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PROGRAMA TURISMO RURAL
“AGREGANDO VALOR À PROPRIEDADE”
TURISMO RURALIdentidade e Cultura
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURALAdministração Regional do Estado de São Paulo SENAR
SÃO PAULO
DO
ESTADO DE SÃO PAULO
FEDE
RA
ÇÃO DAAGRICULTURA
FAESP
FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO ESTADO DE SÃO PAULOGestão 2008-2011
FábIO DE SALLES MEIRELLESPresidente
AMAURI ELIAS XAVIERVice-Presidente
EDUARDO DE MESQUITAVice-Presidente
JOSÉ CANDÊOVice-Presidente
MAURÍCIO LIMA VERDE GUIMARÃESVice-Presidente
LENY PEREIRA SANT’ANNADiretor 1º Secretário
JOSÉ EDUARDO COSCRATO LELISDiretor 2º Secretário
ARGEMIRO LEITE FILHODiretor 3º Secretário
LUIZ SUTTIDiretor 1º Tesoureiro
IRINEU DE ANDRADE MONTEIRODiretor 2º Tesoureiro
ANGELO MUNHOZ bENKODiretor 3º Tesoureiro
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURALAdministrAção regionAl do estAdo de são PAulo
Conselho AdministrAtivo
FábIO DE SALLES MEIRELLESPresidente
DANIEL KLÜPPEL CARRARARepresentante da Administração Central
bRAZ AGOSTINHO ALbERTINIPresidente da FETAESP
EDUARDO DE MESQUITARepresentante do Segmento das Classes Produtoras
AMAURI ELIAS XAVIERRepresentante do Segmento das Classes Produtoras
MáRIO ANTONIO DE MORAES bIRALSuperintendente
SÉRGIO PERRONE RIbEIROCoordenador Geral Administrativo e Técnico
São Paulo, 2006
PROGRAMA TURISMO RURAL
“AGREGANDO VALOR À PROPRIEDADE”
TURISMO RURALIdentidade e Cultura
Serviço Nacional de Aprendizagem RuralAdministração Regional do Estado de São Paulo SENAR
SÃO PAULO
DO
ESTADO DE SÃO PAULO
FEDE
RA
ÇÃO DAAGRICULTURA
FAESP
© SENAR-AR/SP – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Administração Regional do Estado de São Paulo
Rua Barão de Itapetininga, 224 - CEP 01042-907 - São Paulo, SP www.faespsenar.com.br
PROJETO DA OBRA
SENAR-AR/SP – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Administração Regional do Estado de São Paulo
Idealização: Fábio de Salles Meirelles - Presidente do Sistema FAESP - SENAR-AR/SP
Supervisão Geral do Programa Turismo Rural: Jair Kaczinski - Chefe da Divisão Técnica do SENAR-AR/SP
Responsável Técnico: Teodoro Miranda Neto - Chefe Adjunto da Divisão Técnica do SENAR-AR/SP
Elaboração do Texto: Fanny Paulina Kuhnle, Janaina Britto, Luiz Carlos Mapelli da Silva, Maria Helena Caldas e Senia Regina Bastos
PRODUÇÃO EDITORIAL
FUNPEC – Fundação de Pesquisas Científicas de Ribeirão Preto
Coordenação Editorial: Mirian Rejowski
Revisão Técnica: Américo Pellegrino Filho e Cintia Tomie Suguino
Pesquisa Iconográfica: Luiz Carlos Mapelli da Silva, Maria Helena Caldas e Mário Jorge Pires
Revisão de Texto: Edison Mendes de Rosa
Projeto Gráfico: Janaina Britto
Editoração Eletrônica: Reynaldo Trevisan e Tathyana Borges
FICHA CATALOGRÁFICA
É proibida a reprodução total ou parcial desta Cartilha, por qualquer processo, sem a expressa e prévia autorização do SENAR-AR/SP.
T938
Turismo rural: identidade e cultura / Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Administração Regional de São Paulo. -- São Paulo : SENAR-AR/SP, 2006.
(Programa Turismo rural “Agregando valor à propriedade”, 2)
ISBN 85-99965-02-6
1. Turismo rural – Manual 2. Turismo cultural (Zona rural) – São Paulo 3. Patrimônio turístico cultural – São Paulo 4. Administração turística regional I. Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Administração Regional de São Paulo II. Série
CDD 338.4791 910.98161
Ficha catalográfica elaborada por: Maria Elizabete de Carvalho Ota – CRB - 8/5050
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO, 5
CAPÍTULO 1 – IDENTIDADE E CULTURA, 7
Formação do Povo Brasileiro e Paulista, 8
Cultura e Patrimônio, 18
Patrimônio Cultural Material, 24
Patrimônio Cultural Imaterial, 27
Turismo Cultural, 32
Revisão, 34
CAPÍTULO 2 – RESGATE CULTURAL DO MUNICÍPIO -
ELABORAÇÃO DO ALMANAQUE, 35
Aspectos Gerais, 36
Tópicos do Conteúdo, 36
Instruções Básicas, 39
Revisão, 40
CAPÍTULO 3 – RESGATE CULTURAL DO MUNICÍPIO -
PLANEJAMENTO DO FESTIVAL, 41
Aspectos Gerais, 42
Plano de Ações, 44
Revisão, 50
BIBLIOGRAFIA, 51
ANEXO, 54
Festas Tradicionais, Folguedos e Danças Paulistas
APRESENTAÇÃO
Seja bem-vindo ao Programa de Turismo Rural “Agregando Valor à Propriedade” do SENAR-AR/SP.
Esse Programa visa a ampliar o olhar sobre a propriedade rural, fornecendo ferramentas para identificar e
implantar negócios de Turismo, de acordo com os recursos encontrados no meio, aliados às habilidades
e vocações do produtor rural e de sua família. Idealizado a partir de experiências no campo, direciona-se
ao objetivo final de fixar o homem à terra e de consolidar a agricultura no Brasil, país continental.
Esta Cartilha foi elaborada para lhe fornecer subsídios no que se refere à Identidade e Cultura para o
Turismo Rural. Nela, você conhecerá os diferentes aspectos do Turismo Cultural, em especial no âmbito da
compreensão, difusão e resgaste da Identidade Cultural Paulista. Com essa perspectiva, os elementos que a
compõem poderão contribuir para o incremento da atividade turística no meio rural, de forma sustentável.
Acreditamos que esta Cartilha, além de ser um recurso de fundamental importância para os profis-
sionais de Turismo Rural, constitui, certamente, um valioso instrumento para o sucesso da aprendizagem
proposta pelo SENAR-AR/SP.
Fábio de Salles Meirelles
Presidente do Sistema FAESP-SENAR-AR/SP
1º Vice-Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA
IDENTIDADE E CULTURA
Neste Capítulo, você vai:
compreender como a cultura e o patrimônio do Brasil e do Estado de São Paulo compõem a nossa identidade cultural;
analisar as possibilidades de aproveitamento do patrimônio cultural material e imaterial no Turismo Rural;
•
•
� FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO E PAULISTA
Considerações Iniciais
As pessoas têm visto o turismo como uma forma de conhecer lugares e
culturas diferentes. Os aspectos históricos de uma cidade, de um povo, car-
regam elementos que caracterizam sua identidade cultural. Por isso, são dife-
renciais que fazem parte do produto turístico, agregando a ele valores que são
percebidos na divulgação de sua imagem.
Imagem é a representação mental, a idéia que se faz de algo, com a
qualidade que lhe atribuímos: bom, ruim, bonito, feio etc. Também pode
ser a sua expressão visual por meio de escrita, desenho, vídeo, artes
plásticas, artesanato etc.; a mídia tem importante papel na construção
da imagem turística.
Identidade é um conjunto de características próprias e exclusivas que
“reconhecem uma cultura”; o genuíno, o verdadeiro, o típico são caracte-
rísticas importantes na identidade de um local ou produto turístico.
Podemos simplesmente dizer que:
A identidade é o genuíno, o que o local ou o produto realmente é;
A imagem é a representação, a maneira como se vende esse local ou
produto.
O produto turístico tem a sua identidade, mas o turista compra a imagem
desse produto. Assim, o ideal é que a imagem do produto turístico seja igual a
sua identidade (ou o mais próximo possível dela).
Muitos países agregam a identidade cultural a produtos e serviços. O Bra-
sil possui uma rica identidade cultural própria, mas pouco a utiliza na atividade
turística, na composição dos seus produtos. O desenvolvimento do Turismo
Rural contribui para despertar a consciência de lugar, gerar sentimento de
orgulho, pois os turistas – as “pessoas da cidade grande” – querem provar um
pouco do “jeito do interior”. Nesse sentido, podemos valorizar a cultura a partir
da identidade local, partindo para o que chamamos de resgate cultural.
•
•
Qual é a diferença entre Imagem e Identidade?
Que fazer para que a Identidade seja igual à Imagem do local ou do
produto turístico?
Atenção
Veja, no suple-mento “Legislação e Turismo Rural”, situações ampara-das pelo Código de
Defesa do Con-sumidor (Direito
Civil).
�FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
Atenção
Muitas vezes, as manifestações da cultura tradicio-nal, relegadas ao esquecimento, passam a ser
reavivadas pela atividade turística.
Resgate Cultural é o processo de pesquisar as raízes históricas, os hábi-
tos, o imaginário – elementos que já fizeram parte dos ”jeitos” de viver
de outras gerações e estão prestes a desaparecer, mas que são parte da
história local.
Isso contribui para elevar a auto-estima da população, pois esta percebe
que também faz parte da História.
As comunidades podem recuperar os elementos que compõem sua iden-
tidade e revelar para a sociedade globalizada suas peculiaridades culturais. É
justamente o fato de ter suas próprias características que as tornam únicas,
diferente das demais comunidades.
Por outro lado, a formatação de roteiros turísticos que incorporem os bens
culturais característicos de uma localidade constitui uma medida importante
para facilitar a divulgação da História da Cultura para:
a própria comunidade, que muitas vezes desconhece as suas raízes;
a consolidação da atividade turística na localidade ou região.
•
•
Atenção
Dessa forma, começa a se deli-near uma cultura
própria no Brasil, a qual continua em
constante formação.
Formação do Povo Brasileiro
É consenso dizer que o brasileiro é o resultado da mistura de três raças: o
indígena americano, o branco europeu e o negro africano. Assim como o Brasil
sofreu a influência de vários povos em sua formação, também Portugal sofreu
a influência de vários outros povos, como, por exemplo, celtas, romanos, visi-
godos e mouros, deixando em sua formação grandes marcas.
Quando o povo português aqui chegou, já veio modificado em sua essên-
cia, trazendo consigo as adaptações culturais do continente europeu. Chegan-
do à Terra de Santa Cruz, aqui encontrou povos que foram chamados de índios
ou indígenas. Esses povos tinham entre si diferenças na língua, nos usos e
costumes e, obviamente, eram muito diferentes dos europeus.
Com o contato entre índio e europeu, deu-se a mistura de costumes. O
índio adaptou alguns costumes europeus a sua cultura, e o português, da mes-
ma forma, assimilou conhecimentos e costumes do índio, o que favoreceu sua
adaptação e sua sobrevivência nas regiões tropicais. Além de trocas de ele-
mentos culturais, portugueses e indígenas se misturaram, e desse cruzamento
racial surgiu o mameluco.
Como ocorreu a formação do povo
brasileiro?
10 FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
No desenrolar da História, outro povo surgiu para suprir a necessidade de
mão-de-obra da nascente indústria açucareira. Os africanos, escravizados,
foram trazidos para atender a essa demanda.
Da África, dois povos distintos aqui chegaram: os bantos e os sudaneses.
Trazendo suas próprias culturas, esses povos adaptaram-se às culturas do
português e do índio, ambas já modificadas conforme a realidade local.
Atenção
Até meados do século XVIII, a
“língua geral” de base tupi-guara-ni predominava
entre a população de São Paulo.
