TÍTULO Sangue na Guerra/Guelra/Guerra

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TÍTULO AUTOR ANO 2015 Coimbra Sangue na Guerra/Guelra/Guerra Fernando Giestas 2013

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AUTOR

ANO

2015 Coimbra

Sangue na Guerra/Guelra/Guerra

Fernando Giestas2013

EDIÇÃO

Centro de Dramaturgia Contemporâneawww.uc.pt/org/centrodramaturgiaAUTOR

Fernando GiestasIDENTIDADE VISUAL / CONCEPÇÃO GRÁFICA

António BarrosPedro GóisISB

123-456-78-9101-2

© Julho 2015Centro de Dramaturgia Contemporânea

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2015 Coimbra

Os muros da separaçãonão chegam ao céu. (Inscrição numa igreja francesa)

TÍTULO

AUTOR

ANO

Sangue na Guerra/Guelra/Guerra

Fernando Giestas2013

Fernando Giestas1978. Nasceu em Espinho. Jornalista para sempre, dramaturgo, co-fundador, com Rafaela Santos, da Amarelo Silvestre. Actor de brincar, formador de Expressão Escrita. Autor da dramaturgia dos espectáculos (criações Amarelo Silvestre): O que é que o pai não te contou da guerra?, co-produção TN São João, Porto, a estrear em Março de 2015 no Teatro Carlos Alberto;  Sangue na Guelra, Teatro Viriato, Viseu, 2013; Mar Alto Atrás da Porta, Folias D’Arte, São Paulo, Brasil, 2013; Raiz de Memória, com utentes do lar de idosos e centro de dia da Associação de Solidariedade Social da Freguesia de Abraveses, Teatro Viriato, Viseu, 2012; João Torto, Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII), Lisboa, 2012. Texto do espectáculo publicado pela editora Bicho do Mato, em parceria com o TNDMII; Sonhos Rotos, Festival Internacional de Teatro Clás-sico de Almagro - Espanha (iniciativa Almagro Off), 2011. Espectáculo distinguido com Menção Especial do Júri de Almagro Off; Mulher Mim, Teatro Viriato, Viseu, 2010. Autor do texto do espectáculo Mexe-te!, produção Primeiros Sintomas, Teatro Viriato, Viseu, 2008. Actor e dramaturgo na performance comunitária Migrar, criação Amarelo Silvestre, 2012. Autor lido em sessões promovidas pelo Centro de Dramaturgia Contemporânea de São Paulo, no Teatro do Faroeste, São Paulo, e pela companhia francesa DYProcess, no Théâtre Le Colombier, Bagnolet, Paris (peça Sangue na Guerra/Guelra/Guerra), 2013; e nas Leituras no Mosteiro, organização do Teatro Nacional São João (peça Mar Alto Atrás da Porta), 2013.Formação de Escrita para Teatro com Jean Pierre Sarrazac e Alexandra Moreira da Silva, entre outros.

5 •

1 homem e 1 mulher lado a lado. Falam de frente para o público. Não se olham, durante grande parte do tempo.

MATTEO e ANDREA

MATTEONós éramos uns putos na cabeça.

(Silêncio breve.)

MATTEO18,19 anos.Putos na cabeça.E na barba.

(Silêncio breve.)

MATTEOTínhamos sangue na guerra/guelra/guerra

(Silêncio breve.)

MATTEOTodos no barco.Homens de um ladoHomens do outro.Mar de um lado.Mar do outro.O mundo era ali.Aquele barco passou a ser o mundo inteiro.E nós,brincávamos aos senhores do mundo inteiro.

ANDREAEles já eram uns homens.Barba,bigode20,20 e muitos anos.E vinham cheios de sangue na guelra/guerra/guelra.

MATTEOUns putos na cabeça.

6 •

ANDREALembro-me de pensar:o que os faz atravessar o mar?Tanto mar.

(Silêncio breve.)

ANDREAEles a vir para cá.Nós a sonhar ir para lá.Mas o mar…Tanto mar.

MATTEOAquilo ficava lá para tão longe.O barco demorava-se.E demorava-se.O mar era muito maior do que todos os dias que passavam.Era o mundo inteiro.

(Silêncio breve.)

MATTEOAquilo não existia,na nossa cabeça.Houve dias,no mar,em que parecia que estávamos muito mais perto do Sol,ou da Lua .

ANDREAO meu filho perguntava:eles vêm de um país onde só existem homens?Ele só via homens a chegar.

(Silêncio breve.)

ANDREAE eu perguntava-me quem é que eles tinham deixado lá,de onde vinham.Quem é que ficava a acenar a partida deles?

MATTEOE todos os dias imaginávamos voltar.Regressar a casa.Todos tínhamos esperança de seguir em frente,sempre em frente

7 •

sem parar.Dar a volta ao mundo para voltar ao mesmo sítio.Se a Terra fosse,realmente,redondahavíamos de regressar.

