Turismo nas Fazendas Imperiais do Vale do Paraíba...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ADALGISO SILVA SILVEIRA Turismo nas Fazendas Imperiais do Vale do Paraíba Fluminense Tese de doutorado apresentada ao Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo no Programa de Pós- Graduação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como requisito para a obtenção do título de Doutor, na área de Concentração em Ciências da Comunicação da linha de Pesquisa em Turismo e Lazer. Orientador: Prof. Doutor Mário Jorge PIRES São Paulo 2007

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UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE DDEE SSOO PPAAUULLOO

ADALGISO SILVA SILVEIRA

Turismo nas Fazendas Imperiais do Vale do Paraba Fluminense

Tese de doutorado apresentada ao Departamento de Relaes Pblicas, Propaganda e Turismo no Programa de Ps-Graduao da Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, como requisito para a obteno do ttulo de Doutor, na rea de Concentrao em Cincias da Comunicao da linha de Pesquisa em Turismo e Lazer.

Orientador: Prof. Doutor Mrio Jorge PIRES

So Paulo 2007

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TURISMO NAS FAZENDAS IMPERIAIS DO VALE DO PARABA FLUMINENSE

rea de concentrao em Cincias da Comunicao Linha de Pesquisa em Turismo e Lazer

Aprovado em _______/_____________/_________

___________________________________________________ Prof Dr. Mrio Jorge Pires

Presidente da Banca

Banca Examinadora:

Prof Dr. (a)__________________________________________________________ Prof Dr. (a)__________________________________________________________ Prof Dr. (a)__________________________________________________________ Prof Dr. (a)__________________________________________________________

So Paulo 2007

minha av Dona Isaura, que no auge dos seus 97 anos, lcida e inteligente inspirao para a vida. Aos meus Irmos e Sobrinhos que sirva como exemplo de perseverana na busca do caminho do bem e da vitria pela vida. Vernica, pela sua f inabalvel em Deus, pela pacincia e a confiana na vitria. Ao meu pai, homem desprovido de qualquer sentimento de vaidade e prepotncia. minha me Dona Maria, a dor da saudade eterna, presente em esprito e sempre irradiando a esperana de dias melhores. In Memoriam Evelyn Pasquale, pelo pioneirismo de uma idia bem-sucedida. In Memoriam

Este um momento muito especial, pois no so apenas palavras para cumprir

formalidades.

Todos aqueles que nos ajudaram e nos apoiaram so dignos no apenas de

agradecimentos, mas de reconhecimento pelo que representaram e representam nesta

caminhada de afirmao e esperana, para se chegar a algum lugar, que sempre foi no s um

sonho, mas uma opo de vida.

Este trabalho resultado da colaborao e do desprendimento de todos que aqui

citaremos, aos quais seremos eternamente gratos.

A Mrio Jorge, muito mais que um orientador, um conselheiro, um amigo, uma

pessoa de um carter raro nos tempos atuais, a quem devo a consolidao da carreira

acadmica .

Aos professores, com os quais amenizei a insegurana e as dvidas, fruto da

inexperincia, Prof Olga, Prof Mriam, Prof. Reinaldo, Prof. Ren, vistos como um espelho

em todos esses anos.

A todos os proprietrios das Fazendas pesquisadas, pela acolhida e as informaes

determinantes para o desfecho da pesquisa. Em especial ao pessoal da Fazenda Ponte Alta,

Roberto e sua equipe do Sarau Imperial. Ao Sr. Joo Reis da Fazenda Unio, Sra. Magid da

Fazenda So Joo da Prosperidade, Sr. Paulo da Fazenda Florena, Sra. Aparecida Pentagna

da Fazenda Pau Dalho, Sr. Celso da Fazenda So Paulo, Sra. Marta Brito da Fazenda do

Secretrio, Sra. Simone da Fazenda Mulungu Vermelho, Sra. Llian da Fazenda Cachoeira

Mato Dentro, Sr. Rubens da Fazenda Galo Vermelho, Sra. Ana da Fazenda da Taquara, ao Pe.

Geraldo da Fazenda Santo Antonio do Paiol, Sr. Arturo da Fazenda Santo Antnio, Sta.

Ceclia da Fazenda Santa Ceclia, Sra. Tatiana da Fazenda So Joo da Barra, Sra. Dbora da

Fazenda Campos Elzeos.

Ao Instituto PRESERVALE, na pessoa da Sra. Snia Mattos, proprietria da

Fazenda Vista Alegre, sempre prestativa e incentivadora deste trabalho.

A Sra. Nilza Rozemberg profunda conhecedora do turismo nas fazendas do Vale do

Paraba

Ao historiador Paulo Lamego e esposa pelo apoio e incentivo

Cristina, uma colega, uma parceira, uma irm de corao, pelo apoio e incentivo.

Paula, amiga dos tempos iniciais, sempre presente para apoiar.

Aos alunos do Curso de Turismo da UNIRIO, na pesquisa de campo.

Aos alunos da primeira turma de Turismo da Csper, emanadores de uma energia

sempre positiva,

Carolina Teixeira Fazendinha, criativa e sempre disposta a colaborar.

A Brbara, sempre disposta a colaborar.

Aos funcionrios do Depto de Ps da ECA, pelos esclarecimentos e presteza nas

informaes.

Mary da Secretaria do CRP / ECA, pela ajuda no Curriculum Lattes.

A todos os colegas e amigos de outras reas, a tantos outros no citados, no

propositalmente, mas que esto na minha lembrana para sempre.

A todos, o privilgio em conhec-los e t-los no nosso universo de vida.

A minha eterna gratido.

Este estudo realizado com base em fontes primrias e secundrias est embasado no

trabalho de campo que consiste em entrevistas e observaes in loco. Consiste em analisar as

Fazendas Imperiais no Vale do Paraba Fluminense para a implementao da atividade

turstica. Trata do elemento histrico e da cultura material como valor capaz de alavancar o

turismo, tendo como sustentculo a histria cotidiana da regio do Vale do Caf, no perodo

da cafeicultura durante o sculo XIX. Revela resultados abrangentes para a consolidao de

um novo plo turstico regional tendo as fazendas imperiais como fator motivador da

destinao.

Palavras-chave: Turismo no Espao Rural. Turismo Rural. Turismo Histrico Cultural.

Interpretao patrimonial.

This study done with basis on primary and secondary sources is based on the

fieldwork that consists on interviews and observations in loco. It consists on analyzing the

Imperial Farms in the Vale do Paraba in Rio de Janeiro in order for the implementation of

tourist activity. It is about the historical element and the material culture with value enough to

promote tourism, having as basis the daily life story of the Vale do Caf region, in the period

of coffee growing during the 19th century. It reveals inclusive results for the consolidation of a

new tourist regional pole having the imperial farms as a motivating factor of the destination.

Keywords: Tourism in the Rural Space. Rural Tourism. Cultural Historic Tourism.

Patrimonial Interpretation.

Grfico 1: Data de fundao................................................................................................... 92 Grfico 2: rea territorial da fazenda..................................................................................... 93 Grfico 3: Atividade produtiva de origem.............................................................................. 94 Grfico 4: Sede atual a mesma desde a fundao................................................................ 95 Grfico 5: Mobilirio o mesmo desde a fundao............................................................... 96 Grfico 6: Motivo para adquirir a fazenda ............................................................................. 97 Grfico 7: proprietrios herdeiros........................................................................................... 98 Grfico 8: Estado de conservao da casa ao adquiri-la ........................................................ 99 Grfico 9: Realizou alguma obra de restaurao na casa ..................................................... 100 Grfico 10: O que mudou na casa sede ................................................................................ 101 Grfico 11: A quanto tempo est sob a direo dos atuais proprietrios ............................. 102 Grfico 12: Atividade produtiva na atualidade..................................................................... 103 Grfico 13: Atividade produtiva principal............................................................................ 104 Grfico 14: A forma de administrao da propriedade na atualidade .................................. 105 Grfico 15: Forma de escoamento da produo ................................................................... 106 Grfico 16: Ano de incio da atividade do turismo .............................................................. 107 Grfico 17: A deciso de implantar o turismo...................................................................... 108 Grfico 18: O incio da atividade, teve apoio de rgos e de profissionais de Turismo ...... 109 Grfico 19: Para as reformas obteve algum tipo de financiamento, pblico ou privado ..... 110 Grfico 20: Servios oferecidos por fazendas ...................................................................... 111 Grfico 21: Porque trabalha com hospedagem e visitao ................................................. 112 Grfico 22: Porque no trabalha com hospedagem.............................................................. 113 Grfico 23: Quais as vantagens de trabalhar s com visitao............................................. 114 Grfico 24 :O que oferecido ao hspede durante a estadia................................................ 116 Grfico 25: Principal atrativo da fazenda ............................................................................. 117 Grfico 26: O que mais desperta o interesse do visitante da fazenda................................... 119 Grfico 27: Perodo da Alta temporada................................................................................ 120 Grfico 28: Perodo da baixa temporada .............................................................................. 121 Grfico 29: J recebeu turista estrangeiro ............................................................................ 122 Grfico 30: O turista estrangeiro tem interesse especfico ................................................... 123 Grfico 31: Estando no Brasil de onde vm o turista estrangeiro para a regio................... 124 Grfico 32: Pas com maior presena de turistas estrangeiros na regio.............................. 125 Grfico 33: Perodo do ano mais procurado......................................................................... 126 Grfico 34: Perfil do turista estrangeiro ............................................................................... 127 Grfico 35: Como chega at s fazendas.............................................................................. 128 Grfico 36: Tempo de permanncia na fazenda ................................................................... 129 Grfico 37: Como ficam sabendo das fazendas.................................................................... 131 Grfico 38: As agncias so responsveis pela vinda da maioria dos turistas? ................... 132 Grfico 39: De onde so as agncias que trabalham com as fazendas ................................. 133 Grfico 40: Sem a participao das agncias, o nmero de visitantes seria o mesmo ......... 140

