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    Universo dos Livros Editora Ltda.Rua Haddock Lobo, 347 12 andar Cerqueira CsarCEP 01414-001 So Paulo/SPTelefone: (11) 3217-2600 Fax: (11) 3217-2616

    www.universodoslivros.com.bre-mail: [email protected]

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    2009 by Universo dos LivrosTodos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.Nenhuma parte deste livro, sem autorizao prvia por escrito da editora, poderser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrni-

    cos, mecnicos, fotogrficos, gravao ou quaisquer outros.

    A994t Azevedo, Janaina.

    Tudo o que vocs precisa saber sobreUmbanda Volume 2/Janaina Azevedo. So Paulo: Universo dos Livros, 2009. 128 p.

    ISBN 978-85-7930-031-8

    1. Umbanda. 2. Religio. I. Ttulo.

    CDD 299

    Diretor EditorialLuis Matos

    Assistncia EditorialNoele Rossi

    PreparaoLuciane Gomide

    RevisoCristina Perfetti

    Projeto grficoFabiana Pedrozo

    DiagramaoClaudio AlvesStephanie Lin

    CapaJorge Godoy de Oliveira

    Foto da capaBruno Arajo RodriguesLoja: O Rei dos Orixs

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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    Ao meu marido, Horacio, por me incentivar a continuar, porentender e respeitar a minha f, embora no compartilhe dela. Eleme fez perceber que trabalho e postura srios ultrapassam qualquer

    barreira.

    A todos os leitores que me escreveram, leram, comentaram e entenderam

    a minha postura de no fazer da religio um comrcio de ritos.

    A todas as sugestes e elogios que recebi.

    E finalmente, aos meus pais carnais, Emlia e Sidnei, quecontinuam sendo um excelente exemplo, no s para mim, mas paraos outros. E aos meus avs, Victria e Antnio, que me deram todo o

    apoio quando da publicao do primeiro volume.

    Este livro para vocs.

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    Sumrio

    Prefcio ......................................................................................... 9

    Introduo ...................................................................................13

    Parte IDoutrina & Prtica Ritual ............................................................17

    Parte 2Entidades Brasileiras .....................................................................57

    MinidicionrioTermos de Umbanda Tradicional ................................................ 93

    Referncias Bibliogrficas ...........................................................125

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    Prefcio

    Eu sou de um tempo em que uma folha batida com f, uma velaquebrada despachada no lugar certo e uma baforada do cachimbode uma preta-velha fazia milagres, porque o que contava era a fdas pessoas, no sua conta bancria. Hoje, tudo se resolve com ebs,trabalhos e amarraes para o amor. Infelizmente, a Umbandavirou soluo de problemas. A maioria das coisas as pessoasconseguem com o carto de crdito. Para a Umbanda, infelizmente,ele tambm passou a existir.

    Emlia de Orunmil, membro da Umbanda de Nao (nag)h 42 anos. Foi criada na Umbanda, feita no Candombl deNao Nag

    Comecei meu ltimo livro colocando a mo na massa, fazendouma introduo sobre o que eu trataria. Neste resolvi comear com umapequena reflexo sobre a realidade da nossa religio.

    Em geral o tom do meu texto bem mais impessoal, quase cientfi-co, pois meu intuito esclarecer e trazer luz alguns fatos que muitos

    tentam fazer passar por segredo de religio, apenas porque o mistrio mais rentvel aos prprios benefcios do que o conhecimento. Torna-sedifcil cobrar por um show cheio de velas, sacrifcio de animais, rou-pas, msicas etc., uma vez que a pessoa presente sabe exatamente o queest sendo feito.

    Acho que essa busca por conhecimento foi o que fez meu ltimo livroter a grande aceitao que teve. Fico feliz por essa busca, mas tambmvejo que ainda h muito a fazer.

    Desde que escrevi o primeiro livro desta srie, aprendi muito, pudedebater com muitas pessoas, fui convidada para algumas palestras e atmesmo para ir a algumas Casas. Aprendi muito, tanto com as coisasboas, quanto com as coisas ruins que vieram a partir disso.

    Pude debater com pessoas que compartilham da minha viso deque o conhecimento engrandece o homem, e conhecer a f que se pra-tica faz-la com razo e emoo equilibradas, de maneira consciente

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    e por vontade, no s por medo (dos Orixs, das Entidades, enfim, domundo espiritual em geral) ou por necessidade (a boa e velha soluode problemas: falta de dinheiro, um marido ou esposa que foi embo-ra, um emprego que no se assenta etc.). Mas tambm recebi algunse-mails, especialmente, que me deixaram um tanto quanto chocada:Como assim, voc abre para todos o que segredo de religio e sai escre-vendo livros contando at a posio em que nos sentamos dentro de umaCasa?ou pior Seus Orixs ho de te punir por sair revelando aquiloque o nosso meio de vida. Se um esprito vem em terra, o cavalo tem quereceber algo em troca.

    Bom, essas indagaes no foram exclusivas de e-mails. Algumaspessoas em palestras que dei, em Casas que fui, me indagaram da mes-ma maneira. E, para minha surpresa, em maior ou menor grau, percebicomo a ideia de que tudo um grande comrcio arraigou de tal ma-neira que se tornou aceitvel (por vezes no nos diferenciando das igrejaspague por seu milagre e ganhe um cantinho do cu que tanto noscriticam). Como se diz por a, tem gente hoje que s vive do santo.Virou profisso.

    Foi a minha indignao com isso que me fez ouvir as palavras dosmais velhos, aqueles a quem SEMPRE devemos respeito, e sentir sau-dades de um tempo que eu no vivi. Um tempo em que voc trabalha-va o dia todo e, quando saa de noite, sendo dirigente de um terreiro,ia para Casa cuidar das pessoas, fazer sua gira e cumprir com as suasobrigaes obrigaes estas, que voc assumiu por vontade prpria.Se a Casa recebia alguma coisa, era o justo e a justa medida de cada umem doaes. Voc no via templos monumentais, mas casinhas acon-chegantes, onde todo mundo tinha um espao e onde sempre tinhauma entidade pronta para te ouvir.

    Hoje, voc d uma topada com o dedo do p e precisa fazer algumacoisa porque a entidade quem est te cobrando algo ou foi trabalhoque fizeram contra voc. Acabou-se o tempo em que se voc faz algumacoisa errada, vai arcar com as consequncias dos seus prprios atos. Hojevoc resolve seus problemas com carto de crdito, pagando para fazermais um despacho.

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    Como o meu conformismo nunca conseguiu sequer permanecer pormais de alguns segundos no meu ser, no consigo simplesmente aceitarisso. por esse motivo que continuo com esse trabalho, tentando faz-lo da maneira mais clara e completa possvel. Sei que ainda h muito adizer mas outros livros viro e, eu sei, no pararei por aqui.

    Por isso, dedico este livro a todos que, como eu, acreditam que otrabalho srio e a f verdadeira, a busca constante por conhecimento eas pessoas de bom carter, ainda ho de restaurar, no s na Umbanda,mas em todas as religies afro-brasileiras e espritas, o tempo em que acaridade era o bem maior de que podamos dispor.

    Janaina [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    Introduo

    Avante Filhos de f,

    Com a nossa Lei no hLevando ao mundo inteiro,A Bandeira de OxalHino da Umbanda (Trecho)

    Nesta Introduo vamos retomar alguns pontos que j foram tratadosno primeiro livro, para que um leitor desavisado ou que no esteja acom-panhando a srie e tenha se interessado pelo tema deste livro em espec-

    fico, no se sinta perdido ou no acompanhe tudo. Um primeiro passo falar sobre a maneira como o contedo da srie est sendo organizado.Desde o primeiro volume optamos, no por dar preferncia a uma

    vertente da Umbanda, mas por tentar seguir uma linha histrica a partirdas influncias primeiras da Umbanda de Tradio, por desenvolver umtrabalho de pesquisa sobre este gnero da religio. O primeiro livro dacoleo tinha por objetivo falar da formao da Umbanda, historica-mente e, de maneira sucinta e objetiva, descrever a estrutura bsica de

    um templo. No segundo, neste mesmo contexto, abordaremos doutrinae prtica ritual, e no terceiro, indumentria e instrumentalizao, isto ,o uso corrente de objetos, de ervas e outros, dentro e fora do templo.

    O livro, dividido em duas partes, trata na primeira da religio demaneira geral e da estrutura que a comporta; na segunda traz aspectosdas razes da Umbanda. No primeiro livro falamos de trs das maistradicionais entidades da Umbanda, frutos do processo sincrtico quedeu origem religio afro-brasileira de que tratamos: Pretos-Velhos,

    Crianas (Ers) e Exus. Este segundo trabalho fala dos Caboclos eBoiadeiros, Marinheiros e Baianos e outras incorporaes da Encanta-ria Nacional. J no terceiro livro, a ideia falar sobre as outras influn-cias que a Umbanda teve ao longo dos anos: a Jurema, o Catimb e oCatolicismo, os Ciganos e os povos do Oriente, alm do papel da ndiae da cultura rabe.

    No primeiro livro, uma questo que muito me ocupou na introduofoi o que Umbanda, dentro do conceito de religio. Sobre isto j demos

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    as devidas explicaes, assim, prosseguimos com os aspectos principaisdos ritos e da cosmogonia dos cultos.

    Conforme dito no primeiro livro, alguns dos aspectos doutrinrios daUmbanda esto calcados na existncia de uma fonte criadora universal,um Deus supremo. Para aquelas vertentes de base africana, temos umDeus Supremo nico chamado Olorum(proveniente dos mitos Ioruba-nos), ou Oxal(sincretizado com Jesus Cristo e com o Deus Catlico) ouaindaZambi(proveniente dos mitos oriundos principalmente das naesde culto bantu, como a nao Angola).

    Mas neste volume falaremos tambm de outra forma dessa FonteCriadora Universal, proveniente das mitologias indgena e catlica. Nelenos propusemos a tratar, principalmente, das entidades brasileiras e daencantaria proveniente destas manifestaes. Assim, no incomum, en-contraremos Casas, Templos ou Tendas que personificam esta fonte cria-dora universal no Deus Catlico, se valendo da Bblia e seguindo umadoutrina sincrtica, com rezas e cantos catlicos ao lado de rezas e cantosindgenas e negros, dano primazia, porm, aos primeiros. Ainda, encon-traremos Casas centradas na mitologia indgena, por conta de sua forteligao com caboclos e entidades provenientes da cosmogonia indgena.Ento, nestas Casas, ouviremos falar prioritariamente de Tup o DeusSupremo, e do panteo indgena.

    Aqui, trataremos tambm, junto com a Umbanda, de uma outra ver-tente, citada no livro anterior, o Candombl de Caboclo, no qual pode-mos encontrar as influncias indgenas mais presentes e fortes, fruto daancestralidade de nossa terra.

    E, finalizando essa breve introduo, reitero que os conceitos aqui re-latados podem diferir daqueles que so parmetros e dogmas em muitostemplos, por se tratar de uma viso generalista histrica e no detalhada,

    mas panormica do culto. Sendo a Umbanda um conjunto de temploscom diferenciadas prticas religiosas, as informaes aqui expostas bus-cam esclarec-las da forma mais abrangente possvel, sem discriminaoou preconceitos.

