sua reforma do Seguro Social em www.socialsecurity.gov/estimator (retirement estimator). Também deve visitar, www.mymoney.gov dedicado para informação financei-ra. Tem informação sobre contas bancá-rias, 401(k), etc.

Telefone ao Seguro Social a qualquer hora:

Você já pensou como se vivia sem telefo-ne? O Seguro Social tem um número que é muito conveniente. Pode telefonar todo o dia para 1-800-772-1213. Pode falar com um representante das 7 da manhã às 7 da

noite, de segunda a sexta-feira. Pode pe-dir informação automática 24 horas por dia, incluindo aos fim de semana e dias feriados. Para aqueles que recebem bene-ficios do Seguro Social, pode mudar a sua direcção, numero de telefone, come-çar ou mudar o seu deposito directo, pode também pedir cartas para provar quanto recebe em beneficios, pode pedir um car-tão novo do Medicare ou cartão do segu-ro social. Há interpretes que falam em português, é só perguntar. Não precisa ir ao escritório do seguro social, pode fazer tudo no comforto da sua casa através do telefone ou da internet: www.socialsecu-rity.gov/onlineservices. É tão fácil.

Perguntas:Pedi um cartão novo do Seguro Social, quanto tempo leva para o receber?

Leva mais ou menos 10 a 14 dias para re-ceber o seu cartão. Não se esqueça - nun-ca ande com o seu cartão do seguro social na sua carteira. Guarde-o em casa.

Que posso fazer se me roubarem a mi-nha identidade (cartão de crédito, car-tão do seguro social)?

Deve transmitir esta informação para a Policia e guarde o relatório da mesma. Telefone para o Federal Trade Commis-sion, 1-877-438-4338, 1-877-ID-THEFT. Também deve informar o Internet Crime Complaint Center: www.ic3.gov, além de informar os três departamentos de crédi-to: Equifax 800-525-6285, TransUnion 800-680-7289, e Experian 888-397-3742. Se o cartão do seguro social também for roubado, peça outro pelo telefone 1-800-772-1213.

Judy TeixeiraDistrict Manager

North Sacramento E28916-979-2070

A mulher imigrante portuguesa (leia-se açoriana) foi finalmen-te e justamente distinguida com uma obra literária que lhes

honra a memória e nos dá a conhecer mui-tas das suas dramáticas facetas na ajuda ao marido no ganha-pão diário por terras da emigração.Tem por título "Emigração Em Dó Maior", da autoria da Dra. Fátima Toste e Ana San-ça, de Toronto, e foi recentemente lançada em Montreal. Esta epopeia da mulher açoriana por ter-ras da emigração, privilegia comunidades luso-canadianas do Ontário, Quebeque; da Califórnia e Nova Inglaterra, nos Estados Unidos.As autoras dedicam o livro "a todas as mu-lheres açorianas que nos abriram as suas portas e coração para, num gesto de sim-patia e solidariedade, partilharem as suas vivências nas ilhas que lhes serviram de berço, nos dias pré-emigração, e também em terras do Canadá e dos Estados Unidos da América". "O objectivo primordial deste trabalho - lê-se na Introdução - é dar a conhecer algu-mas das nossas mulheres, especialmente essas que trabalham uma vida inteira sem qualquer ambição que não seja a de obter um nível de vida compatível com a época e a sua terra de adopção, fazendo o máximo por aqueles a quem querem bem".Segundo ainda o que consta da introdu-ção, "Foram elas que, com a sua experiên-cia por estas terras da América do Norte, calcetaram as canadas e desbravaram os atalhos que hoje calcorreamos facilmente por estes caminhos da emigração". E por ser realmente uma emigração da maior dor, comovem-nos sobretudo situa-ções quase sobre-humanas por que muitas delas passaram, ao assumirem ao mesmo tempo "todas as obrigações relacionadas com a criação dos filhos e de todos os ou-tros afazeres inerentes à sua condição as-sumida ou imposta de donas de casa", (...) depois ajudando os maridos nas herdades "na preparação e plantação dos terrenos, na apanha ou recolha da fruta e dos legu-mes, muitas vezes fazendo-se acompanhar pelos filhos que dormiam à sombra das árvores em cestos ou caixotes, tornados berços". Conforme se lê no prefácio, da autoria da Dra. Maria João Dodman, "O livro que aqui se apresenta é merecedor de uma par-ticular atenção, porque não só demonstra a inegável participação da mulher açoriana na saga migratória, mas também porque se revela inovador. (...) Engloba uma mul-

tiplicidade de experiências narradas por mulheres de várias gerações, de distintas classes sociais e convicções".Para além dos depoimentos das respectivas mulheres, o livro vem ainda "salpicado" de vários poemas alusivos ao tema da emigra-ção, da autoria das escritoras responsáveis pela presente obra e muito ativas na vida cultural das suas comunidadesMaria de Fátima da Silva Toste é natural da Horta, Ilha do Faial. Vive no Canadá desde 1965. Tem-se distinguido com a ob-tenção de bacharelato em Sociologia, mes-trado em Psicologia e doutoramento em "Counselling Psichology"; e já publicou várias obras de poesia e prosa. Presente-mente, faz parte da equipa de trabalho do Grémio Literário da Língua Portuguesa, Ontário, e é membro vitalício do Senado do mesmo.Ana Júlia Sança nasceu na Iha de San-tiago, Cabo Verde, tendo emigrado para o Canadá em 1981, depois de ter vivido alguns anos em Portugal. É assistente so-cial e trabalha para o Consulado Geral de Portugal em Toronto. A sua poesia e prosa figuram em diversas antologias publicadas em vários países, incluindo o Canadá e Portugal. Foi Vice-Presidente do Grémio Literário da Língua Portuguesa do Ontá-rio, e atualmente faz parte do Senado do mesmo.Felicitamos as autoras pelos nobres propó-sitos deste seu livro, que vem repor uma justiça que desde há muito faltava.

Livro de Fátima Toste e Ana Sança "Emigração em Dó Maior"

Crónica de Montreal

Antonio [email protected]

Pergunte a JuditeJudite [email protected]

Page 7: Tribuna Portuguesa

7COLABORAÇÃO

Rasgos d’Alma

Luciano [email protected]

A festa ainda não acabou. O deli-rio continua. Que Bem-fica a Portugal o seu novo campeão!

Digam lá o que disserem os antipáticos lagartos, dragonetes e demais desiludidos que, este ano, enfuriados, decidiram unir-se em força do lado de lá para ver se a coi-sa calhava. Mas não calhou. A classifica-ção final não mente. Os resultados foram claros. E o futebol praticado tambem foi indiscutivelmente o melhor. O título está bem entregue.Mas dá vontade de rir a ridícula choradeira miudinha do inconformado côro adversá-rio, que teima em desentoar com amargo desafino as mil e uma desculpas habituais dos clássicos maus perdedores. Não sejam uns desconsolados! Saber perder tambem é uma virtude. Reconhecer o mérito alheio não tem mal nenhum. Antes pelo contrá-rio, sem argumentos válidos para contes-tarem a superioridade encarnada, este ano só vos fica bem felicitarem o Benfica.

Que Benfica ao Glorioso o título que agora ostenta!Mais vitórias, mais pontos, mais golos, mais espectáculo,

mais adeptos, mais enchentes, mais entu-siasmo, mais alegria – que mais querem?Eu sei. Queriam talvez um timoneiro ca-rismático como o “nosso”. Tenham san-ta paciência. Não está à venda. Nem vai ser fácil duplicá-lo. Jesus, nestes moldes, como sabeis, só há um. É mágico. E dis-pensa quaisquer apresentações.Basta olhar para a fotografia e perceber o seu artístico simbolismo. Não deixa de

não ter a sua piada. Embora haja quem não queira ver a brincadeira com bons olhos. Tal como houve quem estivesse só à espera de o ver crucificado.Sofreu muito ao longo da época e não se furtou por completo ao chicotear mali-cioso dos mais mal intencionados. Levou “porrada” dos “entendidos” e alguns ris-cos podiam-lhe mesmo ter custado bem caro. Mas ninguem o pode acusar de ter perdido a cabeça ou escamoteado a magia

que o traz agora no topo da imaginação alheia.Irreverente, sem papas na língua nem pejo nos modos, chegou, viu e venceu. Talvez tenha falado demais. Contu-do, cumpriu o que prometeu. Fez-se campeão e fez-nos fe-lizes. O resto são cantigas.

Que Benfica aquele mimoso emblema no seu e no nosso coração!

É que o homem, às vezes, de tão intenso, controverso ou acusado de sobranceiro – sempre a gesticular com os nervos em chama viva e as emoções à flor da pele – até pode aparentar cara de mau. Mas é bom este Jesus. Tambem vem de origem hu-milde e até chora quando é preciso. Não opera milagres ao acaso. O segredo do seu sucesso está no trabalho sé-rio e competente que todos

lhe reconhecemos. E quem não lhe quer reconhecer mérito ou competência, pire-se. Ele não é dos de deitar água a pintos nem pérolas a porcos. Jamais calará o que sente para que os outros se sintam bem. Diz o que palpita e faz como lhe apetece. Apeteceu-lhe este ano pôr o Benfica a jo-gar bem. E foi o que se viu.Quem não quer ver é cego. Que Benfica este mágico Jesus no santuá-rio encarnado!

Bom Jesus

Page 8: Tribuna Portuguesa

8 15 de Maio de 2010COLABORAÇÃO

Aliança Jorgenseexemplo de compromisso comunitário

Aqui & Agora

Tony Goulart

[email protected]>

Logo após a primeira reunião pre-paratória para o IV Congresso Internacional sobre o Espírito Santo, Manuel Cabral decidiu

acarinhar a iniciativa com toda a sua ener-gia. Poucos dias depois, já também sua es-posa Margaret fazia parte do plano que ele tinha em mente: uma angariação de fun-dos a favor da Conferência. Um mês depois, este casal – que doou to-dos os ingredientes para a massa sovada –com o indispensável apoio da Alian-ça Jorgense e a ajuda de dúzia e meia de amigos(as), muitas delas amigas de Celina Belém e voluntárias da sociedade do altar da paróquia portuguesa das Cinco Chagas, iniciavam às seis da manhã a preparação de mais de 300 bolos de massa que fora antecipadamente encomendada.Após treze horas de trabalho árduo, fer-mentado com muito boa disposição – pe-las sete da noite a tarefa incansável destas

mulheres e homens tinha terminado e os bolos tinham uma aparência extraordiná-ria. No dia seguinte, este grupo tinha con-seguido angariar um montante superior a $5,000 dólares para a Conferência.Apesar de não ser frequente colaborador

dos jornais comunitários, prometi a mim mesmo que não poderia deixar de escre-ver uma breve nota sobre o acontecimen-to por variadíssimas razões. Não poderei

enumerá-las todas, mas algumas delas fizeram-me reflectir sobre esta comunida-de e as coisas positivas que se fazem no anonimato – quantas vezes sem qualquer recompensa ou reconhecimento.Não poderia deixar de realçar a postu-ra do casal Cabral que desde o início se apercebeu da importância da comunida-de organizar este Congresso em Junho, como uma ocasião única de mostrarmos aos representantes de outros países que a devoção ao Espírito Santo continua a ser a mais forte marca da nossa açorianidade e presença na Califórnia. Enquanto mui-tas associações comunitárias se desfaziam em desculpas para não colaborar, por mil e uma absurdas razões, o seu empenho fez rapidamente esquecer a falta de boa vontade de outros a quem este Congresso poderia e deveria mais directamente dizer respeito e merecer um maior empenho.A segunda reflexão tem a ver como algu-

ma da nossa gente é capaz de se disponi-bilizar para ser útil aos outros a alguma causa comunitária. Eles e elas eram quase todos aposentados –gente de idade avan-çada – mas com uma invejável energia e boa disposição. Como numa linha de mon-

tagem fabril, cada uma sabia exactamente o que fazer. E, apesar do peso dos anos e das treze horas de trabalho, a alegria, o bom humor e a boa disposição nunca fal-

taram. Bem-hajam pelo exemplo de como se pode ser útil aos outros e feliz simulta-neamente, enquanto se presta um serviço à comunidade.Será justo mencionar os seus nomes. Eles(as) merecem-no: Manuel e Margaret Cabral, Maria Amarante, Celina e Tibério Belém, Adelina Belém, Gertrudes Silvei-ra, Beatriz Brum, Fernanda Vieira, John e Mary Sequeira, Ilídio e Maria Macha-do, Lorena Soares, Eduina Garcia, Judite Goulart, Diamantina Amarante e Manuel e Melânia Peixoto. Se me esqueci de al-guém, não foi intencionalmente. Que me perdoe!A terceira ideia que me ocorreu relaciona-se com o título deste artigo, a sociedade Aliança Jorgense. Por esta altura, algumas cabecinhas “gloriosas” devem já estar a pensar que só estou a escrever porque es-tou envolvido na Conferência. E respondo: Sim e Não. SIM, porque tive a oportunidade de obser-var o que de maravilhoso se passou duran-te todo aquele dia e jamais podia deixar de o partilhar. Para além disso, sinto-me agradecido, apesar de não beneficiar di-rectamente de todo aquele esforço e boa vontade, mas beneficiará uma causa para a qual também tenho trabalhado arduamen-te. Um agradecimento sincero poderá ser tudo o que esta gente receberá, bem como a consolação de ter dado o seu melhor num evento que prestigiará esta comunidade.NÃO, porque o que aconteceu há dias não é um caso isolado. A Aliança Jorgense tem

disponibilizado as suas instalações, pago as enormes despesas do gás, colaborado com a ajuda de membros da sua direcção, para muitas causas da nossa comunidade. Ainda há pouco mais de um mês se rea-lizou uma venda de massa cujo produto reverteu a favor de bolsas de estudo para o Clube de Português da San Jose High Academy. Anualmente são várias as oca-siões em que também acolhem semelhan-tes iniciativas a favor da Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas. E sempre com prazer e de bom grado, como referiu o actual presidente Franquelim Monteiro.E, se tudo isto seria impossível sem o con-tributo dos voluntários, igualmente nada disto existiria sem a disponibilidade e co-laboração da Aliança. Não é das maiores sociedades da Califórnia e talvez não tem as condições que muitas outras possuem, mas tem uma visão que valeria a pena du-plicar. “Mais faz quem quer do que quem pode”, diz o povo. A não ser que algumas das nossas sociedades despertem e mobi-lizem para dar respostas mais actualizadas às questões comunitárias, o seu abandono e definhamento será inevitável. Exemplos não faltam.Com esta apologia da Aliança, não quero de modo algum obscurecer o trabalho ex-traordinário que muitas outras das nossas organizações desenvolvem a favor de inú-meras causas comunitárias. Apenas exalto mais um bom exemplo de bem-fazer que poderá servir de repto a muitos outros.