Tabela 1: Data de fundao .................................................................................................... 92 Tabela 2: rea territorial da fazenda ...................................................................................... 93 Tabela 3: Atividade produtiva de origem............................................................................... 94 Tabela 4: Sede atual a mesma desde a fundao ................................................................. 95 Tabela 5: Mobilirio o mesmo desde a fundao ................................................................ 96 Tabela 6: Motivo para adquirir a fazenda............................................................................... 97 Tabela 7: proprietrios herdeiros............................................................................................ 98 Tabela 8: Estado de conservao da casa ao adquiri-la.......................................................... 99 Tabela 9: Realizou alguma obra de restaurao na casa ...................................................... 100 Tabela 10: O que mudou na casa sede.................................................................................. 101 Tabela 11:A quanto tempo est sob a direo dos atuais proprietrios................................ 102 Tabela 12: Atividade produtiva na atualidade...................................................................... 103 Tabela 13: Atividade produtiva principal............................................................................. 104 Tabela 14: A forma de administrao da propriedade na atualidade ................................... 105 Tabela 15: Forma de escoamento da produo .................................................................... 106 Tabela 16: Ano de incio da atividade do turismo................................................................ 107 Tabela 17: A deciso de implantar o turismo....................................................................... 108 Tabela 18: O incio da atividade, teve apoio de rgos e de profissionais de Turismo ....... 109 Tabela 19: Para as reformas obteve algum tipo de financiamento, pblico ou privado....... 110 Tabela 20: Servios oferecidos por fazendas ....................................................................... 111 Tabela 21: Porque trabalha com hospedagem e visitao .................................................. 112 Tabela 22: Porque no trabalha com hospedagem ............................................................... 113 Tabela 23: Quais as vantagens de trabalhar s com visitao.............................................. 114 Tabela 24 : O que oferecido ao hspede durante a estadia............................................... 116 Tabela 25: Principal atrativo da fazenda .............................................................................. 117 Tabela 26: O que mais desperta o interesse do visitante da fazenda.................................... 118 Tabela 27: Perodo da Alta temporada ................................................................................. 120 Tabela 28: Perodo da baixa temporada ............................................................................... 121 Tabela 29: J recebeu turista estrangeiro.............................................................................. 122 Tabela 30: O turista estrangeiro tem interesse especfico .................................................... 123 Tabela 31: Estando no Brasil de onde vm o turista estrangeiro para a regio.................... 124 Tabela 32: Pas com maior presena de turistas estrangeiros na regio............................... 125 Tabela 33: Perodo do ano mais procurado .......................................................................... 126 Tabela 34: Perfil do turista estrangeiro ................................................................................ 127 Tabela 35: Como chega at s fazendas ............................................................................... 128 Tabela 36: Tempo de permanncia na fazenda .................................................................... 129 Tabela 37: Como ficam sabendo das fazendas..................................................................... 130 Tabela 38: As agncias so responsveis pela vinda da maioria dos turistas?.................... 132 Tabela 39: De onde so as agncias que trabalham com as fazendas .................................. 133 Tabela 40: Sem a participao das agncias, o nmero de visitantes seria o mesmo .......... 134

1 INTRODUO.....................................................................................................................10

1.1 APRESENTAO DO ESTUDO .................................................................................14

1.1.1 O caf chega s terras fluminenses..........................................................................15

1.1.2 Do apogeu decadncia ..........................................................................................17

1.1.3 O destino das fazendas ............................................................................................17

1.1.4 Surgem os Palacetes rurais ......................................................................................18

1.1.5 Do abandono restaurao o turismo como salvao? ........................................20

1.1.6 As fazendas e o turismo - programao e atratividade............................................21

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA........................................................................................23

2 A ORIGEM E A PROPAGAO DA RUBICEA PELO MUNDO E A MONOCULTURA CAFEEIRA NO VALE DO PARABA FLUMINENSE. .......................25

2.1 A descoberta para o consumo humano ...........................................................................25

2.2 A entrada e a disseminao da rubicea no Brasil..........................................................26

2.3 A Coroa Portuguesa ignora o caf..................................................................................28

2.4 O primeiro fazendeiro de caf do Brasil.........................................................................29

2.5 O Caf ocupa as terras do Vale do Paraba Fluminense:................................................30

2.6 A formao das Fazendas, uma nova configurao ao Vale do Paraba Fluminense ....33

2.7 O surgimento de uma fazenda ........................................................................................33

3 CONCEITOS, MODALIDADES, CATEGORIAS ESPAO, E TURISMO ......................36

3.1 Espao.............................................................................................................................36

3.1.1 O significado do Espao..........................................................................................37

3.1.2 Espao Turstico ......................................................................................................38

3.1.3 Espao Rural............................................................................................................39

3.1.4 Espao cultural ........................................................................................................42

3.2 Modalidades tursticas no Espao Rural.........................................................................43

3.2.1 Turismo no Espao Rural ........................................................................................47

3.2.2 Turismo em reas rurais e turismo no meio rural....................................................48

3.2.3 Turismo Rural..........................................................................................................49

3.2.4 Turismo Alternativo ................................................................................................50

3.3 As fazendas Imperiais do Vale do Caf Fluminense descrio histrica e implantao da atividade turstica.............................................................................................................52

3.3.1 Fazenda Cachoeira Mato Dentro Vassouras RJ ................................................52

3.3.2 Fazenda Florena Valena (Conservatria) RJ .................................................54

3.3.3 Fazenda Santo Antonio do Paiol Valena RJ ....................................................55

3.3.4 Fazenda Unio Rio das Flores RJ......................................................................57

3.3.5 Fazenda Campos Elzeos Rio das Flores RJ......................................................58

3.3.6 Fazenda da Taquara Barra do Pira RJ ..............................................................60

3.3.7 Fazenda do Secretrio Vassouras RJ .................................................................61

3.3.8 Fazenda Mulungu Vermelho Vassouras RJ ......................................................63

3.3.9 Fazenda Ponte Alta Barra do Pira RJ ...............................................................65

3.3.10 Fazenda do Arvoredo Barra do Pira RJ..........................................................67

3.3.11 Fazenda Chacrinha Valena RJ .......................................................................69

3.3.12 Fazenda So Paulo Valena RJ .......................................................................70

3.3.13 Fazenda Pau Dalho Valena RJ .....................................................................71

3.3.14 Fazenda Cachoeira Grande Vassouras RJ .......................................................72

3.3.15 Fazenda So Fernando Vassouras RJ ..............................................................74

3.3.16 Fazenda Santo Antonio Rio das Flores RJ ......................................................75

3.3.17 Fazenda Santa Ceclia Miguel Pereira RJ........................................................77

3.3.18 Fazenda So Joo da Barra Miguel Pereira RJ................................................79

3.3.19 Fazenda do Paraso Valena RJ.......................................................................80

3.3.20 Fazenda So Joo da Prosperidade Barra do Pira RJ .....................................81

3.3.21 Fazenda Vista Alegre Valena RJ ...................................................................83

3.3.22 Fazenda Galo Vermelho Vassouras RJ ...........................................................84

3.4 CLASSIFICAO DAS FAZENDAS POR CATEGORIA E SERVIOS .................86

4 PESQUISA DE CAMPO ......................................................................................................91

5 CONSIDERAES FINAIS ..............................................................................................140

REFERNCIAS .....................................................................................................................147

APNDICE ............................................................................................................................151

ANEXOS................................................................................................................................155

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1 INTRODUO

Patrimnio e histria, independente da dimenso populacional ou territorial,

representam o passado de um povo, de uma sociedade ou de uma comunidade. Seus

remanescentes materiais, simbolizam hbitos, costumes e culturas passadas, funcionando

como ponto de referncia e reflexes de experincias vividas, para as geraes do presente e

futuras.

O Vale do Paraba Fluminense, a regio onde a lavoura do caf atingiu ndices

mximos de produo e valorizao, para, em curto espao de tempo, se transformar no maior

produto de exportao do Brasil. Com esta monocultura, fez acumular fortunas que

proporcionaram a construo de residncias no espao rural, monumentais para a poca.

A fora do dinheiro e a presena europia nos hbitos de consumo daquela sociedade

do oitocentos, influenciada que foi, por modelos importados, fez surgir, em funo da riqueza,

mas impulsionados pelo desejo da ostentao, e a necessidade de mostrar padro de vida,

centenas de casas rurais, verdadeiros palacetes, erguidos em meio mata, da ento intocada

Floresta de Mata Atlntica da Provncia do Rio de Janeiro.

Passados um sculo e meio, em mdia, da sua existncia, esses palacetes rurais,

representam hoje, a memria material de uma histria de contrastes e paradoxo entre a

riqueza, o glamour e a decadncia, retratados na sua arquitetura imponente, composta por um

cenrio em que se confundem, um misto de obras de arte e objetos de decorao, o que de

melhor existia para a poca, integrados com ferramentas de trabalho e castigo, do sistema

escravista.

As conjunturas econmicas, sociais e polticas, pelas quais o pas enfrentou, ao longo

dos dois ltimos sculos, atingiram tambm a regio do Vale Fluminense e contriburam para

que as fazendas, formadas no perodo de valorizao do caf, passassem por diversas fases, de

11

apogeu decadncia a ponto de um grande nmero terem desaparecido, no apenas pela ao

do tempo, mas tambm, por fatores de ordem familiar e econmica

Esse conjunto de propriedades histricas, de caractersticas marcantes, e imponente

arquitetura, complementado por rica decorao com objetos de poca, fez com que os atuais

proprietrios percebessem serem essas residncias um recurso para o turismo.

Ao optarem pelo turismo, respeitando as suas limitaes como recurso turstico, seus

proprietrios assim o fizeram, com um nico objetivo, resgatar a histria do caf, do Vale do

Paraba Fluminense, dando oportunidade, para que as pessoas conheam a vida dos

personagens dessa histria que transformou o pas.

Observadas as novas modalidades de Turismo no Espao Rural, as Fazendas Imperiais

do Vale do Caf Fluminense, palacetes rurais, abertos para visitao, tambm funcionam

como meios de hospedagem.

Com base nesse patrimnio, concentrado em uma nica regio, a idia de desenvolver

esse estudo, nasceu de uma srie de fatores influenciadores, para a deciso por sua realizao.

Primeiramente, a opo pelo tema, resultante da experincia com a Dissertao de

Mestrado, realizada na mesma regio, sobre um estudo que indiretamente, est ligado tese

de doutorado. O tema de Mestrado, Ambientao de Base Histrica: ferramenta de

incremento do turismo o exemplo de Vassouras RJ. Tinha como proposta conhecer as

tcnicas de interpretao do patrimnio, estudar o perfil do pblico e o potencial atrativo do

evento, Ch Imperial, como ferramenta de revitalizao de museus e casas histricas.

