Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DANIELE SOUZA FREITAS RENAN OSVALDO PACHECO TWITTERATURA: A ARTE DE ESCREVER EM ATÉ 140 CARACTERES Tubarão 2011

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Artigo Científico - Monografia - Autores: Renan Osvaldo Pacheco & Daniele Souza Freitas. Citam: SORIANO, M. página 55.

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

DANIELE SOUZA FREITAS

RENAN OSVALDO PACHECO

TWITTERATURA:

A ARTE DE ESCREVER EM ATÉ 140 CARACTERES

Tubarão

2011

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DANIELE SOUZA FREITAS

RENAN OSVALDO PACHECO

TWITTERATURA:

A ARTE DE ESCREVER EM ATÉ 140 CARACTERES

Monografia apresentada no Curso de Graduação em Letras Português/Inglês da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciado em Letras.

Orientadora: Prof. Cláudia Espíndola Gomes

Tubarão

2011

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DANIELE SOUZA FREITAS

RENAN OSVALDO PACHECO

TWITTERATURA:

A ARTE DE ESCREVER EM ATÉ 140 CARACTERES

Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Licenciado em Letras e aprovado em sua forma final pelo curso de Graduação em Letras Português/Inglês da Universidade do Sul de Santa Catarina.

___________________, ________ de _________________________ de 2011.

Local dia mês

_______________________________________________

Prof. e Orientadora Cláudia Espíndola Gomes, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_______________________________________________

Prof. Jussara Bittencourt de Sá, Dr.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_______________________________________________

Prof. Marizete Farias da Rocha, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

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AGRADECIMENTOS

Nossos pais por nos ensinar a ser, cada professor e orientadora, twitteiros que

fazem duma rede social um espaço para Literatura: #obrigado.

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“140 caracteres são o suficiente para sangrar.” (Carpinejar)

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RESUMO

Este estudo aborda um novo meio de publicação literária na internet, a Twitteratura. Em até

140 caracteres, autores brasileiros têm divulgado seus textos literários no microblog Twitter,

criado em 2006. Entretanto, textos curtos não são uma novidade do microblog, portanto, fez-

se uma abordagem dos escritores brasileiros pioneiros nessa literatura concisa, partindo do

modernista Oswald de Andrade até os microcontistas do século XXI. Também é feito um

estudo acerca do Twitter, seu surgimento, principais ferramentas e utilidades, assim como sua

popularidade no Brasil. Dessa forma, a pesquisa reúne referenciais teóricos sobre Literatura e

Twitter, além de informações extraídas dos livros literários provindos do microblog, e

investigações dos autores deste trabalho como usuários do serviço. Não é objetivo desse

estudo analisar a qualidade literária dos textos que circulam no Twitter, mas expor e reunir

parte das publicações literárias que formam a Twitteratura, reconhecendo-a como um novo

meio de publicação literária à disposição dos autores. É impossível abordar todo o conteúdo

literário publicado no Twitter, tanto pela efemeridade, característica do serviço, como pela

quantidade. Nesta pesquisa, percebeu-se o Twitter como um meio democrático e incentivador

da publicação literária, no qual os indivíduos não só são estimulados a sintetizar suas criações

literárias em 140 caracteres ou menos, como também a lerem essas produções curtas, que

exigem pouco tempo e custo ao homem pós-moderno.

Palavras-chave: Twitteratura. Literatura digital. Twitter. Literatura contemporânea.

Literatura curta.

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ABSTRATC

This study addresses a new way of literary publishing on the Internet, the Twitterature. Up to

140 characters, Brazilian authors have published their literary texts on the Twitter microblog,

created in 2006. However, short texts are not a novelty of the microblog, therefore, We

approach the Brazilian writers pioneers in this concise literature, starting from the modernist

Oswald de Andrade until the twenty-first century writers of micro-fiction. It is also done a

study about Twitter, its emergence, its main tools and utilities, as well as its popularity in

Brazil. Thus, the research collects theoretical references about Literature and Twitter, as well

as information extracted from the literary books stemming from the microblog, and

investigations of the authors of this work as service users. This study does not aim to analyze

the literary quality of the texts which circulate on Twitter, but to present and to collect part of

the literary publications that makes the Twitterature, recognizing it as a new way of literary

publication available to the authors. It is impossible to cover all posted literary content on

Twitter, not only because the ephemerality, characteristic of the service, but also the quantity.

In this research, we noticed Twitter as a supporter of a democratic and literary publication, in

which individuals are not only encouraged to summarize their literary creations in 140

characters or less, but also to read these short productions that require little time and cost to

the postmodern man.

Keywords: Twitterature. Digital Literature. Twitter. Contemporary Literature. Short

Literature.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Poema vazio agudo................................................................................................... 24

Figura 2 – O primeiro tweet ..................................................................................................... 30

Figura 3 – Perfil de um dos autores deste trabalho.................................................................. 32

Figura 4 – Página inicial do Twitter de um dos autores deste trabalho .................................. 33

Figura 5 – Uso de algumas ferramentas................................................................................... 34

Figura 6 – Página inicial, slogan do Twitter. ........................................................................... 36

Figura 7 – Definição do Twitter de Marcelo Tas..................................................................... 37

Figura 8 – Capa do livro Twitterature...................................................................................... 39

Figura 9 – Nanoconto “Micro-ondas” em cem toques cravados............................................. 43

Figura 10 – I Sarau Literário via Twitter nos Assuntos do Momento...................................... 47

Figura 11 – Poeminuto de André Luís Gabriel......................................................................... 50

Figura 12 – Poeminuto de Denison Mendes............................................................................. 51

Figura 13 – Haicai de Millôr Fernandes................................................................................... 52

Figura 14 – Aforismo de Carpinejar......................................................................................... 54

Figura 15 – Aforismo de Marcelo Soriano............................................................................... 55

Figura 16 – Microconto de Samir Mesquita............................................................................. 57

Figura 17 – Conto nanico 153 de Marcelino Freire.................................................................. 58

Figura 18 – História coletiva no Twiterbook............................................................................ 61

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - A divisão de tweets por país em junho de 2010.....................................................31

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10

2 LITERATURA .................................................................................................................... 12

2.1 A LITERATURA : UMA ABORDAGEM........................................................................ 12

2.2 AS VANGUARDAS EUROPEIAS E O MODERNISMO BRASILEIRO...................... 15

2.2.1 A concisão de Oswald de Andrade............................................................................... 16

2.2.2 Manuel Bandeira, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade.................... 18

2.3 PÓS-MODERNISMO........................................................................................................ 21

2.3.1 Paulo Leminski e o haicai............................................................................................. 23

2.3.2 A narrativa curta: miniconto, microconto e nanoconto............................................. 25

3 TWITTER ............................................................................................................................ 29

3.1 O PRIMEIRO TWEET....................................................................................................... 29

3.2 O TWITER NO BRASIL................................................................................................... 31

3.3 BREVE DESCRIÇÃO DO TWITTER.............................................................................. 32

3.3.1 Twitter: uma praça pública.......................................................................................... 35

4 TWITTERATURA ............................................................................................................. 39

4.1 CONCEITUAÇÃO............................................................................................................ 39

4.2 ASPECTOS DA TWITTERATURA................................................................................. 41

4.3 ESCRITORES E LEITORES............................................................................................. 45

4.4 GENÊROS TEXTUAIS NO TWITTTER......................................................................... 49

4.4.1 Poeminuto, haicai e aforismo........................................................................................ 50

4.4.2 Microconto..................................................................................................................... 56

4.4.3 Prosa além de 140 caracteres........................................................................................ 59

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 63

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 65

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1 INTRODUÇÃO

Novos meios de divulgar textos literários surgiram com a popularização da

internet. Um deles é por meio da rede social Twitter, um serviço gratuito de microblog que

vem ganhando novos leitores e escritores no Brasil.

A sociedade do século XXI é marcada pela falta de tempo e pela rapidez em que

ocorrem os acontecimentos. Principalmente por esse motivo, o Twitter tem se destacado, pois

os textos que circulam nessa esfera são relativamente curtos, de leitura rápida e instantânea,

escritos em até 140 caracteres, sendo postados em tempo real. O usuário dessa rede social

deve ter habilidade de concisão, escrevendo seus textos dentro da limitação do microblog.

Assim, a literatura veiculada no Twitter é extremamente adequada às necessidades do leitor

contemporâneo.

Outro fator que contribui para o sucesso do Twitter como divulgador da literatura

é que qualquer indivíduo pode escrever seu texto e publicá-lo, contribuindo para o que se

chama “Twitteratura”, a Literatura no Twitter. Além disso, o microblog possibilita a interação

entre leitores e escritores, pois qualquer usuário pode comentar, responder, elogiar,

complementar, criticar um texto de outro. Isso tende a enriquecer ainda mais o âmbito

literário.

Percebe-se, a partir do exposto, um universo literário muito rico e novo, sendo que

o Twitter popularizou-se recentemente no Brasil, há cerca de dois anos. Contudo, esse

universo parece não ter sido descoberto por teóricos da área, pois se constata que não há

estudos a esse respeito.

Tendo em vista a falta de pesquisas sobre esse assunto, evidenciando a relevância

desse trabalho para o meio acadêmico, faz-se necessário um estudo específico da literatura

contemporânea brasileira veiculada no microblog Twitter, nos últimos dois anos.

Levando em consideração essa situação problema, o objetivo geral desse trabalho visa

reconhecer a Twitteratura como um novo meio de publicação literária. Parte-se dos objetivos

específicos: buscar um conceito de Literatura; relacionar a Twitteratura com a poesia

modernista brasileira da primeira fase; explicar como o Twitter é utilizado; caracterizar o

perfil do escritor e do leitor do Twitter; descrever as características da Twitteratura; justificar

os benefícios do Twitter para a Literatura; identificar os gêneros literários existentes no

Twitter; demonstrar algumas obras literárias publicadas no Twitter.

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Contudo, se faltam pesquisas sobre o assunto, como desenvolver este estudo? A

metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica, esta segundo Leonel e Motta (2007) é

essencial no conhecimento e na análise das principais contribuições teóricas sobre um tema.

Nossa pesquisa além do caráter bibliográfico é enriquecida por nossas investigações no

âmbito do Twitter como usuários do serviço. Fez-se neste trabalho o mesmo processo feito

com o termo “Twitteratura”: primeiro abordaremos os referenciais teóricos de Literatura e

Twitter separadamente, para depois unirmos ambas as teorias.

Dessa forma, o trabalho se divide em três seções seguidas pelas Considerações

Finais. Na primeira, discute-se um conceito de Literatura com base nas teorias de Coelho

(1976), para posteriormente abordar a literatura rápida no Brasil, recorrendo aos ideais

modernistas do início do século XX, aos poemas do primeiro nome brasileiro dessa literatura

curta: Oswald de Andrade, e as análises de Haroldo de Campos (1971). São mencionados

também os poemas de Manuel Bandeira, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade.

Assim como os ideais modernistas, o primeiro capítulo também destaca os

principais aspectos do pensamento do homem no Pós-Modernismo, período em que

vivenciamos, com base nas teorias de Tarnas (2008), e a influência desses pensamentos na

literatura, discutindo os conceitos trazidos por Proença Filho (1995). Após, é exposto o

formato original do haicai e sua presença no Brasil, principalmente na obra de Paulo

Leminski, aproveitando-se principalmente do estudo de Geraldes Júnior (2007). Para

compreender a narrativa curta, analisa-se o estudo de Spalding (2008) sobre o miniconto,

além de afirmações de teóricos do conto e de grandes contistas da Literatura mundial, como

Edgar Allan Poe e Machado de Assis, abordados pelo autor.

A segunda seção tem como tema as características do Twitter, é explicado seu

surgimento, detalham-se suas principais ferramentas e utilidades. Aborda-se também a

presença da Língua Portuguesa no microblog e sua popularidade no Brasil. Para a elaboração

dessa revisão bibliográfica, os principais autores utilizados são: Zago (2010), Recuero

(2009), Maurílio Silva (2009) e Spyer et al (2009).

Por fim, a terceira seção trata, de fato, da pesquisa sobre Twitteratura, abordando

as informações extraídas do nosso estudo bibliográfico de Literatura e Twitter, já citados,

além de utilizarmos informações contidas nos livros literários provindos do microblog e

nossas constatações utilizando o serviço. Discutiu-se o conceito de Twitteratura; se a

Literatura no Twitter difere da publicada fora dessa plataforma; quem são as pessoas que

escrevem; para quem escrevem; quais os gêneros literários que circulam na Twitteratura; e

quais os benefícios que essa nova modalidade traz para o âmbito literário em geral.

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2 LITERATURA

2.1 A LITERATURA : UMA ABORDAGEM

Antes de chegarmos a Twitteratura, tema central deste trabalho, naturalmente faz-

se necessária uma caminhada pela Literatura. E o que se entende por Literatura? Pode-se dizer

que a Literatura é a Arte da palavra, mas essa concepção é extremamente generalizadora.

Buscar um conceito claro, verdadeiro, estático para Literatura é uma tarefa um

tanto árdua, se não impossível. A Literatura como qualquer outra arte, sendo uma criação

humana, está sujeita aos valores e anseios do homem que se modificam constantemente. A

este propósito, Coelho (1976, p.23) escreve:

No sentido de compreendermos o que é Literatura para os homens de hoje, examinemos em primeiro lugar o que ela significou para os do passado. [...] Múltiplas conceituações foram formuladas através dos tempos mas nenhuma conseguiu ser completa e definida, pois cada época fundamenta-se de acordo com a sua maneira de interpretar a vida e o mistério da condição humana.

Assim, ao longo dos tempos a Literatura foi concebida de diferentes formas.

Ainda segundo a autora, na Antiguidade Clássica, Litteratura1 significava caligrafia de cada

um, alfabeto, símbolos de escrita. O termo Literatura na Era medieval equivalia a Gramática,

mais adiante no Renascimento, era definido como um conjunto de obras literárias arquivadas

pela história. Durante a Era Clássica – graças à teoria aristotélica da arte como imitação do

real – a Literatura era tida como a expressão da beleza e da verdade essencial dos seres e

coisas que surge da apreensão racional da realidade.

Até aqui, os conceitos de Literatura são marcados por princípios rígidos,

tradicionais. A atividade literária é regida por normas ensinadas que descartam as

peculiaridades individuais do talento criador. Também nesse período, não há uma

diferenciação entre os textos literários ou não, todo texto escrito, seja ele científico, filosófico,

histórico, ficcional ainda é considerado literatura.