    Embora tenhamos escolhido lidar com aquela que est mais direta-mente ligada raiz histrica da criao do culto, isto , a Umbanda deTradio, todas as Umbandas tm suas razes de existir e de seremcultuadas. Encerrando esta como na minha ltima introduo:

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    Nenhum ser humano, especialmente no que concerne aos deuses, de-tentor de qualquer verdade universal. A verdade que nos liga ao transcen-dente nica e verdadeira apenas dentro de nossas almas.

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    Doutrina & Prtica Ritual

    Parte I

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    Doutrina Umbandista

    D de graa, o que de graa recebestes:

    com amor, humildade, caridade e fCaboclo das Sete Encruzilhadas, na Federao Esprita deNiteri, em 15 de novembro de 1908.

    Em primeiro lugar, de suma importncia que estabeleamos o que doutrina, pois nessa palavra to pequena est o cerne do conceito doqual vamos nos valer para falar sobre a Umbanda. O termo doutrinapode ser definido como o conjunto de princpios que servem de base aum sistema religioso, poltico, filosfico, militar, pedaggico, entre ou-tros. Ou seja, o conjunto de regras de que um determinado indivduo,seja em qual mbito for, deve se valer para saber como agir, o que fazer,em que acreditar, como prestar culto, reverenciar ou, simplesmente, aquem obedecer dentro de uma estrutura hierrquica.

    Dentro desse conceito que muito abrangente, como podemos ver esto os temas que abordamos no primeiro livro, sobre a estrutura daCasa de Umbanda e das pessoas, sua hierarquia e os instrumentos bsi-cos do templo.

    Neste livro, porm, falaremos de outros aspectos to importantesquanto queles, mas que esto ligados, em essncia, estrutura dos tra-balhos e forma de expresso da f nos ritos e na liturgia.

    A Umbanda, ao contrrio de muitas outras religies, no possui umlivro cannico central, como a Bblia dos cristos, a Tor dos judeus, ouo Coro1dos muulmanos. Embora muitos escrevam sobre a religio,ningum pode dizer que escreveu uma bblia da Umbanda, j quetodas as religies que possuem um livro sagrado os obtiveram por meiode revelaes. A Bblia crist foi obtida por meio da juno de alguns

    1 Coro o nome do livro. Al em rabe apenas um artigo, ou seja, apenasuma partcula da frase que serve como especificador. Portanto, quando dize-mos Al Coro falamos, na verdade, O Coro.

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    livros da Tor judaica; das revelaes dos profetas; do Pentateuco (queconhecemos como Antigo Testamento); do Novo Testamento; da pala-vra da revelao dos apstolos que conviveram com Jesus, obtida pelacomunicao entre o Deus hebreu e os homens; das cartas dos apstolossobre a vida e a doutrina que Cristo lhes deixara; e, por fim, das revela-es do fim do mundo feitas pelos Anjos a So Joo, no Apocalipse.

    Mas e a Umbanda? A Umbanda, por sua vez, tem origem nesses mes-mos livros e tambm nos livros que doutrinam o Kardecismo (O Livrodos Mdiuns, o Livro dos Espritos etc.), na tradio oral da culturaafricana, j tratada no primeiro volume e das culturas indgenas quepassaram a integr-la. Assim, os fundamentos podem variar de Casapara Casa, de vertente para vertente, mas alguns conceitos bsicos soencontrados na maioria dos lugares e podem, assim, com certa ressalva ecuidado, ser generalizados na Umbanda.

    O primeiro deles refere-se existncia de uma fonte criadora univer-sal, um Deus supremo, chamado Olorum ou Zambi, e no caso das Casasmais centradas na cultura Tupi, tambm se encontra Tup. Em algumasoutras fala-se abertamente de Jesus Cristo, de Nosso Senhor do Bonfime, dependendo da influncia, at de Al. O ponto que a Umbanda seassume como uma religio monotesta com uma hierarquia organizadaabaixo do Deus nico e superior que rege o Universo.

    Alm disso, deve sempre haver obedincia aos valores humanos, comoa fraternidade, a caridade e o respeito ao prximo. A caridade, por suavez, a mxima da Umbanda, e dela se origina grande parte dos demaisconceitos. No uma questo, como s vezes pode soar, de doao dedinheiro ou bens materiais, trata-se de doar-se a uma causa, f e aocuidado com as pessoas, levando a cabo a cidadania e a humanidade quepossumos, ajudando uns aos outros como irmos.

    Num terceiro plano, vemos o culto aos Orixs como manifestao di-vina. Cada Orix controla e se confunde com um elemento da natureza,do planeta ou da prpria personalidade humana, em suas necessidades econstrues de vida e sobrevivncia. O culto tambm ocorre nas Casasde raiz indgena, que o fazem valendo-se dos deuses daquele panteo(Anhang, Iara, Acau, Caipora etc.).

    Diante disso, a manifestao dos guias para exercer o trabalho espi-ritual incorporado em seus mdiuns faz parte da caridade, j que eles

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    orientam, instruem, curam, do passes e ajuda emocional aos consulen-tes e adeptos da religio, criando um elo entre este mundo e o mundoespiritual. Portanto, a mediunidade a forma de contato entre o mundofsico e o espiritual, manifestada de diferentes formas.

    A doutrina, como uma regra ou conduta moral e espiritual, seguidaem cada Casa de forma diferente, mas existe para nortear os trabalhosde cada Terreiro. Assim, cada Casa ter prioridade de atendimento comuma certa Entidade, ter sesses prprias de desenvolvimento para osmdiuns e ditar as datas de suas festas, as vestimentas e indumentrias,a cor das guias (obedecendo um padro geral) e como elas so feitas.

    Por ltimo, a Umbanda prega a imortalidade da alma, a crena nareencarnao e nas leis krmicas.

    Nas pginas seguintes falaremos com mais detalhes de alguns dessesitens.

    Mediunidade e Desenvolvimento Medinico

    Segundo o espiritismo, mdium toda pessoa com capacidade mparde se comunicar com espritos e com elementos da natureza que se ma-nifestem conscientemente, seja por meio da incorporao fsica daqueleente em seu corpo, pela vidncia (enxergando o ente), pela audincia(ouvindo o que ele diz e transmitindo ou filtrando suas palavras) ou pelapsicografia (ato da escrita motivado pela presena ou pelos ditames deum esprito que guia a pessoa em seu trabalho).

    Na Umbanda, o mdium serve como instrumento dos guias e dasEntidades que vm Terra em misso de caridade. Entretanto, exercera mediunidade no uma tarefa fcil, e para estar preparado para ela, necessrio entregar-se orao, aos estudos cannicos do exerccio damediunidade, meditao e ao autocontrole. O mdium deve prezar oequilbrio e valorizar sua moral, elevando-se como pessoa e como esp-rito, aprendendo os conceitos necessrios para o exerccio da Umbanda,respeitando pessoas, Guias e Orixs.

    Mais do que isso, o mdium deve ser assduo em seus compromissoscom a Casa, seus Guias, suas Entidades e com as pessoas a quem se pro-pe atender. O amor e a f devem ser uma constante em seu corao eele deve ter a certeza de que a Umbanda no deve ser praticada apenas

    da porta do Terreiro para dentro, mas deve ser exercida na vida como

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    um todo. Sobre o desenvolvimento da mediunidade, citamos o espritoEmmanuel, que falava por meio de Chico Xavier:

    Ningum dever forar o desenvolvimento dessa ou daquela faculdade,porque, nesse terreno, toda a espontaneidade necessria; observando-se,

    contudo, a florao medinica espontnea nas expresses mais simples,deve-se aceitar o evento com as melhores disposies de trabalho e boa

    vontade, seja essa possibilidade psquica a mais humilde de todas.A mediunidade no deve ser fruto de precipitao nesse ou naquele

    setor da atividade doutrinria, porquanto, em tal assunto, toda aespontaneidade indispensvel, considerando-se que as tarefas medi-

    nicas so dirigidas pelos mentores do plano espiritual.Emmanuel, 1940

    Uma das coisas mais fundamentais a mediunidade no ser um domque torna o indivduo mais importante ou mais especial que as pessoas sua volta, portanto, no deve ser exercida por vaidade ou desejo de sedestacar, mas, sim, por compromisso consigo e com os outros, com seusGuias, como uma oportunidade clara e bem direcionada de cumprir oresgate dos erros cometidos, nesta vida ou nas outras. Ela tambm nodeve ser encarada como um fardo ou uma maneira de ganhar dinheiro, poisa inteno do mdium deve ser sempre a oportunidade nica que ele tem derealizar o esprito praticando o bem e a caridade.

    Infelizmente, no incomum, nos dias de hoje, encontrarmos quemdistora esse papel e responsabilidade em proveito prprio, cobrandoquantias absurdas por trabalhos feitos na direo do mal ou que nofuncionam, ou ento, atendendo pela vontade, muitas vezes usando amediunidade como uma desculpa para ganhar presentes e iguarias. Esses

    mdiuns nos difamam, mas a pior consequncia aquela que recai sobreseus prprios ombros: com esse tipo de comportamento, eles atraem parasi espritos vingativos, cheios de raiva e trevas.

    Desenvolver a mediunidade um processo srio e que deve ser orien-tado por pessoas responsveis, que norteiem esse desenvolvimento a fimde dar ao iniciado um profundo conhecimento de religio, tica, hones-tidade, valor e moral.

    necessrio dizer que a mediunidade uma habilidade inerente a to-

    dos os seres humanos, em maior ou menor grau, e tambm a todos os

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    outros seres, animados e inanimados, uma vez que ela nada mais quenosso vnculo com o mundo e os planos que o integram: o espiritual, oelemental, o fsico e o divino. Ento, todo ser humano pode influenciar ouser influenciado pelos espritos. No entanto, convencionou-se que mdiunsso aqueles que conseguem exercer essa faculdade de maneira mais osten-siva, por meio das capacidades que j citamos.

    Entende-se por mediunidade o processo em que a mudana fsicaocorre pela interveno de um esprito divino, natural, elementar ouhumano desencarnado. Isso porque h pessoas capazes de intervir narealidade sem a necessidade dos espritos os paranormais. Esse tipo deinterveno no ser, contudo, tratado aqui.

    Falemos mais especificamente das manifestaes medinicas. AllanKardec, no Livro dos Espritos, tratou das manifestaes dividindo-as emduas categorias. A primeira era a dasManifestaes Fsicas, isto , toda aocorrncia ligada a rudos e sons, movimentao e deslocamento de cor-pos slidos etc. Depois, ele tratou do que conhecemos porManifestaesInteligentes, ou as demais ocorrncias medinicas, como aparies, mo-dificaes em planos de energia etc. As primeiras so cada vez mais raras,embora possam ser vivenciadas de maneira intensa e, por isso, suscitammaior curiosidade.