O desenvolvimento desse estudo, resultado da Dissertao de Mestrado, pesquisa

feita a partir da experincia pioneira do Museu Casa da Hera de Vassouras no Estado do Rio

de Janeiro, com educao patrimonial no ano de 1989. Na poca foi apresentado nas

12

dependncias do museu, O Ch Imperial que retratava parte do cotidiano da histria dos

Bares do Caf.

A partir daquela data, o Ch Imperial se transformou numa experincia com

Ambientao de Base Histrica. Os resultados de pblico serviram de modelo para outras

experincias, como o Sarau Histrico da Fazenda Ponte Alta, apresentado como a principal

atrao da fazenda. A partir dos anos noventa, o crescimento do turismo no Brasil despertou a

regio do Vale do Caf para uma nova realidade. A regio passa a trabalhar com a

possibilidade de incrementar uma nova funo s antigas casas sedes das fazendas de caf.

Na perspectiva de descrever o tipo de turismo praticado nas Fazendas Imperiais do

Vale do Paraba Fluminense, a pesquisa avalia a forma como cada propriedade se preparou

para iniciar na atividade.

Na tentativa de conhecer essa modalidade de turismo, nica no Brasil concentrada

numa mesma regio, e com os mesmos recursos, optou-se em trabalhar como amostragem,

todas as fazendas associadas ao Instituto Preservale, organizao no governamental que

nasceu com a misso de preservar aquele patrimnio e tambm o meio ambiente da regio.

Para conhecer os recursos utilizados, todas as vinte e duas propriedades foram

visitadas, seguindo um critrio nico para coletar dados. Em cada propriedade foram feitas

visitas internas e externas, acompanhadas de entrevista com cada proprietrio e, concluindo

essa etapa do trabalho de campo, as edificaes foram fotografadas interna e externamente,

sendo esse material usado como elemento de verificao do turismo praticado

individualmente e no conjunto geral, em todas as fazendas.

Diante do exposto, a natureza do tema, e a delimitao dos objetivos que conferissem

a probabilidade das hipteses, levaram a estruturar o texto em trs captulos: natureza do

tema; fundamentao terica e a pesquisa de campo.

13

No Primeiro captulo apresentada a histria do caf, a descoberta para o consumo

humano e a propagao da planta pelo mundo: At sua chegada no Brasil, as regies por onde

foi cultivado, e a implantao no Sudeste, onde surgiu, provavelmente, o primeiro fazendeiro

de caf. Anos depois, o caf ocupou as terras fluminenses na regio do Vale do Paraba. A

formao das fazendas foi do apogeu decadncia at chegar aos dias atuais a um novo uso

que foi a opo pelo turismo a partir do final do sculo XX e incio do sculo XXI.

O Segundo captulo destinado a tratar do referencial terico, apresenta o espao

enquanto territrio onde acontece o fenmeno do turismo em todas as suas modalidades, fator

determinante do tipo de espao consumido.

Neste mesmo captulo, o estudo traz para a discusso, o Turismo no Espao Rural, o

Turismo Rural e o Turismo Alternativo, este ltimo para tentar definir o que se considera

como alternativo hoje no turismo.

O objeto de estudo, as fazendas, como elemento de fomento do turismo da regio do

Vale do Caf, neste captulo feito uma descrio de cada propriedade e a forma como

desenvolve o turismo.

O Terceiro captulo, apresenta a pesquisa de campo, acompanhada de entrevistas com

os proprietrios das fazendas. Para melhor ilustrar os resultados da compilao, tabelas e

grficos foram confeccionados, para aferir a coleta dos dados. Todos interpretados para a

anlise do resultado final.

Como fechamento do trabalho, as concluses a que se chegou com este estudo, deixam

evidentes a perspectiva do turismo no Vale do Caf Fluminense, constatando ser esse tipo de

turismo implementado no Espao Rural, da regio, de caractersticas inteiramente

diferenciadas ao Turismo Rural, at ento praticado no Brasil.

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Quanto justificativa deste estudo, a sua realizao, oportuna por se tratar de um

tema que no turismo, necessita de mais pesquisas, que contribuam para definir as diversas

modalidades implantadas no espao rural.

Justifica-se a metodologia e o mtodo aplicados, na realizao do estudo, por ser o que

ofereceu melhores condies ao trabalho de campo, e o mais apropriado s caractersticas do

objeto de estudo.

1.1 APRESENTAO DO ESTUDO

O uso do caf para o consumo humano provavelmente, se deu na Etipia no sculo

XV, nesta poca no se sabia a sua utilidade, permanecendo a planta naquele territrio do

sculo XV ao sculo XVII.

No sculo XVII, chega Europa, possivelmente trazido por um Holands, se

espalhando por todo o continente, nesse mesmo perodo. Os primeiros pases onde se

registraram sua propagao foram Holanda, Inglaterra e Frana. No sculo XVIII, atravs das

colnias britnicas, o caf chega Amrica, nas Antilhas e na Guiana Francesa.

Na segunda metade do sculo XVIII, o caf entra no Brasil, pelo Par, e logo se

espalha por toda a Regio Norte. Na Amaznia, o caf foi plantado por ndios e Padres

Jesutas.

No Nordeste, o cafezeiro se propagou por todas as provncias, embora se tenha

conhecimento que na Provncia da Bahia, no sculo XVIII j produzia e exportava.

A planta chegou ao Centro Oeste nas provncias de Mato Grosso e Gois, para fixar

com intensidade na Regio Sudeste, nas provncias do Esprito Santo, Minas Gerais, Rio de

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Janeiro e So Paulo. Sendo que nas duas primeiras provncias, no tem impulso na sua

produo.

Sua epopia, aconteceu nas provncias do Rio de Janeiro e So Paulo. Ainda nas

ltimas dcadas do sculo XVIII, a colnia cultivava como produto principal, o fumo, o

acar e outras drogas do Serto. Embora o caf j estivesse disseminado por toda a colnia.

A Coroa Portuguesa no reconhecia essa nova planta. Insistia em ignor-la.

Autoridades da Coroa, padres, bispos, botnicos, todos conhecedores e estudiosos da floresta

tropical, por motivos polticos, insistiam em ignorar o caf no Brasil. Portugal que dominava

o comrcio do acar, via seus estoques diminurem. Assim, era iminente a perda do

monoplio do mercado para a Holanda, Inglaterra e Frana.

O caf chega s terras do novo mundo, em um momento onde a conjuntura

internacional era desfavorvel Coroa, esta que se abastecia do acar, do ouro e de outros

produtos agrcolas da colnia. Para impedir o cultivo da planta, o governo portugus

incentivava a produo do acar e outras culturas.

Na colnia, os movimentos pr - independncia, eram cada vez mais fortes e eclodiam

em diversas partes. De Norte a Sul, j se falava nesta nova planta chegada das Antilhas. Seus

resultados como bebida despertava o interesse da populao, em todas as partes.

1.1.1 O caf chega s terras fluminenses

De planta de jardim, monocultura produtiva, se espalha desde a capital at as regies

serranas. As primeiras plantaes foram constatadas na regio onde hoje o bairro da Tijuca e

a floresta do mesmo nome.

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O caf tomou rumos Serra acima at Petrpolis, mas no se adaptou ao clima. As

geadas no favoreciam a propagao da cultura do cafeeiro. Volta para a Baixada

Fluminense, na regio de Santa Cruz, para novamente, subir a serra em direo s margens

do Paraba.

No ano de 1790 provavelmente Rezende teria recebido as primeiras mudas. A partir

dali, logo a planta se espalha nas terras fluminenses, por toda a regio do Rio Paraba. Aps

Rezende, a prxima rea a receber o caf seria a regio de Vassouras.

Naquele municpio o caf se propagaria por toda a redondeza. Estava formada a regio

do Vale do Caf. Vassouras chegou a receber o ttulo de A capital do caf do Brasil, a Terra

dos Bares. Regio desabitada, com floresta exuberante, terras frteis e disponveis, tudo

favorecia para a implantao da cultura do caf.

As famlias mineiras, Os desbravadores da regio, formaram as primeiras fazendas no

Vale do caf. O ouro j no mais oferecia perspectivas de lucro. Os pioneiros enfrentaram as

maiores dificuldades. Desafiavam os ndios, colocavam em risco a prpria vida. Tudo em

busca de um novo eldorado. A riqueza com o caf.

Nasceu uma nova cultura, em meio a um conflito poltico, econmico e social. Os

interesses da coroa, a crise do acar, e a mo de - obra escrava. A aventura na adversidade

e a falta de tcnica. Assim, comeou o cultivo de caf no Vale do Paraba Fluminense.

Florestas tombavam fugazmente, sem nenhuma preocupao com o meio ambiente. Eram os

chamados Fazendeiros do deserto como dizia Euclides da Cunha.

A produo aumentava a cada dia. Novas fazendas eram formadas com rapidez. As

terras das Sesmarias, agora tinham novos donos. Tudo para o Caf. A provncia fluminense

era o novo centro do poder. Os bares se aproximavam da Corte, muda-se o destino de uma

nao e a vida de uma sociedade.

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Dos braos escravos constri-se imprios, acumula-se fortunas, cria-se estilo de vida.

Riqueza, Luxo, poder, glamour. tudo muito fugaz. Tudo parecia eterno. A vida como um

conto de fadas. Nada transparecia que o fim estava prximo.

1.1.2 Do apogeu decadncia

Na primeira metade do sculo XIX, cerca de duzentas fazendas, ou quem sabe mais,

foram formadas. A cada dia as exportaes aumentavam, novas cidades surgiam, assim como

novas fortunas. O progresso chega. A aristocracia rural constituda, goza do luxo e glamour,

internacional.

Essas conquistas eram s custas de mos humanas, um futuro obscuro, com a mesma

intensidade, se aproxima. As intempries do tempo e a agresso natureza, tm um custo.

Chega a dcada de 1870, o comeo do fim. Com os fazendeiros endividados com os bancos,

mo de obra cara, prestes a acabar a escravatura, o mercado internacional em baixa, o solo

esgotado e a hipoteca das fazendas, era o fim de uma poca que parecia eterna. No final do

sculo XIX, os cafezais desapareceram, mas o claro da floresta permaneceu. Com o fim da

escravido,os bares esto falidos. a decadncia.

1.1.3 O destino das fazendas

A primeira fase a possibilidade de fazer fortunas. Nesta etapa, da valorizao da

monocultura do caf, a perspectiva do enriquecimento levou os antigos exploradores do ouro

e plantadores da cana de acar a migrarem para o Vale Fluminense.

