Um caminho para a Qualidade de...

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Dadas as complicações descritas, a abordagem intra- hospitalar tem vindo a incluir uma avaliação e estratificação do risco dos utentes, que é o critério para definir a terapêutica a adoptar após esta fase. A gestão da SCA em ambulatório baseada apenas na terapêutica farmacológica tem - se demonstrado insuficiente. (Macedo, Rosa, 2010) Deste modo, têm sido desenvolvidos programas de Reabilitação Cardíaca (PRC) multifactoriais. Os utentes pós-Sindrome Coronária Aguda (pós-SCA) têm maior risco de desenvolver novos eventos cardiovasculares, com aumento da morbilidade e mortalidade (Macedo & Rosa, 2010). Além disso, a SCA está associada à perda da funcionalidade devido à condição cardíaca e ao descondicionamento físico consequente do período de imobilização. Daqui resultam dificuldades por parte dos utentes em retomar as actividades familiares, sociais e profissionais. (Silva, 2006, Piepoli, et al 2010) Acrescenta-se ainda que a depressão é um factor de risco independente da mortalidade associada à doença cardiovascular (Macedo, Rosa, 2010). Aproximadamente 65% dos doentes após SCA refere sintomas de depressão (Macedo & Rosa, 2010). DCV são uma das principais causas de morte, de perda da capacidade funcional e qualidade de vida dos portugueses. Entre elas, destaca-se a Síndrome Coronária Aguda pelas consequências associadas. (Coordenação Nacional para as d o e n ç a s Cardiovasculares, 2009). Ana Valverde Inês Santos Maria I. Domingues Renato Reis Sara Rosado Um caminho para a Qualidade de Vida Reabilitação Cardíaca:

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Dadas as complicações

descritas, a abordagem intra-

hospitalar tem vindo a incluir

u m a a v a l i a ç ã o e

estratificação do risco dos

utentes, que é o critério para

definir a terapêutica a

adoptar após esta fase. A

gestão da SCA em

ambulatório baseada apenas

na terapêutica farmacológica

t e m - s e d e m o n s t r a d o

insuficiente. (Macedo, Rosa,

2010)

Deste modo, têm sido

desenvolvidos programas de

Reabilitação Cardíaca (PRC)

multifactoriais.

Os utentes pós-Sindrome

Coronária Aguda (pós-SCA) têm

maior risco de desenvolver

novos eventos cardiovasculares,

com aumento da morbilidade e

mortalidade (Macedo & Rosa,

2010). Além disso, a SCA está

assoc iada à perda da

funcionalidade devido à

condição cardíaca e ao

descondicionamento físico

consequente do período de

imobilização. Daqui resultam

dificuldades por parte dos

utentes em retomar as

actividades familiares, sociais e

profissionais. (Silva, 2006, Piepoli,

et al 2010)

Acrescenta-se ainda que a

depressão é um factor de risco

independente da mortalidade

a s s o c i a d a à d o e n ç a

cardiovascular (Macedo, Rosa,

2010).

Aprox imadamente

65% dos doentes após

SCA refere sintomas

d e d e p r e s s ã o

(Macedo & Rosa,

2010).

DCV são uma das

principais causas de

morte, de perda da

c a p a c i d a d e

funcional e qualidade

d e v i d a d o s

portugueses. Entre

elas, destaca-se a

Síndrome Coronária

A g u d a p e l a s

c o n s e q u ê n c i a s

a s s o c i a d a s .

( C o o r d e n a ç ã o

Nacional para as

d o e n ç a s

Card iov ascu la res ,

2009).

Ana Valverde

Inês Santos

Maria I. Domingues

Renato Reis

Sara Rosado

Um caminho para a

Qualidade de Vida

Reabilitação Cardíaca:

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Um PRC envolve treino e educação com o intuito de promover alterações comportamentais que visam

melhorar a funcionalidade do utente, aumentar a sua qualidade de vida, diminuir as limitações individuais e

problemas de participação. São recomendados programas de 12 semanas de duração. (Silva, 2006; Balady,

2007). Os PRC são constituídos por 3 fases : aguda, sub-aguda e de manutenção. (Silva, 2007).

BENEFÍCIOS DOS PRC

Estes prendem-se com a redução da sintomatologia, melhoria na

tolerância ao exercício e capacidade funcional, melhoria do bem-

estar psicossocial e gestão do stress, atenuação do processo

aterosclerótico, redução da taxa de reincidência, do número de

hospitalizações e diminuição da morbilidade e da mortalidade total

(GIANNUZZI, P., et al., 2003, citado por Silva, 2006; Piepoli, et al, 2010).

CUSTO-EFECTIVIDADE DO PRC:

Os PRC envolvem poucos recursos

materiais e de baixo custo—nível de

evidência 4. Os recursos humanos

c o r r e s p o n d e m à e q u i p a

m u l t i d i s c i p l i n a r e n v o l v i d a .

As sessões educacionais devem ser

realizadas por qualquer profissional

da equipa, e as sessões de

exercícios devem ser organizadas e

conduzidas por fisioterapeutas—

nível de evidência 4. (Goble &

Worcester,1999)

A reabi l i tação card íaca é

recomendada com forte grau de

evidência por ser uma intervenção

com bom custo-efectividade após

SCA. (Piepoli, 2010)

Os PRC diminuem em 20% a

25% a taxa de mortalidade por

DCV (Coordenação Nacional

p a r a a s d o e n ç a s

cardiovasculares, 2009)

EFECTIVIDADE DE PROGRAMAS BASEADOS NO EXERCÍCIO:

Jolliffe, et al (2001) citados por Silva (2006) numa revisão sistemática verificaram que programas baseados no

exercício e programas multidimensionais reduzem em 1/3 a mortalidade pós evento cardiovascular .

