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APRESENTAÇÃO Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea- lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que melhor se encaixa à organização curricular de sua escola. A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen- tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci- dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas, histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob- jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade. As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada região brasileira. Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz. Gerente Editorial Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo

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APRESENTAÇÃO

Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três

séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea-

lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que

melhor se encaixa à organização curricular de sua escola.

A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen-

tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci-

dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito

crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas,

histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de

dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob-

jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade.

As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante

situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos

privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de

questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada

região brasileira.

Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia

intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o

aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz.

Gerente Editorial

Trovadorismo, Renascimento e Classicismo;

Barroco, Arcadismo e Romantismo

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Emerson Walter dos Santos

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2 Comunicação

Expressão Digital© Shutterstock/ fckncg / © Shutterstock/nodff / © Shutterstock/valzan / © Shutterstock/Georgios Kollidas / © Shutterstock/Neonn / © Shutterstock/Oleg Golovnev /© Shutterstock/Gayvoronskaya_Yana / © Shutterstock/Kostyantyn Ivanyshen / © Shutterstock/Antonio Abrignani / Getty Images/Hulton Archive/Apic / Getty Images/Ulf AndersenEditora Positivo Ltda.Rua Major Heitor Guimarães, 17480440-120 Curitiba – PRTel.: (0xx41) 3312-3500 Fax: (0xx41) 3312-3599Gráfica Posigraf S.A.Rua Senador Accioly Filho, 50081300-000 Curitiba – PRFax: (0xx41) 3212-5452E-mail: [email protected]@positivo.com.br

Autores e obras da

literatura brasileira

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Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)

(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

P436 Arcanjo, Maria Aparecida da Silva.Ensino médio : modular : literatura portuguesa : trovadorismo, renascimento e clacissismo :

barroco, arcadismo e romantismo / Maria Aparecida da Silva Arcanjo ; ilustrações Eduardo Vetillo. – Curitiba : Positivo, 2013.

: il.

ISBN 978-85-385-7536-8 (livro do aluno)ISBN 978-85-385-7537-5 (livro do professor)

1. Literatura Portuguesa. 2. Ensino médio – Currículos. I. Vetillo, Eduardo. II. Título.

CDU 373.33

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SUMÁRIO

Unidade 1: Trovadorismo

Origens da poesia trovadoresca 5

Evolução da língua portuguesa 6

Poetas medievais 6

Poesia medieval 7

Prosa medieval 9

Unidade 2: Renascimento e Classicismo

Renascimento 12

Principais nomes do Renascimento 14

Humanismo português 15

Classicismo 16

Unidade 3: Barroco

Aspectos histórico-culturais em Portugal 20

Estética barroca 21

Autores 22

Unidade 4: Arcadismo

Aspectos histórico-culturais 28

Academias 30

Aspectos estéticos do Arcadismo 30

Poetas 30

Unidade 5: Romantismo

Aspectos histórico-culturais 34

Limites cronológicos do Romantismo português 35

Características estéticas do Romantismo

português 35

Poesia romântica portuguesa – autores 36

Prosa romântica portuguesa – autores 41

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo4

O estudo da literatura portuguesa começa pela poesia provençal,

de origem oral, que se espalhou por toda a Península Ibérica e se

desenvolveu do século XII até meados do século XIV. Trata-se de

um conjunto de 1 600 cantigas de caráter profano e 400 poemas de

conteúdo religioso.

Para que possamos entender melhor a poesia provençal, será

necessário conhecer o contexto histórico em que ela surgiu.

Trovadorismo1

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Ensino Médio | Modular 5

LITERATURA PORTUGUESA

Na Idade Média, marcada pelo teocentrismo, a Igreja detinha o poder. A ela se curvavam a nobreza e os camponeses. Era, também, a maior proprietária de terras. Enquanto o rei e a nobreza dividiam suas terras em função de casamentos, a Igreja apenas acumulava posses.

Com o recebimento de dízimos, as doações por penitência, a cobrança de tributos feudais e o envolvimento direto nas lutas territoriais, a Igreja transformou-se na grande potência da Idade Média.

Como autoridade máxima, o papa Urbano II incitou uma enorme multidão de pobres e de nobres empobrecidos a combater, em nome de Cristo, a “raça maldita” (os turcos), que havia invadido a terra dos cristãos. Assim, em fins do século XI, iniciavam as Cruzadas, com o grito de guerra dos cristãos: “Deus o quer!”.

Essa foi a época, também, em que as cidades renasceram, impulsionadas pelo comércio.Houve grandes transformações na agricultura com o aperfeiçoamento de técnicas de cultivo

e o uso de instrumentos de ferro. Essas mudanças apontaram, então, para as primeiras indicações da Idade Moderna.Os burgueses, componentes de uma nova classe social, eram letrados e desenvolviam ati-

vidades especializadas, muitas vezes superiores às dos nobres.Na Europa, cuja divisão política era bastante diferente da de hoje, Provença era uma região

que se encontrava em grande progresso espiritual e material, situação ideal para o desenvol-vimento da arte e da cultura.

A religião, em Provença, desenvolvia-se em mosteiros, que foram verdadeiros centros de cultura artística.

Tudo o que se produzia na Idade Média estava relacionado aos textos sagrados e ao cristianismo. A Igreja era a proprietária da cultura e os ensinamentos religiosos eram reforçados nos sermões dominicais, nos quais se controlavam as crenças e a moral das pessoas.

O filme O nome da rosa, baseado no livro homônimo de Umberto Eco, passa-nos uma visão bastante fiel da realidade daquela época.

Nos mosteiros se desenvolveram as formas que mais tarde seriam usadas na poesia profana e os temas do lirismo cristão, que caracteri-zaram a poesia trovadoresca: a grande importância da mulher, o amor platônico, a posição humilde e secundária do homem, etc.

Por outro lado, a Galícia, região em que se encontra o santuário de Santiago de Compostela, atraía a atenção da Europa, e ali se desen-volvia um outro centro artístico. De lá, vieram muitos dos trovadores e jograis cujas composições conhecemos hoje.

Quando Portugal surgiu, a poética provençal já estava enraizada na cultura de sua população, e Dom Dinis, o Rei-Trovador, já escrevia à moda provençal.

O trabalho dos monges copistas, reclusos em mosteiros, permitiu preservar muitos manuscritos da Antiguidade Clássica

Latin

Stoc

k/A

lbum

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noz

Origens da poesia trovadoresca

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6 Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo

Evolução da língua portuguesa

A formação da língua portuguesa tem origem na expansão do Império Romano, que impunha o seu idioma aos territórios conquistados.

Assim, modificado pelos falares regionais, o latim foi dando origem a diversos dialetos denominados romanços, que signi-ficam “falas à maneira dos romanos”.

Com as invasões bárbaras no século V, apareceram vários desses dialetos, que evoluíram, dando origem às línguas neolatinas.

Na Península Ibérica, várias línguas e dialetos se formaram, entre os quais o catalão, o castelhano e o galego-português, do qual se originou a língua portuguesa.

O galego-português era usado na região que corresponde aos atuais territórios de Portugal e da Galícia e foi utilizado no período entre os séculos XII e XIV. A partir de meados do século XIV, esse dialeto passou a sofrer maior influência dos falares do sul, princi-palmente da região de Lisboa, o que resultou num distanciamento gradual entre o português e o galego – dialeto falado no norte.

O galego tornou-se uma variante do espanhol, atualmente falada na Galícia. Já o português, com a consolidação territorial e a autonomia política conquistadas pelo império luso, firmou-se como língua oficial de Portugal.

Poetas medievais

Há quem confunda as palavras jogral, menestrel e trovador, designando igualmente o poeta medieval, mas existe diferença entre eles.

Na Idade Média, cada rei tinha o seu “bobo da corte”, cuja atividade principal era divertir a nobreza. Para isso, deveria cantar, tocar instrumentos – principalmente a viola e o alaúde – e fazer acrobacias.

Constantemente, essa atividade era desenvolvida por um jogral que, dotado de boa voz, apenas executava as músicas, não compunha a poesia que cantava.

Os jograis eram boêmios, sem moradia fixa, que viviam de favores dos nobres, dos clérigos e, outras vezes, a serviço de um trovador. Recebiam seu pagamento em forma de roupas e alimentação.

Existiam também as jogralesas, que desempenhavam a mesma função dos jograis, tendo como diferença o pagamento em dinheiro, o chamado soldo.

O menestrel ou segrel era, geralmente, um ex-eclesiástico que havia desistido da vida religio-sa, mas trazia consigo a instrução então adquirida. Era, portanto, capaz de produzir suas próprias cantigas e não apenas executar as alheias. Servia nas cortes, sempre a um determinado senhor, estando fixo a seu serviço.

O trovador, poeta medieval por excelência, era capaz de trovar, isto é, capaz de compor suas próprias cantigas, com assunto e formas pessoais, além de executá-las, acompanhadas de instru-mento musical.

Luci

ano

Dan

iel T

ulio

Península Ibérica

Fonte: ATLAS geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. Adaptação.

A Galícia, região que hoje pertence à Espanha, foi um centro de integração linguística e cultural com Portugal entre séculos XII e XIV

Formação do

idioma português

a partir do latim

vulgar

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LITERATURA PORTUGUESA

7Ensino Médio | Modular

Poesia medieval

A poesia medieval está ligada ao cantar, por isso recebe o nome de cantiga. Uma cantiga que apresentasse refrão era considerada mais popular que a destituída de estribilho,

denominada de mestria. As cantigas podem ser classificadas em:

Cantigas de amor – apresentam o amor masculino do trovador, que se dirige a uma mulher por quem está enamorado, assumindo o amor cortês ou platônico. A mulher, chamada “mia senhor”, é de posição social superior, por isso encontra-se fora do alcance do homem. Além disso, é um ser idealizado e o poeta sabe que ela nunca lhe corresponderá. O cenário, normal-mente, é a corte, o palácio.

Cantiga da RibeirinhaPaio Soares de Taveirós

No mundo non me sei parelha mentre me for como me vay.Ca já moiro por vos. E ay mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraya quando vus eu vi en saya!Mao dia me levantei, que vos enton non vi fea.

E mia senhor, dês aquel di’ayme foy a mi muyn mal.

Moniz, e ben vus semelhad’aver eu por vos guarvayapois eu, mia senhor, d’alfaya nunca de vos ouve nen ei

VIEIRA, Yara Frateschi et al. (Org.). Glosas marginais ao cancioneiro medieval português. São Paulo: Ed. Unicamp, 2005. p. 432.

A cantiga que você acabou de ler foi escrita para Maria Ribeira, por volta de 1189, e está registrada no Cancioneiro da Ajuda, em Portugal.

Você deve ter reparado que o texto apresenta palavras diferentes das que encontramos no português moderno. Isso se deve ao fato de a cantiga ter sido escrita em galego-português.

Fazendo a atualização da linguagem, teremos o seguinte texto:

No mundo não conheço ninguém igual a mim, enquanto acontecer o que me sucedeu, pois eu morro por vós. E aiminha senhora branca e rosada, quereis que vos lembre que já vos vi na intimidade!Em mau dia me levantei Pois vi que não sois feia!

E, minha senhora, desde aquele dia, ai venho sofrendo de um grande mal

Muniz, a julgar forçoso que eu lhe cubra com o manto pois eu, minha senhora,nunca recebi de vós

Essa cantiga, que é considerada o primeiro texto literário escrito em português, mostra-nos a dedicação do trovador a sua amada, que pertence a uma família nobre (filha de dom Paio Muniz) e nunca estará ao alcance dele.

Cantigas de amigo – se a cantiga de amor mostrava a dedicação do poeta a sua amada, a cantiga de amigo apresentava assuntos diversos, como: problemas sociais; o sentimento da mulher que ficou à espera do amado que partiu para as cruzadas; os encontros ocorridos junto à fonte ou à beira do mar; as delícias da chegada do amado; as danças à sombra das árvores, e outros tantos.

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo8

Sabe-se que, embora a voz seja feminina, na Idade Média existiam pouquíssimas poetisas e que essas cantigas populares eram escritas pelos trovadores com a intenção de animar as festas.

Dom Diniz

Si sabedes novas do meo amigo! Ay Deos, e hu he?

Si sabedes novas do meo amado, Ay Deos, e hu he? Si sabedes novas do meo amigo Aquel, que mentio do que tinha jurado, Ay Deos, e hu he?

Si sabedes novas do meo amado Aquel que mentio do que poz comigo Ay Deos, e hu he?

Vos me perguntastes pelo vosso amado E eu bem vos digo que he vivo, e sano Ay Deos, e hu he?

E eu bem vos digo que he vivo, e sanoE que sera vosco ante o prazo saydo Ay Deos, e hu he?

E eu bem vos digo que he vivo, e sanoE que sera vosco ante o prazo passado Ay Deos, e hu he?

COSTA E SILVA, José Maria da. . Lisboa: Imprensa Silvana, 1850. p. 62.

Essa cantiga apresenta duas vozes: uma que pergunta e outra que responde. Por isso, pode ser também classificada como uma “tenção”, isto é, uma cantiga dialogada.

Ambas são vozes femininas, representam as angústias da mulher à espera de seu amado e a natureza (“pino”, no caso, refere-se a pinheiro), a que a pastora se dirige, pedindo notícias do amado (“sano e vivo”, ou seja, são e vivo).

O refrão (“Ay, Deos, e hu he?”) significa “Ai, Deus, onde ele está?”, e a ideia da busca do amado perpassa todo o poema, dando-nos um exemplo do paralelismo (repetição da ideia que aparece na primeira estrofe em todo o poema) que caracteriza a lírica trovadoresca.

Cantigas de escárnio e de maldizer – pertencentes ao gênero satírico, constituem uma das produções mais importantes dos cancioneiros galaico-portugueses, pois são verdadeiros relatos dos costumes e vícios, principalmente da corte, mas também dos próprios menestréis e jograis. Essas sátiras são compostas com maior riqueza de vocabulário e fogem às normas das cantigas de amor.

A diferença entre as cantigas de escárnio e as de maldizer é pequena.Na cantiga de escárnio, o poeta fala mal de alguém, utilizando-se de linguagem ambígua para

que as críticas sejam entendidas indiretamente.Na cantiga de maldizer, o poeta ataca clara e diretamente aquele que deseja atingir. Elas são

mais numerosas que as de escárnio.

CantigaJoão Garcia de Guilhade

Ai dona fea! foste-vos queixar porque vos nunca louv’en meu trobarmais ora quero fazer un cantar en que vos loarei toda via;e vedes como vos quero loar:dona fea, velha e sandia!

Ai dona fea! se Deus mi perdon!e pois havedes tanto gran coraçon que vos eu loe en esta razon,

vos quero já loar toda via; e vedes qual será a loaçon:dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loeien meu trobar, pero muito trobei; mais ora já un bon cantar fareien que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei:dona fea, velha e sandia!

MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 29. ed. São Paulo: Cultrix, 2004. p. 35.

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Ensino Médio | Modular

LITERATURA PORTUGUESA

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A atualização de algumas palavras e expressões poderá lhe dar a percepção exata do quão agressivo e irônico o poeta se torna com a senhora que reclama nunca ter sido alvo de suas trovas, das quais se julga merecedora.

Tenha em vista, então, que ora significa agora; toda via, sempre; sandia, louca; loaçon, louvor; pero, todavia.