Contudo a Era Romântica rompe essa rigidez disciplinar e essa generalização

informal. Segundo Coelho (1976, p.26) “A Literatura deixa de ser vista como uma imitação

1 Termo em latim, origina-se em littera/ae que significa letra do alfabeto, sinal.

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do real e passa a ser a expressão do mistério e do enigma da existência.” A razão dá lugar à

emoção. Ocorre a associação entre a Literatura e a Ficção, os textos literários começam a

exigir um caráter ficcional. Levando tal aspecto em consideração, a conceituação de

Literatura passa a ser mais restrita e funcional.

No século XX, Salvatore D’Onofrio (1990, p. 9) propõe o seguinte conceito de

Literatura: “A literatura é uma forma de conhecimento da realidade, que se serve da ficção e

que tem como meio de expressão a linguagem artisticamente elaborada.”

Nesse conceito, Literatura e linguagem estão fortemente associadas. Assim como

todo ser vivo é formado por células, sistemas, funções a Literatura é composta por signos que

se organizam em estruturas maiores como enunciados, discursos. (COELHO, 1976). Então, a

linguagem vem a ser o meio de expressão da Literatura, no entanto é “artisticamente

elaborada”, não sendo uma linguagem qualquer. Distinta da linguagem objetiva e direta

utilizada no Jornalismo, a Literatura utiliza estilos, figuras de linguagem para emocionar o

leitor.

O conceito de D’Onofrio, acima citado, associa Literatura e Ficção como a

definição de Coelho também o faz:

Literatura é Arte, é um ato criador que por meio da palavra cria um universo autônomo, onde seres, as coisas, os fatos, o tempo e o espaço, assemelham-se ao que podemos reconhecer no mundo real que nos cerca, mas que ali – transformados em linguagem – assumem uma dimensão diferente: pertencem ao universo da ficção. (1976, p. 23).

Observa-se que ambos os conceitos fazem referência a Literatura como criadora

de um ambiente ficcional, porém não consideram a Literatura distante da realidade, ela

“assemelha-se ao mundo real”. A Literatura, então, não é apenas o fruto da imaginação

criadora do homem, mas uma forma de conhecimento, e até de problematização do real.

Ao retomar a discussão inicial desse capítulo, percebe-se a existência de inúmeras

definições de Literatura que surgem e desaparecem. Em sua maior parte generalizadoras,

essas definições confirmam a ideia de Coelho (1976) que considera a Literatura enigmática e

indefinível, porque o espírito humano também o é. Sendo criada pelo homem, a Literatura

tende a refletir aspectos mutáveis da sociedade em que ele está inserido. Sendo assim, quais

os principais aspectos da sociedade atual?

Certamente, inúmeras seriam as reflexões afloradas por essa pergunta. Mas, nesse

momento, quer-se apenas ressaltar alguns poucos aspectos da complexa sociedade do século

XXI:

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O sujeito moderno usa o tempo como um valor ou como uma mercadoria, é um sujeito que não pode perder tempo, que tem sempre de aproveitar o tempo [...] que tem de seguir o passo veloz do que se passa, que não pode ficar para trás, e por essa obsessão por seguir o curso acelerado do tempo, este sujeito já não tem tempo. (LAROSSA, 2002, p. 23).

Essa é a situação vivenciada diariamente pela maioria dos indivíduos, numa

sociedade que vive em ritmo acelerado: cidades, metrôs, ônibus superlotados, surgem os fast

food e os arranha-céus. O cidadão passa mais tempo no trabalho, no elevador, nas filas, nos

meios de transporte do que na própria casa. Enfim, o sujeito não tem mais o próprio tempo.

Em meio a esse tumulto surge, como aliada à rapidez do relógio moderno, a

internet. “A rede digital tem crescido em uma velocidade espantosa; basta comparar seu

crescimento com o de outros veículos de comunicação: o rádio levou 38 anos para atingir 50

milhões de pessoas; a TV aberta, 16 anos; a Web apenas 5 anos.” ( XAVIER; SANTOS,

2005, p. 30).

É de conhecimento de todos que a rede digital já penetrou em todas as esferas da

atividade humana, desde o interior de nossos lares até os mais variados setores, como bancos,

supermercados, lojas... A Internet se destaca pela dinamicidade interativa, facilita o acesso às

mais variadas informações e a cada dia adquire novas utilidades. Nesse contexto de “era

digital” Pinheiro (2005, p. 131) ressalta:

A inserção de Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) nas sociedades modernas tem acarretado muitas transformações nos seus diversos setores. Novas formas de pensar, de comunicar, de acessar informações e de perceber o conhecimento estão se impondo.

Assim, a internet incentiva novas ações que permitem profundas mudanças no

modo de vida do homem moderno, transformando as formas de pensar, de adquirir

conhecimento e inclusive as formas de ler e escrever.

E que concepção de Literatura reflete a sociedade acima descrita? A respeito disso

Calazans (2001, p. 6-7) escreve:

[...] é nesta vida veloz [...] que as artes se adaptam-se ao novo homem urbano, na esperança de acompanhá-lo em sua corrida contra o tempo cotidiano e alcançar, tocar sua sensibilidade empedernida, petrificada,[...] surgem o Cinema de curta-metragem, o Teatro de esquetes e anedotas, e a Literatura que ocupa pouco espaço impresso e que é lida em alta velocidade.

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A tal Literatura que ocupa pouco espaço impresso é uma literatura curta, rápida e

sucinta, capaz de prender o leitor em poucas palavras. Essa Literatura é extremamente

adequada ao leitor do século XXI: a velocidade e a condensação, a possibilidade de

publicação em diversas mídias como celulares, e-mails, painéis eletrônicos, blogs,

microblogs, entre outras ferramentas da internet.

Drummond já previa que “escrever é cortar palavras”, Hemingway recomendava

“corte todo o resto e fique no essencial” e João Cabral proclamou “enxugar até a morte”

(SEABRA, 2010). Então, talvez essa Literatura não seja emergente.

2.2 AS VANGUARDAS EUROPEIAS E O MODERNISMO BRASILEIRO

Antes mesmo de internet e televisão existirem, a Literatura sofreu modificações

que influenciariam fortemente a literatura contemporânea, no seu estilo, forma, tamanho.

No final do século XIX e início do século XX, o mundo ocidental passou por

grandes mudanças. A revolução industrial, as duas guerras mundiais e suas consequências

mudaram o mundo, e, obviamente, o homem, seus valores e seus anseios.

Na Europa, várias tendências artísticas surgiram, tais como o Cubismo, o

Futurismo, o Expressionismo, o Dadaísmo e o Surrealismo. Todos esses movimentos,

chamados de correntes de vanguarda, buscavam uma ruptura com os valores artísticos

tradicionais e um novo estilo para traduzir a nova realidade do século XX. Paulo Prado, em

1924, na apresentação do livro Pau-Brasil de Oswald de Andrade, registrou que:

Encaixar na rigidez de um soneto todo o baralhamento da vida moderna é absurdo e ridículo. Descrever com palavras laboriosamente extraídas dos clássicos portugueses e desentranhadas dos velhos dicionários, o pluralismo cinemático de nossa época é um anacronismo chocante [...]. Outros tempos, outros poetas, outros versos. (ANDRADE, 1971, p. 68-69).

Teles (2000, p. 82) acrescenta: “mais do que simples tendência, a vanguarda

representa a mudança de crenças experimentais no pensamento e na arte do mundo ocidental.”

O Modernismo brasileiro foi influenciado pelas vanguardas europeias, contudo os

modernistas brasileiros:

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Nunca se consideraram componentes de uma escola, nem afirmaram ter postulados rigorosos em comum. O que os unificava era um grande desejo de expressão livre e a tendência para transmitir, sem os embelezamentos tradicionais do academismo, a emoção pessoal e a realidade do país. (CÂNDIDO, 1967, p. 9).

E foi por meio dessa união que os modernistas realizaram a Semana de Arte

Moderna em 1922. A Semana teve a participação de vários jovens artistas.

Constou de exposição de quadros e esculturas, concertos, recitais e conferências, provocando da parte da opinião dominante uma reação violenta, que foi à vaia e ao tumulto. Os jovens capitalizaram bem este aspecto combativo, que serviu, senão para estruturá-los, certamente para os demarcar no panorama literário como representantes de uma nova estética. (Ibid., p. 12).

Nesse contexto, alguns autores se destacaram. Oswald de Andrade, um jovem de

família rica, destacou-se por seu espírito revolucionário, inovador, radical, polêmico e, o que

mais interessa neste trabalho, por sua habilidade e técnica de síntese.

2.2.1 A concisão de Oswald de Andrade

O paulistano Oswald de Andrade (1890-1954) foi o primeiro brasileiro a escrever

na literatura curta, rápida, sintética. Essa característica da maioria de seus poemas permitiria

que os textos oswaldianos fossem publicados no Twitter, se a rede social existisse na época.

Mário da Silva Brito chama esses textos do autor de poemas-minuto, micropoemas e

minipoemas (ANDRADE, 1971).

Embora o foco desse texto seja a habilidade de concisão de Oswald de Andrade,

não se pode deixar de mencionar outras características de seu texto, que o colocam como

precursor da literatura contemporânea.

Na apresentação do livro Poesias Reunidas de Oswald de Andrade, Haroldo de

Campos (1971, p. 9) diz que “se quisermos caracterizar de um modo significativo a poesia de

Oswald de Andrade no panorama de nosso Modernismo, diremos que esta poesia responde a

uma poética de radicalidade. É uma poesia radical.” O autor faz essa afirmação, pois a

linguagem literária em uso e aceita pela crítica, na época de Oswald, era a parnasiana, que

“funcionava como um jargão de casta, um diploma de nobiliarquia intelectual” (Ibid., p. 10),

ou seja, entre a linguagem dos livros aceitos pela crítica e a linguagem falada, existia um

abismo que parecia ser intransponível.

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Oswald de Andrade mudou esse cenário, mas não com pequenas modificações, ele

radicalizou: utilizou-se do verso sem métrica e sem rima, da linguagem coloquial: “A

contribuição milionária de todos os erros” (ANDRADE, 1971, p.77). Fez poemas

nacionalistas sem qualquer traço de ufanismo, pelo contrário, sempre apresentando uma visão

crítica. Tudo isso com uma gigantesca dose de humor e ironia, como se pode observar no

poema abaixo (Ibid., p. 95):

senhor feudal Se Pedro Segundo Vier aqui Com história Eu boto ele na cadeia

As características citadas anteriormente podem ser justificadas, nesse poema, pelo

título em letras minúsculas, a ausência de rima e métrica, a linguagem coloquial no último

verso (o correto pela norma padrão da língua seria “Eu o boto” ou “Eu boto-o”) e o tom

humorístico, tudo isso em quatro pequenos versos.

Outros poetas modernistas apresentam muitas dessas características, no entanto

somente Oswald apresenta uma técnica de síntese tão sofisticada. Vejamos o “mais sintético

poema da língua”, e a análise de Haroldo de Campos:

amor humor

[...] Eis aí o mais sintético poema da língua, tensão do músculo-linguagem, elementarismo contundente, ginástica para a mente entorpecida no vago, obra-prima do óbvio e do imediato atirado à face rotunda da retórica. Por este poema se mede [...] até onde foi Oswald na sua radicalidade e como se distanciam dele, por este aspecto, mesmo as mais ousadas investidas de seu companheiro Mário de Andrade. (1971, p. 46).

Nesse poema, Oswald utiliza duas palavras com alta carga semântica, que se

diferem apenas por duas letras, um som. E o principal da obra fica a cargo do leitor, que tem

de imaginar as possíveis relações entre esses dois dissílabos, isso significa que a obra

oswaldiana, segundo Haroldo de Campos:

Ao invés de embalar o leitor na cadeia de soluções previstas e de inebriá-lo nos estereótipos de uma sensibilidade de reações já codificadas, esta poesia, em tomadas e cortes rápidos, quebra a morosa expectativa desse leitor, força-o a participar do processo criativo. (Ibid. p. 46).

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“Esta poesia, em tomadas e cortes rápidos” não se refere exclusivamente ao

poema acima. E quando o autor menciona “tomadas e cortes rápidos”, ele se refere a uma

característica da obra de Oswald, influenciada por outra arte, o cinema. Os “flashes

cinematográficos” são facilmente identificados e compreendidos no poema abaixo

(ANDRADE, 1971, p. 94):

o capoeira - Qué apanhá sordado? . - O quê? . - Qué apanhá? . Pernas e cabeças na calçada.

Além das características já citadas, o poema apresentado pode suscitar uma

dúvida: essa obra é ou não um poema? Esse texto se assemelha com uma narrativa, como os

microcontos que serão explicados posteriormente neste trabalho. Esse estilo é um exemplo de

como Oswald “quebrou as barreiras entre poesia e prosa, para atingir a uma espécie de fonte

comum da linguagem artística.” (CÂNDIDO, 1967, p. 65). Haroldo de Campos ressalta que o

essencial não é chamar a obra oswaldiana de poesia ou não, e acrescenta que ela evoluiu “para

uma ideia mais válida e mais atual de texto [...], ideia para a qual marcham também toda uma

série de manifestações contemporâneas, da nova poesia ao novo romance.” (1971, p. 58).

Em virtude de sua radicalidade, Oswald de Andrade foi muito criticado e até

ridicularizado por seus contemporâneos. Em vida, não teve sua obra devidamente valorizada.

Contudo, pelos mesmos motivos que o ridicularizaram, sem nenhuma ressalva, “pode-se dizer

que a sua importância histórica de renovador e agitador (no mais alto sentido) foi decisiva

para a formação de nossa literatura.” (CÂNDIDO, 1967, p. 65). Torna-se fácil justificar essa

afirmação, tendo em vista que esse trabalho tratará de uma modalidade de escrita de cinco

anos de existência (o Twitter foi criado em 2006) que demonstra um estilo muito semelhante à

obra de Oswald, sendo imprescindível a citação do valor de sua luta e de sua obra.

2.2.2 Manuel Bandeira, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade

Oswald de Andrade foi o primeiro e o maior destaque da literatura rápida

brasileira, entretanto outros autores se utilizaram desse estilo em seus poemas. Nenhum deles

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escreveu tantos textos curtos quanto Oswald, no entanto eles devem ser mencionados,

ilustrando que a síntese oswaldiana não morreu junto com o autor.

Manuel Bandeira (1886 – 1968) foi um poeta modernista da primeira fase, assim

como Oswald de Andrade, contudo por ter vivido 82 anos, seu estilo foi se modificando,

misturando todas as tendências artísticas que vivenciou. A poesia de Manuel Bandeira “vem

do parnasianismo crepuscular até as experiências concretistas, do sonêto às formas mais

audazes de expressão.” (CÂNDIDO, 1967, p. 34).

