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UE RUA MIGUEL PAIS, Nº 25-1º 2830-356 BARREIRO TEL. 212 060 079 FAX. 210 884 156 E-mail: [email protected] Site: www.associacaofuzileiros.pt N.º 7 MARÇO 2009 2 Boinas

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UE

RUA MIGUEL PAIS, Nº 25-1º2830-356 BARREIRO

TEL. 212 060 079FAX. 210 884 156

E-mail: [email protected]: www.associacaofuzileiros.pt

N.º 7MARÇO 2009

2 Boinas

2 SUMÁRIO

FICHA TÉCNICA

Director e Responsável Editorial Dr. Ilídio NevesDirecção Gráfica Tipografia LobãoColaboradores Mário Manso, José M. Parreira Vítor RibeiroFotografia A.J. Fernandes, Manuel RibeiroCriação, Impressão e Acabamento Tipografia Lobão Rua Quinta do Gato Bravo, 5 – Feijó 2810-069 Almada Tel. 212 559 890 E-mail: [email protected] www.tipografialobao.ptPropriedade e Edição Associação de Fuzileiros Rua Manuel Paes, 25-1.º Esq. 2830-356 Barreiro Tel. 212 060 079 Fax 210 884 156 E-mail: [email protected] Site: www.associacaofuzileiros.ptNúcleo do Porto Rua Coronel Helder Ribeiro (Anexo ao Farol da Boa Hora) 4450-686 Leça da Palmeira Site: www.nucleofuzileirosporto.org

UEEDITORIAL Revoltosa reflexão ............................................3NOTA DO PRESIDENTE A minha indignação ..........................................4ENTREVISTA Vice-Almirante Torres Sobral ............................5DESTAQUE Fuzos do Brasil ...............................................10 Jantar de Natal ...............................................11 Protocolos.......................................................12EVENTOS Convívios de Fuzos ........................................13 Monumento aos Combatentes na Abelheira .16 Encontro de Combatentes no Moledo ............16 Monumento aos Combatentes do Ultramar em Elvas .....................................................................17 Núcleo do Porto: Jantar de Natal ...................18 Operação Arouca............................................19 Jantar de Convívio Núcleo de Fuzileiros do Porto / CAF ...........................................................19 Paços de Ferreira ...........................................19VOZ DOS ASSOCIADOS Cinquenta anos depois, por António Carlos Ribeiro Santos ......................................................20 Juro!, por António Varandas ...........................21 O meu apreço, por Mário Manso ....................23 Carta à Direcção da Associação de Fuzileiros, pelo CMG (Res.) Vasco Manuel Teixeira da

Cunha Brasão.................................................23 Resposta do Director ......................................24

FUZO-POESIA Poema ao Herói Português, por Alfredo Martins Guedes .................................................................25 Cor de sangue, por António Faria...................25 O velho Fuzileiro, por Júlio Vaz Gomes .........25 Fuzileiro Sempre, por Joaquim Domingos .....25SALPICOS DE VIDA Mário “Sinais” .................................................26 Patrulha no Rio Jagali ....................................27DESPORTO Tiro .................................................................28 Tiro Prático Desportivo ...................................28 Passeio à Arrábida .........................................28BREVES 10 de Junho ....................................................29 Fuzileiros e a Ordem Militar da Torre e Espada .29PERSONAGEM Lau..................................................................30INFORMAÇÃO Circular n.º 1 de 06 de Março de 2009 ...........35IN PERPETUA MEMORIAM Zé Fuzo ..........................................................36 João Torres Piaçab .........................................36 Motaco Numes ...............................................36 Bombarral .......................................................36 António Oliveira ..............................................37 Adílio Torcato ..................................................37DONATIVOS ........................................................38MARCHA DA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS ..39

3EDITORIAL

REVOLTOSA REFLEXÃO

Embora não queiramos admiti-lo, existem momentos em que apetece desistir, bater com a porta, e abando-nar, de uma vez por todas, o leme do barco.

O entusiasmo, o sentimento e o âni-mo que nos conduzem, sofrem, quando menos se espera, revezes mortíferos, que inundam o espírito com torrentes diluvianas de dejectos, que conspur-cam as ideias e deturpam a razão.

De facto, tenho momentos em que o raciocínio se me escapa e não me permite alcançar nem compreender os devaneios surpreendentes e algumas imaginações extravagantes, tão pró-digas e delirantes. É caso para dizer: “Felizes os loucos que podem colorir a vida. É na loucura que se enforcam os desprevenidos. Os loucos sabem o que querem e riem-se dos lúcidos”. Têm o direito de exercer a sua própria vida! …

É que na elaboração e coordena-ção do nosso Desembarque, venho-me confrontando com uma avalanche de sentimentos muito fortes: de afecto, de gratidão e simpatia, mas também de muito ódio, muita ingratidão e, acima de tudo, de uma corrosiva e insuportável inveja. Esta última emergente, na sua verdadeira essência, do indiscutível prestígio e do indesmentível sucesso da publicação, que vem granjeando ad-miração e captando louvores, aquém e além fronteiras.

Neste intenso burilar das coisas mundanas, em confronto com o miste-rioso etéreo, o talento brota do desco-nhecido, das entranhas insondáveis do mistério que cada um encerra. Todavia, surgem também clarividências, como raios de sol que resplandecem da ne-gritude das nuvens. São pequenas coi-sas, quase insignificâncias, que nos en-volvem e nos martirizam. São, de resto, minudências viperinas que tão dolorosa

e amargamente nos espicaçam a sen-sibilidade, nos perturbam o raciocínio e nos afectam o equilíbrio emocional.

Tenho absoluta consciência de que na coordenação e gestão de um órgão informativo, que para além da preo-cupação de informar se esforça ainda no sentido de fornecer aos leitores um “quantum” de prazer, de sentimento e, até mesmo, de alguma felicidade, não é fácil agradar a todos, parecendo-me até impossível. Também sei que felici-dades íntimas ou remorsos pungentes, o homem traz, nas profundezas do ser, a grandeza ou a miséria, como conse-quência dos seus actos.

Os apetites, as ambições e os dese-jos ardentes chocam, com frequência, contra a razão, contra os sentimentos do dever, da compreensão e da paciên-cia, fazendo com que a vontade entre também em conflito com os instintos, daí surgindo o mal ou, pelo menos, a quase total ausência do bem.

Não me movem preconceitos lumi-nários, nem quaisquer resquícios de protagonismo, que sempre recusei e afastei, muitas vezes desesperada-mente, no desempenho de funções pú-blicas. Pelo contrário, sempre procurei o equilíbrio, a humildade e a correcção, como refúgio da minha confrangedora timidez.

Também nunca, fosse qual fosse a circunstância, me furtei às responsabi-lidades. Mas, para tanto, e penso que assim me julgarão, tenho necessaria-mente que adoptar critérios de rigor, de correcção, de isenção e de bom senso. Daí a necessidade de proceder a uma ponderada avaliação e selecção dos textos a publicar, quer quanto à essên-cia do seu conteúdo quer quanto à sua extensão e oportunidade.

De facto, a responsabilidade, nas suas diversas vertentes, é tanto maior

quanto maior é o seu alcance e o pres-tígio, do foco que a determina, pelo que jamais se poderá confundir qualquer atitude com censura, vaidade ou con-veniência.

Como se referiu no início, o Desem-barque encontra-se à disposição da livre participação de todos, para pre-enchimento de algumas páginas com histórias e temas de interesse para os Fuzileiros. Todavia, esses contributos, com assuntos que sejam repositórios de memórias, iniciativas e ideias, terão necessariamente que ser ajustados ao exíguo espaço da Revista e substan-cialmente interessantes para a genera-lidade dos leitores.

Perante algumas incompreensões e alguns afloramentos de ambições des-medidas, assaltam-me ganas de desis-tir, o que, com franca sinceridade, me era física, psíquica e economicamente muito mais favorável.

Porém, fui ao longo dos tempos ha-bituado a resistir às adversidades e a enfrentar os desafios, numa visão do sublime fanal, alimentando os fluidos vivificantes que sustentam e animam o viajor prostrado, prestes a afogar-se no mar tempestuoso da vida.

Ilídio Neves

4 NOTA DO PRESIDENTE

A MINHA INDIGNAÇÃO

O jornal Correio da Manhã, numa lou-vável iniciativa, decidiu começar a publicar, no passado dia 04 de Março, em cadernos anexos, com periocidade semanal, uma abordagem sobre a guerra de África, a partir de 1961, com o título “Os anos da guerra colonial”, da autoria de dois ilus-tres membros do Exército Português, os Coronéis Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes.

Todavia, se consideramos louvável a ini-ciativa, temos, desde já, de lamentar e refu-tar a forma indigna como são referenciados e tratados os Fuzileiros, especialmente nas páginas 85 e verso do caderno de apresen-tação, numa perspectiva porventura des-prestigiante ou, pelo menos, evidenciando um manifesto apoucamento

Não terei certamente uma percepção rigorosa e abrangente da acção desenvol-vida pelos Fuzileiros durante a guerra colo-nial, porquanto, para além de ser bastante jovem, pouco mais que adolescente, quan-do participei, durante a primeira comissão, na guerra em Angola (1966 a 1968), não segui a carreira militar, deixando a Insti-tuição com 23 anos de idade, logo após a segunda comissão de serviço, em Moçam-bique.

Porém, por tudo quanto vi e ouvi, en-quanto por lá andei, pelo que escutei com satisfação “a posteriori”, e por tudo quanto li sobre a acção gloriosa dos Fuzos no ul-tramar, confrange-me e custa-me a aceitar que as Unidades de Fuzileiros “não dispu-nham de elementos de apoio nem de ser-viços de alimentação e transporte”, pelo que “estas características limitavam o seu emprego como unidades de intervenção ao lado das companhias de Comandos e de Pára-quedistas”, sendo que “por força do seu menor efectivo, a sua capacidade de manobra era inferior”.

Por outro lado, nem mesmo, como se diz, que “a criação destas Unidades (Des-tacamentos e Companhias) resultou de uma necessidade da Marinha, mas nunca foi enquadrada nas necessidades gerais das Forças Armadas”, me apercebi que “era muito difícil aos Coman dantes-chefes atribuí rem-lhes mis sões adequadas”.

Do que, na verdade, me apercebi e pessoalmente constatei, foi da alegria, da emoção e da consolação que muitas Uni-dades do Exército manifestavam quando,

em situações de autêntico desespero, no mato ou nos quartéis, recebiam as Unida-des de Fuzileiros que acorriam em seu au-xílio, quais Anjos da Guarda, e graças à sua destreza, operacionalidade e competência, lhes renovavam a moral, lhes reforçavam a esperança e levavam a tranquilidade.

Quem poderá ignorar a corajosa e efi-caz intervenção dos Fuzileiros no norte e leste de Angola? E a acção gloriosa, arro-jada e definitiva no norte de Moçambique, especialmente na região do Niassa, onde algumas Unidades do Exército foram au-tenticamente dizimadas?

E na Guiné? Alguém ousará pôr em causa a preponderância e a glória conquis-tada por esta Força de Elite da Marinha, nesta Província?

Não quero, de forma alguma, ofender a sensibili-dade de quem quer que seja, mas, mui-to francamente, esta interpretação das coisas faz-me recordar aque-las sensações do passado, aqueles zimbórios luminá-

rios, que caracterizavam o “Arre-Macho”,

naqueles ensejos pedantes, na afanosa

procura de espaço e de afirmação.

Ilídio Neves

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5ENTREVISTA

VICE-ALMIRANTE JOSÉ TORRES SOBRAL

Como já vem sendo habitual, concedemos, nesta rubrica, um destacado espaço destinado a entrevistar Entidades de re-levo da nossa sociedade, figuras prestigiadas da nossa Mari-nha ou com ela directamente relacionadas.

Temos dado prioridade a quem tenha uma relação directa com os Fuzileiros, ou que com eles tivesse mantido, durante um determinado período, uma especial afinidade.

É o que se passa agora, com o ilustre entrevistado a quem solicitamos, desta vez, a honrosa disponibilidade para o efei-to. Trata-se de um dos mais destacados membros da nossa Armada que, embora nunca tivesse integrado qualquer Uni-

dade de Fuzileiros, manteve, todavia, com eles, durante as campanhas do ultramar, uma estreita e eficiente colaboração, transportando-os e dando-lhes apoio nos momentos mais pe-rigosos e difíceis, nos diversos palcos da guerra.

Para além desta relação operacional, é inequívoca a cons-tatação de uma séria e gratificante afeição e um reconheci-mento excelso, que muito nos honra e prestigia.

Consideramos, pois, ser um invulgar privilégio, levar aos estimados leitores as opiniões avalizadas e os sentimentos sublimes de Sua Excelência o Vice-Almirante José Torres Sobral

DESEMBARQUE: Senhor Almirante, embora não tivesse comandado nem in-tegrado nenhuma Unidade de Fuzileiros, cumpriu algumas missões operacionais, de significativa perigosidade e complexidade, em colaboração directa com eles, transpor-tando-os e dando-lhes apoio.

Quer referir-nos quando e em que cir-cunstâncias ocorreram essas acções?

AL. TORRES SOBRAL: Essas acções decorreram no passado já distante de 1965 a 1967, no Lago Niassa, no posto de 2º Te-nente e como Comandante da Lancha de Fiscalização MERCÚRIO.

Foram tempos vividos com muita inten-sidade, com os problemas a serem resolvi-dos com empenho e criatividade, únicos na minha longa carreira na Marinha.

DESEMBARQUE: Dessas oportunida-des e desses contactos, quais as impres-sões que lhe ficaram, designadamente quanto aos valores que os têm caracteriza-do: operacionalidade. Coragem, espírito de sacrifício, camaradagem e disciplina?

AL. TORRES SOBRAL: Em relação ao geral das Forças Armadas que foram utilizadas, naquele tempo, no teatro ope-racional, os Destacamentos e Companhias de Fuzileiros apresentavam os maiores ín-dices de preparação e estavam particular-mente bem adaptados ao tipo de guerra em que foram utilizados.

DESEMBARQUE: Como Comandante da Lancha de Fiscalização MERCÚRIO, no Lago Niassa, onde sempre existiu uma re-lação de grande proximidade entre as mis-sões dos Fuzileiros e dos demais Quadros da Marinha, como recorda, hoje, esses

tempos inesquecíveis, vividos praticamen-te em comum?

AL. TORRES SOBRAL: Era uma rela-ção de total colaboração e complemento. Com efeito, desde o transporte de um Des-tacamento completo, com quatro Zebros grandes de braço dado, ao Desembarque em locais onde se tinha feito um reconheci-mento prévio; ao apoio médico permanente durante toda a operação, com recurso a evacuações, uma vez que nessa altura os helicópteros ainda não tinham aparecido naqueles teatros; ao apoio de comunica-ções que a irregularidade do terreno torna-va complicadas; ao reembarque, partilhan-do os êxitos e dando o conforto possível. De tudo se fazia.

DESEMBARQUE: Temos conhecimen-to que o Senhor Almirante protagonizou

uma autêntica odisseia no transporte do navio Mercúrio, por via terrestre, desde o Oceano Índico até ao Lago Niassa.

Conhecendo nós a enorme distância e os incomensuráveis obstáculos do percur-so, ao longo de uma selva indescritível e inóspita, concluímos que se terá tratado de uma aventura majestosa.

Quer contar-nos, resumidamente, as peripécias dessa gigantesca viagem?

AL. TORRES SOBRAL: Foram quatro meses que constituíram uma experiência única. A partir daí e em todas as situações complicadas que tive na vida sempre consi-derei que tendo superado o que aconteceu, nunca mais teria problemas. Era só lem-brar-me de diverso tipo de soluções que o pes soal envolvido no transporte encontrou para relativizar qualquer assunto.

No seu gabinete, falando para o Desembarque

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Nasceu em Lisboa, no dia 06 de Outu-bro de 1942.

Entrou para a Escola Naval em Setem-bro de 1959, tendo concluído a licencia-tura do Curso de Marinha, em Agosto de 1962.

Foi promovido a Guarda-Marinha em Setembro de 1962 e, um ano mais tarde, a 2º Tenente. Durante o ano de 1964 espe-cializou-se em comunicações.

Neste período e até Maio de 1965, teve oportunidade de embarcar em diver-sos navios da Armada e participou em va-riados exercícios de âmbito nacional e da NATO.

Durante o período de Junho de 1965 a Junho de 1967, foi nomeado Comandante das Lanchas de Fiscalização “VÉNUS” e “MERCÚRIO”, nos teatros de operações em Angola e Moçambique, respectiva-mente, tendo efectuado inúmeras missões operacionais e de apoio aos Fuzileiros.

Como Comandante do “MERCÚRIO”, realizou o transporte deste navio desde o Oceano Índico até ao Lago Niassa, por via terrestre, o que constituiu um episódio sin-gular na sua carreira.

