Trovante, Rio Grande, Vitorino, Resistência, Sétima...

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Trovante, Rio Grande, Vitorino, Resistência, Sétima Legião Arquivo de letras de música 28 de Janeiro de 2002 1

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Trovante, Rio Grande, Vitorino,Resistência, Sétima Legião

Arquivo de letras de música

28 de Janeiro de 2002

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Conteúdo

125 azul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4Aerograma (Põe o meu retrato...) . . . . . . . . . . 6A fisga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7A hora do lobo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8Além-Tejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9Ao canto da noite . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10Ao fim ao cabo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12Aquele Inverno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13Aqui não me parece . . . . . . . . . . . . . . . . . 15A reconquista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16Assalto (ao beijo armado) . . . . . . . . . . . . . . 17Às vezes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19A última festa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21Ausência e tu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22A veza mais próxima do fim . . . . . . . . . . . . 23Benção de ser homem . . . . . . . . . . . . . . . . 24Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto 26Canção para a minha filha Isabel adormecer quando

tiver medo do escuro . . . . . . . . . . . . . 28Chave dos sonhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29Cinco estradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30Com um desejo só . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31Contos do príncipe Real . . . . . . . . . . . . . . . 32Delicada da cintura . . . . . . . . . . . . . . . . . 33Diz a laranja ao limão . . . . . . . . . . . . . . . . 34Do fundo do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . 35E foi Dezembro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37Em 25 de Março . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39Em frente do sol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40Enquanto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41Enquanto dormes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43Eu hei-de amar uma pedra . . . . . . . . . . . . . 44Fado do Campo Grande . . . . . . . . . . . . . . . 45Fado Pessoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47Falei demais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49Feiticeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50Fim (Quando eu morrer) . . . . . . . . . . . . . . 51Fizeram os dias assim . . . . . . . . . . . . . . . . 52Flor de Maio (?) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53Foi como foi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54Fora de tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56Fragilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57Fui às sortes e safei-me . . . . . . . . . . . . . . . 58Guaguancó y fado . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59Horas de ponta e mola . . . . . . . . . . . . . . . . 60Imortais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61Laurinda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

2

Vou-me embora vou partir

Letra e música: popular: AlentejoIntérprete: Vitorino (?)

Vou-me embora, vou partir mas tenho esperançade correr o mundo inteiro, quero irquero ver e conhecer rosa brancae a vida do marinheiro sem dormir

E a vida do marinheiro branca florque anda lutando no mar com talentoadeus adeus minha mãe, meu amoreu hei-de ir hei-de voltar com o tempo

115

lundum mas se quiserem chamem-lhe fado

anda linda ...

114

Libre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64Linha da frente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65Memórias de um beijo (Lembras-me uma marcha

de Lisboa) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66Menina dos olhos de água . . . . . . . . . . . . . . 67Menina estás à janela . . . . . . . . . . . . . . . . 68Namoro II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69Não me atrevo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71Não sou o único . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72Nasce selvagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74Navegar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75Neva sobre a marginal . . . . . . . . . . . . . . . . 76No escuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77Noutro lugar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79O caçador da Adiça . . . . . . . . . . . . . . . . . 80Oh que janela tão alta . . . . . . . . . . . . . . . . 82Olhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83O melhor de mim . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84O menino da sua mãe . . . . . . . . . . . . . . . . 85Ó patrão dê-me um cigarro . . . . . . . . . . . . . 87O que vai ser . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88Os homens do largo . . . . . . . . . . . . . . . . . 89Os limites do mar . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90Para sempre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91Peter’s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92Por cima da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94Por quem não esqueci . . . . . . . . . . . . . . . . 96Porque não me vês Joana . . . . . . . . . . . . . . 97Postal dos correios (querida mãe, querido pai, ...) . 98Proscritos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99Quando me perco . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100Queda do Império (perguntei ao vento) . . . . . . . 101Quem disse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102Rua do Quelhas (homenagem a Florbela Espanca) . 104Saudades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105Senhora das rosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106Senta-te aí . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107Ser Poeta (Perdidamente) . . . . . . . . . . . . . . 108Sete mares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109Sombras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110Sospirastes Baldovinos . . . . . . . . . . . . . . . 111Timor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112Travessa do poço dos negros . . . . . . . . . . . . 113Vou-me embora vou partir . . . . . . . . . . . . . 115

3

125 azul

Música: João GilLetra: Luís RepresasIntérprete: TrovanteIn: ’Terra firme’ 87jj; <a href=’http://www.geocities.com/SunsetStrip/Alley/9516’>SkyMusic</a>

SolFoi sem mais nem

Domenos

Que um diaSolselei a 125

Doazul

Foi sem mais nem menosQue me deu para abalar sem destino nenhum

Foi sem graça nem pensando na desgraçaQue eu entrei pelo calorSem pendura que a vida já me foi duraP’ra insistir na companhia

O tempo não me diz nadaNem o homem da portagem na entrada da auto-estradaA ponte ficou deserta nem sei mesmo se LisboaNão partiu para parte incertaViva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuarSem paredes, sem ter portas nem janelasNem muros para derrubar

TalRevez

Faum dia me en

Docontre

Sol

AsResim

Fatalvez me en

Docontre

Sol

Curiosamente dou por mim pensando onde isto me vai levarDe uma forma ou outra há-de haver uma hora para a vontade de pararSó que à frente o bailado do calor vai-me arrastando para o vazioE com o ar na cara, vou sentindo desafios que nunca ninguém sentiu

Talvez um dia me encontreAssim talvez me encontre

Entre as dúvidas do que sou e onde quero chegarUm ponto preto quebra-me a solidão do olharSerá que existe em mim um passaporte para sonharE a fúria de viver é mesmo fúria de acabar

Foi sem mais nem menosQue um dia selou a 125 azulFoi sem mais nem menosQue partiu sem destino nenhumFoi com esperança sem ligar muita importância àquilo que a vida querFoi com força acabar por se encontrar naquilo que ninguém quer

4

Travessa do poço dos negros

Música: João GilLetra: Luís RepresasIntérprete: TrovanteIn: ’saudades do futuro’,1991

A histmimória que gente vos quer

sib7contar

aréconteceu um

ré7dia em Lis

dóboa

dóaonde o tempo corre deva

sib7gar

Chegamos era cedo à ribeiraainda todo o peixe respiravae a outra carne aos poucos definhava

o gemido do cordame das amarrasjuntava-se ao lamento dos porõese o que nos chega fora são canções

a gente viu sair muita gente que dançavaum estranho bailado em tom dolentemarcado pelo bater das corrente

mimanda

dólinda

ré7vamos pra

réver se é ver

dódade

que lá sesib7pode ouvir

dócantar

anda lindavamos ao poço dos negrospra ver quem pode lá morar

mais tarde fomos ter àquela parte da cidadeque é mais profunda do que maré baixae a lua só visita por vaidade

De novo a estranha moda se dançavaagora com suspiros de saudadeagora com bater de corações

anda linda ...

batiam-se com barriga e roçavam-se nas coxasos corpos já dourados de suore as bocas já vermelhas dos amores

quisemos nós saber qual é o nome desta modarespondeu-nos um velho já mirrado

113

Timor

Música: João GilLetra: João MongeIntérprete: TrovanteIn: ’Um destes dias’,1990jj

Lavam-se os olhos nega-se o beijodo labirinto escolhe-se o marno cais deserto fica o desejoda terra quente por conquistar

Nobre soldado que vens senhorpor sobre as asas do teu dragãobeijas os corpos no chão queimadonunca serás o nosso perdão

Ai Timorcalam-se as vozesdos teus avósAi Timorse outros calamcantemos nós

Salgas de ventres que não tivesteceifando os filhos que não são teusnobre soldado nunca sonhastever uma espada na mão de Deus

Da cruz se faz uma lança em chamasque sangra o céu no sol do meio diado meio dos corpos a mesma lamaleito final onde o amor nascia

Ai Timorcalam-se as vozesdos teus avósAi Timorse outros calamcantemos nós

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Mas Deus leva os que amaSó Deus tem os que mais ama

5

Aerograma (Põe o meu retrato...)

Música: João GilLetra: João MongeIntérprete: TrovanteIn: ’Sepes’Versos de Segunda

Deus queira que estaVos mate a fome aos sentidosPor agora

Deus queira que estaVos guarde a dor aos gemidosNoite fora

Dançamos fandangosSobre uma navalhaPássaros em bandoEm nuvens de limalha

E assim eu cá vou indo.

Vem-me o fel à bocaAs tripas ao coraçãoA noite trás a forca pela sua mão

Sonho com fantasmasDe pele preta e luzidiaCom manuais de coragem e cobardia

Dizem que há sempreUm barco azul para partirNosso hinoEmbarca a almaE os restos de um rosto a sorrirDo destino

Põe o meu retratoNo altar de S. JoãoE uma vela com formato de canhão

Cansa-se esta escritaCom dois dedos num baraçoAssim o quis a desditaVai um abraço.

6

Sospirastes Baldovinos

Letra e música: Luyz MylanIn: ’romances’, 1980 (Vitorino, Pedro Caldeira Cabral)(romance renascentista)Praça das flores

Sospirastes BaldovinosLas cosas que yo mas queriaO teneis miedo a los morosO en Francia teneis amiga

No tengo miedo a los morosNi en Francia tengo amigaMas tu mora y yo cristianoHazemos muy mala vida

Si te vas con migo eu FranciaTodo nos sera alegriaHare justas y torneosPor servirte cada’l dia

Y veras la flor del mundoDe mejor cavalleriaYo sere tu cavalleroTu seras mi linda amiga

111

Sombras

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Represas’ EMI 1993lr

Sorrateiras sombras entre o nevoeiroEsgueiram-se furtivas sem deixar vestígioFogem quando os uivos das sirenes friasComo o azul que deitam lhes aguça a vida

Nem o frio conta como companhiaO orvalho borda a colcha de uma cama fugidiaOs dias ao contrario são as noites do avessoSão as febres ao começo do inferno em delírio

Às vezes têm fome de saber ter fomeE gritar por quem a fome lhes saciaOu o medo esmaga comum beijo quenteE com uma carícia adoça a angustia de ser gente.

Os olhos vêm longe quando estão fechadosE até lhes trazem cheiros que há muito não sentiam.Há muito não é tanto porque o tempo ainda é poucoe enquanto os olhos sonham não lhes dão cuidados.

