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H

Março-Abril, 2008 ULTIMATO 3

abertura

O fim da história terá chegado quando todos os

impérios caírem e toda a arrogância humana der lugar ao reino dos céus em sua plenitude, totalidade e visibilidade

História é uma ciência complicada. Já se disse que “todo mundo sabe o que é história antes de começar a pensar nela, e, depois que se pensa, ninguém sabe mais”. A história não merece confi ança absoluta, pois aqueles que a escrevem não conseguem se livrar de seus preconceitos e de seus pontos de vista pessoais. Difi cilmente um historiador consegue ultrapassar seu compromisso consciente ou inconsciente com a cultura no meio da qual nasce e vive. Usa-se a história também para defender e propagar um modelo político particular ou uma religião que se professa.

Desde a queda do muro de Berlim (1989), tem-se falado no fi m da história. Todavia é muita presunção acreditar que o fracasso de uma ideologia ou de um império signifi que o fi m da história. O máximo que se pode afi rmar é que um grande acontecimento, como a queda do império romano, a queda do império bizantino, a “descoberta” da América, a Revolução Francesa ou a queda do comunismo, marque o fi m de um período histórico e não da história.

Se a história nada mais é que o registro do passado do ser humano, então é possível coincidir o fi m da história com o fi m do personagem histórico. Uma guerra global sem sobreviventes de espécie alguma ou a destruição completa do meio ambiente podem provocar o fi m da história.

Alguns entendem que a história é “o desdobramento gradual de um plano divino, com as pessoas representando papéis predeterminados”. Trata-se de uma perspectiva religiosa. Nesse caso, diz-se acertadamente que Deus é o Senhor da história.

Jesus estaria pensando no fi m da história quando anunciou: “A boa nova do reino será proclamada a todas as nações,

e então chegará o fi m” (Mt 24.14, BP)? Paulo estaria se referindo ao fi m da história quando escreveu aos coríntios: “A seguir [após a ressurreição dos mortos] virá o fi m, quando ele entregar o reino a Deus e acabar com todo principado, autoridade e poder” (1Co 15.24)? Pedro teria em mente o fi m da história quando declarou que “o fi m de todas as coisas está próximo” (1Pe 4.7)?

Em certo sentido, os cristãos de qualquer corrente do cristianismo, em todo o mundo e em qualquer período da história, quando oram o Pai Nosso, estão pedindo o fi m da história: “Venha o teu Reino” (Mt 6.10).

O fi m da história não terá chegado quando um grande império cair para dar lugar a outro, como aconteceu com aquela sucessão de impérios retratada no sonho da grande estátua de Nabucodonosor, quando o império babilônico cedeu lugar ao império medo-persa e este ao império grego e este ao império romano (Dn 2.31-45). O fi m da história terá chegado quando todos os impérios caírem e toda a arrogância humana ruir

defi nitivamente para dar lugar ao reino dos céus em sua plenitude, totalidade e visibilidade. O fi m da história virá quando o “último inimigo”, que é a morte, for destruído (1Co 15.26), a ponto de se poder perguntar ironicamente à ela: “Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?” (1Co 15.55). O fi m da história terá chegado quando ao nome de Jesus se dobrar todo joelho nos céus, na terra e debaixo dela, e toda língua confessar que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp 2.9-11).

O fim da história

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ATENDIMENTO AO LEITOR Telefones: (31) 3891-3149 0300 313 1660 Fax: (31) 3891-1557E-mail: [email protected] Postal 4336570-000 · Viçosa, MG

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Editora Ultimato

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ULTIMATO Março-Abril, 2008 4

carta ao leitor

Fundada em 1968

ISSN 14153-3165Revista Ultimato

Ano XLI · NÀ 311Março-Abril 2008

Direção e redaçã[email protected]

Elben M. Lenz César (Jornalista responsável)

AdministraçãoKlênia Fassoni, Daniela Cabral, Lenira Andrade

VendasLucia Viana, Lucinéa de Campos,

Romilda Oliveira, Tatiana Alves e Vanilda Costa

Editorial e ProduçãoMarcos Bontempo, Bernadete Ribeiro,

Djanira Momesso César, Fernanda Brandão Lobato e Roberta Dias

Finanças / CirculaçãoEmmanuel Bastos, Aline Melo, Edson Ramos, Emílio Gonçalves, Luís Carlos

Gonçalves, M. Aparecida Pinto, Rodrigo Duarte e Solange dos Santos

EstagiáriosAlaila Ribeiro, Bruno Tardin, Daniel Figueiredo, Débora Sacramento, Fabiano Ramos, Hadassa Alves, Liz Oliveira, Luci Maria da Silva, Macel

Guimarães e Priscila Rodrigues

Arte - OliverartelucasImpressão - Plural

Tiragem - 37.000 exemplares

Łrgão de imprensa evangélico destinado à evangelização e edificação, sem cor

denominacional, Ultimato relaciona Escritura com Escritura e acontecimentos com Escritura. Pretende associar a teoria com a prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação

social, a oração com a ação, a conversão com a santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir. Circula nos meses ímpares.

Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro da Associação Evangélica Brasileira (AEVB) e da

Associação de Editores Cristãos (AsEC)Os artigos não assinados são de autoria da redação. Reprodução permitida. Obrigatório

mencionar a fonte.

Assinatura Individual - R$ 55,00Assinatura Coletiva - desconto de 50% sobreo preço da assinatura individual para cadaassinante (mínimo de 10)Assinatura Exterior - R$ 97,00Edições Anteriores - [email protected]úncios [email protected]

Passados os festejos de Natal e de ano-novo, é bom fazer um pequeno inventário sobre a qualidade e seriedade dessas comemorações.

Para o comércio foi um sucesso enorme. Em grande parte por causa da decoração de Natal. Só os 622 centros comerciais brasileiros investiram 350 milhões de reais nesse setor.

A ausência cada vez maior do verdadeiro sentido do Natal assustou até pessoas cultas sem nenhum compromisso com o cristianismo. Em sua coluna no Jornal do Brasil, o escritor Fausto Wolf disse que sempre quis acreditar na concepção sobrenatural de Jesus Cristo, na remissão dos pecados através de sua morte, na ressurreição da carne e na vida eterna. Porém, se limita a gostar de Jesus porque era pobre, ofendido e maltratado, assim como nós. Ele se queixa dos ricos que, desde Adriano, “encheram Jesus de jóias, perfumaram-no, trancaram-no em um palácio longe do povo para melhor poderem explorar esse mesmo povo”. Wolf cita o pronunciamento de alguém que faz sérias acusações: “É no período natalício que os veículos de comunicação em geral e a televisão em particular mais torturam este país. Um aluvião de bestas do apocalipse cai de uma só vez sobre a pobreza ignorante e a classe média abobalhada: ‘Compre, compre’. Sei da força do Verbo, mas odeio o Natal. Creio que só um homem odiaria mais do que eu: Jesus Cristo”.

O fi lósofo Leandro Konder também protestou: “Como descrente que sou — marxista convicto irrecuperável — quero apenas registrar minha expectativa de que o festival consumista em torno de Santa Claus não atrapalhe a celebração do aniversário do Justo”.

Até o empresário Antônio Ermírio de Moraes, um dos homens mais ricos do país, dois dias antes do Natal, desejou em sua coluna na Folha de São Paulo que os brasileiros tivessem um “santo Natal junto às suas famílias” e que reservassem algum tempo para pedir a Deus que “fortaleça entre nós o amor e o respeito pelo próximo”, porque “a felicidade dos seres humanos não se resume no êxito econômico”.

É possível que um dia, quando nossos olhos forem verdadeiramente abertos, nós enxerguemos a grandeza do Natal na perspectiva dos Evangelhos sinóticos e do Evangelho de João, onde se lê que “no princípio [o mais remoto] era o Verbo [Deus, o Filho], e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (...) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.1,14). E, então, a profanação do Natal será confessada com muita tristeza, muitas lágrimas e muito arrependimento.

Ainda há tempo para acertarmos o passo na caminhada iniciada há dois meses, quando a entrada do novo ano nos aproximou um pouco mais do fi m da história (veja p. 3). Que Deus seja propício a cada um de nós!

O aluvião de bestas apocalípticas que caíram sobre nós no último Natal

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ULTIMATO Março-Abril, 2008 6

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Se Deus nos perdoasse o mesmo pecado uma só

vez, estaríamos perdidos. Ele não mostra a sua graça ou estende a sua mão uma

única vez. As Escrituras garantem que as suas

misericórdias “renovam-se cada manhã”

O povo eleito está espalhado pelos quatro cantos do mundo, mas não por vontade própria. Os israelitas foram levados para o cativeiro pelos seus inimigos, que invadiram suas terras e os expulsaram de lá. Eles têm saudades de Sião. Negam-se a tocar harpa e a cantar em terra estranha. Querem voltar para Jerusalém e para suas cidades de origem. Choram e confessam seus pecados no meio de um povo de fala estranha, pois estão longe de casa porque pecaram contra o Senhor.

Mas como escapar do jugo estrangeiro, colocar a mochila nas costas, segurar a mão dos fi lhos menores e começar o caminho de volta? Deus os tiraria outra vez do jugo opressor e os levaria de volta à terra prometida? A misericórdia de Deus seria maior que a ingratidão e a rebeldia deles?

A boa notícia é dada pelo profeta Isaías: “Naquele dia o Senhor estenderá o braço pela segunda vez para reivindicar o remanescente do seu povo que for deixado na Assíria, no Egito, em Patros, na Etiópia, em Elão, em Simear, em Hamate e nas ilhas do mar. Ele erguerá uma bandeira para

as nações a fi m de reunir os exilados de Israel; ajuntará o povo disperso de Judá desde os quatro cantos da terra” (Is 11.11-12).

O capítulo onze de Isaías é um poema messiânico de grande beleza e cheio de boas notícias. A primeira

delas diz respeito a um ramo que brota de um toco, que não é outro senão o descendente de Davi. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor e ele “tomará decisões em favor dos pobres” (v. 4). Seu reinado será de tal forma que “o lobo viverá com o cordeiro, o leopardo se deitará com

o bode, o bezerro, o leão e o novilho gordo pastarão juntos; e uma criança os guiará” (v. 6).

A melhor notícia, porém, é a do segundo êxodo, quando a Raiz de Jessé (o Messias prometido), vai trazer de volta o povo eleito para a antiga Canaã. Será uma repetição do primeiro êxodo, quando o Senhor desceu do céu para livrar seu povo das mãos dos egípcios e levá-lo para uma terra boa e vasta, onde manam leite e mel (Êx 3.8). Isaías anuncia que haverá uma estrada plana e livre para o remanescente dos exilados voltarem para casa, “como houve para Israel quando saiu do Egito” (Is 11.16).

A boa notícia do segundo êxodo é extraordinária e pode encorajar hoje qualquer “exilado” do Senhor. Se alguém foi libertado do império das trevas e transportado para Jesus e sua igreja (primeiro êxodo) e depois entrou em crise e saiu do redil, pode clamar pelo segundo êxodo. Pois se Deus nos perdoasse o mesmo pecado uma só vez, estaríamos perdidos. Deus não mostra a sua graça uma só vez nem estende a sua mão uma única vez. As Escrituras garantem que as suas misericórdias “renovam-se cada manhã” (Lm 3.23)!

O segundo êxodo

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Seções

Capa

Março-Abril, 2008 ULTIMATO 7

“Busquem o Senhor enquanto é possível achá-lo”IS 55.6

ABREVIAÇÕES:BH - Bíblia Hebraica; BJ - A Bíblia de Jerusalém; BV - A Bíblia Viva; CNBB - Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; EP - Edição Pastoral; EPC - Edição Pastoral - Catequética; NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje; TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação foram retiradas da Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional.

Refl exãoRobinson CavalcantiMui bíblica missão integral 38Ricardo GondimProposta de espiritualidade 40

Redescobrindo a Palavra de DeusDeus se importa com a gestante, Valdir Steuernagel 42

HistóriaO ceticismo religioso e seus arautos, Alderi Souza de Matos 44

EntrevistaViv GriggO inverso da cultura: é preciso viver com simplicidade para que os outros simplesmente vivam 48

O caminho do coraçãoQuão verdadeiros somos, Ricardo Barbosa de Sousa 52

Da linha de frenteNo essencial, unidade; nas diferenças, liberdade; e em ambas as coisas, o amor, Bráulia Ribeiro 54

Arte e culturaDesejo de reparação, Mark Carpenter 58

Ponto fi nalPílulas e cinzas, Rubem Amorese 66

Que vida boba! 24

“Tudo é vaidade e correr atrás do vento” 26

O muro da morte 28

Depois de muitos anos, muitos diplomas, muitos bens e muitas incursões no submundo, a vida continua sem sentido 29

A praga do fastio 30

É preciso parar de correr atrás do vento e de cavar cisternas que não retêm água! 31

Pai nosso que estás em todo lugar... 32

Abertura 3Carta ao leitor 4Pastorais 6Cartas 8Mais do que notícias 14Números 15Frases 21Nomes 22Novos acordes 53Deixem que elas mesmas falem 56Meio ambiente e fé cristã 57Prateleira 60Agenda 62Ação mais que social 63Vamos ler! 64

EspecialUltimato não quer fazer o papelão de deixar Jesus de lado 37

Kléo

s Jr.

Leia em www.ultimato.com.br• Obediência - uma questão de atitude (seção “Altos papos”), por Jeverton Magrão Ledo

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ULTIMATO Março-Abril, 2008 8

Homossexualismo e homossexualidadeVenho com muita coragem reconhecer minha quase

total ignorância sobre a matéria de capa da edição

de janeiro/fevereiro de 2008 (Homossexualismo e Homossexualidade). Agora, depois de ler e fi car por

dentro de tudo que foi escrito, posso pelo menos discutir o

assunto e encarar as coisas sem reservas nem preconceitos.

Ultimato aborda com clareza e discernimento um tema

que ainda hoje é tabu. Continuem nesta tarefa ousada e

gratifi cante de esclarecer tantos leigos como eu.

RUTH JUSTINO DOS SANTOS FREIREBoituva, SP

Ao ler a edição que trata mais uma vez da homossexualidade,

deparo-me com a incrível soberba de vocês em rotular esta

questão como pecaminosa e imoral. Gostaria que um dia

vocês fi zessem uma reportagem sobre a vida digna, honesta

e fi el que muitos gays masculinos e femininos levam por

este Brasil afora. Podemos, sim, escolher não ter relações

homossexuais, assim como os heterossexuais também

podem, mas não o fazem. Porém, não escolhemos se temos

ou não o desejo. É inerente à nossa condição humana. Acho

louvável a expressão de suas opiniões a nosso respeito,

pois aprendemos com isso também. Afi nal, somos uma

democracia. Acho, todavia, que vocês poderiam gastar as

caras páginas de sua publicação incentivando os seus leitores

à caridade. Pois são os heterossexuais, em sua maioria, que

mandam e desmandam no Brasil, que humilham e impõem

miséria. Sou uma transexual feliz!

BRENDA SANTURNIONIViçosa, MG

Se o homossexualismo fosse uma prática sexual normal, será

que o ser humano teria se multiplicado? Se Deus tivesse

criado Adão e Ivo ou Eva e Evita nós habitaríamos o planeta?

ROSELI DOS SANTOS DE ASSISBelo Horizonte, MG

Li a reportagem Homossexualismo e Homossexualidade,

e sinto dizer que a mesma não acrescentou nada ao que já

se conjeturava sobre o tema. Aliás, ela é uma síntese das

palavras que adoecem e continuarão a adoecer os milhares

de homossexuais participantes de todos os segmentos

socioeconômicos, culturais e religiosos do mundo.

Reconheço que os textos sagrados, tanto do Antigo quanto

do Novo Testamento, são categóricos em afi rmar que certo tipo de comportamento homossexual é desagradável aos

olhos de Deus. Usei deliberadamente a expressão certo tipo,

pois creio que há um tipo de homossexual a respeito do qual

a Bíblia se cala. Todos os textos bíblicos que mencionam

a prática homossexual relatam um comportamento

reprovável, em que homens e mulheres demonstram total

falta de amor por si mesmos, pelo próximo e pelo Criador.

Porém, há um grande número de homossexuais que não

se enquadra nesse contexto (e a reportagem foi infeliz de

não tê-los considerado, pois habitam abundantemente as

igrejas cristocêntricas). Refi ro-me àqueles indivíduos que

reconhecem a força dos argumentos bíblicos contra o que

sentem nas entranhas, mas não queriam sentir. Refi ro-me

àqueles que têm temor do Senhor, amam a Deus (portanto,

já se converteram a Cristo), mas que não passam um dia

sequer sem desejar o amor e o afeto de um que lhe seja

idêntico no sexo. Refi ro-me àqueles que adoecem nas

Nota da redaçãoO Baker’s Dictionary of Christian Ethics, do qual foi retirado o verbete “Homossexualismo e homossexualidade”, foi publicado no Brasil, em 2007, pela Editora Cultura Cristã.

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 9

igrejas por ouvirem as muitas possíveis explicações para o

que são: doentes, anormais, abomináveis (depravados),

coisas semelhantes às presumidas na reportagem. Portanto,

falo de pessoas que reconhecem que são demasiadamente

humanas (toma-se aqui a palavra por fracas ou imperfeitas)

e que sentem uma necessidade enorme de aconchego no

peito do Salvador, reconhecendo que este não espera delas

que mudem a si mesmas, mas que se aninhem nele em

verdade (ou seja, assumindo para si mesmas que são gays e

apresentando-se a ele como são), deixando que ele as guie

por onde desejar.

J.F.

- O missivista está de parabéns por admitir que os textos

sagrados de ambos os testamentos são conclusivos sobre

a prática homossexual. Naturalmente há homossexuais

cínicos e homossexuais que lamentam suas tendências

sexuais e gostariam de superá-las. A união estável com

um só parceiro não resolve a questão sob o ponto de vista

moral, pois, à luz da criação, “uma parceria homossexual

jamais poderá ser vista como uma alternativa legítima”

(John Stott, em A Bíblia Toda, O Ano Todo, p. 28). Em

qualquer caso, a não-negação desses impulsos torna-se

uma conduta reprovável. Mas o homem ou a mulher que

sente atração homossexual e não se entrega a ela por

força do temor do Senhor e com o auxílio do Espírito

Santo, não deve sofrer discriminação na igreja, ou seja

onde for. Merece ser tratado com respeito, porque todos

os outros crentes também têm difi culdades pessoais, em

áreas diferentes. Jesus deixou claro que ninguém pode

segui-lo sem negar-se vez após vez (Mc 8.34). Uma

desobediência aqui e ali, em qualquer área, não deve

desanimar, pois todos “temos um intercessor junto ao

Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2.1). Ao contrário, deve ser

confessada para ser perdoada e purifi cada (1Jo 1.9).

Quarenta anosLeio Ultimato há mais de quinze anos. Ela faz parte da

minha vida e da minha família. Quantos conselhos, quantas

coisas maravilhosas! Admiro-a por não ser uma revista

tendenciosa, por publicar opiniões independentes do

que está escrito. Também acabo de fazer 40 anos. Quanta

história para contar. Cheguei até aqui pela graça de Deus.

REJANE M. S. CHAGASRio de Janeiro, RJ

Parabéns pelos 40 anos de Ultimato! O que mais aprecio na

revista é que ela nos obriga a pensar. Os crentes brasileiros em

geral não gostam muito de refl etir. Preferem engolir a coisa

pronta. Que Deus continue abençoando o seu ministério.

MARCOS SOARESRibeirão Preto, SP

A CPAD faz sinceros votos de que Ultimato tenha uma longa

vida de vitórias e grandes realizações, anunciando em todo

tempo as novas de salvação de nosso Senhor Jesus Cristo!

Toda honra seja dada ao nome de Cristo Jesus!

LEANDRO SILVACasa Publicadora das Assembléias de Deus

Rio de Janeiro, RJ

Eu estava no Seminário Presbiteriano de Belo Horizonte

quando a conheci. Ela tinha apenas 13 anos. Fiquei

impressionado com sua maturidade, equilíbrio e lucidez.

Senti que ela era a companheira que eu precisava para a vida

e para o ministério. Formei-me em 1985 e comecei meu

ministério em fevereiro do ano seguinte e a levei comigo para

a pequena cidade de Conceição de Ipanema, MG. Já são 26

anos de convivência bem-sucedida e harmoniosa. Às vezes

divergimos em alguns assuntos, mas até nas divergências eu a

respeito, pois ela é consistente em seus argumentos. Embora

mais velho que ela seis anos, não receio em reconhecer que

ela amadureceu mais do que eu. Está mais bem formada e

com aparência renovada. Também cresceu mais e exerce mais

infl uência do que eu. Suas opiniões me infl uenciam cada

vez mais. Acho que é porque ela absorve bem a sabedoria

do que há de bom no meio evangélico e sabe escolher seus

colaboradores. Sem dúvida, Ultimato tem sido uma boa

companheira! Deus a abençoe e a faça prosperar ainda mais.

PR. PÚBLIO RONALDO FONSECA Ipatinga, MG

Parabéns pelos 40 anos. Que muitos outros 40 se passem,

levando a milhares de leitores, tão carentes, o alimento forte

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da fé, de que essa excelente mensageira é portadora. Não

sei bem há quanto tempo recebo e leio Ultimato; talvez há

uns vinte anos. Sem demagogia, acho-a uma revista única no

gênero. Muitas vezes me sirvo dos seus ótimos artigos para

minhas palestras e pregações. Sou um veterano sacerdote de

79 anos de idade. Paroquiei o município de Itaboraí por 35

anos! Chegando à idade canônica (75), solicitei a renúncia

de pároco, que foi aceita pelo reverendíssimo arcebispo de

Niterói. No dia 21 de dezembro, celebrei 55 anos de minha

ordenação sacerdotal.