De regresso ao Continente, foi promo-vido a 1º Tenente e desempenhou funções de Ajudante de Campo de Sua Excelência o Ministro da Defesa Nacional e de Chefe do Centro de Comunicações do mesmo Ministério, até Abril de 1971.

De Abril de 1971 a Maio de 1972, co-mandou a Lancha de Desembarque Gran-de (LDG) “ARIETE”, no teatro de opera-ções em Angola, onde, uma vez mais, manteve estreita colaboração com os Fu-zileiros.

Durante o período de 1972 a 1975, com o posto de Capitão-Tenente, frequen-tou o Curso de Engenheiro Hidrógrafo, na Escola Superior de Técnicas Avançadas de Paris, complementado por diversos es-tágios e visitas a unidades hidrográficas e universidades francesas.

Permaneceu no Instituto Hidrográfico, de 1975 até Agosto de 1982, onde desem-penhou diversas funções, entre as quais as de Chefe de Brigada Hidrográfica, Che-fe da Divisão de Levantamentos Hidrográ-ficos e de Marés e Correntes.

Posteriormente, de 1986 a 1991, as-cendeu a Director Técnico e Científico, e a Subdirector-Geral e Director-Geral inte-rino, já com o posto de Capitão-de-Mar-e-Guerra.

De seguida, entre Setembro de 1992 e Outubro de 1993, Comandou o Grupo nº 1 de Escolas da Armada. Em Setembro de 1993, foi promovido ao posto de Contra-Almirante, sendo então nomeado Director do Serviço de Formação, cargo que de-sempenhou até 28 de Março de 1994, al-tura em que assumiu o cargo de Chefe do Gabinete de Sua Excelência o Almirante Chefe do Estado Maior da Armada.

Em Outubro de 1996, inicia funções como Chefe da Divisão de Comunica-ções e Sistemas de Informação (DICSI) do EMGFA, em acumulação com o cargo de Assessor Pessoal para o Projecto SI-COM.

A partir de 05 de Junho de 1997, acu-mula os cargos de Adjunto de Sua Exce-lência o Almirante CEMGFA para o Projec-to SICOM.

No decurso das actividades que de-sempenhou no Instituto Hidrográfico, foi Director do Projecto POWAVES, no âm-bito do programa “Nato Science for Sta-

bility”, membro do Conselho Superior de Ciência e Tecnologia, da Comissão Nacio-nal Contra a Poluição do Mar e da Comis-são Internacional de Limites, tendo sido, igualmente, o Representante Nacional no Comité de Gestão do Programa Comuni-tário de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico. Entre Março e Outubro de 1996, assumiu, em acumulação, a Vice-Presidência da Comissão do Direito Marí-timo Internacional.

No âmbito das suas actividades como Chefe da Divisão de Comunicações e Sis-temas de Informação (DICSI) do EMGFA, assumiu a responsabilidade pela repre-sentação nacional no “Nato C3 Board”, em acumulação com as funções de Director do Programa SICOM, sendo o principal responsável pela edificação do segmento nacional do “NATO Terrestrial Transmis-sion System (PO/NTTS)”.

Exerceu as funções de Adjunto para o Planeamento de Sua Excelência o Almi-rante-Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

Foi, até 08 de Agosto de 2002, Direc-tor-Geral do Instituto Hidrográfico.

É membro da Academia de Marinha e da Ordem dos Engenheiros, com a espe-cialidade de Engenheiro Geógrafo.

Desempenha actualmente, e desde 23 de Dezembro de 2002, as funções de Director-Geral do Gabinete Nacional de Segurança e concomitantemente de Auto-ridade Nacional de Segurança.

Possui diversos louvores e condecora-ções nacionais, das quais são de salientar seis medalhas de serviços distintos (uma com palma) e a de Grande Oficial da Or-dem Militar de Avis.

Desde longa data que exerce, durante os fins-de-semana e nos períodos de fé-rias, actividades de navegação de recreio, sendo um bom conhecedor das zonas costeiras atlânticas e mediterrânicas. Ul-timamente procura também navegar na Internet.

É casado com Maria Celeste e tem um filho e uma filha, Alexandre e Sofia.

DADOS BIOGRÁFICOS

ENTREVISTA

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As fotos que tirei e o filme que o cama-rada Manuel Abecassis efectuou (Coman-dante da Lancha Marte, em companhia), que eu cheguei a visionar, mas de que in-felizmente perdi o paradeiro, são prova da odisseia que foi transportar por caminho de ferro e picada, em época de chuvas, duas Lanchas com cerca de cinquenta tonela-das, cada uma. Não entravam nos túneis, eram mais largas que a distância entre as guardas das pontes, caíram em cima de pontes, atravessaram ribeiros a vau. Fo-ram encalhadas na praia em frente à ilha de Moçambique, com uma folga de quinze centímetros na maior maré de águas vivas de Setembro, e lançadas à água numa car-reira, no Lago Niassa.

Tudo foi improvisado com uma tecnolo-gia muito baixa e muita imaginação.

DESEMBARQUE: Fazendo uma re-trospectiva em relação a esse passado, em que apesar de jovem, tão responsavelmen-te se empenhou, como sente, hoje, esse período marcante da sua vida?

AL. TORRES SOBRAL: Acrescentan-do ao que acima foi descrito, hoje, mais velho e com mais experiência, gostaria de compartilhar convosco a noção de que sob o ponto de vista estratégico, a introdução daquele tipo de Lanchas no Lago constituiu um sério revês para os objectivos da Fre-limo, uma vez que cortou cerce as capa-cidades de abastecimento de zonas a sul do Lago, designadamente Tete e Cabora Bassa, atrasando alguns anos os planos

de infiltrações que tinham. O terreno era muito acidentado e o Lago constituía uma via rápida para o esforço logístico da Fre-limo. As Lanchas no Lago e as operações dos Destacamentos em terra, obrigaram a reformular tudo e a encontrar alternativas muito mais difíceis.

DESEMBARQUE: Senhor Almirante, constou-nos que está prevista a aquisição de um navio de Desembarque, para os Fuzileiros, com tecnologia ao nível do que melhor existe no mundo.

A confirmar-se esta informação, enten-de que esta situação poderá acarretar a tal dimensão insubstituível que o País e as Forças Armadas precisam?

AL. TORRES SOBRAL: Outros países cujas Marinhas têm dimensões adequadas,

já fizeram sem margem para dúvidas essa escolha.

Esse tipo de navio tornará possível um conjunto de operações a nível de Forças Armadas que hoje em dia não podemos fa-zer, em especial com Fuzileiros.

DESEMBARQUE: Senhor Almirante, sendo V. Ex.ª um militar da mais elevada patente da nossa Marinha, com os seus grandes conhecimentos e a sua vasta ex-periência nos organismos militares inter-nacionais, designadamente no âmbito da NATO e, sendo certo que, num sentido be-licista, se caminha vertiginosamente para uma cada vez maior complexização e sofis-ticação dos meios e dos procedimentos nos teatros de guerra. Sendo igualmente certo e inequívoco que, perante a sociedade por-tuguesa, os Fuzileiros são tidos como uma

Desembarque de Fuzileiros a partir da LF Mercúrio

LF Mercúrio, em acção arriscada no Lago Niassa Gravura da autoria do CMG Alpoim Calvão

ENTREVISTA

8 ENTREVISTA

das principais Forças de Elite, que muito têm dignificado a Marinha e a imagem de Portugal, interna e externamente.

Como concebe e como perspectiva os Fuzileiros portugueses num contexto mais abrangente, a nível mundial? Não acha que se assiste a um subaproveitamento ou até alheamento por parte dos principais responsáveis políticos e militares, quanto à sua utilização ou empenhamento em mis-sões internacionais, como vem acontecen-do com outras Forças nacionais?

AL. TORRES SOBRAL: O conheci-mento que tenho da utilização actual das Forças Armadas em países congéneres é

de que a componente tecnológica está a ter um desenvolvimento muito profundo. Se não se conseguir manter o actual nível de treino das nossas Forças e se não forem reequipadas com o necessário, chegará um dia a altura em que nem sequer seremos compatíveis com esses países em opera-ções conjuntas e, nessa altura, ou se re-começa do zero, como já aconteceu várias vezes na nossa história, ou seremos rele-gados para missões muito secundárias.

Em relação à utilização de Forças de Fuzileiros em acções internacionais, em que Portugal nos últimos 10/15 anos en-volveu em média 600 a 700 homens em

permanência, vi demasiadamente reduzida a participação de Unidades de Fuzileiros e isso só pode desagradar-me.

DESEMBARQUE: Desempenha V. Ex.ª actualmente as altas e interessantes funções de Director-Geral do Gabinete de Segurança e, concomitantemente, de Auto-ridade Nacional de Segurança.

Tendo conhecimento bastante sobre a capacidade e utilidade dos Fuzileiros, na colaboração com Forças civis e outras, mor-mente nas acções de combate aos grandes focos de criminalidade, como p.e., o tráfico internacional de armas e de drogas.

Comandar um navio, por via terrestre, foi tarefa bem difícil

9ENTREVISTA

À secretária, no seu gabinete

Momento de descontracção, após a entrevista

Acha que as suas potencialidades po-deriam ou deveriam ser aproveitadas para outras vertentes, que digam respeito à se-gurança e tranquilidade social?

AL. TORRES SOBRAL: As actuais Unidades de Fuzileiros têm potencialidades intrínsecas para terem alto desempenho nesse tipo de missões. Só falta a vontade de as utilizar.

DESEMBARQUE: Para finalizar, que se lhe oferece dizer, Senhor Almirante, sobre a existência da Associação de Fuzi-leiros, que, estatutariamente, congrega ofi-ciais, sargentos e praças, nas situações do activo, reserva, reforma ou disponibilidade e licenciamento da Marinha, independente-mente da classe, desde que tenham pres-tado serviço em Unidades de Fuzileiros?

E, já agora, qual a sua opinião sobre este nosso Desembarque?

AL. TORRES SOBRAL: Tendo em con-ta o esforço, as realizações e o número de pessoal envolvido da minha geração, consi-dero a existência deste tipo de Associações essencial e o seu trabalho muito meritório.

Entrevista conduzida por: Ilídio Neves/Costa da Silva

10 DESTAQUE

FUZOS DO BRASIL

Estiveram entre nós, para uma curta visita, nos dias 28, 29 e 30 de Novembro, os distintos camaradas Veteranos do Corpo de Fu-zileiros Navais do Brasil, Fernando Silveira, Oficial Fuzileiro Naval, e esposa Anna, e o Oficial-Médico, Dr. Jairo Melo.

Provenientes de Itália, onde gozaram um período de férias, fi-zeram escala no nosso país, com o propósito de conhecer e visitar a Associação de Fuzileiros de Portugal, de que tomaram conheci-mento através da Internet.

Foram recebidos, com amizade e simpatia, por diversos mem-bros da Direcção, entre os quais o Presidente, que lhes proporcio-naram uma estadia agradável, levando-os a visitar alguns pontos de interesse turístico de Lisboa e arredores, bem como uma visita especial à Escola de Fuzileiros, com destaque para o “Museu do Fuzileiro”, onde os estimados camaradas brasileiros tiveram opor-tunidade de observar, extasiados, a beleza e o significado que ele encerra. Particularmente sensibilizados, detiveram-se por algum tempo diante do mostruário relativo ao Corpo de Fuzileiros do Bra-sil, onde viram, comentaram e se emocionaram com o inesperado “mergulho” na sua própria história.

Também a visita às instalações da sede da Associação, onde lhes foi servido um suculento almoço, de cozido à portuguesa, foi motivo de grande alegria e felicidade. Depois do repasto e das in-tervenções de circunstância, carregadas de emoção e simbolismo, de ambas as partes, chegou o momento da troca de lembranças, bem bonitas e significativas, que marcaram o início de um relacio-namento profícuo e empolgante entre as duas Instituições de Fu-zileiros Veteranos, unidos por profundos sentimentos de afecto, de simpatia e admiração, que as reminiscências históricas iluminavam com um brilho muito especial.

Apesar das condições atmosféricas adversas, com muita chuva e algum frio, ainda houve tempo de conduzir os ilustres visitantes a alguns locais agradáveis, que se impunham pela qualidade e diver-sidade gastronómica, que muito os impressionaram e deliciaram.

Os sentimentos de despedida foram atenuados com os pro-pósitos recíprocos de novos encontros e de um são e frutificante relacionamento, pessoal e institucional.

Ilídio Neves

11DESTAQUE

JANTAR DE NATAL

Com o brilho e o entusiasmo de eventos anteriores, decorreu, no passado dia 06 de Dezembro, o Jantar Convívio de Natal da grande família dos Fuzileiros, promovido pela Associação.

Depois do belo cenário do Cristo-Rei, em Almada, desta vez, o evento voltou a realizar-se no não menos envolvente Complexo Turístico da Quinta da Valenciana, em Fernão Ferro, Sesimbra, de

que é proprietário o estimado associado e membro dos Corpos So-ciais, Homero Videira.

A ementa era rica e agradável, com umas entradas apelativas de uma diversidade enorme de produtos regionais, bem confec-cionados e apaladados, a anteceder o prato principal, um magní-fico bacalhau à Zé do Pipo, acompanhado com vinhos de primeira qualidade e outras bebidas à disposição, o que contribuiu para a existência de um ambiente de grande alegria e animação, bem vi-sível nos rostos de quase três centenas de convivas, associados, familiares e amigos, que compareceram ao evento.

Foi, na verdade, uma oportunidade excelsa para conviver, sor-rir, conversar e recordar, num recrudescimento inebriante de ve-lhas amizades, que, simultaneamente, fazia germinar os embriões de outras, novas e, por certo, estimulantes para os desígnios do futuro.

Entre as diversas individualidades convidadas presentes, encontrava-se o Exmo. Almirante Luís Miguel Cortes Piciocchi, Digníssimo Comandante do Corpo de Fuzileiros, que, no evento, representava também Sua Excelência o Chefe de Estado Maior da Armada, o que, naturalmente, trouxe elevada honra, brilho e significado ao acontecimento.

A circunstância adequava-se na perfeição àquela indescritível sensação de felicidade que envolve as pessoas de sentimentos ao reconfortante espírito de Natal, no aconchego familiar.

A certa altura, o Presidente da Direcção da Associação subiu ao palco para desejar as Boas Festas a todos os presentes e pro-ferir algumas palavras alusivas ao momento. Com semblante emo-cionado, salientou o alcance e significado deste enternecedor e fra-ternal convívio, estabelecendo uma comovente relação com outros períodos natalícios, passados em circunstâncias bem diferentes, enfrentando garbosamente o perigo nos arrepiantes cenários da selva e da desolação.

Deu ainda destaque a duas presenças incontornáveis: a do Comandante José Luís de Almeida Viegas, primeiro Presidente da Direcção da Associação de Fuzileiros, em franca e feliz recupera-ção de uma gravíssima enfermidade, que há já bastante tempo o vem atormentando; e a do Francisquinho Beltrão, o filhote lindo do Vice-Presidente da Direcção, Comandante António Beltrão, cujo recente aparecimento neste mundo foi vivido e sentido com grande alegria e ansiedade por todos os membros dos Órgãos Sociais da Associação e que, naquele grande e colorido presépio, simbolizava o menino, a luz mais intensa e brilhante do conjunto.

A animação esteve a cargo do excelente conjunto musical “Re-cordar é viver”, de que faz parte o membro da Direcção Santos Silva e o nosso bom amigo Carvalheira, que com as suas empol-gantes músicas, ao gosto de todos, e às quais ninguém resistia, transformaram o salão num autêntico alvoroço dançante.

Tratou-se, afinal, de mais um evento de grande sucesso, que certamente terá contribuído para o fortalecimento da amizade e do espírito solidário e fraterno dentro da grande família de afectos e emoções, a que os Fuzileiros pertencem.

12 DESTAQUE

Dando sequência ao cumprimento dos objectivos que se propõe atingir, a Direc-ção da Associação acaba de assinar dois protocolos, na área da saúde, com uma moderna e prestigiada clínica, apetrechada com avançados meios tecnológicos e as-sistência de primeira qualidade – A SANUS VITAE, Centro Médico Nossa Senhora do Rosário – sita na Rua de Díli, nº 17 A/B, na Quinta da Lomba – Barreiro.

O PRIMEIRO, no âmbito da SANUS-Clínica Fisiatrica, abrange os serviços de Fisiatria, Fisioterapia, Clínica Geral, Orto-pedia, Nutrição, Psicologia Clínica, Análi-ses Clínicas e Osteopatia e Acupunctura.

Nesta área, os sócios da Associação de Fuzileiros, independentemente do sub-sistema de saúde a que pertençam (ADM, ADSE, ARS, MIN. JUSTIÇA), beneficiam de um desconto de 20% na factura final a pagar na Clínica, em todos os actos médi-cos realizados.