Sentem-se insensíveis e desafiantesNada, nem os homens, pode causar danoA vida não ficou pior do que era dantesNem vai ficar melhor com o fechar dos panos

110

A fisga

Música: João GilLetra: João MongeIntérprete: Tim; Rio GrandeIn: ’Rio Grande’ 1996jj, Luís Garção Nunes, Kim Moreira

CTrago a fisga no bolso de trás

E na pasta o caderno dos deveresG7

Mestre-escola, eu sei lá se sou capaz

De escolher o melhor dos dois saCberes

CO meu pai diz que o Sol é que nos faz

Minha mãe manda-me ler a liçãoF

Mestre-Dmescola, eu sei lá se sou capaz

G7

Faz-me falta ouvir outra opiniãoC

Eu atéEnem sequer sou mau rapaz

Am

ComEmaneiras até sou bem mandado

Am A7

Mestre-Dmescola diga lá se for capaz

G7

Pra queGlado é que me viro. Pra que lado?

C

Trago ...

htmlnnota: correção aos acordesos acordes das músicas do Rio Grande não estão correctos. Aqui vai alista correcta dos acordes.<pre>versos: C G C C7

ou ainda (outra tonalidade)[Sol][Re7][Re][Sol][Sol][Do][Lam][Re7][Re][Sol][SI][Mim][SI][Mim][Lam][Re7][Re][Sol]</pre>

7

A hora do lobo

Letra e música: Luís RepresasIn: ’A hora do lobo’ BMG 1998lr(Galamares, 29-12-1997)

Se todos os desejos fossem medosE todos os teus gritos vagabundosE todos os teus gestos só enredosDe uma novela fora deste mundo

Se todos os teus choros fossem raivaE os dedos fossem pontas de navalhaOs olhos, de repente, a luz que cravaA lança quando o coração te falha

Se a luz do teu sorriso fosse fogoE o som da tua voz fosse um punhalQue brilha ao escuro na Hora do LoboQuando um suspiro sopra um vendaval

Espero por tiNa Hora do LoboQuando as nossas sombras são iguaisEspero por tiNa Hora do LoboSe estamos juntos não somos demais

Se todos os teus passos fossem grandesCorrendo todo o mundo num só saltoE os braços fossem asas esvoaçantesDa Águia que vigia lá no alto

Se todas as fraquezas fossem forçasDaquelas que rebentam as muralhasQue crescem pelo meio das tuas rotasE que te põem dentro das batalhas

Se toda a tua vida fosse tuaE o teu destino fosse teu refémSe a Terra toda fosse a tua ruaE a tua rua fosse de ninguém

8

Sete mares

Letra e música: Sétima LegiãoIn: ’Mar D’Outubro’

Tem mil anos uma históriade viverHá mil anos de memória a contarai, cidade á beira-marazul

Se os mares são só setehá mais terra do que mar ...Voltarei amor com a força da maréai, cidade à beira-marao Sul

HojeNum vento do NorteFogo de outra sorteSigo para o SulSete mares

Foram tantas as tormentasque tivemos de enfrentar...Chegarei amor na volta da maréai, troquei-te por um marazul

HojeNum vento do Nortefogo de outra sorteSigo para o SulAzul

nota:

<pre>Ricardo Camacho - Teclas,guitarra e programação rítmicaPedro Oliveira - Voz e GuitarraRodrigo Leão - BaixoGabriel Gomes - AcordeãoColaboração de Luís San Payo - PercussãoColaboração de Francis - Guitarra</pre>

109

Ser Poeta (Perdidamente)

Música: João GilLetra: Florbela EspancaIntérprete: TrovanteIn: ’Terra Firme’ 87Versos de Segunda (jeito de jj)

Ser poeta é ser mais alto, é ser maiorDo que os homens! Morder como quem beija!É ser mendigo e dar como quem sejaRei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendorE não saber sequer que se deseja!É ter cá dentro um astro que flameja,É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!Por elmo, as manhas de oiro e de cetim...É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...É seres alma, e sangue, e vida em mimE dize-lo cantando a toda a gente!

108

Além-Tejo

Letra e música: Sétima LegiãoIn: ’Mar D’Outubro’

Nas terras do Além-Tejoao fim dos vales, um monteQuatro noites para um rioencontrei-te junto á ponte...

Do passado de um rioficou por contar a primeira vezO passado de um rioficou de voltar outra vezPassaste como um rioque eu cantei e me deixou aquipassaste como um rioe eu não sei passar sem ti...

Soube o teu nome além Tejotalvez fosses quem perdiPassaste como um rioe hoje não passo sem ti

Nota:

Rodrigo Leão - GuitarraPedro Oliveira - Voz e BaixoRicardo Camacho - TeclasNuno Cruz - BateriaGabriel Gomes - AcordeãoPaulo Gabriel - Flautacolaboração de Marco Santos e Francis - Coros

9

Ao canto da noite

Letra e música: Luís Represaswww.luisrepresas.com(Galamares, 20-10-99)

Ao canto da noiteEsperava o diaQue fossem horas de a ver chegar

Ao canto da noiteJá desesperavaEm todos os cantos que deixou p’ra trás

Esperava como diaComo tardeOu até como amanhã

Esperava ao ver-se ontemjá levado em braçosPelo pôr do Sol

Ao canto da noiteJá ninguém ficavaA fingir que faz poemas a ninguém

Ao canto da noiteJá ninguém deixavaFugir desabafos por perder alguém

Só quem passasseE olhasse para o nadaVia um vulto que se esconde

Por trás do nadaO dia esperaComo escravo do horizonte

EsperaNo fundo do canto da noiteFogeP’ra longe do canto da noite

Ao canto da noitePensava o diaQue se podia um dia apaixonar

Se houvesse outro diaQue para ele olhasseE se deixassem os dois abandonar

10

Senta-te aí

Música: João GilLetra: João MongeIntérprete: Jorge Palma; Rio GrandeIn: ’Rio Grande’ 1996jj

Senta-te aí

Está na hora de ouvires o teu paiPuxa para ti essa cadeiraCada qual é que escolhe aonde vaiHora-a-hora e durante a vida inteira

Podes ter uma luta que é só tuaOu então ir e vir com as marésSe perderes a direcção da LuaOlha a sombra que tens colada aos pés

Estou cansado. Aceita o testemunhoNão tenho o teu caminho pra escreverTens que ser tu, com o teu próprio punhoEra isso o que te queria dizer

Sou uma metade do que eraCom mais outro tanto de cidadeVou-me embora que o coração não esperaÀ procura da mais velha metade

107

Senhora das rosas

Letra e música: Sétima LegiãoIn: ’de um tempo ausente’, 1989A. Guimarães

86

Se − nho − ra quem cha − mais quan − do pas − so’ao vos − soSe − nho − ra quem o − lhai pon − do’os o − lhos no pas −

la − do Não há ro − sas pra vos darsa − do te − nho’al − guem por quem espe − rar

Senhora quem chamaisquando passo ao vosso ladosenhora quem olhai pondoos olhos no passado

Senhora é bom esqueceresse triste amor ardentepoois não sabeis viverao sabor do amor ausente

Não há rosas pra vos dartenho alguém por quem esperar

Senhora o meu amornão vive num castelosenhora o meu amoré doutro olhar mais belo

Eis as rosas que lhe vou darhá mil rosas pra eu lhe dar

106

Ao canto de uma noiteSem ter medosSem ter regras a cumprir

Depois fugir do cantoSem destinoSem ter rotas a seguir

Já se ouviu contarQue nesse canto mora a almaDe outras tantas almasDe outros cantosDe outras noites

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Ao fim ao cabo

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Represas’ EMI 1993

Ao fim ao cabo a LuaJá nos pareceu mais clara,Porque antes em redorA noite era negro carregada !E como se fosse luzAo fundo do túnel prometidaAvançamos sem medoE com vontade !

Se os passos eram longosOutros mais longos fomos darAté que outros mais longosFossem possíveis de alcançarPois passo atrás de passoTambém os rios vão dar ao marSeguros de que não podem regressar.

VaiSem desistir de procurarVerSe os trilhos ainda estão marcadosVai reviver as estradas velhasE apontar o rumo de outras novas estradas

Desapareceram vidasE companhias costumeirasAlgumas por trocarem por companhias derradeirasMas mesmo assim persistem apresentadas nas fileirasGuardando o cofre das recordações.

E dia a dia o tempoSe desintegra e se recria,E as horas para trásChamam-se noite ou gritam dia.O Galo não se importaCom o despertar da Cotovia-Afinal, é livre de dizer Bom Dia !

12

Saudades

Letra e música: Sétima LegiãoIn: ’Mar D’Outubro’

Das janelas da cidadeamei-te como ninguémForam tempos sem idademas quem teve, hoje não tem...

Saudades, triste fadoé tempo de te amarSaudades, cantam o fadoé tempo de voltar

Das janelas ao teu ladotão antigas, que eu amei,vou cantar este meu fadode viver o que sonhei

Saudades, triste fadoé tempo de te amarSaudades, cantam fadoé tempo de voltar

Saudades, triste fadoé tempo de te amarSaudades que serão fadose o tempo nos faltar

Nota:

Rodrigo Leão - Baixo e VozRicardo Camacho - Teclas, Guitarra acústica e Slide guitarPaulo Abelho - PercussãoPaulo Gabriel - Flauta e Gaita de FolesGabriel Gomes - AcordeãoPedro Oliveira - Vozcolaboração de Francis e Marco Santos - Coros

105

Rua do Quelhas (homenagem a FlorbelaEspanca)

Música: VitorinoLetra: Lobo AntunesIn: ’Eu que me comovo por tudo e por nada’,1992jj

Morre-se devagar neste paísonde é depressa a mágoa e a saudadeoh meu amor de longe quem me dizComo é a tua sombra na cidade

Morre-se devagar em frente ao Tejorepetindo o teu nome lentamentecintura com cintura, beijo a beijoe gritá-lo, abraçado, a toda a gente

Morre-se devagar e de morrerfica a cinza de um corpo no olharoh meu amor a noite se vieré seara de nós ao pé do mar

104

Aquele Inverno

Letra e música: Miguel Ângelo; Fernando CunhaIntérprete: Delfins; ResistênciaHugo Dias

GHá sempre um pianoCum piano selvagemGque nos gela o coraçãoDe nos trás a imagemamdaquele invernoCnaquele inferno

Há sempre a lembrançade um olhar a sangrarde um soldado perdidoem terras do Ultramarpor obrigaçãoaquela missão

Combater a selva sem saber porquêG D C am

e sentir o inferno a matar alguémG D C am

e quem regressouG D

guarda sensaçãoG D

que lutou numa guerra sem razão...Am D

sem razão... sem razão...G

Há sempre a palavraa palavra ’nação’os chefes trazem e usampra esconder a razãoda sua vontadeaquela verdade

E para eles aquele invernoserá sempre o mesmo infernoque ninguém poderá esquecerter que matar ou morrerao sabor do ventonaquele tormento

Perguntei ao céu: será sempre assim?poderá o inverno nunca ter um fim?não sei respondersó talvez lembrar

13

o que alguém que voltou a veio contar... recordar...recordar...Aquele Inverno

14

porque te amava?

Quem disseque esta paixão te espantaria?

Quem pensouque esta saudade me rasgava?