Celina Belém e Fernanda Vieira

Margaret e Manuel Cabral e Celina Belém

Parte do grupo observa enquanto outras tiram do forno o producto final

Page 9: Tribuna Portuguesa

9PATROCINADORES

Page 10: Tribuna Portuguesa

10 15 de Maio de 2010COLABORAÇÃO

Saramago e as Vivências das Nossas Comunidades

Reflexos do Dia–a–Dia

Diniz [email protected]

Memorandum

João-Luís de [email protected]

Memorial da Via-Sacra Anti-fascista

Há tempos havia prometido a mim próprio que não voltaria a escrever, assim tão cedo, sobre as nossas comunidades. Primeiro, porque muito do que se poderá escrever será repetitivo, segundo porque quando se diz algumas verdades, acaba-se sempre por importunar alguém. Acontece que recentemente na cerimónia que tivemos em Tulare (os jovens alunos da associação estudantil SOPAS) para homenagear alunos e membros da nossa comunida-de local, o MVPA (a 2 de Maio de 2010), o segmento cultural foi dedicado ao nosso Nobel da Li-teratura (nosso, por ser o primei-ro, e até à data único, em língua portuguesa) José Saramago. Ao longo desse evento, ao falarmos de Saramago, citámos algumas frases memoriais do escritor, as quais levaram-me a reflectir, ainda mais uma vez, as nossas comunidades. Porque como o nosso Nobel da Literatura: não só escrevo - escrevo quem sou. Apesar de saber que somente escrever que sou leitor de José Saramago, que o aprecio imenso como escritor, será, para muita gente que nunca o leu, nunca o soube ler, um verdadeiro ultraje, um sacrilégio, mas utilizarei al-gumas das suas enunciações para tecer umas breves observações sobre as nossas comunidades portuguesas em terras california-nas. Até porque nunca pedi nem permissão, nem desculpa, por aquilo e aqueles que li e que leio. Começo então com a expressão que me levou a esta reflexão e a escrever sobre uma das minhas paixões: as nossas vivências de comunidades emigrantes e luso-

descendentes no multiculturalis-mo americano. Essa frase foi: as palavras não foram dadas aos homens para que escondessem os seus pensamentos. Como não sou de esconder pensamentos, aí vão algumas despretensiosas anotações. Para o bem e para o mau, as co-munidades são parte da minha vida. Há muito anos que as vivo, estudo, e reflicto. Aliás, recordo-me que na, não tão longínqua dé-cada de 1990, uma amiga minha disse-me, clara e inequivocamen-te: sai da comunidade porque ela aniquila muito do teu tempo e nunca serás uma pessoa de sucesso. Não segui a sua suges-tão. Talvez o deveria ter feito, -até para sossego de muita gente. Porém não o fiz, e continuo mer-gulhado nas comunidades. Mas também nunca me preocupou o sucesso. Aliás, sucesso poderá ser definido de muitas formas. Mas o que nunca fiz, e nunca fa-rei, é seguir os passos que muitos nestas nossas comunidades têm dado, ou seja: utilizá-las para seu próprio interesse, para constru-írem o seu próprio altar. E isso acontece nas formas mais varia-das. Basta olharmos um pouco à nossa volta. É que tal como Sara-mago magistralmente escreve: O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pe-quenas cobardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa per-niciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e não ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses. Daí continuarmos, em muitos aspectos, rodeados

dum amadorismo cada vez mais assustador. Porque, infelizmen-te, esse diletantismo serve para que muita gente, nestes nossos meios comunitários, permane-ça, injustamente, em cargos de liderança. Se é verdade que em terra cegos quem tem um olho é rei; não é menos verdade que não somos uma comunidade de cegos e ao contrário do provérbio popu-lar acredito mais na celebre frase do Nobel português: em terra de cego quem um olho tem acaba por cegar. Porque, como nos disse José Saramago "cada dia traz sua alegria e sua pena, e também sua lição proveitosa,"' persisti, du-rante vários anos, em direcções de algumas das nossas organiza-ções e ainda trabalho com muitas. Tem sido uma verdadeira escola, porque e ainda outra enunciação do Nobel português: se podes olhar, vê. Se podes ver, repara. E reparei que um dos nossos in-fortúnios é termos pouquíssimo espírito crítico. É que ficámos tão entusiasmados com os auto-elogios que esquecemo-nos de que a análise, a crítica positiva, a reflexão honesta e descomple-xada são elementos imperativos para qualquer organização. Per-mitam-me contar-vos um peque-no incidente que ocorreu quando fiz parte, durante mais de uma década, de uma das nossas orga-nizações portuguesas aqui neste estado, e na região onde vivo. Ti-nha por hábito analisar o que se fazia, pedia que fôssemos mais meditativos, que pensássemos a organização e a comunidade que tínhamos e a que queríamos ter. Que olhássemos além dos interes-ses da comunidade de hoje e que construíssemos a comunidade de amanhã. Até cheguei a sugerir retiros culturais e sessões para

preparação de futuros líderes. Claro que tudo isto era, para mui-ta gente, uma simples chatice. E quando porventura se analisavam alguns eventos, algumas activi-dades, raramente se examinava a qualidade. O que era importante era a quantidade. Porque tudo tem o seu tempo, e o seu espaço, e nada pior do que se estar num lugar onde não nos querem, onde a exigência da qualidade é um estorvo, saí dessa direcção. Foi dito e redito, que depois da minha partida é que havia "paz na orga-nização...nada se questionava...tudo corria lindamente." Tanta paz que tudo o que se fez cultu-ralmente durante pouco mais de uma década foi enterrado a sete pés. Tudo correu tão lindamente que hoje, nem a quantidade pode ser motivo de regozijo. Porque tal como afirmou Saramago: de repente o futuro tornou-se curto. As nossas comunidades precisam de examinarem-se, de mais refle-xão. Com cada dia que se passa o futuro escapa-nos. Estamos es-táticos entre o saudosismo da co-munidade emigrante que santifi-ca a cultura popular, santificação que é particularmente abençoada pela nossa comunicação social, e as novas gerações que se edu-cam, que têm cada vez maior pre-paração e que olham para muito do que fazemos como acções de gueto e algumas até mesmo bas-tante medíocres. E todo o mundo sabe que mediocridade puxa me-diocridade. Daí que não seja as-sim tão difícil compreender-se a razão (ou as razões) porque a vas-ta maioria dos nossos jovens (re-firo-me aos jovens recentemente licenciados e doutorados - entre as idades dos 22 aos 33 anos) não têm o mínimo interesse em mer-gulhar nas nossas comunidades.

Há que assumir-se essa realida-de, a vastíssima maioria dos jo-vens adultos talentosos, afasta-se das vivências comunitárias e acho que todos nós sabemos porquê, só que ninguém quer falar nisso, nem assumir respon-sabilidades: daí mais uma frase de Saramago: o melhor cami-nho para uma desculpabilização universal é chegar à conclusão de que, porque toda a gente tem culpas, ninguém é culpado. Aqui ficam mais estes reflexos sobre as nossas comunidades. Há muito mais para escrever. E há que termos coragem de desmistificá-las. Nem tudo é um mar de rosas. Temos asso-ciações extremamente interes-santes e importantes nas nossas comunidades, mas também es-tamos cheios de organizações e eventos que não nos dignificam como comunidades. E as man-chetes (ou noticias, crónicas ou reportagens) fictícias sobre as nossas comunidades nos nossos jornais, assim como as palavras de elogios fáceis nas rádios em nada ajudam a reflexão urgente que precisamos ter, antes pelo contrário alimentam o ilusório, são prejudiciais. Alguns dirão que isto é pessi-mismo, mas parafraseando José Saramago: os pessimistas é que mudam o mundo porque os op-timistas estão sempre satisfei-tos com tudo. Se não olharmos à comunidade com olhos que tenham algum espírito critico, jamais mudaremos o que é es-sencial mudar-se. Saramago es-creveu que "a nossa maior tra-gédia é não saber o que fazer com o mundo." Acho que é uma analogia perfeita para as nossas comunidades.

Sinto-me seguro para não res-valar na tentação de disfarçar o orgulho que sinto na tentativa de comentar o recente trabalho do doutor Mário Mesquita, intitu-lado A Oposição ao salazarismo em São Miguel e em outras ilhas açorianas (1950-1974). Sem re-buscar credenciais literárias em saldo, atrevo-me a opinar que se trata de um documento de com-provada validade sócio-política, organizado como intuito pedagó-gico de facilitar o acesso do leitor curioso à rotina insular da atonia cívico-política das primeiras dé-cadas da segunda metade do sé-culo passado. Falta enaltecer que a intenção nuclear de Mário Mes-quita foi a de reunir em livro uma plêiada de testemunhos credíveis (inclusivé, o seu próprio) para evocar o raro exemplo de valentia democrática de Ernesto Melo An-tunes – militar de Abril que viria a ser um dos mais serenos maes-tros ideológicos do MFA (Mo-vimento das Forças Armadas). Verifico que a apresentação edi-torial (muito serena e escorreita do supracitado livro) é dedicada à ilustre memória de conhecidos combatentes pela democracia, nomeadamente, Melo Antunes, Manuel António Pimentel, Mário Barradas, Sacuntala de Miranda. Para quem não optou por escapar (como é o caso pessoal) ao cru-zeiro ultramarino, e teve de pas-

sar uma boa parte da década de 60 ausente dos Açores, o livro de Mário Mesquita funciona como uma encruzilhada de factos e de afectos: uma espécie de perspec-tiva das perspectivas da luta polí-tica açoriana. A forçada ausência da pacatez insular (por terras de Moçambique (1963-1966) não permitiu ao signatário ajuizar com realismo a correlação de for-ças em disputa, dado o conhecido insulamento visceral da cultura açoriana. Acabei de ler os vários depoimentos subscritos por prota-gonistas dotados de transparente idoneidade democrática (e recor-dei o perfil de alguns dos servos da cristandade que muito admiro: Manuel António Pimentel, Weber Machado Pereira, CaetanoVa-ladão Serpa, Aristides Zacarias Arruda) – todos sem excepção compenetrados da respectiva dignidade cívica, independente-mente do grau de antagonismo ideológico então arriscado, ou da convivência circunstancial com a grelha política da falsa-esperança marcelista (caso do então jovem deputado Mota Amaral). Recordo que no primeiro semes-tre de1963, altura da primeira detenção do universitário José Medeiros Ferreira, o signatário destes comentários estava ainda a frequentar, em Lamego, a inde-sejável ‘catequese-militar’ CIOE – Curso Intensivo de Operações

Especiais. Mais tarde, quando rolou a notícia que o estudante Jaime Gama, ainda com a sua barba hesitante no rosto, fora pela primeira vez detido pela PIDE (Ponta Delgada) – nessa altura eu já andava há meses, de ‘tuxedo’ camuflado, a disfarçar o medo pelas inóspitas ‘picadas’ moçam-bicanas... Faço estas referências (salpicadas de alguma ironia narcísica) para evitar eventuais confusões de-rivadas do facto de não possuir diplomas de lutador anti-fascista: desde que (por volta dos 14 anos) deixara de envergar o uniforme pueril da mocidade portuguesa, não mais parei de integrar a mi-noria silenciosa anti-salazarista. Todavia... fui bastas vezes acon-selhado a actuar com prudência para adiar sine die uma eventu-al queda no alçapão martiroló-gio, que anos antes vitimara um membro muito querido da minha família... Gostaria de reafirmar a minha viva admiração pelo vigor cívi-co, coerência política, coragem militante dos protagonistas selec-cionados pelo autor do livro, que (elegantemente) preferiu colocar-se como figura circunstancial ou marginal na narração dos vários episódios coligidos, embora sai-bamos de fonte certa ter sido ele um dos mais corajosos comba-tentes democráticos, naqueles conturbados anos da censura ditatorial. A propósito, creio ter decorado o nome Mário Mesqui-ta, desde quando abracei a in-cumbência singela de ‘distribuir’,

na área de São Roque, aqueles exemplares do jornal República (1972-74) que recebia antes de se-rem caçados pelos agentes locais da polícia politica. A propósito de ‘apreensões’ pi-descas, estou agora a recordar os chamados ‘sustos’ românticos da minha geração, derivados da pos-se (então questionável) de certas edições da “Seara Nova”, que me vinham parar às mãos graças ao amigável “descuido” do saudoso senhor Moniz, do Bureau de tu-rismo “Terra Nostra”. Mas havia mais, como por exemplo, a Vida Mundial (edição de 19 de Dezem-bro de 1969) com a reportagem do famigerado roubo da Figueira da Foz, avaliado em 30.000 contos... exemplar que, na altura, desper-tou o zelo interrogativo de quem tinha de cumprir a sua miserável rotina de informante... Vamos em frente: estava a falar do autor do livro ora em apreço, um dos filhos do saudoso amigo Higino Mesquita (no seu tempo, considerado uma legenda pro-fissional como gestor da Sata). A amizade com o filho aconte-ceu durante as férias de verão de 1974; desde então a semente da fraternidade encontrou terre-no fértil, sem posteriores crises de colheita... Mais tarde, houve o enrijamento da minha minha admiração quando, por razões de ética profissional, Mário Mesqui-ta decidiu formalizar o seu afas-tamento voluntário do Partido Socialista, que anos antes fora um dos fundadores, em Bad-Munste-reifel, conhecida estação turística

do sul da Alemanha, e por sinal terra natal do médico Friedrich Haass (famoso “holy doctor” de Moscovo, que muito lutou para minimizar o sofrimento dos pri-sioneiros da Russia czarista). Sinto-me dispensado de enalte-cer o perfil do veterano jornalista que desde muito jovem asssentou praça nas hostes da luta em prol da democracia (socialista). Como escritor, académico e mestre do Jornalismo, a sua obra até agora publicada constitui uma referên-cia ímpar na história do Jornalis-mo ibérico, no último quartel do século XX (vidé “Jornalismo em Anállise – a coluna do provedor dos leitores”, 1998). Mário Mes-quita foi o primeiro jornalista a exercer as funções de provedor dos leitores na imprensa diária portuguesa. Entretanto, de há anos a esta par-te, o ex-deputado da Constituin-te foi convidado a desempenhar funções no conselho directivo da FLAD - Fundação Luso-Ame-ricana para o Desenvolvimento, cuja acção tem sido muito apre-ciada pela diáspora lusófona. E a obra vai aparecendo (bem) feita, sob o pálio vigilante do velho princípio dubitando ad veritatem pervenimus...P.S. – ... gostaria de alcançar a subida honra de ser um dos subscritores da propos-ta sugerida pelo doutor Mário Mesquita, relativa à designação de Ernesto Melo Antunes como cidadão honorário de Ponta Del-gada e dos Açores. Veremos.

