Turismo cultural e ecológico em Alagoa Grande: um estudo ... · Gunewald (2003) conceitua como...

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Turismo cultural e ecológico em Alagoa Grande: um estudo sobre impactos, sustentabilidade e preservação. Melise Lima Lunguinho Campina Grande, junho de 2012

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Turismo cultural e ecológico em Alagoa Grande: um estudo sobre

impactos, sustentabilidade e preservação.

Melise Lima Lunguinho

Campina Grande, junho de 2012

“Desde os primórdios

Até hoje em dia

O homem ainda faz

o que o macaco fazia

eu não trabalhava, eu não sabia

que o homem criava e também destruía”

(Titãs – Homem Primata)

INTRODUÇÃO

Desde os tempos antigos, a sociedade humana se movimenta se desloca de um

local para outro. De acordo com Urry (2001) turismo se refere ao movimento de pessoas

que saem para contextos diferentes do de origem em busca do extraordinário, aquilo que

foge a seu cotidiano. O comportamento turístico é considerado como uma compensação

para uma vida desagradável e maçante, sendo, dessa forma, uma ruptura do ordinário.

Gunewald (2003) conceitua como “tudo que indica movimento de pessoas que não

estão a trabalho em contextos diferentes do de origem, seja este o lar, a cidade ou o país.

Trata-se, geralmente, de visitação a lugares onde poderão ser desempenhadas as mais

variadas formas de atividades práticas e/ou subjetivas desde que não o trabalho”. O

objetivo da prática turística é alternar o cotidiano com lazer.

Trata-se, então, de lugares onde podem ser desempenhadas as mais variadas

práticas, menos o trabalho. No turismo prevalece o caráter de lazer, de fuga da rotina.

Graburn (2009) aponta que o mínimo que se pode dizer a respeito do turismo, é

que essa prática envolve movimento de pessoas de um lugar para outro.

De acordo com Krippendorf (1989), as pessoas viajam porque não se sentem

mais a vontade no seu lugar de origem. Elas sentem a necessidade urgente de fugir da

rotina, do marasmo, do estresse do trabalho, etc.

Para ele, o turismo é uma atividade que serve a reconstituição do ser

estressado, bastante acuado pelo cotidiano de trabalho. Como válvula de escape para

tamanho cansaço, o tempo disponível das pessoas muitas vezes é usado no lazer em

viagens, como uma forma de compensação para tudo aquilo que falta no cotidiano.

Assim, “o turismo funciona como terapia da sociedade, como válvula que faz manter o

funcionamento do mundo de todos os dias” (ibid.)

Dentro dessa ótica, as pessoas viajam para viver, para relaxar, para ficarem

satisfeitas e esquecerem a vida maçante e corriqueira que possuem. “a seguir, voltamos

para casa, mais ou menos em forma, para suportar o cotidiano durante certo tempo- até

a próxima vez” Com essa frase, Krippendorf argumenta a sensação de satisfação não é

permanente, ela cria uma espécie de ciclo, de repetição, onde o desejo de viajar

novamente é criado logo após a volta.

No turismo, o movimento de pessoas é temporário, porque o turista sempre pensa

em retornar para casa. Uma das características principais do turismo é justamente a

permanência pouco prolongada, dessa forma, “ele viaja para perceber que as coisas não

são tão ruins assim em casa, e que talvez sejam até melhores do que em qualquer outro

lugar ’’ (KRIPPENDORF, 1989:16). Assim, o turista sempre viaja para voltar.

Desde o império romano há relatos sobre atividade turística. Os Romanos teriam

sidos os primeiros a viajar por prazer. O conceito turismo surge no século XVII na

Inglaterra se referindo a um tipo especial de viagem. Urry (1990) destaca que o

desenvolvimento do turismo de massas pode ser encontrado no interior da Inglaterra do

século XVII, no entanto, era um turismo realizado pelas classes mais abastadas. Até

metade do século XIX existiam formas organizadas de viagem, mas viajar por motivos

de lazer era uma atividade seletiva, acessível apenas a uma minoria da população.

Segundo Urry (idem) esse quadro mudou apenas em 1841 na Inglaterra, quando foi

inaugurada a ferrovia Thomas Cook. A partir desse momento, as viagens tornaram-se

mais acessíveis. Em 1940 já se havia estabelecido na Inglaterra uma grande indústria

turística.