A obra bandeiriana se destaca pelo lirismo com que trata os temas vida, morte,

amor, erotismo, solidão, infância, saudade. Além disso, Bandeira foi um mestre no uso do

verso livre, sem métrica. “A êle se deve a prática regular do verso livre, com superação do

verso polimétrico e do verso libertado, praticados pelos seus antecessores e coevos.”

(CÂNDIDO, loc. cit.)

Para ilustrar as afirmações citadas, vejamos um poema no qual o tamanho do

verso se relaciona com o conteúdo da obra (BANDEIRA, 1993, p. 150):

Poema do Beco Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? - O que eu vejo é o beco.2

Pode-se observar que o lirismo do primeiro verso, mencionando “paisagem”,

“Glória”, é representado por um verso longo que se assemelha à “linha do horizonte”. Em

seguida, o segundo verso nos remete a uma paisagem fechada, pelo relato do eu-lírico que

afirma ver apenas “o beco” e pelo tamanho do verso: curto, rápido, sem adjetivos ou

advérbios. Bandeira harmoniza perfeitamente forma e conteúdo.

Em relação ao conteúdo desses versos, pode-se pensar em dois significados: o

primeiro seria o significado literal, pois o poeta morou no Beco das Carmelitas, no Rio de

Janeiro, na década de 1950. O segundo seria metafórico, pois desde os 18 anos, manifestara-

se no autor a tuberculose. Como na época não existia cura, o tratamento primordial era o

isolamento. Soma-se a isso o fato de que Bandeira perdeu os pais na infância, ou seja, a

solidão pode ser “o beco”, e todas as coisas boas citadas no primeiro verso são o mundo que

ele não pôde aproveitar na sua juventude. Deve ressaltar-se que os dois significados não se

excluem, pelo contrário, eles se unem na significação desse belo poema bandeiriano, de

apenas dois versos. 2 Apesar de não ser recomendado pelas normas da ABNT, optamos por utilizar recuo de página quando reproduzimos os textos literários, ainda que não ultrapassem três linhas.

Page 21: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

20

Outro poeta da primeira metade do século passado que se destaca é o gaúcho

Mário Quintana (1906 - 1944). O autor não participou do movimento modernista brasileiro,

no entanto algumas de suas obras apresentam influências dos artistas da Semana de Arte

Moderna.

Quintana escreveu a maioria de seus poemas num estilo tradicional, em forma

(publicou muitos sonetos), métrica e rima. Bosi (2001, p. 463) afirma que ele “encontrou

fórmulas felizes de humor sem sair do clima neo-simbolista que condicionara sua formação.”

Mesmo tendo esse estilo tradicional, Quintana escreveu alguns poemas, sem rima

ou métrica, revelando uma semelhança com a obra de Oswald de Andrade e Manuel Bandeira,

como no poema a seguir (QUINTANA, 1997, p. 441):

VERÃO Quando os sapatos ringem - quem diria? São os teus pés que estão cantando!

Outro poema que pode enriquecer esse trabalho é (Ibid., p. 121):

QUEM DISSE QUE EU ME MUDEI? Não importa que a tenham demolido: A gente continua morando na velha casa [em que nasceu.

Nos dois poemas, Quintana mistura lirismo e humor, isto é, ele escreveu, em seu

próprio estilo, poemas rápidos, curtos, semelhantes aos que são publicados hoje no Twitter.

O terceiro e último poeta a ser discutido neste subtítulo é Carlos Drummond de

Andrade (1902 – 1987). O autor mineiro não foi um adepto da literatura curta. Drummond fez

poemas de todos os tamanhos, usava quantas palavras fosse necessário. Todavia ele escreveu

alguns poemas curtos e, entre eles, destaca-se nesse trabalho a obra a seguir (ANDRADE,

Drummond, 1985, p. 28):

COTA ZERO Stop. a vida parou ou foi o automóvel?

Page 22: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

21

Esse poema se assemelha muito à obra oswaldiana em sua síntese e ironia. O

primeiro verso, em inglês, registra a influência estadunidense em ascensão, principalmente no

que diz respeito aos produtos industrializados. Pode fazer-se tal afirmação, tendo em vista que

o texto menciona o “automóvel”, produto que o Brasil sempre importou. Em três versos,

Drummond faz uma reflexão sobre a dependência do homem moderno às tecnologias, afinal o

eu-lírico fica em dúvida se foi a vida que parou, ou foi apenas o automóvel. É impressionante

a contemporaneidade dessa obra se pensarmos, por exemplo, em nossa reação quando o

celular, o computador, ou mesmo o carro não funciona. Fica-se a sensação de impotência,

como se a vida acabasse (ou parasse como traz o poema) quando esses artefatos não

funcionam. E para essa crítica, observação e/ou aviso, o autor mineiro se utiliza da ironia, do

humor, “traço constante na poesia de Drummond.” (BOSI, 2001, p. 441).

Com esse breve poema de Drummond, encerra-se a relação de autores

modernistas que poderiam ter obras publicadas no Twitter, se a rede social existisse no século

XX. Não houve a preocupação de se fazer uma lista impecável de autores que publicaram

algum texto em até 140 caracteres. Discorreu-se apenas sobre alguns dos autores e obras mais

relevantes da nossa literatura modernista.

2.3 PÓS-MODERNISMO

Atualmente, vive-se no período chamado de Pós-Modernismo, porém não existiu

nenhum movimento, obra ou acontecimento que marque essa transição do Modernismo para

outra escola literária. Proença Filho afirma que teóricos discordam quanto à data dessa

transição, para uns “desde o fim da Segunda Guerra Mundial, teríamos ingressado na pós-

modernidade. Para outros, entretanto, a grande mudança ainda está para acontecer: o Ocidente

não deixou de ser moderno.” (1995, p. 8).

Não se pretende nesse trabalho discutir o fim ou começo de escolas literárias, o

próprio Proença Filho (Ibid. p. 8) acrescenta que “vive-se, no mínimo, uma fase de transição,

onde o fato pós-modernista, em termos estéticos, é uma realidade.” E são esses termos

estéticos que queremos discutir. Contudo, antes pensaremos sobre o que mudou no homem

para que mudasse sua arte.

A principal mudança no pensamento do homem ocidental na pós-modernidade é a

não predominância de uma corrente, seja ela filosófica, científica, artística.

Page 23: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

22

“Podemos considerar o espírito pós-moderno como sendo um conjunto de atitudes abertas e

indeterminadas que foi moldado por uma grande diversidade de correntes intelectuais e

culturais.” (TARNAS, 2008, p. 422).

O homem pós-moderno não sabe o que pensar, não sabe em que acreditar. As

verdades não são mais verdades. Todo o conhecimento científico, histórico, religioso é posto

a prova e não pode ser tido como absoluto. “Implicitamente, o único absoluto pós-moderno é

a consciência crítica que, desconstruindo tudo, parece forçado por sua própria lógica a

desconstruir também a si mesmo.” (Ibid., p. 429).

Com essa visão crítica, nenhuma corrente ou pensamento se torna absoluto. No

entanto, repensa-se e considera-se todas as ideias e visões do passado, também de maneira

crítica. Sendo assim:

Não apenas o próprio pensamento pós-moderno é um turbilhão de diversidades não resolvidas, mas virtualmente todos os elementos importantes do passado intelectual do Ocidente agora estão presentes sob uma ou outra forma, contribuindo para a vitalidade e confusão do Zeitgeist 3 contemporâneo. (TARNAS, 2008, p. 429).

Além da diversidade de pensamentos em torno do homem pós-moderno, na

segunda metade do século XX e início do século XXI, a sociedade ficou marcada pela

desigualdade social e econômica: por um lado pessoas desfrutando da industrialização e

consumo exagerado; por outro, pessoas sem ter o que comer e sem acesso à escola e outros

serviços. “Nesse contexto múltiplo, em que computadores sofisticados convivem com alta

dose de miséria e analfabetismo, o Pós-Modernismo como expressão literária e artística, só

pode ser visto de modo também múltiplo.” (COUTINHO, 2004, p. 243).

É essa multiplicidade de visões e valores que refletiu e refletem na Literatura.

Esta, no Pós-Modernismo, não se concentrou num estilo ou num objetivo. Na verdade, na

literatura, surgem vários Pós-Modernismos que integram a mesma escola literária

basicamente por ocorrerem no mesmo período. A liberdade na criação predominou e há

somente algumas características em comum entre os textos literários pós-modernos.

O ludismo, como uma dessas características, intensifica-se na literatura pós-

moderna. O autor “brinca” com as palavras, com suas formas e sons. Uma das ferramentas

utilizadas pelos autores é a paródia, que se torna uma característica marcante com base nas

teorias do diálogo entre os textos, do russo Bakhtin. Oswald de Andrade também foi pioneiro

nesse âmbito: num capítulo do seu livro Pau-Brasil, todos os textos estabeleciam diálogos

3 Zeitgeist – Termo alemão que significa espírito de época.

Page 24: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

23

com textos históricos brasileiros. “Na literatura contemporânea isso se dá sobretudo com o

aproveitamento intencional de obras do passado. Insere-se nesse procedimento a mistura de

estilos presente também na arte literária dos últimos decênios.” (PROENÇA FILHO, 1995, p.

39).

Dentro de toda a diversidade descrita nos parágrafos anteriores, destacar-se-á

nesse trabalho uma modalidade originada no Japão, o haicai, principalmente nas obras do

autor Paulo Leminski. Depois também se tratará do microconto, uma forma curta de narrativa

surgida na literatura pós-moderna. As duas modalidades serão apresentadas nesse trabalho por

fazerem parte da literatura rápida e curta, que poderia ser publicada no Twitter. Na verdade,

atualmente haicais e microcontos são publicados na rede social, mas não são frutos dela,

como veremos nos capítulos seguintes.

2.3.1 Paulo Leminski e o haicai

Paulo Leminski (1944 – 1989) foi um poeta pós-modernista. O autor curitibano

destacou-se por sua poesia irreverente, no entanto, não é graças a essa característica que o

bandido que sabia latim4 foi incluído nesse trabalho. A concisão é uma forte característica dos

poemas leminskianos. Além disso, ele foi pioneiro no Brasil na arte do haicai, juntamente

com Guilherme de Almeida.

Angélica Soares nos explica a forma tradicional do haicai (1993, p.33): “poema

japonês caracterizado pela brevidade, composto de três versos, somando dezessete sílabas, o

primeiro e o terceiro com cinco e o segundo com sete”. Em seu conteúdo, o haicai apresenta

um tema do presente, geralmente relacionado a algo da natureza, e teria de mencionar uma

estação do ano (MAURER; ALVES, 2009). No Brasil, principalmente o haicai leminskiano,

essas características se alteraram muito, tendo em vista o grande número de influências da

pós-modernidade, como visto anteriormente.

Mesmo com várias modificações, o haicai não deixou de ser um poema curto,

quase sempre conservando os três versos. No Twitter, o haicai é uma das formas de

manifestação literária, considerando que esse estilo se encaixa perfeitamente como publicação

no microblog.

4 Título da biografia de Leminski escrita por Toninho Vaz, Editora Record, 2001.

Page 25: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

24

Observemos um dos mais famosos haicais de Leminski, publicado no livro La vie

en close:

Figura 1- Poema vazio agudo. Fonte: Leminski (2000, p. 123).

Esse poema não tem título, assim como a maioria dos haicais. O ludismo desse

poema se dá na antítese “vazio/cheio” e ainda “meio”, três “estados de espírito” diferentes,

sendo que cada um ocupa um verso, começando “vazio” e terminando “cheio”.

O poema tem duas rimas: uma no final do primeiro e do terceiro versos

(agudo/tudo); outra no final do segundo verso com a primeira palavra do último verso

(meio/cheio). A volta da rima – lembrando que ela foi praticamente extinta no Modernismo –

ilustra o que foi dito anteriormente: no Pós-Modernismo as produções literárias anteriores não

são desconsideradas, qualquer técnica está à disposição do escritor.

O “vazio agudo” do primeiro verso do poema é reforçado pelo espaço entrelinhas

entre um verso e outro (GERALDES JÚNIOR, 2007).

No segundo verso, ele dá um passo adiante “ando meio”, ou seja, o poeta chega ao meio que, semanticamente, tem duas potencialidades: a primeira faz uma clara referência à posição da palavra no corpo do poema, exatamente no verso do meio – aparecendo após três palavras [vazio / agudo / ando] e deixa outras três palavras apenas até o final do poema [cheio / de / tudo]. A outra potencialidade desta palavra

Page 26: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

25

no poema é no que diz respeito ao “estado de espírito” do Eu-lírico, do sujeito do poema. “Estado de espírito” este que vem culminar no último verso do poema, Cheio de tudo. (Ibid., p. 93).

É magnífico como o autor diz tanta coisa com apenas sete palavras. Leminski não

escreveu apenas haicais, também escreveu poemas concretos e em outros estilos. Em todos

eles, a concisão é característica presente. Com esse autor, encerra-se a parte referente à poesia

curta no Brasil antes da Twitteratura, o próximo subtítulo diz respeito às narrativas curtas.

2.3.2 A narrativa curta: miniconto, microconto e nanoconto

Até este subtítulo, relacionamos os pioneirismos na literatura curta no Brasil. Em

todos os casos, tratava-se de poemas. No caso de Oswald de Andrade, alguns poemas

apresentavam elementos narrativos, como o diálogo em “o capoeira”, no entanto o próprio

autor os considerava poemas.

Abordaremos agora as narrativas curtas, mais especificamente o conto. Este

sempre foi considerado uma narrativa curta, como se pode observar nesta afirmação de

Machado de Assis: “O tamanho não é o que faz mal a êste gênero de histórias, é naturalmente

a qualidade; mas há sempre uma qualidade nos contos, que os torna superiores aos grandes

romances, se uns e outros são medíocres: é serem curtos.” (ASSIS, 1955, p. 5). Observamos

que o conto é considerado curto por Assis, comparado ao romance, logo até os mais longos

contos do próprio escritor, como O Alienista de 36 páginas, são entendidos como curtos.

E quando essa narrativa curta diminui, ficando mais sintética? Surgem então

alguns termos como miniconto, microconto e nanoconto. É difícil definir esses termos, assim

como é difícil definir o conto. Edgar Allan Poe nos oferece uma explicação de como se deve

ler o conto: em apenas uma assentada, pois

se alguma obra literária é longa demais para ser lida de uma assentada, devemos resignar-nos a dispensar o efeito imensamente importante que se deriva da unidade de impressão, pois, se requerem duas assentadas, os negócios do mundo interferem e tudo o que se pareça com totalidade é imediatamente destruído. (POE 1997 apud SPALDING, 2008, p. 21).

