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Um ano da V Conferência do Episcopado Latino Americano e Caribenho
O documento de Aparecida e o Laicato – Perspectivas
Igreja: luzes e sombras – “Situação de nossa Igreja nesta hora histórica de
desafios”
APARECIDA VALEU!
I PARTE – As luzes e sombras antes, durante e pós-Aparecida.
II PARTE – “Situação de nossa Igreja nesta hora histórica de desafios”
III PARTE – Perspectivas: “para além de Aparecida”
Bibliografia: WWW.adital.org.br; V Conferência de
Aparecida – Renascer de uma esperança (Ameríndia); REB(n.268); A desafiante proposta de Aparecida e Aparecida em Resumo (Agenor Brighenti); Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano (J.B. Libanio); Diretrizes Gerais – CNBB, 87; Documento de Aparecida.
I PARTE – As luzes e sombras antes, durante e pós-Aparecida.
1- (Antes) - O processo preparatório 1.1. Sombras:
O documento de participação - postura pré-conciliar
O documento síntese - não recolheu as contribuições das Igrejas locais.
O conservadorismo das elites latino-americanas - o retrocesso ao pré-Concílio.
A "notificação" da Santa Sé ao Pe. Jon Sobrino.
1.2. Luzes
A participação das Igrejas locais no processo de preparação
A intensa participação nas bases
O Fórum de Participação
2- (O durante) – A realização da Conferência
2.1. Sombras Uma metodologia participativa,
porém atropelada O conservadorismo de antes -
“greve dos dedos”, “mão branca”, as manobras imputadas à Comissão de Redação
2.2. Luzes
A cordialidade, diversidade e pluralismo da assembléia
A conexão com a “aldeia global” O ambiente de santuário - “O lugar
é também a pp. Mãe Maria” (Cecília Domezi); “neste imenso Altar do Povo, Bispos, delegados da Assembléia tiveram que beber no poço dos Pobres” (Gustavo Gutierrez)
A representatividade As surpresas do Espírito (Ap 21,5):
o Seminário de Teologia promovido pelo CNLB; "; a Romaria das CEBs, PJ e PO; a Tenda dos Mártires; a presença e assessoria de Ameríndia; o DI do Papa que abriu a Assembléia ao afirmar que “a opção preferencial pelos pobres era uma opção cristológica”
3- O pós Aparecida
3.1. Sombras “há algo de podre no reino da
Dinamarca”. As alterações do texto original -
usurpação de poder - ética de transparência
“O jeito do cachimbo deixa a boca torta”
Manipulação e as modificações - a estrutura de poder
As justificativas – não atacam a causa ou o mal pela raiz
Desculpas - não resolvem o problema de fundo: o poder absolutista falou mais alto que o poder serviço do Evangelho, abafando e entristecendo o Espírito Santo (cf. Ef. 4,30).
3.2. Luzes
Rico patrimônio da fé cristã que nos vem de Aparecida:
a opção pelos pobres como inerente à fé cristológica (n.396),
as CEBs como célula inicial da estrutura eclesial (n.178),
o método ver-julgar-agir (n.33) e a relação intrínseca entre conversão pessoal com conversão das estruturas (n.384).
As novidades:
uma Igreja em permanente estado de missão (162);
uma missão de promoção da vida, que não é exclusiva da Igreja e, por isso, a ser levada a cabo em colaboração com ouros organismos e instituições (384);
a pobreza não somente como fruto da exploração, mas como o mundo da insignificância, dos sobrantes e dos descartáveis (65);
a sangria de católicos para ouros grupos religiosos como busca sincera de Deus, que não encontram na Igreja (225);
o protagonismo das mulheres na organização pastoral, com efetiva presença em ministérios próprios e nas esferas de planejamento e tomada de decisão (458);
e os mártires das causas sociais, “como nossos santos ainda não canonizados” (98).
II PARTE – “Situação de nossa Igreja nesta hora histórica de desafios” – o
que diz o documento (DA, 2.2)
2.1- Luzes: A animação bíblica da pastoral A renovação litúrgica A santidade de muitos
presbíteros O diaconato permanente Ministérios confiados aos leigos testemunho da vida consagrada
Entrega de tantos missionários e missionárias
Renovação pastoral nas paróquias: florescimento das CEBs, a valorização dos movimentos eclesiais e novas comunidades, da pastoral familiar, do menor e da juventude.
O interesse dos leigos e leigas pela sua formação: a pastoral social - novo impulso, pastoral da comunicação social
Pastoral orgânica O diálogo ecumênico e inter-
religioso Espiritualidade, de oração e de
mística Solidariedade
2.2 - Sombras
O crescimento do número de católicos não está em proporção com o crescimento da população. Também o aumento do clero, em especial das religiosas.
As tentativas de voltar a uma eclesiologia e espiritualidade contrárias à renovação do Concílio Vaticano II
A ausência de uma autêntica obediência, infidelidades à doutrina, à moral e à comunhão.