No mundo ocidental o turismo emergiu em finais do século XIX e início do

século XX, sobretudo com o desenvolvimento das transformações sócio-econômicas

experimentadas no período pós II guerra mundial. Desde então são relevantes os estudos

sobre o turismo. Nas ciências Sociais os estudos do turismo começaram a se fixar entre

os anos 1960 e 1970.

Nos estudos de turismo há dois aspectos possíveis a focar, um deles, o

turismo, e outro, o turista. Smith (1989) aponta que o turismo é difícil de definir, que as

pessoas o praticam com motivações diferenciadas. Há os que unem trabalho com lazer

e os que vêem o turismo como forma de lazer, que buscam experimentar novos

contextos.

Krippendorf (1989) afirma que as pessoas viajam porque não estão mais a

vontade no local onde moram, estão fugindo do cotidiano. As carências sentidas no

cotidiano podem ser descobertas em outro lugar. O próprio, atenta para a relação

“trabalho-moradia - lazer- viagem”. Ele denomina essa tipologia como o ciclo da

reconstituição do ser humano na sociedade industrial. Assim:

“O ponto de partida é o homem e as esferas de sua

existência –trabalho, moradia e lazer- que representam

seu universo cotidiano. Uma parte do lazer desenvolve-se

no âmbito das viagens: o universo do cotidiano se abre

para o exterior. Essa evasão é marcada por influências e

esperanças específicas. O destino das viagens constitui o

outro pólo, o anticotidiano... Enfim, esse turismo produz

conseqüências e efeitos tanto sobre... as regiões visitadas

como sobre o ambiente de casa”. (KRIPPENDORF,

1989:27).

Em uma sessão posterior, iremos discorrer sobre essa última parte da citação de

Krippendorf, que se refere às conseqüências e efeitos ocasionados pelo turismo nas

regiões visitadas.

É importante destacar o esquema de tipologias do turismo e dos turistas

proposto por Bruner (2005) para dessa forma, destacarmos quais servirão de mediadoras

na nossa pesquisa. Vejamos a seguir:

Tipologia do turismo:

Turismo étnico

Turismo cultural

Turismo histórico

Turismo ambiental

Turismo recreacional

Tipologia dos turistas:

Turista explorador

Turista de elite

Turista de massa

Viajante individual

Mochileiro

Viajante de grupo

Dentre as tipologias apresentadas por Bruner, buscaremos abordar nesse

artigo as de turismo histórico, cultural e também de turismo ambiental (ou ecoturismo).

Para isso, faremos um breve histórico sobre a cidade de Alagoa Grande, destacando

seus principais atrativos turísticos, focalizando no turismo ambiental. Feito isso, iremos

também destacar alguns dos impactos ocasionados pelo turismo na região.

DEFINIÇÕES DE TURISMO HISTÓRICO E TURISMO ECOLÓGICO

O turismo cultural consiste na preservação de ruínas, patrimônio, nos aspectos

folclóricos e culturais da região. No seu sentido mais amplo o turismo cultural seria

aquele que “tem como objetivo conhecer os bens materiais e imateriais produzidos pelo

homem” (BARRETO, 2003: 22)

Já o turismo histórico é voltado para a antiguidade do local, como a presença de

catedrais, igrejas, casarões, centro histórico, etc.

Esses tipos de turismo ressaltam a ideia da patrimonialização, que de acordo

com Paes (2009) se refere à conservação de símbolos e signos culturais, sejam eles,

monumentos, objetos, cidades, sítios, artesanatos, etc. A patrimonialização preconiza a

valorização turística de paisagens e lugares.

Bens muito antigos ganham legitimidade para a sua preservação (casarões,

igrejas, museus, dentre outros.) porque neles estão imbuídos tanto aspectos materiais

quanto imateriais, são locais que guardam memória. Em decorrência desse universo

material e simbólico, esses espaços tem se tornado objeto do olhar turístico.

Como destacamos anteriormente, além do turismo histórico e cultural outro

tipo de turismo é fomentado na região, o turismo ecológico. A natureza cada vez mais

recebe valor e atenção crescentes.