(Silêncio breve.)

MATTEOE voltávamos para os braços que ainda ali estavam,a acenar a nossa partidaE a vida recomeçava a partir daquele abraço.Novamente.Tudo igual novamente.

ANDREAA primeira vez que os vi,até pensei:que homens bonitos.Os olhos claros,a pele.Não todos,um ou dois,porque havia por ali muito bigode feio.Mas pensei nisso.Vá lá,ao menos são bonitos.Mas,depois,percebi que eles tinham aquele ar de quem é dono de um carro novo.Tinham ar de dono.

MATTEOMas não.A Terra nem sempre é redonda.Não íamos voltar.Íamos para outro sítio.E esse sítio tinha que passar a ser nosso.Para o tratarmos bem,esse sítio tinha que passar a ser nosso.

(Silêncio breve.)

MATTEOVamos na rua,não é?,

8 •

encontramos um país no chão,pegamos nele e passamos a ter esse país na mão.Pensamos: é meu.

ANDREAEles deviam pensar que nos tinham encontrado,não sei,como se encontra uma nota perdida,ou um cão sem dono.

MATTEOÉ meu.É meu.Este país é meu.

ANDREAO meu filho perguntava:porque é que não vamos nós para o país deles?Deve estar vazio.Vieram tantos para aqui.

MATTEONós chegámos,o barco a aproximar-se de terra,eles a olhar para nós como se tivessem pedras na mão.Como se fossem senhores do mundo inteiro.Um tipo chega,vem de longe para chegar ali,tanto mar,e eles a atirar-nos pedras com o olhar.Nós a passar por eles e já a sentir as pedras a magoar o nosso corpo.

ANDREANós ainda fomos esperá-los,como se fôssemos abraçar os nossos filhos.Acenávamos cá em baixo e eles lá em cima,no barco,já superiores,já senhores do mundo inteiro.

MATTEOMas, é claro,também encontrámos mulheres bonitas.Olhos escuros,a pele.Começámos logo a engraxar as botas e tal.

9 •

ANDREAEles falavam mal,sempre de boca muito aberta para gritar palavras.

MATTEOEles viram logo que nós tínhamos outra maneira de estar,de falar.Tínhamos outro tipo de cultura.

(Silêncio breve.)

MATTEOEles,quando se juntavam,aquilo nem era para falar,era,não sei,gorgolejar.Claro que acabava por ser normal,Para quem vivia ali tão longe.

ANDREANão compreendíamos metade do que eles gritavam.Falavam para dentro deles próprios.As palavras,em vez de sair pela boca,entravam pela boca adentro.E o som ficava por ali,a ressoar no peito deles.

MATTEOFalávamos a mesma língua,dizíamos coisas tão diferentes.

ANDREAE pensavam que podiam comprar tudo.Recadinhos,pessoas,boa disposição.

MATTEOSempre a pedinchar,ali de roda de nós.E a insinuarem-se.E a oferecerem-se.Sempre muito prestáveis.Falsamente generosos.

10 •

ANDREAE sorriam.Sorriam muito para nos agradar.Todo o bigode em sorriso.Sorriam e a arma ali,ao peito,uma flor que arrancaram do chão para nos dar.Uma flor que arrancaram do nosso próprio chão para nos dar.

(Silêncio breve.)

ANDREASempre muito prestáveis.Falsamente generosos.

MATTEOAinda tentámos perceber a cultura deles.Tentámos integrá-los.(Silêncio breve.)

MATTEOEles preocupavam-se muito connosco.Esqueciam-se do país que tinham.De relaxar.De ir à praia,simplesmente.Dormir ao sol,salitre no corpo.Aquelas praias.Nós ao sol.Mergulhos no mar.E eles lá ao longe a mirar,como se fôssemos roubar o mar,aos bocadinhos,sei lá,enrolado nas toalhas.

ANDREAEles na praia.Toalha ao sol.Arma ao sol.Tudo provocação.Os peitos nus.Parecia que tinham bigodes pelo corpo todo:nos ombros, nas costas, nas pernas.Ao corpos suados a mergulhar no mar.

11 •

MATTEOClaro que aproveitávamos.Fazíamos o que tínhamos a fazer a aproveitávamos.

ANDREANós a trabalhar,eles a passear as armas.

(Silêncio breve.)

ANDREAO nosso país era,agora,o país deles.Não era nosso.Já não era nosso.

MATTEOAqueles sabores.E os cheiros.E as cores.O luar.O pôr-do-sol.Aquele país passou a ser meu.Nosso.Para o tratarmos bem,aquele país tinha que passar a ser o nosso país.

ANDREAO meu filho perguntava:Estes senhores são teus patrões,mãe?São patrões de toda a gente,mãe?