Page 11: Tribuna Portuguesa

11COLABORAÇÃO

Olhando pacientemente as estatísticas do pas-sado ano 2009 na in-dustria de lactícinios

é difícil encontrar algo positivo, especialmente nos Estados do Oeste. Os preços do leite caíram considerávelmente depois de 18 meses que trouxeram à industria preços acima do normal de me-ados de 2007 aos fins de 2008, sendo imediatamente substitui-do por uma baixa de preços. Em 2009, a classe III, na qual se ven-de a segunda grande maioria do leite, em média foi de $11.36 por cada 100 libras, um declinio de $6.08 do ano anterior 2008. Já em anos passados, 2003 e 2006, os

preços baixos no leite causaram problemas que foram em parte superados por preços médios nos custos de produção, ao contra-rio de 2009, cujos custos exce-deram largamente os resultados das vendas. Em muitos casos, as rações, silagens e forragens, pra-ticamente esgotaram o resultado das vendas, forçando muitos pro-dutores a recorrer ao crédito para os restante custos.Não obstante algumas notas ne-gativas de quando em quando, o impacto desta industria nos Esta-dos Unidos é tremendo. Conside-remos Wisconsin, a que ainda se chama “Dairyland” por uma boa razão - este Estado com mais de

13.000 explorações de agrope-cuária tem vendas de mais $20 biliões por ano. De acordo com a ”University of Wisconsin Cen-ter for Dairy Profitability”, uma manada de 250 vacas vai gastar cerca de $675.000 em rações, medicamentos, serviços e outros produtos, que na maioria dos ca-sos são comprados aos negócios locais. Em média, cada uma vaca em Wisconsin vai iniciar $17,000 de actividade económica, dinhei-ro que vai circular na economia local, segundo esta Universidade.Este estudo indica ainda que esta indústria cria 21,241 postos de trabalho em manufacturação, 21,641 no comércio, 20,255 nos

serviços, e 2,604 na construção.Um estudo idêntico pelo “Milk Advisory Board” na California, depois de olhar a todos os con-cebíveis impactos, indica que em média uma vaca rendeu mais de $34,000 de actividade económica em 2008. O efeito multiplicador coloca o impacto des-ta indústria no Estado Dorado em $63 biliões, mais do que a indústria do cinema/TV ou a fa-mosa indústria vinha-teira.Ainda de acordo com o (CMAB) a inteira in-dústria de lacticinios da California e todos os

negócios relacionados, são res-ponsáveis por 450,000 empregos. Uma exploração típica vai gerar $33 milhões de actividade econó-mica cada ano, e cerca de 25 po-sições de trabalho são criadas por cada 100 vacas de crescimento.

Temas de Agropecuária

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O Dr. Eduardo da Silveirafala múltiplas línguas incluindo o Português, Inglês, Espanhol e Francês.

Estatísticas 2009da agropecuária USA

DO MAR, HÁ MUITO TEMPO ...

Deixei-te a chorar por ti...A última vez que te vi, cerraras já o teu véu.Olhei-te do lisbonense estuário, ondas brancas, então pequenas, embora o mar a crescer, a marulhar, a encarneirar, a zangar-se e a toldar-me mais a vista.

Estavas cinzenta, fechada, no teu altar escondida,envolta em névoa, majestosa, eras jóia aferrolhada.

Cada dia que passei fora de ti, dia perdido.Promontório da Lua, nada vale como tu!

Acordas fresca e sorris, algo em ti é de beleza irreplicável, no mundo, de ponta a ponta ... a açucena e a mimosa, o malmequer e a camélia a perfumar-te...... e o aroma dos pitósporos em flor nas cálidas noites de Agosto?!

Injusto é morrer sem dormir uma noite em ti!

Pelo menos uma noite! Uma cálida noite de Agosto e o aroma dos teus pitósporos pelas frestas da janela ...

para se voltar a viver ... Chega o crepúsculo e logo mostras teu divino seio,corre o Sol a reluzir-te,ficas na Terra rainha.

És dona dos verdes todos, do tapete inigualável,és delicada, viçosa,és intocável e pura,és virgem e soberana.

Do Tejo não vi o teu rosto,estavas de costas voltadas, remota, inatingível, fiquei triste, fiquei só...Hora da despedida,

rolos e rolos de fitinhas, fitinhas de muitas cores,fitinhas de todas as cores,arco-íris de fitinhas,roxoanilado

azulverdeamareloalaranjadovermelho,

a cair do navio para a doca,a colorir o navio,

... a adoçicar a mágoa?

ainda que lá estivesse esperança ... a esperança de quem parte, a esperança de quem sai, de quem teve de sair, de sair ... atormentado, de quem parte à aventura, de quem sai desafiando, arrostando, temerariamente, o perigo, iminente, a espreitar atrás do sonho vozearia,gente, muita gente no cais,

braços, centenas de braços ... no ar ... gesticulando,afirmando o mesmo adeus de todas as despedidas,

lábios, centenas de lábios, promessa de beijos.

Centenas de lábios chorando beijos, atirando beijos do cais para o navio, do navio para o cais,

centenas de beijos, dizendo amor e dor, e eu triste e só,e o navio ...a quilha a sulcar o infindo oceano ...

e eu triste e só,

mas tu meu formoso berço, minha namorada amantíssima,minha Sintra sem igual,

lembras-te? - foste o deleite de Byron e a Cynthia dos Romanos, numa exaltação,suave,doce de mel,que foi bálsamo, trouxe a vida,chegaste, estuante, ao meu lado,olhaste, terna, o teu filho,ergueste a fronte, abalaste...

A Vida Real

Edmundo Macedo

Page 12: Tribuna Portuguesa

12 15 de Maio de 2010COLABORAÇÃO

Perspectivas

Fernando M. Soares Silva

[email protected]

Com a relativamente recente exu-mação de macarronetes (noo-dles), cozinhados há mais de 4.000 anos, encontrados no no-

roeste da China, arqueólogos chineses pa-recem ter solucionado, conclusivamente, a velha questiúncula da invenção do ma-carrão, do spaghetti, da pasta, e de outras múltiplas variações congéneres. Facilmente identificados, os macarronetes achados numa arcaica vasilha, antecedem e antedatam, em mais de 2.000 anos, as mais antigas referências históricas, se-gundo salientou Houyuan Lu, membro da Academia de Ciências da China, e chefe da equipa de arqueólogos responsáveis pe-las escavações. Até agora, outros países, tais como a Itália, o Japão, as duas Coreias, a França a Ale-manha e vários países árabes, arrogavam-se e reivindicavam a honra da invenção desses apreciados comestíveis, alimentos primários de biliões de seres humanos, em todos os continentes. Embora diversas nações, como, por exem-plo, a Itália e a Alemanha, tivessem pro-movido e popularizado o uso desses ali-mentos mediante várias inovações fabris e gastronómicas, a probalidade histórica inclina-se para Marco Polo como o intro-dutor do uso dessas massas na península itálica.

Note-se que, embora de aspecto muito se-melhante aos modernos, os antiquíssimos macarronetes agora encontradas na China, têm uma composição diferente dos pro-dutos modernos. Os contemporâneos ma-carronetes e outros comestíveis da mesma espécie são feitos de farinha de trigo ou de arroz, enquanto os encontrados na China foram manufacturadas de “millet”, isto é, um tipo de erva-cereal que tem sido culti-vado e preferido naquelas regiões asiáticas desde há já mais de 7.000 (sete mil) anos. O facto de a “pasta” exumada na China ter sido encontrada intacta e em excelente es-tado surpreendeu a comunidade arqueoló-gica internacional, acostumada a achados de resquícios de ingredientes, resíduos de comidas, ou bebidas, muitas vezes deterio-radas pelo rodar dos séculos.

Por outro lado, saliente-se que, através dos anos, arqueólogos têm encontrado alimentos e bebidas muito anteriores a esta recente

descoberta. Por exemplo, também na Chi-na, arqueólogos acharam sedimentos de vinhos cuja idade é calculada ser superior a 9.000 anos; e no Médio Oriente foram descobertas lareiras ou fornos de 23.000 de idade, onde se cozia pão. Na ânsia de descortinar ainda mais o seu distante e ignoto passado e de penetrar no âmago dos segredos de pretéritas civili-

zações sepultados nos recônditos do orbe que lhe serve de guarida na sua caminhada existen-cial por este mundo, a Humanidade nun-ca para, nem cessa-rá de escarafunchar a Terra. É um sonho febri-citante e uma odis-seia fascinante que impelem tantos arqueólogos e ou-tros estudiosos por antigas cidades e aldeias, por áridos desertos e remo-tas campinas, por altas montanhas e pro fundos vales, por mansos lagos e bravos mares, e por qualquer lugar onde eles pos-sam encontrar vestígios, peugadas, sulcos, ossos e cinzas, instrumentos e utensílios, jarros de bebidas e restos de refeições, e outros indícios do modo de vida de ante-passados seres humanos, nossos irmãos.

Essa febre e esse sonho não são motivados por mera curiosidade, mas, sim, enfaticamente, pela paixão do “saber”, do “conheci-

mento” que oferece novos pontos de refe-

rência, abre mais amplos horizontes e nos traz a luz de outras gerações e de outros seres humanos de quem muito podemos e devemos aprender. Eles são as nossas ra-ízes...

Quem inventou o

Macarrão?

Page 13: Tribuna Portuguesa

13PATROCINADORES

Quem inventou o

Macarrão?

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Page 14: Tribuna Portuguesa

14 15 de Maio de 2010PATROCINADORES

Page 15: Tribuna Portuguesa

15 COMUNIDADE

Nem sempre aprendemos com o que vemos noutras et-nias, mesmo vivendo num país tão grande como este, com as mais diferentes de todo o mundo. Talvez por isso mesmo: por serem muitas. Tantas e todas diferentes entre si, nenhuma delas se parece, mas a que mais se evidencia, em termos de manifestação popular, é sem dúvida a etnia de expressão hispânica. Melhor dizendo, de toda a Amé-rica Latina, com exclusão dos nossos irmãos de Brasil, que além de falarem o nosso idioma português, parecem preferir fazer como nós: pela calada preparar todos os pa-peis, com toda a documentação necessária, arranjar um patrão sério e honesto que se responsabilize e lhe dê algu-ma garantia de emprego e outra tanta de espera de tempo, até que a sua situação fique finalmente resolvida. Depois da última “marcha/manifestação” que passou por aqui, com alguns milhares de pessoas transportando bandeiras de México em punho e com muitas frases de ordem, tais como:“sin se puede”, nunca:“Yes, we can”, pois sempre se manifestam no seu idioma espanhol, eu pus-me a apreciar a reacção dos que não foram na cami-nhada mas que provàvelmente estarão na mesma situção de indocumentados e tive uma certa curiosidade em saber porque preferiram quedar-se por ali, sem nenhuma parti-cipação numa luta que afinal é de todos. Dá-me vontade de perguntar: Terão razão para o fazer? E da forma como o fazem? A verdade é que estes “paysanos” se acham no direito de reclamar seja o que fôr, e não gostam nada que alguém os critique. Põem-se logo em bicos-de-pés, se acaso os desafiamos para uma conversa sobre o assunto. E foi isso mesmo que abordei: porquê esta forma de quase assalto? Levar a bandeira de México em vez da bandeira da América para reivendicar o direito de cidadania Ame-ricana, parece-me um insulto. De certo modo, é como se tudo isto lhes pertencesse, como se este País fosse já uma grande extensão da sua própria terra, com todos os direitos de propriedade. Na realidade, é isso mesmo que pensam e aos que têm dúvidas, o melhor é esperá-los res-ponder que nós portugueses somos racistas, pois nunca os acompanhamos nas suas manifestações. Respondi-lhes que a nossa situação é completamente diferente, pois que para entrarmos aqui, temos que ter passaporte, viajar durante pelo menos doze horas de avião, pagar bem caro pela viajem, enquanto eles colocam um pé no outro lado do caminho e já cá estão. Não lhes agradou muito o meu ponto de vista, nem sequer quando lhes disse que os as-suntos de imigração se tratam num escritório e não nas estradas a fazer barulho e poluição. Para os Hispanos, a América é toda um grande continente, onde a fronteira maior é a lingua e mesmo assim, nem por isso. Obrigam os americanos a estudar Espanhol, pois eles aqui são a maioria que mais os incomoda, visto que em todas as re-partições de assistência, seja ela qual fôr, tem de haver alguém que os atenda como eles orgulhosamente o neces-sitarem, na língua espanhola, o que não acontece com os Portugueses, que se necessitarem tradutor, têm de o pro-videnciar na maioria dos casos, levando alguém consigo, que não sabe bem nem uma língua nem a outra. Na realidade, é com certa mágoa, um pouco de inveja que abordo este assunto, e muita admiração ao mesmo tempo por este povo que sofre imenso não só no seu México Lindo que defendem com unhas e dentes, sem sentirem vergonha de se expressarem como sabem e como sentem, em todos os momentos da sua vida, desde que a sua cul-tura fique de pé.