PE. DOMINGOS GONÇALVES DAS EIRASItaboraí, RJ

Tenho os mais sinceros sentimentos de gratidão por ter

conhecido Ultimato em 2007. Foi um ano muito exigente

para mim, pois tive perdas consideráveis: minha mãe, com

apenas 44 anos, e o fi lhinho recém-nascido. A revista era

lida em salas de espera de hospitais e me ensinou muito,

entre outras coisas, sobre a soberania de Deus. Sou pastor

de uma pequena congregação da Assembléia de Deus na

Baixada Fluminense há sete anos. Ultimato tem me ajudado

a amadurecer.

MARCELO NOGUEIRA DE OLIVEIRABelford Roxo, RJ

Recebo e leio Ultimato de ponta a ponta há alguns anos.

Questiono, especialmente, algumas afi rmações advindas

das cartas. Valorizo a postura da revista em publicar opiniões

até mesmo desfavoráveis ao seu conteúdo ou linha. Gosto e

aprecio as refl exões e a busca incessante do aprofundamento

e vivência autêntica da mensagem evangélica. A revista

tem contribuído no crescimento da minha fé e na convicção

de que, apesar da “iniqüidade estar em alta”, há muitas

pessoas, em todos os credos, procurando, com palavras e

atitudes, frear a iniqüidade. Apreciei muito a reportagem

sobre o Santuário de Aparecida por suas perspicazes

observações e pelo respeito às convicções religiosas de um

povo nem sempre espiritualmente muito culto.

CÂNDIDO A. LORENZATOPorto Alegre, RS

Faz anos recebo Ultimato, cuja linha editorial se move sobre

o trilho do diálogo.

DOM ALDO GERNASão Mateus, ES

AmbigüidadeA edição de janeiro/fevereiro de 2008 traz alguns artigos

bons e outros não tão bons assim. Há uma ambigüidade

na revista que me incomoda: a sua posição em relação ao

catolicismo romano. Há anos que a revista vê o catolicismo

não como uma religião a ser evangelizada, mas como uma

denominação a ser resgatada. Aparentemente, pelo número

de cartas na seção apropriada, que aplaudem a reportagem

sobre o Santuário de Aparecida publicada na edição de julho/

agosto 2007 (que tinha esse tom enormemente conciliatório,

em vez de confrontador com a verdade da única mediação

de Cristo), tudo isso encontra eco na grande maioria dos

leitores, mas continua me incomodando. Nesse sentido,

é impressionante as citações de católicos, sob uma luz

favorável. Na seção “Frases” (p. 21), entre as poucas lá

colocadas, uma de Hans Küng, outra de Leonardo Boff e

outra do padre Vito Del Prete. Até o artigo do presbiteriano

Odayr Olivetti (p. 63) eivado demais de referências a

personalidades e entidades católico-romanas (D. Eugênio

Sales, Gustavo Corção Braga, CNBB etc.), como se estivesse

envolvido em, ou pressionado a, um esforço de amoldar seu

conteúdo e estilo à orientação da revista que o abriga.

SOLANO PORTELASão Paulo, SP

Rubem Alves equivocadoNa “Abertura” da edição de janeiro/fevereiro, a revista diz

que o teólogo, fi lósofo e psicanalista Rubem Alves está

equivocado ao manifestar seu posicionamento concernente

a doutrinas bíblicas. Três perguntas me vieram à mente: para

o autor do artigo, Rubem Alves está equivocado porque se

manifesta de forma diferente daquela que lhe é peculiar? O

autor procurou dialogar com o “equivocado” para fazer tal

afi rmação? O “equivocado” não seria o autor da matéria? Acho

oportuno fi nalizar com as palavras de Robert Martin-Achard,

professor das universidades de Genebra e Neuchatel: “A

Escritura entrega o seu segredo àquele que usa tempo para

caminhar com ela; ela não diz nada ao amador e ao vaidoso”.

MANOEL JESUS DE OLIVEIRARio de Janeiro, RJ

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 11

Salvos e não-salvos aqui e acoláSobre o relacionamento de Ultimato com os católicos,

é de se esperar que alguns evangélicos nem saibam

o signifi cado da palavra “cristianismo”. Para eles, ser

cristão é ser da igreja deles. Se lhes dissermos que o

cristianismo engloba três ramifi cações (católica romana,

ortodoxa e protestante) eles piram. Se dissermos que

nessas três há salvos e não-salvos, eles têm um ataque

cardíaco. Se alguns não concordam com a posição da

revista, deixem de assinar, mas fazer com que outros

os imitem na sua decisão é nada menos que obstrução

à proclamação do evangelho. Essa atitude é como

aquela que Jesus critica: “Vocês mesmos não entram

nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo”

(Mt 23.13).

PR. CLEILSON N. TRINDADEIgreja Missionária Volta de Cristo

Vilhena, RO

InquisiçãoNa seção “Cartas” da edição anterior, o leitor Lino

Cherubini, de Santa Rosa, RS, diz que os protestantes

que teimam em condenar a devoção católica a Maria

“deveriam ser processados diante de um tribunal, se

para isso existisse um”. É impressão minha ou o leitor

está fazendo apologia ao Tribunal da Santa Inquisição?

Espero que seja apenas impressão minha.

TALITA ALVARENGA Belo Horizonte

Ultimato merece parabéns não só pelos 40 anos, mas

também pela seriedade e temperança em todas as matérias

e colunas. Aproveito para dizer ao leitor Lino Cherubini, com

respeito, mas sem omitir a verdade, que o tal tribunal acabou

há três séculos, com o fi m da inquisição, e que, muito além

da Carta aos Hebreus, toda a Bíblia afi rma que o Senhor Jesus

é o único e perfeito mediador entre Deus e os homens.

EDSON BAUMGARTBarracão, PR

UniversalQuando Ultimato e seus colunistas descerão do muro

em relação à Igreja Universal do Reino de Deus e todas

as outras igrejas neopentecostais que achincalham

diariamente o evangelho, com o objetivo único de

obtenção de dinheiro e poder?

WILSON DE OLIVEIRA JR.Recife, PE

Missionário em prisãoNa edição de julho/agosto de 2006, Ultimato publicou meu

testemunho. Contei na ocasião que, quando eu tinha 4

anos, meu pai matou minha mãe e desapareceu. Creio que

foi por causa dessa notícia publicada na revista que meu

pai, depois de fi car foragido por 23 anos, foi localizado

e preso. Está aguardando julgamento. Por mais que seja

difícil, eu o perdôo por ter me deixado órfão de mãe e

sozinho na vida. Filipenses 4.13 me encoraja muito: “Tudo

posso naquele que me fortalece”. Através de Ultimato

tenho amadurecido bastante. A obra de Deus aqui na

Penitenciária de Bauru está uma bênção! Considero-me um

missionário em prisão.

DOUGLAS GRAZIANI NETOCaixa Postal 50

18250-000 Guarei, SP

De capa a capaUltimato parece uma revista em crise existencial.

Na “Carta ao leitor”, Elben César destaca que o que

menos precisamos hoje é a teologia da prosperidade.

Na contracapa, o destaque é o livro de Paul Cho que

afi rma, entre outras coisas: “Mude... da escassez à

prosperidade”. A seção “Abertura” faz uma crítica

dura à liberalidade de Rubem Alves. Na seção “Frases”

aparecem como destaques os católicos liberais Hans

Kung e Leonardo Boff. Robinson Cavalcanti diz que o

moralismo não ajuda e Alderi Souza de Matos defende

o puritanismo e a disciplina. Novamente, Elben César,

na página 27, tenta costurar tudo através do seu

aborrecimento com “cristãos um pouco demais alguma

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coisa”. A impressão que tive é que o cristão deve ser

uma média em tudo (mediocridade), fi cando nesse

meio de campo indefi nido e despersonalizado. Por

fi m, sobre os 40 anos da revista, ela se auto-proclama

ousada e coerente. Por que vocês não assumem de vez

a contradição? Os evangélicos são assim mesmo. Tenho

certeza de que Jesus perdoará mais este pecado.

FERNANDO GRUPPELLICuritiba, PR

Respiração “boca-a-bico”Antes de se criar a palavra ecologia, eu já tinha

consciência de que somos mordomos e não dominadores

de tudo aquilo que Deus criou. Tenho muito amor

aos animais e cuidado com a natureza. Pelo fato de

ter morado algumas vezes com índios caiapós, como

missionária e antropóloga, convivi mais de perto com a

criação. Outro dia aconteceu uma coisa que me desafi ou.

Um sabiá machucou-se ao bater contra a porta de

vidro de meu apartamento e eu tentei “ressuscitá-lo”

com massagens e até respiração boca-a-boca (seria

mais correto dizer respiração boca-a-bico...). Pinguei

também algumas gotas d’água em seu bico. Para minha

surpresa, pouco depois o sabiá se reanimou, bateu as

asas e foi embora. Fiquei profundamente satisfeita.

Eu estava um pouco desanimada naquele dia e isso

me reanimou. Mais animada ainda fi quei quando

abri a revista Ultimato e li a pastoral Reanimação

boca-a-boca no alvorecer de 2008 (janeiro/fevereiro,

p. 8). Parece que Deus usou o incidente do sabiá

para me lembrar o quanto ele tem prazer em nos ver

“reanimados”. Pode parecer infantil, mas me emocionou

muito.

ISABEL MURPHYBrasília, DF

Segundo casamentoFui missionário no Brasil e por muito tempo recebi a

maravilhosa Ultimato. Sou pastor aqui na minha terra,

Argentina, e fi quei viúvo. Quero encontrar uma irmã em

Cristo brasileira para o segundo casamento. Por favor,

ajudem-me a conectar-me a um site apropriado.

JUSTO JORGE ARANDA [email protected]

Argentina

Mulheres nunca maisSe os editores de Ultimato forem mulheres, elas que

me perdoem, mas vocês têm que ouvir a verdade de

Deus. Ele é amor, mas também é justiça. Quando a

justiça dele cair sobre aqueles que não cumprem as

Escrituras, nesse dia não quero nem olhar para vocês,

a caminho do inferno. As igrejas estão cometendo

a loucura de colocar a mulher no lugar do homem. A

mulher deve aprender em silêncio. O representante de

Deus na terra é um ser másculo, como Deus.

WESLEY CHRISLEY ALENCAR CARVALHOSorocaba, SP

Música evangélicaO que mais gostei na edição de janeiro/fevereiro foi a

grande quantidade de textos sobre música evangélica

brasileira, a começar pela carta de Marcos Davi, passando

pela refl exão de Ricardo Barbosa e terminando com o artigo

de Osmar Ludovico. Considerando que cada vez mais nossa

música está tomando rumos passíveis de muita crítica,

é preciso levar as igrejas a refl etirem sobre sua situação

atual, em busca do melhor caminho. Leio atentamente a

coluna “Novos acordes”, de Carlinhos Veiga.

SALVADOR DE SOUSADiretor do site Arquivo Gospel

Riacho Fundo, DF

Deprimente o texto Parei de ouvir música cristã, de Mark

Carpenter (“Arte e cultura”, janeiro/fevereiro 2008). Como

excluir certas canções das “músicas usadas nas igrejas para

louvor coletivo”? Concordo que existem muitas músicas

chamadas cristãs que são desprovidas de conteúdo, mas

para quem ouve U2 que diferença isso faz?

AFONSO EMILIO ALVARES DOURADOPlanaltina, DF

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 13

FALE CONOSCO

Cartas à Redação

[email protected]

Cartas à Redação, Ultimato, Caixa postal 43,

36570-000, Viçosa, MG

Inclua seu nome completo, endereço, e-mail e

número de telefone. As cartas poderão ser editadas e

usadas em mídia impressa e eletrônica.

Economize Tempo Faça pela Internet

Para assinaturas e livros,

acesse www.ultimato.com.br

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Ultimato, Caixa postal 43, 36570-000, Viçosa, MG

Edições Anteriores [email protected]

www.ultimato.com.br

Ex-presoNunca me esqueço de Ultimato, que me ajudou muito

quando eu me encontrava nas penitenciárias de São Paulo.

Hoje tenho minha família e o ministério que o Senhor me

confi ou.

PR. LEVY SANTO GRECOFerraz de Vasconcelos, SP

Uruguaio de nascimento, sou missionário no Chile, enviado

pela Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista

Brasileira. Estou interessado em traduzir alguns artigos de

Ultimato para o espanhol e colocá-los em um blog ou site

gratuito. Seria muito bom para o povo hispânico ter uma

revista desse nível.

GUILLERMO LA BANCACalama, Chile

Robinson CavalcantiAo ler a refl exão de Robinson Cavalcanti Protestantes: autênticos católicos (janeiro/fevereiro 2008),

deparei-me com o seguinte parágrafo: “O Espírito

Santo esteve presente nos vinte séculos de nossa

história”. Se for assim, pergunto: qual foi o Espírito

que surgiu no início do século 19 na famosa rua Azuza,

em Los Angeles, e que tornou a igreja num solo tão

fértil e vulnerável para as heresias e bizarrices como

hoje se vê?

EDVAN JORGE Itaberaba, BA

A visão histórica proposta por Robinson Cavalcanti traz

à tona o valor da memória, pois a memória histórica

corrente enfatiza insensatamente, e sem muito rigor

metodológico, uma história míope da igreja, em que a

igreja do Vaticano é detentora da narrativa. É salutar

conhecer uma outra história, observar o papel da Igreja

do Oriente, num momento em que vivenciamos uma

fragmentação religiosa e entender o papel da Reforma,

em seu ensino sólido das Escrituras. É bom observar o

que os nossos irmãos em Cristo fi zeram como prática de

uma verdadeira igreja — uma igreja com uma memória

fundamentada em Cristo Jesus, autor e consumador de

nossa fé.

CLEVERTON BARROS DE LIMACampinas, SP

A Igreja Evangélica Missionária Pentecostal de

Belo Horizonte adquiriu 2 mil exemplares desta

edição de Ultimato para distribuir de casa em casa,

no bairro Itapoã, onde se localiza o seu templo. A

distribuição acontecerá por ocasião da Páscoa.

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Gérard Horst e a esposa, Dorine

ULTIMATO Março-Abril, 2008 14

do que

O “eu te amo” que os americanos

usam em profusão e exportam para o mundo inteiro por meio do cinema se tornou uma das expressões mais

corriqueiras e sem crédito de que se tem notícia. O marido adúltero dá um beijo na mulher e diz para ela: “Eu te amo”. A esposa infi el acaricia a barba do marido e jura para ele: “Eu te amo”. Para dobrar a resistência da moça e levá-la ao motel, o rapaz se desmancha diante dela e exclama: “Eu te amo”.

No mais recente aniversário da independência do Brasil, Alex morreu aos 31 anos, depois de declarar à psicóloga Irene Pepperberg, pesquisadora da Universidade Harvard: “Te amo”. Alex era um papagaio africano, treinado pela pesquisadora desde quando ela fazia o seu doutorado em química, trinta anos atrás.

Mas ainda há casos em que se pode acreditar no famoso “I love you”. Um deles saiu da boca (e do coração) de um fi lósofo francês de 84 anos. Em 2006, Gérard Horst escreveu à esposa, Dorine: “Faz 58 anos que vivemos juntos e eu a amo mais do que nunca. Recentemente me apaixonei por você

novamente e novamente carrego em mim o vazio avassalador que só é preenchido por seu corpo apertado contra o meu”. Porque a mulher, um ano mais nova que ele, estava com uma doença degenerativa e câncer, o casal cometeu suicídio em setembro de 2007.

O “eu te amo” mais autêntico e solene aconteceu numa bela manhã à margem do lago da Galiléia, na cerimônia da restauração pública de Pedro. Para desfazer a tríplice negação do apóstolo, Jesus lhe perguntou três vezes: “Simão, fi lho de João, você me ama?”. Meio surpreso, Pedro respondeu uma vez após outra: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo” (Jo 21.15-17).

O “I love you” de Simão, filho de João

De acordo com o relatório da última Conferência Mundial sobre Água, realizada na Suécia

em agosto de 2007, a quantidade de comida jogada no lixo por famílias ricas é escandalosamente alta: 30% dos alimentos que compram. Só na Grã-Bretanha, o prejuízo é avaliado em cerca de 82 bilhões de reais por ano. Boa parte desse desperdício deve-se à propaganda do tipo “compre dois e leve três”, que constrange as pessoas a comprar mais do que necessitam. Outra

razão é a obediência cega aos rótulos dos fabricantes, que indicam na embalagem a data máxima aconselhada para o consumo. Joga-se fora leite e outros alimentos sem cheirar, sem comprovar se estão mesmo estragados.

O crime que lesa os pobres será mais grave ainda se considerarmos também as sobras que os restaurantes jogam fora e as perdas que acontecem entre a colheita e o consumo. Deve-se considerar ainda outro tipo de desperdício: o que se come em demasia

82 bilhões de reais de comida jogada no lixo por ano na Grã-Bretanha

John

Nyb

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(segundo a Organização Mundial de Saúde, o mundo tem hoje 1,1 bilhão de pessoas obesas e acima do peso).

Tudo isso acontece mesmo havendo 850 milhões de pessoas subnutridas no mundo. Aos olhos de Deus, trata-se de um crime muito grave. O problema é antigo. Já no século 18 o escritor francês Sébastien-Roch Chamfort dizia que “a sociedade se compõe de duas classes de pessoas: aquelas que têm mais refeições do que apetite e aquelas que têm mais apetite do que refeições”.

Nas duas multiplicações de pães e peixes, os discípulos não permitiram que as sobras fossem jogadas fora. Na primeira foram recolhidos doze cestos de pedaços que sobraram (Mt 14.20); na segunda, sete cestos (Mt 15.37). Durante os quarenta anos da travessia do deserto, os judeus recolhiam diariamente a porção estritamente necessária de maná para cada dia (Êx 16.4).

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números150.000oliveiras foram derrubadas para a

construção do muro da vergonha, por meio

do qual Israel tentaria impedir ataques

palestinos

33.000brasileiros morrem por ano devido à

Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

(DPOC), provocada pelo tabagismo (são 90

mortes por dia)

623políticos brasileiros (governadores, prefeitos

e parlamentares) tiveram, de 2000 a 2007,

seus mandatos políticos cassados no Brasil,

segundo levantamento do Movimento do

Candidato à Corrupção Eleitoral

60.000.000.000de dólares ao ano é quanto os Estados Unidos

gastam com suas prisões, que abrigam mais

de 2 milhões de presos

368meninas brasileiras na faixa etária

de 13 a 19 anos eram portadoras do

vírus da aids em 2006. Entre os

meninos da mesma idade, o número

era de 223

6.256veteranos de guerra americanos

cometeram suicídio em 2005 (uma média

de 17 pessoas por dia)

A Liz Fa

gund

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 15

O adesivo “Deus é fiel” precisa deixar de ser mercenário para ser um anúncio do evangelho

A declaração bíblica “Deus é fi el” (1Co 1.9; 10.13; 2Co 1.18) tornou-se um adesivo de caminhões, ônibus, carros, geladeiras, celulares etc. A fi delidade de Deus é o seu mais conhecido e popular atributo. Fala-se mais na fi delidade de Deus que em seu amor, sua onipotência, onisciência e onipresença, em sua santidade, e assim por diante. É muito bom, muito saudável e muito edifi cante que se reconheça que Deus é fi el.

Quando Moisés subiu o monte Sinai com as duas tábuas de pedra para que Deus escrevesse nelas pela segunda vez os Dez mandamentos, o Senhor mesmo declarou: “Eu sou o Senhor, o Deus Eterno! (...) a minha fi delidade e o meu amor são tão grandes, que não podem ser medidos” (Êx 34.6, NTLH). O apelo do Salmo 117 é para que todas as nações e todos os povos louvem ao Senhor “porque imenso é o seu amor leal por nós, e a fi delidade dele dura para sempre”.

Em alguns casos (ou seria em muitos?) o decalque “Deus é fi el”

virou um mero amuleto — algo que se carrega por acreditar em seu poder mágico de afastar desgraças e aproximar graças. Trata-se de uma prática pagã que vem desde a mais alta antigüidade. Então, toda a beleza e o acerto da lembrança da fi delidade de Deus vão por água abaixo, e essa propaganda de que “Deus é fi el” torna-se algo mercenário que profana e mundaniza o nome e os atributos do Senhor.

Para santifi car essa prática, seria bom acrescentar à declaração “Deus é fi el” do adesivo, uma pergunta dirigida a nós mesmos: “Deus é fi el... E eu?”.

A resposta mais apropriada dos cristãos à fi delidade de Deus é a fi rme resolução de se tornarem fi éis a ele como ele é fi el a nós em suas promessas. É preciso responder à fi delidade de Deus com a fi delidade própria. A fi delidade dos crentes a Deus é uma obrigação

imposta pela conversão. É por isso que a palavra fi el signifi ca também aquele que professa o cristianismo. Por exemplo, Timóteo deveria ser um exemplo para os “fi éis” (1Tm 4.12).

A Bíblia diz que “Moisés foi fi el como servo em toda a casa de Deus” (Hb 3.5). Os sátrapas do império medo-persa procuraram motivos para acusar Daniel de alguma irregularidade, mas “não puderam achar nele falta alguma, pois ele era fi el” (Dn 6.4). Paulo refere-se duas vezes a Tíquico como “fi el servo do Senhor” ou “ministro fi el” (Cl 4.7).