18

Homens com muita terra e pouca viso de futuro, usavam a mo de obra escrava,

desmatava a floresta para cultivar o caf. Sem tcnica e sem preocupao com o ambiente, a

floresta vinha morro abaixo e a eroso levava os nutrientes do solo.

A segunda fase - as evidncias da crise. Passadas poucas dcadas do aparecimento e

a euforia com o caf, como novo horizonte de riqueza, as evidncias da crise comeam a

surgir. Mas isso no impede que os bares levem uma vida com esbanjamento de dinheiro.

1.1.4 Surgem os Palacetes rurais

As chamadas Casas Antigas, residncias simples de trabalho, no estilo mineiro no

duraria muito tempo. Os pioneiros migrantes da zona do ouro mineiro, tinham muito

dinheiro e seus filhos, os futuros bares estudavam na Europa.

A volta ao Brasil aqui chegando, com uma nova mentalidade, implementavam

reformas nas antigas sedes das fazendas. Muitas foram demolidas para reconstruo, outras

reformadas, alterando totalmente a edificao original.

O luxo determinava o estilo de vida dos Bares. Jias, louas, prataria, tudo era

importado A partir da dcada de 1860, perodo em que j havia uma aristocracia rural

consolidada, nesta fase, a Europa era o sonho de consumo. Tudo era importado do bom e do

melhor. Havia um verdadeiro esbanjamento de dinheiro, e um gosto pelo luxo e a ostentao.

Os Bares do caf, agora uma outra gerao originria dos pioneiros, conquistavam e

cortejavam o Poder. A Corte torna-se mais ntima e se transforma numa referncia para os

novos padres de vida.

19

O futuro obscuro Em meio a tanta ostentao, rondam os problemas que levariam

em curto espao de tempo falncia, os bares do caf. A mentalidade conservadora e a falta

de viso de futuro, no os fazem perceber que as dificuldades seriam praticamente

insuperveis. O caf j no era mais o eldorado para a fortuna. A produo diminua, faltava

mo de obra para a colheita, o Brasil enfrentava forte concorrncia internacional com o caf

de outros pases.

Surgem os atravessadores a alternativa era recorrer aos bancos, emprstimos eram

feitos, colocando a propriedade como garantia do negcio. Os custos da produo tornaram-se

altos, a produo no cobria as despesas. Uma vez vencidos os emprstimos a nica soluo

era hipotecar as terras.

A terceira fase novos donos. No incio do sculo XX, a realidade do Vale outra.

O caf definitivamente j no lucrativo. As propriedades passam para novas mos,

(herdeiros e proprietrios). Muda de donos, muda a atividade produtiva, agora a vez da

pecuria leiteira. Os casares luxuosos so ocupados para outros fins. Cassinos, hotis, outros

continuam com a atividade agrcola, mas sem a mesma importncia.

O sculo XX marcado por conflitos de herana envolvendo as famlias herdeiras

dessas fazendas. H uma indefinio da atividade produtiva, os testamentos reduzem

drasticamente a rea territorial.

A falta de recursos financeiros aliado s questes de herana, fez com que, muitas

dessas fazendas, hoje, restassem apenas as runas ou desaparecessem. Embora o tempo tenha

se encarregado de manter erguida parte dessas obras primas da arquitetura rural brasileira.

A partir da dcada de 1950 houve uma valorizao da histria. Assim, comeou

esse movimento de compras de fazendas. Os novos proprietrios da poca, nem sempre eram

de famlias ricas, mais j eram considerados novos ricos. Parte deles, eram herdeiros dos

20

fundadores. So os mesmos os responsveis por novas reformas, que acabaram, por falta de

material, ou de tcnicos especializados, tendo de alterar a originalidade dos casares.

A quarta fase - de mos em mos. - as fazendas entram em uma nova fase a partir da

dcada de 1970. Desse perodo em diante, as propriedades que no sculo XIX, pertenceram a

uma classe de novos ricos Os Bares do Caf, agora voltam para as mos de uma nova elite,

sem nenhuma ligao com as famlias fundadoras, nem com o latifndio cafeeiro. Com

algumas excees, todas as fazendas do perodo da cafeicultura no Vale Fluminense no

pertencem a famlias de herdeiros dos fundadores e pioneiros.

Nos tempos atuais - possuir uma propriedade rural um desejo de consumo, uma

realizao pessoal com o simbolismo da volta ao passado. O campo novamente objeto de

desejo de uma elite econmica com alto poder aquisitivo, ligada ao mundo empresarial,

poltica e outros setores econmicos.

1.1.5 Do abandono restaurao o turismo como salvao?

As fazendas, com uma atividade produtiva definida, mas, no to rentvel como no

passado, do perodo do caf, com um custo de manuteno alto, vem no turismo uma

alternativa complementar de renda, embora o resgate da histria da regio torna-se um

elemento decisivo para essa nova atividade. Essa nova fase, de abertura para o pblico, inicia-

se nos anos oitenta em algumas propriedades, mas, s a partir dos anos noventa que a

atividade veio a se consolidar.

A abertura para a visitao pblica trata-se de uma iniciativa dos proprietrios, de

valorizao do patrimnio, atravs do acesso do pblico. A idia de resgatar a histria do caf

21

na regio do Vale do Paraba Fluminense, teve o incentivo e o pioneirismo das sras. Nilza

Rozemberg e velin Pasquale.1

A primeira, profissional do mercado do turismo e grande incentivadora do turismo nas

fazendas do Vale do Caf, trabalha hoje com cerca de quatrocentas agncias de turismo na

cidade do Rio de Janeiro, e teve como primeira experincia, um castelo pertencente famlia,

na cidade de Mendes RJ. 1

A segunda, proprietria herdeira da Fazenda Ponte Alta no municpio de Barra do Pira

RJ, se inspirou no Ch Imperial do Museu Casa da Hera, em Vassouras - RJ. Adaptando

para a fazenda uma experincia com Sarau Imperial, este que, terminou por consolidar o

turismo nas fazendas do Vale do caf Fluminense.

A criao do Instituto Preservale Fundado no ano de 1994 com o objetivo de

divulgar promover e assessorar os proprietrios nas questes que envolvem o turismo, atua na

preservao do patrimnio, no regate da histria da regio e a proteo do meio ambiente do

Vale do Caf. O Instituto Preservale tem como interesse especfico atuar na regio do Vale do

caf e na consolidao do turismo nas fazendas imperiais2

1.1.6 As fazendas e o turismo - programao e atratividade

Existe uma categoria para as fazendas, determinado pelo Instituto Preservale, que

estabelece trs critrios para esta classificao.

1 Nilza Rozemberg empreendedora do turismo nas fazendas do Vale do Paraba Paulista e Fluminense. Membro e fundadora do Instituto Preservale. Entrevistada pelo autor em maro de 2007. Evelin Pasquale proprietria herdeira da Fazenda Ponte Alta, a pioneira com encenaes nas fazendas do Vale. Uma das idealizadoras do Instituto Preservale. 2 Instituto Preservale ver histrico em anexo

22

O projeto fazendas do Brasil uma rede de alojamentos de carter familiar

complementada com atividades de animao e interpretao tursticas, fomentando a

sustentabilildade do Turismo no Espao Rural. As fazendas do Brasil, so classificadas em

trs grandes grupos:

Fazendas Histricas FH. So fazendas com interesse histrico e valor patrimonial,

referncias da arquitetura tradicional brasileira, com mobilirio e decorao adequadas

poca da construo. So elas:

Fazenda Mulung Vermelho

Fazenda Santo Antnio

Fazenda Unio

Fazenda So Paulo

Fazenda Florena

Fazenda Ponte Alta

Fazenda do Arvoredo

Fazenda do Secretrio

Fazenda Santa Ceclia

Fazendas de Produo FP proporcionam alojamento e animao de agro-turismo,

satisfazendo sempre elevados padres de qualidade.

Fazenda Galo Vermelho

Fazenda da Taquara

Fazenda So Fernando

Fazenda So Joo da Barra

Fazenda Campos Elzeos

23

Fazendas de Lazer. FL so propriedades vocacionadas para programas de entretenimento

de carter ldico, cultural e ambiental.

Fazenda Cachoeira Grande

Fazenda Cachoeira do Mato Dentro

Fazenda Pau DAlho

Fazenda Paraso

Fazenda Vista Alegre

Fazenda So Joo da Prosperidade

Fazenda Santo Antonio do Paiol

Fazenda Chacrinha

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

O que representa, a varivel histrico cultural, intrnseca todas propriedades

abertas ao turismo, em termos de atratividade, uma vez que outros empreendimentos rurais,

que atuam na rea do turismo, no possuem essa varivel.

O Vale do Paraba Fluminense, de reconhecido valor histrico cultural, tem com o

turismo, a perspectiva de gerar receita para a manuteno das antigas casas das fazendas

imperiais e aliado a este fator, tambm o resgate da histria do caf na regio, fez surgir a

partir dessa iniciativa, um novo plo de turismo com base no patrimnio histrico cultural

representado pelas fazendas do perodo do caf.

24

Com o nmero de fazendas, aberta visitao e adaptadas para hospedagem,

existentes na regio, levantou-se o problema, para identificar a influncia do elemento

histrico e sua atratividade como recurso para o turismo em termos de demanda.

O elemento histrico o diferencial dessas propriedades agrcolas em relao s

propriedades rurais no Brasil.

25

2 A ORIGEM E A PROPAGAO DA RUBICEA PELO MUNDO E A

MONOCULTURA CAFEEIRA NO VALE DO PARABA FLUMINENSE.

2.1 A DESCOBERTA PARA O CONSUMO HUMANO

As verses sobre a origem do caf do conta que a planta foi conhecida primeiramente

na Etipia. Segundo Argolo (2004, p. 19)

A Etipia tida como o pas de origem do caf. Da, ele teria migrado para a Arbia, em data no estabelecida corretamente. Admite-se, contudo, que j no sculo XV os rabes tomavam caf, cabendo a eles a exclusividade da lavoura at o sculo XVII.

Simonssen3 (1940, apud ARGOLLO, 2004, p. 19) observa que:

[...] A mais antiga narrativa de que se tem notcia sobre o caf como produto consumido em determinada escala.... trata-se de um manuscrito rabe sobre sua introduo como bebida na regio, no sculo XV da era crist atribuda a um tal Gemaleddin, que numa de suas viagens teria visto vrios nativos tomando a bebida.