Início do Povoamento de São Paulo
A formação do povo paulista está diretamente ligada à formação do povo
brasileiro, assim como nos outros estados e regiões do País.
A colonização de São Paulo teve início em 1532, quando o donatário Mar-
tim Afonso de Souza fundou a povoação que iria transformar-se na Vila de São
Vicente. A produção de açúcar foi a primeira atividade desenvolvida utilizando
mão-de-obra escrava indígena. Porém, diante da falta de terras para a amplia-
ção da atividade açucareira, no estreito litoral paulista, a produção de açúcar
não prosperou.
Dando continuidade à ocupação do território e a sua defesa, um grupo de
jesuítas, do qual faziam parte José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, trans-
pôs a Serra do Mar, a fim de evangelizar os índios. Chegaram ao Planalto de
Piratininga, onde já estava estabelecido João Ramalho. Nesse lugar, fundaram
um colégio, em 25 de janeiro de 1554, ao redor do qual se iniciou a construção
das primeiras casas de taipa, que dariam origem ao povoado de São Paulo de
Piratininga.
O português, já mesclado com o índio – o mameluco –, tornou-se um
excelente mateiro e sertanista, uma vez que buscava no sertão formas de
enriquecimento. Durante os três primeiros séculos de colonização, o número
de índios e mamelucos superou em muito o de europeus.
No início da formação de São Paulo, encontramos um povo pobre e des-
provido de recursos. A língua falada era uma variação do tupi, os costumes
eram adaptados aos do índio, as pessoas viviam em casas de sapé pau-
pérrimas e se alimentavam basicamente daquilo que os índios comiam, ou
seja, milho, mandioca e abóbora. A diferença estava em poucos elemen-
tos, como sal, toucinho de porco, rapadura, aguardente de cana, alguns
instrumentos de metal e na reduzida e simples vestimenta, tecida com fios
de algodão pela própria família.
Como a História de São Paulo explica a formação do Povo
Paulista?
11FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
Expedições Rumo ao Sertão
A posição geográfica estratégica da vila servia para a defesa, mas tam-
bém para a exploração do sertão visando o aprisionamento de indígenas para
o trabalho na lavoura – que aos poucos se diversificava – e a busca por metais
preciosos.
Essas expedições em direção ao interior acabaram recebendo o nome
de “bandeiras”, em grande parte por iniciativa particular. As “bandeiras” ou
“entradas” eram formadas por brancos, mamelucos e índios, que se locomo-
viam pelos Peabirus – caminhos ou trilhas abertas pelos indígenas.
Essa atividade proporcionou ao branco o aprendizado da língua indí-
gena, de como se locomover na mata, a incorporação de armas e táticas
indígenas e a adaptação aos alimentos do território – mandioca, carne de
caça, peixe de água doce, frutos, raízes e larvas –, bem como aos remé-
dios vegetais.
Em pequena quantidade, o ouro foi encontrado pelos bandeirantes ainda
no século XVI, em Paranaguá, Curitiba, Santana do Parnaíba e Pico do Jaraguá
paulistano. Somente na década de 1690 ele foi descoberto na região de Ouro
Preto e Mariana, São João Del Rey e Tiradentes, Caeté e Serro Frio, no atual
estado de Minas Gerais. Seguiram-se as descobertas em Mato Grosso (1719)
e em Goiás (1725).
Bandeiras e Entradas desbravaram o espaço dos atuais estados de Minas
Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e as regiões onde se localiza-
vam as missões jesuíticas estabelecidas em território espanhol no Paraná, Sul
do Mato Grosso e Rio Grande do Sul.
Casa rural paulista da época dos bandeirantes – Casa do Padre Inácio, Cotia (SP)
Atenção
Foi tão grande a adaptação do eu-ropeu às formas de alimentação dos indígenas,
que estas cons-tituem até hoje a base de nossa
culinária.
Entradas: expedi-ções organizadas por determinação
do governo português.
Bandeiras: expe-dições organiza-das por iniciativa
particular.
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12 FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
Uma outra forma de expedições no sertão, as monções, foram importan-
tes na mineração. Saíam de Porto Feliz e, com trajeto que durava de 4 a 6 me-
ses, destinavam-se ao trânsito de pessoas, armas, produtos manufaturados e
alimentos. Foram essas expedições fluviais que, além de apoiar a exploração
de minérios, formaram os primeiros assentamentos no sertão do Brasil.
A partir desse processo, no Planalto Paulista, roças de caráter de subsis-
tência ou para o abastecimento dos mercados consumidores das minas de
ouro produziam trigo, mandioca, feijão, milho e marmelo.
A interiorização da colônia seguia as rotas abertas pelos bandeirantes,
com atividades econômicas que garantiram a sua ocupação e povoamento:
mineração, pecuária, tropeirismo e agricultura.
Tropeirismo
Com o crescimento das vilas no sertão, iniciou-se o que hoje conhece-
mos como Tropeirismo. Com o uso de mulas, as tropas abasteciam as regiões
produtoras de minérios dos atuais estados de Minas Gerais, Mato Grosso e
Goiás. Os tropeiros buscavam gado bovino, eqüino e muar na região Sul, para
comercializá-los nas regiões das minas ou nas feiras de muar de São Paulo.
Tropeiro:dono da tropa, auxiliado por capatazes ou
condutores cama-radas, cozinheiros
e aprendizes. Intermediava ne-gócios, transmitia notícias e atuava
como conselheiro.
Rotas das Monções, com partida de Porto Feliz (SP)
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Monção: palavra de origem árabe, significa estação do ano em que se dá determiando fato. No Brasil, o termo designa as expedições reali-zadas em deter-minados meses
do ano, quanto os ventos ou a época eram mais propí-cios à navegação nos rios rumo ao
sertão.
São Paulo
Cuiabá
Goiás
Minas
Gerais
Paraná
Rio Tietê
13FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
Visando a atender as necessidades das tropas, instalavam-se, nas proxi-
midades de seus tradicionais caminhos, ferradores, coureiros, domadores de
animais e demais profissionais. Também surgiram roças e pequenas vendas
ou empórios para o seu abastecimento, dando origem a novos povoados.
“Limite da Província de São Paulo com Curitiba”
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1827
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Bapt
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1823
“Tropeiros Pobres em São Paulo”
A alimentação dos tropeiros era simples e incluía, basicamente, carne
seca, feijão, fubá, farinha de milho e mandioca. Esses alimentos consti-
tuem ainda hoje a origem de muitos práticos típicos da culinária paulista.
Entre as localidades que surgiram a partir do tropeirismo, estão:
Sorocaba, Itapetininga, Itapeva, Itararé e Buri, em São Paulo;
Sengés, Castro, Carambeí e Lapa, no Paraná;
Lages, Passa Dois e Chapecó, em Santa Catarina;
Viamão, Cruz Alta, Santa Vitória e Vacaria, no Rio Grande do Sul.
O movimento tropeiro deixou grandes marcas na cultura paulista, que
ainda hoje podem ser observadas em diversas regiões do Estado de São Paulo.
Festas de tropeiros são realizadas nos municípios de Piedade, São José dos
Campos e Silveiras.
•
•
•
•Engenho: embora seja usado para designar toda a fazenda produ-
tora de açúcar, o termo correspon-
de também ao aparelho de moer cana-de-açúcar
para a fabricação de açúcar, aguar-dente e rapadura.Temos engenhos de água, de boi,
de cavalo, a vapor etc.
Riquezas da Produção Agrícola
No final do século XVIII, as lavouras de cana-de-açúcar e a produção de
açúcar, rapadura, melado e aguardente se multiplicaram pelo território pau-
lista, alterando a paisagem rural com suas instalações: plantações, capelas,
casas-sede, casas de engenho e de purgar (purificar), fornalhas e depósitos
da produção, entre outras.
14 FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
A produção de açúcar desse período concentrou-se inicialmente na re-
gião de Sorocaba, Piracicaba, Mogi Guaçu e Jundiaí, denominada “Quadri-
látero do Açúcar”.
As riquezas provenientes do açúcar, do comércio de tropas e da produção
agrícola também foram importantes para o enriquecimento de São Paulo,
embora seja mais comum a valorização econômica do ciclo cafeeiro.
Com a decadência da produção de açúcar e o enfraquecimento da mine-
ração, iniciou-se o ciclo do café, no começo do século XIX.
Produzido inicialmente no Vale do Paraíba, com mão-de-obra escrava
africana, a produção cafeeira impulsionou o surgimento de dezenas de cida-
des em diversas regiões do atual Estado de São Paulo.
Algumas fazendas substituíram a produção da cana-de-açúcar pelo café.
Areias, Bananal e Taubaté são exemplos desse período de reorientação da
produção paulista, transportada pelas tropas para os principais centros de co-
mercialização do café.
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Atenção
A riqueza cafeeira se expressou nas
construções rurais e em belas e impo-nentes fazendas
com acabamentos luxuosos e mobiliá-
rios importados.
Aquecimento e evaporação do caldo de cana
Fazenda Boa Vista, Bananal (SP), cuja construção teve início em 1775 e durou 50 anos
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Produção do açúcar no “Quadrilátero do Açúcar”
15FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
O crescimento dos cafezais chegou a tal nível de produção que exigiu
medidas eficientes para o transporte da mercadoria. Nesse sentido, surgiram
as ferrovias para dar escoamento ao café e permitir o avanço do “ouro verde”
em regiões cada vez mais longínquas do sertão.
A ferrovia exigiu a construção e manutenção dos trilhos, oficinas de
manutenção, armazéns e escritórios. Tais edificações alteraram a paisagem
das cidades do interior e promoveram o incremento do comércio e do setor
de serviços.
Destacaram-se como principais áreas produtoras de café em São Paulo,
no século XIX: o Vale do Paraíba (Taubaté e Guaratinguetá), o Oeste Paulista
(Campinas e Itu), a Alta Mogiana (Ribeirão Preto e Franca) e a região da Soro-
cabana (Sorocaba, Botucatu e Assis).
Imigrantes e Trabalho Livre
Com a proibição do tráfico negreiro, iniciou-se a reposição da mão-de-
obra escrava, com uma política de incentivo à imigração européia, com pas-
sagens subsidiadas. Assim, a produção passou a se fundamentar no trabalho
livre assalariado.
Muitos grupos étnicos europeus vieram trabalhar nas fazendas de café
como colonos. Destaca-se o grande número de italianos que se instalaram no
interior e na capital.
Atenção
Para a moradia dos imigrantes, foram
edificadas colônias nas fazendas de
café, com constru-ções unifamiliares.
No início, lo-calizam-se nas
proximidades da casa-sede da pro-priedade; depois,
ficaram mais afas-tadas e dispostas
em fileiras.
A riqueza do café materializou-se na arquitetura e nos hábitos culturais
dos habitantes de Lorena, Bananal, São José do Barreiro, Areias e Silveiras,
além de outras cidades paulistas. Os fazendeiros instalavam residências na
área urbana, onde realizavam negócios, participavam de importantes celebra-
ções do calendário católico e estabeleciam contatos políticos.
“Terreiro de Café” retrata aspectos do trabalho dos imigrantes nas fazendas de café de São Paulo
Atenção
1. O Brasil tornou-se, em 1840, o maior produtor
mundial de café. O período áureo da produção de
café foi até 1930.
2. A expansão do café transformou a economia de São Paulo e de nosso país para
sempre.
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16 FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
Casa de Colono na Fazenda do Chocolate, Itu (SP)
Houve um momento, após a Primeira Guerra Mundial, em que a redução
dos preços do produto no mercado internacional e o esgotamento do solo,
além de outros fatores, resultaram em crise econômica nas propriedades do
Centro-Sul do Estado. Tal situação levou muitos fazendeiros à falência, e, con-
seqüentemente, muitas cidades entraram em decadência.