Nossas débeis vivências da opção preferencial pelos pobres.
As recaídas secularizantes na vida consagrada.
O escasso acompanhamento aos leigos em suas tarefas de serviço à sociedade.
Uma evangelização com pouco ardor e sem novos métodos e expressões, com ênfase no ritualismo.
Uma espiritualidade individualista.
Uma mentalidade relativista no ético e no religioso.
A falta de aplicação da Doutrina Social da Igreja.
Uma linguagem pouco significativa para a cultura atual e em particular para os jovens. A falta de presença no campo da cultura, do mundo universitário e da comunicação social.
O número insuficiente de presbíteros impossibilitam o acesso de muitíssimas comunidades à eucaristia.
Falta de assistência da Igreja. Dificuldades na sustentação
econômica das estruturas pastorais.
Não se assume suficientemente a pastoral carcerária, do menor e dos migrantes.
Falta uma sólida estrutura de formação dos agentes de pastoral.
Os movimentos eclesiais nem sempre se integram na pastoral paroquial e diocesana.
O número de pessoas que perderam o sentido da vida e abandonaram a religião,
O número de católicos que deixam a Igreja para aderir a outros grupos religiosos.
É preciso reconhecer que os católicos, ocasionalmente, não vivem conforme o Evangelho, que requer um estilo de vida fiel à verdade e à caridade, austero e solidário.
Também falta coragem, persistência e docilidade para continuar a renovação iniciada pelo Vaticano II e impulsionada pelas demais Conferências Gerais anteriores, em vista de um rosto latino-americano e caribenho de nossa Igreja” (100).
III PARTE - Perspectivas: “para além de Aparecida”
É possível perceber, a partir de Aparecida, alguns vôos possíveis. (Libanio)
1- “Rever o ministério ordenado à luz das opções do Vaticano II e Medllín”.
. Superação do autoritarismo e o centralismo pastoral; Redimensionar o magistério oficial e a hierarquia eclesiástica no espírito de serviço e gentileza;
. Revisão do diaconato permanente; pensar em soluções eficientes para que haja a eucaristia semanal nas comunidades;
2- “Pensar uma renovação litúrgica popular”.
. Aprofundar a importância teológica e social da religiosidade popular e afro-ameríndia
3- “Animação ‘carismática’ das estruturas internas da Igreja”
. A onda carismática possui um enorme potencial transformados das instituições, se ela realizar o princípio jesuano de que “o sábado é feito para o homem e não o homem para o sábado”.
4-” Enfrentar o fenômeno religioso e das espiritualidades”.
. Discernir essa mistura religiosa; . valorizar as que trazem renovação e evangelizar as que
desviam das opções do Vat. II, Medellín...
5- “Estabelecer com os novos movimentos uma relação de comunhão responsável e livre”.
. As Igrejas na AL e Caribe - potencializar esses movimentos e articulá-los:
a. com a vida pastoral da Igreja local, b. com as comunidades eclesiais de base em mútua
fecundação, c. com compromissos sociais na linha da opção pelos
pobres.
6- “Enfrentar a nova sociedade globalizada do conhecimento e repensamento da situação do trabalho”.
A Igreja necessita de leigos/as e professores/as de ética e de teologia moral preparados. Um laicato destemido e competente...
7- “Purificar a linguagem teológica”.
. A linguagem teológica necessita responder à: experiência existencial das pessoas; exigência de compromisso social com os pobres; avanços contínuos das ciências; demandas éticas; surto religioso...
8- “Enfrentar a evangelização da cultura”.
. O caminho passa pela construção de uma cultura a partir dos pobres...
9- “Encontrar canais jurídicos”.. A relação entre as Conferências e os bispos
diocesanos; as escolhas de padres e bispos pelo povo; os Conselhos diocesanos tenham poder decisório...
10- “Desenvolver eficiente pastoral dos migrantes”.
11- “Repensar a pastoral familiar em moldes plurais”.
. Considerar as novas formas de família;
. Um laicato entendido na política familiar...
12- “Investir pesadamente numa pastoral midiática”.
. Presença da igreja nesse campo e articulação de tais meios com as exigências comunitárias da vida cristã...
Entre sombras e luzes, as diretrizes apontam para:
Uma espiritualidade da comunhão missionária entre os organismos eclesiais;
Ressaltam o serviço, o diálogo, o anúncio e o testemunho de comunhão como exigências intrínsecas da evangelização
3.1- As “Diretrizes Gerais” beberam da fonte de Aparecida
A responsabilidade missionária no Ministério da Palavra, da liturgia e da caridade;
A formação dos discípulos missionários;
A espiritualidade dos discípulos missionários
Os 03 campos de ação: pessoa, comunidade e sociedade
A) Promover a dignidade da pessoa: incentivar entre leigos/as ministérios da escuta e do aconselhamento; promover práticas solidárias; visitar locais de trabalho, moradias de estudantes, favelas, cortiços, prisões, moradores de rua, etc; acompanhar a pessoa na infância, adolescência, juventude; opção afetiva e efetiva pela juventude;
Respeitar e valorizar os idosos; valorizar as mulheres; olhar atento para a família;
Acompanhar as alegrias e preocupações dos trabalhadores/as; atenção especial aos migrantes;
Opção pelos pobres excluídos, pela vida;
Educação para oração pessoal, familiar, comunitária e litúrgica.