Que tudo era diferentese te viaQue o pior era saberque aqui não estavas?

Quem disseque esta ternura te devia?

Quem pensou que este saberse enganava?

Neste langor crescenteque cresciaNeste entender de nósque cintilava?

103

Quem disse

Música: Luís RepresasLetra: Maria Teresa HortaIn: Galamares, 30 de Janeiro de 2000

Quem disseque esta ausência te devia?

Quem pensouque esta denúncia se enganava?

Que um dia era piorque outro diaQue à noite era melhorporque sonhava?

Quem disseque esta dor te pertencia?

Quem pensou que este amorme perturbava?

Que o longe era mais pertose fugiasQue o dentro era mais longeporque estavas?

Quem disseque este ardor te evidência?

Quem pensou que esta pename cansava?

Que calar era piorse te despiaQue gritar era piorse te largava?

Quem disseque esta paixão me curaria?

Quem pensouque esta loucura me passava?

Que deixar-te era pazporque corriaQue querer-te era mau

102

Aqui não me parece

Letra e música: Luís Represas(Galamares, Dezembro 1999)

Aqui não me parece que haja faltasOu ausência de carinhos entre os doisAqui não me parece que o vazioDescubra uma janela para entrar

Aqui não me parece que as parecençasPareçam mais reais do que a verdadeAqui não me parece que as diferençasNão sejam coincidências de igualdades

Aqui não me parece que as maniasSejam donas dos nossos desafiosAqui não me parece que os bons diasNos acordem mais ou menos frios

Só me parece bemTudo o que em nós existeE nos vem à memória

Só me parece bemO que no fundo visteE não passou à história

Aqui não me parece que uma cartaTenha a força que já teve outroraAqui não me parece que os recadosNão venham a não ser pela boca fora

Aqui não me parece que haja medosNem falta de palavras ou expressõesAqui não me parece que se esqueçamOs códigos dos nossos corações

15

A reconquista

Letra e música: Sétima LegiãoIn: ’Mar D’Outubro’

Dos mares da Irlanda e das costas da Bretanhavão partir velas ao SolHá bandeiras desfraldadas, torres, lanças, brilham espadasvão reconquistar o SulOs Celtas que vão partirquando o Sol nascer...Grinaldas nas ameias, ardem asque não nos podem queimarGaiteiros enfeitados, vão tocar cantos passadospor aqui vai começare vem dançar, vem dançaraté o sol nascerDas ribeiras da Galiza, através da Ibéria antigaem nome dos nossos Reisretomar as fortalezas, ’Sant’Iago e aos Mouros’para impor as nossas leisos Celtas que vão partirquando o mar crescer...Ignorem-se os presságios que nos falam de naufrágiosvão partir velas ao solSão guerreiros enfeitados que ao som de cantos passadosvão reconquistar o SulMas vem dançar, vem dançaraté o sol nascer...

Dos mares da IrlandaGaiteiros GuerreirosBandeiras FogueirasCastelos Reconquista

Nota:

Rodrigo Leão - Baixo e CorosPedro Oliveira - Voz e GuitarraNuno Cruz - BateriaPaulo Gabriel - Gaita de foles e bombardaPaulo Abelho - PercussãoRicardo Camacho - Teclas e guitarra acústicacolaboração de Francis e Marco Santos - Coros

16

Queda do Império (perguntei ao vento)

Letra e música: VitorinoIn: Flor de la mar/1983Aveiro, Luís Jordão

PeCrguntei ao ve

Amnto

OnFde foi encontra

Gr

MaEgo sopro enca

Amnto

NaDu da vela em cru

Gz

Foi nas onFdas do ma

Cr

Do mundo inteiAmro

TeFrras da perdição

G

PaErco império mil a

Amlmas

Por pauFde cane

Cla e ma

Gzagão

C

PaEta de negrei

Amro

TiDra e foge à mo

Grte

Que a soFrte é de que

Cm

A terra amouAm

EFno peito gua

Grdou

CheiEro a mata ete

Amrna

LarFanja, Lua

Cnda

SeGmpre em flor

C

101

Quando me perco

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Cumplicidades’ EMI 1995

Quando me percobusco um abrigoou um tecto que não tolha os meus sentidosE se o teu céu, por ser maior,cobrir o pranto?eu vou!

Quando me pecosigo uma estrelaque não brilha igualem todo o firmamento.E se cair para lá das ilhas encantadas?eu vou!

Se o teu nome não fosseo do pecado,ou da benção que o céuhoje me deu,nem por montes,nem por maresonde o sol nunca nasceu,perderia o rastode um sorriso teu!

Quando me percosigo uma vozque me chama bem do fundodas certezas.Mesmo que cheguecomo um canto de sereia?eu vou !

Quando me percoou se me encontro,ou se me der para ser banaltal como agora,tudo não passada vontade de dizer?eu estou !

100

Assalto (ao beijo armado)

Letra e música: Luís RepresasIn: ’A hora do lobo’ BMG 1998lr(Galamares, 23-27/11/1997)

O dia nasceumais cedo que eu esperava,e nem me deu tempode esconder a luz que entrava.A noite correudepressa demaise nem fez questão de me avisar.

Ainda dormiano ar, aconchegado,um cheiro tão docede um segredo bem guardado.Nem cara, nem nome,nem voz, nem silêncio.Nem mesmo a lembrança de um recado.

O corpo,a alma,alguém os levou de mim.Sem medo,com calma,quem foi que me teve assim?

Sem marcas na camanem cabelos na almofada,nem traços de lamano tapete da entrada.Nem copos vazios,nem cigarros frios,nem rasgos profundos na guitarra.

Alguém me deixouvoltar desamparadodo fundo do sononum assalto ao beijo armado.Um crime perfeitosem ter um suspeitonem provas do tanto que roubou.

Ferido de morte neste assalto-podia o tiro ser de amor!Porque de amor já ninguém morre...só de um desejo matador!

17

18

Proscritos

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Represas’ EMI 1993

Descaíram braçosficamos sem contar o restoque se passou outroraapagamos traçosficamos sem notar os vincosna carne da memória

Já tapamos os quadrosaconchegamos os lençóisdas figuras principaise beijamos as testasremetendo p’ra bons sonhosas lembranças ancestrais

Somos proscritossenhores da face escura dos soisjá nos quiseram benditosjá nos amaram como heróis

Até jánão suportamos tantovoltamos jádesarrumados do cantojá é depoissomos os filhos do espantojá estamos cáainda nos resta um encanto

Como demónios vamosSobrevoando as partiturasdas cabeças geniaiscomo toupeiras vamosadivinhando com angústiaos passos débeis e finais

Estaremos jáDe pés e mãos atadosA um conforto qualquerOu então esquecemosQue viver merece a lutaQue merece uma mulher

99

Postal dos correios (querida mãe, que-rido pai, ...)

Música: João GilLetra: João MongeIntérprete: Tim; Rui Veloso; Rio GrandeIn: ’Rio Grande’ 1996jj, Luís Garção Nunes, António Pinho

QueridaGmãe, querido pai. Então que tal?

Bm

Nós andamosCdo jeito que Deus quer

Am

EntreCdias que passam menos mal

G

EmLá vem um

Dque nos

(C)dá mais que fazer

G

Mas falemos de coisas bem melhoresA Laurinda faz vestidos por medidaO rapaz estuda nos computadoresDizem que é um emprego com saída

Cá chegou direitinha a encomendaPelo ’expresso’ que parou na PiedadePão de trigo e linguiça pra merendaSempre dá para enganar a saudade

Espero que não demorem a mandarNovidade na volta do correioA ribeira corre bem ou vai secar?Como estão as oliveiras de ’candeio’?

Já não tenho mais assunto pra escreverCumprimentos ao nosso pessoalUm abraço deste que tanto vos querSou capaz de ir aí pelo Natal

Nota: correcção dos acordes

os acordes das músicas do Rio Grande não estão correctos.Aqui vai a lista correcta dos acordes.

1.a parte : D F#m G Em G D A D2.a parte : G Bm C Am C G D Gna parte final : C G D G e acaba em D

98

Às vezes

Letra e música: Luís Represas

Às vezes conto as horasda cabeça aos pésda velada solidão

Enquanto ardeo escuro não se vê

Às vezes pinto a carade uma côr solenesó para me entreter

A ver se vejo o que se vê

E são vezes sem contaque me sento a lersegredos que refaço por prazer

Estão escritos numa folha de arque respirei

Às vezes saio em braçosa cantar vitóriade uma luta desigual

Só eu sei como se luta de memória

E são mais de mil vezesvezes outras milque adormeci ao somde uma surdez gentil

Que afunda ainda mais o sono no vazioe me passeia pelo meu lado menos frio

Quando me vires assimpoupa-te ao esforçonão tentes guardar recordações de mim

Quando me vires assimnão é por castigoé porque aprendicontigoa não procurar abrigo

19

e assim estar mais junto de ti

Às vezes tenho o telemóvel da cabeçadesligado na centralque está na terra á minha espera

À espera dos recados dos sentidosque chegam de todos os lados

O coração é uma caixa postal

Não espero que o Sol venhap’ra me confundirquando se veste de noitee convida a fugirdo certo ou do erradoou do ainda pior

Às vezes faço eu as regras a seguir

Num gesto lento e meio raroafasto cortinas de luzvejo-te a sombra do vestido

Volto do fim do medo ao mundovolto do fim do mundo à esperade te encontrar ainda aqui

20

Porque não me vês Joana

Letra e música: popular: AlentejoIntérprete: VitorinoIn: ’Não há terra que resista - Contraponto’, 1979Victor Almeida (Elvas)

Porque não me vês JoanaPois sabem que meu desejoCrece quando não te vejo

Cresce se estou na cidadeE não me deixa no matoNão sei se me resguardeE de tudo me recato

Não me custa tan baratoO dia que te não vejoQue não morra de desejo

97

Por quem não esqueci

Letra e música: Sétima Legião (?)Intérprete: Sétima LegiãoIn: ’de um tempo ausente’, 1989Nuno Jacinto

Acordes:Lá Sim7Mi7 Lá

[4x]Lá Dó#m7Sim7Lá

[3x]/Mi7 Lá

Lá Sim7Mi7 Lá[3x]

Lá Dó#m7Sim7Lá

Há uma voz de sempre,Que chama por mim.Para que eu lembre,Que a noite tem fim.

Ainda procuro,Por quem não esqueci.Em nome de um sonho,Em nome de ti.

Procuro à noite,Um sinal de ti.Espero à noite,Por quem não esqueci.

Eu peço à noite,Um sinal de ti.Quem eu não esqueci...

Por sinais perdidos,Espero em vão.Por tempos antigos,Por uma canção.

Ainda procuro,Por quem não esqueci.Por quem já não volta,Por quem eu perdi.

