UEM –Universidade Estadual de Maringá · TENOTOMIA DO FLEXOR DIGITAL PROFUNDO EM EQUINOS COM...

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TENOTOMIA DO FLEXOR DIGITAL PROFUNDO EM EQUINOS COM DEFORMIDADE FLEXURAL BILATERAL DA ARTICULAÇÃO INTERFALANGEANA DISTAL Max G. Ribeiro 1 , Renato B. Zavilenski 2 ,Carlos H. L. Pascotto 3 , Luciana V. Pinto Ribeiro 4 , Marilda O. Taffarel 5 , Rafael S. Tramonin 2 , Tamires H. Tomio 2 , Amanda Gelli G. Ferreira 3 , Isabelle Ramos Meira 3 ; Júlio Sylvio D. Bortolato 3 , Raissa S. Rosado 3 . 1. Prof. Dr. Associado do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de Maringá- mgrvet@bol .com.br 2. M.V. Residente de Clínica e Cirurgia de GrandesAnimais do Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Maringá 3. Acadêmico do curso de Medicina Veterinária 4. Profa Assistente Universidade Paranaense – Unipar 5. Profa Adjunta Uem A tenotomia do profundo é uma técnica facilmente realizada. É possível com a realização do procedimento realizado a campo restabelecer o eixo podofalangeano, tanto em repouso como em locomoção. CONCLUSÕES INTRODUÇÃO As deformidades flexoras dos membros locomotores em equinos são consideradas como a inabilidade dos animais em estender os membros completamente e podem ser classificadas como congênitas ou adquiridas. A etiopatogenia da deformidade flexural adquirida está relacionada com a dor em diversas fases do crescimento do animal; com o crescimento rápido; com o manejo nutricional e com a genética. A deformidade flexural da articulação interfalangeana distal envolve o tendão flexor digital profundo e os sinais clínicos iniciais incluem projeção dorsal da região supracoronária, aumento da altura dos talões e falta de contato dos talões com o solo. Este tipo de deformidade é classificada da seguinte maneira: Grau I (Discreta elevação dos talões), Grau II (A muralha do casco adquire completa perpendicularidade em relação ao eixo podofalângico/solo com crescimento anormal dos talões e tendência ao encastelamento) e Grau III (Evidente projeção cranial da muralha, podendo ocorrer apoio da região cranial das articulações interfalângicas no solo). Figura 3– Animal antes e após a cirurgia corretiva . RELATO DE CASO Cinco equinos de ambos os sexos, de diferentes raças, e idade variando de 9 a 48 meses foram encaminhados para o setor de clínica e cirurgia de grandes animais do Hospital Veterinário da Universidade estadual de Maringá (HV-UEM). Os animais apresentaram deformidade flexora comprometendo o tendão flexor digital profundo, acometendo os membros anteriores bilateralmente em dois animais, os membros posteriores bilateralmente em dois animais e o posterior esquerdo em um único animal. Devido às alterações do eixo podofalangeano dos membros acometidos, foi possível observar claudicação evidente ao passo em todos os animais, com limitação à extensão forçada da articulação interfalangeana distal correspondente, persistindo, portanto a deformidade flexora nos membros avaliados. Observou-se nos casos relatados a presença constante de encastelamento nos cascos dos membros acometidos em todos os animais, com crescimento excessivo dos talões e atrofia do respectivo casco, resultando em apoio na pinça do casco encastelado. Todos os animais foram operados a campo, O protocolo anestésico constou da administração de cloridrato de xilazina por via intravenosa (IV), 10 minutos antes da indução anestésica. A indução foi realizada empregando- se diazepam e cetamina(IV). Em decúbito lateral, procedia-se o posicionamento do animal e início da infusão da solução de manutenção anestésica preparada a partir de EGG (5%), xilazina e cetamina. Na sequencia preparava-se o campo operatório com a tricotomia regional e antissepsia local usual. Realizou-se a incisão, de aproximadamente 5 centímetros de comprimento, na face lateral do terço proximal da região metacarpiana sobre o tendão f1exor digital profundo. Seccionados os planos de pele e fáscia subcutânea, identificou-se o tendão f1exor digital profundo, seguindo o isolamento deste tendão com uma pinça tipo Kelly curva, procedendo- se, então, a secção do tendão do membro acometido. A extensão forçada do casco mostrou, no local da cirurgia, o afastamento entre os cotos do tendão seccionado. Procedeu-se a sutura da fáscia com categute 1-0, com sutura festonada e a sutura de pele em pontos Wolf separados com fio de náilon 1. No pós-cirúrgico foi administrado fenilbutazona ( 2,2 mg/kg por 2 dias SID), penicilina benzatina (40.000 UI/kg a cada 48 horas por 5 dias). Figura 2– Técnica de tenotomia -Isolamento do tendão f1exor digital profundo com uma pinça tipo Kelly curva, procedendo- se, então, a secção do tendão do membro acometido. Figura 1 –Animal apresentando deformidade flexora comprometendo o tendão flexor digital profundo. UEM – Universidade Estadual de Maringá RESULTADOS E DISCUSSÕES Esta técnica é usualmente eficaz, proporcionando após a cirurgia, alinhamento normal do membro, porém em alguns casos, o relaxamento das estruturas flexoras progride em sete a 10 dias até que seja observado o efeito da técnica devido a um longo período de contratura. As deformidades flexoras adquiridas podem ocorrer em qualquer idade e ser bilaterais ou unilaterais (Greet 2000). Sempre vão produzir deformidades nas articulações interfalangenas distais e encastelamento, segundo Stashak (2006). O autor relata ainda que a maioria dos casos de deformidades está relacionada a dor ou trauma sobre o tendão que leva a contração tendinea e formação de tecido cicatricial fibroso. A classificação utilizada nestes casos foi considerada segundo Thomassian (2005), mas alguns autores classificam esta afecção em dois estágios apenas (Auer, 1992). Nos casos em que a angulação entre a parede do casco e solo ultrapassa os 115 0 recomenda-se a tenotomia do flexor digital profundo segundo Bohanon (2005), sendo que nos casos realizados apenas levamos em conta avaliação clinica da presença da contratura e encastelamento do casco. As cirurgias foram realizadas com os animais sob anestesia a campo sem intercorrências sendo que, alguns autores recomendam fazer em centro cirúrgico. Utilizamos o acesso cirúrgico descrito por Hussni et. al. 1999, tenotomia do tendão flexor digital profundo acima da inserção do ligamento acessório. O tratamento realizado em animais adultos é considerado reservado, pois apresenta recidiva (Greet, 2000), o que não ocorreu nos dois casos acima de 4 anos que operarmos, garantindo uma melhora significativa da sua qualidade de vida. Após 30 dias os animais foram reavaliados visualmente e observou-se restabelecimento da função locomotora e o reposicionamento do eixo podofalangeano. ABSTRACT The tenotomy of proximal deep digital flexor was performed in five patients with equine flexor deformity. These animals presented involvement of the deep digital flexor tendon flexor corresponding to the deformity of the distal interphalangeal joint, which were submitted to tenotomy of the deep digital flexor. This tenotomy technique of the deep digital flexor proved to be feasible to correct deformities of the flexor field