Tendo essa ideia de Poe em mente, é fácil entender por que os minicontos,

microcontos e nanocontos surgiram: o homem contemporâneo tem menos tempo, inclusive

Page 27: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

26

para uma assentada, logo ele necessita de contos menores, para que “os negócios do mundo”

não interfiram na sua leitura.

De acordo com Spalding (2008), não se pode afirmar quais foram os primeiros

autores e textos de minicontos no Brasil, pois faltam estudos e antologias no nosso país sobre

o assunto. Contudo o autor destaca Dalton Trevisan como pioneiro em minicontos, mas o

autor considera miniconto contos de uma página e meia, que não são relevantes para nosso

estudo. Porém, o 166º texto do livro Ah, é? de Trevisan, contém apenas 21 palavras e se

encaixa no limite de 140 caracteres do Twitter:

O velho em agonia, no último gemido para a filha: - Lá no caixão... - Sim, paizinho. -... não deixe essa aí me beijar. (TREVISAN 1994 apud SPALDING, 2008, p. 39).

Segundo Spalding, a partir de Ah, é?, várias antologias de minicontos foram

publicadas, inclusive do próprio Trevisan, todavia o autor considera miniconto contos de uma

página ou duas. Porém em 2004 é publicada uma antologia com cem textos, de cem autores

diferentes e com número máximo de letras pré-determinado, estamos falando de Os Cem

Menores Contos Brasileiros do Século5, antologia organizada por Marcelino Freire. “A obra

traz cem histórias inéditas com até cinqüenta letras, sem contar o título e a pontuação”.

(SPALDING, 2008, p. 49).

Todos os textos da antologia são independentes, não estabelecem relação com os

demais, e contém sentido completo. Vejamos o texto da autora Cíntia Moscovich:

Uma vida inteira pela frente. O tiro veio por trás. (FREIRE, 2004, p. 16).

Spalding faz uma análise dos elementos narrativos desse texto (2008, p.62):

Não temos na narrativa a primeira ação de forma explícita, mas implícita nas entrelinhas: a personagem, se tem uma vida inteira pela frente, nasceu. E a segunda ação, essa sim, está expressa através de um motivo, o tiro: a personagem morreu.

O ludismo desse texto, assim como no haicai de Leminski, acontece por meio da

antítese, explicitamente em “frente / trás” e implicitamente em “vida / morte”. Nesse conto, o

ludismo é essencial para o entendimento do texto e seu efeito no leitor. Se trocássemos a

5 O título é uma paródia do livro Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século. Antologia organizada por Ítalo Moriconi, editora Objetiva, 2001.

Page 28: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

27

primeira frase para algo como “teria sido um ótimo escritor”, não haveria uma ligação entre as

frases, e a sequência dos fatos ficaria comprometida (SPALDING, 2008).

As informações que não constam no conto, como espaço e tempo, serão

preenchidas pelo leitor,

e certamente ele preencherá a partir de suas experiências: se for um leitor urbano, o tiro remeterá para a violência crescente de nossas grandes cidades; se for um leitor jovem, a vida inteira pela frente representa toda a expectativa de um grande futuro. [...] A narração, de toda forma, é a de uma morte, uma morte prematura de alguém com a vida inteira pela frente; o efeito, porém, pode variar de acordo com o leitor porque caberá a ele criar o clima necessário. (SPALDING, 2008, p. 63)

Spalding ressaltou, nesse trecho, o que muitos teóricos abordam: a importância do

leitor na construção do texto. Já foi mencionado nessa pesquisa que Haroldo de Campos diz

que a obra de Oswald de Andrade força o leitor a participar do processo criativo (1971).

Nesse âmbito de discussões sobre a participação do leitor, a teoria de Ernest Hemingway se

destaca, por sua comparação com o iceberg:

O leitor, se o escritor está escrevendo com verdade suficiente, terá uma sensação mais forte do que se o escritor declarasse tais coisas. A dignidade do movimento do iceberg é devida ao fato de apenas um oitavo de seu volume estar acima da água. (HEMINGWAY, 1996 apud SPALDING, 2008, p. 19).

Hemingway, na sua teoria do iceberg, fala da importância do não dito, da

participação do leitor que vê todo o “iceberg” a partir de um oitavo dele. Essa teoria se refere

aos contos, não necessariamente minicontos, microcontos ou nanocontos. Spalding completa a

teoria do autor norteamericano (2008, p.62):

“ocorre que o miniconto [...] intensifica a importância do não dito na narrativa, diminui o volume do iceberg acima da superfície de um oitavo para, digamos, vinte avos, sem impedir, se o texto estiver bem realizado, que ele suscite certo efeito”.

Neste trecho: “se o texto estiver bem realizado”, Spalding se refere a alguns textos

da antologia Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século que, de acordo com sua pesquisa,

não constituem uma narrativa, por não terem uma sequência de fatos e elementos narrativos

suficientes para que o texto cause efeito no leitor.

O que não encontramos no estudo de Spalding e de nenhum outro teórico é a

diferença entre miniconto, microconto e nanoconto. Para o nosso trabalho, trataremos o

miniconto como um conto de até uma página, pois é o termo que foi dado aos textos de

Trevisan, por exemplo. Consideraremos que microconto e nanoconto são sinônimos e que

Page 29: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

28

tratam de textos menores que os minicontos. Talvez haja diferença entre os dois termos, mas

no Twitter, ambos são utilizados para os contos que variam de duas palavras até o limite

máximo da rede social: 140 caracteres.

Entretanto, também levaremos em consideração um dizer de Mário de Andrade

sobre o conto: “Em verdade, sempre será conto aquilo que seu autor batizou com o nome de

conto”. (2002, p.9). Apliquemos a fala do poeta modernista aos textos contemporâneos:

sempre será miniconto, microconto ou nanoconto aquilo que seu autor batizou com o nome de

miniconto, microconto ou nanoconto, respectivamente.

Deste modo, encerra-se o primeiro capítulo deste trabalho. O próximo capítulo

abordará o Twitter, quando ele surgiu e como ele funciona. Como se pode observar,

abordamos nos dois primeiros capítulos Literatura e Twitter separadamente. No terceiro

capítulo discutiremos, finalmente, a Twitteratura.

Page 30: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

29

3 TWITTER

3.1 O PRIMEIRO TWEET

Antes de abordar o surgimento do Twitter, é necessário destacar um breve

contexto da época em que isso ocorreu. Já foi mencionado que o advento da internet

transformou a sociedade, dita pós-moderna, modificando seu conceito social, racional e

cultural. Além disso, esse último conceito associado à crescente utilização das tecnologias

digitais passou a ser denominado cibercultura.

Atualmente, qualquer indivíduo pode produzir e publicar seu conteúdo na internet.

Entretanto, a rede nem sempre foi aberta dessa forma. Quando surgiu, na década de 1990, a

World Wide Web (rede de alcance mundial) era editada por um pequeno número de pessoas e

seu conteúdo era raramente renovado (ZAGO, 2010). Esse quadro começou a mudar nos

últimos dez anos, ao invés de serem apenas receptores dos conteúdos da rede, os internautas

passaram a produzi-los. Tal cultura de colaboração da internet foi chamada de web 2.0:

Em 2004, para caracterizar o novo paradigma de interatividade que os dispositivos técnicos haviam disponibilizado na internet, foi cunhado o termo web 2.0 em uma conferência da O’ Reilly Media. Em linhas gerais, trata-se de uma segunda geração de ferramentas que aprofunda a noção de web como plataforma de interação, uma tendência que reforça a sociabilidade a partir da troca de informações e colaboração dos internautas. (O’ Reilly, 2005 apud SPECK, 2009, p. 14).

É nesse âmbito que surgem os microblogs, sendo o mais popular entre eles o

Twitter6. Os microblogs podem ser entendidos como “multiplataformas de atualizações

curtas, que combinam características de blog e rede social.” (RODRIGUES, 2009, p. 149).

Como microblog, o Twitter parte da ideia de um blog - sistema de postagens,

atualizações e possibilidade de comentários - mas difere desse pela postagem reduzida, essa

característica facilita a interação com outras ferramentas digitais (ZAGO, 2010). Assim, o

Twitter permite a postagem de tweets, mensagens instantâneas de até 140 caracteres

(considera-se caractere qualquer letra, símbolo, espaço, número ou ponto), pela web ou por

dispositivos móveis, como celulares. O Twitter também é percebido como site de rede social,

pois seu usuário cria um perfil público e interage com sua rede de contatos (RECUERO,

6 www.twitter.com

Page 31: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

30

2009). É importante ressaltar que a rede só existe em função dos usuários que estabelecem

conexões de troca, no caso os twitteiros7.

Lançado em 2006 pela empresa estadunidense Obvious, o projeto inicialmente

chamado de Twttr - sem letras vogais - foi criado por Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Willians.

Em 21 de março de 2006, Jack Dorsey8 enviou o primeiro tweet (PENNER, 2011).

“Convidando os colegas de trabalho”, dizia em português a mensagem:

Figura 2 – O primeiro Tweet. Fonte:<http://twitter.com/#!/jack/status/29> . Acesso em: 27 abr. 2011.

O nome do serviço está relacionado ao termo tweet que em português significa

“pio” (MICHAELIS, 2009, p. 339). Convém lembrar que o serviço limita as postagens em

140 caracteres, como a velocidade de um pio, e que o símbolo do Twitter é um passarinho

azul, observado no canto superior esquerdo da Figura 2.

7 Também chamado de tuiteiros. 8 www.twitter.com/jack

Page 32: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

3.2 O TWITER NO BRASIL

Os desenvolvedores do Twitter não anunciavam números e não faziam

comentários a respeito até o ano

revelou que o Twitter passou de 5 milhões de usuários no mundo em 2008, para 44,5 milhões

em 2009 (SCHONFELD, 2009)

Twitter, Evan Williams,

ultrapassado 145 milhões de usuários

O Twitter conquista cada vez mais usuários em todo mundo, no Brasil a situação

não é diferente. “O Ibope registrou que

de 2009, um crescimento de 28% em relação a março e de

período do ano anterior.” (SPYER

Nos primeiros anos,

todavia em função do seu alcance mundial

Em junho de 2011 lançou a versão em

serviço. De acordo com uma pesquisa divulgada

o Inglês é a língua mais popular no

(11%). Outro estudo da Semiocast

junho de 2010, mostra o Brasil como

Gráfico 1 Fonte: SEMIOCAST. Disponível em:<http://semiocast.com/pr/20100701/Asia_first_Twitter_region>.

TWITER NO BRASIL

desenvolvedores do Twitter não anunciavam números e não faziam

até o ano de 2010, mas uma pesquisa externa feita pela

revelou que o Twitter passou de 5 milhões de usuários no mundo em 2008, para 44,5 milhões

SCHONFELD, 2009). Contudo, em setembro de 2010, o presidente

anunciou no blog oficial do Twitter que o

145 milhões de usuários.

O Twitter conquista cada vez mais usuários em todo mundo, no Brasil a situação

registrou que 326 mil brasileiros se conectaram ao ser

de 2009, um crescimento de 28% em relação a março e de 456% em relação ao

SPYER et al, 2009, p. 88).

Nos primeiros anos, o Twitter só estava disponível nos idiomas Inglês e Japonês,

alcance mundial, o serviço passou a disponibilizar out

lançou a versão em Língua Portuguesa, terceira língua

De acordo com uma pesquisa divulgada pela consultoria francesa Semiocast

nglês é a língua mais popular no Twitter (40%), seguido do Japonês (18%) e do Português

Semiocast, com base em 2,9 milhões de tweets

mostra o Brasil como quarta maior fonte de mensagens no Twitter:

Gráfico 1 - A divisão de tweets por país em junho de 2010. Fonte: SEMIOCAST. Disponível em: <http://semiocast.com/pr/20100701/Asia_first_Twitter_region>.

31

desenvolvedores do Twitter não anunciavam números e não faziam

as uma pesquisa externa feita pela Com Score

revelou que o Twitter passou de 5 milhões de usuários no mundo em 2008, para 44,5 milhões

presidente-executivo do

oficial do Twitter que o microblog havia

O Twitter conquista cada vez mais usuários em todo mundo, no Brasil a situação

brasileiros se conectaram ao serviço em abril

456% em relação ao mesmo

o Twitter só estava disponível nos idiomas Inglês e Japonês,

o serviço passou a disponibilizar outros idiomas.

língua mais falada no

pela consultoria francesa Semiocast (2010)

), seguido do Japonês (18%) e do Português

tweets gerados em 22 de

fonte de mensagens no Twitter:

<http://semiocast.com/pr/20100701/Asia_first_Twitter_region>. Acesso: 26 abr. 2011

Page 33: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

32

Observando os dados citados sobre a abrangência do Twitter não só no Brasil,

mas no mundo todo, pode-se perceber o grande salto de popularidade que essa ferramenta deu

nos últimos anos. E isso de certa forma desmistifica o boato do Twitter ser apenas um

modismo passageiro.

Confirmada a relevância do Twitter, posteriormente serão abordados alguns

termos técnicos referentes a essa ferramenta, bem como suas formas de utilização.

3.3 BREVE DESCRIÇÃO DO TWITTER

Ao criar uma conta no Twitter, pode-se adicionar uma foto, um endereço

eletrônico e uma breve biografia que juntamente ao nome de usuário e ao nome completo

formam o perfil, como a imagem abaixo:

Figura 3 – Perfil de um dos autores deste trabalho. Fonte: < http://twitter.com/#!/Daniele_SF/> . Acesso em: 23 jun. 2011.

A esse respeito, Recuero explica que devido à ausência de informações da

comunicação face a face no ciberespaço, é necessário que o usuário possua um perfil:

“É preciso colocar rostos, informações que gerem individualidade e empatia, na informação

anônima do ciberespaço. Este requisito é fundamental para que a comunicação possa ser

estruturada.” (2009, p.27). Entretanto, há quem prefira não ver suas postagens publicadas

livremente na web, portanto, alguns usuários bloqueiam seus perfis, restringindo seus tweets

apenas aos seguidores autorizados.

No Twitter, os usuários são convidados a responderem a pergunta “O que está

acontecendo?”, em até 140 caracteres. As postagens são publicadas em tempo real formando

uma lista de tweets denominada histórico.