O adesivo “Deus é fi el” precisa deixar de ser algo mercenário para se tornar verdadeiramente um anúncio do evangelho. E para validar e reforçar esse anúncio, o portador do adesivo precisa também ser achado fi el em todas as coisas.

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ULTIMATO Março-Abril, 2008 16

do que

Da aquecedora do rei Davi aos “amigos” pessoais pagos

Pouco antes de morrer, por volta dos 70 anos, o rei Davi não conseguia se aquecer nem

com vários cobertores. Seus assessores acharam por bem encontrar no território de Israel uma moça solteira e muito bonita para cuidar dele e o aquecer com seu próprio corpo. A moça chamava-se Abisague e nunca se tornou mais uma mulher de Davi (1Rs 1.1-4). Quando o rei morreu, Adonias, um dos seus fi lhos, enamorou-se dela e a pediu em casamento (1Rs 2.17).

Qual seria a profi ssão de Abisague? Talvez pudéssemos dizer que a moça fosse a companhia, a enfermeira, a camareira ou a empregada doméstica do rei. Mas a versão da Bíblia Hebraica é a mais precisa: “A moça era sobremaneira formosa e servia de aquecedora para o rei e cuidava dele”.

Atualmente, temos coisas parecidas: médico particular, enfermeira particular, serviçal particular, segurança particular etc. Nos últimos anos apareceu o personal trainer, aquele profi ssional que acompanha o cliente em seus exercícios físicos. E, recentemente, surgiu o personal friend, um especialista em amizade profi ssional.

O mercado dos amigos pessoais pagos está crescendo. Os preços variam de cinqüenta a trezentos reais por hora. Como no caso de Abisague, não existe conteúdo sexual nessa prestação de serviço; eles atendem pessoas carentes de companhia. Não necessariamente apenas pessoas que vivem sozinhas, pois há homens, mulheres e crianças, que vivem em família, mas não se entendem, não se amam, não se toleram e não conversam entre si.

Por mais estranha que seja a profi ssão, ou o biscate, de personal friend, há pessoas tão desesperadas por estarem ou se sentirem sozinhas que contratam os seus serviços. Embora, a rigor, a amizade paga não seja amizade. Essa novidade torna as palavras de despedida de Jesus na noite anterior à sua morte mais signifi cativas: “Não vou deixá-los abandonados, mas voltarei para fi car com vocês” (Jo 14.18, NTLH).

O teólogo católico Jung Mo Sung, professor da Universidade Metodista de São Paulo tem toda a razão: “Uma pessoa pode ser feliz sem dinheiro, sem conforto ou reconhecimento social, mas não sem amizade”.

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Saulo e Cirlene, quinze anos depois do acidente

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 17

O garoto não tinha nem 16 anos. Mas lá estava deitado de bruços, inerte, ao lado

da linha férrea, entre as estações de Utinga e Prefeito Saladino, em Santo André, na Grande São Paulo. Ele estava voltando do estádio do Pacaembu, onde fora assistir a um jogo entre São Paulo e Corinthians. O menino era surfi sta de trem — fi cava em pé em cima dos vagões e andava para lá e para cá. Era a sua maior diversão. Adorava sentir o “friozinho” na barriga e o coração acelerado. Em 23 de janeiro de 1993, porém, o adolescente Saulo se deu mal. Para não cair em cima dos trilhos, entre um vagão e outro, agarrou-se a uma torre. Mas ela estava encostada em fi os de alta tensão e ele recebeu uma descarga elétrica de 4.400 volts e caiu no chão mais morto que vivo. Enquanto o resgate não chegava, um policial se aproximou, abriu sua boca, puxou sua língua, colocou um pequeno isqueiro para manter a boca aberta e fez respiração artifi cial. Entre a vida e a morte, Saulo se lembrou da educação religiosa que recebera dos pais e da Assembléia de Deus, igreja que a família freqüentava. Lembrou-se da preciosa herança evangélica deixada de lado para curtir as aventuras da vida. Lembrou-se daquilo que se

chama solenemente de “desintegração somatopsíquica que reduz o corpo humano sucessivamente à inércia, à putrefação, ao esqueleto e ao pó”. Lembrou-se também de Deus, aquele que dá e toma, que toma e torna a dar. Mesmo sem poder falar, Saulo gritou em sua mente: “Ó Deus, me ajuda!”.

Deus o ouviu duplamente. Livrou-o da morte física e da morte religiosa, da morte do corpo e da morte da alma. Naquele mesmo ano, Saulo Piloto da Silva, nascido em São Caetano do Sul, SP, em abril de 1977, começou a andar nos caminhos do Senhor. O mais difícil foi abandonar o que ele fazia durante as madrugadas. Além de surfi sta de trem, Saulo era também pichador, desde os 14 anos. Na busca por fama

entre os pichadores da turma Wolfs (lobos) e dos Fulanos, Saulo pichava os “picos” (locais altos de difícil acesso de empresas e pequenos prédios), as passarelas e os terminais rodoviários no centro, nas periferias de São Paulo e no ABC Paulista. Seu último “rolê” (percurso que os pichadores fazem para pichar em conjunto) aconteceu em janeiro de 1994 (um ano depois do acidente). No mês seguinte, Saulo tomou a séria decisão de seguir a Cristo de modo defi nitivo. Então, no dia 17 de abril de 1994, o ex-surfi sta de trem e ex-pichador confi rmou publicamente seu novo nascimento para Cristo e sua morte para o pecado por meio do batismo.

Hoje, quinze anos depois do acidente quase fatal, Saulo Piloto da Silva, 31, bacharel em teologia pela Faculdade Teológica Batista do Grande ABC, com especialização em ministério pastoral, é pastor da Área de Evangelização e Missões na Igreja Batista Jerusalém em Santo André e obreiro da AMME Evangelizar, uma missão que ajuda as igrejas evangélicas brasileiras a cumprir a Grande Comissão dada por Jesus. A esposa, Cirlene, também bacharela em teologia pelo mesmo seminário (com especialização em educação cristã), é mestranda em psicopedagogia.

O surfista de trem que quase morreu eletrocutado é hoje obreiro da AMME Evangelizar

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ULTIMATO Março-Abril, 2008 18

do que

Templos incendiados na Coréia do Sul e no Quêniatambém noventa anos antes na aldeia de Je Am-Ri, na Coréia do Sul.

No início de 2008, os partidários do candidato à presidência do Quênia derrotado nas eleições cercaram e incendiaram o templo da Assembléia de Deus de Eldoret, provocando a morte de cinqüenta pessoas do grupo étnico ao qual pertence o presidente eleito. Mulheres e crianças tentaram escapar de morrerem queimados, mas os algozes mantiveram as portas do templo fechadas.

Em 1919, um grupo de nacionalistas coreanos se refugiou no templo de uma igreja metodista na zona rural próxima do lugar onde fi ca hoje o Centro de Missões Leste-Oeste, fundado e dirigido pelo conhecido

missiólogo David Cho. Naquele tempo a Coréia estava sob o jugo japonês (de 1910 a 1945). Os soldados japoneses cercaram o templo, fecharam as janelas pelo lado de fora com pesadas trancas e atearam fogo na igreja. Os que conseguiram sair do templo em chamas foram mortos a tiro. Naquele dia, os japoneses mataram 23 homens e duas mulheres e incendiaram mais de trinta casas, além do templo. No dia seguinte, o missionário canadense F.W. Schofi eld e um colega visitaram a aldeia, viram o que havia acontecido e mandaram a notícia para o resto do mundo.

Hoje existe um monumento histórico em Je Am-Ri em homenagem aos mártires coreanos.

Estados brasileiros. O tema “A Missão do Padre Casado” foi apresentado por três palestrantes: o bispo anglicano Sebastião Armando Gameleira, o conhecido teólogo católico José Comblin e o padre casado e psicólogo Jorge Ponciano. Na ocasião, o ex-presidente Armando Holocheski, de São José dos Pinhais, PR, empossou os novos presidentes da Associação Rumos, Félix Batista Filho, jornalista, e sua esposa, Fernanda, pais de Felipe Emanuel, de 18 anos, e Félix Neto, de 16. Félix foi ordenado padre em 1984 por Dom Hélder Câmara e mora em Recife, onde exerceu o sacerdócio por pouco tempo.

Chama-se padre casado o sacerdote que deixa de exercer

o ministério por não estar mais disposto a manter o voto do celibato obrigatório, mas continua católico romano. Félix Batista assegura que existem hoje no Brasil mais de 5 mil padres casados e cerca de 150 mil no mundo. Por ausência de dados ofi ciais, o número pode ser muito maior. A Associação Rumos é um dos organismos de apoio ao Movimento dos Padres Casados, que conta também com o jornal Rumos.

De acordo com a revista Época, dos 29 padres formados no Seminário de Mariana, MG, em 1958, sete já morreram (24,1%), oito se casaram (27,6%) e 14 continuam exercendo o sacerdócio (48,3%).

Associação que congrega parte dos 5 mil padres casados do Brasil elege seus novos presidentes

O padre casado Armando Holocheski empossa o casal Félix e Fernanda Batista como presidentes da Associação Rumos

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Soldados japoneses no cerco a coreanos refugiados em templo metodista

O 17º Encontro Nacional de Padres Casados aconteceu em

Recife de 10 a 13 de janeiro, com a presença de 106 pessoas de treze

Quem disse que a história não se repete? O que aconteceu no

primeiro dia de 2008 na cidade de Eldoret, a 300 quilômetros a noroeste de Nairóbi, no Quênia, acontecera

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do que

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ULTIMATO Março-Abril, 2008 20

A arte de sobreviver numa enxurrada de mentiras e de equívocos

Mentira é uma coisa e equívoco é outra. Ambos causam muito estrago e afastam

muita gente da fé. Escreve-se mais sobre mentira do que sobre equívoco. Sob o ponto de vista ético, a mentira é mais grave do que o equívoco.

Os guardas do túmulo de Jesus não se equivocaram quando espalharam a notícia de que o túmulo estava vazio porque os seus discípulos haviam furtado o corpo dele durante a noite de sexta para sábado. Os chefes dos sacerdotes deram-lhes uma grande soma de dinheiro para pregarem essa mentira, que ainda era divulgada 50 anos após a ressurreição do Senhor, época em que o Evangelho de Mateus foi escrito, na década de 80 ou 90 do primeiro século da era cristã (Mt 28.11-15).

Apesar dos prodígios da mentira (2Ts 2.9), é preciso tomar igual cuidado com os equívocos, eticamente mais inocentes. Todos têm conhecimento dos muitos equívocos da ciência, desde quando se dizia que a Terra era o centro do universo. Em todas as áreas da pesquisa

científi ca têm havido erros crassos: na astronomia, na biologia, na nutrição, na história etc. Outro dia, o fi lósofo brasileiro Leandro Konder escreveu que “nenhuma teoria — nem mesmo a que venha a ser considerada a melhor delas — pode, por si só, evitar que erremos. Cada erro, empiricamente, poderia ser evitado. Porém, o fato de errarmos é uma experiência universal e inevitável”. Mas a melhor contribuição de Konder é a enfática declaração de que “a história da fi losofi a está cheia de erros cometidos por grandes fi lósofos. Os pensadores disseram e fi zeram muitas tolices. A começar pelos gregos” (Jornal do Brasil, 16/06/07, p. 6).

Não se pode esconder o fato de que a propaganda religiosa também costuma pregar mentiras e cometer equívocos. Jesus tinha toda a razão quando aconselhou aos discípulos: “Sejam espertos como as cobras e sem maldade como as pombas” (Mt 10.16). Misturar uma coisa com a outra em doses certas não é tarefa fácil, mas a sobrevivência da fé vem daí!

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Frases

Março-Abril, 2008 ULTIMATO 21

O paraíso, ponto fi nal da história, já

se tornou o presente na pessoa de Cristo e começa a ser experimentado no encontro com ele. Assim, a recusa dele é o inferno, a morte da esperança.

Dom Filippo Santoro, bispo de Petrópolis, RJ

Não tenho vocação para ser pessimista.

Considero-me um realista esperançoso.

Ariano Suassuna, 80, escritor

Eliminar a corrupção por completo não

será possível, mas podemos controlá-la e preveni-la.

Stuart Gilman, chefe do programa

Global Anticorrupção na sede do Escritório

das Nações Unidas contra Drogas e Crime,

em Viena

A falta de pão na mesa do pobre pode ser

denúncia de falta de espiritualidade no altar dos cristãos.

Carlos Queiroz, diretor-executivo da Visão

Mundial no Brasil

As pessoas têm escrito livros que prometem

ajudar as outras e ser mais felizes há uns duzentos anos, e o resultado tem sido um monte de gente infeliz e um monte de árvores derrubadas.

Daniel Gilbert, professor de psicologia em

Harvard

Gosto de ser otimista. O pessimismo radical

merece uma bala na cabeça, fi m, acabou-se a chatice. Mas não perdi a visão da realidade, e nela não vejo nada deslumbrante.

Lya Luft, escritora

Queremos ser amigos da América,

mas às vezes temos a impressão de que a América não precisa de amigos, só de ajudantes para comandar.

Vladimir Putim, presidente da Rússia, eleito Personalidade

do Ano de 2007 pela revista Time

Não é sábio colocar muita fé nas Nações

Unidas.John Robert Bolton,

ex-embaixador dos Estados Unidos na

ONU

O que dói mais? A morte da

pessoa amada ou a partida da pessoa amada? Digo que é a partida da pessoa amada.

Rubem Alves, psicanalista

O ateísmo tornou-se militante, irado,

e quer que Deus desapareça. Não se trata mais de uma fi losófi ca declaração de que Deus está morto, mas de um imperativo de que ele deve ser enterrado.

João Heliofar de Jesus Villar,

procurador regional da República da 4ª

Região e Bispo da Igreja Evangélica Sara Nossa

Terra, em Porto Alegre, em artigo publicado na

Folha de São Paulo

[Com o aquecimento global] o Primeiro

Mundo será rebaixado a Terceiro e o Terceiro, a Quinto. E isso é para daqui a pouco, quase já.

Ruy Castro, jornalista

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ULTIMATO Março-Abril, 2008 22

Antonio Elias Antonio Elias sem pressa sem pressa de morrer de morrer aos 91 anosaos 91 anos

Antonio Elias, o homem que teve um espetacular encontro com o Senhor aos 21 anos

Em 1932, por ocasião da Revolução Constitucionalista, um rapaz de 21 anos, com cara de adolescente, entrou pela primeira vez na vida em uma igreja protestante. Era o templo da Igreja Batista Paulistana. O moço, chamado Antonio, teve naquela noite, como ele mesmo disse tempos mais tarde, “um espetacular encontro com o Senhor”.

Desejando tornar-se membro da comunidade, foi examinado e aceito pela sessão da igreja para ser batizado. Porém, por ter viajado para o Sul do Brasil com destino à Argentina, a cerimônia não se concretizou. Em Porto Alegre, só com a roupa do corpo — o uniforme de voluntário

da revolução — e doente, Antonio foi levado para o hospital da Brigada Militar e de lá para a casa do capitão Ludovico Schilimyer, onde foi tratado como fi lho. O rapaz quis logo saber onde fi cava a igreja batista, indo parar na Capela do Redentor, dos episcopais, cujo pároco era Vicente Brande. Antonio estranhou aquela igreja que julgava ser batista, mas pensou: “Aqui no Sul tudo é diferente...”. Terminado o culto, o pastor, à porta, quis conversar com o estranho visitante por causa do uniforme (ele também era de São Paulo). Tratou-o da melhor maneira possível. Não demorou muito, o jovem, convertido numa igreja batista em São Paulo, tornava-se membro de uma igreja episcopal de Porto Alegre.

Com a morte do pai em Catanduva, SP, e não agüentando mais as saudades da mãe e dos irmãos, Antonio resolveu voltar para o Estado de São Paulo. Na despedida, Vicente Brandão explicou-lhe que não havia igreja episcopal em São Paulo, mas ele poderia transferir-se para uma igreja presbiteriana. Foi a primeira vez que Antonio ouviu falar a palavra presbiteriano.

O nome todo desse rapaz é muito curto e comum: Antonio Elias. Não desperta a menor atenção ou curiosidade. Mas sua vida foi longa (por pouco não chegou aos 97 anos) e o que ele fez em favor do evangelho, sempre com a maior discrição possível, é extraordinário. Tornou-se pastor presbiteriano,

fundou igrejas (naquele tempo não se usava a expressão “plantar igrejas”) em Teófi lo Otoni, MG, Porto Alegre, RS, e Niterói, RJ (Igreja Presbiteriana Betânia), ganhou muitas almas para Cristo, aqueceu a alma de milhares de crentes (era ao mesmo tempo evangelista e avivalista), pastoreou igrejas e organizou a Associação Evangelística Sarça Ardente. Casou-se tarde (aos 38 anos) com a professora Maria José, convertida através de seu trabalho em Teófi lo Otoni, e teve três fi lhos, uma fi lha e seis netos.

O conhecido e amado Antonio Elias faleceu em Niterói quatro dias antes do Natal de 2007. (Leia em www.ultimato.com.br As cartas de amor de Antonio Elias e Maria José.)

O homem de nome curto e comum O homem de nome curto e comum e de vida longa e extraordináriae de vida longa e extraordinária

Na edição de setembro/outubro de 2001, Ultimato entrevistou dois idosos de 90 anos, ambos convertidos ao evangelho setenta anos antes. Um deles era Antonio Elias; o outro, Augusto Gotardelo. Foram feitas algumas perguntas muito francas e solenes e se obtiveram respostas edifi cantes, como se pode ler a seguir (no que se refere ao primeiro):

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 23

Se Dom Ático Eusébio da Rocha, celebrante da Páscoa dos militares, tivesse conclamado a multidão a se ajoelhar diante de Jesus Cristo, o jovem soldado paranaense Ismael teria obedecido. Mas como era para rezar de joelhos em sinal de adoração à Santa Virgem, o rapaz permaneceu de pé, não por provocação, mas por convicção. Então, ele olhou para trás e para os lados para ver se havia mais alguém não ajoelhado e encontrou um sargento e outro pracinha tão em pé quanto ele.

Hoje o antigo soldado tem 91 anos. Apesar de não ter freqüentado escola alguma, Ismael galgou posições de destaque em sua vida profi ssional (chegou a ser chefe da Divisão de Tráfego e assessor de Segurança e Informações do Porto de Paranaguá, no Paraná) e publicou alguns livros (Sob os Céus do Cruzeiro, Fatos e Bênçãos, O Varão preeminente e Inspirações de um Matuto). No momento está escrevendo um livro de memórias que terá como título Pepitas do Meu Bornal.

Ismael é um dos muitos brasileiros que aprenderam a ler com a Bíblia e que alcançaram alguma facilidade para falar e escrever por causa da escola dominical — aquela reunião informal de estudo bíblico

O pescador analfabeto que O pescador analfabeto que virou assessor de segurança virou assessor de segurança do porto de Paranaguádo porto de Paranaguá

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Ismael Alves Pires aprendeu a ler com a Bíblia

A espera da morte é tranqüila?Antonio Elias — Absolutamente tranqüila.

Deseja que a morte venha logo?A. Elias — Falando francamente, sei que tenho que passar por ela, mas não estou com pressa. Enquanto tiver saúde e estiver fazendo o que gosto — anunciar o reino do Senhor — ela pode demorar a chegar...

É bom viver?A. Elias — Sim, para mim tem sido bom viver, seguindo os passos daquele que disse: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28.20).

É bom morrer? A. Elias — Não sei. Ainda não tive essa experiência... Porém creio que despretensiosamente posso dizer com o apóstolo Paulo: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é ganho” (Fp 1.21).

Em seu caso pessoal, quais os maiores transtornos físicos ou emocionais causados pela idade avançada?A. Elias — Encaro com naturalidade o declínio das forças físicas. E, sem cessar, louvo o Senhor por ter vivido bem até agora, ultrapassando os 91 anos...

Qual a sua rotina diária?A. Elias — Normalmente começo o dia com um período devocional de comunhão com o Senhor e leitura da Bíblia. Leio jornais, livros e revistas. Participo das atividades normais da casa. Atendo os compromissos que surgem e vou trabalhando nas mensagens que tenho de pregar aqui em Niterói (duas ou três vezes por semana normalmente), e nas viagens por aí afora...

que se faz em quase todas as denominações evangélicas aos domingos pela manhã, em classes divididas pela faixa etária, desde a idade mais tenra. O antigo pescador e vendedor de peixes (sua primeira profi ssão) diz com orgulho que nunca esteve numa escola primária, “somente na universidade que se chama escola bíblica dominical”.

Viúvo há sete anos e pai de cinco fi lhos (dois dos quais são pastores) e de uma fi lha, Ismael Alves Pires vive em Paranaguá e conserva aquela tradição peculiar à sua denominação: “Sou batista roxo”.

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24 ULTIMATO Março-Abril, 2008

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Que vida boba!

A vida deixa de ser boba quando é vivida em sua

plenitude acima e abaixo do sol, no plano físico e metafísico, no plano religioso e secular, no

plano da fé e da razão

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 25

Não se sabe ao certo quem é o autor do livro de Eclesiastes. Poderia ser Salomão,

todavia é mais provável que seja outro sábio bem posterior, que se valeu de sua história, fama e nome. Parece que foi o reformador Martinho Lutero o primeiro a negar a autoria de Salomão. Um dos comentadores de Eclesiastes diz simplesmente que o autor empregou um artifício literário muito comum e colocou suas palavras na boca de Salomão. Nesse caso, o livro teria sido escrito no período pós-exílio, entre 400 e 200 antes de Cristo. Mas uma coisa é certa: o autor de Eclesiastes é um homem muito sábio, vivido, conhecedor da natureza humana, sensível, observador, inconformado, realista, prático e muito religioso.

