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GEOVAN MARTINS GUIMARÃES TURISMO, CULTURA E ARQUEOLOGIA O TURISMO ARQUEOLÓGICO COMO VETOR DE PROTEÇÃO E VALORIZAÇÃO DOS SAMBAQUIS BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC) 2018

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GEOVAN MARTINS GUIMARÃES

TURISMO, CULTURA E ARQUEOLOGIA

O TURISMO ARQUEOLÓGICO COMO VETOR DE PROTEÇÃO E VALORIZAÇÃO DOS SAMBAQUIS

BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC) 2018

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UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria - PPGTH

Curso de Doutorado em Turismo e Hotelaria

GEOVAN MARTINS GUIMARÃES

TURISMO, CULTURA E ARQUEOLOGIA O TURISMO ARQUEOLÓGICO COMO VETOR DE PROTEÇÃO E

VALORIZAÇÃO DOS SAMBAQUIS

Tese apresentada ao colegiado do PPGTH como requisito parcial à obtenção do grau de Doutor em Turismo e Hotelaria – área de concentração: Planejamento e Gestão do Turismo e da Hotelaria – (Linha de pesquisa: Planejamento do Destino Turístico).

Orientador: Dr. Francisco Antônio dos Anjos Co-orientação: Dra. Deisi Scunderlick Eloy de Farias

BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC)

2018

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UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria - PPGTH

Curso de Doutorado em Turismo e Hotelaria

GEOVAN MARTINS GUIMARÃES

TURISMO, CULTURA E ARQUEOLOGIA O TURISMO ARQUEOLÓGICO COMO VETOR DE PROTEÇÃO E

VALORIZAÇÃO DOS SAMBAQUIS

Tese avaliada e aprovada pela Comissão Examinadora e referendada pelo Colegiado do PPGTH como requisito parcial à obtenção do grau de Doutor em Turismo e Hotelaria.

Balneário Camboriú (SC), 04 de dezembro de 2017. Membros da Comissão:

Presidentes: _________________________________________ Dr. Francisco Antônio dos Anjos Universidade do Vale do Itajaí

_________________________________________

Dr. Deisi Scunderlick Eloy de Farias Universidade do Sul de Santa Catarina

Membros externos: _________________________________________

Dr. Paulo Antônio Dantas DeBlasis (USP) Universidade de São Paulo

_________________________________________

Dr. Luís Mundet i Cerdan Universitat de Girona

Membros internos: _________________________________________

Dra. Dóris van de Meene Ruschmann Universidade do Vale do Itajaí

_________________________________________

Dr. Paulo dos Santos Pires Universidade do Vale do Itajaí

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RESUMO

Todos os Estados brasileiros possuem sítios arqueológicos cadastrados junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan. São vestígios da cultura de sociedades passadas, com características diversificadas e singulares, os quais muitas vezes não são adequadamente integrados, socializados e aproveitados como atrativos turísticos. São poucos os casos no Brasil em que estes patrimônios são preparados para receber visitantes. O Turismo Arqueológico é um segmento que integra Turismo, Cultura e Arqueologia, que tem por objetivo aproveitar o potencial turístico de regiões com sítios arqueológicos de comprovada importância histórica. Este segmento deve estar respaldado por um programa de planejamento e gestão do patrimônio arqueológico que possibilite o desenvolvimento econômico local, além de ser uma medida de preservação e valorização deste patrimônio. Esta pesquisa tem por finalidade propor uma estratégia de planejamento para turismo em sítios arqueológicos sambaquis, visando ao desenvolvimento da atividade turística pautada na preservação, fruição e valorização do patrimônio arqueológico. Desta forma, buscou-se apresentar um panorama de ocupação pré-colonial do município de Laguna - SC; levantar estudos de casos de planejamento e gestão do turismo em áreas com patrimônio arqueológico; desenvolver um modelo teórico de planejamento do turismo para sítios arqueológicos sambaquis do município de Laguna; validar o modelo proposto de Planejamento de Turismo Arqueológico com pesquisadores e gestores de destinos de turismo arqueológico; verificar o modelo proposto de Planejamento de Turismo Arqueológico no município de Laguna. O turismo arqueológico deverá ser uma importante ferramenta para a valorização do patrimônio arqueológico, promovendo o desenvolvimento deste segmento, por meio do planejamento e gestão da atividade, minimizando os impactos negativos e maximizando a preservação dos bens arqueológicos e a valorização das comunidades locais, que vivem nas proximidades dos sítios. Em linhas gerais, espera-se que o segmento de turismo arqueológico, desenvolvido a partir deste modelo, venha contribuir para a preservação, valorização e promoção do patrimônio arqueológico. Palavras-chaves: Turismo arqueológico, Planejamento, Sítios Arqueológicos, Sambaquis.

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ABSTRAC

All Brazilian states have archaeological sites registered at the Institute of National Historical and Artistic Heritage - Iphan. They are vestiges of the culture of past societies with diversified and unique characteristics, which are not often properly integrated, socialized and used as tourist attractions. There are few cases in Brazil where these heritages are prepared to receive visitors. Archaeological Tourism is a segment that integrates Tourism, Culture and Archeology. Its objective is to take advantage of the tourist potential of regions with archaeological sites of proven historical importance. This segment must be supported by a program of planning and management of the archaeological heritage that makes possible the local economic development and also a measure of preservation and valorization of the archaeological patrimony. This research aims to propose a strategy of planning for tourism in shellmounds archaeological sites, focused at the development of touristic activity, based on the preservation, enjoyment and valorization of this archaeological heritage. In this way, it aimed to presenting a panorama of pre-colonial occupation of the city of Laguna, on state of Santa Catarina; Raising case studies of tourism planning and management in areas with archaeological heritage; developing a theoretical model of touristic planning for shellmounds of Laguna city; validating the Archaeological Tourism Planning model proposed with researchers and archaeological tourism destination managers; verifying the proposed model of Archaeological Tourism Planning in Laguna city. Archaeological tourism should be an important tool for the valorization of archaeological heritage, promoting the development of this segment, through planning and management of the activity, minimizing negative impacts, and maximizing the preservation of archaeological assets and the valorization of local communities, which live next to the sites. In general, it is expected that the archaeological tourism segment, developed from this model, can contribute to the preservation, valorization and promotion of archaeological heritage. Key-works: Archaeological Tourism, Planning, Archaeological Sites, Shellmounds.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Metas, ações e resultados alcançados com a pesquisa ...................................................... 15 Quadro 2: Síntese do processo de pesquisa. ....................................................................................... 16 Quadro 3: Tipologias do espaço ........................................................................................................... 39 Quadro 4: Características comuns das destinações turísticas. ............................................................ 40 Quadro 5: Sambaquis e as datações obtidas em C14 da região da paleolaguna de Santa Marta, SC.

....................................................................................................................................................... 67 Quadro 6: Sítios arqueológicos localizados em Laguna. ...................................................................... 68 Quadro 1: Referencial utilizado para construção do modelo. ............................................................. 103 Quadro 7: Categoria e subcategorias do modelo de Planejamento do Turismo. ............................... 111

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Área de atuação dos respondentes do formulário de validação do modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico. ........................................................................................................... 126

Gráfico 2: Grau de Coerência das categorias propostas para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico. ............................................................................................................................... 129

Gráfico 3: Grau de coerência da categoria Reconhecimento propostas para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico. .................................................................................... 130

Gráfico 4: Grau de coerência da categoria Políticas Públicas propostas para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico. .................................................................................... 132

Gráfico 5: Grau de coerência da categoria Programa proposta para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico. ................................................................................................................ 133

Gráfico 6: Grau de coerência da categoria Marketing proposta para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico. ................................................................................................................ 134

Gráfico 7: Grau de coerência da categoria Educação Patrimonial proposta para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico. .................................................................................... 135

Gráfico 8: Grau de coerência da categoria Monitoramento/Avaliação proposta para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico. .................................................................................... 137

Gráfico 9: Grau de coerência no modelo de `Planejamento de Turismo Arqueológico. ..................... 139 Gráfico 10: Principais atrativos turísticos. ........................................................................................... 146

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Quantidade de sítios arqueológicos por Estado brasileiro. ..................................................... 7 Figura 2: Invasão de praticantes de motocross em Sambaqui, Garopaba do Sul, Jaguaruna -SC. .... 10 Figura 3: Rastros deixados em Sambaqui em pela prática de motocross, Garopaba do Sul, Jaguaruna

-SC. ............................................................................................................................................... 10 Figura 4: Petroglifo, Ilha do Campeche, Florianópolis - SC. ................................................................. 26 Figura 5: Sítio Arqueológico de Arte Rupestre, São Raimundo Nonato – PI. ...................................... 26 Figura 6: Oficina lítica ............................................................................................................................ 26 Figura 7: Oficina lítica. ........................................................................................................................... 26 Figura 8: Sítio cerâmico ........................................................................................................................ 27 Figura 9: Sítio cerâmico ........................................................................................................................ 27 Figura 10: Sítio Arqueológico Sambaqui ............................................................................................... 28 Figura 11: Sítio Arqueológico Sambaqui ............................................................................................... 28 Figura 12: Casa Subterrânea ................................................................................................................ 30 Figura 13: Casa Subterrânea ................................................................................................................ 30 Figura 14: Sítio Arqueológico Cerrito .................................................................................................... 30 Figura 15: Sítio Arqueológico Cerrito .................................................................................................... 30 Figura 16: Sítios de Terra Preta da Amazônia ...................................................................................... 31 Figura 17: Sítios de Terra Preta da Amazônia ...................................................................................... 31 Figura 18: Tipologias do espaço físico. ................................................................................................. 40 Figura 19: Singularidade do espaço do destino turístico. ..................................................................... 41 Figura 20: Sambaqui do Ipoã, município de Laguna. ........................................................................... 62 Figura 21: Zoólito com forma de peixe .................................................................................................. 63 Figura 22: Zoólito com forma de mamífero aquático. ........................................................................... 63 Figura 23: Escavação arqueológica no Sítio Cabeçudas I ................................................................... 63 Figura 24: Sítio sambaqui da região do Farol de Santa Marta ............................................................. 63 Figura 25: Categorias do modelo. ....................................................................................................... 112 Figura 26: Esquema do modelo de Planejamento do Turismo Arqueológico apresentado aos

entrevistados. .............................................................................................................................. 128 Figura 27: Esquema da categoria Reconhecimento apresentado aos entrevistados. ....................... 130 Figura 28: Esquema da categoria Políticas Públicas apresentado aos entrevistados. ...................... 131 Figura 29: Esquema da categoria Programas apresentada aos entrevistados. ................................. 132 Figura 30: Esquema da categoria Marketing apresentado aos entrevistados. ................................... 134 Figura 31: Esquema da categoria Educação Patrimonial apresentado aos entrevistados. ............... 135 Figura 32: Esquema da categoria Monitoramento / Avaliação apresentado aos entrevistados. ........ 136 Figura 33: Esquema do modelo de Planejamento do Turismo Arqueológico apresentado aos

respondentes. .............................................................................................................................. 138

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 6

1.1 OBJETIVOS ............................................................................................................................ 8 1.1.1 Objetivo Geral .................................................................................................................. 8 1.1.2 Objetivos específicos:...................................................................................................... 8

1.2 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................................... 9 1.3 METODOLOGIA .................................................................................................................... 12

1.3.1 Caracterização da pesquisa .......................................................................................... 12 1.3.2 Procedimentos Metodológicos ...................................................................................... 15

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................................... 18

2.1 PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO ......................................................................................... 18 2.1.1 Arqueologia, a ciência que constrói o passado. ............................................................ 19 2.1.2 Sítios arqueológicos pré-históricos ............................................................................... 25

2.2 TURISMO .............................................................................................................................. 31 2.2.1 Região turística .............................................................................................................. 37 2.2.2 Gestão do patrimônio arqueológico .............................................................................. 42 2.2.3 Turismo arqueológico .................................................................................................... 47

3. AS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS EM SANTA CATARINA .................................................. 50

3.1 OS POVOS PRÉ-CERÂMICOS ............................................................................................ 50 3.1.1 A Tradição Umbu ........................................................................................................... 50

3.2 OS POVOS CERAMISTAS ................................................................................................... 56 3.2.1 Tradição Taquara/Itararé ............................................................................................... 57 3.2.2 Tradição Tupiguarani..................................................................................................... 59

3.3 OS POVOS SAMBAQUIEIROS ............................................................................................. 60 3.4 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS MAPEADOS NA ÁREA DA PESQUISA ................................... 66

3.4.1 Sítios Arqueológicos mapeados no município de Laguna ............................................ 67

4. ESTUDO DE CASOS EM TURISMO E GESTÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO .......... 70

4.1 TURISMO E GESTÃO DO PATRIMÔNIO NA EUROPA ....................................................... 70 4.2 TURISMO E GESTÃO DO PATRIMÔNIO NA AMÉRICA ...................................................... 76 4.3 TURISMO E GESTÃO DO PATRIMÔNIO NO BRASIL ......................................................... 94 4.4 CONTRIBUIÇÕES PARA O MODELO ................................................................................ 103 4.5 DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 109

5. MODELO PARA A GESTÃO DO TURISMO ARQUEOLÓGICO NO COMPLEXO LAGUNAR 111

5.1 O MODELO E A COMUNIDADE LOCAL ............................................................................. 121

6. PROCESSO DE VERIFICAÇÃO DO MODELO COM PESQUISADORES E GESTORES ...... 126

6.1 PRIMEIRA OBSERVAÇÃO ................................................................................................. 128 6.1.1 Reconhecimento .......................................................................................................... 129 6.1.2 Política pública ............................................................................................................ 131 6.1.3 Programas ................................................................................................................... 132 6.1.4 Marketing ..................................................................................................................... 133 6.1.5 Educação Patrimonial.................................................................................................. 134 6.1.6 Monitoramento / Avaliação .......................................................................................... 136

6.2 MODELO DE PLANEJAMENTO DO TURISMO ARQUEOLÓGICO ................................... 137 6.3 ANÁLISE QUALITATIVA DOS DADOS ............................................................................... 139 6.4 VERIFICAÇÃO DO MODELO NO MUNICÍPIO DE LAGUNA .............................................. 143

6.4.1 Reconhecimento ........................................................................................................ 143 6.4.2 Política Pública ............................................................................................................ 146 6.4.3 Programas ................................................................................................................... 148 6.4.4 Marketing ..................................................................................................................... 149 6.4.5 Educação Patrimonial.................................................................................................. 150 6.4.6 Monitoramento / Avaliação .......................................................................................... 152 6.4.7 Discussão .................................................................................................................... 153

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................ 155

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REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 159

ANEXOS ............................................................................................................................................. 169

ANEXO A – SUBSISTEMA TERRITORIAIS DE LAGUNA ............................................................... 170

ANEXO B – SUBSISTEMA TERRITORIAL CENTRO HISTÓRICO / MAR GROSSO ..................... 171

ANEXO C – SUBSISTEMA TERRITORIAL PONTA DA BARRA / FAROL DE SANTA MARTA .... 172

ANEXO D – SUBSISTEMA TERRITORIAL CAMPOS VERDES / CIGANA ..................................... 173

ANEXO E – SUBSISTEMA TERRITORIAL RIBEIRÃO / PESCARIA BRAVA ................................. 174

ANEXO F – SUBSISTEMA TERRITORIAL CABEÇUDAS / PERREXIL .......................................... 175

ANEXO G – SUBSISTEMA TERRITORIAL ITAPIRUBÁ / PARIA DO SOL ..................................... 176

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1. INTRODUÇÃO

O Turismo Arqueológico é um segmento que integra Turismo, Cultura e

Arqueologia. Tem por objetivo aproveitar o potencial turístico de regiões com sítios

arqueológicos de comprovada importância histórica. Esse segmento se realiza

quando o turista é motivado a se deslocar com o objetivo de visitar, os vestígios que

podem ser considerados particularidades de cada cultura (GUIMARÃES, G. M., 2012;

GUIMARÃES; ANJOS, 2015; GUIMARÃES et al., 2016, 2018).

Todos os Estados brasileiros possuem sítios arqueológicos cadastrados

junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan1. São vestígios

da cultura de sociedades passadas com características diversificadas e singulares,

que muitas vezes não são adequadamente integrados, socializados e aproveitados

como atrativos turísticos. São poucos os casos no Brasil em que estes patrimônios

são preparados para receber visitantes.

Compõe o mosaico histórico e arqueológico brasileiro, numerosos e

variados tipos de sítios arqueológicos, que possuem dimensões monumentais e

inestimável importância histórica e científica. Atualmente encontram-se registrados

junto ao Cadastro Nacional de Sítio Arqueológico - CNSA/Iphan, pouco mais de 27 mil

sítios arqueológicos, desde o período pré-histórico até o histórico (Figura 1). Yázigi

Afirma que, “a arqueologia se destaca com o papel de revelar os fundamentos da

construção identitária do Brasil, que permanece longe de ter sido concluída” (2009, p.

345). Este número de sítios arqueológicos vem crescendo a medida que há o

incremento das pesquisas, possibilitando, dessa forma, o registro de novos sítios,

ampliando o CNSA/Iphan.

1 Órgão brasileiro responsável pela gestão do patrimônio.

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Figura 1: Quantidade de sítios arqueológicos por Estado brasileiro.

Fonte: Elaborado por Geovan Martins Guimarães e Guilherme Batista Machado (2016).

Devido as especificidades e fragilidade do patrimônio arqueológico, o

desenvolvimento deste segmento do turismo não poderá ser massificado, pois a

exploração de todos os recursos poderá trazer resultados negativos. Barretto (2002,

p. 30), alerta que o Turismo Cultural impulsionado pela grande quantidade de público

“[...] tem levado à degradação de alguns lugares em diversos níveis e aspectos”. O

turismo não tendo um plano para seu desenvolvimento, com medidas que primam

pela utilização dos recursos de forma sustentável, terá como resultado uma atividade

depredatória. Morais (2002, p. 101) enfatiza que, “não há turismo, e muito menos o

uso do patrimônio arqueológico para fins turísticos, sem planejamento”. Sempre que

esta atividade for pautada em um planejamento baseado no estudo e capacidade de

carga que defina a utilização dos sítios arqueológicos sem que haja a degradação, o

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turismo será um canal para divulgar a importância histórica das culturas existentes ou

que existiram no local. Neste caso seria um meio para recuperar e manter acesa a

memória do lugar, pois “o turismo, se entendido como opção de desenvolvimento

social e econômico, só pode acontecer sob o respaldo do planejamento previsto nas

políticas públicas geradas pela União e pelos municípios. E, em se tratando do uso do

patrimônio arqueológico para fins turísticos, há de se considerar dois

desdobramentos: as expectativas da comunidade que detém o patrimônio no seu

território e a imposição das normas legais vigentes que intervém na interface

arqueologia/turismo” (MORAIS, 2002).

A partir do levantamento bibliográfico para a produção do estado da arte

sobre a temática abordada, e, por conseguinte das lacunas encontradas definiu-se a

seguinte questão de pesquisa:

Quais estratégias devem ser adotadas na gestão do turismo em sítios

Arqueológicos Sambaquis da região do Complexo Lagunar Sul

Catarinense, como foco na sua preservação, fruição e valorização do

patrimônio arqueológico pré-histórico?

Com a finalidade de responder essa questão de pesquisa, traçaram-se os

seguintes objetivos:

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Propor uma estratégia de planejamento para turismo em sítios

arqueológicos sambaquis, visando ao desenvolvimento da atividade turística pautada

na preservação, fruição e valorização deste patrimônio.

1.1.2 Objetivos específicos:

Apresentar um panorama de ocupação pré-colonial do município de

Laguna;

Levantar estudos de casos de planejamento e gestão do turismo em áreas

com patrimônio arqueológico;

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Desenvolver um modelo teórico de planejamento do turismo para sítios

arqueológicos sambaquis do município de Laguna;

Validar o modelo proposto de Planejamento de Turismo Arqueológico com

pesquisadores e gestores de destinos de turismo arqueológico;

Verificar o modelo proposto de Planejamento de Turismo Arqueológico no

município de Laguna.

1.2 JUSTIFICATIVA

Os sítios arqueológicos possuem um longo histórico de ações

depredatórias, o que torna a situação do patrimônio arqueológico brasileiro bastante

delicada. Ainda mais grave que tais atos são registrados atualmente com certa

frequência. As motivações para essas atitudes são muito variadas, mas o resultado é

a perda parcial ou total do registro arqueológico. Tal situação se repete tanto em sítios

históricos quanto nos pré-históricos

Para tomarmos como exemplo, o Estado de Santa Catarina, possui

relevante patrimônio arqueológico pré-histórico, com destaque para a grande

quantidade de sambaquis2, evidências dos grupos pescadores-caçadores-coletores,

que habitaram a região litorânea. Sua principal característica é a quantidade de

conchas, depositadas por centenas de anos, e a forma monticular. Estes locais foram

utilizados para práticas ritualísticas dos sambaquieiros, e posteriormente foram

integrados pelas populações ceramistas Jê e Tupi-Guarani (DEBLASIS et al., 2014).

Esses sítios arqueológicos possuem ao longo dos anos, um histórico de

destruição. Os sambaquis foram destruídos das mais diferentes formas, inicialmente

foram escavados pelas prefeituras locais, que utilizavam os sedimentos para aterrar

estradas; após, indústrias mineradoras exploraram violentamente os sítios para a

extração de calcário conchífero. Na década de 1960 surgiu a Lei 3924 (BRASIL, 1961)

de proteção do patrimônio arqueológico, mas as práticas de depredação se

estenderam intensamente, até o início da década de 1980. Ainda hoje há registros

recentes de vandalismo ao patrimônio regional.

Atualmente, a expansão imobiliária desordenada e o afã do poder público

municipal, que busca apenas a ampliação da captação de Imposto Predial e Territorial

2 Para saber mais sobre as pesquisas arqueológicas no complexo lagunar sul, ver Assunção, 2010; DeBlasis et al., 2007; Farias; DeBlasis, 2006, 2007; Farias et al., 2015; Gaspar, 2000.

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Urbano – IPTU, aliadas aos ideais de modernidade urbana, geraram muitos

loteamentos litorâneos implantados sem planejamento e/ou licenciamento ambiental,

colocando em risco o patrimônio arqueológico. Além disso, o aumento demográfico

substancial durante o período de veraneio amplia os problemas de tais locais. Muitos

praticantes de esportes radicais, como motocross (figuras 2 e 3), jipecross e

sandboarding que desenvolvem suas atividades diretamente sobre as dunas e sítios

arqueológicos, agravam o quadro de destruição.

Figura 2: Invasão de praticantes de motocross em Sambaqui, Garopaba do Sul, Jaguaruna -SC.

Figura 3: Rastros deixados em Sambaqui em pela prática de motocross, Garopaba do Sul, Jaguaruna -SC.

Fonte: Tiago Atorre (2013). Fonte: Acervo GRUPEP – Arqueologia / UNISUL.

A situação da região Sul de Santa Catarina serve de exemplo. As pesquisas

arqueológicas desenvolvidas nesta área3 revelam que as comunidades

circunvizinhas, por falta de informação ou desconhecimento, ainda não são parceiras

na preservação dos sítios arqueológicos.

Segundo a Lei 3924/61, os patrimônios arqueológicos são considerados

bens da União, devendo, portanto, contar com proteção especial. Assim, a

preservação poderá, de fato, promover a proteção e impedir a descaracterização e

depredação dos sítios arqueológicos (FARIAS, 2009).

Por mais que os sítios arqueológicos estejam protegidos por lei e até

mesmo cadastrados junto ao banco de dados do IPHAN, sua integridade não está

garantida. É de fundamental importância a existência de um programa de gestão do

patrimônio arqueológico. Em entrevista à ComCiência de 11/08/2006, Niéde Guidon

critica a ausência de políticas públicas para a valorização cultural desses espaços. Na

3 Projeto Sambaquis e Paisagem, Projeto Camacho, Projeto AMA – Arqueologia da Mata Atlântica.

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mesma entrevista Rosângela Custódio Thomaz, arqueóloga do Departamento de

Turismo da Universidade Estadual Paulista (Unesp, campus Rosana), relata que um

dos principais entraves é a falta de planos de gestão e manejo de sítios arqueológicos

devidamente documentados. Ressalta ainda, que “não existe comprometimento e

reconhecimento da importância desse patrimônio por parte do poder público”

(www.comciencia.com.br).

As pesquisas arqueológicas têm descoberto legados importantes sobre as

sociedades humanas passadas. As investigações estão avançando e vem trazendo a

tona a complexidade sociocultural dos grupos que habitaram o território brasileiro.

Ainda que, algumas ações de educação patrimonial sejam desenvolvidas por parte

dos pesquisadores, a população em geral desconhece o histórico dessa ocupação.

Aliado às práticas de educação patrimonial, a gestão do turismo arqueológico poderá

ser uma alternativa para a proteção dos sítios arqueológicos, auxiliando na difusão e

valorização desse legado cultural.

Para a utilização do patrimônio arqueológico como atrativo turístico é de

fundamental importância o planejamento e a gestão da atividade. Os impactos ao

meio deverão ser minimizados para não colocarmos em risco o patrimônio que se

insere em uma situação de fragilidade.

Um programa de gestão do turismo arqueológico é de fundamental

importância, o processo de desenvolvimento do planejamento envolve um cruzamento

amplo de participantes que podem trazer consigo objetivos conflitantes (COOPER et

al., 2008, p.234). Para realização do planejamento é imprescindível a participação de

vários atores – representantes de organizações públicas e privadas, planejadores e

comunidade envolvida.

As comunidades circunvizinhas, influenciadas por ações educativas podem

criar meios de amenizar as agressões promovidas por agentes depredadores,

desprovidos de conhecimento em relação aos sítios arqueológicos.

Nesse sentido, o turismo arqueológico terá por finalidade o

desenvolvimento de uma atividade turística que promova e preserve os sítios

arqueológicos agregando as comunidades locais. Essa integração possibilitará a

difusão da cultura de grupos pré-históricos, e a consequente valorização e

preservação dos sítios arqueológicos, bem como viabilizará o desenvolvimento

econômico local de forma sustentável.

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Dessa forma o turismo arqueológico será uma importante ferramenta para

a valorização do patrimônio arqueológico, promovendo o desenvolvimento deste

segmento, por meio do planejamento e gestão da atividade, minimizando os impactos

negativos, e maximizando a preservação dos bens arqueológicos e a valorização das

comunidades locais, que vivem nas proximidades dos sítios.

1.3 METODOLOGIA

O conhecimento científico está pautado em uma série se métodos e

técnicas, que determina como será conduzida a pesquisa. Este estudo propôs uma

estratégia de gestão do turismo em sambaquis. O objeto, natureza, formas de

abordagem, procedimentos metodológicos que se pretende abordar nesse trabalho

serão apresentados a seguir.

1.3.1 Caracterização da pesquisa

A pesquisa científica é precedida por uma série de etapas. Estas etapas

envolvem a formulação da proposta de projeto que será desenvolvido, trata-se do

planejamento da pesquisa. Gil (2002, p. 17) conceitua a pesquisa como:

(...) o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema (2002, p.17).

Podemos afirmar que os resultados da pesquisa são os geradores do

conhecimento científico, na verdade, seria mais o passo nesse caminhar, visto que,

mesmo em sua concepção já possuía parte desse saber. A ciência é uma caminhada

continua em busca da geração do saber, e nunca será finita. Morin (2005, p. 15) afirma

que, “a ciência é, portanto, elucidativa (resolve enigmas, dissipa mistérios),

enriquecedora (permite satisfazer necessidades sociais e, assim, desabrochar a

civilização) ” (2005, p. 15).

O conhecimento científico não é a única forma de conhecimento, além

deste, também elencamos o senso comum (popular), teológico, mítico e filosófico. O

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que difere o conhecimento científico das outras formas de aquisição do saber, são os

procedimentos de verificação.

O conhecimento científico segundo Köche (2009, p.29),

...é um produto resultante da investigação científica. Surge não apenas da necessidade de encontrar soluções para os problemas de ordem prática da vida diária, características do senso comum, mas do desejo de fornecer explicações sistemáticas que possam ser testados e criticados através de provas empíricas e da discussão intersubjetiva.

Porém, há que se ter atenção nesse caminhar, a construção do

conhecimento científico acontece pela definição de rotas a serem trilhadas. Essas

rotas deverão ser claras o suficiente para dar direcionamentos, e flexíveis capazes de

permitir a utilização de caminhos alternativos, viabilizando o desenvolvimento e

avanço do conhecimento científico. A definição dessas rotas seriam o modo de

caminhar, pois para se chegar ao conhecimento científico é necessário a definição e

aplicabilidade de uma metodologia. Marconi e Lakatos (2003, p. 65) reforçam, “(...)

não há ciência sem o emprego de métodos científicos”. Para Dencker (1998a, p. 17)

(1998, p.17), “o método científico consiste em uma série de procedimentos realizados

pelo pesquisador com a finalidade de reduzir as chances de erro”. Em consonância,

Morin, (2005, p. 339) afirma, na ciência o “método é a atividade pensante e

consciente”.

Essa investigação tem por objetivo propor uma estratégia de gestão para

destinos de turismos arqueológico, logo, a natureza desta pesquisa é aplicada.

Segundo Apollinário (2011, p. 62), a pesquisa de natureza aplicada “[...] estaria

voltada para o desenvolvimento de novos processos ou produtos orientados para as

necessidades de mercado”. O processo de investigação caracteriza-se

fundamentalmente por uma pesquisa exploratória e descritiva.

Segundo Aaker, Kumar e Day, (2004, p.94), a pesquisa exploratória, “é

usada quando se busca um entendimento sobre a natureza do problema [...]”. Afirma

ser “útil para estabelecimento de prioridades entre questões de pesquisa e para o

aprendizado sobre os problemas práticos na execução do trabalho” (AAKER; KUMAR;

DAY, 2004, p.94) e este tipo de investigação “se caracteriza por flexibilidade e

versatilidade com respeito aos métodos”, procura explorar um problema ou situação

para originar critérios e maior entendimento (MALHOTRA, 2011, p. 100). Triviños

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(1987, p. 109) destaca ainda que, “um estudo exploratório, por outro lado, pode servir

para levantar possíveis problemas de pesquisa”.

O estudo descritivo, que caracteriza-se por apresentar uma realidade, sem

causar interferência (APOLLINÁRIO, 2011, p. 62),também fez parte desta

investigação e o seu emprego foi necessário para alcançarmos alguns objetivos. De

acordo com Triviños (1987, p. 109), o foco essencial destas investigações é buscar

conhecer melhor as características da população ou fenômeno. Para ele, este método

“pretende descrever “com exatidão” os fatos e fenômeno de determinada realidade”

(TRIVIÑOS, 1987, p. 109). De acordo com Martins (1994, p. 28), “o estabelecimento

de relações entre variáveis e fatos”. Gil (2002, p. 42) indica que, esse tipo de pesquisa

poderá ir além de uma simples identificação de relações entre variáveis, pretendendo

determinar a natureza dessas relações.

A investigação, objeto dessa tese, teve uma abordagem mista, ou seja,

qualitativa e quantitativa. Dentro da realidade do turismo, em princípio, a maioria dos

estudos partem de dados estatísticos de pesquisas quantitativas, esses dados quando

aliados ao processo qualitativo servem como ferramenta dentro da pesquisa, pois

informações sobre a vida dos povos não podem ser quantificadas e precisam ser

interpretadas de forma mais ampla, do que simplesmente como um dado objetivo.

Segundo Trivinõs (1987, p. 130), “uma das grandes postulações da

pesquisa qualitativa é a de sua atenção preferencial pelos pressupostos que servem

de fundamento à vida das pessoas”. Já a pesquisa etnográfica, que se pode dizer é o

estudo da cultura (TRIVIÑOS, 1987), associa-se à pesquisa qualitativa. Ambas partem

da perspectiva de que existe um mundo cultural a ser conhecido, baseando suas

conclusões nas descrições do real cultural que lhe interessa para tirar delas os

significados que têm para as pessoas que pertencem a tal realidade. Conclui-se, pois,

que a função do pesquisador “não é tanto estudar as pessoas, e sim aprender delas”

(TRIVIÑOS, 1987, p. 121). Para Martins (1994, p. 158), “a análise dos dados terá por

objetivo simplesmente compreender um fenômeno em seu sentido mais intenso”.

Assim, através da pesquisa qualitativa, se pode “não só determinar como é

um fenômeno, mas também de que maneira e por que ocorre” (TRIVIÑOS, 1987, p.

111). Apoiado em instrumentos de pesquisa como entrevistas, documentos e dados

de pesquisa anteriores, buscamos na pesquisa qualitativa flexibilidade, que é um

importante elemento para a interpretação da participação do sujeito no fenômeno

turístico.

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Através dos objetivos determinados para essa pesquisa estabelecemos

metas. Para cada meta definimos as ações e os resultados que foram alcançados por

meio destas. Essas definições estão apresentadas no quadro 1.

Quadro 1: Metas, ações e resultados alcançados com a pesquisa

Metas Ação Resultados alcançados

Apresentação do

panorama de ocupação pré-colonial

Analisar e sintetizar

Elaboração de uma síntese do panorama de ocupação pré-

colonial

Levantamento de estudos

de caso sobre turismo arqueológico

Analisar e sintetizar

Realização de uma síntese dos estudo de caso

Desenvolvimento de um

modelo teórico de planejamento para o

turístico arqueológico

Propor um novo modelo para a

gestão do destino turístico

arqueológico

Produção de um novo modelo teórico a partir da síntese com os principais constructos das

metodologias estudadas

Validação da aceitabilidade do modelo

teórico

Validar

aceitabilidade com especialistas e

gestores

Aceitação e contribuição para o modelo por especialistas e

gestores

Verificação do modelo no município de Laguna

Verificar o modelo

proposto no município Laguna

Validação do modelo proposta de Planejamento de Turismo

Arqueológico

Fonte: Elaborado pelo autor.

1.3.2 Procedimentos Metodológicos

A pesquisa foi desenvolvida em 6 (seis) etapas: a primeira está relacionada

ao estado da arte da temática de pesquisa; a segunda propôs a elaboração de uma

síntese das metodologias estudadas; a terceira foi a elaboração de uma proposta de

modelo para gestão de destinos de turismo arqueológico; a quarta validou a proposta

do modelo de gestão com pesquisadores de turismo e arqueologia; a quinta validou

a proposta do modelo de gestão com gestores de destinos de turismo arqueológicos;

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e finalmente a sexta etapa foi a redação final da tese. Essas etapas estão sintetizadas

no quadro 2.

Quadro 2: Síntese do processo de pesquisa.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A primeira etapa dessa pesquisa foi a consulta na base de dados EBSCO,

na qual buscamos artigos nas temáticas de turismo arqueológico e gestão do

patrimônio arqueológico. Utilizamos os seguintes termos na língua inglesa (como

palavras-chaves): Management e Archeological Heritege ou Archeological Sites.

Após o levantamento exaustivo da temática de pesquisa, foi elaborada uma

síntese com as principais teorias consultadas. Esta síntese deu aporte teórico para o

desenvolvimento de um modelo inédito de planejamento de turismo arqueológico,

principal foco dessa tese.

Esse modelo, por sua vez, foi testado quanto à aceitabilidade, sendo

avaliado por pesquisadores da área de turismo e arqueologia, bem como gestores

públicos de locais com atrativos arqueoturísticos. De posse dessa primeira análise,

• Levantamento sobre estudos de casos de destinos de turismo arqueológico

Etapa 01: ESTADO DA ARTE

• Elaboração de uma síntese dos estudos de caso realizados sobre o turismo arqueológico

Etapa 02: SINTESE DE METODOLOGIAS

• Proposição de um novo modelo teórico para o planejamento do turismo arqueológico

Etapa 03: PROPOSTA DE MODELO

• Validação da aceitabilidade do modelo de gestão com especialistas de turismo e arqueologia e gestores públicos

Etapa 04: VALIDAÇÃO DA PROPOSTA COM ESPECIALISTAS E GESTORES

• Verificação do modelo de planejamento de turismo arqueológico

Etapa 05: VERIFICAÇÃO DA APLICABILIDADE DO MODELO

• Redação da tese

Etapa 06: REDAÇÃO DA TESE

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foram efetuados os ajustes necessários ao modelo e, posteriormente, foi realizada a

verificação da aplicabilidade no município de Laguna.

Esta tese está estruturada da seguinte forma:

O primeiro capítulo, que contempla a introdução do trabalho, discorre sobre

os aspectos introdutórios da pesquisa.

O segundo capítulo realiza uma discussão sobre os aspectos teóricos do

patrimônio arqueológico em o turismo.

No terceiro capítulo, apresentamos uma síntese da ocupação pré-colonial

no município de Laguna, apontando toda a diversidade e quantidade de sítio

arqueológicos existentes no território em questão.

O quarto capítulo é a síntese dos estudos de caso sobre o turismo

arqueológico no Brasil e no mundo, de modo a viabilizar a construção posterior da

síntese do modelo ao qual estamos propondo.

No capítulo 5, realizamos a apresentação do modelo de planejamento de

turismo arqueológico, que o objeto desta pesquisa.

O capítulo 6 integra o processo de verificação do modelo proposto.

Inicialmente, o modelo foi avaliado com pesquisadores de turismo e arqueologia e

gestores públicos de locais com atrativos arqueoturísticos. Por fim, verificamos a

aplicabilidade do modelo para o município de Laguna/SC.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO

A Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu Artigo 160 define o

Patrimônio Cultural Brasileiro como:

Bens de natureza material e imaterial, tomadas individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Este artigo da lei, define que os sítios arqueológicos são Patrimônio Cultural

Nacional, sendo estes, evidências materiais de grupos antepassados, portadores de

referências da identidade formadora da sociedade nacional.

Na atualidade o termo patrimônio pode ser pensado em uma perspectiva

genética, natural, histórica, entre outras, o que dá um certo dinamismo ao conceito.

Junto à esta visão moderna de patrimônio valoriza-se também o patrimônio imaterial

como parte do patrimônio cultural, designando um bem destinado ao usufruto de uma

comunidade, constituído na acumulação da diversidade de objetos que se congregam

no seu passado comum (CHOAY, 2001).

A modernidade apresentou ao universo cultural, manifestações culturais

híbridas, pluri ou multi facetadas, concomitante à estas mudanças, ocorreram

manifestações simbólicas, de cunho identitários, alterando dessa maneira o modo de

ver, valoriza, preservar e produzir os elementos do patrimônio. Nesta perspectiva há

discussões acerca da necessidade de mudanças impulsionadas pela força da

sociedade civil quanto às práticas de valorização do patrimônio (CARNEIRO, 2004, p.

53).

Segundo Guillaume (1980 apud CARNEIRO, 2004, p.61-62) a conservação

de determinado patrimônio não está na pura valorização do passado, mas antes no

processo de conservação, que proporciona ao passado um novo valor de operador

social. Seria uma invenção de uma política do patrimônio que impulsionaria o

interesse repentino pelo passado e a necessidade de conservá-lo e não o contrário.

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As antigas políticas patrimoniais e sua seleção elitista, ocasionaram a

perda de vários elementos do patrimônio material e imaterial. Lemos (2006, p. 21–22)

ressalta:

Guardam-se os artefatos de exceção e perderam-se para todo o sempre os bens culturais usuais e corriqueiros do povo. Esses bens diferenciados preservados sempre podem levar a uma visão distorcida da memória coletiva, pois justamente por serem excepcionais não tem representatividade. Somente agora, nos últimos dois séculos, é que a Arqueologia se esforça por recolher, identificar e estudar os restos e vestígios de povos já desaparecidos para tentar conhecê-los melhor no seu cotidiano prosaico, para vislumbrar seu pensamento, suas crenças, seus tabus.

O que chama atenção nas palavras de Lemos (2006) é a relevância da

Arqueologia, como porta voz de patrimônios esquecidos ou apagados, enfatizando o

papel social que esta ciência exerce. A preocupação com o patrimônio arqueológico

já é vista na Conferência Geral da UNESCO em Nova Delhi (5 dezembro de 1956),

na qual elaborou-se recomendações para as pesquisas arqueológicas, destacando-

se o fato de que “cada Estado-membro deveria garantir a proteção de seu patrimônio

arqueológico…” (UNESCO, 1956).

O Patrimônio Arqueológico Brasileiro é vasto e diverso. Apesar de

despertar os interesses de pesquisadores desde o período imperial, o mesmo só foi

legalmente protegido em 1961, através da Lei Federal nº 3.924 que criminalizou os

atos destrutivos contra este patrimônio, sendo o IPHAN - Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional instituído o órgão responsável pela sua gestão. Porém,

os sítios arqueológicos são ainda hoje, constantemente alvo de atos destrutivos, prova

da ineficácia das políticas públicas para a proteção do patrimônio arqueológico. Em

contrapartida, a comunidade científica busca desenvolver pesquisas que visem a

divulgação, sensibilização e valorização desse patrimônio.

2.1.1 Arqueologia, a ciência que constrói o passado.

Etimologicamente falando, Arqueologia vem do grego Archaios = passado

/ antigo e, Logos = ciência / estudo. Podemos conceituar Arqueologia como a ciência

que estuda o passado das sociedades humanas, através dos vestígios materiais por

elas deixados. Para reforçar essa temática vamos esclarecer alguns pontos: o objeto

de estudo da Arqueologia são as sociedades humanas; o objetivo desta ciência social

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é compreender essas sociedades através dos vestígios materiais por eles deixados,

seja em períodos pré-históricos ou históricos, esses ambientes são denominados de

sítios arqueológicos, que são espaços físicos onde se encontram os vestígios

arqueológicos, que poderão estar em meio terrestre ou subaquático.