Page 34: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

33

A lógica do Twitter é baseada no ato de seguir outros perfis. Para ler o que cada

usuário tweetar9, é necessário segui-los. Assim, quando um usuário está seguindo outro, ele

recebe em seu histórico os tweets do usuário seguido. Da mesma forma o usuário pode ter

pessoas que o seguem, os chamados seguidores. Vale ressaltar que a qualquer momento um

usuário pode deixar de seguir outro.

Diferente de muitos sites de rede social, no Twitter não é preciso que o usuário

aceite um seguidor (exceto alguns usuários que optam por bloquear seus perfis, como

explicado anteriormente), por isso, as conexões estabelecidas no serviço não são

necessariamente recíprocas. Um usuário pode seguir outro sem que este o siga. Para

exemplificar melhor o funcionamento do Twitter, observemos a seguir um recorte da página

inicial de um dos autores desse trabalho:

Figura 4 – Página inicial do Twitter de um dos autores deste trabalho. Fonte: < http://twitter.com/#!/> . Acesso em: 23 jun. 2011.

9 Também chamado de tuitar.

Page 35: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

34

É possível ver na figura 4 o espaço destinado à escrita dos tweets, após a pergunta

“O que está acontecendo?”. O histórico, logo abaixo, é a parte onde aparecem os tweets dos

perfis seguidos e do próprio usuário.

Observa-se no canto direito dessa Figura, a quantidade de mensagens publicadas

pelo titular da conta até o momento (1.019 tweets), abaixo, o trecho do último tweet postado, a

quantidade de perfis que o usuário está seguindo (430) e o número de seguidores (316). Em

seguida, percebem-se mais duas ferramentas do Twitter: “Quem seguir”, que são sugestões do

próprio serviço de usuários a serem seguidos e “Assuntos do Momento”, que funciona como

uma lista dos assuntos mais tweetados naquele momento. O usuário pode selecionar os

Assuntos do Momento do mundo, de um país, ou de algumas cidades (na Figura 4, está

selecionado Brasil). Assim, percebe-se através dessa Figura que o assunto mais comentado no

Twitter, no Brasil, naquele instante, era a conquista de um título do Santos Futebol Clube:

#santoscampeao (#ClaussenPickles é um tema promovido pelo próprio Twitter, com fins

lucrativos, não sendo necessariamente o mais comentado naquele momento).

Além disso, há duas formas de comunicação entre os usuários do Twitter:

mensagens diretas, respostas ou menções. As mensagens diretas (MD) são mensagens

privadas apenas aos usuários envolvidos. Para enviá-las, é necessário que o destinatário siga o

remetente. Entretanto, respostas ou menções são mensagens públicas, caracterizadas pelo uso

da @ (arroba) seguida pelo nome de um usuário na postagem, como no segundo tweet da

Figura a seguir:

Figura 5 – Uso de algumas ferramentas. Fonte: < http://twitter.com/>. Acesso em: 29 abr. 2011.

Na Figura 5 também percebemos um Retweet, outra ferramenta comum que

segundo a Central de ajuda do Twitter “É um Tweet enviado por um terceiro e encaminhado

Page 36: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

35

para você, por um usuário que você segue” (2011b). Assim, ao retweetar10, o usuário

compartilha com os seus seguidores o tweet postado por outro usuário. Nessa Figura, pode-se

observar um símbolo verde no canto esquerdo do tweet que foi retweetado (o de renanrop por

Daniele_SF).

Outra ferramenta do Twitter é a hashtag ou marcador, isto é, a união do símbolo #

(sustenido) a uma expressão qualquer, como em “#Rumos”, no terceiro tweet da Figura 5.

Sabe-se que “o símbolo # é usado para marcar palavras-chave ou um tópico em um Tweet. O

marcador ou hashtag foi criado pelos usuários do Twitter” (TWITTER, 2011). Além dos

usuários saberem de maneira mais fácil do que se trata o tweet, a utilização do marcador

também faz com que o termo em questão transforme-se em um link, tornando-se uma forma

de busca. Assim, se um usuário clicar em “#Rumos”, aparecerão todos os tweets escritos com

esse mesmo termo.

Nesse subtítulo, nem todos os termos e ferramentas relacionadas ao Twitter foram

descritos. Preocupamo-nos em mencionar apenas as mais relevantes para esse estudo.

3.3.1 Twitter: uma praça pública

Inicialmente a pergunta que motivava os twitteiros a escreverem em 140

caracteres era “O que você está fazendo?”. Mas, em novembro de 2009, a pergunta inicial

passou a ser “O que está acontecendo?”. A respeito dessa mudança, Biz Stone11, co-fundador

do microblog, escreveu no blog oficial do Twitter que:

Pessoas, organizações e empresas começaram rapidamente a alavancar a natureza aberta da rede para compartilhar qualquer coisa que eles queriam, ignorando completamente a pergunta original [...]. O modelo fundamentalmente aberto do Twitter criou um novo tipo de rede de informação que há muito tempo já ultrapassou o conceito de atualizações de status pessoal. O Twitter ajuda você a compartilhar e descobrir o que está acontecendo agora entre todas as coisas, pessoas e eventos que lhe interessam. “O que você está fazendo?” não é mais a pergunta certa, a partir de hoje o Twitter pergunta: “O que está acontecendo?”. Nós não esperamos que isso mude como alguém usa o Twitter [...]. (STONE, 2009, tradução nossa).

Esse fato confirma a ideia de Recuero (2009) de que as redes sociais não são

estáticas, elas são dinâmicas e sofrem constantes transformações pelos desenvolvedores da 10 Também chamado de retuitar. 11 www.twitter.com/biz

Page 37: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

36

rede e, até mesmo, pelas adaptações dos usuários. Observa-se que a pergunta do Twitter não

estava mais adequada às necessidades dos usuários do microblog, por isso houve a mudança.

Além dos próprios desenvolvedores confirmarem, estudos de Mischaud (apud ZAGO, 2010)

constataram que a maior parte dos twitteiros não responde à pergunta proposta pelo Twitter,

eles utilizam o serviço para fins diversificados e à medida que a base de usuários aumenta,

surgem novos usos.

A seguir, observa-se na página inicial do Twitter seu slogan: “siga o que mais lhe

interessa”:

Figura 6 – Página inicial, slogan do Twitter. Fonte: < http://twitter.com/>>. Acesso em: 24 jun. 2011.

Assim, o Twitter além de ser utilizado como ferramenta de comunicação entre os

“amigos”, também vem sendo amplamente usado na difusão de informações de “interesses”

diversos, como políticos, publicitários, jornalísticos. Silva completa essa ideia ao mencionar

que (2009, p. 80):

O Twitter se apresenta também como espaço para as celebridades afirmarem sua fama; para as empresas manterem contato com seus clientes e fornecedores; para os políticos conversarem com seus eleitores; para os órgãos públicos publicarem informações aos cidadãos e para as pessoas comuns se manterem em contato com todo esse universo de informação.

Page 38: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

37

Portanto, a utilização do Twitter não se restringe a registros pessoais ou a

interação entre amigos, vai além disso. O serviço possibilita a publicação de textos livres (não

direcionados a alguém), e a publicação de tweets direcionados a um público específico.

As redes sociais tradicionais têm propósitos bem definidos estabelecidos pelo

serviço, como o Orkut para relacionamentos. O Twitter, porém, não. Como já citado por

Stone anteriormente, o modelo do Twitter é “fundamentalmente aberto”, isto é, a falta de

limitações de como utilizá-lo acaba “abrindo um leque” de novas possibilidades. Dessa forma,

acredita-se que o sucesso do Twitter decorre da liberdade que os usuários têm para descobrir

novas utilidades para o serviço que não foram previstas originalmente (SPYER et al, 2009).

A maior parte das ideias expostas até o momento é englobada por esta metáfora:

“O Twitter lembra uma praça onde ambulantes, artistas, pastores e transeuntes se encontram e

se misturam.” (Ibid., p.80). E nessa praça pública, queremos dar destaque aos artistas,

especificamente aos escritores. Dentre as várias utilizações do Twitter, a mais relevante para o

nosso estudo é a possibilidade de publicação literária por meio desse serviço.

A seguir uma criativa definição do Twitter:

Figura 7 – Definição do Twitter de Marcelo Tas. Fonte: <http://twitter.com/#!/VideosdoTas/statuses/25454018546 /> . Acesso em: 24 jun. 2011.

Page 39: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

38

O "Jornalista, comunicador e extra-terrestre" Marcelo Tas12 tweetou essa inusitada

definição do Twitter (o tweet da Figura 7 foi publicado por fãs do autor13) que nos faz refletir

sobre os artistas, podemos supor os escritores, que “cutucam as mentes e corações” dos

leitores twitteiros.

Tendo em mente os aspectos de Literatura e Twitter abordados até o momento,

entraremos no mundo da Twitteratura, no qual - aproveitando a fala de Marcelo Tas - “Em

140 toques ou menos, a imaginação é o limite”.

12 www.twitter.com/MarceloTas 13 www.twitter.com/VideosdoTas

Page 40: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

39

4 TWITTERATURA

4.1 CONCEITUAÇÃO

Até o momento abordamos alguns aspectos da Literatura e do Twitter

isoladamente. Neste capítulo, far-se-á uma aproximação de ambos para conceituar o que

chamamos de Twitteratura14.

Esse termo foi usado pela primeira vez pelos estudantes Alexander Aciman e

Emmett Rensin, que publicaram no Twitter adaptações de obras clássicas da literatura

mundial em 140 caracteres. Posteriormente, os tweets dos norteamericanos foram reunidos no

livro Twitterature: The World's Greatest Books Retold Through Twitter, em português

“Twitteratura: os melhores livros do mundo recontados pelo Twitter”, lançado em 2009.

Os autores fazem paródias de grandes clássicos, como Jane Austen, Shakespeare,

Homero, Ernest Hemingway, em tweets inusitados. Como este de Hamlet: “Por que, Cláudio,

está me dizendo o que fazer, de novo? Você não é meu verdadeiro pai! Na verdade você

matou meu verdadeiro pai...” (ACIMAN; RENSIN, tradução nossa). A seguir a capa

estadunidense do livro:

Figura 8 – Capa do livro Twitterature Fonte: < http://www.twitterature.us/us/index.htm/> . Acesso em: 14 maio 2011.

14 Também chamada de Tuiteratura.

Page 41: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

40

Observando a Figura 8, percebe-se que para Aciman e Rensin Twitteratura seria a

“aglutinação de ‘twitter’ e ‘literatura’, releituras bem humoradas de clássicos da literatura

para o pensamento do século XXI, em porções digestíveis de 20 tweets ou menos.” (tradução

nossa).

Ainda que conceituemos a Twitteratura como a união dos termos Twitter e

Literatura conforme Aciman e Rensin, o conceito de Twitteratura proposto nesse trabalho é

distinto, por ser mais abrangente. Consideramos Twitteratura todos os textos literários

publicados no Twitter. Ou seja, não apenas adaptações ou recriações de obras clássicas, mas

toda e qualquer arte literária que ocorra na twittosfera15.

Como ressaltamos no capítulo anterior, o Twitter registrou um grande aumento de

usuários no Brasil nos últimos anos, expandindo as potencialidades da ferramenta. Segundo

Cordeiro e Campos (2010, p. 9-10), o Twitter é:

um verdadeiro fenômeno digital, que virou mania, compulsão mesmo, de muitos internautas, que, além de divulgação de links e frases, iniciaram, no resumido espaço de 140 dígitos (ou toques) a divulgação de frases e versos que revelavam visível valor literário [...] Constitui um verdadeiro desafio, pois é necessário amalgamar concisão, originalidade e beleza, a exemplo de consagradas formas literárias como a milenar Haikai.

Mesmo sendo uma ótima ferramenta para publicação dessas obras concisas, o

Twitter não é um bom suporte para registro de textos. Não é possível, por exemplo, organizá-

los por categorias: a ordem é sempre do mais recente ao mais antigo. E pior, é difícil

encontrar tweets antigos, durante a busca só são exibidas as mensagens das últimas semanas

ou meses, e o microblog apaga as mensagens muito antigas. Além disso, qualquer usuário

pode deletar seus próprios tweets.

Sendo assim, a Twitteratura não se constitui de um acervo de textos, ela é um

fluxo de obras literárias para serem lidas no momento da publicação. É possível lê-las depois,

porém a falta de possibilidade de organização e de uma busca simples e eficiente desestimula

essa prática. Por isso, algumas antologias de tweets são formuladas no bom e velho formato

de livro, para que nada seja perdido. Alguns autores também usam os blogs para registrarem

seus textos.

Deste modo, nos próximos subtítulos, nós trataremos dos autores, leitores, obras e

gêneros presentes na Twitteratura. No entanto, deve-se levar em consideração que esse

15 Também chamada de tuitosfera.

Page 42: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

41

trabalho não almeja abordar toda a Twitteratura brasileira. Essa tarefa, aliás, seria impossível,

pois lidamos com uma rede social que está em constante transformação: a cada momento há

um novo tweet literário, surgem novas iniciativas, novos gêneros, autores. Em contrapartida

tweets são apagados, ou não vistos, escritores esquecidos ou nunca conhecidos.

4.2 ASPECTOS DA TWITTERATURA

Pode-se equivocadamente pensar que, por não ser uma boa plataforma para

registro de textos, a Twitteratura não é digna de um estudo acadêmico. Entretanto, a

efemeridade também é característica de um gênero consolidado na Literatura: a crônica.

A Twitteratura e a crônica são escritas para serem lidas no momento de sua

publicação: a crônica tende a ser lida no mesmo dia, pois o jornal é geralmente publicado

diariamente; no caso da Twitteratura, para ser lida naquele momento, pois em pouco tempo

novos tweets ocuparão aquele espaço. Por isso, muitas antologias de tweets são organizadas,

assim como acontece com a crônica.

Deste modo, segundo Sá (2001, p.10), a crônica quando publicada em um jornal,

dirige-se “inicialmente a leitores apressados, quem lêem nos pequenos intervalos da luta

diária, no transporte ou no raro momento de trégua que a televisão lhes permite.” O leitor da

Twitteratura não é apressado, é apressadíssimo, ele pode ler os tweets literários em qualquer

lugar em seu computador portátil ou em seu celular, em meio à imensidão de notícias que são

publicadas na rede social, assim como a crônica vem em meio às notícias do jornal.

O espaço limitado imposto pelo Twitter também não é uma novidade, os folhetins

e as crônicas também têm seu espaço delimitado no jornal:

uma vez que a página comporta várias matérias, o que impõe a cada uma delas um número restrito de laudas, obrigando o redator a explorar da maneira mais econômica possível o pequeno espaço de que dispõe. É dessa economia que nasce sua riqueza estrutural. (SÁ, 2001, p. 8).

