um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

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DA COLÔNIA AO SHOPPING: um estudo da evolução tipológica da arquitetura hospitalar em Natal Maria Alice Lopes Medeiros Dissertação de Mestrado Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal – RN, 2005

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DA COLÔNIA AO SHOPPING:um estudo da evolução tipológica da arquitetura

hospitalar em Natal

Maria Alice Lopes Medeiros

Dissertação de Mestrado Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Natal – RN, 2005

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Maria Alice Lopes Medeiros

DA COLÔNIA AO SHOPPING:um estudo da evolução tipológica da arquitetura hospitalar em Natal

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito parcial para a obtenção do

título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Área de concentração: Projeto

Orientadora:

Profa. Dra. Sônia Marques da Cunha Barreto

Natal – RN

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

DA COLÔNIA AO SHOPPING:um estudo da evolução tipológica da arquitetura hospitalar em Natal

Profª. Drª. Maísa Fernandes D. Veloso – PPGAU/UFRN Presidente

Profª. Drª. Claudia Loureiro – UFPE Examinador externo

Prof. Dr. Pedro Antônio de Lima Santos – PPGAU/UFRN Examinador interno

Dissertação defendida em 13 / 12 / 2005

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Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Medeiros, Maria Alice Lopes. Da colônia ao shopping: um estudo da evolução tipológica da arquitetura hospitalar em Natal / Maria Alice Lopes Medeiros. – Natal, RN, 2005. 196 f. : il.

Orientadora: Sônia Marques da Cunha Barreto.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo.

1. Arquitetura – Dissertação. Arquitetura hospitalar – Dissertação. 3. Arquitetura – Tipologia – Dissertação. 4. Edifício hospitalar – Projeto arquitetônico – Dissertação. I. Barreto, Sônia Marques da Cunha. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 72 (043.3)

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Agradecimentos

Escrevo esses agradecimentos mais de um ano depois do término dos trabalhos. Portanto,

distante do calor dos acontecimentos, das emoções e do cansaço. Por um lado, esse

distanciamento me permite observar os fatos com mais serenidade. Por outro, me arrisco a

ser traída pela memória, deixando de citar alguns nomes daquelas pessoas que considero

terem sido de fundamental importância para realização deste trabalho: os funcionários dos

hospitais pesquisados em Natal. Falo especificamente daqueles que trabalham anos a fio

nessas instituições, alguns inclusive desde sua construção. E que, por sua relação com elas

como um segundo lar, guardam lembranças, escritos e fotos como se fossem suas próprias.

Foi através delas que pude preencher lacunas deixadas pelos documentos oficiais quase

inexistentes. Gostaria de registrar a valiosa ajuda e o apoio prestado por essas pessoas

durante a execução da pesquisa – apoio e ajuda sem os quais seria difícil, ou até mesmo

impossível, realizar algumas das tarefas deste trabalho.

Também gostaria de agradecer a todas as demais pessoas que contribuíram para esse

trabalho, por meio de comentários, sugestões, ou encorajamento. Certamente essa lista

seria grande demais para registrá-la aqui. No entanto, citarei algumas em especial: minha

orientadora, Sônia Marques, pela maneira crítica e instigadora com que leu e discutiu os

textos por mim produzidos; Enilson, por sua companhia e generosidade; por fim, as

companheiras do escritório – Shirley, Laíse e Adriana –, que com talento e paciência

digitaram os projetos dos hospitais.

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Resumo

Com base em uma discussão em torno do conceito de tipo e de seu papel na

prática e na teoria da arquitetura, elabora-se um instrumental analítico com

vistas a reconhecer a evolução tipológica da arquitetura hospitalar ocidental.

Verifica-se então como essa evolução tipológica se reflete nos edifícios

hospitalares em Natal, Rio Grande do Norte, usando-se para tanto um

conjunto de 18 dos 29 hospitais implantados na cidade ao longo do século XX.

Conclui-se que o itinerário tipológico da arquitetura hospitalar de Natal repete

o ocidental, a menos de singularidades explicadas pelas características do

desenvolvimento social e econômico da cidade.

Abstract

A conceptual discussion on architectural type and its role in theory and

practice supports the construction of an analytical tool used for recognizing the

typological evolution of hospital architecture in Western societies. The same

tool is applied to analyze the typological evolution of hospital architecture in

Natal, Brazil, through a sample of eighteen hospitals built in the city since the

beginnings of 20th century. The conclusion is that typological evolution in

Natal is almost the same as occidental one, except for a few singularities that

can be explained by local social and economic development.