Na atualidade persiste uma visão fantasiosa e distorcida da Arqueologia,

sendo corrente a confusão com a Paleontologia, responsável pelos estudos de seres

fossilizados que habitaram a Terra (Dinossauros, Microrganismos, Peixes, por

exemplo). Esta distorção imagética recebe fortes contribuições da indústria

cinematográfica, com destaque para o personagem de Indiana Jones – que apresenta

o Arqueólogo como aventureiro e caçador de tesouros. Construiu-se com isto a

imagem de que o arqueólogo se interessa exclusivamente pelo artefato, que teria alto

valor monetário. Scatamacchia (2005, p. 19) relata, “a noção de arqueologia como

uma aventura de caça ao tesouro, de busca de objetos exóticos, é uma noção

equivocada”.

Contudo, esta visão não é de todo errônea, durante muito tempo o artefato

foi o foco da Arqueologia. Por muito anos esteve atrelada à criação de museus ou os

denominados gabinetes de curiosidades, com quase nenhum propósito de

recolhimento das peças para estudo. Muito antes da Era Cristã, Gregos e Babilônios,

já reservavam parte de seu tempo para compreender o desenvolvimento das culturas,

interessando-se também em recolher e colecionar artefatos e objetos que viriam a

formar os primeiros museus (ROBRAHN-GONZÁLEZ, 2000, p.12).

Outro movimento que impulsionou este olhar para o passado foi o

Renascimento (séculos XIV a XVII), no transcorrer desse período foram muitas as

investidas com intuito de encher os gabinetes de curiosidades. Peças exóticas de

todos os cantos do mundo foram trazidas à Europa, especialmente da Ásia, América

e da própria Europa, onde se buscava as refinadas cerâmicas gregas e romanas.

Contribuiu para este fato as expedições ultramarinas e as descobertas de "novos

mundos" nos Séculos XV e XVI.

Ao término do Período Renascentista e das grandes expedições

ultramarinas, a visão arqueológica ainda estava voltada para a busca de objetos que

viriam a preencher os museus. Essa visão começa a se modificar no final do Século

XVIII e início do século XIX, quando surgiu a preocupação da descrição e classificação

do material encontrado, procurando tornar a Arqueologia uma disciplina sistemática e

científica.

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Esse período da Arqueologia conhecido como Descritivo-Classificatório, foi

apresentado como:

De um modo geral, essa fase descritivo-classificatório [SIC] constitui o berço da Arqueologia sistemática, resultando em sua definição formal enquanto disciplina. Deu-se início a era das descrições e classificações criteriosas, ao desenvolvimento da tipologia, ao mapeamento geográfico dos achados, bem como a realização de grande quantidade de pesquisas de campo (ROBRAHN-GONZÁLEZ, 2000, p. 17).

A partir desta mudança de paradigma a Arqueologia adotou métodos de

campo diferenciados, chegando ao esquema conceitual do Sistema das Três Idades:

Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro. Isto corroborava com a ideia

evolutiva da pedra (pré-história) ao ferro (Europa civilizada).

Com a descoberta de várias civilizações passadas viu-se a necessidade de

ir além do colecionismo de objetos soltos e descontextualizados. O homem passou a

ser objeto de análise por trás da cultura material produzida por ele. Scatamacchia

(2005, p. 19) descreveu que, “toda ação praticada pelo homem envolve algum tipo de

artefato e deixa algum tipo de marca no solo. Tais marcas podem ser resgatadas pelo

arqueólogo por meio de métodos especiais de escavações”.

O pesquisador Gordon Childe, grande estudioso da pré-história e história

europeia, direcionou seu olhar para além das disposições de camadas e objetos em

um sítio arqueológico, observando o sistema ambiental que o homem viveu. A partir

deste novo olhar foi possível identificar as permanências e alterações produzidas pelo

homem no ambiente que ocupou. Childe iniciou assim os primeiros estudos de padrão

de assentamento dos grupos humanos pré-históricos e históricos (ROBRAHN-

GONZÁLEZ, 2000, p.17).

No Século XX ocorreram várias mudanças teóricas e metodológicas. Na

década de 1960, nos EUA, surgiu a denominada New Archaeology. Esse movimento

ocorreu diante da insatisfação de um grupo de pesquisadores quanto a teoria e o

método descritivo-classificatório. Diante disso, propuseram a análise da cultura

material, não apenas pelos fóssil-guias, mas também, pelos variados traços que

compõem uma cultura.

Tem-se início uma visão ecossistêmica dos vestígios arqueológicos,

relacionando cultura e meio ambiente. Em busca desta visão amplificada a

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Arqueologia abre-se a uma abordagem multidisciplinar, recebendo contribuições de

outras ciências tais como Biologia, Geografia, História, Antropologia, entre outras.

Com o passar do tempo, a pesquisa arqueológica teve seus métodos e

teorias modificados, e pautados em teorias que envolvem o processualismo e o pós-

processualismo, se apresentam novas maneiras de averiguar um vestígio e demais

sítios arqueológicos.

No Brasil a história da Arqueologia está permeada por influências

estrangeiras. A começar por naturalistas e cronistas que aqui passaram, muitas vezes

incentivados pelo próprio imperador Pedro II, assim como por escolas francesas e

norte-americanas que influenciaram técnicas de pesquisa em campo e laboratório.

Os primeiros relatos etno-históricos sobre as populações que viviam no

Brasil são de cronistas. Estes viajantes estrangeiros descreveram com riqueza de

detalhes como era o litoral brasileiro e os povos que nele habitavam. Contudo os

relatos não eram destinados, tão pouco continham olhar científico. Os cronistas do

descobrimento, assim como, os padres das missões jesuíticas, não estavam

preocupados em evidenciar e estudar sítios arqueológicos e sim descrever os grupos

e vestígios materiais que encontravam. Estes relatos se apresentam na atualidade

como mais uma fonte da pesquisa arqueológica.

Na segunda metade do Século XVIII e início do XIX, o Brasil recebeu uma

gama de naturalistas estrangeiros em busca de conhecer a diversidade natural e

cultural do país, quando se realizou inúmeras excursões, viagens e pesquisas.

Detalhes de fauna e da flora; descrição da cultura material e do modo de vida dos

nativos eram minuciosamente relatados. Essas evidências foram utilizadas na

formulação de teorias sobre a origem e antiguidade do povo americano (BARRETO,

2000, p.35).

No início do Século XIX, com a transferência da corte portuguesa para o

Brasil, a Arqueologia brasileira amplificou suas atividades, de forma mais sistemática.

Muitas explorações foram realizadas pela própria coroa portuguesa contando com a

presença de naturalistas. Conforme Prous (1992, p. 7), o interesse de D. Pedro II pela

Antropologia contribuiu para a implantação das primeiras entidades oficiais destinadas

a ter um papel relevante na Arqueologia brasileira. D. Pedro II enriqueceu o Museu

Nacional, onde foram depositadas coleções de material europeu e africano de

algumas das primeiras escavações pré-históricas realizadas no mundo.

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A mais relevante pesquisa do período imperial foi realizada pelo naturalista,

botânico e paleontólogo amador, o dinamarquês Peter Wilhem Lund, que pesquisou

mais de 800 cavernas em Lagoa Santa, Minas Gerais. As pesquisas de Lund em 1843,

deram origem aos primeiros estudos de vestígios arqueológicos no Brasil (PROUS,

1992, p.09). Prous (1992, p.06) afirma que, Lund descobriu ossos de animais

fossilizados, preservados há milhares de anos. Realizava também coleta desses

materiais, descrevendo-os, e dando assim a conhecer numerosas espécies de uma

fauna brasileira extinta.

Em sua busca por vestígios de animais da megafauna4 extinta, Lund

encontrou o primeiro fóssil humano associado aos restos destes grandes animais

pleistocênicos. O fóssil encontrado foi chamado de “homem da Lagoa Santa” e gerou

várias especulações sobre a antiguidade humana e a contemporaneidade do homem

com a megafauna extinta (BARRETO, 2000, p.37).

Posteriormente, também em Lagoa Santa, foi encontrado o crânio humano

mais antigo das Américas. Uma equipe franco-brasileira, coordenada por Annette

Laming-Emperaire, descobriu em 1975 o crânio e outros ossos do corpo de Luzia5. O

crânio de Luzia foi datado em cerca de 11.680 anos A.P.

Segundo (Barreto, 2000, p. 37), este período pós descoberta de Luzia

caracterizou-se por uma efervescência científica na Arqueologia brasileira, não só nas

expedições, escavações, mas também na formulação de hipóteses e teorias sobre a

origem e filiação cultural sobre os índios brasileiros. Como ainda não havia a

formulação de centros universitários no país, foi dentro dos museus que pesquisas e

teorias foram desenvolvidas. Neste novo contexto arqueológico formam-se e

consolidam-se no país o Museu Nacional, antigo Museu Real, o Museu Laurista e o

Museu Paraense Emílio Goeldi. Estes museus e centros de pesquisas foram decisivos

para o desenvolvimento da Arqueologia brasileira.

A pesquisa universitária, segundo Funari (2003, p.26) passou a ser

desenvolvida no Brasil após a Segunda Guerra Mundial, incentivada por ações

preservacionistas, com intuito de combater a intensa depredação dos sítios

arqueológicos. A necessidade de formação de profissionais para a pesquisa e

4 Megafauna, animais gigantescos do pleistocênico, fauna hoje extinta na América. Exemplos: Preguiça Gigante, Tatu Gigante, Tigre dente de sabre. 5 Luzia foi o nome dado ao fóssil pelo arqueólogo Walter Neves, no ano de 1999. Trata-se de um

fóssil humano (Homo sapiens) feminino, com aproximadamente 20 anos, que reacendeu questionamentos acerca das teorias da origem do homem americano.

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conservação desses patrimônios impulsionou a criação de cursos de Arqueologia. A

primeira leva de arqueólogos formados nesses centros era mais tecnicista, voltada ao

desenvolvimento de técnicas de escavação. A Arqueologia dentro da academia

recebeu grande influência estrangeira na formação de seus novos arqueólogos assim

como nos métodos de pesquisas realizadas no país. Prous, (2006, p.10) relata que,

inicialmente as pesquisas eram orientadas por franceses e norte-americanos,

posteriormente, “com programas independentes realizados pelos pioneiros formandos

por esses mestres estrangeiros”.

A entrada de pesquisadores norte-americanos foi tardia no Brasil. Os

arqueólogos estadunidenses de maior relevância para a Arqueologia Brasileira foram

Wesley Hurt e o casal Betty Meggers e Clifford Evans. Retomando as escavações de

Lagoa Santa o casal obteve as primeiras datações radiocarbônicas, assim como o

treinamento de novos arqueólogos em escavações sistemáticas. A maior contribuição

da escola norte-americana foi a realização de um projeto de levantamento

arqueológico em nível nacional, na década de 1960, o PRONAPA - Programa

Nacional de Pesquisa Arqueológica. Este programa era orientado por Betty Meggers

e Clifford Evans, com intuito de apresentar um quadro preliminar da pré-história dos

estados litorâneos, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Apesar de várias

críticas ao programa, foi no transcorrer destas pesquisas criadas as principais

“Tradições”6 arqueológicas até hoje conhecidas (PROUS, 2006, p.10).

A partir da década de 1980 cresceu o número de pesquisadores no país,

ainda que o mercado precisasse de mais de profissionais, a maioria dos trabalhos

eram realizados por equipes nacionais (PROUS, 2006, p.11) Os pesquisadores

formados a partir da década de 1980 enfocavam nas suas investigações categorias

como padrões de assentamento e organização social, em busca de uma visão mais

dinâmica da cultura.

A Arqueologia brasileira dividiu seus sítios arqueológicos em pré-históricos

ou pré-coloniais e sítio históricos, ambos podendo ser encontrados em ambiente

terrestre ou subaquático.

Devido à sua extensão continental e seu histórico de intensos e variados

processos migratórios e imigratórios, o Brasil apresenta uma infinidade de sítios

6 No capítulo 3 (página 52) apresentaremos grupos portadores dessas tradições arqueológicas que ocuparam o território do município de Laguna.

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arqueológicos que contam a História do período pré-histórico ou histórico de nosso

País. Apresentaremos no item seguinte algumas tipologias de sítios arqueológicos

pré-históricos e históricos, recorrentes e pesquisados no Brasil.

2.1.2 Sítios arqueológicos pré-históricos

Os sítios arqueológicos denominados de pré-históricos ou pré-coloniais em

território brasileiro são aqueles referentes às populações nativas pré-contato.

Atualmente, somam-se quase 16.000 sítios cadastrados em todo o Brasil de acordo

com o Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos CNSA-IPHAN. São variadas às

tipologias de sítios pré-históricos existentes no país devido à extensão territorial e

diversidade cultural existente. Abaixo apresentaremos alguns dos sítios mais

conhecidos e estudados, cabe aqui ressaltar que não estamos falando de grupos ou

etnias, mas antes de tipologias de vestígios materiais.

Sítio de Arte Rupestre

Os sítios de Arte Rupestre estão presentes em todo o território brasileiro,

diversos em técnica, suporte e temática, sendo contabilizadas mais de 40.000 figuras

diferentes. Tratam-se de manifestações gráficas feitas em abrigos, grutas, paredões,

blocos e lajes através da técnica de pintura ou gravuras conhecidas também como

25etroglifos (GASPAR, 2006, p.8). Devido à variedade de temas, a Arte Rupestre

Brasileira foi dividida em Tradições Rupestres que apresentam variações de uma

região para a outra, sendo estas: Tradição Amazônica, Tradição São Francisco,

Tradição Planalto, Tradição Litorânea, Tradição Geométrica, Tradição Meridional,

Tradição Agreste e Tradição Nordeste (GASPAR, 2006; PROUS, 2006). Ressalta-se

ainda a presença de Geoglifos no Brasil, caracterizados por “estruturas artificiais,

feitas de terra, com formas geométricas quadrangulares ou circulares e dezenas de

metros quadrados de área” (NEVES, 2006, p.77).

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Figura 4: Petroglifo, Ilha do Campeche, Florianópolis - SC.

Fonte: o autor.

Figura 5: Sítio Arqueológico de Arte Rupestre, São Raimundo Nonato – PI.

Fonte: o autor.

Sítio Lítico

Os sítios líticos são caracterizados pela presença de artefatos

confeccionados em pedra ou contendo vestígios/local da produção destes (oficinas

líticas). São encontrados em todo o território brasileiro, diferindo principalmente, na

tecnologia empregada na produção do artefato, assim como na matéria-prima

utilizada. Estão, em sua maioria, associados aos grupos mais antigos no Brasil,

denominados pela arqueologia como caçadores-coletores, devido à sua forma de

subsistência (FARIAS; KNEIP, 2010).

Figura 6: Oficina lítica

Fonte: o autor.

Figura 7: Oficina lítica. Fonte: o autor.

Sítio Cerâmico

Os sítios cerâmicos estão relacionados às populações pré-coloniais,

agricultoras, que confeccionavam vasilhas cerâmicas. Estas vasilhas possuem forma,

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tamanho e função variáveis em território brasileiro. Uma grande e conhecida Tradição

Cerâmica é a Tupiguarani, caracterizada por potes de variados tamanhos, sendo os

maiores utilizados como Urnas Funerárias, a decoração é plástica (corrugada,

ungulada, incisa) ou pintada. Outro exemplo muito conhecido e estudado devido à sua

complexidade, são as cerâmicas da Tradição Marajoara – Ilha de Marajó/AM, que

apresentam singularidade no formato das vasilhas e na decoração “normalmente

pintada e inclui motivos antropomorfos, zoomorfos e abstratos, sempre com alguma

combinação entre vermelho, laranja, branco e preto” (NEVES, 2006, p.57).

Figura 8: Sítio cerâmico

Fonte: http://chc.cienciahoje.uol.com.br/estrada-com-historia/

Figura 9: Sítio cerâmico

Fonte: http://ascom.unitins.br/?p=1285

Sambaqui

Os sítios Sambaquis estão presentes em quase todo o litoral brasileiro.

Foram, e ainda são, muito estudados devido à sua monumentalidade e complexidade

social. O nome Sambaqui origina-se da língua Tupi, que significa monte de conchas,

possui formato monticular e constitui-se basicamente por camadas de moluscos

intencionalmente arranjadas. Ocupam principalmente, regiões lagunares e áreas

recortadas por baías e ilhas. Variam bastante de tamanho, os sambaquis, no litoral

catarinense, podem chegar a 70m de altura e 500m de comprimento (DEBLASIS et

al., 2007).

Em sua maioria os sambaquis são locais cerimoniais guardiões de vestígios

da cultura material dos grupos que os construíram (sepultamentos, artefatos líticos,

artefatos ósseos) indicando ainda, elementos da cultura imaterial, representados pela

mentalidade simbólica presentes nos vestígios dos rituais funerários e suas

cerimônias (DEBLASIS et al., 2007). As características referentes a essa tipologia de

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sítio serão melhor apresentadas em capítulo próprio dedicado ao tema. Essa tipologia

de sítio será apresentada em detalhes capítulo 3.

Figura 10: Sítio Arqueológico Sambaqui

Fonte: http://dc.clicrbs.com.br/sc/notic ias/noticia/2012/10/ossadas-de-crianc a-e-adulto-com-maos-entrelacadas-e m-sambaqui-de-laguna-chamam-aten cao-de-arqueologos-3903199.html

Figura 11: Sítio Arqueológico Sambaqui

Fonte: http://omaiorsambaquidomundo.Blogsp ot. com.br/2011_06_01_archive.html

Muitas dessas peças estão sob a guarda de instituições museológicas

locais no Estado. Em Joinville, conta-se com o Museu Arqueológico do Sambaqui de

Joinville - MASJ, que comporta toda a coleção de Guilherme Tibúrcio, adquirida no

ano de 1963, pela municipalidade. Tibúrcio, além de comprar muitas peças dos

moradores e mineradores, também escavou diversos sítios, coletando não apenas

peças e demais materiais arqueológicos, mas também, uma farta documentação,

entre diários de campo, croquis e fotografias.

Outra instituição que se destaca é a do Museu do Homem do Sambaqui do

Colégio Catarinense, em Florianópolis. Nessa escola encontra-se boa parte do acervo

arqueológico escavado por João Alfredo Rohr. Padre e arqueólogo, Rohr atuou com

muito dinamismo na arqueologia do sul do Brasil. Ele transitava de norte a sul do

Estado de Santa Catarina, evitando a destruição de sambaquis e demais sítios

arqueológicos, principalmente na zona litorânea.

O Museu da UFSC, que guarda o acervo das escavações realizadas por

Eble, Piazza e Beck entre os anos de 1960 e 1970 é outro exemplo de instituição que

guarda material de sambaquis. Esses pesquisadores atuaram em várias regiões do

Estado, onde escavaram sambaquis, muitas vezes em pleno processo de destruição.

Em Laguna o sambaqui Carniça foi escavado emergencialmente por Anamaria Beck

e Walter Piazza no final da década de 1960, quando estava em pleno processo de

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desmonte pela mineração, um cenário bastante costumeiro na região durante esse

período.

No museu de Arqueologia de Balneário Camboriú é possível se identificar

vestígios arqueológicos da coleção de Rohr, que também atuou na região escavando

e salvando sítios em Taquaras, Laranjeiras, Balneário Camboriú, Camboriú, Itajaí

entre outras cidades. Nessa instituição são encontrados vestígios arqueológicos da

escavação que Rohr desenvolveu no sambaqui de Laranjeiras.

Além dessas instituições museológicas, tem-se ainda, laboratórios de

arqueologia sediados em universidades, atuando no ensino, pesquisa e extensão.

Essas instituições exercem um importante papel, há anos desenvolvem atividades

educativas contínuas junto a população regional e principalmente a comunidade

escolar, desta forma, buscam conscientiza-los e sensibiliza-los para a importância da

preservação e valorização do patrimônio arqueológico regional.

Entre as instituições que atuam no sul do Estado temos o Grupo de

pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia – Grupep Arqueologia, na

Universidade do Sul de Santa Catarina - Unisul, que guarda o acervo de diversos

sambaquis da região, entre eles os de Cabeçuda, Morro do Peralta, Perrichil e do sítio

Jê Galheta IV, todos mapeados no município de Laguna.

A Universidade do Extremo Sul Catarinense – Unesc, em seu laboratório

de arqueologia Pedro Ignácio Schmitz - Lapis, guarda acervo de diversos sambaquis

estudados principalmente no extremo sul catarinense.

Casa Subterrânea

As casas subterrâneas são encontradas principalmente no planalto sul-

brasileiro, com poucas presenças no litoral. Tratam-se de estruturas circulares de

antigas casas que tinham piso rebaixado. Podem chegar à 20m de diâmetro e 7m de

profundidade. Em seu interior são encontrados vestígios de fogueira, artefatos

cerâmicos e restos alimentares como o Pinhão. Algumas casas são interligadas por

túneis subterrâneos escavados pelos construtores das casas ou ainda oriundo de

antigos túneis de tatu gigante (megafauna). Uma das hipóteses é que sua construção

está diretamente relacionada ao frio do planalto sul-brasileiro no período de inverno,

servindo como um espaço de proteção por ser mais aquecido. Encontram-se entre ou

próximo de algumas casas, estruturas monticulares em formato circulares com um

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pequeno montículo ao centro, conhecidos como Danceiros. Estes espaços eram

utilizados para realização de cerimonias funerárias e demais atividades ritualísticas

(FARIAS; SCHMITZ, 2013, p.115; PROUS, 2006, p.51).

Figura 12: Casa Subterrânea

Fonte: http://hid0141.blogspot.com.br/2010/08/ memoria-indigena.html

Figura 13: Casa Subterrânea

Fonte: http://hid0141.blogspot.com.br/2010/08/ memoria-indigena.html

Cerrito

Os Cerritos foram construídos próximos as áreas alagadas, arroios e

lagoas, utilizando como material construtivo areia e restos de alimentação, servindo

para moradia e para a realização de rituais diversos, incluindo o funerário. Possuem

forma circular, oval ou elíptica, com até 100 metros de diâmetro e 7 metros de altura,

embora a maioria alcance altura entre 0,5m e 2m (PROUS, 2006). Os cerritos são

vistos de longe, no campo, durante as enchentes, são praticamente os únicos pontos

secos em imensas regiões alagadas.

Figura 14: Sítio Arqueológico Cerrito

Fonte: http://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2013/12/09/ lepaarq-ufpel-realiza-escavacoes-arqueologica s-pontal-barra/

Figura 15: Sítio Arqueológico Cerrito

Fonte: http://cerritodopororo.blogspot.com.br/

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Sítios de Terra Preta da Amazônia

Estes sítios de terra preta localizados na região amazônica se diferenciam

dos demais sítios que apresentam sedimentação preta, encontrados em outras partes

dos Brasil, devido à sua formação e estabilidade ao longo do tempo, sendo ainda hoje

um local de alta fertilidade para a agricultura. Acredita-se que estas terras tenham se

formado devido ao contínuo acúmulo de restos orgânicos tais como: ossos de peixes

e demais animais, restos de frutas, raízes, fezes, urina, carvão entre outros –

proveniente de aldeias indígenas sedentárias ocupantes do local durante anos ou até

mesmo décadas (NEVES, 2006, p.53).

Figura 16: Sítios de Terra Preta da Amazônia

Fonte: http://paraisoweb.com.br/whazzup/2013 /12/obras-do-pac-aquecem-area-da-arqueologi a-e-impulsionam-oferta-de-graduacao/

Figura 17: Sítios de Terra Preta da Amazônia

Fonte: http://paraisoweb.com.br/whazzup/2013 /12/obras-do-pac-aquecem-area-da-arqueologia -e-impulsionam-oferta-de-graduacao/

A diversidade de sítios que ocorrem no território brasileiro, indica o

potencial para o Turismo Arqueológico. No entanto, ressalta-se a importância de

planos de gestão e valorização do patrimônio, uma vez que esses bens não são

renováveis e o desenvolvimento do turismo, sem planejamento, pode colocar em risco

a base finita do patrimônio arqueológico.

2.2 TURISMO

É difícil definir o momento exato do surgimento da atividade turística, o

turismo atual é a soma de vários fatores que ocorreram e propiciaram um cenário

favorável para seu desenvolvimento. Podemos dizer que essa equação começou a

ser construída nos primórdios da humanidade, culminando no que hoje conhecemos

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como atividade turística. Percebe-se que, a atividade turística está intrinsecamente

ligada ao ato de viajar, a partir do momento que os deslocamentos são facilitados, há

um número maior de viajantes, com essa demanda surgem serviços, que passam a

ser ofertados.

A fim de compreender o surgimento do turismo a partir de uma perspectiva

histórica, são percebidos alguns acontecimentos que marcaram e contribuíram para o

florescimento da atividade turística. A seguir será apresentado algumas observações,

no intendo de formar uma retrospectiva da história do turismo. Em se tratando da

gênese da atividade, Acerenza (2000, p. 53) descreve os primeiros ensaios de turismo

como “antecedentes remotos”, Barreto (1999, p. 44) considera a “Proto-história do

turismo”.

Acerenza (2000, p. 53) se refere que o antecedente do turismo está na

antiga Babilônia. Os povos sumérios – babilônicos – perto de 4 mil a.C. criaram a

moeda e desenvolveram o comércio, que era realizado através de viagens

(BARBOSA, 2002, p. 14). Esses povos também foram responsáveis pela invenção da

escrita e do veículo com roda, facilitando a comunicação e o transporte por terra.

Barretto (1999, p. 44) reforça que, se fosse realizada uma pesquisa aprofundada em

períodos anteriores e em outras culturas, provavelmente seriam encontradas datas

mais antigas.

Essa reconstrução são recortes da história feitas pelos autores. Partindo

de uma perspectiva arqueológica, pode-se afirmar que o homem sempre se deslocou,

como na diáspora humana, que marca a saída do homem pré-histórico da África e

povoa outros continentes. Quando nômade viajava em busca de recurso para a

sobrevivência, mesmo após a sedentarização se deslocava, entre outros motivos, em

busca de novos assentamentos. Como afirma Barbosa (2002, p. 13), os povos

polinésios que se deslocavam em embarcações, percorrendo grandes distâncias,

chegando ao Taiti e Havaí, a mais de 2 mil quilômetros de distância.

Os povos fenícios eram exímios navegadores e comerciantes, mantinham

contatos comerciais com várias cidades do mediterrânicas. Além de possuírem portos

naturais, estavam localizados junto a rotas comerciais que vinha da Ásia para o Mar

Mediterrâneo. Barbosa afirma que esses povos precederam os gregos na descoberta

do Mediterrâneo, fundaram Cádiz na costa espanhola, chegaram as ilhas britânicas e

circunavegaram a África (2002, p. 16).

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No século VIII a.C., segundo De La Torre (1997, p. 10), motivados pela

religião e esporte, os gregos viajavam a cada quatro anos para Olímpia. Participavam

ou assistiam as competições, consideradas tão importantes, que havia um pacto de

trégua para as guerras, muito frequentes entre as cidades-estados. Este evento da

antiguidade deu origem à Olimpíada de nossa era, é um megaevento que atrai hoje

milhares de espectadores e competidores de todo o mundo, entretanto não possui

mais o sentido religioso que motivava a participação e promovia o armistício de guerra.

Acerenza (2000, p. 53) descreve que no apogeu do Império Romano muitas

pessoas viajavam para o campo e locais litorâneos no verão. Barretto (1999, p. 45)

enfatiza que os romanos poderiam ter sido os primeiros a viajar por prazer. Foram

encontradas evidências, como pinturas, que representam romanos em praias

(inclusive trajando roupa de banho) e em “spas”. Motivados pelo lazer, essas viagens

concebidas no Império Romano se aproximavam muito do conceito atual de turismo.

Barbosa (2002, p. 19) afirma serem os primeiros a desenvolver um turismo de massa,

ainda que o termo turismo não fosse conhecido. O Império Romano construiu muitas

estradas, possibilitando que seus cidadãos viajassem durante os Séculos II a.C. ao II

d.C., principalmente para o campo, praia, águas termais, templos e festivais. Em se

tratando de regiões litorâneos a Baía de Nápoles era um destino popular, em 200 a.C.

já havia casas de veraneio. Localizada a 200 quilômetros de Roma, a viagem na época

era realizada em 4 dias (BARBOSA, 2002, p. 19).

Durante o apogeu do Império Romano haviam estradas que interligavam

cidades na Europa, chegando a manter vias de comunicação com a Ásia. Essas

estradas permitiam os deslocamentos mais rápidos, facilitando comércio e transporte.

Eram mantidas pelo império, possuíam pontes, marco, mansões – estações de

serviços para viajantes autorizados e funcionários do governo – e informações de

itinerários. Como o caso da placas de argila encontradas no noroeste da Península

Ibérica, contendo informações do itinerário (FERNÁNDEZ et al., 2012).

No reinado de Alexandre Magno (336 a.C – 323 a.C), rei da Macedônia, na

Ásia, região de Éfeso (atual Turquia), havia eventos que atraíam espectadores vindos

de locais longínquos. Registros confirmam mais de 700 mil visitantes, atraídos por

apresentações mágicas, animais amestrados, acrobacias, entre outras atrações.

Também na Ásia, no ano de 138 a.C., na China Antiga, Chang Chien visitou a Pérsia

e a Síria (IGNARRA, 1999, p. 17).

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Posteriormente, com a cristianização de Roma, muitos peregrinos viajavam

entre o século II e III à Terra Santa, onde o imperador Constantino, construiu a igreja

do Santo Sepulcro, no ano 326 (BARRETTO, 1999, p. 45). Acerenza (2000, p. 54)

afirma que, neste momento já havia itinerários e guias com informações das rotas,

nomes dos caminhos, distâncias e tempo de viagem para diferentes pontos do

Império.

Peregrinações não era exclusividade de cristão, conformem regista

Barbosa (2002, p. 28), no século IV, Abu ‘Abdallah Idn Batuta considerado o maior

viajante árabe da Idade Média, sai do Marrocos para fazer seu hajj – nome dado a

peregrinação dos mulçumanos à cidade sagrada de Meca – percorrendo a distância

em um ano, além disso, viajou ao Iraque e a China.

Com o declínio do Império Romano e invasões barbaras, as estradas

construídas e mantidas pelos Império começam a deteriorar-se. As viagens a partir

desse período tornam-se muito perigosas, havia conflitos e risco eminente de

assaltos. Acerenza (2000, p. 54) alega que, na Idade Média as viagens passavam por

um momento de retração. Para garantir a segurança, as pessoas se deslocavam em

grupos. Outro traço marcante do período medieval foram as peregrinações para

Jerusalém, Roma e Santiago de Compostela, lugares considerados santos pelos

cristãos. Esses deslocamentos favoreceram a revitalização das rotas comerciais.

No final do século XIII, com o movimento expressivo de viajantes,

proprietários de pousadas em Florença se reuniam para organizar o serviço de

hospedagem pago, não mais de caridade. Com a rentabilidade do negócio, o novo

conceito de hospedagem estendeu-se para outras cidades (ACERENZA, 2000, p. 55).

Também foi nesse período, que de acordo com Barretto (1999, p. 46), iniciou o

intercâmbio de professores e alunos entre as universidades europeias. No princípio

da Idade Moderna, século XV, tem início as Grandes Navegações, protagonizadas

pelos espanhóis e portugueses, chegam a América um mundo até então

desconhecido.

No século XVI jovens da nobreza inglesa, com a finalidade de

complementar seus estudos, viajavam com seu professor particular, objetivando

novos conhecimentos, culturas, arte, arquitetura antiga e sítios arqueológico

(BARBOSA, 2002, p. 40). Nessa época essas viagens tornaram-se comuns na elite,

normalmente duravam em média 6 meses a um ano e meio, podendo ultrapassar esse

período e eram exclusivamente masculinas (BARBOSA, 2002, p. 33). Chegavam a

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Europa continental em navios, viajavam a pé ou montados em animais. Essas viagens

ficaram conhecidas como grand tour. Posteriormente, passaram a ser praticadas por

pessoas de outros países e pela burguesia (LA TORRE, DE, 1997; BARRETTO, 1999;

ACERENZA, 2000). Barrreto (2002, p. 47) afirma não haver “propriamente turismo,

mas sim tours, viagem de ida e volta”, de onde deriva o termo turismo. Para muitos

autores, nesse período se estabelece as bases para o turismo moderno.

Com o advento da Revolução Industrial no Século XVIII, o turismo começou

a tomar forma que conhecemos hoje. Conforme Barretto (1999, p. 51), “o turismo

sempre esteve ligado com o meio de produção e o desenvolvimento tecnológico. O

modo de produção determina quem viaja, e o desenvolvimento tecnológico, como

fazê-lo”. Surge, na segunda metade do século XVIII, o barco a vapor. As viagens

tornaram-se mais seguras, rápidas e com maior capacidade para carga e passageiros,

viabilizou comercialmente viagens intercontinentais, dando início a viagens turísticas,

principalmente da Europa para outros continentes (IGNARRA, 1999, p. 19).

Com o surgimento do trem e a expansão da malha ferroviária, os

deslocamentos tornam-se mais fáceis, permitindo transportar uma significativa

quantidade de passageiros, em um tempo mais reduzido. Na Inglaterra a ferrovia

Liverpool-Manchester, na primeira metade do século XIX, foi “a primeira a preocupar-

se com o passageiro”, ao invés da carga (BARRETTO, 1999, p. 51).

Em 1841, conforme Ignarra (1999, p. 18), Thomas Cook organizou uma

viagem de trem para um encontro contra o alcoolismo. Foram 570 passageiros, entre

as cidades inglesas de Leicester e Lougboroug. Segundo o autor, o sucesso da Cook

foi tamanho que passou a organizar viagens para a Europa continental e

posteriormente excursões para os Estados Unidos, criando, assim, a primeira agência

de viagens do mundo. Segundo Barretto (1999, p. 52), em 1865, Cook também fazia

reservas nos hotéis e editava um guia com conselho a excursionistas e turistas. De

acordo com a autora, em 1867 cria uma espécie voucher hoteleiro. Em 1869, leva um

grupo ao Egito e à Terra Santa. Em 1872, organizou uma volta ao mundo, que durou

222 dias.

Acerenza (2000, p. 62) destaca que a maior contribuição de Cook ao

turismo foi o início da atividade de excursão organizada, que hoje conhecemos com o

nome de pacote turístico. Foi o que permitiu que uma grande parte da população

viajasse de férias. A forma de padronizar e a produção em massa de viagens permitiu

o acesso ao turismo a pessoas da classe trabalhadora (BARBOSA, 2002, p. 52). O

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empreendedorismo de Cook facilitou o desenvolvimento de viagens, novas empresas

foram surgindo, oferecendo serviços semelhantes, aumentando a oferta.

O turismo no século XIX foi marcado pelo transporte ferroviário na esfera

nacional, e naval em nível internacional. As viagens transatlânticas tornam-se mais

frequentes, surgem uma série de empresas que disputam o mercado, oferecendo

viagens mais rápidas, melhoravam o conforto, com o tempo aumento na regularidade

das travessias (BARBOSA, 2002). Após a Primeira Guerra Mundial, o automóvel

começou a ser valorizado. Para Barretto (1999, p. 52), o desenvolvimento dos meios

de transportes, a vida urbana, o trabalho em fábricas – com a conquista de tempo

livre e férias remuneradas – transforma o turismo em um fenômeno mundial.

Acerenza (2000, p. 67) afirma que no início do século XIX, a América já

demonstrava um desenvolvimento significativo no turismo, principalmente nos

Estados Unidos, Argentina, Chile e Uruguai. O Brasil apresentava um

desenvolvimento modesto – sobretudo, depois da Primeira Guerra. O autor ressalta

que o período entreguerras, 1918 a 1939, promove um novo progresso do transporte

de passageiros.

Em 1922, com a comemoração do bicentenário de Independência do Brasil,

surgem os primeiros grandes hotéis na cidade do Rio de Janeiro (ACERENZA, 2000,

p. 69). No ano seguinte foi criada a Sociedade Brasileira de Turismo. A partir daí,

desenvolve-se no Estado de São Paulo o turismo de águas termais. Quase ao mesmo

tempo, incrementa-se o turismo no Estado do Rio Grande do Sul.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), a atividade turística

esteve praticamente parada (BARRETTO, 1999, p. 45). Após o ano de 1945, o

transporte aéreo demonstrou grande potencial. Para regulamentar o direito aéreo foi

criada a IATA (International Air of Transport Association). Com o crescimento da

aviação, houve um grande desenvolvimento do turismo. Ignarra (1999, p. 19) afirma

que “a aviação em menos de um século evoluiu rapidamente, tornando as viagens

cada vez mais rápidas e baratas, possibilitando, assim, um grande intercâmbio

turístico”. Houve um surgimento expressivo de empresas de transporte aéreo. De

acordo com Acerenza (2000, p. 74), em 1971 havia na Europa 57 empresas de

transporte aéreo regular. O turismo torna-se um fenômeno de massa e começa a

ganhar visibilidade, despertando o interesse de grande parte dos países do mundo.

Barretto (1999, p. 55) assegura que na segunda metade do Século XX o

turismo expandiu-se para todas as partes do planeta. O número de agências de

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viagens aumentou, devido ao crescimento das companhias aéreas. O ambiente

familiar dos antigos meios de hospedagem deixou de ser o anseio do turista. Surgem

as grandes cadeias de hotéis, padronizadas e impessoais. Na Suíça, nascem as

primeiras escolas profissionais de hotelaria.

Entre as décadas de 1970 e 1990, segundo Acerenza (2000, p. 80–81), no

Brasil surgem algumas regiões que apresentavam considerável inserção do turismo

receptivo, essencialmente na costa nordestina, litoral do Rio de Janeiro e São Paulo.

Destaca o crescimento considerável de Balneário Camboriú, localizado no litoral norte

de Santa Catarina, procurado principalmente pelas suas praias. Foz do Iguaçu, no

Paraná, se estabeleceu como destino internacional por conta das suas cataratas,

localizadas na tríplice fronteira do Brasil, Paraguai e Argentina. Acerenza (2000, p. 81)

afirma que entre as décadas de 1970 e 1990 o turismo se consolida como um direito

adquirido pela sociedade. Considerando como uma das principais atividades

econômica da atividade internacional e ao que tudo indica continuará sendo.

Foram muitas as transformações que impulsionaram o desenvolvimento

turístico: abertura de estradas romanas; surgimento das rotas comerciais;

aparecimento das estalagens de caridade; as Grandes Navegações; a invenção do

trem, do carro, do avião, entre outros. Esses fatores, aliados às conquistas

trabalhistas, que proporcionaram tempo livre e férias remuneradas, contribuíram para

que o turismo chegasse ao estágio atual.

2.2.1 Região turística

Para ampliar a discussão do conceito “região”, buscou-se aporte em Santos

(1985). Ele argumentava que esse conceito muda com o passar dos tempos, e a

noção de região, antes ligada à ideia de autonomia, não resiste com a atual

configuração econômica. Nos países desenvolvidos, as regiões geográficas eram na

verdade regiões históricas, formadas antes da revolução dos transportes. Todo este

histórico influenciou “tanto na configuração do espaço, quanto na vida econômica e

cultural”. Este fato contribuiu para assegurar a manutenção de um grande número de

relações “internas” (SANTOS, 1985, p. 65).

A cada momento histórico, pois, o que se convencionou chamar de região, isto é, um subespaço do espaço nacional total, aparece como o melhor lugar

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para a realização de um certo número de atividade. Tais fatores locacionais, repetimos, são apenas parcialmente regionais ou locais. […]. Sua “velhice”, em relação a novas formas técnicas, não é, obrigatoriamente, um fator de perda relativa de seu valor produtivo ou de sua capacidade de participar no processo de acumulação geral e dentro do ramo respectivo. É a incidência, sobre essas formas envelhecidas, das relações sociais, que lhes assegura um lugar na hierarquia dos papéis. Este dado, fundamental para qualquer análise da questão, e de natureza geral, pertence à lógica de funcionamento da formação social nacional com um todo (SANTOS, 1985, p. 67).

Segundo Santos (1985), apesar das configurações espaciais particulares,

dotadas de uma autonomia de existência, não os investe de uma autonomia de

funcionamento. “Por isso, a região e o lugar são lugares funcionais do todo” (SANTOS,

1985, p. 68). O pesquisador afirma que “uma região é, na verdade, o locus de

determinadas funções da sociedade total em um momento dado” (1985, p. 66).

Santos (1985, p. 66) menciona que, dentro das discussões da geografia

com um mundo globalizado as regiões deixam de existir. Mas Carvalho (2002, p. 13),

frente a essas discussões assegura: “mesmo que se afirmem que a região não mais

exista, continuaremos a vivê-la ou assisti-la nas diversas expressões materializadas

na sociedade e utilizada como mecanismos de ações políticas de planejamento”.

A divisão regional descrita pelos autores supracitados dá-se principalmente

pelo sistema produtivo, contextualizado no discurso de um mundo globalizado, exceto

ao que afirma Santos (1985) serem regiões historicamente consolidadas.

Sobre as discussões de regionalização do turismo, Boullón (2006) sugere,

em um sistema de planificação nacional, primeiro deve-se definir a sua área de

atuação, e principalmente regionalizar o país, dividindo o território em partes,

utilizando-se de uma série de critérios técnicos. O autor afirma que cada região deverá

ser criada evolvendo área com características similares, embora reconheça que, em

um país seria praticamente impossível encontrar áreas idênticas, é comum utilizar a

ideia de região dos economistas. Estes utilizam-se dos seguintes critérios para

regionalizar um território, buscam similaridades nos indicadores econômicos

(produção, transporte, comércio, entre outros) e de desenvolvimento social (nível de

alfabetização, saúde, salário, entre outros). “Al ser similares los indicadores, las

regiones adquieren una determinada identidad que conduce a calificar su espacio

como homogéneo y continuo” (BOULLÓN, 2006, p. 57).