“O pequeno espaço” que dispõe um cronista tradicional é de geralmente uma

página, espaço que é muito menor no Twitter, ou seja, a “maneira mais econômica possível”

que um cronista tem de explorar, há de ser muito mais econômica no microblog. A habilidade

de concisão deixa de ser um diferencial e passa ser obrigação. E essa opção por textos curtos

Page 43: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

42

não é apenas do leitor e sua pressa, cada vez mais escritores aderem à literatura curta.

Vejamos como Henry Alfred Bugalho16 trata esse tema dentro de um de seus microcontos:

Poder de síntese Antes, escrevia 200 páginas sem pestanejar; hoje, se chega a 200 caracteres já começa a ter dores-de-cabeça. (BUGALHO, 2009a, p.25).

Pode-se ter duas interpretações do seguinte trecho desse microconto: “se chega a

200 caracteres já começa a ter dores-de-cabeça.” Na primeira, a personagem começa a ter

dores-de-cabeça por estar escrevendo muito, chegar a 200 caracteres seria cansativo. Na

segunda interpretação possível, a personagem estaria com dores-de-cabeça por chegar a 200

caracteres, ultrapassando o limite do Twitter, tendo que reformular a ideia para que caiba nos

140 caracteres máximos da rede social.

O autor tem de lidar com essa limitação de espaço, precisando às vezes mudar

uma palavra ou descartar uma ideia por não caber em 140 caracteres. Há um escritor que

levou a limitação ao extremo. Edson Rossatto17 publica todos os dias em seu Twitter um

nanoconto de 100 caracteres. Não se tratam de histórias de até 100 caracteres, mas com exatos

cem caracteres: “Cem Toques Cravados”, como o próprio autor intitula seu trabalho.

Mas como o autor sintetiza uma ideia em cem toques exatos? Vejamos um

nanoconto do autor, que não está com 100 caracteres:

Micro-ondas “Queimou, e minhas meias continuam molhadas.” (ROSSATTO, 2010).

O nanoconto tem 56 caracteres. Observa-se que Rossatto sintetizou a ideia o

máximo possível, deixando o leitor completar os sentidos da história, como Hemingway

explica em sua teoria do iceberg. Contudo, o autor aproveitou a ideia para seu Twitter

@cemtoques18. Comparemos as versões:

16 www.twitter.com/henrybugalho 17 www.twitter.com/edsonrossatto e www.twitter.com/cemtoques 18 www.twitter.com/cemtoques

Page 44: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

43

Figura 9 – Nanoconto “Micro-ondas” em cem toques cravados. Fonte:< http://twitter.com/#!/cemtoques/status/63217888189882368> . Acesso em: 30 mai. 2011.

Nota-se que na segunda versão, em cem toques cravados, o autor dá mais

informações sobre a história, diminuindo o trabalho do leitor em completar os significados.

Rossatto incluiu várias palavras “desnecessárias” para que o texto ficasse em 100 caracteres; o

texto deixou de ser em primeira pessoa e se tornou um diálogo; o autor trocou uma palavra-

chave do texto (molhadas) por outra semelhante (úmidas), por ter dois caracteres a menos.

Quando a qualidade deixa de ser prioridade para que o texto se encaixe em suas

limitações, é a forma se sobrepondo ao conteúdo. Essa é uma característica de todos os textos

da Twitteratura, embora no caso de Rossatto aconteça de uma maneira mais extrema. Porém,

a forma sobre o conteúdo não é uma característica exclusiva da Twitteratura, pois quantos

autores canônicos não tiveram de alterar suas ideias para que seu texto se encaixasse na

métrica, na rima, no ritmo, na quantidade de versos do soneto ou ainda no tamanho da página

do folhetim? No entanto, essa característica não representa uma má qualidade dos textos,

como podemos observar na afirmação de Sá sobre o curto espaço da crônica: “É dessa

economia que nasce sua riqueza estrutural.” (2001, p. 8).

Mesmo com essa quantidade limitada de espaço para os autores da Twitteratura,

observamos que estes não utilizam abreviações em suas obras, ainda que na internet essa seja

uma prática comum. Há alguns casos isolados em que o escritor opta pelas abreviações do

internetês e em outros casos até ocorrem abreviações, mas que se tratam de uma representação

da linguagem informal, como neste trecho do livro @re_vira_volta, um romance publicado

primeiramente no Twitter:

Page 45: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

44

Tá perdido? Ei, parece que tá dormindo um sono profundo. E esses espasmos, o que eles significam? (LEMOS, 2010, p. 33).

O uso do “tá” já é comum no âmbito literário fora do Twitter em textos mais

informais. Além disso, podemos verificar que a palavra “que” não é abreviada pelo autor

(“q”), forma muito frequente na internet. A esse respeito:

Seabra vê na limitação de espaço um incentivo à criatividade, embora desaprove o uso de abreviações. Para ele, usar "vc” em vez de "você” pode ser válido no processo de comunicação, mas condenável na tuiteratura. (MURANO,2010, p.43).

Além do internetês, também é comum na Web e nas redes sociais a presença de

imagens, músicas e vídeos, juntamente com os textos. Todavia a Twitteratura é composta

exclusivamente pela linguagem verbal, o que, segundo Camila Franco Monteiro, explica a

adesão de escritores ao Twitter:

Diferentemente de outras redes sociais, como o YouTube, de blogs e da televisão, que estimulam uma linguagem menos verbal e mais imagética, o twitter é essencialmente uma linguagem escrita que abre espaço para a criação literária propriamente dita. (SPATUZZA, 2011, p. 26-7).

Mesmo sendo unicamente verbal, o Twitter não dispõe de algumas ferramentas de

edição de texto, como mudar fonte, cor e tamanho da letra, ou até mesmo pular uma linha.

Vejamos o poema de Sérgio Bernardo19:

CICLO - O menino come terra / depois / a fome de sempre / e a terra come o menino (CORDEIRO; CAMPOS, 2010, p. 197).

Pode-se observar que o autor usa a barra para indicar que o trecho seguinte seria

uma linha abaixo, se publicado em outra plataforma. O título “CICLO” está em caixa alta,

pois não há como centralizar palavras, nem como as colocar em negrito ou itálico. Esses são

alguns recursos que os autores utilizam para vencer essas limitações, no entanto alguns

escritores não colocam título. Para demonstrar que se trata de um verso novo utilizam letra

maiúscula (mesmo quando não há ponto final) ou apenas usam a pontuação para marcar o

ritmo, como neste poema de Fernando José Ribeiro Júnior20:

19 www.twitter.com/Sempoesianaoda 20 www.twitter.com/FernandoPlan

Page 46: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

45

O corpo descansa apodrecendo, O mundo girando ainda se move. As flores em volta vão crescendo, Deixando que a vida se renove. (Ibid., p. 105)

A ausência de título em algumas obras da Twitteratura não indica necessariamente

um recurso para que o texto caiba em 140 caracteres. Para comprovar, vejamos o haicai

abaixo de Carlos Seabra21, que assim como muitos haicais de Leminski, não tem título:

No despenhadeiro / a sombra da pedra / cai primeiro. (CORDEIRO; CAMPOS, 2010, p. 21).

Esse texto contém apenas 52 caracteres, ou seja, sobraram 88 caracteres para que

o autor incluísse um título, o que ele optou por não fazer.

Sendo assim, como características do próprio Twitter, as opções para a construção

do texto são democráticas e variadas, ficando a cargo do escritor escolher as mais eficientes

para que o leitor melhor entenda seu texto. Essa relação entre leitores e escritores será

discutida detalhadamente na seção seguinte.

4.3 ESCRITORES E LEITORES

Como mencionado no terceiro capítulo, o Twitter só existe em função dos

usuários que estabelecem conexões de troca, consequentemente, só há Twitteratura em função

da interação de escritores e leitores. Portanto, neste subtítulo tentaremos descrever um perfil

geral de escritores e leitores brasileiros de Twitteratura.

Pesquisas demonstram que a maior parte dos usuários brasileiros do Twitter são

jovens que vivem no mundo da internet, eles conhecem e utilizam as ferramentas da web:

As pessoas que aderiram ao Twitter são predominantemente usuários avançados da web, 59% possui blogs, passa em média 46 horas por semana acessando a rede. É um público jovem, 65% entre 21 e 30 anos, e qualificado: 80% está estudando, tem diploma universitário ou pós. (SPYER et al, 2009, p. 90).

Se o público do Twitter é predominantemente jovem, podemos considerar que os

leitores e escritores da Twitteratura também o são. “Marcelino Freire acredita no potencial do

21 www.twitter.com/cseabra

Page 47: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

46

Twitter para difundir a literatura e estimular a escrita literária entre os usuários,

principalmente entre os mais jovens.” (SPATUZZA, 2011, p. 26).

Percebe-se também que os leitores do século XXI vivem em ritmo acelerado:

“O sujeito moderno não pode perder tempo, que tem sempre de aproveitar o tempo [...] que

tem de seguir o passo veloz do que se passa, [...] e por essa obsessão por seguir o curso

acelerado do tempo, este sujeito já não tem tempo.” (LAROSSA, 2002, p. 23). E por ser curta,

ser lida em alta velocidade e ocupar pouco tempo, a Twitteratura se adapta perfeitamente a

vida cotidiana desses leitores.

A esse respeito, Rossatto (2010, p.10) brinca com seus leitores no prefácio de um

de seus livros: “Divirta-se! E nunca mais diga que não tem tempo para ler. Com textos tão

curtos, isso já é desculpa do passado...”

Além de terem uma rotina acelerada, os leitores modernos convivem com várias

informações. O próprio Twitter é utilizado para diversos fins, como fonte de notícias,

entretenimento, relacionamento, e não apenas literário. Semelhante ao jornal, o Twitter

oferece muitas informações, trata de vários assuntos e a literatura ocupa uma parcela do que é

publicado no microblog.

Mas como os leitores encontram a Twitteratura nesse fluxo de informações

variadas? Comparemos novamente com a crônica que se encontra no jornal. O leitor

interessado em lê-la pode ir direto a sua página, pulando as outras seções (política, economia,

entretenimento etc.) ou ler todo o jornal, inclusive a crônica, assim como o leitor da

Twitteratura pode optar por seguir apenas perfis literários ou mesclá-los com outros

interesses.

Observamos que muitos usuários leitores não só seguem escritores e perfis que

abordam aspectos literários, como também se utilizam de hashtags. Encontramos as hashtags

literárias: #microconto, #miniconto, #curtaconto, #poesia, #poema, #poeminuto, #haikai,

#haicai, #haiku, #literatura, #letras365.

Dentre essas, a hashtags #letras365, criada por Giselle Zamboni22 em 2011,

ganhou destaque na twittosfera: cerca de 200 tweets por dia são publicados com ela.

Observamos que essa hashtag promove a interação de escritores, leitores e colaboradores,

sendo utilizada para citar criações próprias ou não (poemas, microcontos, trecho de obras),

compartilhar notícias importantes do mundo das letras, tais como concursos, festas literárias,

feiras, artigos e até dar dicas de livros, blogs, sites.

22 www.twitter.com/gisellezamboni

Page 48: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

47

Além disso, ocorreu no dia 11 de junho de 2011, o I Sarau Literário via Twitter,

organizado por Renan Osvaldo Pacheco23, Daniele Souza Freitas24 (ambos autores desse

trabalho) em parceria com Giselle Zamboni. O evento foi criado para reunir escritores e

leitores da Twitteratura, um momento com hora marcada, das 19h às 21h, para divulgar e

apreciar criações literárias de 140 caracteres. Para participar do sarau, bastava publicar um

tweet com a hashtag #sarauletras365, retweetar ou comentar outro durante o horário

estabelecido.

Tendo o sarau como base, podemos ter uma ideia de quantas pessoas utilizam o

Twitter para a Literatura, pois foi registrada a participação de 324 perfis de Twitter,

distribuídos entre 24 estados brasileiros e o Distrito Federal, mais dois participantes que

tweetaram do exterior. Durante o sarau, foram postados 2316 tweets literários, excluindo os

comentários e os retweets. O evento ficou nos Assuntos do Momento (também chamado de

Tópicos de Tendência, no canto direito da Figura 10) do Brasil praticamente do começo ao

fim. Na imagem a seguir, observamos a hashtag #sarauletras365 em terceiro25 lugar:

Figura 10- I Sarau Literário via Twitter nos Assuntos do Momento. Disponível em: < http://bit.ly/iuvGML > Acesso em : 11 jun. 2011.

Contudo a interatividade não ocorre somente com o uso de hashtags e em saraus

literários via Twitter, ela é uma das principais marcas do microblog. Foi-se o tempo em que

23 www.twitter.com/renanrop 24 www.twitter.com/Daniele_SF 25 O tópico “#PinkisFreedom” é promovido pelo Twitter, ou seja, não significa que ele é o assunto mais

comentado naquele momento.

Page 49: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

48

só se conhecia o escritor pela foto acompanhada de uma breve biografia na orelha do livro,

como afirma Samir Mesquita numa entrevista para o programa entrelinhas (2009). O Twitter

aproxima os escritores de seus leitores e estimula o diálogo. Um leitor pode seguir um escritor

e descobrir suas preferências, algumas curiosidades de sua vida, pode também se comunicar

com ele através de mensagens diretas ou menções.

Nesse âmbito, vale ressaltar a democratização da literatura. No Twitter, que é um

serviço totalmente gratuito, os leitores têm grande acessibilidade aos textos literários. Basta

seguir um escritor e seus textos e, à medida que forem publicados, aparecerão

automaticamente no histórico do leitor.

Outro aspecto interessante da Twitteratura é que, algumas vezes, não há distinção

entre leitores e escritores. Um indivíduo pode exercer os dois papéis simultaneamente,

publicando seus textos e também lendo os de outros usuários. Essa característica é fruto da

democratização criada pelo Twitter.

O serviço possibilita que qualquer indivíduo compartilhe seus textos literários

com outras pessoas, isso sem nenhum custo, prejuízo, restrição ou curadoria. Freire confirma

essa ideia ao afirmar que “o twitter é lúdico e significa que hoje você não precisa de

mediadores para a sua produção, não precisa de alguém que classifique como escritor”

(SPATUZZA, 2011, p. 26).