96

A última festa

Letra e música: Luís RepresasIn: ’A hora do lobo’ BMG 1998lr(Galamares, 28-10-97)

Era uma pérola maisque ia passandode concha em concha

E ao passarsó ficavamconchas fechadas para não voltar.

Um dia, ao de leve, o mar abriua boca á Sereia da Paixão.E assim nasceu mais um sorrisoque se abre a quem vive em solidão

Por cada pérola maisque encontre o destinoda tua boca

Por cada beijo que houversentidoo desejo de uma resposta.

Que sopre outra vez em turbilhõese faça estoirar os corações,e regue os desertos das almasque bebem dos rios de ilusões

Toma de assalto o que restaDança na ultima festaVoaQuem sabe se há espaçoe te espera um abraço ao chegar.

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Ausência e tu

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Cumplicidades’ EMI 1995lr(20/5/95)

A noite já não cai como caía dantesE a lua não se expõe com tanto avontadeAs ruas brilham menos por não ter brilhantesQue alguém roubou do guarda jóias da cidade

Cansadas estão as penas dos nossos poetasQue correm nos papeis em busca dos amantesP’ra lhes dar um motivo p’ra guiar as setasQue os cupidos que restam lançam delirantes

Só tu me dás motivos p’ra manter acesaA luz que brilha junto da minha janelaAlguma coisa quente e flores sobre a mesaAlgum amor que se consome numa vela

Já tudo em volta parece estar desertoContudo um cheiro intenso me revolve o fundoDa alma só me resta um desejo certoDe me saber sozinho contigo no mundo

Se o sol tiver a força que duvido terDe matar as dúvidas que a noite temCertamente um olhar se trocará com outroAdivinhando um beijo que decerto vem

22

De se ressuscitar

VoltouPor cima de tudoDesfraldando vidaCavalgando o sonhoE na berma da estradaNem ele se lembraDe si

95

Por cima da vida

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Cumplicidades’ EMI 1995(8/5/95)

DeixouNa berma da estradaUm resto de tudoUm rastoDe tudo o que era seuE nada lhe diziaAdeus

E nem olhouPor cima do ombroPor cima da vidaPor baixo dos sonhosQue há muito as incertezasPerdeu

Atrás de si só terraQueimada pelo vícioDe esperar muito mais de siAtrás de si só um sinalQue os homens lhe mostraram’o mundo para ti termina aqui’

Em frenteTanto mais é longoO diaQuanto mais for cegaA falta de paixãoQue se transforma em frioE dor

SonharMesmo sem dormirMesmo sem ser noiteMesmo sem ter diasMesmo sem sonharÉ como se outra vidaVier

O coração só se negaQuando o sonho se entregaP’ra se desesperarPor cada desespero um sonhoPor cada sonho uma vontade

94

A veza mais próxima do fim

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Represas’ EMI 1993

Teus olhos amanheceramcomo ontem, como sempre,mas com um brilho diferente,sincero, lindo e presenteque quase temi por elesou antes temi por mim

Afinal correram anos.E podemos complicar;se em vez de anos foicem horaso peso já era grandepara o tempo levar sobre as asaso tempo que fez passar.

Temi por mim.

Porque as vezes que amanhecerame que se abriram assimse calhar já foram tantasse calhar já foram sempreque temi que fosse aquelaa vez mais próxima do fim

Enquanto o temor fizercom que a angústia me invadanão posso querer mais nadaa não ser querer reverigual que ontem e sempreo brilho sincero e presenteque amanheceu para mim.

23

Benção de ser homem

Letra e música: Luís RepresasIn: ’A hora do Lobo’ BMG 1998lr(Galamares, 4/12-12-1997)

Quem subir ao cimo dessas dunashá-de ver o maronde eu pescava um diasem saberque pescar é benção de ser Homeme ser Homem éa benção de poder viver de pé.

Já muitas campas eu pisei sem querere outras eu abri cedo de maisse alguém me obriga a ir além fronteiraseu me assumo aquicomo mais um dos animais.(...quisera eu que fôssemos iguais)

Quem subir ao cimo desse montehá-de ver a terraonde eu lavrava sonhos sem saberque lavrar é benção de ser Homeme ser Homem éa benção de poder sonhar de pé

Já muitas vidas eu levei sem querere outras eu roubei cedo demaisse alguém me obriga a ir além fronteirasfujo como fogequalquer um dos animais.(...quisera eu que fôssemos iguais)

Fecho a fronteira p’ra lá de mimolho-me em ti p’ra me verjuro que a paz não faz parte de um sonhoespero por ti p’ra vencer

Quem descer o curso desse riohá-de ver as margensonde eu amei um dia sem saberque amar é benção de ser Homeme ser Homem éamar a benção de quem nos quiser

Já muita esperança eu tirei sem querere outras eu vivi cedo demais

24

p’ra me embalarno meu repousode aventureiro

[refrão]

93

Peter’s

Música: João GilLetra: Luís RepresasIntérprete: Trovantejj

Encontro uma Ilhaserá maravilha ou temo que ninguém deudurante a viagemp’ro outro lado

É mais outra ilhaserá que é mais outro portoem que se bebeue se esqueceuum outro fado

[refrão=]

Há quem espere por nós assimmesmo ao meio da rota do fimhá quem tenha os braços abertospara nos aquecere acenar no fim

Há quem tema por nós assimquando os barcos partem por fimhá quem tenha os braços fechadoscom beijo juradoeu voltarei pra ti

Nunca é miragemsabemos que o cais é certoé a estrela polarem sol abertoa castigar

Ficamos mais pertosentimos mais dentro a forçado que nós somose do que queremosreconquistar

[refrão]

Dança de nuvenso vento é meu companheiro

92

ninguém me obriga a ir além fronteirasonde ninguém se amanem o melhor dos animais.(...quisera eu que fôssemos iguais)

25

Bolero do coronel sensível que fez amorem Monsanto

Música: VitorinoLetra: Lobo AntunesIn: ’Eu me comovo por tudo e por nada’, 1992Victor Almeida

Eu que me comovoPor tudo e por nadaDeixei-te paradaNa berma da estradaUsei o teu corpoPaguei o teu preçoEsqueci o teu nomeLimpei-me com o lençoOlhei-te a cinturaDe pé no alcatrãoLevantei-te as saiasDeitei-te no bancoNum bosque de faiasDe mala na mãoNem sequer falasteNem sequer beijasteNem sequer gemeste,Mordeste, abraçasteQuinhentos escudosFoi o que dissesteTinhas quinze anosDezasseis, dezasseteCheiravas a matoÀ sopa dos pobresA infância sem quartoA suor, a chicleteSaíste do carroAlisando a blusaEspiei da janelaRosto de aguarelaCoxa em semifusaSoltei o travãoVoltei para casaDe chaves na mãoSobrancelha em asaDisse: fiz serãoAo filho e à mulherRepeti a frutaAcabei a ceiaLarguei o talherEstendi-me na cama

26

Para sempre

Letra e música: Luís Represas(Galamares 25 de Janeiro de 2000)

Já passaram tantos anosPela tua porta abertaJá viveste tantos sonhosE hoje ainda tens quem eras

Já o corpo perde o brilhoMas não deixas que se apaguemOs incêndios dos desejosE as estrelas de outra idade

Esquecida como um quadroNa parede maisJá não vez os mesmos olhosQue adoravam noite e dia

Foste a Deusa que deixavaSobre todos os altaresAs caricias mais ousadasQue ao amor sacrificavas

Ainda o vento sopra leveDiz que lá foraAinda podes voarDentro de tiSe olhares no espelhoEncontrarásA alma p’ra se amarEncontrarásP’ra sempre o teu olhar

Já ninguém te rouba ao sonoNum assalto de paixãoJá ninguém te oferece o diavolve o coração

Não encontras mais os versosEscondidos na almofadaQue diziam que eras tudoE hoje sentes que és mais nada

91

Os limites do mar

Letra e música: Sétima LegiãoIn: ’Mar D’Outubro’

No regresso dos naviostantas lendas que ouviu...Quis um rei ir encontraros limites do seu marII

Mar sem fundo, a dormiro fim do mundo há-de vir...Rei não fiques, vais agitaros limites do teu mar

Nota:

Rodrigo Leão - BaixoRicardo Camacho - Teclas e Guitarra AcústicaNuno Cruz - BateriaPaulo Abelho - PercussãoPedro Oliveira - Vozes e GuitarraGabriel Gomes - Acordeão

90

De ouvido à escutaE perna cruzadaQue de olhos em chamaSó tinha na ideiaTeu corpo paradoNa berma da estradaEu que me comovoPor tudo e por nada

27

Canção para a minha filha Isabel ador-mecer quando tiver medo do escuro

Música: VitorinoLetra: Lobo AntunesIn: ’Eu que me comovo por tudo e por nada’,1992jj

Nem sombra nem luznem sopro de estrelanem corpinhos nusde anjos à janelanem asas de pombosnem algas no fundonem olhos redondosespantados do mundonem vozes na ilhanem chuva lá foradorme minha filhaque eu não vou embora

28

Os homens do largo

Letra e música: VitorinoIntérprete: Janita SaloméIn: ’Vozes e Guitarras’, 97Victor Almeida (viola Pedro Jóia)

Não interessa o frio, já é hora das trindadesTosse ao desafio com os cãesColado à brancura da parede dos quintaisAinda mal se vê já aí vem

Uma bucha dura, navalhinha de cortarVenha mais um copo p’ra aquecerTem a alma fria de tanto tempo passarLá vem mais um dia p’ra esquecer

Sentado num banco, espera sempre o vento norteO sol posto ditaJá não espera mágoas nem dá danos a ninguémDorme e já não volta amanha

89

O que vai ser

Letra e música: Luís Represas(Galamares, 23-8-99)

Reconhecer o perigoReconhecer o malNão há pior instintoÉ como ser um cristal

Adivinhar um beijoDe um olhar sedutorAs coisas que antevejoTrespassam-me de temor

Acendem-se os sinaisRepetem-se os avisosUm ou dois passos maisOu só mais alguns sorrisos

Enquanto o nevoeiroÉ cada vez mais densoEntre o que ainda não disseE o que se calhar não penso

O que vai ser juro que viSair aquela porta e nem sequer se despedirO que vai ser juro que ouviDizer que este momento nunca passa além daqui

O Sol á meia-noiteCega mais que de diaSó quem nele se queimaÉ que sabe da agonia

Que vem assim de dentror tão friaComo um surdo lamentoComo uma maré vazia

E se deixasse cair os braçosOu lança-los em redor de tiE se deixasse enganar a almaE fosse o abismo que já previ

88

Chave dos sonhos

Música: Luís RepresasLetra: Sérgio GodinhoIn: ’Cumplicidades’ EMI 95(Novembro 95)

Luz sai da frincha, é manhãSei que o dia já desarvoraChave dos sonhos na mãoOlho-te e vais embora

Sais pela rua veloSinto a brisa do teu corpo pertoChave dos sonhos guardeiNo quarto já deserto

Passei a noite em claroPassei p’la noite em tiE abri com a chave dos sonhosA porta e a varanda que em sonhos abri

São mais confusas agoraAs imagens que em ti eu tocavaEram do sonho ou de olharO que o prazer mostrava ?