O SEGUNDO, no âmbito da VILSAD-Empresa de Apoio Domiciliário Integrado, que compreende o Apoio/Acompanhamen-to (higiene, acompanhamento de dia e de noite, alimentação e tratamento de roupa); Saúde (acompanhamento médico, enfer-magem, fisioterapia, psicologia e análises); Ajudas Técnicas (venda e aluguer de apa-relhos ou meios de deslocação, como p.e., macas, cadeiras de rodas, camas articula-

PROTOCOLOS

das, bengalas e andarilhos); Teleassistên-cia (urgência 24 horas, orientação médica e companhia).

O serviço de Teleassistência encontra-se em fase de lançamento e, neste mo-mento, oferece aos parceiros privilegiados, nos quais os sócios da Associação de Fuzi-leiros estão incluídos, uma redução de 50% no valor da instalação, bem como uma de-monstração gratuita.

Trata-se de um serviço que funciona a nível nacional, como uma central de assis-tência permanente, pronta a responder a qualquer situação de emergência, 24 horas por dia durante os 365 dias do ano, bas-tando somente premir um botão (numa bra-celete ou num colar). A central dispõe dos serviços seguintes:

1 – Emergência24. a) Assistência per-manente; b) Apoio imediato a situações de emergência; c) Envio urgente de médicos e enfermeiros; d) Serviço de ambulâncias, bombeiros e polícia; e) Contacto com fami-liares ou terceiros; f) Voz amiga.

2 – Mediphone24. a) Emergência mé-dica; b) Equipa médica permanente para orientação telefónica; c) Procedimentos a tomar em determinadas patologias, doen-ças e emergências; d) Indicação de hospi-tais, clínicas e farmácias de serviço.

3 – Assistência 24. Envio de profissio-nais identificados: canalizadores, vidra-ceiros, electricistas, serralheiros, pintores, mudanças, vídeo e TV.

Engloba, pois, todos os cuidados para viver com qualidade na sua própria casa, com disponibilidade de uma avaliação pré-via, com a elaboração de planos de desen-volvimento individual.

Abrange igualmente todos os subsis-temas de saúde (ADM, ADSE, ARS, MIN. JUSTIÇA) e, através deste protocolo, os sócios da Associação de Fuzileiros benefi-ciam de um desconto de 15%, a reduzir na factura final a pagar no Serviço, em todos os actos realizados pela VILSAD.

A morada e os contactos, são os se-guintes: Rua de Díli, nº 17 A/B, Quinta da Lomba, 2830-172 Barreiro. Telefone: 210 099 987 / 962 561 164. Fax: 212 168 145.

Dado que os benefícios decorrentes destes Protocolos contemplam, especial-mente, os sócios residentes na área do Barreiro, a Direcção da Associação, com o mesmo propósito, irá desenvolver esforços, no sentido de estabelecer outros contactos, com estabelecimentos ou empresas simila-res, noutros pontos do país.

13

Tel: 212 128 370 - Fax: 212 120 710 - E-mail : [email protected] da EDP, Lotes 17 a 19 – 2865-373 Fernão Ferro - www.quintavalenciana.com

SALÃO NOBRE

SALA JARDIM

Tel: 212 128 370 - Fax: 212 120 710 - E-mail : [email protected] da EDP, Lotes 17 a 19 – 2865-373 Fernão Ferro - www.quintavalenciana.com

SALÃO NOBRE

SALA JARDIM

CONVÍVIOS DE FUZOS

Para que se possa fazer eco dos convívios que envolvam Fuzileiros, é necessário que ao Desembarque chegue conhecimento dos mesmos.

Convidam-se, pois, os seus organizadores, a fazerem chegar as fotos (quando as houver) e os textos respectivos, sem grandes preocupações redactoriais, porquanto, na oportunidade, serão feitos os convenientes ajustamentos.

A divulgação dos eventos que seguidamente se faz, resulta apenas, em quase todos eles, do empenhamento e voluntariedade dos camaradas ligados à Revista, que se têm disponibilizado, correndo até o risco de ser mal interpretados.

NO DIA 03/09/08Reuniram pela primeira vez, em salutar

convívio, 43 anos depois de terem regressado de Moçambique, os elementos que integraram a Companhia n.º 2 de Fuzileiros.

Alertam-se todos os interessados no pró-ximo convívio, que se vai realizar no dia 25 de Abril, na zona da Figueira da Foz (Baião), no restaurante O PELEIRO, que devem contactar o Carlos Silva, tel. 911 967 796, para mais in-formações.

O arranque para o primeiro encontro foi dado pelos camaradas Jordão e Carlos Silva. Bem hajam pelo empenho!

NO DIA 20/09/08Estiveram reunidos os camaradas do

Destacamento nº 7 de Fuzileiros Especiais, de Moçambique, num almoço convívio, no restaurante das instalações da Associação de Fuzileiros.

EVENTOS

14

Reuniu, uma vez mais, o 13.º Destaca-mento, de Angola, para reviver e alimentar as boas e más memórias vividas em con-junto.

Este feliz acontecimento terminou com o almoço na Associação de Fuzileiros onde os diligentes camaradas organizadores de-

ram a conhecer as instalações, a quem ain-da as não conhecia.

Foi a convite do Pires da Silva que eu e o presidente participámos, com muito agra-do, no convívio de uma das várias unida-des em que cumpriu comissão de serviço no Ultramar.

Tratou-se de uma excelente oportuni-dade para conhecer vários camaradas, que de outra forma não seria possível.

Obrigado a todos os elementos deste Destacamento, muito especialmente ao “Homem Ferro”.

DIA 27/09/08Visitaram a casa mãe os Fuzos que integraram a Escola de 1982,

tendo o almoço/convívio sido servido no complexo hoteleiro da Quinta Valenciana, em Fernão Ferro, Sesimbra.

Foi um reencontro vivido com muita intensidade, recordando os tempos de outrora com grande emoção e saudade.

Valeu a pena conviver com estes camaradas, porque era claramen-te notório o orgulho de todos eles, por pertencerem aos Fuzileiros.

EVENTOS

CONVÍVIOS DE FUZOS

DIA11/10/08

15

DIA 22/11/08O Destacamento nº 8, da Guiné, mais uma vez reuniu, num

agradável almoço/convívio no restaurante da Associação de Fu-zileiros.

Foi um enorme prazer ter estado, nesse dia, com os elementos desta prestigiada unidade, de grandes feitos, na companhia do Dr. Ilídio e de outros convidados, por iniciativa do Cte. Piteira, neste matar de saudades.

Nesse dia desembarcaram ali histórias com 46 anos de vida, sem que houvesse provocação do inimigo. O convívio esteve co-

mandado pelo seu ilustre Comandante, o CMG Alpoim Calvão, co-adjuvado pelo seu Imediato e o 3º oficial, Luís Couceiro, também ele um Fuzileiro muito especial.

Foi, de facto, muito valiosa a dádiva desta Unidade, para a grandeza do riquíssimo património dos Fuzileiros.

Neste encontro, a Exma. Esposa do Sr. Cte. Malhão Pereira, ofereceu, muito gentilmente, um dos seus livros à Associação de Fuzileiros, com uma dedicatória especial.

EVENTOS

DIA 08/11/08Mais uma vez, a Escola de Fuzileiros

foi visitada pelos seus filhos, ali gerados no ano de 1994.

Como vem sendo hábito, foi colocada uma coroa de flores junto ao monumento, homenageando os camaradas mortos, o que demonstra o empenho e respeito de todos aqueles jovens filhos da Escola, nos quais os mais velhotes hoje se revêem.

Neste convívio, levaram bem alto a destreza e os ensinamentos ali adquiridos. Formaram uma secção de 12 homens, equiparam-se de fato macaco e lá foram para o lodo fazer as sua diabruras, porque desta vez não era a contar. Durante o almo-ço ainda exibiam o lodo escorrente através das orelhas.

Ao saírem, junto à antiga casa do car-vão, desfilaram em passo de corrida até aos balneários, com batimentos bem acer-tados, cantando as canções que ainda lhes alimentavam o espírito Fuzileiro.

Estes jovens mostraram que vale a pena ser FUZILEIRO PARA SEMPRE!

16

Em mais uma grande demonstração de calor Pátrio, a Delega-ção da APVG (Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra) do Moledo, em colaboração com a Câmara Municipal da Lourinhã e Junta de Freguesia de Abelheira, procederam à bênção e inaugu-ração de um bonito Monumento de homenagem aos combatentes e ex-combatentes, nesta última localidade, no passado dia 12 de Outubro de 2008.

A esta importante e significativa cerimónia, compareceram di-versas Entidades, civis e militares, entre elas o representante do Exmo. Presidente da Câmara da Lourinhã, bem como diversas re-presentações de Associações de combatentes e ex-combatentes, entre elas a Associação de Fuzileiros, com uma componente alar-gada e exibição do seu guião.

MONUMENTO AOS COMBATENTES NA ABELHEIRA

ENCONTRO DE COMBATENTES NO MOLEDOTambém promovido pela Delegação do

Moledo da APVG, sob a égide dos devota-dos e incansáveis representantes, os nossos queridos amigos e associados Sr. Castro e D. Helena, decorreu, no passado dia 08 de Fevereiro de 2009, na sede desta Freguesia, o já tradicional Encontro de combatentes e ex-combatentes, para, junto ao belo Memo-rial ali existente, prestarem homenagem aos militares mortos, do concelho da Lourinhã.

Esta grande cerimónia, é sempre acom-panhada de uma impressionante componen-te religiosa, com missa e procissão pelas ruas da localidade, abrilhantada por uma excelente banda filarmónica, que lhe confere um especial significado e uma dignidade ex-celsa, sob a bênção sagrada do seu sublime Padroeiro, S. Sebastião.

É admirável, a grandeza e imponência deste Encontro, engalanado com inúmeros estandartes e bandeiras, que embelezam e acompanham as altas Individualidades pre-sentes, civis e militares. Uma Força Militar, do activo, institucionaliza e dá brilho a este arrojado Evento.

A Associação de Fuzileiros, esteve igual-mente bem representada, sob a áurea do seu guião.

Este acontecimento terminou com um magnífico almoço, no restaurante “Camelo”, localizado a alguns quilómetros de distân-cia.

Ilídio Neves/Mário Manso

EVENTOS

17

No passado dia 21 de Setembro, decor-reu na cidade de Elvas, uma impressionan-te e comovente cerimónia de homenagem aos Combatentes das Guerras do Ultramar, no período de 1961 a 1974.

Foi inaugurado um magnífico e sim-bólico monumento, em cobre, de grandes dimensões, num local estrategicamente escolhido e muito movimentado, daquela histórica urbe, mandado erigir pela Câma-ra Municipal de Elvas e pelo Núcleo desta mesma cidade da Liga dos Combatentes.

A população da região, que acorreu em grande número, mostrou respeito pela His-tória e reconheceu a importância do acto, numa demonstração emocionante, com mais de mil gargantas a entoarem o Hino Nacional, acompanhando a Banda 14 de Janeiro, que abrilhantou o Evento.

O Presidente da Câmara Municipal, José Rondão Almeida, que é irmão de um Fuzileiro, o nosso estimado associado João Rondão Almeida “O Elvas”, num dis-curso emocionado e com grande sentimen-to, destacou-se entre os diversos oradores, dizendo, a certa altura, que sentia “muito orgulho e satisfação por ter mandado cons-truir este monumento, pelo que ele repre-senta para a preservação da memória e

MONUMENTO AOS COMBATENTES DO ULTRAMAR EM ELVAS

EVENTOS

de homenagem justa àqueles que em dado contexto histórico, serviram com muita dor e sacrifício mas sobretudo com muita cora-gem e dignidade o seu País”.

A Associação de Fuzileiros, com uma representação alargada, esteve presente no Acto, sendo carinhosa e efusivamente recebida pelas Entidades locais, entre elas o Presidente Rondão Almeida, o seu irmão e nosso camarada de armas, também ele Presidente de uma das Juntas de Fregue-

sia da cidade, e pelo nosso estimado amigo e sócio, o Fuzileiro e empresário Óscar Bar-radas Santos, igualmente grande dinamiza-dor da excelente iniciativa.

É com acções e gestos desta enverga-dura, que se perpetuam e valorizam pági-nas sofridas da história recente deste nosso País.

Ilídio Neves

18

O Núcleo de Fuzileiros do Porto, animado pelo espírito de Na-tal, reuniu a sua grande família, no jantar alusivo a esta Quadra especial, num magnífico restaurante da região, no passado dia 13 de Dezembro de 2008.

A noite estava fria, mas o ambiente que envolvia os convivas era quente e agradável, com os Fuzos de diversas idades e gera-ções, seus familiares e amigos, imbuídos na alegria e boa disposi-

ção que caracteriza as gentes do norte, a acondicionarem-se para mais um combate fraterno e amigo, de tentações pantagruélicas.

Foi tal a adesão de participantes que o “palco da guerra”, ape-sar do seu aspecto colorido e apelativo para a destreza física, se apresentava congestionado, ou, como se diz em linguagem verná-cula, “a rebentar pelas costuras”.

NÚCLEO DO PORTO: JANTAR DE NATAL

Mas, com a inseparável coragem, sentido de disciplina e capa-cidade de improvisação, lá se conseguiu efectuar o Desembarque e alcançar o almejado abrigo.

O resultado final, foi mais uma inquestionável vitória, para a dinâmica equipa de responsáveis do Núcleo do Porto, muito graças à calma e grande ponderação do seu líder, o Adriano Costa.

Ao evento compareceram representantes de diversas Institui-ções da Marinha, designadamente do Comando do Corpo de Fuzi-leiros e da Escola de Fuzileiros, Cmte. Henrique Alberto, da Zona Marítima do Norte, Cmte. Fragoso Gouveia e, a título individual, como amigo do Núcleo, o Cmte. Miranda de Castro.

A Associação de Fuzileiros, esteve representada pelo seu Pre-sidente, Dr. Ilídio Neves, acompanhado de mais alguns elementos da Direcção Nacional.

Proferiram algumas palavras, alusivas ao momento, em clima de grande efusividade, o Presidente do Núcleo, Adriano Costa, o Presidente da Direcção da Associação, Ilídio Neves, e o Cmte. Henrique Alberto.

Chegou, entretanto, a hora da despedida e as pessoas que vie-ram de longe, muito a contragosto, tiveram que se ausentar.

Foi mesmo com muita pena, porque o resto da festa, pelos in-dícios que já pairavam no ar, prometia grandes e agradáveis sur-presas.

Para o ano haverá mais, se Deus quiser. Os Fuzileiros estão sempre prontos para o ataque!

Bem hajam, caros amigos!Ilídio Neves

EVENTOS

19NÚCLEO DO PORTO

OPERAÇÃO AROUCAA operação foi preparada com cuidado. Os intervenientes fo-

ram todos voluntários, o objectivo estava delineado.À hora combinada, todos estavam presentes e prontos para a

acção. Um comboio de viaturas movimentou-se em direcção ao objectivo: dava-se inicio à operação Arouca.

Um grupo de convivas deslocou-se a Arouca, com o objectivo de uma confraternização à volta de uma vitela à arouquesa. Como de costume, foi um excelente convívio entre aqueles que se deslo-caram ao restaurante.

Após o jantar, todos se deslocaram para um simpático bar de Arouca. Depois de umas horas de permanência no local da opera-ção, regressou-se à base, sem que tenham ocorrido baixas entre os participantes na operação.

O Núcleo de Fuzileiros do Porto, tentará implementar estes convívios, pelo menos, uma vez por mês.

JANTAR DE CONVÍVIO NÚCLEO DE FUZILEIROS DO PORTO/CAF

Decorreu na passada semana um certame na Exponor com a presença da Marinha representada por uma secção do RECON da CAF do Corpo de Fuzileiros. Os Fuzileiros presentes, ao tomarem conhecimento da existência do Núcleo de Fuzileiros do Porto, logo fizeram questão de fazerem um jantar de convívio na nossa sede.

Como é de imaginar, a sugestão foi logo aceite por este Núcleo que, de imediato, se deslocou à Exponor para combinar a ementa e a hora a que começaria o convívio. No dia 14 de Fevereiro, à hora combinada, os Filhos da Escola lá apareceram dando inicio a umas horas de salutar convívio entre Fuzileiros que se encon-tram no activo e outros que, apesar de estarem na vida civil, não esquecem os princípios apreendidos na Escola de Fuzileiros. Após o jantar, seguiram-se umas horas de convívio com a disputa de jogos de matraquilhos e de dardos, entre aqueles que participaram no jantar.

Toda a amizade, camaradagem e cumplicidade entre os pre-sentes dão validade àquele que é o Nosso Lema: “FUZILEIRO UMA VEZ, FUZILEIRO PARA SEMPRE”.

Estamos certos que os Filhos da Escola que nos brindaram com a sua presença levarão para o Corpo de Fuzileiros, a imagem da hospitalidade dos Fuzos do Núcleo do Porto.