Agua Viva

Filomena [email protected]

1600 Colorado AvenueTurlock, CA 95382Telefone 209-634-9069

Mesmo Bons Somos tão Poucos

OraçãoEspírito Santo, Vós que me esclareceis tudo, Vós que me iluminais todos os caminhos para que eu atinja o meu ideal, Vós que me dais o Dom Divino de perdoar e esquecer o mal que me fazem, e que em todos os instantes da minha vida estás comigo, eu quero, neste curto diálogo, agradecer-vos por tudo, e, confirmar mais uma vez, que nunca me quero separar de Vós, por maior que seja a ilusão material, não haverá o míni-mo de um dia sem estar convosco e todos os os meus irmãos na glória perpétua.Obrigado mais uma vez.

A pessoa deve fazer esta Oração três dias seguidos sem dizer o pedido.Dentro de três dias será alcançada a graça por mais difícil que seja. Publicar assim que receber a graça. I.A.

Page 16: Tribuna Portuguesa

16 15 de Maio de 2010COMUNIDADE

Nesta era de avançadas tecnolo-gias, de máquinas que andam, vêem, ouvem, pensam e obram maravilhas, é reconfortante

verificar que tudo isso reflete a evolução do cérebro humano. Na máquina e na tec-nologia, se reflete tudo o que o homem é. A máquina é o espelho, não da forma, mas do pensamento, daquilo que se não vê, mas que não deixa de ser também algo físico, como físico é o Universo. Alguém disse que os pensamentos são “coisas”. Assim como a electricidade, o átomo, as ondas e os raios que se não vêem mas nos pe-netram, e que não deixam de ser também fisicos, corpórios, e que estão sendo cada vez mais, a essência, a causa e a matéria das civilizações . E é no cérebro humano, onde tudo isso está em reserva. De lá sai tudo o que as civilizações estão criando. Para bem, se por bem. E para mal, se o mal for o génese da sua criação.Uma das últimas criações do génio huma-no, é a “Nano Tecnologia”. Coisas espec-taculares são esperadas desta forma de

utilizar o “microscópico”, o infinitamente pequeno. A natureza física reduzida à sua mais ínfima expressão útil. E em face de todas estas maravilhas, é impossivel dei-xar de admirar os poderes existentes na pequena caixa craniana dos humanos, em contínua evolução.

Os amigos desculpem este longo intróito, mas o que eu queria dizer-vos hoje, é algo relacionado com a memória em certos se-res humanos, não todos. E isto é coisa para admirar em alguém a quem o tempo vai roubando a capacidade de recordar o pas-

sado recente. Em que é mais fácil recordar o que nos aconteceu quando tínhamos cin-co ou dez anos de idade, do que aquilo que comemos ao almoço.Estava hoje no Miguel, tomando o meu café da manhã, e conversando com alguém sentado a meu lado. E, num lugar mais à frente, no balcão, estava um homem dos seus setenta e tais, também careca como eu, que de repente se volta e me pergun-ta: “Você não é aquele rapaz que fazia o programa português na WBSM, por volta de 1960 ? Pois sou, disse eu. E quem é o senhor? Não se lembra do David Baxter, o engenheiro que então colocava a música portuguesa no gira discos? Com franqueza que não, E como é que me reconheceu, se não nos vimos há tantos anos ?Pela voz, disse ele.

Fiquei admirado. Como é que esta alma de Deus, ao fim de mais de 40 anos, conservava na sua memó-ria, não a minha figura, diferente

da de outrora, mas a tonalidade da minha voz? Fiquei surpreendido com a subtileza

e a capacidade do cérebro humano para reter os sons e imagens que em certos mo-mentos aí deixaram a sua marca. O David Baxter, contou-me depois, fala ra-zoávelmente português, viveu por alguns anos em Cabo Verde, e que agora vive no Canadá. Tem um filho em Rhode Island e outro em Connecticut e veio visitá-los. É de origem escocesa, com mais algumas misturas raciais, simpatiza com a cultura e o povo português, gosta da nossa cozinha, e que no Canadá, contacta periódicamente com os imigrantes açorianos que lá vivem, que frequenta os seus restaurantes, e que ficam admirados, quando ele lhes fala em português. E aqui temos a crónica de hoje, meus ami-gos. Para a semana haverá mais, se Deus quizer!

Coisas da Memória

Estávamos no ano de 1964. Tinha eu regres-sado duma comissão de serviço militar na Gui-

ne e consequentemente sido colo-cado no Regimento de Infantaria 8 da cidade de Braga, quando o comandante da referida unidade militar resolveu chamar um de-terminado numero de graduados disponíveis e mandá-los assistir a uma sessão cinematográfica que estava a decorrer no Teatro Cir-co da aludida cidade, intitulado África Adeus!... Não se tratava dum filme própriamente dito; era mais um documentário verídico acerca dos movimentos africanos pro-independência e em algu-mas instâncias, narrava em por-menor com a ajuda de imagens, o comportamento dos povos já

independentes e a reacção que tiveram, quando se viram, final-mente, livres de qualquer jugo estrangeiro. Confesso que assisti áquela narrativa, meio perplexo, pois as imagens eram horrorosas e podia sentir-se em tudo aquilo, uma falta enorme de planeamen-to, de preparação dos povos para a sua emancipação, enfim uma total imprudência humana. Pas-sados cerca de cinquenta anos, as jovens nações africanas continu-am a pagar um preço demasiado pesado por tal leviandade dos países colonizadores, tais como Inglaterra, Franca, Portugal e ate a própria Espanha. Era e sou a favor de cada nação ser livre e in-dependente e reger-se pelos pró-prios meios quando tiver maturi-dade e estabilidade para tal; sou

contra deliberações atabalhoadas e precipitadas que só contribuí-ram (contribuem) para a anarquia e estagnação de jovens nações. São poucos os países africanos que vivem um clima de tranqui-lidade e prosperidade, embora alguns sejam ricos em petróleo e diamantes, ouro, minerais e ou-tros recursos naturais.Mas o grande descalabro das in-dependências precipitadas ainda hoje se reflecte nas migrações em massa, de gentes que tratam de escapar a genocídios, perse-guições e maus tratos, à fome e miséria e doenças calamitosas, rumando a sítios incertos, com diferentes culturas e línguas, dispersando-se por onde calha, separando famílias e amigos. A corrupção e o fratricídio são coi-

sas naturais para aqueles que não olham a métodos para causar o fim de muitos que tiveram principio mas não lhes providenciam os meios para sobreviver.A França foi o primeiro país a sofrer do grande afluxo de gentes do norte e centro de África, no princípio dos anos 60 e até hoje nunca conseguiu impor a ordem no país onde se vive um clima de intranqui-lidade, com muito crime e degradação so-cial. A Europa ocidental con-tinua hoje em dia a acarretar a pesada carga duma descolo-nização preci-pitada, acresci-da da queda do comunismo.Mas aqui na América, não fugimos à re-gra. Os polí-ticos que tem

apenas o intuito de serem eleitos a qualquer preço, não conseguem pôr cobro a este descalabro so-cial e económico, causado pela imigração ilegal. Todos com-preendemos que há aqui uma componente humanitária e a América sempre provou ter essa compreensão e condescendência para com os mais desprotegidos, mas qualquer nação, acima de tudo deve saber quem atravessa as suas fronteiras, que classe de gente se admite e a sua prove-niência. Calcula-se que estejam neste país cerca de onze milhões de pessoas que entraram cá ile-galmente. É um facto, embora haja excepções, que os imigran-tes, por norma, não são as pesso-as mais cultas, todavia, exige-se que sejam de bons princípios, morais e cívicos.Ora, no que se vê por cá, há muito joio no meio do trigo; há dema-siados maus vícios para que nos quedemos impávidos e calmos. Prostitutas, vendedores de dro-gas, ladrões, assassinos, alco-ólicos e crime organizado nas cadeias, escolas e bairros resi-denciais, são a norma do dia. A América fez-se um grande país devido à selecção de imigração

no passado; povos que vieram da Alemanha, Irlanda, Inglaterra, Polónia, Itália, Portugal e outrospaíses, mais os judeus que se re-fugiaram cá para fugir às perse-guições, em conjunto, cada um contribuindo com os seus talen-tos e força de vontade de progre-dir, colocaram a América numa posição social e económica difí-cil de igualar. A mistura de dife-rentes povos, todos com vontade de trabalhar e dar o melhor de si, formou o melhor país do mundo em todos os aspectos.Claro, no passado também ti-vemos problemas com a máfia, importada da Itália e que predo-minou no mundo do crime neste país.Hoje, com entrada quase exclusi-vamente das Américas, de gente ilegal, tudo se vai complicar no futuro e provávelmente os Esta-dos Unidos, pouco a pouco, irão perder a liderança que dura há muitos anos. Se não houver umareviravolta no Senado e não se tomarem as decisões mais acer-tadas, é possível que num futuro próximo, apareça alguém, com razões fundamentadas, a fazer um documentário sobre nós, inti-tulado AMERICA... ADEUS! ...

Manuel Rodrigues Africa... (America) Adeus!

Do Tempo e dos Homens

Manuel Calado

[email protected]

Page 17: Tribuna Portuguesa

17FESTAS

Festa Anual de Union City

Presidente Mary e Gilberto Lima, da S.D.E.S. de Alvarado

Esquerda - Rainhas e aias do ano passado. Direita: Rainhas de 2010 - Rainha Grande Christine Azevedo, aias Lauren Rocha e Victoria Johnson; Rainha Junior, Claudia Faria, aias Diana Faria e Monica Amaral; Rainha Pequena, Mia Martins, aias Alicia Pires e Emily Pires

Aspectos gerais da Procissão do S.D.E.S. de AlvaradoA Missa da festa foi celebrada peloa Padre Antonio ReisO Vice-Presidente da festa foi Isabel e José Reis

Fotos de Diliana Pereira

Page 18: Tribuna Portuguesa

18 15 de Maio de 2010FESTAS

Sempre presentes nas nossas festas Grupo Etnográfico do Espírito Santo do Vale de San Joaquin, California

José Meneses e os seus amigos vieram de Tulare participar no Rosário cantado

Presidente e esposa depois do Rosário cantado

Presidente Vital e Madalena MarcelinoPadre Franciscano Robert Barcelos - pregador da Missa da Festa

A Casa dos Açores de Hilmar levou a efei-to mais uma vez a sua Festa ao Divino Es-pírito Santo, que teve a presença de muita gente.Durante a semana houve as novenas e já no Sábado assistiu-se a um Rosário can-tado, por um grupo liderado por José Me-nezes, de Tulare, que mostraram como em algumas freguesias da Terceira se reza o terço. Foi um momento muito bonito desta festa, com uma Igreja cheia a aplaudir esta maneira diferente de se rezar.O bodo de leite foi muito participado como é habitual, tendo-se servido caçoila à hora de almoço. Durante a tarde houve actua-ções de grupos folclóricos e do grupo de Violas e Cantares da Casa dos Açores.

Gilberto Amaral ani-mou a noite com a sua música levando muita gente a dançar. Pena foi que algumas letras das canções deixaram mui-to a desejar. Qualidade é uma coisa que se re-quer dos nossos artistas. Eles devem ser exigentes consigo próprios e não pactuar com facilidades de escrita que nada tem de poética.Houve também cantoria com Alberto Sou-sa, João Pinheiro, Adelino Toledo, Antó-nio Azevedo.No Domingo, depois das Bandas terem saudado a Casa dos Açores, decorreu a

Missa celebrada pelo padre franciscano Robert Barcelos, que pela primeira vez participava numa festa do Espírito Santo. O Padre Barcelos foi ordenado o ano pas-sado na Igreja Nacional das Cinco Chagas. Fez a homília usando o português, espa-nhol e inglês, numa maneira diferente do habitual e que mereceu aplausos.Seguiu-se a Procissão, numa tarde sola-

renga, mas muito ventosa. Sopas foram servidas depois. A festa acabou com um espectáculo de muita qualidade.Ouviram-se bonitos fados nas vozes de Lizandra Jorge e Carmencita, seguindo-se o Conjunto LAFORA, com Roberto Lino, Nuno Braga, Sérgio Leal, Nelson Ponta-Garça e os irmãos António e Manuel Se-verino, do Conjunto Tributo de São Jorge.

Hilmar • Nove Ilhas em Festa

Page 19: Tribuna Portuguesa

19FESTAS

Representação da Ilha do Pico Ilha do Faial

Ilha do Pico Ilha Terceira Ilha de São Miguel

Ilha de São Jorge

Ilha Graciosa, com as suas famosas rosquilhas.

O Pico trouxe os açafates de rosquilhas, como é da tradi-ção da ilha montanha

Ilha das Flores Ilha do Corvo

Ilha de Santa Maria

A Direcção desta festa era constituída pelos seguintes ele-mentos - Presidente,

Vital e Mada-lena Marceli-no; Vice-Pre-

sidente Frank e Analia Furtado; Secretario Manuel Pires; Tesoureiro

Cipriano Melo; Directores Roberto Viei-ra, Jorge Gois, João Leonardo, Luís Coe-lho, Amaro Sousa, José Aguiar, Roberto Silveira, José Silva, Paulo Vitorino,

Hilmar • Nove Ilhas em Festa

Page 20: Tribuna Portuguesa

20 15 de Maio de 2010COMUNIDADE

San Leandro em Festa

Tudo preparado para a largada das Pombas, símbolo do Espirito Santo

Rainha Junior Alizé Lourenço, aias Vanessa e BrianaRainha Pequena Alexandra Cabotage, aias Nevach e Elyana

O Presidente foi Joe Mendes e Vice-Presidente Isolete Grácio.No Sábado houve jantar de caçoila, folclore e concertos musicais. Alcides Machado animou a baile, seguindo-se a apresentaçao das Rainhas. No Domingo houve Procis-sao, Missa, arrematações, concertos musicais e almoço de Sopas e Carne.