Graburn (2009) menciona que:

“O ecoturismo passou a incluir as pessoas como parte do

ambiente, para serem contempladas e protegidas, não

apenas porque essas comunidades humanas são ‘naturais’

e frágeis, mas porque seu envolvimento com o ecoturismo

como protetores e guias haverá de inculcar os novos

valores turísticos da preservação da natureza pelo seu

valor intrínseco” (GRABURN, 2009:37).

O termo ecoturismo começou a ser discutido por volta de 1960, para explicar o

relacionamento entre os turistas, meio ambiente e as culturas existentes nessa interação.

É um conceito que apresenta diversas explicações, que por sua vez, são questionadas e

redefinidas. O conceito mais estreito delineia a atividade de pessoas que praticam

atividades turísticas orientadas à natureza. O ecoturismo é também chamado de turismo

ecológico, turismo ambiental, turismo de natureza. Segundo Wallace & Russel (2004) o

ecoturismo, por sua vez, é um tipo de turismo baseado na natureza que respeita as

culturas tradicionais e preconiza a preservação e conservação do meio-ambiente,

visando, dessa forma manter o equilíbrio da natureza. Os ecologistas “lutarão para que

as paisagens bucólicas não sejam entulhadas com instalações para divertimentos de

todos os tipos” (KRIPPENDORF, 1989:18).

O ecoturismo se apresenta como uma oposição ao turismo de massa e pode ser

caracterizado como uma atividade de turismo com a finalidade de conservar e

desenvolver o meio ambiente utilizado na atividade. O ecoturista adota como lema o

“salve a terra” estando vinculado a um ambiente preservado ou que mantenha ainda

suas características originais. Dentro dessa ótica, “a viagem, portanto, é vista não como

uma atividade apenas de lazer ou de ruptura com o cotidiano, mas como uma

experiência de conhecimento do outro e da natureza e, ao mesmo tempo, como forma de

autoconhecimento” (LABATE, 2000:58).

O ecoturista tem objetivos específicos de explorar a natureza, de usufruir das

belezas naturais. Sendo assim, o espaço urbano não é para o ecoturista autêntico um

destino, é apenas uma passagem, um dos vários meios por onde passa para chegar a seu

destino. No caso de Alagoa Grande, a cidade é apenas uma estação para se chegar ao

local desejado, a zona rural.

De acordo com Pires (1998) existem os seguintes tipos de atividades

ecoturísticas:

Tipos de Ecoturismo Atividades Ecoturísticas

Ecoturismo Científico Estudos e Pesquisas Científicas em

botânica, arqueologia, paleontologia,

geologia, zoologia, biologia, ecologia, etc.

Ecoturismo Educativo Observação da vida selvagem

(fauna e flora), interpretação da natureza,

orientação geográfica, observação

astronômica

Ecoturismo Lúdico e Recreativo Caminhadas, acampamentos,

contemplação da paisagem, banhos e

mergulhos, jogos e brincadeiras.

Ecoturismo de Aventura Montanhismo, expedições,

contatos com culturas remotas, etc.

Ecoturismo Esportivo Escalada, canoagem, “rafting”,

bóia cross, rapel, “surf”, vôo livre e

balonismo, etc.

Ecoturismo Étnico Contatos e integração cultural

com populações que vivem em

localidades remotas em estreita relação

com a natureza.

Ecoturismo Naturista

Prática do nudismo, junto ao ar

livre e a natureza.

É possível observarmos algumas dessas práticas ecoturistas em Alagoa Grande.

Posteriormente citaremos a presença do ecoturismo de aventura e recreativo na região.

CONTEXTO HISTÓRICO DE ALAGOA GRANDE

Alagoa Grande, considerada portal do brejo paraibano, é um município

brasileiro do estado da Paraíba que conta com cerca de 30 habitantes de acordo com o

censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano 2010.

Foi povoada em 1847, mas fundada oficialmente apenas em 1864. Sua

colonização foi holandesa e portuguesa. A cidade conta com diversos casarões antigos

(século XIX) situados próximos à igreja matriz.

O primeiro nome da cidade foi lagoa do Paó, depois Lagoa Grande e por

ultimo em 1865 foi nomeada como Alagoa Grande, esse foi o mesmo ano do mesmo da

fundação da igreja. A cidade só foi emancipada e considerada com cidade apenas com a

fundação da igreja, pois no século 19 um dos critérios para se ter uma cidade era a

presença de uma igreja matriz.