Prosa medieval

Os primeiros textos em prosa portuguesa eram de origem religiosa e seguiam modelos latinos.Depois disso vieram os cronistas, que anotavam os feitos mais eminentes de uma instituição

religiosa ou de um rei.Outro tipo de prosa dessa época eram os livros de linhagem, em que se registravam os nascimentos

e que serviam para legitimação de heranças e efetivação de casamentos, já que a Igreja exigia que os cônjuges não fossem parentes até o sétimo grau, o que só poderia ser comprovado pelo registro de nascimento.

Na literatura medieval, os textos mais importantes são aqueles referentes às novelas de cava-laria. O maior de todos os heróis desse tipo de ficção é, até hoje, resgatado em livros (As brumas de Avalon) ou em desenhos (Walt Disney) e filmes (Excalibur) – o rei Arthur, personagem criado por Thomas Malory, no século XV, com base no registro de histórias orais que pertencem ao ciclo bretão das composições em prosa.

A lenda do rei Arthur

A história do rei Arthur e seus cavaleiros da Távola Redonda tem sido popular na Europa por mais de mil anos.

Os cavaleiros, na Inglaterra, desejavam escolher um novo rei. Eles encontraram uma enorme pedra em que havia uma espada presa. Havia uma escritura dourada que dizia: “O homem que puder tirar a espada da pedra será rei”. Todos os cavaleiros tentaram puxar a espada da pedra, mas nenhum deles conseguiu. Arthur era um jovem nessa época, mas ele retirou a espada da pedra e tornou-se rei.

O rei Arthur e seus cavaleiros da Távola Redonda sentavam-se a uma lendária mesa redonda, na antiga capital de Camelot, na região oeste da Inglaterra, há doze séculos, para discutir problemas do reino.

A figura do cavaleiro Na Idade Média, não havia figura mais temida que a

do cavaleiro, bem treinado e protegido por uma armadura que o cobria dos pés à cabeça.

Lutavam nos exércitos de reis, defendendo-os leal-mente, e, também, defendiam camponeses pobres. Por essas atividades, recebiam terras dos reis, produtos e serviços dos camponeses.

Robin Hood é outro exemplo de herói criado nessa época.

Outro tipo de texto literário do período foi o Romance Idílico, em que o amor era o tema central. O principal repre-sentante foi o romance Tristão e Isolda, escrito no século XIII.

Russell Crowe interpretando Robin Hood, 2010

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo10

1. Para melhor entender o Trovadorismo, é impor-tante saber que papel a Igreja desempenhava na sociedade medieval.

a) Faça um comentário sobre a importância da Igreja na Idade Média.

b) De que forma o seu comentário justifica uma ligação entre a Igreja e a poesia trovadoresca?

2. Embora muita gente confunda o desempenho do jogral, do menestrel e do trovador, há algu-mas diferenças entre eles. Determine-as.

3. Juca Chaves, há alguns anos, autointitulou-se “o menestrel do Brasil”. Baseando-se no que apren-deu nesta unidade, pesquise e fundamente a ati-tude desse cantor.

4. Leia o texto a seguir e responda ao que se pede.

Texto 1Por vos veer vin eu Señor, Et lume destes ollos meus,E valha-me contra vós Deus, Ca o fiz con coita d’amor;

Ca Señor non ei eu poder De viver mais sen vos veer.

Aventurei-me, vin aqui, Por vos veer e vos falar,Et mia Señor se vos pesar,Fazed’ o que quiserdes y,

Ca Señor non ei eu poder De viver mais sen vos veer.

Como vós quiserdes será De me fazerdes mal e bem,E pois é tod’ en vosso sen, Fazed’ o que quiserdes já,

Ca Señor non ei eu poder De viver mais sen vos veer.

Vasco Rodrigues de Calvelo

BARCELLOS, Conde de. Trovas e cantares de um códice do XIV século. Madri: Imprensa de Don Alejandro Fuentenebro, 1849. p. 270-271.

a) Que tipo de cantiga esse texto exemplifica?b) Por que você o classificou assim? Retire do

texto elementos para justificar sua resposta.c) As palavras da língua portuguesa têm origens

diversas. Muitas delas vieram do latim e pas-saram por diversas modificações, tanto de sentido quanto de grafia.

As modificações na grafia são chamadas de me-taplasmos, e podem ser de supressão, quando ocorre a perda de um ou mais sons da palavra,

ou de acréscimo, quando a palavra aumenta, ganha outro som.

Observe as palavras relacionadas a seguir e pro-cure identificar a que palavras atuais elas deram origem, se houve perda ou acréscimo de fone-ma, ou se o sentido permanece o mesmo.

Caso seja possível, consulte um dicionário eti-mológico, no qual você encontrará a origem das palavras.

Ver

Coita

Non

mia

5. Agora, leia esta cantiga e responda o que se pede:

Texto 2Fui eu, madr’, en romariaa Faro con meu amigo e venho d’el namoradapor quanto falou comigo,ca mi jurou que morria por mi; tal ben mi queria!

Leda venho da ermidae d’esta vez Leda serei, ca faley con meu amigo,que sempre [muito] desejei,ca mi jurou que morria por mi; tal ben mi queria!

Du m’eu vi con meu amigo vin Ieda, se Deus mi perdon, ca nunca lhi cuid’a mentir, por quant’ el diss’ enton;ca mi jurou que morria por mi; tal ben me queria!

Johan de Requeyxo

SPINA, Segismundo. A lírica trovadoresca. São Paulo: Edusp, 1996. p. 336.

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Ensino Médio | Modular

LITERATURA PORTUGUESA

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a) Parece desnecessário dizer que esse texto é uma cantiga de amigo. Por quê? Que caracte-rísticas desse tipo de cantiga o texto apresen-ta? Explique.

b) Compare os textos 1 e 2. Quais diferenças existem entre eles do ponto de vista temático e do trovador? Comente.

c) Retire do texto pelo menos três palavras cujo significado você não conseguiu identificar e pesquise a origem e o sentido de cada uma.

6. Responda às questões sobre esta outra cantiga.

Foi un dia Lopo jograra cas dun infançon cantar; e mandou-lh’ ele por don dartrês couces na garganta;fui-lh’ escass’, a meu cuidar, segundo com’ el canta.

Escasso foi o infançonen seus couces partir en ton,ca non deu a Lop(o), enton, e mais merece o jograron, segundo com’ el canta.

MANSO, Francisco Nodar. Teatro menor galaico-portugués (siglo XIII). La Coruña: Universidad de La Coruña, 1990. p. 33.

a) Que classificação se encaixa melhor no texto anterior: cantiga de escárnio ou cantiga de maldizer? Justifique sua resposta.

b) No que diz respeito à linguagem, que diferen-ças podem ser apontadas nesses dois tipos de cantiga? Comente.

7. Você já assistiu ao filme Excalibur, sobre o qual falamos durante esta unidade? Procure assistir e depois relacione elementos que o liguem à litera-tura medieval. Aproveite e caracterize os aspec-tos morais do cavaleiro medieval, que mais tarde serviriam de modelo para poetas e romancistas brasileiros.

Para fins de registro, transcreva suas observações nas linhas a seguir.

8. Relacione adequadamente as informações:

a) Cantiga de amor

b) Cantiga de amigo

c) Cantiga de escárnio

d) Cantiga de maldizer

( ) O “eu“ lírico é um homem apaixonado.

( ) O “eu“ lírico é uma mulher apaixonada.

( ) Retrata um amor impossível, entre outras coisas, pela diferença de classes.

( ) Apresenta uma crítica indireta, velada, irônica.

( ) Narra um encontro amoroso junto a uma fonte ou numa romaria.

( ) Lamenta a ausência do amado, que partiu para a guerra.

( ) A mulher é símbolo da perfeição moral e da beleza.

( ) Apresenta uma crítica direta, em linguagem até grosseira.

( ) Reflete o ambiente simples das personagens.

( ) Presta vassalagem a sua senhora.

9. Além do português, outras línguas neolatinas se formaram a partir do latim. Pesquise e relacione--as nas linhas abaixo.

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo12

Renascimento e Classicismo2

Renascimento

Ao final da Idade Média, por volta de 1450, surgiu, na Europa, um movimento que se opunha ao teocentrismo – era o início do Renascimento.

Na Itália, onde ele surgiu, caracterizou-se como um movimento artístico que abrangia pra-ticamente todas as artes, como a arquitetura, a pintura, a escultura, a música e a literatura.

As obras desse período tinham o homem como centro de interesse, destacando-se como uma cultura humanista.

O Renascimento foi uma fusão de novos e antigos valores, resgatando da cultura clássica greco-romana aquilo que interessasse ao novo mundo urbano e burguês. Esses ideais ligados à cultura greco-romana já existiam desde o século XI, na Idade Média, mas foram desenvolvidos na Itália a partir do século XIV, período conhecido como Trecento.

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Ensino Médio | Modular 13

LITERATURA PORTUGUESA

O século XV foi marcado por diversos acontecimentos que propiciaram o deslocamento cultural em direção ao homem. Houve uma ampliação do conhecimento de mundo, que, impulsionado pelo grande avanço científico, ganhava proporções jamais imaginadas.

Nesse sentido, dois fatores foram fundamentais: o aperfeiçoa-mento da bússola e a invenção da prensa. A bússola foi importante porque contribuiu para as navegações. Esse instrumento revolu-cionou o comércio mediterrâneo e deu início à era das Grandes Navegações.

A prensa permitiu a divulgação de descobertas de forma rápida. E as ideias renascentistas que atravessaram fronteiras foram fun-damentais para o crescimento e o desenvolvimento da literatura. A imprensa também possibilitou a publicação de cartilhas, o que aumentaria o número de alfabetizados e de leitores.

Além disso, o Modelo Heliocêntrico, de Nicolau Copérnico, que intuiu o movimento da Terra em torno do Sol, derrubou muitas das superstições daquela época e constituiu o ponto de partida da Astronomia Moderna.Assim, o homem passou a valorizar a razão individual e o co-

nhecimento empírico, afastando-se da busca divina e vol-tando-se para si, para seus anseios e suas possibilidades.

DA VINCI, Leonardo. Mona Lisa. 1503. 1 têmpera e óleo sobre madeira, color. Museu do Louvre, Paris.

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo14

Principais nomes do Renascimento

BUONARROTI, Michelangelo. Teto da Capela Sistina. 1508-1512. 1 afresco, color., 40,5 m x 14 m. Vaticano. Detalhe.

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Muitos são os nomes que se destacaram no Renascimento. Na pintura e na escultura, por exemplo, notabilizou-se o de Michelangelo, cuja obra mais famosa é a pintura do Teto da Capela Sistina. O filme Agonia e êxtase, de Carol Reed, ilustra perfeitamente a vida e as angústias desse artista, que, trabalhando para o papa Júlio II, não desejava abrir mão de sua individualidade.

Leonardo da Vinci, um dos maiores gênios de todos os tempos, é também renascentista. Além de pintor, foi arquiteto, mecânico, urbanista, engenheiro, químico, escultor, físico, precursor da aviação, da balística e da hidráulica e inventor do escafandro, do paraquedas e do isqueiro.

Outro nome igualmente importante é o de Rafael, cujas obras, ao lado das de Michelangelo e das de Da Vinci, são, atualmente, patrimônios da humanidade.

Na música, houve um grande progresso da técnica vocal e instrumental. Sabe-se que, até o final do século XIV e princípio do XV, a Europa já conhecia o órgão, o alaúde, a guitarra, os instrumentos de percussão e o sopro. Já no final da Idade Média, o canto gregoriano deu espaço para a música profana (vocal e instrumental), que havia sido censurada durante muito tempo pela Igreja. Era a “Ars Nova”, cujo marco foi a publicação do livro de mesmo nome, do francês Filipe de Vitry.

Na literatura, destacaram-se Dante Alighieri (pré-renascentista), Petrarca e Giovani Boccaccio. A divina comédia, de Dante Alighieri, tornou-se um dos cânones da literatura universal, pois inaugurou na poesia o chamado “Dolce Stil Nuovo”, um modo mais simples de conceber a literatura.

Dividida em três partes (“O Inferno”, “O Purgatório” e “O Paraíso”), A divina comédia sintetiza a visão de Dante quanto ao mundo das almas.

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LITERATURA PORTUGUESA

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Na Inglaterra, nasceu o maior dramaturgo de todos os tempos: William Shakespeare, no ano de 1564. Leitor assíduo dos clássicos, Shakespeare escreveu um grande número de farsas, comédias, dramas históricos, pastorais e tragédias, em que se pode notar a sua enorme cultura.

Além de A megera domada, são famosos os textos Romeu e Julieta, Sonho de uma noite de verão, Otelo, Macbeth e Hamlet. Sua obra foi referencial para grandes escritores brasileiros, a exemplo de Machado de Assis.

Shakespeare também escreveu sonetos ingleses, que são formas poéticas compostas por versos decassílabos, dispostos em três quartetos (estrofe de quatro versos) e um dísti-

co (estrofe de dois versos). Essa estrutura foi adotada por Manuel Bandeira no Modernismo brasileiro, como se pode observar no texto a seguir.

Soneto inglês

Quando a morte cerrar meus olhos duros Duros de tantos vãos padecimentos, Que pensarão teus peitos imaturos Da minha dor de todos os momentos?

Vejo-te agora alheia, e tão distante:Mais que distante – isenta. E bem prevejo, Desde já bem prevejo o exato instante Em que de outro será não teu desejo,

Que o não terás, porém teu abandono, Tua nudez! Um dia hei de ir embora Adormecer no derradeiro sono.Um dia chorarás... Que importa? Chora.

Então eu sentirei muito mais pertoDe mim feliz, teu coração incerto.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 252.

Humanismo português

O Humanismo refere-se genericamente a uma série de valores e ideais relacionados à celebração do ser humano. Esse movimento, originário do século XIV, foi marcado pela busca de manuscritos clássicos e pelo questionamento da estrutura feudal da Idade Média.

Os humanistas estudaram a língua, a métrica e o teatro greco-romanos e procuravam tê-los como modelos de perfeição.

Esses ideais evoluiriam para o Renascimento na Itália, mas em Portugal não tiveram a mesma força, restringindo-se ao Humanismo.

Influenciados pelo movimento italiano, principalmente por Dante, Boccaccio e Petrarca, surgiram, em Portugal, os nomes de Gil Vicente, Cristóvão Falcão e Bernardim Ribeiro. Desses, o mais importante é, sem dúvida, Gil Vicente, o criador do teatro português.

Até então, o teatro não passava de recitações religiosas, vindas da Idade Média. Gil Vicente iniciou o teatro com um monólogo, dedicado ao filho recém-nascido de D. Manuel.

Chamava-se Monólogo do vaqueiro.Primeiramente, suas obras tinham como assunto cenas religiosas, passagens bíblicas,

vidas de santos e ensinamentos católicos. Depois, Gil Vicente passou a usar como tema de suas representações os costumes do povo, satirizando algumas instituições sociais e denunciando

a corrupção e a falsidade da vida burguesa.

William Shakespeare, autor de clássicos da literatura universal, como Hamlet, Macbeth e Romeu e Julieta

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16 Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo

A linguagem utilizada pelo autor era nitidamente popular, constituindo-se um retrato da língua portuguesa usada na época.

Entre suas inúmeras obras, destacam-se a Trilogia das barcas, o Auto da alma, a Farsa de Inês Pereira e o Auto da Lusitânia, do qual foi retirado o trecho a seguir. Nele entram em cena dois diabos (Berzebu e Dinato), um rico mercador chamado Todo o Mundo e um pobre, que se chama Ninguém.