Então muitos escritores amadores ou profissionais aproveitam esse espaço de 140

caracteres para propagar suas criações literárias. Alguns escritores profissionais como Millôr

Fernandes26 e Marcelino Freire27 já escreviam de maneira sucinta e apenas aderiram ao

Twitter. Outros como Fabrício Carpinejar28 e Edson Rossatto passaram a publicar textos

curtos ao ingressarem no Twitter, adequando sua escrita aos 140 caracteres permitidos.

Entretanto deve-se fazer uma diferenciação entre os escritores que realmente

publicam seus textos no Twitter e os que utilizam o serviço para divulgação de seus livros,

promoção pessoal entre outros fins. Nesse trabalho buscamos caracterizar os escritores da

Twitteratura como os usuários que utilizam os 140 caracteres para criação literária, não

importando se o autor é amador ou profissional.

26 www.twitter.com/millorfernandes 27 www.twitter.com/MarcelinoFreire 28www.twitter.com/CARPINEJAR

Page 50: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

49

4.4 GENÊROS TEXTUAIS NO TWITTTER

Alguns aspectos da Twitteratura não se aplicam a todos os textos e merecem ser

abordados separadamente. Poesias e contos, por exemplo, tem características diferentes.

Levando isso em consideração, faremos uma abordagem de alguns gêneros textuais presentes

no Twitter.

Gênero textual refere os textos materializados em situações comunicativas recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na interação de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. (MARCUSCHI, 2008, p. 155)

Além de compreender o gênero como texto concreto, situado histórico e

socialmente, que serve de instrumento comunicativo como forma de ação social, Marcuschi

(2002) ressalta que eles são inúmeros, sendo impossível uma classificação completa de todos

os gêneros textuais existentes. Os gêneros também não são estanques, mas sim mutáveis:

São de difícil definição formal, devendo ser contemplados em seus usos e condicionamentos sócio-pragmáticos caracterizados como práticas sócio-discursivas. Quase inúmeros em diversidade de formas, obtêm denominações nem sempre unívocas e, assim como surgem, podem desaparecer. (MARCUSCHI, 2002, p. 20)

Ressalta-se, no presente trabalho, que não há pretensão de estabelecermos

nomenclaturas fixas aos textos abordados. Até porque, segundo o autor, os gêneros textuais

“são de difícil definição formal”.

Nas últimas décadas, com o desenvolvimento de grandes suportes tecnológicos da

comunicação, tal como a internet, surgiram formas discursivas novas, criaram-se novos

gêneros textuais. Contudo “Seguramente, esses novos gêneros não são inovações absolutas,

sem uma ancoragem em outros gêneros já existentes. [...] A tecnologia favorece o surgimento

de formas inovadoras, mas não absolutamente novas.” (MARCUSCHI, 2002, p. 20).

Assim, pode-se dizer que alguns gêneros já existentes, como o microconto,

transformaram-se com o advento da internet e especificamente do Twitter, mudando certas

características, porém não sua essência.

Uma dessas características é o suporte. Enquanto no passado os microcontos eram

publicados apenas em papel impresso e talvez não chegassem às mãos de muitos leitores

Page 51: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

50

(apenas receptivos), hoje eles podem ser publicados no Twitter e ganhar inúmeros leitores

interativos. Segundo Marcuschi (2002, p. 21) “haverá casos em que será o próprio suporte ou

o ambiente em que os textos aparecem que derterminam o gênero presente.”

Percebe-se então que não haverá Twitteratura fora do Twitter, pois o suporte desse

microblog traz novas características aos textos que circulam nesse âmbito. Entre os gêneros

textuais presentes no Twitter, destacaremos os que tenham caráter literário, abordando-os

separadamente nos próximos subtítulos.

4.4.1 Poeminuto, haicai e aforismo

Os gêneros que circulam no Twitter são semelhantes aos que circulam fora do

Twitter, desde que o texto ou parte dele caiba em 140 caracteres. Brito, no prefácio do livro

de Oswald de Andrade, chama os textos deste de poemas-minuto, micropoemas, ou

minipoemas (ANDRADE, 1971). Na Twitteratura, os usuários têm usado uma aglutinação do

primeiro termo: “poeminuto”, provavelmente por “gastar” menos caracteres. Vejamos este

tweet de André Luís Gabriel:

Figura 11 – Poeminuto de André Luís Gabriel Disponível em: http://twitter.com/#!/gabriel_andre/status/78053049070915584 Acesso em : 14 jun. 2011

Page 52: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

51

O próprio autor classifica seu texto de “poeminuto”, utilizando uma hashtag para

marcá-lo. Deste modo, quem fizer uma busca por “poeminuto” no Twitter, encontrará o texto

acima. Pode-se observar na obra outras características dos poemas, como a rima, a divisão por

versos - demarcada pelas barras - e a presença do lúdico no trecho “(p)alma”, que, com uma

letra em parênteses, transforma-se em duas palavras: “palma” e “alma”.

Assim como na Literatura fora do microblog, na Twitteratura há também poemas

sem rima, métrica, título. Lembrando que no Pós-Modernismo, período que vivenciamos, não

há a predominância de nenhum estilo ou corrente: todos os recursos estão disponíveis para o

autor utilizar em seus textos.

O texto a seguir não é dividido em versos, nem tem título ou rima e até contém

duas ações, o que caracterizaria uma narrativa. No entanto, o lirismo é tão forte que o tweet

pode ser chamado também de poeminuto:

Figura 12 - Poeminuto de Denison Mendes Disponível em: http://twitter.com/#!/denisonmendes/status/79690882147815424 Acesso em: 16 jun. 2011

Page 53: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

52

É interessante lembrar que, assim como o texto de Denison Mendes29, a obra de

Oswald de Andrade tinha esta característica: a mistura de elementos narrativos aos poemas.

Percebe-se que o autor não usou uma hashtag para marcar seu poema quanto ao gênero, há

apenas a hashtag do I Sarau Literário via Twitter, “#SarauLetras365”, pois esse poeminuto

foi publicado durante esse evento.

No caso dos poemas, há obras de todos os tamanhos no universo literário, embora

na Twitteratura só possam ser publicados textos de até 140 caracteres. Ao contrário dos

haicais, que não alteram suas características ao serem publicados no Twitter, pois o gênero já

tem como característica original a concisão. Há no Twitter haicais poéticos e reflexivos como

os de Leminski, até haicais de humor e ironia como os de Millôr. Aliás, o autor Millôr

Fernandes tem uma conta no Twitter, na qual publica seus textos, como este:

Figura 13 - Haicai de Millôr Fernandes Disponível em: http://twitter.com/#!/millorfernandes/status/16494422993 Acesso em: 16 jun. 2011

No haicai acima, não há a métrica original desse gênero, mas há a presença da

rima. Millôr Fernandes também utiliza uma hashtag, “#haicai”, para marcar seu texto. Pode-

29 www.twitter.com/denisonmendes

Page 54: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

53

se observar também a popularidade do autor: 62 pessoas retweetaram o texto, ou seja,

dezenas de pessoas quiseram compartilhar com seus seguidores a obra lida.

Millôr Fernandes e outros autores de haicais encontraram no Twitter uma perfeita

plataforma para a publicação desse gênero. Autores que não são muito conhecidos também

publicam seus haicais no microblog, como fez Sônia Maria Carriel Brandão30:

De tanto olhar o ninho / nos meus olhos / nasceram pássaros. (CORDEIRO; CAMPOS, 2010, p.37).

No haicai de Brandão não há métrica nem rima, ilustrando o quanto as

características de um gênero são flexíveis, tendo em vista a forma original do haicai.

Entre os poemas e microcontos, há outro gênero que está presente na Twitteratura,

o aforismo. De acordo com o dicionário Aurélio, aforismo é uma: “Sentença moral breve e

conceituosa” (FERREIRA, 2008, p.100). Na Twitteratura, os aforismos funcionam como

frases poéticas, filosóficas e/ou bem humoradas dos mais variados assuntos.

O escritor Fabrício Carpinejar se destaca nesse gênero. Ele já era escritor antes do

Twitter, mas não era adepto da literatura curta, nem se interessava em participar da rede

social. Porém, o autor mudou de ideia. Carpinejar afirma (2009, p. 8): “Percebi que 140

caracteres são o suficiente para sangrar”.

O autor declara que um tweet é o bastante para sangrar, contudo ele explora os

mais variados temas, fazendo o leitor se encantar, refletir ou simplesmente rir. Vejamos um

texto do autor:

Quem confessa os erros não significa que está arrependido, pode estar se antecipando à crítica. (2009, p.11).

No prefácio de sua antologia de tweets, Carpinejar explica porque ele se adequou

ao Twitter (2009, p. 8): “Podia explorar as frases de efeito, bagunçar as veias [...]. Consistia

numa chance de exercitar a densidade, a sentença filosófica, o provérbio, a rasteira, o

relâmpago.”

Essa densidade, sentença filosófica, pode ser vista no tweet a seguir, pois o autor

“dá uma rasteira” em quem acha que está fazendo bem, quando assume que seu amor é

verdadeiro:

30 www.twitter.com/smcbrandao

Page 55: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

54

Amor verdadeiro é redundância. Ou é amor ou é nada. (CARPINEJAR, 2009, p. 18)

Outro traço marcante dos aforismos de Carpinejar é revelar um pensamento ou

condição humanos que ninguém quer expor:

Tarado é todo homem que decidiu falar a verdade. (2009, p. 39)

Com esse estilo irreverente de texto, Carpinejar conquistou seu espaço no Twitter

e se tornou um dos escritores brasileiros mais populares da rede social: ele tem mais de 109

mil seguidores no microblog. Comprovemos a popularidade do autor, observando o número

de retweets que recebeu o texto a seguir:

Figura 14 – Aforismo de Carpinejar Disponível em: http://twitter.com/#!/CARPINEJAR/status/82202521195651072 Acesso em 20 jun. 2011

O Twitter só conta os retweets até 100, ou seja, o texto acima foi retweetado por

mais de 100 usuários do microblog, o que comprova o quão popular é Carpinejar. Entretanto,

Page 56: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

55

o escritor gaúcho não é o único autor de aforismos na Twitteratura, vejamos este tweet do

escritor Marcelo Melo Soriano31:

Figura 15- Aforismo de Marcelo Soriano Disponível em: http://twitter.com/#!/euHOJE/status/79698267746742272 Acesso em 20 jun. 2011

O aforismo de Soriano é mais um exemplo de texto que foi publicado no

#SarauLetras365. Escrito por Carpinejar, Soriano ou qualquer outro autor da Twitteratura,

muitas vezes poeminuto, aforismo e microconto se misturam. O texto abaixo apresenta uma

sequência de acontecimentos, ou seja, uma narrativa, porém ela tem um caráter irreverente e

reflexivo, típicos dos aforismos do autor:

De tanto roubar cigarros uns dos outros, os fumantes finalmente foram pegos. Condenados a prisão domiciliar. (CARPINEJAR, 2009, p. 43)

Mesmo com essa mistura dos gêneros, decidimos abordar os microcontos

separadamente, por apresentar algumas características peculiares. Desta forma, no subtítulo

seguinte, discorreremos sobre as narrativas escritas no limite dos 140 caracteres.

31 www.twitter.com/euHOJE ou www.twitter.com/euFRASE

Page 57: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

56

4.4.2 Microconto

As narrativas de até 140 caracteres ocupam uma grande parcela do que é

publicado na Twitteratura. Assim como acontece com os haicais, os autores de microcontos

encontram no Twitter uma perfeita plataforma para publicação de seus textos, e há, ainda,

alguns casos em que o escritor passou a escrever nanocontos influenciado pelo Twitter.

Histórias em até 140 caracteres são publicadas diariamente no microblog.

Os twitteiros exploram diferentes temas e estilos em seus microcontos, todavia o

humor é uma característica presente em muitos dos nanocontos da Twitteratura. No conto a

seguir de Erik Kurkowski Weber32, o autor explora as palavras “futuro/pretérito” em situações

distintas, para dar ao texto um caráter humorístico:

Nunca se sabe o futuro; mas se sabe menos ainda o pretérito perfeito do subjuntivo. (BUGALHO, 2009a, p.10)

Além do humor, muitos microcontos da Twitteratura exploram o ludismo,

vejamos esta obra de Carlos Emílio Faraco33:

Quando sentiu que podia ser livre, leve e solto o chão estava quase chegan... (GOLDFARB, 2010, p.28)

A supressão das duas últimas letras da palavra “chegando” representam que a

personagem chegou ao chão. Aliás, o tema suicídio, mais especificamente os casos em que se

pula de um lugar alto, é comum na Twitteratura, talvez por representar um instante rápido,

que seja adequado para se narrar num microconto. Vejamos outro exemplo, de Paulo Fodra34:

Observava admirada as janelinhas passando depressa. Que lindo! Devia ter se jogado de um prédio mais alto... (GOLDFARB, 2010, p.19, 2010)

O lúdico e o humor são usados para abordar assuntos cotidianos, um caso de

suicídio ou até mesmo uma crítica social. Observemos como Wilson Gorj35 aborda a situação

dos moradores de rua:

32 www.twitter.com/asdecopas2000 33 www.twitter.com/carlosemilio 34 www.twitter.com/paulofodra 35 www.twitter.com/wgorj

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57

DIÁLOGO SOB UM VIADUTO| _ Que papelão, hein, filha?! / Desculpa, mãe. Foi o único que encontrei no lixo. (GOLDFARB, 2010, p.17)

Gorj optou pelo humor e pela ambiguidade da palavra “papelão” para fazer uma

crítica social, porém os textos humorísticos não são os únicos a circularem na Twitteratura.

Samir Mesquita36 aborda a solidão e a morte neste conto sem traços humorísticos:

Figura 16- Microconto de Samir Mesquita. Disponível em: http://twitter.com/#!/samirmesquita/status/38277073176887296 Acesso em: 15 jun.2011.

Mesmo havendo diversidade nos microcontos, nem todos os estilos podem ser

adaptados à narrativa curta, Tiago Moralles37 trata disso em um de seus microcontos:

Nunca dava tempo de assustar ninguém com os microcontos de terror. (GOLDFARB, 2010, p. 16)

Há autores que conseguem criar um pouco de suspense em seus microcontos, mas

não o suficiente para “assustar” alguém, como num conto de terror tradicional.

