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ULISSES TAVARES - Entrevista (página 1 de 2) 1 - 2 Saiba das atualizações por e-mail Ulisses Tavares tem 52 anos, nasceu em Sorocaba, publicou seu primeiro livro de poemas aos 9 anos e nunca mais parou de escrever e ler de tudo, dos clássicos até bulas de remédios. Está com 74 livros publicados, em praticamente todos os gêneros e assuntos. Dentre eles, destacam-se alguns sucessos recentes: "Subs" (história em quadrinhos para adultos- Editora Devir); "Viva a poesia viva" (poesias para crianças - Editora Saraiva); "Será uma vez a louca aventura de criar uma história" (ficção juvenil- DCL Editora); "Guia do Homem - que a mulher também deve ler" (auto-ajuda - Geração Editorial); "Fábulas do Futuro" (fábulas - Editora do Brasil). Mesmo num gênero considerado o patinho feio da literatura (a poesia, esse cisne), já alcançou mais de 500 mil exemplares vendidos. Nos intervalos da literatura, Ulisses se dedica a muitas outras paixões: é professor de pós-graduação em web marketing; jornalista digital; compositor letrista; dramaturgo; criativo publicitário internacionalmente premiado; militante de grupos de proteção aos animais; expert em marketing político e palestrante de criatividade aplicada, internet, literatura e aprimoramento pessoal. Mora em uma fazenda ecológica próxima de São Paulo e cria cachorros da raça english springer spaniel. Luiz - Como você descobriu a poesia? Ulisses - Hiii, faz muito tempo. Como fui o que hoje se chama de criança super dotada, mas, na época, apenas chamavam de pentelho- porque eu gostava mais de ler e escrever que brincar de bola- encontrei logo na poesia o refúgio para minha sensibilidade. Mas me encantei mesmo foi por volta dos 9 anos. Como estou com 52, foi no final da década de 50, século passado. Havia grande agito com movimentos de poetas declamando seus poemas em ruas, praças e faculdades. Assisti aquilo e resolvi ser como eles. Comecei a declamar em público e expor meus poemas em varais nas praças. Agora, uma outra motivação mais prática e prosaica é que eu era tarado pela professora do primário e ela se encantava com os poemas daquele garoto precoce, seu aluno. Não comi a professora, mas continuei fazendo poemas e nunca comendo ninguém por causa disso. A maioria das garotas, ontem como hoje, de coisa escrita

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Saiba das atualizações por e-mail

Ulisses Tavares tem 52 anos, nasceu em Sorocaba, publicou seu primeiro livro de poemas aos 9 anos e nunca mais parou de escrever e ler de tudo, dos clássicos até bulas de remédios.

Está com 74 livros publicados, em praticamente todos os gêneros e assuntos. Dentre eles, destacam-se alguns sucessos recentes: "Subs" (história em quadrinhos para adultos- Editora Devir); "Viva a poesia viva" (poesias para crianças - Editora Saraiva); "Será uma vez a louca aventura de criar uma história" (ficção juvenil- DCL Editora); "Guia do Homem - que a mulher também deve ler" (auto-ajuda - Geração Editorial); "Fábulas do Futuro" (fábulas - Editora do Brasil).

Mesmo num gênero considerado o patinho feio da literatura (a poesia, esse cisne), já alcançou mais de 500 mil exemplares vendidos.

Nos intervalos da literatura, Ulisses se dedica a muitas outras paixões: é professor de pós-graduação em web marketing; jornalista digital; compositor letrista; dramaturgo; criativo publicitário internacionalmente premiado; militante de grupos de proteção aos animais; expert em marketing político e palestrante de criatividade aplicada, internet, literatura e aprimoramento pessoal.

Mora em uma fazenda ecológica próxima de São Paulo e cria cachorros da raça english springer spaniel.

Luiz - Como você descobriu a poesia? 

Ulisses - Hiii, faz muito tempo. Como fui o que hoje se chama de criança super dotada, mas, na época, apenas chamavam de pentelho- porque eu gostava mais de ler e escrever que brincar de bola- encontrei logo na poesia o refúgio para minha sensibilidade. Mas me encantei mesmo foi por volta dos 9 anos. Como estou com 52, foi no final da década de 50, século passado. Havia grande agito com movimentos de poetas declamando seus poemas em ruas, praças e faculdades. Assisti aquilo e resolvi ser como eles. Comecei a declamar em público e expor meus poemas em varais nas praças. Agora, uma outra motivação mais prática e prosaica é que eu era tarado pela professora do primário e ela se encantava com os poemas daquele garoto precoce, seu aluno. Não comi a professora, mas continuei fazendo poemas e nunca comendo ninguém por causa disso. A maioria das garotas, ontem como hoje, de coisa escrita gosta mesmo é do valor que você é capaz de escrever num cheque. Demorei décadas para conhecer as exceções. Tem uma música das Frenéticas que resume isso: "quanto mais a mulher jura/gostar de homem erudito/tanto mais ela procura/um tipo burro e bonito."