    , portanto, imprescindvel para o bom desenvolvimento do mdium,que ele se fixe em dois pilares fundamentais: o estudo, pelo qual obtm oaprendizado sobre como dispor de suas faculdades; e o desenvolvimento,porque caminha em direo ao bom uso, valendo-se de suas capacidadespara seguir no caminho da evoluo, com amor, caridade e boa vontade,seja no templo ou na vida cotidiana.

    O mdium deve realizar, sempre que possvel, os rituais necessrios:banhos, sacudimentos, Amacis, entre outros, que sejam adequados a seus

    Orixs e Guias.Ele deve se comprometer com aquilo que escolheu realizar por vonta-

    de, e estar pontualmente no terreiro com sua roupa sempre limpa. Deve,tambm, sempre conversar com o chefe espiritual do Terreiro quandoestiver com alguma dvida, problema espiritual ou material.

    Cada chefe espiritual pode indicar a seus filhos os livros e leituras quejulgar apropriados para o conhecimento e o estudo de suas capacidadesmedinicas.

    Passemos s Etapas do Desenvolvimento Medinico.

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    Etapa I Manifestao & AdaptaoQuando da manifestao da mediunidade, uma Casa de Umbanda

    deve ser procurada, e o mdium ter de passar por alguns processos que

    tornaro o aprendizado mais tranquilo e o desenvolvimento mais firmee indelvel.Numa primeira instncia ele frequentar os ritos e as sesses de desen-

    volvimento da Casa, procurando, contudo, observar e entender os proces-sos pelos quais passa, vendo-os refletidos nos demais filhos. Durante essemesmo processo, devem ser explicados ao mdium seus direitos e suasobrigaes, sobre suas Entidades, a doutrina e a manifestao medinica.

    Esse procedimento necessrio para que ningum entre na religiosem estar ciente de que ao lado de seus direitos existem todas as obriga-es. A instruo e o conhecimento fazem parte da f, pois, assim, a crenano se dar pelo medo ou pelo fascnio fugaz, mas pela compreenso e pelaevoluo espiritual.

    Durante a adaptao, o mdium pode ou no incorporar, pode ouno exercer sua vidncia, sua audincia ou sensitividade de maneira aampli-la ou control-la.

    Caso seja iminente, ou na falta de opo, por necessidade extrema, os di-rigentes devem ajudar o mdium a evoluir nesse sentido, ensinando-o a tor-nar o processo cada vez mais simples e consciente. O mdium que se debate,quer por medo, quer pela no aceitao de sua condio, contra as manifes-taes no deve ser instrudo a apenas aceitar sua condio, pois sentiriaculpa e revolta e tornaria a mediunidade um fardo. O bom dirigente sabeque, ao instruir uma pessoa no caminho da mediunidade, necessrio:

    Identificar qual o tipo de mediunidade (afinal, nem todo mdium in-corpora alguns so capazes de ver os espritos, ouvi-los, falar com elesetc.). Forar a incorporao pode traumatizar o esprito e o corpo. Permitir que a mediunidade se manifeste naturalmente. Se o m-dium no incorpora, talvez seja o caso de instru-lo no uso de orcu-los (tar, bzios, cristais, espelhos dgua etc.). Se o caso a audin-cia ou a manipulao de energia, talvez se deva instru-lo no sentidode limpar os ambientes e orientar, conscientemente, outras pessoasque tenham contato difuso com o mundo espiritual. No lidar com a revolta com revide (Se voc no aceitar, o santo tepune). A poltica punitiva dificulta o desenvolvimento. Ao contrrio,

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    o mdium tem de notar que o dom que possui deve faz-lo feliz e notransformar-se num fardo.

    importante entender, tambm, que certas pessoas (crianas, em es-pecial, quando manifestam sua mediunidade, tendem a faz-lo de ma-neira totalmente espontnea e, por isso, intensa; alguns adolescentes eadultos tambm preservam essas caractersticas), com altssimos nveisde mediunidade j desenvolvida, tendem a ter um processo diferenciado,sobre o qual falaremos mais adiante, em outros ritos de desenvolvimen-to, iniciao e equilbrio energtico.

    Etapa II BatismoTemos de ter em mente que o Batismo significa o despertar definitivopara a Umbanda, o momento em que o mdium, conscientemente, se pro-pe a seguir com sua escolha. O batismo um lao imutvel, pois o ritualque firma a Entidade, dentre todas que o acompanham desde seus ances-trais, que ir reger a cabea, alm de anunciar todas as demais Entidades.

    Para o ritual do Batismo h preceitos necessrios, que preparam ocorpo e a alma para o ritual.

    Durante os sete dias que antecedem o ritual preciso purificar ocorpo por meio de banhos que equilibrem a energia espiritual e afsica. Portanto, quando comearem os banhos, deve-se acender umavela de sete dias em local apropriado, e tomar banhos todos os setedias. Muitas Casas recomendam banhos com ervas neutras comofolha-da-costa, folha-da-fortuna, tapete-de-oxal (boldo) ou arruda,porm depende de cada uma e da necessidade do mdium, pois sotodas ervas de Oxal, mas caso seja preciso usar as ervas de seus pr-prios guias, isso lhe ser informado. Durante a semana, deve-se evitar ambientes carregados e usar rou-pas brancas ou o mais claras possvel. Faa dessa semana a sua me-lhor semana. No dia da cerimnia, o mdium deve portar:

    Roupas brancas (ao menos duas trocas, pois uma delas ser mo-lhada).Uma toalha branca, sem desenhos ou estampas, no mximo en-feitada com uma fita da cor de seus Orixs de cabea.Uma roupa velha, que ser rasgada e inutilizada.

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    Uma vela branca grossa de 40 cm e uma vela branca normal.Uma bacia branca de gata.

    A Cerimnia de BatismoItens necessrios no ritual, providenciados pela casa e pelos dirigentes: Trs velas: uma preta, uma vermelha e uma branca. Um alguidar pequeno com farofa de Exu. Uma quartinha de barro ou um copo de barro com gua ou gim. Farinha de mandioca para farofa. Uma tbua de madeira para riscar o ponto do esprito que comanda

    os trabalhos espirituais ou daqueles a quem ele atribuiu essa funo. Pemba branca. Incenso (no o de vareta, o incenso natural, queimado no incensa-dor, feito manualmente, como o preparado com caf, cascas de alho,alecrim, alfazema e sal grosso este o mais simples, mas cada Casapossui suas prprias receitas de acordo com suas necessidades). Sal grosso, diludo em gua na hora do ritual. Mel ou mirra.

    O batismo realizado, em geral, em cachoeiras. Entretanto, antesde chegar ao espao reservado a ele deve haver uma parada, para que odirigente e o responsvel pela Casa, por cuidar de Exu faam-lhe umaoferenda. Essa oferenda consiste em parar numa encruzilhada, dispor astrs velas (vermelha, preta e branca) em forma de tringulo e, no centro,colocar a farofa de Exu e o copo/quartinha de gua ou gim.

    Em geral, a Umbanda Tradicional canta para o Exu Sete-Encruzilha-das ou para Tranca-Rua. A Umbanda de Nao canta para o Exu Orix. Adiferena entre ambos pode ser encontrada no primeiro livro desta srie.

    Abaixo, um canto para cada um deles:

    Para Sete-Encruzilhadas & Tranca-RuaA porteira do inferno estremeceu

    E povo corre para ver quem a rainha Pombajira

    Seu Tranca-Rua, Sete-Encruza e Lcifer.

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    Para Exu OrixExu Lonan, Exu LonanMojir, Lod, elegbara

    Legbara dilExu Dara k wu

    de bom-tom sair sem virar as costas s oferendas e continuar o ca-minho at a cachoeira, pois, como j dito no primeiro livro, Exu quemcome primeiro. Em todos os rituais, o incio sempre o que se conhecepor despachar Exu. Enquanto ele come, o ritual se realiza, porque Exu o mensageiro da carne e do corpo, e nesses rituais, em que invocamosas instncias mais elevadas do esprito, o corpo deve estar completa-mente disposio das energias mais evoludas, sem se importar com asnecessidades de comer, reproduzir, ou qualquer outra que faa parte denossos instintos bsicos.

    Ao chegar cachoeira, inicia-se propriamente o ritual de Batismo. desejvel que as mulheres usem saia com uma calola por baixo (paraevitar constrangimentos) e os homens calas.

    A preparao segue com a incorporao do esprito dirigente da Casaque deve riscar seu ponto na madeira, s margens da cachoeira. A ma-deira deve ser quadrada ou circular, e nela devem ser acesas quantas velasforem necessrias, de acordo com a instruo do esprito e seu ponto. Emseguida, ele canta seu ponto para identificar-se e abrir os trabalhos.

    Nesse momento, em geral, os espritos que auxiliaro nos trabalhosincorporam em seus mdiuns, e aqueles que vm apenas para saudar oritual passam tambm e se retiram com presteza, aps cantar seu pon-to e dar seu brado.

    Os que sero iniciados so chamados presena do esprito dirigen-

    te, ainda acordados (se no o estiverem, tudo bem, mas o ideal que aprpria Entidade tenha sido instruda de como ser o ritual, pois seusfilhos tm de ouvir as palavras que os guiaro por toda a vida espiritu-al). O esprito dirigente fala sobre os direitos e as obrigaes dentro daUmbanda, sobre o que se espera do comportamento do mdium e comoele deve se portar no caminho da evoluo espiritual. Ele fala tambmsobre os caminhos de cada um, pois nem todos se tornaro dirigentes ouincorporaro sempre. Deve dizer que as festas de uma Casa servem para

    agradecer aos deuses, e no para inebriar o corpo e perverter o esprito.

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    Depois, ele chama um por vez e comea o ritual. Primeiro, ele farem seus corpos sinais com a pemba branca (pequenas cruzes nas mos,peito, ps, costas e fronte), enquanto os demais e a assistncia cantampara Oxal:

    A bena Pai Oxal / Epa Bab

    salve a Pemba, tambm salve a Toalha salve a Pemba, tambm salve a Toalha

    salva a Coroa que de nosso Zambi Maiorsalve a Coroa que de nosso Zambi Maior

    Tremeu Umbanda, Tremeu;Tremeu tudo o que havia

    S no tremeu Jesus meu PaiQue filho da virgem Maria

    Em seguida, os filhos sero purificados com incenso. Sua queima pelofogo mostra a transformao, e a fumaa usada para purificar o corpodos filhos de Umbanda.

    Defuma com as ervas da JuremaDefuma com arruda e guin

    Alecrim, benjoim e alfazemaVamos defumar filhos de f

    Com licena Pai OgumFilho quer se defumar

    A Umbanda tem fundamento preciso preparar

    Com arruda e guinAlecrim e alfazemaDefuma filhos de f

    Com as ervas da Jurema

    Em seguida, os filhos so aspergidos em seus corpos e cabea comuma mistura de gua e sal grosso, que tambm serve para purificao.

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    Com isso, eles seguem em direo ao ponto de madeira disposto nocho, s margens da cachoeira e batem cabea.