Auto da Lusitânia

Ninguém Que andas tu aí buscando?Todo Mil cousas ando a buscar: delas não posso achar,

Ninguém Como hás nome, cavaleiro?Todo Eu hei nome Todo o Mundo, e meu tempo todo inteiro sempre é buscar dinheiro, e sempre nisto me fundo.Ninguém E eu hei nome Ninguém, e busco a consciência.(Berzebu para Dinato) Esta é boa experiência! Dinato, escreve isto bem.Dinato Que escreverei, companheiro?Berzebu Que Ninguém busca consciência, e Todo o Mundo dinheiro.(Ninguém para Todo o Mundo) E agora, que buscas lá?

Todo Busco honra muito grande.Ninguém E eu virtude, que Deus mande que tope co’ela já.(Berzebu para Dinato) Outra adição nos acude escreve logo aí a fundo, que busca honra Todo o Mundo e Ninguém busca virtude.(Todo o Mundo para Ninguém) Folgo muito d’enganar, e mentir nasceu comigo. Ninguém Eu sempre verdade digo, sem nunca me desviar.(Berzebu para Dinato) Era escreve lá compadre, não sejas tu preguiçoso! Dinato Quê? Berzebu Que Todo o Mundo é mentiroso e Ninguém diz a verdade.

BERARDINELLI, Cleonice (Org.). Antologia do teatro de Gil Vicente. Rio de Janeiro: Grifo Edições/Instituto Nacional do Livro, 1971.

A obra de Gil Vicente, mais tarde, influenciaria Padre Anchieta, no Brasil. Modernamente, nota-se sua influência em João Cabral de Melo Neto, principalmente no Auto do frade.

Classicismo

Das ideias do Renascimento, surgiu o movimento denominado Classicismo, que consistia na valo-rização da Antiguidade Clássica como padrão por excelência e procurava a pureza formal, o equilíbrio e o rigor das formas.

No Classicismo, destacam-se as seguintes características:

imitação dos autores clássicos gregos e romanos da Antiguidade, como Homero, Virgílio e Ovídio;

uso da mitologia, em que os deuses e as musas, inspiradores dos clássicos gregos, ressurgem para os clássicos renascentistas;

predomínio da razão sobre os sentimentos, o que justifica uma linguagem que procura ser impessoal;

Obra Auto da alma, de Gil

Vicente

@LIT2411

Obra Farsa de Inês Pereira,

de Gil Vicente

@LIT479

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LITERATURA PORTUGUESA

17Ensino Médio | Modular

idealismo, em que o homem aparece sob a insígnia da perfeição, distante dos homens comuns (um super-homem);

o amor platônico, que exalta a ideia de que o amor deve ser sublime, elevado, espiritual, puro, não físico;

impessoalidade, pois o importante são as verdades universais, eternas. O individual e o particular devem ser desprezados.

Desse movimento, o maior representante em língua portuguesa foi, sem dúvida, Luís Vaz de Camões.

Assim como ocorre com diversos autores da literatura universal, como Shakespeare, Homero e o próprio Gil Vicente, muito pouco se sabe sobre a vida de Camões. Acredita-se que tenha nascido entre 1524 e 1525 e que teve uma vida muito agitada.

Sabe-se que estudou em Coimbra e em Lisboa. Suas obras demonstram que possuía grande cultura, pois conhecia astronomia, geografia e navegação.

Camões esteve desterrado de Portugal e, no exílio, escreveu a maior parte de sua obra Os lusíadas.

Consagrada internacionalmente como uma das maiores epopeias da literatura universal, Os lusíadas conta a história de Vasco da Gama e das grandes conquistas do povo português.

Com uma linguagem grandiloquente e solene, o poema é dividido em dez cantos, 1102 estrofes, cada uma contendo oito versos, com esquema fixo de rimas, seguindo o modelo de Eneida, obra de Virgílio.

Leia um fragmento do primeiro canto de Os Lusíadas.

Canto primeiro

As Armas e os barões assinalados Que, da Ocidental praia Lusitana,Por mares nunca dantes navegados, Passaram ainda além da Taprobana,Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana,

Novo Reino, que tanto sublimaram;E também as memórias gloriosas Daqueles Reis que foram dilatandoA Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando,

E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da Morte libertando:Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e a arte.Cessem do sábio Grego e do Troiano

Cale-se de Alexandro e de Trajano A fama das vitórias que tiveram;Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Netuno e Marte obedeceram.Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta.

CAMÕES, Luís Vaz de. . São Paulo: Melhoramentos, 1964. p. 9.

Observe que Camões exalta os feitos do povo português, coloca-os acima das grandes conquistas gregas e romanas, utilizando-se, para isso, de referências aos deuses gregos, marca fundamental da obra clássica.

Luís Vaz de Camões

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A Eneida é um poema épico que conta a saga de um

troiano, Eneias, ancestral

de todos os romanos.

Esse texto é um clássico da cultura romana

e modelo de perfeição

formal, daí Camões

utilizá-lo como inspiração para

Os lusíadas

Obra

completa Os lusíadas@LIT678

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18 Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo

Esse trecho também mostra como o estilo camoniano é repleto de hipérbatos (inversões sintá-ticas) e outras figuras de linguagem.

Além do épico Os lusíadas, Camões também é consagrado pela sua obra lírica. Utilizando-se da medida velha, cinco ou sete sílabas, Camões retoma o tema da moça que vai à fonte, desenvolve temas humorísticos, faz trocadilhos e jogos de palavras. É um lado popular, ingênuo, que também caracteriza a sua poesia.

São dele alguns dos mais lindos poemas na língua portuguesa, tanto em redondilhas quanto em sonetos. Leia e aprecie os seguintes versos:

Mote alheio Menina dos olhos verdes,

Por que não me vedes?

Eles verdes são E têm por usança Na cor da esperança E nas obras não.Vossa condição Não é de olhos verdes, Porque não me vedes.

Isenção a molhos Que eles dizem terdes, Não são de olhos verdes, Nem de verdes olhos, Sirvo de geolhos, E vós me credes, Porque não me vedes.

Havia de ser, Por que possa vê-los, Que uns olhos tão belosNão se hão de esconder.Mas fazeis-me crer Que já não verdes, Porque me não vedes.

Verdes não o são No que alcanço deles;Verdes são aqueles Que esperança dão.Se na condição Está serem verdes, Por que me não vedes?

CAMÕES, Luís Vaz de. . Publifolha: São Paulo, 1997. p. 23.

Dos sonetos, o mais conhecido é, sem dúvida, aquele que foi musicado pela banda Legião Urbana, grupo de rock bastante famoso no Brasil dos anos de 1980 e 1990, e que diz o seguinte:

Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode em seu favor Nos corações humanos amizade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

CAMÕES, Luís Vaz de. . Publifolha: São Paulo, 1977. p. 35.

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Ensino Médio | Modular

LITERATURA PORTUGUESA

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1. Como você explica o teocentrismo?

2. O Renascimento foi marcado pelo antropocen-trismo. Explique essa postura humanística; co-mente e relacione o momento histórico e as ma-nifestações artísticas dessa época.

3. Pesquise a etimologia da palavra “renascer” e ex-plique em que consistiu o Renascimento.

4. Dante foi o principal nome do Renascimento ita-liano na literatura. Pesquise e descubra o signi-ficado da palavra dantesco, que vem do nome desse renascentista.

5. Em Portugal, como você sabe, o Renascimento não se expandiu muito, mas o Humanismo foi fundamental para a história desse país. Sobre essa época, responda:

a) Quem foi Gil Vicente?

b) Como era o seu teatro? O que denunciava?

c) No trecho que você leu do Auto da Lusitânia, que classe social representa o personagem Todo o Mundo?

d) E o personagem Ninguém?

e) Considerando o contexto político e social em que essa obra surge, qual é o significado que esses personagens assumem? Comente.

f) Considere os personagens Berzebu e Dinato. Como é possível relacioná-los aos conceitos religiosos da época? Comente.

6. Leia atentamente o texto a seguir.

Alma minha gentil...

Alma minha gentil, que te partiste tão cedo desta vida descontente,repousa lá no Céu eternamente, e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste memória desta vida se consente,não te esqueças daquele amor ardente que já nos olhos meus tão puros viste.

e se vires que pode merecer-te algua cousa a dor que me ficou da mágoa, sem remédio, de perder-te

˜

Roga a Deus, que teus anos encurtou que tão cedo de cá me leve a ver-te, quão cedo de meus olhos te levou.

MATOS, Maria Vitalina Leal de. Lírica de Luís de Camões – antologia. Alfragide: Caminho, 2012. p. 139.

Considerando a forma adotada por Camões, e que foi proclamada como a ideal clássica, res-ponda:

a) Qual o esquema de rima adotado pelo poeta? Comente.

b) Qual a visão de amor que o poeta considera? Comente.

7. Com base no poema do exercício 6, escreva um texto, na forma a que você melhor se adaptar, em que o personagem passe por uma situação semelhante e procure sugerir uma solução para o problema.

8. O soneto cujo início é “Amor é fogo que arde...” é composto no plano antitético, isto é, de antí-teses e paradoxos. Retire do texto, pelo menos, duas antíteses e dois paradoxos.

9. Recordando-se de que o Renascimento foi um período de muitas dúvidas, procure explicar a relação que existe entre esse texto de Camões e o momento que era vivido pela sociedade portu-guesa.

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo20

Aspectos histórico-culturais em Portugal

Quando, em 1578, D. Sebastião desapareceu em Alcácer-Quibir, chegou ao fim o período das grandes conquistas, que se iniciou com a tomada de Ceuta (1415), passando pelo caminho marítimo para as Índias (1498) e pelo Descobrimento do Brasil (1500).

Filipe II, rei da Espanha, herdeiro mais próximo da Coroa Portuguesa, anexou Portugal ao seu reino, mantendo-o sob seu domínio por sessenta anos.

Outro fato muito representativo, que marcou o fim daquele período de conquistas lusitanas, foi a morte de Camões em plena miséria, em 1580.

Barroco3

CARAVAGGIO, Michelangelo Merisi da. Deposição de Cristo. 1602-03. 1 óleo sobre tela, color., 300 cm x 203 cm. Pinacoteca, Vaticano.

Neste quadro, o pintor pré-barroco

Caravaggio tematiza a religiosidade em oposição à

condição humana material. Observe os músculos saudáveis

de Jesus e a expressão de dor

de seus discípulos sob o foco de luz,

enquanto, ao fundo, a escuridão domina

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Profeta Jonas – Aleijadinho

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Ensino Médio | Modular 21

LITERATURA PORTUGUESA

Estética barroca

A estética barroca é produto cultural de um período conflituoso da história europeia, que envolveu Reforma, Contrarreforma, Santa Inquisição e guerras religiosas.

O embrião da estética barroca já era prenunciado no Renascimento, mais particularmente na poesia “Maneirista” de Camões, cujo exemplo mais conhecido é o soneto sobre o paradoxo do sentimento amoroso.

Amor é fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se senteÉ um contentamento descontente É dor que desatina sem doerCAMÕES, Luís Vaz de.

. Publifolha: São Paulo, 1977. p. 35.

O movimento iniciado na Espanha por dois padres, Gôngora e Quevedo, espalhou-se mais tarde pela Europa. Em Portugal, seu introdutor foi Francisco Rodrigues Lobo. Suas ideias literárias estão na obra Corte na aldeia.

As principais características da estética barroca são:

predomínio da emoção sobre a razão;

contrastes (claro/escuro na pintura), antíteses (na literatura);

jogos de palavras ou de ideias (na literatura);

antíteses fundamentais da condição humana (matéria x espírito, homem x Deus, pecado x virtude, morte x vida);

exageros (hipérbole na literatura; acúmulo de elementos na pintura; torres e abóbadas na arquitetura; variação melódica na música);

complexidade (figuras de linguagem e vocabulário culto na literatura; enfeites e detalhes na arquitetura; acúmulo de elementos na pintura);

cultismo ou gongorismo (predomínio do jogo de palavras e figuras, como metáfora, antítese, comparação, hipérbato e paradoxo na literatura);

conceptismo (predomínio dos jogos mentais, como silogismos, sofismas, dialética e parené-tica na literatura);

aproveitamento de temas clássicos (Carpe diem = viva o momento, fugacidade do tempo na literatura).

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22 Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo

Autores

Padre Antônio Vieira (1608-1697)

Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa (1608), mas mudou-se para o Brasil com apenas seis anos, onde morreu em 1697. Além de religioso, foi escritor e orador da Companhia de Jesus.

Ficou conhecido como uma das maiores personalidades do século XVII por causa do seu envolvimento com questões políticas e sociais no Brasil e em Portugal. Na Colônia, trabalhou durante muitos anos com a catequese e a conversão dos índios, engajando-se na luta pelos seus direitos. Na Metrópole, denunciou a perseguição de judeus pela Inquisição.

ObraSua vasta obra é composta de cartas, profecias e, principalmente, sermões. A qualidade inquestio-

nável de seus escritos denota também o seu poder como orador. A obra Os Sermões é considerada o melhor de seus trabalhos e consiste em textos compilados em 15 volumes, 13 publicados entre 1679 e 1690 e dois entre 1710 e 1718.

Os sermões de padre Antônio Vieira são caracterizados pela apresentação de um problema ou questão real, seguidos pelo desenvolvimento da argumentação e pela conclusão, em que o orador chama o ouvinte a praticar as virtudes propostas.

PADRE Antônio Vieira convertendo os índios do Brasil. 1 litografia. Arquivo histórico Ultramarino, Lisboa.

Padre Antônio Vieira foi um dos homens mais atuantes de seu tempo

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LITERATURA PORTUGUESA

23Ensino Médio | Modular 23

A linguagem dos textos é justa, clara e equilibrada, mas o processo de composição é caracterizado pelas antíteses, paradoxos, ambiguidades e sentidos ocultos, seguindo o modelo conceptista.

Leia trecho inicial do “Sermão do quarto sábado da Quaresma” (1640) e note a rebuscada compo-sição de ideias e o uso da linguagem simples.

Sermão do quarto sábado da Quaresma

O maior mal de todos os males – não digo bem – o mal que só é mal, e sumo mal, é o pecado. Porque assim como Deus, por essência é o sumo bem, assim o pecado, por ser ofensa de

Deus, é o sumo mal. Mas se entre pecado e pecado, pelo que toca a nós, pode haver comparação e diferença, o pecado futuro é o pior e mais perigoso mal. O passado e o presente, porque foi e é pecado, é a suma miséria; mas o futuro, porque ainda há de ser, sobre ser a suma miséria, é o sumo perigo.

-

da lei, a sentenciasse. E qual seria a sentença? Foi aquela que se podia esperar da piedade e misericórdia de um Deus feito homem por amor dos homens.

Confundiu os acusadores com lhes mostrar escritos seus pecados – que só Deus sabe livrar a uns pelos processos de outros – e depois de absolver a pecadora do pecado de que era acusada, e de todos, o documento breve, maravilhoso e divino, com que a despediu consolada, foram as palavras que propus: Jam amplius noli peccare (Jo. 8, 11):

Não queiras mais pecar.

VIEIRA, Antônio. O sermão do quarto sábado da Quaresma. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000031pdf.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2009.

Padre Manuel Bernardes (1644-1710)O padre Manuel Bernardes nasceu em Lisboa (1644) e, aos 30 anos, ingressou na Congregação do

Oratório de S. Filipe Néri, onde escreveu sua obra moralista. Seus textos opõem-se diametralmente aos do padre Antônio Vieira, pois era avesso aos problemas sociais e às questões políticas, voltando--se para o transcendental e a meditação.