Ainda segundo Simonssen (1940, apud ARGOLLO 2004, p. 19).

O preparo da bebida pelo uso das sementes cabe exclusivamente aos rabes que dessa forma j no sculo XVI podem ser considerados os autnticos descobridores do caf, tal qual o conhecemos hoje em dia.(uma bebida obtida pela infuso de gros, torrados e modos em gua quente).

Taunay em sua obra, Histria do caf no Brasil, conta que:

[...] Em 1718, Suriname a colnia Holandesa na Amrica do Sul, comeou a cultivar o caf. Em 1722, Monsieur de La Motte Aigron, governador de Caiena, iniciou uma plantao que, j em 1725, resultava em produo relativamente significativa. Em 1727 (mesmo ano em que o caf chegou ao Brasil, os franceses percebendo que essa cultura poderia significar boa alternativa econmica para suas demais colnias, levaram algumas mudas Martinica, de onde, provavelmente, o caf se alastrou para as ilhas vizinhas, chegando Jamaica em 1732 [...] .Assim, a trajetria do cafeeiro pelo mundo ocidental iniciou- se no final do sculo XVII, quando a ttulo de ensaio, mudas foram enviadas para o Jardim Botnico de Amsterd. Isto viria a se constituir no ponto de irradiao para a formao de cafezais no Ocidente, sobretudo Suriname, de onde passariam para a Guiana Francesa, que abrigou os ancestrais da lavoura brasileira. Taunay (1939, p. 245)

3 R. C. SIMONSSEN, Aspectos da Histria Econmica do Caf, Revista do arquivo do Estado, n LXV. So Paulo, 1940

26

O fato que desde as primeiras notcias da existncia da espcie, o caf provocou

grandes mudanas no comportamento das pessoas e influenciou a humanidade em todos os

setores. Da cultura economia e poltica o caf foi protagonista nas transformaes

impostas s sociedades.

Quer pelas substncias, supostamente atribudas bebida, quer pelo seu valor

nutricional, ou efeitos colaterais que provoca em seus consumidores, o caf sempre foi

protagonista por transformaes, h sculos.

2.2 A ENTRADA E A DISSEMINAO DA RUBICEA NO BRASIL

Com a entrada da bebida no Brasil, por aqui, tambm os comentrios e a crena sobre

as qualidades da planta, no foi diferente que no restante do mundo, onde se plantou e

consumiu a bebida.

[...]Sobre o caf era impossvel conciliar as opinies mdicas. Affirmavam huns que o caf he hum princpio de vida e que tem todas as virtudes contra todas as molstias. Dizem outros que embebeda, corrompe a massa do sangue e destre os princpios da gerao.[...]hoje opinio commum que o caf pem o sangue em movimento, ajuda a disgesto, desperta do smno, precipita os alimentos que por tanto o seu uso ser saudvel s pessoas gordas, fleumticaos pelo contrrio as pessoas magras, seccas de hum temperamento ardente e biloso, s devem usar delle com muita reserva. (TAUNAY,1939, p. 26)

A entrada das primeiras sementes de caf plantadas no Brasil deu-se em 1727, por

intermdio de Francisco de Melo Palheta, sargento mor, oficial de linha do Exrcito

portugus, [...] que houvera estado por ordem do Sr. Joo da Maia da Gama, Governador

geral da Provncia do Maranho, em Caiena, na Guiana Francesa, para resolver questes de

fronteira levantadas pelo Sr. Cludio dOlliviers, governador daquela colnia[...] Ainda de

27

acordo com Taunay, no final do sculo XVIII, a cultura do caf era, ainda, economicamente

insignificante no Brasil (TAUNAY, 1939, p. 281).

A fixao do caf como produto agricultvel transformar-se-ia em um curto espao de

tempo em uma cultura to valiosa tal qual o foi o ouro nas Minas Gerais e que, nas palavras

de Sobrinho, 1978, p. 8 defendia-se:

[...] uma nova mina havia aparecido. [...] logo todavia, s recebeu real estmulo com o Decreto de 1761, que retirava daquele produto gravames de exportao. Ao vice-rei Marqus de Lavradio, deveram-se medidas sbia e prticas, que vieram incrementar a cafeicultura nascente.

De acordo com Taunay, no sculo XVIII, acontece uma disseminao por toda a

colnia. Na Amaznia

[...] a experincia da longa estada no Amazonas levava o Padre Joo Daniel a ultimar os seus considerados por um conselho aos lavradores [...] tratando do caf, expendia o jesuta: A planta doa caf foge dos alagadios, e quer terra secca, e he huma das mais estimadas plantas pelo muito que carrega, e fructifica logo no segundo ou terceiro anno, e, por isso, deve levar huma das primeiras attenes aos lavradores do Amazonas... (TAUNAY, 1939, v. II p. 10)

Nos Estados do Nordeste, tm-se relatos de uma produo insignificante. Na provncia

da Bahia relatos confirmavam

[...] o uso dessa bebida do caf est to generalizado, que ricos e pobres, pretos e ndios, todos o tomam muitas vezes ao dia e a comarca de Caravellas promette para o futuro tornar-se assas importante pela grande exportao de caf, visto que hoje muitos lavradores de mandioca abandonaram esta, e plantam o caf (TAUNAY, 1939, v. II p. 38).

De norte a sul, verificou-se a presena do cafeeiro, como uma agricultura alternativa,

mas em pequena escala de produo, o que s veio a ocorrer a partir do plantio em terras

fluminenses.

28

2.3 A COROA PORTUGUESA IGNORA O CAF

A colnia portuguesa na Amrica estava muito prxima de conquistar a sua

independncia, proporo que eclodiam, por todas as provncias, movimentos pr

independncia. O mais notvel, a Inconfidncia Mineira, movimento de luta contra a

explorao do ouro e a cobrana irracional de impostos, evidenciava a insatisfao da

populao contra a Coroa.

Portugal tinha como base da sua economia o acar, que segundo Taunay (1939, p.

100-101),

[...] a propsito de enorme alta do gnero provocada pelos acontecimentos da Revoluo Franceza e a perturbao do comrcio mundial. Em Paris a libra de assucar estava custando 400 ris, ao passo que em Lisboa valia de 140 a 160 reis. [...] Havia enorme falta de stocks assucareiros. A descoberta das minas de ouro havia causado incalculvel damno lavoura, os portugueses,mestres dos demais povos em matria de indstria saccharfera, estavam agora distanciadssimos dos francezes, inglezes e hollandezes. Perdera Portugal a antiga superioridade de sua agricultura.

O surgimento do caf, logo se espalhando por toda a colnia, representava um risco

para a Coroa. Naquela fase, no podia o Rei D. Manuel admitir ou incentivar uma nova

lavoura, que no o acar. Contudo, o cafeeiro prosperava.

[...] Se em 1796, pela barra de Guanabara haviam sahido 8,495 arrobas de caf, despachados para a Europa, dez annos mais tarde esta exportao havia quase decuplicado, attingindo 82.245 arrobas, no valor de 328:990$000, doze vezes o valor da safra exportada em 1796, pois as cotaes haviam subido de quase 25 por cento (TAUNAY, 1939, p. 115).

Era real a preocupao da Coroa, em impedir que a lavoura do caf prosperasse em

detrimento do acar. Ao que parece, no s as autoridades, como pessoas de outros escales

ignoravam mesmo que propositalmente a existncia do caf na colnia. Um grande contraste,

j que tudo que a colnia produzia era para o interesse da Coroa. Acar, algodo, anil, fumo,

cacau, entre outras culturas.

29

Para Taunay surpreendente como no final do sculo XVIII, bispos, naturalistas,

advogados, se negavam a reconhecer a existncia do caf no Brasil. O autor relata que:

[...] Em 1790, escrevendo Joaquim de Amorim Castro sobre a cochonilha do Brasil nas Memrias Econmicas da Academia Real de Sciencias de Lisboa, aconselhava aos lavradores do nosso pas, sobretudo aos de canna e fumo,que se ocupassem da creao do hemptero corante que ,Linneu baptisaara Caccus caactus. Nem uma nica alluso se encontra em suas paginas de que soubesse da existncia de lavradores de caf no Brasil. [...] Ao limiar do sculo XIX era o caf assumpto de que quase no cogitavam os portugueses ilustrados em geral. (TAUNAY, 1939, v. II p. 100 -103).

2.4 O PRIMEIRO FAZENDEIRO DE CAF DO BRASIL

Aps a chegada dos Portugueses na colnia, os europeus manifestavam seu

encantamento pelas florestas tropicais. So muito conhecidos os relatos de viagens dos

naturalistas nas terras brasileiras. A maioria vieram para realizar pesquisas, mas tambm

muitos aqui chegaram por outros motivos. Supostamente, segundo Taunay (1939, p. 210-211)

o neerlandex Conde Theodoro van Hogendorp, capito de granadeiros, ministro da guerra de

Luis Bonaparte, chegou ao Rio de Janeiro em 1817, aps recusar posto militar oferecido por

D. Joo VI,

[...]recolhendo-se solido pitoresca da Tijuca,[...].para s se ocupar do cultivo da terra e do estudo da natureza[...]Construindo uma singela habitao puzera-se a derrubar largo trecho da mata, a fim de fabricar carvo [...] Aos poucos foi substituindo a floresta por uma lavoura de caf, considervel para a poca, pois chegou a contar 30.000 ps, cifra bem avultada at 1820, para uma fazenda.

30

2.5 O CAF OCUPA AS TERRAS DO VALE DO PARABA FLUMINENSE:

A chegada do caf e o cultivo, ao longo do curso do Rio Paraba, em terras

fluminenses, provocou em curto espao de tempo, mudanas, no s na paisagem, mais

tambm, transformou a regio, em todos os aspectos: seja cultural, econmico ou poltico.

A historiadora Lielza Machado descreve a regio da seguinte forma:

O Vale, formado pelo rio que percorre 1.019 km do territrio nacional antes do seu encontro com o Oceano Atlntico em Atafona (Campos RJ.), comeou a ser ocupado com a chegada das primeiras bandeiras. Seguiu-se a elas, o trfego dos que se destinavam a Minas Gerais em busca do ouro, dando origem aos primeiros povoados resultando em sua extenso uma grande atividade agrcola que atingiu seu pice com a cultura do acar no baixo Vale e o Caf no mdio e alto (MACHADO, 2000, p. 69).