A imigração conferiu particularidades à cultura paulista, resultado da di-
versidade de povos que se instalaram no Estado de São Paulo. Hábitos alimen-
tares e de consumo, religiosidade, tradições e costumes foram introduzidos
nas diferentes localidades, com destaque para a:
produção vinícola de influência italiana na região de Jundiaí;
presença japonesa no cultivo do chá no Vale do Ribeira;
influência holandesa na cultura de frutas e algodão no Vale do Para-
napanema.
•
•
•
Industrialização
No início do século XX, o domínio da vida urbana passou a se consolidar
no Estado; já se detecta o êxodo rural, com as pessoas do campo se deslo-
cando para as cidades, em busca de trabalho nas indústrias. Para suprir de
energia as indústrias, pequenas hidrelétricas foram instaladas por iniciativa
estatal ou particular.
Pequenos sítios produtores de alimentos surgiram nas terras desvalori-
zadas pela decadência do café, muitos de propriedade de imigrantes. Inves-
timentos da lavoura foram deslocados para a indústria; a partir da década de
1950, a indústria automobilística conferiu ao Estado de São Paulo a condição
de maior parque industrial do País.
Com a abertura de estradas de rodagem, o transporte rodoviário se for-
Qual o resultado do encontro de povos tão
diferentes?
Atenção
As estradas de rodagem redire-cionaram o de-
senvolvimento de muitas cidades do interior paulista.
Foto
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5
17FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
Síntese da Formação do Povo Paulista
Em cada região do Estado de São Paulo, destacam-se particularidades,
em razão da história de seu povoamento; por isso, caracterizam regionalmente
e/ou localmente a sua cultura.
O processo de ocupação do território paulista pode ser resumido em vá-
rios ciclos que marcaram a história de São Paulo: início da colonização, das
bandeiras e monções, do tropeirismo, do café e da indústria.
Convém observar que o ciclo das bandeiras e monções e o do tropei-
rismo influíram na vida política, econômica e cultural de vastas regiões do
Brasil. Basta lembrar que a extensão máxima da Capitania de São Paulo
envolveu nove dos atuais estados brasileiros. A chamada Paulistânia foi,
aos poucos, sendo fragmentada, com o desmembramento desses territórios.
Isso ocorreu a partir de 1720, quando a Capitania de São Paulo e das Minas
de Ouro foi dividida para atender as necessidades administrativas das regi-
ões mineradoras.
taleceu, enquanto o ferroviário foi deixado em segundo plano. As riquezas
geradas no interior atravessavam o Estado, conduzidas em caminhões.
Mapa com a extensão máxima da Capitania de São Paulo e das Minas de Ouro, a chamada Paulistânia
Turismo Cultural:pode ser entendido como aquele pra-ticado por turistas
motivados por interesses na oferta histórica, artística,
científica e religiosa ou no estilo de vida
e nas tradições de um povo, uma
comunidade.
Dica
Aproveite o legado desses ciclos para o desenvolvi-
mento do Turismo Cultural.
São Paulo
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1� FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
“Caipira Picando fumo”
CULTURA E PATRIMôNIO
Cultura
Caipira: habitante do campo ou da roça; também chamado de
caboclo, capiau, jeca, matuto,
roceiro ou sertanejo.
Caiçara: habi-tante do litoral,
também chamado de caipira do
litoral.
Por fim, não podemos nos esquecer de citar outros dois tipos caracterís-
ticos de São Paulo, além dos bandeirantes, tropeiros e imigrantes. São habi-
tantes característicos da nossa terra, com traços culturais próprios: o caipira
e o caiçara.
Conceito de Cultura
Pint
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93
É comum associar a cultura a produtos que apenas “pessoas consideradas
superiores” (maior nível de instrução e poder aquisitivo elevado) teriam con-
dições de desfrutar. Nessa visão, essas obras seriam apreciadas apenas por
pessoas com mais conhecimentos etc., o que é um erro, pois qualquer pessoa
com maior ou menor nível de estudo ou poder aquisitivo tem o seu saber, a sua
cultura. O que podemos é falar nas áreas de abrangência da cultura:
Cultura de massa: relacionada à produção industrial de setores como
moda, esportes, lazer, música, cinema e literatura. É empregada quan-
do a maior parte da população toma conhecimento e participa do uso
em geral desses produtos culturais, disseminados pelos meios de co-
municação, como televisão, rádio e internet;
•
Cultura pode ser entendida como tudo o que caracteriza a humanida-
de, na sua relação com o meio em que vive. É a maneira de conceber e
organizar a vida social de um povo.
1�FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
Cultura erudita: descrita comumente como a cultura “oficial”, escrita,
produzida nas universidades e centros de pesquisa; é baseada no co-
nhecimento registrado e científico de origem universitária, padronizada
e mais rígida, fixada através dos tempos;
Cultura popular: é o saber e o fazer popular, transmitidos em geral de
forma oral, com ou sem mudanças significativas até nós; a aprendi-
zagem se dá por meio da repetição constante, tornando-se rotina em
determinada comunidade.
De fato, o caráter “circular” da Cultura pode ser comprovado sempre que
esta sai do interior das classes populares e é, num determinado momento, ab-
sorvida pela classe erudita ou dominante, e vice-versa. Um bom exemplo disso
é o que fez, na música, nosso famoso Villa-Lobos, que levou todo o universo
das cantigas e modinhas populares para a música clássica; e o mundo culto
aplaudiu entusiasmado.
Existem estudiosos para os quais Folclore é uma das áreas da Cultura.
Há outros, porém, que o definem como a própria cultura – aquela relativa à
das classes populares. Dizem que, por isso mesmo, o Folclore não existe, e é
melhor falar em Cultura, em Cultura Popular.
Independentemente dessa discussão conceitual, a palavra Folclore vem
do inglês “folk-lore”, e significa saber (“lore”) do povo (“folk”). Está presente
em todos os níveis sociais, com diferentes graus de intensidade, em nossa
vida cotidiana. Nesse sentido, sofre transformações e atualizações que acom-
panham a dinâmica da vida em sociedade.
O Folclore se faz presente, também, nas manifestações aprendidas
oralmente por meio da repetição, participação e observação na execução
de pequenas tarefas diárias. Nelas, a autoria é, na maioria dos casos,
•
•
Heitor Villa-Lobos no verso da cédula de Quinhentos Cruzados, Brasil, cuja moeda vigorou de 1986 a 1989
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Ouvimos falar muito de folclore. O folclore faz parte da cultura
popular?
Heitor Villa-Lo-bos (1��7-1�5�): maestro, multi-ins-trumentista, com-positor e educador brasileiro; moder-
nista, alimentou sua música erudita com
as manifetações regionais. Compôs mais de mil obras, como “Trenzinho Caipira”.O Museu Villa-Lobos fica no
Rio de Janeiro.
20 FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
desconhecida. Sua principal característica é ser do povo, ser coletivo, e
admitir mudanças.
Há os que atribuem ao Folclore ou à Cultura Popular um valor menor, re-
lacionando-os com a ignorância ou, ainda, com “costumes típicos”. Esse
pensamento é incorreto, pois não há nada mais pobre do que padronizar e
reduzir o comportamento e as crenças a simples definições que não levam
em conta a diversidade, a pluralidade.
O folclore abrange várias áreas do conhecimento humano: linguagem,
usos e costumes, medicina, literatura, indumentária, culinária, religiosidade,
trabalho, brincadeiras, dança, arte e artesanato.
O que é fundamental são os significados, os simbolismos da Cultura – seja
esta popular, folclore ou mesmo erudita, clássica. E importante é sua fun-
ção, na vida dos grupos humanos e nos diferentes tempos e lugares da
História, e não seus nomes, sua terminologia.
Para ilustrar, tomemos como exemplo o Carnaval, cuja origem está no En-
trudo, festa portuguesa anterior ao período da Quaresma. O Carnaval evoluiu e
modificou-se com o tempo, mas seu significado é tão universal, que continuou
fazendo sentido para uma parcela dos povos que o celebra. Pode ser visto
como uma cultura popular, no caso do Carnaval de rua ou do bloco em geral, e
como cultura de massa, no caso do Carnaval das escolas de samba do Rio de
Janeiro (RJ) e de São Paulo (SP).
Patrimônio Cultural
A História e a Cultura do Estado de São Paulo caracterizam-se por uma
diversidade de ciclos econômicos e de povos que deixaram marcas: indígenas,
portugueses, africanos, imigrantes da Europa ocidental e do Oriente e migran-
tes provenientes de diferentes regiões do País. Todos contribuíram com sua
cultura, impregnando o paulista com essa multiplicidade cultural.
Nossa identidade deve ser compreendida no quadro dessas contribuições
históricas, porque trazem elementos provenientes dessas etnias, que nos
identificam e particularizam.
Esses elementos e características podem ser percebidos nas construções
(edificações) e nos diferentes artefatos, como móveis e utensílios (de trabalho
e de casa) presentes nas antigas áreas produtoras de cana-de-açúcar e de
Atenção
O folclore aparece hoje nos ensinos infantil e funda-
mental, e já figura no calendário
oficial. O dia do folclore é 22 de
agosto.
Alerta
O hábito de asso-ciar o brasileiro ao carnaval e ao fute-bol é um estereó-tipo, que reduz as pessoas a serem
ágeis com a bola e a dançar. Podemos
ou não ter essas habilidades, mas
certamente somos muito mais do que
isso.
21FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
café, na influência tropeira, na culinária regional, na produção cerâmica e na
música sertaneja de raiz, entre outros. Estamos falando, portanto, do nosso
patrimônio, do patrimônio cultural paulista.
Carro de boi, instrumento de trabalho na Fazenda do Chocolate, Itu (SP)
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O Patrimônio é o legado que recebemos do passado, vivemos no presente
e transmitimos às futuras gerações. Nosso patrimônio cultural e natural
é fonte insubstituível de vida e inspiração, nossa pedra de toque, nosso
ponto de referência, nossa identidade. (Unesco, 2006)
Etnia: população ou grupo social que apresenta semelhanças
físicas e culturais, compartilhando
história e origens comuns.
Atenção
Para explorar os recursos turísticos do Estado, é ne-
cessário conhecer nosso legado.
Sua pluralidade e riqueza consti-
tuem o Patrimônio Cultural Paulista.
Legado Cultural: é a herança de
histórias, sentidos e significados de diferentes mo-
mentos presentes na memória do povo, nos docu-
mentos e em tudo o que o homem
construiu, e cujos elementos remanescentes
chegaram até os nosso dias.
Sede da Fazenda Pirahy, Itu (SP) - Construção do século XVIII
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O patrimônio histórico e cultural não pode ser isolado do ambiente natural
onde se insere. Devemos, portanto, considerá-lo em conjunto com o patrimô-
nio ambiental natural.
22 FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
Vista da Fazenda Pau D’ Alho, Bananal (SP), inserida na Paisagem Natural
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O Patrimônio Cultural é composto pelos bens materiais e imateriais:
Bens Materiais: são os bens construídos pelo homem. Estes podem
ainda ser bens imóveis (isto é, que não saem do lugar), tais como as
construções, os caminhos etc.; e bens móveis, como os artefatos, os
utensílios, as mobílias, os documentos etc.
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Alerta
O tombamento não desapropria, nem determina o uso do bem. O tombamento
garante a perma-nência do bem
com as suas atu-ais característi-
cas, conservando a memória ou os valores culturais
que lhe são associados.
Foto exposta no Museu Municipal Honório de S. Carneiro, Estância Turística de Santa Fé do Sul (SP)
Fogão de lenha com panelas - Fazenda do Chocolate , Itu (SP)
Gramofone exposto no Museu Municipal Honório de S. Carneiro, Estância Turística de Santa Fé do Sul (SP)
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23FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
Já aprendemos que o patrimônio material e o imaterial são portadores de
referências e memórias ricas. Por essa razão, são considerados “docu-
mentos vivos”. Assim, é preciso conhecer para preservar e preservar para
conhecer. Isso remete à vontade popular e política de cuidar, restaurar o
que é nosso.