Desejava ensinar o homem a encontrar Deus pelo culto das virtudes morais mais autênticas, pre-cisamente as que lhe conferem a condição de criatura humana.

ObraA coleção das obras do padre Manuel Bernardes compreende 19 volumes, entre os quais se contam

Sermões e Práticas, Exercícios espirituais e Meditações da vida purgativa, Os últimos dias do homem, Os tratados vários, Luz e calor e a Nova floresta.

Na obra Nova floresta ou Silva de vários apotegmas, o padre Manuel Bernardes moraliza sobre tópicos que estão dispostos em ordem alfabética: Alma racional, Amizade, Amor divino, Apetites, Armas, Astúcia, Avareza e outros.

Consciente do poder modificador das palavras, procura atingir o máximo de efeitos com o mínimo de recursos. Conta-lhe um “caso”, um “exemplo” de origem religiosa, bíblica, histórica ou popular para influenciar na formação moral do verdadeiro cristão.

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo24

1. Como o conteúdo do texto seria visto nos dias atuais?

2. Assinale a alternativa que melhor sintetiza a crítica do texto:

a) Preconceito contra qualquer tipo de música.

b) Restrições à música alegre, principalmente cantada por mulheres.

c) Ódio à música tocada e cantada em casamentos ou festas noturnas.

d) Exaltação da música religiosa como única fonte de felicidade.

e) Crítica veemente aos padres e freiras que gostam de cantar.

Armas da castidade

Porque assim como o canto grave e devoto ajuda a levantar o espírito gerando nele bons pen-samentos e saudades da Pátria Celestial; e por isso se usa nas igrejas entre os Divinos Ofícios; assim sarabandas e modos mui festivos e picados e distraem, afeminam e corrompem; e por

lugares não tivera já passado alguma cousa também às igrejas. Se a voz é de mulher, ainda traz maior perigo. S. Leão Papa chama atraiçoados aos seus requebros e gargantas, e brandas punhaladas, com que atravessa o coração de quem houver descuidado... Daqui se entenderá quão repreensível abuso seja o de algumas religiosas, que se ajuntando na grade em visita com seculares, gastam a tarde em motetes e xácaras e discantes, ostentando cada uma a sua habilidade. Seguem-se as lisonjas e aplausos e risadas e descrições conceituosas ou estultícias

-cia com a modéstia e honestidade própria daquele sexo e estado, na verdade é muito para nos

obrigação de o remediarem.

BERNARDES, Manuel. . São Paulo: W. M. Tackson, 1965.

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LITERATURA PORTUGUESA

25Ensino Médio | Modular

3. Relacione a primeira coluna com a segunda, pro-curando o significado das palavras utilizadas no texto:

a) lascivas ( ) não religiosos

b) detrimento ( ) composições poéticas

c) castidade ( ) pureza

d) pátria celestial ( ) farras

e) sarabandas ( ) elogios

f) discantes ( ) sexuais

g) seculares ( ) bobagens, loucuras

h) xácaras ( ) religiosos

i) lisonjas ( ) céu

j) motetes ( ) em forma de disco

k) estultícias ( ) prejuízo

l) prelados ( ) canções satíricas ou alegres

Sóror Mariana de Alcoforado (1640-1723)

Mariana de Alcoforado frequentou o convento Nossa Senhora da Conceição, em sua cidade natal, Beja. Em 1663, conheceu o marquês de Chamilly, oficial francês que estava servindo em Portugal, durante as Guerras da Restauração. Apaixonaram-se. Um dia, porém, ele retornou à França por ordem superior. Ela escreveu-lhe cartas apaixonadas e sofreu muito em penitência.

ObraAs cartas escritas ao marquês – cinco ao todo – compõem a obra Cartas portuguesas. No entanto,

existem dúvidas sobre a quantidade de cartas – se seriam apenas cinco e se foram escritas em francês ou em português.

O tema da obra é a paixão incontrolada, insana, superior a todas as inibições e convenções e a todo impulso da vontade e da consciência moral. O ímpeto carnal é avassalador. Ocorre a confissão de uma mulher que se desnuda interiormente para o amante cínico, ingrato e ausente.

O jogo dilemático da missivista reside em dois polos:

Razão X Emoção(Quer esquecer o amante) (Desejo insuperado da carne)

4. O moralismo presente no texto refere-se à música:

a) mundana do século XXI;

b) sacra do século XVII;

c) executada nas casas noturnas do século XX;

d) mundana do século XVII;

e) instrumental executada na corte do século XIX.

5. Assinale a alternativa que não contém caracte-rística do padre Manuel Bernardes.

a) Escritor místico e moralizante.

b) Preocupações espirituais e éticas.

c) Ação educativa.

d) Dedicação à vida meditativa.

e) Defensor da teologia dos oprimidos.

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo26

A linha evolutiva do texto terminará pela solução natural: a resignação.

A terceira carta concentra o máximo do sofrimento da mulher apaixonada. Ocorre uma concentração de efeitos e sensações apoiados por uma linguagem precisa.

Veja um trecho da obra:

desesperada se disso te proviesse qualquer dano, pois antes quero que não recebas castigos, do que ver-me vingada. Resisto a todas as mostras que em demasia me convencem de que me não estimas já, e sinto mais vontade de entre-gar-me cegamente à paixão do que às razões que me dás de me lamentar do teu pouco caso [...].ALCOFORADO, Mariana. Cartas portuguesas. Porto Alegre: L&PM, 1997. p. 23.

A epistolografia (arte de escrever cartas) é uma modalidade literária. No caso de Sóror Mariana, deve-se atentar para dois fatos:

– as cartas não foram escritas para publicação; portanto, permitem o total despojamento da alma feminina enamorada;

– os conflitos existenciais são próprios da estética barroca.BERNINI, Gianlorenzo. O êxtase de Santa Teresa. 1646-52. 1 escultura em mármore, 350 cm x 138 cm. Santa Maria della Vittoria, Roma.

Primeira Carta (Fragmento)

Vê lá tu, meu amor, como foste te iludir!Ah! Coitado de ti, enganaste-te e enganaste-me com esperanças mentirosas.Tantas esperanças de gosto nos dava o nosso amor, e causa-nos agora o mortal desespero que só pode com-

parar-se à crueldade desta separação!Pois quê! A tua ausência, para que a minha dor não acha nome bastante triste, há de privar- -me para sem-

pre de me mirar nos teus olhos, onde eu via tanto amor, que me enchiam de alegria, que eram tudo para mim?Ai de mim! Os meus perderam a luz que os alumiava e não fazem senão chorar. Mas parece-me que tenho amizade às mágoas de que tu só és a causa; logo que te vi dei-te a vida e sinto

Mil vezes em cada dia lá te mando os meus suspiros, e não me trazem para alívio de tantos males senão este ajuizado aviso à minha desventura, que estou sempre a ouvir:

– Deixa, pobre Mariana, deixa de querer aquele que atravessou o mar para te fugir, que está em França no meio dos prazeres, que não pensa um instante no que sofres, nem to agradece, e que até te dispensa de

crer que mo hajas esquecido. Pois não sou eu já bastante desgraçada para estar a atormentar-me com suspeitas vãs?

todos esses bens que muito ingrata seria se te não quisesse com o mesmo amor de quando me provavas o teu.ALCOFORADO, Mariana. Cartas portuguesas. Porto Alegre: L&PM, 1997. p. 9.

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LITERATURA PORTUGUESA

27Ensino Médio | Modular

1. Marque a alternativa que melhor apresenta o conflito do texto:

a) paixão/arrependimento;

b) paixão/realização;

c) amor/paixão;

d) emoção/razão;

e) fidelidade/esquecimento.

2. Assinale a alternativa que caracteriza o gênero literário em que se encaixa o fragmento:

a) epistemologia; d) epitafiologia;

b) epistolografia; e) epifania.

c) epitetologia;

Antônio José da Silva (1705-1739)

Antônio José da Silva foi um dramaturgo de origem judaica que nasceu no Brasil, mas desenvolveu suas obras em Portugal, para onde se mudou com oito anos. Em Coimbra, estudou Cânones (um misto de Filosofia, Religião e Direito). Como foi perseguido pela Inquisição, sua obra é marcada pela sátira e pela crítica à sociedade portuguesa.

Denunciado por uma escrava negra, foi às barras do Tribunal com mulher e filha. Morreu degolado e queimado em ato de fé, ou seja, em evento público.

Às suas peças teatrais dava o nome de óperas, porque eram acompanhadas de música e canto. O tom dos textos era de comédia, cujo principal intuito era divertir o público.

ObraEntre suas obras destacam-se:

Os encantos de Medeia (1735)

Labirinto de Creta (1736)

Guerras do alecrim e manjerona (1737)

Princípio de Faetonte (1738)

Guerras do alecrim e manjeronaCom linguagem em prosa, repleta de antíteses e trocadilhos para desencadear situações ridículas, o

texto narra, num emaranhado episódico, as peripécias de dois caça-dotes (Gilvaz e Fuas) no encalço de duas irmãs casadoiras ricas (Clóris e Nize). Os rapazes usam como intermediário um criado (Semicúpio), por sua vez apaixonado pela criada das donzelas (Sevadilha). Tudo termina pelo casamento entre os pares, contrariando a D. Lancerote, tio das moças, que defendia o partido de seu sobrinho (D. Tibúrcio).

O nome da peça vem de um costume difundido na Lisboa mundana daquele tempo (século XVIII): agrupando-se em partidos, as meninas frívolas e namoradeiras elegiam uma flor como insígnia. Clóris pertencia ao rancho do alecrim; Nize ao da manjerona.

Antônio José foi vítima da Santa Inquisição

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Arcadismo4

Aspectos histórico-culturais

O Arcadismo foi um movimento que se desenvolveu na Europa, no século XVIII, motivado pelas grandes transformações sociais e políticas que ocorreram naquele período, em especial, a ascensão da burguesia e a defesa das ideias iluministas. Os autores desse período rechaçavam os ideais barrocos e propunham uma nova filosofia, baseada na razão, na ciência e no progresso, o que marcou um retorno ao Classicismo.

Houve, novamente, uma volta aos valores e modelos gregos, daí o nome Arcadismo, que é uma referência à região da Arcádia, na Grécia, tida como ideal de inspiração poética.

Vista do Aqueduto de Vila Borgliese, de Ingres Voltaire

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Diderot

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Ensino Médio | Modular 29

LITERATURA PORTUGUESA

Os principais acontecimentos que levaram a essas mudanças foram:

Enciclopedismo: conjunto de conhecimentos de caráter enciclopédico, que tinha como adeptos diversos pensadores que defendiam racionalmente a ideia de preservar em obras todo o conhecimento da humanidade. Destacaram-se Voltaire, Diderot, D’Alembert, entre outros.

Laicização do ensino: retirada dos jesuítas das instituições de ensino de Portugal e contratação de pedagogos por influência da obra de Luís Antônio Verney (1718-1792), de ascendência francesa, autor do Verdadeiro método de estudar.

Iluminismo: exploração da razão e da inteligência como formas de análise dos fenôme-nos sociais e políticos.

Despotismo esclarecido: percebendo a crescente importância do conhecimento cientí-fico, reis e nobres em geral passam a se preparar culturalmente, na tentativa de manter-se no poder. Exemplos: D. José I, da Áustria; D. José I, de Portugal; Robespierre e Montes-quieu, da França, e Marquês de Pombal, de Portugal.

Ascensão do Marquês de Pombal: esse déspota esclarecido tornou-se ministro de D. José I (que sucedeu a D. João V) e promoveu mudanças, colocando Portugal no mesmo nível da cultura europeia, especialmente da francesa. Com o terremoto que destruiu parcialmente Lisboa em 1755, Pombal mostrou suas habilidades administrativas e fez surgir dos escom-bros uma cidade nova, moderna, ampla.

Revolução Francesa (1789): a ascensão da burguesia culminou com uma revolta vio-lenta que depôs a nobreza, decapitou o rei e a rainha e instituiu uma sociedade nova com base na trilogia liberdade, igualdade e fraternidade. Os ideais da revolução francesa disseminaram-se pelo mundo inteiro.

VAN LOO, Louis-Michel. Retrato do Marquês de Pombal. 1766. 1 óleo sobre tela. Câmara Municipal de Oeiras, Portugal.

DELACROIX, Eugène. A liberdade guiando o povo. 1830. 1 óleo sobre tela, color., 260 cm x 325 cm. Museu do Louvre, Paris.

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo30

Academias

A Arcádia Lusitana propunha o corte das inutili-dades (Inutilia truncat).

Na verdade, as academias eram entidades cul-turais em que seus membros se encontravam para discutir política, arte e literatura. As principais foram: Fênix Renascida, Arcádia Lusitana, Nova Arcádia.

Aspectos estéticos do Arcadismo

Insatisfeitos com o absolutismo real e com a pesada solenidade do Barroco, o Arcadismo propôs novos ideais baseados na razão, na ciência e no progresso. Entre as suas principais características, destacam-se:

simplicidade na vida e na arte;

frases na ordem direta e quase ausência de figuras;

pastoralismo;

revalorização da Antiguidade Clássica (mitologia, imitação da natureza, paganismo, versos de-cassílabos, sonetos);

convencionalismo amoroso (paisagem bucólica);

obediência aos lemas (Carpe diem, viva o dia; Aurea mediocritas, mediania de ouro; Inutilia truncat, cortar as inutilidades; Fugere urbem, fugir da cidade).

Poetas

Domingos Caldas Barbosa, José Agostinho de Macedo, Antônio Correia Garção e Antônio Dinis da Cruz e Silva estão entre os poetas árcades portugueses que mais se destacaram. No entanto, nenhum deles teve tanto êxito quanto Bocage.

Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) Oriundo de uma família rica: a mãe era de ascendência francesa, filha de um militar graduado, e

o pai era juiz, teve uma educação primorosa. Ainda na adolescência, apaixonou-se por Gertrudes (que aparece na sua obra como Gertrúria), mas resolveu alistar-se na marinha de guerra, já influenciado pela vida de Camões, seu ídolo, que também foi marinheiro.

Bucolismo, paisagem campestre

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LITERATURA PORTUGUESA

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Passou pelo Rio de Janeiro em 1786, onde se regalou com festas e amores tropicais. Foi à Índia onde desertou, sempre motivado por diversos amores. Voltou a Lisboa e descobriu que Gertrudes não o esperara como haviam combinado, pois ela casara-se com seu irmão: Gil Bocage.

Tornou-se desgostoso e entregou-se a uma vida desregrada e boêmia. Brigou na Academia Nova Arcádia com o padre José Agostinho de Macedo, seu feroz e invejoso inimigo. Viveu de traduções.

Os amores infelizes e as doenças foram debilitando o poeta, que acabou morrendo na miséria e arrependido. Seu pseudônimo arcádico era Elmano Sadino e Rio Sado.

Obra Em sua vida, Bocage publicou: Idílios marítimos, recitados na Academia de Belas-Artes de

Lisboa (Nova Arcádia) em 1791; e Rimas (três volumes: 1791, 1799, 1804). Postumamente, com o título de Obras Poéticas, saíram mais dois volumes (1812 e 1813) e Verdadeiras inéditas obras poéticas, 1814. Sua publicação mais completa é de 1853, Poesias, organizada por Inocêncio Francisco da Silva.