Vera et al. (1997, p.59) relata, “mención particular merece el concepto de

región turística en el contexto de la identificación y caracterización de espacios

turísticos”. Descreve que a complexidade do fenômeno turístico, e particularmente sua

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vinculação com o meio geográfico surgem uma grande diversidade de “regiões” ou

“espaços” turísticos, sendo classificados por critérios como: funcionalidade, recursos,

entre outros. Vera et al. (1997, p.60) observa que, “también es frecuente,

especialmente en determinados contextos, el uso de unidades político-administrativas

como regiones turísticas”. Ressalta ainda a importância da administração turística

estar inserida no âmbito político administrativo regional, a qual gerará em determinado

contexto uma identidade, a inserção de uma região turística em uma região político-

administrativa deverá otimizar seus resultados.

A utilização do termo “região”, não se dá no sentido de classificação do

território turístico, a região turística que referimos é uma compartimentação de uma

área.

Cruz (2003, p. 21)descreve que, “o espaço geográfico é o principal objeto

de consumo do turismo e disso decorre uma das mais importantes especificidades da

prática social do turismo: o consumidor-turista tem de se deslocar até o produto a ser

consumido, o lugar turístico”. Boullón (2006, p. 56) ao observar como se configura

fisicamente outros setores concluiu que, em nenhum caso a ocupação do território é

integral como na atividade turística.

Boullón (2006, p. 65) alega que o espaço turístico é o resultado da presença

e distribuição territorial dos atrativos turísticos, destaca que, “no debemos olvidar, son

la materia prima del turismo”. O autor faz algumas distinções de espaços,

apresentando algumas tipologias.

Quadro 3: Tipologias do espaço

Espaço real: Se refere a toda superfície de nosso planeta e a capa da biosfera.

Espaço potencial: O espaço potencial não existe no presente, na realidade pertence ao imaginário dos planejadores.

Espaço Cultural: É a parte da superfície terrestre que devido à ação do homem mudou sua fisionomia original.

Espaço Natural adaptado: São as partes da superfície terrestre onde predominam as espécies do reino vegetal, animal e mineral.

Espaço artificial: Inclui aquelas partes da superfície terrestre onde predomina todo tipo de artefato construído pelo homem. Sua máxima expressão é a cidade, por isso, também é chamando de espaço urbano.

Espaço natural virgem: São aquelas áreas, cada vez mais escassas de espaço natural sem vestígio da ação do homem.

Espaço vital: esta tipologia se refere não a terra, mas, ao homem e qualquer espécie do reino monera, protista, vegetal e animal.

Fonte: adaptado de Boullón (2006, p. 64).

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Figura 18: Tipologias do espaço físico.

Fonte: Boullón (2006, p. 65).

Cooper et al. (2008, p.136) diz que “a destinação une todos os aspectos do

turismo – demanda, transporte, oferta e marketing – em uma estrutura conveniente”,

é na destinação que acontece os elementos mais importantes do sistema turístico. É

o local “onde a indústria que lida com o afluxo de turismo está localizada: ou seja,

onde se encontram as atrações e todas as outras instalações de apoio de que o

visitante necessita” (COOPER et al., 2008, p.136)

Quadro 4: Características comuns das destinações turísticas.

As destinações são amálgamas (atrações, serviços, acessos, entre outras).

As destinações são experiências culturais.

As destinações são inseparáveis, ou seja, o turismo é consumido onde é produzido.

As destinações são utilizadas não apenas pelos turistas, mas também por outros.

Fonte: Adaptado de Cooper et al., 2008, p.136.

Para Cooper et al. (2008, p.136) “a oferta do turismo apresenta um padrão

complexo no mundo, porque se localiza em ambientes diversos e em contextos

econômicos e sociais diferentes”. “Os componentes da destinação turística só podem

ser eficazes se um planejamento e gerenciamento cuidadoso oferecerem um produto

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turístico sustentável e, desta forma, garantirem que um ou mais dos componentes não

avance à frente dos outros” (COOPER et al., 2008, p.142).

Vera et al., (1997) define o turismo como a prática social coletiva que

agrega mecanismos particulares da relação que afetam a identidade e o espaço.

Afirma que todo destino turístico possui sua singularidade enquanto a finalidade

social, e alcança sua particularidade material através de seus elementos primários

que compõem sua atratividade – os recursos e os atrativos, e seus elementos

secundário que facilitam seu consumo – todos os equipamentos turísticos existentes

(VERA et al., 1997, p.200).

Segundo Cruz (2001, p. 22) “a transformação do espaço em produto

turístico requer uma crescente racionalidade devido à competitividade entre produtos

turísticos, que se dá, hoje, em escala global”. A racionalidade e competitividade

influenciam na organização dos setores produtivos, ajustando-os a um mercado

globalizado, por isso, o planejamento territorial é uma condição para que os planos e

políticas regionais sejam bem-sucedidos (CRUZ, 2001, p. 22).

Figura 19: Singularidade do espaço do destino turístico.

Fonte: Vera et al., 1997, p. 200.

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2.2.2 Gestão do patrimônio arqueológico

Para a utilização do patrimônio arqueológico como atrativo turístico é de

fundamental importância o planejamento e a gestão da atividade, pois é um ambiente

frágil. Os impactos ao meio deverão ser minimizados para não colocarmos em risco

um patrimônio.

Em se tratando da gestão do patrimônio arqueológico apresentaremos uma

série de cartas, declarações, normas entre outras recomendações, produzidas a partir

de discussões geradas em encontros realizados em várias partes do mundo,

promovidas por entidades como a União das Nações Unidas pela Educação e Cultura

- UNESCO, Organização dos Estados Americanos - OEA, Conselho Internacional dos

Monumentos e Sítios - ICOMOS.

Como já referenciamos anteriormente a conferência geral da UNESCO

(1956) em Nova Déli, elaborou as recomendações para as pesquisas arqueológica,

para mais eficácia sugeriu que os Estados-membros aplicassem o proposto no

documento através de legislação nacionais. Além de ações impositivas destaca a

importância de desenvolver ações educativas, com objetivo de instigar o respeito e a

estima ao passado, bem como divulgação das pesquisas, criação de circuitos

turísticos, exposições e conferências. Utilizando fontes bibliográficas com resultados

obtidos em investigações científicas, além de desenvolver bibliografia de fácil leitura.

Afirma que, “os Estados-membros deveriam adotar todas as medidas necessárias

para facilitar o acesso do público a esses sítios” (UNESCO, 1956). Sugere, “deveria

ser criado junto aos sítios arqueológicos importantes, um pequeno estabelecimento

de caráter educativo - eventualmente um museu – que permita aos visitantes

compreender melhor o interesse dos vestígios que lhes são mostrados” (UNESCO,

1956).

Pensando os sítios arqueológicos isoladamente, essa recomendação seria

inviável, pois são inúmeros os sítios arqueológicos existentes no Brasil. Mas,

pensando em regionalização e integração, poderia ser sim, um objetivo tangível. Por

exemplo, a região turística Encantos do Sul, localizada ao sul do Estado de Santa

Catarina abriga um valioso patrimônio arqueológico pré-histórico, mas ainda carece

de um espaço museológico, que evidencie a importância deste patrimônio regional.

Nesta região encontramos em algumas cidades com pequenos museus, com acervos

pré-históricos e históricos, coletado assistematicamente ou doado por alguns

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colecionadores, sem muitas informações. Iniciativas como forma de valorizar e

sensibilizar a população para a preservação do patrimônio arqueológico vem sendo

desenvolvidas, principalmente através de atividades educativas fomentada por

escolas, universidades e grupos de pesquisa da região7.

No ano de 1962, em Paris, na conferência geral da UNESCO, elaborou-se

as recomendações para a salvaguarda da beleza e do caráter das paisagens e sítios.

Relativo às medidas de salvaguarda afirma que esta deverá ser assegurada com o

auxílio dos seguintes métodos:

a) controle geral por parte das autoridades competentes; b) inserção de restrições nos planos de urbanização e no planejamento em

todos os níveis: regional, rural ou urbano; c) proteção legal, “por zonas”, das paisagens extensão; d) proteção legal dos sítios isolados; e) criação e manutenção de reservas naturais e parques nacionais; f) aquisição de sítios pelas coletividades públicas” (UNESCO, 1962).

Enfatiza a importância da educação patrimonial, com ação educativa

desenvolvida, “dentro e fora das escolas, para despertar e desenvolver o respeito do

público pelas paisagens e sítios e para tornar mais conhecidas as normas editadas

para garantir sua salvaguarda” (UNESCO, 1962). Fala da importância da preparação

do educador, que deverá ser específica, focada na temática, igualmente enfatizam

educação do público fora da escola. No documento afirmam que a trabalho de

sensibilização do público em geral “deveria ser tarefa da imprensa, das associações

privadas de proteção das paisagens e dos sítios ou de proteção da natureza, dos

órgãos encarregados do turismo e das organizações de juventude e educação

popular” (UNESCO, 1962).

Em maio de 1964, no encontro do ICOMOS, formulou-se o documento

chamado Carta de Veneza (local onde se realizou o encontro), que define

monumentos como:

Portadores de mensagem espiritual do passado, as obras monumentais de cada povo perduram no presente como o testemunho vivo das suas tradições seculares. A humanidade, cada vez mais consciente da unidade dos valores

7 Destacamos o Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia - GRUPEP – Arqueologia / UNISUL, que atua desde o ano 2000 na região. Suas atividades visam a sensibilização da população para preservação do patrimônio arqueológico. Recebe visitante (público em geral) e principalmente estudantes, que recebem informações referentes aos grupos pré-históricos que ocuparam a região e as pesquisas desenvolvidas pelo grupo. Participam de visitas monitoraras ao laboratório de arqueologia e sítios arqueológicos, oficinas, palestras, entre outros eventos. O grupo desenvolve pesquisa relacionada à arqueologia terrestre e subaquática.

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humanos, as considera um patrimônio comum e, perante as gerações futuras, se reconhece solidariamente responsável por preservá-las, impondo a si mesma o dever de transmiti-las na plenitude de sua autenticidade (ICOMOS, 1964).

Em seu Art. 14 versa sobre a preservação dos sítios monumentais e afirma

que “devem ser objeto de cuidados especiais que visem a salvaguardar sua

integridade e assegurar seu saneamento, sua manutenção e valorização” (ICOMOS,

1964).

A OEA, em seu encontro no ano de 1967, apresenta as Normas de Quito,

uma reunião sobre conservação e utilização de monumentos e sítios de interesse

histórico e artístico. O documento destaca a importância da preservação do patrimônio

e sua valorização econômica.

A Europa deve ao turismo, direta e indiretamente, a salvaguarda de uma grande parte de seu patrimônio cultural, condenado à completa e irremediável destruição, e a sensibilização contemporânea, mais visual que literária, tem oportunidade de se enriquecer com a contemplação de novos exemplos da civilização ocidental, resgatados tecnicamente graças ao poderoso estímulo turístico (OEA, 1967).

No que tange à valorização econômica dos monumentos de interesse

arqueológico, histórico e artístico consideram estes importantes recursos, tanto

quanto os patrimônios naturais. Enfatizam: “conseqüentemente, as medidas que

levam a sua preservação e adequada utilização não só guardam relações com os

planos de desenvolvimento, mas fazem ou devem fazer parte deles” (OEA, 1967).

Recomenda “… mobilizar esforços nacionais no sentido de procurar o

melhor aproveitamento dos recursos monumentais de que se disponha, como meio

indireto de favorecer o desenvolvimento econômico do país” (OEA, 1967). Incentiva a

utilização do patrimônio para fins econômico, mas, enfatizam a importância de que,

só deverá acontecer posteriormente a uma atividade “prévia de planejamento em nível

nacional, ou seja, a avaliação dos recursos disponíveis e a formulação de projetos

específicos dentro de um plano de ordenação geral” (OEA, 1967).

Afirma que a importância de um patrimônio cultural não se perde, nem se

compromete ao atrelar-se ao turismo. Pelo contrário, se a utilização for planejada de

maneira sustentável, “a maior atração exercida pelos monumentos e a influência

crescente de visitantes contribuem para afirmar a consciência de sua importância e

significação nacionais” (OEA, 1967). A utilização com fins econômicos de um

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monumento ou conjunto urbano, desde que, desenvolvido com medidas que primam

por sua integridade, “constituem não só uma lição viva de história como uma legítima

razão de dignidade nacional” (OEA, 1967).

Os patrimônios culturais que fazem ou farão parte da atratividade turística

deverão receber recursos financeiros suficientes para sua adequação – considerando

que a atividade já tenha elaborado um planejamento prévio do desenvolvimento

sustentável - e monitoramento. Deverá ser esta a contrapartida pela utilização do

patrimônio para fins turísticos, atendendo a todas as exigências legais, entre outras,

que venha garantir a salvaguarda do monumento. Muitas organizações vislumbram

no turismo uma forma de valorizar o patrimônio, buscando sensibilizar a população

para a preservação do patrimônio.

A Conferência das Nações Unidas sobre Viagens Internacionais e Turismo (Roma, 1963) não somente recomendou que se desse alta prioridade aos investimentos em turismo dentro dos planos nacionais, como fez ressaltar que, “do ponto de vista turístico, o patrimônio cultural, histórico e natural das nações, constitui um valor substancialmente importante”; e que, em conseqüência, seria urgente “a adoção de medidas adequadas dirigidas a assegurar a conservação e proteção desse patrimônio” (OEA, 1967).

Um estudo desenvolvido conjuntamente entre a UNESCO e a União

Internacional de Organizações Oficiais de Turismo, destaca dois pontos importantes:

“a) a afluência turística determinada pela revalorização adequada de um monumento

assegura a rápida recuperação do capital investido nesse fim”, lembramos que a

atividade salvaguardar o patrimônio, pautada em um planejamento para o

desenvolvimento da atividade; “b) a atividade turística que se origina da adequada

apresentação de um monumento e que, abandonada, determinaria a sua extinção,

traz consigo uma profunda transformação econômica da região em que esse

monumento se acha inserido” (OEA, 1967).

O estudo da UNESCO também definiu que a utilização dos monumentos

artísticos e históricos de maneira adequada, necessita primeiramente o

desenvolvimento de iniciativas e esforços de caráter cultural e econômico-turístico.

“Na medida em que esses interesses coincidentes se unam e se identifiquem, os

resultados perseguidos serão mais satisfatórios” (OEA, 1967).

Afirma que “a valorização da riqueza monumental só poderá ser levada a

efeito dentro de um quadro de ação planificada, quer dizer, na conformidade com um

plano diretor de alcance nacional ou regional”. Portanto, é indispensável a integração

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dos projetos com planos diretores existentes na cidade ou na região a qual esteja

inserido. Quando não houver um plano, será necessário elaborá-lo, objetivando

estabelecer a atividade de forma adequada (OEA, 1967). Será importante a

cooperação dos interesses privados (principalmente das comunidades circunvizinhas)

e o respaldo da opinião pública - são indispensáveis para a realização de qualquer

projeto de valorização do patrimônio. “Nesse sentido, deve-se ter presente, durante a

sua formulação, o desenvolvimento de uma campanha cívica que possibilite a

formação de uma consciência pública favorável” (OEA, 1967).

A pesquisa que salienta que “a valorização de um monumento ou conjunto

urbano de interesse ambiental é o resultado de um processo eminentemente técnico

[…]”, em consequência disso deverá ser executado por um órgão de caráter

especializado, que centralize todas as atividades, primando pela integridade do

patrimônio (OEA, 1967).

Em geral, todo projeto de valorização envolve problemas de caráter econômico, histórico, técnico e administrativo. Os problemas técnicos de conservação, restauração, reconstrução viriam segundo a natureza do bem cultural. Os monumentos arqueológicos, por exemplo, exigem a colaboração de especialista na matéria (OEA, 1967).

A Carta de Lausanne, que tinha como foco a proteção e a gestão do

patrimônio arqueológico, enfatiza que esse monumento é um recurso frágil e

sobretudo não renovável. “Os planos de ocupação do solo decorrentes de projetos

desenvolvimentistas devem, em consequência, ser regulamentados, a fim de

minimizar, o mais possível, a destruição desse patrimônio” (ICOMOS/ICAHM, 1990).

Segundo a carta, o monumento arqueológico é um bem de todos e é

obrigação moral de todo ser humano protegê-lo. Aos países cabe assegurar e

disponibilizar recursos financeiros suficientes para a sua proteção (ICOMOS/ICAHM,

1990). O desenvolvimento desordenado ainda configura grande ameaça a

preservação do patrimônio arqueológico, cabe ao poder público coibir e estimular o

desenvolvimento de maneira planejada, para não comprometer o patrimônio cultural

e natural. “A proteção do patrimônio arqueológico constitui processo dinâmico

permanente. Por conseguinte, todas as facilidades devem ser concedidas aos

profissionais trabalhando nessa área, a fim de permitir sua permanente reciclagem”

(ICOMOS/ICAHM, 1990).

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Em sua IX Assembleia Geral do ICOMOS, em 9 de outubro de 1996, é

redigida a Declaração de Sofia.

As atividades turísticas, por outro lado, não podem pretender utilizar o patrimônio assegurando apenas o respeito ao significado e à sua mensagem. Para que esta fruição seja viável e válida, serão necessários sempre estudos analíticos e inventários completos, com o objetivo de explicar os diversos significados do patrimônio no mundo contemporâneo e justificar as novas modalidades de uso a que se propõem (...) E, sem dúvida, antes de as atividades turísticas serem supervalorizadas, arriscando-se a transformá-la em ameaça à integridade das substâncias do patrimônio cultural, levar-se-á em conta, e cada vez mais, a relação e a comunidade que o herdou. Convém acrescer que esta relação integra o conjunto dos elementos históricos, espirituais e afetivos existentes na raiz das transformações sociais (ICOMOS, 1996).

Para a declaração o processo de desenvolvimento do turismo cultural

deverá garantir a participação da sociedade civil, juntamente com ações das

autoridades políticas e administrativas, primando pela preservação e desenvolvimento

sustentável dos recursos culturais e naturais (ICOMOS, 1996).

2.2.3 Turismo arqueológico

O Turismo Arqueológico é uma vertente do turismo cultural, utiliza como

atrativo turístico sítios arqueológicos (GUIMARÃES; ANJOS, 2015; GUIMARÃES et

al., 2016). “El interés que la comunidad mantenga en la protección de sus recursos

estará directamente relacionado con la existencia de dichos recursos, y por lo tanto

del desarrollo turístico, en tiempos futuros” (MONTERRUBIO, 2009, p. 107).

Manzato (2005 apud MANZATO, 2007, p. 4) descreve que:

Turismo Arqueológico ou Arqueoturismo consiste no deslocamento de visitantes a locais denominados sítios arqueológicos, onde são encontrados os vestígios remanescentes de antigas sociedades, sejam elas pré-históricas ou históricas, passíveis de visitação terrestre e/ou aquática.

As viagens motivadas pela busca de um crescimento do conhecimento

cultural já ocorrem deste o século XVII. Rodrigues (2005, p. 15) afirma que:

[...] as boas famílias mandavam seus filhos completarem a educação com viagens nas quais aprendiam línguas e costumes de outros povos, compravam obras de arte e visitavam os monumentos da Antigüidade, como o fórum, em Roma.

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A cultura já era um agente impulsionador das viagens desde muito antes

do desenvolvimento organizado do turismo. Este segmento turístico utiliza como

atrativo sítios arqueológicos e deverá alcançar alguns aspectos como: a proteção dos

recursos; a valorização econômica; a participação da população local; o turismo como

ferramenta de conservação e preservação. Diferentemente do comum observado no

país, com a maioria dos produtos turísticos, este segmento não pode carecer de

qualificação, para um correto desenvolvimento, deverá ser monitorado, norteado por

um planejamento e que vise desenvolvimento de estratégias para o fortalecimento

deste segmento, esta atividade será um meio de promoção e preservação, de todo

esta cultura evidenciada.

Uma das ações que deverá ser implementada é a Educação Patrimonial,

voltada para a população e visitantes, visando sensibilizá-los para a preservação do

patrimônio arqueológico. O Projeto Arqueológico Camacho, a partir do ano de 1999,

desenvolveu uma série de atividades de Educação Patrimonial, em escolas dos

municípios de Laguna, Jaguaruna e Tubarão, além da população em geral e

professores. Durantes as atividades de campo, foram promovidas atividades de

monitoramento no local da pesquisa, os visitantes tinham a oportunidade de conhecer

de perto a pesquisa arqueológica. Também foram desenvolvidas atividades como,

oficinas e a exposição itinerante intitulada “Educação Patrimonial, Arqueologia e

Preservação dos Sambaquis no Sul de Santa Catarina – Brasil” (FARIAS et al., 2005,

p. 55). Um fato importante, pois nem sempre há uma interação entre a população e

pesquisadores. Farias, Gaspar e DeBlasis (2005, p. 55) afirmam que “a partir daí,

tentamos transmitir informações sobre arqueologia para o público leigo através da

metodologia da Educação Patrimonial”.

As palestras realizadas concentraram-se na discussão sobre o sambaqui,

“quem vivia nele, como viviam, que tipo de tecnologia desenvolviam como foi

construído”. Instigavam os participantes a refletir sobre a vida dos sambaquieiros,

posteriormente realizavam visitas a escavação (FARIAS et al., 2005, p. 56).

A Educação Patrimonial só terá êxito se houver aproximação e identificação do objeto (patrimônio) e sujeito, propiciada através de um trabalho de valorização dessas culturas. Foi esse o objetivo da exposição itinerante “Educação Patrimonial, Arqueologia e Preservação dos Sambaquis no Sul de Santa Catarina – Brasil”, cujo espaço interativo levou a comunidade escolar a conhecer a trajetória dos povos sambaquieiros (FARIAS et al., 2005, p. 59).

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Quanto ao manejo de um sítio arqueológico aberto ao público, Yázigi (2009,

p. 336) afirma:

[...] implica em grande responsabilidade por parte de instâncias governamentais, institucionais, profissionais e sociais. Entre outras diligências, é preciso contar com monitoria gabaritada, capaz de proporcionar processos educativos de alta qualidade, pois, ao contrário de outros lugares turísticos, essa prática é própria de segmentos mais cultos ou em processo educacional escolar.

Gomes (2002, p. 28) cita o México como um exemplo do desenvolvimento

da relação entre turismo e museus:

Os sítios arqueológicos monumentais, verdadeiros museus a céu aberto, são, de longe, o principal atrativo de uma indústria turística geradora de milhões de dólares. Qualquer roteiro que passe pela Cidade do México inclui uma visita obrigatória ao Museu Nacional de Antropologia, ao Museu do Templo Maior, às ruínas de Teotihuacán, bem como ao museu que exibe os achados das escavações realizadas neste sítio.

Para Yázigi (2009, p. 346), “a bibliografia brasileira relativa à correlação

entre turismo e arqueologia é ainda muito limitada, apesar de sítios arqueológicos

acenarem com grandes possibilidades de diversificação da oferta cultural”.

Se, por um lado, arqueólogos se empenham na construção de um conhecimento complementar das civilizações, por outro, cabe aos turismólogos ter a sensibilidade de assimilar esse conhecimento e incluí-lo como um dos fundamentos do turismo cultural que se processa em sítios arqueológicos, museus e exposições (YÁZIGI, 2009, p. 345).

A grande ideia desta vertente do turismo cultural é contar com o

desenvolvimento da atividade turística com agente que promova e preserve os sítios

arqueológicos que existem ainda hoje no município, divulgando toda essa cultura que

foi produzida e que está sendo desvendada através dos achados deixados por essa

civilização. Esse segmento se realiza quando o turista é motivado a se deslocar com

o objetivo de estar visualizando, os vestígios que podem ser considerados

particularidades da cultura em questão.

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3. AS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS EM SANTA CATARINA

A região sul do Brasil possui vários sítios arqueológicos catalogados e

sistematicamente estudados. Os trabalhos realizados em Santa Catarina ficaram

centrados, quase que exclusivamente, no litoral, onde encontramos dezenas de

sambaquis, no entanto, outros tipos de sítios foram catalogados e estudados nas mais

diversas áreas do Estado. Essas pesquisas demonstram que a região Sul do Brasil foi

sistematicamente ocupada em toda sua diversidade de clima, relevo e geomorfologia,

revelando assim uma variedade de perfis de adaptação ambiental. Não existe, por

conseguinte, qualquer nicho ecológico no Sul que não tenha sido ocupado sistemática

ou esporadicamente no período pré-colonial pelos grupos humanos (FARIAS, 2005).

A seguir apresentaremos um panorama da ocupação pré-colonial, os

resultados que serão apresentados foram obtidos através das pesquisas sobre essas

culturas em todo o sul do Brasil. Esses povos deixaram evidências do território do

município de Laguna.

3.1 OS POVOS PRÉ-CERÂMICOS

Tendo em vista a cronologia disponível, pode-se dizer que a ocupação

do Estado iniciou pelos campos de altitude com a Tradição Umbu, depois seguiu para

as florestas e planaltos ocidentais com a Tradição Humaitá e, por último o litoral com

os sambaquieiros. Evidentemente, o quadro cronológico disponível é ainda bastante

incipiente, e modelos alternativos podem ser propostos como, por exemplo, a grande

antiguidade da ocupação sambaquieira no litoral, mascarada pela flutuação do nível

do mar durante o Holoceno e a remodelagem dos ambientes costeiros (DEBLASIS et

al., 2007).

3.1.1 A Tradição Umbu

A Tradição Umbu foi definida por Ribeiro e Vanz (2001) como “uma tradição

cultural pré-cerâmica cujas características principais são os implementos líticos

confeccionados sobre lascas e lâminas preparadas (pontas-de-projétil, furadores,

raspadores pedunculares, pré-formas bifaciais) utilizando a técnica da percussão e

pressão e também o polimento (bolas de boleadeira), ocupando locais cobertos e de

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campo aberto em todos os tipos de paisagem, inclusive as áreas alagadiças”

(RIBEIRO, 1991 apud RIBEIRO; VANZ, 2001). De um modo geral, (PROUS, 1992, p.

1992) caracteriza a Tradição Umbu pela presença de pontas de projétil e de uma

indústria lítica com lascas retocadas. Teriam ocupado regiões de campos,

esporadicamente explorando as áreas de encostas planálticas e o litoral. Essas duas

definições caracterizam genericamente a Tradição Umbu e apontam para o padrão de

assentamento do grupo, as possíveis relações de contato com outros grupos e a

mobilidade subjacente (FARIAS, 2005).

As pesquisas disponíveis demonstram que os caçadores-coletores

portadores dessa tradição arqueológica assentam-se em locais com bom potencial

extrativo, de onde retiram o alimento para a subsistência e a matéria-prima para a

produção de artefatos. Encontram-se assentamentos junto a pequenas calhas fluviais,

sobre colinas, colos e platôs mais interiorizados. Esses locais apresentavam

condições ambientais favoráveis à sobrevivência, com áreas de florestas propícias

para coleta e caça, rios que além de peixes e moluscos, ofereciam seixos

aproveitáveis para o lascamento e, em alguns casos, afloramentos rochosos propícios

à produção de artefatos líticos. Em relação à área de assentamento, verificou-se que

os sítios estavam na borda do planalto meridional dos três estados do sul do Brasil,

apresentando áreas de dispersão desde o norte até o nordeste do Paraná e o sul do

Paraguai e chegando ao nordeste da Argentina (FARIAS, 2005). Os resultados das

pesquisas arqueológicas realizadas pelo PRONAPA evidenciaram a ocupação da

região centro-oeste do Rio Grande do Sul e os planaltos catarinense e paranaense,

região constituída por extensos cursos d’água, entremeados por matas de galeria e

vastas planícies levemente onduladas, que apresentou vestígios de grupos pré-

ceramistas interpretados como da Tradição Umbu (FARIAS, 2005).

Fazendo uma das primeiras sínteses sobre o tema, Schmitz (1984)

destaca a área de localização, na borda meridional do planalto, nos três estados do

Sul, com uma antiguidade inicial correspondente ao 7o milênio. Na borda do Planalto

do Rio Grande do Sul os sítios são numerosos e estão próximos aos rios dos Sinos,

Caí, Taquari, Pardo e Jacuí; em menor número, aparecem nas áreas de campos altos

dos três estados do Sul. Vestígios dessa tradição arqueológica encontram-se ao norte

do Paranapanema no Estado de São Paulo. Tipos semelhantes são também

verificados no Uruguai e na província de Misiones, nordeste da Argentina. Os grupos

ocupavam tanto abrigos quanto áreas abertas, que podem se apresentar como

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pequenos aterros8. Os sítios estão localizados próximos a arroios, rios, banhados e

lagoas, e são quase inexistentes no litoral9. Habitavam uma paisagem intermediária

“ entre os campos, a floresta subtropical subcaducifólia na borda meridional do

planalto ou então capões e floresta-galeria nas paisagens mais meridionais”

(SCHMITZ, 1984, p. 15). Os sítios são, ao mesmo tempo, acampamento e oficina para

a produção de artefatos.

Ribeiro et al (1986), ao pesquisarem o alto vale dos rios Camaquã e

Irapuã, no Rio Grande do Sul, reconhecem a ocupação deste local por grupos da

Tradição Umbu e por grupos ceramistas da Tradição Tupiguarani. Para a Tradição

Umbu, os autores indicam a ocupação de um espaço plano, baixo e próximo a cursos

d’água, numa altitude variável entre 60 e 300 metros, com pradarias e matagais dos

pampas ondulados, com média de temperatura anual de 18oC. Ribeiro et al (1989), ao

escavarem entre os vales dos rios Taquari e Caí na encosta do planalto riograndense,

encontraram vestígios da ocupação Umbu, entre eles três sítios de campo aberto, três

somente com arte rupestre e oito abrigos sob rocha (um deles com arte rupestre).

Concluem que os abrigos sob rocha, à exceção de um, foram ocupados pelos grupos

da Tradição Umbu, com datação de 8.000 A.P.10 no abrigo RS-TQ-58, que apresenta

vestígios de três fases distintas: Batinga, Umbu e Itapuí, todas da Tradição Umbu.

Ribeiro também detecta, nessa mesma área, a presença de outros grupos portadores

das tradições Tupiguarani e Taquara - o que poderia levar a um contato entre grupos,

ou ainda a transformação da cultura de um deles.

Ribeiro (1990) reflete sobre o espaço de ocupação do caçador-coletor

vinculado à tradição lítica Umbu. Avalia que esse grupo ocupou todos os ambientes,

desde o litoral marinho, planalto leste, planalto oeste, encosta do planalto e planície,

sendo os dois últimos ambientes mais favoráveis. Em sua tese, reavalia alguns pontos

relacionados à área de ocupação do grupo. Sugere que, pelo fato de os ocupantes da

região terem sido caçadores-coletores-pescadores, seria necessário dar ênfase ao

meio ambiente, “procurando assim, contribuir para o conhecimento da área: relevo,

geologia, clima, e, principalmente, fauna e flora” (RIBEIRO, 1991). O grupo cultural

8 No Estado do Rio Grande do Sul estes aterros são conhecidos como “cerritos” (SCHMITZ, 1984, p. 15). 9 Ribeiro e Vanz (2001) descrevem a descoberta de uma ponta com características da Tradição Umbu, na região dos concheiros do Albardão, no litoral sul do RS. 10 Datação obtidas no sítio RS-TQ-58, no nível 170-180 cm, de 8290±130 anos A.P. Essa data, segundo o autor, recua a ocupação desta área do Estado para 11000 A.P. (RIBEIRO et al., 1989).

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ligado à Tradição Umbu teria sido o primeiro a ocupar a região de Rio Pardo11, seguido

de outros, relacionados a outras culturas e épocas distintas. O autor faz considerações

sobre as culturas ao longo do tempo e observa a sobreposição12 de sítios na fase Rio

Pardinho; admite, no entanto, que faltou verificar modificações tempo-espaciais,

relativas a essa tradição. Por isso, acredita que, apesar do reconhecido avanço da

arqueologia regional, várias lacunas ficaram para ser preenchidas. Ao definir as

conclusões como sendo a primeira etapa, gerando apenas um “conhecimento

horizontal”, observa que o “conhecimento vertical” só será possível mediante

escavações mais extensas.

Avaliando aspectos do ambiente ocupado por caçadores-coletores da

Tradição Umbu, Prous (1992, p. 149) verifica que esses grupos ocuparam as regiões

menos arborizadas, indo poucas vezes às áreas de encosta, tendo chegado ao litoral

em pelo menos dois pontos. Posteriormente, teriam ocupado os vales, onde

influenciaram, no Rio Grande do Sul, os grupos da Tradição Humaitá. Os sítios de

habitação estão presentes nos terraços do Planalto Meridional, mas também

aparecem em alguns abrigos no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Segundo Hoeltz (1995, p. 51), os grupos da Tradição Umbu

estabeleceram-se nas planícies sul-sudoeste e zonas contíguas à encosta do

Planalto, apresentando sua área de dispersão do norte até o nordeste do Paraná e

República do Paraguai; a oeste, nas províncias argentinas de Corrientes, Entre Rios

e Misiones; a leste, o Oceano Atlântico; e ao sul, até o Estreito de Magalhães.

Ocuparam sítios a céu aberto e abrigos sob rocha, utilizando, como matéria-prima

para a produção de seus artefatos, basalto, arenito silicificado, sílex, quartzo,

calcedônia e outras.

Os dados produzidos pelo PRONAPA foram suficientes para localizar

alguns pontos de ocupação na bacia dos principais rios da vertente do interior, como

Uruguai, Chapecó e Canoas. Com o avanço da pesquisa na área de encosta, pode-

se observar que a Tradição Umbu ocupava também boa parte desse território,

aproveitando a vegetação abundante e a fauna diversificada (FARIAS, 2005).

11 Identificada por Ribeiro (1991) como fase Rio Pardinho. 12 O trabalho apresenta uma tabela extensa, onde são relacionados mais de 100 sítios, sendo que, pelo menos 50% deles representam a Tradição Umbu, ou são dessa tradição relacionada a outras como Humaitá, Taquara e Vieira.

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Nos diversos trabalhos revisados, observou-se que basicamente todos

os autores caracterizaram a Tradição Umbu pela presença de artefatos como as

pontas de projétil13, chopping tools, choppers, bifaces, pontas, buris, raspadores,

lesmas, etc. A técnica utilizada para o lascamento era a percussão direta (unipolar e

bipolar) e a pressão para o retoque (FARIAS, 2005). Schmitz (1981) observa que a

Tradição Umbu, apesar do predomínio das pontas de projétil, possui artefatos

semelhantes aos da Tradição Humaitá. Essa constatação nos faz pensar que grupos

etnicamente semelhantes que viviam em ambientes diferentes, produziam seus

artefatos conforme a disponibilidade de matéria-prima. Os vestígios líticos seriam

integrados, além das pontas já citadas anteriormente, por várias lascas, poucas

lâminas, facas bifaciais, raspadores médios ou pequenos, furadores, folhas bifaciais,

bifaces, percutores, lesmas, buris, talhadores (choppers e chopping-tools), grandes

bifaces, suportes de percussão, mós, bolas com ou sem sulcos, lâminas polidas de

machado, polidores e picões. A matéria-prima retirada dos rios ou de locais de

afloramento envolveria sílex, calcedônia, basalto, arenito silicificado, quartzos e

outros. Segundo Schmitz (1984, p. 16) “as variações dependem não apenas das

disponibilidades regionais, mas também das exigências do artefato a ser produzido”.

Essa ideia é posteriormente elaborada por Hoeltz (1995). A autora afirma que as

matérias-primas e a cadeia operatória são semelhantes nas duas tradições líticas do

Sul. Na Umbu, os artefatos bifaciais são confeccionados basicamente sobre seixos e

lascas unipolares, de pequeno e médio porte; na Humaitá, de porte médio a grande.

Schmitz (1984) não consegue estabelecer a conexão entre as Tradições

Umbu, Humaitá e Sambaquieira, por falta de dados consistentes ou por escassez de

pesquisas arqueológicas nas diversas áreas em que aparecem no território. Em

escritos posteriores, Schmitz (1984) estabelece relação entre os grupos caçadores-

coletores pré-históricos com populações mais recentes, admitindo a possibilidade de

os grupos da Tradição Umbu serem os ancestrais dos Charruas e Minuanos14. Hilbert

(1994) aponta como um dos problemas na definição da Tradição Umbu a associação

de “fósseis-guia” criando, com isso, poucos critérios tipológicos, o que limita os

atributos para a sua classificação. Essas simplificações são, para o autor,

13 Pedunculadas, com aletas, triangulares ou foliáceas. 14 “Já estamos em nossa era quando a Tradição Umbu desaparece por que seus habitantes foram aculturados ou absorvidos por populações indígenas mais desenvolvidas; não seria de estranhar que descendentes seus, como os Minuanos e Charruas, tivessem alguns representantes nos dias atuais” (SCHMITZ, 1994, p. 31).

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responsáveis por um determinismo cultural que não tem sofrido modificações nos

últimos 30 anos.

Dias (1994, p. 76) aponta que a definição das fases da Tradição Umbu

não dá conta da caracterização tecnológica da indústria lítica, entendendo que a “falta

de padronização que marca a descrição do material lítico alia-se à inexistência de

dados quantitativos, impedindo o estabelecimento de conjuntos culturais discerníveis

ou comparáveis entre si a partir dos artefatos”. Como alternativa, sugere a análise

tecno-tipológica, que procura situar os artefatos em relação às atividades que os

originaram, entendendo-os como resultado de um conjunto de ações visivelmente

identificáveis. Hilbert (1994) se preocupa com a complexidade da questão funcional

de conjuntos ou de artefatos, perguntando se a função fica a critério da imaginação

do arqueólogo ou possui objetividade analítica. Hilbert conclui que a utilização de

“fósseis-guia”, juntamente com a definição de eventos geo-culturais, é uma prática

antiga que se perpetua até hoje quando se trata dos estudos dos caçadores-coletores.

Assim, pode-se concluir que aos elementos utilizados, inicialmente, para

definir a Tradição Umbu, passaram a ser incorporados outros aspectos, como a cadeia

operatória da tecnologia lítica e elementos responsáveis pela formação dos sítios.

Essas concepções foram responsáveis pela revisão crítica dos elementos que

caracterizavam a Tradição Umbu. Os problemas destacados por Dias (1994), Hoeltz

(1995), Hilbert (1994) e outros seriam resultado da falta de teoria consistente para os

caçadores-coletores; da utilização de “fósseis-guia” para definir esta tradição; dos

modelos utilizados nas escavações pelos arqueólogos histórico-culturalistas; da falta

de um modelo regional; e de metodologias de campo insuficientes. A partir da década

de 1990 estas premissas são revistas, fazendo com que se pudesse repensar o

processo de formação da indústria e o padrão de assentamento desses grupos

caçadores-coletores.

Dias (1994) construiu um painel dos últimos trinta anos das pesquisas

arqueológicas sobre os caçadores-coletores. A principal crítica da autora aos

trabalhos desenvolvidos nas décadas de 1960, 1970 e 1980 fica por conta da

inexistência da utilização de uma teoria consistente quanto aos caçadores-coletores.

Nos anos 1990, diversos pesquisadores15 passam “a desenvolver estudos tecno-

15 Rüthschilling (1985, 1987), Rütschiling e Schmitz (1989), Goldmeier e Schmitz (1989), Hilbert (1994), Dias (1994), Milder 1994, Hoeltz 1996, Dias e Hoeltz (1997), Dias (1999).

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tipológicos com o objetivo de construir um quadro menos reticente das culturas pré-

cerâmicas, postas a descoberto pelo PRONAPA” (DIAS, 1994, p. 55–56). Estes

estudos, centrados em critérios tecno-tipológicos, deram ênfase a estudos

comparativos de coleções produzidas na fase inicial da pesquisa. No entanto, afirma

Dias (1994), apesar da metodologia ser eficiente, o estudo de coleções torna-se

limitado, devido, principalmente, à falta de controle na obtenção dos dados em campo.

Seguindo essa mesma linha, Hoeltz (1995) observa a dificuldade de analisar as

coleções em virtude das metodologias adotadas em campo e, ainda, do enfoque

morfológico do material, evidenciando a falta de apoio teórico. Para isso, conclama a

reestruturação dos trabalhos arqueológicos e sugere o suporte de outras áreas do

conhecimento, como a etnoarqueologia e a arqueologia experimental16.

Diante desse levantamento bibliográfico se inferiu que as pesquisas

realizadas até o momento, geraram muitas controvérsias, apresentando alguns pontos

de diálogo e outros de conflito. Esses grupos certamente passaram ou habitaram parte

da região de Laguna, área dessa pesquisa, no entanto, o aprofundamento sobre eles

não será realizado, uma vez que esse tipo de sítio não se apresenta a priori como um

atrativo turístico por si, já que estão em áreas pouco transitáveis e não apresentam

características visuais atraentes para visitação.

3.2 OS POVOS CERAMISTAS

Os povos ceramistas que ocuparam Santa Catarina na pré-história

desenvolveram pelo menos três tipos de tecnologia de produção cerâmica que foram

definidas como Tradição arqueológica Tupiguarani, presente nos vales dos rios com

florestas subtropicais e no litoral; a tradição arqueológica Taquara/Itararé, presente no

planalto catarinense e no litoral.