Não se deve entender como patrimônio apenas os bens que receberam
proteção da legislação de caráter municipal, estadual ou federal, ou seja, os
bens tombados. Muitos bens, de importância histórica e cultural para os muni-
cípios, não se encontram tombados, mas devem ser conservados.
Um bem pode ser tombado de forma total ou parcial, em virtude de sua
natureza e características, cabendo aos órgãos de preservação definir a forma
de tombamento.
O órgão estadual de preservação do patrimônio cultural paulista é o Con-
selho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do
Estado de São Paulo – CONDEPHAAT, criado em 1967. Na instância federal,
destaca-se o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, cria-
do em 1937. Na esfera internacional, existe a UNESCO – Organização das Na-
ções Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura. Alguns municípios paulistas
também têm uma legislação específica para a preservação do seu patrimônio.
Apenas recentemente passamos a contar com uma legislação des-
tinada a registrar o “saber fazer”, também denominado conhecimento tra-
dicional, elevando-o à categoria de patrimônio cultural imaterial. Os bens
imateriais podem ser tombados. Todavia, a produção cultural dos seto-
res populares é pouco registrada, documentada ou valorizada socialmente.
Dança da Quadrilha
Bens Imateriais: tradições, saberes, costumes, crenças, histórias con-
tadas oralmente, imaginário, etc.; ou seja, a maneira de conceber e
organizar a vida social de um povo.
•
Tombamento: é o registro de
bens materiais ou imateriais em um “Livro de Tombo”. Como bens valio-sos, são sujeitos às leis de preser-vação do patri-
mônio, de acordo com as normas estabelecidas
pelos órgãos de preservação.
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Atenção
Preservar o Pa-trimônio depende da vontade popu-
lar e política.
24 FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
Capela do Engenho Moinho Velho, São Bento do Sapucaí (SP)
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PATRIMôNIO CULTURAL MATERIAL
Muitos municípios paulistas têm sua origem associada à presença de
unidades produtoras de gêneros agrícolas (cana-de-açúcar, café etc.) ou de
pecuária, ferrovia, aldeias de pescadores, quilombos, programas oficiais de
colonização etc.
Tais elementos são importantes fatores na composição da identidade
de nossas localidades e podem ser valorizados como bens culturais. Nes-
se sentido, edificações rurais, tais como sedes de fazendas, tulhas, paióis,
senzalas, capelas, casas de colonos, bebedouros, benfeitorias relacionadas
à produção agrícola e usinas de beneficiamento, constituem exemplares ca-
racterizadores da identidade rural de uma localidade, região ou até mesmo
um país. Some-se a eles o patrimônio ferroviário, sítios arqueológicos e ou-
tros bens materiais.
Senzala: construção desti-nada a abrigar os
escravos.
Aspecto da Tulha da Fazenda Floresta, Itu (SP)
Benfeitoria – Detalhe de roda d’Água na Fazenda do Chocolate, Itu (SP)
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25FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
Esses exemplares possuem diferentes técnicas construtivas: taipa de
pilão, taipa de mão ou pau-a-pique, adobe, alvenaria de tijolos, pedras
etc. Muitos sofreram processos de descaracterização, em virtude de reformas
que não respeitaram suas características originais, ou adaptações decorrentes
da alteração de uso. Devemos estimular programas de restauro que recupe-
rem suas características originais ou que evidenciem eventuais interferências
posteriores, baseadas em pesquisas.
Taipa de Pilão - Capela do Morumbi (SP)
Taipa de pilão: técnica construtiva do período colonial, composta de terra socada com pilão e
fibras vegetais.
Pau-a-pique: técni-ca usada na cons-
trução de casas das camadas populares, que se caracteriza
pelo entrecruzamen-to de paus roliços amarrados, preen-chidos com barro.
Adobe: tijolos de barro cozidos no
forno ou secados ao sol.
Adobe - Jalapão (TO)
Taipa de Mão ou Pau-a-pique - Indaiatuba (SP)
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Pedra - Serras Gaúchas (RS)
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26 FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
Cabe observar que os complexos produtivos (oficinas, usinas e casas de
máquinas, tulhas, engenhos e fornos, moinhos e monjolos, área de abrigo
para animais) e os objetos do cotidiano, bem como mobiliário (documentos,
cadernos de receita, cartas, fotografias etc.) também são importantes para a
compreensão do nosso passado.
Dica
Muitas coisas materiais do passado rural da sua
propriedade podem com-por o seu patrimônio his-tórico-cultural. Recupere, mas tenha senso crítico para identificar o que é
“documento vivo” de valor histórico-cultural.
Bancos de Madeira - Fazenda do Rosário (SP)
Panelas de Cobre - Fazenda do Chocolate, Itu (SP)
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Antiga moenda de cana-de-açucar - Fazenda do Chocolate, Itu (SP)
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27FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
PATRIMôNIO CULTURAL IMATERIAL
Os usos, as representações, as expressões, os conhecimentos e a
técnicas compartilhadas pelas comunidades são definidos como Patrimônio
Cultural Imaterial. Recriados constantemente, esses saberes são transmitidos
de geração em geração, principalmente de forma oral, e permitem que seus
integrantes compartilhem um sentimento de identidade.
Tendo em vista os objetivos deste módulo, podemos considerar que o
patrimônio cultural imaterial se expressa por meio de:
tradições e expressões orais;
saberes e usos relacionados à natureza;
técnicas artesanais tradicionais;
festas e rituais.
Considerando todas essas expressões como saberes, é importante ga-
rantir a sua continuidade, preservando objetos, artefatos e espaços culturais
relacionados às suas manifestações. Devemos incentivar o reconhecimento
de pessoas e grupos que detêm esse saber, estimulando a transmissão do
conhecimento e sua participação em eventos da localidade.
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•
Tradições e Expressões Orais
A língua constitui um instrumento de comunicação de importância deter-
minante na identidade de grupos e de indivíduos. Ela se encontra em perigo
de desaparecimento quando deixa de ser usada e transmitida às gerações
seguintes. Muitas expressões populares associadas às práticas agrícola e culi-
nária, benzeduras, ladainhas e cantigas infantis estão se perdendo sem deixar
registro.
Simpatias – folhas de arruda atrás da orelha contra mau-olhado; falar o
nome de sete homens carecas para passar o soluço.
Crendices – virar a vassoura para cima faz com que a visita vá embora;
apontar estrelas com o dedo dá verrugas.
Superstições – passar por baixo de escada dá azar; o número 13 para
algumas pessoas dá azar e para outras dá sorte.
Tabus – comer manga e tomar leite; não se urina e nem se cospe no
fogo; não se bebe água com chapéu na cabeça.
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Exemplos de simpatias,
crendices, superstições e tabus
Dica
O interior paulista é marca-do por tradições, saberes, expressões orais, artesa-nato, ou seja, um precioso patrimônio cultural ima-
terial. Devemos estimular seu registro e divulgação.
2� FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
Outras tradições e expressões orais ainda podem ser citadas, tais como:
Lendas, como a do Saci Pererê: um negrinho de uma perna só que fuma
cachimbo e usa uma carapuça (gorro) vermelha que lhe dá poderes má-
gicos, como o de aparecer e desaparecer. Para alguns, é considerado
um ser brincalhão que vive “pregando peças” nas pessoas e assustan-
do viajantes ou caçadores solitários nas matas;
Parlendas: versos infantis com rimas para divertir, acalmar, decorar
números etc. Por exemplo: “um, dois, feijão com arroz; três, quatro, co-
mida no prato; cinco, seis, bolo inglês; sete, oito, comer biscoito; nove,
dez, comer pastéis”;
Desafio de violeiros: um dos gêneros do repentismo, cantoria de ver-
sos improvisados ao som da viola, na forma de duelo entre dois violei-
ros, numa verdadeira briga poética.
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Desafio de Violeiros, Redenção da Serra (SP)
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Saberes e Usosrelacionados à Natureza
Trabalhos realizados de forma coletiva são, muitas vezes, executados ao
som de narrativas de histórias, músicas tradicionais, trocas de receitas culiná-
rias e de remédios caseiros etc. Esses saberes e outros relacionados à natu-
reza, tais como o extrativismo e as formas de cultivo tradicionais, constituem
um conhecimento que deve ser valorizado.
A medicina popular, como o próprio nome indica, é o tratamento preven-
Saci-Pererê
2�FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
tivo ou curativo exercido com base nos elementos naturais. Por vezes é acom-
panhado de práticas e rezas, realizadas por benzedeiras.
A culinária constitui importante traço da identidade de um povo. Esse
“saber fazer”, de caráter doméstico, constitui um importante patrimônio cul-
tural imaterial.
A culinária paulista é resultado das diferentes influências culturais pre-
sentes no Estado. Fortemente associada à influência indígena na adaptação
portuguesa aos produtos da terra, foi se diversificando à medida que o territó-
rio recebeu imigrantes de diferentes partes do mundo.
No interior do Estado, pode-se identificar a culinária caipira, fortemente
influenciada por produtos como mandioca, milho, feijão, toucinho e carne-
seca e pelos doces de frutas: abóbora, cidra, batata doce, mamão etc.
No litoral do Estado, encontramos a culinária caiçara, também com traços
da comida indígena, com destaque para os frutos do mar, como, por exemplo:
farofa de banana, azul-marinho, peixadas e ostras assadas.
Azul- marinho: prato típico do
litoral do Estado de São Paulo, à
base de peixe co-zido com bananas verdes, que dão o tom de azul ao
prato.
Na capital paulistana, existe uma representativa cozinha internacional, ao
lado de uma enorme variedade de pratos influenciados e adaptados pelas con-
tribuições de migrantes e imigrantes.
Canjica, comida muito popular no início do século XIX, presente até
hoje na culinária paulista
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Farofa com banana e outros pratos - Fazenda do Chocolate, Itu (SP)
Tucunaré assado (Resgate Gastronômico),Santa Fé do Sul (SP)
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30 FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
Geralmente, o “saber fazer” do povo que se materializa em objetos é de-
nominado artesanato. As técnicas artesanais paulistas são variadas, não ha-
vendo o predomínio de uma técnica específica que represente o Estado.
Os objetos são produzidos com matéria-prima fornecida pelo próprio meio
ambiente. Para sua confecção, misturam-se as técnicas trazidas pelo coloniza-
dor europeu com as desenvolvidas pelos indígenas e negros, enriquecidas com
a contribuição cultural das diferentes populações de migrantes e imigrantes.
Atualmente, observa-se uma nova valorização do artesanato como uma
“arte em si”, por seu caráter estético e criativo. Nas técnicas artesanais
figuram, ao lado do artesanato, a arte popular, os trabalhos manuais e a
indústria caseira.
Artesanato: O artesanato está relacionado com a transformação de
matéria-prima bruta, normalmente comum na sua região de origem, em
produto acabado que traz reflexos claros da cultura local. Tem caráter
utilitário e é de uso cotidiano: cerâmica, entalhe em madeira, tecelagem
para o vestuário e para a casa, trançados para cestaria e chapelaria,
adornos e cantaria (arte de trabalhar com pedras) para enfeitar o corpo
e a casa, rendas e bordados.
•
Arte Popular: Constituem exemplos de arte popular a tradição santeira,
a modelagem figurativa em barro e o entalhe figurativo em madeira,
entre outros. O artista popular é aquele que não recebeu instrução aca-
dêmica, confeccionando peças únicas (não seriadas) e expressando sua
realidade e imaginação.
Trabalhos Manuais: Normas da Sutaco definem trabalhos manuais
como os “artefatos que tenham, no mínimo, 60% de trabalho ma-
nual reproduzido a partir de fórmulas e receitas de domínio públi-
co, com materiais geralmente industrializados, sem traços culturais
peculiares e que, justamente por isso, são os mais fáceis de ser
encontrados, tais como: tricô, crochê, bordado, pintura em tecidos,
ponto cruz etc.”.