O livro discorre sobre a vida humana “debaixo do sol” (29 citações) ou “debaixo do céu” (3 citações), isto é, aqui embaixo, na terra, neste mundo. Essa expressão diz respeito à vida no plano físico e não no plano metafísico, no plano secular e não no plano religioso, no plano material e não no plano espiritual, no plano da razão e não no plano da fé, no plano humano e não no plano divino. Não se discute a existência de Deus — ele não é considerado, exista ou não.

Essa completa e concreta alienação sobre Deus gera um tédio insuportável, que leva o autor a dizer repetidas vezes desde o início: “Vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Ec 1.2). Outras versões preferem termos sinônimos: “Tudo é inútil” (NVI), “Tudo é ilusão” (NTLH), “Tudo é fugaz” (EP), “Tudo é terrivelmente frustrante” (BH). Na paráfrase da Bíblia Viva, o autor escreve que a vida é uma

“vida boba” (2.23). A expressão “vaidade de vaidades”, que aparece 37 vezes em apenas doze capítulos, funciona como um superlativo, a maneira hebraica de reforçar ou aumentar a intensidade do fato.

Porém, o sábio não se satisfaz e usa outras expressões para deixar o leitor o mais ressabiado, intrigado, possível. Numa delas, afi rma que a vida é um eterno “correr atrás do vento” (1.14), “uma caça ao vento” (BP), “uma perseguição ao vento” (TEB) ou simplesmente um “vento que passa” (EPC). Como o vento é o ar em movimento e, quando pára, não mais existe, o ser humano, “debaixo do sol”, nunca se realiza, nunca se acha, nunca pára de correr.

Na tradução da CNBB, “correr atrás do vento” é “afl ição de espírito”. Em palavras menos simbólicas, “correr atrás do vento” nada mais é que esforço inútil, tempo perdido, quimera. A frase aparece dez vezes em Eclesiastes.

Em outra expressão, o sábio parece mais melancólico ainda e afi rma sem acanhamento algum que a vida “não faz sentido” (2.19; 4.16; 5.10; 8.10 e 14; 9.9; 11.8). Em outra passagem, ele diz que é “tudo sem sentido” ou, “nada faz sentido” (12.8). Também diz que a vida “é um absurdo e uma grande

O pessimismo toma conta das pessoas

que desconsideram Deus e vivem às suas

próprias custas e a seu bel-prazer

injustiça” (2.21, NVI). A Bíblia do Peregrino, a Bíblia de Jerusalém e a Edição Pastoral Catequética usam uma expressão muito mais forte: “[A vida] é uma grande desgraça”!

O livro de Eclesiastes pode parecer um pavoroso manual de pessimismo. Veja, por exemplo, os seguintes pronunciamentos: “Quanto maior a sabedoria, maior o sofrimento” (1.18); “Os mortos [são] mais felizes do que os vivos, pois estes ainda têm que viver!” (4.2) e “É melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa” (7.2). Mas, na verdade, o propósito do livro é mostrar a causa e a cura para o pessimismo. Este aparece e cresce quando as pessoas pensam somente em si mesmas, de forma egoísta e não altruísta. O pessimismo acaba tomando conta das pessoas que desconsideram Deus e vivem às suas próprias custas e a seu bel-prazer. O pessimismo torna-se insuportável quando as pessoas se espremem entre o nascimento e a morte e rejeitam qualquer idéia de vida após a morte.

Para ensinar que a vida é boba, o Sábio gasta muito tempo contando suas experiências equivocadas que a tornaram boba. Para ensinar que a vida pode deixar de ser boba, o Sábio aponta o equívoco-mor: “Separado de Deus, quem pode alegrar-se?” (2.29, RA).

Na verdade, todas as belezas da vida perdem sua fragrância e signifi cado quando o homem coloca Deus de lado e não mais cogita sobre ele.

Defi nitivamente a vida deixa de ser boba quando é vivida em sua plenitude acima e abaixo do sol, no plano metafísico e no plano físico, no plano religioso e no plano secular, no plano da fé e no plano da razão!

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Tudo?A beleza das fl ores?O perfume do jasmim?As cores da rosa?

Tudo?O campo de neve?As fl orestas da Amazônia?O cume dos montes?

Tudo?O passeio na praia?O banho do mar?A areia incontável?

Tudo?O luar do sertão?A sanfona da roça?O frango com quiabo?

Tudo?O som da harpa?A doçura da fl auta?As fi lhas da música?

Tudo?O tamanho da baleia?A altura da girafa?As cores do camaleão?O mel das abelhas?O trabalho das formigas?O vôo do beija-fl or?A força do leão?A bolsa do canguru?A longevidade da tartaruga?A viagem das andorinhas?Os dentes da cascavel?A velocidade do falcão?

Tudo?O aperto de mão?O abraço apertado?O beijo na face?O afago da criança?

Tudo?O primeiro amor?A primeira carícia?A primeira noite?A primeira gravidez?O primeiro fi lho?O primeiro sorriso?O primeiro beicinho?A primeira palavra?O primeiro passinho?

Tudo?O presente que se dá?O presente que se recebe?O amor fraternal?

Tudo?A dor de dente que passou?A biópsia que nada revelou?A doença curada?

Tudo?A revelação natural de Deus?A consolação das Escrituras?O ministério do Espírito?

“Tudo é vaidade e corre

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rer atrás do vento” (Ec 2.17)

Tudo?O amor de Deus?A misericórdia de Deus?A graça de Deus?A soberania de Deus?A glória de Deus?A onipotência de Deus?A onipresença de Deus?A onisciência de Deus?

Tudo?A graça comum?A graça especial?O Verbo que se fez carne?O Cordeiro de Deus?O Alfa e o Ômega?

Tudo?O véu do templo que se rasgou?O triunfo da cruz?A vitória do bem sobre o mal?O esmagamento da serpente?A morte da morte?A ressurreição dos mortos?O novo corpo?Os novos céus e nova terra?O Apocalipse?

Tudo?O riso depois do choro?A noite depois do dia?O dia depois da noite?O verão depois do inverno?O inverno depois do verão?O sol depois da chuva?O aguaceiro depois da seca?A calma depois do furacão?

A paz depois da guerra?O amor depois da briga?

O perdão depois do pecado?A morte depois da vida?A vida depois da morte?Deus depois de tudo?

Tudo?Os que fazem ciência?Os que escrevem livros?Os que compõem música?Os que curam o corpo?Os que ouvem a lamúria?Os que promovem a paz?Os que fazem rir?

Os que anunciam as boas novas?

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ULTIMATO Março-Abril, 2008 28

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O muro mais antigo, mais intransponível e mais humilhante não é o “longo muro” (a Muralha

da China, construída três séculos antes de Cristo) nem o “muro da vergonha” (o Muro de Berlim, construído em 1961); mas é o muro da desintegração somatopsíquica que reduz o corpo humano sucessivamente à inércia, à cor e à rigidez cadavéricas, à decomposição, ao esqueleto e, por último, ao pó. O muro da morte foi construído por Deus, logo após a queda, para impedir que o homem tivesse acesso à árvore da vida (Gn 3.24). A morte é o acontecimento mais absurdo possível.

Um dos amigos de Jó dizia que o ser humano “é arrancado da segurança de sua tenda e levado à força ao rei dos terrores” (Jó 18.14). Naquele tempo, os cananeus comparavam a morte a um monstro cujo lábio inferior toca a superfície, e o superior, o mais alto céu. A boca enorme e sempre escancarada desse monstro engole tudo e nunca se fecha e nem se satisfaz. Ninguém escapa à sua gula feroz e descontrolada. Não escapam nem os bons, nem os maus, nem os cheios de vida, nem os doentios, nem as criancinhas de colo, nem os defi cientes físicos em cadeiras de rodas, nem a mulher bonita, nem o homem feio, nem os ricos nem os pobres, nem os recém-nascidos cobertos de sangue, nem Lázaros cobertos de chagas. A morte é tudo isto: faminta,

gulosa, insolente, cruel, implacável e o pior de todos os desmancha-prazeres.

O rei Ezequias (701 a.C.), que, por volta dos 37 anos de idade, foi desenganado pelo próprio Deus, mas pela graça do mesmo Deus, conseguiu recuperar-se de sua enfermidade terminal, explica que na morte a vida é acabada, arrancada, cortada, desfeita, reduzida a nada, removida e roubada “como uma barraca de pastores que é desmontada e levada para longe, ou como um pedaço de pano que o

tecelão corta de uma peça de tecido” (Is 38.12, NTLH). Esse corte pode acontecer à noite ou antes do despertar da manhã.

Um livro tão realista como o de Eclesiastes não poderia jamais deixar a morte de lado. Uma das razões pelas quais a vida é boba é a existência implacável da morte. Para o autor do livro, a morte é um muro, pois todos os sonhos, todos os desejos, todos os

empreendimentos esbarram nela e ali acabam. Nesse sentido, o ser humano não leva vantagem alguma sobre o animal, nem o animal leva vantagem sobre o ser humano, “pois a sorte de homens e animais é uma só: morre um e morre o outro” (Ec 3.19, BP).

As palavras mais irredutíveis sobre a “cessação defi nitiva de todos os atos cujo conjunto constitui a vida dos seres organizados” estão em Eclesiastes: “[Assim] como ninguém pode dominar o vento, nem segurá-lo, também ninguém pode evitar a morte, nem deixá-la para outro dia. Nós temos de enfrentar essa batalha, e não há jeito de escapar” (8.7, NTLH).

A rigor, sem as boas-novas da salvação, sem a esperança da ressurreição, sem a promessa de novos céus e nova terra, sem a certeza da morte da morte pela vitória de Jesus, tudo começa mal, caminha mal e termina mal. O muro da morte não nos deixa passar, não nos dá tempo para gozar o que foi feito do lado de cá, obriga-nos a trabalhar para aqueles que não trabalham (Ec 2.17-23). Isso pode levar o ser humano ao desencanto, ao mais profundo pessimismo e até à vontade de antecipar a própria morte. Trata-se de uma angústia perturbadora e sem solução apenas para aquele que está e vive “debaixo do sol” ou “debaixo do céu” e, portanto, desconsidera, na teoria ou na prática, a existência de Deus.

Sem as boas novas da salvação, sem a esperança

da ressurreição, sem a promessa de novos céus e nova terra, sem a certeza da morte da morte pela

vitória de Jesus, tudo começa mal, caminha

mal e termina mal

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 29

Em qualquer tempo e em qualquer cultura, o ser humano quer se livrar da vida boba, isto é, da falta de

sentido da vida. O autor de Eclesiastes tenta resolver o problema da “triste maneira de viver” (Ec 4.8, NTLH), da eterna e desagradável rotina da vida e da não-realização dos sonhos. Ele caminha por algumas vias na tentativa de ser bem-sucedido.

Quem sabe o caminho da sabedoria daria certo?

Então ele se dedica a investigar e a usar a sabedoria para explorar tudo o que existe. Ele pensa, estuda, pesquisa, viaja, observa e anota. Mal termina a graduação passa para a pós-graduação; mal termina a pós-graduação, passa para o doutorado; mal termina o doutorado, passa para o pós-doutorado. Depois de muitos anos e muitos diplomas, ele escreve:

“Cheguei à conclusão de que a sabedoria é melhor do que a tolice, assim como a luz é melhor do que a escuridão. Os sábios podem ver para

Depois de muitos anos, muitos diplomas, muitos bens e muitas incursões no submundo, a vida

continua sem sentido

onde estão indo, mas os tolos andam na escuridão. Porém eu sei que o mesmo que acontece com os sábios acontece também com os tolos. Aí eu pensei assim: ‘O que acontece com os tolos vai acontecer comigo também. Então, o que é que eu ganhei sendo tão sábio?’ E respondi: ‘Não ganhei nada!’ Ninguém lembra para sempre dos sábios, como ninguém lembra dos tolos. No futuro todos nós seremos esquecidos. Todos morreremos, tanto os sábios como os tolos. Por isso, a vida começou a não valer nada para mim; ela só me havia trazido aborrecimentos. Tudo havia sido ilusão; eu apenas havia corrido atrás do vento”. (Ec 2.13-17, NTLH).

Quem sabe o caminho do sucesso daria certo?

Então ele arregaça as mangas e põe as mãos no arado. Não olha para trás nem uma vez. Não desanima, não desiste, não pára de perseguir o alvo proposto. Segue todas as instruções, sua em bicas, trabalha dia e noite. Paga todos os dízimos e faz doações enormes para receber o dobro ou mais que o dobro do que havia contribuído. Depois de muitos anos e de muitos bens, ele escreve:

“Realizei grandes coisas. Construí casas para mim e fi z plantações de uvas. Plantei jardins e pomares, com todos os tipos de árvores frutíferas. Também construí açudes para regar as plantações. Comprei muitos escravos e além desses tive outros, nascidos na minha casa. Tive mais gado e mais ovelhas do que todas as pessoas que moraram em Jerusalém antes de mim. Também ajuntei para mim prata e ouro dos tesouros dos reis e das terras que governei. Homens e mulheres cantaram para me divertir, e tive todas as mulheres que um homem pode

“Resolvi me divertir e gozar os prazeres da

vida. Mas descobri que isso também é ilusão. Cheguei à conclusão de que o riso é tolice e de que o prazer não

serve para nada”

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A praga do fastio

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desejar. Sim! Fui grande. Fui mais rico do que todos os que viveram em Jerusalém antes de mim, e nunca me faltou sabedoria. Consegui tudo o que desejei. Não neguei a mim mesmo nenhum tipo de prazer. Eu me sentia feliz com o meu trabalho, e essa era a minha recompensa. Mas, quando pensei em todas as coisas que havia feito e no trabalho que tinha tido para conseguir fazê-las, compreendi que tudo aquilo era ilusão, não tinha nenhum proveito. Era como se eu estivesse correndo atrás do vento” (Ec 2.4-11, NTLH).

Quem sabe o caminho da permissividade daria certo?

Então ele se solta, sai da tutela do pai e da mãe, rompe com o passado, desiste dos padrões bíblicos de comportamento, encosta num canto os Dez Mandamentos da Lei de Deus, abre mão de alguns escrúpulos adquiridos na infância, torna-se dono de si mesmo e de seus desejos. Considera-se livre, inteiramente livre para fazer o que bem entende e satisfazer qualquer desejo, contanto que seja da carne e não do antigo Espírito. Depois de muitos anos e de muitas incursões no submundo, ele escreve:

“Resolvi me divertir e gozar os prazeres da vida. Mas descobri que isso também é ilusão. Cheguei à conclusão de que o riso é tolice e de que o prazer não serve para nada. Procurei ainda descobrir qual a melhor maneira de viver e então resolvi me alegrar com vinho e me divertir. Pensei que talvez fosse essa a melhor coisa que uma pessoa pode fazer durante a sua curta vida aqui na terra” (Ec 2.1-3, NTLH).

O sábio tenta outros caminhos. Todos vão para o mesmo lugar, todos o levam para a mesma sensação de desapontamento, todos o fazem correr sem parar atrás do vento!

Há uma praga pior do que as pragas do Egito. É a praga do fastio. Ela causa decepção, tédio,

repugnância, aversão, enfartamento e outras complicações. É melhor ter piolhos no corpo, na casa e no campo do que sentir-se entediado. É preferível enfrentar moscas e rãs por toda parte do que aturar o desgosto provocado pelo excesso de alguma coisa antes fortemente desejada.

Não foi sobre o Egito que Deus enviou a praga do fastio. Foi sobre o povo eleito, quando Israel estava acampado no deserto de Parã. Ali os israelitas e os estrangeiros que estavam no meio deles tiveram saudades do Egito, dos peixes que “comiam de graça”, dos pepinos, dos melões, dos alhos e das cebolas. Vítima da terrível doença da memória curta e esquecido de que nada era de graça no Egito, o povo de Israel queixou-se amargamente do pão que de graça descia do céu em quantidade sufi ciente dia após dia: “Não há mais nada para comer, e a única coisa que vemos é esse maná!” (Nm 11.6, NTLH).

Eles queriam outra comida e Deus lhes deu uma enxurrada de carne para comer. Um enorme bando de

codornizes invadiu o arraial voando a menos de um metro de altura e foram apanhadas pelo povo numa extensão de trinta quilômetros durante dois dias e uma noite. O que menos “colheu” teve no mínimo mil quilos, o sufi ciente para encher 2.200 latas de um litro! E o povo comeu aquela carne um dia, dois dias, cinco dias, dez dias, vinte dias, um mês inteiro, até sair pelos narizes, até não agüentar mais, até não poder ouvir falar de carne, muito menos de codornizes. Era a praga do fastio, o castigo do fastio, o tormento do fastio (Nm 11.1-35).

Há outros exemplos de fastio na Bíblia. Fastio de ouro e de prata, de possessões e riquezas, de servos e servas, de sabedoria e cultura, de trabalho e realizações, de fama e glória. É o caso do desesperado autor de Eclesiastes, para quem, no auge do fastio, “tudo é vaidade”, “correr atrás do vento” e uma eterna mesmice (Ec 1.1-5, 20).

É provável que no último carnaval muitos brasileiros tenham sido atingidos não pela praga do fastio de codornizes, mas pela praga do fastio de sexo. Ou de camisinhas, tendo em vista os 19,5 milhões de preservativos que o governo distribuiu ao povo.

(Veja Quão verdadeiros somos?, p. 52.)

A praga do fastio

Char

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 31

Para você saber lidar com o muro da morte e passar para o outro lado dele...

Para você fi car livre da eterna mesmice da vida (a intolerável rotina de sempre) e experimentar coisas novas e surpreendentes...

Para você não ser obrigado a confessar, já velho e acabado, que sua vida foi uma vida boba, sem sentido e terrivelmente frustrante...

Para você não correr atrás do vento como um bobo...

Para você não repetir no fi nal de cada dia, no fi nal de cada semana, no fi nal de cada mês, no fi nal de cada ano, no fi nal de cada aniversário, que “tudo é vaidade”...

Para você se libertar de sua continuada depressão...

Para você não cometer, em algum momento da vida, suicídio...

“Lembre-se do seu Criador enquanto você ainda é jovem, antes que venham os dias maus e cheguem os anos em que você dirá: ‘Não tenho mais prazer na vida’” (Ec 12.1, NTLH).

Substitua o Memento Morti (lembre que deve morrer) pelo Memento Creatoris (lembre-se do seu Criador).

Desde que você busque a Deus em primeiro lugar e tenha o devido temor ao Senhor, não é necessário que você desapareça deste mundo (Jo 17.15) e construa um barraco no meio da fl oresta para se isolar de tudo e de todos. Não é necessário que você

abra mão da sabedoria, do sucesso, dos prazeres da vida, do trabalho, da ascensão econômica, dos exercícios físicos, da alegria da música, da beleza, do amor, da família, da sociedade e dos sonhos. O livro de Eclesiastes ensina isso: “Jovem, aproveite a sua mocidade e seja feliz enquanto é moço. Faça tudo o que quiser e siga os desejos do seu coração. Mas lembre-se de uma coisa: Deus o julgará por tudo o que você fi zer. Não deixe que nada o preocupe

ou faça sofrer, pois a mocidade dura pouco” (Ec 11.9-10, NTLH).

O Sábio usa três vezes uma palavrinha mágica no último capítulo de Eclesiastes. É preciso lembrar-se do tédio “antes que venham os dias maus” (Ec 12.1), antes do processo irreversível da decrepitude (Ec 12.2-6), antes da morte (Ec 12.6-8). Quanto mais tarde se toma essa decisão inteligente, maior vai se tornando o desperdício da vida e o consumo da amargura. É muito

mais sábio acabar com a alienação de Deus no início da vida do que no fi nal, quando a “lamparina de ouro cai e quebra”, quando a “corrente de prata se arrebenta”, quando o “pote de barro se despedaça e a corda do poço se parte” (Ec 12.6-7).

O Eclesiastes é muito prático. Bastam as duas últimas frases do livro: “De tudo o que foi dito, a conclusão é esta: tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos porque foi para isso que fomos criados. Nós teremos de prestar contas a Deus de tudo o que fi zemos e até daquilo que fi zemos em segredo, seja o bem ou o mal” (Ec 12.13- 14, NTLH).

A mensagem de Eclesiastes pode ser reencontrada em um versículo do profeta Jeremias: “O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água” (Jr 2.13). Correr atrás do vento e cavar cisternas rachadas a vida inteira são metáforas diferentes com mensagens iguais. As duas denunciam a falta de Deus na mente, no coração e na vida de qualquer ser humano que rodopia em torno de si mesmo.

Chega da “vida boba”, “da triste maneira de viver”, chega de nostalgia (a saudade escondida de Deus), chega de arrogância, chega de teimosia, chega de incredulidade, chega de “correr atrás do vento”!

É preciso parar de correr atrás do vento e de cavar cisternas

que não retêm água!

Chega da “vida boba”, da “triste maneira de

viver”, chega de nostalgia (a saudade escondida de

Deus), chega de arrogância, chega de teimosia, chega

de incredulidade, chega de “correr atrás do vento”

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capa

Oséas Heckert

Oséas Elias Heckert é engenheiro. Participa do Ministério com Casais da Igreja Presbiteriana de Vila Mariana, em São Paulo.

ULTIMATO Março-Abril, 2008 32

Pai nosso que estás em todo lugar...

Pai, penitente promitentequero (de)votar-te exclusiva dedicação:nada tomará teu lugar em meu coração;nem imagem de escultura,nem fi gura ou representaçãode qualquer criaturaou perversa estruturareceberá minha adoração;nem qualquer ocupação,ou sequer preocupação,terá maior atenção.