    Vai, vai, vaiAos ps de Nosso Senhor

    Vai bater cabea iaIans mand

    Ia

    Bate cabea povo da NaoBate cabea o povo da Nao

    Vai pedir a proteoAo nosso pai OxalVai pedir a proteoAo nosso pai Oxal

    Ento, acendem-se as velas simples em pequenos buracos cavados naterra (para evitar que se apaguem) e as velas do Batismo de 40 cm, queso seguradas por quem ser batizado. O fogo representa Xang, Senhorda Justia Divina, a chama que deve se acender no corao de cada filhoda Umbanda pela caridade, pela compaixo, pelo respeito e pela ilumi-nao espiritual. Nesse momento, alguns dos presentes testemunhamsobre o caminho do mdium at o presente e sobre a vida nova que eleter dentro dos princpios da Umbanda.

    Pedra rolou Pai XangL nas Pedreiras

    Afirma o ponto meu Pai

    Na cachoeiraTenho meu corpo fechado

    Xang meu protetorAfirma ponto meu filho

    Pai de Cabea Chegou

    Xang morreu de velhoNa pedra ele escreveu

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    Justia meu Pai, Justia!Ganhou quem mereceu

    Justia meu Pai, Justia!Ganhou quem mereceu

    Por ltimo, o topo da cabea, a moleira ou Ori ungida com mirrae mel, mostrando a vida doce do caminho espiritual. Canta-se para Ie-manj, pois ela a me de todos ns e Senhora de todas as cabeas.

    Otopiaba, Mame!

    Ogunt, Marab, Caiala e SobOloxum, Ina, Janaina, IemanjOgunt, Marab, Caiala e Sob

    Oloxum, Ina, Janaina, IemanjSo Rainhas do Mar!

    Mar, Misterioso mar!Que vem do horizonte

    o bero das SereiasLendrio e Fascinante

    Olha o Canto da Sereia:Ialau, Ok, Ialu

    Em noite de Lua CheiaOuo a Sereia cantar

    E o luar sorrindoEnto se encanta

    Com a doce melodiaOs madrigais vo despertar

    Ela mora no mar, ela brinca na areiaNo balano das ondas a paz ela semeiaEla mora no mar, ela brinca na areia

    No balano das ondas a paz ela semeia

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    E quem ?Ogunt, Marab, Caiala e Sob

    Oloxum, Ina, Janaina, IemanjOgunt, Marab, Caiala e Sob

    Oloxum, Ina, Janaina, IemanjSo Rainhas do Mar!

    Chega a hora do Batismo. Um pouco de gua da cachoeira recolhi-do num vaso, e o filho deita-se sobre a toalha branca com a cabea emdireo cachoeira. Ento, canta-se para Oxum, a senhora das guas do-ces, me amorosa que abre os braos para receber o filho na Umbanda.

    A gua jogada em sua cabea, e ele escolhe um santo catlico paraser seu padrinho espiritual e uma madrinha (pessoa), que ser sua teste-munha no processo a madrinha no precisa ser da religio, mas deveentender a importncia do que se passa ali.

    E, finalmente, a Obalue, para que a bondade e o carinho dos seusvelhos espritos venham a doutrinar esse filho no caminho do bem e daresponsabilidade. Com ele pede-se aos padrinhos que intercedam sem-pre em tudo o que encontrarem de errado em seu filho, consagrado portodos os presentes e pela Sagrada Umbanda. O filho, em forma de agra-decimento, pede a beno, de seu padrinho e madrinha, jura respeit-lose seguir seus conselhos por toda a vida.

    Eu vi mame Oxum nas cachoeirasSentada na beira do rio

    Colhendo lrio lrio ueColhendo lrio lrio ua

    Colhendo lrio para enfeitar nosso cong

    Oxum linda morenaPra voc eu vou girar!O teu canto de sereia

    Agora vai me encantar

    Se voc inda no sabeQuem este Orix

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    oxum me do ouroRainha deste Cong!

    Em seguida, o filho recita a Prece de Critas e faz sua profisso de f,isto , concorda com a f da Umbanda e promete profess-la.

    Prece de Critas

    Deus, nosso Pai, que sois todo poder e bondade,dai a fora queles que passam pela provao da vida,

    dai a luz quele que procura a verdade

    E ponde no corao do homem a compaixo e a caridade.Deus! Da ao viajante a estrela-guia,

    ao aflito a consolao, ao doente o repouso.

    Pai! Da ao culpado o arrependimento,ao Esprito a verdade, criana o guia e ao rfo o pai.

    Senhor! Que a Vossa bondade se estenda sobre tudo que criastes.Piedade Senhor, para aqueles que no Vos conhecem,Esperana para aqueles que sofrem.

    Que Vossa bondade permita aos Espritos consoladoresDerramarem por toda a parte a paz, a esperana, a f e a bondade.

    Deus! Um raio, uma centelha de Vosso divino amor pode abrasar a Terra;deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infinita, e todas as l-

    grimas secaro, todas as dores se acalmaro.Um s corao, um s pensamento subir at Vs,

    Como um grito de reconhecimento e de louvor.Como Moiss sobre a montanha, ns Vos esperamos de braos abertos, oh

    poder! Oh beleza! Oh bondade! Oh perfeio!E queremos de alguma sorte merecer a Vossa divina misericrdia.

    Deus! Dai-nos a fora de ajudar o progresso a fim de subirmos at Vs,Dai-nos a caridade pura, Pai, dai-nos a f e a razo, dai-nos a simplicida-

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    de e a humildade senhor, que far das nossas almas um espelho onde h dese refletir a Vossa divina imagem.

    Que assim Seja!

    Profisso de F na Umbanda

    Juro solenemente que minha f verdadeira,E que ao abraar a Umbanda como minha religio

    E o Cantinho dos Irmos Caboclos como meu templo de reflexo,Estou com meu corao puro

    Perante minha conscincia e meus princpiosJuro aplicar os meus dons de mediunidadeQue recebi dos meus guias

    E desenvolvimento nesta Casa,Somente para o bem da humanidade.

    Juro reconhecer como irmos,Todos os seres e elementos da natureza Divina.

    Juro praticar o amor e a caridade como minha misso,

    Respeitando as leis de Deus acima de todas as coisas.Juro Levar a bandeira da Umbanda em minhas mosE os pontos das minhas Entidades sempre adiante,

    Nos caminhos que por elas me forem destinados a seguir.Juro amar respeitar e honrar a Deus,

    Aos Orixs, meus Guias, minha famlia, meus amigos,Meus irmos de f, minha ptria e a Umbanda.

    desejvel que esse juramento seja dito por todos, memorizado, acei-to e no lido de um papel. Em seguida, canta-se o Hino da Umbanda:

    Refletiu a Luz DivinaCom todo seu esplendorVem do Reino de Oxal

    Onde h paz e amor

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    Luz que refletiu na TerraLuz que refletiu no Mar

    Luz que veio de AruandaPara tudo iluminar

    A Umbanda paz e amor um mundo cheio de Luz

    fora que nos d vidaE grandeza nos conduz

    Avante Filhos de fComo a nossa Lei no h

    Levando ao mundo inteiroA Bandeira de Oxal

    Levando ao mundo inteiroA Bandeira de Oxal

    Por ltimo, canta-se uma cano em nome do rito que acabou deacontecer, e ento os novos filhos se banham, com a roupa que esto, nacachoeira (em geral, nesse momento tambm que seus guias incorpo-ram ou seus ers).

    Que lindo Batizado l no Rio de JordoJoo batiza CristoCristo batiza Joo

    Coroa minha coroa!Que Jesus me deu minha coroa

    Coroa esse filho minha coroa

    Pelo amor de Deus minha coroa!

    Com a chegada dos Guias, vem a Saudao s Sete Linhas:

    Quando os CaboclosTrazem as folhas da Jurema

    E os Pretos-Velhos

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    Trazem arruda e guinEles vm trabalhar

    Na Lei de UmbandaTm licena de AruandaPra salvar a quem tem f

    Eles vm trabalharNa Lei de Umbanda

    Tm licena de AruandaPra salvar a quem tem f

    O sabi canta alegre na palmeiraE Xang l da pedreira

    Os seus filhos vem saudarMeu Pai Ogum

    Empunhando a sua espadaManda um toque de alvorada

    Toda linha vai chegarMeu Pai Ogum

    Empunhando a sua espadaManda um toque de alvorada

    Toda linha vai chegar

    Segue-se a festa do Batismo, os guias danam e confraternizam, masainda no atendem. Os filhos, depois do rito, devem passar sete dias semcomer carne e alimentos como feijo preto e outros. Eles podem comerpeixe, mas no devem tomar bebida alcolica ou fumar.

    desejvel tambm uma absteno sexual de ao menos sete dias,pois o corpo ainda sofrer transformaes de energia que devem ser pre-

    servadas. Diferente do que se imagina, isso no ocorre porque o sexo tratado como algo sujo ou ruim, mas porque em uma relao sua energiase mistura da outra pessoa, acarretando um desequilbrio que podeafetar negativamente o filho.

    Etapa III O Culto e os TrabalhosO filho batizado participa agora ativamente das sesses da Casa, sejam

    de trabalho ou de desenvolvimento. Ele tambm assumir de uma vez

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    por todas sua funo na Casa: ter de cuidar dos alimentos, da limpezafsica e espiritual, da msica e da corimba2e de tantos outros aspectos.

    Falaremos com mais detalhes sobre cada um desses aspectos a seguir.

    Outros Ritos de Iniciao

    Como j foi dito, h certos casos em que o mdium chega Casa comsua mediunidade desenvolvida e, em geral, sem controle. Esse um casomuito comum em crianas e adolescentes, por exemplo. Eles possuemum vnculo especial com o mundo espiritual, que caso se desenvolva emum ambiente saudvel, com amor, carinho, compreenso e equilibradoenergeticamente, ser conservado por muito tempo e, por vezes, at avida adulta.

    Nesses casos preciso tomar outros ritos antes do Batismo, e o estudodeve ocorrer de uma maneira diferente e prtica, isto , o mdium deve,sim, estudar a teoria, mas tambm praticar o controle de suas faculdadesmedinicas e de sua energia, visando afastar os espritos sem luz quetentem se aproveitar de suas capacidades, mantendo, ao mesmo tempo,suas energias equilibradas.

    Para isso, antes mesmo do Batismo, devem-se realizar alguns ritosque colaborem para com o processo. Alguns dos ritos descritos a seguirpodem variar de Casa para Casa, podem at no existir em algumasdelas ou serem mais completos em outras.

    O AmaciO Amaci (vem da palavra amaciar, tornar receptivo) um ritual um-

    bandista pelo qual todos, tanto os mdiuns iniciantes quanto os maisantigos da corrente, devem passar. Ele o primeiro Sacramento da Um-banda. H diferenas entre o Amaci de um mdium iniciante e de ummdium j batizado, experiente e coroado. Esse ritual tem como finali-dade preparar o mdium para receber de forma equilibrada as energias

    2 Corimba so cantos e toques sagrados no terreiro de Umbanda, so muitoimportantes no decorrer da gira.

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    que provm de sua mediunidade e confirmar as Entidades que regem suacabea. Como o Batismo, trata-se de um ritual de iniciao e os mesmospreceitos (anteriores e posteriores) valem para ambos.