Indústria Caseira: A “indústria” que produz em pequena escala
e mais para uso doméstico. Os produtos são confeccionados por
processo artesanal, empregando mão-de-obra familiar. Transforma
•
•
•
Sutaco: Supe-rintendência do
Trabalho Artesanal nas Comunidades. É uma autarquia
vinculada à Secre-taria de Emprego
e Relações do Trabalho do Estado
de São Paulo. Visa à valorização profissional do ar-tesão, à criação de oportunidades de emprego e renda e ao resgate das
formas tradicionais de
expressão do povo brasileiro.
Técnicas Artesanais Tradicionais
Atenção
O artesanato é reconhecido por
seu caráter único, sua simbologia e história e por
se diferenciar da produção industrial.
31FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
diversos materias, produzindo sabões, queijos, requeijões, rapadu-
ras, balas, biscoitos, aguardentes, licores, farinhas e azeites, entre
outros, que são muitas vezes vendidos na própria residência dos
produtores.
Peças de artesanato - Distrito de Varpa, Tupã (SP)
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Doces caseiros (Ponto de Venda) - Bairro Anhumas, Arandu (SP)
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Jequitinhonha - Empório Santa Fé, Santa Fé do Sul (SP)
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Potes de Cerâmica, Santa Fé do Sul (SP)
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Cestaria e bolsa em bambu e taboa - Bairro Alto, Natividade da Serra (SP)
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Bordado Típico da Letônia - Distrito de Varpa, Tupã (SP)
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Panô representando uma Festa Junina - Fazenda do Chocolate, Itú (SP)
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Peças esculpidas em madeira, São Bento do Sapucaí (SP)
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32 FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
Como vimos no Módulo 1, a importância dada aos valores histórico-
culturais no Turismo é uma tendência crescente em todo o mundo. Além
de serem a “matéria-prima” do Turismo Cultural, contribuem para a recu-
A música tradicional, a dança e as representações cênicas encontram-
se associadas aos temas que marcam o nosso cotidiano, religiosidade e
trabalho rotineiro, sendo classificadas como artes do espetáculo. Junta-
mente com instrumentos musicais, máscaras, invocações, trajes e demais
objetos relacionados à sua execução, constituem elementos de identidade
de um grupo.
Vimos que o Estado de São Paulo é caracterizado pela diversidade
cultural, que se traduz em festas, cerimônias e rituais ligados a diferentes
aspectos da vida das comunidades. Destacam-se aqueles relacionados à
principal atividade econômica do município, a influências étnicas, à reli-
giosidade e ao folclore.
Festas, Cerimônias e/ou Rituais
Atenção
1. As festas de grande partici-pação popular
geram o interesse de empresários e políticos, que
chegam a incluí-las no calendário
de eventos da cidade.
2. Leia o Anexo festa cartilha
que descreve as principais festas
paulistas.
TURISMO CULTURAL
Turismo Cultural pode ser entendido como aquele praticado por turistas
motivados pela oferta histórica, artística, científica, religiosa, ou no estilo
de vida e nas tradições de um povo, uma comunidade.
Festa do Divino Espírito Santo – Altar do Divino, São Luiz do Paraitinga (SP)
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Apresentação do catira por grupo folclórico da cidade de Leme (SP) no Agrishow 2005
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33FAESP SENAR-AR/SP Identidade e Cultura
Atenção
Se a ativida-de turística for implementada de maneira não
planejada e sem a participação ativa da comunidade, podem ocorrer
problemas como a depredação do patrimônio cultu-ral ou até mesmo a total descarac-terização da cul-tura local, como já aconteceu em vários municípios
brasileiros.
peração ou valorização da própria identidade de um povo, uma comunida-
de, um indivíduo.
Neste Módulo, já percebemos que o resgate da História e da Cultura se
faz por meio da conservação do patrimônio material (construções, objetos,
documentos etc.) e imaterial (costumes, festas, culinária etc.). O principal mo-
tivo dessa “volta às origens” é a necessidade cada vez maior de entender o
passado como referência para o presente e o futuro.
O patrimônio cultural pode ser o atrativo turístico principal ou complemen-
tar, tanto no ambiente urbano quanto no ambiente rural. É visto geralmente
como cenários nostálgicos, que permitem a volta a um passado que não mais
existe. Mas não é apenas isso! Tanto o patrimônio material quanto o imaterial
“são também o presente”: são “documentos vivos” da nossa História, da nos-
sa Cultura, da nossa Identidade.
Apesar disso, no Brasil, o apelo cultural para o Turismo e para o Lazer
ainda representa muito pouco. Destacamos as nossas belezas naturais e o
nosso patrimônio natural de forma isolada. Além disso, a atividade turística
muitas vezes é vista como espontânea e amadora, em especial quando tra-
tamos do Turismo Cultural no espaço rural. Isso ocorre porque:
a comunidade, na maioria das vezes, desconhece o valor de seus bens,
além de não entender as possibilidades que o turismo oferece para o
município e para a sua propriedade;
o poder público municipal não dá a devida atenção ao Turismo Cultu-
ral, priorizando outros interesses políticos e não fomentando a partici-
pação da comunidade no desenvolvimento dessa atividade;
os empresários turísticos não vêem perspectivas a médio e longo
prazos no Turismo Cultural, com pouco interesse em investir nesse
segmento.
A comunidade tem de entender e valorizar as suas raízes, a sua His-
tória, a sua Cultura. O desafio é fazer com que a população “tome posse”
de seus bens culturais e participe da gestão do Turismo no município,
para que este seja praticado com sustentabilidade ambiental (física, eco-
nômica e sóciocultural).
Apresentar um patrimônio cultural não significa desenvolver o Turismo
Cultural, já que o desconhecimento ou a má utilização deste pode depreciar os
bens e provocar o desinteresse dos turistas. É necessário utilizar esses teste-
munhos de maneira criteriosa e planejada, de modo a gerar benefícios tanto
para a comunidade quanto para os turistas.
Para que isso aconteça, é preciso um trabalho de sensibilização no municí-
•
•
•
34 FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura
Trabalhar no processo de identificação, formatação e divulgação da
imagem do município junto à população, com o objetivo de motivar a
comunidade a conhecer o seu próprio lugar. A propriedade rural não
pode ser isolada do município, da sua imagem;
Levantar o acervo histórico e cultural expressivo do município, ao lado
das possibilidades de uso do patrimônio urbano e rural, tanto pela co-
munidade quanto pelos turistas;
Planejar com seriedade o Turismo Cultural, tanto no município quanto
na propriedade, e gerir seu patrimônio encarando-o como atrativo turís-
tico, por meio de ações coletivas.
No Capítulo seguinte, vamos planejar duas ações que podem contri-
buir para o resgate cultural da comunidade do município, o que certamente
contribuirá também para o desenvolvimento do Turismo neste e nas pro-
priedades rurais.
•
•
•
Atenção
Quando a popula-ção compreende
que é dona e guardiã de seus bens, o Turismo incorpora-se à vida local para
agregar valores, e não para tirar os
que existem.
• Formação do Povo Brasileiro e Paulista
• Cultura e Patrimônio
• Patrimônio Cultural Material
• Patrimônio Cultural Imaterial
• Turismo Cultural
• Festas Tradicionais, Folguedos e Danças Paulistas
REVISÃO
Neste Capítulo, compreendemos como a cultura e o patrimônio do Brasil
e do Estado de São Paulo compõem a nossa identidade cultural, quais as pos-
sibilidades de aproveitamento turístico do patrimônio cultural e, também, que
as manifestações da nossa cultura popular ou do nosso folclore fazem parte
da oferta turística.
Agora, temos condições de trabalhar o Resgate Cultural do Município, que
é o tema do Capítulo 2.
pio e nas propriedades rurais, a fim de resgatar o orgulho da população pela sua
Cultura. Uma estratégia é implementar ações que realcem a opinião pública, a
partir da mobilização de todos os envolvidos no processo, como, por exemplo:
RESGATE CULTURAL DO MUNICÍPIO - ELABORAÇÃO DO ALMANAQUE
Neste Capítulo, você vai:
levantar e organizar informações sobre o patrimônio cultural do seu município;
resgatar a cultura local por meio da elaboração de um Almanaque Cultural.
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ASPECTOS GERAIS
TÓPICOS DO CONTEÚDO
A palavra Almanaque remete a uma publicação que, além do calendá-
rio completo, contém matéria recreativa, humorística, científica, literária
e informativa.
O Almanaque aqui proposto tem como objetivo principal promover o
(re)conhecimento da história e da cultura local. Para tanto, vamos identificar
os traços marcantes na trajetória do município, para que possamos perceber
a identidade turística da localidade.
O nosso almanaque será composto dos seguintes tópicos:
Formação e Povoamento do Município;
Patrimônio Cultural Material – construções, Objetos, e documentos;
Patrimônio Cultural Imaterial – lendas, danças, músicas, contos e
crenças;
Patrimônio Cultural Imaterial – calendário das festas e eventos mu-
nicipais;
Patrimônio Cultural Imaterial – culinária, artesanato e brincadeiras.
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Neste momento, buscaremos uma quantidade significativa de informações
sobre a história do município, sejam as oficiais ou aquelas de conhecimento
popular. As pesquisas podem ser realizadas em livros, internet, documentos,
jornais, fotos e relatos de moradores antigos.
Nesse trabalho, é importante ressaltar:
os marcos históricos do município e suas respectivas épocas; tais fatos
podem ser de relevância local, regional ou nacional;
os povos que formaram o município, sua cultura e características prin-
cipais; tais povos podem ser originários de outros países ou de outros
Estados do Brasil;
as pessoas que marcaram ou marcam a cultura e a história da lo-
calidade.
Essas informações, com as devidas complementações, podem ser busca-
das no inventário do município.
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Documento: con-junto de informa-ção e seu suporte, ou seja, o material
sobre o qual as informações são
registradas: jornal, filme, fotos etc.
Atenção
Conhecer o pas-sado é fundamen-tal para entender
o presente.
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Patrimônio Material - Construções e Objetos
Nesta etapa, realizaremos um levantamento de todo o patrimônio material
existente no município, com fotos, datas e o apontamento do momento históri-
co correspondente de cada bem. Exemplo: casa-sede da Fazenda, construída
na primeira metade do século XIX, referente ao ciclo do café - nome da cidade
e estado (sigla do estado).
Também é o momento de conseguir cópias ou fotos de todos os docu-
mentos importantes do município: fotografias, anotações, passaportes, car-
tas, cadernos, cadernetas de contas em venda, cartazes, classificados de
jornais, revistas.
Enfim, todo material que possa estar em bibliotecas, na prefeitura ou com
personalidades ilustres, colecionadores e famílias tradicionais.
Patrimônio Imaterial - Lendas, Danças, Músicas, Contos e Crenças
Cada povo que formou o nosso País trouxe um pouco de seu conheci-
mento para contribuir com a nossa “colcha de retalhos cultural”. Em cada
colcha, a combinação dos retalhos é única. Assim, também, cada cultura tem
características particulares, e, por isso, cada localidade apresenta-se como
diferente, única.
Portanto, neste momento, vamos aprofundar as informações levantadas
no inventário do município, por meio da descrição de lendas, danças, músicas,
contos e crenças locais. Igualmente importantes são as fotos identificadas dos
contadores de causos, tocadores de viola e das festas, entre outros materiais.
Patrimônio Imaterial - Calendários das Festas e Eventos Municipais
Se o município já possuir um calendário de eventos, basta analisá-lo e
fazer sugestões para incrementá-lo.
Caso não exista um calendário de eventos organizado, o trabalho será a
organização desse calendário, considerando as datas cívicas, os feriados ofi-
ciais e as festividades populares, como festas, cerimônias e rituais.