Chave dos sonhos na mãoEntrarei em qualquer fechaduraP’ra lá da porta, o melhorÉ sempre da aventura

Guardo com a chave dos sonhosSegredos que o corpo mereceSe alguém não quis arriscarEntão que o não tivesse

Ontem arriscaste maisDo que uma simples coisa exigiaDeste-me a chave dos sonhosO caos e a harmonia

29

Cinco estradas

Música: Rildo HoraLetra: Luís Represas(Galamares, 27 de Janeiro de 2000)

Já corremosAs cinco estradasJá juntamos muitas mãos p’la vida foraDescansar nunca foi ponto de chegadaE resistir foi sempre o porto de partida

CompanheiraDas cinco estradasComo cruz que carregamos na encruzilhadaTodas elas nos levaram à felicidadeDe estarmos juntos já no final desta jornada

Por cada estrada da vidaConstruímos um sonhoPor cada sonho outra vidaQue outra estrada andouUma foi feita de guerraE outra de acreditarOutra de dorOutra de amorOutra de Paz

Cinco estradasSem ter fronteirasOnde os medos e as paixões se olharam de frenteCinco gotas de suor outras de prantoFizeram rios que se juntaram no mesmo mar

30

Ó patrão dê-me um cigarro

Letra e música: popular: AlentejoIntérprete: VitorinoIn: ’semear salsa ao reguinho’, 1975

Ó patrão dê-me um cigarroAcabou-se o tabacoE o trigo que eu hoje entarroFumando dá mais um saco

Canta o melro no silvadoE o rouxinol na ribeiraÓ minha pombinha brancaQuero ir à tua beira

Quero ir à tua beiraQuero viver a teu ladoRola o pombo na azinheiraCanta o pardal no telhado

Se a morte fosse interesseiraAi de nós o que seriaO rico comprava a morteSó o pobre é que morria.

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dela) que se chama ’Passaros do Sul’ e onde ela ’põe’ musicaneste lindissimo poema, e faz uma coisa tão simples que setorna espectacular. Não sei se já ouviste alguma vez mas olhaque vale bem a pena. Acresnto só que o album tem a produ-ção e direcção musical de um Trovante que é o Manuel Faria(que também toca teclas em duas canções) e a participação deoutros ’Trovantes’ como José Salgueiro (bteria), Artur Costa(metais) e Fernando Judice (baixo), também de um homemque pertenceu à primeira formação dos Trovante (a de ’Baileno Bosque’) que é o João Nuno Represas. Além de outrosexcelentes musicos como: Antonio Ferro, Renato Junior, RuiLuís Pereira e Mario Gramaço.

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Com um desejo só

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Cumplicidades’ 1995(9/5/95)

Andavam passeandocomo se tudo fosse meuo céu, a rua, o ventoos beijos que alguém me ofereceu

Pareciam radiantese contentes de podersaltar o mundoe cruzar espaços que ficaram por se ver

Falavam dessas coisasque costumamos falarse é que falar é tão silenciocomo o que se ouve no ar

Voavam pelos cheirosque já não posso lembrare embalavam-me nas ondasque ainda cheiravam a mar

Os pensamentos vivemcom um desejo sóamarem-se por nadapor tudo ou por ninguémpoderem ver-se livressó por um instante e tercoragem de fazer o que euhá muito me esqueci.

Depois de já cansadosdebruçaram-se p’ra verse o meu cansaço ainda se consomenum desejo de te ver.

Assim, mais adiante,como se tudo fosse teujuntaram-se uns aos outrose partiram sem promessa de um adeus.

31

Contos do príncipe Real

Letra e música: VitorinoIn: ’Não há terra que resista’, 1979, para a Florbela EspancaVictor Almeida

No jardim do Príncipe Real(ainda hoje tenho de lá ir)Encontrei-me com fulana de talPus-me a ver as estrelas a luzir

Trocámos silêncios de mãos dadasConversámos com os olhos e o pensarEspreitavam-nos do quarto da criadaDo Palácio Italiano com portal

Mas um dia perdeu-se o coche vermelhoQue a princesa levava sempre ao jardimMeteu-se por caminhos que não têm fimPerco a esperança de à noite tornar a vê-lo

Novembro, maldito mês das almas,nesse ano nem o azul do céu poupaste,carregaste com nuvens de negro corte,Mas vamos rapazes depressa ao vinho,Porque ao vinho não o vence nem a morte

32

O menino da sua mãe

Música: Mafalda VeigaLetra: Fernando PessoaIn: ’Pássaros do Sul’, 1987Victor Almeida

No plaino abandonadoQue a morna brisa aquece,De balas trespassado- Duas, de lado a lado-,Jaz morto, e arrefece

Raia-lhe a farda o sangueDe braços estendidos,Alvo, louro, exangue,Fita com olhar langueE cego os céus perdidos

Tão jovem! Que jovem era!(agora que idade tem?)Filho unico, a mãe lhe deraUm nome e o mantivera:«O menino de sua mãe».

Caiu-lhe da algibeiraA cigarreira breveDera-lhe a mão. Está inteiraÉ boa a cigarreira.Ele é que já não serve.

De outra algibeira, aladaPonta a roçar o solo,A brancura embainhadaDe um lenço... deu-lho a criadaVelha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:’Que volte cedo, e bem!’(Malhas que o Império tece’)Jaz morto, e apodrece,O menino de sua mãe.

Nota:

Hoje estava eu muito sossegado no meu cantinho a ’dar umolho’ a Pessoa quando me aparece este poema. Lembrei-mede um excelente album de 1987 da Mafalda Veiga (o primeiro

85

O melhor de mim

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Cumplicidades’ EMI 1995(19/5/95)

Falei demaisQuando te quis mostrarQuem ficouEsperei demaisE afinal é quase nadaO que restou

E como foiEm tanta genteTanta gente confiouE se entregouComo se entrega ao ventoA nuvem que passou

Pensava que não pensavamE tudo ficava assim;Mas quando abri os olhosJá tinham pensado por mim!Pensava que não falavamE nada ficava por fim;Mas sempre tinham tentadoLevar o melhor de mim.

Como será ?Será que tudo isto se repetirá!?De quem seráQue a primeira gotaSe derramará!?

Quisera verQuisera ter só risos para recordarE entregarA alguém que saiba rirE nunca o que é chorar!

84

Delicada da cintura

Letra e música: popular: AlentejoIntérprete: VitorinoIn: ’Não há terra que resista - Contraponto’, 1979Victor Almeida (Redondo)

Delicada da cinturaComo a palha do centeioTu é que és a criaturaPor quem eu tanto vareio

Os olhos do meu amorSão duas azeitoninhasFechados são dois botõesAbertos duas rosinhas

Eu gosto dos figos lamposDa figueira rebeldiaGosto das moças do campoOlha a minha simpatia

Nas ondas do meu cabeloVou-me deitar a afogarÉ p’ra que saibas amorQue há ondas sem ser no mar

33

Diz a laranja ao limão

Letra e música: popular: AlentejoIntérprete: VitorinoIn: ’Não há terra que resista - Contraponto’, 1979Victor Almeida (Elvas)

Diz a laranja ao limãoQual de nós será mais doceSou fiel ao meu amorAssim ele p’ra mim fosse

Assim ele p’ra mim fosseFiel ao meu coraçãoQual de nós será mais doceDiz a laranja ao limão

34

Olhos

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Represas’ EMI 1993

O Arco Íris não me faz medose no fundo houver um pote em segredoque guarde a história dos homense esconda a história da vidados olhos dos predadores

Uma tempestade não me faz medoSe no ar houver uma força em segredoque anime a história dos homense guarde a história da vidados olhos dos predadores

O mar revolto não me faz medose a água não revela segredose benze a história dos homense lava a história da vidados olhos dos predadores

O vento norte não me faz medose a brisa sul disser em segredo- eu amo a história dos homense turvo a história da vidanos olhos dos predadores

A Lua Nova não me faz medose lá viver um Velho em segredoque oculte a história dos homense esconda a história da vidados olhos dos predadores

A selva inteira não me faz medoenquanto houver uma árvore em segredoque aqueça a história dos homense feche a história da vidaá estrada dos predadores

Os elementos que griteme a matéria se revoltee quem mais puder que ajudea dar novo brilho ao sol

83

Oh que janela tão alta

Letra e música: popularIntérprete: VitorinoIn: ’Romances’; 1991A. Guimarães (Arranjos: Pedro Caldeira Cabral)

Oh que janela tão altafeita de cal e areiaoh que menina tão lindanuma janela tão feia

Janela de pau de pinhoque a meu respeito te abristetorna-te a cerrar janeladisfarça que me não viste

Além naquela janelaeu a fiz eu a risqueia menina que lá morasó por morte deixarei

82

Do fundo do tempo

Letra e música: Luís RepresasIn: ’A hora do lobo’ BMG 1998lr(Galamares, 5-10-97)

Quero maisSentir assimO que o amor revelou.Sentir maisComo chegouSem se assustar com um fim.

Se ao menos forem as cores da LuaQue nos queimaram de leve,As marcas serão eternasEnquanto a vida quiser.

Quero maisOuvir assimSilêncios sem te tocar.Ouvir maisDentro de tiO que quiseres revelar.

Se ao menos forem os sons da LuaQue nos fizeram dançar,Os passos serão eternosEnquanto a vida tocar.

E se algum dia esqueceresO que a paixão te ensinou,Não vás procurar na LuaAí só descansa a dor.Procura o fundo do tempoA porta onde passouUm dia a felicidadeE para ti se fechou.

Quero maisSaber-te assimNum sono sem repousar.Cada sonho é um mistérioQue tenho de desvendar.

Se ao menos forem das cores que o SolNos pintou ao acordar,Os sonhos serão eternosEnquanto a vida os pintar.

35

36

fechei os olhos ao medoa tua mão não me escapanão é tarde nem é cedo

[refrão]

81

O caçador da Adiça

Música: João GilLetra: João MongeIntérprete: Rio Grande; VitorinoIn: ’Rio Grande’, 96jj, Luís Garção Nunes

SubiDà serra da Adiça

e sóGparei no

Dtalefe

aDlua alegre e roliça

F#m

aumenBmtava o tefe

Atefe

GLevei a saca de estopa

Em

preparado(G)para caçar

Gfaço dela a minha

Droupa

se oGfrio da noite apertar

D

ODteu coração parece

umaBmpedra sem

Ddestino

Ddizem que só amolece

F#m

aoBmcanto de um gambozino

A

Uns dizem que é fugidioos outros que é de má raçatenho de ter algum briopara não espantar a caça

[refrão]F#mAssim me fiz

Bmcaçador

F#mSem espingarda nem ’Piloto’

Bm D7

Gpara ter o teu

Damor

paraGte cair no

Dgoto

Gpara ter o teu

Damor

paraGte cair no

Dgoto

As coisas que a gente faza dar vazão ao que sentejá pensava em vir pra trássai-me um vulto pela frente

Abri a boca da saca

80

E foi Dezembro

Música: Luís RepresasLetra: Soledade Martinho CostaIn: ’Cumplicidades’ 1995

E foi DezembroDitoEm tua vozQue as minhas mãosColheramDevagar.