As festas em San Leandro começaram em 1870 por iniciativa de John e Maria Dabner (Davino) e muitos outros. Maria Luisa Machado Dabner de-senhou e fez a primeira coroa com peças metálicas não corrosivas, cobertas com seda branca e pequenas flores de seda. Esta relíquia está preservada no Salão em Alvarado Street. Em 1882 foi construido um Império e um Salão em Alvarado Street e assim nasceu a IDES, fundada por M.J. Garcia, José Mendonça, Charles Cross, M.J.de Souza e José Francisco Focha.

Fotos de Diliana Pereira

Page 21: Tribuna Portuguesa

21 COMUNIDADE

Cães de Fila para Venda

P'ra uma casa guardar, não há nada como um cãosó precisa ele ladrar

para fugir o ladrão.

Para mais informações contactar António Carvalho 559-351-2181

Em 2010, o Salão Portu-guês da Sociedade do Espírito Santo de San Diego está comemo-

rando os seus 100 anos da Festa do Divino Espírito Santo. Eve-lyn DaRosa Feliciano sente-se privilegiada e honrada em ser a presidente, em conjunto com a sua família, do Centenário da grande Festa. Diz a Evelyn que é o enorme orgulho do nosso patri-mónio e cultura portuguesa que a fez embarcar nesta celebração do centenário. O Centenário da Festa do UPSES não somente celebra o nosso presente, mas também co-memora e honra o nosso passado, pelo que a Festa vai promover a história de 100 anos notáveis do festival étnico mais antigo de San Diego. Em 1985, seus pais Cristiano e Evelina DaRosa tiveram o privi-légio de serem os presidentes ou "festeiros" da 75ª Festa e a Evelyn teve a honra de ser a 75ª Rainha do UPSES. Tendo crescido par-ticipando na Festa desde a tenra idade de 3 anos, entendeu cedo o verdadeiro significado de ser rai-nha e representar a rainha Santa Isabel de Portugal. Agora é com devoção ao Espírito Santo e em honra da Rainha Santa Isabel que a sua filha Karinna Evelina e o seu filho Joshua Michael são Rai-nha e Rei dos 100 anos da Festa do UPSES. Mostrando a sua gratidão ao

Espírito Santo e devolvendo-a à comunidade portuguesa de San Diego, esta Festa é algo que a sua família desejava fazer desde que ao seu marido Michael foi diag-nosticado cancro no cérebro em 1998. Michael recebeu menos de 30% de oportunidade de sobre-viver um ano. Pelas bênçãos de Nosso Senhor, Michael não só superou as expectativas médi-cas, mas voltou à sua profissão de capitão do barco atuneiro M/V Capt. Cristiano DaRosa. Acredi-tamos que foi a nossa fé em Deus e as bênçãos do Divino Espírito Santo que nos deram mais 5 anos com o Michael, até à sua morte em 2003. Como se não fosse sufi-ciente, uma semana antes da Fes-ta do Divino Espírito Santo de 2007, Evelyn foi diagnosticada com câncro de mama. Nenhuma criança deveria passar por mo-mentos cruéis de ter um pai com cancro, muito menos os dois e em tão pouco tempo um do outro. Diz a Evelyn que a preocupação dela nunca foi consigo própria, mas com a sua família e começou a questionar porque é que Deus iria colocar novamente os seus filhos perante este sofrimento. “Orei” diz a Evelyn “ao Espírito Santo e à Rainha Santa Isabel, no meio do UPSES Hall, em frente à Coroa do Espírito Santo. Pedi ao Espírito Santo para poupar a minha vida não por mim mas pelos meus filhos, prometendo ao Espírito Santo que iria fazer

a Festa um dia, em memória do meu marido Michael. Nessa al-tura, eu libertei a minha ansie-dade e angústia. Foi então que eu percebi que não é o nosso lugar questionar o plano de Deus, mas aceitá-lo e lidar com ele da me-lhor forma que sabemos. É com essa fé imensa no Espírito Santo que sinceramente acredito que a minha família e eu fomos capa-zes de superar. Nós temos sido verdadeiramente abençoados. Em 2008, com um sincero desejo de cumprir a minha promessa em honra do Espírito Santo, eu sub-meti o meu nome para realizar a 99ª Festa mas felizmente não foi escolhido. O Espírito Santo tinha outros planos para a minha fa-mília, em 2009, tive a oportuni-dade de apresentar o meu nome pela segunda vez e, por graça de Deus, foi o escolhido. A minha família e eu tivemos uma imen-sa sensação de gratidão, emoção e honra ao ser anunciado a pre-sidente dos 100 anos de Festa. É com esta necessidade sentida de homenagear, e um enorme sen-timento de agradecimento por todas as bênçãos que foram con-cedidos à minha família e a mim pelo Espírito Santo e em honra da Rainha Santa Isabel de Portugal, que nós aceitámos ser os festeiros do Centenário da Festa do Divino Espírito Santo do UPSES. A minha família e eu gostaríamos de reconhecer e agradecer a todos que nos dão o seu

tempo e talento para ajudar na Festa da Comunidade Portugue-sa de San Diego. Essas pessoas são verdadeiros "Presidentes da Festa". Esta Festa é deles. É a sua fé no Espírito Santo e o conheci-mento do verdadeiro significado da Festa que lhes permitem con-tinuar. São eles que dão horas incontáveis ao Bazar, Segurança, Parada, Cozinha e angariação de fundos. Para as pessoas que ajudam nas barracas, para os ho-mens que penduram bandeiras ao longo do percurso da parada, para os cozinheiros, para os que organizam o desfile pela rua, para os que gastam inúmeras horas na frente do computador fazendo a papelada, cada um de vocês são os verdadeiros "festeiros". Sem a vossa ajuda esta Festa não po-deria ter prosperado nos últimos 100 anos e nos muitos mais que virão. Espero ver todos vocês no U.P.S.E.S. no Centenário da Fes-

ta 2010 do Divino Espírito Santo, a ser realizado de 21 a 23 de Maio de 2010! Que a Rainha Santa Isabel vos possa inspirar e guiar e que o Espírito Santo vos assista para sempre!" É imprescindível realçar toda esta celebração que acarreta o povo açoriano para qualquer lugar do mundo para onde emigre, criando por vezes as suas próprias tradi-ções como no caso de San Diego, porque 100 anos já fazem histó-ria própria. É certo que por vezes varia um pouco da sua originali-dade mas nós habituamo-nos ao desenvolvimento das gerações, aos hábitos e costumes a que se modificam, mas há algo que não muda para sempre e nos corre nas veias, invisível mas hereditária, a tal FÉ E DEVOÇÃO AO DIVI-NO ESPÍRITO SANTO.

San Diego festeja 100 Vento do Sul

Zé Duarte

[email protected]

Page 22: Tribuna Portuguesa

22 15 de Maio de 2010DESPORTO

LIGA SAGRES Benfica foi o Melhor de 2010 - Campeão pela 32ª vez

O Benfica conquistou este do-mingo o 32º título de campeão, ao derrotar o Rio Ave, por 2-1, em partida da 30ª e derradeira

jornada da Liga portuguesa. Numa época regular, e quase sempre em bom plano, os "encarnados" asseguraram o campeonato na última jornada, com mais cinco pontos do que o Sp. Braga."Tenho a convicção de que não vou desi-ludir, pois quero ganhar títulos no Benfi-ca. Tenho a certeza que vou ser campeão nesta casa, pois quem vem para o Benfica só pode pensar em ganhar." Foi com esta declaração ambiciosa que o ex-treinador do Braga se apresentou aos adeptos "en-carnados", no Verão passado, altura em que trocou os "arsenalistas" pelo aliciante desafio no gigante de Lisboa.E se muitos duvidaram que o Benfica pas-sasse a "jogar o dobro ou ainda mais" – como o próprio fez questão de referir –,as dúvidas foram rapidamente dissipadas. Após uma pré-temporada empolgante, com vitórias expressivas e muitos golos, os "encarnados", que entraram na Liga com um empate em casa (1-1), diante do Marítimo (o único em 15 jogos disputados em casa), praticaram futebol entusiasman-te, com forte pendor ofensivo, tendo ter-minado com o melhor ataque (78 golos) e a melhor defesa, ao lado do Braga, com 20 tentos sofridos.Após o empate a abrir, os lisboetas arran-caram para sete de vitórias seguidas, algu-mas das quais com números expressivos, como a goleada ao Vitória de Setúbal por 8-1, a maior diferença da época. Líder à oitava jornada, o Benfica perdeu o estatu-to logo a seguir após perder por 2-0 em Braga. Passou a maior parte da temporada a perseguir o rival do Minho na lideran-ça e apenas voltou ao topo na 20ª ronda, quando derrotou o Leiria por 3-0 e o Braga perdeu por 5-1 no reduto do FC Porto.E o facto é que não mais deixou a li-deran-ça da tabela, apesar do desaire na penúl-tima jornada no Estádio do Dragão, num encontro que terminou a série de 20 jogos e seis meses sem perder na Liga, entre as nona (31 de Outubro) e 29ª jornadas (2 de Maio), resultado que pôs também fim a nove triunfos seguidos da equipa de Je-sus.Além de Quim na baliza, titular em todos os 30 jogos, Luisão manteve-se como es-teio no eixo da defesa, mas agora coadju-vado por um David Luiz mais maduro. No lado esquerdo da defesa, Jorge Jesus optou maioritariamente por Fábio Coentrão, com resultados bem positivos, já que o jovem internacional Sub-21 português corres-pondeu com excelentes actuações.No meio-campo, os reforços Javi García e Ramires foram escolhas recorrentes, em-

prestando ao conjunto "encarnado" força e dinamismo na zona intermediária, onde Carlos Martins e Pablo Aimar dividiram entre si a tarefa de organizar o jogo ofensi-vo das "águias". No flanco esquerdo, com mais liberdade ofensiva, a fantasia de An-gel Di María constituiu sempre um perigo constante para as defesas contrárias, ao passo que Javier Saviola e Óscar Cardozo formaram a dupla atacante na maior par-te dos jogos e, para além de terem ambos marcado por várias vezes, também ofere-ceram inúmeros golos.O dianteiro argentino, dotado técnica e tacticamente, revelou-se exímio na cria-ção de espaços, ao passo que o ponta-de-lança paraguaio assumiu-se como o golea-dor-mor do Benfica e tornou-se no melhor marcador da Liga, com 26 remates certei-ros – mais um do que Radamel Falcao, do FC Porto –, facto que não acontecia há 19 anos, desde 1990/91, altura em que Rui Águas arrecadou o troféu.É certo que o Benfica foi afastado precoce-mente da Taça de Portugal (na única der-rota em casa, 1-0, na presente temporada, frente ao Vitória de Guimarães), mas nas restantes competições esteve em excelente plano, tendo conquistando a Taça da Liga com uma vitória esclarecedora na final frente ao FC Porto, por 3-0.Na Europa, realizou uma fase de grupos

da UEFA Europa League acima da média e terminou no primeiro lugar do respec-tivo agrupamento, tendo progredido até aos quartos-de-final, depois de deixar pelo caminho o Hertha BSC Berlin e o Olym-pique de Marseille. O Benfica viria a ser eliminado pelo Liverpool FC, apesar de ter vencido a primeira mão, em casa, por 2-1 (perdeu por 4-1 em Anfield), mas depois

do desaire não vacilou a nível interno e confirmou a conquista do título, mormente a referida derrota por 3-1 averbada frente ao FC Porto, no Estádio do Dragão, na pe-núltima ronda.

UEFA.com/Foto Lusa

(Cima E/D): Quim, Ramirez, Oscar Cardozo, Airton, David Luiz e Luísão. (Baixo E/D): Cesar Peixoto, Saviola, Ruben Amorim, Carlos Martins e Pablo Aimar,

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24 15 de Maio de 2010TAUROMAQUIA

Quarto Tércio

José Á[email protected]

Praça de LatonFesta de Nossa Senhora de Fátima

10 de Maio de 2010Cavaleiros - Alberto Conde e Sário CabralForcados de Turlock e do Aposento de TurlockToiros de Cândido Costa (3) e Joe Pacheco (3)Director - José SózinhoFilarmónica de Tulare

Curro bem apresentadoMuito público, noite fria

Esta foi mais uma noite de forcados, da sua valentia, da sua coragem e de saber pegar toiros, mesmo quando estes tentaram "brincar" com eles.E houve mais uma estreia de um novo forcado do Grupo do Aposento de Turclock - Chris Peixoto.Este ano está para isto - os forcados são os heróis das nossas corridas.Os três primeiros toiros de Cândido Costa eram colora-dos - o segundo era bom e o terceiro bom foi.Dos outros três de Joe Pacheco só o quarto cumpriu. O quinto e sexto foram mansos e complicados.Primeira pega, valente, de Manuel Cabral, do Grupo de Forcados de Turlock.Segunda pega - estreia de um novo forcado - Chris Pei-xoto. Sofreu um derrote alto na sua primeira tentativa para depois pegar bem na segunda, muito bem ajudado por Michael Fernandes, que o colocou na cabeça depois de um forte derrote inesperado.