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TENOTOMIA DO FLEXOR DIGITAL PROFUNDO EM EQUINOS COM DEFORMIDADE FLEXURAL BILATERAL DA ARTICULAÇÃO

INTERFALANGEANA DISTALMax G. Ribeiro1, Renato B. Zavilenski2 ,Carlos H. L. Pascotto3, Luciana V. Pinto Ribeiro4, Marilda O. Taffarel5,

Rafael S. Tramonin2, Tamires H. Tomio2, Amanda Gelli G. Ferreira3, Isabelle Ramos Meira3; Júlio Sylvio D. Bortolato3, Raissa S. Rosado3.

1. Prof. Dr. Associado do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de Maringá- [email protected]. M.V. Residente de Clínica e Cirurgia de Grandes Animais do Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Maringá3. Acadêmico do curso de Medicina Veterinária4. Profa Assistente Universidade Paranaense – Unipar5. Profa Adjunta Uem

A tenotomia do profundo é uma técnica facilmente realizada. É possível com a realizaçãodo procedimento realizado a campo restabelecer o eixo podofalangeano, tanto em repousocomo em locomoção.

CONCLUSÕES

INTRODUÇÃOAs deformidades flexoras dos membros locomotores em equinos são consideradas como ainabilidade dos animais em estender os membros completamente e podem ser classificadascomo congênitas ou adquiridas. A etiopatogenia da deformidade flexural adquirida estárelacionada com a dor em diversas fases do crescimento do animal; com o crescimento rápido;com o manejo nutricional e com a genética. A deformidade flexural da articulaçãointerfalangeana distal envolve o tendão flexor digital profundo e os sinais clínicos iniciaisincluem projeção dorsal da região supracoronária, aumento da altura dos talões e falta decontato dos talões com o solo. Este tipo de deformidade é classificada da seguinte maneira:Grau I (Discreta elevação dos talões), Grau II (A muralha do casco adquire completaperpendicularidade em relação ao eixo podofalângico/solo com crescimento anormal dos talõese tendência ao encastelamento) e Grau III (Evidente projeção cranial da muralha, podendoocorrer apoio da região cranial das articulações interfalângicas no solo).

Figura 3– Animal antes e após a cirurgia corretiva .