Em 1919 havia um convento na cidade da ordem da Irmã Dorotéia, no entanto,

com o passar do tempo esse convento foi desativado passando a funcionar no referido

local o colégio do Rosário.

A padroeira da cidade é nossa senhora da boa viagem antiga nossa senhora

dos navegantes. A cidade possui uma imagem da mesma, presente na igreja Matriz, que

foi doada pela princesa Isabel.

A cidade conta com diversas atrações turísticas. É conhecida, sobretudo, por

ser a terra onde nasceu Jackson do pandeiro. É também a terra da líder sindical

Margarida Maria Alves.

No dia 06 de março de 1949 foi inaugurada pelo Governador Oswaldo

Trigueiro de Albuquerque Mello, (alagoagrandense) o abastecimento de água de Alagoa

Grande, com ponto de captação na Cachoeira de Serra Grande. Alagoa Grande foi a

terceira a receber água encanada, depois de João pessoa e Campina Grande, no Estado

da Paraíba.

A cidade é portadora de inúmeras belezas naturais, artísticas e culturais, mas

conta com um fato trágico que afetou bastante a estrutura econômica do local. Em 17 de

julho de 2004 a barragem de Camará, localizada no município de Alagoa Nova, se

rompeu. Esse rompimento elevou consideravelmente o nível do Rio Mamanguape

inundando tanto as cidades de Alagoa Nova, Alagoa Grande, chegando a atingir

também o município de Areia.

De acordo com relato de informantes o nível do rio subiu bastante que

rapidamente as ruas e casas da cidade já estavam inundadas. A água atingiu cerca de

dois metros de altura e até hoje ainda é perceptível em algumas propriedades.

Os habitantes passaram três meses sem telefone, água e energia elétrica. A

cidade tornou-se um verdadeiro caos. Houve bastantes saques durante o período da

enchente. Pessoas morreram e mais de 1600 ficaram desabrigados.

Embora a cidade tenha se estagnado economicamente ao longo da segunda

metade do século XX (com a população ao invés de aumentar, diminui, principalmente

por causa do êxodo para as grandes cidades) apresenta um grande potencial turístico que

pode ser economicamente explorado, tanto o turismo histórico quanto o ecológico.

PRÁTICAS TURÍSTICAS CULTURAIS, HISTÓRICAS E ECOLÓGICAS EM

ALAGOA GRANDE

A Natureza privilegia a região de Alagoa Grande com serras, vales,

cachoeiras, grutas, matas e rios. A natureza é seu grande atrativo, atraindo mochileiros e

turistas de diversas localidades, sobretudo durante o período do inverno no qual ocorre

o evento denominado “Caminhos do Frio”. Esse evento acontece em seis cidades do

brejo paraibano: Bananeiras, Serraria, Pilões, Alagoa Nova, Alagoa Grande e Areia,

durante os meses de julho a setembro de cada ano. Durante essa época tanto o turismo

cultural quanto o ecológico são bastante explorados.

A cidade conta um vasto número de pontos turísticos históricos e culturais,

destacando-se o Memorial Jackson do Pandeiro, Teatro Santa Ignêz, Sede Paroquial,

Escadaria do Cruzeiro do Sul, Vila São João, Coreto, centro histórico, antigas casas de

farinha, salão de artesanato e a Casa Margarida Maria Alves.

A zona rural de Alagoa Grande é uma síntese do que o brejo pode oferecer em

termos de turismo ecológico. Engenhos, cachoeiras, quilombo fazem desse um

verdadeiro passeio na história da cidade. Além do aspecto natural é enfatizado também

o lado cultural. Alguns esportes também foram incorporados dentro dessa região de

matas e cachoeiras, aparecendo como uma nova forma de integração de lazer com o

meio natural. São eles, o rapel, trekking, tirolesa, escalada, mountainbiking e enduro. A

preservação do patrimônio é importante para o turismo, mas em Alagoa Grande ainda se

prioriza a agricultura, nesse caso, a preservação do patrimônio histórico, arqueológico,

artístico, cultural, natural e paisagístico ainda fica em segundo plano.

Atualmente existem nove engenhos em funcionamento em Alagoa Grande.

Alguns aderiram às tecnologias, mas a maioria trabalha de maneira artesanal mantendo

os traços originais da produção.