Esses sítios estão mapeados no em Laguna, por isso considerou-se

importante apresentar uma síntese sobre as pesquisas desenvolvidas sobre eles,

ainda que em âmbito regional. Os grupos vinculados as tradições Taquara/Itararé e

16 “Falta o mais importante: ao contrário do que muitos acreditam, a estrutura do sítio não e (sic) explicita, nem é direta ou logicamente funcional. Ela está – como entidade complexa – em um outro nível de percepção, que exige para o seu reconhecimento novas aproximações, técnicas e metodologias. Principalmente aquelas que se ligam a interpretações, que são as probabilísticas que analisam populações incompletas ou duvidosas. Por isso confesso que fico deslumbrado quando ouço alguns trabalhos que, com menos de cem peças, ou com poucos metros escavados, são capazes de explicar forma de vida e cultura” (CONSENS, 1999, p. 66).

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Tupiguarani deixaram vestígios que devem ser considerados no planejamento

turístico local, uma vez que muitas das estruturas se fundem aos espaços

anteriormente ocupados pelos sambaquieiros, facilitando o processo de gestão.

3.2.1 Tradição Taquara/Itararé

Através de estudos realizados por Beck (1972), Chmyz (1976), Neves

(1988), Schmitz e Verardi (1996), Schmitz et al (2002) com vestígios encontrados no

litoral e no planalto meridional foi possível criar o primeiro modelo de ocupação

territorial dos grupos responsáveis pela ocupação desses sítios, os Kaingang.

Apesar de serem cultivadores incipientes, essas populações dependeriam

fortemente de recursos naturalmente disponíveis, estacionalmente, no planalto, talvez

também no litoral e os levaria a migrações anuais, com assentamentos adaptados aos

vários ambientes e adequados às atividades a serem desenvolvidas. O núcleo central

de povoamento e referência parecia ser o planalto. Datações absolutas e relativas dos

sítios de um e outro ambiente e sua associação às populações Kaingang

complementaram o modelo utilizado até agora (SCHMITZ et al., 2002, p. 12). Apesar

dos pesquisadores citados terem demonstrado semelhanças entre essa tradição

cerâmica e o Kaingang, também há algumas diferenças que merecem ser descritas.

Território. Tanto sítios arqueológicos que representam a Tradição Taquara

como os espaços ocupacionais atribuídos aos Kaingang possuem a mesma divisão

geográfica do Planalto Meridional. Todos os grupos possuem caciques principais e

cada um possui um território bem delimitado que no interior deste se organizam na

forma de subtribos, formando várias aldeias cada uma com espaço próprio e

delimitado por um sistema de marcas que indicava qual subtribo dominava

determinado local (BEBER 2005, DIAS 2005, SCHMITZ 2002).

Habitação. As habitações da Tradição Taquara são basicamente de dois

tipos: piso rebaixado (casas subterrâneas) e as mais duradouras, construídas na

superfície do chão. As habitações dos Kaingang eram de tamanhos variados

diferenciados para atender a demanda e o contingente de pessoas, além de muitas

destas estruturas possuírem uma função específica. Quanto às casas subterrâneas

inicialmente associadas à tradição Taquara, datações radiocarbônicas demonstram

sua constante reocupação (BEBER 2005).

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Sepultamentos. Os grupos da tradição Taquara e os Kaingang possuíam

formas parecidas de enterrar os seus mortos. Ambos enterravam em abrigos sob

rocha, em grutas e a céu aberto sendo que as estruturas circulares (montículos) eram

utilizadas também para sepultamento. As pesquisas arqueológicas demonstram que

no primeiro caso, os corpos eram depositados no interior dos abrigos, diretamente no

piso, sem maiores cuidados, as vezes com uma esteira feita de vegetais ou em outros

casos o corpo era coberto por uma pequena quantidade de aterro feito de fibras e

vegetais SCHMITZ 2002).

Alimentação. Quanto à alimentação, podemos observar que os restos

faunísticos são mínimos em função da acidez do solo, mas havia à disposição uma

variedade de plantas e animais que eram intensamente consumidos DIAS 2005.

Como se percebe, as diferenças entre a Tradição Taquara e o Kaingang

são poucas, mas marcantes. Entre elas temos a forma de construir as habitações que

conforme os registros arqueológicos eram estruturas escavadas no solo com formato

circular de vários tamanhos e profundidades, com uma cobertura aérea.

Recentemente esse tipo de vestígio arqueológico voltou à discussão entre os

pesquisadores que se dedicam a esta temática. Já os registros etnográficos

descrevem que as habitações seriam feitas no solo e teriam um formato retangular.

Somente Gabriel Soares de Souza no século XVI, aponta que existiam estruturas

escavadas no colo feitas pelos Kaingang, que neste período eram chamados de

Guaianases. Os tamanhos das aldeias também variavam. As populações referentes

a Tradição Taquara construíam casas subterrâneas a cada ocupação e

posteriormente, algumas destas eram reocupada e novas eram erguidas das que

eram abandonadas. O Kaingang construía quatro ou cinco habitações destinadas a

todos os membros da tribo e com o passar do tempo a morada antiga era abandonada

e outra era construída (DIAS 2005, p. 151).

Outra diferença está na forma de enterrar os mortos. A Tradição Taquara

depositava seus mortos em abrigos sob rocha ou em sepulturas em aterros circulares

com evidências de que eram cremados. O índio Kaingang realiza o sepultamento em

aterros, sendo que não se vale de cremação.

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3.2.2 Tradição Tupiguarani

Milheira (2010) descreve sobre aspectos do modo de vida dos Guarani que

viviam em Santa Catarina baseando-se nos relatos dos primeiros cronistas europeus

que tiveram contato com o grupo. O mesmo autor afirma que os Guarani além de estar

no litoral catarinense, também ocupavam faixas do planalto, nas margens do rio

Iguaçu e Uruguai. As aldeias, situadas próximas às lagoas e aos grandes rios eram

formadas de uma a cinco casas, com cada família extensa vivendo em uma das casas

e sem divisões internas. A população média da aldeia era de duzentos indivíduos. Os

locais das aldeias eram sempre próximos a áreas agricultáveis e a distância com

relação à outra aldeia era de aproximadamente seis quilômetros. Segundo Milheira e

Deblasis (2011) a cultura material Guarani corresponde a cordais, cestos e cabaças

para acondicionar e transportar alimentos líquidos ou sólidos, além das canoas de

várias dimensões, usadas tanto no mar quanto nos rios e lagoas. Também produziam

arcos, flechas, pilões para preparar alimentos, adornos plumários, cuias, cabaças e

tacapes usados em rituais antropofágicos (Milheira 2010). No entanto, sobre o ritual

citado acima, Prous (1992, p. 414) afirma que os dados etno-históricos dos grupos

Tupi litorâneos do século XVI não devem ser aplicados aos portadores da cerâmica

Tupiguarani de qualquer século e região, já que nesse século ocorria o canibalismo

ritual entre os Tupi do litoral de São Paulo até o Maranhão, mas não ocorria entre os

Carijó (Guarani) do litoral catarinense.

Dentro da cultura material dos Guarani existem os vasos cerâmicos, que

por resistir a decomposição são encontrados nas escavações, assim como objetos de

resina, líticos e poucos ossos de fauna e ossos humanos sepultados em urnas

funerárias. Com relação à classificação dos vasos cerâmicos:

(...) os pesquisadores do PRONAPA passaram a considerar que houve uma evolução cultural visível nos estilos decorativos. No período mais antigo, os vasilhames eram predominantemente decorados com pintura na porção superior, conservando a inferior simples: os sítios onde se verificou a preponderância quantitativa de cacos simples e pintados sobre a decoração plástica foram, então, agrupados dentro de uma ‘subtradição Pintada’. A seguir, a decoração corrugada tornou-se mais popular do que a pintada, sem que, no entanto, esta desapareça; trata-se da ‘subtradição Corrugada’ (...) (PROUS, 1992, p. 372).

No entanto, nos últimos anos, com datações e pesquisas em determinadas

áreas, fizeram notar que a separação entre as duas primeiras subtradições não era

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nítida no sul, e ainda passou-se a considerar que as subtradições correspondem a

aspectos regionais e não cronológicos. Assim, Prous (1992, p. 412) diz que a

subtradição meridional é caracterizada pela predominância da decoração corrugada,

poucas vezes igualada pela pintada, já que em alguns sítios do litoral catarinense o

percentual da diferença entre as subtradições pintada e corrugada é mínimo.

De modo geral, nos sítios Tupiguarani de Santa Catarina, são encontrados

outros tipos de acabamento cerâmico além do corrugado e pintado, como o

acanalado, ungulado, inciso, roletado e escovado. Segundo La Salvia e Brochado

(1989) estes acabamentos são definidos como decoração plástica, isto é, que forma

relevos na parte externa do vaso cerâmico, sendo raro a execução desta decoração

na parte interior do vaso; e decoração pintada, obtidas através de tintas minerais e

vegetais, e relacionada a alguns motivos geométricos.

3.3 OS POVOS SAMBAQUIEIROS

Falar sobre a arqueologia em sambaquis de Santa Catarina não é tarefa

fácil, pois esses sítios são investigados desde o Século XIX. Muitos naturalistas e

curiosos tiveram a oportunidade de retirar informações preciosas desses verdadeiros

monumentos arqueológicos, por meio da cultura material contida nos montes de

conchas.

Os sambaquis são sítios arqueológicos resultado de um processo

construtivo desenvolvido lentamente, durante um longo tempo, alguns ultrapassaram

mais de um milênio de construção. Sambaqui “é uma palavra de etnologia Tupi, língua

falada pelos horticultores e ceramistas que ocupavam parte significativa da costa

brasileira (...). Tamba significa conchas e Ki amontoado, que são as características

mais marcantes desse tipo de sítio” (GASPAR, 2000, p. 9). Os sambaquis destacam-

se como os sítios arqueológicos mais antigos da costa litorânea brasileira.

São sítios caracterizados por sua estrutura monticular e por exibir, de

maneira preponderante, a presença de conchas em sua composição. Exibem uma

estrutura estratigráfica bastante complexa, onde sucessivas camadas contendo

expressiva presença de materiais conquiliológicos se alternam com camadas escuras,

ricas em material orgânico e remanescentes de fauna, onde são frequentemente

encontrados vestígios de indústrias líticas e ósseas, além de fogueiras e outras

estruturas, com destaque para os sepultamentos, bastante comuns neste tipo de sítio.

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De fato, a análise dos processos formativos presentes nos sambaquis

revela que os sepultamentos, via de regra bastante conspícuos na estruturação destas

sequências estratigráficas, parecem mesmo ser a referência fundamental do processo

construtivo (moundbuilding) que caracteriza estes sítios, sendo a estreita relação entre

os mortos e os restos de fauna presentes nas camadas estratigráficas o que, a rigor,

explica a própria construção destas estruturas que, ocasionalmente, adquirem

proporções monumentais ao longo de milênios, como é exemplo o próprio grande

sambaqui da Garopaba do Sul (BENDAZZOLI, 2007). Nesse sentido, destaca-se

como aspecto marcante da cultura sambaquieira a enorme importância dos rituais

funerários, que demonstram tratar-se de uma sociedade organizada, já que “os

sepultamentos, em sua maioria, seguem um determinado padrão, e há

especificidades para certos indivíduos que não se restringem às diferenças de sexo e

idade” (GASPAR, 2000, p. 23).

No que se refere aos sambaquis propriamente ditos, eles voltam a receber

a atenção dos arqueólogos: várias teses abordam o tema e importantes projetos são

delineados. A própria representação dos construtores de sambaquis altera-se. Eles

não são mais percebidos como um bando de coletores de moluscos, nômades em

busca de alimentos. Discute-se complexidade social, especula-se sobre a presença

de chefes, enfoca-se o elaborado ritual funerário, debate-se a presença de

especialistas dedicados à confecção de esculturas e destaca-se a grandiosidade dos

sítios como resultado de um orquestrado trabalho social (GASPAR, 2000). (GASPAR,

2000, p. 26, DEBLASIS, 2005).

As características mais marcantes de um sambaqui são a sua forma

monticular e o fato de serem constituídos por conchas, berbigões, ostras e moluscos.

Nas escavações arqueológicas realizadas em sambaquis, os restos faunísticos são

abundantes, o que demonstra a intimidade entre os sambaquieiros e o habitat lagunar,

pois a existência de restos de fauna de peixes, principalmente de lagoas, revela que

se tratava de exímios navegadores.

Os sambaquieiros foram o grupo que deixou a maior quantidade e diversidade de testemunhos de sua permanência no território brasileiro. [...] Os materiais estão bem preservados porque, diferente de alguns grupos que estavam sempre mudando de um lugar para outro ou limpando sistematicamente o local de moradias, os sambaquieiros habitavam durante muito tempo o mesmo local e tinham o hábito de acumular os restos faunísticos (TENÓRIO,1999, p. 160).

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Em relação aos objetos, encontram-se artefatos utilizados para captura de

pescado, instrumentos feitos com pontas ósseas, presos em hastes de madeira, como

um arpão. Os sambaquieiros produziam artefatos utilizando “todos os tipos de

matérias-primas oferecidas pelo ambiente em que habitavam, como rochas (basalto e

quartzo), conchas, ossos e dentes de animais, além de outros materiais orgânicos que

não são facilmente preservados” (FARIAS, 2000, p. 04).

Figura 20: Sambaqui do Ipoã, município de Laguna.

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Figura 21: Zoólito com forma de peixe

Figura 22: Zoólito com forma de mamífero aquático.

Fonte: acervo GRUPEP – Arqueologia / UNISUL Fonte: acervo GRUPEP – Arqueologia / UNISUL Figura 23: Escavação arqueológica no Sítio Cabeçudas I

Figura 24: Sítio sambaqui da região do Farol de Santa Marta

Fonte: acervo GRUPEP – Arqueologia / UNISUL Fonte: acervo GRUPEP – Arqueologia / UNISUL

Também eram utilizadas espinhas de peixes, esporão de raia, ossos de

aves e de mamíferos, como macacos, porcos-do-mato e outros. Outros materiais

também eram utilizados na fabricação de artefatos, empregados na obtenção de

alimentos:

Pequenos blocos e lascas de quartzo eram preparados através de percussão direta e bipolar, garantindo fios cortantes para inúmeras tarefas. (...) O arsenal tecnológico contava também com objetos para triturar e moer alimentos. Pesados almofarizes feitos em pedra estavam relacionados com o processamento de vegetais. Um artefato sugestivamente denominado quebra-coquinho, entre outras funções, facilitava o consumo de diferentes tipos de nozes (GASPAR, 2000, p. 49).

Os sambaquieiros produziram artefatos como colares e adornos. Para

tanto, eram utilizados conchas e dentes de animais como tubarão, porco-do-mato e

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jacaré para pingentes, o que pode ter um significado importante na vida para a caça

ou a pesca.

A arte sambaquieira é contemplada ainda em forma de escultura. “A

habilidade dos sambaquieiros ficou registrada nas esculturas de pedra e osso dos

sambaquieiros, pois são animais agressivos, apresentando dificuldades conhecidas

como zoólitos (zoo = animal, lito = pedra); são objetos que impressionam pela beleza

e pelo equilíbrio de formas” (GASPAR, 2000, p. 52). O zoólito apresenta-se como

representação de animais, mais raramente efígies humanas, e parecem estar

intrinsecamente relacionados ao culto aos ancestrais, uma característica que parece

ser mesmo estruturante na organização da sociedade sambaquieira (DEBLASIS

2005).

Nos sambaquis foram encontrados vários zoólitos, representando figuras

de peixes, aves, tatus e outros animais feitos de pedra ou osso. Ainda sobre os

intrigantes zoólitos, Prous (1992, p. 234) nos diz que “não duvidamos de que os

zoólitos desempenharam um papel importante na cultura sambaquiana meridional,

pois nossas experimentações mostram que, das peças do instrumental conservado,

foram elas as que requereram maior tempo de trabalho”.

Muito da complexidade social sambaquieira ainda está para ser

desvendada, uma vez que contamos com considerável diversidade regional,

caracterizada por Beck no final da década de 1960, em sua tese de doutoramento. A

pesquisadora observou variações regionais relacionadas à produção tecnológica, com

artefatos característicos nas regiões sul, centro e norte do Estado, bem como um

padrão funerário que também apresentou diferenças significativas. No entanto, essas

pesquisas não foram aprofundadas, pois não houve o estabelecimento de uma

cronologia robusta para todos esses sítios pesquisados. Essa diversidade regional,

pode tranquilamente estar relacionada às alterações que normalmente ocorrem nas

culturas, com o surgimento de novos grupos e o estabelecimento de contatos inter-

étnicos. Contamos com dados importantes produzidos por um projeto de longa

duração no sul do Estado, cujas pesquisas, mais aprofundadas, mostram-nos diversas

nuances no processo construtivo dos sítios, no padrão de ocupação do ambiente

lagunar, de aspectos relacionados a alimentação e padrões comportamentais ligados

aos sepultamentos (GASPAR, 2000).

Pesquisas recentes (para uma síntese, ver DEBLASIS et al 2007) revelam

algumas características essenciais da ocupação sambaquieira na região sul do

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Estado, aqui genericamente designada como paleolaguna de Santa Marta,

compreendendo toda a região no entorno das lagoas que se estendem nos municípios

de Laguna, Tubarão e Jaguaruna – compreendendo também, portanto, a faixa

litorânea sobre a barra-barreira e sobre as dunas de primeira e segunda geração

(GIANNINI, 1993) através das quais se projeta o traçado da estrada em pauta neste

projeto.

Em primeiro lugar, a ocupação sambaquieira é um fenômeno de longa

duração, com sítios partilhando as mesmas características culturais há mais de 6000

anos. Percebe-se que a ocupação sambaquieira da área, antigamente uma ampla

baía pontilhada pelas ilhas que hoje configuram os cabos da Santa Marta, Galheta e

Teresa, entremeados de crescentes e serpeantes formações de restinga, se deu a

partir dos fundos da área da baía, ao pé das serras, onde hoje se encontram os

municípios de Treze de Maio e Gravatal. Os sítios dessa época são pequenos, e os

sambaquis só alcançam as dimensões monumentais pelas quais são conhecidos hoje

muitos séculos depois, entre 4500 e 2000 anos atrás aproximadamente.

Além disso, esta ocupação configura um padrão de assentamento circum-

lagunar que não apenas permanece como se adensa ao longo do período (ver

também KNEIP, 2004). De fato, tal padrão de implantação dos sambaquis mais

longevos mostra claramente que a sociedade sambaquieira é bastante estruturada,

sedentária, e que mantém intenso contato interno, o que explica a emergência de

marcos paisagísticos bastante notáveis no ambiente lagunar plano e aberto.

Mais ainda, os estudos que atualmente estão sendo desenvolvidos na área

através do projeto temático Sambaquis e Paisagem mostra que o padrão de

assentamento sambaquieiro envolve também as pequenas estruturas,

“sambaquizinhos”, os quais se distribuem de maneira um tanto conspícua ao redor e

entre os grandes sambaquis, vários dos quais trazem as primeiras evidências um

pouco mais consistentes do que está sendo considerado, a priori, como áreas

habitacionais sambaquieiras.

Neste sentido, os pequenos sambaquis, parecem estar intrinsecamente

ligados aos grandes, reforçando uma impressionante continuidade locacional – e

quiçá tecnológica, ou mesmo sociológica – entre as comunidades sambaquieira e a

atual.

Atualmente, os sambaquis do sul de Santa Catarina vêm sendo

pesquisados por uma equipe de arqueólogos da USP, Museu Nacional/UFRJ e

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UNISUL/Tubarão. As pesquisas avançaram e vários conceitos estabelecidos nas

décadas passadas foram reavaliados. O projeto arqueológico Sambaquis e Paisagem,

coordenado por uma equipe multidisciplinar envolvendo instituições de pesquisa como

USP, Museu Nacional do Rio de Janeiro e UNISUL, já se estende por 19 anos e define

que os sambaquis desta região representam processos de sedentarização,

adensamento demográfico e complexificação na organização social de uma

população de pescadores-coletores que, segundo o quadro cronológico regional

construído até agora, parecem tomar forma há pelo menos 6.000 anos atrás

(DEBLASIS et al, 2007).

Esse projeto estuda sistematicamente o sítio Jabuticabeira II, sambaqui

situado no município de Jaguaruna que apresenta um período de atividade de cerca

de 800 anos e densidade de sepultamentos estimada em algumas dezenas de

milhares, o Jab II, como é conhecido, configura claramente um cemitério de longa

duração e certa importância regional (STORTO et al 1999, FISH et al 2000). Explora,

ainda, a perspectiva do sambaqui como estrutura intencionalmente construída,

rejeitando a ideia de que estes sítios são, simplesmente, resultado do descarte dos

subprodutos das atividades de subsistência das populações sambaquieiras. Este

enfoque decorre do fato de que, apesar de pesquisados desde o século XIX e, de uma

maneira metodologicamente mais sistemática desde os anos de 1950, os processos

de formação destes sítios (tanto socioculturais quanto pós-deposicionais)

permanecem ainda muito mal compreendidos (DEBLASIS et al 2004).

Esse cenário apresentado, indica que a região do município de Laguna

possui alta densidade de sítios arqueológicos. Muitos já foram foco de pesquisas

intensivas, que produziram dados importantes no desvendamento das formas de vida

e interação com o ambiente lagunar em tempos pretéritos. No item seguinte,

apresentaremos os sítios arqueológicos mapeados na região dessa pesquisa, com a

intenção de traçar uma estratégia de planejamento e gestão amparada no Turismo

Arqueológico.

3.4 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS MAPEADOS NA ÁREA DA PESQUISA

Relacionamos os principais sítios arqueológicos encontrados em Laguna.

Alguns foram pesquisados no banco de Dados do IPHAN, outros em relatórios, artigos

e outros documentos gerados a partir de pesquisas arqueológicas desenvolvidas na

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região. Abaixo estão elencados os sítios mapeados, no município da pesquisa e,

alguns deles estão no Quadro 117, com suas respectivas datas, obtidas por meio de

recursos da FAPESP, do Projeto Sambaquis e Paisagem.

Quadro 5: Sambaquis e as datações obtidas em C14 da região da paleolaguna de Santa Marta, SC.

Sítio sigla Lab ID Tipo Data Sigma

Cabeçuda Cab 4120 220

Caieira Cai Isotopes 2624 carvão 710 95

Caieira Cai Isotopes 2628S concha 2770 100

Caieira Cai Isotopes 2628C carvão 3230 155

Canto da Lagoa 1 CaL1 Beta 209706 Anomalocardia 3370 70

Carniça 1 Car1 Az 918 carvão 3370 150

Carniça 1 Car1 Az 919 concha 3370 100

Carniça 1 Car1 Az 912 concha 3310 150

Carniça 1 Car1 Az 917 concha 3210 150

Carniça 1 Car1 Az 883-2 concha 3040 50

Carniça 1 Car1 Az 914 concha 2550 100

Carniça 1 Car1 Az 884 carvão 2400 110

Carniça 1ª Car1A Lamont 1164 concha 3400 150

Carniça 1ª Car1A Isotopes 2620 concha 3350 110

Carniça 1ª Car1A Lamont 1164B concha 3300 150

Carniça 1ª Car1A Az 950 (956?) carvão 3275 125

Carniça 1ª Car1A Az 959 concha 2460 110

Costão do Ilhote PCI Beta 211733 carvão 980 40

Galheta 1 Gal1 Beta 209708 Anomalocardia 3090 70

Galheta 2 Gal2 CENA 104, LS-10 concha 4530 70

Galheta 2 Gal2 Beta 209709 Anomalocardia 4400 60

Galheta 4 Gal4 Beta 211734 osso hum. 980 40

Ribeirão Pequeno RPq Beta 209704 Thais haemast. 2390 70

Santa Marta 1 SM1 Beta 195242 concha 3200 60

Santa Marta 5 SM5 Beta 195243 concha 4110 50

Fonte: DEBLASIS, et al, 2007.

3.4.1 Sítios Arqueológicos mapeados no município de Laguna

No município de Laguna há 45 sítios arqueológicos cadastrados no CNSA

(Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos)18, no entanto, o sistema encontra-se

desatualizado e há muitos registros repetidos. Neste sentido, optamos por apresentar

os registros arqueológicos levantados por Farias e Kneip (2010), totalizando 56 sítios

arqueológicos no município de Laguna, conforme o Quadro 6.

17 Nessa tabela constam alguns sítios do município de Jaguaruna e Tubarão. 18 CNSA/IPHAN: http://portal.iphan.gov.br/portal/montaPaginaSGPA.do (18/09/2014).

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Quadro 6: Sítios arqueológicos localizados em Laguna. Sítio Tipo

Barreiros Sambaqui

Cabeçuda I Sambaqui

Santa Marta I Sambaqui

Santa Marta II Sambaqui

Santa Marta III Sambaqui

Caieira Sambaqui

Caputera I Sambaqui

Caputera II Sambaqui

Carniça I Sambaqui

Carniça II Sambaqui

Carniça III Sambaqui

Carniça IV Sambaqui

Carniça V Sambaqui

Estreito Sambaqui

Estreito II Sambaqui

Estreito III Sambaqui

Galheta I Sambaqui

Galheta II Sambaqui

Galheta III ou do Padre Sambaqui

Galheta IV Taquara/Itararé

Km 308 Tupi-guarani

Magalhães Sambaqui

Passagem da Barra Sambaqui

Peixaria Sambaqui

Ponta da Laranjeira Sambaqui

Ponta do Perrechil I Sambaqui

Ponta do Perrechil II Sambaqui

Porteira Sambaqui

Ribeirão Pequeno Sambaqui

Roçado Sambaqui

Canto da Lagoa I Sambaqui

Canto da Lagoa II Sambaqui

Canto da Lagoa III Sambaqui

Cabeçuda II Sambaqui

Carniça VI Sambaqui

Carniça VII Sambaqui

Carniça IX Sambaqui

Carniça X Sambaqui

Costão do Ilhote de Santa Marta Tupi-guarani

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Lítico do Ipõa Oficina Lítica

Lagoa dos Bixos Sambaqui

Madre Sambaqui

Roseta Sambaqui

Santa Marta IV Sambaqui

Santa Marta V Sambaqui

Ilhote do Ipoã II Sambaqui

Ilhote do Ipoã III Sambaqui

Canto da Lagoa IV Sambaqui

Lagoa dos Bixos II Sambaqui

Lagoa dos Bixos III Sambaqui

Lagoa dos Bixos IV Sambaqui

Lagoa dos Bixos V Sambaqui

Morro do Céu Estação lítica

Laguna - Morro do Peralta Sambaqui

Bentos I Tupi-guarani

Bentos II Tupi-guarani

Fonte: Farias e Kneip (2010).

A elaboração desse quadro pré-colonial regional, com a caracterização

bibliográfica dos sítios já mapeados e/ou pesquisados sistematicamente na área da

pesquisa, possibilitou o entendimento de que a área pesquisada possui forte potencial

arqueológico e ambiental, que deve ser levado em consideração para a implantação

de um sistema planejamento e gestão do território turístico para a região.

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4. ESTUDO DE CASOS EM TURISMO E GESTÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO

Neste capítulo apresentaremos os resultados de pesquisas sobre a gestão

do patrimônio arqueológico e o turismo. Essas pesquisas aliadas a outras bibliografias

sobre a temática servirão de base para a elaboração do modelo de gestão para o

desenvolvimento do turismo em sítios arqueológicos.

Os casos que se seguem tratam de estudos realizados sobre a relação do

turismo e o patrimônio arqueológico, inicialmente serão apresentados casos na

Europa, posteriormente América, por fim, no Brasil.

4.1 TURISMO E GESTÃO DO PATRIMÔNIO NA EUROPA

Silveira et al (2011) apresenta um estudo de caso sobre reconstrução de

praia, com a recomposição da faixa de areia na Península de Tróia, em Portugal. O

trabalho resultou em uma nova modelagem da praia, onde um dos pontos recomposto

foi junto a edificações do período romano. A ação criou uma área mais extensa, com

uma zona de amortecimento, que possibilitou a proteção da edificação, que estava

em risco de destruição pela ação do mar. Uma das obras implantada no local foi a

marina, cujo sedimento da dragagem foi utilizado no aumento da praia. A partir de

outubro de 2006 os sedimentos começaram a ser depositados em quatro setores

distintos da região, visando a restauração da praia, em um desses pontos estava o

sítio arqueológico do período romano.

Durante o monitoramento observou-se a movimentação do sedimento, já

que a faixa de areia criada em frente ao sítio arqueológico funcionava como uma zona

de amortecimento. Duas vezes por ano era realizado o levantando batimétrico visando

o monitoramento da área da marina, onde eram realizadas eventuais dragagens para

a manutenção da praia.

Na Itália, o geógrafo e monge Guidone descreveu no ano de 1119, uma

rota medieval que passa por Apulia e Basilicata, a sul da península itálica. Realizou

uma viagem por trilhas para visitar centros religiosos, igrejas de pedra do período

medieval, sítios arqueológicos e paisagens rurais, tais como: Abadia de

Montescaglioso e as ruínas de Grumentum. A revitalização do caminho percorrido por

Guidone para além de uma rota turística, é vista como uma oportunidade de envolver

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a comunidade local, valorizando identidades e tradições locais (COPETA; GIACOMO,

2010, p. 111).

De acordo com Copeta e Giacomo (2010, p. 111), a revitalização da rota

medieval contribui para o desenvolvimento cultural, econômico e social, com o

incremento do turismo responsável, esses atrativo pode trazer benefícios ao

patrimônio local.

A partir das descrições de Guidone uma proposta foi apresentada, uma rota

passa por área com características e valores ambientais, paisagísticos, cultural, como

pequenos centros medievais, conventos, igrejas em pedra, ruínas e áreas rurais, um

território com muitos elementos particulares. Através de caminhadas, trekking, tens

regionais, inclusive bicicletas, esse tipo de turismo seria uma modalidade para a

região, para visita-la seria necessária dispor de tempo para viagem. Ao longo da rota

seria necessário organizar paradas em distâncias aproximadas entre 10 a 15 km,

privilegiando os centros históricos dotados de estrutura básica para recepcionar o

visitante, quando não fosse possível, novas estruturas precisariam ser instalada

(COPETA; GIACOMO, 2010, p. 116).

Para o desenvolvimento dessa rota considerou-se alguns as características

da gestão. Copeta e Giocomo destacam alguns aspectos para a gestão deverão ser

utilizados no desenvolvimento do projeto. Dentre eles o envolvimento de órgão

públicos e privados; incentivo para o surgimento de novas empresas e postos de

trabalho; qualificação da população e operadores turísticos, visando a melhora no

serviço receptivo; participação em feiras e elaboração de material que promova o

patrimônio local; envolver operadores turísticos para criação de redes de

compartilhamento de boas práticas e experiências.

O trabalho reforça a importância do desenvolvimento de um turismo

alternativo, com foco no desenvolvimento local, integrando a população local,

promovendo a revitalização do patrimônio cultural local. O turismo na rota medieval

poderá ser uma alternativa a sazonalidade do turismo regional, podendo ser

desenvolvido em diferentes estações do ano incrementaria outros segmentos

turísticos existentes na região.

Chivu (2013) apresentou um estudo de caso do município de Rosia

Montana, na região da Transilvânia, na Romênia. Nessa região, havia a perspectiva

de ser implantado um projeto de mineração, o que colocaria em risco o patrimônio

histórico local, diante disso o turismo passou a ser visto como uma alternativa de

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incremento de renda para a população, e contribuiria para a preservação do

patrimônio natural e cultural.

Além do foco na preservação do patrimônio natural e cultural se pretendia

que o turismo fosse uma alternativa para a economia local, que era pautada

principalmente na mineração.

Rosia Montana foi construída em virtude da mineração. Documentos

comprovam que sua fundação ocorreu a quase dois milênios, um dos assentamentos

de mineração mais antigos da Europa. (CHIVU, 2013, p. 45). Ali são encontradas

galerias dos períodos romano, medieval e moderno (pré-industrial), apresentando

testemunhos dos diferentes ciclos de mineração da região.

“As galerias romanas foram construídas através de uma técnica única, em forma trapezoidal. A maioria das galerias romanas estão localizados em Orlea Massif, algumas delas abertas aos visitantes. Elas possuem um valor universal, como elas se relacionam com a história e a cultura do Império Romano. Outros artefatos romanos são representados pelos restos de construções religiosas ou administrativas, ou relíquias funeral (sarcófagos, lápides), e vestígios de estradas romanas que ligavam a antiga Rosia Montana (Alburnus Maior) a outros centros de mineração na área. O mausoléu antigo representa uma atração notável, uma tumba circular dupla, o único deste tipo descoberto na Roménia desde o período Dacian-romana” (CHIVU, 2013, p. 45)

Os elementos arquitetônicos encontrados em Rosia Montana também têm

suas particularidades, revela sinais sobre a história e o desenvolvimento econômico

local. Em se tratando do patrimônio arquitetônico percebe-se um local com variações

nos estilos, desde estruturas tradicionais mais simples até as mais detalhadas,

demonstrando certo poder.

Chivu (2013) enfatizou o turismo como elemento para o desenvolvimento

econômico, no entanto, ele indica a necessidade de as ações turísticas estarem

atreladas, simultaneamente, com a promoção, infraestrutura geral, quadro legislativo,

programa de conservação e uso sustentável dos recursos.

Há uma luta constante na valorização do patrimônio local. Uma das

primeiras ações nesse sentido foi a restauração dos edifícios históricos por

especialistas. Os materiais utilizados obedeceram às técnicas construtivas originais,

utilizando-se materiais como argila, areia, calcário, pedra e madeira e evitando

materiais como o cimento e metal. Isso só foi possível devido o envolvimento de

alunos de arquitetura e com o auxílio da comunidade local. A principal empresa

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interessada na mineração também restaurou edifícios históricos, porém estas

restaurações foram contestadas por especialistas por não utilizarem elementos

originais.

Visando maior valorização do patrimônio local, foi desenvolvido um festival

anual, que juntava uma série de atividades como seminários, workshop e passeios,

atraindo muitos participantes com o passar dos anos, que se acomodam nas

propriedades de moradores locais, devido a carência de equipamentos turísticos.

O governo turco adotou um modelo de gestão do setor de cultura, onde

houve a terceirização dos serviços comerciais, porém sem perder a centralidade da

administração tradicional. Um modelo que combina a flexibilidade dos contratos do

setor privado e a continuação da gestão administrativa centralizada no poder público

(SHOUP, BARALDI e ZAN 2014).

Apesar desse modelo de participação privada na gestão do patrimônio

cultural, a gestão é bastante centralizada a partir do Ministério de Cultura e Turismo

(Ministry of Culture and Tourism - MoCT), por sua vez a Direção Geral do Patrimônio

Cultural e Museus (General Directorate of Cultural Heritage and Museums - GDCHM),

e Direção de Museus que são entidades regionais elas gerenciam entidades como:

museus e ruínas, protegem os locais tombados, conduzem e monitoram as

escavações, possuem pouca autonomia, com orçamentos e regras de trabalho. Ao

todo haviam 102 desses órgãos em 2009, controlando 183 museus e 127 ruínas

abertas ao público (SHOUP, BARALDI e ZAN 2014).

A receita do ministério da cultura era positiva, porém em uma estratégia de

remanejamento de uma quantidade significativa dos funcionários para outras áreas

do governo, aliado ao despreparo do staff - como desconhecimento de língua

estrangeira e desqualificação do serviço. Não tinham experiência na área em turismo,

também não tinham uma estratégia de marketing, promoção e identidade bem definida

(SHOUP, BARALDI e ZAN 2014).

A pesquisa de Shoup, Baraldi e Zan (2014) teve como principal objetivo a

análise de três contratos de terceirização no setor de cultura do governo Turco,

executados entre os anos de 2009 e 2010. Os contratos terceirizavam os serviços de

comerciais em museus e sítios arqueológicos. Os museus e os sítios arqueológicos

são os setores de maior arrecadação de renda da Direção Central de Fundos

Rotativos (Döner Sermaye İşletmesi Merkez Müdürlüğü - Dösim), o principal órgão no

que tange o financiamento de atividades ligados ao patrimônio cultural.

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No ano de 2009 um primeiro contrato entre a Associação Turca de

Agências de Viagens (Turkish Association of Travel Agents - Türsab) e Dösim foi

assinado. Essa ação, uma espécie de programa piloto objetivava a modernização do

Museu Arqueológico de Istambul (Istanbul Archaeology Museum - IAM). O modelo

IAM/Türsab foi substituído por outros dois contratos de terceirização mais

abrangentes: um realizado no ano de 2009, permitindo a construção e operação de

lojas de presentes e cafés, e outro no ano de 2010, que viabilizaria a modernização e

operação de catracas. Cada contrato incluía um pacote de cerca de 50 museus e

ruínas.

De acordo com os pesquisadores, essas medidas foram necessárias

devido as dificuldades administrativas apresentadas pelo Dösim. Cita como exemplo

o IAM, que em meados de 2000 apresentava problemas como: o mau serviço

prestado aos visitantes, instalações insuficientes e envelhecimento da infraestrutura.

Tudo isso agravado pela falta de autonomia no orçamento e o número insuficiente de

colaboradores. O contrato do Projeto de Desenvolvimento do IAM assinado pela

Türsab em 2009, focava na resolução dos problemas enfrentados pelo museu. O

contrato incluía reconstrução do museu seguindo as normas internacionais, apoio a

projetos científicos, resolução de problemas com recursos humanos, curadoria e

desenvolvimento de coleções, melhoria dos serviços ao visitante, aumento no número

de visitas, desenvolvimento do turismo cultural, entre outros.

Também no ano de 2009 foi celebrado o contrato com Bilkent Kültür

Geliştirme (BKG), dessa vez o objeto de terceirização foi a gestão das lojas de cafés

em museus e ruínas. Uma nas exigências do estado foi a venda de produtos de

artesões nacionais. Porém em alguns locais essa medita não foi muito bem aceita,

como em Éfeso.

O último analisado foi a licitação das bilheterias, a empresa vencedora teria

dentre outras, a responsabilidade de criar um sistema seguro de controle de acesso

de visitante, além do cartão de museus. Nos primeiros meses de funcionamento da

proposta ganhadora registrou um aumento significativo de visitante, fato este

interpretado pelo Dösim não como um aumento real, mas sim, um controle maior na

entrada. Ex-funcionários foram julgados por desvio do dinheiro de bilhete. O número

de visitantes ainda é crescente, certamente em decorrência das campanhas de

marketing e melhorias de serviços oferecidos aos visitantes após mudanças na gestão

dos locais. O governo exigiu que, as lojas de presentes revendessem artesanato de

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fabricação nacional, os produtos deveriam ser relacionados ao patrimônio local e a

identidade do patrimônio cultural nacional.

Este modelo Turco de terceirização sem descentralização é bastante

distinto, mas de acordo com os autores, oferece algumas reflexões interessantes no

debate sobre a nova gestão pública e a transformação do setor público em diferentes

países. “Embora a retórica modernizadora usual de transparência, responsabilidade e

eficácia é implantado aqui, a agenda da Turquia para a mudança do setor público não

é acoplada com a ideia de descentralização, mas focado na construção de capacidade

gerencial dentro do Estado centralizado” (SHOUP, BARALDI e ZAN, 2014, p. 74).

O modelo turco de terceirização do patrimônio cultural é bastante

centralizador, o órgão governamental responsável pelo patrimônio pode fazer o

acompanhamento da atividade em tempo real através de um sistema moderno de

monitoramento. Shoup, Baraldi e Zan (2014, p. 74) descrevem que, “neste sentido, a

criatividade da abordagem turca é impressionante: ele concilia a necessidade de

modernização sem perturbar as características básicas de uma tradição administrativa

altamente centralizada”.

Uma questão apontada pelos autores como problemática foi o processo de

terceirização, que ocorreu de forma verticalizada, os contratos de concessão foram

realizados por tipologia de serviço, em blocos, composto por uma série de museus e

sítios arqueológicos de várias regiões do país. Este modelo tem pouca participação

local e ainda gera o monopólio do serviço, talvez o resultado fosse diferente caso a

terceirização ocorresse por regiões, os serviços seriam mais distintos. Oportunizaria

mais autonomia para o museu ou sítio arqueológico em sua região. Para Shoup,

Baraldi e Zan o modelo demostra certa eficiência na gestão, resolvendo os problemas

que centros de visitação vinham enfrentando, porém destacam o caráter negativo da

terceirização verticalizada.

O estudo de caso da terceirização de serviços do patrimônio cultural da

Turquia é um bom exemplo de que, parcerias públicas-privadas podem ser uma

alternativa para o planejamento e gestão do turismo arqueológico. Principalmente no

que tange a flexibilização na gestão, o setor privado poderia dar respostas mais

rápidas as necessidades da atividade, driblando a morosidade do serviço público.

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4.2 TURISMO E GESTÃO DO PATRIMÔNIO NA AMÉRICA

Em setembro de 2012 ocorreu na cidade do México o Seminário de

Políticas Públicas e Turismo Cultural na América Latina: Século XXI. O propósito do

evento era aprofunda a análise e a discussão de novas perspectivas sobre o turismo

cultural e o desenvolvimento sustentável nos países latino americanos. No evento

foram abordados diversos temas distribuídos em seis mesas de discussão, onde se

destacou o patrimônio cultural de forma genérica, sem um enfoque específico no

Patrimônio Arqueológico.

O turismo cultural no México é abordado em uma perspectiva da

sustentabilidade (ROCHA, 2012). Os autores indicam que a oferta desse tipo de

turismo no país é muito variada, onde ocorre mais de 30 lugares definidos como

Patrimônio da Humanidade e mais de 40 mil sítios arqueológicos, dos quais, 200 estão

abertos para a visitação pública, que ultrapassa a 18 milhões de pessoas por ano

(ROCHA, 2012; FLORES, 2012).