E foi DezembroEscritoQuando a sósTudo dissesteQuaseSem falar.

Foi um palcoVazioA acontecerNo frioQue se ergueuDentro de nós.

Uma distânciaO marQue se estendeuA separar da minhaA tua mão.

E foi DezembroInteiroA anunciarA solidãoDos diasPor nascer.

E foi DezembroÀ chuva a reviverAs pedrasE os riosE os luares.

Os nomesQue vestiam

37

Os lugaresE os sonhosRepartidosQue não fomos.

A coragemNascidaDe aceitarA verdade de serO que hoje somos.

E foi DezembroVivoNa roseiraDespidaNo silencioDo jardim.

E foi DezembroAinda na cegueiraDas asas de uma aveQue há em ti.

Foi um tempoDe amantesA aprenderQue não deve esquecer-seO verbo amar.

Ou um invernoApenasA perder-seDa primaveraDo primeiro olhar.

38

Noutro lugar

Letra e música: Sétima LegiãoIn: ’Mar D’Outubro’

D’outra vez, noutro lugarninguém espera junto ao caissem razão, barcos que não voltam maisos dias vão sem te levar...

E tenho tanto a contarhey, tens tanto para verTens ainda de aprenderos nomes que te vou dar

Oh noutro lugarpara todo o sempreOh há uma cançãoque faz partirOh noutro lugarpara sempre, sempreOh, há uma cançãoque está por descobrirVem...

D’outra vez noutro lugaros anos passam sem pesarsem razão, vão em busca da cançãoque ficámos de cantar...

E tenho tanto por contarhey, tens tanto para verTens ainda de aprenderos nomes que dei ao mar

Oh noutro lugar

Nota:

Rodrigo Leão - BaixoPedro Oliveira - Guitarra e VozRicardo Camacho - TeclasPaulo Gabriel - FlautaGabriel Gomes - AcordeãoNuno Cruz - BateriaColaboração de Marco Santos - Voz

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darás por todosos recados que mandei.

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Em 25 de Março

Música: VitorinoLetra: popular: romanceiro de José Leite de VasconcelosIn: ’Romances’; 1991(rimance)A. Guimarães (Arranjos: Pedro Caldeira Cabral)

Em vinte e cinco de Marçoouve uma grande paixãodisparceram três rapazesdeste povo d’Armação

Té aqui não são chegadosnem à praia à costa deramté aqui não são chegadosnem à praia à costa deram

Té aqui não há esperanem tão pouco que esperaros nomes de todos trêseu os vou d’explicar

O primeiro é José da SilvaJosé da Silva Negrãolá posto ao mar a pescarpara a sua perdição

O segundo era José CravoJosé Cravo encarnadofazia linda cinturasem andar muito apertado

O terceiro era João Barreirouma cara sem sinaisera o pai da pobrezanão no podia ser mais

Abalaram todos trêsdentro daquele barquinhoa bebida que levaramuma garrafa de vinho

Abalaram todos trêsnão levavam a certezaque o mar que se levantavad’altura da fortaleza

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Em frente do sol

Letra e música: Luís RepresasIn: ’A hora do lobo’ BMG 1998lr(Galamares,5/6-11-97)

Tinha o pecado caladono fundodo corpo que um dia foi seu.Ás vezes pensavaem promessas juradaspor homens que nem conheceu.

Todos os sonhosque tinha guardadosno canto do seu coração.Deitou-os ao mare olhou-se nos lagosque a chuva fazia no chão.

Pode serque um dia vátropeçar no amore cair de péem frente do Sol.Empurrar as nuvense abraçar os ventos que a façam voar.

Quando saía para a ruasentia

que os pés só pisavam vazio.E a Alma insistiaem esconder-se no escurode um quarto que nunca existiu.

Pelas paredespintadas de céupregava retratos sem cor.Memórias ausentesde olhares indigentessuspensos por fios de dor.

Sem procurar um fimpor onde começarvai-se agarrando aos poucos risosque a vida lhe dá.

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No escuro

Letra e música: Luís RepresasIn: ’A hora do lobo’ BMG 1998lr(Galamares, 11/12-11-97)

Vi-te de longe no escuroonde já não te esperava encontrar.Não era a noite,nem era o sono.Nem falta de alma p’ra te procurar.

Fui-me chegando mais perto,devagarinho para não pisaro coração...talvez o meubata tão forte para te avisar.

Há tantas vidassigo o cheiroque me deixaste preso ás mãose me sufoca ao meio da noitenuma boa maldição

Há quantas vidas que eu desejoter mais coragem que paixão,e confessar tudo o que o tempome guardou no coração

Não era falta de féou confiança p’ra me revelar,era só medoque as tuas águasfossem tão fundas que perdesse o pé.

Já me perdi no passadopor insistir em querer adivinharo que pensavas,que não abriasnenhuma porta para eu entrar.

Talvez mate o destinode uma vezse um beijo escorregarmesmo á traição

Quem sabese no escuro a luz se acendee então...

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Neva sobre a marginal

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Represas’ EMI 1993

O Norte entrou pela barrajá ninguém se espanta aquibasta um abrigo, uma capaou um beijo.

O Norte avisa que o temposó se altera por três diase o vento que nos trespassanão sabia.

Neva sobre a Marginalsó que a neve não esperanão se vai com a primaveranem fica á espera no chão

Neva sobre a Marginalquem me dera que mar fosseo mar é muito mais docee não fere o coração

O Norte foi como veiosem avisar, sem um gestosem um grito ou manifestosem dizer se isso lhe dói

Leva para outras paragensO resultado dos ventosleva também as imagensdispersas de lamentos.Mas deixa as dos bons momentospara voltar.

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Enquanto

Letra e música: Joaquim de Almeida; Luís RepresasIn: ’cumplicidades’ EMI 1995(20/10/95)

Enquanto mortos e vivosEnquantoEnquanto vivos ou mortosNós somosOs vivos que querem viverPor enquantoTemos os mortos que não tiveram tanto

Enquanto vivosE vivos assimSentimos vozesPor ti e por mimQue a noite e o diaNão cabem no sermosDe sermos o mesmoDe todos os dias

Enquanto caem palavrasDo cimo de torresGemidos do fundo de heróisVão calando a noite

Crianças de uniforme grandeLimparam o mundo de risosDeixando espalhados nos cantosBocados de paz

Enquanto todos os diasNos vendemO sofrimento de longeTão pertoVão consumindo o azulE as cores da terraSabendo nós que a pazNão é só o contrário da guerra

Enquanto vivosE enquanto formosGrita a vontadeDe deixarmos vivosOs cheiros e as imagensQue sentimosE não só lembranças

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Deixadas em arquivo

Enquanto morrem as arvoresO verdeTorna-se terra de corposDe guerras.Queremos tambores e guitarrasVoando nas ruasCom a alegria da vidaQue não devia ter fim

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Navegar

Letra e música: Sétima Legião (?)Intérprete: Sétima LegiãoIn: ’de um tempo ausente’, 1989Nuno Jacinto

Cantar,Dó

Como quem canta um fado.Lám Fá

Um amor que passou,Dó

Traços de um vento apagado.Lám Fá

Um mundo que acabou,Dó

P’ra não ter de mudar.Lám Fá

Vou cantar,Nas palavras de um fado.As trovas que nos diz,Um rei sem trono nem reinado.Sem novas nem país,Por ter de navegar,Ter de navegar.

Eu vou cantar por quanto passei.Fá Sol

Eu vou cantar porque te encontrei.Fá Dó

Vem navegar para longe no mar.Fá Sol

Há um navio para nos levar ao fim do mar...Fá Dó Sol

Cantar um temporal que se levanta para nos alcançar.Dó Lám Fá

Mas a bandeira azul e branca vai tornar ao mar.Dó Lám Fá

Da cor do teu olhar,Dó

Azul no olhar.Lám Fá

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Nasce selvagem

Música: Fernando CunhaLetra: Miguel ÂngeloIntérprete: ResistênciaIn: Palavras ao ventoAveiro (alterado por jj) (jeito de Luís Jordão)

Mais do que a uCm país

Que a uma família ou geXração

Mais do que a uCm passado

Que a uma história ou traXdição

Tu pertences a tiC

Não és de ninguéFm

Mais do que a uCm patrão

Que a uma rotina ou proXfissão

Mais do que a uCm partido

Que a uma equipa ou reliXgião

Tu pertences a tiC

Não és de ninguéFm

Vive selvaCgem

E para tiFserás alguém

Nesta viaGgem

QuaCndo alguém nasce, nasce selva

Ggem

NãoFé de ningué

Gm

nota: viola

X = (012300)

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Enquanto dormes

Letra e música: Luís RepresasIn: ’A hora do lobo’ BMG 1998lr(Caparica/Galamares-8/96-27/11/97)

Dizer toda a verdade enquanto dormesmesmo se a confessei quando despertatem sabor ainda a mais verdadepois tens todas as portas mais abertas.

É como se ao postigo me encostassee ele de mal fechado me sorrissee lá dentro uma palavra entrassee num murmúrio aquela porta abrisse

Quem quer saber cedo demaiso encanto morre pela certa.Dormindo assim em pazdeixo-te o bem e o mal,e o que a vida fizer de nós.

O silencio envolve os passos da certezaque transporta as confissões mais arrojadas.Que são boas -já sabias- mas agorasemearam-te surpresas na entrada.

A força das palavras vem das estrelasou de algo mais além p’ra lá do céu.Quando dormes acompanho a luz das velasque te contam mais segredos do que eu.

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Eu hei-de amar uma pedra

Letra e música: popular: AlentejoIntérprete: Vitorino; Janita SaloméIn: ’Romances’, 1991(romance)jj

Eu hei-de amar uma pedradeixar o teu coraçãouma pedra sempre é mais firmetu és falsa e sem razão

Tu és falsa e sem razãoeu hei-de amar uma pedraeu hei-de amar uma pedradeixar o teu coração

Quando eu estava de abaladameu amor para te verarmou-se uma trovadamais tarde deu em chover

Mais tarde deu em choversem fazer frio nem nadameu amor para te verquando eu estava de abalada

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(4X)

NãoAm, não sou o ú

Gnico (eu não sou o único)

NãoDmsou o único a olhar o céu

C.

