Tucanos preparam novos vôos em Lauro de Freitas

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Vilas Magazine - Novembro 2011 | 23 foi a de Chico Franco (PC do B), que pode- rá ir às urnas com ou sem o apoio do PT. Último a falar, depois de despir a ca- miseta branca e literalmente vestir uma vermelha do PT, João Oliveira ofereceu um discurso sintonizado com a ocasião, mas fora da frequência petista, em especial diante da massa militante. Há palavras no- vas no vocabulário do vice-prefeito, mas a mensagem sublinha mais, por exemplo, os “valores da família” do que as “conquistas dos trabalhadores”. É certo que João Oli- veira traçava um perfil de si mesmo, mas também é verdade que a platéia petista está mais habituada a ler as suas lideran- ças a partir de valores políticos e ideológi- cos – mesmo numa apresentação inicial. O caráter conservador do vice-prefei- to, contudo, constrói pontes para setores do eleitorado que não conseguem abordar conceitos como “democracia socialista” sem sentir um calafrio. Nisso precisamen- te reside a aposta de Moema Gramacho. Na face interna, partidária, João Oliveira viu-se credenciado como “parte do pro- jeto do PT em Lauro de Freitas” desde 2004 – e à cúpula isso basta, desde que venha aí o terceiro mandato, largamente mencionado pelas lideranças do PT. Quase todos tentaram, mas foi Ápio Vinagre quem melhor traduziu a neces- sária legitimidade petista do vice-prefeito. Testemunha da história local, Vinagre contou que aquela filiação chegou a ser discutida, por iniciativa do partido, há cerca de 10 anos – num tempo em que o PT não admitia sequer fazer parte de coligações partidárias, muito menos ad- mitir personagens sem determinada carga genética. “Desde aquela época você já era petista”, disse Vinagre. Sempre na oposição ao lado de outros dois ou três, o então vereador João Olivei- ra dava espaço público e institucional às posições políticas do PT. Isso fazia toda a diferença num tempo em que o partido não tinha viabilidade eleitoral em Lauro de Freitas. Hoje são 20 as siglas que giram em torno da administração Moema Gra- macho, mas a admissão de João Oliveira, longe de ser parte das novidades, teria raízes anteriores. De maneira mais sutil, o vice-prefeito costuma lembrar isso mesmo. Dono de um estilo oposto ao de Moema Gramacho, cau- teloso e dado a reflexões, seo João prefere concordar antes de comprar a discórdia. “Não fui operário de fábrica”, quis conceder o comerciante de origem humilde – “mas sou operário da vida”. A militância petista parece não se importar. U m “grande aliado no PT” é o que será o vice-prefeito João Olivei- ra, na opinião da presidente do PSDB de Lauro de Freitas Vânia Almeida. “Foi uma perda para nós”, diz ela, mas os tucanos preferem sublinhar o fato de que um dos seus ganhou re- conhecimento inédito. “Brasília é outra coisa, temos que trabalhar com a nossa realidade aqui”, defende. Vânia encara com naturalidade a migração do vice-prefeito ao lembrar que desde 2001 tanto João Oliveira como ela mesma, depois ao lado dos ex-vereadores Rubinho e Bonfim, faziam oposição na Câmara Municipal de Lauro de Freitas. O prefeito na época era Marcelo Abreu, en- tão ligado ao deputado federal João Leão (PP), ainda hoje o principal adversário de Moema Gramacho (PT) na cidade. “Rompi com Leão em 2001 por causa da falta de comprometimento do grupo com os programas sociais”, diz Vânia, já então vereadora pelo PSDB. “A minha atuação estava concentrada no programa Bolsa Escola implantado pelo governo Fernando Henrique Cardoso” – que de- pois seria ampliado e transformado no Bolsa Família durante o governo Lula. A aposta daquele bloco de oposição na can- didatura de Moema Gramacho, três anos mais tarde, surgiu como consequência do rompimento com o grupo de Leão. As referências de Vânia Almeida ao governo e às realizações tucanas não são gratuitas. O diretório local prepara uma nova fase que enfatizará a história, a identidade e os valores do PSDB e os primeiros sinais disso são visíveis no Facebook e outras redes sociais. Com os novos 62 filiados que reforçam o time do PSDB para as eleições do ano que vem, o partido pretende fazer três vereadores. Pelo menos quatro dos recém-chegados têm viabilidade eleitoral e o partido conta ainda com o presidente da Câmara Antô- nio Rosalvo para puxar votos. JUVENTUDE Agora com 701 membros regularmen- te registrados, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, o partido já é um dos maiores do município, atrás do PT – que registra 919 filiados – mas à frente do DEM (677), PMDB (644), PSB (494) e PP (392). O reforço do time é resultado “de uma aposta no potencial do PSDB para atingir resultados”, acredita Rosalvo. “Não somos apenas mais uma sigla partidária em busca do poder pelo poder”, diz. “Temos identidade própria e relevantes serviços prestados ao país e ao município de Lauro de Freitas”, destaca. Conciliador, o presidente da Câmara, aliás discípulo de João Oliveira, prefere “sublinhar os valo- res do PSDB e não os desvalores alheios”. O caso é que nem mesmo o maior exército de filiados será eleitoralmente útil se não estiver politicamente mobilizado. Vânia Almeida sabe disso e fez seus planos. “Vamos formalizar o movimento da Juven- tude do PSDB de Lauro de Freitas”, revela. Envolvido no projeto da JPSDB local está Victor Quilici, 20 anos, estudante de Direito na Unime e morador de Buraquinho. Tucanos preparam novos vôos em Lauro de Freitas A juventude tucana também já des- fralda bandeiras no Facebook: “Lauro de Freitas precisa de jovens engajados politicamente para fazer evoluir a Ju- ventude do PSDB na nossa cidade”, anotou o movimento em um comentário. Em outro, no dia 25 de outubro, mostrou u Victor Quilici quer recuperar para a cidade os militantes que já moram aqui: tropa treinada