Elizondo (2012) aponta a diversidade de oferta turística do México, entre

ela se verifica o forte apelo do Patrimônio Arqueológico que ocorre no país e

quantidade significativa de visitantes que procuram esse tipo de atrativo. O mesmo

pesquisador disserta sobre o Turismo Arqueológico na Costa Rica, quando destaca

que:

cada vez más están demandando productos complementarios al de sol y playa o al turismo de naturaliza y es precisamente ahí donde se encuentra un importante nicho de mercado para el turismo cultural, como complemento ideal al deseo del turista de conocer más la historia y costumbres de un pueblo democrático y en donde algunos sitios arqueológicos se erigen como atractivos turísticos cada vez más visitados. (ELIZONDO, 2012, p. 190)

Elizondo (2012), chama a atenção para as possibilidades do Turismo

cultural, mas também dos seus perigos, quando se coloca em risco o próprio

patrimônio, que pode ser submetido apenas ao setor turístico, sem efetivamente estar

atrelado ao setor cultural. Essa desconexão pode ocasionar sério comprometimento,

principalmente no que tange a fruição do patrimônio pela comunidade local.

Ainda no México, outro estudo de caso é exposto por Ramírez et al (2010),

trata-se de uma proposta de conservação para paisagem e geossítios na costa norte

de Michoacán. Os autores consideram o patrimônio e sua conservação um tema atual

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por ser uma estratégia importante para preservar a natureza e os vestígios do

passado. Destacam a degradação de sítios arqueológicos causados por saques ao

patrimônio, fomentados pelo comércio ilegal, é uma situação preocupante. Outrossim,

a deterioração causada pelo mau uso do patrimônio, a negligencia e a fragilidade do

bem não renovável. O uso inadequado, põe em risco o patrimônio. Uma visão

progressista de ocupação, sem a atenção adequada, visando apenas benefício

econômico, a urbanização desordenada, abertura de rodovias, aumento do número

de visitantes, vandalismo, o empobrecimento da população local e seu distanciada do

patrimônio arqueológico, amplificam ainda mais o problema (RAMÍREZ et al., 2010, p.

106).

A conservação da paisagem e dos sítios arqueológicos pode ser atingida

com medida preventivas e de adequação, e ainda, respeitando o ponto de vida das

populações locais para a gestão do patrimônio. A integração da comunidade local na

construção de uma proposta de gestão de uso do patrimônio cultural é indispensável,

medidas devem ser tomadas para aproximação desses atores, tendo em vista,

reforçar os laços de identidade. Principalmente quando há descendentes diretos

ligados ao patrimônio, como o caso de Michoacán, os sítios arqueológicos são

evidências de ancestrais dos atuais habitantes da região (RAMÍREZ et al., 2010, p.

106). Ramírez et al (2010, p. 106) reforçam que, a proposta deve oferecer recursos

conceituais e técnicos de como o patrimônio será estudado, apresentado e acessível

ao público.

A pesquisa de Ramírez et al (2010) procurou desconstruir a visão dualista

de homem e natureza, fruto de um conceito romantizado da natureza intocada,

dissociada do homem, e assim, associa paisagem natural e cultural, tencionando

reforçando a compreensão da paisagem como um todo.

“(...) la naturaleza y la cultura no constituyen dominios ontológicos separados, sino que ambos forman parte de una misma realidad o mundo, dando como resultado un sólido basamento teórico-metodológico que busca reconocer las inextricables interdependencias y determinaciones entre naturaleza y cultura” (RAMÍREZ et al., 2010, p. 107).

Grupos ceramista ligados a cultura Capacha deixaram vestígios de sua

ocupação em uma área significativa da costa do oceano Pacífico, uma área

pertencente hoje a seis estados, Sinaloa, Nayarit, Jalisco, Colima, Michoacán e

Guerrero. A pesquisas exposta pelos autores foi desenvolvida no município de

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Coahuayana. Os autores relatam que as investigações arqueológicas na região ainda

são incipientes, da mesma forma, estudos relacionados ao meio físico (RAMÍREZ et

al., 2010, p. 111).

A pesquisa integrou os elementos da paisagem cultural – neste estudo

especificamente os sítios arqueológicos – e natural – e características do meio físico.

Uma ferramenta fundamental no processo foi o Sistema de Informações Geográfica –

SIG, as informações coletadas previamente, juntamente com os dados de campo

foram inseridas no sistema, com a informação integrada no SIG analisou-se

espacialmente as particularidades dos elementos que compunham a paisagem

(RAMÍREZ et al., 2010, p. 113).

Ramírez et al (2010) desenvolveram a pesquisa em quatro sítios, as

características serão descritas a seguir: sítio San Juan de Lima, datado entre os anos

900 – 1200 d. C., basicamente é composto por fundações de habitações, cerâmica,

material construtivo e artefatos utilitários; sítio El Ciruelo, datado entre os anos 400 –

900 d. C., o maior dentre os sítios estudados, composto por estruturas de construção,

ruínas de praças, muros, cerâmica, conchas e artefatos utilitário, evidências indicam

que o sítio era usado para a produção e distribuição de sal; o sítio El Tigre, datado

entre os anos 300 – 900 d. C., com características são semelhantes aos anteriores

este sítio foi bastante depredado, segundo os autores, trata-se de um local funeral.

Sepultamentos perturbados para saquear artefatos pertencente ao mobiliário

funerário - objetos ritualísticos ligados ao funeral. Havia ossos em superfície, ponta de

projétil, artefatos utilitários e adereços ornamentais; sítio Rancho Ibarra, bastante

conservado, datado entre os anos 600 e 1200 d. C., formando por montículos artificiais

remanescentes de habitação. Além disso, foi observado a presença de material

cerâmico, conchas, um instrumento musical feito em ossos, entre outros.

Os autores também chamam a atenção para processos naturais e

antrópicos de destruição do sítio. Além de terremotos, furacões, inundações fluviais,

ainda saqueadores destroem sítios em busca que artefatos que possam ser

comercializados (RAMÍREZ et al., 2010, p. 118).

Com base nas análises promovidas a partir da coleta de dados e nas

informações integradas da composição da paisagem natural e cultural, os autores

classificaram a área de estudo em 4 categorias de paisagem distintas, os sítios

arqueológicos integraram a essas categorias. O cruzamento das informações baseou

essa compartimentação, indicando o potencial de conservação dos espaços. Os

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resultados obtidos foram: primeira categoria paisagem com grande potencial para a

conservação da diversidade sociocultural; a segunda conservação da

excepcionalidade da paisagem e com importante sítio arqueológico; terceira,

conservação da biodiversidade; quarta, conservação de um importante sítio

arqueológico (RAMÍREZ et al., 2010, p. 116). Por fim, Ramírez et al (2010, p. 118)

reforçam que o conceito de gestão dos recursos, amplamente difundido em estudos

ambientais e ecológicos, pode ser ajustar-se para o patrimônio geobiocultural.

Na costa de Michoacán elementos com a geografia, ecologia, sítios

arqueológicos, geobiodiversidade e a cultura das populações atuais formam o

conjunto paisagístico, constituindo sua originalidade na paisagem, desta forma

justifica a importância de analisa-la integrada. Os autores concluem que a proposta

de conservação do patrimônio da região deve ser holística, considerando indissociável

a relação da paisagem e formação histórica do local (RAMÍREZ et al., 2010, p. 118).

Villalobos (2014) disserta sobre as implicações da criação de identidade

nacional no México, destaca que não há uma cultura única capaz de representar todo

um território nação e quando isso acontece outras culturas são postas a margem.

Muitas vezes sítios arqueológicos à primeira vista nem sempre são atrativos aos olhos

do turista, isso dá-se devido ao interesse inicial do visitante por artefatos de

civilizações que passaram por um processo de promoção ou sítios arqueológicos

monumentais. Esses elementos foram postos em evidência através de artifícios

promocionais, e de alguma forma são vistos como representativos da cultura de uma

nação. Quando elementos de uma cultura material são nomeados representativos de

uma nação, uma infinidade de outros sítios, tão representativos quanto os eleitos, são

relegados da cultura nacional. Villalobos (2014, p. 217) destaca que “la ideología

nacional está relacionada con intereses particulares, la mayoría de las veces

centralizados”. No que tange o patrimônio representativo de uma cultura nacional é

algo preocupante, pois de acordo com Villalobos (2014, p. 217) uma identidade que

representa toda a nação, eleita através de ideologia nacionalista, em grande parte das

vezes, significa a negação do restante das representações, inclusive das culturas que

compõe atualmente o país. Essa discussão de elementos eleitos representativos de

uma pátria pelo nacionalismo torna-se importante, visto que, o turismo em muitos

casos apropria-se do valor intrínseco desses elementos. Para Villalobos (2014, p. 217)

o nacionalismo, turismo e arqueologia estabeleceram uma relação reciproca e

constituíram o patrimônio pré-hispânico como um elemento essencial, faz ainda, uma

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crítica a relação desigual com outros sítios relacionados a culturas enfatizadas pelo

nacionalismo.

Quintana Roo foi uma região ocupada por grupos da cultural Maia, com

sítios que datam entre 564 a 1400 d.C., atualmente uma região turística bastante

visitada no México. Além de um patrimônio cultural significativo, a região possui um

patrimônio natural disputado, localizada na costa do mar do caribe, o segmento de sol

e mar é bastante desenvolvido. Na região treze sítios arqueológicos são abertos à

visitação, e a gestão é realizada pelo INAH. Seus elementos culturais são

constantemente utilizados pelo estado para na divulgação turística do local, os sítios

são compostos de estruturas monumentais (VILLALOBOS, 2014, p. 226).

No golfo da Califórnia, Sonora é um destino bastante recorrente para

estadunidenses, principalmente devido sua proximidade com o seu país. Possuiu uma

gama variada de segmentos turísticos, além de sol e mar, campos de golfe,

ecoturismo, pesca esportiva, entre outros.

Na região encontra-se registrados aproximadamente 3 mil sítios

arqueológicos, filiados a diferentes culturas, um número bastante expressivo,

entretanto, apenas um é aberto ao público. Dentre os grupos ocupantes do espaço

está a cultura trincheira, que ocupara a região no período entre 200 a 1450 d.C., o

sítio aberto ao público são vestígios desses grupos. Para Villalobos (2014, p. 227)

esses grupos possuíam um sistema complexo de troca de locais, preservam muitas

características, porém se percebe uma variabilidade regional. Aproveitavam as

dimensões naturais para se estabeleceram, com isso, se percebe uma criação cultural

de paisagem monumental.

Fazendo uma análise das imagens impressas em notas de moedas de

diferentes períodos, observou a inserção se elementos culturais nas faces do dinheiro.

Em particular duas notas representando a regiões estudadas foram examinadas. Uma

nota representando a região de Quintana Roo estampava a imagem de um sítio

arqueológico regional, em contrapartida, a nota que representava a região Sonora não

representava elementos que remetesse ao seu patrimônio arqueológico pouco

monumental. Outras publicações relacionadas, a promoção das regiões também

foram observas, os resultados foram semelhantes (VILLALOBOS, 2014).

Villalobos (2014, p. 242) avalia que no México a arqueologia, nacionalismo

e turismo estabeleceram relações reciprocas para com seu legado cultural. Onde

segundo o autor, se criou um panteão mítico ligados a culturas com bastante

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destaque, civilizações que deixaram um patrimônio cultural monumental. A promoção

do turismo estabelece uma relação desigual com o seu patrimônio nacional.

O estudo realizado por Villalobos (2014, p. 243) critica as políticas

nacionalistas, a medida que esta busca criar uma identidade nacional, valoriza certas

culturas como representativa, com uma visa homogeneizadora elimina a diversidade.

Cita o caso de Sonora onde percebe um certo sentimento não haver arqueologia na

região, isso se reflete através das políticas nacionalista. Essa desvalorização de sítios

carentes de vestígios monumentais, tem colocado em risco o patrimônio arqueológico

mexicano. Aliado a essa falta de identidade Sugiuro e Neito (2014) discutem sobre as

dificuldades de preservar sítios arqueológicos não monumentais.

Sugiura e Nieto (2014) apresentam uma reflexão sobre a preservação dos

sítios arqueológicos de pequeno porte no Estado do México. Esse patrimônio cultural

é constantemente ameaçado pelo desenvolvimento desordenado, onde ausência de

ações para salvaguardar direcionada a esse tipo de sítio arqueológico tem colocado

em risco sua integridade.

De acordo com os autores, o México vem passando por significativas

mudanças nos últimos 50 anos, ocasionada pelo acelerado processo de urbanização

e industrialização. Ocasionado expressivas mudanças na paisagem natural e cultural.

Processos migratório tem causado o abandono de áreas historicamente cultiváveis, e

ainda, motivando o deslocamento populacional para centro urbanos, acarretando em

adensamentos demográficos conturbados. Indiretamente esses processos têm

causado a perda de identidade com o patrimônio local. O surgimento de conjuntos

habitacionais, complexos industriais e infraestruturas urbanísticas, acarretado na

destruição de sítios arqueológicos inéditos e outros já cadastrados. Os autores

advertem que, se o desenvolvimento desordenado não for desacelerado a integridade

do patrimônio arqueológico corre grande risco, inclusive impossibilitando responder

lacunas sobre o passado histórico pré-hispânico do México (SUGIURA; NIETO, 2014,

p. 76).

Tratando-se de sítios de menor escala as questões de preservação se

amplificam. Sugiura e Nieto (2014, p. 77) relatam o caso da região do Alto Lerma,

onde desenvolveram pesquisas nas últimas quatro décadas, e perceberam as

constantes ameaças aos sítios de pequeno porte. Tratam-se de sítios com vestígios

habitações, que normalmente não possuem estruturas monumentais, como as

extraordinárias estruturas encontradas nos sítios de Chichen Itzá y Teotihuacan.

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Desse forma, são mais vulneráveis e susceptível a destruição pelo crescimento

desordenado (SUGIURA; NIETO, 2014, p. 77).

Embora modesto do ponto de vista de estrutural, e despertando pouco o

interesse para a população leiga ou visitantes, esses sítios fornecem importantes

informações sobre o cotidiano desses povos pré-hispânicos. Pesquisas arqueológicas

desenvolvidas nesses sítios podem suscitar descobertas capazes de preencher

lacunas na história acerca desses povos.

Pesquisas arqueológicas nesse tipo de sítio podem fornecer através de

suas evidências, perspectivas mais equilibradas e robustas sobre o passado. Um

passo fundamente destacado seria o registro obrigatório e a descrição desses

patrimônios (SUGIURA; NIETO, 2014, p. 77).

Para os autores os próprios arqueólogos mesoamericanos se interessam

primeiramente por pesquisas e preservação de sítios monumentais, ainda que, estes

sejam resguardado legalmente, despertam o interesse do público geral, e utilizados

para os propósitos do turismo. Enquanto os sítios de menor escala, mas vulneráveis

a destruição, desaparecem com frequência, basicamente são estudados em projetos

de salvamentos e resgates arqueológicos (SUGIURA; NIETO, 2014, p. 78).

Muito semelhante a realidade brasileira, o órgão governamental

responsável pelo patrimônio arqueológico no México – o Instituto Nacional de

Antropologia e História INAH – carece de uma equipe técnica suficiente para

salvaguardar o patrimônio (SUGIURA; NIETO, 2014, p. 79).

Áreas próximas a Cidade do México têm experimentado fortes mudanças,

decorrentes do surgimento de novos núcleos urbano e industriais, e a expansão de

outros. Esse movimento tem impactando negativamente o espaço, principalmente

pela falta de planejamento, que poderia amenizar os efeitos nocivos para a paisagem

natural e cultural (SUGIURA; NIETO, 2014, p. 80).

Os sítios arqueológicos de pequeno porte são quantitativamente mais

números, dispersos na região formavam pequenas aldeias, datadas de pelo menos

3500 anos atrás. Embora, importantes do ponto de vista arqueológico, são bastante

vulneráveis e constantemente destruídos. Um agravante para essa situação é a falta

de ações de proteção nos níveis do governo estadual e municipais. Os próprios

organismos governamentais do estado muitas vezes desconsideram o potencial

arqueológico da região, em virtude disso, projetos de estudos ambientais são

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executados sem a avalição de impacto ao patrimônio cultural. Irreversivelmente o

patrimônio vem sendo arruinado (SUGIURA; NIETO, 2014).

Em Toluca, capital do Estado do México, o crescimento acelerado sem o

planejamento adequado para regiões com presença de sítios arqueológicos tem

produzido ações catastróficas, essa inércia frente a destruição do patrimônio tem

aniquilado uma série de sítios. Sugiura e Nieto (2014, p. 82) relatam a destruição de

aproximadamente cinquenta sítios no Vale de Toluca, sítios registrados por eles na

década de 1970.

Além dos fatores apontados, outra atividade que vem se intensificando e

agravando ainda mais a salvaguarda do patrimônio, é a extração mineral. A

exploração do barro e pedra polmes, utilizado como material de construção, movido a

desaparecimento se muitos sítios (SUGIURA; NIETO, 2014, p. 83).

Sugiura e Nieto (2014) relatam que há um ausência de uma legislação

estadual específica de cultura que torne possível a relação e a preservação de bens

reconhecidos como “Patrimônio nacional” pela legislação federal. Além disso, também

nas esferas municipais poderia elaborar instrumentos normativos para garantir a

integridade dos sítios.

Assim como, na população da região do Complexo Lagunar, no sul de

Santa Catarina – Brasil, persiste na região mexicana a preocupação de que, a

presença de sítios arqueológicos em suas propriedades implica em um empecilho

(SUGIURA; NIETO, 2014, p. 85).

Desconsiderando o patrimônio cultural como fundamental para o

desenvolvimento, os órgãos que liberam projetos permanecem desvinculação do setor

de cultura. A facilidade na concessão de licenças, sem um estudo para determinar se

haverá impacto ao patrimônio cultural, se traduz no resultado constante de destruição

de sítios arqueológicos milenares (SUGIURA; NIETO, 2014, p. 88).

O descaso com o patrimônio arqueológico de pequeno porte é bastante

recorrente nos municípios que integram o Estado do México. Além dos casos

supracitados, foram apontados outros, onde o crescimento de zonas urbanas e

industriais, exploração de jazidas de extração mineral, com o afã dos organismos

governamentais têm desintegração de sítios arqueológico. O planejamento

inapropriado, desconsiderando o patrimônio arqueológico, tem motivado o

desaparecimento de informações relevantes sobre parte do passado pré-hispânico,

infelizmente de forma irreversível (SUGIURA; NIETO, 2014).

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Como alternativa a situação, Sugiura e Nieto (2014) a partir do estudo de

caso de Santa Cruz Atizapán apresentam uma proposta para o registro e salvaguarda,

por meio da criação de uma base de dados para os sítios arqueológicos de pequena

escala. Com estudo cartográficos, bibliográficos, história oral, fotografias antigas e

imagens aéreas, levantamentos sistemáticos da área, quando possível escavação de

pequenas áreas que permita responder questões essenciais sobre a história do sítio.

Em Santa Cruz Atizapán foi realizado um minucioso levantamento foto aéreo do local,

com grande grau de detalhamento, pequenas alterações ocasionadas ao patrimônio

poderão ser observadas, seja ele de ordem natural ou antrópica. Métodos geofísicos

também foram aplicados, como gradiente magnético e resistividade elétrica e radar

de penetração, possibilitando imagear do subsolo. E ainda, amostragens sistemáticas

foram realizadas através de sondagens.

A estratégia adotada em Santa Cruz Atizapán foi considera por Sugiura e

Nieto (2014, p. 93) importante, por produzir resultados positivos na preservação dos

sítios integrantes a base de dados. A proposta é apresentada como alternativa frente

a passividade do poder público, que tem demostrado pouco interesse na preservação

do patrimônio arqueológico de pequena escala, inconsequentemente arruinado.

Chavarra (2012) apresenta o vínculo entre turismo e cultura a partir dos

parques arqueológicos da Guatemala. Dados governamentais indicam que esse país

possui mais de três mil sítios arqueológicos de período pré-colonial, que somados aos

sítios históricos, que envolvem casas, igrejas e monumentos do período colonial

ampliam o número de monumentos reconhecidos como patrimônio no país. Devido a

esse número significativo de sítios arqueológicos, apenas alguns estão sob a

vigilância do governo:

De la totalidad de sitios registrados hasta el momento, el Ministerio de Cultura y Deportes de Guatemala mantiene vigilancia en al menos 100 sitios arqueológicos de los cuales 29 tienen la categoría de parque por contar con la infraestructura básica para atender al turismo. Arqueológicamente Guatemala se divide en tres grandes zonas: Costa Sur, Tierras Altas y Tierras Bajas (CHAVARRA, 2012, p. 42)

Segundo Chavarra (2012) os parques arqueológicos são vistos como

importantes veículos de integração entre cultura e turismo, formando parte da

identidade nacional daquele país. Na perspectiva cultural esses parques se

caracterizam como símbolos de um passado histórico, ainda latente nas sociedades

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guatemaltecas. No âmbito do turismo, esses parques atraem milhares de pessoas de

diversas partes do mundo. O autor informa que “Según los datos del Instituto

Guatemalteco de Turismo, en 2011 el país recibió aproximadamente casi 2 millones

de visitantes extranjeros.” (CHIAVARRA, 2012, p. 44). Ainda na Guatemala Foppa

(2012) destaca o turismo arqueológico como um dos principais atrativos.

Carreño (2012) destaca a costa norte do Peru como destino turístico, em

contraponto ao turismo ostensivo ocorrido na costa sul onde milhares de visitantes

acessam anualmente Cuzco e Machu Pichu. O pesquisador confere essa ascensão

turística do norte do país, em função do boom arqueológico, que ocorreu em virtude

da descoberta da tumba del Señor de Sipán, antigo governante Mochica, encontrada

na Região Lambayeque e também do Projeto Huacas del Sol e de la Luna,

desenvolvido na região de Trujillo. Outros projetos e sítios arqueológicos também

contribuíram para essa procura turística como o Complejo Arqueológico el Brujo, el

Bosque de Pómac, el complejo Arqueológico de Túcume.

A caverna de Borbón, na República dominicana é um caso emblemático,

graças a uma forte mobilização um programa controverso de desenvolvimento do

turismo foi impedido de ser executado. Griffith e Griffith (2012, p. 523) destacam que

o turismo pode ser uma importante estratégia para o desenvolvimento econômico

local, atraindo novos postos de trabalho, contribuído para melhora das infraestrutura

e atraindo recursos para a comunidade local. Porém, muitas vezes para comunidade,

detentora de um importante patrimônio cultural é colocada margem, não sendo

beneficiada nem do ponto de vista econômico com a geração de renda para o local.

Portanto, deve um modelo de turismo beneficie a localidade e visando a sua

participação. Todavia, a concepção de um programa de turismo sem o apoio técnico

pode ser desastroso e colocar em risco o patrimônio cultural. (GRIFFITH; GRIFFITH,

2012, p. 523).

Griffith e Griffith (2012, p. 523) descrevem o caso da Cueva Borbón e Cueva

de las Maravillas, na República Dominicana. As cavernas estão localizadas em

lugares distintos, a Cueva Borbon fica em San Cristóbal e a Cueva de las Maravillas

em San Pedro. Trata-se de cavernas com pinturas rupestre – pinturas realizadas em

rocha - e petróglifos – representações realizadas por incisões na rocha, entre outros

vestígios testemunhos da ocupação humana pré-histórica. Sem a consulta de

especialista em patrimônio arqueológico, um programa para o desenvolvimento do

turismo pôs em risco o a integridade do sítio. Frente aos problemas detectados,

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buscam contorna-los através de iniciativas participativas, trabalhando com

stakeholders soluções para conservar e preservar o patrimônio frente ao avanço do

turismo desordenado.

Um programa de desenvolvimento do turismo foi fomentado em ambas as

cavernas, inclusive, com a participação de agentes governamentais da República

Dominicana. O programa apresentado não tinha respaldo de especializada da área,

tampouco, aceitação da população, solicitavam maior cuidado com a preservação do

patrimônio cultural e ecológica. Inicialmente o programa foi executado na Cuela de las

Maravillas, posteriormente seria implementado na Cueva Borbón.

O programa desenvolvido na Cueva de las Maravillas exemplificam uma

série de práticas e intervenções que não deveram ser desenvolvidas sob hipótese

alguma em sítios arqueológicos. Resultante de uma equipe sem a qualificação

adequada para realização de intervenção em patrimônio arqueológico. As

intervenções realizadas no local causaram danos diretos ao patrimônio, provocaram

outros indiretos, já identificados, e ainda, podendo acarretar no surgimento de outros

problemas.

A interferências realizadas para o desenvolvido da atividade turística no

local tem ameaçado a proteção não apenas do patrimônio cultural, mas também a

biodiversidade. Inúmeras críticas foram feitas por organismos especializados,

inclusive, devido as essas ingerências o reconhecimento do patrimônio por

organismos internacionais pode ser inviabilizar. Mesmo com todos os protestos, a

continuidade do programa na Cueva de las Maravillas não foi interrompida sendo

aberta para a atividade (GRIFFITH; GRIFFITH, 2012, p. 526).

Ações realizadas na área interna modificaram o ambiente, equipamentos

foram utilizados para nivelar o piso e ampliar os espaços. A poeira ocasionada pela

martele cobria as pinturas e para conte-la, a equipe cobriu-as com folhas plástica,

expondo as pinturas rupestres a uma nova ameaça. Com a instalação das folhas criou-

se uma microclima, a umidade do ar foi condensada, criando um ambiento propício a

umidade. Foram construídas calçadas e escadas de cimento, um sistema de

iluminação imprópria foi instalado, pondo em risco as pinturas e favorecendo o

surgimento de algas. Posteriormente a Cueva de la Maravilha, a Cueva Borbón um

plano de desenvolvimento semelhante foi iniciado. Porém, um movimento contrário ao

programa tomou corpo, com os flagrantes de perturbação de vestígios arqueológicos

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registrados e o apoio de organismos internacionais, o desenvolvimento do programa

foi abandonado (GRIFFITH; GRIFFITH, 2012).

Um estudo foi solicitado por agentes governamentais como alternativa a

gestão do turismo da Cueva Borbón, demandando uma proposta que estimulasse a

participação e construísse uma identidade com a população. Descreve que

inicialmente a população local reagem com indiferença ao patrimônio arqueológico

existente, ações educativas para a valorização do patrimônio são fundamentais. A

identidade com o patrimônio deve ser fomentada, mesmo que a cultura em questão

não tenha uma ligação ancestral com os grupos contemporâneos (GRIFFITH;

GRIFFITH, 2012, p. 524).

Frente as acontecimentos, Griffith e Griffith (2012) sugerem uma proposta

a ser desenvolvida na Cueva de Borbón. As discussões sobre as possibilidades para

o sítio arqueológico e o turismo foram iniciadas no ano 2009 com o diretor do Museo

del Hombre Dominicano.

A nova proposta apresentada primou pelo o envolvimento da população

local para o desenvolvimento. A população atual do território é descendente diretos

da cultura Taíno – grupo pré-histórico que ocuparam os sítios arqueológicos

estudados –, porém são pertencentes aquele espaço, e mesmo que tênue, há ligação

com o patrimônio em questão.

Logo, foi necessário saber qual interesse da população, frente ao

desenvolvimento do turismo na caverna, quais iniciativa consideravam importante. O

interesse era qualificar a população para a valorização do patrimônio, com indivíduos

capazes de divulgar sua própria história, inclusive desenvolvendo ferramentas para a

apresentação de sua história. O especialista desempenharia o papel de educador,

ensinando as formas de obtenção do conhecimento, ao mesmo tempo, aberto a novas

ideias passíveis de serem aplicadas ao contexto local (GRIFFITH; GRIFFITH, 2012,

p. 530).

A intenção é dotar a população de capacidade para desenvolver suas

próprias narrativa perante ao seu patrimônio. Essa aproximação estimula a proteção

do patrimônio, consideração as regras e regulamentos, a divulgação do patrimônio e

controlando abusos. A intenção é proporcionar aos indivíduos independência para o

desenvolvimento da atividade, sem a atuação paternalista de um especialista

(GRIFFITH; GRIFFITH, 2012, p. 531)

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Esse estudo de caso das Cuevas de la Maravillas e Cueva Borbón, na

República Dominicana, demonstrou inicialmente preocupação, devido a execução de

programas inapropriados para áreas com remanescentes arqueológicos. Ações

impositivos no desenvolvendo da atividade turística com pouca ou nenhuma

representação local, distanciam ainda mais comunidade local dos sítios

arqueológicos. Amplificando problemas já existentes com a identidade patrimonial,

principalmente em se tratando de patrimônio arqueológico não portadores da cultura

ancestral da população atual. Contudo, esses problemas podem ser revertidos com

programas de qualidade, que privilegiem a salvaguarda do patrimônio e o

envolvimento da comunidade local.

No Equador Endere e Zulaica (2015) retratam um estudo sobre o sítio

arqueológico Agua Blanca. Localizado na comunidade de Agua Blanca, Cantão de

Puerto Lopez na província de Manabi, integrado ao Parque Nacional de Machalilla. A

comunidade de Agua Blanca é a atração mais popular do parque, com sítio

arqueológico, museu e um lago de água sulforosa com propriedades medicinais.

O sítio arqueológico constitui-se de várias estruturas de fundações em

rocha, remanescentes atribuídos aos grupos das culturas Valdivia, Machalilla,

Chorrera, Bahía, Guangala e Manteña. Apenas parte o sítio pode ser visitado, nas

trilhas a informações sobre o patrimônio, em alguns locais com estruturas de

arqueológicas mais extensas foram instaladas construídas infraestruturas de proteção

para o sítio. O museu expõe matérias cerâmicos, líticos, ósseos, entre dentre outras,

que representa o contexto arqueológico da do local. As peças que compõe a mostra

são provenientes de escavações arqueológicas do local, também houve o relato de

um artefato arqueológico doado por um morador da comunidade. Motivado pela

iniciativa musealização da história do sítio, entregou um banco esculpido em pedra,

este deu origem a identidade visual do local (ENDERE; ZULAICA, 2015, p. 262–263).

A Constituição Equatoriana de 2008 estabelece as Regras para o Bem

Viver ou sumak kawsay19. O Bem Vivier é entendido pelas autoras como “as a

platform, a common space where different ontologies can coexist and from where to

build the interculturality that aims at generating alternatives to development”

(ENDERE; ZULAICA, 2015, p. 259).

19 Termo em Quechua, língua indígena sul americana.

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A pesquisa desenvolvida por Endere e Zulaica (2015, p. 260) analisa o caso

de Agua Blanca a partir das políticas e orientações do Plano Nacional para o Bem

Viver20 2013-2017. O Plano está organizado em três áreas: I – Mudança da relação

de poder para a construção de um poder popular; II – Direitos, liberdade e capacidades

para o Bem Viver; II – Transformação econômica para a mudança da matriz produtiva

(ENDERE; ZULAICA, 2015, p. 260).

A proposta foi definir os aspectos que devem ser considerados na avaliação

da sustentabilidade sociocultural do sítio arqueológico do Centro Comunitário de

Turismo de Agua Blanca e analisar a sustentabilidade das políticas e orientações do

plano Bem Viver 2013-2017 (ENDERE; ZULAICA, 2015, p. 260).

A escolha desse sítio ocorreu em virtude de se tratar de um caso de

referência nacional, onde a comunidade nativa esteve engajada na preservação do

patrimônio, inclusive justificando a presença deste em um parque nacional (ENDERE;

ZULAICA, 2015, p. 260).

As pesquisas arqueológicas indicam que a ocupação do sítio ocorreu entre

os anos de 800 a 1532, período em que colonizadores espanhóis ao território. O

contexto das evidências arqueológicas descobertos pelas pesquisas arqueológicas

concluíram que o local foi densamente ocupado em seu apogeu, possuía uma

organização social hierarquizada e com um poder religioso presente. Vivendo seu

declínio no século XVI, início da ocupação espanhola (ENDERE; ZULAICA, 2015, p.

265).

No século XIX é despertado o interesse pela área, a partir disso a área foi

tomada, tornou-se propriedade de diferentes donos. No ano de 1979 o Parque

Nacional foi criando, devido ao modo de vida da população, que vivia da exploração

dos recursos naturais, o futuro da comunidade foi ameaçado. A comunidade

protestou, afirmando que a comunidade havia sido formada no ano de 1930,

reivindicando o direto de permanecer no local (ENDERE; ZULAICA, 2015, p. 265).

A partir de 1978 pesquisas arqueológicas são desenvolvidas no local. A

comunidade foi envolvida, qualificada pelos pesquisadores começaram a trabalhar

nas escavações arqueológicas, além de escavar, produziam desenhos de mapas

topográficos e atividades pós-escavação dos materiais (ENDERE; ZULAICA, 2015, p.

265).

20 Tradução do autor para National Plan for Good Living.

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Com a melhora da relação entre comunidade e autoridades do parque, a

pesquisa arqueológica potencializa a atração turística do Parque. Com o apoio

financeiro de instituições externas, o projeto arqueológico-turístico consolida-se, no

ano de 1990 foi aberto ao público o Museu Local da Comunidade de Agua Blanca (p.

267).

No ano de 2005, auxiliados por dados arqueológicos a comunidade foi

reconhecida como Pueblo Manta, grupos pré-hispânicos que habitava a região. A

pesquisa arqueológica desenvolvida ao longo dos anos contribuiu para reforçar os

laços culturais e a preservação in situ do patrimônio arqueológico, criando uma

relação de igualdade entre pesquisadores e a comunidade (p. 268).

Os aspectos definidos pelas autoras foram divididos em seis critério,

subdivididos em 25 indicadores. I – Características e estado: integridade;

preservação; vulnerabilidade / fragilidade; e real ou potencial valor para a pesquisa. II

– Gestão: organização e planejamento; interpretação; participação; acessibilidade ao

sítio; autogerenciamento; acesso a informação; manutenção; e projetos futuros. III –

Percepção: valor estético; valor tradicional; e valor simbólico. IV – Transmissão de

conhecimentos científicos e experiência: conhecimento e comunicação; ligação

institucional; e, educação e consciência. V – Apoio econômico: acessibilidade externa;

incorporação do patrimônio às cadeias de valor; e convergência das atividades. VI –

Proteção do meio ambiente: conhecimento do património natural; respeito pelo

património natural; conservação do património natural; e estabilidade do ambiente

natural (ENDERE; ZULAICA, 2015, p. 270).

O resultado da avaliação sociocultural desenvolvida por Endere e Zulaica

(2015, p. 278) maior parte dos pontos observados obtiveram alto grau de avaliação,

representando 64% dos indicadores, grau médio foram 32%, um indicador obteve

baixo grau. Esse resultado negativo foi obtido no critério de transmissão de

conhecimentos científicos e experiência, no indicador ligação institucional, devido a

fragilidade da relação com órgão de governamental de patrimônio pouco presente nas

ações desenvolvida no local.

Endere e Zulaica (2015, p. 279) consideram que, “the socio-cultural

sustainability of heritage sites reflecting the Good Living of the communities and their

evaluation through indicators is a useful starting point for reversing critical situations”.

O envolvimento da comunidade na pesquisa arqueológica e consequentemente a

identidade com o patrimônio foi fundamental para os resultados obtidos na avaliação.

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O autogerenciamento e autofinanciamento é um ponto forte em Agua Blanca. Para o

Bem Viver é necessária a flexibilidade que permita a autogestão sem comprometer a

autonomia da comunidade, porém o envolvimento governamental é importante. Esse

indicador não comprometeu a valorização e o desenvolvimento do turismo devido a

sua autossuficiência. Desta forma, as autoras acreditam que a avaliação poderá

contribuir para a melhora na sustentabilidade sociocultural do sítio, corroborando com

o Bem Viver (ENDERE; ZULAICA, 2015, p. 279).

Ayala (2015) traz um estudo sobre a pesquisa arqueológica de contrato

desenvolvida a partir do pensamento neoliberalista. O autor expõe essencialmente os

obstáculos encontrados pela pesquisa arqueológica, a sua desarticulação com a

população local e o turismo na Cidade de San Pedro de Atacama, localizada no norte

do Chile. Foi identificado a lógica neoliberal presente na prática e discurso de Estado

e da arqueologia.

O número de investigações arqueológicas tem aumentado

exponencialmente desde a promulgação da Lei do Ambiente, no ano de 1994, que

inclui a pesquisa arqueológica no estudo de impacto ambiental. Com a exigência da

investigação arqueológica criou-se uma grande demanda de trabalho para o Conselho

de Monumento Nacionais – CMN, atualmente se constitui na principal atividade no

Concelho (AYALA, 2015, p. 160). Muito semelhante, no Brasil, o Iphan – órgão que

congrega a gestão do patrimônio histórico e artístico nacional – teve um aumento na

demanda de estudos arqueológicos após exigências legais. Infelizmente a divisão

técnica do instituto não recebe grande atenção, possui um quadro de técnicos

bastante rotativo, a equipe técnica é contrata por um curto período, posteriormente é

substituída, e, nem sempre em um número suficiente para atender a demanda.

San Pedro de Atacama tem uma intensa atividade mineradora, para a

obtenção de licenças tem atraído muitos trabalhos de arqueologia de contrato. A

relação entre grupos étnicos da região e arqueólogos tem resultado em alguns

desentendimentos. Os profissionais de arqueologia que prestam serviços aos

empreendimentos evitam o envolvimento em certos temas, abstendo-se de

discussões políticas acerca dos impactos socioambientais da mineração e do turismo

na região. Destaca-se que está região também é um dos principais destinos turísticos

do Chile.

Frente ao forte avanço das atividades econômicas regionais, percebeu-se

que os resultados dos estudos arqueológicos poderiam contribuir para o atendimento

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de reivindicações de grupos tradicionais locais. O aumento de estudos sobre a

arqueologia na região contribuiu para reforçar a identidade da população,

subsidiando-os na reinvindicação de políticas para valorização da cultura local. O

desenvolvimento da mineração atraiu investimentos para o turismo na região,

inclusive, para o museu de arqueologia de San Jose de Atacama que foi revitalizado.

O avanço de pesquisas científicas na região resultou no primeiro Simpósio de

Arqueologia de Atacama, no ano de 1983, onde se discutiu a proteção e conservação

do patrimônio e sua relação com o turismo (AYALA, 2015, p. 163).

Com a promulgação da Lei Indígena – nome que ficou conhecida no Chile

– as populações tradicionais, de acordo com Ayala (2015, p. 164) passam a reivindicar

questões de seu interesse, não observadas anteriormente. Inicialmente surgem

animosidades entre grupos indígenas e arqueólogos de contrato. A principal crítica

atribuída aos pesquisadores era o desamparo na defesa dos povos indígenas atuais.

Através de reivindicações de populações atacamenhas, a comunidade local passa a

ser inseridas em projetos de desenvolvimento turístico e patrimonial. O

desenvolvimento da região possibilitou o retorno gradual da população indígenas para

suas comunidades de origem, a geração de renda motivada pelo turismo passa a

beneficia-los. Órgão governamentais passam a integrar os atacamenhos, envolvendo-

os iniciativas e projetos relacionados ao patrimônio e a gestão do turismo em sítios

arqueológicos. Ayala (2015, p. 165) afirma que, “neste contexto, a arqueologia em

Atacama ativou seu lado patrimonial para trabalhar com agentes do Estado e

indígenas na incorporação de sítios arqueológicos para o mercado turístico”.

Um fato interessante a ser destacado no caso de San José do Atacama foi

benefício atraído através do crescimento econômico, intensificando as pesquisas

arqueológicas desenvolvidas na região, que, em contrapartida possibilitou a formação

da população local para o patrimônio cultural. A arqueologia de contrato tem

contribuído para o alcance de exigências dos atacamenhos, subsidiando-os na

resistência de projetos desenvolvimentista de impacto negativo para região (AYALA,

2015, p. 167).

Por intermédio do turismo arqueológico surgem novas possibilidades de

proteção do patrimônio e a da cultura local, as populações tradicionais passam a

envolver-se em atividades e assuntos que interferem na região, participam na

avaliação de projetos e resolução de conflitos. Com a transformação do patrimônio

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em atrativo turístico e consequentemente sua valorização econômica, os sítios

arqueológicos são percebidos como um legado a ser preservado. Ayala (2015, p. 170)

enfatiza que os grupos indígenas da região de San Jose de Atacama “através da

patrimonialização, questionam ao Estado multicultural a partir de dentro e participam

nas novas lutas para a definição, classificação e apropriação de seu patrimônio”.

O caso chileno demonstra a importância do envolvimento da população

local na pesquisa arqueológica, consequentemente na tomada de decisão a respeito

do patrimônio local. A valorização econômica através do desenvolvimento do turismo

responsável, pode se converter na salvaguarda de sítios arqueológicos. A atividade

turística produziu um destaque ao patrimônio arqueológico local, consequentemente

trouxe benefícios populações autóctones, com a geração de renda propiciou a

redução do êxodo e manutenção da cultura local.

Nos Estados Unidos um estudo sobre o caso do Parque Nacional Mesa

Verde é descrito por Walls e Longo (2005). Mesa Verde é um parque arqueológico

localizado no Colorado, Estados Unidos. No local são cadastrados vários sítios

arqueológico dos ancestrais do Povo Pueblo, povos indígenas originários da região.

Muitos desses sítios são abertos à visitação, porém o número de visitantes vem caindo

com o passar do tempo. Com a organização da celebração do centenário do parque

a Associação Museu Parque Mesa Verde esperava alavancar o número de visitantes.

O Parque Mesa Verde tem uma área de aproximadamente 21.000 ha, com

mais de 4.400 sítios arqueológicos, dos quais cerca de 35 são passiveis de visitação.