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Sumário

1. Introdução ................................................................................................ 1

1.1. Arquitetura e História da Arquitetura ............................................. 31.2. História comparada da Arquitetura e análise tipológica ................. 41.3. A análise tipológica ........................................................................ 41.4. Uma leitura sintética da evolução dos hospitais ocidentais ............ 51.5. Perguntas e hipóteses básicas de trabalho ...................................... 71.6. Objetivo geral e objetivos específicos ............................................ 91.7. Relevância e justificativa da pesquisa ............................................ 91.8. Procedimentos metodológicos ........................................................ 101.9. Estrutura do documento .................................................................. 11

2. Tipo, tipologia, análise tipológica: discussão e definição conceitual ... 12

2.1. O conceito de tipo e a crise da Arquitetura Moderna ..................... 142.2. O debate tipológico: uma breve reconstituição .............................. 162.3. Antecedentes dos teóricos do século XIX ...................................... 232.4. Tipo na visão de Quatremère de Quincy ........................................ 252.5. O tipo na obra de Durand ............................................................... 282.6. O tipo na visão de Viollet-le-Duc ................................................... 312.7. Integração dos conceitos de tipo ..................................................... 322.8. Descrição dos instrumentos de análise ........................................... 35

3. Evolução das tipologias arquitetônicas do edifício hospitalar ............ 39

3.1. O hospital no período medieval ...................................................... 413.1.1. O tipo claustral .......................................................................... 423.1.2. O tipo basilical .......................................................................... 463.1.3. O tipo colônia ............................................................................ 48

3.2. O hospital renascentista .................................................................. 503.2.1. A enfermaria cruzada ................................................................ 523.2.2. O tipo casa de campo ................................................................ 54

3.3. O hospital iluminista ....................................................................... 563.3.1. O tipo pavilhonar ....................................................................... 593.3.2. A influência de Florence Nightingale ....................................... 613.3.3. O legado do Iluminismo para a arquitetura hospitalar .............. 62

3.4. O hospital modernista ..................................................................... 633.4.1. O tipo torre sobre pódio ............................................................ 663.4.2. O tipo rua hospitalar .................................................................. 683.4.3. O tipo sanduíche ........................................................................ 72

3.5. O hospital do período pós-modernista ............................................ 743.5.1. O tipo shopping/hotel/residência ............................................... 77

3.6. Um quadro-síntese da evolução tipológica do hospital ocidental .. 81

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4. Implantação de hospitais em Natal ao longo do século XX ................. 92

4.1. Política de saúde pública e a situação do hospital em Natal no Brasil Imperial ................................................................................ 94

4.2. A Primeira República: a construção das políticas públicas de saúde e suas repercussões nos hospitais de Natal ........... 96

4.3. Estado Novo, política nacional de saúde e desenvolvimento hospitalar em Natal ......................................................................... 100

4.4. Da redemocratização ao golpe militar de 1964 .............................. 1054.5. O período da ditadura miltar (1964-1985) ...................................... 1114.6. De 1985 ao presente ....................................................................... 1164.7. Uma visão geral do hospital em Natal ........................................... 121

5. Análise tipológica dos hospitais de Natal ............................................... 124

5.1. Preparação do material para análise ............................................... 1275.2. O tipo colônia e o Hospital Colônia São Francisco ........................ 1285.3. O tipo casa de campo ...................................................................... 1295.4. A presença do tipo pavilhonar ........................................................ 133

5.4.1. O Hospital Evandro Chagas ...................................................... 1335.4.2. Policlínica, Casa de Saúde São Lucas, Hospital Colônia João

Machado .................................................................................... 1365.4.3. Hospital Sanatório Getúlio Vargas ............................................ 1395.4.4. Considerações gerais a respeito dos hospitais pavilhonares de

Natal .......................................................................................... 142

5.5. Hospital Infantil Varela Santiago ................................................... 1435.6. Os hospitais do tipo torre sobre pódio ............................................ 147

5.6.1. Hospital Natal Center ................................................................ 1475.6.2. Hospital Walfredo Gurgel ......................................................... 1505.6.3. Hospital Santa Helena, Hospital PAPI, Hospital Memorial ..... 1525.6.4. Considerações sobre o tipo torre sobre pódio ........................... 155