Luiz - Só poeta lê poeta? Como se dá isso a seu ver?

Ulisses - Não é nada difícil de entender. O mundo está mais democrático no acesso a informação, mas também a maioria é cada vez mais abrutalhada e insensível. Metade do planeta é shopping center, a outra metade um templo religioso medieval. Com algumas ilhas atlântidas, faróis, aqui e ali. Cúmplices e vítimas ao mesmo tempo, um jogo milenar e cruel da humanidade. Carinha que cresceu ouvindo pagode quanto tempo vai levar para aprimorar o ouvido para melodias mais ricas e elaboradas, seja clássico, jazz ou

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dodecafônica? A poesia é, assim, pragmaticamente falando, mais acessível aqueles que a praticam e a lêem. No jogo do mercado, então, nem tem discussão: entre um Paulo Coelho da vida e um poeta- por melhor que ele seja- fica-se com o que dá lucro imediato e certo. Principalmente aqui no Brasil onde tem uma massa de pessoas que precisa de dicionário para entender a revistinha da Mônica. E boa parte de nossa elite é analfabeta por opção. O que me faz otimista é que parece que está vindo uma nova geração que é estimulada a curtir poesia desde cedo. Meu livro de poesias para crianças, o Viva a poesia viva, da Editora Saraiva já vendeu mais de 50 mil exemplares. Também, anteriormente, o Caindo na real, da Brasiliense ficou mais de ano entre os mais vendidos e o Aos Poucos Fico Louco, da Editora Globo, esgotou rapidinho. Sem contar o Livro/Agenda da Tribo, voltado para os jovens e no qual colaboro há 13 anos, que nunca tira menos de 150 mil exemplares. Agora, alcançar o povão mesmo, fica na nossa utopia: o pão da carne é uma necessidade, o pão do espírito, a poesia, portanto, um luxo que pode esperar. Ainda bem que temos dois olhos. Um vê o futuro, o sonho, e sorri, o outro vê a realidade e chora. 

Luiz - A poesia pode tornar a vida suportável ou isso é apenas um jogo de palavras no desvario poético?

Ulisses - Qualquer coisa em que a gente acredite, bote fé, curta, pode tornar a vida mais suportável. Poesia, como tudo, também é droga, também vicia. O velho Freud chamava isso de sublimação. Eu prefiro chamar de paixão. A natureza é sábia: nem tudo que a gente quer a gente consegue, mas tudo que a gente sonha é possível. A poesia é a corporificação/materialização do sonho. Orgasmo não existe apenas através dos genitais. É algo tinhoso e amplo que pode até nos acontecer por algo imaterial como a palavra escrita. Poeta que é poeta não goza apenas com o pau e buceta, goza até com a caneta. Êpa, acho que cometi um poema.

Luiz - O que você imagina que aconteceu com a poesia, foi a banalização ou você atribui uma outra causa para que ela esteja, digamos, tão ausente do alcance do leitor?

Ulisses - Isso que chamamos de leitor, a indústria cultural chama de consumidor de literatura. A poesia, dentro dos gêneros literários, hoje é o patinho feio que, mesmo sendo cisne, fica no seu cantinho, hostilizado pelos demais. Já foram os poetas mais apreciados, é certo, mas isso foi na Grécia antiga, na revolução russa, no império islâmico do tempo em que eles não espalhavam bombas e ignorância pelo mundo.

Bobagem, a meu ver, ficar preocupado com isso. Melhor e mais efetivo é colocarmos a pouca leitura da poesia onde ela deve estar: no contexto da política e da educação do povo. Não dá pra poesia concorrer, e vencer, em uma cultura de bundas, materialismo, consumismo e comunicação de massa. E, também, relax: se os políticos e os membros da elite dirigente fossem como os poetas, que batalham, discutem e se preocupam pra caralho, tudo estaria melhor. O tempo que nos coube viver é assim mesmo, mudanças e trevas, bem misturadinho. Talvez um dia a revista Caras fotografe a biblioteca de alguém e esse alguém se declare orgulhoso pela biblioteca e não só pela riqueza, bíceps e silicone acumulados. 

Luiz - O que você observa da poesia depois que Adorno sentenciou que não podia mais haver poesia depois de Auschwitz?

Ulisses - O ser humano é maior que seu pessimismo, mesmo quando tem uma visão deprê como quase todas de Adorno. Aquilo que denominamos poesia talvez seja a aspiração maior e mais plena do melhor que existe em nós. O homem é, sempre foi e será, uma grande tragédia e uma grande esperança. E também uma grande piada, claro. Lamentamos por Auschwitz

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mas não vamos deixar de fazer e apreciar a poesia por isso. Se fosse assim, a poesia teria acabado na primeira guerra e ou na primeira peste. E foram tantas, né? 

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