Segundo Walls e Longo (2005, p. 16) “reconhecido como Patrimônio Cultural Mundial,

o Parque Nacional de Mesa Verde é indiscutivelmente o parque arqueológico premier

nos Estados Unidos”. O visitante além dos sítios arqueológico, tem contato com um

ambiente natural no parque, com fauna e flora exuberante. As visitas são guiadas por

guardas-florestais no local.

O diretor executivo da Associação Museu Parque Mesa Verde, Tracy

Chavis tinha um desafio: esperava mudar a realidade do Mesa Verde. Basicamente

ele pretendia se utilizar do evento como forma de promover o parque. Sua expectativa

era que o desenvolvimento de um plano de marketing poderia incluir a celebração do

centenário como forma de estimular o interesse das pessoas pelo parque, que

começaria com a celebração do centenário. A Associação Museu Parque Mesa Verde

é uma instituição de sem fins lucrativos e tudo que é arrecadado retorna ao parque.

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A queda no número de visitantes não foi exclusiva deste parque nos

Estados Unidos, os autores destacam que o Grand Canyon também seguiu a mesma

tendência. Fatores como o dólar forte, o preço dos combustíveis, ataques terroristas

foram nominados como possíveis causas desse efeito. Com recorrência na região o

parque é atingido pelo fogo. Os funcionários do parque atribuíram como principal fator

na queda os incêndios na área do parque, no ano 2000, foi registrado um período de

incêndio e posteriormente uma queda no número de visitantes. A baixa quantidade de

visitas consequentemente reduziu a arrecadação, agravando a situação do parque,

visto que, a principal fonte renda era a venda de entradas.

4.3 TURISMO E GESTÃO DO PATRIMÔNIO NO BRASIL

Veloso e Calvacante (2007) trazem o caso da Fundação Casa Grande –

Memorial Homem do Kariri, na cidade de Nova Olinda – CE. O turismo arqueológico

está sendo desenvolvido numa perspectiva bastante inclusiva com a comunidade

local. A Fundação desenvolve um projeto para aperfeiçoar jovens e adultos da região

em gestão cultural, através de ações educativas em museologia e arqueologia. Os

integrantes aprendem a recepcionar e conduzir visitantes interessados em conhecer

o patrimônio arqueológico regional. Um sítio arqueológico foi musealizado in situ, o

visitante tem a possibilidade de conhecer e compreender mais sobre a ocupação do

local. Um sistema de hospedagem domiciliar foi organizado através de uma

cooperativa própria, gerando emprego e renda para as famílias. Os autores

consideram que a região possui grande potencial para o turismo arqueológico.

No Estado do Rio de janeiro um projeto foi desenvolvido com o apoio de

arqueólogos que aturavam no município de Saquarema. Trata-se do Museu Sítio

Arqueológico Praça do Sambaqui da Beirada. Como forma de aproximar a população

do patrimônio arqueológico regional, foi criada a Praça do Sambaqui da Beirada,

atualmente um local de visitação, a iniciativa desenvolvida pelos pesquisadores teve

o interesse de buscar o apoio da população para preservação e proteção do

patrimônio local. O museu de arqueologia ao ar livre, é um sambaqui, possuiu uma

área de 7000 m2, expõe in loco os vestígios arqueológicos deixados por grupos

pescadores-caçadores-coletores. No local o visitante pode visualizar dentre outras

evidências, sepultamentos humanos praticados pelos grupos pré-históricos. Dentre as

estratégias adotada para o desenvolvimento da atividade no local podemos pontuar:

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desenvolvimento da pesquisa arqueológica, apresentação dos vestígios in situ com

forma de apresentar a cultura aos visitantes, cercamento do local e proteção dos

vestígios evidenciados, área expositiva, educação patrimonial para a comunidade

local, desenvolvimento de um plano de manejo, implantação de infraestrutura de apoio

para os visitantes. Essas estratégias foram adotadas a fim de contribuir para a

proteção do patrimônio arqueológico local (VELOSO; CAVALCANTI, 2007, p. 161).

Um caso bastante emblemático no Brasil, é o Parque Nacional da Serra da

Capivara. Uma unidade de conservação criada a partir da solicitação ao governo

federal pela equipe de cooperação científica franco-brasileira no ano de 1979.

Buscavam com essa alternativa aumentar o poder protetivo aos sítios arqueológicos

região, ameaçados constantemente por ocupações irregulares e o desmatamento

contínuo. O parque intercepta a área de quatro municípios, São Raimundo Nonato,

João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias, no Estado do Piauí. Possui 129.140

ha, em sua área foram cadastrados mais de 1000 sítios arqueológicos, destes, 700

sítios de arte rupestre, além de aldeias ou acampamentos ligados aos grupos

caçadores coletores, aldeias ceramistas, ocupações de abrigos e grutas, sítios

funerários e sítios-paleontológicos (GUIDON, 2007; BUCO, 2012).

Pesquisas arqueológicas são realizadas na região desde a década de

1960. Através de cooperações nacionais e internacionais investigações e a

conservação do patrimônio arqueológico vem sendo desenvolvida na região. Devido

a importância de seus sítios arqueológicos, o parque foi inscrito pela Unesco na lista

do Patrimônio Cultural Mundial, no ano de 1991. A nível nacional o registro no livro do

Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico como Patrimônio Nacional é

realizado no ano de 1993 pelo Iphan (GUIDON, 2007; VELOSO; CAVALCANTI, 2007;

BUCO, 2012)

A gestão do parque é realizada entre a parceria de um órgão

governamental o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis – Ibama e a Fundação Museu do Homem Americano – Fumdham, esta

última, uma organização da sociedade civil de interesse público, com sede em São

Raimundo Nonato. Por sua vez, a Fumdham mantém uma parceria com o Iphan para

a questões referentes a conservação e defesa do patrimônio arqueológico regional

(GUIDON, 2007, p. 75).

Para além de uma unidade de conservação a Serra da Capivara é

fundamentalmente um parque arqueológico. Estabelece em seu plano de manejo a

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necessidade de preservar e manter o equilíbrio ecológico, tendo em vista, o

restabelecimento das relações harmoniosa entre patrimônio cultural, meio-ambiente e

população local (BUCO, 2012, p. 93). Segundo Guidon (2007, p. 87) desde o princípio

pensou-se criar uma estrutura que fosse autossustentável. Por meio de auxílio de

instituições internacionais, foram realizados estudos com o propósito de identificar

atividades econômicas viáveis para a região. O turismo foi apontado pelo estudo

técnico como única possibilidade de atingir o desenvolvimento regional de forma

ampla, aliando benefício as comunidades locais e a preservação do patrimônio.

Uma série de infraestruturas foram planejadas para permitir a visitação aos

sítios arqueológicos existentes no parque, comportando estruturas de acesso,

informativa e proteção ao patrimônio cultural. As visitas são guiadas por trilhas com

diferentes graus de dificuldade, alguns sítios adequados, permitindo o acesso de

pessoas com dificuldade de locomoção. O deslocamento dentro do parque pode ser

feito de carro, áreas de estacionamentos foram instalada no percurso, alguns sítios

estão próximos a estrada, outros é necessário seguir trilhas abertas na vegetação. O

parque conta com uma excelente base de recepção e apoio ao visitante. Buco (2012,

p. 100) reforça que, “a visitação permanente tem demostrando que a movimentação

de pessoas, guardas, visitantes, guias, inibe a entrada de pessoas mal intencionadas”.

A sede da Fumdham fica localizada no município de São Raimundo

Nonato, conta com Museu do Homem Americano, Centro Cultural Sérgio Motta,

biblioteca, laboratórios técnicos e reserva técnica. O museu reúne informações e o

acervo dos vestígios arqueológicos encontrados nas pesquisas desenvolvidas em

quase quatro décadas. (BUCO, 2012, p. 95).

Referente a conservação dos sítios existentes no parque, técnicos foram

qualificados para aturarem salvaguardando o patrimônio de ameaças. Assim que

identificadas os riscos, um diagnóstico é realizado, a partir disso, são definidas as

ações a serem tomadas, posteriormente há o monitoramento para evitar a

reincidência. Essa ameaças pode ser da ordem, natural – animais, vegetais, climática,

entre outras – ou antrópicas. A presença desses profissionais é essencial para a

manutenção da conservação e readequação da gestão frente a agentes perturbadores

(BUCO, 2012).

Durante a fase de implementação das trilhas para a visitação turística foram

realizados estudos prévios da topografia, pedologia e florísticos, a fim de estabelecer

os melhores trajetos. A partir disso, determinou-se os locais e os materiais adequados

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97

para cada espaço. Os trabalhos de implementação das infraestruturas foram

acompanhados por arqueólogos, a fim de evitar possíveis danos ocasionado pelas

obras (BUCO, 2012, p. 97).

Vislumbrando a região como um polo turístico percebeu-se a necessidade

de qualificar a população, inclusive a educação básica considerada inexistente nas

comunidades circunvizinhas ao parque. Os primeiros anos teve um intenso trabalho

voltado para a formação básica, qualificação de professores, 5 escolas foram

construídas nos arredores do parque, 1000 mil crianças eram atendidas em período

integral. Com a impossibilidade da Fumdham manter o programa, ficou a cargo das

prefeituras municipais a continuidade, o processo de qualificação desenvolvido nos

últimos 11 anos é interrompendo, das 5 escolas, 4 estão fechadas (GUIDON, 2007).

Atualmente são desenvolvidas atividades educativa, porém o número de

envolvidos reduziu drasticamente, são 170 crianças e 40 adolescentes, no Centro de

Artes de São Raimundo Nonato. São desenvolvidas atividades de arte, música,

desenho, pintura, arte em argila e sementes e capoeira. Essa ações são realizadas

pelo programa Pró-arte, que propões a integração artística e social com o meio

ambiente, objetivando estabelecer a identidade com a população (BUCO, 2012, p.

98). Na região até o ano de 2007 foram qualificados 40 jovens, aptos a trabalharem

como técnicos nas escavações, prospecções arqueológicas, conservação de sítios e

estudos em laboratório. A Fumdham assegura também a formação dos guias de

turismo que atuam no parque (GUIDON, 2007).

Veloso e Cavalcante (2007) identificaram as seguintes estratégias de

gestão no parque: criação da Fumdhan; parcerias entre Fumdhan e Ibama; parcerias

e convênios internacionais; desenvolvimento de estruturas para a visitação pública,

museu, centro de visitantes, entre outras; estruturas de segurança; circuitos de

visitação devidamente sinalizados; acessibilidade aos sítios; espaço para realização

de eventos; serviço de guias locais; planos estratégicos para médio e longo prazo;

programas de preservação e desenvolvimento econômico e social voltados para a

comunidade.

O Parque Nacional da Capivara é o resultado da ação persistente de

pesquisadores que atuam na região, principalmente, Niédi Guidon. A pesquisadora

luta há anos pela preservação dos sítios e o desenvolvimento do turismo como forma

de atrair mais renda. A região carece de infraestruturas viárias e de transporte. Dessa

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98

forma, sem o envolvimento efetivo do poder público no desenvolvimento regional, tem

advertindo que o patrimônio corre grande risco.

No Estado de Santa Catarina Chamas e Schmidt (2011) descrevem o

estudo de caso do desenvolvimento da atividade turística na Ilha do Campeche. A

pesquisa apresenta a gestão o da Ilha e consequentemente como se desenvolveu

turismo no local e sua forma de organização.

Localizada no Município de Florianópolis, além de um patrimônio natural a

paisagem constituísse também por um conjunto de sítios arqueológicos, formando um

patrimônio cultural significativo. A Ilha do Campeche fica a 1,4 km da Praia do

Campeche na costa sudeste da Ilha de Santa Catarina.

A paisagem natural é composta por uma vegetação de restinga e pioneira

de costão rochoso, não há registro de cursos d’água perene, basicamente os cursos

aparecem depois do período da chuva e logo secam. Com exceção da praia que mede

aproximadamente 400 metros de extensão, toda a Ilha é circundada por um costão

rochoso de diabásio e granito, onde ocorrem diversos petróglifos e polidores, vestígios

arqueológicos testemunhos de grupos pré-históricos que estiveram no local.

Pensando a ocupação regional pré-colonial, os primeiros grupos humanos

são registrados há 5.020 anos atrás, denominados por pesquisadores como,

pescadores-caçadores-coletores, os construtores de sambaquis. Por volta 1.300 anos

atrás, são registrados a presença de grupos pertencentes ao tronco-linguístico Marco-

Jês na região, grupos ceramistas portadores da tradição tecnológica de produção

cerâmica Itararé. Mais recente, acerca de 910 anos atrás, ceramistas portadores da

tradição tecnológica tupiguarani, grupo pertencentes ao tronco linguístico Tupi,

chegam a região num período mais aproximado com a data da chegada dos

colonizadores. Dentre os grupos apresentados, apenas os dois últimos tiveram o

contado com os colonizadores (CHAMAS, 2008). De acordo com as informações do

CNSA, as evidências deixadas por ocupação pré-históricas na Ilha são pedroglifos –

representações rupestres feitas a partir de incisões na rocha –, oficinas líticas – áreas

de produção artefatual – e um sítio sambaqui.

Há registro um sítio histórico, segundo o cadastro, uma armação baleira,

uma construção do século XVIII, localizada junto a praia. Ruínas das edificações

podem ser encontradas na praia, por estarem em um ambiente altamente dinâmico,

com a deposição e retirada de sedimento pelas marés e a movimentação eólica em

algumas temporadas ficam mais aparentes ou são ocultadas. Chamas (2008, p. 51)

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99

descreve que edificações era utilizadas para basicamente para armazenar óleo de

baleia, outros testemunho da atividade na Ilha são ossos de baleia avistados na praia

em épocas de ressacas, houve relato que em uma grande ressaca foram expostos

dezenas de crânios de baleia.

Com o declínio da armação a Ilha é essencialmente ocupada por

pescadores artesanais, atraídos diversidade e quantidade de peixes. Embora

permanecessem por longos períodos, essa ocupação era sazonal, construíam

algumas edificações, como ranchos de pesca favorecendo o desenvolvimento da

atividade no local, até meados do século XX. Também foi registrado áreas de cultivo

de alimentos de uso comum pelos pescadores utilizavam o local (CHAMAS, 2008).

No início da segunda metade do século XX novos ocupantes chegam ao

local, membros da associação do Clube de Caça, Pesca e Tiro Couto de Magalhães.

Nesse período houve uma disputa pelo uso e ocupação, o desfecho foi a saída dos

pescadores e a permanência do novo grupo. Novas estruturas foram construídas para

permitir a permanência do grupo na Ilha, também foram introduzidos animais

domésticos e ainda, fauna exótica para serem objetos de caça. Um exemplo disso são

o Quatis (Nasua nasua), sem um predador natural se multiplicam causando um

desequilibro no local (CHAMAS, 2008). A Couto Magalhães (atualmente denominada

Associação Couto de Magalhães de Preservação da Ilha do Campeche – Acompeche)

e Pesqueira Pioneira da Costa S/A possuem a ocupação formalizada (CHAMAS,

2008, p. 56).

A partir da década de 1950 a Ilha passou a ser utilizada para recreação e

lazer, com intensificação da atividade na década de 1980, havia uma preocupação

crescente com o conjunto de sítios arqueológicos presente no local. Com o vislumbre

do local como atrativo turístico a atividade ocorria sem planejamento e monitoramento

dos impactos ao meio. Visando proteção do patrimônio local buscou-se o registro da

Ilha no Iphan, como um patrimônio arqueológico e paisagístico natural nacional, esse

registro ocorreu somente ano 2000.

No ano de 1998 após denúncias encaminhadas ao Iphan evidenciavam o

mal-uso da Ilha, colocando em risco o patrimônio existente no local. Constatou-se que

o registro como patrimônio nacional seria uma forma de salvaguardar o patrimônio

existente na Ilha do Campeche, no ano 2000 a Ilha recebeu o reconhecimento. A partir

de então o Iphan, em companhia de outros órgãos públicos e os atores envolvidos

passa ordenar o uso e ocupação do local através de ações participativas, haviam

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100

muitos pontos de interesse conflituosos e essas tensões, precisaram e precisam ser

mediadas (CHAMAS; SCHMIDT, 2011).

O registro como patrimônio não impediu que os integrantes do Clube Couto

Magalhães continuassem exercendo suas atividades no local, uma vez que o direito

de uso da propriedade não é alterado. Contudo, foram criadas regras restritivas e até

mesmo impeditivas para atividades que colocasse em risco o meio ambiente e os

sítios arqueológicos. Foram realizadas ações de sensibilização e formação

profissional entre os grupos envolvidos para readequação a nova realidade

(CHAMAS; SCHMIDT, 2011, p. 235).

Chamas e Schimdt (2011) relatam o desenvolvimento da atividade turística

na perspectiva do ecoturismo, foram realização de seminários e reuniões

preparatórias a fim de organizar um sistema de gestão público-privada para o

estabelecimento de acordos para readequar o uso do espaço. Grupos da sociedade

civil ligados à Ilha do Campeche participam desta gestão, juntamente com o Iphan,

que é o representante governamental gestor, a Polícia Ambiental o órgão fiscalizador

e o Ministério Público Federal - MPF fiscaliza a aplicação da lei.

As trilhas utilizadas nas visitas foram adequadas a partir de caminhos

existentes, abertos por antigos usuários. Alguns trechos tiveram que ser interrompidos

para conter processos erosivos do terreno, outros receberam degraus e decks,

acompanhando a topografia do terreno. Visando garantir a integridade e reduzir os

impactos ao meio, um estudo de capacidade de carga foi realizados para determinar

o limite diário de pessoas na Ilha. Os autores avaliaram: Área disponível para

visitação; Fatores restritivos, como por exemplo infraestrutura suficiente;

Característica dos visitantes e tempo de permanência. Este estudo chegou ao

coeficiente máximo de 770 visitantes diários (CHAMAS; SCHMIDT, 2011).

A regulação de uso e gerenciamento da Ilha foram estabelecidas através

da portaria Iphan nº 621, de novembro de 2009. Esta portaria norteia o monitoramento

e apresenta o zoneamento da Ilha, determinado a partir da análise de diversos fatores,

prevendo a manutenção das construções e demais benfeitorias realizadas pelo Clube.

Quanto ao monitoramento foram estabelecidas duas linhas de atuação: “1 -

monitoramento sempre em articulação com trabalho de sensibilização, em casos mais

graves são necessárias sanções; e 2 - a produção de dados para avaliar a gestão do

processo e para a produção de estudos científicos” (CHAMAS; SCHMIDT, 2011, p.

236).

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101

A gestão da Ilha apresenta diversos aspectos positivos, entre eles destaca-

se o desenvolvimento de atividades educativas e qualificação de monitores para a

visitação guiada ao local, principalmente na alta temporada, entre novembro e março.

Anualmente é organizado um curso para os monitores da Ilha do

Campeche, aberto para a comunidade em geral. As aulas são práticas e teóricas,

totalizando uma carga horária de 89,5 horas/aula, divididas em 5 módulos: 1 -

Conservação; 2 – Uso público; 3 – Arqueologia e história; 4 – Ecologia e ambiente; 5-

profissionalismo e educação preventiva. Além de um módulo opcional com 22

horas/aula para a Mergulho livre. Parte dos alunos qualificados pelo curso são

integrados a equipe de monitores durante a temporada de verão.

Os monitores desenvolvem funções que vão desde o local de embarque de

visitantes para a Ilha, informações para os visitantes, controle de entrada de pessoas,

monitoramento, acompanhamento em trilhas, entre outras. Os circuitos de trilhas

terrestres têm uma duração aproxima de 1 hora, com diferentes graus de dificuldades,

com extensão de até 800 metros, são conduzidos grupos de até 16 pessoas,

acompanhados por dois monitores. Os atrativos das trilhas são os elementos culturais

e naturais que compõem a paisagem. As trilhas subaquáticas são desenvolvidas em

dois pontos da Ilha, um ao norte e outro a sul. As trilhas desenvolvidas com até 12

participantes, tendo uma proporção de 1 monitor para cada 4 visitantes, um barco leva

o grupo até o ponto e os aguarda até o enceramento da atividade (CHAMAS;

SCHMIDT, 2011).

Chamas e Schimdt (2011) reforçam que o sistema de monitoramento foi

sendo aperfeiçoado ao longo de 12 anos, inicialmente como base em reuniões e

seminários, inclusive pela equipe de monitores. Gradualmente, os relatórios foram se

tornando mais informativos, com dados numéricos referentes à visitação. Os conflitos

e pontos de tensões foram sendo resolvidos e amenizados. Antes mesmo do

embarque o visitante recebe informação sobre as atividades desenvolvidas e as

restrições estabelecidas. Todas as manhãs a equipe de gestão faz a avaliação e

informa aos agentes turísticos sobre as condições de visita para o dia.

Um conflito destacado na pesquisa são os dias em que as trilhas são

parcialmente ou totalmente fechadas, essas ações são necessárias principalmente

em dias de chuva e os dias subsequentes. Essa medida é necessária para permitir

que o solo seque, dessa forma, garantir a segurança do visitante e proteção do local.

Muitas vezes a transmissão de informações incorretas, aliadas a incompreensão

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gerava revolta entre os operadores. Como forma de amenizar o conflito com esses

atores, buscou-se sensibilizá-los sobre a fragilidade da Ilha por meio da realização de

seminários (CHAMAS; SCHMIDT, 2011, p. 238).

O período de maior procura para visitação é a temporada de verão,

conforme Chamas e Schimdt (2011, p. 239) a temporada que mais recebeu visitante

foi 2008/2009, o mês de maior procura é janeiro, seguido de fevereiro, março e

dezembro, os meses de baixa temporada não foram contabilizados.

O estudo de capacidade de carga da Ilha foi um ponto fundamental para a

preservação do patrimônio natural e cultural. O controle e monitoramento da atividade

turística e outros usos é realizado através de registros em relatórios, estes subsidiam

desde a determinação da equipe monitores necessários, até auxiliando na aplicação

de sanções para o mal-uso.

Como já mencionado, o ordenamento do uso da Ilha do Campeche ocorre

com a condução do governo federal e a participação da sociedade civil, e essa

composição tem garantindo a salvaguarda do patrimônio. Chamas e Schimdt (2011,

p. 241) destacam que houveram três elementos fundamentais: “conscientização

pública, estabelecimento de regulamento e monitoramento”21.

Tendo em vista o cenário brasileiro Veloso e Cavalcante (VELOSO;

CAVALCANTI, 2007) destacam que o turismo arqueológico vem ganhando espaço

nos últimos anos, embora pouco difundido no Brasil, o país deveria observar os casos

de sucesso e espelhar-se para estimular o crescimento. Os autores consideram ainda,

o turismo arqueológico pode ser fonte para o desenvolvimento socioeconômico e a

cidadania cultural para as comunidades receptoras.

O Brasil possui um grande potencial para o desenvolvimento do turismo

arqueológico, visto a quantidade e diversidade do patrimônio, apresentamos alguns

exemplos, estes não são únicos sítios arqueológicos passíveis de visitação no país.

Essa interação entre patrimônio arqueológico e o turismo deve ser antecedida por uma

organização meticulosa, com ações concretas que visem a salvaguarda desses bens

frágeis e não renováveis.

21 Tradução do autor para: public awareness, the establishment of regulations and monitoring.

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103

4.4 CONTRIBUIÇÕES PARA O MODELO

Através do levantamento de estudos em base de dados, foi possível

construir um modelo teórico. No Quadro 7 apresentamos as referências utilizadas para

a construção de cada categoria, e na sequência discutiremos algumas das principais

contribuições.

Quadro 7: Referencial utilizado para construção do modelo.

Categorias Subcategorias Referências

Reconhecimento

Levantamento arqueológico

Guidon (2007); Veloso e Cavalcanti (2007); Copeta e Giacomo (2010); Chamas e Schmidt (2011); Chavarría, (2012); Griffith e Griffith (2012); Villalobos, (2014); Shoup et al (2014); Sugiura e Nieto (2014); Ayala (2015); Endere e Zulaica (2015).

Capacidade de carga

Percepção da comunidade

Estudo de viabilidade turística

Políticas públicas

Registro do patrimônio Juárez (2002); Guidon, (2007); Chamas e Schmidt (2011); Buco (2012); Chivu (2013)

Legislação

Documentos de orientação

Iniciativas para valorização

Programas

Criação de rotas Juárez (2002); Veloso e Cavalcanti (2007); Guidon (2007); Ramírez et al (2010); Copeta e Giacomo (2010); Silveira et al (2011); Chamas e Schmidt (2011); Buco (2012); Chavarría (2012); Griffith; Griffith (2012); Chivu (2013); Villalobos (2014); Ayala (2015); Endere; Zulaica (2015)

Musealização

Manejo e conservação

Parcerias públicas e privadas

Captação de recursos

Pesquisa arqueológica

Marketing Plano de Marketing

Walls e Longo (2005); Copeta; Giacomo (2010); Chivu (2013); Shoup et al (2014)

Educação Patrimonial

Comunidade escolar Walls e Longo (2005); Guidon (2007); Veloso e Cavalcanti (2007); Ramírez et al (2010); Chamas e Schmidt (2011); Buco (2012); Chavarría (2012); Griffith e Griffith (2012); Ayala (2015); Endere e Zulaica (2015)

Comunidade geral

Trade turístico

Organismos governamental

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Monitoramento / Avaliação

Gestão de conflitos Juárez (2002); Ramírez et al (2010); Chamas e Schmidt (2011); Silveira et al (2011); Buco (2012); Sugiura e Nieto (2014)

Gestão de impactos

Gestão de informações

Fonte: Elaborado pelo autor.

Villalobos (2014), em seu estudo, evidencia a importância do

desenvolvimento de uma pesquisa arqueológica mais equânime, tendo em vista a

supervalorização dada a algumas tipologias de sítios arqueológicos, especialmente

os monumentais. Sítios imponentes integrados ao discurso ideológico nacionalista são

facilmente supervalorizados, e da mesma maneira foram e continuam sendo

apropriados pela atividade turística, enquanto a diversidade de sítios existentes,

muitas vezes, é desconsiderada, sendo os não monumentais relegados.

Sugiura e Nieto (2014) destacam que os próprios arqueólogos manifestam

mais interesse pelos sítios monumentais. Sítios arqueológicos com dimensões

menores, porém representativos, se tornam vulneráveis aos processos de destruição,

principalmente pelo desenvolvimento urbano. Sugiura e Nieto (2014) analisam a

realidade do patrimônio arqueológico mexicano, descrevem que sítios arqueológicos,

no país, muitas vezes são vistos como entrave ao desenvolvimento, o que é uma

realidade constatada no Brasil.

A distribuição de sítios de pequeno porte poderá inviabilizar o entendimento

sobre ocupação humana, impossibilitando que lacunas na pesquisa sejam

ultrapassadas. Conforme reforçaram Sugiura e Nieto (2014) e Villalobos (2014), o

levantamento arqueológico contribuirá para a compreensão da cronologia de

ocupação, diversidade e quantidade de sítios arqueológicos presente na área de

pesquisa, com isso espera-se que os demais sítios, não aproveitados pelo turismo,

sejam salvaguardados.

Estudos como o de Guidon (2007) e Chamas e Schmidt (2011) destacaram

a determinação da capacidade de carga como forma de possibilitar o uso turístico de

sítios arqueológicos e garantir a salvaguarda do patrimônio.

As comunidades circunvizinhas aos sítios arqueológicos poderão ser

importantes aliadas na proteção do patrimônio arqueológico, destacam Veloso e

Cavalcante (2007) e Ayala (2015), que observam essa interação. Ayala (2015)

demonstrou, em seu estudo, que inicialmente a comunidade não foi envolvida no

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desenvolvimento de atividades relacionadas ao patrimônio arqueológico. Havia,

segundo ele, certa antipatia entre os pesquisadores e a população local. Porém, a

comunidade começa a ser integrada em projetos de arqueologia e na gestão do

turismo, sendo beneficiada diretamente, com isso constatou-se um maior

envolvimento com o patrimônio local.

Em se tratando da viabilidade da atividade, o turismo concebido a partir de

um planejamento responsável poderá trazer uma série de benefícios. Conforme

Copeta e Giacome (2010) reforçam, o desenvolvimento econômico e sociocultural

pode ser viabilizado pela atividade, com isso beneficiando diretamente o patrimônio e

as comunidade locais.

Na Turquia, algumas medidas foram adotadas a fim de garantir a

otimização de geração de renda no país, com a terceirização das lojas de presentes.

Os produtos, obrigatoriamente, deveriam ser artesanatos de fabricação nacional e que

tivessem relação com o patrimônio visitado. Porém, o modelo de gestão do patrimônio

cultural adotado pelo governo turco, conforme exposto por Shoup et al (2014), foi

implantado de forma verticalizada, sendo criticado pelos autores pela baixa

participação popular e monopólio de serviços. A atividade turística envolvendo o

patrimônio cultural deverá ser concebida com a participação integrada da comunidade

local.

Um exemplo dessa integração da comunidade foi o caso apresentado por

Griffith e Griffith (2012), quando a população local teve um importante papel na

viabilização da atividade, sendo integrada à gestão do patrimônio e ao

desenvolvimento do turismo. A população foi qualificada, visando à valorização do

patrimônio e fortalecendo a identidade, tornando-o capaz de divulgar uma própria

história, sem a necessidade de uma atuação contínua de especialistas. Os problemas

identificados eram solucionados através de iniciativas participativas, trabalhando com

stakeholders, discutindo soluções para conservar e preservar o patrimônio, para

reverter o avanço do turismo desordenado.

No Equador, Endere e Zulaica (2015) expõem um modelo de

desenvolvimento com forte participação da população, no desenvolvimento da

atividade turística e na preservação do patrimônio. Esta realidade garantiu a

permanência da população no local, e ainda possibilitou o retorno de indivíduos que

partiram em busca de melhores condições de vida. As autoras destacam dois pontos

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106

fortes no modelo apresentado, o autogerenciamento e o autofinanciamento, que

permitiram a autonomia da comunidade.

Frente ao desenvolvimento da atividade turística, a proteção do patrimônio

arqueológico é primordial. Os estudos analisados indicaram a importância da

elaboração de políticas públicas para garantir a salvaguarda do patrimônio. Juárez

(2002), Guidon (2007), Chamas e Schmidt (2011), Buco (2012) e Chivu (2013)

desvelam que a utilização do legado arqueológico pela atividade turística poderá

valorizar o patrimônio, desde que: seja realizado o registro desses bens; que estes

possam contar com uma legislação e documentos que orientem o uso, considerando

suas especificidades; e ainda, sejam desenvolvidas iniciativas para sua valorização.

A musealização do patrimônio para visitação é de fundamental importância,

tanto para deixá-lo mais atrativo, quanto para protegê-lo de eventuais danos. Guidon

(2007), Chamas e Schmidt (2011), Buco (2012) e Endere e Zulaica (2015) apresentam

em seus estudos as infraestruturas criadas, a fim de possibilitar a visitação de sítios

arqueológicos. Trata-se de trilhas, estruturas de proteção, placas informativas, entre

outras. A musealização, para além de um espaço preparado para o visitante, conforme

enfatiza Veloso e Cavalcante (2007), é um meio de aproximar a comunidade local ao

patrimônio.

A salvaguarda de sítios arqueológicos vem sendo negligenciada em várias

partes do mundo, e registros de pilhagem ainda são observados, sendo fomentados

principalmente pelo comércio ilegal. A utilização do patrimônio de maneira

inadequada, a incompreensão na proteção e a própria fragilidade poderá acarretar a

destruição. Independente de sua utilização, numa perspectiva de gestão do

patrimônio, é necessário um plano de manejo e conservação, visando à determinação

de ações que venham salvaguardar monumentos arqueológicos.

Tendo em vista a preservação da originalidade do patrimônio, conforme

destacou Chivu (2013), é importante a participação de especialistas nos processos de

conservação. Ainda que motivados para a intenção de proteção, intervenções

realizadas sem a participação de especialistas podem descaracterizar o patrimônio.

Griffith e Griffith (2012) enfatizaram que intervenções sem a participação de

especificidades pode ser danosa, pondo em risco os bens. No caso apresentado pelos

autores foi possível conter a destruição através de um plano de manejo e conservação

condizente com as exigências do sítio arqueológico.

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Conforme Ramírez et al (2010), a adoção de medidas preventivas e a

adequação dos espaços poderão garantir a conservação do patrimônio, e estes

reforçam ainda que é imprescindível a integração da população local no processo de

gestão, buscando promover uma aproximação com o bens arqueológicos. Chavarría

(2012) e Villalobos (2014), corroborando com a ideia de Ramírez et al (2010),

enfatizam a importância de se elaborar um plano de manejo para os sítios

arqueológicos. Buco (BUCO, 2012) destaca que o plano de manejo estabelece a

necessidade de preservar e manter o equilíbrio das relações entre patrimônio cultural,

meio ambiente e população local.

O estabelecimento de parcerias entre os setores público e privado poderá

contribuir para a viabilização da atividade (COPETA; GIACOMO, 2010; CHAMAS;

SCHMIDT, 2011). Um dos estudos mais contundentes sobre iniciativas de parcerias

públicas e privadas foi o caso da Turquia. Frente às dificuldades administrativas

encontradas e uma baixa qualidade na prestação de serviços aos visitantes, novas

estratégias visando à participação da iniciativa privada e a modernização dos espaços

foram adotadas. Shoup et al (2014) apresentaram o modelo de terceirização adotado

para os serviços comerciais desenvolvidos em monumentos e museus. O modelo

permite a participação de empresas privadas na gestão do patrimônio cultural, porém

as decisões permanecem centralizadas no poder público. Na Turquia, a terceirização

permitiu um maior controle na venda de ingressos, contribuindo para o aumento na

receita. Outro fator importante foi a modernização da gestão e o acompanhamento da

venda de ingressos em tempo real.

A manutenção da atividade envolvendo o turismo e o patrimônio

arqueológico requer a busca por diferentes formas de fomento. Com a escassez de

recursos para o desenvolvimento de propostas, Guidon (2007), Veloso e Cavalcante

(2007) e Buco (2012) revelam a importância da captação de recursos para projetos

de qualidade. No caso apresentado por Guidon (2007) e Buco (2012), os recursos

foram captados de diferentes fontes, dentre elas instituições de fomento internacional.

No auge do projeto era oferecida uma série de ações voltadas à comunidade, que

tinham o intuito de aproximar os participantes do patrimônio e qualificá-los para

atuarem profissionalmente na região.

Endere e Zulaica (2015) demonstram a importância do desenvolvimento da

pesquisa arqueológica de forma contínua. No caso apresentado, houve a participação

da população local, visto que moradores foram capacitados para a pesquisa de campo

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108

e laboratório. O envolvimento da comunidade na pesquisa arqueológica propiciou uma

melhoria na relação, e consequentemente incrementou a atração turística. A

consolidação das pesquisas arqueológicas desenvolvidas no local possibilitou reforçar

os laços e a preservação dos sítios arqueológicos, culminando na abertura de um

museu local. De igual forma, Ayala (2015) demonstrou que a forte participação da

população local no desenvolvimento de pesquisas arqueológicas no Chile possibilitou

a geração de renda e, consequentemente, contribuiu para a valorização do patrimônio

e das comunidades locais.

A organização da promoção do segmento através de um planejamento foi

destacada por Walls e Longo (2005), Copeta e Giacomo (2010), Chivu (2013) e Shoup

et al (2014). Chivu (2013) enfatiza que, conjuntamente a outras categorias, é

necessário dar importância à promoção do segmento. O número de visitantes em

monumentos e museus na Turquia teve um crescimento significativo, segundo Shoup

et al (2014), o que é um resultado decorrente de campanhas de marketing.

Igualmente, Walls e Longo (2005) enfatizam o plano de marketing como estratégia

para alavancar o número de visitantes e aumentar a renda em áreas com atrativos de

turismo arqueológico. Copeta e Giacomo (2010) destacam a participação em feiras e

a elaboração de um material promocional sobre o patrimônio.

Visando à integração e à sensibilização dos diversos atores para a

valorização e preservação do patrimônio arqueológico, ações educativas foram

destacadas por Walls e Longo (2005), Guidon (2007), Veloso e Cavalcante (2007),

Chamas e Schmidt (2011), Buco (2012), Griffith e Griffith (2012), Ayala (2015) e

Endere e Zulaica (2015). A Educação Patrimonial tem por objetivo sensibilizar para a

preservação do patrimônio cultural, e é uma ação que deverá ser desenvolvida de

forma processual, por meio de metodologias educativas, que busquem difundir,

valorizar e preservar o patrimônio local. Além disso, as ações poderão ser

desenvolvidas buscando a qualificação para o turismo arqueológico.

A participação da comunidade local é de fundamental importância para a

obtenção de resultados positivos no processo de planejamento do Turismo

Arqueológico. Nas pesquisas que apresentaram a forma de participação da

comunidade, houve a valorização e a preservação, e a identificação com o patrimônio

local foi efetiva. Um trabalho educativo desenvolvido de forma processual será de

fundamental importância para garantir a proteção do patrimônio, elaborada para a

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109

comunidade escolar, população em geral, trade turístico e organismos

governamentais.

Em sua pesquisa sobre a Península de Tróia, Silveira et al (2010) descreve

as ações tomadas para a salvaguarda do patrimônio local. O estudo apresentou um

monitoramento da área. Na pesquisa, os resultados mostraram a importância do

acompanhamento constante do local, e foram apresentados os monitoramentos

realizados entre os anos de 2006 e 2007. O acompanhamento da atividade é

imprescindível para a salvaguarda do patrimônio, evitando que este seja exposto aos

riscos de destruições antrópicas, ou mesmo sofra impactos naturais. Destacado por

Juárez (2002), Guidon (2007), Ramírez et al (2010), Chamas e Schmidt (2011),

Silveira et al (2011), Buco (2012), Sugiura e Nieto (2014), o monitoramento tem a

responsabilidade de mediar os conflitos, impactos e gerir informações, auxiliando na

tomada de decisão.

O modelo de planejamento proposto para esta tese será apresentado no

capítulo 5.

4.5 DISCUSSÃO

Historicamente no Brasil persiste uma ideia de cultural homogênea quando

se remete os grupos pré-coloniais que habitaram o território nacional. O próprio termo

índio, utilizado para se referir aos indivíduos pertencentes a essas populações, remete

a uma imagem de cultura única. Pouco se conhece sobre a diversidade cultural dessas

populações, seja no período pré-histórico ou grupos atuais, muitas vezes,

inferiorizados e marginalizadas pela sociedade dominante. Dentro da construção da

história oficial nacional por muito tempo essas populações foram pouco expressivas

nas narrativas, aparecia principalmente no contado com o colonizador, ou

frequentemente retratados como indolentes. Nossa história pré-colonial não figurava

nos livros didáticos, todo destaque era dado a diáspora humana da pré-história

mundial. A pré-história local era subtraída, deixando uma grande lacuna, a impressão

passada era que a história iniciava com a chegada dos colonizadores. Durante a

ocupação do território, muitos grupos étnicos foram exterminados, direta ou

indiretamente, progressivamente os recém-chegados passam a ocupar as áreas.

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110

Como resultado de tudo isso, temos uma população que pouco se identifica com o

patrimônio cultural pré-colonial existente em seu território.

Essa realidade vem mudando e a complexidade e diversidade cultural

desses grupos vem sendo estudada, não apenas por especialista, mas também nas

escolas, o período mais longo da história brasileira vem ganhando espeço na história

oficial nacional. Entretanto, a assimilação desses elementos como parte da história

nacional pela população é um processo lento, conjuntamente outras políticas de

valorização devem implementadas. Neste sentido o desenvolvimento de forma

responsável do turismo arqueológico pode ser uma alternativa para a sua valorização

e salvaguarda de sítios arqueológicos.

Nos estudos de caso apresentados percebeu-se um forte apelo para a

participação popular no desenvolvimento do turismo em áreas com patrimônio

arqueológico. Um envolvimento fomentado em ações educativas para a valorização

do patrimônio local e sua participação no desenvolvimento de programas para a

gestão do legado cultural. Sempre que a comunidade local esteve atuante, o resultado

foi um essencial progresso na valorização e fortalecimento da identidade para com o

seu patrimônio, consequentemente, a preservação. A comunidade de quando

efetivamente envolvida tornou-se porta-vozes do legado cultural presente em seu

território.

Através dos estudos foram observadas necessidades que envolve

desenvolvimento do turismo arqueológico, essas serão apresentadas no capítulo a

seguir desta tese. O modelo proposto para o Planejamento do Turismo Arqueológico

foi dividido em categorias e posteriormente subcategorias, entendidas como

necessárias sob a ótica desta pesquisa.

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111

5. MODELO PARA A GESTÃO DO TURISMO ARQUEOLÓGICO NO COMPLEXO LAGUNAR

Ao desenvolver essa tese, realizou-se a produção de um modelo para a

gestão do Turismo Arqueológico, aplicado inicialmente no Complexo Lagunar, mas

com o intuito de ser extrapolado para outras regiões. Essa proposta foi modelada a

partir das discussões e das questões chaves obtidas por meio do exaustivo

levantamento bibliográfico, que compõe o estado da arte do tema em discussão,

apresentado no capítulo 4 dessa tese. O planejamento é exclusivo e focado para o

desenvolvimento do Turismo Arqueológico, ele não substitui o planejamento integral

do território turístico.

O modelo proposto se pauta em seis categorias centrais, que se

desmembram em outras categorias secundárias. Das categorias centrais, duas

permeiam todo o processo, enquanto as demais são executadas em alguns

momentos, mais pontuais

As categorias centrais e seus desdobramentos serão apresentada no

sequência (Quadro 8).