A trajetria do caf no Estado do Rio de Janeiro foi em seqncia, medida que os

fatos polticos iam decorrendo. Assim que a planta trazida para o Brasil, chegou a vrias

provncias em curto espao de tempo. [...] Referindo-se lavoura cafeeira no Vale do

Paraba, [...] implantou-se definitivamente, tanto l como aqui, na dcada de 1830. Seu

perodo ureo, na provncia do Rio de Janeiro vai de 1850 a 1870 STANLEY4, (1961, apud

SOBRINHO, 1978, p. 24).

4 STEIN, Stanley J. Grandeza e decadncia do caf, 1961

31

Mapa: A ROTA DO CAF NO SCULO XIX Fonte: Livro didtico do ensino mdio.

A implantao da monocultura do caf se deu simultaneamente em todo o Vale do

Paraba, hoje os Estados do Rio de Janeiro e So Paulo. De mo em mo as sementes partiram

para provncia do Maranho, com um desertor, e ps de caf l se formaram, na dcada de

1770.

O Dr. J. Gualbeto Castelo Branco, vindo assumir o cargo de desembargador da

Relao, em 1774, na cidade do Rio de Janeiro, trouxe duas mudas de caf que, aqui no sul,

cresceram e floresceram em jardins, multiplicando sementes, at que um estrangeiro

conhecido por Mooke com elas formou o primeiro cafezal, na periferia da Corte. Tanto xito

financeiro lhe foi proporcionado, que no demorou a ser seguido por todos quantos, no Rio e

no resto do pas.

32

[...] Em 1817, D. Joo VI, ainda residindo na Corte de So Sebastio do Rio de Janeiro, recebeu de sua outra colnia, Moambique, tantas sementes da rubicea, que distribuiu aos pacotes, entre proprietrios de terra. Com o real incentivo do monarca portugus, as experincias j aprovadas foram-se repetindo, das chcaras da Tijuca e Corcovado, no Rio, aos stios da Baixada Fluminense, de onde os cafeeiros marcharam sobre o Vale do Paraba, para sua arrancada civilizadora. Em pouco tempo, s o caf produzido nessa regio ser superior s quantidades provenientes do resto do mundo cafeicultor: Java, Somatra, ndia, Arbia, Arquiplago Oriental, Costa Oriental e Costa Ocidental da frica. Far a riqueza de So Paulo, enriquecendo e fazendo progredir o Brasil. (SOBRINHO, 1978, p. 8-9).

Para Lamego, (2003, p. 55) o Vale foi escolhido devido sua situao geogrfica e seu

aspecto topogrfico. Ainda conforme Lamego, o Vale do Paraba nos idos dos anos de 1800,

era coberto por uma mata primria, um contnuo e entrelaado matagal que cobria as

serranias, desdobrava-se por morros e colinas, abafava os vales apertados, onde os cursos

dgua desapareciam sob os tetos das ramagens. O Vale era quase um indevassvel labirinto

vegetal, uma selva virgem.

De acordo com Sobrinho (1978, p. 21), o cafeeiro foi introduzido ao longo do Paraba,

quase ao mesmo tempo que no vale fluminense e no paulista, logo aps o esgotamento das

minas.[...]

As condies climticas dessas terras, fizeram com que no incio do sculo XVIII a

regio viesse a se transformar na maior produtora de caf do mundo.

33

2.6 A FORMAO DAS FAZENDAS, UMA NOVA CONFIGURAO AO

VALE DO PARABA FLUMINENSE

A formao de uma fazenda de caf era tarefa rdua

Paulo Lamego

At se constituir como uma propriedade produtiva, agora preparada para a

monocultura do caf, dotada de toda condio para a produo extensiva, formar uma fazenda

passava por etapas anteriores, que dependiam de situaes que envolviam diretamente a

Corte.

Contudo, as primeiras fazendas instaladas no Vale do Paraba Fluminense, seus

proprietrios, enfrentavam aquilo que PELLEGRINI (2001) chama de ruidezas do Serto.

Tudo comeava com a doao do terreno como Sesmaria.

2.7 O SURGIMENTO DE UMA FAZENDA

Demarcada a sesmaria, ou como muitas vezes era feita, arbitrariamente, a posse da

terra, vrios fatores eram estudados para a implantao da fazenda.

[...] Quanto s concluses sobre a fertilidade do solo, no havia dificuldade: a roupagem que encobria a terra era seu ndice seguro. Se a floresta aparentava um verde intenso, vista de longe, de algum espigo, mostrava-se azulada a sua boa qualidade estava assegurada. Nela se encontrava o cedro, o jacarand, o jequitib, a canela.Nela a natureza seria prdiga, nela o solo retribuiria com generosidade as mudas que se plantassem ou a semente que se lhe enterrasse! Era o lugar indicado! LAMEGO5, (1963, apud LAMEGO, 2003, p.45 ).

5 LAMEGO, Alberto R. O Homem e a Serra IBGE, 1963

34

Outras condies eram indispensveis para que a propriedade obtivesse xito com a

produo do caf. Ainda conforme Lamego, era necessrio que a casa sede estivesse prxima

de um crrego com bom volume dgua, o terreno teria que apresentar a forma de um largo

tabuleiro, onde houvesse espao suficiente para, com largueza, conter, alm da casa grande,

todas as edificaes subsidirias: paiol, tulhas, engenho, senzalas, currais, chiqueiros e,

principalmente, os terreiros para secagem do caf.

As etapas seguintes, o fazendeiro com seus escravos passariam para a lida no campo

que duraria anos, nesta primeira fase da instalao das fazendas de caf. O primeiro passo era

roar um pequeno trecho, por baixo da mata, em seguida da derrubada das rvores:

[...] Esse penoso servio nunca era feito pelos escravos, mas pelos caboclos, geralmente mineiros, segundo fielmente a tcnica de seus mestres, os ndios. Faziam incises a machado no tronco das rvores maiores, medida que iam subindo o morro. L em cima era derrubado o matador, rvore mais alta, previamente escolhida, que com sua queda, derrubaria as demais VALVERDE6, (apud Lamego, 2003 P. 56).

Estava ento, construdo o embrio da futura fazenda, uma casa simples onde ali se

acomodava a famlia e seus escravos de confiana. As etapas seguintes seriam aproveitar os

melhores troncos, e ao restante da floresta ateava-se fogo. Concluda esta etapa, passava-se

para o alinhamento do futuro cafezal, tudo tocado pelas mos dos escravos.

As primeiras fazendas desbravadas no Vale do Paraba, por volta de 1830, exigiram de

seus fundadores muito esforo, coragem, dedicao e pacincia.

[...] assim, vencidos os primeiros anos, tornavam-se fazendeiros, que [...] dez anos mais tarde estavam ricos, vinte anos depois, opulentos, senhores de propriedades com enormes benfeitorias, casas colossais e escravatura numerosa Taunay7, (1939, apud ARGOLLO)

6 VALVERDE, Orlando. Citado por Lamego em sua obra O Brasil o Vale, 2003. Sem indicao bibliogrfica 7 TAUNAY, Afonso de E. Histria do caf no Brasil. Rio de Janeiro, Departamento Nacional do Caf, 1939, 2 vol.

35

A partir do momento da descoberta do caf, como uma bebida possuidora de valores

teraputicos e nutricionais, consumida pelo mundo, desde o sculo XV, at chegar formao

das fazendas no Vale do Paraba Fluminense, muitos episdios aconteceram.

A formao das fazendas est, portanto, ligada situao poltica do Reino e Portugal

e seus conflitos com a Inglaterra. A partir das guerras Napolenicas e suas conseqncias para

o mundo, isto veio a refletir na colnia portuguesa.

O Brasil, at ento uma colnia, viveu desde o sculo XVI como uma fonte de

suprimento e extrao das riquezas para serem repassadas colnia. Assim se sucedeu desde

o cultivo do acar, e a extrao do ouro. O caf veio ocupar o vazio do esgotamento do

processo extrativista agrcola e mineral para a Coroa Portuguesa.

Com a vinda da Coroa portuguesa para o Brasil, aportaram no Rio de Janeiro muitos

nobres financeiramente arruinados. Dom Joo VI, na poca prncipe regente,

[...] para remediar tal situao, distribuiu largamente sesmarias na regio ento semi deserta entre o litoral, o Paraba e a fronteira de Minas Gerais, as quais , com enorme expanso dos cafezais ali ocorrida, [...] tornaram-se bastante valorizadas, beneficiando muitos portugueses e brasileiros, fidalgos e pessoas distintas Taunay8, (1939, apud ARGOLLO, 2004, p. 27 ).

Na viso de Argollo, muitos desses proprietrios eram especuladores de terra, que

visavam apenas vender as propriedades e apurar lucros fceis. No final do sculo XVIII, o

Vale do Paraba era ento uma regio despovoada, habitada por indgenas.

8 IDEM

36

3 CONCEITOS, MODALIDADES, CATEGORIAS ESPAO, E

TURISMO

3.1 ESPAO

A formao do espao resultante da atividade humana e a sua consolidao, provm

dos avanos da sociedade. A diferenciao est na sua formatao, que resulta, na

consolidao de um novo tipo de espao.

O conceito de espao determinado por diferentes reas do conhecimento e est

condicionado ao campo de interesse dessas mesmas reas. Quer seja no campo das cincias

sociais, das cincias humanas e das cincias sociais aplicadas, entre outras.

O turismo nas fazendas do Vale do Paraba Fluminense, se configura como uma

atividade realizada a princpio, em rea, no meio, ou no espao rural. Para precisar sobre esses

conceitos e identificar o termo mais adequado s prerrogativas do estudo, buscou-se na

literatura existente, suporte terico, que descreva todas as nuances sobre o espao, o espao

rural e o turismo no espao rural.

Autores como, Boulln (1994, p.61) ao criar categorias para o espao fsico divide o

em sete tipos distintos. Espao fsico: real, potencial, cultural, natural , artificial, natural

virgem e vital. Para o autor, alguns desses tipos de espaos, correspondem a distintas

expresses materiais do espao fsico (cultural, natural, virgem, artificial) Outros so

classificaes conceituais prprias do planejamento (real e potencial). A definio de espao

est, portanto, condicionada forma de sua ocupao, quer seja fsica, ou no.

37

3.1.1 O significado do Espao

O espao, segundo Milton Santos (apud Balastreri, 1997:65), formado pelos [...]

homens, as firmas, as instituies, o chamado meio ecolgico e as infra-estruturas. Na

atividade turstica, esses elementos, exercem seu papel na configurao do espao turstico.