Prometo santifi car o teu nomee não usá-lo em futilidade;prometo buscar a santidade,a cada dia satisfazer tua vontade,para que teu reino se realizee concretize em minha vida.

Prometo honrar minha família,para vivermos sem quizília1

e desfrutarmos em santa pazo pão cotidiano que nos dás.

Perdoa as minhas dívidas,desculpa minhas dúvidas,aumenta-me a fé e o amorpra ser clemente ao devedor,e o meu zelo para fazê-loquantas vezes preciso for.

Não me deixes cair em tentação;protege-me do círculo viciosode ouvir a lorota do impiedoso,deter-me na rota dos pecadores,e sentar-me à roda com zombadores.

Ensina-me a não prejulgar o próximo,não proferir fortes palavras de

morte,nem agir como algoz ou juiz.

Ao contrário de arbitrário,permite-me fazer por ele o

máximopara que tenha vida

longa e feliz.

Dá-me o prazer do sexoconexo a seu contexto devidopara eu não fi car de olho compridoe lascivo no fl erte solerte,a pretexto da grama mais verdedo outro lado da cerca.

Acerca da grana que engana,perdoa-me a gana e a ansiedade;dá-me o necessário sufi cientepra viver com dignidadee acudir o mais carente;não demais, para que farto te renegue,nem de menos, para que sonegueou que no furto alguém me pegue.

Perdoa minha omissão:fi z-me negligente e mudoante a exploração dos sem-nada:cada pobre, órfão, viúva, estrangeiro.Requeiro, dá-me prontidãopara erguer a voz e me colocarem defesa dos desprovidos de tudo.Faze-me, contudo,moroso pra maldizer e fofocar...

Livra-me de fi car de olho grandenas pequenas coisas de alguém,ou cobiçoso das grandes, também.

Não peço redoma ou regalia,mas a tua companhia,todavia, em toda via.

Livra-me do malde retribuir mal com mal.Ensina-me a amar,meus amigos e inimigos,e a exalar o teu aroma.

No pleroma2 de tua luz,conduz meu caminhar imperfeito,brilhando cada vez maisaté ser um dia perfeito.

Notas1. Confl ito de interesses; briga, rixa2. Plenitude

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 37

EspecialEspecialnão quer fazer o papelão de deixar Jesus de lado

Especial

Em certo sentido, não temos nada de novo para apresentar ao leitor. Propagamos a velha

história, a velha mensagem, a velha esperança, em uma embalagem nova. Relacionamos os fatos de hoje com a verdade de ontem. Partimos das coisas que acontecem e daquilo que se diz para chegar a Jesus Cristo, a última instância.

Não usamos a mesma linguagem dos astrólogos, economistas, sociólogos ou futurólogos para nos referir ao que vem depois do presente. Os cientistas falam de suas especialidades. Ultimato dá a sua colaboração abrindo as páginas da Bíblia, pois as Escrituras começam com a criação dos céus e da terra e terminam com a criação de novos céus e nova terra. Daquele princípio viemos e para esse fi m estamos indo. Tudo aquilo que ainda não se realizou nessa longa trajetória, nesse extraordinário enredo, é escatologia. Estamos entre a história e a escatologia. A história diz respeito ao passado e a escatologia, ao futuro. Com o correr dos séculos, a escatologia passa para o âmbito da história. Esta é cada vez maior e aquela, cada vez menor. “Quando vier o que é perfeito” (1Co 13.10), então a escatologia deixará de existir.

Embora cada um de nós da redação sejamos membros ativos de alguma igreja evangélica, desde o primeiro número (janeiro de 1968) temos nos esforçado para não fazer propaganda de denominação alguma, pela simples razão de não sermos um veículo denominacional. Já há

número sufi ciente de periódicos denominacionais. Embora sejamos protestantes que se orgulham da Reforma Religiosa, acontecida na Europa no século 16, e que se deixam orientar por ela, Ultimato faz questão de proclamar que O reino de Deus é maior que a igreja católica, que as igrejas ortodoxas, que a igreja protestante (matéria de capa da edição de julho de 1996).

No fi nal do quinto século, Agostinho explicou que, “se na pregação não há Jesus, ele não é a Palavra, é apenas uma voz”. Em meados do século passado, Adauto Araújo Dourado, professor de homilética do Seminário Presbiteriano de Campinas, ensinou aos seus alunos: “Você pode fazer o melhor sermão. Escreva-o. Leia-o. Se Jesus não é o

centro dele, rasgue-o em mil pedaços e jogue fora”.

Ultimato não quer fazer o papelão de deixar Jesus de lado. Explicamos esse compromisso na matéria de capa da edição comemorativa de nosso 30º aniversário (janeiro/fevereiro 1998). O título da matéria era Jesus na capa e no miolo, isto é, nosso tema mais insistente é Jesus.

Tamanho entusiasmo pelo Jesus das Escrituras nos levou a publicar várias matérias de capa sobre a riqueza da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Entre elas, citam-se: A morte de Jesus foi proposital? (abril de 1980), Proposições sobre Jesus Cristo libertador (maio de 1980), A última tentação de Cristo (setembro/outubro de 1988), As brigas de Jesus por causa das crianças (novembro de 1997), A divindade e a humanidade de Jesus (julho de 2001), O grande desafi o do terceiro milênio depois de Cristo é a lembrança contínua do Jesus do Novo Testamento até que ele venha (janeiro de 2003) e Jesus é imatável (março de 2007).

A data exata do 40º aniversário de Ultimato foi no dia 13 de janeiro. As comemorações, no entanto, serão realizadas aqui em Viçosa, de 31 de julho a 2 de agosto de 2008, com a presença de quase todos os articulistas fi xos e dos autores de livros publicados pela Editora Ultimato.

Enquanto isso, todos nós, redatores e leitores, vamos pôr as mãos no arado e apresentar a mensagem do cristianismo à nossa geração. Com zelo e urgência!

Edição 129

Edição 241

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Robinson Cavalcanti

Mui bíblica missão

ULTIMATO Março-Abril, 2008 38

Todos os seres e instituições existem com um propósito, construtivo ou destrutivo. Chamemos esse objetivo

de missão. Muitas vezes, pessoas e instituições se afastam de seu objetivo original, ou o implementam por métodos inadequados ou ilegítimos. O pensador anglicano Michael Greene afi rmou: “A Igreja ou é missionária, ou não é Igreja”. Jesus Cristo, se esvaziou, encarnou em uma cultura e uma conjuntura, rompeu barreiras sociais, exortou, realizou sinais e prodígios. Ele é o exemplo para a Igreja: o Messias prometido, que transformou água em vinho e bebeu fel na cruz — da festa ao martírio. Foi ele quem disse: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21b). A Palavra nos mostra o modelo da missão de Cristo, bem como da nossa: “Percorria

Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o

evangelho do reino e curando toda sorte

de doenças

e enfermidades entre o povo” (Mt 4.23). Para o comentarista da Bíblia de Genebra, “ensinar envolvia a comunicação da natureza e propósito do reino de Deus, como é visto no sermão do monte (caps. 4-7) e nas parábolas do reino (cap. 13). Pregar era anunciar as boas novas de que o reino de Deus estava próximo, e que seus soberanos propósitos na história estavam sendo fi nalmente realizados. Curar, bem como ensinar e pregar, era sinal de que o reino já tinha vindo” (Mt 11.5).

Ele recrutou seus discípulos de diversos segmentos sociais e demonstrou que o reino de Deus não se identifi cava com nenhum dos partidos do seu tempo. O Messias era a Palavra viva, herdeira das palavras de Javé, libertando o seu povo da servidão do Egito, outorgando-lhe a Lei, falando pelos profetas. Na sinagoga de Nazaré, assumiu o seu messiado e a realização da profecia de Isaías: “O Espírito do

Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu

para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar

libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.18-19). Esse texto não deve ser “espiritualizado”, ou “materializado”, pois nos lembra o ideal de Deus para uma ética social superior, no Ano Sabático e no Ano do Jubileu, a realização plena escatológica (o “ainda não”) e as possibilidades de fazer avançar na história os valores do reino (o “já”).

A missão da Igreja deveria ultrapassar a tentação localista de uma mera seita judaica, e se expandir por todo o mundo. O cristianismo é intrinsecamente expansionista, porque o evangelho deve ser levado “até os confi ns da terra” (At 1.8). O Espírito Santo no Pentecostes foi derramamento de poder e outorga de dons, para tornar possível o cumprimento dessa missão, que não é opcional, mas imperativa: “Ide”. Foi essa a obediência dos mártires, e a Igreja pagou um preço quando foi coerente, mas envergonhou o seu Senhor em tantos episódios pouco dignos, que, periodicamente, a chama para reforma e avivamento; para coerência e obediência. Evangélicos,

continuamos a crer que a prioridade da missão é a evangelização, entendida

como “... a apresentação de Jesus Cristo no poder do Espírito Santo,

de tal maneira que os homens possam conhecê-lo como Salvador e servi-lo como Senhor, na comunhão da Igreja e na vocação da vida comum”.

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Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política – teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo – desafi os a uma fé engajada. <www.dar.org.br>

ão integral

Março-Abril, 2008 ULTIMATO 39

Na Idade Contemporânea, o malabarismo mental de teólogos liberais forjou um universalismo salvífi co, que descolou o Jesus histórico do Cristo de Deus, e terminou vendo “a face escondida de Cristo atrás dos orixás...”. No fi nal do século 19 e início do século 20, nos Estados Unidos, a missão da Igreja foi dilacerada entre um “evangelho social” e um “evangelho individual”, unilaterais e parcializadores. A missão, tantas vezes atrelada a culturas, impérios e sistemas políticos ou econômicos, foi violentada e empobrecida. Aos extremismos liberal e fundamentalista, o evangelicalismo — com toda a sua história de piedade engajada, de um Wilbeforce ou um Lord Shaftsbury, herdeiro da pré-reforma, da reforma, do puritanismo, do pietismo, do avivalismo e do movimento missionário, com seu conteúdo de uma teologia bíblica e histórica, foi capaz de, principalmente com o Congresso e o Pacto de Lausanne, devolver à Igreja a sua missão recomposta: “o Evangelho todo, para o homem todo e para todos os homens”.

É a missão integral, que, na resolução da Conferência de Lambeth, de 1988, dos bispos anglicanos, deve incluir e integrar as dimensões: a) proclamar as boas novas do reino; b) ensinar, batizar e instruir os convertidos; c) responder às necessidades humanas por serviço em amor; d)

procurar transformar as estruturas iníquas da sociedade; e) defender a vida e a integridade da criação. Na América Latina destacamos o papel da Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL).

Somente um grande desconhecimento histórico ou uma grande má-fé podem ser responsáveis por se procurar identifi car a Teologia da Missão da Igreja, evangélica, com a Teologia da Libertação, de premissas e história liberais. No meio de antigas e novas distorções, reafi rmemos a mui bíblica missão integral.

Somente um grande desconhecimento histórico

ou uma grande má-fé podem ser responsáveis

por se procurar identificar a Teologia da Missão da Igreja, evangélica, com a Teologia da Libertação, de premissas e história liberais. No meio de

antigas e novas distorções, reafirmemos a mui bíblica

missão integral

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Ricardo Gondim

ULTIMATO Março-Abril, 2008 40

Proposta de espiritualidade

Não é preciso muita perspicácia para perceber que o movimento evangélico ocidental passa

por uma grande crise. As incursões do neofundamentalismo da direita religiosa na política estadunidense não ajudaram muito. Os reclames para que a sociedade preservasse “valores morais” caíram por terra porque não encontraram respaldo nas próprias igrejas, que se revezaram em escândalos. Para agravar a crise, grandes segmentos evangélicos se apressaram em legitimar a invasão do Iraque, argumentando que a Bíblia respaldava uma “guerra justa”. Na América Latina, principalmente no Brasil, a rápida expansão do pentecostalismo produziu um grave desvio ético na compreensão do evangelho. Surgiu um novo fenômeno religioso, mais comumente identifi cado como “teologia da prosperidade”. O que se ouve como “pregação” pelos teleevangelistas e nas megaigrejas difi cilmente poderia ser associado ao protestantismo histórico ou ao pentecostalismo clássico.

Como não há mais nenhuma novidade em afi rmar que mudanças

radicais precisam acontecer no movimento evangélico, a questão agora é perguntar: “O que deve mudar?” Eis algumas propostas:

Proponho uma espiritualidade menos efi ciente. Que os pastores desistam de associar a aprovação de Deus a seus ministérios com projetos bem-sucedidos. A fé cristã não se propõe a refl etir o mundo corporativo em que competência se prova com resultados. Na espiritualidade de Jesus, os atos de alguns servos de Deus podem ser anônimos, despercebidos e pequenos. A urgência de comunidades crescerem, de pastores provarem como Deus os abençoou com “ministérios aprovados” acabou produzindo essa excrescência: igrejas que mais se parecem com balcões de serviços religiosos do que com comunidades de fé.

Proponho uma espiritualidade menos cognitiva e mais vivenciada. A priorização da “reta doutrina” sobre a experiência da fé acabou produzindo crentes argutos em “provar” a sua fé, mas frágeis no testemunho. A obsessão pela verdade como uma construção racional faz com que os catecismos se tornem belas elaborações conceituais,

enquanto os testemunhos pessoais se mantêm questionáveis. O evangelho precisa ser escrito em tábuas de carne; mostrar-se nos atos daqueles que se propõem a brilhar como luz do mundo.

Proponho uma espiritualidade menos mágica e mais responsável. A idéia de um Deus intervencionista que invade a todo instante a história para resgatar seus fi lhos, dando-lhes alívio, abrindo portas de emprego e resolvendo querelas jurídicas, acabou produzindo crentes alienados, sem responsabilidade histórica e sem iniciativa profética. Com esse comodismo, as igrejas se distanciaram da arena da vida. Passaram a acreditar que bastaria amarrar os demônios territoriais para acabar com a violência e com a miséria. O evangelho não propõe que a história seja transformada por encanto, mas com ações políticas que defendam a justiça.

Proponho uma espiritualidade menos intolerante. A idéia de um mundo perdidamente hostil a Deus gera igrejas intransigentes, que se enxergam privilegiadas. A radicalização da doutrina da queda faz com que se perceba o mundo condenado, irremediavelmente perdido. Com essa

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Ricardo Gondim é pastor da Assembléia de Deus Betesda no Brasil e mora em São Paulo. É autor de, entre outros, Eu Creio, mas Tenho Dúvidas. <www.ricardogondim.com.br>

Março-Abril, 2008 ULTIMATO 41

visão, a igreja se fecha, só encara o mundo como um campo de batalha, e é incapaz de acolher os moribundos que jazem às margens das estradas. A espiritualidade evangélica precisa resgatar doutrinas conhecidas nos primeiros anos da Reforma, como a imago Dei (a imagem de Deus em todos) e a graça comum (o favor de Deus capacitando a todos).

Proponho uma espiritualidade que promova a vida. Os evangélicos pregaram a salvação da alma por anos a fi o e, muitas vezes, esqueceram que Deus deseja que experimentemos vida abundante antes da morte. Aliás, o céu deveria ser uma conseqüência das escolhas que as pessoas fazem na terra e não uma promessa distante. Com essa ênfase exagerada na salvação da alma, alguns se contentam com uma existência sofrível, mal resolvida, e acreditam que um dia, no além, tudo fi cará bem.

Proponho uma espiritualidade que não contemple a santidade como apuro legal, mas como integridade. Com cobranças legalistas, os ambientes se tornam exigentes. É inócuo estabelecer o alvo da vida cristã como uma

perfeição exagerada, que para alcançá-la seria necessário transformar as pessoas em anjos. Hipocrisia nasce com esse tipo de exigência. É preciso dialogar com as imperfeições, com as sombras e luzes da alma; sem culpas e sem fobias. Só em ambientes assim, existe liberdade para amadurecer.

Proponho uma espiritualidade que estabeleça como objetivo gerar homens e mulheres gentis, leais, misericordiosos. Antes de almejar aparecer como a instituição religiosa detentora da melhor compreensão da verdade, que procuremos amar com singeleza; antes de nos tornar uma força política, que saibamos caminhar entre os mais necessitados; antes de alcançar o mundo inteiro, que trabalhemos ao lado daqueles que constroem um mundo melhor.

Estou consciente de que minhas propostas não têm muita chance de se realizarem, mas vou mantê-las como um horizonte utópico e vocação.

Soli Deo Gloria.

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ULTIMATO Março-Abril, 2008 42

Valdir Steuernagel

edescobrindo a Palavra de DeusR

Maria aparece de surpresa. “Ó de casa!”, chama, batendo palmas e pousando no chão o peso da sacola.

O cachorro late e Isabel volta-se para Zacarias. “Quem será a esta hora?” As palmas voltam e o cachorro torna a latir. Num esforço desajeitado, ela se ergue da cadeira e, acariciando a estranha barriga de seis meses, no corpo já bem mais andado, diz ao marido: “Vá ver quem é”. Ele segue devagar e ela balbucia, espiando pela janela: “Eu conheço essa menina...”.

Lá fora o cachorro silencia e uma conversa parece querer ganhar forma. “Eu sou Maria”, diz a moça. “Somos meio parentes. O senhor conhece a minha família; esteve lá em casa quando eu era pequena.”

Então cai a fi cha. Zacarias volta-se para a mulher, como que pedindo socorro, e ela percebe que foi um erro pedir que ele abrisse o portão. Da janela, a cena é de dar risada: Maria, sem jeito, fi ta a sacola no chão; o cachorro late e o velho mudo segura o portão, gesticulando algo que nem ele mesmo entende...

E assim as duas mulheres se encontram. Toda a cena é ocupada por estas duas mulheres,que se abraçam chorando. Um choro que parece não existir. A moça chora uma gravidez contida e um mistério que cresce em seu ventre. Isabel deixa as lágrimas correrem pelo rosto, como a lavar anos de uma difícil, silenciosa e conturbada convivência com a ausência de fi lhos. Mas suas lágrimas têm também o sabor da revelação, e por isso um sorriso se abre em seu rosto – e com ele Maria é recebida.

O momento é sagrado. O tempo parece ter parado. O que acontece é muito mais do que se vê. Duas grávidas se abraçam e são os seus ventres que falam. Quando as palavras saem da boca de Isabel, já os ventres pronunciaram os seus “aleluias”.

“Ouvindo esta a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre; Então Isabel fi cou possuída do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre. E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro em mim.” (Lc 1.41-44)

A Bíblia está cheia de textos grávidos. Grávidos de signifi cado e ternura. Eles nos alcançam em diferentes momentos, trazendo mistério e signifi cado à nossa vida. Assim é com Maria e Isabel. Uma é jovem ainda. A gravidez, em si, não lhe é problema, mas tem um sentido profundo e difícil; ela está grávida por revelação de Deus e carrega no ventre a revelação maior de Deus na pessoa de seu fi lho. A outra já tem o ventre murcho e a gravidez lhe pesa, mas ela a vive numa felicidade adolescente, celebrando a bênção de ser mãe.

Deus se importa com a gestante

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 43

Valdir Steuernagel é pastor luterano e trabalha com a Visão Mundial Internacional e com o Centro de Pastoral e Missão, em Curitiba, PR. É autor de, entre outros, Para Falar das Flores... e Outras Crônicas.

Assim são as coisas. Gravidez em menina-moça e gravidez em mulher madura. Gravidez que desliza pelos meses como a água desliza com graça no leito do rio. Gravidez que parece um mar revolto, requerendo cuidado e acompanhamento. Deus as conhece todas, com todas se ocupa e a todas trata como gestoras de vida.

O Objetivo do Milênio para o qual olhamos neste artigo coloca em pauta a melhoria da saúde das gestantes: reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna. Diante deste objetivo, volto à palavra de Deus e me pergunto: como Deus se relaciona com a mulher grávida? Então me vejo diante do abraço de Maria e Isabel. É claro que a Bíblia não é um manual de cuidado da gestante, mas nela se vê claramente um Deus com um sentido de santidade para com a vida e, portanto, para com a gestante. Aliás, é interessante notar como na Bíblia, em diferentes ocasiões, a vida nasce do encontro da fertilidade de Deus com a esterilidade humana. A própria

Isabel, como relata Lucas, é estéril e Deus lhe promete uma gravidez especial. É assim que ela dá a luz João.

Deus, sendo o autor da vida, acompanha a gravidez com zelo e carinho. Isso se manifesta, ora em pessoas como Isabel, carregando com difi culdade uma gravidez inesperada mas bem-vinda, ora em pessoas como Maria, que, grávida em plena adolescência, busca sentido para essa gravidez em sua vida.

A gravidez pode acontecer em circunstâncias diversas e variadas; algumas são felizes e outras, trágicas e dramáticas. Diante de algumas Deus sorri, diante de outras ele chora. Quando a futura mãe é cercada de cuidados e afetos e a gravidez se desenvolve com saudável expectativa e normalidade, Deus sorri satisfeito. Quando o feto não cresce porque a mãe passa fome, Deus sente fome com ela. Quando o bebê se desenvolve de forma anormal porque a mãe não recebeu os cuidados médicos necessários, Deus balança a cabeça em desaprovação. Quando a mãe morre no parto porque foi abandonada na maca de um hospital superlotado ou acometida de uma infecção hospitalar, então Deus deixa claro que não é isso que ele deseja. Ele busca homens e mulheres que queiram expressar um outro compromisso de vida com as gestantes e seus fi lhos.

É por isso que, como parte da comunidade de Deus, nós celebramos e afi rmamos as metas deste Objetivo do Milênio buscando formas pelas quais mulheres grávidas se abracem e celebrem a gestação da vida.