RELATO DE CASO

Cinco equinos de ambos os sexos, de diferentes raças, e idade variando de 9 a 48 meses foramencaminhados para o setor de clínica e cirurgia de grandes animais do Hospital Veterinário daUniversidade estadual de Maringá (HV-UEM). Os animais apresentaram deformidade flexoracomprometendo o tendão flexor digital profundo, acometendo os membros anterioresbilateralmente em dois animais, os membros posteriores bilateralmente em dois animais e oposterior esquerdo em um único animal. Devido às alterações do eixo podofalangeano dosmembros acometidos, foi possível observar claudicação evidente ao passo em todos osanimais, com limitação à extensão forçada da articulação interfalangeana distal correspondente,persistindo, portanto a deformidade flexora nos membros avaliados. Observou-se nos casosrelatados a presença constante de encastelamento nos cascos dos membros acometidos emtodos os animais, com crescimento excessivo dos talões e atrofia do respectivo casco,resultando em apoio na pinça do casco encastelado. Todos os animais foram operados acampo, O protocolo anestésico constou da administração de cloridrato de xilazina por viaintravenosa (IV), 10 minutos antes da indução anestésica. A indução foi realizada empregando-se diazepam e cetamina(IV). Em decúbito lateral, procedia-se o posicionamento do animal einício da infusão da solução de manutenção anestésica preparada a partir de EGG (5%),xilazina e cetamina. Na sequencia preparava-se o campo operatório com a tricotomia regional eantissepsia local usual. Realizou-se a incisão, de aproximadamente 5 centímetros decomprimento, na face lateral do terço proximal da região metacarpiana sobre o tendão f1exordigital profundo. Seccionados os planos de pele e fáscia subcutânea, identificou-se o tendãof1exor digital profundo, seguindo o isolamento deste tendão com uma pinça tipo Kelly curva,procedendo- se, então, a secção do tendão do membro acometido. A extensão forçada do cascomostrou, no local da cirurgia, o afastamento entre os cotos do tendão seccionado. Procedeu-sea sutura da fáscia com categute 1-0, com sutura festonada e a sutura de pele em pontos Wolfseparados com fio de náilon 1. No pós-cirúrgico foi administrado fenilbutazona ( 2,2 mg/kg por 2dias SID), penicilina benzatina (40.000 UI/kg a cada 48 horas por 5 dias).

Figura 2– Técnica de tenotomia -Isolamento do tendão f1exor digital profundo comuma pinça tipo Kelly curva, procedendo- se, então, a secção do tendãodo membro acometido.

Figura 1 –Animal apresentando deformidade flexora comprometendo o tendãoflexor digital profundo.

UEM – Universidade Estadual de Maringá

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Esta técnica é usualmente eficaz, proporcionando após a cirurgia, alinhamento normal domembro, porém em alguns casos, o relaxamento das estruturas flexoras progride em sete a 10dias até que seja observado o efeito da técnica devido a um longo período de contratura. Asdeformidades flexoras adquiridas podem ocorrer em qualquer idade e ser bilaterais ouunilaterais (Greet 2000). Sempre vão produzir deformidades nas articulações interfalangenasdistais e encastelamento, segundo Stashak (2006). O autor relata ainda que a maioria doscasos de deformidades está relacionada a dor ou trauma sobre o tendão que leva a contraçãotendinea e formação de tecido cicatricial fibroso. A classificação utilizada nestes casos foiconsiderada segundo Thomassian (2005), mas alguns autores classificam esta afecção em doisestágios apenas (Auer, 1992). Nos casos em que a angulação entre a parede do casco e soloultrapassa os 1150 recomenda-se a tenotomia do flexor digital profundo segundo Bohanon(2005), sendo que nos casos realizados apenas levamos em conta avaliação clinica dapresença da contratura e encastelamento do casco. As cirurgias foram realizadas com osanimais sob anestesia a campo sem intercorrências sendo que, alguns autores recomendamfazer em centro cirúrgico. Utilizamos o acesso cirúrgico descrito por Hussni et. al. 1999,tenotomia do tendão flexor digital profundo acima da inserção do ligamento acessório. Otratamento realizado em animais adultos é considerado reservado, pois apresenta recidiva(Greet, 2000), o que não ocorreu nos dois casos acima de 4 anos que operarmos, garantindouma melhora significativa da sua qualidade de vida. Após 30 dias os animais foram reavaliadosvisualmente e observou-se restabelecimento da função locomotora e o reposicionamento doeixo podofalangeano.

ABSTRACT

The tenotomy of proximal deep digital flexor was performed in five patients with equine flexordeformity. These animals presented involvement of the deep digital flexor tendon flexorcorresponding to the deformity of the distal interphalangeal joint, which were submitted totenotomy of the deep digital flexor. This tenotomy technique of the deep digital flexor proved tobe feasible to correct deformities of the flexor field