5.7. Santa Catarina e Maria Alice Fernandes: hospitais rua ................. 1565.8. Promater, Femina e Coração: uma incursão em um novo tipo? .... 159

5.8.1. Hospital Promater ...................................................................... 1605.8.2. Hospital Femina ........................................................................ 1615.8.3. Hospital do Coração .................................................................. 1625.8.4. Considerações gerais ................................................................. 163

5.9. Agrupamentos tipológicos e aderência ao contexto ....................... 165

6. Conclusões ................................................................................................ 177

Referências ............................................................................................... 187

Anexos ...................................................................................................... 196

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Capítulo 1

Introdução

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1. Introdução

No Brasil, pode-se registrar uma maior atenção com o projeto arquitetônico de hospitais,

como objeto de estudo e de formação técnico-científica, a partir dos anos 1980. Foi a partir

daquela década quando, por iniciativa conjunta do Ministério da Saúde e da Universidade

de Brasília, passou-se a oferecer de modo sistemático um Curso de Especialização em

Arquitetura do Sistema de Saúde.

No programa do Curso, o hospital era abordado como elemento integrante de um sistema

hierarquizado de atenção à saúde e, como requisito da formação do especialista,

desenvolvia-se ali um projeto arquitetônico de um edifício hospitalar. Nesse projeto,

trabalhava-se com base em normas, elaboradas pelo Ministério, as quais definiam fluxos,

programas e dimensionamento dos espaços, além de recomendações e prescrições quanto a

circulações, modulação do espaço, taxa de ocupação do terreno, localização urbana e

configuração geral, entre outros aspectos e elementos do edifício.

Não se levantavam, nem se discutiam questões tais como:

por que a configuração geral recomendada era a mais adequada?

como se chegou a essa conclusão?

que outras formas foram tentadas no passado e por que foram abandonadas?

Além dessas, outras indagações mais críticas podiam ser levantadas:

se aquelas configurações recomendadas também se tornariam ultrapassadas, então

como saber em que direção se estava caminhando?

se fosse possível entender como se dariam as mudanças, seria possível projetar

estruturas mais adaptadas ou adaptáveis a elas?

as recomendações, prescrições e normas eram transferíveis a geografias com diferentes

níveis de desenvolvimento social e econômico?

Esse conjunto de questionamentos, certamente, pode ser, com maior ou menor ênfase, feito

em outros campos da ação do projetista de arquitetura, que não o da arquitetura hospitalar.

E, até porque indagam sobre o passado e sobre o futuro, requerem respostas que se

formulem em conexão estreita com a História.

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1.1. Arquitetura e História da Arquitetura

Um ramo da História da Arquitetura, cujo tratado mais representativo é A History of

Architecture, de autoria de Sir Banister Fletcher (publicado por primeira vez em 1896 e

reeditado freqüentemente – foram 19 edições até agora, a última de 1987), admite

implicitamente a importância das questões acima colocadas. Mais que isso, Fletcher (1987)

estabelece conexões explícitas entre a arquitetura e seu entorno físico-geográfico,

ambiental, cultural e socioeconômico, quando analisa a evolução da arquitetura segundo

um método de história comparada.

O enfoque historiográfico de Fletcher parte da descrição dos aspectos climáticos,

geomorfológicos, socioculturais, tecnológicos e econômicos de cada região, em

determinada época. Para Fletcher, é desses aspectos caracterizadores do entorno que, com

a interveniência do ato criativo do arquiteto, resultam os elementos e soluções que

compõem a arquitetura regional naquele período. Portanto, planta, volumetria, estrutura,

aberturas e vedações, entendidas em conjunto, tendem a ser, inevitavelmente,

condicionadas pela cultura (NEWTON, 1991). Em conseqüência, produção arquitetônica e

contextos culturais podem ser associáveis.

Assim, é possível compreender a evolução da Arquitetura em estreita relação com a

evolução histórica das sociedades. E entender como cada solução arquitetônica, em uma

dada época e região, surgiu em resposta a desafios contextuais, consolidou-se e,

posteriormente, foi alterada ou substituída como conseqüência de ulteriores transformações

da sociedade.

Apropriando e adaptando a metodologia historiográfica de Fletcher para analisar a história

da arquitetura hospitalar, pode-se entender como e porque, em cada período analisado,

surgiu e se consolidou uma solução arquitetônica de natureza geral, que veio a concretizar

um hospital característico do período – no sentido de representação sintética idealizada de

uma série de edifícios hospitalares concretos.