PAÇOS DE FERREIRAApós mais uma tarde de convívio na sede do Núcleo de Fuzilei-

ros do Porto, um grupo de Filhos da Escola deslocou-se até Paços de Ferreira, a convite do Filho da Escola Barbosa, para um jantar de confraternização excelentemente confeccionado pela esposa do nosso anfitrião.

Após o repasto, o Renato, filho do Barbosa, brindou-nos com a interpretação da Marcha dos Fuzileiros. O puto que é um exce-lente executante na viola acústica, garantiu a todos os presentes que também ele conquistará o direito a usar a Boina Azul Ferrete, marca indelével dos Fuzileiros. Fica guardado na memória mais um convívio entre Fuzos do Núcleo do Porto.

Vítor Ribeiro

20 VOZ DOS ASSOCIADOS

Há figuras que por terem sido uma emanação viva da “Grande Alma Portu-guesa”, no dizer de Fernando Pessoa, entraram naturalmente no coração da Pá-tria. Vida exemplar de Português, que não tendo família do seu sangue considerava os portugueses como sendo a sua família. Referência para gerações de Marinheiros e Aviadores, o Almirante Carlos Viegas Gago Coutinho, nasceu em Lisboa no dia 17 de Fevereiro de 1869 tendo falecido escassos dias depois de ter completado 90 anos. Decorrido meio século sobre a data do seu passamento, permiti-me que escreva algu-mas palavras a propósito, embora com a humildade que me é imposta naturalmente pela sua estatura de Homem superior, de Oficial de Marinha e pelo profundo respeito que sinto pela sua memória.

Foi um espírito de excepção. Combina-va em harmonia perfeita o rigor científico com um apurado sentido prático das coi-sas. Mas a simplicidade que o caracteriza-va era contudo despida de qualquer forma de acanhamento. Contemplava apaixona-damente o Mundo e tudo interpretava com a sagacidade de quem ama o conhecimen-to. Geógrafo, navegador, aviador e até his-toriador abordou também e desenvolveu as diversas hipóteses para as derrotas atlân-ticas dos nossos navegadores das Desco-bertas.

Como geógrafo, completou um vastís-simo trabalho de demarcação de fronteiras em Timor, em Angola e em Moçambique, e ainda importantes trabalhos em S. Tomé, onde hoje, num pequeno ilhéu mais a sul, curiosamente sobre a linha do equador ter-restre, se perpetua o seu nome. Trata-se do “Ilhéu Gago Coutinho” cuja designação está internacionalmente adoptada.

Para ilustrar o espírito e o domínio com que desbravou os sertões africanos, serve como exemplo referir que, no posto de 1º Tenente, com 32 anos, Gago Coutinho se-guiu mais uma vez para África, para fazer a demarcação da fronteira de Angola desde Noqui, no Zaire, até ao rio Quango. Termi-nada a missão, de regresso a Noqui, onde aguardaria a canhoneira que o faria chegar ao paquete com destino a Lisboa, cansado pelo esforço da campanha e doente, vê pas-sar os dias sem a chegada do tão almejado e merecido transporte. Correndo o risco de

CINQUENTA ANOS DEPOIS

Em 1907, em Lourenço Marques, ini-ciou-se um estreito convívio entre o Coman-dante Artur de Sacadura Freire Cabral, na altura no posto de 2º Tenente, e o ainda 1º Tenente Gago Coutinho, ambos integrados na mesma missão geodésica. Estava dado o primeiro passo para a primeira travessia aérea do Atlântico Sul. Sacadura Cabral vi-ria a contagiar este seu notável camarada de armas e de missão com o mesmo entu-siasmo que ele próprio nutria pelo raid.

No dia 30 de Março de 1922, de manhã cedo, os flutuadores do “Lusitânia” (o pri-meiro hidroavião utilizado no raid) desliza-ram sobre as águas calmas do Tejo até des-colarem finalmente, elevando aos céus as asas da Cruz de Cristo, que se despediram aos poucos da Torre de Belém perdendo-se do alcance dos olhares perplexos, turvados certamente, alguns pelas lágrimas furti-vas de muitos portugueses que ali tinham acorrido para apoiarem sentimentalmente aqueles dois bravos Oficiais.

O Comandante Sacadura Cabral tinha-se tornado um hábil e excepcional Piloto-Aviador da Aviação Naval e o então ainda Comandante Gago Coutinho, tinha inven-tado o corrector de rumos, pequeno apa-relho que permitia corrigir o abatimento do avião devido ao vento, que se avaliava pelo

de bolha de ar que adaptara ao sextante e que permitia observar os astros para cal-cular a posição, pelos mesmos processos que se utilizavam para a navegação maríti-ma, embora o mesmo sextante permitisse, de igual modo, que se efectuassem as ob-servações em horizonte de mar, descendo para isso o avião a uma altitude de apenas 30 metros.

Como a velocidade do aparelho era muito superior à velocidade dos navios, foi em média de 72,5 nós ao longo das 4527 milhas, navegadas em 62 horas e 26 mi-nutos, Gago Coutinho também simplificou previamente os cálculos, e até a disposição dos meios documentais e de navegação a bordo tinha sido ergonomicamente plane-ada.

Mas os aviões não eram fiáveis naque-le tempo. O “Lusitânia”, durante a amara-gem junto aos Penedos de S.Pedro, partiu irremediavelmente um dos flutuadores sob o efeito da ondulação larga e começou a afocinhar. Era o fim daquele hidroavião.

Já em posição bastante crítica e perigo-sa, os dois aviadores continuaram a salvar todo o material vital que seguia a bordo, en-quanto uma embarcação do cruzador “Re-pública” os alcançava a custo para que fos-sem recolhidos a tempo. Nesses instantes intermináveis, com uma nobreza de alma inexcedível, o Comandante Sacadura Ca-bral retirou ainda do avião um exemplar dos “Lusíadas”, que ele levava para oferecer, como chegou a fazer, ao Gabinete Portu-guês de Leitura do Rio de Janeiro. Utilizou-se um segundo e idêntico hidroavião para a continuação do raid. O “Fairey 16”. Este acabou por se avariar em voo, o que deu origem a uma amaragem forçada em pleno oceano, deixando náufragos os dois Ofi-ciais, que foram recolhidos mais tarde pelo navio mercante “Paris City”, enquanto o hi-

António Carlos Ribeiro SantosSócio Simpatizante nº1053

efeito deste sobre o fumo produzido por sinais fumíge-nos que eram lan-çados ao mar, vo-ando o hidroavião a uma altitude não superior a 200 me-tros, e o horizonte artificial de nível

assim não chegar a tempo de embarcar no paquete, toma uma decisão que poderia ter partido de um arrojado Fuzileiro. Parte a caminho de Cabinda, a bordo de uma pe-quena embarcação de vela que encontrara em Noqui, mesmo sabendo como era vio-lenta a corrente do rio e conhecedor dos perigos dos seus redemoinhos e dos seus escolhos. Só se detinha encostado à mar-gem, quando o negrume da noite tropical lhe não permitia navegar. Embarcou pois a tempo, no paquete Luan da, que chegou ao Tejo no dia 20 de Janeiro de 1902.

21

JURO!

António Varandas

Quem passar pelas bandas de Belém e quiser saber o porquê das preocupações que muitas vezes vão na alma dos milita-res, é visitar o Monumento aos Mortos da guerra.

Ali, encontrará a resposta!Ali, naquele Memorial, constam os no-

mes daqueles que generosamente deram a vida pela Pátria, defendendo-a e honran-do-a, tal como tinham jurado.

Ali, naquele Monumento, em sulcos gravados, estão milhares de filhos que nun-ca chegaram a sentir a suprema felicidade de ser pais.

IMPRESSIONANTE!E justo seria também dar conhecimento

público do nome daqueles que, pela mes-ma causa, se deficientaram, muitos deles sem condições de sobrevivência, depen-dendo de boas vontades e de apoio não institucional.

Há tempos, dei por ali uma volta e parei emocionado a olhar aquela “Lápide” mons-truosa. Os meus olhos percorreram-na exaustivamente procurando nomes que de certo ali estariam, dada a sua desdita.

Encontrei muitos, infelizmente!Um deles, porém, fez-me estremecer.Aquele nome, pouco semelhante à

maioria dos restantes, tinha um grande sig-nificado para mim: Sandem Dabó!

Sandem Dabó foi recrutado nos finais de 1970, ele e mais 180 mancebos, que vieram a fazer parte de Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 22, do qual fui um dos formadores.

Natural de Empada, Guiné, caracteriza-va-se pela humildade.

Durante a instrução, ensinei-o a marcar passo, a marchar, a que distância se fazia a continência à Bandeira Nacional, ao Che-fe do Estado e a outras Individualidades; ensinei-o a usar a arma, a lançar granadas e as demais tácticas de guerra; ensinei-o a falar português e a aprender o nome do rio que corria na sua terra; ensinei-lhe que a nossa Pátria era Portugal e que os militares juravam defendê-la, mesmo com o sacrifí-cio da própria vida.

Nós outros, sem a vista alevantarmosNem a mãe, nem a esposa, neste estado,Por nos não magoarmos ou mudarmosDo propósito firme começado.Determinei que assi nos embarcarmos,Sem o despedimento costumado,Que posto que é de amor usança boa,A quem se aparta ou fica, mais magoa.

“ OS LUSÍADAS – CANTO QUARTO”

Sandem Dabó, o menino doce, quase criança, apesar dos seus quase dois me-tros de altura, cumpriu!

Morreu pela Pátria! Morreu pela Nação que o adoptou! Morreu pela Nação que aceitou ser a sua!

Mas se o Sandem Dabó consta no Me-morial por ter morrido durante a guerra, outros seus companheiros acabaram fu-zilados sem honra nem glória, sem que a Nação que juraram defender, mesmo com o sacrifício da própria vida, tivesse propor-cionado a sua defesa.

É uma infinita tristeza!...

Naquele Memorial, onde cada sílaba provoca um nó na garganta, estão os no-mes dos avós que nunca chegaram a ter netos para lhes contar histórias da guerra.

Ali, no clamor daquele silêncio, existe a força que nos empurra para que seja feita justiça, para que lutemos pela dignificação dos militares.

JURO!...

VOZ DOS ASSOCIADOS

droavião se afundava para sempre devido ao peso fatal dos flutuadores alagados.

Foi o terceiro hidroavião, o “Santa Cruz”, que finalmente chegou ao Rio de Ja-neiro, no dia 17 de Junho de 1922. Após a amaragem são arvoradas duas pequenas bandeiras, a de Portugal e a do Brasil, na carlinga do “Santa Cruz”, e Gago Coutinho numa atitude espontânea, com a galhardia própria de um Oficial da mais elevada es-tirpe, salvou à terra com a sua pistola de “very lights”, disparando os 21 tiros da or-denança.

São tempos de glória e o País rejubila. E até teria bastado um único hidroavião se os aviões na época fossem mais fiáveis. Mas isso em nada desmereceu os dois bravos aviadores portugueses, que abri-ram as portas à navegação aérea. Era isto que tinham pretendido fazer, e foi isto que fizeram.

Mas o tempo não se detém. E as mais incompreensíveis injustiças também acon-tecem. No dia 15 de Novembro de 1924, o Comandante Sacadura Cabral deixa-nos para sempre, durante um voo fatídico de Amsterdam para Brest, aos comandos de um hidroavião “Fokker 4196”, que nunca chegaria ao seu destino. Morre com ele um jovem mecânico, o artífice José Pinto Correia, tendo ambos encorpando assim, ainda mais, a demasiadamente longa lista de baixas na Aviação Naval.

O Almirante Gago Coutinho tudo calcu-lou. Tinha mesmo uma lápide no seu túmulo antecipado com a seguinte inscrição: Gago Coutinho – Geógrafo - 1869-195..., faltava apenas o 9, ano em que, num quarto do Hospital da Marinha, acompanhou o padre confessor, traduzindo directamente para a língua de Camões o que aquele ia pro-nunciando em latim. É hoje essa lápide que vemos cobrir a sua sepultura em Lisboa, no cemitério da Ajuda, carinhosamente abra-çada pela Cruz de Cristo.

Para explicar toda a força de espíri-to que o havia acompanhado na vida, o Almirante dizia ter tido sempre “alma de Tenente”, numa clara alusão a uma persis-tente motivação juvenil, que lhe cintilava no olhar, que era seu notável apanágio, e que nem o tempo imparável, nem a erosão da idade, puderam apagar alguma vez.

22

Por mais de uma vez, estive tentado a não escrever mais nada para o nosso De-sembarque mas, ainda não foi desta. Tenho ultrapassado esse obstáculo, que me foi criado por uma certa incompreensão dos “donos da razão”. Sempre que me propo-nho tomar tal decisão, falta-me a certeza, de que seja uma boa opção. Eis porque me tenho desembaraçado da minha ambigui-dade e abraçado este meu propósito, por-que nem sempre, as convicções se apoiam na razão, e há supostas certezas, que nos impelem a tomar atitudes nem sempre vir-tuosas.

Visto que o apreço pelo Desembarque é um testemunho frequente de muitas das pessoas que o vão decifrando, é pois de considerar que se trata de um instrumento muito relevante para a Associação. Alimen-tá-lo, é tarefa de todos os que entendem que é um dignificante difusor dos valores e deméritos, de um património arduamente conquistado pelos Fuzileiros.

Tem sido apenas, tarefa de alguns, pou-cos, a manter vivo um órgão que pretende difundir valores e vivências especialmente ligadas aos Fuzileiros. Se faltam conteúdos de primeira, não é suficiente, os de segun-da ou terceira, então, que se lhe dê o que houver, mesmo correndo o risco de provo-car alguma soltura, mas sempre vale mais, que morrer de fome!

Eu não sou, nem pretendo ser, um poço de virtudes, mas mesmo estando muito lon-ge disso, sempre digo que gosto de exem-plos, mesmo correndo alguns riscos. Todos os Fuzileiros e amigos me merecem muito respeito, e se uns compreendem e descul-pam as minhas bacoradas, outros são mais contundentes ou indiferentes.

Provavelmente, mais uma vez me es-palhei, e por falta de G.P.S saí da estrada e entrei na picada. Mas, afinal, meter a pata na poça não é difícil, para quem, como eu, já a enterrou no lodo, algumas vezes até muito mal cheiroso, e dele sai mesmo a rastejar. Tenho que aguentar!

E como diria o outro, já que está, dei-xa estar, mesmo não sabendo bem, se os bons exemplos se encaixam naquilo que anteriormente disse, o que pode ser sem-

pre uma chatice, mas vou continuar, para ver se os consigo encaixar.

Há uma personagem, a quem é difícil ficar indiferente. Chama-se António Ramos e é sócio simpatizante da nossa Associa-ção, que ilustra com evidente satisfação. Valeu a pena aquele encontro fortuito em Belém, quando da homenagem aos nossos mortos e onde faz questão estar presente, mesmo não tendo sido militar Combatente. (um bom exemplo).

A aceitação como sócios de pesso-as que não pertenceram aos Fuzileiros, aquando da discussão dos estatutos, deu lugar a alguma resistência, mas ainda bem, que não surtiu qualquer efeito.

Vou então abordar o que é para mim um bom exemplo. Reconhecer os méritos das

Mário Manso

É sobre este caso, que envolve um grande amigo dos Fuzileiros, que quero falar um pouco do muito que merece, este sócio simpatizante da nossa Associação.

O Comandante Tóni (da Marinha Mer-cante) é pessoa que muitos Fuzileiros já vão conhecendo, não só pela sua total disponibilidade e arrebatador envolvimen-to nas tarefas dos eventos da Associação, mas também, através dos excelentes tex-tos que tem escrito para o nosso Desem-barque.

É também um homem ligado ao mar, exercendo as altas funções de Comandan-te nos maiores petroleiros do mundo, de uma companhia americana. Certo dia, em boa hora, foi arregimentado como sócio de uma Associação, de homens corajosos, a quem não se cansa de exprimir elogios e uma grande admiração, e por quem nutre uma simpatia muito especial, porque, como frequentemente diz, tenta seguir os seus bons exemplos e valores.

É um Cidadão, que não sendo Fuzilei-ro, com mágoa sua, é bom que se diga, que na prática, não se nota essa mácula.

Tal como outros camaradas e amigos dos Fuzileiros, tenho este sócio no mais alto pedestal da minha consideração, não por ter sido um sócio arregimentado por mim, mas tão só, pelo elevado grau de prontidão, como corresponde e nos surpre-ende, nas várias solicitações que lhe temos feito, (quando está em terra) comportando-se sempre como um verdadeiro polivalen-te, do tipo DAE.

Nunca regateia, e deita mão a tudo o que se lhe sugere. O grupo musical que queremos constituir está em “banho Ma-ria”, porque tivemos três baixas de vulto, e quando ele está no mar aumenta para quatro.

pessoas, pode ser uma forma de os condecorar ci-vilmente, mesmo que se trate de um homem que não o sendo, mui-to gostava de ser Fuzileiro.