MATTEOEles,no fundo,eram como nós.Carne.Osso.Sangue nas veias.

ANDREAEles,no fundo,eram como nós.

12 •

Carne.E osso.E também choravam.Também riam.Amavam.Também corrriam.Saltavam.Sorriam.Falhavam.De certeza que eram como nós.

(Silêncio.)

ANDREAOs dias foram sendo mais.

MATTEOOs dias foram sendo mais e mais.

ANDREAEles foram ficando.

MATTEONós fomos ficando.

ANDREAA dada altura, tudo parecia ter sido sempre assim.

MATTEOJá parecia que tínhamos nascido ali.

ANDREAEles começaram a ser parte da nossa vida.

MATTEOA nossa vida era ali, com eles.

ANDREAA verdade é que …

MATTEONós…

ANDREAFomo-nos aproximando.

13 •

MATTEOComeçámos a falar de coisas parecidas.

ANDREAComeçámos a falar de coisas muito parecidas.

MATTEOE começámos a ir ao café.

ANDREAE eles até nem eram feios.Os olhos claros,a pele.

MATTEOComeçámos a engraxar as botas e tal.

ANDREAFomo-nos aproximando.

MATTEOFomo-nos apaixonando.

ANDREAA começámos a ir à praia.Partilhávamos o sol.

MATTEOMergulhos no mar

ANDREAO salitre no corpo.

MATTEOOs beijos,sabor a sal.

ANDREAO pôr-do-sol,as mãos dadas.

MATTEOE a maresia das palavras ao ouvido.

ANDREAA areia por entre os dedos,por entre os corpos.

14 •

(Silêncio breve.)

ANDREAE começámos a ir ao cinema.

MATTEOE havia as matinés.

ANDREAEle que gosta muito dela e ela que gosta muito dele.

MATTEOEle que não consegue dizer que gosta muito dela.

ANDREAEla que sofre muito por ele não lhe dizer que gosta dela.

MATTEOEla que espera que ele diga primeiro que gosta dela.E o filme quase a acabar.

ANDREAE eles a perder tempoE o beijo?E o beijo?

MATTEOE o filme quase a acabar.

ANDREAE eles dão as mãos.

MATTEOE eles que se abraçam.

ANDREAE o beijo?E o beijo?

MATTEOE fim.

ANDREAOh.

MATTEOEles começaram a fazer parte da nossa vida.

15 •

ANDREAA nossa vida era ali, com eles.

(Silêncio.)

ANDREADepois…

MATTEOMas depois…

ANDREAQuando me recordo,vejo apenas imagens soltas.Imagens em movimento,mas soltas.Como se estivesse a ver a apresentação de um filme.O trailer,não é?Apenas partes do filme,nunca a história toda.É o que tenho na minha cabeça.As imagens não são fotografias,Porque têm movimento.

MATTEODepois…

ANDREANão são fotografias,porque têm som.

MATTEOSempre que falo disso, vou contando cada vez menos.Cada vez menos.E cada vez menos.Mas a pele continua a irritar-se.A reagir como se fosse Inverno e eu estivesse de manga curta junto ao mar.

ANDREAE eu não estou nessas imagens que vejo.É como se fosse um filme e tivesse sido eu a filmar tudo.Câmara na mão.Eu a filmar tudo.

16 •

(Silêncio breve.)

ANDREAEu, que seria incapaz de filmar aquilo tudo.

MATTEONão tivemos escolha.Tínhamos ordens de um lado e ameaças do outro.

ANDREAEntraram pela aldeia de peito feito.Aquele ar de dono,novamente.O meu folho dizia:vêm aí os patrões com cara feia.Vamos ser despedidos,mãe?

MATTEOEntrámos pela aldeia de forma serena.Queríamos diálogo.

ANDREATodos juntos.Todos num só.Todos uma mancha de carne e músculo e raiva.As botas na terra.

MATTEOA minha pele começou a reagir.A irritar-se.

ANDREAA marcha deles soava a tambores a rufar.E eles aproximavam-se.Aproximavam-se.Tudo era uma nuvem de poeira que se deslocava.Uma nuvem ensurdecedora de poeira.

MATTEONós a avançar.E a pele…Parecia Inverno e nós de manga curta junto ao mar.Eu a rezar para que eles fugissem.Para que eles se atirassem para o chão.Mas eles ali.

17 •

De pé.Ao lado das árvores.Raízes das árvores.

ANDREAJá nem sequer os víamos a eles.Deixámos de ver as caras deles.Quem se aproximava era aquela nuvem monstruosa que eles faziam levantar da terra.Botas em marcha.E a nuvem de poeira avançava.Avançava.E nós só lhes víamos os pés.E os pés avançavam.Ameaçadores.Avançavam.

MATTEOE não havia um dos nossos que não rezasse para que eles fugissem.

ANDREAE nós ali.Raízes das árvores.