Observe-se que, em coerência com a abordagem historiográfica, uma coleção de hospitais

característicos, como acima definidos, está critica e biunivocamente relacionada a um

conjunto de contextos histórico-geográficos. O exame dessa estrutura de relações, portanto,

permite compreender como se articulam as diferenças contextuais e as transformações dos

edifícios hospitalares característicos.

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1.2. História comparada da Arquitetura e análise tipológica

Nesses termos, o estudo da Arquitetura precedente e sua sistematização vinculada ao

contexto histórico-geográfico, nos moldes empregados por Fletcher, são assimiláveis à

técnica da análise tipológica. A análise tipológica arquitetônica se constitui em ferramenta

bastante utilizada quando se trata do estudo da produção arquitetônica, quer seja ela

contemporânea ou precedente, com vistas ao conhecimento sistematizado dessa produção

e/ou à adequação de soluções já testadas a novos projetos.

Essa assimilação da tipologia à história pode ser reafirmada pela reaproximação da teoria e

do projeto ao legado histórico arquitetônico, aproximadamente a partir da década de 1960,

meio século depois de o movimento moderno haver rompido com a tradição arquitetônica

precedente. O estudo tipológico foi um instrumento adequado para aquela reaproximação,

na medida em que conseguiria captar, para cada período histórico, a essência representativa

de sua Arquitetura.

É evidente que, enquanto instrumento, a análise tipológica adquire as feições do conceito

de tipo que é subjacente a sua formulação: distintos conceitos de tipo levam a distintas

ferramentas de análise tipológica. E, portanto, somente estudos tipológicos fundados em

conceitos de tipo que incorporem a referência ao contexto têm a possibilidade de alcançar

significação historiográfica.

Deste modo, a abordagem da arquitetura hospitalar com o fim de encaminhar respostas

àquelas questões acima colocadas impõe que se adote um conceito de tipo – e, por

conseguinte, uma matriz de análise tipológica – que seja coerente com a necessidade do

referenciamento histórico do objeto arquitetônico estudado. Por outro lado, requer que se

problematize, em uma perspectiva tipológica, a evolução do edifício hospitalar em face de

relevantes alterações no seu contexto histórico.

1.3. A análise tipológica

Em que pese a prevalência de algumas conceituações restritivas do tipo arquitetônico,

notadamente aquelas que associam a tipologia, de maneira simplista, ou à mera taxonomia

ou à idéia de tipificação, pode-se admitir que o conceito de tipo hoje mais disseminado está

vinculado à representação da essência da Arquitetura em conexão com o seu ambiente

sociocultural (FRANCESCATO, 1994).

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As raízes intelectuais desse conceito de tipo podem ser rastreadas até a obra seminal de

Quatremère de Quincy (1985, 1998)1. Não obstante, uma importante polêmica em torno do

conceito de tipo teve lugar a partir do seu resgate, em 1962, por Argan (1996, 2001)2 e de

sua assimilação pelos teóricos e projetistas italianos da Tendenza, a partir da segunda

metade da década de 1960.

Nesse debate, foram se firmando distintas versões para o conceito de tipo – entre outros,

Rossi, 1995 (publicado originalmente em 1966); Vidler, 1977; Oeschlin, 1985 –, como

também se apresentavam discordâncias de peso quanto à validade ou à oportunidade do

conceito para o estudo ou para a projetação em arquitetura (ver, por exemplo, Pérez-

Gómez, 1991), até o ponto em que o tipo se firmou como um dos temas fundamentais da

agenda teórica do pós-modernismo (NESBITT, 1996a).

Situar-se na polêmica e definir-se por um conceito é, portanto, um ponto de partida para

uma abordagem analítica da evolução histórica dos edifícios hospitalares, um produto

arquitetônico complexo e, em função da natureza pública de sua utilização, extremamente

dependente de definições político-culturais da sociedade.

Por outra parte, essa abordagem não deve ser desenvolvida sem tomar em conta o objeto

arquitetônico hospital, de modo que uma visão resumida de uma história geral dos

hospitais pode ser útil para estabelecer as bases de uma compreensão tipológica de sua

linha evolutiva.

1.4. Uma leitura sintética da evolução dos hospitais ocidentais

No início, os hospitais foram exclusivamente associados à idéia de morte. Os enfermos

chegavam em busca de preparação espiritual, que lhes era dada em locais onde apenas se

amontoavam as pessoas doentes.