Am G Dm C

Am G Dm C

Nota: Viola

INTRO (2X)Riff1

e--0--------------------3--5--7-8-7--5--3--5--3--1--0---------B--1------------3--5--3-------------------------------0--2--0-G--2----2--4-5------------------------------------------------D--2----------------------------------------------------------A--0----------------------------------------------------------E-------------------------------------------------------------

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Não sou o único

Música: Xutos e PontapésLetra: José PedroIntérprete: ResistênciaIn: Palavras ao ventoNuno Cabral ([email protected]) e Luís Tavares (jeito de jj, Luís Jordão)

AmPensas que eu sou um ca

Gso isolado

DmNão sou o único a o

Clhar o céu

AmA ver os so

Gnhos partirem

DmÀ espera que algo aco

Cnteça

AmA despejar a mi

Gnha raiva

DmA viver as

Cemoções

AmA desejar o

Gque não tive

DmAgarrado às te

Cntações

FE quando as nuvens pa

Crtirem

DmO céu azul ficará

A

FE quando as trevas se

Cabrirem

DmVais ver o sol, brilhará.AVais ver o sol, brilhará.AmNão, não sou o ú

Gnico (eu não sou o único)

DmNão sou o único a olhar o céu

C

AmNão, não sou o ú

Gnico (eu não sou o único)

DmNão sou o único a olhar o céu

C

(Riff1)

Pensas que eu sou um caso isoladoNão sou o único a olhar o céuA ouvir os conselhos dos outrosE sempre a cair nos buracosA desejar o que não tiveAgarrado ao que não tenhoNão, não sou o únicoNão sou o único a olhar o céu

E quando as nuvens partirem...

(SOLO)

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Fado do Campo Grande

Música: António Vitorino de AlmeidaLetra: Ary dos SantosIntérprete: Carlos do CarmoJavier Tamames

A minha velha casa,por mais que eu sofra e ande,é sempre um golpe de asa,varrendo um Campo Grande.Aqui no meu pais,por mais que a minha ausência doa,é que eu sei que a raiz de mimestá em Lisboa.A minha velha casaresiste no meu corpo,e arde como brasadum corpo nunca morto.À minha velha casaeu regresso à procuradas origens da ternura,onde o meu ser perdura.

Amiga amante, amor distante.Lisboa é perto, e não bastante.Amor calado, amor avante,que faz do tempo apenas um instante.Amor dorido, amor magoadoe que me doí no fado.Amor magoado, amor sentido,mas jamais cansado.Amor vivido é o amor amado.

Um braço é a tristeza,o outro é a saudade,e as minhas mãos abertassão chão da liberdade.A casa a que eu pertenço,viagem para à minha infância,é o espaço em que eu vençoe o tempo da distância.E volto à minha casa,porque a esperança resistea tudo quanto arrasaum homem que for triste.Lisboa não se cala,e quando falaé minha chama,

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meu castelo, minha Alfama,minha pátria, minha cama.

Amiga amante, amor distante.Lisboa é perto, e não bastante.Amor calado, amor avante,que faz do tempo apenas um instante.Amor dorido, amor magoadoe que me doí no fado.Amor magoado, amor sentido,mas jamais cansado.Amor vivido é o amor amado.

Ai, Lisboa, como eu quero,é por ti que eu desespero.

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Não me atrevo

Letra e música: Luís RepresasIn: ’A hora do lobo’, 1998Victor Almeida

Não me atrevo a adivinhar o que tu sentesQuando tens quatro paredes por moradaE lá fora sabes que és mais um ausenteQue um dia apostou na carta errada.

Não me atrevo sequer a falar das horasque tu passas conversando com os segundosque te ouvem quando às vezes te demorasa pensar se há mundo entre os nossos mundos.

Não me atrevo a imaginar p’ra onde vaisquando partes navegando pelos sonhos,quando voltas à frieza deste caisà distante realidade que nós somos.

Não me atrevo a adivinhar a vida inteiraque tu passas em revista a cada dia.Os momentos que tu lanças p’rá fogueirae as memórias que tu guardas por mania.

Quando um dia me puderes ir visitar,não te vires para trás nem um momento.Segue o caminho que te leva à beira-mardança com ele e faz de conta que és o vento.

Não me atrevo a caminhar pelos teus pésque regressam sempre ao ponto de partidaque te levam por caminhos que não vêse te acordam junto à porta de saída.

Não me atrevo a perguntar por quem te esperaquando chegar a hora de matar saudades.Espera-te o mar, porque esse nunca desespera,e te ensinou como é amar a Liberdade

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Bem no meio do salãoAcabei no tal conviteEm jeito de confissãoE a resposta foi tão doceQue a beijei com emoçãoSó que a malta não gritouComo ouvi numa canção

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Fado Pessoa

Música: VitorinoLetra: Fernando PessoaIntérprete: Lua ExtravaganteJavier Tamames

O tempo que hei sonhadoquantos anos foi de vida!Ah, quanto do meu passadofoi só a vida mentidade um futuro imaginado!

Aqui à beira do riosossego sem ter razão.Este seu correr vaziofigura, anónimo e frio,a vida vivida em vão.

A’spr’ança que pouco alcança!que desejo vale o ensejo?E uma bola de criançasobe mais que a minha ’spr’ança,rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão levesque não sois ondas sequer,horas, dias, anos, brevespassam - verduras ou nevesque o mesmo sol faz morrer.

Gastei tudo que não tinha.Sou mais velho do que sou,a ilusão, que me mantinha,só no palco era rainha:despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das águas lentas,gulosas da margem ida,que lembranças sonolentasde esperanças nevoentas!Que sonhos, o sonho e a vida!

Som morto das águas mansasque correm por ter que ser,leva não só as lembranças,mas as mortas esperançasmortas, porque hão-de morrer.

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Ondas passadas, levai-mepara o olvido do mar!Ao que não serei legai-meque cerquei com um andaimea casa por fabricar.

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Namoro II

Música: João GilLetra: Luís RepresasIntérprete: TrovanteIn: ’Sepes’ 86versos de segunda (jeito de jj)

Ai se eu disser que as tremurasMe dão nas pernas, e as loucurasFazem esquecer-me dos prantosPensar em juras

Ai se eu disser que foi feitiçoQue fez na saia dar ventaniaMostrar-me coisas tão belasTer fantasiaE sonhar com aquele encontroSonhar que não diz que não

Tem um jeito de senhoraE um olhar desmascaradoDe céu negro ou céu estrelado, ou SolDaquele que a gente sabe.O seu balanço gingadoTem os mistérios do marE a certeza do caminho certoque tem a estrela polar.

Não sei se faça conviteE se quebre a tradiçãoOu se lhe mande uma cartaComo ouvi numa cançãoSó sei que o calor apertaE ainda não estamos no verão.

Quanto mais o tempo passaMais me afasto da razãoE ela insiste no passeio à tardeEm tom de provocaçãoAté que num dia feriadoP’ra curtir a solidãoFui consumir as tristezasP’ró baile do Sr. João

Não sei se foi por magiaOu seria maldiçãoDei por mim rodopiando

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Menina estás à janela

Letra e música: popular: AlentejoIntérprete: Vitorinojj, Creissac, Aníbal Vinhas

MeninaCestás à jane

Fla

com o teuGcabelo à

Clua

não me vouAmdaqui embo

Fra

sem levarGuma prenda

Ctua

Am

sem levar uma prenda tuasem levar uma prenda delacom o teu cabelo à luamenina estás à janela

Os olhos requerem olhose os corações coraçõese os meus requerem os teusem todas as ocasiões

[Gosto muito dos teus olhosmas ainda mais dos meusse não foram os meus olhoscomo iria (eu) ver os teus]

[Chorai olhos chorai olhosque o chorar não é desprezotambém a virgem chorouquando viu seu filho preso]

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Falei demais

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Cumplicidades’ EMI 1995

Falei demaisquando te quis mostrarquem ficou.Esperei demaisE afinal é quase nadao que restou.

E como foi?Em tanta gente,tanta gente confioue se entregoucomo se entrega ao ventoa nuvem que passou.

Pensava que não pensavame tudo ficava assim.Mas quando abri os olhosjá tinham pensado por mim!Pensava que não falavame nada ficava por fim.Mas sempre tinham tentadolevar o melhor de mim.

Como será?Será que tudo isto se repetirá!?De quem seráque a primeira gota se derramará!?

Quisera verquisera ter só risos para recordare entregaralguém que saiba rire nunca o que é chorar!

49

Feiticeira

Música: Luís RepresasLetra: Francisco VianaIn: ’Represas’ EMI 1993

De que noite demoradaOu de que breve manhãVieste tu, feiticeiraDe nuvens deslumbrada

De que sonho feito marOu de que mar não sonhadoVieste tu, feiticeiraAninhar-te ao meu lado

De que fogo renascidoOu de que lume apagadoVieste tu, feiticeiraSegredar-me ao ouvido

De que fontes de que águasDe que chão de que horizonteDe que neves de que fráguasDe que sedes de que montesDe que norte de que lidaDe que deserto de morteVieste tu feiticeiraInundar-me de vida.

50

Menina dos olhos de água

Letra e música: Pedro BarrosoIn: ’Cantos da Borda D’Água’,1986Creissac & amigos(ago.96)

MeCnina em teu peito sinto o Te

Amjo

e vontaDmdes marinheiras de apro

Gar

Menina em teus lábios sinto fontesde água doce que corre sem pararMenina em teus olhos vejo espelhose em teus cabelos nuvens de encantarE em teu corpo inteiro sinto fenorijo e tenro que nem sei explicar

Se houver alguém que não gostenão gaste, deixe ficarque eu só por mim quero te tantoque não vai haver menina para sobrar

Aprendi nos ’esteiros’ com Soeiroe aprendi na ’fanga’ com RedolTenho no rio grande o mundo inteiroe sinto o mundo inteiro no teu coloAprendi a amar a madrugadaque desponta em mim quando sorrisÉs um rio cheio de água lavadae dás rumo à fragata que escolhi

Se houver alguém que não gostenão gaste, deixe ficarque eu só por mim quero te tantoque não vai haver menina para sobrar

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Memórias de um beijo (Lembras-me umamarcha de Lisboa)

Música: João GilLetra: Luís RepresasIntérprete: TrovanteIn: ’Terra firme’ 87Alfredo Domingues

Lembras-me uma marcha de lisboaNum desfile singular,Quem disseQue há horas e momentos p’ra se amar

Lembras-me uma enchente de maréCom uma calma matinalQuem foiquem disseQue o mar dos olhos também sabe a sal

[refrão]:As memórias sãoComo livros escondidos no póAs lembranças sãoOs sorrisos que queremos rever, devagar

Queria viver tudo numa noitesem perder a procurarO tempo, ou o espaçoQue é indiferente p’ra poder sonhar

[refrão]

Quem foi que provocou vontadese atiçou as tempestadese amarrou o barco ao caisQuem foi, que matou o desejoE arrancou o lábio ao beijoE amainou os vendavais

[refrão]devagar

66

Fim (Quando eu morrer)

Música: João GilLetra: Mário de Sá CarneiroIntérprete: TrovanteIn: ’Terra Firme’ 87Versos de Segunda (jeito de jj)

Quando eu morrer batam em latas,Rompam aos saltos e aos pinotes,Façam estalar no ar chicotes,Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burroAjaezado à andaluza...A um morto nada se recusa,Eu quero por força ir de burro.