O MEU APREÇO

VOZ DOS ASSOCIADOS

É no mar calmo ou alteradoQue fazes as tuas regatasSempre com o navio aproadoEnfrentando os tais piratas

Tóni, meu caro comandanteÉs por todos muito estimadoNunca te sentimos distanteÉs um homem determinado

Quando um dia tropeçámosNa homenagem aos combatentesFoi amizade que trocámosJunto aos mortos de três frentes

Tu és um bom exemploE o Pedro Marques da luz Simpatizantes que contemploMesmo que seja em contraluz

São também vossos exemplosQue nos enriquecem o patrimónioComo as imagens dos templosQue afugentam o demónio

23VOZ DOS ASSOCIADOS

O grupo de motards que se quer cons-tituir, sofre de algum adormecimento, mas talvez estivesse mais desperto, se a sua disponibilidade lhe permitisse outra colabo-ração.

É um potencial permanente, e disponí-vel para tudo, sempre com aquele sorriso motivador, que lhe é peculiar.

Só conhecendo-o, falando, ou ombre-ando com este amigo dos Fuzileiros, se pode concluir que muitos iriam, certamente, corar de vergonha, e quiçá, de satisfação. Um pupilo com tais características, no meu tempo de combatente, seria imediatamente convidado, ou disputado, para fazer parte do meu grupo de combate.

Para aferirem a minha opinião, façam-lhe uma abordagem mesmo por estibordo, que ele, não deixará de retribuir com o seu bombordo, que, como sabem, é o lado do coração.

Se há pessoas com magia, o Amigo Tóni é uma delas.

Espero, como sempre, que seja enten-dido e não distorcido, o que talvez, por falha minha, presumo, nem sempre é consegui-do. Não pretendo olvidar o valor de todos os sócios, efectivos, simpatizantes ou outros, por quem tenho muito respeito e gratidão, mas há casos de tal forma relevantes, que não devem estar omissos no conhecimento de quantos fazem parte da Associação de Fuzileiros, como outrora o foram na guerra, muitos camaradas e grupos.

Meus caros camaradas e amigos, para terminar direi: se houvesse 50% de Fuzos com o espírito de entreajuda do Tóni, do Pedro M. da Luz, e de outras pessoas com a mesma alma, também já referenciados no nosso Desembarque, a Associação de Fuzileiros teria a grandeza que lhe é devi-da, pelos valores dos homens que repre-senta, OS FUZILEIROS, E DE QUEM, DE-LES GOSTA.

Sejam bem-vindos, a uma Associação de homens, que sabem dizer não! À ingra-tidão!

Para todos, um bem-haja.

1 – Da leitura dos Boletins Informativos da Associação de Fuzileiros (Ass Fz) – De-sembarque – julgo merecerem reflexão al-guns temas recorrentes.

a - O primeiro respeita ao entendimen-to sobre a natureza – “militar” ou “civilista” – da Ass. Fz, sendo que esta última parece prevalecer nas opiniões expressas em edi-toriais e alguns artigos.

Evidentemente que a Ass Fz não é uma organização ou unidade militar, mas tam-bém não se insere no âmbito de uma qual-quer Sociedade Recreativa.

A Ass Fz, e porque assim denominada, é uma organização de Fuzileiros, que pres-taram ou prestam serviço na Marinha e que voluntariamente a constituíram ou a ela aderiram, revendo-se nos valores e objecti-vos contidos nos respectivos estatutos.

O relacionamento entre os seus mem-bros deve pautar-se pelas normas de con-vivência que sempre existiram entre nós, no serviço ou fora dele, e que, coexistindo com as hierarquias, se baseiam na leal-dade, na consideração e no respeito mútu-os, na camaradagem e no espírito de corpo próprios da sociedade militar e que estão na matriz desta Associação.

O funcionamento da estrutura da Ass. Fz só terá a ganhar com a preservação da linha de acção que vinha sendo assumida e com que desde sempre convivemos: volun-tarismo e dedicação aliados a organização hierarquizada, exigência e defesa dos prin-cípios e valores que conformam a sustenta-ção moral e ética das Forças Armadas.

Não me parece bom caminho ignorar ou menosprezar o atrás referido, mas cabe aos associados dizer em que tipo de orga-nização se desejam rever e permanecer.

b – Outra questão respeita a algumas “prosas” e “poemas”, de que é exemplo o publicado no Boletim Informativo nº 5 de Abril 2008 sobre a guerra no Ultramar, rei-terado e reforçado no editorial do B. I. nº 6 de Outubro 2008, com cujos conteúdos não

Publica-se, integralmente, conforme solicitado, a carta enviada ao Presidente da As-sociação de Fuzileiros, em 29 de Novembro de 2008, pelo associado, nº 277, o Exmo. Capitão-de-Mar-e-Guerra (Res) Vasco Manuel Teixeira da Cunha Brazão:

CARTA À DIRECÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS

há identificação, minha e de muitos outros Fuzileiros.

Além de alusões cujo significado e al-vos não descodifiquei, a apresentação la-murienta, demagógica e panfletária do que foi exigido aos combatentes não se coadu-na com o nosso orgulho de Fuzileiros Por-tugueses Combatentes, aliás recriados na Marinha para intervenção naquele conflito.

Não combatemos num Vietname, Che-chénia ou qualquer outro território estran-geiro, cujos beligerantes, aliás, continuam a honrar e exaltar a memória dos respecti-vos mortos e heróis; nós lutamos em terras então portuguesas, combatendo os agen-tes de interesses que nessa época aten-tavam contra a nossa soberania, e assim cumprindo o juramento de Bandeira volun-tariamente assumido – por muitos até às últimas consequências.

O Hino da Ass. Fz – “Marcha dos Fuzi-leiros” – contempla o nosso orgulho de Fu-zileiros combatentes estando nele contidos o esforço, incomodidades, riscos, perdas, mas também espírito de missão, leal dade, camaradagem, abnegação, coragem, entu-siasmo, vitórias, espírito de corpo, patrio-tismo.

É certo que tudo nos foi exigido.Mas nada regateámos.Assumindo o dever cumprido, honra-

mos os nossos Mortos e Famílias, presti-giamos os nossos Heróis!

A nossa recompensa está na condeco-ração do Estandarte do Corpo de Fuzileiros – Ordem da Torre e Espada, do Valor, Leal-dade e Mérito –; cada Fuzileiro Combaten-te ali tem o seu quinhão.

2 – É também meu entendimento não ser o Boletim Informativo uma publicação independente onde cada um escreve o que quiser, mas sim tratar-se de um órgão da Ass. Fz que deve reflectir de forma coeren-te e permanente uma linha de orientação da Direcção tendente a prestigiar o passa-

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24 VOZ DOS ASSOCIADOS

RESPOSTA DO DIRECTORFace ao conteúdo desta carta e aten-

dendo ao facto de o actual Presidente ser também o Director e Responsável Editorial de “O Desembarque” e, por consequência, o principal visado na crítica injusta e avas-saladora que a mesma encerra, pretende, tão somente para salvaguarda da honra, dignidade, sentimento Fuzileiro e princípios éticos, que sempre nortearam a sua con-duta, rejeitar liminarmente o entendimento ou as falaciosas interpretações que dão prevalência a esta ou aquela orientação, “militar” ou “civilista”, menosprezem ou de qualquer maneira subvertam a natureza excelsa e grandeza de valores que animam e sustentam o orgulho e a mística desta distinta classe, a que, com muita probida-de, pertence.

Temos consciência da dimensão e do inegável prestígio que, em apenas seis edi-ções, a nossa Revista logrou alcançar, não só perante a quase generalidade dos asso-ciados, mas também de uma imensidão de público leitor, no país e no estrangeiro. Isto dá-nos grande alegria e prazer, mas tam-bém uma enorme responsabilidade, tradu-zida num indescritível sacrifício, na ânsia de preservar e garantir os inseparáveis critérios de verdade, rigor e isenção. Tudo

a troco de nada, nem sequer de protagonis-mo, que declinamos peremptoriamente.

Francamente, depois de tudo isto e ao depararmos com reacções deste teor, sen-timos ganas de partir a loiça! … Diz o povo, com razão e sabedoria, “que só não se sente quem não é filho de boa gente”!

O Presidente da Direcção, serviu os Fu-zileiros, com zelo e dedicação, na pujança da juventude, durante 7 anos, 2 meses e 9 dias. Saiu da Instituição com 23 anos de idade, como marinheiro Fuzileiro.

E é aqui que parece radicar o mal!

Foi, porém, convidado para reingressar nesta grande família de afectos, quando exercia funções públicas relevantes na Ad-ministração do nosso País, o que aceitou com algum receio, mas com muita honra e muito decoro.

Embora noutro Ministério, mas não menos importante para a segurança, paz e tranquilidade social, atingiu, com reco-nhecido mérito, o topo da carreira superior. Não obstante, como Vice-Presidente das duas Direcções anteriores, sempre acei-tou, com humilde submissão, tal como a quase totalidade dos demais membros, a permanente e desconfortante condição de “subespécie”, perante as decisões pré-con-

cebidas e unilaterais que sistematicamente caracterizaram os mandatos.

Recusamos aceitar, todavia, que a Pre-sidência de uma Instituição desta natureza seja exercida de íngreme pedestal, a partir do qual se olhe para os demais membros como meros suportes abasbacados de uma imponente estrutura estratificada, de cariz monárquico, para justificação do fenó-meno sucessório.

O Presidente da actual Direcção, em-bora se tenha revelado relutante aos im-pulsos para encabeçar a lista, foi eleito democraticamente pelos sócios, com a maior percentagem de sempre de votantes, circunstância que lhe confere superior legi-timidade, por muito incómodo que cause à (felizmente pequena) plêiade de detracto-res, sempre prontos a criticar mas que, de positivo, pouco ou nada fazem.

De resto, o Presidente e Director da Re-vista continuará, com respeito e humildade, subordinado às hierarquias, das pessoas, da moral e dos valores, na certeza de que os sócios/leitores são sensatos, compreen-sivos e inteligentes, pelo que saberão ex-trair do conteúdo da carta o seu verdadeiro alcance e as suas reais intenções.

Ilídio Neves

do e presente da actuação e atitude dos Fuzileiros.

Haverá também que atentar na ampla distribuição do Boletim – Marinha, outros Ramos, entidades civis e militares, etc. – por forma a assegurar a transmissão da imagem e perfil do Fuzileiro que tem colhido admiração e respeito na opinião pública.

3 – A anterior Direcção, da qual fizeram parte elementos da actual, desenvolveu

excelente e profícuo trabalho que mereceu o voto de louvor com aclamação aprovado em Assembleia Geral, quando da respecti-va cessão de funções. Para a presente Di-recção desejo continuidade dessa acção, sem polémicas destrutivas que afectem a unidade dos Fuzileiros e a imagem da As-sociação.

Estas minhas considerações apenas pretendem contribuir para eventual refle-

xão, quer interna quer dos associados, não colocando reservas quanto ao entusiasmo e dedicação de quantos servem a Ass. Fz que todos nós desejamos cada vez mais forte, actuante e prestigiada”.

Vasco Manuel Teixeira da Cunha Brazão

CMG FZE (Res) – Sócio nº 277

CARTA À DIRECÇÃO » Continuação da página anterior

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POEMA AO HERÓI PORTUGUÊSEu juro, por minha fé Oh! Gentes desta nação: Que nas bolanhas da Guiné Vi um herói sempre em pé De nome Alpoim CalvãoMas que homem destemido Este enorme Marinheiro! Ouvindo das armas bramido… Logo se punha em sentido E acudia em primeiro!Perante o inimigo, em acção… No bélico calor do despique O nome de Alpoim Calvão Troava como um canhão Pondo-o logo em tremelique!...“Mar verde” não é um mito Na sua coroa de glória! Com esse guerreiro grito Não terá nome finito… Pois ficará na história!Golpe de morte ou de vida? A Pátria estava em primeiro! E de uma Conakry aturdida… Libertou gente detida Num infame cativeiro!Mereces o rol dos famosos Nobres lusos Pioneiros! Por feitos tão valorosos… Sempre se sentirão orgulhosos Os teus irmãos Fuzileiros!

Alfredo Martins Guedes

O VELHO FUZILEIROSe disser, hoje, que fui Fuzileiro Naval, As pessoas dirão que é doido varrido; O seu aspecto pesado, o olhar sofrido, Escondem o interior forte, o potencial.

O estilo, a primeira impressão, a imagem, São a fotografia comum, não fidedigna, De um ser que revela e consigna Uma panóplia de forças, que interagem.

Se um leão é um leão até à morte, Um Fuzileiro é um comando vencedor: Nobre, forte, honesto e respeitador, Que não renega o passado ou sorte.

Multifacetado, ergue bem alto a taça, Perfil forjado no treino e sofrimento; Com muito orgulho, garbo e merecimento, Porque bebeu no Zaire, Rovuma, Niassa.

COR DE SANGUEEstava cor de sangue, a lua, O charco estava ensanguentado, Não tinha folhas a palmeira nua E o luar cheirava a queimado

Depois, o silêncio incomodava, Silêncio quente, tumular. Na incerteza da emboscada, Na hora de reembarcar.

A lancha ao largo esperava, Lá no sítio combinado, Há muito o dia clareava, Pouco tínhamos caminhado.

Já se ouvia a floresta, Acordar para um novo dia, Da ração já nada resta, E água já não havia.

Operação bem sucedida. Mais uma dos fuzileiros. Está esta missão cumprida, Com dois feridos ligeiros.

O cheiro a terra queimada, Ia fincando para trás. O motor da lancha abicada, Quantas saudades nos faz.

Os primeiros a embarcar, São eles, os prisioneiros. As populações vão descansar, Dos ataques traiçoeiros.

Chegado o Spínola à Guiné, Ficamos todos a aguardar Se com a psico é que é!.. A guerra irá acabar?...

António Faria

FUZILEIRO SEMPREAos vinte anos já adulto, Ingressei nos Fuzileiros. Estudei para ser culto, Mas nunca fui dos primeiros.

Na área do desporto, Era um atleta a valer. Dava tudo até poder, Chegava ao fim quase morto, Vencia léguas a correr.

Pratiquei luta, judo e boxe, Pensava não ser capaz. Mas graças ao professor Que era mesmo um senhor: O saudoso Carlos Ferraz.

Estudei regulamentos, Táctica e orientação. Na área das comunicações, Fazia grandes confusões. Gostava muito da natação.

Na Escola de Fuzileiros, Unidade de eleição, Aprendi a combater, Com sacrifício e muito sofrer. Era dura a instrução.

Na pista de combate, O coração, quase saía do peito, Mas com coragem e destreza, Éramos Fuzileiros concerteza. Não era medo, era respeito!

Quando terminei o curso, Muito ficou por aprender. Ao longo da vida descobri,

FUZO-POESIA

Por muito livro que li. Serei ignorante até morrer.

Mais tarde, já graduado, No posto de marinheiro, Sentia grande vaidade. Estava mesmo na idade, Era um jovem Fuzileiro.

Companhia 01 de Fuzileiros, Cmte. Anacleto na liderança. Com rigor, disciplina e autori-dade. Ele tinha muita vaidade E nos seus homens confiança

Embarquei para o ultramar. No Vera Cruz viajei. Com soldados e marinheiros, Como os nossos pioneiros, Em Luanda desembarquei.

Saí da minha humilde terra, Para aquela maldita guerra, Que chamávamos do ultramar. Mais tarde vim a saber, Que tínhamos que combater Para alguns doutores engor-dar!

Joaquim Manuel DomingosJúlio Vaz Gomes

26 SALPICOS DE VIDA

O Mário “Sinais” era grande e um le-ader. Marinheiro FZE, chefe de esquadra de dois grumetes, pequenos e cheios de genica, o Bragança e o Bichaninha, que ele educou e protegeu como um pai.

Era destemido, generoso, exuberante, bem disposto e de grande lealdade.

As histórias vividas no mato com o Má-rio, de 1965 a 1967, foram muitas, e foi di-fícil escolher duas que me proponho relatar agora.

Certa noite, o destino fez-nos uma partida. Conjugou no momento de desem-barque no rio Corubal, uma enorme cheia, uma clareira e um morro, onde estava um grupo armado à nossa espera.

Numa retirada de aflitos, encontrámo-nos na margem do rio, doze homens sós, mergulhados na água barrenta, unicamen-te de cabeça de fora, sem comunicações com ninguém, e muito desnorteados com o que nos estava a acontecer.

O tiroteio era mais que muito e os in-sultos às nossas mães eram constantes e únicos. No meio daquela grande aflição, procurando cada um do nós equilibrar-se emocionalmente perante o inesperado, vi-mos de repente o Mário sair da água, subir para o Ourique e, enquanto disparava um carregador, gritar várias vezes “filhos da p… é que vocês não me chamam, p… é a vossa mãe!...”. Por incrível que pareça, foi esta reacção, fora de qualquer raciona-lidade, que nos fez a todos ganhar ânimo e coragem para ripostarmos taco a taco e vir, muito mais tarde, já em plena noite escura, a sair desta complicada situação ao encon-tro do Destacamento entretanto desembar-cado mais a norte.