Atenção
É essencial co-nhecer e conser-var o patrimônio construído, bem como os equipa-mentos e utensí-
lios de época.
Dica
Relembre os costumes e hábitos seus e de seus pais, avós etc. Converse com as pessoas de mais
idade sobre isso.
Patrimônio Imaterial - Culinária, Arte-sanato e Brincadeiras
A culinária é uma manifestação cultural presente em todos os povos;
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1º Passo – História da Cidade: Pelo histórico do município e pela
formação de seu povo, podemos fazer a conexão entre cultura e
culinária.
- Origem e formação da cidade
- Etnia dos ascendentes
- Fatos históricos marcantes
2º Passo – Receitas bem difundidas no município: São as receitas
que atualmente, após as alterações e várias influências, são mais co-
nhecidas e consumidas no município.
- O que as pessoas comem normalmente?
- O que se costuma comer em ocasiões festivas na própria casa?
- O que se come em festas religiosas, quermesses, eventos, feiras
etc.?
- Existe algum prato que seja diferente, não comum a outras
regiões?
- As pessoas conhecem receitas de família que não sejam mais ela-
boradas atualmente, mas que já foram muito apreciadas e deixa-
ram saudade?
3º Passo: Produção agropecuária – Por meio da produção predomi-
nante no município, podemos identificar a utilização desses produtos no
consumo diário dos moradores.
- Produtos agropecuários de maior expressão
- Base da economia local
- Produções favorecidas pelas condições climáticas
- Proximidade do município a importantes centros de produção agro-
pecuária
Assim como a culinária, o artesanato e as brincadeiras refletem como
os povos expressam seus sentimentos; portanto, devemos fazer um levanta-
mento dos artesãos e do que produzem, bem como de todas as brincadeiras
infantis do local, ilustrando com fotos e desenhos.
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Dica
Procure cadernos de receitas ou receitas de pessoas reconhecidas
no município pelos seus dotes culinários.
Culinária: arte de cozinhar; conjunto
de pratos ou de especialidades de um local, região ou
país.
portanto, merece uma atenção especial. Para isso, podemos seguir alguns
passos para o resgate da culinária local:
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INSTRUÇÕES BÁSICAS
Devemos considerar as seguintes partes para a montagem do
Almanaque:
Capa: nome do Almanaque, por exemplo “Almanaque Cultural de .........
.........................” (nome do município). Pode conter desenhos e ilustra-
ções com o nome em destaque.
Folha de rosto: nome do Almanaque, nome do Programa Turismo Ru-
ral “Agregando Valor a Propriedade” nome dos autores (aluno e instrutor
participantes do Módulo 2), nome e logotipo do Senar AR/SP, FAESP e do
Sindicato ou organização promotora do Programa, ano e local (nome do
município).
Apresentação: texto de poucos parágrafos apresentando o ma-
nual, como foi feito e agradecendo o apoio de organizações e
colaboradores.
Sumário (ou conteúdo): relação dos tópicos do conteúdo e números
das páginas em que se iniciam.
Folha de abertura dos tópicos: página com nome destacado de cada
tópico do conteúdo, como página de abertura de capítulo; pode conter
fundo trabalhado, desenhos etc.
Folhas do conteúdo dos tópicos: quantas forem necessárias para dis-
por o material de forma organizada, criativa e de fácil compreensão do
leitor; utilizar frente (páginas ímpares) e verso (páginas pares).
Bibliografia: incluir as fontes consultadas (livros, jornais, cd rom, sites
da Internet etc.),
Paginação: considerar a paginação a partir da folha de rosto (página1
- frente; página 2 - verso) até a última página, mas não colocar o nú-
mero na folha de rosto. Assim aparece o número da página a partir da
Apresentação (página 3). A capa não é numerada nem contada como
página.
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Dica
Pense em um almanaque com a “cara do seu muni-
cípio”. Seja criativo!
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Aspectos Gerais
Tópicos do Conteúdo
Instruções Básicas
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REVISÃO
Já resgatamos o patrimônio cultural do seu município, elaborando um
Almanaque Cultural deste. No próximo capítulo vamos valorizar a nossa iden-
tidade cultural, criando um Festival Cultural.
Encadernação: a capa e as folhas do conteúdo podem ser grampeadas,
costuradas, furadas e unidas com aspiral etc.
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RESGATE CULTURAL DO MUNICÍPIO - PLANEJAMENTO DO FESTIVAL
Neste Capítulo, você vai:
planejar um evento que resgate a cultura do seu município;
propor a valorização da identidade local, criando um Festival Cultural, o qual será realizado no Módulo 9.
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ASPECTOS GERAIS
A palavra Festival significa uma grande festa, onde são exibidas várias
obras que concorrem em uma competição. Vamos entender o nosso Festival
Cultural como uma mostra de manifestações culturais, com destaque para a
divulgação da culinária típica. Nele podem ocorrer degustações, concursos,
cursos, palestras, elaboração de receitas “in loco”, exposição de produtos ar-
tesanais, apresentação de danças e músicas típicas etc. Nosso objetivo princi-
pal é mobilizar a comunidade em relação a esses traços culturais, provocando
o seu resgate cultural, melhorando a sua auto-estima e valorizando a sua
cultura.
Vamos, então, elaborar o projeto do Festival Cultural do Município, a partir dos
seguintes tópicos:
Definir um Mascote para o município e para o Festival, pois isso auxilia
na divulgação e imagem do Festival.
Nome do Festival: o Festival pode simplesmente ser denominado Fes-
tival Cultural de .................. (nome do Município), ou ter um nome refe-
rente ao aspecto principal dessa culinária – em Bertioga (SP), temos a
Festa da Tainha.
Público-Alvo: O público-alvo dever ser definido tanto para o primei-
ro festival, que será experimental, como para os próximos. Um festival
normalmente é dirigido a famílias da comunidade e dos municípios do
entorno, podendo atingir outros municípios. Importa, então, pensar no
perfil desse visitante ou turista e de onde se originam. Isso é importante
tanto para a infra-estrutura do evento (por exemplo, espaços específicos
para crianças, bailes para adultos etc.), como para a sua divulgação. O
público-alvo é composto pelas pessoas que o evento pretende atingir
e sensibilizar. No nosso caso, o público convidado poderá ser compos-
to de familiares, amigos e expressões públicas e políticas do municí-
pio que possam “comprar” a idéia do Festival e incluí-lo no calendário da
cidade.
Data apropriada: a data de realização do Festival, provavelmente, es-
tará ligada à data de realização do módulo Turismo Rural: Resgate Gas-
tronômico. Mas também podemos sugerir uma data que tenha ligação
com a parte da cultura que se pretende resgatar.
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Mascote: pessoa, animal ou coisa a que se atribui o dom de trazer
sorte ou felicidade.
Atenção
O Festival é tam-bém uma ótima
oportunidade para divulgar as ativi-
dades desenvolvi-das no Programa Turismo Rural.
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Local: O local sugerido deve estar em sinergia com a proposta cultural
podendo ser um local de domínio público ou privado. Pode ser também
ao ar livre ou em espaço coberto. No caso de ser ao ar livre e em espaço
público, pense em soluções que não o invibializem em dias de chuva.
Atividades e atrativos: As atividades e os atrativos também devem
estar em sintonia com a proposta cultural – brincadeiras, jogos, rodas
de violas e apresentações de danças, entre outros.
Cardápio: Nesse item, devemos descrever como será o cardápio
do festival, bem como os utensílios que deverão ser utilizados para
servir os pratos.
Exposição e venda de produtos: Podemos sugerir a exposição e venda
de produtos caseiros e artesanais ligados à cultura local. Nesse caso,
faremos um levantamento dos nomes dos possíveis fornecedores ou
produtores.
Vestimentas: Nesse item, devem ser sugeridas vestimentas ou unifor-
mes para as pessoas que estarão trabalhando no Festival, bem como o
“layout “ dos crachás de identificação.
Organização: Nesse tópico, devemos descrever toda a organização do
Festival, subdividindo-o de acordo com as atividades, os atrativos, as
exposições etc. que vão ocorrer.
Padrão de embalagens, decoração e materiais utilizados: Nesse
item, devemos descrever como será o padrão da decoração e dos ma-
teriais a serem utilizados no local. É interessante tematizar o evento,
para, assim, construir a decoração, as vestimentas, os adornos, as em-
balagens etc. como componentes desse tema.
Formas de divulgação do evento: Devemos identificar as formas de
divulgação do Festival de acordo com sua oferta de produtos e serviços
e com o público-alvo que se pretende atingir. Assim, é preciso citar os
veículos de comunicação a serem usados na divulgação do Festival,
como, por exemplo:
- impressos (folhetos ou posters);
- chamadas ou páginas no site da Prefeitura;
- anúncios no rádio com “jingle”;
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Jingle: forma de publicidade “canta-da” nos principais canais de comu-
nicação (televisão, rádio).
Dica
1. Pense também na possi-bilidade de utilizar espaços alternativos ou construções
desativadas. Exemplos: ruínas, estação ferroviária,
engenhos, antigas pedreiras etc.
2. Use sua criatividade sem gastar muito!
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PLANO DE AÇÕES
Vamos agora elaborar o planejamento do Festival Cultural conforme as ca-
racterísticas de cada localidade. Para tanto, devemos organizar o plano de ações
para a realização desse evento, com o auxílio do “check-list” a seguir, que deverá
ser adaptado à realidade de cada município.
Dica
O Festival poderá ser inserido no Calendário Municipal de Eventos. Portanto, examine
também as datas apropriadas para a realização dele.
Aspecto do Festival Cultural realizado no Módulo Resgate
Gastronômico, São Bento do Sapucaí (SP)
Foto
de
Sola
nge
Mot
ta, 2
006
Para o nosso Festival, um evento piloto de pequeno porte que
será realizado no Módulo 9, devemos considerar que a melhor for-
ma de divulgação é a impressa: folhetos e convites.
Sistema de Avaliação: temos que prever alguma forma de avaliar o
evento e os resultados obtidos, visando ao seu aprimoramento na pró-
xima edição.
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Quando da realização do nosso evento piloto no Módulo 9, teremos
condições de avaliá-lo na prática.
Aspecto do Festival Cultural realizado no Módulo
Resgate Gastronômico, São Bento do Sapucaí (SP)
Foto
de
Sola
nge
Mot
ta, 2
006
- anúncios na TV etc.
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Definição dos recursos físicos - esses recursos são todos aqueles
que se referem à infra-estrutura física necessária para a realização do
Festival. Devemos fazer uma ficha de controle dos mesmos, conforme
o modelo a seguir, lembrando que tal modelo deverá ser adaptado ao
evento de cada município.
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RECURSOS FÍSICOS
TipoNecessidades e Características
Metragem Localização Quantidade Custo (R$)
Sala VIP
Sala de im-prensa
Cabine de som
Secretaria
Ambulatório
Estandes (feira)
Sala de segu-rança
Custo total (R$)
Definição dos recursos materiais - esses recursos são todos aqueles
que se referem à organização, promoção, divulgação, controle e avalia-
ção do Festival. Devemos fazer uma ficha de controle desses recursos,
conforme o modelo a seguir:
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Atenção
Em eventos de pequeno porte como
é o caso do nosso Festival, alguns itens dos recursos físicos e materiais podem não
existir.
Atenção
Veja no Suplemento “Lesgislação e Turis-mo Rural” os incenti-vos governamentais à
cultura.
Definição das estratégias financeiras - a definição dessas estratégias
é a indicação das ferramentas (ou“armas”) que serão usadas para al-
cançar os objetivos traçados. A captação de recursos financeiros é re-
alizada com o objetivo de equilibrar receita x despesa. Tal equilíbrio
deve ser alcançado, para que possamos garantir o sucesso do Festival.