Dentre os engenhos que estão em atividade podemos citar o Engenho Lagoa

Verde, mais conhecido como engenho da volúpia e o engenho Gregório de baixo. Além

dos engenhos podemos citar como atrativo turístico o antigo túnel ferroviário construído

em 1901, mas nunca posto em uso.

As matas da região escondem belos rios e cachoeiras, a exemplo, o Poço do

Camburinho, balneário Gregório de Baixo, Rio Mundaú, cachoeira do quinze, cachoeira

da Usina e Cachoeira de Serra Grande como os principais atrativos desse turismo

ecológico.

Além destes a cidade conta ainda com uma grande quantidade de trilhas e

cachoeiras não reconhecidas que permanecem em processo de identificação e

mapeamento pelo guia turístico e também funcionário da secretaria da cultura e do

turismo de Alagoa Grande, Allan Marcus.

s oO caminho das cachoeiras consiste em um percurso ao ar livre, em meio à

natureza subindo serras, atravessando rios ,ultrapassando barreiras e obstáculos. Esses

circuitos são classificados de acordo com variados graus de dificuldades.

Destacaremos alguns dos pontos turísticos em Alagoa Grande, quer seja de

aspecto cultural, quer seja de aspecto natural.

Cruzeiro do Sul: um dos mais importantes pontos turísticos do município e

também um dos locais mais bonitos de Alagoa Grande. Atualmente foram

restaurados e incorporados novos benefícios, como o corrimão e as plataformas

de descanso. Lá do alto é possível observar toda a cidade e também as serras,

vales, rios e lagos que complementam a beleza da cidade. Apesar de ser

referência turística local, o cruzeiro do sul sofreu algumas modificações

negativas, as quais nos deteremos posteriormente.

Memorial Jackson do pandeiro: Inaugurado em 19 de dezembro de 2008 na

terra natal do compositor Jackson do Pandeiro. O local contém documentos,

fotos, discografias, cartas, rascunhos de músicas, vestimentas, acessórios e os

restos mortais do compositor paraibano.

Teatro Santa Ignêz: terceiro mais antigo da Paraíba,fundado em 1905 possui

arquitetura neoclássica que mistura o barroco colonial com outras influências

européias , e traços bastante rústicos.

Casa Margarida: fundada em 26 de agosto de 2001 a “Casa Margarida Maria

Alves” funciona na mesma casa onde morou a falecida líder sindical Margarida

Maria Alves. Margarida foi presidente dos trabalhadores rurais de Alagoa

Grande, sendo a primeira mulher a lutar pelos direitos trabalhistas na Paraíba em

pleno regime ditatorial. A casa contém fotos, documentos, cartas e notícias de

jornais.

Engenho Lagoa verde: Situado a 2,5 km da saída de Alagoa Grande é o

engenho da família Lemos e onde é produzida a cachaça volúpia. O percurso

para o engenho apresenta nível de dificuldade 2,5. A cachaça volúpia foi

considerada a melhor cachaça no ranking da revista Veja. Além de toda estrutura

do engenho, o local possui uma loja de souvenires, um restaurante e sala de

degustação. Local bastante agradável em meio a natureza. Na saída do engenho

há um rio de águas límpidas.

Poço do Camburinho: Situado a cerca de 8 km de Alagoa Grande, é um rio

localizado depois do túnel ferroviário em direção a cachoeira do quinze.

.Pequenas quedas d’água o compõem. Seu percurso não é muito acessível

Cachoeira do quinze: Situada a mais ou menos 12 km da cidade. Era um dos

maiores atrativos turísticos de Alagoa Grande. A cachoeira do quinze possuía

diversas quedas d’água e uma reservada de água que era considerada como

balneário. Após o rompimento da barragem de camará a cachoeira foi inundada

e houve uma modificação na paisagem. Atualmente não há mais o balneário nem

a cachoeira em si; existem algumas quedas d’água no decorrer do rio. Já não é

mais tão visitado quanto antes, mas permanece no roteiro dos aventureiros e

mochileiros que querem se aventurar pelo brejo paraibano.