Objetivos do MilênioAcabar com a fome e a miséria

Educação básica e de qualidade

para todos

Igualdade entre sexos e

valorização da mulher

Reduzir a mortalidade infantil

Melhorar a saúde das gestantes

Combater a aids, a malária e

outras doenças

Qualidade de vida e respeito ao

meio ambiente

Todo mundo trabalhando pelo

desenvolvimento

Quando a futura mãe é cercada de cuidados e afetos e a gravidez se desenvolve com saudável expectativa e normalidade, Deus sorri

satisfeito. Quando o feto não cresce porque a mãe passa

fome, Deus sente fome com ela

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história

Alderi Souza de Matos

O ceticismo religioso e seus arautos

ULTIMATO Março-Abril, 2008 44

Há vários séculos a visão de mundo materialista e irreligiosa tem sido aceita de modo crescente como

uma postura legítima ao lado de outras cosmovisões. Todavia, em anos recentes vem ocorrendo um desdobramento novo e preocupante: a afi rmação cada vez mais insistente de que a perspectiva ateísta é a única defensável do ponto de vista científi co e fi losófi co, e que,

portanto, a religião, em qualquer

de suas

manifestações, deve ser banida para sempre e completamente do cenário humano. Hoje, cada vez mais a incredulidade religiosa é saudada como racional e esclarecida, ao passo que a fé é rotulada como retrógrada e obscurantista.

O impacto do Iluminismo

A atitude anti-religiosa não é nova na história da humanidade — e do Ocidente em particular. Ela vicejou em algumas correntes fi losófi cas da Grécia antiga, tais como os céticos (Pirro, Tímon, Arcesilau e Carnéades), descritos como os primeiros relativistas da fi losofi a, e os epicureus (Epicuro, Lucrécio), tidos como os primeiros humanistas liberais. Todavia, foi o Iluminismo do século 18 que lançou as bases para uma ampla aceitação da

perspectiva materialista da vida no mundo moderno, ao

fazer da razão e da experiência

os árbitros da verdade, em detrimento da fé e da revelação. Os iluministas podiam até ser religiosos, como foi o caso de Descartes, Locke e Newton, mas as posturas racionalista e empirista prepararam o caminho para questionamentos cada vez mais ousados na esfera religiosa.

Foi curiosa a posição dos deístas, os iluministas que ainda queriam preservar um espaço para a religião. Sua solução foi postular um Deus absolutamente transcendente, que não tinha nenhum relacionamento com o mundo e a humanidade. Immanuel Kant (1724-1804), um dos fi lósofos mais brilhantes da modernidade, foi mais além. Ele colocou Deus e as realidades transcendentes na categoria dos “númenos”, ou seja, entidades que escapam à percepção sensorial e, portanto, não podem ser conhecidas em seu ser. Kant e os deístas tiveram em comum o fato de reduzirem a religião à ética. O único valor da religião seria auxiliar a moralidade. Certas doutrinas, como a existência de Deus, deviam ser consideradas verdadeiras porque são o fundamento da vida moral.

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A ofensiva da incredulidade

O século 19 testemunhou o surgimento de fi losofi as explicitamente secularistas e anticristãs. Essa tendência havia começado com o fi lósofo empirista inglês Thomas Hobbes (†1679), considerado o primeiro materialista moderno, e se fortaleceu com David Hume (†1776), defensor da idéia de que não se pode ter certeza de nada (ceticismo). Na França, Voltaire e os enciclopedistas também se destacaram por seu questionamento da religião. Finalmente, o alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi o primeiro grande fi lósofo ocidental a ser abertamente ateu e o seu compatriota Ludwig Feuerbach (1804-1872) descreveu a religião como uma projeção dos ideais, anseios e temores do ser humano.

Eles foram seguidos por três grandes pensadores anti-religiosos que se tornaram ícones da cultura contemporânea, exercendo poderosa infl uência desde o fi nal do século 19: Karl Marx (1818-1883), Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Sigmund Freud (1856-1939). Outro enorme desafi o à cosmovisão cristã foi a teoria da evolução das espécies, proposta pelo naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882), que propôs uma alternativa radical para a doutrina bíblica da criação. O impacto dessa mentalidade secularizante tem sido devastador em alguns países de formação cristã. Na Espanha, Alemanha e Inglaterra, menos da metade da população acredita em um Ser Supremo. Na França, os que crêem não chegam a 30%.

Popularização do ateísmoDe uns anos para cá, a mídia vem divulgando entusiasticamente o ideário secularista. Dessa maneira, conceitos que anteriormente se limitavam aos círculos acadêmicos e fi losófi cos vão se tornando familiares

ao público mais amplo. Isso ocorre principalmente através de periódicos de grande circulação, como é o caso, no Brasil, da conceituada revista Veja. Essa publicação, tão valiosa em diversos aspectos, tem articulistas, como André Petry, que freqüentemente se referem à religiosidade e à fé em Deus em termos depreciativos e irônicos. A religião é caracterizada como algo fantasioso e anticientífi co, que mais prejudica do que benefi cia o ser humano. Alguns argumentos favoritos são as guerras e a intolerância religiosas, os confl itos entre fé e ciência, e a resistência dos

Os cristãos não devem descartar

tão rapidamente os ataques dos autores que defendem a mentalidade cética, mas exercer uma necessária autocrítica,

reconhecendo que muitas de suas alegações

contra os religiosos são legítimas

religiosos a determinados valores e comportamentos da cultura moderna (aborto, homossexualismo, pesquisas com embriões etc.).

Outra maneira como essa e outras publicações ajudam a difundir a mentalidade cética consiste no grande espaço dado a autores que pregam abertamente o ateísmo. Os exemplos mais conhecidos são o fi lósofo francês Michel Onfray (Tratado de Ateologia), o biólogo inglês Richard Dawkins (Deus, Um Delírio), o jornalista inglês Christopher Hitchens (Deus não é Grande) e o fi lósofo americano Sam Harris (Carta a Uma Nação Cristã). As conhecidas “páginas amarelas” com freqüência apresentam entrevistas com alguns desses intelectuais, que defendem abertamente o fi m da religião. Tais revistas também publicam regularmente matérias que mostram a aplicação da teoria evolutiva aos mais diferentes aspectos da vida pessoal e social. Um exemplo recente é a entrevista com o primatologista Frans de Waal, segundo o qual a moralidade, que muitos julgavam o último refúgio da religião, não tem origem religiosa nem é exclusiva do ser humano (Veja, 22/08/2007).

Onde ficamos?

Essas considerações nos levam de volta à expressão do título deste artigo, extraída do Salmo 14.1. Hoje aqueles que negam a Deus não o fazem somente no seu íntimo, mas proclamam de modo explícito a sua incredulidade, buscando ativamente simpatizantes para a sua causa. Quais devem ser as respostas dos cristãos a esse desafi o? Em primeiro lugar, eles não devem descartar tão rapidamente os ataques desses autores, mas exercer uma necessária autocrítica, reconhecendo que muitas de suas alegações contra os religiosos são legítimas. De fato, a história demonstra que muitas vezes os adeptos

O cristianismo e a crença em Deus são

intelectualmente defensáveis, como já demonstraram muitos autores ao longo da história, desde os

apologistas do segundo século, passando pelos escolásticos medievais,

até pensadores do século 20

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Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador ofi cial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil.<[email protected]>

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defensáveis, como já demonstraram muitos autores ao longo da história, desde os apologistas do segundo século, passando pelos escolásticos medievais (Anselmo de Cantuária e Tomás de Aquino, entre outros), até pensadores do século 20, como C. S. Lewis, Francis Schaeffer e Cornelius Van Til. Um exemplo atual na comunidade científi ca é o geneticista cristão Francis Collins (Veja, 24/01/2007).

Por último, essas manifestações de antipatia à religião são reveladoras do estado de ânimo do homem contemporâneo, com todas as angustiosas perplexidades do tempo presente. Existem questões para as quais simplesmente não há uma explicação naturalista, como a origem da vida. Outra área crucial em que a ciência e a fi losofi a têm falhado em dar respostas satisfatórias são as grandes questões existenciais, aquelas que dizem respeito ao sentido da vida e da pessoa humana. Por mais que os materialistas neguem, sua concepção do homem tende a trivializar o signifi cado e a importância da vida, abrindo as portas para horríveis violações da dignidade humana. Esse estado de coisas oferece aos cristãos valiosas oportunidades de testemunho sobre a esperança que neles há.

Hoje, cada vez mais a incredulidade

religiosa é saudada como racional e

esclarecida, ao passo que a fé é rotulada como retrógrada e

obscurantista

de diferentes religiões, inclusive o cristianismo, têm se portado de maneira presunçosa e intolerante. A religião com freqüência tem sido culpada de comportamentos negativos, como violência, discriminação e hipocrisia. Muita maldade tem sido cometida em nome de Deus e da fé, e isso não só entre os fundamentalistas islâmicos.

Em segundo lugar, o desafi o desses críticos aponta para a necessidade de um criterioso trabalho apologético. Os cristãos não são obrigados a fi car numa atitude passiva, como se fossem cordeirinhos, achando que não têm como oferecer respostas convincentes aos inimigos da fé. O cristianismo e a crença em Deus são intelectualmente

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Entrevista: Viv Grigg

O inverso da cultura:é preciso viver com simplicidade para

que os outros simplesmente vivamMissiólogo dos pobres afirma que as igrejas históricas

precisam ouvir a voz das igrejas entre os pobres, quase todas pentecostais, porque elas não falam sobre

missão integral, mas fazem missão integral

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O celibato voluntário é positivo quando se escolhe essa opção

para exercer um determinado tipo de

ministério. Não deve ser uma obrigação

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Nascido em Auckland, a maior cidade da Nova Zelândia, há 58 anos, de etnia européia, Viviam

Lawrence Grigg, mais conhecido como Viv Grigg, é uma das maiores autoridades do mundo na área de missão entre os pobres. Ele é mestre em missiologia pelo Fuller Teological Seminary (Califórnia) e doutor em teologia pela Auckland University (Nova Zelândia), mas o que lhe dá essa autoridade é a experiência vivida numa miserável favela na cidade de Manila, nas Filipinas, recordando o que o japonês Toyohiko Kagawa havia feito muitos anos antes, quando encheu um carrinho de mão com seus pertences e se mudou para a favela Shinkawa, nas proximidades de Kobe. Curiosamente, Viv Grigg é batista na Nova Zelândia, membro de uma comunidade carismática nas Filipinas e assembleiano no Brasil. Apesar de haver mais mulheres do que homens no país natal do autor de Servos entre os Pobres e O Grito pelos Pobres, ele casou-se aos 38 anos com a missionária brasileira Ieda, da Igreja Metodista Livre. Nos dois últimos anos, Grigg treinou cerca de 2 mil pessoas em dezenove cidades na América e na Ásia para anunciar as boas novas de forma contextualizada entre os pobres. Esta entrevista foi feita em Belo Horizonte e São Paulo, aproveitando alguns dias das férias de Grigg, que mora com a família em Auckland. A Editora Ultimato vai lançar ainda este ano a segunda edição de Servos entre os Pobres.

Ultimato — Quem é você? Teólogo? Profeta? Pastor? Missionário? Grigg — Se é para economizar palavras, eu diria que estou desenvolvendo um ministério entre os pobres. Poderia acrescentar que sou avô do trabalho

entre os pobres. E, como tal, recolho informações daqui e dali, e sempre dou idéias de liderança. Da multiplicação das primeiras sementes, eu conduzi uma aliança dos movimentos de igrejas entre os pobres ao redor do mundo.

Ultimato — Qual a sua análise da teologia da libertação, ventilada primeiramente por protestantes e depois, com mais intensidade, por católicos?Grigg — A teologia da libertação é uma teologia da classe média sobre os pobres e para os pobres, enquanto a prática pentecostal é dos pobres e para os pobres. A segunda está transformando

a sociedade; a primeira não funcionou muito bem. O fundamento da teologia da libertação é marxista e essa análise da pobreza humana é parcial e não totalmente correta. A exegese das Escrituras, especialmente do livro de Êxodo, é feita sob a ótica do marxismo. No entanto, nós os evangélicos temos o que aprender com eles. Além de chamar a atenção de todos para o sofrimento dos pobres, eles ressaltaram algo muito importante, que é o pecado estrutural da sociedade.

Ultimato — O que o senhor chama de missão integral?

Grigg — A missão integral também é uma teologia da classe média. As igrejas históricas precisam ouvir a voz das igrejas entre os pobres, pentecostais em sua maioria. Elas não falam sobre missão integral, mas fazem missão integral. Aos poucos ajudam cada pessoa em suas necessidades e restauram a sua dignidade e seu papel na vida cotidiana da igreja. Elas falam sobre o Espírito Santo e seu poder de produzir reavivamento. E reavivamento tem efeitos econômicos, pois é uma força transformadora. A proclamação do evangelho no poder do Espírito é o que causa a transformação. A transformação deve acontecer nos âmbitos político, econômico e social. É preciso fazer conexão entre o capítulo dois (a descida do Espírito) e o capítulo quatro (a partilha dos bens) do livro de Atos. Quando o Espírito vem, todos se juntam economicamente falando. Aí está o fundamento da economia cooperativa: os mais ricos ajudando os mais pobres para todos terem uma vida digna.

Ultimato — A teologia da prosperidade seria um recuo no esforço para nos tornarmos cada vez mais desprendidos do amor ao dinheiro e dispostos a sermos servos entre os pobres?Grigg — O problema da teologia da prosperidade não é exclusivamente brasileiro, mas global. É bom falar com os pobres sobre prosperidade, mas não prosperidade na base de mágicas. A prosperidade não resulta de orações mágicas, de sonhos ou de trocas com Deus pelo que ele vai fazer. Ela resulta da implantação de princípios da Palavra de Deus sobre criatividade, produtividade, descanso, economia comunitária e redistribuição. Repito: é bom falar isso aos pobres. Ao mesmo tempo, Jesus adverte que a riqueza é perigosa. Precisamos aprender a viver

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É bom falar com os pobres sobre

prosperidade, mas não a prosperidade que resulte de orações mágicas, de

sonhos ou de trocas com Deus pelo que ele vai fazer, e sim aquela que

resulta da implantação de princípios da Palavra de Deus sobre criatividade,

produtividade economia comunitária e

redistribuição

ULTIMATO Março-Abril, 2008 50

com simplicidade. O desafi o de todos nós deveria ser “viver simplesmente para os outros simplesmente viverem”.

Ultimato — Com a multiplicação do número de crentes e o surgimento dos primeiros casos de injustiça social, a igreja primitiva procedeu à eleição de diáconos. O que é diaconia?Grigg — O diácono é uma espécie de Robin Hood, digamos, aquele que leva dinheiro dos ricos para os pobres... O trabalho social do desenvolvimento comunitário não pode se dar fora da igreja, deve fazer parte da vida da igreja. Cada crente tem de pensar como pode fazer isso e cada ONG deve pensar como ajudar a igreja.

Ultimato — Você abriu mão do casamento para não submeter a esposa ao estilo de vida que adotou ao se mudar para a favela de Tatalon, na proximidades de Manila, nas Filipinas, há pouco menos de 30 anos. Quanto tempo durou o seu jejum celibatário?Grigg — Fiquei solteiro até os 38 anos. O celibato voluntário é positivo quando alguém escolhe essa opção para exercer um determinado tipo de ministério. Mas não deve ser uma obrigação nem uma opção para a vida toda. Depois de meu casamento com Ieda, fomos morar entre os pobres em Calcutá, na Índia. Um ano depois, tivemos de retornar à cidade porque minha esposa adoeceu gravemente. Ainda hoje moramos num lugar pobre, mas não na favela. Acho possível morar como família na favela, desde que se tome uma série de cuidados. Conheço várias famílias missionárias, inclusive brasileiras, que vivem entre os pobres.

Ultimato — Onde e quando você conheceu e se casou com a missionária brasileira Ieda?Grigg — Conheci Ieda numa conferência para solteiros, aqui no Brasil, mais

precisamente em Atibaia, SP. Fiquei surpreso ao ouvi-la falar sobre a Índia. Mais ainda ao saber que ela tinha sido uma das primeiras missionárias brasileiras a ir para aquele distante campo missionário. Eu não pensava em ter uma esposa brasileira, mas já estava pensando em me casar porque meu trabalho seria outro: liderança de casais para missão entre os pobres. Ouvi a palestra dela e depois fomos conversar. Lá pelas tantas, Ieda me perguntou como poderia voltar à Índia. Respondi sem pestanejar: “Casando-se comigo...”.

Hoje, vinte anos depois, temos três fi lhos: Monique (18), Leonardo (15) e Bianca (12). Vivemos na Nova Zelândia, minha terra natal. Ieda trabalha como capelã, dando assistência a pessoas em situações de luto e perda. É uma pregadora eloqüente e muito usada por Deus em nosso país. Quanto a mim, continuo a viajar muito para

encorajar e preparar missionários de vários países na missão entre os pobres.

Ultimato — As favelas da Ásia, da África e da América Latina têm características próprias, são diferentes entre si?Grigg — Geralmente as favelas têm características comuns. As diferenças se devem às cidades. Aqui na América Latina as favelas não são tão pobres como na Índia. A pobreza na Índia parece ser dez vezes mais grave do que no Brasil. Nas favelas africanas, o problema maior é a aids. Tanto no Rio de Janeiro como em Nova Guiné, há muita violência. Eu diria que a corrupção governamental gera a situação de violência no Brasil. Já em Nova Guiné, o maior problema é o desemprego, pois a maioria da população favelada é masculina e sem trabalho.

Ultimato — Você tem boas lembranças do COMIBAM I (Congresso Missionário Ibero-Americano), realizado exatamente há vinte anos no Brasil?Grigg — Lembro-me de 5 mil jovens de todos os países da América Latina, com muito barulho, muita disposição, muitos sonhos, e sem recursos. Pensei como Deus poderia fazer alguma coisa para aproveitar todo esse entusiasmo. Mais tarde, a estabilização do real e o crescimento econômico das igrejas favoreceram o envio de mais missionários brasileiros para o exterior. Tenho a impressão de que agora o problema é o arrefecimento dos sonhos missionários das igrejas. Muitas estão pregando a prosperidade e não falam sobre o sofrimento humano. O missionário tem de aprender a conviver com o sofrimento e, às vezes, com a pobreza.

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Ricardo Barbosa de Sousa

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52 ULTIMATO Março-Abril, 2008

Quão verdadeiros somos?

Assisti ao fi lme Meu nome não é Johnny, a história da triste trajetória de João Guilherme Estrela, jovem de classe média alta, preso por tráfi co de drogas nos anos 90. O fi lme chega numa hora em que a

sociedade acompanha, assustada, o crescimento do tráfi co e do consumo de drogas entre jovens que freqüentam boas faculdades, criados em famílias com recursos fi nanceiros e em ambientes sociais aparentemente protegidos do submundo do crime. A pergunta que todos se fazem, diante de um drama assim, é a mesma: o que leva um jovem que, aparentemente, tem tudo a chegar onde João Estrela chegou?

Bem, certamente existem muitas respostas, teses e opiniões a respeito, mas, fi ca uma pergunta que tem me levado a refl etir nestes últimos dias: Quão verdadeiros somos?

Parece-me que a sociedade, particularmente a juventude, enfrenta uma enorme resistência a tudo aquilo que é normal. A normalidade que, no passado era o que todos desejavam, não agrada mais ao ser humano. Uma festa normal em que amigos se encontram para conversar, ouvir boa música e se divertir não satisfaz mais; os jovens precisam de uma rave que comece na sexta à noite e termine no domingo, com música eletrônica ininterrupta e ensurdecedora, muito ecstasy e álcool. Ter um namorado ou namorada para conversar, sair, construir uma boa amizade e crescer afetivamente pensando na família que possivelmente irão formar, também não é o bastante; é preciso fi car com o maior número de parceiros possível, beijar e transar com todos. Ter um emprego com salário no fi m do mês para pagar as contas e, quem sabe, sobrar algum trocado para o lazer não é sufi ciente; é preciso ganhar muito dinheiro, não importa sua origem, para comprar tudo que desejamos. A lista poderia prosseguir, mas o que tenho observado é que a normalidade não satisfaz mais.

No meio evangélico, o cenário não difere muito. Não basta louvar a Deus com cânticos, leitura bíblica e orações; precisamos de um “louvor extravagante” (esta foi a expressão que ouvi), repetir a mesma música até entrar em algum transe. Não basta ser alegre e grato, é preciso pular e gritar freneticamente. Não basta crer em Deus e em suas promessas, precisamos decretar, reivindicar, exigir. Uma fé normal, ou uma vida cristã normal, não é mais sufi ciente.

Quando o normal não atende mais às necessidades, a realidade torna-se insuportável. Um culto normal, um casamento normal com família normal e sexo normal, um

Uma festa normal em que amigos se encontram para conversar, ouvir boa música e se divertir não satisfaz mais; os jovens precisam de uma rave que comece na sexta à noite e termine no domingo, com música eletrônica ininterrupta e ensurdecedora, muito ecstasy e álcool

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Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana

do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos,

em Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração.

Por Carlinhos [email protected]

N o v o s A c o r d e s

Março-Abril, 2008 ULTIMATO 53

namoro normal, um lazer normal ou um trabalho normal são insuportáveis. A própria normalidade da existência humana, com suas fases, emoções, ciclos e estações, acaba tornando-se intolerável. Um dia de 24 horas ou o envelhecimento são inaceitáveis. Criamos então uma indústria voltada para alimentar a anormalidade; são os sex-shops com toda a parafernália para “incrementar” sua vida sexual, as diversas “terapias” incentivando a experimentar todas as novidades, plásticas, drogas, propagandas e o estímulo para comprar e fazer tudo o que dá prazer. Perdemos o contato com a realidade e, para viver esta hiper-realidade, precisamos negar a Deus, nossa humanidade limitada e mortal, o próximo e tudo mais.