Característica muito importante na construção de microcontos, a intertextualidade

está presente em muitos textos, não importando o tema ou o estilo, se o autor incluir outros

36 www.twitter.com/samirmesquita 37 www.twitter.com/tfmoralles

Page 59: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

58

textos junto ao seu, sua obra vai muito além dos 140 caracteres possíveis. Fábio Coelho38

trouxe para um de seus textos, uma cantiga infantil, transformando-a numa narrativa:

O homem bateu na porta e ela abriu. Eram vários senhores e senhoras, pulando de um pé só e pondo a mão no chão. (BUGALHO, 2009a, p.19)

Esses microcontos apresentados são publicados no Twitter pelos autores sem hora

marcada ou periodicidade definida, exceto em alguns casos como no de Edson Rossatto que

publica um nanoconto em cem toques cravados todo dia, ou no caso do I Sarau Literário via

Twitter. Marcelino Freire, organizador da antologia Os Cem Menores Contos Brasileiros do

Século, já escrevia microcontos antes do Twitter, e propôs-se um desafio: publicar no

microblog 1001 “contos nanicos”, como o autor os chama, para depois publicar numa

antologia. Vejamos o 153º conto nanico do autor:

Figura 17- Conto nanico 153 de Marcelino Freire Disponível em: http://twitter.com/#!/MarcelinoFreire/status/27836702269636608 Acesso em 08 jun. 2011

Marcelino Freire, em poucos caracteres, consegue dar uma reviravolta no final da

história. O filho revelando à mãe sua homossexualidade já seria um conflito interessante para

ser tratado num microconto, contudo Freire vai além, adicionando à história um caso de

38 www.twitter.com/fabioccoelho

Page 60: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

59

incesto. Outro detalhe interessante é o número de pessoas que retweetaram o nanoconto de

Freire: 21 pessoas. Esses twitteiros quiseram compartilhar com seus seguidores o que leram,

ilustrando o alcance da Twitteratura e o retorno que o autor recebe instantaneamente de seus

leitores.

Pode-se concluir a partir dessa abordagem que os temas e estilos dos microcontos

da Twitteratura são variados, assim como são variados nos contos tradicionais. O que muda é

seu tamanho e plataforma de publicação, o que não significa menos intensidade.

4.4.3 Prosa além de 140 caracteres

Os microcontos e poemas apresentados nos subtítulos anteriores tinham seu início

e fim dentro dos 140 caracteres de um tweet. Entretanto, na Twitteratura, também existem

produções literárias que ultrapassam os 140 caracteres, sendo compostas de vários tweets. É o

caso de adaptações de romances já publicados, ou até de criações de romances e histórias

coletivas no Twitter.

A primeira iniciativa brasileira de adaptação de um livro publicado em meio

impresso ocorreu em 2009, e foi feita pelo próprio autor da obra Santos Dumont número 8,

Cláudio Soares39, que no site de seu projeto explica:

O que eu estou fazendo? Twitterizando um romance [...] Twitterização [de "twitterization"] é o termo que está sendo usado nos EUA para indicar a serialização de textos maiores, como um romance, por exemplo, através do Twitter. [...] A adaptação de um romance para uma rede social, como o Twitter, deveria considerar os recursos próprios desse meio. Não se trata aqui de um mero copiar-e-colar de pequenos trechos de 140 caracteres e (depois de mais de 6000 tweets) terminar a história.

Em seu projeto de adaptação do romance para o Twitter, Cláudio Soares

“considerou os recursos desse meio”. A história é recontada através de oito perfis fictícios40

de personagens que faziam parte do livro original, sendo um deles, o @sd8, a espinha dorsal

do projeto que organiza a história. Dessa forma a narrativa torna-se interativa e fragmentada

39 www.twitter.com/cssoares 40 www.twitter.com/sd8, www.twitter.com/sd8_abayomi, www.twitter.com/sd8_carolina, www.twitter.com/sd8_apollinaire, www.twitter.com/sd8_ariadne, www.twitter.com/sd8_mathias, www.twitter.com/sd8_garcia, www.twitter.com/sd8_souzasoares

Page 61: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

60

pelos pontos de vista das personagens. Soares ainda enriquece sua história com links de

imagens, canções, vídeos e artigos da internet.

Além das adaptações, romances como @re_vira_volta e @bia_bem foram criados

diretamente no Twitter e posteriormente transformaram-se em livros impressos ou digitais.

O romance @re_vira_volta foi escrito por André Lemos41, que publicou um tweet

por semana entre 2009 e 2010. A narrativa conta a história de uma personagem que se vê

desaparecendo do banco de dados eletrônicos que comandam a vida social. Lemos também

incorporou links de fotos, sons, imagens e vídeos, tentando aproximar o leitor ao máximo da

história vivida pela personagem. O romance @re_vira_volta foi construído em dois perfis do

Twitter: @re_vira_volta42 funciona como o eixo central da história e @re_viravolta43 como

um alter-ego do narrador. No livro, a fala do alter-ego está em negrito e a narrativa é

representada pelo símbolo “&”, como podemos observar no trecho a seguir:

@re_viravolta Distante continuava a dar voltas à reviravolta que não tem fim não começa não acaba como uma torrente de desesperos ao longe. & Tentaria agora deletar tudo, repartir do zero e começar uma nova vida (sonho). Simplesmente desaparecer, como desapareceram os seus dados? (LEMOS, 2010, p. 42).

Enquanto o romance @re_vira_volta parece demonstrar um enredo crítico,

preocupado com a sociedade do século XXI, o romance @bia_bem apresenta uma história

descontraída e com passagens humorísticas. A narrativa @bia_bem foi escrita por Guilherme

Danadio44, Vitor Fernandes45 e Luciana Xavier46 em 2009. Publicada pelo perfil @continios47,

@bia_bem conta em flashes repentinos e aleatórios a vida da personagem Bia. Dessa forma, o

enredo se desenrola de maneira muita rápida. Na passagem a seguir, Bia ainda adolescente

descobre-se grávida:

Bia culpou tudo quando não entrou mais naquele vestidinho: hormônios, chocolate, TPM. Só não culpou o anticoncepcional. Que ela não tomava. (DANADIO; FERNANDES; XAVIER, 2009).

41 www.twitter.com/andrelemos 42 www.twitter.com/re_vira_volta 43 www.twitter.com/re_viravolta 44 www.twitter.com/guidonadio 45 www.twitter.com/vithorrR 46 www.twitter.com/deathdilla 47 www.twitter.com/continios

Page 62: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

61

Podemos comparar a estrutura desses romances com a das epopeias clássicas. Para

escrever uma epopeia, o poeta precisava enquadrar suas ideias dentro da forma estabelecida

para esse gênero: tipo de rima, número de versos, métrica. Ou seja, havia uma forma fixa

estabelecida previamente. Nos romances da Twitteratura, observamos essa característica

quando o escritor tem de fragmentar e adequar sua narrativa em tweets de 140 caracteres.

A limitação como um aspecto da Twitteratura permeia não só os romances vistos,

mas também as histórias coletivas publicadas no Twitter. Essas histórias são criadas por um

grupo de pessoas que geralmente se desconhecem. Nesse processo de criação, um escritor

continua a narrativa a partir do tweet escrito por outro. E por ser escrita por vários indivíduos,

a história coletiva apresenta um rumo incerto e pode ter desfechos nunca imaginados.

Pode-se dizer que houve e há algumas iniciativas para criação de histórias

coletivas no Twitter, mas nem todas foram concretizadas e atingiram o objetivo proposto.

Dentre as histórias coletivas que tiveram sucesso na twittosfera, podemos citar o projeto

twiterbook, criado em 2009 por três amigos do site Coletivo Centro48. O perfil do twiterbook,

que não é atualizado desde dezembro de 2009, já reuniu cinco histórias coletivas e tem

mais de 550 seguidores e 80 autores. A seguir, os tweets mais recentes da quinta história

coletiva. Observa-se também no canto esquerdo do perfil algumas regras para participar :

Figura 18 – História coletiva no Twiterbook. Fonte:< http://twitter.com/#!/twiterbook> . Acesso em: 11 junh. 2011.

48 Disponível em:<http://www.coletivocentro.com/>

Page 63: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

62

Inspirada no twiterbook, a Editora Saraiva lançou em 2009 um projeto que

incentivou seus seguidores a escreverem uma história de terror, em comemoração ao

Halloween. A história coletiva deu origem ao livro digital Twitterror: “mais de 5.000 tweets

enviados, para apenas 10 formarem a primeira história de terror escrita via Twitter.”

(NIKAIDO et al., 2009 p.3).

A iniciativa fez tanto sucesso que segundo Victor Soares (2010) “a livraria

aumentou em 6.000 seu número de followers49 no microblog e registrou um aumento

substancial de vendas em seu site”. Ainda que gere lucros, ressaltemos a riqueza literária de

uma história produzida coletivamente no Twitter.

49 Em português significa seguidores, ou seja, os usuários que seguem o perfil em questão.

Page 64: Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres

63

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Somente em junho de 2011, foi disponibilizada a versão em Língua Portuguesa do

Twitter, porém, dois anos antes, o microblog já havia se popularizado entre os brasileiros, que

o utilizam para tweetar diferentes tipos de textos, inclusive literários.

Percebemos que a internet, especificamente o Twitter, não inferioriza e nem

desqualifica a Literatura, como alguns julgam precipitadamente. Pelo contrário, o microblog

incentiva escritores a sintetizarem seus textos literários em até 140 caracteres, e leitores a

dedicarem um pouco de seu precioso tempo à Literatura, lendo tais obras em meio às outras

informações que circulam no Twitter.

A Twitteratura, a arte de escrever em até 140 caracteres, é uma arte do século

XXI, no entanto comprovamos em nossa pesquisa que, desde os modernistas, principalmente

na obra de Oswald de Andrade, textos curtos já eram escritos. Não se tratava de nenhuma

limitação proposta, apenas de uma questão de estilo e de habilidade de síntese.

Então, qual a diferença entre a literatura curta publicada fora do Twitter em

relação à Twitteratura? Em nossa pesquisa, percebemos que há algumas diferenças, por se

tratarem de meios de publicação distintos. Primeiramente porque há na Twitteratura uma

democratização da literatura. Qualquer usuário pode publicar seus textos no momento que

desejar, pois não é necessário ser aceito por uma editora ou curadoria. A Twitteratura

também é democrática em relação ao leitor, pois é possível ler os textos de qualquer autor

gratuitamente. Outra diferença é que o leitor pode interagir com o escritor e com outros

leitores. Todavia, por algumas limitações do serviço, os tweets devem ser lidos no momento

de sua publicação. Levando isso em consideração, o Twitter não é uma boa plataforma para

registro de textos, o que leva os autores a publicarem em formato de livro (impresso ou

digitais) os seus tweets literários.

A publicação de antologias de tweets literários em formato de livro já demonstra o

reconhecimento do Twitter como novo meio de publicação literária. A Twitteratura, assim

como a crônica, é efêmera se não organizada em antologias e essa organização só acontece se

houver qualidade nos textos publicados.

Nosso principal objetivo, reconhecer a Twitteratura como um novo meio de

publicação literária por meio de um trabalho científico, pode parecer ousado. Entretanto,

alcançar esse objetivo torna-se mais fácil, quando uma instituição canônica e de grande status

como a Academia Brasileira de Letras (ABL) já reconheceu a importância e a qualidade do

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64

que é publicado no Twitter. Além de criar um perfil50 no microblog no final de 2009, a ABL

organizou no 1º semestre de 2010 um concurso de microcontos nos moldes do Twitter. O

presidente da ABL, Marcos Vilaça, justifica a entrada da ABL no Twitter: “Se eu tuíto, tu

tuítas e eles tuítam, a Academia também tuíta” (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS,

2009). A criação do perfil na rede social e o concurso tiveram como objetivos promover a

imagem da ABL e aproximar os jovens da Academia. O concurso teve 2293 trabalhos

inscritos, cada participante podia enviar apenas um texto. Ao anunciar o resultado, Vilaça

mencionou que o número de obras participantes superou as expectativas:

Está plenamente justificada a iniciativa da ABL em se abrir para as novas tecnologias em favor da literatura brasileira. O interesse demonstrado pelos participantes também confirma isso. O concurso aproximou ainda mais a tradição acadêmica da sociedade. A qualidade dos trabalhos foi ótima, assim como a participação de muitos jovens autores. (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2010).

Outros concursos também foram realizados no Twitter. Destaque para o prêmio

TOC140, realizado pela Fliporto (Festa Literária Internacional de Pernambuco).

“Foram pré-selecionados mais de 1000 poemas direto dos microblogs dos 391 inscritos no

prêmio pelo site da Fliporto – www.fliporto.pe. Desses, foram selecionados, em duas fases,

100 poemas, um de cada concorrente” (CORDEIRO; CAMPOS, 2010, p. 11), que fizeram

parte da antologia Prêmio TOC140 – Poesia no twitter. Cada um dos cem autores recebeu um

exemplar do livro e primeiro, segundo e terceiro colocados ganharam R$3000, R$2000 e

R$1000 reais, respectivamente.

Pelos livros, concursos, número de usuários, dentre outros argumentos citados no

corpo do trabalho, acreditamos que nosso objetivo foi alcançado. E se faltavam pesquisas

acerca do assunto, agora há uma, sendo que podem existir muitas outras. Na Twitteratura, são

140 caracteres que podem gerar muitas páginas de estudos científicos, como uma comparação

mais detalhada com a crônica, um maior aprofundamento na abordagem dos escritores e/ou

leitores, uma análise de seus gêneros, um trabalho crítico em relação à qualidade dos textos ou

sua utilização em sala de aula. O que não faltam são caminhos para expandir os 140 caracteres

na comunidade científica.

50 www.twitter.com/abletras

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65

REFERÊNCIAS

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Cinco perguntas para Marcos Vilaça. 2009. Disponível em: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=9937&sid=624> Acesso em: 04 jul. 2010. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. ABL divulga resultado do Concurso de Microcontos do Abletras. 2010. Disponível em: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=10369&sid=672> Acesso em: 04 jul. 2010.

ACIMAN, Alexander; RENSIN, Emmett. Examples Twitterature. Disponível em: <http://www.twitterature.us/us/ex.htm> Acesso: 20 maio 2011. AFORISMO. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: o dicionário da Língua Portuguesa. 7. ed. Curitiba: Positivo, 2008. p.100. ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985. ANDRADE, Mário de. O empalhador de passarinho. 4 ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2002. ANDRADE, Oswald de. Obras Completas: Poesias Reunidas. 5 ed. Rio de Janeiro: civilização brasileira, 1971. v.7. ASSIS, Machado de. Várias histórias. São Paulo: Brasileira, 1955 BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira. 20 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 38 ed. São Paulo. Editora cultrix. 2001. BUGALHO, Henry Alfred (org.). Tamanho não é .DOC. Oficina Editora, 2009a. Disponível em <http://en.calameo.com/read/0000022388dabc23135eb>. Acesso em: 31 mai. 2011.

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