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Reportagem da Vilas Magazine de novembro/2011 sobre os planos do PSDB para Lauro de Freitas

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foi a de Chico Franco (PC do B), que pode-rá ir às urnas com ou sem o apoio do PT.

Último a falar, depois de despir a ca-miseta branca e literalmente vestir uma vermelha do PT, João Oliveira ofereceu um discurso sintonizado com a ocasião, mas fora da frequência petista, em especial diante da massa militante. Há palavras no-vas no vocabulário do vice-prefeito, mas a mensagem sublinha mais, por exemplo, os “valores da família” do que as “conquistas dos trabalhadores”. É certo que João Oli-veira traçava um perfil de si mesmo, mas também é verdade que a platéia petista está mais habituada a ler as suas lideran-ças a partir de valores políticos e ideológi-cos – mesmo numa apresentação inicial.

O caráter conservador do vice-prefei-to, contudo, constrói pontes para setores do eleitorado que não conseguem abordar conceitos como “democracia socialista” sem sentir um calafrio. Nisso precisamen-te reside a aposta de Moema Gramacho. Na face interna, partidária, João Oliveira viu-se credenciado como “parte do pro-jeto do PT em Lauro de Freitas” desde 2004 – e à cúpula isso basta, desde que venha aí o terceiro mandato, largamente mencionado pelas lideranças do PT.

Quase todos tentaram, mas foi Ápio Vinagre quem melhor traduziu a neces-sária legitimidade petista do vice-prefeito. Testemunha da história local, Vinagre contou que aquela filiação chegou a ser discutida, por iniciativa do partido, há cerca de 10 anos – num tempo em que o PT não admitia sequer fazer parte de coligações partidárias, muito menos ad-mitir personagens sem determinada carga genética. “Desde aquela época você já era petista”, disse Vinagre.

Sempre na oposição ao lado de outros dois ou três, o então vereador João Olivei-ra dava espaço público e institucional às posições políticas do PT. Isso fazia toda a diferença num tempo em que o partido não tinha viabilidade eleitoral em Lauro de Freitas. Hoje são 20 as siglas que giram em torno da administração Moema Gra-macho, mas a admissão de João Oliveira, longe de ser parte das novidades, teria raízes anteriores.

De maneira mais sutil, o vice-prefeito costuma lembrar isso mesmo. Dono de um estilo oposto ao de Moema Gramacho, cau-teloso e dado a reflexões, seo João prefere concordar antes de comprar a discórdia. “Não fui operário de fábrica”, quis conceder o comerciante de origem humilde – “mas sou operário da vida”. A militância petista parece não se importar.

Um “grande aliado no PT” é o que será o vice-prefeito João Olivei-ra, na opinião da presidente do PSDB de Lauro de Freitas Vânia

Almeida. “Foi uma perda para nós”, diz ela, mas os tucanos preferem sublinhar o fato de que um dos seus ganhou re-conhecimento inédito. “Brasília é outra coisa, temos que trabalhar com a nossa realidade aqui”, defende.

Vânia encara com naturalidade a migração do vice-prefeito ao lembrar que desde 2001 tanto João Oliveira como ela mesma, depois ao lado dos ex-vereadores Rubinho e Bonfim, faziam oposição na Câmara Municipal de Lauro de Freitas. O prefeito na época era Marcelo Abreu, en-tão ligado ao deputado federal João Leão (PP), ainda hoje o principal adversário de Moema Gramacho (PT) na cidade.