Cachoeira da Usina: Distante de Alagoa Grande entre 8 a 10 km a cachoeira da

usina foi recentemente “desbravada” pelos guias turísticos locais Allan Marcus e

Rodrigo e ainda encontra-se em processo de mapeamento. Apresenta grau de

dificuldade 3,5. A cachoeira nos termos de Allan faz parte do que ele chama de

“cachoeira secreta”, pois ainda não foi explorada, apenas pelos guias e pelas

restritas pessoas que os mesmos levam. Essas cachoeiras secretas são

consideradas por Allan como uma espécie de santuário natural e por tal fato sua

divulgação é quase inexistente, evitando o turismo de massa e preconizando o

mínimo possível de impactos negativos do turismo. Só é possível chegar ao local

na presença de um dos guias, haja vista, que seu caminho ainda é desconhecido.

Cachoeira Serra Grande: Uma das maiores belezas naturais da cidade de

Alagoa Grande. Situada a aproximadamente 10 km da cidade, Serra Grande é

um paraíso natural composto por águas cristalinas e formações rochosas.

Seguindo o curso do Rio Mundaú numa área de mata virgem, encontra-se a

cachoeira de Serra Grande. É importante destacar que a cachoeira de Serra

Grande é um dos principais atrativos do ecoturismo na região.

PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E IMPACTOS OCASIONADOS PELO

TURISMO

O acesso a cachoeira de Serra Grande se dá passando pela ponte que corta o rio

Mamanguape e seguindo rumo ao canavial. O caminho do canavial é reto e uniforme,

mas depois deste é necessário enfrentar os 650 metros de atitude da Serra do gavião.

Até 2010 o acesso à cachoeira se dava através da Fazenda Serra Grande, no entanto, a

fazenda foi vendida em meados do corrente ano, e o novo proprietário deu ordem a seus

empregados de não deixar ninguém passar por lá, o que acrescentou o trajeto em dois

quilômetros de subida, dificultando o acesso ao local.

A fazenda Serra Grande no ano de 2011 foi considerada reserva legal do

IBAMA sendo proibidos quaisquer tipos de atividades em suas áreas. Entende-se que a

Reserva Legal é uma área necessária à manutenção do equilíbrio ecológico das regiões e

da manutenção dos recursos naturais.

Antes de ser reconhecido pelo IBAMA, o trajeto era feito pela propriedade

Serra Grande, passando pelo quintal da fazenda, seguindo uma breve trilha rumo ao Rio

Mundaú.

Segundo Allan Marcus, nosso guia e informante, o novo proprietário não

estava se sentindo à vontade com o grande fluxo de pessoas que estava freqüentando a

região, visando à preservação das áreas pertencentes à sua propriedade, o mesmo

impediu o acesso por meio desta. Em decorrência de tal fato, o grau de da trilha

aumentou , dificultando acesso a mesma. Dessa forma, o movimento de pessoas

diminuiu um pouco, o que se apresenta como um aspecto positivo para os

ambientalistas locais, já que o acesso foi dificultado para os chamados “devastadores de

paisagens”.

A cachoeira de Serra Grande fica localizada no cume da Serra do Gavião em

meio a uma mata fechada. Além de subir a serra do gavião é necessário fazer uma trilha

descendo rumo à cachoeira que dura cerca de 30 minutos. As descidas são íngremes, o

caminho bastante estreito com penhascos ao lado direito. Em épocas de chuva fica

praticamente impossível o acesso ao local. Não há placas no caminho e a vegetação não

é cortada, dessa forma, não havendo uma trilha delimitada. Para facilitar o acesso é

necessário o uso de facões.

O local ainda conserva suas características originais sem ter tido contato com

a intervenção do homem. Não há bares, nem restaurantes por toda a localidade. O único

ponto comercial existente é a bodega de Seu Cornélio localizada no final da ladeira do

Gavião, por sua vez, distante ainda cerca de 40 minutos da cachoeira. Local simples,

humilde e bastante rústico, tipicamente rural. Os donos são agricultores, que em

decorrência da sua profissão nem sempre é possível encontrar a bodega aberta.

O visitante/turista só tem acesso à bodega em dois momentos. Um ,quando ele

acaba de subir a ladeira do Gavião e se prepara pra descer a trilha da cachoeira, outro

quando está saindo da trilha e se prepara pra partir rumo à cidade.