O chamado de Cristo para segui-lo é um chamado para ser real, ou um chamado à humildade. Ser humilde é reconhecer e aceitar a realidade como ela é. É aceitar Deus como ele é, aceitar a nós como somos e aceitar o mundo como ele é. Esta capacidade de reconhecer a realidade nos liberta das armadilhas e artifícios que a ilusão ou a falsa realidade criam. “Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará” – é assim que Tiago inverte o caminho da humanidade. A liberdade e dignidade humanas dependem da sua postura humilde diante de Deus, de si mesmo e do próximo. A humildade é o caminho de volta à realidade e à normalidade.

Como diria meu amigo Carlos Queiroz no título de seu livro sobre o Sermão do Monte, para o humilde de espírito “ser é o bastante”. Não precisamos de drogas, nem de sexo selvagem, nem de muito dinheiro ou frenesi. Precisamos apenas ser humildes, que encontraremos a verdadeira alegria.

(Veja A praga do fastio, p. 30.)

Expressão, Diego VenâncioDiego Venâncio é um músico e tanto! Tem formação popular e erudita em violão e estudou com grandes mestres como Fábio Ramazzina, Marco Pereira, Paulo Bellinati, Mozart Mello, entre outros. Na sua caminhada musical atuou por dois anos em Vencedores por Cristo. Participou como instrumentista e produziu alguns CDs. Expressão é o seu primeiro trabalho, revelando o seu lado compositor. Destaque para as canções “É tempo” e a instrumental “Lumaréu” (ambas de sua autoria), “Redes” (Rogério Azevedo) e a regravação de “Fonte” (Sérgio Pimenta). Esse trabalho tem a produção musical e executiva do próprio Diego em parceria com Vagner Roberto. O CD traz o playback das canções. Pedidos pelo tel. 11 4472-5729 ou pelo site www.diegovenancio.com.br

Sem Fronteiras, Vencedores por Cristo (DVD)Esse é o primeiro DVD de Vencedores Por Cristo. Nele vemos um grupo musical com uma pegada bem “pop”, diferente daquele estilo conhecido e que fez escola nos anos 70 e 80. O repertório de 20 músicas traz os clássicos de todos os tempos: das antigas “Nas estrelas” e “Deus é real” (ambas de Ralph Carmichael) às mais recentes “Digno de Louvor” (Jorge Redher) e “Proclamai” (Cláudio Rocha). É um trabalho muito bem produzido, com uma banda madura e de qualidade, amparada por uma equipe técnica de 36 profi ssionais que cuidou dos detalhes da iluminação, cenografi a, câmeras,

som e tudo mais que envolve um DVD de alto nível. Jaide Menezes assina a direção geral. O show em vários momentos emociona aqueles que acompanham a trajetória do grupo nesses anos de ministério. Pedidos pelo site www.vpc.com.br

Tehillim 2: A Oração dos Salmos, Rubem Amorese e Toninho ZemunerA dupla Amorese e Zemuner lança mais um trabalho. É a segunda edição do Tehillim. Rubem explica o termo: “signifi ca, originalmente, cânticos, mas transformou-se em sinônimo de salmos. Ao mesmo tempo em que se expressa poeticamente, ensina-nos sobre relacionamentos.”. A dupla compõe, canta e executa todas as canções. Como se não bastasse, eles ainda são os responsáveis pela gravação, mixagem, masterização e arte gráfi ca. E o resultado é muito bom! As canções são belíssimas, com destaque para “Quem subirá” (Salmo 24), “Novo alento” (Salmo 30) e “À sombra de tuas asas” (Salmo 63). Não são apenas textos bíblicos musicados; são orações pessoais baseadas nos salmos, vestidas de brasilidade, “ornadas com nosso ritmo, nossa harmonia e nosso jeito de poetizar”. Pedidos pelo site www.amorese.com.br

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Bráulia Ribeiro

da linha de frente

Bráulia Ribeiro, missionária em Porto Velho, RO, é autora de Chamado Radical (Ed. Ultimato). <[email protected]>

ULTIMATO Março-Abril, 2008 54

Outro dia ouvi na rádio local um programa que imitava os crentes. Até demorou para que os humoristas achassem

o fi lão de clichês ridículos do meio evangélico, que deve ser mesmo muito engraçado para os de fora. Poucos dias depois, um irmão veio me visitar e me mostrou os programas de “humor” que tinha produzido para o rádio. Não é que o programa que eu havia escutado, com todo o sarcasmo cruel anti-crente, era dele mesmo? Doeu-me, mas, infelizmente, não me surpreendeu tanto assim. Esta é a nossa postura mais comum. Um contra todos e todos contra um.

Peter Meiderlin, teólogo luterano da cidade de Augsburg, na Alemanha, escreveu, em 1627, um livrete, descrevendo um sonho em que Cristo lhe aparece pedindo que vigie pois será tentado. Logo depois o diabo, vestido de anjo de luz, aparece dizendo que vem da parte de Deus e começa a profetizar a respeito da necessidade de os eleitos se manterem puros na sã doutrina. A verdade que eles herdaram deve ser preservada numa nova denominação

doutrinária, livre da contaminação de heresias. Quando o teólogo ora sobre o que deverá fazer, imediatamente o diabo some e Cristo reaparece, encorajando-o a permanecer fi el à simplicidade e humildade de coração. Ele acorda do sonho e escreve o tratado que termina com esta frase: “Si nos servaremus In necessariis Unitatem, In non-necessariis Libertatem, In utrisque Charitatem, optimo certe loco essent res nostrae” (No essencial, unidade; no não essencial, liberdade; e em ambas as coisas, a caridade).

Parece-me que o cenário cristão da Europa do século 17 não é muito diferente do cristianismo de hoje. O diabo continua usando a mesma estratégia para impedir que a oração de Jesus por nós (João 17) seja respondida. Ele se especializou em nos manter

afastados uns dos outros, em nome da própria verdade que deveria nos unir. Distanciamo-nos por causa da pureza doutrinária. Acreditamos que nosso “logos” é melhor que o dos outros, esquecendo que o logos é a encarnação do perdão e da humildade e a razão principal por que deveríamos buscar a unidade e não a exclusão. Rotulamos pastores, igrejas, correntes doutrinárias, grupos

inteiros de cristãos, desprezando-

nos mutuamente, com ironias e sarcasmo.

Apesar de termos certeza de que nossa doutrina é pura, esta pureza é muito difícil de ser defi nida. Na crença de certas culturas indígenas que categorizamos de

animistas, se defi ne vida humana pela “perfeição genética”. Qualquer tipo de “anomalia” — desde a concepção de gêmeos, até más-formações mais graves como síndrome de Down, paralisia cerebral etc. — contradiz a suposta “perfeição” que

defi niria o que é um “ser humano” real. Do alto de nosso conhecimento ocidental, criticamos estas crenças animistas. Uma criança gêmea não é encarnação do demônio só porque nasceu mais magrinha. A outra, defi ciente, pode ser fonte de muita alegria para os pais, apesar de seus problemas. A vida humana é preciosa, não importa a forma. Ao comparar estas crenças e nossa defi nição de cristianismo, percebemos que somos teologicamente tão animistas quanto eles. Só consideramos cristãos aqueles que se encaixam em nossa defi nição do que seja uma doutrina perfeita e sadia. As anomalias podem ser desprezadas, abandonadas, e até cruelmente assassinadas por nossas palavras.

No essencial, unidade; nas diferenças, liberdade;

e em ambas as coisas, o amor

Só consideramos cristãos aqueles que

se encaixam em nossa definição do que seja uma doutrina perfeita e sadia. As anomalias

podem ser desprezadas, abandonadas, e até

cruelmente assassinadas por nossas palavras

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deixem que elas mesmas falem

Délnia Bastos

ULTIMATO Março-Abril, 2008 56

Délnia Bastos, casada, três, fi lhos, recentemente esteve no local onde Perpétua e Felicidade foram executadas, hoje Tunísia.

Era o início do terceiro século. O Império Romano tinha se fortifi cado em toda a região do

Mediterrâneo. A sociedade gozava de estabilidade e privilégios — entre eles o de assistir aos jogos realizados no anfi teatro. Este compunha-se de uma estrutura oval, com algumas jaulas laterais para as feras, a arena no centro e um pequeno templo debaixo da arena. Ali, os gladiadores pediam as bênçãos dos deuses romanos para suas lutas, ao mesmo tempo em que os condenados pelo rei aguardavam sua sentença. Ao redor da arena, havia uma espécie de arquibancada para o público assistir confortavelmente aos espetáculos.

Naquela época, o imperador Sétimo Severo baixou um edito segundo o qual todos deveriam oferecer sacrifícios aos deuses romanos e ao próprio imperador. O infrator era sentenciado, juntamente com outros criminosos.

Vívia Perpétua, uma jovem senhora da nobreza, e sua empregada Felicidade eram cristãs. Aos 20 anos, grávida, Perpétua foi condenada, juntamente com Felicidade e mais três cristãos, por desobedecerem ao edito imperial. Em vão o pai de Perpétua tentou várias vezes convencê-la de desistir da fé e sacrifi car aos deuses. “O que será do seu fi lho?”, o pai a advertiu, sem sucesso.

Assim, em 7 de março de 203, foi dado o veredicto fi nal: “Perpétua, Felicidade, Revocato, Secúndulo, Saturnino e Saturo são condenados às bestas no Anfi teatro de Cartago”. Segundo a história, Saturo não estava entre os condenados, mas voluntariamente compartilhou do martírio de seus irmãos em Cristo. Perpétua havia feito um pedido especial a Deus, e foi atendida: deu à luz no dia anterior à sua morte e uma amiga cristã adotou seu pequeno fi lho.

Os condenados deveriam usar uma roupa designada para o espetáculo. Cada roupa fazia menção a um deus romano, de modo que o sentenciado era oferecido como sacrifício àquele deus. Perpétua e Felicidade, e depois seus companheiros, se negaram a usar a “roupa festiva”, como que num último fôlego de testemunho — nem mesmo sua morte se tornaria oferenda para os deuses. Eles entraram na arena com pouquíssima roupa, mas com um brilho e uma alegria de espírito humanamente inexplicáveis. Todos eles tinham consciência de que sua morte seria um testemunho público importante para o avanço da fé cristã. Felicidade dizia que

seu martírio signifi cava para ela não a morte, mas um segundo batismo.

Os homens foram os primeiros a entrar na arena. Dois deles deveriam passar por uma ponte com uma série de obstáculos, entre os quais algumas feras, como leões e tigres, até que chegassem aos gladiadores. Secúndulo morreu na prisão, antes mesmo de chegar à arena. Saturnino foi decapitado e os outros dois morreram durante o espetáculo.

Por último, entraram a jovem senhora e sua companheira. Para elas, foi designada uma bezerra, que investiu primeiramente em Perpétua e em seguida avançou para Felicidade. Perpétua, após recobrar a consciência, ajudou Felicidade a se levantar. Conta-se que escorria leite daquela que

amamentara apenas um dia seu fi lhinho recém-nascido. Elas foram retiradas da arena feridas, para serem mortas pelos gladiadores. A platéia estava exaltada. Queria mais, e exigiu que a morte fosse pública. Elas então morreram na arena, pelas espadas dos gladiadores.

Esta história comovente certamente nos lembra a passagem bíblica que diz: “Eles, pois, venceram [Satanás] por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.11). Segundo Tertuliano, o sangue dos mártires é a semente da igreja. Com efeito, o sangue de Perpétua, Felicidade e de seus irmãos em Cristo foi a semente da igreja no Norte da África. Sua morte deveria ser um presente do imperador Severo para seu fi lho César Geta. Mas foi muito mais um presente para a igreja.

Os poucos cristãos que vivem naquela região felizmente não estão mais sob o jugo opressor romano. Mas precisam da mesma ousadia e fé para “enxergar além do véu” e enfrentar os obstáculos de oposição e perseguição a que ainda estão sujeitos hoje.

Na arena com Perpétua e Felicidade

O sangue de Perpétua, Felicidade e de seus

irmãos em Cristo foi a semente da igreja no

Norte da África

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Solange C. Mazzoni-Viveiros

Solange C. Mazzoni-Viveiros, casada, dois fi lhos, é

botânica, pesquisadora científi ca do Instituto de Botânica

de São Paulo e vice-presidente d’A Rocha Brasil.

Março-Abril, 2008 ULTIMATO 57

Aquecimento global: refletir para agir

meio ambiente e fé cristã

A forma como o ser humano tem se relacionado com o ambiente bem como seus refl exos — por

exemplo, a poluição, o desmatamento, a destruição da camada de ozônio, o efeito estufa, o aquecimento global — têm sido exaustivamente discutidos e publicados em diferentes meios de comunicação, acadêmicos e populares. Nota-se, porém, que o esforço do meio científi co e da mídia em esclarecer os mecanismos envolvidos nessa crise e alertar sobre possíveis desastres, embora gere conscientização, resulta em poucas ações por parte de cada indivíduo que demonstrem real convicção de que é preciso mudar de estilo de vida.

A emissão de gases de efeito estufa, que retêm o calor do sol junto à superfície terrestre e, quando em grande quantidade na atmosfera, causam o aquecimento global, é um exemplo dessa consciência desvinculada da prática. Poucas pessoas estão dispostas a abrir mão de facilidades e confortos para reduzir tais emissões e minimizar seus efeitos sobre o clima do planeta, seja do carro à base de petróleo como meio particular de transporte, do alto consumo de energia não renovável, da utilização de produtos descartáveis

não biodegradáveis, entre outros.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, em seu relatório de 2007, afi rma que 90% das alterações ocorridas no meio ambiente são resultado da ação humana. Ressalta, ainda, que aquecimento global não signifi ca apenas alteração na temperatura atmosférica e troposférica, com efeitos no clima e no padrão de distribuição das chuvas e ventos, causando desertifi cação, derretimento de geleiras, aumento de ciclones tropicais. O aquecimento global resulta, também, em alterações signifi cativas no funcionamento dos sistemas terrestres, com previsão de perda de biodiversidade e aumento na ocorrência de doenças e catástrofes.

A palavra de Deus alerta que a fé sem obras é morta (Tg 2.17-26), que a convicção não pode estar desvinculada da prática. Seria muito mais fácil se pudéssemos fi car somente com a primeira! Porém, o Deus em quem cremos é Jesus Cristo (Hb 1.3a), o Verbo encarnado, que se humanizou para salvação do ser humano e de toda a criação (Jo 1.14; Rm 8.1-2), que partiu para a ação visando à restauração integral do homem e da natureza. A igreja, por ser o corpo de

Cristo, deve se parecer com ele e, como

ele, transformar o caos atual

através do amor e da misericórdia. Como fi lhos de Deus,

devemos refl etir o seu caráter,

como novas criaturas que acreditam na ressurreição integral, por meio de Jesus Cristo. Devemos fazer diferença hoje e, assim, anunciar nossa esperança no futuro (1Pe 1.3). Isso é missão integral, boas novas que envolvem ação e restauração do relacionamento com Deus, com o próximo e com a criação. Deus confi ou sua criação ao homem, para que ele a guardasse e cuidasse (Gn 2.15); cumpre ao novo homem retomar seu projeto original (2Co 5.17- 20).

Discorrer sobre aquecimento global ou qualquer assunto relativo aos impactos ambientais no meio cristão é necessário. No entanto esse conhecimento desvinculado da consciência de que há uma dívida de amor com o próximo (Rm 13.8) e uma responsabilidade com a criação (Rm 8.19-23) não trará resultado algum. Somente o amor a Deus, ao próximo e à criação pode transformar nosso egoísmo em ações de misericórdia, que mudam condutas e costumes para a glória de Deus e para a garantia de vida em abundância desta e de futuras gerações (Cl 3.12-17). A igreja só cumprirá sua missão integral quando refl etir e agir, cumprindo o papel de mordomo (Gn 1.27- 2.1; Gn 2.15) e de sacerdote (1Pe 2.9) para que o mundo conheça o verdadeiro Deus a quem servimos (Jo 17.22-23; Ef 5.1-2; Sl 19.1-4).

“E tudo o que fi zerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando a Ele graças a Deus Pai” (Cl 3.17).

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Mark Carpenter

Desejo de reparação

Mark Carpenter é diretor-presidente da Editora Mundo

Cristão e mestre em letras modernas pela USP.

ULTIMATO Março-Abril, 2008 58

Como editor de livros, lido constantemente com as esperanças e expectativas de

escritores. Alguns são veteranos da casa. Outros publicaram livros por outras editoras antes de estrearem pela Mundo Cristão. Há também os inéditos prestes a se tornarem autores publicados. Todos sustentam opiniões sobre como devem ser os processos e os resultados da publicação. Freqüentemente essas expectativas são minuciosas, similares às ansiedades dos pais durante a gestação, nascimento e primeiros cuidados dos fi lhos. Qualquer desvio do seu conceito de perfeição pode gerar stress e frustração.

Embora a maioria dos relacionamentos com nossos autores seja tranqüila e gratifi cante, nem sempre é assim. Às vezes as expectativas não condizem com a realidade da edição, distribuição e marketing de livros no Brasil. Investimos em cada uma dessas áreas de acordo com a projeção de receita gerada pela comercialização do livro. Gastar quantias desproporcionais em editoração e comunicação pode gerar prejuízo; repetir este erro em dezenas de livros leva a editora à falência.

Nossa familiaridade com o mercado nos força a tomar decisões difíceis,

com variados graus de fundamentação para as justifi cativas. Essas escolhas podem ser um tanto arbitrárias, baseadas em intuição. A experiência nos ajuda a acertar cada vez mais, mas às vezes erramos, e os erros podem ser espetaculares e constrangedores. Na busca pelo equilíbrio entre servir os leitores, os escritores e garantir a sobrevivência da editora, trabalhamos com uma margem de erro considerável. É assim para todos os editores que conheço, no Brasil e no exterior.

Parte da condição humana envolve errar. Quem de nós já não disse, fez ou deixou de fazer algo que nos trouxe, logo depois, sentimentos de profundo arrependimento e um desejo intenso de voltar o relógio? É desse tema que trata o fi lme Desejo e Reparação, brilhante adaptação do romance Reparação, de Ian McEwan. Ambientado na Segunda Guerra Mundial, a obra trata de um caso de amor destruído por uma falsa acusação. As tentativas de reparar o passado provocam refl exões sobre a natureza do perdão, do destino e das relações humanas num mundo imperfeito, onde até o silêncio pode transformar-se numa força destruidora. A leitura que o diretor Joe

Wright faz é bela e verdadeira, assim como as atuações de Keira Knightley, Saoirse Ronan e James McAvoy. A cinematografi a épica e a trilha sonora de Dario Marianelli em staccato datilografado consolidam esta obra-prima do cinema contemporâneo.

Ian McEwan disse que havia “um milhão de maneiras de estragar este livro para o cinema, e pouquíssimas maneiras de vertê-lo num bom fi lme”. Ele se valeu do perdão — ou da provável necessidade de exercê-lo — quando entregou seu belo romance para que um roteirista o reinventasse para as telas. Felizmente o desfecho foi excepcional, mas a história poderia ter sido diferente.

O perdão é o azeite que dá longevidade e sabor às relações humanas. Ele pode transformar a propensão para o ódio numa mera ruga na topografi a da boa vontade. Permite que antigos males se desfaçam, e que a sede de vingança se dissipe e se sacie de forma mais duradoura. Permite que sejamos acolhidos por um Deus que temos o hábito de magoar. Permite até que editores perdoem escritores, e vice-versa.

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Marcos [email protected]

prateleira

ULTIMATO Março-Abril, 2008 60

Deu no NYTimes

No fi nal do ano passado, entre os lançamentos no Brasil de Deus, Um Delírio, de Richard Dawkins (Companhia das Letras), e Deus não é Grande, de Christopher Hitchens (Ediouro), a revista dominical do jornal The New York Times perguntava, não sem constrangimento, se Freud era um defensor da fé.

Claro, a resposta óbvia é não. No entanto, existe mais sobre a, digamos, “religiosidade” de Freud. Para Mark Edmundson, autor da matéria, Freud sugere que a fé em Deus “possibilitou um retorno à vida interior, tornando-a rica”, além de reconhecer “poesia” e “promessa” na religião. O que parece novidade para o NYTimes não o é para os leitores de obras como Cartas entre Freud e Pfi ster (Ultimato). A correspondência entre o pastor protestante Oskar Pfi ster e Freud, entre 1909 e 1938, é, nas palavras do psicanalista Joel Birman, “talvez o arquivo mais importante para balizarmos a relação entre os discursos psicanalítico e religioso”. Aliás, Anna Freud, fi lha do pai da psicanálise e que prefacia a obra, disse a Armand Nicholi, psiquiatra e professor da Escola de Medicina de Harvard, algo que precisa ser lembrado sobre o mais conhecido dos ateus do século passado: “Se você quiser conhecer o meu pai, não leia a sua biografi a: leia a

suas cartas”. O autor de Deus em Questão (Ultimato) seguiu o conselho e não deixa por menos: “Freud cita frequentemente a Bíblia [...]. As cartas são repletas de ‘se Deus quiser’; ‘o bom Senhor’; ‘a vontade de Deus’; ‘pela graça de Deus’; ‘minha oração secreta’ [...]”.