Analisando a sua obra, podem-se encontrar “dois Bocages”: o primeiro é o das anedotas, cujos textos são atribuídos a ele pelo aspecto picante e a obscenidade grosseira; o segundo Bocage escreveu poesia satírica e poesia lírica de alta qualidade. Cultivou vários gêneros (odes, epigramas, idílios, elegias). Porém, foi com o soneto que se tornou um dos três maiores escritores da língua por-tuguesa, ao lado de Camões e Antero de Quental.

Poesia satírica Nessa vertente, seus textos são marcados pelo temperamento agressivo, cortante, impulsivo e

improvisador e pelas críticas violentas aos nobres e, especialmente, à rainha. Por esse motivo, foi para a prisão e, depois, para o manicômio.

Poesia líricaInfluenciado por Camões, aprendeu as técnicas do soneto, mas acrescentou-lhe novos dados de

pessoal e singular intuição lírica.Manifestou um certo irracionalismo e sua linguagem se aproxima da alucinação.Distanciou-se, assim, do modelo árcade. Seu tom é pessoal. Seus sonetos documentam-lhe a vida

por dentro e por fora, testemunhos de suas andanças e tormentos de alma.Sua primeira fase caracteriza-se por: convencionalismo neoclássico, culto do fingimento e imagens

mitológicas e clássicas.Em sua segunda fase, destacam-se: a ruptura com os padrões vigentes, o poeta amargurado, a

solidão existencial e a sondagem filosófica da Morte. Nessa fase, o poeta torna-se pré-romântico. Nesse sentido, é importante ressaltar que Bocage é um poeta pertencente ao período de transição do Arcadismo para o Romantismo.

Bocage: o poeta da transição do Arcadismo para o Romantismo de Portugal

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Texto 1

Magro, de olhos azuis, carão moreno, Bem servido de pés, meão de altura,

Nariz alto no meio, e não pequeno:

Incapaz de assistir num só terreno, Mais propenso ao furor do que à ternura;Bebendo em níveas mãos por taça escura De zelos infernais letal veneno.

Devoto incensador de mil deidades (Digo de moças mil) num só momentoE somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em que luz algum talento, Saíram dele mesmo estas verdadesNum dia em que se achou mais pachorrento.

BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Sonetos. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997. p. 85.

Sonetos

e outros

poemas de

Bocage

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo32

Texto 2

Nada se pode comparar contigo!

O ledo passarinho que gorjeia,

O rio transparente que murmura, E por entre pedrinhas serpenteia!

O Sol, que o céu diáfano passeia, A Lua, que lhe deve a formosura!O sorriso da Aurora alegre e pura,

A serena, amorosa primavera, O doce autor das glórias que consigo,A deusa das paixões e de Citera!*

Quanto digo, meu bem, quanto não digo, Tudo em tua presença degenera.Nada se pode comparar contigo!!

* Vênus Quitéria, uma das variações mitológicas de Afrodite. BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Sonetos. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997. p. 99.

Texto 3

Que bem que soam, como estão cadentes!Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes

Vê como ali beijando-se os Amores Incitam nossos ósculos ardentes!Ei-las de planta em planta as inocentes As vagas borboletas de mil cores.

Naquele arbusto o rouxinol suspira, Ora nas folgas a abelinha para, Ora nos ares sussurrando gira:

Que alegre campo! Que manhã tão clara!Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira, Mais tristeza que a morte me causara!

BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Sonetos. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997. p. 39.

Texto 4

Meu ser evaporei na lida insana

Meu ser evaporei na lida insana, Do tropel de paixões, que me arrastava.Ah! Cego eu cria, ah! Mísero eu sonhava Em mim quase imortal, a essência humana.

Existência falaz me não dourava!Mas eis sucumbe natureza escrava Ao mal, que a vida em sua origem dana

Prazeres, sócios meus e meus tiranos! Esta alma, que sedenta em si não coube, No abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus, Ó Deus!... Quando a morte a luz me roube Ganhe um momento o que perderam anos, Saiba morrer o que viver não soube.

BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Sonetos. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997. p. 81.

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LITERATURA PORTUGUESA

Ensino Médio | Modular 33

1. Releia o soneto Magro, de olhos azuis... e assi-nale a alternativa que melhor caracteriza o lado “paquerador” do poeta.

a) Nariz alto no meio, e não pequeno.

b) E somente no altar amando os frades.

c) Devoto incensador de mil deidades.

d) Saíram dele mesmo estas verdades.

e) Bem servido de pés, meão na altura.

2. Releia o soneto Olha, Marília... e responda:

a) Qual poeta do Arcadismo brasileiro teve uma musa inspiradora com o mesmo nome?

b) Por que esse nome aparece com frequência na literatura árcade?

3. No mesmo soneto, o ambiente descrito recebe o nome de:

a) bucolismo; d) feísmo;

b) subjetivismo; e) simplismo.

c) realismo;

4. Releia o soneto Meu ser evaporei... e assinale a declaração correta.

a) Pertence à primeira fase da poética de Boca-ge, já que usa a fórmula do soneto.

b) Pertence à poesia satírica do poeta, já que ele critica a sua própria vida.

c) Pertence à segunda fase do poeta, em que já aparecem traços românticos.

d) Pertence à fase realista de Bocage, quando ele não tem mais ilusões.

e) Pertence à poesia religiosa do poeta, em que ele implora pelo perdão divino.

5. Releia o soneto Ó Retrato da Morte... Se você quisesse incluir o texto numa tendência literá-ria, qual escolheria?

a) Medievalismo.

b) Classicismo.

c) Romantismo.

d) Modernismo.

e) Realismo.

Texto 5

Ó retrato da morte, ó noite amiga Por cuja escuridão suspiro há tanto;Calada testemunha de meu pranto De meus desgostos secretária antiga!

Pois manda Amor, que a ti somente os diga, Dá-lhes pio agasalho no teu manto, Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto Dorme a cruel, que a delirar obriga:

E vós, Ó cortesãs da escuridade, Fantasmas vagos, mochos piadores,Inimigos, como eu da claridade! Em bandos acudi aos meus clamores,

Quero a vossa medonha sociedade, Quero fartar meu coração de horrores.

BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Sonetos. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997. p. 54.

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Romantismo5

Aspectos histórico-culturais

No início do século XIX, Portugal presenciou a crise das monarquias absolutistas da Europa, como consequência da Revolução Francesa. Ocorreu a ascensão da burguesia e o liberalismo entrou em cena.

O país preparava para o conflito como decorrência da invasão napoleônica, em 1808. A corte de D. João VI transladou-se para o Brasil. Em 1817, com a ajuda dos ingleses, Napoleão foi expulso.

Fatos relevantes posteriores:

1820 – Revolução do Porto (revolta liberal iniciada por estudantes e vitoriosa com a adesão de Lisboa e do resto do país).

1822 – Organização da Constituição inspirada na Carta Magna Francesa.

1822 a 1833 – Luta pelo poder entre D. Miguel (monarquista) e D. Pedro I (o IV de Portugal) com propósitos liberalizantes.

1834 – Vitória dos liberais (D. Maria I, filha de D. Pedro I, ocupa o trono até 1847).

DELACROIX, Eugène. A barca de Dante. 1822. 1 óleo sobre tela, color., 189 cm x 246 cm. Museu do Louvre, Paris.

CEZANNE, Paul. O sonho do poeta. 1860. 1 óleo sobre tela, color., 82 cm x 66 cm. Museu d’Orsay, Paris.

Atmosfera misteriosa realçada pelo ambiente noturno e macabro Religiosidade e sonho

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Ensino Médio | Modular 35

LITERATURA PORTUGUESA

Limites cronológicos do Romantismo português

Início: 1825 – publicação do poema biográfico Camões (10 cantos, versos decassílabos brancos) por Almeida Garrett.

Fim: 1865 – publicação de Odes modernas por Antero de Quental e início da Questão Coimbrã (uma polêmica cultural e artística entre velhos poetas conservadores de Lisboa e jovens poetas e romancistas revolucionários de Coimbra).

Características estéticas do Romantismo português

a) Fatalismo: crença no Fado (destino) como determinante dos fatos da vida, herança dos gregos e, mais especificamente, dos estoicos e epicuristas. Como esse conceito é trágico, as obras românticas, na poesia ou na prosa, vão manifestar essa mistura de nostalgia, tristeza, consciência dos males, resignação diante do destino. Não é à toa que a música emblemática da alma portuguesa chama-se fado.

b) Medievalismo: esse aspecto, na literatura brasi-leira, foi substituído pelo indianismo e exaltação da natureza. Na Europa, as heranças medievais impregnam a vida: castelos, reis, príncipes, guer-ras e todo o conjunto de valores sociais, políticos, éticos e religiosos da Idade Média. Acrescentam- -se as lendas, os mitos e o ocultismo, que dão uma certa magia aos textos da literatura portuguesa.

c) Historicismo: a rica história europeia e, especi-ficamente, a portuguesa tornam-se “matéria-pri-ma” para poetas e romancistas, que usam fatos da realidade para sua criação literária.

d) Religiosidade: a relação íntima da alma portu-guesa com a religião cria nos textos românticos uma tendência à exaltação espiritual, seja nos ambientes e cenários, seja no comportamento dos personagens.

GOYA, Francisco. Saturno devorando os seus filhos. 1823. 1 pintura mural a óleo transposta para tela, color., 146 cm x 83 cm. Museu do Prado, Madri.

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo36

Leia os textos a seguir e analise os aspectos marcantes do Romantismo nos textos literários.

Fado

Poesia romântica portuguesa – autores

João Batista Leitão de Almeida Garrett

(1799-1834) Formado em Direito por Coimbra (núcleo de revolucionários liberais), publicou na juventude o

poema erótico Retrato de Vênus. Foi oficial do ministério do Reino e casou-se com Luísa Midose. O Golpe de Estado de 1822 (Abolição da Constituição) obrigou-o a refugiar-se na Inglaterra. Reuniu-se, mais tarde, ao exército de D. Pedro IV e combateu ao lado dos liberais. Trabalhou como diplomata

e político.No fim da vida, envolveu-se com a Viscondessa da Luz (Maria Rosa de Montúfar).

Retrato de Almeida Garrett

Na marcha da vida Que vai a voar Por essa descidaCaminho do mar,

Caminho da morte Que me há de arrancarO grito mais forte Que eu posso exalar;

O ai da partida Da pátria, do lar, Dos meus e da vida, Da terra e do ar;

Já perto da onda Que me há de tragar, Embora, se esconda No fundo do mar;

De noite e de dia Me alveja no ar O fumo que eu via Subir do meu lar!

Que sonhos doirados Me estão a lembrar! Mas tempos passados Não podem voltar!

e do Oriente, que diziam, mostrando os alfanjes; “é nossa a terra de Espanha”. – O dito árabe foi desmentido, mas a resposta gastou oito séculos a escrever-se. Pelágio entalhou com a espada a primeira

e Isabel, com os pelouros de suas bombardas, nos panos das muralhas da formosa Granada: e a esta escritura, estampada em alcantis de montanhas, em campos de batalha, nos portais e torres dos templos,

mão da Providência assim para todo o sempre! [...]HERCULANO, Alexandre. . São Paulo: Editora Três, 1972.

Medievalismo/historicismo

Religiosidade

Alexandre Herculano

De esplêndidas igrejas; Amo-te quando à noite, sobre a campa, Junto ao cipreste alvejas; Amo-te sobre o altar, onde, entre incensos, As preces te rodeiam; Amo-te quando em préstito festivoAs multidões te hasteiam; Amo-te erguida no cruzeiro antigo, No adro do presbitério,

Guias ao cemitério [...]MOISÉS, Massaud. A Literatura portuguesa através dos textos. 29. ed. São Paulo: Cultrix, 2004. p. 267.

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LITERATURA PORTUGUESA

37Ensino Médio | Modular

Obra

Suas principais obras poéticas são:

Retrato de Vênus (1821) Camões (1825) Dona Branca (1826) Flores sem fruto (1845) Folhas caídas (1853)

Sua obra de maior destaque foi Folhas caídas, caracterizada pelo tom romântico da composição, cujo tema foi a tórrida paixão de Garrett pela Viscondessa da Luz.

Texto 1

Barca belaPescador da barca bela, Onde vais pescar com ela,

Que é tão bela,Oh pescador?

No céu nublado se vela?Colhe a vela, Oh pescador!

Deita o lanço com cautela, Que a sereia canta bela...

Mas cautela, Oh pescador!

Não se enrede a rede nela, Que perdido é remo e vela

Só de vê-la, Oh pescador.

Pescador da barca bela, Inda é tempo, foge dela,

Foge dela, Oh pescador!

GARRETT, Almeida. . Porto: Porto Editora, [200?]. p. 46.

Texto 2

Este inferno de amar – como eu amo! Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi? Esta chama que alenta e consome, Que é a vida – e que a vida destrói –Como é que se veio a atear, Quando – ai quando se há-de ela apagar? Eu não sei, não me lembra: o passado,A outra vida que dantes vivi Era um sonho talvez... – foi um sonho –

Em que paz tão serena a dormi! Oh! Que doce era aquele sonhar... Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso Eu passei... dava o Sol tanta luz! E os meus olhos, que vagos giravam, Em seus olhos ardentes os pus.

Mas nessa hora a viver comecei...

GARRETT, Almeida. . Porto: Porto Editora, [200?]. p. 22.

Obra Folhas

caídas de

Almeida

Garrett

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1. Embora seja do Romantismo, Garrett forjou sua poética ainda nos padrões árcades. No texto 1, os elementos do Arcadismo são:

a) presença do refrão ou estribilho; b) presença do fado;

c) presença da mitologia greco-romana; d) liberdade formal;

e) sofrimento amoroso.

2. No texto 1, o elemento feminino que representa o desconhecido:

a) é um ser real que habita as profundezas do mar;

b) é apenas um ser literário inventado pelo poeta;

c) é uma entidade mitológica que encanta os marinheiros;

d) é uma santa que protege os marinheiros;

e) é uma mulher real por quem o poeta se apaixonou.

3. O ingrediente romântico mais forte do texto 2 é:

a) o uso do inferno como símbolo do sofrimento humano;

b) o contraste entre amar e sofrer;

c) o ato de confessar seus sentimentos;

d) a pontuação dos versos;

e) a idealização da mulher amada.

4. O verso do texto 2 que exprime a atitude de fuga da realidade, própria dos poetas românticos é:

a) Mas nessa hora a viver comecei; b) Só me lembra que um dia formoso;

c) Era um sonho talvez... – foi um sonho –; d) E os meus olhos, que vagos giravam;

e) Este inferno de amar – como eu amo!

5. Assinale a alternativa que contém o nome e o título de nobreza corretos da pessoa que despertou a paixão do poeta.

a) Luísa Midosi – Baronesa da Luz.

b) Maria Luísa de Pantufar – Viscondessa das Sombras.

c) Dona Branca – Baronesa de Lisboa.

d) Maria Rosa de Montúfar – Viscondessa da Luz.

e) Madalena de Vilhena – Princesa do Reino.

38 Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo

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Alexandre Herculano: criador do romance histórico em Portugal

Alexandre Herculano de

Carvalho e Araújo (1810-1877)Alexandre Herculano nasceu numa modesta família e por esse motivo não pôde cursar

uma universidade.Ainda na infância, vivenciou grandes acontecimentos sociais: as invasões francesas a

Portugal, o domínio inglês e o influxo de ideias liberais. No colégio dos Oratorianos, recebeu uma formação essencialmente clássica, aprendendo inglês e alemão.