Quadro 8: Categoria e subcategorias do modelo de Planejamento do Turismo.

Categorias Subcategorias

Reconhecimento

Levantamento arqueológico

Capacidade de carga

Percepção da comunidade

Estudo de viabilidade turística

Políticas públicas

Registro do patrimônio

Legislação

Documentos de orientação

Iniciativas para valorização

Programas

Criação de rotas

Musealização

Manejo e conservação

Parcerias públicas e privadas

Captação de recursos

Pesquisa arqueológica

Marketing Plano de Marketing

Educação Patrimonial

Comunidade escolar

Comunidade geral

Trade turístico

Organismos governamental

Monitoramento / Avaliação

Gestão de conflitos

Gestão de impactos

Gestão de informações

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112

A figura 25, apresenta o modelo em um mapa sistêmico, que além de

possibilitar a visualização, indica o entendimento do processo e habilita para a

extrapolação do modelo em outras comunidades. Esse mapa apresenta os recursos

que são estruturantes para a implantação do Turismo Arqueológico.

Figura 25: Categorias do modelo.

O desenvolvimento do turismo arqueológico implica na utilização do

patrimônio arqueológico como atrativo, mas não envolve apenas isso. Para Barros et

al (2008, p. 1), “A atividade turística deve ser analisada como um conjunto de

amplas relações, apresentando interações com o ambiente econômico, jurídico,

social, político, ecológico, tecnológico, entre outros.”

Reconhecimento

Políticas públicas

Educação Patrimonial

Programas

Marketing

Monitoramento / Avaliação

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113

Em decorrência disso, se reuniu recursos considerados estruturantes para

a produção de um modelo que habilita para o conhecimento local, cujo objetivo central

é a valorização e preservação do patrimônio arqueológico. Diante disso, buscou se

compreender quais produtos, serviços, aprendizagens e interações são passíveis de

serem encontradas nas localidades com sítios arqueológicos.

Desta forma, torna-se imprescindível a compreensão dos elementos que

compõe o patrimônio arqueológico da área, os grupos humanos que deram origem a

cultural material, suas singularidades e distribuição no território. A visitação

dificilmente ocorrerá na totalidade de sítios arqueológicos de uma região. Apenas

alguns sítios serão disponibilizados para a visitação, porém, os patrimônios não

elencados não poderão ser abandonados ao acaso. É indispensável políticas para

preservação dos sítios considerados atrativos turísticos, bem como, para os sítios que

não foram transformados em atratividade.

O levantamento arqueológico da área em que é realizado o turismo

arqueológico é essencial, visto que esta ação visa investigar a diversidade, a

distribuição e a salvaguarda do patrimônio arqueológico. Villalobos (2014), em seu

estudo sobre sítios arqueológicos no México, critica a identidade criada a partir do

nacionalismo para certos tipos de patrimônios, consequentemente outros sítios que

não fazem parte escolhidos são marginalizados. O apelo criado pela construção de

uma identidade supervaloriza sítios que possuem elementos estabelecidos como

representativo da nação, ao passo que, patrimônios silenciados pelos diversos

mecanismos de promoção estão sendo constantemente impactados.

A percepção da formação do patrimônio arqueológico local contribuirá para

o estabelecer os atrativos arqueológicos para a visitação, sobretudo para a

determinação de política pública de preservação dos sítios arqueológicos,

independentemente de estes serem atrativos turísticos. A seguir serão descritos de

que forma a pesquisa arqueológica é realizada no Brasil, como o quadro legislativo

vigente foi sendo desenhado a partir da década de 1930 e todas as exigências para a

desenvolvimento de estudos nessa área.

A pesquisa envolvendo o patrimônio arqueológico no contexto brasileiro é

organizada pelo Iphan, órgão responsável pela gestão do patrimônio cultural nacional.

O instituto foi criado pela Lei nº 378 de 13 de janeiro de 1937, entre suas finalidade

está a promoção, o tombamento e a conservação do patrimônio histórico e artístico

nacional (BRASIL, 1937a). No mesmo ano, a fim de estabelecer a proteção do

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114

patrimônio histórico e artístico nacional foi promulgada o Decreto-Lei nº 25 de 30 de

novembro, teve como intuito organizar a proteção destes patrimônios. Conforme este

Decreto-Lei constitui-se o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto de bens

móveis e imóveis que possua interesse público na conservação e que represente a

memória da nacional, seja por seu valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou

artístico (BRASIL, 1937b). Estes dispositivos legais foram responsáveis por dar início

as políticas públicas institucionais para a preservação, valorização e promoção

através de um órgão nacional a serviço do patrimônio cultural.

No Brasil, a partir da década de 1960 os sítios arqueológicos passam a

contar com legislação especial para salvaguardá-los. Os monumentos arqueológicos

de qualquer natureza e os elemento que o compõe são reconhecido como patrimônio

nacional pela Lei 3.924, publicada em 31 de julho de 1961 (BRASIL, 1961). A própria

Constituição de Federal de 1988 em seu artigo 20, reconhece como bens da União os

sítios arqueológicos e pré-históricos, mais adiante, no artigo 23, afirma ser

competência da União, Estados e Municípios a sua proteção (BRASIL, 1988).

Com a publicação da Lei 3.924 mesmo sem haver tombamento, o

patrimônio arqueológico fica sob a guarda e proteção do Poder Público. Tratando-se

da preservação dos sambaquis essa foi uma Lei muito importante, pois proíbe

explicitamente a exploração econômica desses sítios arqueológicos até então

destruído indiscriminadamente. Ainda que registradas ações de depredação nas

décadas seguintes, esta Lei foi um marco para a proteção legal dos sítios

arqueológicos.

Assim, estamos diante de monumentos reconhecidos legalmente como

patrimônio nacional brasileiro, seu uso implica medidas responsáveis para garantir a

sua salvaguarda. Pesquisas envolvendo sítios arqueológicos só poderão ser

desenvolvidas mediante a permissão do Iphan. Com o passar dos anos, muitas

normativas foram criadas para atender as novas demandas de pesquisas

arqueológicas, desenvolvidas tanto em âmbito acadêmico, quanto no licenciamento

ambiental.

A Lei 3.924/61 (BRASIL, 1961) prevê que as pesquisas arqueológicas de

campo deverão ser precedida de uma autorização, este procedimento e detalhado na

Portaria 07, de 01 de dezembro de 1988 (IPHAN, 1988). Esta Portaria estabelece os

procedimentos exigidos para a abertura no processo de permissão e autorização para

o desenvolvimento de pesquisas arqueológicos. Projetos de pesquisa arqueológica

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115

de campo deverá contar com uma série de documentos que comprove a idoneidade

técnico-científica do arqueológico, endossos institucionais, delimitação da área de

estudo e um plano de trabalho contendo: objetivos da pesquisa; conceituação e

metodologia; sequência das operações a serem realizadas; cronograma de

execução; proposta para utilização do materiais produzido em fins científicos, culturais

e educacionais; além de meios de divulgação das informações científica (IPHAN,

1988). De acordo com a Portaria nº 07 (1988), em seu artigo 6º, o Iphan responderá

os pedidos de pesquisa considerando os critérios adotados para a valorização do

patrimônio arqueológico como um todo e as ações para o aproveitamento da

potencialidade científica, cultural e educacional.

Posteriormente, os resultados obtidos com a pesquisa arqueológicas

deverão ser apresentadas ao órgão em forma de relatório técnico-científico. O

relatório terá que conter cadastro de sítios arqueológicos inéditos, os resultados

obtidos e as ações tomadas para salvaguarda do patrimônio, documentação dos

vestígios, além de proposta para o desenvolvimento do potencial científico, cultural e

educacional (IPHAN, 1988).

Em 24 de março de 2015 foi promulgado a Portaria Interministerial nº 60,

que estabelece os procedimentos administrativos para atuação de vários órgão

estatais no processo de licenciamento ambiental, dentre eles o Iphan (MINISTÉRIO

DO MEIO AMBIENTE et al., 2015). O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis - Ibama é o órgão responsável pelo licenciamento

ambiental em nível federal no Brasil. Conforme o documento supracitado, em

processos conduzidos pelo instituto sempre que necessário, este irá instar outros

órgãos a manifestarem-se para temas de competência específica (MINISTÉRIO DO

MEIO AMBIENTE et al., 2015).

A Portaria Interministerial nº 60 (2015) padroniza os procedimentos dentre

as diferentes etapas do licenciamento ambiental. As informações referentes ao

empreendimento e área de implantação serão apresentadas pelo empreendedor na

Ficha de Caracterização de Atividade – FCA. O Ibama irá instar os órgãos para

integrarem o licenciamento, estes se manifestaram através de parecer. Quando haver

a exigência de estudos preventivos para patrimônio cultural será formulado um Termo

de Referência Específico – TRE, com base neste do documento o Ibama emitirá o

Termo de Referência – TR contendo as exigências de estudos de todas as áreas.

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116

Em consonância com a portaria Interministerial nº 60, o Iphan publicou a

Instrução Normativa nº 001, de 25 de março de 2015 (IPHAN, 2015). Esta normativa

determina os procedimentos administrativos observados pela autarquia nos

processos de licenciamento ambiental federal, estadual e municipal. Através da

classificação e caracterização do empreendimento são determinados os

procedimentos necessários para obtenção da anuência do órgão. Essa busca pela

padronização dos procedimentos metodológicos exigidos nos estudos de arqueologia

preventiva desconsidera muitas vezes características relevantes do ambiente. A

determinação de estudos através de tipificações de empreendimento cerceia a

autonomia e a capacidade de profissionais adotarem metodologias mais adequadas

para diferentes compartimentos ambientais.

De acordo com a IN nº 001 (IPHAN, 2015) o Programa de Gestão do

Patrimônio Arqueológico poderá ser composto por diferentes projetos a fim de atender

a demanda do empreendimento, tais como: projeto de salvamento arqueológico,

projeto de monitoramento arqueológico e projeto integrado de educação patrimonial.

Dentro de um processo de licenciamento ambiental esses programas serão exigidos

consoante a caracterização da atividade. Seguindo a tramitação do processo de

autorização, após o protocolo do projeto, o Iphan avaliará o documento e caso

favorável a autorização de pesquisa dar-se-á com a publicação da decisão em Diário

Oficial da União – DOU. A seguir a conclusão das atividades e em conformidade com

o cronograma de execução do projeto, um relatório final deverá ser encaminhado ao

órgão onde será submetido a avaliação, a manifestação será através de parecer.

A pesquisa arqueológica no contexto brasileiro segue os trâmites

estabelecidos por meio de normativas elaboradas no decorrer dos tempos, formuladas

para atenderem novas demandas. Esses dispositivos legais foram sendo aprimorados

em resposta a vigorosa tendência de conscientização para proteção do patrimônio

cultural e alicerçado em recomendações de organismos internacionais. Esse

movimento de proteção dos sítios arqueológicos quebra paradigmas,

fundamentalmente para os testemunhos da cultura material de populações que

ocupavam o território brasileiro antes da chegada do colonizador, quase sempre essas

culturas foram marginalizadas, sem identificação com a cultura nacional. Esse

desprezo se dá especialmente pela supervalorização de arquétipos da cultura

europeia, felizmente pensamento vem sendo desconstruído e os bens patrimoniais

indígenas passam a ser considerados parte integrante da memória nacional.

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117

Esse patrimônio, associado ao Turismo deve vir pautado de cuidados, uma

vez que trata-se de um bem cultural finito e sua destruição ou mal aproveitamento leva

consigo, parte da história do Brasil, que não poderá mais ser reconstituída. Para isso,

esse tipo de turismo requer um estudo de capacidade de carga a fim de minimizar os

impactos. Pires (2005, p. 7) enfatiza que a capacidade de carga ou o termo similar,

capacidade de suporte, no âmbito do turismo pode “ser descrito basicamente como a

capacidade que um determinado meio ou ambiente possui para suportar o afluxo de

visitantes e turistas sem perder as características de sua originalidade ou ter

ameaçada a sua integridade”. Ruschmann (1997, p. 116) descreve que o

desenvolvimento descontrolado do turismo em áreas com recursos naturais singulares

e a procura excessiva descaracterizam a paisagem. Esse mesmo entendimento

também é aplicável a áreas com recursos culturais. A degradação dos recursos

causada pela atividade turística é inconcebível, visto que a atratividade que motiva a

visita perde suas características originais e consequentemente seu valor. Boullón

(2002, p. 169) reforça que procura massiva por atrativos naturais deve ser controla,

para que não ocorra a anulação e a perturbação da atratividade que impulsionou visita.

Com o patrimônio arqueológico a realidade não é diferente, o

desenvolvimento desordenado da atividade turística é também um ameaça a sua

salvaguarda, com um agravante, uma vez que, este legado diferente do patrimônio

natural não é renovável. O conceito de capacidade de carga no planejamento do

turismo de acordo com Ruschmann (1997, p. 116) “reconhece que tanto os recursos

naturais como os construídos pelo homem têm um limite para absorver visitantes”,

sempre que extrapolado causará a degradação. A mentalidade progressista

predominante entre agentes públicos responsáveis pela gestão da atividade turística,

dificultam ainda mais a resolução dos problemas. Pouco comprometidos com os

impactos negativos que atividade turística poderá ocasionar ao meio e no afã pelo

aumento de receitas, incentivam e licenciam empreendimentos, intensificam ainda a

pressão provocado pelo crescimento descontrolado da demanda.

Para a determinação da capacidade de carga turística devem ser

observadas características geoambientais, sociais e culturais locais, esses elementos

que interferem diretamente no coeficiente do número de visitantes. É necessário haver

uma equidade nessa equação, considerando os interesses econômicos, social e

culturais que tendem ser divergentes. Haymond (1991 apud RUSCHMANN, 1997, p.

117) descreve algumas variáveis que deverão ser consideradas, sendo elas:

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118

Duração da estada dos visitantes;

Dispersão ou distribuição dos turistas dentro da área;

Características do local visitado;

Características dos turistas;

Época do ano em que ocorre a visita.

Essas variáveis são importantes para compreender e atender as

necessidades do espaço – incluindo a comunidade local – e dos visitantes. O

desenvolvimento da atividade deve ser adequado a cada espaço, o número de

visitantes poderá oscilar por fatores externos, como os climáticos, dias chuvosos

poderão ocasionar o fechamento de áreas para garantir a proteção do local. O perfil

do visitante é um ponto importante a ser observado, os usuários do espaço deverão

porta-se compativelmente com as necessidades do local. A quantidade de visitantes

também afetar a experiência da visita, gerando desconforto sempre que saturado.

Para Richez (1992 apud RUSCHMANN, 1997, p. 123) quatro dimensões

devem ser observadas para a definição da capacidade de carga em espaços-parques:

A capacidade de carga ecológica;

A capacidade de carga social e psicológica;

Os equipamentos instalados na área;

A compatibilidade entre os diversos usos do espaço natural.

A Capacidade de carga ecológica é o limite biológico e físico do espaço

destinado a atividade recreativa. A capacidade de carga social e psicológica busca

garante a boa qualidade da experiência ao indivíduo, esta deve considerar a natureza

do espaço e as diferentes características dos visitantes. Os equipamentos instalados

servem para atender as necessidades e expectativas dos visitantes, interferindo no

número de visitantes, estes devem ser implantados seguindo critérios técnicos e

controles frequentes. A diversidade de atividade poderá ser praticada dentro de

espaços naturais, desde que observada a compatibilidade entre os diversos usos

(RUSCHMANN, 1997, p. 123).

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119

Para a determinação do número de pessoas em espaço turísticos Boullón

(2002, p. 173) considera duas variáveis: a) as características do espaço e b) a

atividade que nele se desenvolverá. A última variável é dependente da primeira que

compreende ainda três fatores: função não-turística do espaço em estudo; tipo de

paisagem; e, elementos descritivos de cada tipo de paisagem. A partir disso poderá

ser determinado o padrão de ocupação da área. Boullón (2002, p. 177) afirma que a

determinação de padrões poderá ocorrer a partir da combinação de três tipos de

capacidade:

Capacidade material;

Capacidade psicológica;

Capacidade ecológica.

A capacidade material é a condição de qualquer superfície de água ou

terra, são as características físicas do ambiente – geologia, geomorfologia, clima,

vegetação, entre outras –, somando a segurança para ao visitante. A capacidade

psicológica é a quantidade de indivíduos simultâneos que uma área recebe,

garantindo a satisfação ao visitante. A capacidade ecológica consiste na fração de

visitantes que uma área pode receber sem comprometer o equilíbrio do espaço

(BOULLÓN, 2002). Com o cruzamento dos resultados obtidos nos três tipos

capacidades pode-se determinar o número de visitantes, e assim, possibilitando o uso

turístico do espaço e garantir a integridade do patrimônio. Boullón (2002) propõe a

seguinte formula:

Capacidade = dimensão

padrão

A capacidade seria obtida pela divisão da dimensão da área disponível para

a atividade e o padrão de frequência, que seria a quantidade de pessoas que a área

tem a possibilidade de receber sem pôr em risco a meio. Posteriormente é necessário

obter o coeficiente de rotação através da formula:

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120

Coeficiente de rotatividade = Tempo de abertura do serviço

Tempo médio de uma visita

O coeficiente de rotação é a divisão do tempo que o serviço estará

disponível, ou seja, a quantidade de horas diárias divido pelo tempo médio gasto para

a visita. Por fim, será definido o total de visitas diárias:

Total de visitas diárias = capacidade x coeficiente de rotatividade

O total de visitas diárias é o resultado da multiplicação entre a capacidade

e coeficiente de rotatividade, desta forma é o alcançado a quantidade de visitantes

para um espaço turístico, conforme proposição de Boullón (2002).

Cifuentes (1992) propões uma metodologia de capacidade de carga para

áreas protegidas. A metodologia da proposta é desenvolvida a partir de seis passos:

análise de políticas sobre o turismo e manejo das áreas protegidas em nível nacional,

regional e local; análise dos objetivos da área a ser avaliada, a qual tem relação

estreita com a categoria de gestão; análise da situação dos locais de uso público

dentro da área avaliada e seu zoneamento; definição, reforço ou mudança de políticas

e decisões a respeito de categorias de manejo e de zoneamento da área; identificação

de fatores/características que influenciem em cada local de uso público; determinação

da capacidade de carga de cada um dos locais.

Para a determinação da capacidade de carga, o último passo apresentado,

é observada três níveis: capacidade de carga física – CCF, capacidade de carga real

– CCR e capacidade de carga efetiva – CCE. (CIFUENTES, 1992). A metodologia

proposta parte da uma forma básica até a mais complexa, atuando como um filtro,

restringindo a quantidade de visitantes, tendo em conta a características do espaço

para determinação de limites aceitável. O CCF é a forma mais simples, leva em

consideração o espaço disponível para a atividade e o espaço necessário para cada

indivíduo, sujeita a redução pela CCR, que considera as particularidades de cada

local, dessa forma reduzindo o número. O CCE analisa o limite aceitável de uso,

considera a capacidade de manejo e administração do local (CIFUENTES, 1992, p. 4)

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121

No contexto de áreas naturais a metodologia proposta por Cifuentes foi a

mais utilizada no Brasil, conforme levantamentos bibliográfico realizado por Limberger

e Pires (2014). A pesquisas foi realizada em anais de eventos nacionais sobre turismo

e unidades de conservação, além de periódicos nacionais. Foram identificados 16

trabalhos, dos quais 10 (aproximadamente 62%) aplicaram a metodologia de

Cifuentes (1992). Os autores também chamam a atenção para a baixa produção de

pesquisa em estudos aplicados de capacidade de carga.

Cifuente et al. (1999) aplicou a metodologia para uma área de uso público

na cidade de Turrialba, Costa Rica, o Monumento Nacional Guayabo, além de

características naturais o local possui sítios arqueológicos. Ao tratar da capacitada

para sítios arqueológicos Cifuentes et al. (1999, p. 7) afirma que a visitação nesses

espaços deve garantir a proteção do patrimônio, sendo este o objetivo fundamental

da atividade.

Em Tirrialba o local de estudo foi uma área ocupada a partir de 1000 a.C.

até 1550 d.C, foram descobertos três períodos distintos de ocupação, sendo

denominado por pesquisadores como fase. A última fase de ocupação foi identificada

elementos de uma sociedade de forte centralização de poder, associada ao sistema

de cacicado. O principal atrativo da área são os montículos, atribuídos como locais

que possuíam papel de centralidade social dos grupos que ocupavam as áreas

alagadas (CIFUENTES et al., 1999, p. 8).

Como reforça Cifuentes (1992, p. 4) a capacidade de carga não deve ser

vista como a solução para todos os problemas no desenvolvimento da atividade

turística, ela é uma importante ferramenta de planejamento e apoio a gestão, que

estará sujeita a dinamicidade do espaço. Portanto, sujeita a retificações para atender

a novas realidades que poderão aumentar ou restringir o número de visitantes.

A aplicação da metodologia proposta por Cifuentes (1992) em Tirrialba

possibilitou o uso de sítios arqueológicos para a atividade turística, ao mesmo tempo

garantindo a proteção, valorizando o patrimônio existente na área do parque.

5.1 O MODELO E A COMUNIDADE LOCAL

Outro ponto a ser destacado no modelo apresentado é a percepção que a

comunidade local possui do patrimônio. Algumas metodologias podem ser aplicadas

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122

e darão conta de fazer uma leitura da percepção da comunidade, buscando

compreender questões relacionadas a sua interação com o patrimônio arqueológico

local. Entrevistas, questionários ou formulários são instrumentos metodológicos de

pesquisa para a coleta de dados, frequentemente são utilizados para elucidar

indagações relevantes para estudos. Neste sentido Dencker (1998b, p. 165) afirma,

“o que o pesquisador obtém, na realidade, é a visão do entrevistado a respeito do

fenômeno investigado”.

Mesmo com a possibilidade de realização da pesquisa com recursos

virtuais, convém que, na perspectiva do planejamento do turismo arqueológico essa

etapa seja também realizada in loco. Conforme destacado na pesquisa apresentada

por Ayala (2015) oportunizar a população local a participação na tomada de decisão

é fundamental. O turismo arqueológico poderá trazer renda e gerar emprego, porém

deverá beneficiar a população local valorizando a cultura existente no território, além

disso, reconhecendo-os enquanto seres sociais conforme destaca Krippendorf (2003).

Basicamente podemos afirmar que, esta etapa busca compreender a inter-

relação entre comunidade e patrimônio arqueológico local. A partir desta análise serão

estabelecidas ações que promovam a participação da população no planejamento de

políticas para a salvaguarda, valorização e fruição desse patrimônio cultural.

O estudo da viabilidade do planejamento e implantação do Turismo

Arqueológico, desta forma, deverá considerar uma série de dimensões, não apenas

os técnica-financeira como é de praxe. Deverão ser considerados, ainda os aspectos

sociais, os elementos para o entendimento do sistema turístico, e sobretudo, aspectos

que compõe a paisagem natural e cultural. O estudo de viabilidade à luz deste modelo

de planejamento, tem o intuito de responder previamente questionamentos referentes

à continuidade, além disso, poderão ser indicadas o desenvolvimento de demandas a

fim de estabelecer sinergias dentre os stakeholders.

Keeling (2009, p. 46) afirma, “a finalidade principal da proposta é persuadir,

“vender” o conceito e atrair apoio. Assim, nesta fase, é insensato antecipar uma

decisão ou complicar as impressões iniciais”. Seu objetivo não é o detalhamento da

proposta, o estudo deve ater-se as questões essenciais que contribuirão para o

planejamento do segmento turístico.

A princípio fica uma impressão de incongruência quando se afirmar que

este estudo busca responder questões iniciais, porém, não antecipa decisões. O

estudo de viabilidade não conterá respostas prontas para o planejamento, porém deve

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123

auxiliar a tomada de decisão, por sua vez, compreendida um processo, e não como

um evento pontual. Está análise é uma etapa crucial, não poderá ser negligenciada,

sua finalidade é fornecer dados de modo que contribua para a realização do

planejamento.

O estudo de viabilidade deverá realizar uma leitura do panorama da região

de implantação do segmento turístico, busca-se com isso, analisar diversos cenários,

identificar arranjos produtivos locais, bem como, o uso do patrimônio arqueológico,

além de se obter informações sobre a condução do processo de planejamento, da

definição dos objetivos, custos, termos de referência, custo provável e sobre quem

conduzirá o processo. Se avaliará ainda, quais os desafios econômicos para a região,

bem como quais os custos operacionais para implementação do projeto.

Sugere-se a produção de um Termo de Referência, onde se proporá um

projeto qualificado por discussões, objetivos, direções, escopo e foco de estudo, além

de equipe técnica qualificada, responsável pela coordenação do projeto.

Pautado nessas referências, se faz necessário desenvolver um modelo

para o monitoramento do território turístico, através da elaboração de uma matriz de

indicador para utilização em um Sistema de Informação Geográfica – SIG,

subsidiando o processo de planejamento e gestão do turismo.

A integração de várias tecnologias como o Sensoriamento Remoto,

Levantamentos fotográficos, imagens de satélite, GPS – Global Positioning System e

geoprocessamento, entre outras, nos permite a criação de um SIG. Segundo

Koskariov (1989) SIG é uma “ferramenta com avançadas capacidades de modelação

geográfica”, ou seja, lida com informações georreferenciadas.

Esta ferramenta é interativa e dinâmica, integra uma série de informações

geograficamente distribuídas em um espaço, contribuindo para a análise de um

determinado território. É um importante “conjunto de funções automatizadas, que

fornecem aos profissionais, capacidade avançadas de armazenamento, acesso,

manipulação e visualização de informações georreferenciada” (AZEMOY; SMITH e

SICHERMAN, 1981). Trata-se de um “sistema de apoio à decisão envolvendo

integração de informação georreferenciada num ambiente de resolução de problemas”

(COWEN 1988).

Pereira Jr. et al destaca que “a característica básica destes sistemas é a

sua capacidade de associar as representações do mundo real, organizadas em planos

sobreponíveis de informações, a banco de dados alfanuméricos com seus atributos”

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124

(2011, p. 116). Em um SIG a informação georreferenciada é organizada em camadas

(layers), conjuntos de objetos associados com seus respectivos atributos.

O processo de monitoramento do território turístico somente terá um

resultado satisfatório, quando estiver profundamente interligado com o planejamento

e gestão desse território. De acordo com Anjos “o planejamento é uma ação que

resulta na formulação de objetivos e propostas, buscando caminhos viáveis para

atingir metas determinadas, constituindo-se como um processo rigoroso de dar

racionalidade à ação” (2004, p.59). Porém, “a gestão pode ser entendida como uma

etapa interativa, cujas informações retro-alimentam o processo de planejamento”

(ALMEIDA et al, 1999, apud ANJOS, 2004, p. 58). O planejamento e a gestão turística,

de acordo com Boullón (1990, p. 58) têm a finalidade de ordenar as ações humanas

sobre o território, antecipar o efeito do aproveitamento dos recursos.

O SIG é uma ferramenta que pode contribuir significativamente para o

monitoramento do dinâmico território turístico, com a possibilidade de

retroalimentação constante das informações, auxilia o processo de planejamento e

gestão do turismo, e suas tomadas de decisão deverá minimizar os impactos

negativos e maximizar impactos positivos ao ambiente. Assim, espera-se que o

modelo seja testado em regiões que possuam sítios arqueológicos, que possuam ou

não, fluxo de visitação turística.

A integração com a comunidade se dará por meio de efetivas atividades

educativas, e para isso se considerou a metodologia da Educação Patrimonial como

a categoria central, que está presente em todo o processo.

Por meio das ações educativas o Turismo Arqueológico tem a possibilidade

de sensibilizar para a valorização do patrimônio arqueológico, utilizando-se da

metodologia conhecida como Educação Patrimonial, que:

“ ...busca levar crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-o para um melhor usufruto deste bens, e propiciando a geração de novos conhecimentos, num processo continuo de criação cultural” (HORTA, 1999, p. 6)

O desenvolvimento de atividades educativas pauta-se na realização de

ações de arqueologia pública nos municípios, sobretudo junto aos moradores dos

locais com sítios arqueológicos, visando suas inserções como atores sociais ativos e

participativos no processo de valorização e proteção do patrimônio arqueológico local

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125

e do uso público desse espaço urbano. Além disso, deverá envolver, além dos

moradores, os agentes turísticos e as autoridades municipais, com a intenção de

implementar políticas públicas de manutenção da atividade.

Em síntese, a implantação desse modelo turístico que possibilitará a

valorização e preservação dos sítios arqueológicos é o foco dessa tese. Por isso,

espera-se também que esse estudo, seus conceitos e procedimentos sejam

replicados e implantados em outras partes do Brasil. Assim a importância do mapa

sistêmico que demonstra com clareza a experiência a ser aplicada, reunindo e

organizando sistematicamente as categorias estruturantes e essenciais como o

monitoramento e avaliação e a educação patrimonial, com foco na sustentabilidade

cultural pautada no conhecimento do Turismo Arqueológico e nas estratégias de

Marketing e do trade turístico. O mapa, representado por um retângulo, propõe a

leitura em sentido horário, demarcando um percurso que parte da teoria que

fundamenta o conhecimento a partir dos conceitos de Turismo e Arqueologia,

passando pelos processos de implementação do modelo em campo, até a finalização,

com a coleta e tratamento das informações necessárias para a implantação do

modelo.

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126

6. PROCESSO DE VERIFICAÇÃO DO MODELO COM PESQUISADORES E GESTORES

Neste capítulo será apresentado o resultado obtido com a verificação da

aceitabilidade do modelo junto a pesquisadores e gestores de arqueologia, turismo e

áreas afins. Foram encaminhados para esse teste 46 formulários, para pesquisadores

e gestores que tivessem alguma experiência na gestão do patrimônio arqueológico e

planejamento turístico.

Os pesquisadores da área de turismo foram selecionados através de

consultas ao quadro de docentes de programas de Pós-graduação em Turismo no

Brasil, priorizando aqueles com experiência em pesquisa sobre planejamento turístico.

Os pesquisadores de arqueologia foram selecionados através de publicações

científicas com a temática da gestão do patrimônio arqueológico, foram escolhidos os

que tivessem a titulação mínima de mestre. Além de pesquisadores das duas áreas

apresentadas selecionamos ainda, gestores públicos de locais turísticos ou não, com

a presença de sítios arqueológicos. O número de formulários encaminhados foi

distribuído proporcionalmente entre esses três grupos, no total obtivemos 12

respondentes. No Gráfico 1 apresentamos a distribuição pelo perfil de atuação

profissional dos entrevistados, onde se percebeu um número maior de respondentes

da área de Arqueologia e gestão do patrimônio arqueológico, seguido por

pesquisadores de Turismo e planejamento e por último profissionais que atuam como

gestores público.

Gráfico 1: Área de atuação dos respondentes do formulário de validação do modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico.

0

10

Pesquisador Turismoe planejamento

PesquisadorArqueologia e

Gestão dopatrimônio

arqueológico

Gestor público

46

2

Área de atuação dos respondentes

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127

Quanto a formação profissional dos entrevistados realizamos um

levantamento em três níveis: graduação, mestrado e doutorado. Quanto ao nível de

graduação, a maior parte dos entrevistados era formada em Geografia e História,

seguido por Turismo. A nível de mestrado, o curso que se destaca é o de Geografia,

seguido da Arqueologia e Preservação do Patrimônio Cultural.

Nos itens a seguir serão apresentados os resultados alcançados com a

análise de aceitabilidade realizada com especialistas e profissionais da área.

Inicialmente foi apresentada a proposta geral do modelo de Planejamento do Turismo

Arqueológico, posteriormente, cada categoria foi analisada separadamente. A cada

questão, se apresentava uma breve descrição, além de uma figura esquemática

contendo a ideia central das categorias que foram analisadas. Para medir o grau de

coerência dos respondentes em cada categoria da proposição utilizamos a Escala

Likert, uma escala psicométrica de pesquisa de opinião. O respondente poderia optar

por valores entre 1 a 5, onde o número maior significava máxima coerência e o número

menor representava o baixo nível de coerência.

Embora não intencionemos produzir uma análise estatística neste capítulo,

visto o caráter qualitativo desta pesquisa, percebemos um padrão nas avaliações dos

entrevistados, aglutinados próximo a linha de tendência, exceto o respondente 1.

Considerando o padrão das respostas podemos considerá-lo um outlier, devido ao

grande afastamento da tendência, o respondente 1 apresenta desvio na maioria das

questões apresentadas.

Ao fim do questionário , apresentou-se uma questão aberta, onde o

respondente poderia descrever suas impressões e fazer sugestões para o modelo.

Na primeira parte do questionário apresentamos as seis categorias que

compõe o modelo de planejamento. Em cada categoria foi descrita e apresentada o

que se pretendia com cada uma delas, além disso, se exibiu um esquema a fim de

elucidar as informações. Na sequência questionávamos o respondente sobre a

coerência das categorias criadas. A fim de gerar o detalhamento dos dados, cada

categoria foi avaliada separadamente bem como, suas subcategorias. Utilizou-se uma

breve descrição e um esquema da figura, como forma de apresentação.

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128

6.1 PRIMEIRA OBSERVAÇÃO

A primeira questão apresentada para avaliação da coerência foi o aspecto

geral do modelo de planejamento (Figura 26), após a descrição de cada categoria

criada para dar conta das especificidade do Planejamento do Turismo Arqueológico o

respondente atribuia sua nota. Em linhas gerais observamos uma boa aceitação das

categorias propostas para o modelo.

Figura 26: Esquema do modelo de Planejamento do Turismo Arqueológico apresentado aos entrevistados.

O Gráfico 2 exibe os resultados obtidos no primeiro questionamento da

entrevista. Percebemos que, de maneira geral os entrevistados consideram coerente

as categorias criadas. Do total de respondentes oito indivíduos (67%) deram grau mais

elevando, ou sejam, concordaram totalmente, outros três entrevistados deram grau 4

(25%). O grau médio de coerência somando todos os respondentes é de 4,5.

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129

Gráfico 2: Grau de Coerência das categorias propostas para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico.

Nessa primeira etapa, inferiu-se que as categorias do modelo criado, eram

coerentes, e iam ao encontro das necessidades dos profissionais que pesquisavam e

debatiam sobre o tema.

6.1.1 Reconhecimento

Esta foi a primeira categoria a ser avaliada separadamente, com as

subcategorias que a compõe. Fazem parte da categoria Reconhecimento cinco

subcategorias que serão apresentadas no esquema (Figura 27) a seguir.

1

2

3

4

5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Gra

u d

e co

erên

cia

Respondente

Coerência das categorias propostas para o modelo

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130

Figura 27: Esquema da categoria Reconhecimento apresentado aos entrevistados.

No Gráfico 3 apresentamos os resultado obtidos com o levantamento.

Desvios a parte, esta foi a segunda categoria como maior grau de coerência, ao todo

nove respondentes (75%) deram grau máximo para a categoria, dois respondentes

consideraram esta categoria com grau 4 (17%).

Dentro da proposta esta categoria tem um papel crucial, visto que, o seu

desenvolvimento nos permite fazer uma leitura da complexidade que envolve o

território a ser planejado para o turismo.

Gráfico 3: Grau de coerência da categoria Reconhecimento propostas para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico.

1

2

3

4

5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Gra

u d

e co

erên

cia

Respondente

Categoria Reconhecimento proposta para o modelo

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131

Esta categoria apresentou um grau relevante de coerência, os especialistas

corroboraram com a ideia apresentada.

6.1.2 Política pública

Essa categoria apresenta os resultados mais dissonantes até o momento.

A categoria Políticas Públicas (Figura 28) abrange a compreensão de todos os

mecanismos criados em um território para salvaguardar o patrimônio arqueológico.

Utilizando-se destas informações para o processo de planejamento, bem como,

estimular o surgimento de mecanismos para a sua proteção.

Figura 28: Esquema da categoria Políticas Públicas apresentado aos entrevistados.

Mesmo com esse resultado podemos afirmar que a categoria se sustenta.

Conforme observado no Gráfico 4 a maioria (8 respostas, 67%) estão acima do grau

4, apenas duas (17%) respostas estavam abaixo da média (grau 3).

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132

Gráfico 4: Grau de coerência da categoria Políticas Públicas propostas para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico.

O resultado da avaliação desta categoria vai ao encontro da proposição,

47% dos respondentes deram grau máximo, seguido de 25% de respondentes de

atribuíram grau 4 a categoria.

6.1.3 Programas

A categoria Programas (Figura 29) concentra uma série de ações, após ser

subsidiada por outras categorias, tem um papel fundamental na consolidação do

atividade e proteção do patrimônio arqueológico.

Figura 29: Esquema da categoria Programas apresentada aos entrevistados.

1

2

3

4

5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Gra

u d

e co

erên

cia

Respondente

Coerência na categoria Políticas Públicas proposta para o modelo

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133

Novamente (Gráfico 5) registramos que a maioria dos respondentes (seis

indivíduos, 50%) concordaram em grau máximo com a categoria, outros três (25%)

atribuíram grau 4, três indivíduos atribuíram grau 2 (25%).

Gráfico 5: Grau de coerência da categoria Programa proposta para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico.

Mais uma vez, o resultado obtido vai ao encontro da proposta, legitimando

a proposição.

6.1.4 Marketing

É nessa categoria que serão consolidadas as estratégias para a promoção

e comercialização deste segmento. O grau de concordância foi relativamente alto,

cinco entrevistados apontaram como grau 5, três indivíduos responderam com grau 3,

o grau mais baixo a aparecer nesta categoria.

1

2

3

4

5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Gra

u d

e co

erên

cia

Respondente

Há coerência na categoria Programas proposta pelo modelo de planejamento de Turismo arqueológico?

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134

Figura 30: Esquema da categoria Marketing apresentado aos entrevistados.

Gráfico 6: Grau de coerência da categoria Marketing proposta para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico.

6.1.5 Educação Patrimonial

Esta categoria será desenvolvida desde o princípio do planejamento do

Turismo Arqueológico.

1

2

3

4

5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Gra

u d

e co

erên

cia

Respondente

Coerência na categoria Marketing proposta para o modelo

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135

Figura 31: Esquema da categoria Educação Patrimonial apresentado aos entrevistados.

Apresentou um alto grau de coerência de acordo com os respondentes,

foram sete indicações ao grau máximo e quatro no grau 4. Em outras palavras temos

algo em torno de 92% de respostas indicando a coerência 4 ou 5 para esta categoria

Gráfico 7: Grau de coerência da categoria Educação Patrimonial proposta para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico.

1

2

3

4

5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Gra

u d

e co

erên

cia

Respondente

Coerência na categoria Educação Patrimonial proposta para o modelo

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136

6.1.6 Monitoramento / Avaliação

Por fim, a categoria Monitoramento/Avaliação, última categoria a ser

avaliada, presente em todas as etapas do planejamento, sendo responsável em

manter a equidade entre todos os atores envolvidos, tencionando uso equilibrado do

ambiente (natural e cultural), gerindo as informações e retroalimentando as

categorias.

Figura 32: Esquema da categoria Monitoramento / Avaliação apresentado aos entrevistados.

Simplesmente a categoria melhor avaliada, 92 % dos respondentes

atribuíram o grau máximo de coerência, apenas um respondente conferiu grau 3.

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137

Gráfico 8: Grau de coerência da categoria Monitoramento/Avaliação proposta para o modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico.

Assim com a categoria Educação Patrimonial, o Monitoramento / Avaliação

estará presente em desde o princípio do planejamento deste segmento.

6.2 MODELO DE PLANEJAMENTO DO TURISMO ARQUEOLÓGICO

Conforme vimos anteriormente, o modelo teórico proposto nesta pesquisa

foi organizado em seis categorias, sendo a maior parte delas dividida em

subcategorias. A imagem (Figura 33) a seguir representa o desenho do modelo com

as categorias do plano, e as setas indicam a maior influência que uma exerce sobre

as outra. Este foi o primeiro escopo do modelo, apresentado ao respondente da

pesquisa.

1

2

3

4

5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Gra

u d

e co

erên

cia

Respondente

Coerência na categoria Monitoramento / Avaliação proposta para o modelo

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138

Figura 33: Esquema do modelo de Planejamento do Turismo Arqueológico apresentado aos respondentes.

O Plano de Turismo Arqueológico, proposto por este estudo, objetiva

nortear o planejamento da atividade, atendendo às especificidades deste segmento

turístico e salvaguardando o patrimônio arqueológico. De acordo com os

respondentes o modelo possuiu um alto grau de coerência (Gráfico 9), oito

respondentes (67%) consideraram grau máximo de coerência, seguido por dois

respondentes (17%) que atribuíram grau quatro, e ainda, com um respondente (8,3%)

cada, tivemos o grau três e dois.

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139

Gráfico 9: Grau de coerência no modelo de `Planejamento de Turismo Arqueológico.

Observou-se que de maneira geral o modelo de Planejamento do Turismo

Arqueológico apresentado aos entrevistados teve boa aceitabilidade, com maior parte

dos entrevistados facultando grau elevado de coerência na proposição.

6.3 ANÁLISE QUALITATIVA DOS DADOS

O objetivo deste item é discutir em linhas gerais a aceitabilidade do modelo

por parte dos pesquisadores brasileiros. Realizamos a média do grau atribuído nas

diferentes questões, além disso, realizamos uma análise qualitativa das observações

descritas pelos respondentes.