Não tenho maldade o sufi ciente para afi rmar que o reavivamento do ateísmo está construindo uma igreja ou uma seita, mas que o seu proselitismo é capenga, isso é. Graças a Deus.

“Diga-me com quem andas” é markentig pessoal

O ditado é conhecido. As pessoas, nem tanto. Preconceito, desinformação ou incompetência em lidar com o que não conhecemos revelam como são frágeis e pretensiosas nossas avaliações. Um exemplo clássico: Jó. Ele tinha amigos. Três amigos especiais, não muito recomendáveis: Bildade, Zofar e Naamá. No entanto, é quase um exagero o que o próprio Deus afi rma sobre Jó: “Não há ninguém na terra como ele”.

Defi nitivamente, não é possível conhecer alguém pelos que o rodeiam. Eliú, outro amigo, como que acusando-se, sugeriu que Jó andava em más companhias (Jó 34.8). Moisés é outro bom exemplo. Quando Deus o chamou e disse que via o sofrimento daqueles que o rodeavam e que o

havia escolhido para libertá-los, sua reação foi patética: “Quem sou eu?”. Também reagimos assim. Quase sempre “medimos as coisas de acordo com o nosso tamanho”. Para a psicanalista Karin Wondracek, em Caminhos da Graça (Ultimato), a resposta de Deus “não afi rma nada sobre Moisés, nem procura infundir nele uma auto-imagem confi ante”. Quem sabe um investimento em “marketing pessoal” ou “networking”. O que Deus faz é afi rmar o essencial a respeito dele mesmo: “Eu estarei contigo” (Êx 3.12). O fator decisivo na história de Moisés não é quem ele é, mas o fato de estar junto de um Deus que é.

Enfi m, Jesus também foi cercado por “um bando de homens maus” (Sl 22.16). Aliás, não estamos cercados apenas pelos amigos, nem é nossa competência separar o joio do trigo. No entanto, é comum nas igrejas a tentativa de blindar a imagem dos irmãos com a repetição insistente das primeiras palavras do Salmo primeiro. Não basta. É preciso mais do que as “boas companhias”. E o salmista sabia disso: “Embora as cordas dos ímpios queiram prender-me, eu não me esqueço da tua lei” (Sl 119.61).

Para ler mais textos da “Prateleira”, acesse www.ultimato.com.br

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Agenda

Acesse www.ultimato.com.br, saiba de outros eventos e divulgue o seu

site • intercâmbios •

aluguel de imóveis •

relacionamentos necessi-

dades e oferecimentos de

voluntários ou estagiários •

empregos • prestação de

serviços • cursos • eventos • missões

livros, fi lmes, cd’s • redes e ONG’s

Espaço deoportunidades

ULTIMATO Março-Abril, 2008 62

21 a 23 de marçoO Ministério com Surdos Mãos Ungidas realizará o seu 6º Congresso, em Curitiba, PR.Telefone: 41 3338-6836Site:www.maosungidas.com.br

21 a 24 de maioAcontecerá o Encontro Tribal Global Generation, em Uberlândia, MG.Telefone: 34 3215-8108Site: www.tribalgeneration.org

22 a 24 de maioSerá realizado o II Congresso Evangélico Nacional de Profi ssionais da Saúde (II CENPS), em Belo Horizonte, MG.Telefone: 31 3324-9555Site:www.cenps.com

16 a 20 de junhoA Missão AMEM oferecerá o curso Capacitação Antropológica, sob a coordenação do pr. Ronaldo

Lidório, em Belo Horizonte, MG.Telefone: 31 3489-1800E-mail: [email protected]: www.amem.org.br

4 a 28 de julhoA Missão JUVEP realizará o seu 49º Projeto Missionário, um projeto evangelístico, na cidade sertaneja de Miguel Alves, PI. E convida: “Passe ao sertão, ajuda-nos”.João Pessoa, PBTelefones: (84) 222-4430; 222-3482E-mail: [email protected]

21 a 23 de agostoA Rede Evangélica Nacional realizará o III Encontro RENAS, em Curitiba, PR.Telefone: 11 4136-1253E-mail: [email protected]: www.renas.org.br

Revista Mãos DadasÉ uma publicação destinada a inspirar, motivar e capacitar pessoas envolvidas no trabalho cristão com crianças e adolescentes em situação de risco e contribuir para a mobilização de igrejas e comunidades para este

trabalho.uma revista de apoio aos que trabalham com crianças (www.maosdadas.net). Você pode recebê-la gratuitamente. Basta enviar um e-mail para <[email protected]> explicando seu envolvimento com ação social.

OraçãoDe 6 a 8 de junho mobilize sua igreja e organização para o 13º Mutirão Mundial de

Oração por Crianças e Adolescentes em Situação de Risco. Acesse o Material de Apoio para Mobilização no site da revista Mãos Dadas

<www.maosdadas.org>, ou peça-o por e-mail <[email protected]> ou carta (Caixa Postal 88, Viçosa, MG 36570-000).

Revista Passo a PassoÉ uma publicação trimestral que procura aproximar pessoas em todo o mundo envolvidas nas áreas de saúde e desenvolvimento, produzida pela Tearfund. Ela é gratuita para aqueles que atuam na promoção do desenvolvimento social. Pode ser solicitada a <[email protected]>.

Jejum de 40 diasO pastor batista Edison Queiroz quer que as igrejas evangélicas brasileiras convoquem os crentes para um jejum de 40 dias (de 30 de março a 10 de maio de 2008) em favor do Brasil. Segundo ele, o ideal seria um jejum completo, só com água. Mas Edison admite que todo esforço nesse sentido será válido (fazer apenas uma refeição por dia ou a abster-se de alguma guloseima ou de alguma distração). O pastor pode estar exagerando nos métodos, mas não na motivação. O prolongado jejum visa quebrar a apatia dos crentes com a situação do país: “Parece que a igreja tem aceitado a corrupção, imoralidade, criminalidade, idolatria, feitiçaria e tantas outras maldições como normais (...). A política brasileira está contaminada pela corrupção. A mentira tem sido aceita com naturalidade. A distribuição da riqueza é injusta e cruel. Para mais informações, acesse <www.jejum40dias.com.br>.

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 63

América Latina em Fotos

Equipe de desminagem entra em ação nos terrenos ao redor das torres de ener-gia minados pelo exército peruano. O custo aproximado de uma mina terrestre vai de 1 a 3 dólares americanos e sua retirada pode custar até 3 mil dólares.

A reportagem O perigo mora ao lado, de oito páginas, sobre a intensa presença de minas terrestres na América Latina, publi-cada na revista Rolling Stone de janeiro de 2007, é um desdo-bramento do livro e do documentário América Minada, feitos

Brasil melhora 27 posições no ranking de mortalidade na infância

O Brasil melhorou 27 posições no ranking da taxa de mortalidade na infância, isto é, mortes registradas entre crianças menores de 5 anos. Em 16 anos, a taxa caiu de 57 para 20 mortes para cada mil nascidos vivos. Contudo, o número absoluto de óbitos ainda é alto: em 2006, 74 mil crianças morreram no Brasil antes do quinto aniversário. (Relatório Situação Mundial da Infância 2008/UNICEF)

Brasil recebeu 775 mil crianças escravas

O Brasil melhorou 27 posições no ranking da taxa de mortalidade na infância, isto é, mortes registradas entre crianças menores de 5 anos. Em 16 anos, a taxa caiu de 57 para 20 mortes para cada mil nascidos vivos. Contudo, o número absoluto de óbitos ainda é alto: em 2006, 74 mil crianças morreram no Brasil antes do quinto aniversário. (Relatório Situação Mundial da Infância 2008/UNICEF)

Memória“Muitos desses órfãos devem ter alcançado a Holanda depois da capitulação. Nós encontramos alguns deles no livro da diaconia de Amsterdã, em que se vê o refl exo de suas lágrimas de órfãos nas anotações secas sobre transferências de lar em lar, até que entrassem no orfanato da capital holandesa”.

Francisco Leonardo Schalkwijk, Igreja e Estado no Brasil Holandês (1630-1654), p. 163

John Stott, A Bíblia toda, o ano todo, pág. 174

[No encontro com a mulher samaritana], por três vezes, Jesus fez o que não era aceitável. Rompeu deliberadamente convenções sociais de seu tempo. Ele esteve inteiramente livre da discriminação de gênero, do preconceito étnico e do pedantismo moral. Ele amava e respeitava todas as pessoas e não se esquivava de ninguém.

por Maria Eugênia Sá e Vinícius Souza. Eles mostram que nessa região doze nações possuem campos minados. A Colômbia é, no mundo, o país que mais apresenta novas vítimas dessas armadi-lhas explosivas. (A reportagem O perigo mora ao lado dentre ou-tras podem ser lidas em <http://mediaquatro.sites.uol.com.br>.)

O casal Maria Eugênia e Vinícius, que tem uma fi lhinha de quatro meses (Maya), tem viajado por vários países com o objetivo de alertar as pessoas a olharem para os problemas cria-dos pela própria humanidade, de modo a trazer mais justiça e paz para o mundo em que vivemos. Eles são evangélicos, e este objetivo provém de seu desejo de servir a Deus.

Por conta desse misto de missão humanitária e cristã, em várias de suas viagens eles têm conseguido o apoio de igrejas evangélicas locais e missões internacionais. Foi assim, por exemplo, em Angola (que resultou no projeto Angola: A Esperanca de Um Povo), na Índia (Caxemira: Ocupada, Dividida e Disputada), Colômbia (Colômbia: Que Guerra Civil? e América Minada), e mesmo no Brasil, com o tra-balho sobre hanseníase publicado como matéria de capa da Revista da Folha.

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John Stott

ULTIMATO Março-Abril, 2008 64

vamos ler!

O mês de fevereiro ainda não terminou e eu já fui muito abençoado com as leituras do mais recente livro de John Stott lançado no Brasil.

Há muitos anos eu não lia devocionário algum. Ficava só com a leitura demorada e proveitosa da Bíblia. Neste ano, tomei uma decisão: não substituir a leitura bíblica pela leitura de devocionários, mas fazer ambas as leituras, lembrando-me do bem enorme que me fez o antigo devocionário Ouro, Incenso e Mirra, da missionária americana Rosely Appleby, no início da minha juventude.

O devocionário A Bíblia Toda, O Ano Todo, como o próprio nome indica, é sui generis. Ele é ao mesmo tempo devocionário e manual bíblico. Traz à tona ensinos bíblicos que já sabemos, outros que estavam no esquecimento e mais alguns que nunca antes tínhamos percebido. As 365 meditações diárias misturam conhecimento bíblico e piedade cristã, que devem ser inseparáveis, em benefício mútuo.

Em menos de dois meses, selecionei e anotei 67 frases de Stott, retiradas de A Bíblia Toda, O Ano Todo, para memorizar e distribuir com outras pessoas, como costumo fazer. Compartilho com o leitor pelo menos oito dessas frases:

“Satanás fez com que aquilo que era permitido se tornasse insatisfatório e o que era proibido se tornasse desejável” (p. 31).

“Todo o nosso senso de desorientação se origina de nossa alienação de Deus” (p. 34).

“Noé se destacava em meio à depravação generalizada como uma fl or perfumada sobre um monte de esterco” (p. 41).

“Deus nos obriga a fazer o que deveríamos ter feito voluntariamente” (p. 44).

“Há quem confi a mais em sua astúcia do que na providência de Deus” (p. 51).

“Deus luta conosco para derrubar nossa obstinação; nós lutamos com ele para buscar suas promessas” (p. 51).

“Só é possível fazer a vontade de Deus do jeito dele” (p. 54).“Deus só endurece aqueles que endurecem a si mesmo”

(p. 56).O devocionário de John Stott não é apenas um depósito de

coisas bonitas e agradáveis. A Bíblia Toda, O Ano Todo tem o valor de arrancar os crentes sinceros da confusão atual frente à ética cristã. Veja os seguintes exemplos:

Quanto à questão ambiental: “Estamos vivendo além dos recursos de que dispomos, consumindo rapidamente, esgotando, poluindo e destruindo os recursos naturais dos

quais depende a nossa própria sobrevivência” (p. 24).

Quanto à questão do machismo e feminismo: “Não existe nenhuma base bíblica para posições extremas, quer da supremacia masculina (homens dominando as mulheres) quer do feminismo radical (mulheres prescindindo dos homens)” (p. 24).

Quanto ao “casamento” gay: “O casamento é a união entre um homem e uma mulher. Uma parceria homossexual jamais poderia ser vista como uma alternativa legítima” (p. 28).

Quanto ao aborto e experiências científi cas com embriões humanos: “O embrião é, em última análise, um ser humano em formação e, portanto, deve ser protegido. Por esta razão, a maioria dos cristãos é favorável à vida e não ao direito de escolha. Para os cristãos, a destruição do embrião por meio do aborto é uma forma de assassinato, exceto em situações especiais, cuidadosamente defi nidas. Eles rejeitam também o uso de embriões humanos em experimentos e defendem a sua proibição por lei” (p. 65).

Quanto ao sexo solto: “Deus instituiu o casamento como o contexto adequado para a satisfação sexual, e é por isso que o relacionamento sexual é proibido em todos os outros contextos (...). Tanto as relações sexuais antes do casamento como o sexo sem casamento são experiências que envolvem uma relação sem compromisso” (p. 66).

Se dermos oportunidade ao conta-gotas de A Bíblia Toda, O Ano Todo — apenas uma gota por dia — e nos deixar persuadir por esse devocionário, faremos uma leitura da Bíblia com o coração (a parte devocional) e com a mente (a parte doutrinária). Não se tenha dúvida do resultado fi nal — para nós, para nossa família e para a igreja brasileira!

O conta-gotas de John StottO que você está perdendo por não ler A Bíblia Toda, O Ano Todo

Elben M. Lenz César

Leia mais emwww.ultimato.com.br• Frases selecionadas de A Bíblia Toda, O Ano Todo

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Março-Abril, 2008 ULTIMATO 65

Ricardo Quadros Gouvêa é ministro presbiteriano e professor de teologia e de fi losofi a.

Ricardo Quadros Gouvêa

vamos ler!

As Obras do AmorSøren KierkegaardEditora Vozes/ Editora Universitária São Francisco, 2005

É uma pena que nossa atenção esteja, muitas vezes, tão voltada para os novos autores que, esquecemos de dar a devida atenção aos textos consagrados pelo tempo. E, no entanto, é

entre os clássicos do pensamento cristão que geralmente encontramos o alimento espiritual sólido e nutritivo que percebemos escasso nas novidades. Talvez seja um exagero chamar Søren Kierkegaard (1813-1855) de um autor clássico. As Obras do Amor (em dinamarquês, Kjerlighedens Gjerninger, 1847), que aqui recomendamos, por exemplo, foi publicado em dois volumes há apenas 161 anos. As obras de Kierkegaard, entretanto, impressionam tanto pela quantidade (ele morreu aos 42 anos de idade) quanto pela qualidade. A produção kierkegaardiana é consistentemente de alto nível. Não é exagero afi rmar que Kierkegaard é visto hoje como um dos mais profundos e mais infl uentes autores cristãos de todos os tempos.

Poucas vezes encontramos livros cristãos que discorram com profundidade teológica sobre o amor. As teologias sistemáticas raramente abordam o assunto em separado, ainda que este tema seja central no Novo Testamento. As confi ssões de fé do século 17 quase nada falam sobre o amor. Poucos foram os pensadores cristãos que se debruçaram sobre o tema. Há um excelente tratado de Agostinho de Hipona (354-430), pouco conhecido, intitulado Manual a Lourenço Acerca das Virtudes Teologais: Fé, Esperança e Amor (Enchiridion – De Fide, Spe et Caritate: Manuale ad Laurentium, 421). Poderíamos pinçar ainda o opúsculo místico de Bernardo de Claraval (Bernard de Clairvaux, 1091-1153), cujo título é Da Necessidade de Amar a Deus (De Diligendo Deo, 1126), talvez o mais profundo e belo tratado sobre o amor já composto. E vale lembrar ainda as obras do sueco Anders Nygren (1890-1978), Eros e Agape (1930-1936, 2 vols.), e de C. S. Lewis (1898-1963), Os Quatro Amores (1960). Pouco pode ser acrescentado a esta lista.

Em sua vasta obra, Kierkegaard produziu diferentes tipos de livros. Quem esperar encontrar aqui o fi lósofo de Temor e Tremor (1843) ou de O Conceito de Angústia (1844), irá se decepcionar, bem como quem procurar o romancista de Diário de Um Sedutor (1843), parte do primeiro volume de uma complexa obra chamada A Alternativa (Enten-Eller, 1843). O que encontramos aqui é o Kierkegaard pregador. As Obras do Amor pode ser descrito como uma

coleção de sermões sobre o amor no Novo Testamento. Kierkegaard sempre quis ser ordenado ministro do evangelho, e sempre escreveu sermões, mas como nunca conseguiu a ordenação (primeiramente por causa de um noivado rompido, e depois pelos mal-entendidos com a igreja, que o via como um pensador herético e perigoso), dizia não ter autoridade para compô-los ou pregá-los, e chamava seus sermões escritos de “discursos edifi cantes”. Assim é As Obras do Amor. Cada capítulo tem a forma exata de um sermão. Além disso, é obra verônima, isto é, assinada por Kierkegaard, que sempre usava pseudônimos para seus livros fi losófi cos e literários. Os textos verônimos de Kierkegaard supostamente trazem as idéias e opiniões mais sinceras do autor, e o autor assina todos os seus livros de discursos edifi cantes.

O impacto da obra de Kierkegaard ainda está para ser sentido em sua inteireza. Na segunda metade do século 19, o livro As Obras do Amor foi responsável pelo avivamento pietista na Noruega liderado por Niels Hauge. Houve, entre os raros leitores de Kierkegaard no Brasil, quem acreditasse que a publicação do livro em português poderia ter efeito semelhante. Infelizmente, não é o que presenciamos até agora, e provavelmente não será assim. Todavia, é certo que esta leitura poderá levar muitos a uma edifi cação pessoal poucas vezes obtida.

As Obras do Amor

O amor no Novo Testamento

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ULTIMATO Março-Abril, 2008 66

Rubem Amorese

Rubem Amorese é consultor legislativo no Senado Federal e presbítero na Igreja

Presbiteriana do Planalto, em Brasília. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia e Icabode — da mente de Cristo à consciência moderna.

<[email protected]>

Pílulas e cinzasÀs vésperas do Carnaval, a Igreja Católica representa

judicialmente contra a distribuição da “pílula do dia seguinte”, e o ministro da saúde vai à televisão para dizer que “a igreja errou mais uma vez, pois

a prevenção da gravidez não é uma questão religiosa, mas de saúde pública”. A Igreja reage, dizendo que a Lei de Deus é para todos. Desfecho: a juíza determina que a distribuição seja feita, por entender que o método não é abortivo.

Se o ministro tivesse tempo para pensar um pouco mais, talvez escolhesse melhor as palavras. Porém, o afogadilho precipita os fatos. Por um lado, o arcebispo de Recife e Olinda leva uma questão que acredita ser matéria de fé para um tribunal secular; por outro, o ministro manda-o recolher-se aos seus domínios, sem precisar quais seriam eles.

Penso que o ministro está certo ao dizer que a orgia carnavalesca é questão de saúde pública. Mas também concordo com o arcebispo quando ele sustenta que o assunto tem a ver com Deus, pois envolve a alma humana. Talvez ainda venhamos a saber por que razão ele levou a questão à Justiça. Mas desconfi o dos pressupostos ocultos do ministro que, certamente, fala por um governo de orientação ativa e passivamente liberal.

E não pensemos apenas em moral sexual, pois aprendemos com o apóstolo Paulo que a degradação humana nunca vem por um pecado só (Rm 1.21-27), embora sempre bata ponto numa cama. A propósito, pesquisa revela que, na novela global Sete Pecados, a luxúria ultrapassa, em número de cenas, todos os outros seis pecados juntos. Por quê? Palpite: predileção.

Acho que, ao classifi car a promiscuidade no Carnaval como caso de saúde pública, o ministro Temporão pensou

mais em prevenção do que no conceito de saúde. Por ser pragmático, talvez ele tenha trocado o importante pelo urgente. E o urgente, imagino, é evitar que o índice de abortos clandestinos fuja ao controle; que o número de recém-nascidos achados nos lixos, esgotos, ou córregos seja de proporções epidêmicas; que as famílias das meninas que sairão grávidas ou infectadas dessa “festa popular” empobreçam, e até que o governo tenha de gastar em penitenciárias para receber os “fi lhos enjeitados do Carnaval” de 2008.

O ministro tem estatísticas em mãos e sabe que, diferentemente da Cultura ou do Turismo, para sua pasta,

Carnaval é sinônimo de tragédia. E como ele enfrenta essa ameaça?

Distribui, gratuitamente, pílulas e camisinhas aos foliões. E resolve? Bem, concordo que evita o pior, momentaneamente, mas não resolve, pois não existe camisinha para alma promíscua (nem mesmo as cinzas da quarta-feira, sem verdadeiro arrependimento).

Senhor ministro, deixe a Palavra de Deus ajudar. Ouça-a. Se aborto, gravidez indesejada, aids, evasão escolar,

desemprego etc. não são problemas religiosos, então o que será? As providências de vossa excelência são tão efi cazes quanto tratar catapora com esparadrapo.

Já imaginando o que ele me responderia, deixo-lhe um respeitoso alerta: “Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu te argüirei e porei tudo à tua vista” (Sl 50.21).

Distribuir gratuitamente pílulas e camisinhas no Carnaval pode evitar o

pior, momentaneamente, mas não resolve, pois não existe camisinha

para a alma promíscua

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