O orçamento do Festival poderá incluir verbas advindas das taxas de
inscrições, das vendas de espaços físicos e espaços de propaganda dos
patrocinadores, da venda de eventos/produtos paralelos, da venda dos
direitos de transmissão por canais de TV e rádio, de doações, de orga-
nismos públicos, entre outros. No nosso Festival, as despesas deverão
ser menores e, portanto, negociadas entre os participantes e coordena-
dor do Sindicato.
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Material Gráfico e Equipe
QuantidadeValor Unitário
(R$)Valor
Total (R$)
Uniforme
Pastas
Crachás
Blocos
Ficha de avalia-ção do evento
Subtotal (R$)Programação
VisualQuantidade
Valor Unitário(R$)
Valor Total (R$)
Banner
Placas de sinalização
Faixas
Placas deorientação
Placas de segurança
Subtotal (R$)
Material para
Divulgação (Imprensa)
QuantidadeValor Unitário
(R$)Valor Total
(R$)Destino
Release do evento (jornal, revista, etc.)
Inserção em site prefeitura
Outros
Subtotal (R$)
Dica
Identifique as formas de divulgação do Festival de
acordo com a oferta de pro-dutos e serviços do evento
e com o público-alvo que se pretende atingir.
RECURSOS MATERIAISCRIAçãO / ARTE / MATERIAL GRÁFICO
Criação e Arte QuantidadeValor Unitário
(R$)Valor Total (R$)
Criação do folder e arte final
Fotolito do cartaz
Fotolito do folder
Flyers
Mapa de locali-zação
Convites
Brindes
Subtotal (R$)
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Alerta
1. Cuidado com o material de divulgação. Peça apoio a pessoas
especializadas e responsáveis!
2. Liste tudo o que é necessário para realizar o Festival. Não confie na
sua memória!
MATERIAIS E EQUIPAMENTOS DIVERSOS
Material de Expediente
QuantidadeValor Unitário
(R$)Valor Total
(R$)
Papel comum
Papel para impressora
Calculadora
Fita adesiva
Fita crepe
Caixa de grampos
Caixa de clips
Quadro branco
Grampeador
Perfurador
Régua
Lápis
Borracha
Caneta
Caneta hidrocor
Pincel atômico
Papel carbono
Papel ofício
Envelope pardo
Envelope branco
Envelope malote
Folha cartolina
Blocos
Cartucho para impressora cor
Cartucho para impressora PB
Alfinetes
Rolo de barbante
Tesoura
Frasco de cola
Cola em bastão
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Equipamentos (Locação)
Quanti-dade
Nº de Dias
Valor Unitário (R$)
Valor Total(R$)
Computador
Impressora
Projetor de slides
Telão
Máquina xerox
Telefone
Sonorização
Microfone
Amplificadores
Lona
Tablado
Mesa grande
Mesa pequena
Cadeiras
Travessas
Bandejas
Toalhas
Guardanapos
Arranjos de flores
Arranjos de mesa
Filmadora
Máquina fotográfica
Dica
Descreva como será o pa-drão da decoração e dos ma-teriais a serem utilizados no local. Você pode tematizar o evento, para assim construir a decoração, as vestimentas, os adornos, as embalagens etc. como componentes do
tema escolhido.
Fitas de vídeo
CDs
Filme fotográfico
Álbum de fotogra-fias
Material para estandes
Equipamentos de cozinha
Utensílios de cozinha
Outros
Subtotal (R$)
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Definição dos recursos humanos - esses recursos referem-se às pessoas
que vão trabalhar no evento diretamente e àquelas que vão apoiar o Festival,
trabalhando por exemplo na segurança, em emergências médicas, na manu-
tenção etc. Devemos fazer uma ficha de controle desses recursos, conforme
o modelo a seguir.
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Datashow R$ R$
Equipamento de iluminação
R$ R$
Decoração geral R$ R$
Outros R$ R$
Subtotal (R$)
RECURSOS HUMANOS
Secretaria QuantidadeValor Unitário
(R$)Valor Total
(R$)
Digitador
Grupo musical
Grupo de atrações
Guias
Subtotal (R$)
Manutenção e Apoio
QuantidadeValor Unitário
(R$)Valor Total
(R$)
Operador de som
Operador de luz
Eletricista
Encanador
Segurança
Médico
Garçom/Garço-nete
Subtotal (R$)
Valor total (R$)
Dica
Defina com segurança o nú-mero e a função de cada um que trabalhará no Festival. Considere o seu conheci-
mento, as suas característi-cas pessoais e a sua disponi-
bilidade.
A operacionalização do Festival acontecerá ao longo do Módulo 9 do Pro-
grama, assim como a revisão deste planejamento e o desenvolvimento da sua
logística. No entanto, podemos distribuir as ações por Módulos e grupos,
a fim de que estas sejam trabalhadas no decorrer dos mesmos para o su-
cesso do Festival.
50 51FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Resgate Cultural do Município50 51FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Resgate Cultural do Município
Você planejou o Festival Cultural do município e recebeu dicas para melhorar
o seu empreendimento quanto à identidade e cultura. No próximo módulo, você
conhecerá algumas estratégias de marketing, avaliará as ações realizadas até
agora e corrigirá os rumos do seu empreendimento rural.
Planejamento do Festival
Organização das Ações
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REVISÃO
Módulo 3 - ações que se referem aos cálculos de custos e administração
de recursos financeiros;
Módulo 4 - ações de identificação de peças e produtos a serem expostos/
vendidos durante o Festival;
Módulo 6 - elaboração e equacionamento das fichas técnicas dos pratos a
serem servidos no Festival, bem como a lista de compras dos ingredientes;
Módulo 8 - elaboração dos convites, planejamento do transporte, unifor-
mes, lembrancinhas, receptivo etc.
Agora vamos definir os Grupos de Trabalho e o prato típico do Festival.
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DEFINIÇÃO DOS GRUPOS DE TRABALHO PARA O FESTIVAL CULTURAL
Grupo Integrantes Responsabilidade
Grupo 1 Recursos físicos conforme especificado nesta Cartliha.
Grupo 2
Recursos financeiros e humanos, procedendo à divisão de
tarefas, papéis e treinamento além das atrações paralelas
(feirinhas, danças etc.).
Grupo 3
Resgate gastronômico em geral, cardápio e a elaboração
dos pratos, bem como organização da cozinha, higieniza-
ção etc.
DEFINIÇÃO DO PRATO TÍPICO E JUSTIFICATIVA
50 51FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Resgate Cultural do Município50 51FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Resgate Cultural do Município
BIBLIOGRAFIA
Nestas referências, você vai:
encontrar todas as fontes que foram consultadas para escrever esta cartilha;
selecionar as obras para você aprofundar seu conhecimento.
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52 53FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Resgate Cultural do Município52 53FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Bibliografia
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http://www.nigro.com.br/corpsab.htm
www.unesco.org.br
www.saopaulo.sp.gov.br (Portal do Governo do Estado de São Paulo)
54 55FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Bibliografia54 55FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Anexo
ANEXO - Festas Tradicionais, Folguedos e Danças Paulistas
Diante de suas variações, apresentamos neste Anexo o sentido essencial algumas Festas, Folguedos
e Danças que ocorrem no Estado de São Paulo.
•
54 55FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Bibliografia54 55FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Anexo
Festas Tradicionais, Folguedos e Danças Paulistas
Festa dos Santos Reis ou Reisado
A Festa dos Santos Reis, do Ciclo Natalino, festejada
no dia 6 de janeiro, refere-se não apenas à visita dos Reis
Magos Gaspar, Belchior e Baltazar à manjedoura onde Je-
sus nasceu, mas também à profecia sobre seu nascimen-
to, à Anunciação. A essa Festa estão relacionadas as Folias
de Reis, que são grupos de devotos, geralmente homens,
que representam “a visita ao Menino Jesus”; eles fazem o
“giro”, a visita às casas geralmente no período entre 24 de
dezembro e 6 de janeiro, quando a festa também se traduz
em delícias gastronômicas.
Seus integrantes são três homens mascarados (palha-
ços), um mestre, tocadores/cantores e seus instrumentos.
Portam uma bandeira com desenhos/pinturas alusivas ao
tema. Com cantoria e louvação, visitam amigos e devotos.
Festa do Divino
As Festas do Divino talvez sejam as manifestações mais
fortes da religiosidade popular no Brasil e no Estado de São
Paulo. A devoção ao Divino Espírito Santo é herança do colo-
nizador português, cuja tradição se expressa numa festa cheia
de pompa, desde os tempos do Brasil Colônia. Realizada no Do-
mingo de Pentecostes, que em grego significa cinqüenta dias, a
Festa do Divino acontece cinqüenta dias depois da Páscoa, em
comemoração à visita do Espírito Santo aos apóstolos de Jesus
Cristo. É uma festa destinada ao agradecimento, ao pagamento
de promessas, em que se comemora a fartura, reforçando a fé
por um mundo melhor para todos.
No Médio Tietê (Pirapora a Barra Bonita), acontecem os fa-
mosos encontros fluviais das Irmandades do Divino em grandes
batelões. No Litoral e Vale do Paraíba, multiplicam-se os cortejos
de muitos devotos, cada qual com sua bandeira votiva. Ainda na
região, são comuns os cortejos a cavalo (as famosas cavalarias),
a cavalhada, a farra de João Paulino e Maria Angu (bonecos gi-
gantes). Nelas, não podem faltar o levantamento do Mastro Vo-
tivo, o Império do Divino ricamente ornamentado e as comidas,
símbolo da maior graça do Divino - a fartura.
Corpus Christi
A ornamentação dos logradouros em momentos festi-
vos é traço importante de nossa cultura desde os tempos
coloniais, de forma especial por ocasião da procissão de
Corpus Christi. O aspecto artístico se expressa na beleza dos
tapetes, em sua extensão pelas ruas, na diversidade de ma-
teriais utilizados (sucatas em geral, pós de pedras, colchas e
bordados). Destaca-se, sobretudo, o envolvimento de vários
segmentos das comunidades.
Festas Juninas
Trazidas ao Brasil pelos colonizadores e presente na maioria
dos municípios paulistas, são marcadas pela dança da quadri-
lha, casamento, queima de fogos, fogueiras etc. Coincide com
a colheita do milho, embora também entre na culinária da Festa
derivados de mandioca, batata doce, amendoim e, como bebida,
o quentão, feito de cachaça, gengibre, cravo e canela.
56 57FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Anexo56 57FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Anexo
São Benedito
A devoção a São Benedito é muito forte e difundida por todo
o Estado, motivando muitas festas e incentivando a existência e
atuação de manifestações, como congos, moçambiques, jongo
e batuque. Suas festas se estendem por todo o ano e se concen-
tram no período entre a Páscoa e o 13 de maio, apesar de o dia
31 de março ser o dia de São Benedito.
Paixão de Cristo
As celebrações da Paixão de Cristo, chamadas Autos
da Paixão, têm sempre como expressão a procissão com
grupos comunitários, de irmandades ligadas à Igreja e de
teatro amador. Muitas dessas encenações ocupam vários
cenários naturais nas cidades, envolvendo grande núme-
ro pessoas.
Na sexta-feira santa, as celebrações relembram todos
os momentos de Cristo em seus últimos dias. No sábado,
ainda é brincadeira obrigatória, esperada pelas crianças do
interior, a Malhação do Judas.
Folguedos e Danças
Tendo recebido influências de diferentes regiões brasi-
leiras e povos de várias partes do mundo, São Paulo é um
Estado muito rico em folguedos. Apresenta uma ampla di-
versidade étnico-cultural e uma história que permitem inú-
meras atividades em que os folguedos acontecem. A seguir,
destacamos os mais freqüentes.