Questionando a concepção de planejamento o Entrevistado 1 considerou o

modelo muito pragmático, porém o modelo emerge de estudos relacionados ao

desenvolvimento do turismo onde sítios arqueológicos constituíam-se atrativos

arqueológicos. Por ser uma proposta com uma visão sistêmica, se entende que as

subcategorias devem atender as demandas que exigem o segmento, sobretudo,

necessidades específicas que venham a surgir. Acreditamos que a categoria

Reconhecimento seja capaz de realizar uma leitura da dinâmica territorial, bem como,

o papel dos stakeholders no processo, e dessa forma responder necessidades

previstas, atender as novas demandas. Outro ponto destacado pelo Entrevistado 1 foi

a falta da concepção teórica do tipo de turismo (grupos, pedagógico, entre outros),

como já destacamos anteriormente este segmento inspira políticas de salvaguarda

1

2

3

4

5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Gra

u d

e co

erên

cia

Respondente

Coerência do modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico

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140

para o patrimônio, porém, não cabe a este modelo pré-conceber essa tipologia.

Entende-se que definições como esta devem ser suscitadas a partir da compreensão

dos elementos que compõem o território, com a participação da comunidade local e

demais atores.

Este modelo entende o território turístico como altamente dinâmico e

complexo, logo, o planejamento deverá ser flexível o suficiente para atender novas

exigências. O Entrevistado 2 observa, “nem sempre o "bem" histórico/arqueológico é

patrimonializado. São escolhas políticas que transcendem a segmentação do objeto”.

Este tipo de afirmação pode indicar que os elementos que compõem o modelo

deverão ser flexíveis para atender as demandas do território, o que está previsto na

proposta, que não foi completamente exposta aos entrevistados.

O Entrevistado 3 não pontuou informações acerca deste modelo, porém,

crítica a morosidade e a falta de interesse em desenvolver projetos que visem a

valorização de nosso patrimônio.

Para a subcategoria Plano de Marketing o Entrevistado 6 sugeriu a criação

de elementos para compô-lo, são eles: criação de identidade visual, clipping temático

e agenda de releasing periódico para mídia escrita. Destacou ainda que é preciso ter

uma visão da comunidade, para além dos sítios arqueológicos, inserindo-a em uma

compreensão global do plano, identificando se há interesse no desenvolvimento

turístico por parte delas.

Inicialmente o Entrevistado 8 descreve ter sentido falta de instrumentos de

fiscalização e controle, talvez seja uma questão semântica, visto que, a categoria

Monitoramento/Avaliação tem esse objetivo, monitorar, mediar conflitos, gerir as

informações, entre outras atribuições. Destaca ainda, que a “legislação no item

políticas públicas é muito abrangente e não revela se na proposta há a previsão de

mecanismos de fiscalização e controle das ações da comunidade, dos turistas e do

trade”. Basicamente podemos dizer que a categoria Políticas Públicas possui duas

funções, avaliar a existência e ainda, propor recomendações e marcos legais para a

salvaguarda do patrimônio arqueológico. Ainda sobre a categoria Políticas Públicas o

Entrevistado 12 sugere que esta categoria deveria estar na Categoria

Reconhecimento, porém como mencionamos anteriormente, está categoria possuiu

duas funções, desta forma não se enquadra como subcategoria de reconhecimento.

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141

Por fim, o Entrevistado 9 sugeriu a verificação no modelo em alguma área

com presença de sítio arqueológico. Esta era a propostas inicial desta pesquisa,

porém, devido ao cronograma não houve possibilidade.

A partir dessa análise podemos estabelecer que de todas as categorias

estipuladas nesse modelo, a que se refere a Políticas Públicas foi a que recebeu

menor grau de coerência, apresentando média de 3,9. Considera-se nesse caso que

os respondentes ainda desconhecem a importância das políticas públicas para a

tomada de decisões quanto as áreas que possuem patrimônio arqueológico e suas

comunidades de entorno. Somente através de políticas estruturadas nas

necessidades locais, possibilitarão o desenvolvimento do Turismo Arqueológico, de

forma sustentável, sem inibir ou apagar a cultura local. Ressalta-se nesse caso, que

situações envolvendo turismo e comunidades de entorno de áreas protegidas, muitas

vezes perdem sua identidade, inviabilizando um turismo de qualidade. Como exemplo

positivo da importância das políticas públicas, tem-se diversas pesquisas, entre elas

destacam-se Guidón (2007), Chamas e Schmitz (2011), Buco (2012), e Shivo (2013).

Todos esses autores apresentam resultados positivos na ligação entre Turismo e

Arqueologia, quando políticas públicas são implantadas nos espaços que integram

patrimônio arqueológico e comunidade.

A categoria Programas com média 4,2 apresentou grau de coerência muito

bom. Com isso foi possível averiguar que os respondentes apreciaram a possibilidade

de desenvolvimento de programas que dessem conta de levar adiante projetos que

integrassem o Turismo e o patrimônio. Essa percepção ocorre diante do entendimento

que o Turismo, bem estruturado em programas pensados e estabelecidos a partir do

Reconhecimento, possibilitam a preservação e valorização do Patrimônio

arqueológico, bem como resguardam a comunidade local, evitando dessa forma, a

perda da sua identidade. A incongruência aparece, ainda que de forma minimizada na

categoria Reconhecimento, que apresentou uma média de 4,6. Ainda que definida

como possuindo um grau de coerência muito bom, estatisticamente ela apresenta um

afastamento da categoria Programas. Vale ressaltar, que ainda que se tenha

produzido um instrumento de pesquisa coeso com fortes indicações da

complementariedade de cada item do modelo, os respondentes ainda produzem uma

leitura desagregada do processo. O modelo considera que para que o Programa seja

produzido com qualidade há necessidade de um Reconhecimento minucioso da área

a ser pesquisada. Para isso se realizará o levantamento do patrimônio arqueológico,

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142

bem como dos elementos estruturais da cultura local, aqui considerados como fatores

da cultura material e imaterial que dão sustentabilidade ao modo de ser e de viver do

povo residente próximos aos sítios arqueológicos. Como exemplo de ações positivas

envolvendo essas duas categorias, tem-se as pesquisas de Veloso e Cavalcante

(2007), Guidón (2007), Chamas e Schimitz (2010), Griffith e Griffith (2012), Villalobos

(2014) e Ayala (2015), entre outros.

O Marketing também apresentou a média 4,2 indicando que essa categoria

integra-se e completa de forma coerente a categoria de Programa. O Marketing é uma

importante ferramenta de difusão do Patrimônio Arqueológico. Planejamentos

estratégicos tem sido desenvolvidos em todo o território nacional com o intuito de

difundir novas demandas de destinos e roteiros. O patrimônio arqueológico ainda é

um tipo de atrativo pouco difundido e valorizado pelos turistas, diante disso se torna

imprescindível que uma boa estratégia de marketing seja preparada, com a intenção

de despertar o interesse dos visitantes para outros lugares e atrativos. Para Zardo

(2003) a aceitação do Marketing no setor de serviços ainda é visto com certa

resistência. Avalia-se que o marketing para o turismo deve determinar os recursos

econômicos, a infraestrutura do local, os recursos materiais básicos, serviços e

instalações adequadas. Por fim, o marketing deve analisar se o local possui potencial

para investimentos que gerem lucros a médio e longo prazo. As pesquisas

sistematizadas nessa tese que colocam o Marketing como um elemento propulsor do

Turismo Arqueológico são as promovidas por Walls e Longo (2005), Chivu (2013) e

Shoup et al. (2014).

Por fim, as duas categorias que permeiam o processo do início ao fim são as de

Educação Patrimonial e Monitoramento. A primeira apresentou média de 4,4 com

ótima aceitação no público entrevistado. Trata de se manter atividades educativas

efetivas com as comunidades detentoras de sítios arqueológicos. O objetivo dessa

demanda recai sobre a necessidade de sensibilizar e transformar uma cultura de

descaso, por uma que aproprie o patrimônio arqueológico. A exemplo disso tem-se as

pesquisas desenvolvidas por Walls e Longo (2005), Guidon (2007), Veloso e

Cavalcante (2007), Chamas e Schmidt (2011) e Buco (2012). O Monitoramento com

média elevada, de 4,8 foi a categoria com melhor pontuação da amostra. Entende-se

que ao se monitorar um território turístico se construirá um modelo satisfatório, se

estiver integrado ao planejamento e gestão do território turístico como preconiza Anjos

(2004). Os exemplos de resultados positivos se utilizando da metodologia de

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143

monitoramento estão presentes nas pesquisas de Ramirez et al. (2010), Chamas e

Schmidt (2011), e Sugiura e Nieto (2014).

As seis categorias elencadas foram reunidas para a composição do modelo

a ser implantado em uma área litorânea, no entanto, servem de exemplo para a

aplicação dos recursos teóricos e práticos do Turismo Arqueológico em uma

perspectiva global, possibilitando o desenvolvimento de outros sistemas que

propiciem a valorização e a preservação do patrimônio arqueológico de maneira

sustentável, não apenas para os bens arqueológicos, mas também para a

comunidade local. A intenção é potencializar essas localidades, muitas vezes sem

outros recursos econômicos, oferecendo orientação, a fim de ampliar e estimular o

interesse da população local, pelo patrimônio arqueológico, promovendo e

regenerando o conhecimento regional, como parte desse patrimônio, caracterizando

os bens arqueológicos e conhecimento local, como parte da herança nacional. Com

isso, espera-se contribuir para a valorização e apropriação da memória e da história

local.

6.4 VERIFICAÇÃO DO MODELO NO MUNICÍPIO DE LAGUNA

Nesse item iremos apresentar a verificação do modelo proposto para o

município de Laguna. As categorias do planejamento foram pensadas e criadas a

partir do levantamento bibliográfico e documental realizado para a elaboração do

estado da arte do objeto dessa tese. Vale ressaltar que ainda que esse modelo tenha

sido pensado para um município do sul de Santa Catarina, ele pode ser extrapolado

para outros municípios com potencial arqueológico igual ou maior que o estabelecido.

Abaixo, segue a verificação das categorias.

6.4.1 Reconhecimento

A área prevista para a implantação do modelo que envolve a categoria de

Reconhecimento abrange o município de Laguna onde estão cadastrados 48 sítios de

natureza arqueológica diversificada, incluindo, além de alguma variedade de

sambaquis, sítios associados a outras culturas arqueológicas do Brasil meridional,

designadas genericamente como Tradição Umbu, Tupiguarani e Taquara/Itararé.

Esse patrimônio arqueológico pré-colonial não pode ser compreendido de maneira

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isolada, por isso é importante integrá-lo as suas características ambientais e históricas

(FARIAS et al., 2015).

Trata-se de uma área com grande diversidade ambiental e cultural que,

além de uma longa pré-história (que remonta a, pelo menos, cerca de sete mil e

quinhentos anos atrás), continua ao longo do período histórico. Após uma fase inicial

que envolve as relações, dificilmente amistosas, entre os grupos Guarani ali

assentados à época da conquista e os colonos vicentinos, ela vem sendo amplamente

ocupada desde o século XVII, quando ali se assentaram grupos de açorianos que

integraram a cultura dos povos indígenas, que por ali ainda resistiam aos hábitos

europeus. A influência Guarani está presente em todos os níveis, desde a alimentação

até a toponímia regional (FARIAS, 2015, p. 427).

O município apresenta um conjunto de características que não se encontra

em qualquer outro trecho do litoral catarinense. Sob o aspecto ambiental a área

guarda valioso patrimônio sedimentológico, já que aí se encontra um dos mais

complexos e singulares exemplos de interação entre formações costeiras quaternárias

no Brasil (GIANNINI, 1993, 2002) Estas fácies sedimentares apresentam-se

organizadas segundo quatro tipos de sistemas deposicionais: lagunar, barrabarreira,

planície costeira e eólico. O sistema lagunar inclui a desembocadura do rio Tubarão,

maior delta interior do país, e o sistema eólico abrange exemplos raros de dunas

quaternárias, de diferentes gerações, empoleiradas sobre obstáculos rochosos

(GIANNINI, 2002), além de extensos campos de dunas ainda ativos. De grande beleza

cênica, a área envolve praias, restingas, cordões de dunas, promontórios, lagoas e

lagunas, entremeados por pequenos morros e margeados pelos contrafortes das

Serras do Leste. Além disso, trata-se de uma área já consagrada pelo IBAMA como

santuário das baleias francas, por ser nas pequenas enseadas que essa espécie vem

procriar. Junto com as baleias, encontramos grande diversidade de fauna ictiológica

e malacológica, bem como aves e mamíferos terrestres (FARIAS et al., 2015).

Na história mais recente Laguna foi palco de movimentos de importância

na história do Brasil, e ainda está muito viva na memória da população local a Guerra

dos Farrapos, que culminou com a proclamação da República Juliana ou Catarinense,

onde a memória de Anita Garibaldi continua sendo cultuada. Além disso, ainda hoje

essa área é ocupada por pescadores com seus ranchos e a prática da pesca artesanal

nas suas embarcações tradicionais; rendeiras e tecelãs, catadores de mariscos e

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145

berbigão, enfim, uma peculiar e interessante combinação de elementos naturais e de

culturas tradicionais (FARIAS et al., 2015).

Todo este magnífico cenário paisagístico natural, culturalmente marcado

pela presença milenar dos sambaquis e outros vestígios arqueológicos, e que abriga

grande diversidade ecológica, além de numerosas comunidades tradicionais, já é

reconhecido pela sociedade, que procura Laguna não apenas pelo Turismo de sol e

mar, mas também por seus atrativos históricos e arqueológicos.

Guimarães (2012), afim de compreender melhor as dinâmicas territorias

do município de laguna, propõe a compartimentação em subsistemas para

compreender a dinâmica dos elementos construídos em cada espaço. Com base no

Plano Diretor Municipal – PDM, o autor criou seis subsistemas: subsistema Itapiruba

/ Praia do Sol, localizado na porção norte do município; subsistema Centro Histórico /

Praia do Mar Grosso, junto à sede urbana de Laguna; subsistema Ponta da Barra /

Farol de Santa Marta, região sudeste; subsistema Campos Verdes / Cigana, ao sul;

subsistema Ribeirão Pequeno / Pescaria Brava, sudoeste; e subsistema Cabeçudas

/ Perrixil, noroeste. O território foi compartimentado buscando integrar locais com

dinâmicas territoriais semelhantes, e apenas quatro deles foram considerados

subsistemas turísticos, visto que os outros sistemas possuem uma dinâmica rural,

porém também são potencialmente turísticos, embora o turismo ainda não ocorra na

área. Os mapas contendo essas compartimentações se encontram nos anexos

(Anexo A, Anexo B, Anexo C, Anexo D, Anexo E, Anexo F e Anexo G), nos quais

podemos observar a grande quantidade de sítios arqueológicos.

Ainda na pesquisa de Guimarães (2012), este realizou um estudo de

viabilidade do potencial arqueoturístico a fim de avaliar o reconhecimento da

população local sobre o potencial turístico de Laguna. A pesquisa apontou que entre

os principais atrativos do município, o que se destaca é o natural, já que o município

é cercado por praias e lagoas, que atraem uma quantidade significativa de turistas

principalmente durante o verão. Os atrativos históricos culturais, vem na sequência,

já que o município apresenta um importante e preservado centro histórico, que atrai,

ainda que de maneira secundária, os turistas que frequentam as praias e lagoas. No

gráfico 1, pode-se verificar esses dois atrativos, além de mais três que foram

levantados por Guimarães (2012).

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146

Gráfico 10: Principais atrativos turísticos.

Fonte: SANTUR

Os dados obtidos por Guimarães (2012) indicam que os aspectos da

história de Laguna mais destacados foram a história de Anita Garibaldi, e demais

aspectos da história da cidade em geral, desde a colonização, Tratado de Tordesilhas.

A história da República Juliana foi citada pelos pesquisados, de forma insipiente, da

mesmo forma citaram a preservação da arquitetura e centro histórico. Ainda que o

município possuía grandes sambaquis objetos de levantamento arqueológico e

atividades educativas contínuas, Guimarães (2012) verificou que a população não

entendia a pré-história como um aspecto da história de Laguna a ser destacado.

O turismo em Laguna se realiza principalmente na temporada de verão,

onde há grande procura por suas praias. Os balneários são ocupados

fundamentalmente por veranistas que possuem no local segunda residência, estes

poucos desfrutam do local fora do verão. Após esse período o movimento reduz

drasticamente, enfraquecendo a economia nos locais. O município carece de políticas

públicas que incentivem a procura por visitantes em baixa temporada.

6.4.2 Política Pública

O município de Laguna não conta com legislação, em nível municipal,

específica para proteção dos sítios arqueológicos presentes em seu território. Do

ponto de vista legal estes sítios arqueológicos estão salvaguardados pela Lei 3.924

(BRASIL, 1961), promulgada em 26 de junho de 1961, e a partir desta data passou a

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criminalizar quaisquer atos de depredação ao patrimônio arqueológico. Contudo, este

movimento jurídico não se mostrou eficiente para a preservação do patrimônio

arqueológico, uma vez que os sambaquis continuaram a ser intensamente minerados

até a década de 1980, inclusive pelo poder público municipal da região.

Apesar da proteção legal, a destruição dos sambaquis, assim como demais

sítios arqueológicos, ainda ocorre. Percebe-se que estas ações não são reflexos

apenas da falta de conhecimento da população, mas, principalmente da ausência de

políticas públicas, que busquem valorizar o patrimônio pré-colonial catarinense.

Atualmente, os atos depredatórios mais comuns são: esportes radicais com veículos

automotores (jipeiros, motociclistas e afins); atividades agropastoris; descarte de lixo;

ocupação urbana irregular; destruição de sinalização e cercas de delimitação dos

sítios. Medidas legais nem sempre são suficientes para inibir por completo a

depredação, mais que forças impositivas, criadas de forma verticalizada, são

necessárias ações efetivas de divulgação, valorização e fruição que sensibilizem os

cidadãos e transformem a realidade (GUIMARÃES et al., 2016).

É necessário pensar políticas de preservação, que não sejam impositivas,

arbitrárias, advindas do poder público de forma verticalizada. Para Guillaume (1980

apud CARNEIRO, ALICE M. P. DE AZEVEDO, 2004, p. 61–62), não é a valorização

do passado que produz a conservação, mas sim a conservação, que dá ao passado

um novo valor de operador social. É a construção de uma política do patrimônio que

engendra o interesse repentino pelo passado e a necessidade de conservá-lo e não o

contrário.

Essas políticas devem estar pautadas nas produções simbólicas,

significantes, identitárias e nas memórias de comunidades acerca da produção do seu

patrimônio, seja ele de ordem material ou imaterial, assim denominado não pela sua

funcionalidade, mas pelo seu poder simbólico, sendo constituído no seio de

comunidades com o poder de significar (CHOAY, 2006).

Seguindo este pensamento o turismo pode atuar como mecanismo de

valorização, quando desenvolvido de forma responsável, poderá garantir a

salvaguarda do patrimônio cultural material. Como atividade planejada e consolidada,

pode trazer benefícios, principalmente para a comunidade local e subsequentemente

para o sítio arqueológico, desde que planejado. Lickorish e Jenkins (2000, p. 109)

afirmam que "o turismo pode até mesmo oferecer uma forma de reativar a vida social

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e cultural da população residente, revitalizando assim a comunidade local,

estimulando contatos no país, atraindo jovens e favorecendo as atividades da região".

O segmento de turismo cultural se apresenta como alternativa para

abastecer os equipamentos turísticos de determinada região. Barretto (2002) define

que o “turismo cultural seria aquele que tem como objetivo conhecer os bens materiais

e imateriais produzidos pelo homem”. Nessa mesma perspectiva, Rodrigues (2005, p.

15) afirma que "além do valor cultural específico, do ponto de vista do turismo cultural,

esses bens materiais possuem outro valor, o de serem objetos indispensáveis, cujo

consumo constitui a base de sustentação da própria atividade".

Relacionado ao turismo cultural, destaca-se o turismo arqueológico, que

tem em vista o desenvolvimento da atividade turística como agente que promove e

preserva os sítios arqueológicos, divulgando a cultura e evidenciando-a através dos

vestígios deixados por civilizações antigas.

O turismo arqueológico é o "segmento turístico que utiliza sítios

arqueológicos como atrativos e atinge aspectos, como: a proteção dos recursos, a

valorização econômica, a participação da população local, o turismo como ferramenta

de conservação e preservação" (GUIMARÃES; ANJOS, 2015, p. 221). Neste

segmento, o turista é motivado a se deslocar com o intuito de visitar e conhecer as

particularidades de determinada cultura pretérita.

6.4.3 Programas

A cidade de Laguna não oferta oficialmente um roteiro turístico que

privilegiem a visitação aos sambaquis, percebemos divulgação de alguns sítios

isoladamente.

Um roteiro de Turismo Arqueológico para ser estruturado e implementado,

deve dialogar com a comunidade local, tendo assessoria de profissionais e

organizações que atuam na região. Este segmento deve estar pautado no princípio

da sustentabilidade e para sua implementação é indispensável a realização de um

estudo de capacidade de carga – conforme propomos na categoria reconhecimento

–, para que esta atividade não impacte negativamente o patrimônio. O

desenvolvimento de um roteiro que privilegie sítios arqueológicos deverá ter como

premissa a salvaguarda do patrimônio, buscando despertar reconhecimento,

identidade e valorização para com o patrimônio existente. Palestras e ações de

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Educação Patrimonial poderão ser um meio para alcançar esses objetivos

(TOCCHETTO et al., 2013; ZAMPARETTI, 2014). A partir da consolidação de um

roteiro, a comunidade receptora poderá beneficiar-se com a geração de renda.

Demonstrando que o desenvolvimento de uma atividade econômica, que envolva

sítios arqueológicos, pode estar ligada a valorização do patrimônio arqueológico

(COPETA; GIACOMO, 2010; GUIMARÃES et al., 2016).

Outra iniciativa que teria ótima repercussão seria a construção de um

centro interpretativo, uma instalação que servisse para recepcionar visitantes,

apresentando uma pequena exposição sobre ambiente e arqueologia da região, a que

se seguiria uma visita guiada aos sambaquis. Esta iniciativa envolveria algum

investimento em infraestrutura, mas certamente contribuiria consideravelmente para

ampliar as possibilidades turísticas da região.

Essa infraestrutura para receber visitantes, deverá incluir uma exposição,

folhetos, uma pequena loja de souvenirs (livros, réplicas, etc), banheiros, uma área de

estacionamento para ônibus escolares e visitantes avulsos, talvez uma lanchonete;

enfim, um centro de recepção com um guia que leve escolas e visitantes avulsos por

um tour nos sambaquis. Esta iniciativa, além de criar uma fachada “civil” para os sítios

arqueológicos, também os usaria para criar um serviço de utilidade pública.

Considera-se com isso que o Turismo Arqueológico, pode aliar o

desenvolvimento socioeconômico e ampliar o potencial das pesquisas acerca das

populações humanas pretéritas (VELOSO; CAVALCANTI, 2007, p. 166). Ressalta-se,

contudo, que o sucesso desta atividade está conectado à uma ação planejada e em

conjunto com a comunidade e poder público local.

6.4.4 Marketing

No município de Laguna foi lançado um plano de Marketing do patrimônio

existente na área de sua abrangência, através de atividades de sensibilização do

turista, da comunidade local e a criação de uma infraestrutura de recebimento

(MORAIS, 2002; FIGUEIREDO; PEREIRA, 2007; VELOSO; CAVALCANTI, 2007;

GRIFFITH; GRIFFITH, 2012; GUIMARÃES, A. M., 2012; GUIMARÃES; ANJOS,

2015).

A comunidade local deve ser a principal interessada em implementar a

proposta do Turismo Arqueológico, para isso, precisa-se de ações que visem a

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valorização no ano de 2015, por meio do Primeiro Workshop de Marketing Turístico,

a fim de promover o fortalecimento do turismo na região.

O plano aconteceu em parceria com os municípios litorâneos de Imbituba

e Garopaba com o intuito de fortalecer o Turismo de Observação da Baleia-Franca no

Sul de Santa Catarina, já que esses três municípios, estão entre os principais destinos

procurados no Estado de Santa Catarina.

O plano destacou como atrativos do município: a Ponte Anita Garibaldi, a

Pedra do Frade, o Farol de Santa Marta, os Molhes da Barra, a pesca artesanal com

auxílio dos botos, o centro Histórico entre outros.

Observa-se que os sítios arqueológicos não estão contemplados nesse

projeto, que prevê a definição de um roteiro para o ecoturismo, uma vez que o foco

central é a estruturação do trade turístico na Área de Proteção Ambiental (APA) da

Baleia Franca, promovendo uma rota conhecida como Rota da Baleia-Franca que foi

viabilizada por meio de um convênio entre o Sebrae Nacional, governo do estado e

prefeituras.

6.4.5 Educação Patrimonial

A Educação Patrimonial é uma ação processual que objetiva a difusão e a

valorização do patrimônio cultural por meio de metodologias educativas constituindo-

se de todos os processos educativos formais e não formais que enfocam o Patrimônio

Cultural. Este, por sua vez, é apropriado socialmente como recurso para a

compreensão sócio histórica das referências culturais em todas as suas

manifestações. A Educação Patrimonial propicia o reconhecimento, a valorização e a

preservação do patrimônio cultural (FLORÊNCIO et al., 2014, p. 19).

O patrimônio arqueológico brasileiro carece de políticas públicas que

fomentem sua proteção de forma efetiva, e, paralelo a isto, está o distanciamento entre

a população e o patrimônio arqueológico, muitas vezes, vistos como objetos de atraso

e empecilho ao desenvolvimento do país (ZAMPARETTI, 2014). Na contramão deste

discurso, as ações de Educação Patrimonial, voltadas à preservação do patrimônio

arqueológico, são importantes para uma mudança de paradigma.

Farias (2000, p. 167) expõe o lado social da pesquisa arqueológica, para

que assim legitime a ação do arqueólogo que é ser plural, eclética e pragmática,

convivendo com toda a diversidade de práticas e teorias. (2002, p. 8) corroborando

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151

com tal ideia, expõe a ineficiência em cobrar algo da comunidade circunvizinha ao

patrimônio, quando a sociedade científica não faz seu papel de disseminadora do

conhecimento “na medida em que as pessoas não podem ser cooptadas e

estimuladas a cuidar daquilo que elas sequer conhecem”.

Em todas as pesquisas arqueológicas realizadas nos sítios arqueológicos

do município de Laguna, vinculam-se atividades educativas, tendo o patrimônio

arqueológico como elemento dinamizador do conhecimento. Acredita-se que a

preservação é inerente ao conhecimento, e que um patrimônio vazio de significado e

vivência não se constitui como tal. Cada grupo humano possui, dentro de suas

matrizes culturais, elementos simbólicos e significantes. Como demonstra Byington

(2006, p. 25), poucas coisas vêm a caracterizar o ser humano quanto os símbolos,

que podem ser analisados de vários ângulos e por meio de diferentes conceitos,

utilizados como significante de algo ou como sinais convencionados. Significante do

sujeito ou convenção social, os símbolos fazem parte do universo cultural humano.

O Patrimônio perde seu valor simbólico a partir do momento em que não é

mais significativo para determinada sociedade. Essa perda simbólica acarreta a

marginalização do patrimônio, e o distanciamento da sociedade que o significa. É

neste momento, que são discutidas as mudanças acarretadas pela força da sociedade

civil quanto às práticas de preservação e valorização (CARNEIRO, ALICE M. P. DE

AZEVEDO, 2004, p. 53).

O Brasil é um país com diversificado patrimônio cultural, o que ocorre tanto

pelas suas dimensões continentais quanto pela composição histórica e humana,

construída a partir de hibridismos culturais (CANCLINI, 1997; HALL, 2003), onde o

poder público não possui ações suficientes e eficientes para alcançar e preservar a

pluralidade dos patrimônios existentes. Assim, medidas educativas que envolvem as

comunidades que produzem e significam o patrimônio devem compor o cenário

regional, visando a sensibilização para a sua preservação.

Oliveira e Wenceslau (2008, p. 30) afirmam que as ações desenvolvidas

pela Educação Patrimonial servem de subsídio para que a comunidade em geral se

reaproprie de seus bens, retomando valores culturais e históricos relativos a essa

sociedade. Sendo assim, a Educação Patrimonial trabalha para a valorização da

identidade local, regional ou nacional. Somente por meio desta recuperação e

identificação, é que o patrimônio pode realmente ser protegido.

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152

A função da Educação Patrimonial é levar os indivíduos à um processo

ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural,

capacitando-os para a utilização destes bens e propiciando a geração e a produção

de novos conhecimentos, tendo assim um contínuo processo de criação cultural.

6.4.6 Monitoramento / Avaliação

As pesquisas realizadas por Guimarães (2012), indicaram que no município

de Laguna não havia um sistema de gerenciamento de informações. O que se tem,

ainda hoje, já que de lá para cá não ocorreu alterações em relação a esse dado, são

trabalhos pontuais como o próprio CNSA/Iphan, responsável por compilar o cadastro

dos sítios arqueológicos.

Além disso, tem-se as pesquisas arqueológicas que ocorrem atualmente

na região, porém estes dados não são disponibilizados em um único local, ficando

dispersos em relatórios técnicos e científicos, bem como em artigos e capítulos de

livros.

Avalia-se que essas informações precisam ser compiladas em uma

plataforma única, que permita armazenar e organizar os dados de toda a área,

contribuindo para uma gestão eficaz dos conflitos e impactos durante a fase de

planejamento, e posteriormente, de gestão.

Por fim, considera-se de extrema importância organizar a Produção de um

SIG, que gere informações precisas sobre a localização dos sítios a fim de produzir

dados para a gestão sustentável do patrimônio arqueológico regional.

Esse SIG aplicado à Arqueologia funcionará como uma ferramenta para

identificar de forma rápida e sistemática elementos ligados aos interesses

arqueológicos e turísticos. O uso do SIG permitirá a visualização espacial dos

acontecimentos pretéritos, bem como executará uma correlação da dinâmica dos

fatos segundo a representação geográfica (mapas). Os mapas temáticos irão compor

o sistema e sustentarão as análises espaciais, permitindo o relacionamento de

variáveis consideradas relevantes para entendermos o padrão de assentamento e o

aproveitamento do ambiente pelos grupos humanos do passado que são enquadradas

no Modelo de Predição de Sítios (KNEIP, 2004). É preciso reconhecer a importância

do planejamento a longo prazo, bem como a utilização de indicadores de desempenho

que monitorem a valorização econômica, ambiental e social. Paralelamente, também

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153

é necessário investir em práticas e tecnologias que permitam minimizar os impactos

(RUSCHMANN, 1997; ANJOS, 2004; ENDERE; ZULAICA, 2015).

6.4.7 Discussão

A utilização de sítios arqueológicos como atrativo turístico deverá ser mais

uma alternativa para a preservação, tendo em vista, transmissão do conhecimento

acerca da origem do patrimônio, sendo um instrumento para divulgação das pesquisas

arqueológicas.

O desenvolvimento do turismo, utilizando como atrativos os sítios

arqueológicos, deve ser concebido a partir de um planejamento, para que haja uma

utilização que não comprometa a integridade do local e garanta o acesso às gerações

futuras, seguindo o princípio da sustentabilidade. É preciso garantir que o turismo

arqueológico não seja um agente explorador do recurso, mas sim uma ferramenta de

sensibilização para que todos cumpram seu papel de protagonista na preservação

dos sítios arqueológicos (GUIMARÃES; ANJOS, 2015, p. 224).

Bezerra (2012, p. 149) destaca que, o turismo arqueológico exerce um

papel importante na economia de países como Grécia, México, Peru, entre outros,

diferentemente do Brasil que tem uma participação tímida neste segmento. A autora

atribui o fato como resultante de diversas razões, entre elas: o patrimônio arqueológico

pouco valorizado, ignorância do potencial turístico, inclusive, desprestígio do tema

pela comunidade acadêmica.

O turismo arqueológico quando concebido através de um planejamento e

gestão eficaz da atividade, será um poderoso parceiro para a valorização e a

preservação, um recurso para garantir a salvaguarda, porém, o desenvolvimento

inconsequente poderá causar danos irreversíveis ao patrimônio. Este segmento

deverá ser desenvolvido sob olhar atento da arqueologia e o apoio incondicional da

educação patrimonial – atuando em processos educativos formais e informais –

voltada ao trade turístico, comunidades circunvizinhas e o próprio visitante. Conforme

descreve Bezerra (2012, p. 154–155), o turismo arqueológico vem conquistando

espaço nas discussões acadêmicas, que muitas vezes não percebia essa temática

como parte do “fazer arqueológico”, galgando publicações, projetos e eventos.

Percebe-se que apesar da grande quantidade de sítios arqueológicos e,

por conseguinte, do potencial para o desenvolvimento do Turismo Arqueológico, o

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Município de Laguna carece de políticas públicas para a valorização, até mesmo para

a preservação desse legado. O turismo na cidade está focado no segmento de sol e

praia, o que também se configura um risco para o patrimônio arqueológico, que estão

implantados juntos a essas paisagens litorâneas. Estás áreas urbanizadas foram

surgindo sem um plano de ordenamento, causando forte pressão ambiental, tanto ao

patrimônio natural, quanto ao cultural, com a expansão de aglomerados urbanos em

curso. O município não dispõe inclusive de rede de coleta e tratamento de esgoto. Em

suma não há em Laguna, ou mesmo em cidades vizinhas, infraestrutura adequada

para a implantação de um roteiro que privilegie os sambaquis da região, o que se

considera algo relativamente positivo, pois o desenvolvimento da atividade de

visitação sem um planejamento apropriado submeteria o patrimônio a grande risco.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O turismo é uma atividade capaz de provocar profundas modificações no

território, inclusive paradoxais, quando bem planejado será capaz de impactar

positivamente, somando benefícios, entretanto, o desenvolvimento anômalo poderá

ser extremamente danoso e perverso para os diferentes meios a qual está inserido.

Em se tratando de turismo arqueológico, como já afirmado anteriormente, a falta de

ações que visem o ordenamento da atividade poderá gerar danos irreversíveis aos

sítios arqueológicos.

Apesar do expressivo número de sítios arqueológicos cadastrados no

Brasil, que ultrapassa 27 mil registros, as políticas públicas de valorização e

preservação ainda são muito incipientes. Embora criados os marcos legais, que

amparam a preservação do patrimônio arqueológico, ainda estamos distantes de um

panorama de preservação ideal. Estes mecanismos impositivos desvinculados de

ações conjuntas de conscientização e sensibilização, e ainda, aliados a baixa atuação

do Estado brasileiro na gestão e fiscalização dos sítios arqueológicos, tem colocado

este legado cultural em risco, sem aforismos, um retrato assustador do futuro do nosso

passado.

Santa Catarina possui atualmente mais de 1700 sítios arqueológicos

registrados no CNSA/Iphan, destes 48 estão no município de Laguna22. Seguramente

podemos afirmar que este valor não está completo, sítios pesquisados na região ainda

não estão disponíveis para consulta no bando de dados. Conforme estabelecido nos

objetivos, realizamos um levantamento bibliográfico das pesquisas arqueológicas

desenvolvidas no município de Laguna, com a intenção de apresentar um panorama

da ocupação pré-colonial. Esta etapa confirmou o forte potencial arqueológico do

município, demonstrando a diversidade e densidade da ocupação pré-colonial.

Este trabalho teve como principal objetivo propor uma estratégia de

planejamento para turismo em sítios arqueológicos sambaquis. A intenção é que, o

modelo garantisse o desenvolvimento da atividade de forma responsável, sustentável

do ponto de vista ambiental, sociocultural e econômico, visando a proteção e

visibilidade do patrimônio.

22 Vale ressaltar que esses números são os cadastrados no IPHAN, Farias e Kneip, 2010 reportam a mais de 2100 sítios identificados e pesquisados no Estado de Santa Catarina.

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Inicialmente realizamos um levantamento em base de dados sobre estudos

de casos de planejamento e gestão do turismo em áreas com sítios arqueológicos.

Esta etapa da pesquisa possibilitou contato com estudo sobre essa relação entre

turismo e patrimônio arqueológico. Além de casos em território nacional, foram

analisados também fatos em outros países do continente americano e europeu. A

partir desses estudos o escopo da proposta de planejamento se originou.

O foco dessa tese foi propor uma estratégia para o planejamento do turismo

arqueológico, a partir de um modelo elaborado por meio do levantamento em base de

dados internacionais de pesquisas. Assim, esses estudos subsidiaram, com suas

especificidades, o modelo de Planejamento do Turismo Arqueológico que foi

construído através do discernimento de imprecisões, equívocos, discrepâncias, bem

como, de êxitos e sucessos de diversas experiências ao redor do mundo.

Foram concebidas para o modelo seis categorias – Reconhecimento,

Políticas Públicas, Educação Patrimonial, Monitoramento-Avaliação, Programas

e Marketing, que se dividiram-se em 22 subcategorias. Após a criação, a proposta foi

testada em sua coerência, por meio de um teste de aceitabilidade com pesquisadores

da área de Turismo e Arqueologia. Foram avaliados aspectos gerais do plano, e

específicos de cada categoria. A intenção era que os respondentes atribuíssem um

grau de coerência, que variava entre 1 e 5, quanto menor o número menor a

coerência, quando maior, mais coerente.

A categoria Reconhecimento foi responsável por produzir uma leitura das

dinâmicas que envolvem o território turístico e o patrimônio arqueológico, a média do

grau de coerência atribuída pelos entrevistados foi de 4,6. O resultado muito próximo

do grau máximo.

Nas Políticas Públicas buscou-se identificar ações para valorização e

proteção do patrimônio arqueológico, sobretudo, quando inexistente propôs medidas,

como: leis, regulamentações, documentos de orientações, dentre outras medidas de

valorização que visavam a salvaguarda do patrimônio arqueológico. Está foi a

categoria que recebeu a média mais baixa 3,9. Porém, suficiente para ser aprovada,

estando acima da média da escala utilizada, a um décimo do grau 4.

A Educação Patrimonial é uma categoria que, sob a luz de proposta,

estará presente desde as fases iniciais, sendo desenvolvida com estratégias

dinâmicas e focadas para os diferentes atores – comunidade circunvizinha,

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comunidade de escolar, trade turístico e órgãos governamentais. A média obtida na

avaliação desta categoria foi de 4,4.

Outra categoria que estará presente desde o princípio do processo de

planejamento é o Monitoramento / Avaliação, responsável por mediar os conflitos,

impactos e gerir informações, exigindo de outras categorias flexibilidade para que se

adaptem frente aos novos cenários, previstos ou não na proposta. A categoria obteve

grau 4,8 na avaliação, o mais elevado de todas as apresentadas.

Uma categoria crucial neste modelo é a de Programas, que irá propor, com

base nas informações das categorias anteriores, uma série de programas específico,

a fim de atender a dinamicidade para o planejamento do segmento. Obteve-se o grau

4 na avaliação, o que consideramos bastante positivo. Destacamos que as

subcategorias foram concebidas pensando atender demandas pré-existentes,

contudo, outras poderão ser criadas de acordo com as necessidades apresentadas.

O Marketing foi uma categoria criada a partir da observação de casos em

que demonstraram a necessidade de promoção do segmento. A categoria deverá

conter diversos elementos que compõe um plano de marketing, auxiliado pelos

resultados obtidos em categorias anteriores. Na avaliação a qual foi submetida a

categoria se obteve média 4,2, dessa forma corroborando com a proposta.

Após a etapa de aceitabilidade, a qual submetemos a avaliação do modelo

por pesquisadores e gestores, verificamos a proposta de Planejamento do Turismo

Arqueológico como os dados disponíveis para o território turístico do Município de

Laguna. Percebe-se que o município possui grande potencial para o desenvolvimento

da atividade, porém, as visitas ainda são muito incipientes e espontâneas. Não há

políticas públicas para a valorização destes patrimônios culturais, muitas vezes

submetido a uma grande pressão pela ocupação das áreas balneárias, paisagens

onde estão implantados os sítios arqueológicos. O município possui 48 registros de

sítios arqueológicos junto ao Iphan, destes, a grande maioria são sambaquis, porém,

pelas pesquisas arqueológicas desenvolvidas na região sabemos que esse número

não reflete a realidade, o que faz com que o município tenha seu potencial turístico e

arqueológico aumentado.

O modelo de Planejamento de Turismo Arqueológico proposto se constituiu

de categorias análise, criadas para atender as necessidades no planejamento deste

segmento turístico. Inicialmente a proposta serve de exemplo para a aplicação dos

recursos teóricos e práticos do Turismo Arqueológico em uma perspectiva global,

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possibilitando o desenvolvimento de outros sistemas que propiciem a valorização e a

preservação do patrimônio arqueológico de maneira sustentável, não apenas para os

bens arqueológicos, mas também para a comunidade local. A intenção deste modelo

é a valorização do patrimônio arqueológico, bem como da manutenção da cultura das

comunidades circunvizinhas, muitas vezes sem outros recursos econômicos. Diante

disso, o modelo norteará o desenvolvimento de uma proposta que propicie maior

participação e estimule o interesse da população local, pelo patrimônio arqueológico.

Além disso, esse modelo poderá ser extrapolado para outras áreas, que

tenham potencial igual ou maior do que a área investigada. Em linhas gerais, se

espera que o segmento de turismo arqueológico, desenvolvido a partir deste modelo,

venha contribuir para a preservação, valorização e promoção do patrimônio

arqueológico.

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ANEXOS

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ANEXO A – Subsistema territoriais de Laguna

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ANEXO B – Subsistema territorial Centro Histórico / Mar Grosso

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ANEXO C – Subsistema territorial Ponta da Barra / Farol de Santa Marta

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ANEXO D – Subsistema territorial Campos Verdes / Cigana

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ANEXO E – Subsistema territorial Ribeirão / Pescaria Brava

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ANEXO F – Subsistema territorial Cabeçudas / Perrexil

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ANEXO G – Subsistema territorial Itapirubá / Paria do Sol