1 O texto fundamental de Quatremère de Quincy a respeito do seu conceito de tipo é o verbete correspondente que aparece em duas de suas obras: a Encyclopédie méthodique, originalmente publicada entre 1788 e 1825, e o Dictionnaire historique de l’architecture, de 1832. Neste trabalho, as citações do verbete tiveram por base duas fontes: a transcrição completa do texto de Quatremère, traduzida para a edição italiana de 1844 por Antonio Mainardi e reproduzida integralmente em Casabella, ano XLIX, n. 509/510, 1985 (ver Quatremère de Quincy, 1985); a tradução para o inglês (não creditada) do verbete type da Encyclopédie méthodiqueconforme publicada em Oppositions, n. 8, primavera de 1977, sob uma introdução de Anthony Vidler e reproduzida em Hays (1998) (ver Quatremère de Quincy, 1998). 2 O artigo de Argan que introduziu as idéias de Quatremère de Quincy no debate teórico contemporâneo foi originalmente publicado em 1962. Traduzido para o inglês por Joseph Rykwert, foi incluído em Architectural Digest, n. 33, de dezembro de 1963 (p. 564-565). Essa versão em idioma inglês, incluída em Nesbitt (1996b), e a versão em português incluída em Argan (2001) – traduzida por Marcos Bagno diretamente do texto em italiano publicado em Proggeto e destino – foram as consultadas no decorrer deste trabalho.

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Risse (1999) mostra como, a partir dessa origem medieval, os hospitais foram,

gradualmente, adquirindo uma vinculação à vida. Em primeiro lugar, se tornaram espaços

de recuperação de enfermos; depois, em lugar de atuação preventiva em prol da saúde e de

melhoria da qualidade de vida. Tal evolução conceitual se refletiria nos espaços dedicados

a estas atividades, e os hospitais foram se transformando em edifícios de estrutura

arquitetônica complexa.

Na Idade Média, a finalidade do hospital era dar abrigo, sustento, assistência e consolo

espiritual aos desamparados pela sociedade – peregrinos, pobres, enfermos e insanos. Os

cidadãos minimamente abastados tinham atendimento domiciliar a seus problemas de

saúde, e isso se manteve até meados do século XIX (GOLDIN, 1984).

Hospitais medievais eram construídos por ordens religiosas, bispos, senhores feudais e reis

(ROSEN, 1994). Na verdade, não eram edifícios autônomos, pois se integravam às

estruturas físicas dos mosteiros e catedrais, reproduzindo os esquemas dos claustros ou das

basílicas de uma ou várias naves, com uma capela na cabeceira (GOLDIN, 1994). Esses

hospitais se multiplicaram durante os séculos V ao XIII, e estavam, quase sempre,

superlotados, sujos e insalubres.

No Renascimento, a Igreja e a Corte deixaram de ser as fontes principais de financiamento

da assistência aos pobres e enfermos. Ricos cidadãos burgueses tomaram a

responsabilidade de construir hospitais. Goldin (1984) enfatiza que é então que se dá o

crescimento de importância do conhecimento médico dentro do hospital: surgiram os

primeiros hospitais civis, os chamados hospitais palácios de arquitetura neoclássica, de

estrutura pavilhonar, como resultado de uma maior preocupação com ventilação e

insolação.

No período do Iluminismo, o avanço científico permitiu a compreensão dos processos de

infecção cruzada e propagação de infecções. A prática cirúrgica desenvolvida nos hospitais

militares foi incorporada aos hospitais civis, junto com o surgimento da anatomia

patológica, que permitiu o conhecimento médico dos órgãos humanos internos (RISSE,

1999).

O hospital tornou-se, então, um espaço importante para observação da evolução de

enfermidades através de seus pacientes, e passou a ser, além de um local de recuperação de

enfermos, um local de aprendizado da medicina.

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Esses fatos produziram uma importante transformação no edifício hospitalar, onde, a partir

de então, a ciência penetrou, modificando espaços que, antes, refletiam somente a

influência religiosa (GOLDIN, 1994). O hospital começou a ser atrativo para os afluentes

da sociedade, vez que já oferecia uma possibilidade de cura mais alta que aquela que se

poderia conseguir com o atendimento domiciliar.