Esquema: elementos do espao segundo Milton Santos (1985) Fonte: org. por Adyr A. B. Rodrigues, 1996.

Balastreri (1997) ao associar lugar, imaginrio e o espao turstico, a autora define o

espao turstico como [...] resultante das conquistas do tempo livre das classes trabalhadoras,

que resultam na necessidade de viajar. Esta necessidade algo fabricado, incultado na mente

dos indivduos,[...] enquanto os promotores do espao turstico, procuram captar essas

imagens e ir ao encontro delas.Este seria, um espao criado e reforado pela mdia, que,

segundo a autora, gera e refora o processo fantasioso. No final resulta no que a autora

classifica como o consumo produtivo do espao.

38

O lugar, para a autora, [...]como categoria filosfica, no trata de uma construo

objetiva, mas de algo que s existe do ponto de vista do sujeito que o experiencia. [...] o

referencial da experincia, vivida pleno de significado. (BALASTRERI, 1997:32)

3.1.2 Espao Turstico

Nomear o espao em funo do uso uma forma de caracteriz-lo, enquanto atividade

nele exercida. Esta questo da nomenclatura, no turismo, cria uma profuso de termos e

conceitos, passivos de equvocos.

Como vimos, at o momento neste captulo, so muitas as interpretaes que se d ao

espao fsico. Esta problemtica est sendo tratada com cautela por parte do autor, tendo o

cuidado de no tomar partido, com relao s interpretaes dadas nas diversas reas do

conhecimento cientfico, sobre o tema.

Feitas essas ressalvas, buscou-se respaldo terico sobre o assunto, nas reas do

conhecimento, com interesse sobre o fenmeno turstico, especialmente a geografia, ligada

aos estudos do turismo, enquanto atividade social, de lazer e de mercado, que interfere

diretamente na formao do espao.

A complexidade conceitual do espao e do turismo, na viso de BALASTRERI vista

da seguinte forma. (1997:43) [...] A dificuldade para definir-se o espao turstico est

basicamente em captar o peso ou a fora que essa atividade exerce na produo do espao. A

autora divide em dois tipos, os espaos tursticos contrastantes - os grandes redutos de

espaos ditos naturais e os grandes centros tursticos, produzidos pela ao do homem.

39

Isto significa que, o turismo capaz de produzir e transformar espaos, no criados

por ele, mas que tem vocao, e outros que foram criados especificamente para a atividade

turstica propriamente dita.

A autora conclui, consumando como sendo os elementos bsicos do espao turstico,

[...] a oferta turstica, demanda, servios, transportes, infra estrutura, poder de deciso e de

informao, sistema de promoo e de comercializao.

Desta forma, entende-se que,[...] o espao turstico, como todo espao geogrfico,

no pode ser definido por fronteiras euclidianas, mesmo porque, pelo menos um dos seus

elementos bsicos, lhe exterior a demanda. BALASTRERI (1997:45)

3.1.3 Espao Rural

No cotidiano das pessoas, especialmente a populao interiorana do Brasil,

especialmente aquelas pessoas que tem ligao direta com a fazenda, ou o mundo rural,

comum a expresso vou para a roa ou vou para a fazenda. Isto significa, estar falando

dos mesmos ambientes. O oposto seria o ambiente da cidade, por tanto, o ambiente urbano,

em contraposio ao ambiente da zona rural. Ao tratar dessa ambigidade que hoje, falar

sobre o que rural e o que urbano, principalmente, delimitar as fronteiras entre um e outro

(CRISTVO,2002:81) acrescenta que [...] o espao rural bem mais do que um simples

fornecedor de matrias primas. no fundo um espao multifuncional. [...] o espao tem hoje

uma nova legitimidade, identitria, e no a legitimidade alimentar do passado.

Significa que, aquela expresso dita anteriormente, nos dias atuais, na viso desse

autor e de outros no mais suficiente para delimitar esses dois ambientes. At porque esta

40

uma discusso, que a academia, no se chegou a um consenso. Sobre esta questo do urbano

com o rural.

O IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica considera como:

Zona Urbana como a rea inteira do permetro urbano de uma cidade, incluindo as

reas isoladas ou vilas dotadas de servios pblicos.

Zona Rural como a rea externa ao permetro urbano, incluindo os aglomerados

rurais.

Em sua pesquisa, sobre Turismo em espao rural, Moreira (2004:6) usa uma expresso

que simboliza o que foi no passado, aquela imagem construda de pureza, de bucolismo, uma

idia romntica e saudosista da fazenda.

O autor muito oportuno quando trata o campo com a realidade dos tempos atuais,

onde j no existe a mesma cara de dcadas passadas, quando ento no existia nenhum meio

de comunicao, conforme bem observou Moreira, sobre a funo do espao rural, de servir

apenas para fornecer gneros alimentcios, complementa o autor. [...] longe vai o tempo em

que atravs de uma simples observao das fisionomias dos lugares era possvel uma

arrumao quase instantnea entre cidade e campo.MOREIRA (2004)

O universo rural mudou substancialmente, o Brasil, at meados do sculo XX, era um

pas eminentemente rural. A grande maioria da nossa populao vivia no campo. Daquele

perodo, at os dias atuais, esta situao inverteu completamente. Hoje, em torno de 20%, ou

quem sabe menos, da populao brasileira, est na zona rural. Essa transformao, refletiu

diretamente no campo. Talvez esse seja o motivo de Moreira (1994), afirmar que o espao

rural tem sido objeto de infindveis interpretaes. Cita o autor:

41

[...] Desde reservatrio de todas as virtudes, para escritores do romantismo, verso escala nacional do mito do bom selvagem de Rousseau, at s mais sofisticadas criaes dos cientistas rurais, a multiplicidade de abordagens anlises e interpretaes tem sido, talvez, o trao mais caracterstico deste espao (MOREIRA: 1994, p.5)

O autor aprofunda sua anlise do rural em contraposio ao urbano ao afirmar que:

[...] na realidade, virtualmente impossvel considerar o espao rural sem o perspectivar em funo do crescente poder do fenmeno urbano (ibidem: 5). Para M. Bodiguel (1986) ibidem Moreira (1994) :

[...] um certo tipo de relaes entre uma aglomerao e o espao enquadrante que caracteriza a ruralidade ou a urbanidade e no as caractersticas do meio natural.

Para ilustrar esse tema, em todas as suas especificidades, que alis, no podem ser

ignoradas, at mesmo pela questo cultural, que sobrepe questo jurdica. Essas mltiplas

interpretaes terminam se transformando em entrave, sobre a formao e a multiplicidade de

conceitos que caracterizam o espao rural, conceitos esses, dada a especificidade de cada pas,

ou regio, ultrapassa fronteiras, cada uma com a sua prpria definio. Significa que, cada

pas entende o que o rural, em contraposio ao urbano, de acordo com sua legislao, com

a cultura regional, e mesmo as atividades desenvolvidas no espao rural de cada pas, ou

regio.

Moreira (1994) cita que:[...]Em pases tais como a R.F.A. Holanda, Blgica,

Luxemburgo e Frana, espao rural est intimamente ligado ao habitat pouco aglomerado.

(MOREIRA, 1994, p:105).Vejamos como exemplo, alguns pases:

[...] O caso da Itlia, apesar da noo de espao rural, no ser muito diferente, j, as

reas de montanhas so consideradas como pertencentes a este espao. (MOREIRA, p. 106)

[...]Na Irlanda e Gr Bretanha, devido tradio anglo saxnica, o espao rural

associado ao conceito de Country (MOREIRA, p. 106)

[...]Noutros pases como Portugal , Grcia e Espanha, o espao rural fortemente

associado aquele cuja vocao agrcola, da a ntima ligao do turismo rural quela

actividade. (MOREIRA, p. 106)

42

Nota-se que, nesses pases, a idia do rural, est associada a vrios fatores que se

originam a partir dos aspectos fsicos da natureza, e se estende at ao estilo de vida.

3.1.4 Espao cultural

Dentre tantas funes e atividades no espao, a cultura est presente. Ao descrever

sobre as relaes ambientais, no sistur sobre o subsistema ecolgico, Beni. define o espao

cultural da seguinte forma:

[...] aquela parte da crosta terrestre que, devido ao do homem, mudou sua fisionomia original. Para destacar que conseqncia do trabalho do homem, destinado preparao da terra para suas necessidades, tambm denominado espao adaptado. Conforme variam os tipos de tarefa que o homem realiza no espao cultural ou adaptado, originam-se o espao natural adaptado e o espao artificial.(Beni, 2001, p.56)

O autor define o conceito de espao cultural dividido em dois aspectos. Primeiramente

o espao enquanto poro de terra da superfcie terrestre. Em seguida entende que a formao

do espao se d em funo da ao laborial do homem agindo nesse mesmo espao. Dessa

ao humana, surgem os novos espaos como o cultural.

Outros autores analisam a formao do espao diretamente ligado ao turismo como

conseqncia da ao do homem ao apropriar de um espao promovendo as transformaes

no somente fisicamente como tambm culturalmente.

Podemos entender, desta forma, que a formao do espao e a denominao de

diferentes espaos, se d por processos impostos pela ao do homem. O turismo neste

sentido prdigo na formao de espaos, por ser uma atividade que exige construes e

adaptaes dos espaos para sua prtica. Esta questo do espao e do turismo tratada por

43

diferentes reas do conhecimento, como por exemplo a Geografia. Segundo Rodrigues (1999:

56)

[...] o turismo uma atividade que produz (mesmo quando se apropria sem transformar) um espao[...] evidente que quando se mudam algumas caractersticas do espao construindo observatrios, portos, transformando antigas casas em pousadas, hotis, casas de personalidades histricas em museus etc, j temos uma transformao do espao, mesmo que nada de novo tenha sido edificado

A autora entende que a presena da atividade turstica em qualquer ambiente

transforma o espao. Portanto, a forma como o ser humano ocupa o espao, no caso do

turismo, gera uma nova modalidade.

3.2 MODALIDADES TURSTICAS NO ESPAO RURAL

O uso aleatrio de termos, sem estar rigorosamente ligado ao tema, um problema que

dificulta a conceituao, para as manifestaes do turismo no espao rural.

O uso da expresso modalidade, ou tipologia, significa estar se falando de algo

semelhante, embora o turismo, especialmente o turismo no espao rural, apresente mltiplas

formas e atividades.