Terceira pega - Tiago Pereira, dos Forcados de Turlock - ficou mal embarbelado na primeira vez e pegou bem à segunda.Quarta-pega - Darren Mountain, Forcado do Aposento - chamou bem o toiro, este derrotou alto, o Darren foi ao ar e caíu nos cornos do toiro, fechando-se muito bem com ajuda preciosa de Michael Fernandes. Quinta pega - Jason McDonald, Forcados de Turlock - até foi bom ter falhado a primeira tentativa, para depois podermos ver a pega da noite. Um pegão, em termos tau-rinos. Embarbelou-se muito bem, o toiro desviou-se para a direira, driblando os ajudas e Jason, sózinho, aguentou muitos derrotes. O grupo recuperou depois e pararam o toiro a tempo.Sexta pega - Michael Meneses. Estávamos receosos deste toiro, pois tinha sido manso, era o mais velho da corrida e poderia dar muito trabalho. Afinal o Michael toureou-o bem e fez uma boa pega.Bela noite para os dois grupos de Turclok.

Alberto Conde - no primeiro toiro pouco fez, o toiro era parado e reagia pouco ao toureio do Alberto. Salvou-se o segundo curto.No seu segundo, e terceiro da noite, o mais pesado, de Cândido Costa, toiro com musica e bom som, Alberto es-teve bem com os ferros curtos, com realce para o quarto. Mesmo assim não esteve ao nível do Alberto Conde que conhecemos. Faltou-lhe alma. Esteve frio como a noite. É o princípio da temporada. Terceiro e quinto da noite - toiro manso e Alberto Conde pouco ou nada pôde fazer. De realçar o toiro se ter assus-

Atiro-me para o chão de contente, dou d

Dou mais duas orelhas ao Mo-rante de la Pue-bla, pela maneira brilhante como tou-reou um excelente toiro de Nuñes del Cuvillo, em Jerez, no dia 8 de Maio. Po-dem vê-lo em www.mundotoro.tv

Minha mulher, que não gosta de toiros, cos-tuma perguntar-me porque razão eu "bato" tanto no Sá-rio Cabral. A resposta é simples. O Sário é "nosso", e da nossa California, e sendo fruto de uma comunidade aficionada, não pode nem deve ser inferior a ninguém. O Sário é um self-made-man, mas depois de tomar a sua alternativa, as responsabilidades quadruplicam, e por isso seria sempre bom que o Sário compreeendesse muito bem em que varas verdes é que se vai meter.O Sário tem de definir um estilo, tem de aconselhar-se com aqueles que pela sua maior experiência o podem ajudar, a ser melhor e cada vez mais artista.

tado com um forte "trovão" ao segundo curto. O tempo estava frio e trovejante. Mesmo depois do "trovão" conti-nuou manso e desinteressado.

Sário Cabral - coube-lhe em sorte dois bons toiros. Es-teve melhor do que em Stevinson. Um pormenor muito positivo - Sário parou e citou nesta corrida mais vezes do que o normal, o que é sinal que o cavaleiro está a amadu-recer e a compreender quão bonito é tourear-se bem.No segundo toiro da noite, colorado, de Cândido Costa, de realçar o segundo comprido e o primeiro curto, com bonito remate. Sário tem de evitar a velocidade que em-prega nas tiras. É um sinal de pouca confiança no cavalo.O toiro era bravo e nobre e o Sário poderia ter evitado alguns ferros a cilhas passadas. No quarto da noite, de Joe Pacheco, toiro com peso e idade, Sário esteve diligente nos compridos e nos curtos, realce para o quarto ferro. Muita velocidade empregue na cravação dos outros ferros à tira.É importante que o Sário compreenda que tourear não é só cravar. A brega mostra o conhecimento que o cavaleiro tem do toiro e dos terrenos onde melhor possa desenvol-ver a sua arte. No toureio a cavalo existem os mesmos tempos do toureio a pé e mais alguns - citar, aguentar, mandar, cravar e rematar. Além destes tempos, temos que dar tempo ao cavalo para se mostrar, pois ele é tão ou mais artista que o cavaleiro. Em resumo, tem de haver tempo para isto tudo, evitando tempos mortos, de se an-dar à roda do toiro sem beneficio nenhum para o toureio. Toureio é arte. Toureio é emoção.O ultimo da noite nada serviu ao Sário. Manso, com idade e pouco jogo.A corrida valeu pelo empenho dos artistas, pelas pegas, e por três toiros que foram bravos e nobres.

ESTREIA e importância do primeiro ajuda - Esta foto tem duas funções - mostrar a primeira pega de um novo forcados da cara - Chris Peixoto, do Grupo do Aposento de Tur-lock, que já estando embarbelado sofreu um derrote e a pronta intervenção do primeiro ajuda, Michael Fernandes, colocou-o de novo nos cornos do toiro. Michael Menezes fechou-se muito bem ao sexto toiro da noite

Jason McDonald numa grande pega ao quinto da noite

Forcados all over

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Atiro-me para o chão de contente, dou d

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26 15 de Maio de 2010ARTES & LETRAS

Frank Gaspar é uma das vozes mais con-ceituadas da literatura luso-americana. Escrevendo em inglês, os seus livros de poesia e os seus romances (Leaving Pico), estão repletos de nuances e referências às suas experiências com as nossas co-munidades, às suas vivências como lu-so-descendente. Acaba de publicar mais um romance, Stealing Fátima. É sobre esse romance que Vamberto Freitas es-creve o belíssimo ensaio que publicamos nesta edição. Um texto magnífico este do Vamberto sobre um livro que espera-mos seja lido pelas nossas comunidades no continente norte-americano. É que tal como escreveu Julie Wittes Shlack do Boston Globe: "a prosa de Gaspar, com a sua deliberação e os seus momentos de puro júbilo é como o crescendo de uma missa cantada. Independentemente da fé religiosa, o céptico e o crente, render-se-ão á beleza da escrita."

abraçosdiniz

Vamberto Freitas

He understood that much of memory was a creation.

Frank X. Gaspar, Stealing Fatima

Stealing Fatima, o segundo volume de uma projectada trilogia de Frank X. Gas-par, iniciada com Leaving Pico (Uni-versity Press of New England, 1999) é um grande romance, que provavelmente supera tudo que tem saído da autoria de luso-americanos. Bem sei que é arriscado afirmar estas coisas, mas vão aí também os termos que (me) acautelam. Não creio haver entre nós outras quase quatrocentas páginas de prosa ficcional tão consistente-mente brilhantes, nem uma palavra nem um passo qualquer fora do seu lugar, um vasto, minuciosamente detalhado, rico e colorido painel que retrata uma precária comunidade de luso-descendentes na luta serena pela sua sobrevivência num oceano de outros, bem mais ricos e numerosos, os que o narrador diz serem “from Away”, os “de Fora”. Trata-se, no romance, de uma cidade “mítica” norte-americana, mas de imediato qualquer leitor atento saberá que é a transfiguração de Provincetown nos nossos dias, essa comunidade na ponta ex-trema de Cape Cod fundada por pescado-res continentais e açorianos. Aliás, a própria capa de Stealing Fatima traz um quadro que representa a sua Igreja Católica, o centro nevrálgico e aglutina-dor de toda a narrativa, sob a tutela de um padre de nome Manuel (Manny) Furtado, encarregado pela Diocese de manter o que resta da comunidade lusa integrando-a com todos os outros, enquanto ele pró-prio tenta salvar-se numa tremenda crise de fé e de espírito. Está tudo aqui muito para além da crise actual da Igreja: está toda uma humanidade a doer num mundo pós-moderno sem as regras de outrora, a memória ancestral a desvanecer-se mas arreigadamente persistente, o futuro tão incerto como o regresso dos antigos bar-cos piscatórios apanhados numa medonha tempestade atlântica. Dois incêndios aqui acontecem no mar e em terra, a pequena e isolada comunidade de olhos postos nas chamas da sua morte e, logo, do seu possí-vel renascimento. Nenhum outro romance retrata de modo–passe o paradoxo--tão

realisticamente poético o inevitável, su-põe-se, desfasamento de uma comunida-de nossa na América do Norte. Frank X. Gaspar sempre se recusou, na sua poesia e ficção, diluir-se por completo no mosaico anglo-americano dominante. Em Stealing Fatima vai ainda mais longe: a resistência à morte da comunidade recorre agora a to-dos os meios, inclusive a um Deus em que o padre-protagonista já nem sempre acre-dita, relembra a mítica das origens e as linguagens da nossa gente em cada página sua, e até quando um nome ou outra pala-vra portuguesa aparece em itálico, o leitor recebe-a como uma oferta de amor e afec-to. Não, não há qualquer inocência neste romance, muito pelo contrário, é a ironia e a constante metaforização da natureza e das coisas que sobressaem para nos colo-car no estado interior de cada personagem, levando-nos ao riso empático e ao enten-dimento, a “religiosidade” de todos como que um regresso ao humanismo redentor, quase totalmente ausente da literatura contemporânea, a riqueza lexical do autor criando passo a passo, linha a linha, uma narrativa digressiva e ao mesmo tempo co-esa como um dos seus barcos à deriva na tempestade inesperada mas avistando já a luz costeira e certíssimo quanto ao seu destino. A cidade mítica de Stealing Fatima é ela própria uma realidade de todo irónica no

c o n t e x t o amer icano. Ponto de chegada dos p r i m e i r o s pe reg r inos norte-euro-peus, tive-ram medo, parece, e a b a l a r a m para outras p a r a g e n s . No entanto, o monumen-to mais visível da cidade é precisamente dedicado a esta gente, os que não ficaram e nada lá fizeram. Os portugueses chega-ram, e construíram aí mesmo as suas vi-das. De pequeno e isolado burgo à beira mar, feito de pescadores rijos, os Velhos, como são chamados em toda a poesia e prosa de Frank X. Gaspar, viria eventu-almente a ser descoberta pela sociedade chique da Nova Inglaterra e de Nova Ior-que em busca de sossego e decência, e que aos poucos a tornaria em centro artístico a partir dos anos vinte, e logo de seguida em refúgio privilegiado de comunidades homossexuais. A gente lusa foi resistindo, mas o poder do novo dinheiro e estilos de vida foi erguendo o seu domínio, a pesca acabando, as velhas casas de picoenses,

Sobre Stealing Fatima, de Frank X. Gaspar

Em Busca do Divino Perdido Diniz [email protected]

Apenas Duas Palavras

micaelenses e continentais dando lugar às moradias abastadas dos outros, os de fora, a nossa memória reduzida agora a estórias, padarias -- e à velha igreja em ruínas e quase sem congregação. É isso que o padre Manny Furtado tenta segurar, chamando a si a ajuda e a cumplicidade dos que rara-mente se aproximavam da comunidade an-tiga e fundadora. Engano seu, numa vira-gem meio cómica meio trágica, como tudo e todos em Stealing Fatima, acabam eles, os de fora, por tomar conta do resto. Não é esse o significado primeiro do título deste romance, mas bem poderia ser. A memória de cada um confunde-se, sub-merge-se na memória de todos. Quando já não resta “realidade”, quando um mundo se encerra ou acaba, restará sempre, pois, a memória e o subsequente acto criativo, a recuperação de mundos e crenças perdi-das, a literatura tornando-se nessa outra e única liturgia do grupo. Padre Manny Fur-tado anota diária e obsessivamente o seu dia-a-dia e as suas crises interiores, copia passagens de santos e da bíblia em cader-nos especiais e antigos. Stealing Fatima é, para mim, isso mesmo. O que acontece numa pequena cidade mítica mas reconhe-cível, acontece com nós todos mesmo den-tro da “pátria”. Eis, uma vez mais, Stealing Fatima: quando o Tempo passa, passamos com ele, poucos se reconhecem na rege-neração contínua das gerações adentro dos seus próprios domínios territoriais e culturais, nem sequer suas linguagens já nos são íntimas ou relevantes. A obra de Frank X. Gaspar é um outro monumento em língua inglesa à nossa sorte, lá fora e cá dentro. Muito mais real e significante do que aquele outro em Provincetown, er-guido a fantasmas.

Frank X. Gaspar, Stealing Fatima, Coun-terpoint, Berkeley, 2009.

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28 15 de Maio de 2010

Judeus e Cristãos-Novosque fizeram nome em Portugal

I - A Idade Média: perseguição e prosperidade

Não é possível precisar a data do estabelecimento de núcleos judaicos na Península Ibérica, embora se saiba que o facto ha-

via já muito antes ocorrido ao tempo da fundação da nacionalidade portuguesa.Até ao fim do século XV foi relativamen-te pacífica a vida dos judeus em Portugal. Houve, como sucedeu por toda a Europa, fortes pressões e mesmo massacres. To-davia, protegidos pela Coroa, constituíam quase um estado dentro do Estado, com organizações, legislação e autoridades próprias e gozavam de absoluta liberdade religiosa.Como exemplo marcante da autonomia, e em muitos casos prosperidade, do povo ju-daico na época medieval cabe citar o caso de Judah ben Moses Navarro, médico pes-soal de D. Pedro I. Foi também arrabi-mor, portanto líder político e religioso do grupo judeu do País. O seu contacto com a realeza foi mutua-mente proveitoso. Deste modo obteve os rendosos cargos de tesoureiro e almoxa-rife-mor do Reino. Muito abastado, cor-respondeu às mercês concedidas pelo rei oferecendo-lhe uma vastíssima proprieda-de com vinhas e pomares, situada em Al-vito, no Alentejo, assim como periódicas e volumosas doações monetárias. Faleceu em Lisboa cerca de 1370.Outros judeus prestaram meritórios ser-viços à Coroa. Pero da Covilhã e Afonso de Paiva desempenharam um crucial pa-pel nos preparativos para a viagem ma-rítima que iria ser comandada por Vasco da Gama. Primordialmente interessado no controlo da importação de especiarias, D. João II pretendia avaliar quais seriam as vantagens de um acesso à Índia por mar, em oposição à tradicional via terrestre.Assim, em 1487 Pero da Covilhã e Afonso de Paiva, presumivelmente de origem he-braica, foram incumbidos pelo rei da mis-são secreta de investigar a segunda destas possibilidades, a de transportar especia-rias por terra desde a Índia. Disfarçados de mercadores árabes partem de barco até ao Egipto. Depois, em Medi-na e Meca fingem rezar para não despertar suspeitas. Separam-se em Aden e Afon-so de Paiva vai até à Etiópia em busca do Prestes João, o mítico soberano cristão. Pero da Covilhã segue para Sofala e em-barca aí para a Índia, chegando até Cale-cute. Visita Goa e Ormuz e envia ao rei as informações pretendidas. Afonso de Paiva morre de peste no Cairo, cerca de 1491.