Quadrilha: Própria dos festejos juninos, nasceu como
dança aristocrática, oriunda dos salões franceses, de-
pois difundida por toda a Europa. No Brasil, foi introdu-
zida como dança de salão e depois alcançou o gosto
popular. Os instrumentos musicais são: acordeão ou
sanfona, pandeiro, violão e cavaquinho.
• Caiapó: Folguedo dançado por homens com figurino
indígena. Aparece durante o ano todo nos diversos ci-
clos, em especial no Carnaval, e em festas dos san-
tos padroeiros e de devoção popular. Apresenta dois
personagens principais: o Tuxuma-Pagé (cacique) e o
Curumim (menino). Este finge estar sendo perseguido
por inimigos brancos e tomba, morto. Os companheiros
o cercam e dançam, enquanto o Tuxuma age como um
•
pajé, defumando-o e dançando ao seu redor até res-
suscitá-lo. Em seguida, segue o cortejo, com paradas
para dramatizações em outro local.
• Catira: Marcado por palmeados e sapateados, o Ca-
tira é por tradição uma dança masculina. Ao som de
modas de viola, os dançarinos executam sapateios e
batem palmas como resposta aos ritmos elaborados
pelo violeiro. De caráter rural, o catira era realizado
em agradecimento ao santo de devoção pela boa
colheita. Sua origem é explicada de duas formas:
uma o relaciona com a dança carretera existente em
Portugal no século XVI, e outra o considera herança
indígena, uma vez que cateretê é palavra de origem
tupi-guarani.
Cavalhadas: Representam as Cruzadas, por meio de
encenações das lutas entre mouros e cristãos, mos-
trando simbolicamente a rivalidade entre estes. Apre-
sentam-se em dois campos: cada grupo faz investidas
contra o campo adversário. Os Cristãos vestem azul
(cor do manto de Nossa Senhora), e os Mouros, verme-
•
56 57FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Anexo56 57FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Anexo
lho (símbolo do mal). Na encenação, ocorrem as em-
baixadas com trocas de insultos e acusações, o pedido
de trégua dos mouros e a vitória dos cristãos.
Cururu: Já foi uma dança de homens, com cantos de
desafios trovados, ao som de violas, que narravam
fatos bíblicos sobre o santo que estava sendo home-
nageado. Hoje, é desafio cantado ao som de viola, em
palco ou em palanque, em dia de festa. São famosos
os cururueiros (os trovadores) da região do médio Tie-
tê. Não há Festa ou Pouso de Bandeira do Divino sem
o Cururu, que pode varar a noite num revezamento de
vários trovadores.
• Dança de Santa Cruz: A devoção a Santa Cruz (Cru-
zeiro) acontece de forma significativa na Grande São
Paulo, no Vale do Paraíba e em Comunidades da Serra
da Mantiqueira. São numerosas as capelinhas de beira
de estrada e os sítios em que acontecem as rezas e
festas. A devoção se expressa com a Dança de Santa
Cruz - na realidade, uma seqüência de danças com
que se saúda o Cruzeiro Principal e as Cruzes enfeita-
das de flores colocadas à frente das casas.
• Dança de São Gonçalo: Essa dança é, talvez, um dos
ritos mais difundidos do catolicismo rural brasileiro,
quase sempre associada ao pagamento de promessa,
expressando de forma especial a devoção a São Gon-
çalo do Amarante. Dançada ao som de duas violas, é
marcada pela alternância de reverências ao altar, pal-
meados e sapateados, com os dançadores organizados
em duas filas, durando toda uma noite.
• Fandango: Desde seus primeiros registros, fandango
é associado à Marujada do Nordeste. Em São Paulo,
identifica um grupo de danças, entremeando os fortes
sapateados e palmeados, e músicas que relatam as-
pectos da vida rural com improvisos e acompanhadas
�
•
de sanfona de oito baixos e violas.
• Jongo: Dança de origem africana trazida ao Brasil
pelos negros bantos, do mesmo tronco do Batuque.
Assim como este, é ancestral do samba e acontece
em alguns pontos do Vale do Paraíba. Em São Paulo, a
dança se desenvolve ao redor dos instrumentistas, no
sentido anti-horário. De forma muito criativa, homens
e mulheres vão ao centro da roda e executam passos
difíceis de serem imitados, marcando a disputa entre
os participantes.
• Moçambique: É formado por grupos religiosos que
homenageiam com suas músicas e suas danças seus
santos padroeiros, sobretudo São Benedito e Nossa Se-
nhora do Rosário. Aparece durante quase todo o ano
em alguns municípios do Vale do Paraíba e do Noroeste
de São Paulo. É executado por um conjunto denomi-
nado Companhia, destacando-se a presença de reis,
da bandeira e de diversos outros personagens, como
mestre, contra-mestre, caixeiro, capitão, general, to-
cadores e dançadores. Estes fazem manobras (evolu-
ções) e manejos de bastões, por vezes complicados.
Seu traço original são os paiás (carreiras de guizos) ou
gungas (pequenos chocalhos de lata), atados aos tor-
nozelos dos moçambiqueiros.
• Cortejos: Bonecos de rua (gigantes) e bichinhos de
saias são expressões populares e tradicionais e fazem
parte da vida cultural de vários municípios paulistas.
Aparecem durante todo o ano integrando os calen-
dários de festas cívicas e religiosas. Perderam-se no
tempo os referenciais de sua chegada a São Paulo,
mas conservaram-se alguns traços de sua origem
ibérica. Variam as denominações dos conjuntos: Juri-
tica (Litoral Sul), Pereirões (Região da Serra da Man-
tiqueira), Maria Angu (Vale do Paraíba e Litoral Norte),
Cordão de Bichos (Médio Tietê).
5� 5�FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Anexo5� 5�FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Anexo
Um traço que se destaca na cultura tradicional em São
Paulo são as romarias: a pé, de bicicleta, a cavalo, de char-
rete, de moto, de carro, em ônibus fretados ou de carreira.
Quando a pé, os romeiros se auto intitulam “caminheiros” e
seguem sós, em duplas ou em grupos.
A seguir, vamos conhecer algumas dessas manifesta-
ções presentes na realidade paulista:
• Centros de Peregrinação: São Paulo congrega o
maior número de centros de peregrinação do Brasil;
os principais são Aparecida (Santuário de Nossa Se-
nhora Aparecida), Pirapora (Santuário do Bom Jesus)
e Iguape (Santuário do Bom Jesus). As motivações de
fé e devoção se expressam tanto em datas especiais
quanto como parte da rotina das comunidades;
• Cavalarias: Cavalarias ou cavalgadas são reuniões
ou marchas com finalidade de lazer ou mesmo reli-
giosa, muito comuns em todo o Estado. Há também
romarias e cavalarias, como a de São Benedito. Ca-
valeiros e amazonas de todas as classes participam
desses eventos populares.
Romarias
Outras Manifestações Religiosas
Há inúmeras outras manifestações ligadas ao catolicismo
e a outras crenças, como as seguintes:
Procissões das Águas: ocorrem em devoção a santos,
estruturadas em grandes cortejos fluviais e marítimos de
embarcações variadas, como a Procissão de Nossa Se-
•
nhora dos Navegantes, que ocorre em vários municípios
paulistas. Comemora-se no dia 2 de fevereiro;
• Festa de Iemanjá: celebração em homenagem à Rai-
nha do Mar, no culto afrobrasileiro. Também ocorre nas
praias no dia 2 de fevereiro, com oferendas e rituais.
Eventos Relacionados ao Folclore
• Festival do Folclore: O Festival de Folclore, que já
acontece há alguns anos em Olímpia (SP), tem rece-
bido grupos de regiões brasileiras e de outros países,
enriquecendo ainda mais nossa cultura. É considerado
um dos maiores eventos do gênero, com apresenta-
ções de todo tipo de danças, folguedos etc., do Brasil
e do Exterior. Ocorre no mês de Agosto. Nesse mês, no
dia 22, é comemorado o Dia do Folclore.
• Revelando São Paulo: Encontro de Folclore e Cultura
Popular Paulista que ocorre em São Paulo, no Parque
da Água Branca anualmente, promovido pelo Governo
Estadual. Nele, grupos folclóricos se apresentam, e
há exposição e venda de produtos de arte popular. É
responsável por grande parte da valorização do Patri-
mônio, contribuindo para o resgate cultural do Estado
de São Paulo.
5� 5�FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Anexo5� 5�FAESP SENAR-AR/SP FAESP SENAR-AR/SPTurismo Rural: Identidade e Cultura Anexo
Ciclo e Calendário das Festas Paulistas
CICLO CALENDÁRIO DE FESTAS TRADICIONAIS
Natal/Reis Dezembro/Janeiro
Carnaval Fevereiro/Março
Semana Santa/Páscoa Março/Abril (40 dias após a quarta-feira de Cinzas)
Divino Espírito Santo Maio/Junho (50 dias após a Páscoa)
Corpus Christi
Junho (dia 13, Santo Antônio; dia 24, São João;
dia 29, São Pedro)
Festas Juninas
Junho
São Benedito/N. S.do Rosário
Outros Ano todo
Ano todo (especialmente entre a Páscoa e
13 de Maio); o dia do Santo é 31 de março.
FLOR AMARELA
Um dia observando um terreno baldio, fiquei comovido ao identificar em meio a vá-rias ervas daninhas um linda flor de cor amarela.
Não era difícil percebê-la, sua cor e forma contrastavam enormemente com as ervas de coloração verde que a rodeavam.
Durante alguns minutos essa súbita observação suscitou em mim uma série de refle-xões: pensei no quanto estamos em um mundo difícil de se viver e no quanto é importante a gente não se deixar sufocar pelos problemas.
Conclui que por mais que o mundo esteja cheio de ervas daninhas, nós não temos que nos tornar uma delas. Não importa quais sejam as dificuldades, haverão sempre flores amarelas...
Quando deixamos de percebê-las é porque a pretensão de achar que sabemos tudo nos tapa os olhos.
Nisso, perdemos um pouco da nossa identidade e passamos a achar o nosso lugar ruim de viver. Invejamos o jardim do vizinho.
Achamos que seríamos mais felizes com uma outra casa, carro, emprego... vã ilusão! Poucos são os jardins onde não existem ervas daninhas.
O que torna uns mais belos que os outros é tão somente a maneira como os observamos e a capacidade que temos, ou não, de identificar as flores em meio às ervas daninhas.
Autores: Marcos Lima e Ronaldo Oliveira
SENARSÃO PAULO
O SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural é uma entidade de direito
privado sem fins lucrativos. Criado pela Lei n.º 8.315, de 23 de dezembro de 1991, e
regulamentado em 10 de junho de 1992, teve a Administração Regional de São Paulo
criada em 21 de maio de 1993.
Instalado no mesmo prédio da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo,
o SENAR-AR/SP tem como objetivo organizar, administrar e executar, em todo o Es-
tado de São Paulo, o ensino da Formação Profissional e da Promoção Social Rurais,
dirigido a pequenos produtores, trabalhadores rurais e seus familiares.
PROGRAMA TURISMO RURAL “AGREGANDO VALOR À PROPRIEDADE”
1. Turismo Rural: Oportunidades de Empreendimentos
2. Turismo Rural: Identidade e Cultura
3. Turismo Rural: Gestão de Empreendimentos
4. Turismo Rural: Ponto de Venda de Produtos
5. Turismo Rural: Meios de Hospedagem
6. Turismo Rural: Meios de Alimentação
7. Turismo Rural: Atividades Turísticas em Áreas Naturais
8. Turismo Rural: Atendendo e Encantando o Cliente
9. Turismo Rural: Resgate Gastronômico
10. Turismo Rural: Consolidação do Programa
SUPLEMENTOS
Roteiro de Inventário Turístico
Legislação e Turismo Rural
FAESP – FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO ESTADO DE SÃO PAULOSENAR-AR/SP – SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL
Administração Regional do Estado de São Paulo
MódulosIntrodutórios
MódulosEspecíficos
Módulos de Consolidação