    Entretanto, no o mesmo que Batismo, que tem como finalidadepurificar o corpo e preparar as energias que o habitam. O Batismo omarco do incio de uma nova jornada, uma opo da pessoa ou de seuspais (no caso de uma criana) de viver conforme as leis da religio, acei-tando e desejando aprendendo a enxergar e a interpretar a luz da FonteCriadora Universal, dos Orixs, dos Anjos, Guias e Entidades.

    O Amaci, por sua vez, destinado apenas aos filhos que j trabalhamcom sua mediunidade ou que j a sentiram manifestar-se. Ele pode serrealizado tanto para acalmar a mediunidade como para dar-lhe fora.Quando as manifestaes so mais intensas e por vezes violentas (da-das pouca experincia do mdium, sua falta de controle psquico ouemocional, ou mesmo a falta de doutrina das Entidades), o Amaci servecomo um pedido de misericrdia e, tambm, como um ritual que foraa energizao e o controle.

    O ritual do Amaci comea com a escolha de padrinhos encarnadose desencarnados. Em geral, os mesmos do Batismo, quando se trata deum mdium j batizado (se este for, no lugar do Batismo, o primeirorito, no essencial manter os mesmos padrinhos quando o mdium forbatizado, mas desejvel, afinal, j diz o ditado popular:um servo que sededica a senhores demais, acaba no servindo a nenhum).

    O mdium que receber o Amaci dever passar por uma preparaode sete dias. Entre suas obrigaes para esse perodo esto: manter umadieta controlada, abster-se de bebidas alcolicas, do fumo e das relaessexuais (inclusive da masturbao), banhar-se diariamente com ervascomo manjerico, tapete de Oxal, folha-da-costa, entre outras.

    No dia do Amaci, o mdium deve usar roupa branca e portar a umatoalha branca (como a descrita no Batismo), uma vela branca de 40 cme os fios de seus Orixs, uma quartinha branca de gua e uma pequenasopeira em que estaro os fundamentos que o Pai ou Me de Santo daCasa lhe informarem, conforme instrudo por seu zelador.

    O Amaci deve ocorrer numa gira prpria. Deve ser preparado pelozelador ou pelo responsvel de acordo com sua atribuio, nunca peloprprio mdium ou por algum ligado a ele por laos de sangue ou re-

    lao amorosa.

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    Em geral, prepara-se o Amaci com gua pura de rio ou de fonte (nuncaindustrializada ou engarrafada comercialmente, embora seja gua mine-ral) e 7, 14 ou 21 ervas. O dirigente do templo, ou aquele a quem lhe forconfiada a tarefa, deve colher as ervas de todos os Orixs, pelo menos umade cada, e coloc-las quinadas no preparo feito de quatro guas (de mar,cachoeira, chuva e fonte/mineral), com trs dias de antecedncia ao rito.

    Em algumas Casas costume incluir bebidas alcolicas, como vinhotinto ou branco, assim como ps e outros ingredientes que variam deacordo com as necessidades de cada mdium3.

    Dependendo do tipo de Amaci, durante o rito, canta-se em especialpara Oxal e Iemanj. As canes podem ser tanto pontos de Umbandacomo pontos relativos a suas manifestaes catlicas, como Senhor doBonfim, Nossa Senhora de Ftima ou da Conceio, conforme a regiodo Brasil. O preparado , ento, dividido em duas bacias brancas degata, uma menor, em que cabem os fios do mdium, e uma maior, cujolquido lavar sua cabea.

    Abre-se a gira conforme os ritos da Casa, despacha-se Exu e inicia-seo rito com o canto:

    A todos que olhamA todos que esto aqui (2x)

    Muita atenoHoje noite de Amaci

    Filhos de fRespeitai o pano branco

    Babala preparou seu banho santo

    Filhos de f respeitem meu Pai do CongDentro da Lei vm saldar seus Orixs

    3 Com relao aos mdiuns batizados ou que j tenham passado por um Ama-ci, ele ser preparado com as quatro guas e as ervas de todos os Orixs qui-nadas, alm das favas (sementes/frutos) dos Orixs da pessoa (Pai e Me). Opreparado, nesse caso, de uso exclusivo daquele mdium.

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    Sarav ExuTenho a cabea lavada

    Fiz meu Batismo na UmbandaHei de louvar a encruzilhada

    Sarav OgumTenho a cabea lavada

    Fiz meu Batismo na UmbandaHei de louvar sua espada

    Sarav OxssiTenho a cabea lavada

    Fiz meu Batismo na UmbandaHei de louvar suas matas

    Sarava XangTenho a cabea lavada

    Fiz meu Batismo na UmbandaHei de louvar sua machada

    Sarav OmuluTenho a cabea lavada

    Fiz meu Batismo na UmbandaHei de louvar suas palhas

    Sarav o TempoTenho a cabea lavada

    Fiz meu Batismo na Umbanda

    Hei de louvar sua hora

    Sarav IansTenho a cabea lavada

    Fiz meu Batismo na UmbandaHei de louvar sua ventania

    Sarav Ob

    Tenho a cabea lavada

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    Fiz meu Batismo na UmbandaHei de louvar sua coroa

    Sarav OxumTenho a cabea lavada

    Fiz meu Batismo na UmbandaHei de louvar a cachoeira

    Sarav OxumarTenho a cabea lavada

    Fiz meu Batismo na UmbandaHei de louvar o arco-ris

    Sarav NanTenho a cabea lavada

    Fiz meu Batismo na UmbandaHei de louvar sua fonte

    Sarav IemanjTenho a cabea lavada

    Fiz meu Batismo na UmbandaHei de louvar suas guas

    Sarav OxalTenho a cabea lavada

    Fiz meu Batismo na UmbandaHei de louvar seu Al

    Enquanto se canta, derramado o lquido na cabea do mdium, eos fios dele so colocados na bacia menor em que est o resto do lquido,a qual se completa com um pouco do que caiu de seus cabelos e cabea.A quartinha e a pequena sopeira ficam numa bacia maior, sob a cabeado mdium, recebendo o lquido que dela cai e banhando-se nele, paraenergizar-se. Assim, ali est o fundamento do Amaci. Perceba que os ba-nhos de descarrego, energizao e outros so realizados do pescoo parabaixo. Apenas o Pai de Santo, ou uma de suas Entidades, poder promo-

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    ver o banho de sua cabea, seja o Amaci ou qualquer outro, a menos queele instrua que se faa o contrrio.

    Para esse ritual, imprescindvel que se use roupas brancas, com umpano de cabea mo ele ser amarrado cabea do mdium para pro-teg-la, aps a lavagem com o preparado. Em geral, essa tarefa pertenceaos cambonos ou equedes, responsveis tambm por lev-los a um apo-sento, onde o mdium repousar, deitando-se numa esteira pelo restoda noite e em silncio absoluto, a fim de manter-se em harmonia com asenergias que agora fluem em seu corpo. O pano deve ficar na cabea porpelo menos 12 horas, mas no deve ser lavada por 24 horas porm essetempo no deve ultrapassar 72 horas.

    As folhas com que o Amaci foi preparado devem ser jogadas num riolimpo ou num jardim florido, nunca na rua ou no lixo. Elas devem sertratadas com respeito, pois so partes vivas do rito e sua energia agorahabita na cabea do mdium, ajudando a equilibr-lo.

    Fazer um Amaci no significa que voc tenha um vnculo que deve sermantido, esteja o indivduo bem ou mal. Ele um compromisso natural,e mesmo que em algum momento futuro o filho ou filha deseje deixar aCasa ou a religio, o Amaci pode ser levantado, segundo a sua vontade.

    Para levantar um Amaci, basta lavar a cabea com as ervas prpriasde purificao que possuem energia adequada para diminuir a vibraoe levantar a quartinha e a sopeira que contm os fundamentos do rito.Caso seja da vontade do mdium sair da Casa, ele deve levar a quartinhae a sopeira com ele (em geral elas ficam na Casa, no com o mdium)aps o banho. Caso o desejo seja de sair da religio, ele deve devolver asenergias para a natureza, levando-as a uma cachoeira, com seu zelador,ao mar, ou mata.

    A energia que ali habita uma energia natural, e para que ela no se

    volte contra o mdium, nada deve ser quebrado, apenas devolvido. Essadeciso compete apenas ao mdium, e um zelador nunca deve exerc-la,seja como forma de punio ou como maneira de desligar o mdium daCasa para esse fim, basta entregar a quartinha e a sopeira ao mdium,se for do merecimento dele e de seu desejo. Isso porque a Umbanda res-peita totalmente o livre-arbtrio de mdiuns e zeladores, j que seu maiorcompromisso foi feito antes do nascimento, o Amaci apenas uma con-firmao desse compromisso.

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    Sete Ondas no MarO Amaci e o Batismo so os ritos mais fortes com relao iniciao

    na religio. Entretanto, h dois outros ritos tambm muito importantes,

    realizados em casos mais complexos de mediunidade: no primeiro, re-corre-se a Iemanj, para que ela interfira e mostre qual Entidade ou guiarege a cabea do mdium, caso no se mostre de imediato ou escondaalguns outros aspectos. Aqui, vamos apenas citar o rito, pois requer al-guns preceitos e preparaes muito intrincados e, em geral, s se apela aele em ltima instncia.

    Ele realizado beira do mar, com o mdium deitado num lenolbranco e os ps voltados na direo do mar, os olhos fechados e as moscruzadas sobre o peito, enquanto o zelador entoa cantos de saudao sEntidades, pedindo que o guia principal de sua cabea se manifeste. Orito realizado meia-noite, numa praia deserta, iluminada por velas, eexige que o dirigente tenha experincia no que faz. Antes de comear orito, o filho banha-se sete vezes no mar, e corta sete ondas com o prpriocorpo. Ele no deve estar sozinho nesse processo nem deve adentrar mui-to o mar, j que noite a mar tende a ser mais violenta.

    O rito termina no momento em que a Entidade que reger aqueleOri se manifesta, incorporando, dando seu brado e cantando seu ponto.Por fim, s vezes, entregue uma tbua na qual ela deve riscar com umapemba o seu ponto e assim confirmar quem . Ao fazer isso, a Entidademanifestou-se frente ao dirigente, aos outros filhos da Casa, mas, prin-cipalmente, diante de Iemanj, Senhora do Mar e me de todos, aquelaque rege todas as cabeas.

    Misericrdia de Oxal

    J o segundo rito essencial em casos que a mediunidade da pessoa, sejaqual for o motivo (desequilbrio emocional, psquico, falta de conhecimento,incompreenso etc.) esteja descontrolada e causando problemas ao mdium.Esse rito serve para pedir a interferncia direta de Oxal na situao.

    Ele tambm serve a outros fins (problemas emocionais, doenas,grandes culpas ou grandes fardos etc.), mas, em geral, recomenda-se queele seja feito apenas por mdiuns e pessoas com manifestaes medini-cas, pois ele desperta certos sentidos da mediunidade.