Mais ou menos em meados do século XX, implantou-se nos edifícios hospitalares a

sistematização projetual funcionalista: separação de funções, projeto modular, formas

simplificadas, adoção de dimensões mínimas. Buscava-se viabilizar financeiramente o

hospital pela via de sua racionalização e massificação, em um contexto em que eram

crescentes os custos com equipamentos, pessoal, fármacos e materiais (CARPMAN et al.,

1986). Várias soluções arquitetônicas foram exercitadas, todos refletindo uma preocupação

funcionalista que passará a ser criticada nos anos 1960 e 1970.

As críticas se intensificaram a partir dos anos 1980, com a emergência da pesquisa sobre a

influência do ambiente no bem-estar dos usuários (KUFFLNER, 1986). Esses críticos

reagiram contra o caráter estéril e impessoal dos hospitais, mais voltados para o seu

funcionamento eficiente que para o bem-estar do paciente. Passou-se a defender, segundo

Hosking e Haggard (1999), a aplicação das ciências do comportamento no planejamento e

desenho do ambiente hospitalar. Acreditava-se que os edifícios hospitalares do século XX

tinham feito pouco para satisfazer as necessidades humanas do dia a dia, e defendiam-se

hospitais “humanizados”, com foco nas expectativas do paciente e de seus familiares,

contando com ambientes apropriados para apoiar o processo de recuperação do enfermo.

Esses pensamentos e suas manifestações na forma do edifício dominariam o período desde

1980 até o final do Século XX. Verderber e Fine (2000) relatam como o hospital assimilou

soluções espaciais diferentes das anteriormente vigentes, buscando – sem perder de vista a

eficiência econômica – assumir uma natureza mais familiar para o visitante e para o

paciente.

1.5. Perguntas e hipóteses básicas de trabalho

Nesse processo evolutivo do edifício hospitalar, há que destacar a importância das

alterações na maneira como a sociedade vê o hospital e no que a sociedade espera dele.

Ademais, cabe um papel de destaque para o progresso científico nas áreas da biologia e da

medicina, bem como para o desenvolvimento tecnológico nesses setores. Tais fatores se

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associam a uma demanda social crescente pela aplicação de novos conhecimentos médicos

ao campo da atenção à saúde. Por fim, cabe salientar também as naturais mudanças nos

materiais e métodos construtivos. Todos juntos, influenciando-se simultaneamente, esses

fatores podem ser considerados como motores das mudanças nas tipologias arquitetônicas

hospitalares que se registraram ao longo da história.

Na medida em que esses fatores são disseminados mundialmente, de alguma forma eles

devem ter sido assimilados por arquiteturas locais na projetação de novos edifícios

hospitalares, ou mesmo na reabilitação, recuperação ou expansão de edifícios hospitalares

já existentes. Como foram assimilados, com que ritmo? Ou seja, como uma arquitetura

hospitalar local responde à dinâmica transformadora daqueles fatores responsáveis pela

evolução tipológica dos edifícios hospitalares?

Evidentemente, as respostas a estas perguntas estão vinculadas intimamente ao caso que se

toma como local. Assim, ao recolocar a questão em termos mais concretos, faz-se

necessário explicitar que o interesse expresso neste trabalho se centra em uma análise do

caso de Natal.

Por outro lado, concentrar-se-ia a preocupação analítica no período que vai de princípios a

fins do século XX, quando a crítica ao modernismo e a busca de novas perspectivas

arquitetônicas puseram o edifício hospitalar em uma nova rota conceitual. Define-se então

como objeto de pesquisa a evolução tipológica do edifício hospitalar em Natal ao longo do

século XX.

Daí, as questões-chave da pesquisa podem ser formuladas nos seguintes termos:

de que forma se deu a evolução tipológica do edifício hospitalar em Natal em um dado

período histórico (o século XX)?

em que medida a evolução registrada nas tipologias hospitalares em Natal corresponde

àquela que se pode depreender da análise tipológica geral, explícita ou implicitamente

refletida na literatura especializada?

Nestes termos, pode-se formular como hipótese básica de trabalho a seguinte: a evolução

tipológica do hospital em Natal no século XX, seguiu em linhas gerais a trajetória

registrada no mundo ocidental, ressalvadas singularidades que podem ser explicadas pelo

estágio de desenvolvimento socioeconômico local.

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1.6. Objetivo geral e objetivos específicos

O objetivo geral do trabalho consiste na descrição e análise do processo evolutivo das

tipologias arquitetônicas hospitalares em Natal, identificando os fatores indutores das

mudanças e das singularidades do processo com respeito à evolução tipológica dos

hospitais ocidentais, tomada como referência.