Contudo, Heran, et al (2011) verificaram, numa revisão sistemática, que a médio/longo prazo, os PRC baseados

no exercício são mais efectivos na redução da mortalidade (RR 0.87 (95% CI 0.75, 0.99), e a curto prazo (menos

de 12 meses) reduzem as readmissões hospitalares (RR 0.69, 95% CI 0.51, 0.93), comparados com os cuidados

médicos usuais. São ainda mais efectivos na redução da morbilidade após 12 meses em utentes após enfarte

agudo do miocárdio (RR 0.97 (95% CI 0.82, 1.15).

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A abordagem num PRC pode ser realizada

de modo menos próximo, com menos

supervisão e em diferentes contextos,

incluindo o contexto domiciliário que pode

significar menos custos, evitar deslocações

por parte do utente, melhorar a adesão aos

programas de RC e reduzir a taxa de

abandono dos mesmos.

Neste sentido, tem-se investigado

a efectividade dos PRC em

domicílio, referindo-se como

resultados gerais, melhoria na

qualidade de vida, manutenção

das mudanças físicas e

psicológicas, menores custos

(Marchionni, N., et al., 2003,

Smith, K., et al, 2004, citados por Silva, 2006).

Outros benefícios estão associados à auto-

confiança, auto-estima, diminuição

readmissões hospitalares (Sinclair, 2005), e

benefícios mais significativos ao nível da

redução de vários factores de risco

modificáveis.

NOVOS CONTEXTOS E NOVAS PERSPECTIVAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) Coordenação Nacional para as doenças Cardiovasculares (2009) Reabilitação Cardíaca: Realidade Nacional e Recomendações Clínicas. Lisboa; (2) DeTurk, S., Scott,L. (2008) Physical Thera-

pists as Providers of Care: Exercise Prescriptions and Resultant Outcome in Cardiac and Pulmonary Rehabilitation Programs in New York State. Cardiopulmonary Physical Therapy Journal, 19

(2), 35 – 43; (3) DGS. Plano de Acção para a Saúde. Direcção Geral da Saúde, (2003) pp.; (4) DGS. Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Cardiovasculares.

Direção Geral de Saúde(2003). Retirado de http://www.dgsaude.pt/; (5) Gassner, L., et al. Aerobic exercise and the post myocardial infarction patient: A review of the literature. Heart & Lung,

(2003) 32 pp. 258-265; (6) Goble, A., Worcester, M. (1999) Best Practice Guidelines for Cardiac Rehabilitation and Secondary Prevention. Department of Human Services Victoria; (7) KNGF.

Guidelines for physical therapy in cardiac rehabilitation. (2003) pp. 1-57; (8) Macedo, A., Rosa, F. (2010) O Síndrome Coronário Agudo Nos Cuidados de Saúde Primários. Acta Med Port, 23, 213

– 222; (3); (9) Silva, H. (2006) Reabilitação Cardiaca. EssFisiOnline, 2 (3), 52 – 69; (10) Piepoli, M, et al (2010) Secondary prevention through cardiac rehabilitation: from knowledge to implemen-

tation. A position paper from the Cardiac Rehabilitation Section of the European Association of Cardiovascular Prevention and Rehabilitation. European Journal of Cardiovascular Prevention and

Rehabilitation, 17 (1), 1 – 16; (11) SBC. Directriz de reabilitação cardíaca. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, (2005) 84 pp. 432-440; (12) Silva, H. (2007) Fases de Reabilitação Cardiaca: A

intervenção da Fisioterapia. EssFisiOnline, 3 (3), 17 – 35; (13) Balady, G., et al (2007) Core Components of Cardiac Rehabilitation/Secondary Prevention Programs: 2007 Update. Circulation, 115,

2675 – 2682; (14) Dean, E. (2009) Physical Therapy in the 21st century (Part II): Evidence-based practice within the context of evidence-informed practice. Physiotherapy Theory and Practice, 25,

354 – 368. (15) Heran, B, et al (2011) Exercise-based cardiac rehabilitation for coronary heart disease (Review). The Cochrane Library.

Os PRC, sendo multidimensionais, são

efectuados por uma equipa multidisciplinar

que realiza uma avaliação completa e

individual de vários parâmetros (Dean,

2009). Numa Unidade de Saúde Familiar (2ª

fase do PRC), o fisioterapeuta avalia

individualmente, realiza o diagnóstico e

prognóstico funcional, prescrição/ treino de

exercício individual e educação para a

saúde (Silva, 2007; Dean, 2009). O objectivo

é promover a independência funcional do

utente e a adopção de um estilo de vida

que inclui a integração do exercício nas

actividades diárias (Silva, 2007). O

fisioterapeuta também informa e

aconselha o utente para a modificação

comportamental (Dean, 2009).

Na 3ª fase promove a manutenção dos

comportamentos adquiridos, objectivando

a gestão de comportamentos saudáveis

pelos utentes. (Silva et al, 2007; Dean, 2009)

A FISIOTERAPIA E OS PROGRAMAS DE

REABILITAÇÃO CARDÍACA

Os fisioterapeutas são os “expert do exercício” que assumem a

responsabilidade pela componente de treino de exercício dos

PRC pois prescrevem exercício individualmente (DeTurk, Scott,

2008).