Seu Cornélio conversando conosco e com Allan afirmou que se o fluxo de

pessoas aumentarem muito e ficar bastante tumultuado ele fecha o local, pois o mesmo

gosta da tranqüilidade. Ele alegou que o aumento do número de pessoas ao local

resultaria no fim da calma e do repouso. Os nativos da região começam a sentir rancor

em relação aos efeitos negativos ocasionados pelas massas. Analisando o dircusrso de

Seu Cornélio , podemos afirmar que “ essas populações têm, cada vez mais, a impressão

de que são invadidas pelo desenvolvimento ’’ (KRIPPENDORF,1989:18).

Mesmo conservando suas características originais e sendo difícil o acesso para

cachoeira de Serra Grande, ainda há os turistas que vão ali exclusivamente para o lazer

sem se preocuparem com a natureza. São estes, os turistas de massa.

Urry (2001) assegura que o turismo de massa vem sendo estruturado desde o final

do século XIX. De acordo com Smith (1989) o turismo de massa é caracterizado por

um fluxo constante e contínuo de visitantes. Krippendorf (1989) destaca que “o turismo

de massa constitui uma das formas de lazer mais marcantes, de maiores conseqüências e

de impactos menos controláveis”.

A relação entre esses turistas e os nativos é estritamente comercial. São esses, os

maiores causadores de impacto sobre os cenários locais. Esse tipo de turismo é

geralmente realizado pelas pessoas de menor nível de rendimentos, viajando em grupos,

com gastos reduzidos e permanência de curta duração.

Em Alagoa Grande, a quantidade de pessoas no local aumenta principalmente

em dias de domingo e feriados. As pessoas organizam grupos para irem à cachoeira. Em

decorrência do aumento do número de pessoas ao local é possível notar o descaso com a

natureza. É comum encontrar garrafas plásticas e de vidro, lixo, restos de comida,

pontas de cigarro, embalagens plásticas, etc. pelo local. Essas pessoas vão, usufruem da

natureza e ainda deixam marcas. Atitudes como essas refletem nos chamados impactos

ambientais.

“Impactos ambientais são alterações do meio ambiente,

causados por atividades humanas, que afetam a saúde,

segurança, bem estar da população, atividades

socioeconômicas, condições estéticas e sanitárias do meio

ambiente.” (SILVA, 2006).

Muitos autores afirmam que a relação existente entre o ser humano e natureza

resulta em impactos negativos ao meio ambiente. Com o grande fluxo de pessoas,

as paisagens, perdem dia-a-dia um pouco de sua aparência natural. Krippendorf (1989)

enfatiza que as pessoas não vêem os sintomas da crise, não se preocupam com os danos

irreparáveis que suas práticas irão causar ao ambiente.

De acordo com Smith, o turista recreacional é um dos maiores causadores dos

impactos ambientais. Esses turistas estão à procura somente de lazer e diversão sem se

preocuparem com a preservação da natureza. Geralmente vão por meio de excursões e

querem apenas desfrutar dos bens que o local oferece. Os impactos mais freqüentes

decorrentes desse tipo de turismo são a poluição, vandalismo, prostituição e uso de

drogas.

Para evitar o impacto ambiental, Allan afirma que são necessários programas de

incentivos à preservação dos bens naturais e do patrimônio da cidade. Os ambientalistas

e a secretaria do turismo de Alagoa Grande se empenham nessa causa visando à

diminuição do turismo recreacional nas áreas de matas e cachoeiras de Alagoa Grande,

uma vez que, os impactos causados por esse tipo de turismo são bastante intensos. “A

verdade é que, a menos que modifiquemos nossa mentalidade e alteremos o sistema,

nada poderemos fazer a não ser contemplar os efeitos que o turismo de massa causará

na ecologia e nos campos psicológico e socioeconômico” (KRIPPENDORF, 1989: 21).

É importante que a população seja conscientizada dos males ocasionados pela poluição

do meio ambiente, assim como de políticas que revertam tal situação.

Na maioria das vezes, o esforço de manter a natureza preservada, de evitar a

poluição, a destruição e desmatamento das áreas partem de iniciativas individuais dos

guias turísticos locais (Allan Marcus e Rodrigo) que se empenham nessa causa

diariamente.

Outro local que foi afetado pelo turismo é a Escadaria do cruzeiro do Sul. O

local é o ponto de tráfico da cidade de Alagoa Grande. Quando a noite chega, as

escadarias se transformam em pontos de venda de drogas, principalmente do crack. O

movimento é grande na parte da noite. Pessoas subindo e descendo as escadas com

freqüência, cheiros de fumaça e restos de piolas, palitos de fósforos e latas jogadas pelo

chão. E dia-a-dia a cena se repete e os restos de droga vão se acumulando ao longo da

escadaria.