II - Da conversão forçada ao fim da Inquisição

A conversão imposta por D. Ma-nuel I em 1497 e o início das actividades da Inquisição em 1536 causaram um dramático

câmbio à comunidade hebraica. Agora considerados cristãos-novos, os ju-deus estavam proibidos de sair de Portu-gal mas, através do suborno ou de outros meios, conseguiram fazê-lo em grande número. Os que não partiram levaram em frequentes casos uma vida dupla, apa-rentando ser fiéis cristãos mas mantendo secretamente o antigo credo e os seus ri-tuais. O período renascentista, com a sua dinâmi-ca revolução cultural, fez destacar as figu-ras de vários cristãos-novos portugueses. Um deles, Samuel Usqu foi o autor do livro Consolação às Tribulações de Israel. Tal como tantos outros cristãos-novos, deixou Portugal por outro país que lhe concedesse maior liberdade, neste caso a Itália. Aconteceu pois ser em Ferrara que em 1553 publicou a obra que o fez famoso pela Eu-ropa. Traduzido total ou parcialmente em

vários idiomas, o livro foi contudo escrito, nas palavras do próprio autor, "na língua que mamei". Uma das partes mais impres-sionantes deste trabalho é a emocionada descrição do massacre de cristãos-novos em Lisboa, no ano de 1506.Garcia da Orta nasceu em Castelo de Vide (onde ainda hoje se pode percorrer a antiga judiaria) de pais espanhóis. Estudou Me-dicina nas Universidades de Alcalá de He-nares e Salamanca, em Espanha, e exerceu clínica em Lisboa.Em 1534 partiu para a Índia, havendo-se estabelecido em Goa quatro anos mais tarde. Além de uma brilhante carreira mé-dica, notabilizou-se pelos seus Colóquio dos Simples e Drogas da Índia, em que descreve o uso terapêutico de vária plan-tas, curiosamente incluindo a marijuana. Tornou-se deste modo o primeiro europeu a abordar o tema do tratamento de doen-ças tropicais. A sua obra foi traduzida para latim e várias línguas modernas e ganhou-lhe uma merecida fama internacional. Fernão Mendes Pinto nasceu em Monte-mor-o-Velho cerca de 1509 e morreu no Pragal, Almada, em 1583. Viajou pelo Oriente e as suas vivências levaram à ela-boração da controversa autobiografia, Pe-regrinação, postumamente publicada em 1614 e divulgada por muitos países. Uma bastante possível origem hebrai-ca deste autor tem sido nos últimos anos apontada. Para a apoiar note-se que Men-des e Pinto são sobrenomes comuns entre judeus portugueses e que Montemor-o-Velho foi berço de um importante núcleo judaico. Esta origem foi abertamente ex-posta por Rebecca Catz na sua magistral obra The Travels of Mendes Pinto, onde revela, pela primeira vez, a existência de um irmão de Fernão Mendes Pinto que após a sua saída de Portugal se assumiu como judeu, atitude comum entre cristãos-novos emigrados para outros países. Pedro Nunes, um dos mais destacados matemáticos e cosmógrafos da sua época, nasceu em Alenquer no ano de 1502 e fa-leceu em Coimbra em 1572. Frequentou a Universidade de Salamanca e os lisboetas Estudos Gerais, a escola que iria pouco de-pois ser transferida para Coimbra, toman-do então o nome de universidade.Licenciado em Medicina, a sua versatili-dade revelou-se extraordinária. Havendo ensinado Moral, Filosofia, Lógica e Me-tafísica, foi também o tutor do futuro rei D. Sebastião. Os seus numerosos trabalhos científicos publicaram-se em latim, a lin-gua franca da ciência do tempo, permi-tindo o acesso a investigadores de várias nacionalidades, assim como em português e espanhol.No campo da cosmografia os seus estudos permitiram um singular progresso na ciên-cia da navegação. Foi também o inventor do nonius, aparelho que aperfeiçoou o as-trolábio e portanto levou a uma melhor de-terminação da posição e rota dos navios.Apesar da sua curta permanência em Por-tugal, Abraão Zacuto ofereceu de igual-mente uma valiosa contribuição aos pre-parativos da viagem de Vasco da Gama. Nascido em Salamanca em 1452, procurou refúgio em Lisboa após a expulsão dos judeus espanhóis determinada pelos Reis Católicos em 1492. Bem acolhido na Cor-te de D. João II, foi nomeado Astrónomo e Historiador Real. Em consequência da conversão forçada imposta por D. Manuel I estabeleceu-se em Jerusalém, onde fale-ceu cerca de 1515.O século XVIII traz ao teatro português a inovadora figura de António José da Sil-va, conhecido como o Judeu. Nascido em 1705 no Rio de Janeiro, veio para Lisboa aos oito anos. Quando aluno de Direito na Universidade de Coimbra em 1726, foi preso pela Inquisição e torturado ao ponto de se ver privado do uso da mão direita.Embora havendo terminado o seu curso,

dedicou-se sobretudo à produção de "ópe-ras", textos teatrais musicados e actuados por meio de títeres, que obtiveram um sen-sacional êxito no Teatro do Bairro Alto. De novo preso em 1737, juntamente com sua esposa, foi nesse ano garrotado e o seu corpo queimado num auto-de-fé, a que es-teve presente D. João V.III - O regresso ao judaísmo

Pelos inícios do século XIX já se achava muito desvanecido em Portugal o poder da Inquisição, finalmente extinta em 1821, logo

após o advento do regime constitucional. A maior liberdade religiosa então estabe-lecida animou numerosas famílias judai-cas residentes em Marrocos e depois fixa-das em Gibraltar, onde muitos adquiriram a nacionalidade britânica, a encetar nova vida em Faro, de onde se disseminaram por vários pontos do País.Deste modo criou-se em 1818 na cidade de Ponta Delgada uma pequena comunida-de hebraicaque incluía Abraham Nathan Ben-Saúd. Começando por vender fazen-das e quinquilharias, em breve se tornou um opulento negociante. Entre outros em-preendimentos, fundou o Banco Lisboa e Açores, lançando assim as bases para a actividade bancária nas ilhas.Abraham Ben-Saúd foi o patriarca de uma numerosa família, que na sua maioria se converteu ao catolicismo durante a Segunda Guerra Mundial. Como é bem sabido, os Ben-saúde criaram o mais poderoso império económico do arquipélago, estendendo-se pelos ramos do chá, tabacos, ananases, transportes marítimos e aéreos, hotelaria e outros. Vários membros das primeiras ge-rações distinguiram-se na área da cultura, tendo-se doutorado em universidades es-trangeiras, dado o facto de na de Coimbra, a única então em Portugal, se exigir aos alunos um juramento de fidelidade a Nossa Senhora. Um destes foi professor deMineralogia e Geologia no Instituto In-dustrial de Lisboa e o primeiro director do Instituto Superior Técnico.Como apontamento curioso note-se que um tetraneto do fundador da família alcançou a Presidência da República Portuguesa. Jorge Sampaio, indiferente à religião ca-tólica, é judeu segundo a lei mosaica, que exige uma descendência por via feminina, o que é o seu caso.Salomão Bensabat Sáragga (1842-1900) foi um dos membros da Geração de 70, em que figuravam Eça de Queirós, Ante-ro de Quental, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins e outros. A sua apresentação so-bre "Os Historiadores Críticos de Jesus" estava programada em quinto lugar para as já históricas Conferências do Casino, catalizadoras da difusão do realismo em Portugal. No entanto, após a quarta, foram proibidas "por nelas se expor e procurar sustentar doutrinas e proposições que ata-cam a religião e as instituições políticas do Estado". Um caso absolutamente anómalo foi o da opção por uma carreira na Marinha de Guerra por um membro de uma família judaica, o Comandante Jaime Athias, que alcançou o prestigioso cargo de Chefe da Casa Militar do Presidente Carmona. Outro caso singular foi o do Capitão Artur Carlos de Barros Basto. Nascido em Ama-rante em 1887, filho de pai de ascendência judaica e de mãe devotamente católica, não pode, segundo a lei rabínica, ser conside-rado biologicamente judeu. Durante a sua infância passava as férias com o avô pater-no, criptojudeu praticante, que revelou ao neto as suas origens. Assim, desde muito jovem, Barros Basto pôs de lado a religião da mãe e demonstrou um fervoroso desejo de aderir ao judaísmo oficial.Em 1909 foi admitido na Escola de Guer-ra e durante o primeiro grande conflito mundial, já como tenente integrado no Corpo Expedicionário Português, prestou

brilhantes serviços em França. No ano de 1920 deslocou-se a Tânger, onde foi cir-cuncidado e oficialmente aceite no seio do judaísmo, adoptando então o nome de Abraham Israel Ben-Rosh.Motivado pelo então crescente movimen-to de reconversão dos criptojudeus portu-gueses do Norte e Centro do País, dedicou o resto da sua vida a esta causa, havendo visitado numerosas comunidades "marra-nas" onde expôs os princípios do judaísmo normativo e tentou fazer com que as ora-ções fossem ditas em hebraico. Em 1928 fundou uma pequena sinagoga em Bra-gança. Apesar do seu entusiasmo, a grande maioria dos criptojudeus preferiu manter o seu ritual, que considerava o único verda-deiro. Enfrentando-se a esta enorme resis-tência e à feroz oposição da Igreja ao seu labor, Barros Basto conseguiu, em 1938, fazer erigir no Porto uma imponente sina-goga, com capacidade para 500 fiéis mas não muito mais tarde desactivada. Seguiu-se-lhe uma yeshiva, escola religiosa, para a qual, no seu primeiro ano de funciona-mento, Barros Basto apenas pôde recrutar cinco alunos. A chamada Obra de Resgate continuou até aos inícios da década de 1940 mas sem os espectaculares resultados que Barros Bas-to previa. Quase cego e entristecido pelo fracasso da sua obra de "purificação", o chamado Apóstolo dos Criptojudeus fale-ceu em 1963. Na vida cultural e profissional do século XX surgiram frequentes figuras com so-brenomes de origem hebraica. De marcan-te actuação na época, entre estas conta-se o de Moses Bensabat Amzalak, natural de Lisboa e judeu assumido. Foi professor universitário de Economia e autor de mais de 300 títulos sobre esta e outras matérias, incluindo a História Judaico-Portuguesa. Sara Benoliel nasceu em Manaus, no Brasil, em 1898. Fixando-se em Lisboa, formou-se em Medicina e naturalizou-se portuguesa em 1928. Foi uma distinta pu-blicista e pediatra. Faleceu em 1970.Álvaro Cassuto nasceu no Porto em 1938, filho de pais alemães. Os seus antepassa-dos deixaram Portugal após a conversão de 1497 e através dos séculos viveram em Itália, Holanda e Alemanha. Em 1933 os pais de Álvaro Cassuto, fugindo às restri-ções impostas por Hitler, estabeleceram residência na capital do Norte.Cassuto formou-se em Direito pela Uni-versidade de Lisboa e pouco depois em Di-recção de Orquestra pelo Conservatório de Viena. Foi director da Orquestra Sinfónica de Lisboa, da Metropolitana da mesma ci-dade e de outra em Israel. Viveu 18 anos nos Estados Unidos, onde dirigiu várias orquestras, entre elas a da Universidade da Califórnia, em Irvine. Foram estes apenas alguns exemplos do vasto historial constituído pela presença judaica em terras portuguesas. Não obs-tante o seu reduzido número após o início do século XIX, esta presença deixou impressionantes marcas na economia, ciência e medicina do País.

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Eduardo Mayone [email protected]

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30 15 de Maio de 2010PATROCINADORES

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31 FESTAS

Lista das Festas Tradicionais da California

(parte II e última)

Patrocinada por Santa Clara Realty

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32 15 de Maio de 2010ENGLISH SECTION

portuguese s e r v i n g t h e p o r t u g u e s e – a m e r i c a n c o m m u n i t i e s s i n c e 1 9 7 9 • e n g L i s h s e c t i o n

Ideiafix

Miguel Valle Á[email protected]

Holy Ghost, Portuguese Festas in the Spirit of St. IsabelSelecção da EmigraçãoWhen Portuguese national coach Carlos Queiroz submitted to FIFA the names of the 30 players who were pre-selected to participate in the World Cup 2010 in South Africa, it became apparent that it was a team of Portuguese emigrants. Let’s see...

Goalkeepers: Eduardo (Sporting de Braga), Beto (FC Porto), Daniel Fernandes (Iraklis, of Greece), and Rui Patrício (Sporting CP).

Defenders: Paulo Ferreira (Chelsea, of England), Miguel (Valencia, of Spain), Ricardo Carvalho (Chelsea, of England), Bruno Alves (FC Porto), Rolando (FC Porto), Ricardo Costa (Lille, of France), Duda (Malaga, of Spain), Fábio Coen-trão (Benfica), Pepe (Real Madrid, of Spain), Zé Castro (Deportivo Coruña, of Spain), and Ruben Amorim (Benfica).Midfielders: Pedro Mendes (Sporting), Raul Meireles (FC Porto), Deco (Chelsea, of England), Tiago (Atlético de Madrid, of Spain), Miguel Ve-loso (Sporting), João Moutinho (Sporting), and Manuel Fernandes (Valencia, of Spain).