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Fizeram os dias assim

Música: Manuel FariaLetra: Luís RepresasIntérprete: TrovanteIn: ’Sepes’ 86versos de segunda (jeito de jj)

Fizeram os dias assim

Por mais que larguem os braçosPor mais que soltem amarrasE que se tapem as covas

Por mais que rasguem os quadrosPor mais que queimem as leisE que os costumes esmoreçam

Por mais que arrasem as ferasE que os papões arrefeçamE que as bruxas se convertam

Por mais que riam as carasE que ternura se esqueçaPor mais que o amor prevaleçaVocêsFizeram os dias assim!

Não nos venham pedir contasNão venham pôr-nos regrasSabemos que os nossos diasNão vão ser gastos assim!

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Linha da frente

Letra e música: Luís Represas; Cristina RepresasIn: ’cumplicidades’ EMI 1995(1/8/95)

Caminha e sente os pésQue a areia é fria e duraNão olhes para trásQue o mar nada perduraA onda apaga os traçosE limpa o que foi rastoDeixando p’ra quem chegaLugar p’ra novos passos

Não tenhas esperançaOutra vezQue a esperança é senhoraDe quem jáPerdeu os caminhos,De quem já não sabe lutar.

Com uma espada feitaDe sonhos cravejadaEnfrentas as miragensSem tempo p’ra pensarE se o medo te assaltaÉ p’ra te despertarPara o que desconhecesMas queres conquistar.

Tens a espada e tens o medoTens o tempo e o caminhoEsquece a esperança ali sentadaSem ter esperança de morrer.Tens a força de quem sabeE o encanto de quem querE poder fazer que a esperançaSeja a primeira a morrer

65

Libre

Letra: Pedro GuerraIntérprete: Luís Represas

Puedo andar y ver los mundosy escojer mi verdadpuedo arar y ver la tierraentender y pensarpuedo todo lo que quierodecidir y soñarquiero todo lo que puedodecir cantar y besar

Soy libreporque hay alguien másno estoy sóloen la ciudad que se mueveel amor envuelvemi corazónen libertad

Puedo ver en los coloresy elegir el colorpuedo andar por las pasionesy elegir la pasiónpuedo todo lo que alcanzoel saber y el saborllego a todo lo que puedoy beso un rayo de sol

64

Flor de Maio (?)

Letra e música: Sétima LegiãoIn: ’de um tempo ausente’, 1989jj

= 80

42

53

Foi como foi

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Cumplicidades’ EMI 1995(Nov 95)

Se foi há anos,Ou dias,Não sei.Nem quantas vezes te cheireiNo ar da manhã.

Nem quantas vezesTe viDespertarPensando que essa foi a noiteMelhor de se lembrar

Depois da vez em que o silêncioNos quis acompanharPelos segredosQue julgamos contar.Em que nas mãos, os nossos olhosSouberam desvendarDentro do escuro a almaNão se pode ocultar.

Foi como foi.Como se o céu um diaSe abrisse em dois.Foi como foi.Como se a terraNos prendesse e soltasse depois.

A lua viaO sol acordar,Ficava ás vezes até tardeSó para o ver deitar.

E juro um diaQue o vi alugarUm quarto de motel na Via LácteaCom vista para o mar.

Estremeci ao ver que o tectoNão tinha para verNem uma telha aberta para espreitar.Eu alucino ou quase, sempreQue me deixas pernoitar

54

Foi teu pai quem tu mandou

De quem é aquele suspiro?De quem é aquele suspiro?Que ao meu leito se atirouLaurinda, que aquilo ouviuCaiu no chão desmaiou

Ó Laurinda, linda, lindaÓ Laurinda, linda, lindaNão vale a pena desmaiarTodo o amor, que t’eu tinhaVai-se agora acabar

Vai buscar as tuas irmãsVai buscar as tuas irmãsTrá-las todas num andorQue a mais linda delas todasHá-de ser meu novo amor

63

Laurinda

Letra e música: popularIntérprete: Vitorino(rimance)jfc

ÓAmLaurinda, linda,

Amlinda

ÓAmLaurinda, linda,

Amlinda

DmÉs mais

Dmlinda do qu’o

AmSol(e)

Am

DeiDmxa-me

Dmdormir uma

Amnoite

Am

ENas bor

Edas do teu len

Amçol

Sim, sim, cavalheiro, simSim, sim, cavalheiro, simHoje sim, amanhã nãoMeu marido, não esta cáFoi pr’a feira de Marvão

Onze horas, meia-noiteOnze horas, meia-noiteMarido a porta bateuBateu uma, bateu duasLaurinda não respondeu

Ou ela está doentinhaOu ela está doentinhaOu encontrou outro amorOu então procur’a chaveLá no meio do corredor

De quem é aquele chapéu?De quem é aquele chapéu?Debroado a galãoÉ para ti meu maridoQue fiz eu por minha mão

De quem é aquele casaco?De quem é aquele casaco?Que ali vejo penduradoÉ para ti meu maridoQue o trazeis bem ganhado(?)

De quem é aquele cavalo?De quem é aquele cavalo?Que na minha esquadra entrouÉ para ti meu marido

62

Nesse motel da Via LácteaCom vista para o mar.

Quero rever-te em cada diaComo revi o futuroJá que o futuro sorria.Quero um futuro por diaJá que o passado nos deixaVários futuros na vida.

55

Fora de tempo

Letra e música: Luís RepresasHelder Carvalho (jeito de jj)

CFora de tempo pôs-se o solFe a lua fora de tempo tambémGfora de tempo nasceram dois

F

Cfilhos da mesma mãe

Fora de tempo brotaram da terraflores e espinhos tambémfora de tempo ficaram longemais longe do que convém

Fora de tempo o que era quentegelou até matar tudose um cantava no silênciofora de tempo ouviu-se um grito mudo

[refrão]FO tempo também se engana

nas caGsas onde mo

Amra

o mauFtempo que faz

Amdentro

nem sempreFé tão

Gbom de

Cfora

Fora de tempo o que era águateimou em ser arealfora de tempo já se notavaque um vê bem e o outro mal

Fora de tempo tudo voltouao tempo que era atráse dentro do tempo um partiu mais cedoe o outro ficou para amar

56

Imortais

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Represas’ EMI 1993

Quantos anos tens ?Talvez nem te lembres quantos.Quantos anos fizeste ?Talvez nem te desses conta.

E enquanto fazias anosjá mães dançavam sozinhase o mar já guardava tumbassolitárias.

Quantos anos tens?Talvez nem te lembres das velas.Talvez o teu bolo ainda tenhaluz a mais.

Talvez haja velasacesas nos canaviaisem segredo para os que fazem anosimortais

De um lado ao outro do mundodançamos sozinhos no fundode um lado ao outro da vidanão temos memórias perdidas

Há quantos anos já foie quantos anos nos faltampara que a memória dos pararesnão seja demais

Afinal, quantos anos terãodepois da destruição ?Afinal, quantos anos farásem solidão ?

61

Horas de ponta e mola

Música: Nuno RodriguesLetra: António Avelar PinhoIntérprete: Banda do CasacoIn: ’Dos Benefícios dum Vendido no Reino dos Binifácios’, 1994Victor Almeida

É um sujeito é um escritóriouma gravata, um suspensóriouma conversa de latrinaé um verbete, uma aldrabiceé um trabalho , uma chaticeentre fumo e aspirina

É numa rua o pôr da solacalçada nas horas de ponta e molasão conversas de cotoveloé um eléctrico um penduraum regresso e uma tonturaé um sorrir muito amarelo

É uma casa uma famíliauma torrada um chá de tíliauma conversa de fastídioé um chinelo e um meninotelevisão com o Vitorinoa lentidão de um suicídio

É numa rua o pôr da solacalçada nas horas de ponta e molaé um silencio e um ritualsão os lacaios do comendadorsão as gravatas sem côrna procissão dum funeral

60

Fragilidade

Letra e música: Mafalda VeigaIntérprete: Mafalda Veiga; Luís RepresasCarla Fernandes

Talvez pudesse o tempo pararQuando tudo em nós de precipitaQuando a vida nos desgarra os sentidosE não espera, ai quem dera

Houvesse um canto pra se ficarLonge da guerra feroz que nos dominaSe o amor fosse um lugar a salvoSem medos, sem fragilidade

Tão bom pudesse o tempo pararE voltar-se a preencher o vazioÉ tão duro aprender que na vidaNada se repete, nada se prometeE é tudo tão fugaz e tão breve

Tão bom pudesse o tempo pararE encharcar-me de azul e de longeAcalmar a raiva aflita da vertigemSentir o teu braço e poder ficar

É tudo tão fugaz e tão breveComo os reflexos da lua no rioTudo aquilo que se agarra já fugiuÉ tudo tão fugaz e tão breve.

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Fui às sortes e safei-me

Música: João GilLetra: João MongeIntérprete: Rio Grande; VitorinoIn: ’Rio Grande’, 96jj

Fui às sortes e safei-medireito que nem um fusonão compreendo aquele usode fazer tudo aprumadoele há coisas que eu cá seique só se fazem curvado

Fizeram-me a vistorialevaram tudo a preceitoaté me viram o peitoe um pouco mais ao fundocada qual na sua veze tal como veio ao mundo

No fim já mais à tardinhaderam um papel timbradoonde vinha o resultadonão me davam qualquer usofui às sortes e safei-medireito que nem um fuso

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Guaguancó y fado

Letra e música: Luís RepresasIn: ’Represas’ EMI 1993

Havia um mar de olhos postosNum quadro já repetidoQue tinha o céu por molduraNum temporal mal contido

Os corações apertadosNos peitos nus, reluzentesUns de morte angustiadosOutros sorrindo prudentes

Quem chegava era por certoGente devota e austeraEra branca como a ceraQue ardia a céu aberto

Tinham santos como os meusFeitos de pau e madeiraRezam da mesma maneiraA uma cruz que chamam Deus

So,os almas descobertasPor quem descobrir é pecadoÀs vezes trazem-nos setasMas também nos cantam fado

Entre temores e anseiosO sangue juntou-se entãoNaquele Deus eu já creioEles nos meus ainda não

Agora há dois olhos postosNum quadro já consumidoO mar guarda o meu recadoE o vento, o tempo perdido.

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