(Silêncio breve.)

ANDREAA certa altura.

MATTEOTivemos que parar para deixar assentar a poeira.

ANDREAEles pararam e a poeira foi assentando.Foi baixando.Baixando.Baixando.

MATTEOE eles ali.

ANDREAE eles ali.Caras destapadas.A poeira voltou ao chão.Ficámos olhos nos olhos.

MATTEOOlhos nos olhos.

ANDREAEles a olhar-nos.A arma ao peito.Coração de ferro.

MATTEOE eles já nos atiravam pedras só com o olhar.

(Silêncio breve.)

MATTEOJá sentíamos as pedras a magoar-nos o corpo.

ANDREANão quiseram conversa.As armas começaram a falar por eles.

MATTEOAs mãos deles começaram a disparar pedras.Pedras pelo ar.

ANDREANós a correr de um lado para o outro.As balas a correr atrás de nós.

MATTEOAs pedras na carne do nosso corpo.

ANDREABalas, balas, balas.

MATTEOAs pedras a correr atrás de nós.

ANDREAE nós a correr à frente das balas.

MATTEOMas não víamos nada.A nuvem de poeira voltou.Instalou-se entre nós e eles.

ANDREAE nós a correr.

19 •

MATTEOPés a correr de um lado para o outro.

ANDREAE sempre as balas atrás de nós.A fazer-nos tombar na terra.

MATTEOAs pedras a magoar-nos o corpo.Sangue na pele,

ANDREAtombou um,quatro,não sei,mais e mais.E nós sempre a correr de um lado para o outro.Nunca para trás.Éramos raízes.Nós éramos raízes dali.

MATTEOHavia cada vez mais poeira,pelo ar.

ANDREAComeçámos a tropeçar nos corpos dos nossos pais,irmãos,filhos.

MATTEONão víamos nada a não ser o sangue da guerra/guelra/guerra.

ANDREAEu acabei por deitar-me no chão.

MATTEOE o barulho das balas e das pedras e dos gritos…Já só havia silêncio,e tanto ruído que fazia à volta.Entrámos numa bolha de silêncio ensurdecedor.

ANDREAE chamei pelo meu filho.

(Silêncio breve.)

20 •

ANDREAMas ele já estava deitado ao meu lado.

MATTEOEu acabei por tropeçar num corpo que estava no chão.E caí.

ANDREAAbracei-me ao meu filho.

MATTEOE,não sei porquê,abracei-me a esse corpo que não conseguia ver.Apenas sentir.Precisava de abraçar alguém, Como abracei a minha mãe entes de partir.Não dizer mais nada a não ser o abraço.

ANDREASenti alguém a abraçar-me.

MATTEOE deixei-me estar ali abraçado a um corpo que eu não sabia,sequer,se estava vivo.

ANDREAPensei que era o meu pai.

MATTEONão sei quanto tempo estive ali deitado.

ANDREAAinda pensei:o meu pai?O meu pai nunca me abraçou.Mas sabia a tanto,Aquele abraço.

MATTEONão sei se fiquei sempre acordado.Se adormeci abraçado.

ANDREAQuando tudo acalmou,quando os pés em volta deixaram de levantar poeira.

21 •

MATTEOQuando tudo acalmou…

ANDREAPercebi que não era o meu pai quem me abraçava.

MATTEOPercebi que estava abraçado a uma raiz.Estava abraçado a um corpo de mulher.

(Silêncio breve.)

MATTEOEstava abraçado a uma mulher que chorava a morte do filho.

(Silêncio.)

MATTEO (Para ANDREA.)Estás a chorar?

ANDREA (Para MATTEO.)Já passou.

(Silêncio.)

ANDREA (Para MATTEO.)Abraçaste-me,ontem.

MATTEO (Para ANDREA.)Abracei?

ANDREA (Para MATTEO.)Quando fomos dormir.Abraçaste-me e adormeceste.

MATTEO (Para ANDREA.)E tu acordaste a chorar, não foi?

ANDREA (Para MATTEO.)Já passou.

22 •

Texto publicado na colectânea “Oficina de Escrita Odisseia: textos escolhidos”, co-ordenação de Jean-Pierre Sarrazac e Alexandra Moreira da Silva, edição do Teatro Nacional São João, em Dezembro de 2011.

Sangue na Guerra/Guelra/Guerra resultou de exercício peça parábola, proposto por Jean-PIerra Sarrazac. Ao desafio do exercício, Sarrazac juntou uma bela frase, ins-crita numa igreja francesa, como mote: “Os muros da separação não chegam ao céu”. Foi por aí que caminhei. A estrutura do texto ficou definida no decurso da própria oficina de escrita. O conteúdo tem vindo a ser reescrito, no seguimento de um dos ensinamentos de Sarrazac: “Escrever para teatro é, sobretudo, reescrever”.