Em 1830, ingressou no curso de Diplomática na Torre do Tombo, onde leu muito sobre a história de Portugal.

Em 1836, iniciou sua carreira de prestígio intelectual com a publicação de A voz do profeta. Além de religioso e politicamente liberal, é considerado o “criador do romance histórico” português.

Obra (poesia)Sua obra poética se resume a três livros:

A voz do profeta (1836) A harpa do crente (1836) Poesias (1850)

Os textos de Alexandre Herculano possuem intenso lirismo religioso, como se pode observar no seguinte poema:

Pobre cruz! Pelejaste mil combates, Os gigantes combates dos tiranos,E venceste. No solo libertado, Que pediste? Um retiro no deserto,Um píncaro granítico, açoutado Pelas asas do vento e enegrecidoPor chuvas e por sóis. Para ameigar-te

Não foi ferir do bosque o rei. Do Estio No ardor canicular nunca disseste:“Dai-me sequer, do bravo medronheiro

O desprezado fruto!” O teu vestidoEra o musgo, que tece a mão do Inverno E Deus criou para trajar as rochas.Filha do céu, o céu era o teu teto, Teu escabelo o dorso da montanha.Tempo houve em que esses braços te adornava

E o pedestal te rodeavam preces. Ficaste em breve só, e a voz humana Fez, pouco a pouco, junto a ti silêncio.

HERCULANO, Alexandre. . Disponível em: <http://www.dominiopublico.gob.br/download/texto/bi000018.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2009.

1. Sobre o texto lido, só não é possível afirmar que:

a) possui intensos apelos emocionais na reflexão religiosa;

b) possui fortes ingredientes cristãos;

c) possui elementos históricos tratados de forma religiosa;

d) possui a presença forte da mitologia greco-romana;

e) possui liberdade de versificação.

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Vetil

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Obras

literárias de

Alexandre

Herculano

@LIT293

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo40

2. Relacione a primeira coluna com a segunda, escolhendo os significados apresentados no texto:

a) pelejaste ( ) banco pequeno

b) píncaro ( ) haste fina como cana

c) açoutado ( ) árvore com fruto igual ao morango

d) gélido ( ) ferido

e) canicular ( ) flores

f) medronheiro ( ) pico

g) musgo ( ) lutaste

h) escabelo ( ) base de sustentação

i) boninas ( ) planta que nasce sobre superfícies de pedra

j) pedestal ( ) muito frio

Castilho: protagonista da Questão Coimbrã

Antônio Feliciano de Castilho (1800-1875)Com uma saúde frágil, Antônio Feliciano contraiu sarampo aos seis anos de idade. Em

consequência, ficou cego para o resto da vida. Estudou regularmente graças a um irmão. Formou-se em “Cânones” (uma mistura de Religião, Filosofia e Direito). Envolveu-se na Questão Coimbrã (polêmica literária e intelectual), conflitando-se com Antero de Quental, após escrever o posfácio de poema da mocidade, em que atacava os jovens estudantes de Coimbra.

Com memória auditiva, debruçou-se sobre o Arcadismo. Conhecia o “ofício do verso”, mas não podia observar a natureza (regalo dos românticos). Destacou-se mais como tradutor dos clássicos que poeta.

Obra Suas obras são:

Cartas de Eco a Narciso (1821) Amor e Melancolia (1828) A noite no Castelo (1836) Ciúme do Bardo (1836) Escavações poéticas (1844)

Edua

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Vetil

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O fragmento a seguir apresenta alguns aspectos comuns na obra de Antônio Feliciano, tais como: a religiosidade, o retrato de fatos históricos e a expressão exacerbada do sentimento.

O acalentar da netaDorme, dorme, minha neta,Senão não sou tua amiga; Dorme que eu te embalo o berço, E te canto uma cantiga.

Vai a bela Dona Ausenda Caminho da Palestina, Leva trajo de romeiro, Com seu bordão e esclavina.

Dona Ausenda, Dona Ausenda, Em sabendo que és fugida, Tua mãe cairá morta, E tuas irmãs sem vida.

Pouco importa a Dona Ausenda Quem na Espanha morra ou viva; Vai em busca de sua alma, Que em Palestina é cativa.

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Quadro de Miguel Angelo Lupi, Museu de Arte Contemporânea

1. Sobre o texto, assinale a alternativa que não diz respeito ao autor:

a) apresenta religiosidade;

b) apresenta fatos históricos;

c) apresenta sentimentalismo;

d) apresenta uma visão objetiva da realidade;

e) apresenta versos curtos e ritmados.

2. Sobre Castilho, analise as declarações e marque as corretas:

(01) Foi protagonista da Questão Coimbrã.

(02) Representava as ideias revolucionárias de Coimbra.

(04) Era cego desde a infância e seu opositor fez referências indiretas a esse fato.

(08) Representava os cânones artísticos do Ro-mantismo.

(16) Escreveu um posfácio à obra Poemas da Mocidade.

(32) Era inimigo feroz de um poeta chamado Pinheiro Chagas.

(64) Desenvolveu poesia realista em Portugal.

Prosa romântica portuguesa – autores

Almeida GarrettJá estudado como poeta, esse autor português merece destaque por sua formação cultural, histórica

e intelectual incomuns. Garrett é o grande narrador do Romantismo português. O seu trabalho literário com o romance histórico Viagens na minha terra iniciou a produção da prosa de ficção moderna.

ObraDa produção em prosa de Almeida Garrett, destacam-se:

Arco de Santana (1829) Um auto de Gil Vicente (1842) Frei Luís de Sousa (1844) Viagens na minha terra (1846)

O tema da obra Frei Luís de Sousa gira em torno da trágica história de Manuel de Sousa Coutinho e Madalena de Vilhena.

Quando o casal se uniu, ela era viúva de D. João de Portugal, um nobre que lutou ao lado de D. Sebastião e foi dado como morto em Alcácer-Quibir.

Conta a lenda que D. Sebastião, rei cristão, formou um grande exército.

Os soldados eram nobres, vigorosos e jovens. Nas areias paradi-síacas do Oriente, foram seduzidos pelas odaliscas e esqueceram-se dos exercícios militares.

Depois da guerra, Dona Madalena casou-se com Manuel, antigo namorado, depois de anos em busca do ex-marido.

Eis, porém, que D. João retorna, mais vivo do que nunca, dis-farçado de “romeiro”.

Para os lusitanos, a conduta de D. Madalena era considerada uma transgressão, um adultério, por isso o dano precisava ser reparado.

Desesperados, Manuel e Madalena, que já tinham uma filha, Maria, visionária e mística, resolveram tomar hábitos (virar reli-giosos para pagar o pecado). No dia da sagração de ambos, em que Manuel se tornaria Frei Luís de Souza, a filha invadiu o recinto religioso, suplicou aos pais para que mudassem a decisão e, não conseguindo, morreu diante deles.

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo42

1. Assinale a alternativa que não possui aspectos da sociedade portuguesa dos séculos XVIII e XIX.

a) Forte sentimento de culpa envolvendo sexu-alidade e religião.

b) Culto da crença do sebastianismo.

c) Obediência aos costumes sociais vigentes.

d) Exaltação da sensualidade como forma de re-alização espiritual.

e) Referências a fatos históricos expressivos de Portugal.

2. Sobre a obra Frei Luís de Sousa, analise as decla-rações abaixo e some os valores:

(01) É exemplo do antropocentrismo que domi-nou o período clássico na literatura.

(02) Retoma um tema comum na cultura portu-guesa que é o sebastianismo.

(04) Apresenta todo o desprezo do autor pela religiosidade dos portugueses, propondo uma ruptura com a Igreja Católica.

(08) Possui ingredientes da tragédia grega, na qual os personagens sofriam para que o público espectador tivesse uma experiên-cia catártica.

(16) Discute os aspectos políticos da nobreza lusitana.

(32) Tem ingredientes místicos, representados, principalmente, pela personagem Maria, filha do casal protagonista.

(64) Utiliza recurso de Homero quando o per-sonagem D. João regressa à sua pátria dis-farçado de “romeiro”.

Viagens na minha terra (narrativa de viagem)

Enredo

Em linhas gerais, o livro conta a história de Carlos, um jovem e bonito soldado que está no Vale de Santarém a serviço dos ideais “cartistas” de D. João VI. Em meio aos exercícios militares, reencontra-se com Joaninha, a prima querida, dos tempos de infância. Apaixonam-se, porque a menina tinha se transformado em uma bela mulher. Era tão bela que, pela manhã, os rouxinóis só cantavam depois que ela abrisse a janela de seu quarto.

Carlos e Joaninha passam a encontrar-se como amantes, escondidos de todos, e relembram fatos do passado. Carlos tem um ódio inexplicável por frei Dinis, que é miguelista. Quando está ferido no hospital descobre que o frei era seu verdadeiro pai. No passado, o religioso era militar e teve um caso amoroso com a mãe de Carlos, casada com outro.

Carlos recebe a visita de sua noiva, a inglesa Georgina, e fica dividido entre os dois amores. Sabendo da existência de Joaninha, Georgina parte para um convento. Carlos, amargurado, despede-se da prima e vai embora, para tornar-se um rico comerciante. Joaninha recusa-se a viver. Não se alimenta e morre de amor.

O narrador nos revela que soube dos fatos por meio de uma carta que Carlos escrevera para Joaninha, tentando justificar-se.

Quando a carta chegou, a heroína já tinha morrido. Esse recurso do narrador tem o objetivo de dar verossimilhança à história, ou seja, fazer o leitor acreditar nos fatos narrados.

A digressão

É o efeito de romper a continuidade de uma narrativa, saltando de um assunto para outro. Essa variabilidade temática gera um texto composto por diferentes partes que se concatenam no todo da obra.

As principais características dessa técnica são:

variação de tom e humor;

variação de assuntos (graves ou ligeiros);

registro de impressões.

Obra Viagens na minha terra, de

Almeida

Garrett

@LIT2795

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Seus criadores, na Europa, foram:

Laurence Sterne em Viagem sentimental; Xavier de Maistre em Viagem em volta de meu quarto.

O mestre dessa técnica, no Brasil, foi Machado de Assis, especialmente em Memórias póstumas de Brás Cubas.

O foco narrativo

Em Viagens na minha terra, o foco narrativo é em primeira pessoa e, como se trata de um romance histórico, a voz do narrador e do autor se confundem. Nesse sentido, o narrador funciona como teste-munha ocular dos fatos narrados e emite informações valiosas para a compreensão do livro.

A escolha da técnica digressiva permite ao narrador rechear a história com assuntos variados: política, economia, geografia, história, literatura, filosofia, religião, costumes sociais, etc. No entanto, essa variedade não compromete a unidade do texto, que se concentra em dois polos principais:

1) observação sentimental;2) descrença cultural.As cenas sentimentais dizem respeito à deslumbrante paisagem portuguesa no trajeto entre Lisboa

e Santarém.O humor está presente nas passagens de velhas histórias do folclore ou na citação de poetas

prediletos, como Homero, Virgílio, Dante, Camões, Goethe e outros.Quando, porém, o narrador-autor focaliza as gerações portuguesas posteriores à Revolução Liberal

que instalaram a república no país, torna-se amargo e pessimista. Seu raciocínio é agudo, bem estru-turado, permitindo a alternância de momentos agradáveis com momentos graves. Por ser romântico, Garrett está mais propenso ao otimismo e mostra que as ilusões são importantes.

A viagem

Desencantado com os rumos da política e do comportamento lucrativista que tomou conta da nação, o narrador abandona as atividades públicas ligadas à educação e resolve viajar para Santarém, pelo Rio Tejo, de Lisboa. Utilizou vários meios de transporte.

No caminho, ia se deliciando com os encantos e costumes das aldeias. Ao mesmo tempo, conversa sobre praticamente todos os assuntos.

A história de amor

No capítulo X, quando o narrador já se encontra no Vale de Santarém, ocorre o encaixe da dramática história de Joana e Carlos. Ao deparar-se com uma casa antiga, com janela larga e baixa, imagina aí uma cena de romance sobre uma figura de mulher de olhos pretos, sentada àquele balcão. É interrom-pido por um companheiro de viagem que corrige a cor dos olhos da personagem. Eram olhos verdes. A narrativa desloca-se para o cenário histórico das lutas entre liberais e miguelistas por volta de 1830.

Personagens principais

O enredo dessa história dramática concentra-se sobre os seguintes personagens:

Joaninha dos Rouxinóis (a heroína que na infância brincava alegre pelos campos com seu primo Carlos. Mais tarde, apaixona-se por ele, perdidamente);

Carlos (o herói romântico que se tornou soldado do exército liberal e apaixonou-se perdidamen-te pela prima);

D. Miguel e D. João VI (protagonistas da guerra civil portuguesa);

a velha cega fiandeira (avó de Joaninha);

Frei Dinis (o protetor da velha e da menina).

Obs.: No fim da narrativa, vai-se descobrir que ele é o verdadeiro pai de Carlos.

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo44

1. Leia a passagem a seguir e responda às perguntas.

Eu estou com meu amigo Yorick, o ajuizadíssimo bobo de el-rei de Dinamarca, o que alguns anos depois ressuscitou em Sterne com tão elegante pena, estou, sim. “Toda a minha vida, diz ele, te-nho andado apaixonado já por esta, já por aque-la princesa, e assim hei de ir, espero, até morrer, firmemente persuadido que se algum dia fizer uma ação baixa, mesquinha, nunca há de ser se-não no intervalo de uma paixão a outra: nesses interregnos sinto fechar-se-me o coração, esfria-me o sentimento, não acho dez réis que dar a um pobre... Por isso, fujo às carreiras de semelhante estado; e mal me sinto aceso de novo, sou todo generosidade e benevolência outra vez.”

Yorick tem razão, tinha muito mais razão e juí-zo que seu augusto amo, el-rei da Dinamarca. Por pouco mais que se generalize o princípio, fica indisputável, inexcepcionável para sempre e para tudo. O coração humano é como o es-tômago humano, não pode estar vazio; precisa de alimento sempre; são e generoso, só as afei-ções lho podem dar; o ódio, a inveja e toda ou-tra paixão má é estímulo que só irrita mas não sustenta. Se razão e a moral nos mandam abster destas paixões; se as quimeras filosóficas, ou ou-tras, nos vedarem aquelas, que alimento dareis ao coração, que há de ele fazer? Gastar-se sobre si mesmo, consumir-se... Altera-se a vida, apres-sa-se a dissolução moral da existência, a saúde da alma é impossível. (Cap. XI)

CLÁSSICOS GARNIER. Difusão Europeia do Livro. São Paulo, 1965.

Yorick é personagem da tragédia Hamlet, de Shakespeare. É o bobo do Rei Cláudio, padrasto de Hamlet.

a) Yorick associa intimamente o argumento da virtude moral e o do sentimento amoroso. Mas pode-se entender que haja um elemento de humor na tese de Yorick. Qual pode ser ele?

b) Faça um paralelo entre Yorick, o personagem Carlos e o narrador das Viagens na minha terra.