O desenvolvimento do trabalho de pesquisa requereu a realização de objetivos específicos,

de caráter instrumental, tanto no campo teórico-conceitual, quanto no terreno do empírico.

No que concerne ao quadro metodológico, dois eixos de discussão devem ser ressaltados.

Por um lado, foi preciso formular um conceito operativo de tipo, com base em uma

discussão das principais contribuições teóricas relativas ao tipo e à tipologia em

arquitetura. Por outro, enfocou-se a evolução histórica do conceito de hospital, no mundo

ocidental, com vistas a compreender esse processo pelo filtro da abordagem tipológica

associada ao conceito de tipo previamente formulado.

No que respeita a objetivos instrumentais de natureza empírica, foi necessário levantar o

processo histórico de implantação de hospitais na cidade de Natal, recuperando e

sistematizando as suas definições arquitetônicas, bem como a informação caracterizadora

do contexto socioeconômico urbano e da política pública nacional para o setor de saúde.

1.7. Relevância e justificativa da pesquisa

A importância deste trabalho resulta de sua própria abordagem. Considera-se que a análise

tipológica constitui um elemento importante no aprimoramento conceitual da projetação.

Na mesma medida da complexidade do edifício hospitalar, seu projeto arquitetônico requer

preocupação com definições conceituais que implicam em um conhecimento sistematizado

da forma como, historicamente, a arquitetura proveu soluções para problemas que se

apresentavam.

Por outro lado, o edifício hospitalar é um edifício de alto custo, que tem, portanto, a

vocação da permanência. Paradoxalmente, entretanto, a dinâmica tecnológica do setor

médico implica em uma necessidade quase permanente de mudanças e reformas

arquitetônicas.

Assim, no sentido em que permite compreender a essência da tomada de decisão projetual,

a análise tipológica consiste em instrumento de valia para orientar e direcionar

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adequadamente as quase permanentes requalificações, ampliações e recuperações exigidas

pelo edifício hospitalar na contemporaneidade.

Por fim, julga-se também de importância o trabalho por seu caráter historiográfico, uma

vez que as suas intenções se direcionam para o entendimento do processo histórico de

desenvolvimento dos edifícios hospitalares implantados em Natal.

1.8. Procedimentos metodológicos

Tendo em vista a consecução dos objetivos fixados na seção anterior, os procedimentos

metodológicos foram projetados de forma a encadear o processo de investigação em uma

lógica consistente com as questões-chave e as hipóteses do trabalho.

A formulação de um conceito operativo de tipologia teve por base uma revisão

bibliográfica da literatura sobre o tema, projetada em dois níveis seqüenciais. Em primeiro

lugar, enfocou-se o debate tipológico contemporâneo (dos anos 1960 aos 1990),

confrontando-se interpretações e proposições dos autores mais significativos. Nesse

processo, identificaram-se as raízes intelectuais mais expressivas do debate nos aportes

teóricos de Quatremère de Quincy, Durand e Viollet-le-Duc. As suas contribuições foram

então examinadas, principalmente por meio de leitura indireta, mas sem excluir a consulta

e discussão de textos originais, em traduções contemporâneas.

Essa reflexão levou à elaboração de uma interpretação, não propriamente dos conceitos de

tipo e tipologia emanados das obras desses teóricos do século XIX, mas de suas

abordagens tipológicas. Ou seja, a matriz de análise tipológica construída e utilizada neste

trabalho, embora se informe da teoria tipológica dos 1800, se define a partir do vigoroso

debate acadêmico de que foram objetos o tipo e a tipologia a partir dos anos 1960.

A validação dessa matriz para o caso da análise tipológica da arquitetura hospitalar teve

lugar quando, após concentrar-se em extensa revisão bibliográfica da evolução histórica

dos hospitais e da arquitetura hospitalar ocidentais, construiu-se uma interpretação

tipológica dessa evolução histórica sob a mediação do conceito e do instrumental de

análise definidos na etapa anterior.

Também informada pela discussão e definição da abordagem tipológica, a atividade

empírica básica da pesquisa consistiu em levantar e sistematizar informações – de distintas

naturezas: bibliográficas, obtidas em entrevistas, fotográficas, arquitetônicas etc. – que

Page 19: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

11

permitissem reconstituir o mais fielmente possível o processo histórico de implantação de

hospitais em Natal. A leitura desse processo histórico contextualizou os hospitais

natalenses com respeito à evolução da cidade e das políticas públicas relevantes no setor

saúde.