O outro episódio, sucedeu numa mata cerrada no sul da Guiné, onde a esquadra do Mário seguia à minha frente na tes-ta da coluna. Já era madrugada, e decidi poupar o Mário ao sacrifício de continuar a abrir caminho, mandando o Valério e a sua esquadra para a frente. Então não foi

que, em pleno silêncio da madrugada hú-mida, com água a escorrer-nos pelo corpo e pela alma, o Mário resolveu “contestar” a minha decisão dizendo que era a ele e à sua esquadra que pertencia fazer o esforço e correr o risco! Claro que lhe disse que ele podia refilar mas sem eu ouvir, e o Valério passou para a frente.

Foram muitos episódios destes que fa-zem crescer a vontade de, quarenta e dois anos depois de chegarmos a Lisboa, ter-mos o prazer de nos reunirmos em almo-ços, onde a amizade e os sacrifícios que juntos passámos, nos recordam os valo-res (hoje tão esquecidos) que nos fizeram crescer como homens e dizer a frase que deixamos nas nossas memórias “Pelo que somos e pelo que fomos”.

O Mário deixou-nos para sempre numa madrugada fria de Janeiro de 2009. À fa-mília, a quem falta agora a exuberância e o carinho do marido, pai, irmão e tio, deixa o DFE 4 (65/67), as mais sentidas condo-lências.

MÁRIO “SINAIS”

Embora o conteúdo desta rubrica tenha essencialmente em vista trazer ao conhe-cimento dos leitores episódios relevantes da vida dos Fuzileiros, que revelem ou de-monstrem, de forma mais ou menos hila-riante, corajosa e ousada, as acções e emo-ções de alguns dos seus membros, durante os tempos que serviram a Instituição, desta vez o assunto surgiu por via lamentável, veiculando a tristeza e a saudade, através da notícia do desaparecimento, para sem-pre, de mais um prestigiado camarada.

O 1º Sargento FZE, Mário Augusto Rodrigues, de alcunha “o Sinais”, não era ainda sócio da Associação de Fuzileiros, mas preparava-se para fazer, em breve, a sua inscrição. Não obstante, era um Fuzi-leiro de referência, um Homem valente e corajoso, estimado por quantos com ele

tiveram o privilégio de compartilhar a vida, no ultramar e na Metrópole.

Por isso mesmo, o texto que nos che-gou às mãos, elaborado com indisfarçável ternura e profunda emoção pelo seu ilustre imediato, no 4º Destacamento de Fuzilei-ros Especiais, na Guiné, CMG Francisco Carvalho Rosado, é bem revelador dos sentimentos nobres e do espírito de cama-radagem e solidariedade que sempre ca-racterizaram estes Homens valorosos, que envergaram e envergam, com destreza e orgulho, a boina azul ferrete.

A dor e a saudade do Exmo. Coman-dante é comum a todos os Fuzileiros e as suas palavras escritas traduzem, na pleni-tude, grande parte daquilo que, com natu-ralidade, poderemos considerar como ver-dadeiros Salpicos de vida.

SPM 0468 N.º 1

27SALPICOS DE VIDA

OS FUZILEIROS NA GUERRA VIVO OU MORTO, NUNCA DEIXARAM

UM CAMARADA PARA TRÁS

Tinham que ser destemidosPorque não havia protecçãoHouvesse mortos ou feridosIam aos limites na sua acção

Alvos móveis a passarSem nada a protegerE o inimigo a espreitarPara um qualquer abater

Ao acontecer a emboscadaTinha que haver acção fugazSe morria algum camaradaNem defunto ficava para trás

28

EXAME DE ACESSO À FEDERAÇÃOAs actividades desportivas do ano 2009 iniciaram-se com o exame de acesso à Federação Portuguesa de Tiro, no dia 10 de Janeiro, tendo a AF levado quatro sócios, os quais ficaram todos aptos na prova teórica e exame prático, que se realizou no Complexo Des-portivo do Jamor, em Lisboa.

PASSEIO À ARRÁBIDANo passado sábado, dia 21 de Fevereiro, efectuou-se mais um passeio pedestre na nossa conhecida Serra da Arrábida, onde fo-ram percorridos 7 km na encosta norte da mesma.O passeio decorreu dentro da normalidade, sobrando ainda tempo para aumentar o conhecimento sobre a flora e fauna local.

TIRO PRÁTICO DESPORTIVONo passado sábado, dia 14 de Março, realizou-se a primeira prova de tiro prático desportivo do ano, contando com a participação de três atiradores da AF, que competiram na modalidade de Modified.A competição realizou-se nas instalações da Unidade Especial de Polícia, em Belas, e foi organizada pelo Clube de Atiradores do Pessoal da PSP.

TIROO exame era constituído por um teste escrito, relacionado com le-gislação e normas de segurança, a parte prática consistia em ma-nusear uma arma de fogo em segurança, pelo processo de carregar e descarregar a arma, finalizando depois com um teste de precisão, onde o candidato teve que efectuar dez disparos no alvo.

Dentro em breve, os sócios poderão consultar no site da AF o qua-dro de actividades desportivas agendadas para o ano de 2009Espada Pereira – Associação de Fuzileiros Direct. Desp. da Secç. de Tiro e Desporto – [email protected]

DESPORTO

29BREVES

Decorreu, no passado dia 18 de Feve-

reiro, na Base do Lumiar (Hospital da Força

Aérea), em Lisboa, uma reunião presidida

pelo Exmo. Ten. General Alípio Tomé Pinto,

com vista à preparação do Encontro Nacio-

nal, junto ao Monumento aos Combatentes

do Ultramar, em Belém – Lisboa, no próximo

dia 10 de Junho – Dia de Portugal.

O Exmo. General, que no corrente ano

preside à Comissão Executiva do Encontro

Nacional de Combatentes, entendeu por

bem convocar e dar a conhecer aos respon-

sáveis de todas as Associações de Comba-

tentes e ex-Combatentes, os propósitos e

os procedimentos relativos a este grandioso

evento, que pretende homenagear os que

um dia tombaram em defesa da ideia e dos

valores de Portugal.

Tratou-se de uma oportunidade, como

refere, “para sensibilizar e apelar à partici-

pação de todos no objectivo de reforçar a

nossa Identidade e auto-estima como Na-

ção espalhada pelo Mundo, reafirmando

valores de solidariedade e de fraternidade,

potenciando energias e valores Pátrios”,

evidenciando que “o nosso presente não é

apenas o honroso passado mas será, em

especial, o futuro do nosso Portugal que vai

bem além das suas fronteiras geográficas”.

Por parte da Associação de Fuzileiros,

esteve presente o Presidente, Ilídio Neves,

e o membro dos Corpos Sociais, João Cos-

ta da Silva.

Apelamos, pois, à participação massiva

dos nossos associados, neste grandioso e

simbólico acontecimento, como testemunho

e reafirmação dos valores que sempre ca-

racterizaram a nossa distinta Classe.

Ilídio Neves

Da autoria de Rui Santos Vargas, foi publicado um excelente artigo, no Boletim da Associação dos Pupilos do Exército, em separata ao n º 210, sobre a “Ordem Militar da Torre e Espada e o Comandante Alberto Rebordão de Brito.”

Este ilustre Capitão-de-Mar-e-Guerra Fuzileiro Especial, que em 01 de Outubro de 1953 ingressou no Instituto dos Pupilos do Exército, pelo seu extraordinário desem-penho ao serviço dos Fuzileiros, e por Alva-rá de 24 de Maio de 1972, é agraciado pelo Presidente da República Almirante Américo Tomás com o grau de Oficial da Ordem Mi-litar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

Neste exaustivo e interessante trabalho, o autor, para além de uma definição por-menorizada desta sublime condecoração, traça o exaltante perfil do glorioso Coman-dante, que com ousados rasgos de valentia e coragem desenvolveu na Guiné, durante o período mais escaldante da guerra, uma acção altamente meritória, que encheu de honra e glória a Marinha e, em particular, a nossa prestigiada classe.

Destaca ainda, a certo ponto, que, “em Março de 1977, é um dos fundadores da Associação de Fuzileiros, e esta há-de ho-menageá-lo dedicando-lhe a sua marcha”. Com efeito, como julgamos ser sabido por quase todos, foi este nosso brioso Coman-

dante que forneceu ao autor da letra do nosso hino, os tópicos essenciais para o seu conteúdo e que, posteriormente, cedeu à Associação o produto final desse traba-lho artístico, de grande significado para os Fuzileiros.

A separata a que antes se alude, onde consta o magnífico artigo, pode ser consul-tada e “baixada” no sítio da APE, no ende-reço: http://www.ape.pt/attach_files/content_file_242.pdf

Ou, ainda, no sítio: http://ultramar.terraweb.biz/06livros_RuiSantos%20Vargas.htm

Ilídio Neves

10 DE JUNHO

FUZILEIROS E A ORDEM MILITAR DA TORRE E ESPADA

O camarada Gonçalves (Neo) editou um CD com temas por si interpretados e escolhidos. Inicia a resenha com o silêncioe a marcha da Associação de Fuzileiros, temas com que nos brindou no Encontro Nacional de 2008, junto ao Monumento.

PODE SER ADQUIRIDO NA ASSOCIAÇÃO

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Envolvido na essência mais pura e co-movente da emoção, entregamos, desta vez, este espaço a uma Personagem invul-gar, ao exemplo maior desta raça excelsa que caracteriza os Homens de Bem.

Trata-se de um Fuzileiro, um virtuoso “Filho da Escola” que, ludibriando o terrível infortúnio que lhe bateu à porta e alimenta-do pela aura que, na Escola de Fuzileiros, lhe moldou os sublimes princípios que o animam, assentes na coragem, no espírito de sacrifício, na solidariedade e na deter-minação, exalta e prestigia a mística que envolve esta distinta classe.

Este verdadeiro exemplo de vida, que enaltece os supremos valores da existên-cia, é o JOSÉ FERNANDO ROSA DA COS-TA, afectuosamente tratado por “LAU”, que ingressou nos Fuzileiros, como grumete re-cruta, em Julho de 1971, sendo-lhe atribuí-do o número mecanográfico 2.085/71.

Sobre este Homem grande e Fuzileiro de excelência, despertou-nos a atenção um artigo que lemos num órgão de comuni-cação social regional, datado de 15 de De-zembro de 2003, escrito pela pena sensível de uma ilustre figura local, que, segundo conseguimos apurar, se trata de um ex-deputado da Assembleia da República e autarca de relevo da cidade de Gaia, terra natal deste nosso insigne “Personagem”, com o título: “Figuras notáveis da minha terra”.

Pelo seu conteúdo e significado e, tam-bém, como meio facilitador do que preten-demos transmitir, transcrevemos, quase na íntegra, o artigo a que aludimos:

“O nome de baptismo pouco importa, nem vale a pena escrevê-lo, pois o Lau é uma personalidade incontornável de Cane-las e das freguesias vizinhas.

Nascido nesta terra, há 53 anos, a sua vida é um hino de dedicação e de solidarie-dade à comunidade.

Desde muito novo, procurou munir-se de meios técnicos e pessoais para se dis-ponibilizar para os outros.

Fez um curso de massagista e de pri-meiros socorros, depois de ter sido Fuzi-leiro durante cinco anos, que muito úteis se revelaram quando criou e dirigiu uma equipa de atletismo, com 42 rapazes e 17 raparigas.

Esta sua dedicação aos adolescentes e jovens é quase lendária. Ainda hoje, no seu estabelecimento, está sempre rodeado de

gente moça, que são as pernas que ele já não pode usar.

Mas essa é outra história.Quando viajava num autocarro cheio de

passageiros, este sofreu um grave aciden-te, que não teve maior número de vítimas graças ao sangue frio e destemor do Lau, que encontrou a forma de possibilitar a sua saída do veículo acidentado. Todavia, se ajudou a salvar os outros, foi ele a vítima maior.

Resultou da sua intervenção um gravís-simo ferimento que o lançou para uma ca-deira de rodas, por ter ficado paraplégico.

Poderia parecer que o mundo ruiu so-bre ele, mas não!

O Lau tem uma enorme força interior e uma grande confiança na vida e soube superar as inesperadas dificuldades surgi-das.

Perdidos os meios de cavar a busca do seu pão com a enxada que possuía, lançou-se na procura de outras ferramentas. Fez um curso de artesanato, criou peças para sobreviver, tendo-lhe sido oferecido pelo poder político local, e bem, um espaço para sobreviver, como comerciante. Encontrou, de seguida, um espaço seu, onde amealha, com dignidade e respeito generalizado, o pão de cada dia, para si e para a sua famí-lia, onde impera o seu filho, a menina dos seus olhos.

E o Lau faz do seu espaço comercial, como dizia o outro, a “sede” de uma grande instituição de convívio, de entreajuda e de alegria de muitos jovens, que também são

uma espécie de filhos do Lau, quase tão queridos como o seu próprio.

É que o Lau, que parece ter asas na sua cadeira de rodas, tal é a sua dedicação a causas nobres, continua a ser o eterno jovem dedicado a fazer voar, nas asas do sonho, os jovens ansiosos que todos os dias com ele convivem.

Faz das fraquezas forças, transforma lágrimas em risos e faz da sua cadeira de rodas um foguetão.

Não há causa que ele conheça que não tenha o seu apoio, não há projecto algum que morra por sua causa.

Como diriam os seus jovens amigos, o Lau é fixe, é um companheiro “à séria”.

Bem hajas Lau, por seres como és, um Homem de corpo inteiro, um apóstolo da solidariedade e da alegria!”

Mais palavras para quê? Trata-se de um camarada Fuzileiro, que nos enche a todos de orgulho.

DESEMBARQUE: Caro LAU, em que circunstâncias e que motivos te levaram a ingressar nos Fuzileiros?

LAU: O meu ingresso na Marinha, de-veu-se ao facto de um amigo meu, o Trin-dade, que na Armada era conhecido pelo “Vira Milho”, ao exibir, com orgulho a farda de marujo, de branco vestido e com o cor-dão vermelho no braço esquerdo, que me impressionou de tal maneira, ao ponto de me deixar dominar pelo desejo de querer também vestir-me assim.

Em conversa, ele explicou-me que es-tava a tirar o curso de Fuzileiro Especial e contou-me peripécias fantásticas sobre o

PERSONAGEM

A boina ainda lhe fica bemFuzileiro exemplar

LAU

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que por lá se fazia, deixando-me fascina-do e com uma vontade enorme de também entrar nos Fuzileiros. No entanto, naquela altura eu não podia ir como voluntário, pelo que, quando fui à inspecção, declarei logo que queria ir para a Marinha, para ingres-sar nos Fuzileiros. Entretanto, já tinha fa-lado com outros indivíduos, alguns que se encontravam colocados na F.F.C., que me ensinaram diversos truques, que depois bastante jeito me fizeram durante o período do curso.

DESEMBARQUE: Qual foi o teu per-curso, dentro da Instituição. Isto é, em que Unidades e por quanto tempo estivestes ao serviço em cada uma delas?

LAU: Cheguei ao Centro de Alistamento da Armada, no Alfeite, no dia 05 de Julho de 1971, onde estive até ao dia 12.

Segui, depois, para a Escola de Alunos Marinheiros (EAM), para fazer a recruta, em Vila Franca de Xira, onde estive apenas 12 dias, transitando logo para a Escola de Fuzileiros, para frequentar o ITE, que termi-nou em Dezembro/71.

Transitei, de seguida, para a Força de Fuzileiros do Continente, nos Adidos, onde permaneci até começar o Curso de Fuzilei-ros Especiais, que se iniciou em 24 de Abril de 1972 e terminou em 01 de Setembro de 1972.

Os momentos e as histórias incríveis que vivi na FFC, ainda me espicaçaram mais o entusiasmo e o desejo de ser Fu-zileiro.

Depois de acabado o curso de FZE, vivi um momento caricato, pois que, quando pensava que ia sair para férias de fim de cur-so e até já estava na formatura pronto para partir com vários colegas, alguém começa a chamar por diversos números, entre eles o meu, e mandam-nos sair para o lado. Daí a pouco, mandam-nos entrar para um auto-carro e, algum tempo depois, entrávamos no Grupo n.º 2 de Escolas da Armada, na Escola de Comunicações, para fazer mais um curso, o de Telefuzo, o qual ninguém queria tirar e nem sequer sabíamos o que para lá íamos fazer. Lá encontrámos doze marinheiros e um cabo, o Xangai, com os quais passamos a conviver. Estive lá todo o

mês de Setembro, onde me confrontei com episódios caricatos, muitos deles impostos a contragosto.