    Para esse rito so necessrios:

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    Um pano branco, de aproximadamente 1,5 m. Uma tigela mdia branca (porcelana). Dois pratos brancos (porcelana) grandes. Uma tigela branca (porcelana) mdia. Uma bacia de gata branca (30 cm). Azeite de oliva extravirgem4. Um coco fresco (verde) grande. Uma vela de sete dias branca. Um fio feito de contas brancas leitosas, fechado com uma firmabranca, grande, leitosa. Algodo branco (do tipo que vem em rolo). Uma sineta (de metal) pequena, j consagrada. Dois quilos de canjica branca. Leite de coco. Um quilo de inhame. Uma pitada de anil. gua para cozinhar. Ervas para fazer defumao (nesse caso, bejoim, alfazema, alecrime ptalas de rosas brancas). Um vaso de flores brancas, para enfeitar5. Uma esteira grande de palha. Um lenol branco grande.

    O filho a quem se destina o ritual deve estar vestido todo de brancoe trazer consigo com uma toalha e um pano de cabea brancos, com osquais possa envolver a cabea.

    O rito comea com a preparao dos alimentos, que no deve serfeita por aquele que receber o ritual. Ele deve passar o dia em reflexo e

    meditao e falar o mnimo possvel. Sero preparados: Um prato de canjica e uma tigela com a gua branca restante

    4 O azeite extravirgem o azeite de oliva em sua forma mais pura. O virgemcontm certo grau de mistura com outros leos e os misturados no servem.

    5 As flores, ao final do rito, se forem cortadas, devem ser despachadas no mar.

    Se for um vaso de flores plantadas o que melhor devem ser passadas paraa terra trs dias aps o rito.

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    Deve-se cozinhar a canjica com um copo de leite de coco e quatrocopos de gua. Quando estiver bem cozida, deve ser escorrida e colo-cada no prato para esfriar. Ela pode ser enfeitada com flores marga-ridas brancas ou crisntemos so bastante apreciados para isso.A gua do cozimento da canjica no deve ser jogada fora, pois serderramada na cabea do filho, mas at que isso ocorra, ela deve per-manecer numa tigela pequena branca.

    Um prato com bolinhas de inhameCozinhar um quilo de inhame at comear a desmanchar. Com asmos molhadas para no grudar e poder model-los bem, faa oitobolinhas do mesmo tamanho.Num pires, coloque uma colher de sobremesa de gua e misture oanil. Faa pequenas bolinhas azuis nas bolinhas de inhame, enfeitan-do-as. Voc pode usar a ponta do dedo mindinho, um cotonete ouum palito de dente com a ponta quebrada para pintar as bolinhas.

    Uma bacia com o coco verdeAbra o topo do coco. Coloque-o no centro da bacia. (Se quiser, paraajudar a apoi-lo, voc pode cozinhar mais canjica e colocar dentroda bacia como apoio ou fazer um pequeno pedestal com um poucode inhame modelado.) Feito isso, cubra com algodo abrindo-osobre tudo, como se fosse um tapete.

    Durante todo o rito, canta-se pedindo a misericrdia de Oxal. Umdos cantos mais utilizados :

    Oxal, meu pai,

    Tenha pena de ns, tenha dOlha, a volta do mundo grande

    Seu poder bem maior

    Esse rito deve ser realizado, preferencialmente, dentro da camarinha/ronc, ou num quarto reservado, nas Casas que no forem Umbanda deNao. O filho entra, enquanto os outros cantam e deita-se na esteira. Adisposio das coisas no quarto d-se da seguinte maneira:

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    Em 1, coloca-se a tigela da gua com que se cozeu a canjica. Em 2,colocam-se as flores. Em 3, coloca-se o prato de canjica. Em 4, coloca-seo prato com as bolinhas de inhame. E em 5, por fim, coloca-se a bacia

    com o coco, coberta com algodo.Acende-se a vela. O filho deita-se com a fronte voltada e apoiada no

    cho com a vela sua frente, braos estendidos em cruz no cho, e emsua cabea derramada a gua da canjica (devidamente amparada poruma outra bacia ou tigela, na qual estar o fio branco de contas leitosas),pois essa gua no deve ser desperdiada. O filho tambm pode estarde joelhos, encostando a cabea no cho. Os cantos no devem cessar edevem ser entoados pelos outros filhos da Casa.

    Derramada a gua, ele acende a vela, os cantos param e ele reza sozi-nho um Pai-nosso. Ao fim da orao, o pai ou me de santo toca a sinetasete vezes (fazendo uma pequena pausa a cada uma das vezes. Da emdiante, d-se silncio absoluto, e o que quer que tenha de ser dito deve serno tom de voz mais baixo possvel isso vlido para todos os presentesna Casa.

    O filho deve permanecer ali por toda a noite e sair para tomar banhosomente quando o Sol j tiver raiado na manh seguinte. Ele no deve,

    Esteira

    Vela1

    3

    2

    4

    5 Lenol

    Figura 1.1.:Camarinha

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    contudo, lavar a cabea nesse dia, somente no dia seguinte, e nesse pero-do deve mant-la coberta com um pano branco. Por sete dias o filho deveusar roupas brancas, evitar carnes e bebidas, e no deve fumar.

    Todas as comidas tm de ser despachadas em jardim ou mata, aos psdas plantas, para que se transformem em energia para a fauna e a flora.O mesmo deve ser feito com os lquidos.

    Equilibrando Energias

    Uma vez iniciado, um dos trabalhos mais difceis do mdium man-ter suas energias em equilbrio. E quando falamos em energias, falamosdaquelas que regem todos os aspectos da vida material, espiritual e emo-cional de cada um.

    Os ritos que j descrevemos servem para introduzir uma pessoa nareligio. No entanto, uma vez que j se iniciou ou se ainda quer fazerparte as energias tm de estar em equilbrio, tanto para auxiliar noprocesso medinico quanto para manter a vida material em harmoniacom a espiritual.

    Nesse momento, importante ressaltar que a tendncia, seja do corpo ouda alma, manter-se em equilbrio. Por isso, essencial pensar em manteraspectos positivos e negativos quando em um ritual. No estamos falando debem e mal, mas sim de tipos de energia e caractersticas dos instrumentos.

    Vamos a um exemplo mais prtico: uma pessoa que trabalha demaisdeixa seu trabalho com excesso de energia positiva, e os outros cam-pos de sua vida (espiritual, emocional, amoroso, familiar, social etc.),tornam-se mais negativos. Da mesma maneira que uma pessoa que sededica demais s relaes amorosas ou ao sexo torna os demais aspectosde sua vida negativos e, at mesmo, deixa de cuidar de si mesmo, por sepreocupar apenas com o outro. Nosso corpo um templo e deve estarem perfeito equilbrio. No adianta ter um corpo perfeito e no desen-volver a mente e o esprito, assim como viver para a vida espiritual e nocuidar do prprio corpo (beber, fumar, comer em demasia ou muitopouco) significa um desequilbrio de campo energtico.

    O corpo, a mente e o esprito podem sofrer influncias externas queos desequilibrem: por exemplo, manter-se num ambiente muito com-petitivo de trabalho e muito estressante afeta o aspecto emocional do

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    indivduo, e por mais que se consiga diferenciar um campo do outro,a energia negativa ser extravasada em casa, com a famlia, com o(a)companheiro(a) etc.

    Nesses casos, a Umbanda tem alguns artifcios que envolvem diver-sos instrumentos para equilibrar novamente as energias dos indivduos:os banhos, sacudimentos ou ebs e oferendas (no caso da Umbanda deNao). Falaremos, a seguir, de maneira mais detalhada a respeito decada um deles. No entanto, antes, essencial frisar que esses recursos soapenas uma ajuda e um dos ingredientes do processo. Os outros ingre-dientes so a fora de vontade do indivduo, a busca sincera e verdadeirapelo equilbrio, a necessidade real de realizar o rito e a conscincia doque e como feito.

    Dito isso, permanecem as perguntas: todos esses ritos so feitos semprepara o bem? Ento, por que existem pessoas que prometem coisas, como tra-zer a pessoa amada em sete dias, fazer o outro ser demitido de seu emprego,acabar com um casamento e at mesmo causar doenas ou a morte?

    Como j foi falado, tudo tem um lado positivo e um negativo. Avontade e a necessidade de quem realiza que reger o resultado. Obser-vemos alguns casos.

    Num primeiro exemplo, temos uma pessoa que, sem emprego ou compouca estabilidade, opta ou recebe a sugesto de fazer um banho paraprosperidade. Se a vontade e a necessidade forem verdadeiras, o banhoter o resultado desejado, pois equilibrar suas energias e a deixar maisdisposta ao trabalho, bem como irradiar energia aos que estiverem suavolta. Entretanto, se a vontade for fraca ou a necessidade no for real, masfruto de sua insegurana ou sua instabilidade emocional, provavelmenteo banho alinhar sua energia no sentido oposto, e a pessoa poder perdero emprego, ou sentir-se desconfortvel no trabalho. J com algum que

    est desempregado, alm de no alinhar as energias para conseguir umaoportunidade, pode prejudicar as chances de aparecerem.

    Como segundo caso, pensemos numa pessoa que se sente sozinha e,por isso, opta por um trabalho que lhe traga um amor. Esse um doscasos mais comuns e mais complexos, pois, em geral, quando se envolveoutro indivduo em especfico, tambm dotado de livre-arbtrio e comseu prprio destino, as coisas se complicam. Adiantar ou forar as ener-gias que regem a vida de duas pessoas pode ter resultados desastrosos.

    Assim, no melhor dos casos, um banho de amor pode trazer uma pessoa

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    que o faa feliz momentaneamente at que chegue o momento apropria-do e surja outro que realmente ser seu companheiro para a vida toda.Tambm possvel que a pessoa certa aparea antes da hora, ento, ouos dois passaro juntos pelas provaes que j lhes estavam reservadas ouesse adiantamento poder ser o fim do relacionamento, j que ambosno estavam ainda preparados para tanto. No pior dos casos, se duranteum trabalho nesse sentido, a pessoa mantm algum em sua mente, elapoder interferir em sua energia de maneira nociva, causando-lhe male desequilibrando-o. Assim, se o outro casado, pode haver, inclusive,uma interferncia nessa relao, levando-o a uma crise conjugal ou, atmesmo, ao trmino do casamento. Desse modo, as consequncias viro,principalmente, sobre quem praticou o ato, e pela lei do retorno, mesmoque o relacionamento se concretize, estar fadado ao fracasso.

    Assim, tem-se de ter responsabilidade e cincia de nossos atos quandopraticamos qualquer um desses rituais.

    Banhos RitualsticosBanhos so infuses que visam manipular as energias dos mais di-

    versos elementos a fim de trocar, recolocar, fortificar ou enfraquecer,de acordo com a necessidade, um dado campo energtico. Com conhe-cimento e propriedade, eles podem ser aplicados em pessoas, animais,locais, conforme o caso. Eles limpam as energias em excesso, aumentama capacidade receptiva do mdium e mantm energia adequada dos cor-pos fsicos.