Forwards: Nani (Manchester United, of England), Simão (Atlético de Madrid, of Spain), Cristiano Ronaldo (Real Madrid, of Spain), Danny (FC Zenit, of Russia), Liedson (Sporting), Hugo Almeida (Werder Bremen, of Germany), Eliseu (Málaga, of Spain) e Makukula (Kayse-rispor, of Turkey).

This means that 18 out of the 30 players, or 60%, are Portuguese emi-grants working (playing) abroad. It also means that these are highly regarded players who see playing outside of Portugal as a reward and recognition for their talent.So, how come this same criterion does not apply to non-soccer players? If our national team is made out of highly-respected emigrants, why should other emigrants be treated almost as second class citizens?May this Selecção de Emigrantes go far in the upcoming World Cup 2010 in South Africa with the suport of the Portuguese-South Afri-cans and Portuguese everywhere in the world.

Viva Portugal and vivam os emigrantes portugueses!

A selection of 40 black and white photographs by Jackson Nichols documenting Holy Ghost festas throughout Northern California from 1990 to the present will be on exhibit in Hayward, Califor-nia, starting June 1. The show will be up from June 1 through June 30 so it will co-incide with the Hayward Holy Ghost on June 20. The PhotoCentral Gallery is lo-cated at 1099 E Street, in Hay-ward, California.The PhotoCentral Gallery is just around the corner from All Saints Church and an easy walk from the Council Hall.The Holy Ghost festas are spring and summer weekend festivals celebrating Portuguese culture and the Sainthood of Queen Isa-bel of Portugal.Festas are hosted by Portuguese councils in various cities across California. These councils elect young queens to represent their communities and participate in a procession to and from Sunday Mass. Each Queen designs an elaborate and colorful hand-stitched cape they wear, and floats with statues of many Saints are also carried during these processions.

Afterward, all attendees are treat-ed to a communal meal of sopas in the tradition of Queen Isabel.Jackson Nichols stated that “This exhibit is what I had in mind when I began the project as a way to give back to the Portuguese com-munity who was so open to share their celebrations with me.”Photographed entirely in black

and white, it combines fine art photography with cultural eth-nography to resonates on many levels.Jackson Nichols can be reached at [email protected], phone 510-926-9977, and website http://www.jnicholsdesign.com.

New Site - New Vision - New Dimensionwww.PortugueseTribune.com

Portuguese-American winemaker Morey Cellars donates to worthy causeThe Richard A. Rodriguez Memorial Foundation at Sonoma State University (SSU) was created to honor and recognize Dr. Richard A. Rodriguez’s personal and professional commitment to foster social justice for people of underrepresented groups in our com-munity. The main purpose is to support the initiatives and projects of SSU students interested in taking action to help reduce acts of stereotyping, prejudice, discrimination, and racism in order to create a safe learning environment that promotes equality and social justice for all. Morey Cellars (moreycellars.com) has kindly offered to help the Richard A. Rodriguez Memorial Foundation in its fundraising campaign by donating 25% of the proceeds from any order during the month of May. Please mention this foundation in your order to ensure your support and a brighter future for SSU diversity programs.Richard Rodriguez was a friend who, unfortunately, passed away and so Morey Cellars wants to help the foundation that was created in his name. By purchasing anything from their website (www.MoreyCellars.com/shop.html), 25% of the gross amount received during the month of May will be donated to the foundation.Contact Dr. Elisa Velasquez at [email protected] for more information about this foundation and the work it supports.

The Students of Psychology 490 Diversity in ActionSonoma State University, 1801 East Cotati Avenue,Rohnert Park, CA 94928

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NOPA releases statement on immigration reformThe National Organization of Portuguese Americans (NOPA) recognizes that the United States’ outdated immigration system is igniting counterproductive reac-tions throughout the country, like the recent passage of SB 1070 in Arizona. This law allows a police officer in Arizona to question and, if necessary, arrest and de-tain any person if the person fails to provide adequate identification and the officer suspects that the individual is in the United States unlawfully. While the law is ex-tremely popular in the state, with 70 percent of Arizona voters ap-proving of it and just 23 percent opposing it, it has raised contro-versy. As a response, Gov. Jan Brewer signed a follow-up bill on April 29th, approved by Ari-zona legislators, that makes revi-sions to SB 1070 -- changes she stated that should quell concerns that the original law would lead to racial profiling. With this new bill, no one can be asked about their immigration status unless they had committed an offense as a predicate to the police officer having stopped them. Arizona is not the only state that has attempted to grapple with this serious issue. As of November 20, 2009, state legislatures enacted 222 laws and adopted 131 resolu-tions in 48 states, for a total of 353 laws and resolutions nationwide. This mix of state and local laws attempting to deal with the ille-gal immigration issue is both un-workable and dangerous. Immi-gration is a federal responsibility, and the time to act to fix our bro-

ken immigration system is now more urgent than ever. The Ari-zona controversy, regardless of anyone’s personal position, only proves the point that the United States’ immigration system is in dire need of updating to holisti-cally and realistically address the present situation. NOPA also recognizes that, throughout its history, immigrants have contrib-uted to making the United States more vibrant and economically dynamic – our country is truly a nation of immigrants. Immigra-tion policies must be adopted that will not only address the present, but also stand the test of time. NOPA affirms its commitment to the rule of law and society, and strongly urges Congress and the President to work together to ad-dress the realities of today’s im-migration issues. NOPA is calling for immediate action to support a new process to admit temporary workers into the United States, impose tougher sanctions on em-ployers who hire illegal immi-grants, create new identification cards for immigrant workers, and adopt policies and procedures to streamline the backlog for those seeking to adjust their immigrant status legally.

NOPA’s 4 Principles of National Immigration Reform:

Strong Border Security and Interior Enforcement – The United States must commit to securing its border as a predicate to seeking any meaningful im-

migration reform. To accomplish this, the Federal Government must provide the border patrol with substantially more person-nel, infrastructure, and technol-ogy to prevent those unlawfully attempting to enter the United States. Immigration reform must also expand interior enforcement efforts to provide Immigration and Customs Enforcement per-sonnel the resources needed to apprehend and deport criminal aliens, target employers who continue to ignore immigration laws, and those who overstay their visas. The United States

must require the completion of an entry-exit system that will track whether all persons entering the United States on legal visas have left the country and will ensure their apprehension and deporta-tion whenever they come in con-tact with any law enforcement officials, local, state, or federal. Concurrently with the foregoing, those individuals who are in the United States illegally must reg-ister as a first step in addressing this long-ignored issue.

Strong Employment Verifica-tion – Immigration reform must include a tough, fair, and effective employment verification system that holds employers account-able for knowingly hiring illegal workers. At a minimum, it must

require all workers legally resid-ing in the United States — citi-zens and legal immigrants—to obtain a new, fraud-proof Social Security card. Any employer who knowingly hires an unauthorized worker must face significant fines and, for repeat offenders, incar-ceration.

Economic Prosperity – Reform efforts must include a rational, le-gal immigration system as essen-tial to ensuring America’s future economic prosperity. A reformed immigration system must en-courage talented immigrants to live and work in the United States and contribute productively to the economy while also discouraging businesses from using immigra-tion laws as a means to obtain temporary and less-expensive foreign labor to replace capable American workers. Under a re-formed immigration system, businesses must be able to obtain lower-skilled workers only when American citizens and residents are unavailable or unwilling to fill those jobs.

Fair Path to Legalization – Calls for mass deportation are impracti-cal and would have a negative im-pact on small businesses and the United States economy in gener-al. Immigration reform must pro-vide a tough, fair, and practical system for illegal immigrants al-ready in the country. Those who are in the United States without documentation must come for-ward, register, admit that they are here illegally, and pass back-

ground checks. After a several-year initial registration program, applicants would have to become reasonably proficient in English and knowledgeable in American civics, pay their debt to society, by paying a fine and back taxes, as a predicate to applying for per-manent residency.

Unfortunately, despite the criti-cal need for immigration reform, a lack of bipartisan resolve on this critical issue coupled with the realities of an election year make true universal immigration reform unlikely in the short term. However, NOPA will continue to promote this urgent issue and provide insights into its timely resolution.

NOPA puts forth a call to action asking the Portuguese American community to contact their Rep-resentatives and Senators urging them to immediately act on com-prehensive immigration reform.

To look up and contact your US Senator or Representative, please visit the following links and copy and paste your letter onto the ap-propriate field: http://www.senate.gov/general/contact_information/senators_cfm.cfm https://writerep.house.gov/writerep/welcome.shtml

If you have any questions about this statement, please contact NOPA’s Immigration Policy Team at [email protected] or 703-389-3512.

Five Wounds Portuguese Nation-al Church in San José celebrated its feast in honor of Our Lady of Fátima last May 1 and 2, 2010.This parish was founded in No-vember 1914, about two and a half years before Our Lady ap-peared for the first time to the three shepherders -- Jacinta and Francisco Marto and Lúcia de Je-sus -- at Cova da Iria, in Fátima, Portugal, in May 1917.This year’s Five Wounds festivi-ties started on Saturday, May 1, with mass and community dinner at the I.E.S. Hall.On Sunday, the high mass in honor of Our Lady of Fátima was presided in Portuguese by Rev. António Reis and concelebrated by Rev. Donald Morgan, par-ish pastor (pictured), and retired Rev. Leonard Traverso.Five Wounds Portuguese Nation-al Church is located at 1375 East Santa Clara Street in San José, California.

Our Lady of Fátima celebrated at Five Wounds Church

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In her book Symbols & Sacred Ob-jects, Barbara Walker wrote that "of-ten confused with alder, a tree asso-ciated with several pagan gods, the

elder somehow became known as a witch tree. It was said that the witches made their broomsticks from the elder tree. Yet, the healing magic of the elder tree was not entirely forgotten. Medieval folk believed that a wreath of elder leaves worn as a collar would cure every pain in the neck."In the Azores Islands, the sabugueiro (el-der) is frequently used for building hedge-rows and fences, and to provide screening and protection for crops and pastures. An infusion of its flowers is used for diuretic and sudorific purposes. On the Island ofSão Jorge there is a place called Vale dos Sabugueiros.The elder, also elderberry, is native to Eu-rope, West Asia and North Africa. Accor-ding to Jenny Linford, (A Pocket Guide to Herbs), "its generic name Sambucus apparently derives from the Greek sam-buca, meaning a musical pipe. Called the medicine chest of the people, the elder has long been valued for its medicinal pro-perties, taken internally for catarrh, colds and rheumatic complaints, and externally to soothe swellings, wounds and bruises. The berries are traditionally used to make wine, chutneys, jellies and ketchup."Writing in the Oakland Tribune, (August 15, 2009), Patrice Hanlon noted that "Ca-lifornia Native Americans used elderber-ries as a tea for rheumatism. The flowers have a vanilla flavor and were used as a tea that helped with an upset stomach. The fruitwas used for dyes in basket making, and for jams and spirits such as elderberry wine.The bark was brewed into a tea for relief of fevers, and the 1eaves were said to soo-thethe effects of coming into contact with stinging nettle. The branches made beau-tiful musical instruments as well as arrow

shafts. Some Native American tribes referred to elderberry as the tree of mu-sic."Young elder twigs deprived of pith have from early times been in demand for making whistles, popguns and other toys. The elder's flowers contain a vo-latile oil, and serve for distillation of elder-flower water, used for confectio-nery, perfumes and lotions.Funk & Wagnalls Standard Dictiona-ry of Folklore, Mythology & Legend, carries a long list of curious references about the elder. For instance, in Bohe-mia men tip their hats to the elder, but in some Christian countries this tree has evil associations, because it is supposed to be the tree on which Judas hanged himself, and its wood was used for the Cross.

On the Scottish border and in Wales it is said that the dwarf elder only grows onground which has been soaked in blood. Elder wood is never used in shipbuilding

or in fires. A cradle of this wood would cause a child to pine away and to be pin-ched by the fairies.In Germany an elder branch brought into the house brings ghosts, and in England itbrings the devil. However, in Scotland el-der is hung over the doors and windows tokeep evil spirits out. In parts of the United States burning an elder stick in thefire on Christmas Eve will reveal all the witches, sorcerers, and practitioners ofthe evil arts in the neighborhood.In one form or another, the elder has been thought capable of curing most of theills of humankind. In Bohemia and Den-mark, the fresh juice is drunk for tootha-che caused by a cold. In some parts of the United States, a salve made of the flowersand bark is used for gout, burns, swellings and tumors. The leaves are used to keepflies and ants out of the house, and in poul-tices for inflammation. The fruit is agood cure for dropsy, rheumatism and swollen 1imbs. The seeds are taken for dropsy and to reduce.In Ireland, a necklace of nine elder twigs or berries is a cure for epilepsy. In Bava-ria, if a fever patient sticks an elder twig in the ground, the fever will go away, but anyone who removes the stick will catch the fever. Apparently, elder was also good for deafness, fainting, strangulation, sore throat; ravings, snake and dog bites, in-somnia, melancholy and hypochondria.California's town of Elderwood is located in Tulare County, and Elder Creek be-longs to Tehama County, where, in 1844, Robert Thomes established the Rancho de los Saúcos (elder trees) on the south side of Elder Creek.

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California Chronicles

Ferreira Moreno

Sabugueiro - Portuguese for elder

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CAVALHEIROCavalheiro de 40 anos, residente na Costa Leste, pretende conhecer Senhora até aos 35 anos para efeitos de casamento.Por favor telefone para O. Oliveira

978-667-0576

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35 COMUNIDADE

Realizou-se no PAC o jantar dos Antigos Estudantes dos Liceus e Escolas Industriais dos Açores. 1ª foto - alunos do Liceu da Horta; 2ª - Liceu de Ponta Delgada; 3ª Liceu de Angra do Heroísmo.

Comunidade em festa

Realizou-se em Tulare e da responsabilidade do TDES um Torneio de Futsal com a participacao de cinco equipas.

Em cima: equipa vencedora do Torneio - FC Brew CrewAo meio: T.A.A.C. À direita - Tulare Galaxy

Jantar mensal dos Amigos da Ribeira Grande, no Centro Leonino de San José

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