2. Observe o sentido da palavra “moral” nos dois exemplos seguintes e aponte onde está a dife-rença entre ambos os empregos:

a) “Se a razão e a moral nos mandam abster...”

b) “...apressa-se a dissolução moral da existência”

3. Analise o seguinte trecho de Viagens na minha terra e faça o que se pede.

Admirável beleza do coração feminino, generosa qualidade que todos seus infinitos defeitos faz esquecer e perdoar! Essas duas mulheres ama-vam este homem. Esse homem não merecia tal amor. Não, por Deus! O monstro amava-as a am-bas: está tudo dito. E elas, que o sabiam; elas, que o sentiam e que o julgavam digno de mil mortes, elas rivalizavam de cuidados e de ânsia para o salvarem. (Cap. XXXV)

CLÁSSICOS GARNIER. Difusão Europeia do Livro. São Paulo, 1965.

a) Onde está, para Garrett, essa “admirável bele-za do coração feminino”?

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b) Quem é o homem que não merecia “tal amor” e por que razão Garrett se refere a ele como a um “monstro”?

c) Quais são as duas mulheres que “rivalizavam de cuidados” e qual o final que vieram a ter na história?

4. Leia a seguinte passagem e responda às ques-tões propostas.

Eu creio na Senhora da Vitória de Santarém, e em muitos outros santos e santas, que a religião do povo tem por esses nichos e por essas capelas e por esses cruzeiros de Portugal, a recordar memórias de que se não lavrou outro auto, não se escreveu outra escritura, de que não há outro documento, e que os frades croniqueiros [autores de crônicas] não jul-garam dever escrever no livro preto nem encarna-do, porque o tinham por melhor escrito e mais bem guardado nos livros de pedra em que estava.

Coitados! Não contaram com os aperfeiçoado-res, reparadores e demolidores das futuras civili-zações, que, para pôr as coisas em ordem, tiram primeiro tudo do seu lugar. (Cap. XXXVI)

GARRETT, Almeida. Viagens na minha terra. São Paulo: Difu-são Europeia do Livro, 1965. p. 313.

a) Se a palavra “barão” entrasse nesse texto, de que ideia, presente no texto, ela se revestiria?

b) Em que consistiu o equívoco histórico dos frades?

c) Aponte alguns elementos românticos presen-tes nessa passagem.

5. Leia a passagem a seguir e responda às perguntas.

Em Portugal não há religião de nenhuma espé-cie. Até a sua falsa sombra, que é hipocrisia, de-sapareceu. Ficou o materialismo estúpido, alvar, ignorante, devasso e desfaçado [descarado], a fazer gala de sua hedionda nudez cínica no meio das ruínas profanadas de tudo o que elevava o espírito... Uma nação grande ainda poderá ir vi-vendo e esperar por melhor tempo, apesar desta paralisia que lhe pasma a vida da alma na mais nobre parte de seu corpo. Mas uma nação pe-quena, é impossível; há de morrer.

Mais dez anos de barões e de regime da matéria, e infalivelmente nos foge deste corpo agonizan-te de Portugal o derradeiro suspiro de espírito.

Creio isto firmemente.

Mas ainda espero melhor todavia, porque o povo, o povo povo, está são; os corruptos somos nós, os que cuidamos saber e ignoramos tudo.

Nós, que somos a prosa vil da nação, nós não entendemos a poesia do povo; nós, que só com-preendemos o tangível dos sentidos, nós somos estranhos às aspirações sublimes do senso ínti-mo, que despreza as nossas teorias presunçosas, porque todas vêm de uma acanhada análise que procede curta e mesquinha dos dados mate-riais, insignificantes e imperfeitos; enquanto ele, aquele senso íntimo do povo, vem da Razão divi-na e procede da síntese transcendente, superior, e inspirada pelas grandes e eternas verdades que se não demonstram porque se sentem.

E eu, que descrevo isto, serei um demagogo? Não sou.

Serei fanático, jesuíta, hipócrita? Não sou.

Que sou eu, então?

Quem não entender o que eu sou, não vale a pena que lho diga...

Perdoa-me, leitor amigo, uma reflexão última no fim deste capítulo já tão secante [“chato”], e prometo não refletir nunca mais. (Cap. XLII)

GARRETT, Almeida. Viagens na minha terra. São Paulo: Difu-são Europeia do Livro, 1965. p. 339.

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Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo46

a) “Em Portugal não há religião de nenhuma espécie”. Prove, recorrendo a outro dos tex-tos apresentados, que aqui Garrett cai em contradição.

b) No texto, em que perspectiva Garrett se mos-tra mais pessimista?

c) O que prova, no texto, que Garrett se com-porta como um emotivo?

6. Analise o seguinte excerto e faça o que se pede.

E tu, Joana; tu, pobre inocente e desvalida crian-cinha, tu aparecias-me no meio de tudo isso, es-tendendo para mim os teus bracinhos amantes como no dia que me despedira de ti nesse fatal, nesse querido, nesse doce e amargo vale das mi-nhas lágrimas e dos meus risos, onde só me ti-nham de correr os poucos minutos de felicidade verdadeira da minha vida; onde as verdadeiras dores da minha alma tinham de ma cortar e des-truir para sempre...

Oh! De que e como é feito o homem? Para que e por que vive ele? Que vim eu, que viemos nós todos fazer a este mundo?

Eu, sentado ali nas almofadas de seda daquela esplêndida carruagem; rodeado de três mulheres divinas, que me queriam todas, que eu confundia numa adoração misteriosa e mística, cego, louco de amores por uma delas, no momento de lhe dizer adeus para sempre... eu tinha o pensamen-to fixo numa criança que ainda andava ao colo! – Revendo-me nos olhos pardos de Laura, que eu

adorava, eram os teus olhos verdes que eu tinha na alma! Os sentidos todos embriagados daque-le perfume de luxo e civilização que me cercava, era o nosso vale rústico e selvagem o que eu ti-nha no coração...

Oh! Eu sou um monstro, um aleijão moral deve-ras, ou não sei o que sou. (Cap. XLVI)

GARRETT, Almeida. Viagens na minha terra. São Paulo: Difu-são Europeia do Livro, 1965. p. 356-357.

a) No texto anterior, o autor utiliza a digressão como recurso para incitar a reflexão ou provo-car o leitor. Tendo isso em vista, transcreva do texto uma passagem inteiramente digressiva.

7. Agora que você já conhece melhor o texto Via-gens na minha terra, relacione as seguintes frases:

“Revendo-me nos olhos pardos de Laura, que eu adorava, eram os teus olhos verdes que eu tinha na alma!”

“Oh! Eu sou um monstro, um aleijão moral deveras”.

8. Responda ao que se pede:

a) Qual a razão pela qual o personagem partira para longe da presença de Joaninha?

b) A que parte do romance pertence o texto que você acabou de ler?

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Alexandre Herculano Alexandre Herculano também teve muita importância na prosa narrativa de Portugal, porque criou

o romance histórico. Por ter lido sobre a história de seu país na biblioteca da Torre do Tombo, sua veia historiográfica foi usada para romancear fatos relevantes de Portugal.

ObraEntre suas obras em prosa, destacam-se:

Os infantes em Celta (1842) O Bobo (1843) Eurico, o presbítero (1844) Lendas e narrativas (1851)

Eurico, o presbítero

Esse é um romance histórico que delineia para o leitor acontecimentos importantes do século V d.C., quando os mouros invadiram a Península Ibérica. Naquela época, Portugal e Espanha eram uma só nação. Um presbítero godo, Eurico, que abraçara o sacerdócio para curar a ferida deixada pelo amor impossível por Hermengarda, gozava de grande prestígio graças às suas canções e seus poemas.

Recrudescendo a luta entre godos e mouros, Hermengarda foi raptada pelos árabes para forçar o valente general Pelayo, irmão da heroína, a desistir dos combates e entregar-se.

O sacerdote abandona o hábito e toma as armas para defender as terras de Espanha. Torna-se o “Cavaleiro Negro”, cujos feitos passaram a correr de boca em boca. A sorte, porém, não acompanhava seus compatriotas, os quais, em sucessivas batalhas, vão cedendo terreno ao invasor.

Eurico consegue libertar sua amada e a leva desmaiada sobre seu cavalo, fugindo dos raptores. Depois de muito esforço, livra-se dos inimigos, quando cruza um precipício sobre uma árvore tombada com Hermengarda nos braços.

Numa caverna segura, Hermengarda recobra a consciência e descobre que seu salvador, o lendário cavaleiro negro, é Eurico, o amor do passado.

A heroína propõe relacionamento, com intensa paixão, mas Eurico recusa, em virtude dos votos de castidade. Chegam os inimigos mouros, trava-se luta mortal e o herói deixa-se decapitar pela espada do sarraceno Muguite.

Um contra três! – Era um combate calado e temeroso. O cavaleiro da cruz parecia desprezar Muguite: os seus golpes retiniam só nas armaduras dos dois godos. Primeiro o velho Opas, depois Juliano caíram.

Então, recuando, o cavaleiro cristão exclamou:– “Meu Deus! Meu Deus! – Possa o sangue do mártir remir o crime do presbítero!”E, largando o franquisque, levou as mãos ao capacete de bronze e arrojou-o para longe de si.

faces do sarraceno.Como tomba o abeto solitário da encosta ao passar do furacão, assim guerreiro misterioso do Críssus caía para

não mais se erguer?...Nessa noite, quando Pelágio voltou à caverna, Hermengarda, deitada sobre o seu leito, parecia dormir.Cansado do combate e vendo-a tranquila, o mancebo adormeceu também perto dela, sobre o duro pavimento da

gruta. Ao romper da manhã, acordou ao som de canto suavíssimo. Era sua irmã que cantava um dos hinos sagrados que muitas vezes ele ouvira entoar na catedral de Tárraco. Dizia-se que seu autor fora um presbítero da diocese de Híspalis, chamado Eurico.

risadas que fazem eriçar os cabelos, tão tristes, soturnas e dolorosas são elas; tão completamente exprimem irre-mediável alienação de espírito.

A desgraçada a tinha, de feito, enlouquecido.HERCULANO, Alexandre. . São Paulo: Editora Três, 1972. p. 176.

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1. Assinale a alternativa que não tenha assunto referido no texto acima.

a) O heroísmo do personagem “Cavaleiro Negro” exemplifica o herói romântico.

b) O ambiente amoroso é cercado de uma at-mosfera de culpa com relação aos prazeres físicos.

c) O ambiente de guerra apenas ressalta o he-roísmo dos muçulmanos.

d) A paixão física é sublimada em sacrifício de uma causa patriótica.

e) O herói é parecido com os heróis das histó-rias em quadrinho modernas.

2. Assinale a alternativa que não contenha a re-lação correta entre personagem e atributo.

a) Muguite representa o furor dos orientais.

b) Eurico representa a defesa das verdades cristãs.

Camilo Castelo Branco (1826-1890) Camilo Castelo Branco ficou órfão aos 10 anos, o que fez com que assumisse

uma postura de insatisfação com a vida. Com apenas 16 anos, casou-se com Joaquina Pereira de França, a quem abandonou pouco tempo depois. Tentou o ingressar no curso de Medicina no Porto e em Coimbra.

Com uma personalidade instável e inquieta, envolveu-se em muitas aventuras amorosas: a mais tórrida foi com Ana Plácido, que abandonou o marido para viver com o escritor. Esse relacionamento resultou na prisão de ambos, acusados de adultério. Na prisão, Camilo escreveu seu principal romance: Amor de Perdição.

ObraEntre suas obras, destacam-se:

Amor de perdição (1862) A queda dum anjo (1866)

Amor de perdição

Enredo

A novela Amor de perdição, escrita em 1862, relata, assim como a maioria das obras de Camilo Castelo Branco, a história de um grande amor. Simão Botelho e Teresa de Albuquerque são dois jovens que experimentam sua primeira e grande paixão. No entanto, a inimizade das famílias impede o casamento. Depois de todos os obstáculos sucessivamente colocados à realização amorosa dos apaixonados, a solução em seu favor vai se tornando impossível.

O pai de Teresa, Tadeu de Albuquerque, deseja casar a filha com um primo, Baltasar Coutinho, recusado por ela. Decide, então, juntamente com o sobrinho, colocá-la num convento, esperando, assim, pôr fim ao romance entre Teresa e Simão. A partir daí, os namorados passam a se comunicar por cartas, na maior parte das vezes levadas e trazidas por uma mendiga, que consegue passar despercebida durante quase todo o tempo.

Edua

rdo

Vetil

lo c) O “Cavaleiro Negro” representa as forças do

mal.

d) Pelágio ou Pelayo representa a continuida-de da nobreza cristã.

e) O final trágico representa a vitória do espíri-to lusitano.

3. Assinale a alternativa que representa o am-biente lusitano no século IV d.C., de acordo com o texto lido.

a) Completa estabilidade social, econômica e religiosa.

b) Conflito entre cristãos e protestantes.

c) Conflito entre Oriente e Ocidente, por causa de convicções religiosas.

d) Mais uma guerra que os homens adoram deflagrar!

e) Uma guerra exclusivamente econômica.

Trovadorismo, Renascimento e Classicismo; Barroco, Arcadismo e Romantismo48

Obras

literárias

de Camilo

Castelo

Branco

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Simão decide ir ao convento visitar Teresa, porém, chegando lá, encontra-se com o pai de Teresa e Baltasar. Simão e Baltasar discutem, agridem-se. Disparando contra Baltasar, Simão fere-o mor-talmente, e sem nenhuma intenção de atenuar seu crime, entrega-se à justiça. Preso na cadeia de Relação, da cidade do Porto, é, primeiramente, condenado à forca e, depois, ao exílio na Ásia por dez anos.

Pouco a pouco, Simão vai sendo consumido pelo sofrimento. O mesmo acontece com Teresa, já em outro convento, agora Monchique, também na cidade do Porto.

A história termina com a morte de Teresa, quando, das grades do convento, vê partir o navio que levaria seu amado ao degredo. Pouco tempo depois, Simão também morre, a bordo do navio.

No decorrer de inúmeras aventuras, há ainda o suicídio de Mariana, amiga dedicada e compa-nheira de Simão em todas as desgraças. Amando-o em silêncio, atira-se no mar quando o corpo do moço é lançado nas águas.

Foco narrativo

O narrador é observador e onisciente. Trata-se de uma onisciência intrusa, na medida em que ele não só revela, mas também comenta os sentimentos e comportamentos dos personagens, deixando claro o seu ponto de vista a favor dos que amam e contra os que impedem a realização do amor por apego à honra e a preconceitos morais e sociais.

O tempo da narrativa é cronológico e linear.Predominam os espaços fechados: o convento de Viseu e de Monchique; a casa de João da

Cruz; e a prisão de Relação. Esses espaços simbolizam as vontades dos amantes, que ficam presos e impossibilitados de viverem o seu amor.

Personagens principais

Simão: tem 18 anos e é um herói ultrarromântico, embora haja forças opostas em seu caráter, como o amor e o ódio. Inicialmente, é apresentado como um rapaz violento e perturbador da ordem, mas, ao conhecer Teresa, seu comportamento muda: começa a estudar, torna-se recatado e até religioso, mostrando que o amor redime os erros e modifica a personalidade. É egoísta, mas generoso em seu amor por Teresa e sua amizade por Mariana. É, física e moralmente, descrito pela virilidade, força e beleza. Perdeu a honra, a pátria, a liberdade, a família e a vida por amor.

Teresa: heroína idealizada, é, ao mesmo tempo, frágil e determinada. Tem 15 anos, é uma rica herdeira, delicada e hábil na defesa do seu grande amor. Perde a vida por amor.

Mariana: com 24 anos, é uma mulher combativa. Não consegue sentir raiva de Teresa, mas quase enlouquece ao saber da sentença de Simão. Amou-o sinceramente e em silêncio. Sen-tia um amor obsessivo e abnegado. É a figura mais humana e complexa da obra. Apresenta formas bonitas e tristes, sua alma é apresentada com toques delicados. Morre por amor a Simão.