Segui depois para a Rádio Naval CN Ribeiro, em Linda-a-Velha. Aqui, durante o curso de Telefuzo, houve cenas que até tiveram a intervenção da Polícia Naval. Era difícil convencerem-me a mim e a mais al-guns a tirar um curso que não queríamos. Valeu-nos a compreensão e a ajuda dos marinheiros e do cabo Xangai, que nos de-monstraram a união e a solidariedade que existia entre os Fuzos.

Fiquei por lá, à espera que me chamas-sem para qualquer Unidade ou para o Ul-tramar, o que veio a acontecer, em 13 de Abril de 1973.

Passei então a integrar a Companhia n.º 7, que se destinava a Moçambique. Em-barcámos para lá em 07 de Maio de 1973 e, quando chegamos, fiquei em trânsito na cidade da Beira, juntamente com o meu amigo e mais tarde meu cunhado, Peniche, também ele Telefuzo. O destino era Tete, onde iríamos substituir os dois radiotele-grafistas do Destacamento de Fuzileiros Especiais que se encontrava na região.

Aguardámos ansiosos o momento da partida, mas quis o destino que assim não acontecesse e acabámos por permanecer na Beira. Curiosamente, estava de serviço na TSF, da meia noite às sete da manhã, na madrugada do dia 25 de Abril de 1974. Em determinado momento, estava a fazer

PERSONAGEM

À saída do autocarro para participar no Encontro Nacional, com a sua inseparável esposa

Na Beira /Moçambique, na Rádio Naval

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o QSOS com Lourenço Marques e com a Metrópole, e fui surpreendido com uma mensagem Zulu, pela primeira vez. Trata-va-se das mensagens mais urgentes que existiam e, ainda por cima, em cifra. Foi o bom e o bonito! …, eu consegui decifrar o princípio da mensagem, que dizia: “senhor operador muito secreto não decifrar sem comandante presente”.

Só que eu já o havia feito e fiquei bas-tante preo cupado com o que estava escri-to; era o começo da Revolução.

Foram momentos inesquecíveis! … .Estive na Beira, na Rádio Naval, até 29

de Novembro de 1974, regressando depois à Força de Fuzileiros do Continente.

Passei “à peluda” em 28 de Fevereiro de 1975.

DESEMBARQUE: Como se verifica, sentes um orgulho enorme em ter sido (e seres) Fuzileiro e dás a entender que os tempos em que por lá passaste, no activo, foram os mais marcantes e intensos da tua vida.

Por que razão não seguistes a carrei-ra, na Marinha, ou quais foram os motivos que te levaram a optar pela saída ao fim de quatro anos?

LAU: Foram, de facto, os tempos mais marcantes da minha vida. Foi naquela Es-cola que aprendi a enfrentá-la com cora-gem e determinação, fiz muitos amigos e vivi experiências inesquecíveis.

Não fiquei na Marinha, como era ini-cialmente o meu desejo, porque quando cheguei do Ultramar tudo aquilo era uma confusão, ninguém se entendia, era a de-sordem completa, até mesmo dentro da Força de Fuzileiros do Continente.

Era a política a confundir-se com a or-dem e a disciplina, com comícios por todos os lados. Eu não me identificava nada com

o que se estava a passar, não estava ha-bituado a ver cenas daquela natureza, al-gumas bastante tristes e insensatas. Eram tentativas de influência por todos os lados e práticas que eu entendia não serem ade-quadas em Unidades militares.

Foi assim, desiludido com toda aquela confusão, que resolvi ir embora. Não foi fácil para mim, devido ao facto dos conhe-cimentos que tinha dos códigos de cripta da NATO, ainda em vigor, mas lá consegui escapar-me.

Todavia, quando fiz a entrega do es-pólio e me preparava para ir embora, à saída do portão de armas, dei por mim a chorar, com as lágrimas a escorrerem-me pela face. Nesta altura, um cabo Fuzileiro apercebeu-se da minha emoção e dirige-se a mim nestes termos: “Oh Fuzileiro, não estejas assim, porque ao abandonar esta casa só chora quem gostou de cá estar!”

E era realmente o meu caso.DESEMBARQUE: Qual a profissão ou

actividade que foste exercer, depois da passagem à vida civil?

LAU: Eu, antes de ingressar nos Fuzilei-ros, trabalhava como serralheiro de alumí-nios. Quando saí, voltei a exercer a mesma profissão, na firma Soares da Costa.

Gostava do que fazia e sentia-me feliz no exercício da minha actividade, mas, em circunstância alguma era capaz de me es-quecer dos tempos e dos amigos que fiz nos Fuzileiros.

DESEMBARQUE: Em que circunstân-cias ocorreu o acidente terrível que origi-nou a tua deficiência e que te arrastou para o calvário, numa cadeira de rodas?

LAU: Na firma em que trabalhava foi-me dada a possibilidade de, nas 60 horas que tinha para colocar cinquenta janelas de alumínio, se as conseguisse colocar em menos tempo, eu ganharia um bónus de tempo e de dinheiro, que poderia acumular. Era, ao fim e ao cabo, um prémio de produ-ção, o que era benéfico para a empresa e para o trabalhador, porquanto trabalháva-mos com mais gosto e entusiasmo e quan-to mais fizéssemos mais ganhávamos.

Eu, com este sistema, acabava por ganhar uns bons extras e traduzia-se num aumento de ordenado. Comecei a juntar dinheiro e, quando chegou a Páscoa, ve-rifiquei que tinha amealhado uma quantia substancial. Falei então com a minha mu-lher e disse lhe que gostava de ajudar um tio que eu tinha em Penafiel, que vivia com

dificuldades. Ela concordou e eu juntei uns sacos de géneros alimentícios e outras coi-sas para ele poder fazer face à vida.

Desloquei-me lá e foi uma alegria para o meu tio e para os seus cinco filhos, por-que já iam passar uma Páscoa mais feliz.

Eu estava radiante, despedi-me, apa-nhei o autocarro para o Porto e regressava a minha casa. Infelizmente, num momen-to, sem que nada o fizesse prever, os tra-vões do autocarro falharam numa descida, provocando o seu despiste já em cima da ponte que atravessava o rio Cavalium, na freguesia de Milundes, Penafiel, precipitan-do-se nas águas, ficando parcialmente sub-merso, tendo eu ficado gravemente ferido, numa luta desesperada pela sobrevivência, e acabei paraplégico.

Tinha 29 anos de idade e uma vida in-tensa para viver, cheia de sonhos e entu-siasmo!...

DESEMBARQUE: A tua vida tem sido um verdadeiro exemplo de coragem, de perseverança e determinação.

Onde foste encontrar as forças que te animaram e te levaram a ultrapassar tantas vicissitudes e te conduziram a um invulgar e quase inacreditável sucesso profissional e social?

LAU: A princípio foi muito difícil, ao pon-to de me revoltar contra Deus e contra tudo. Foi a fase do desespero.

Um atleta, como eu me considerava (por três vezes campeão do INATEL, em futebol de salão, pela firma Soares da Cos-ta, praticante de atletismo e treinador de jovens, em diversas modalidades), passar, assim de repente, para uma cadeira de ro-das, foi, como certamente se compreende-rá, terrivelmente doloroso. Mas, mais grave ainda; foi ter perdido, quase por completo, muitas outras funções vitais, tais como a função sexual, incapacidade para fazer as

PERSONAGEM

No jantar de Natal de 2008Em casa, após a entrevista

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necessidades fisiológicas, incontinência e muitas outras deficiências.

Fiquei cerca de um ano internado num hospital e, a pouco e pouco, fui-me agar-rando a diversos “truques” e tentando fo-car a mente num sentido positivo, até que, paulatinamente e com a ajuda da família e de alguns bons amigos, lá ia procurando reencontrar-me para a vida.

Nessa altura, não tinha casa e vivia com a minha mãe, também ela deficiente, com as pernas amputadas, numa casa com di-versos degraus, inviabilizando a cadeira de rodas. Foi então que surgiu o meu grande amigo, cunhado e, também ele, um Fuzilei-ro – o Peniche – e me ofereceu a estadia na sua casa, que era um rés-do-chão. Lá fiquei durante nove anos, beneficiando de toda a sua ajuda, compreensão e afecto, tanto para mim como para toda a minha família.

Jamais lhe conseguirei pagar o quanto tem feito por nós!

Vivi algum tempo com a caridade dos amigos, que, a certa altura, fizeram uma colecta para me comprar um triciclo. Fiquei assim um pouco mais independente.

Dominava-me, todavia, uma permanen-te inquietação. Queria trabalhar, fazer algo de útil, sentir-me minimamente válido. Mas como? Com que meios? Com quem pode-ria contar?

Era uma luta terrível e desesperada, ao ponto de me conduzir a algumas acções dramáticas de protesto nas ruas, chegan-do mesmo a haver intervenções policiais, quando resolvi colocar uma cama nos pas-seios das ruas e deitar-me nela, reivindican-do ajudas das Instituições de Solidarieda-de Social e da Caixa Geral de Depósitos.

Lembrava-me a todo o momento de que tinha o meu filho pequenino para criar, queria fazer alguma coisa.

Finalmente, depois de tanta luta e tan-to sacrifício lá consegui um empréstimo da Caixa. Fui, de imediato, tirar um curso de artesanato, ganhava 34 contos por mês, o que já era uma ajuda substancial para o sustento da família. A partir daí, nunca mais parei; fazia e vendia peças de artesanato, montava exposições e aprendi a fazer ou-tras coisas básicas para a manutenção do lar, dizendo para comigo: “estás coxo das pernas mas não dos braços nem da cabe-ça”!

Passado algum tempo, aconteceu o golpe de sorte, graças a um amigo meu, que era Presidente da Câmara, oferecen-do-me um quiosque e, a partir daí, surgiu a papelaria.

Na montagem e gestão deste negócio, passei momentos absolutamente emocio-nantes, não só na arrumação, selecção e exposição das mercadorias, como na pro-cura de fórmulas imaginativas para, com a minha grande deficiência, lograr servir os clientes. Comecei então a desenvolver uma relação de afectos, especialmente com as crianças, e o meu comércio transformou-se numa espécie de “self-service”, onde cada um se servia como queria e podia, ajudan-do simultaneamente a criar uma imagem de eficiência, de confiança e de espírito solidário.

O negócio acabaria por se transformar em sucesso e a “Casa do Lau” passou a ser uma referência nas escolas e em toda a localidade. Passei então a colaborar com os jovens e a ajudá-los naquilo que podia, possibilitando a muitos deles momentos de grande alegria e satisfação, através de ac-ções de financiamento e promoção de via-gens no país e no estrangeiro.

Em pouco tempo tornei-me suficiente-mente conhecido e não havia colectividade ou instituição na região que não me viesse bater à porta, as quais eu auxiliava da for-

ma como podia, com uma enorme alegria e grande satisfação.

Hoje, graças a Deus, tenho uma boa casa e sou uma pessoa estimada e feliz, na companhia da minha querida esposa, dos meus amados filho e nora e, agora, para suprema felicidade, com a vinda recente do meu lindo e desejado netinho.

Sinto que as pessoas da localidade gostam de mim e reconhecem, com gestos e atenções, a minha sensibilidade altruísta e solidária.

DESEMBARQUE: A alegria e o entu-siasmo com que enfrentas o dia a dia são absolutamente contagiantes e uma autênti-ca lição de vida, para quantos te rodeiam e te admiram.

Qual o papel da tua família e dos teus amigos em tudo isto?

LAU: Apesar das terríveis agruras a que estava sujeito, sempre tentei viver a vida com dignidade, alegria e entusiasmo. Era até apontado como exemplo no hospital e em outros locais susceptíveis de levar ao abatimento do “animus”.

Foi sempre muito reconfortante sen-tir os amigos (e são muitos) a meu lado. Porém, a Divina Providência abençoou-me com uma esposa maravilhosa, meu Deus que esposa, sempre, sempre a meu lado e a dar-me força, nunca se queixando de nada. Ela trabalhava muito e teve de alterar os horários para me poder visitar e assistir todos os dias. O meu filho foi praticamente criado por mim, porque a mãe tinha que tra-balhar, e isso criou laços muito fortes entre nós dois.

Também não posso esquecer o contri-buto amigo e extraordinário do meu esti-mado cunhado, o Peniche, um Fuzileiro de eleição que, junto de mim, sempre exibiu os seus sublimes instintos de fraternidade e solidariedade.

DESEMBARQUE: Que importância tem a tua indisfarçável ligação aos Fuzileiros neste teu comportamento?

LAU: Tem muita, mas mesmo muita. Porque eu julgo que foi naquela Escola de Fuzileiros que eu vivi e senti a verdadeira camaradagem. Éramos todos unidos e so-lidários, o lema era “um por todos e todos por um”, fosse em que circunstância fosse, na Arrábida, no estuário do Sado, em S. Pedro de Moel ou na mata de S. Jacinto, na Ria de Aveiro.

Esses tempos marcaram-me muito, fiz muitos amigos e é por isso que ainda hoje

PERSONAGEM

O lodo não constituía dificuldade Velhos tempos, nas alturas

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tento afanosamente encontrar alguns des-ses camaradas.

DESEMBARQUE: Devo dizer-te que foi para nós um verdadeiro prazer conhecer-te, por tudo o que tu representas, pela tua abnegação, pelo teu exemplo de vida e pelo esplendor do teu espírito solidário, na certeza de que a tua grandeza muito con-tribui para o incomensurável prestígio dos Fuzileiros.

Sentes também à tua volta o carinho e o afecto dos teus camaradas de armas? E que representam eles para ti em todo este contexto?

LAU: Sim, sinto muito, à medida em que os vou conhecendo e com eles convi-vendo. Foi, por exemplo, o vosso caso. Co-nhecer e conversar com o meu caro amigo Presidente da Direcção da Associação, Dr. Ilídio Neves, e outros membros dos Cor-pos Sociais é uma honra e um privilégio. A vossa acção é verdadeiramente exemplar

e constitui um estímulo grandioso para to-dos os Fuzileiros. Ler os seus livros, caro Presidente, “O Nunca Cessante Revigorar da Vida – Venturas e Desventuras do Ins-pector Zé Fuzo”, a “Fé do Bandido” e “Fu-zileiros, Força de Elite”, foram momentos de grande prazer e felicidade, em que me revi, com arrepiante emoção, em muitos e diversos episódios neles narrados. Só es-pero é que ponha cá para fora mais livros e depressa.

Eu sou mesmo assim, uma pessoa de emoções e gosto muito dos meus amigos, onde vocês se incluem.

É muito bom, ver acontecer estas coi-sas à minha volta!

DESEMBARQUE: Para finalizar, e sen-do certo que és um sócio empenhado e participativo.

O que pensas e como encaras a nossa Associação e o nosso Desembarque?

LAU: Encaro a nossa Associação como uma coisa indispensável para todos os Fu-zileiros. É uma espécie de casa de todos nós, onde poderemos recorrer, em qual-quer altura, na busca de algum conforto e de alguma satisfação.

Em relação ao Desembarque, tenho que confessar que o seu aparecimento foi para mim uma surpresa total.

Mas que surpresa agradável!A nossa Revista está muito bem conce-

bida, muito bem escrita e lê-se com muito prazer. Quando a recebo, eu não a leio, de-voro-a repetidamente, porque gosto muito das entrevistas e das rubricas que lá vêm, não só porque focam assuntos que nos to-cam profundamente como também nos en-volvem em sentimentos de rara felicidade.

Bem hajam, pelo excelente trabalho que têm feito.

Entrevista conduzida por: Ilídio Neves Fotos: Mário Manso

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ALTA

QUAL

IDADE

INOVAÇÃO

AMIGAS DO AMBIENTE

BOM GOSTO

PERSONAGEM

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Vai realizar-se, à semelhança de anos anteriores, o encontro Nacional de Com-batentes e Ex-Combatentes, no próximo dia 10 de Junho – Dia de Portugal – junto ao Monumento aos Combatentes do Ul-tramar, em Belém, Lisboa.

A Associação de Fuzileiros, associa-se a esta emocionante comemoração, na certeza de que se trata de uma opor-tunidade para sensibilizar e apelar à par-ticipação de todos, com o objectivo de reforçar a nossa Identidade e auto-estima como Nação espalhada pelo Mundo, re-afirmando valores de solidariedade e de fraternidade, potenciando energias e va-lores Pátrios, trazendo à evidência que o nosso presente não é apenas o honroso passado, mas será também, de forma muito especial, o futuro do nosso País, que vai bem além das suas fronteiras ge-ográficas.

O Presidente da Direcção apela, pois, à participação massiva dos nossos asso-ciados, neste grandioso e simbólico acon-tecimento, como testemunho e reafirma-ção dos princípios e valores que sempre caracterizaram a nossa distinta classe.