“Rompi com Leão em 2001 por causa da falta de comprometimento do grupo com os programas sociais”, diz Vânia, já então vereadora pelo PSDB. “A minha atuação estava concentrada no programa Bolsa Escola implantado pelo governo Fernando Henrique Cardoso” – que de-pois seria ampliado e transformado no Bolsa Família durante o governo Lula. A aposta daquele bloco de oposição na can-didatura de Moema Gramacho, três anos mais tarde, surgiu como consequência do rompimento com o grupo de Leão.

As referências de Vânia Almeida ao governo e às realizações tucanas não são gratuitas. O diretório local prepara uma nova fase que enfatizará a história, a identidade e os valores do PSDB e os primeiros sinais disso são visíveis no Facebook e outras redes sociais. Com os novos 62 filiados que reforçam o time do PSDB para as eleições do ano que vem, o partido pretende fazer três vereadores. Pelo menos quatro dos recém-chegados têm viabilidade eleitoral e o partido conta ainda com o presidente da Câmara Antô-nio Rosalvo para puxar votos.

JUventUdeAgora com 701 membros regularmen-

te registrados, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, o partido já é um dos maiores do município, atrás do PT – que registra 919 filiados – mas à frente do

DEM (677), PMDB (644), PSB (494) e PP (392). O reforço do time é resultado “de uma aposta no potencial do PSDB para atingir resultados”, acredita Rosalvo. “Não somos apenas mais uma sigla partidária em busca do poder pelo poder”, diz. “Temos identidade própria e relevantes serviços prestados ao país e ao município de Lauro de Freitas”, destaca. Conciliador, o presidente da Câmara, aliás discípulo de João Oliveira, prefere “sublinhar os valo-res do PSDB e não os desvalores alheios”.

O caso é que nem mesmo o maior exército de filiados será eleitoralmente útil se não estiver politicamente mobilizado. Vânia Almeida sabe disso e fez seus planos. “Vamos formalizar o movimento da Juven-tude do PSDB de Lauro de Freitas”, revela. Envolvido no projeto da JPSDB local está Victor Quilici, 20 anos, estudante de Direito na Unime e morador de Buraquinho.

Tucanos preparam novosvôos em Lauro de Freitas

A juventude tucana também já des-fralda bandeiras no Facebook: “Lauro de Freitas precisa de jovens engajados politicamente para fazer evoluir a Ju-ventude do PSDB na nossa cidade”, anotou o movimento em um comentário. Em outro, no dia 25 de outubro, mostrou u

Victor Quilici quer recuperar para a cidade os militantes que já moram aqui: tropa treinada

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BORGES
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POLÍTICA

afinação com o posicionamento do diretório municipal: “aqui no município de Lauro de Freitas o PSDB caminha lado a lado com a atual gestão”, escreveu a juventude tucana. “Foi assim nos últimos oito anos, quando tiramos nossa cidade de uma verdadeira miséria e elevamos a um patamar melhor”, diz o comentário. Quanto ao vice-prefeito, “somos gratos por todo trabalho que João fez no nosso partido e na nossa cidade e esperamos que em 2012 ele consiga alcan-çar seus objetivos, que com toda certeza visam apenas o bem de Lauro de Freitas”.

A ideia não é “fazer política” por fazer, mas “prestar serviço às comunidades, desempenhar um dever social”, diz Quili-ci. Uma das primeiras providências dele será engajar os militantes da juventude tucana de Salvador que moram em Lau-ro de Freitas. “Muitos jovens daqui se interessam por política, mas até agora estavam filiados em Salvador”, verifica. Ele mesmo fez esse caminho depois da experiência adquirida na “J” da capital. A tropa já chega treinada.

O vereador Manoel Messias de Lima (PDT) apresentou na Câmara um reque-rimento para que a prefeita Moema Gra-macho mande consertar, veja você, as sinaleiras da avenida Luiz Tarquínio. O vereador tem mais razão do que imagina ter. Piscando no amarelo praticamente desde que foram instaladas, há quase um ano, as sinaleiras exigem conserto. O defeito é administrativo – não do equi-pamento – mas a intervenção impõe-se da mesma forma.

Supostamente inúteis, três pares foram desligados a pedido dos comer-ciantes para não atrapalhar o tráfego. Em nome da fluidez, assumiu-se um risco que afeta motoristas e pedestres. Ao aceitar que as sinaleiras fossem desligadas, a própria prefeita manifes-tara preocupação com a segurança. Desde então o vai-não-vai do retorno à mão dupla adia uma solução.

Vereador pede ‘conserto’ de

sinaleiras na av. Luiz Tarquínio

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