Modalidades tursticas, segundo Tulik (2003)[...] constituem um modo particular de

fazer turismo e disso resultam os diferentes tipos relacionados a um conjunto de

caractersticas e conceitos. Para a autora, modalidades e tipos compem um elenco de

assuntos polmicos e ingratos, presente em muitas reas do conhecimento.

Em Portugal, Moreira (1994) define em trs, as modalidades do Turismo no Espao

Rural. Turismo rural, Turismo de Habitao e Agro turismo.

44

No Brasil, Balastreri (2001) para fins de classificao do turismo rural, sugere:[...]

dois grandes grupos, relacionados basicamente ao patrimnio cultural o primeiro, de cunho

histrico e o segundo, de natureza contempornea. Seriam esses grupos divididos em

turismo rural tradicional, onde faria parte as modalidades: de origem agrcola, de origem

pecuarista, de origem europia. E turismo rural contemporneo integrando as modalidades -

hotis fazenda, pousadas rurais, spas rurais, segunda residncia campestre, campings e

acampamentos rurais, turismo rural mstico ou religioso, turismo rural cientfico e

pedaggico e turismo rural etnogrfico.

No Chile, (ESPINOSA,1997:14) em sua obra, Agroturismo e Turismo Rural,

apresenta as modalidades de turismo rural naquele pas, todas com incio a partir dos anos

oitenta do sculo passado, Ecoturismo, agroturismo, turismo de aventura, etnoturismo.

Projetos considerados como autnticos de turismo rural, conforme Espinosa (Ibidem, 15-17)

excurses rurais, rotas tursticas rurais, turismo campesino, projetos territoriais de povos e

de reas rurais, agroturismo, acampamentos ecolgicos e granjas escolas, agrocamping,

complexos tursticos rurais, festivais e encontros campesinos.

Em sua tese de doutorado, (Dias, 1996: 26-49) faz um levantamento pelo mundo,

sobre as modalidades de turismo praticadas no espao rural dos pases europeus, onde o

turismo rural mais difundido. Portugal, Frana, Alemanha, ustria, Dinamarca, Espanha,

Estados Unidos, Grcia, Holanda, Irlanda, Itlia, Sua, Reino Unido.

Portugal turismo rural, turismo de habitao, turismo de casas antigas, agroturismo, casas

rsticas, quintas e herdades.

Frana Albergues hospedaria ou pousadas, casas rurais, residncias para crianas ou

casas de colnias, fazenda pousada, quartos de hspedes, albergues de etapas, mesa de

45

hspedes, camping - granja, granja para hspedes, granja eqestre, vilas de frias para

famlias.

Alemanha apesar do pas ter uma tradio de mais de 150 anos com turismo rural, o

mesmo no acontece com a pesquisa sobre o tema. O turismo rural no pas definido como

turismo em um territrio no - urbano onde certa atividade humana (economia relacionada

terra) se desenvolve, primariamente agricultura. Muitos fazendeiros permanecem no

negcio do turismo mais pelos contatos sociais que fornece, do que pelo dinheiro que possa

receber dele.

ustria as origens remotas do turismo rural encontram-se na oferta de hospedagem em

casas particulares.

Dinamarca frias nos arredores do campo ou alojamento com famlias, albergues,

chalets,quartos de hspedes, Agroturismo (habitaes de hspedes e alojamentos rurais)

Espanha turismo desportivo, turismo ambiental, turismo em alojamentos rurais (turismo

em casas rurais e agroturismo)

Estados unidos Os Bed & Breakfast, Farm houses ou country vacation hospedagem em

ranchos para caadores e pescadores nas temporadas.Outros nomes desses estabelecimentos

(working farm, working ranch,guest ranch, ranch resort ou lodge resort, e wildness lodge)

Grcia cooperativas femininas de agroturismo (inspiradas no desenvolvimento das

habilidades tradicionais da mulher rural e na administrao do lar, pelas mulheres), as

cooperativas oferecem caf da manh tradicional, baseado em produtos feitos em casa,

46

acomodaes em quartos Standard,com mobilirio tradicional e banheiro privativo. Vendem

artesanato tradicional e alimentos, organizam atividades recreativas e culturais, seminrios

de treinamento e conferncia de turismo e oferecem a oportunidade do visitante participar de

atividades tradicionais agrcolas e ecolgicas.

Holanda pequena agricultura e aluguel de quartos.

Irlanda o turismo rural funciona com o aluguel de quartos em exploraes agrcolas

(farmhouses) quartos em outras habitaes no campo (country houses)

Itlia o turismo rural est ligado ao setor agrcola, confundido largamente com o

agroturismo. Distingue-se entre os tipos de montanha, colinas e cultural.

Sua a estagnao das grandes reas agrcolas e regies montanhosas, fez surgir o Green

Tourism (diversificao do trabalho no campo e uma nova alternativa ao turista,baseado na

qualidade de vida)

Reino Unido pioneiro no turismo rural da Europa, existem diversos tipos de alojamentos

rurais (casas de campo, pequenos hotis rurais, camping caravaning, casas granja

(agroturismo), quartos de hspedes(bed & breakfast).

47

3.2.1 Turismo no Espao Rural

Quanto atividade turstica, na prtica, as denominaes turismo no espao rural,

Turismo em reas rurais, turismo rural, ou turismo no meio rural, agro -turismo, s vezes

levam a uma srie de dvidas, sobre qual conceito o mais adequado, para determinada

atividade.

O turismo no espao rural, tem caractersticas prprias em todo o mundo. A idia de

ruralidade no homognea entre os pases. No caso do Brasil, tambm no diferente. A

profuso de conceitos, leva a interpretaes, se no equivocadas, s vezes criadas

aleatoriamente.

Roque e Mendona (1999) afirmam que:

[...] O turismo no espao rural brasileiro recente e ainda confunde com mltiplos conceitos como o turismo de interior, o agro-turismo, o turismo alternativo, endgeno, turismo verde, eco-turismo, turismo de rotas agrcolas, roteiros ou circuitos no meio rural, pesque pague, entre outros. Desta forma, pode se entender oTurismo no Espao Rural como sendo toda maneira turstica de visitar e conhecer o ambiente rural enquanto se resgata e valoriza a cultura regional..(Roque & Mendona, 1999: 145)

Para Tulik (2003), existe uma confuso terminolgica em relao modalidade

turstica processada no espao rural do Brasil.

[...] No turismo, apesar dos esforos j realizados neste sentido, a classificao dos

diferentes tipos ainda no foi resolvida[...] Modalidades e tipos compem um elenco de

assuntos polmicos e ingratos, presente em muitas reas do conhecimento. No caso do

turismo, e especialmente do Turismo Rural, existe uma profuso de abordagens, de conceitos

e de classificaes sujeitas aos mais diversos critrios ou, o que pior, sem qualquer aluso

aos procedimentos utilizados para identificar as categorias de anlise. (TULIK, 2003:28),

48

Conforme a exposio de Tulik (2003), as denominaes sobre as modalidades de

turismo, especialmente no campo do turismo no espao rural, so comuns. Os proprietrios ou

administradores das fazendas, conforme a proposta para a implantao do turismo, mais os

pertences, que supostamente considera como um grande atrativo de forma consciente, ou mas

por fora de mdia e o boca a boca. Os proprietrios terminam denominando certos tipos de

atrativos, conscientes ou inconscientes?

3.2.2 Turismo em reas rurais e turismo no meio rural

Essas duas expresses so utilizadas corriqueiramente, em trabalhos sobre turismo

rural. Como j foi citado anteriormente e com base nas observaes de Tulik (2003), no h

nenhuma preocupao com as denominaes que possam ser dadas a este assunto. Turismo

em reas rurais, ou turismo no meio rural, invariavelmente, so aceitos como sinnimos de

turismo rural, em todas as suas modalidades.

Autores brasileiros, como Silva, carlyle e Dale, (apud Tulik, 2003:42) [...]julgam ser

mais apropriado referir-se totalidade dos movimentos tursticos que se desenvolvem no

meio rural com as expresses Turismo no Espao Rural ou Turismo nas reas Rurais.

Para tulik (ibidem 42) [...] Na rea rural, a complexidade das modalidades e as

dificuldades para categorizar os tipos de turismo tm relao com a j mencionada

diversidade de critrios para estabelecer o que ou no rural.

Muitas vezes, os autores utilizam no ttulo dos trabalhos, o termo Turismo em reas

Rurais e no contedo nomeiam como Turismo no Meio Rural.Outros, tm como ttulo

turismo no meio rural quando esto tratando de turismo rural, propriamente dito.

49

Essa ambigidade conceitual leva denominaes de censo comum, dadas por seus

responsveis, muitas vezes totalmente desconectadas da realidade da atividade.

3.2.3 Turismo Rural

Afinal, a modalidade Turismo Rural foi a que consolidou o turismo no espao,

meio ou rea rural. Como definir convictamente o que turismo rural? o grande dilema

da academia.

Neste estudo, no objeto nico de interesse, a definio, ou o conceito de turismo

rural. Esta denominao, ou modalidade parte do referencial terico, que trata de uma

modalidade de turismo, desenvolvida no espao, meio ou rea rural.

Neste sentido, no se baseou em uma nica definio. Buscou-se, identificar a

abrangncia dessa modalidade, para o desenvolvimento e a caracterizao do estudo. Entre

vrias interpretaes existentes, o conceito adotado pela EMBRATUR diz que:

[...]Turismo Rural o conjunto de atividades tursticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produo agropecuria, agregando valor a produtos e servios, resgatando e promovendo o patrimnio cultural e natural da comunidade (www.embratur.org.br)

Com base na definio do Programa leader (ligao entre as Aes de

Desenvolvimento da Economia Rural, apud Tulik (2003:40) entende que [...] Turismo Rural

uma expresso genrica que, na maioria dos pases que acompanham as diretrizes europias,

aplicada a qualquer forma de turismo no espao rural. Para a autora, [...] no sentido amplo,

percebe-se que TR consiste no conjunto de atividades desenvolvidas no espao rural.

Questiona-se, porm, se tudo o que existe nessa rea , de fato, rural.

50

Nota-se, portanto, a existncia de interpretaes com a profuso de termos

diferenciados, mas com a mesma idia para melhor definir o que Turismo Rural.

Relatar outros autores, nesse momento tornaria repetitivo, o que no acrescentaria, em

qualquer contribuio para os objetivos do estudo.

3.2.4