B) Renovar a comunidade: diálogo dentro das comunidades, valorizando ainda mais as CEBs que “permitiram ao povo chegar a um conhecimento maior da Palavra de Deus, ao compromisso social em nome do Evangelho, ao surgimento de novos serviços leigos e à educação da fé dos adultos”; reformulação das estruturas paroquiais para que sejam rede de comunidades; efetiva participação de todos nos destinos da comunidade: diversidade ministerial, formação dos conselhos, pastoral orgânica; diálogo ecumênico e inter-religioso; urgência de uma ação missionária planejada.
C) Construir uma sociedade solidária: trabalhar em todos os ambientes da sociedade por uma cultura da vida e por uma nova cultura de austeridade; estimular a subsistência; compromisso com política públicas; segurança alimentar e nutricional, distribuição de renda; Reforma Agrária; combater a corrupção, a impunidade, a criminalidade, o preconceito, a discriminação etc; solidariedade com os excluídos; incentive-se a participação social e política dos leigos/as;
diálogo com as culturas: apoiar propostas e políticas públicas de inclusão social e reconhecimento dos direitos das populações indígenas e africanas; diálogo com as questões éticas, conhecimento da Doutrina social da Igreja; engajar-se nas CF, romarias da terra e dos trabalhadores, escolas de fé e política, fórum das pastorais sociais, gritos dos excluídos, etc.
Criar estruturas eclesiais novas para enfrentar a crescente urbanização: pastoral adequada; inserção nas favelas, periferias, etc; formação específica para presbíteros, agentes de pastoral, etc.
Assumir com todo vigor o mundo da educação; fazer uso dos meios de comunicação social;
No mundo globalizado, não fechar os olhos para as questões que atingem todos os povos (pobreza, exclusão etc); sensibilizar para as questões da justiça internacional incentivando para regulação da economia, do sistema financeiro, defesa de toda a vida etc.
A Igreja no Brasil assume e compromisso com a Missão Continental, conforme a inspiração de
Aparecida
"Hoje, mais do que nunca (com certeza mais que nos séculos anteriores), somos chamados a servir o ser humano como tal e não apenas os católicos. A defender, sobretudo e em todas as partes, os direitos da pessoa humana, e não apenas os da igreja católica. As condições atuais, as investigações dos últimos 50 anos, nos trouxeram realidades novas, como eu disse na abertura do concílio
Conclusão: lições de um velho papa
. O Evangelho não mudou; fomos nós que começamos a entendê-lo melhor. Quem teve a sorte de uma vida longa, se encontrou em princípios do século diante de novas tarefas sociais, e quem - como eu - esteve 20 anos no Oriente e 8 na França, e se achou na encruzilhada de diversas culturas e tradições, sabe que agora chegou o momento de discernir os sinais dos tempos, de aproveitar a oportunidade para olhar para frente". (João XXIII, nos últimos dias de sua vida terrena - Citado por V. CODINA. El Vaticano II, un Concilio en proceso de recepción. Selecciones de Teología 177 (2006) 18.)
Conclusão: lições de um jovem teólogo -
"...a ação do Espírito Santo não se deixa enquadrar simplesmente nos limites da Igreja visível. O Espírito e a graça podem também faltar a pessoas que vivem na Igreja. Por outra parte, o Espírito e a graça podem agir eficazmente em pessoas que vivem fora da Igreja.
O jovem teólogo é: Seria presunçoso e falso... querer
identificar simplesmente a obra do Espírito Santo com o trabalho dos órgãos eclesiásticos... há uma só esperança para católicos e não-católicos. Todos anseiam pelo único Reino de Deus, no qual não haverá mais divisões, porque Deus será tudo em todas as coisas".
(J.Ratizinger)
In: O Novo Povo de Deus. São Paulo: Paulinas, 1974, 117
Fiel a esta sabedoria ecumênica e "macroecumênica", o modelo proposto por Aparecida pode significar um divisor de águas para a América Latina e o Caribe, reabrindo, como no Concílio, as portas da Igreja para fazer dela "morada de povos irmãos e casa dos pobres" (DA 8).
O grito que ecoa em Aparecida vem do silêncio de Maria que canta no Magnificat a ação libertadora de Deus. Como discípulos e discípulas de Jesus, temos que dar respostas concretas para a efetivação do Reino de Deus “ontem, hoje e sempre”.
“Que este Continente da esperança seja o Continente do amor, da vida e da paz!”