    O preparo, geralmente, pode ser feito de duas maneiras: quinado ousob infuso. Os banhos quinados ocorrem em gua fria. As folhas so lava-das, colocadas na gua e maceradas, amassadas e picadas com as mos atse tornar uma massa e seu sumo se misturar gua. Com frequncia essebanho no coado, e os pedaos de folhas so jogados junto pelo corpoda pessoa. J o banho de infuso feito com gua quente: coloca-se a guapara ferver, e assim que entrar em ebulio, retira-se do fogo e so colo-cadas as folhas e os demais ingredientes. Em seguida, o recipiente em queest a gua para o banho deve ser tampado at que fique morno. Depois,basta tomar o banho, ainda morno.

    Existem outros tipos de banhos, alm desses com ervas, que usam osmais diversos ingredientes. No entanto, so casos muito especficos quedevem ser pensados e repensados de acordo com a necessidade.

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    A partir disso, temos algumas categorias para classificar o tipo de banho:a) Banhos de descarregob) Banhos de defesac) Banhos de energizao

    a) Banhos de DescarregoEstes so os mais conhecidos e servem para livrar os indivduos de

    certos excessos de energia, reequilibrando o corpo, a mente e a alma. Umdos mais comuns e conhecidos o Banho de Sal Grosso. Ele simples eeficiente. O elemento principal o sal grosso, um excelente condutor queabsorve muito bem o excesso de carga.

    O preparo desse banho bem simples, basta, aps um banho normal,banhar-se com a mistura de um punhado de sal grosso em gua mornaou fria. Esse banho feito do pescoo para baixo, ou seja, no se lava acabea, pois ela s pode receber ervas especficas para esse fim e ningumdeve banhar a prpria cabea sozinho, um zelador deve ajud-lo.

    O Banho de Sal Grosso usado, em geral, apenas como um prepa-ratrio para outros banhos, para uma primeira limpeza, pois descarregaquaisquer energias, positivas ou negativas, que estiverem em excesso, edeixa o corpo mais que limpo e purificado, equilibrado e inerte energe-ticamente. Ele perfeito, por exemplo, para iniciar banhos preparatriosde um ritual. Por isso, no deve ser intensiva e ostensivamente utilizado,pois tirar muito da energia benfica da pessoa e a deixar inerte, em vezde simplesmente limpar o campo energtico.

    Outro ponto importante a ressaltar que h pessoas que usam a guado mar no lugar da gua da fonte misturada ao sal grosso. Nesse caso, aocontrrio do que a maioria imagina, o efeito no ser o mesmo. A guado mar contm vida, pequenos micro-organismos que permanecem vi-vos nela e so invisveis a olho nu, , portanto, bastante diferente de umbanho preparado. O sal grosso foi seco e desidratado, tornou-se inertepara agir com esse fim e a gua da fonte foi tratada e purificada, assimno contm mais o antigo sumo de vida que continha. Banhar-se nagua do mar, diferente do que se pensa, acrescenta energias, e no as tira.Portanto, no serve ao mesmo propsito que a gua com sal grosso.

    Outro banho bastante utilizado o Banho de Descarrego de Ervas, cujoefeito mais duradouro. O conceito primordial das receitas desse banhovale-se de que certas ervas so naturalmente capazes de limpar e descarregarvrios tipos de energia em excesso. Entretanto, necessrio um profundo

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    conhecimento sobre o uso das ervas para saber que tipo serve para cada pes-soa. Algumas delas no podem ser usadas por uns, pois podem carreg-losainda mais ou desequilibrar sua energia. No entanto, existem algumas ervascompletamente neutras, como o caso da folha-da-costa ou do tapete deOxal, que podem ser usadas por praticamente qualquer pessoa. Novamen-te, o dirigente da Casa, seu zelador e pai de santo so os mais indicados paradizer a um filho qual a melhor escolha. Eles sabem quem so seus Orixs eguias e isto muito importante, pois, ser a energia deles que reagir juntocom as ervas, o que far parte do processo.

    Vamos colocar aqui, porm, banhos mais genricos, como exem-plos e sugesto.

    I Banho de Descarrego com 3 ErvasIngredientes:7 folhas-da-costa7 folhas da fortuna7 folhas de manjericoUm punhado de sal grossogua fria para quinar o banho

    Esse banho deve ser feito numa sexta-feira, num sbado ou domingoe repetido por trs semanas seguidas. Ele nunca deve ser feito numa teraou segunda-feira. Para realiz-lo, basta quinar as folhas na gua fria, to-mar banho normalmente e, depois, jogar a mistura do pescoo para bai-xo ou, com a ajuda de algum mais experiente e equilibrado, tambm nacabea (preferencialmente, pea ao seu mentor ou zelador que o ajude).As ervas que carem no cho devem ser recolhidas e despachadas numjardim ou num vaso de planta. O lquido deve secar no corpo.

    II Banho de gua de CocoIngredientes:3 cocos mdios

    Numa sexta-feira, aps o banho normal, derrame sobre sua cabea,sem deixar molhar o resto do corpo, a gua de um coco mdio. Repitapor trs sextas-feiras. Esse banho serve para acalmar pessoas nervosas,

    dar clareza ao pensamento e ajudar com ansiedade e outros males, comoo estresse.

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    b) Banhos de DefesaEsse banho serve, como dizem os antigos, para fechar o corpo, im-

    pedindo que se contamine com energias nocivas. Ele tem as mais diver-

    sas utilidades: desde seu uso no dia a dia porque o ambiente de trabalho pesado e competitivo, at quando vamos a um lugar que no conhe-cemos (um outro Terreiro, um local onde fazer uma oferenda, a casa deuma pessoa que ainda no sabemos direito como etc.) para evitar quenosso corpo se contamine com energias indesejadas.

    Podemos nos valer dele para praticamente todo tipo de mdium, poistodos, em certas horas, temos de nos defender de energias que possamnos fazer mal. No entanto, esses banhos podem ser usados para se for-talecer e se defender, em especial, para aqueles que esto comeando eainda no sabem como bloquear as influncias exteriores por meio de suaprpria firmeza e energia.

    A seguir, tm-se duas receitas de banhos de defesa bastante genricos.(Novamente, o melhor banho aquele indicado por algum que conheceseus Orixs e Guias e sabe exatamente que tipo de energia o fortalecer.)

    I Banho de DefesaIngredientes:21 cravos-da-ndia7 paus de canela3 folhas de louro

    Ferva 2 litros de gua e coloque os ingredientes, desligue o fogo eabafe. Jogue do pescoo para baixo, recolha os ingredientes e jogue-osem gua corrente. O banho deve estar frio ou pelo menos morno.

    II Banho de Limpeza e DefesaIngredientes:3 galhos de guin3 galhos de alecrim1 espada-de-so-jorge partida em trs6

    6 Retire a ponta, a raiz e o veio fibroso lateral.

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    3 folhas de louro3 galhos de arruda3 punhados de alfazema3 punhados de levante

    Ferver em gua suficiente, jogar as ervas, desligar o fogo e abafar.Tomar o banho morno do pescoo para baixo este banho no deve serjogado na cabea em hiptese alguma. Recolher os ingredientes e despa-char em gua corrente.

    c) Banho de Energizao

    O Banho de Energizao serve a diversos fins. Tanto pode ser usadoaps um Banho de Descarrego para reequilibrar e recalibrar as energias,como para impregnar o indivduo da energia que lhe falta, sem necessa-riamente ter de descarregar as demais.

    Pensemos no caso de uma pessoa que procura emprego, mas no en-contra nimo para faz-lo ou, de alguma forma, sua energia no vibranesse sentido. O Banho de Energizao certo pode no s despertar essavontade, dar nimo ao indivduo, como impregnar tudo sua volta, fa-zendo com que quem estiver a seu redor se sinta tambm compelido a lhedar uma oportunidade ou sinta em seu semblante a confiana.

    Seguem algumas receitas de banhos desse tipo para os mais diversosfins.

    I Banho para Conseguir TrabalhoIngredientes:7 folhas da costa7 folhas de manjerico7 folhas de cana-do-brejoUm clice de vinho branco doce2 litros de gua pura

    Esta receita, tenho de dizer, foi uma Preta-Velha a qual amo muitoque ensinou (obrigada, vov Cambinda). E posso falar, pessoalmente,que funciona mesmo ela j foi usada por meu marido e meu pai, e deucerto em ambos os casos.

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    Na noite anterior procura por trabalho, despeje numa bacia os doislitros de gua e coloque as folhas. Quine tudo at que no sobrem pe-daos grandes das folhas e a gua fique completamente turva e verde-escura. Por fim, ao levantar na manh seguinte, pise primeiro com o pdireito ao sair da cama, trs vezes. Ento, tome banho normalmente, e,ao fim, derrame a mistura da cabea aos ps sim, da cabea. Embo-ra no seja recomendvel derramar na cabea qualquer banho feito porvoc mesmo, ainda mais quando contiver lcool, pois agita a energia e atorna forte demais, o que nem sempre bom para a cabea; esta justa-mente a inteno desse banho. A agitao literalmente sacode a poeiraimpregnada que faz a sua vida profissional no caminhar.

    II Banho de Chocolate um banho para sentir-se bem consigomesma e atrair amor (o prprio e o dos outros)

    Antes de falar sobre os ingredientes deste banho, devo dizer que ele ,prioritariamente, dedicado s mulheres, pois, com as cobranas sociaisde sermos magras, perfeitas, lindas, com o cabelo certo, a roupa certae tudo mais, s vezes difcil gostar de si mesma, quanto mais gostar eatrair a ateno dos outros. Este no um banho prprio da Umbanda,mas foi uma receita ensinada por uma grande amiga, uma bruxinhameio sapeca, h muito tempo. (Obrigada, Fiona!)

    Ingredientes:2 litros de leite natural (evite o de caixinha)2 barrinhas do chocolate de sua preferncia3 colheres de ch de mel3 colheres de caf de baunilha3 colheres de caf de canela em p3 gotas ou borrifadas de seu perfume favorito

    7 ptalas de rosa vermelha7 ptalas de rosa cor-de-rosa7 ptalas de rosa amarela

    Faa dois litros de chocolate derretido no leite bem forte. Acrescen-te mel, baunilha, canela e algumas gotas de seu perfume preferido, asptalas de rosa vermelha, as ptalas de rosa cor-de-rosa e as ptalas de

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    rosas amarelas. No ferva as flores. Antes de colocar os ingredientes nochocolate, tire um copinho e tome, mentalizando seus desejos. Coe osresduos e deixe-os na praia ou perto de uma rvore frondosa.

    Ao cair da noite, jogue o preparado do pescoo para baixo. Se quiserrealizar o banho numa banheira, pode-se tambm pass-lo no rosto (apele fica uma seda), mas nunca no alto da cabea.

    Este banho trabalha o estmulo fsico como um modo de criar a ener-gia necessria para o esprito equilibrar-se e sentir-se melhor. A sensaoque o chocolate deixa sobre a pele mostra a beleza do corpo, trata a pelee faz o prprio corpo se reenergizar.