João da Cruz: Pai de Mariana. Ferreiro, é um homem rude, de maneiras pouco polidas. Ajuda Simão, pois Domingos Botelho, pai de Simão, o havia absolvido de um assassinato. Sua linguagem é franca, viva, cheia de imagens e conceitos populares.

Baltasar Coutinho: primo e pretendente de Teresa. Rival perfeito para realçar o prestígio de Simão. É assassinado pelo herói da narrativa.

Características principais

A obra é composta principalmente de diálogos.Dependendo do trecho, podem-se identificar dois tons: um formal e convencional na fala dos

nobres e outro vibrante e espontâneo na fala do povo, representado por Mariana e João da Cruz.A ironia está presente quando o narrador descreve a decadência do convento como instituição social. O

convento de Viseu aparece, no capítulo 8, como um verdadeiro antro de prostituição, degradação humana, bisbilhotagem e vícios. Nota-se, portanto, uma leve, porém perceptível, crítica ao clero (característica realista).

Há, ainda, a presença da aristocracia decadente, o aparecimento de uma pequena e média burguesia e o campesinato e operariado crescentes.

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A obra recupera a tragédia Romeu e Julieta, de Shakespeare, pois apresenta vários pontos em comum, tais como:

amor irrealizado e alimentado à distância;

a proibição da sociedade à realização do sentimento amoroso;

o final trágico dos protagonistas, cujas atitudes são extremamente passionais, de um senti-mentalismo radical, obsessivo e ultrarromântico.

A queda dum anjoO romance satírico A queda dum anjo, escrito em 1866, descreve a corrupção de Calisto Elói

de Silos e Benevides de Barbuda, que representa o povo português, a vida social e política e os costumes do país. Ao satirizar Calisto Elói, Camilo Castelo Branco tece uma crítica contundente ao modo de vida português da época.

O enredo concentra-se no protagonista, que se muda para Lisboa ao ser eleito deputado. Calisto tinha a intenção de moralizar a sociedade, mas se deixou corromper pelo luxo e pelo prazer que imperam na capital: torna-se amante de uma prima distante, Ifigênia; muda de posição política, tornando-se liberal; distancia-se da esposa, Teodora, que também é corrompida pelo modo de vida local.

Pode-se dizer, então, que essa é a queda do anjo mencionada no título do livro.Entretanto, por amor à Ifigênia, Calisto muda totalmente seu comportamento, indo viver com a prima em

Sintra. O amor do casal faz com que o personagem se regenere: ele se separa da mulher e se casa com a amante.Essa obra se distancia da tradicional narrativa romântica produzida por Camilo Castelo Branco,

aproximando-se, por sua linguagem de cunho satírico, do Realismo português, mas o final do enredo aponta para a típica fórmula romântica de finais felizes.

Para compreender melhor o comportamento do narrador em A queda dum anjo, analise os trechos a seguir e, com o professor, responda ao que se pede.Texto 1

Entremos no coração de Calisto Elói.Cuidava o leitor que não tínhamos que entender com aquela entranha do homem? Estou que a

(Cap. X – O coração do homem)

CASTELO BRANCO, Camilo. A queda dum anjo. Rio de Janeiro: Ediouro. p. 39.

O trecho anterior se aproxima da narrativa Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. O que há em comum entre esses narradores?

Texto 2A pessoa de Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda foi em liteira e chegou a Lisboa ao décimo

dia da jornada, trabalhada de perigos, superiores à descrição de que somos capazes.De propósito, saltamos por cima dos pormenores da partida, para não descrever o quadro lastimoso do

apartamento de Calisto e Teodora.O apartamento de Teodora e Calisto era título para dois capítulos de lágrimas.(Cap. III – O demônio parlamentar descobre o anjo)

CASTELO BRANCO, Camilo. A queda dum anjo. Rio de Janeiro: Ediouro. p. 19

O narrador possui uma postura crítica nesse trecho? Explique.

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P

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Texto 3

sei que solar de damas dadas à leitura amena, pediu algum livro, e deram-no um romance meu. Consta-me que deixou o volume com as margens anotadas de galicismos e manchas de toda a casta. Imaginem quantas punhaladas eu dei naquele lusitaníssimo coração!(Cap. X – O coração do homem)

CASTELO BRANCO, Camilo. A queda dum anjo. Rio de Janeiro: Ediouro. p. 40.

O autor, Camilo Castelo Branco, aparece no romance? Justifique.

Texto 4

Santa audácia! Bizarra índole de antigo cavaleiro, que abriga no peito a generosidade com que os heróis dos Lobeiras, Cervantes, Barros e Morais se lançavam às aventurosas lides, no intento de corrigir vícios e endireitar as tortuosidades da humana maldade!

Não desanimou Calisto Elói, tão desabridamente rebatido por D. Catarina Sarmento.(Cap. XII – O anjo Custódio)

CASTELO BRANCO, Camilo. A queda dum anjo. Rio de Janeiro: Ediouro. p. 44.

Nesse excerto, o narrador se aproxima do autor ou do personagem?

Texto 5

Calisto Elói não será capaz de repudiar nem degolar Teodora, porque neste país há leis que reprimem os patetas sanguinários, todavia, eu não assevero que ele seja incapaz, alguma hora, de lhe chamar parva e hedionda, e lhe atirar com a touca e com o lenço azul de três pontas à cara vermelha de pudor.

Veremos.Calisto, digamo-lo sem refolhos, caiu. Atascou-se [...]. Este enguiçado Barbuda, na volta de

Campolide, não teve uma lágrima que chorasse sobre a sua dignidade esfarrapada.(Cap. XXII – Outro abismo)

CASTELO BRANCO, Camilo. A queda dum anjo. Rio de Janeiro: Ediouro. p. 71.

Qual é a contradição presente no trecho acima?

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Júlio Dinis (1839-1871)Joaquim Guilherme Gomes Coelho, cujo pseudônimo é Júlio Dinis,

nasceu no Porto em 1839. Aos 14 anos, concluiu o curso preparatório do liceu. A partir de 1853, estudou na Escola Politécnica, tendo, em seguida, ingressado na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Dedicou-se, entretanto, à literatura e é considerado um escritor de transição entre o fim do Romantismo e o início do Realismo.

Concluiu o curso de Medicina em 1861, época em que sofria com a tuberculose, transferiu-se diversas vezes para o campo à procura de ambientes mais salutares e o longo período no campo determinou a direção fundamental de seus romances. Com ex-ceção do romance Uma família inglesa, que focaliza a burguesia do Porto, todos os outros têm paisagem compesina. Júlio Dinis é considerado o grande retratista da literatura portuguesa, pois a maioria de seus personagens, foi inspirada em pessoas com quem viveu ou teve contato.

ObraAs principais obras de Júlio Dinis são:

A morgadinha dos canaviais (1868)

Uma família inglesa (1868)

As pupilas do Senhor Reitor (1869)

Serões da província (1870)

Os fidalgos da Casa Mourisca (1871)

Poesias (1873)

Inéditos e dispersos (1910)

Teatro inédito (1946-1947)

As pupilas do Senhor ReitorA narrativa é ambientada em uma aldeia portuguesa, na segunda metade do século XIX. Nessa

obra, conta-se a história de Margarida e Clara, duas jovens irmãs que vivem sob a tutela do reitor da paróquia da aldeia, e seus romances com os filhos do fazendeiro José das Dornas: Daniel e Pedro. Margarida é apaixonada por Daniel, com quem vive um romance de infância. Ele é seminarista, mas, quando o pai descobre o romance com a moça, envia-o à cidade para estudar Medicina. Após se formar, Daniel retorna ao lar no campo e começa a cortejar Clara, noiva de Pedro, fato que coloca a reputação da família de José das Dornas em risco. Ao final da narrativa, Daniel e Margarida se recordam do romance que viveram no passado e se unem novamente.

Júlio Dinis, o retratista Júlio Dinis, o retratista Júlio Dinis, o retratistadas aldeias de Portugaldas aldeias de Portugaldas aldeias de Portugal

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Obras

literárias de

Júlio Dinis

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[...]Levantou-se imediatamente a irmã de Margarida, e, com o desembaraço que lhe era próprio, começou pela

a quem tinha de abraçar. Ao chegar junto dele, parte da natural audácia a abandonou.Já antes notara ela alguma coisa de particular nos olhares e nas maneiras do irmão do seu noivo que tinha

diminuído a familiaridade, com que ao princípio o acolhera, e diminuído na proporção em que nas outras crescia.Foi quase a tremer, que ela o abraçou.Daniel percebeu-lhe a agitação, e sorriu.Clara, sentando-se outra vez junto dele, sentia-se constrangida, e não ousava erguer os olhos.

de que era a prometida esposa de seu irmão, de quem nunca mais desviou os olhos, nem distraiu as atenções.

[...]

DINIS, Julio. As pupilas do Senhor Reitor. São Paulo: Ática, 1983.

Por ocasião da colheita, as pessoas reuniam-se para, em regime de mutirão, desfolhar o milho e armazená-lo. Havia música, brincadeiras e prêmios para quem encontrasse duas espigas unidas. Quem encontrasse tinha direito de pedir abraços e beijos dos circundantes. A cena seguinte retrata o momento em que Clara, noiva de Pedro, encontra o “milho-rei”. Clara era irmã de Margarida. Estava apaixonada pelo irmão de seu noivo, Daniel, recém-chegado da capital.

1. Releia o texto anterior e, em seguida, marque a alternativa correta.

a) O texto aborda objetivamente o tema do triângulo amoroso.

b) Os personagens têm perfil antirromântico.

c) O narrador interfere na narrativa emitindo suas opiniões sobre adultério, ao estilo de Machado de Assis.

d) O ambiente gracioso da desfolhada (festa da colheita do milho) é tipicamente român-tico.

e) A linguagem violenta do texto caracteriza a escola literária naturalista.

2. O fragmento lido permite-nos afirmar que:

a) não haverá envolvimento amoroso entre Daniel e Clara;

b) Daniel possui um comportamento moral inabalável e não vai deixar-se seduzir;

c) tudo indica que Daniel e Clara vão se apaixo-nar;

d) a brincadeira de encontrar o “milho-rei” vai acabar em tragédia e morte;

e) a narrativa vai descambar para a pornogra-fia.

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1. (UNICAMP – SP)

[...] Que quereis fazer? Que cerimônias são estas? Que deus é esse que está nesse altar, a que quer roubar o pai e a mãe a sua filha?

(Para os circundantes:) Vós quem sois, espectros fatais?... quereis-mos tirar dos meus braços?... Esta é a minha mãe, este é o meu pai... Que me importa a mim com o outro? Que morresse ou não, que esteja com os mortos ou com os vivos, que se fique na cova ou que ressuscite agora para me matar?

Responda às seguintes questões relativas ao tex-to acima:

a) Qual a relação entre a cerimônia a que Maria se refere e o título da peça Frei Luís de Sousa, de Garrett?

b) Que relação existe entre o outro e D. Sebastião?

2. (FUVEST – SP) O autor de Lendas e narrativas per-tenceu ao movimento romântico.

a) Quem foi ele?

b) Em que época se passam as Lendas e narrativas?

3. (FUVEST – SP) O medievalismo, a valorização do passado pátrio, a recriação de lendas tradicionais ibéricas constituíram um aspecto importante dos programas estéticos de:

a) Almeida Garrett e Alexandre Herculano;

b) Guerra Junqueiro e Júlio Dinis;

c) Barbosa du Bocage e Antônio Vieira;

d) Eça de Queirós e João de Deus;

e) Antero de Quental e Cesário Verde.

4. Na conclusão de A queda dum anjo, o narrador assim se refere a Calisto Elói:

Deixá-lo ser feliz: deixá-lo, Calisto Elói, aquele santo homem lá das serras, o anjo do fragmento paradisíaco do Portugal Velho, caiu.

BRANCO, Camilo Castelo. A queda dum anjo. Rio de Janeiro: Ediouro. p. 110.

Apresente pelo menos duas razões que teriam le-vado o narrador a caracterizar Calisto Elói, antes da queda, como “o anjo do fragmento paradisía-co do Portugal Velho.”

5. Em A queda dum anjo há uma profunda trans-formação sofrida pelo personagem principal, Calisto Elói. Qual o motivo dessa transformação e qual o seu sentido no contexto geral da obra?

6. Na conclusão de A queda dum anjo o narrador despede-se com as seguintes palavras:

Na qualidade de anjo, Calisto, sem dúvida, seria mais feliz, mas, na qualidade de homem, a que o reduziram as paixões, lá se vai concertando me-nos mal com a sua vida.

Eu, como romancista, lamento que ele não viva muitíssimo apoquentado, para poder tirar a lim-po a sã moralidade deste conto [...].

CASTELO BRANCO, Camilo. A queda dum anjo. Rio de Janei-ro: Ediouro. p. 110.

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Que relação há entre o primeiro e o segundo parágrafos, e que interpretação podemos fazer da falta de sã moralidade do conto, lamentado pelo narrador?

7. (MACK – SP) Assinale a alternativa incorreta so-bre a obra de Camilo Castelo Branco:

a) Em Amor de perdição, os sentimentos se sub-metem aos preconceitos e se põem em luta com as convenções sociais.

b) A queda de um anjo é uma narrativa de cará-ter satírico e humorístico.

c) É uma das obras mais férteis da literatura portuguesa, pois nela encontramos poesia, teatro, crítica literária, ensaios, memórias, no-velas e romances.

d) A pequena-burguesia do Porto é enfoque comum em sua novelística.

e) Apega-se exclusivamente ao real, sem se trans-portar para o domínio imaginário.

8. (UNICAMP – SP) Leia com atenção o trecho abaixo, extraído do último capítulo de Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco:

Viram-na, um momento bracejar, não para resis-tir à morte, mas para abraçar-se ao cadáver de Simão, que uma onda lhe atirou aos braços. O comandante olhou para o sítio donde Mariana se atirara, e viu, enleado no cordame, o avental, e à flor d‘água, um rolo de papéis que os marujos recolheram na lancha.

a) Que relação há, em Amor de perdição, entre as personagens Simão e Mariana?

b) No trecho citado, o narrador menciona um “rolo de papéis”. Que papéis são esses?

c) Considerando as respostas dadas aos itens a) e b), analise a função desempenhada pela per-sonagem Mariana na estrutura do romance.

9. (UFPA) Dois homens ergueram o morto ao alto so-bre a amurada. Deram-lhe o balanço para o arre-messarem longe. E, antes que o baque do cadáver se fizesse ouvir na água, todos viram, e ninguém já pôde segurar Mariana, que se atirara ao mar. À voz do comandante desamarraram rapidamen-te o bote, saltaram homens para salvar Mariana.Salvá-la!Viram-na, um momento, bracejar, não para re-sistir à morte, mas para abraçar-se ao cadáver de Simão, que uma onda lhe atirou aos braços.O comandante olhou para o sítio donde Mariana se atirara, e viu, enleado no cordame, o avental, e à flor d’água um rolo de papéis que os marujos recolheram na lancha. Eram, como sabem, a cor-respondência de Teresa e Simão.

O texto em destaque focaliza o epílogo do ro-mance Amor de perdição. Partindo do episódio apresentado, que relação você faz entre o des-tino de Mariana e o de Lúcia, protagonista de Lucíola, de José de Alencar? Justifique sua res-posta.

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Anotações