A Direcção da Associação de Fuzilei-ros, dando cumprimento aos objectivos propostos, entendeu por bem promover, por ocasião da comemoração do seu 32º aniversário, uma realização de âmbito cul-tural, de muito interesse e grande signifi-cado para a Instituição, com uma palestra proferida pelo insigne Professor Doutor Adriano Moreira, subordinada ao tema “As vantagens para Portugal da participa-ção dos Fuzileiros nas Missões Interna-cionais, no contexto da Globalização”.

A palestra terá lugar no salão da sede da Associação de Fuzileiros, no dia 27 de Março de 2009, pelas 18,00 horas.

A apresentação do palestrante está a cargo do ilustre Académico, Sua Exce-lência o Senhor Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias.

Convidam-se todos os Fuzileiros, as-sociados e os seus familiares, a estarem presentes nesta importante cerimónia.

No final, haverá um Porto de Honra.

Por sugestão de Sua excelência o Al-mirante Luís Miguel Cortes Picciochi, Dig-mo. Comandante do Corpo de Fuzileiros, e com a concordância de Sua Excelência o CEMA, o Encontro Nacional de Fuzilei-ros, promovido pela Associação, que habi-tualmente tinha lugar no primeiro sábado do mês de Julho, passará a ter um âmbito mais abrangente, compreendendo todo o universo dos Fuzileiros, e será designado por “Dia do Fuzileiro”.

O dia marcado (ainda sujeito a even-tual alteração, pouco provável), será a 27 de Junho de 2009 (sábado).

A Associação de Fuzileiros sente-se, naturalmente, satisfeita e muito honrada com a proposta formulada pelo Exmo. Al-mirante, não só pela gentileza, conside-ração e confiança demonstradas, como também pelo alcance e significado de tal acontecimento, altamente estimulante e congregador para a grande família dos Fuzileiros, reunindo numa grandiosa e comovente cerimónia, que envolve uma componente solene e recreativa, Fuzos do passado, do presente e certamente do futuro, bem como as respectivas famílias e amigos.

Embora sujeito a algumas alterações de última hora, no que diz respeito a meios envolvidos e procedimentos espe-cíficos, o programa estabelecido não an-dará muito longe do seguinte:09h00 – Concentração – Exposição estática (frente ao

Museu e imediações) – Visita ao Museu – Actividades (desportivas, pas-

seios de LARC / Bote)10h30 – Concentração para a Parada11h00 – Início da cerimónia militar (com

Fuzileiros em Parada) – Apresentação das Forças em

Parada / Revista – Condecorações? – Alocuções (CALM CCF / Presi-

dente da Direcção AF) – Homenagem aos mortos, com

deposição de coroa de flores no Monumento

– Desfile12h15 – Missa campal (presidida por um

Alto responsável da Igreja Cató-lica, com ligação às Forças Ar-madas)

13h00 – Almoço campestre, com predo-minância de grelhados.

O preço do almoço será pouco mais que simbólico, a pagar por cada partici-pante, pelo que se solicita a compreensão e empenhamento dos interessados em proceder a prévia inscrição, indicando o número de pessoas.

O Presidente(Dr. Ilídio Neves Luís)

CIRCULAR N.º 1, DE 06 DE MARÇO DE 2009

INFORMAÇÃO

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A lei incontornável da vida vai-se cumprin-do, de forma paulatina e implacável.

Foi com profunda mágoa e em ambiente de incontida consternação, que assistimos à partida, para a eternidade, do nosso queri-do associado e membro dos Corpos Sociais da Associação de Fuzileiros, JOA QUIM DE JESUS DIMAS ALGARVIO, 1.º Tenente OT, Fuzileiro Especial, o estimado e popular “Zé Fuzo”.

A sua amizade, simpatia e permanente disponibilidade para as causas da nossa Ins-tituição, constituíam uma mais valia, um in-centivo e um encanto, para quantos com ele repartiam as empolgantes vivências de toda uma geração de Fuzileiros, corajosos, irreve-rentes, amigos e solidários.

O nosso saudoso “Zé Fuzo”, ingressou na Instituição em 01 de Abril de 1963 e integrou os Destacamentos de Fuzileiros Especiais n.º 9 e n.º 13 e as Companhias n.º 1 e n.º 13, em comissões de serviço no Ultramar.

Foi vítima de doença grave do foro neu-rológico, quando se encontrava internado no Hospital Garcia de Orta, em Almada. Ficou sepultado no cemitério de Vila Chã, no Bar-reiro, para onde foi acompanhado de grande número de camaradas e amigos que, visivel-mente emocionados, se deslocaram de diver-sos pontos do País e de Espanha.

A Associação de Fuzileiros esteve repre-sentada ao mais alto nível, ostentando o res-pectivo guião.

Cumprindo os mesmos desígnios do des-tino, deixou-nos também, para sempre, o esti-mado associado JOÃO TORRES PIAÇAB, 1º Sargento Fuzileiro Especial, que no passado dia 27 de Dezembro foi a enterrar no cemitério do Monte da Caparica, em Almada.

Vítima de doença prolongada, o seu fu-neral constituiu uma enorme manifestação de pesar, com largas centenas de pessoas a acompanhá-lo à sua última morada.

Esta impressionante adesão de amigos e camaradas ilustrava, de forma inequívoca, os valores e princípios éticos que, em vida, ani-mavam este Fuzileiro de eleição.

O nosso saudoso sócio, entrou nos Fuzi-leiros em Setembro de 1961 e cumpriu quatro comissões de serviço no Ultramar, integrando os Destacamentos de Fuzileiros Especiais n.º 3, n.º 8 e n.º 4, respectivamente Angola, Moçambique e Guiné, e Companhia n.º 7, em Moçambique.

A Associação de Fuzileiros esteve presen-te, na pessoa do seu Presidente.

Nesta roda imparável da vida, mais um querido associado nos deixou, nesta data es-pecial do ano.

Com efeito, no passado dia 29 de Dezem-bro, partiu para a outra dimensão o Sargento-Mor, JOA QUIM MOTACO NUNES, sócio n.º 19, igualmente vítima de doença prolongada.

Ingressou na Marinha, em Vila Franca de Xira, em Setembro de 1959, como Grumete Escriturário, concorrendo, algum tempo de-pois, à especialidade de Fuzileiro. Fez três comissões de serviço no Ultramar.

O Sargento Motaco Nunes sensibilizou-nos em vida pela sua simpatia e afabilidade, tendo sempre para oferecer um sorriso incen-tivador, fosse qual fosse a circunstância em que se impunha o exercício da autoridade em

relação a qualquer subordinado. Em Angola, entre os anos de 1966 a 1968, tivemos opor-tunidade de constatar esta realidade, para re-gistar na memória este comportamento amigo, fraterno e solidário.

O seu funeral constituiu um momento de sentido pesar, desde a Igreja de St.º António, em Tercena, onde decorreu o velório, até ao cemitério de Sintra, onde ficou sepultado.

A Associação de Fuzileiros esteve repre-sentada pelo seu Presidente e outros mem-bros da Direcção, fazendo-se acompanhar do respectivo guião.

Em conversa com um camarada de armas, soube-se do falecimento de um Fuzileiro de eleição, de grande coragem e verticalidade, o ANTÓNIO MANUEL LOPES MONTEIRO, mais conhecido por “Bombarral”.

Era um Homem de grande devoção à família, que sempre presenteou com muito amor, que repartia com uma grande dose de afecto aos Fuzileiros, segundo testemunho de sua filha.

Tratava-se de um daqueles Fuzos cujo lema era “antes quebrar que torcer”, sobrevi-vendo a muitas emboscadas na vida. Porém, a sua dureza e rija têmpera, foram incapazes de suster esta, mais traiçoeira e violenta, não lhe valendo o epíteto de experimentado com-batente.

O Desembarque associa-se à dor das fa-mílias, a quem apresenta sentidas condolên-cias.

Paz às suas almas, na certeza de que continuarão Fuzileiros na eternidade!

O Desembarque apresenta sentidas con-dolências, a todos os familiares e amigos.

Ilídio Neves/Mário Manso

IN PERPETUA MEMORIAM

João Torres Piaçab

Bombarral

Zé Fuzo

Motaco Nunes

37

Alô, Caro Oliveira!Mas que raio de ideia foi essa de partires, sem dizer

nada, tão rápida e abruptamente?Ainda há tão pouco tempo tinhas estado comigo, na-

quele Encontro na Escola de Fuzileiros, e não me aler-taste de nada! …

Olha que isso não se faz aos amigos!Então já te esquecestes daqueles tempos em Mas-

sabi, em que éramos inseparáveis? Daquelas discussões malucas acerca dos nossos penteados e da nossa bele-za? Das capacidades de cada um em relação às rapari-gas? Dos argumentos acerca do talento arrebatador para as conquistar, através das cartas e dos aerogramas?

E das discussões inflamadas quando jogávamos às damas, naquele alpendre junto ao quarto do Comandan-te do Posto, o Ten.Paulo Marques? Pois é, ainda não suportas a ideia de que, às vezes, eu era um pouquito melhor do que tu!

Mas a verdade é que, passado pouco tempo, ambos nos arrependíamos de nos ter zangado e, daí a pouco, lá estávamos para tentar uma amigável desforra.

Eram arrufos próprios da idade e da necessidade de afirmação, mas a amizade, essa, nunca era posta em causa!

E, a prová-lo, houve aquela cena, que só por milagre não se tornou dramática, quando quase te matei com o bote (Zebro II), que conduzia a grande velocidade, na louca tentativa de te ultrapassar, naquela imensa lagoa, quando regressávamos de uma patrulha, daquele local em que as águas se encontravam com as do mar, jun-to da fronteira com o Congo-Brazaville. Ambos tivemos muita sorte, mas eu fiquei aflitíssimo, “sem pinga de san-gue” e tu, depois, vieste ao meu encontro, abraçaste-me e reconfortastes-me.

Fiquei muito triste e profundamente emocionado quando soube, através do nosso amigo comum, o Saul Meneses, da tua morte, no princípio de Outubro do ano passado.

Eras o sócio nº 253, e estavas quase sempre pre-sente nos convívios que realizávamos. Não fui ao teu funeral, porque, infelizmente, não tive conhecimento.

A Associação de Fuzileiros, através do Desembar-que, apresenta à tua querida família sentidas condo-

lências e o teu amigo jamais esquecerá o António da Costa Oliveira, o 810/65, companheiro das horas boas e das horas más.

Que descanses em paz.Ilídio Neves

Digerindo ainda a morte do amigo e compa-nheiro de horas boas e más, o António Oliveira, eis que, como o ribombar de um trovão entoan-do das trevas, surge, brutal e implacável, a notí-cia do desaparecimento do meu grande grande referencial da amizade, da maior e ininterrupta ligação afectiva, durante todo o período em que permanecemos nos Fuzileiros.

Começou na recruta e prolongou-se por todos os cursos que juntos frequentamos, até ao fim das duas comissões de serviço no Ul-tramar.

Eu era voluntário e tu eras recrutado, mas a diferença de quatro anos na idade passava-nos completamente despercebida. Fixei para sempre o teu nome: Adílio Torcato de Oliveira Custódio, com o número 1909/65.

Rapaz humilde, muito correcto e educado. Foram estas qualidades que desde logo me sensibilizaram e me atraíram. Em termos inte-lectuais, eras simplesmente o melhor de todos, sempre a nota mais elevada da pauta, de todo o contingente dos cursos, daí seres permanente-mente considerado o chefe de Turma. Todavia,

Em Massabi, numa pose entre iguais

Em Metangula, servindo cafés Inseparáveis, até na praia No Quartel de Belas, Luanda

estas especiais aptidões não te acompanhavam nas habilidades físicas, apesar do teu esforço e devotado empenhamento, o que te valeu a al-cunha de “Esgrima”, pela qual eras conhecido e afectuosamente tratado por amigos e compa-nheiros.

Em Angola, fomos companheiros insepará-veis, saíamos sempre juntos para a cidade e, na praia de Belas, tantas vezes brincávamos, conversávamos sobre tudo; dos nossos projec-tos para o futuro, das moças das nossas ter-ras, das namoradas, das madrinhas de guerra. Enfim, … libertávamos alegremente a nossa imaginação nas abordagens do passado, do presente e do futuro.

A tua simpatia e o teu sorriso ocupam a maior parte do meu velho álbum fotográfico e, ainda hoje, quando o abro, tens o condão de me fazeres retroceder à juventude, de me fazeres mergulhar nos momentos mais felizes da vida, salpicados de saudade.

Deixaste-nos agora, sem sequer te des-pedires, mas eu, garanto-te, continuo a ver-te sorrir para mim no meu álbum de recordações,

com o registo bem colado no coração de um dos teus últimos desejos, que transmitiste ao teu filho Dário: que transmitisse aos teus gran-des amigos Ilídio Neves e Mário Manso a notí-cia da tua morte.

Ele cumpriu, em soluços, o teu pedido e eu, com o Mário Manso e outros amigos da As-sociação de Fuzileiros, de que também fazias parte, fomos assistir, com muita tristeza e co-moção, ao teu funeral.

Mas tu, meu querido amigo “Esgrima”, não me retribuístes as lágrimas que derramei, no momento que te lançavam à cova, mas, mesmo com o teu corpo mirrado, mantinhas e dirigistes-me o teu contagiante sorriso!

Que descanses em Paz!Sentidos pêsames à Emília e aos teus fi-

lhos.Ilídio Neves

ANTÓNIO OLIVEIRA

ADÍLIO TORCATO

IN PERPETUA MEMORIAM

38 DONATIVOS

Apraz-nos registar e dar a conhecer a generosidade de alguns distintos associados que, conhecedores das dificuldades com que a nossa Associação se vai deparando, face às inúmeras exigências do dia a dia, nos vão brindando com alguns donativos, o que constitui para todos nós um estímulo e um incentivo para fazer cada vez mais e melhor, em prol da nossa afirmação e do nosso desenvolvimento.

A Associação manifesta a sua gratidão aos sócios seguintes:Sócio nº Nome Donativo72 Manuel Francisco (Enfermeiro) ....................... € 250,001308 João Pedro A. M. Luz ...................................... € 200,001670 Óscar da Conceição B. Santos ....................... € 105,001053 Comandante Tony ........................................... € 60,00478 Manuel Correia ................................................€ 40,00946 Armando G. da Silva ....................................... € 20,001686 Artur Seabra ....................................................€ 20,001395 Almirante Rui M. R. de Abreu .......................... € 20,00

COMO OUTRORA CRUZÁMOS OS MARESE LUTÁMOS EM TERRAS SEM FIM,ALMAS FORTES NA CLARA ALVORADAENTRE UM RIO DE LODO E O CAPIM.

NOSSAS BÓINAS SÃO DA COR DAS TREVAS,QUE RASGÁMOS DE NOITE AO LUARNEGRAS TREVAS MANCHADAS DE SANGUEDOS AMIGOS MORTOS ALÉM-MAR.

DESFILAI OH FUZILEIROS MORTOSE JUNTAI-VOS AO NOSSO CANTAR,HÁ MIL SONHOS AINDA A VIVER,MIL BATALHAS INDA POR GANHAR.

MARCHA DA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROSPor oportuna sugestão de alguns camaradas no activo, procedeu-se a uma pequena alteração na letra da Marcha

da Associação de Fuzileiros, introduzindo-lhe um novo verso, para a tornar mais abrangente e definitiva.Espera-se que, a breve prazo, todos os sócios e amigos a tenham ao seu dispor, através da edição de um CD.

RECORDAI COMPANHEIROS BOLAMA,RECORDAI CANTANHEZ E O CACHEUONDE UM DIA ACENDEMOS A FLAMAQUE NOS CÉUS DA GUINÉ SE PERDEU.

E O ZAIRE INDA AO LONGE NOS CHAMACHILOMBO PERGUNTA POR NÓSNESSA ANGOLA ONDE A DOR SE DERRAMAFOMOS DIGNOS DOS NOSSOS AVÓS.

MOÇAMBIQUE NUNCA ESQUECEREMOS:- QUANTO SANGUE DEIXÁMOS POR TI!DO ZAMBEZE ÀS TERRAS DO NIASSA,TUA VOZ NOS DIZIA “VENCI”.

QUER NA PAZ, QUER NA GUERRA CANTEMOSO ORGULHO DE QUEM SABE SERMARINHEIRO E SOLDADO NA TERRAQUE JURÁMOS QUERER DEFENDER.

“ONDE QUER QUE NOS CHAMEM ESTAREMOSONDE QUER QUE NOS MANDEM LUTARNOSSAS ALMAS NA NOITE SEM MEDONOSSAS BOINAS DE NOVO AO LUAR

COMO SEMPRE GRITEMOS “PRESENTE”COMO SEMPRE MARCHEMOS A PAR,SÓ TEM PÁTRIA QUEM SABE MORRER,SÓ TEM PÁTRIA QUEM SABE LUTAR.

Poema de Diogo Pacheco de AmorimMúsica de José Campos e Sousa (1975/1976)