Além de tal fato as pessoas vão até o mesmo para praticarem relações sexuais.

É comum ver preservativos jogados ao longo das escadarias. As pessoas estão

dessacralizando o local. Este passou a ser “coisificado” sendo usado e explorado pelo

homem segundo seus interesses. O cenário que o turista se depara não é mais aquele que

havia outrora cercado de simbolismo religioso, agora se encontra feses, urina, latas,

lixo, cigarros, garrafas de bebidas, preservativos, etc. pelo caminho.

De acordo com informações que obtivemos através do nosso guia/informante

Allan Marcus, podemos destacar que o próprio cenário foi modificado ao longo do

tempo. Antigamente só existiam as escadarias, hoje existem casas ao longo de todo o

cruzeiro, da base até o topo do mesmo. O cruzeiro do sul hoje em dia é situado no topo

de uma favela.

Dessa forma, verifica-se que os impactos negativos do turismo sobre o meio

ambiente podem superar os impactos positivos causados pelo mesmo, como poluição

sonora, poluição do ar devido o aumento do tráfego de veículos, degradação da fauna e

flora devido à caça e pesca indevidas, presença de lixo e resíduos sólidos, compactação

dos solos resultante do pisoteamento, perda da cobertura vegetal e do solo, vandalismo,

destruição de bens e patrimônios históricos e culturais, pichação, entre outros.

No entanto, se o turismo for praticado de forma consciente, irá estimular a

compreensão dos impactos sobre o meio natural, cultural e humano evitando tais

práticas descritas acima.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse trabalho foram apresentados aspectos básicos sobre o turismo.

Apresentamos um breve histórico sobre a evolução dessa atividade e também os

principais conceitos e definições. Além disso, destacamos as tipologias dos turistas e do

turismo de acordo com Bruner (2005), destacando dois tipos específicos de atividade

turística, o turismo cultural e o ecoturismo e as situando no contexto turístico do

município de Alagoa Grande, Paraíba.

Alagoa Grande é um município com grande potencial turístico devido seus

atrativos naturais. A região também é reconhecida por suas riquezas culturais,

monumentos tombados pelo patrimônio histórico, como é o caso do Teatro Santa Ignez,

produção de cachaça artesanal e uma gastronomia local que dá água na boca. Também é

reconhecida nacionalmente por ser a terra de figures ilustres como a líder Sindical

Margarida Maria Alves e Jackson do Pandeiro.

Os destaques da atividade turística em Alagoa Grande são o Teatro Santa Ignêz,

o terceiro teatro mais antigo da Paraíba, a Casa de Margarida Alves, líder rural morta na

década de 80, o Centro Histórico, tombado pelo Patrimônio Histórico, visita ao

Engenho Lagoa Verde e Gregório de Baixo, que se encontram em atividade e onde

pode-se acompanhar a produção da tradicional rapadura e da famosa cachaça. Além de

paisagens incríveis das serras que cortam o lugar, e resultam em belíssimas cachoeiras.

A atividade turística desencadeia transformações na realidade da comunidade

receptora e tende a gerar impactos associados ao turismo, que podem ser positivos ou

negativos. O aumento do fluxo de viajantes provoca mudanças econômicas, sociais,

culturais e ambientais. No caso específico de Alagoa Grande nos detivemos a analisar a

maneira como o fluxo de pessoas afeta negativamente a natureza local.

Práticas como degradação da natureza, vandalismo, poluição, tráfico de drogas,

entre outras práticas foram observados em Alagoa Grande. É válido destacar que a

prática turística em Alagoa Grande não se resume apenas a seus aspectos negativos. Os

aspectos positivos são mais perceptíveis durante a época do “Caminho do Frio” onde há

um investimento do governo do Estado da Paraíba para divulgar o turismo do Brejo

Paraibano, não apenas em âmbito regional, mas também nacional. Durante essa época o

fluxo de pessoas contribui para incrementar a renda dos habitantes locais.

O esforço dos ambientalistas é para que essa não seja uma prática que se resuma

apenas a um determinado período do ano, mas que a conscientização e preservação

natural e cultural sejam praticadas em todo e qualquer momento.

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