    III Banho de Energizao para a Prosperidade1 punhado de ptalas de girassol1 punhado de erva-doce em folhasFolhas de cnforaSndalo2 litros de gua

    Este um banho cigano. Ele serve para energizar e trazer prosperi-dade. Basta ferver dois litros de gua, ao entrar em ebulio desligue ofogo, coloque os ingredientes e tampe. O banho para ser tomado frioou morno, antes do cair da noite.

    IV Banho de EnergiaIngredientes:3 frutinhas de guaran maceradas3 pedaos de gengibre3 pauzinhos de canela

    3 litros de gua

    Ponha o guaran, o gengibre e a canela na gua fervendo. Deixe eminfuso, apague o fogo e deixe esfriar. Depois, tome um banho do pes-coo para baixo, com o preparado ainda quente (cuidado para no sequeimar, espere esfriar at estar suportvel pela pele).

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    SacudimentosO sacudimento uma das formas de descarrego mais comuns e uti-

    lizadas na Umbanda. Ele pode ser realizado pelo mdium, ou por uma

    Entidade (no Orix), desde que as energias de quem o realiza estejamem equilbrio. Ele visa afastar os maus espritos e as ms influncias deum lugar ou de uma pessoa, por vrios meios que discutiremos a seguir.

    Um primeiro caso refere-se ao sacudimento aplicado a um lugar ouuma casa impregnada por maus espritos, influncias e energias em ex-cesso e negativas que prejudicam quem a habita ou passa por ali. Osacudimento feito ao passar e bater folhas diversas pelos cantos de resi-dncias, locais de trabalho e sobre as prprias pessoas. Ele pode ou noser aliado defumao, dependendo da necessidade.

    Os sacudimentos mais complexos assemelham-se aos ebs do Candom-bl, em que se procura tirar toda a energia negativa de uma pessoa pas-sando pelo seu corpo vrios tipos de plantas, at mesmo pedaos de carnee/ou vsceras de animais, cuidando-se para que os restos, sejam isolados docontato com toda e qualquer pessoa, muitas vezes colocando-os dentro deum buraco que tapado em seguida (dando-se de comer Me-Terra).

    Quando utilizamos plantas, o fazemos com ervas que ao anular aenergia negativa de um lugar, preenchem o vcuo que resta com energiaequilibrada/neutra ou positiva, isso ocorre tanto em pessoas quanto emambientes. Ao nos valermos do uso de alimentos como vegetais e cereais(arroz, feijo, milho branco ou amarelo, pipoca, po e massas prove-nientes de farinhas e derivados), a inteno tambm atrair energias emexcesso, usando o poder dos alimentos de transmut-las e anul-las. Paraque o processo d resultado, nenhuma comida utilizada num sacudi-mento pode servir de alimento. Ela deve, pelo contrrio, ser devolvida terra ou despachada em gua corrente, conforme a necessidade.

    Da mesma forma, podemos fazer sacudimentos com sal grosso, car-vo vegetal, bifes, fgado e outras vsceras de animais, pois esses elemen-tos atraem as energias que tornam os ambientes e as pessoas pesados. Nocaso das carnes e vsceras, quanto mais frescos, melhor.

    H, ainda, em ltimo caso, quando h extrema necessidade, um tipode sacudimento realizado com tudo quanto come a boca.

    Este deve ser manipulado com muita responsabilidade, pois, de umamaneira ou de outra, trar grandes responsabilidades e far grandes

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    mudanas de energia. Em geral, s se apela a esse tipo de sacudimentose houver perigo de morte, doena e se as energias que cercam a pessoanegativamente esto cada vez mais fortes e intensas.

    Ebs & OferendasUm eb um ritual de base africana, criado para reequilibrar os as-

    pectos da vida de um indivduo. H vrios aspectos que devem permane-cer em equilbrio para termos uma boa vida: sade, amor, prosperidade,vida profissional, famlia etc. Nesse caso, quando h um grande desequi-lbrio em qualquer um deles, realiza-se um ritual para que as energias da-quele ser ou daquelas pessoas sejam realinhadas com as dos Orixs e dos

    aspectos da vida regidos por cada um deles. Para saber como fazer umeb, preciso consultar os bzios, e sua composio pode variar muito,pois um eb um ritual muito especfico para cada momento da pessoa,para os Orixs que a regem, aos Orixs que regem a situao na qual elase encontra etc. Por tamanha especificidade a Umbanda de Nao que,em geral, se vale dele, dada sua maior ligao com o jogo de bzios e acultura africana. Este tambm um dos princpios do Candombl, quese baseia no eb, nas oferendas propiciatrias para obter a redistribuiodo ax e manter seu equilbrio energtico.

    Oferendas, por sua vez, so presentes de agradecimento aos Orixs,como uma forma de culto ou um pedido por interferncia em dada situ-ao esta ltima prtica, derivada dos costumes catlicos que se fun-diram s religies afro-brasileiras com o passar do tempo. Cada Orixtem suas prprias vontades e aquilo que mais o agrada. Esses aspectos jforam discutidos no livro anterior.

    Ao realizar um eb ou oferenda, alguns aspectos so essenciais: vocs deve utilizar louas e materiais novos (virgens) e nunca deve subs-tituir algo que tenha sido pedido; use somente o que a receita dita e noacrescente nada. Por ltimo, necessrio, alm da f, ter em mente opropsito a que eb realizado.

    E no se esquea de que voc nunca deve fazer um eb ou oferendapara desejar o mal de algum, pois um pensamento negativo atrai para si am vibrao. Assim, sempre que tiver o seu desejo realizado, lembre-se deagradecer, afinal, um muito obrigadodeixa at os deuses mais felizes.

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    Para encerrar este captulo, devemos observar que tivemos aqui apenasuma prvia do que h realmente para entender desta religio. Seus aspec-tos so muito mais profundos e muito mais amplos do que aparentam, eeste guia se prope a elucid-los de uma maneira mais genrica. Emborahaja cursos e aulas que ensinam muitas das ditas prticas de Umbanda,voc no aprende muito sem fazer parte de uma Casa, sem estar dentro dareligio, ouvir os mais velhos e buscar o contato com seus ancestrais.

    de suma importncia reconhecer que quando voc entra para umaCasa ou Terreiro, embora aquele compromisso no tenha de ser para todaa vida, voc assume um compromisso tico e moral importante: o dehonrar, acima de tudo, com seus votos e com a sua palavra. necessrioentender que cada Casa tem seus ritos, particularidades e regras. Nemtodo processo de adaptao fcil, mas se voc percebe que aquele seucaminho, siga-o e encontrar sua felicidade. Faa os Amacis e realize seuBatismo com f, convico e conscincia. Faa ebs, banhos e trabalhoscom f, e sentir a religio como nunca.

    E acima de tudo, entenda que a Umbanda tambm perseverana,no apenas uma religio que lhe oferece uma soluo mais fcil para seusproblemas. Mesmo que no concorde com seu dirigente em alguns pon-tos, no se apresse em julg-lo, pois da mesma forma como voc julga,tambm poder ser julgado. No adianta viver mudando de Casa, semparar em canto algum ou procurando todas as festas e giras para diver-so, sem assumir uma responsabilidade.

    Estar na Umbanda uma questo de escolha, pois todos ns temos olivre-arbtrio para decidir onde ficaremos, como e por qu. Isso tambmvale para tudo que fazemos. Por isso, antes de decidir fazer um banhoque seja, se em algum momento a ideia de prejudicar algum passar pelasua cabea, lembre-se de que tudo que vem fcil vai fcil, e se voc tem

    algum poder, sempre tem quem tenha poder maior.

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    Parte 2

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    Entidades Brasileiras

    Ningum ouviu um soluar de dor

    No canto do BrasilUm lamento triste sempre ecoouDesde que o ndio guerreiroFoi pro cativeiro e de l cantouNegro entoouUm canto de revolta pelos aresNo Quilombo dos PalmaresOnde se refugiouFora a luta dos InconfidentesPela quebra das correntesNada adiantouE de guerra em paz, de paz em guerraTodo o povo dessa terraQuando pode cantar, canta de dorEsse canto que deviaSer um canto de alegriaSoa apenas como um soluar de dorClara Nunes Canto das Trs Raas

    Herana Ancestral

    Quando da chegada dos portugueses e de outros tantos exploradoresdos mares no Brasil, no foi difcil constatar que estas terras j tinhamoutros donos. Eles foram chamados de ndios, pois se acreditava queaqui era as ndias.

    Esse foi o primeiro momento em que deixamos de reconhecer nossasrazes: o momento exato em que os tupis, tupinambs, tamoios, guara-nis, entre tantos outros, passaram a ser todos ndios, selvagens, almasperdidas a serem salvas pelo cristianismo portugus.

    A fora dessas razes, entretanto, no deixou que a ancestralidade morressecom a transculturao a que esses povos, que viviam no territrio nacional,foram submetidos. justamente dessas Entidades os espritos dos ndiosque aqui habitavam e de mestios de ndios com brancos e negros quenasceu a brasilidade, que hoje vemos incorporada nos Terreiros de Umbanda

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    na forma dos Caboclos, Boiadeiros, Marinheiros e Entidades regionais (prin-cipalmente baianos, mas tambm mineiros, gachos e outros).

    Monotesmo dos ndios

    Embora o europeu visse os ndios como portadores de uma alma nocristianizada que precisava ser salva por meio da catequese, ao contrriodo que a maioria pensa, os ndios brasileiros trabalhavam sua realidadepor meio de uma cosmogonia cujo panteo tinha uma fonte criadorauniversal, que podia ser caracterizada como um Deus nico e superior.

    Falamos isso porque hoje em dia algumas Casas de Umbanda, com for-tes razes indgenas, trabalham com essa cosmogonia como centralizadora.Isto , no se fala em Zambi, Oxal, Olorum ou Jesus Cristo, mas, sim,em Tupe Nhanderuvuu. Muitos Caboclos, por exemplo, ao abenoaremalgum, falam de Tup, que poderia ser sincretizado com Jesus Cristo.

    Caboclos

    Estava na mata caandoQuando ouvi Oxssi bradarSeu brado me diziaQue Junco Verde vinha trabalharA estrela de Oxal iluminaIluminando Junco Verde no congPonto de Chegada, Caboclo Junco Verde

    Os Primeiros Brasileiros

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    Os Caboclos, na Umbanda, so Entidades que se apresentam comoindgenas e incorporam tambm no que conhecemos como Candom-bl de Caboclo, do qual j falamos no primeiro volume desta coleo.

    1 Todo o trecho sobre os Caboclos foi retirado de artigo da prpria autora, publica-do em Revista Acadmica Especializada. Consultar as Referncias Bibliograficas.

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    Originalmente, a palavra Caboclo significa mestio de branco com n-dio, mas, na percepo umbandista, se refere a todos os indgenas queem pocas mais antigas habitaram a Amrica.

    H, portanto, alguns espritos que, em suas encarnaes passadas, vi-veram em outros pases, mas que, ao adaptarem-se lngua falada aqui,por meio do corpo e do aprendizado do mdium, e identific