Para um subconjunto dos hospitais implantados, foi possível reconstituir satisfatoriamente

o projeto de arquitetura inicialmente implantado. Esses hospitais foram objetos de análise,

aplicando-se para tanto a matriz de análise tipológica previamente elaborada, permitindo

enfim avaliar suas afiliações aos diferentes tipos arquitetônicos hospitalares fixados pela

arquitetura ocidental.

1.9. Estrutura do documento

O presente documento está estruturado de formas a salientar o processo metodológico

seguido no trabalho de pesquisa. Além deste capítulo inicial, o documento apresenta outros

cinco capítulos e três anexos.

O capítulo 2 está dedicado a apresentar os resultados do estudo realizado sobre o conceito

de tipo e tipologia, culminando com a apresentação da matriz tipológica elaborada com

base na discussão conceitual sobre o tema. No capítulo 3, o enfoque se dirige para a

evolução tipológica da arquitetura hospitalar no mundo ocidental, apresentada sob a ótica

da matriz de análise apresentada no capítulo anterior.

O processo histórico de implantação de hospitais em Natal é analisado no capítulo 4, em

que o pano de fundo das políticas nacionais de saúde pública e a evolução urbana de Natal

marcam e conformam o cenário contextual que problematiza cada hospital implantado na

cidade. Esses hospitais são então analisados tipologicamente no capítulo 5, apresentando-

se os resultados já de forma a salientar suas afiliações aos tipos arquitetônicos que,

decantados da história dos hospitais no Ocidente, foram definidos no capítulo 3.

Por sua vez, o sexto e último capítulo apresenta de forma sintética todos os resultados

relevantes obtidos no curso do projeto de pesquisa conducente à elaboração dessa

dissertação.

Três anexos se integram ao documento: o primeiro apresenta um mapa de Natal com a

localização dos hospitais; o segundo traz quadros que sintetizam as informações do

capítulo 4; e, por fim, o terceiro apresenta os esquemas gráficos dos hospitais analisados.

Page 20: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Capítulo 2

Tipo , t ipologia , anál i se t ipológica:

d iscussão e def in ição conce i tual

Page 21: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

13

2. Tipo, tipologia, análise tipológica: discussão e definição conceitual

Este capítulo tem por finalidade a construção de um marco teórico que sirva de referência

para o balizamento das etapas empíricas do trabalho de pesquisa. Assim, o objeto deste

capítulo é o desenvolvimento de um conceito operativo de análise tipológica, com vistas a

sua aplicação, no capítulo seguinte, ao estudo da evolução da arquitetura hospitalar no

mundo ocidental, da Idade Média até a contemporaneidade. Os tipos arquitetônicos

hospitalares decantados nesse estudo serão, posteriormente, adotados como referências

para o enquadramento e análise da evolução da arquitetura hospitalar em Natal, ao longo

do século XX.

Como resultado dos estudos que se apresentam neste capítulo, definem-se a configuração e

a especificação de um instrumental de análise tipológica, com base na discussão em torno

dos conceitos de tipo que, com mais relevância, estão disponíveis na literatura teórica

sobre o tema. A seleção dos conceitos de tipo que foram considerados para o

desenvolvimento do quadro analítico teve por base uma revisão bibliográfica extensiva, a

qual enfocou principalmente a produção intelectual sobre o tema que teve lugar a partir dos

anos 60 do passado século.

O exame dessa literatura apontou a relevância das proposições teóricas de Quatremère de

Quincy, Jean-Nicolas-Louis Durand e Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc, todas do século

XIX. Tal seleção não se orientou apenas pelo nível ou intensidade com que esses três

teóricos alimentaram o debate tipológico no século XX. Levou em conta também o fato de

que suas elaborações teóricas, entendidas como distintas abordagens conceituais que se

complementam – como se mostrará no corpo do capítulo –, podem ser integradas em um

quadro de análise tipológica.

Esse quadro, ao mesmo tempo mais complexo e objetivamente operacional, tem sua gênese

na compreensão – compartida com autores como Oeschlin (1985), Francescato (1994),

Madrazo (1995), entre outros – de que as abordagens de Quatremère, Durand e Viollet-le-

Duc podem ser articuladas no sentido de fornecer uma leitura mais ampliada do processo

criativo do projeto em arquitetura, bem como de seu produto – o edifício. Como se verá

nas seções seguintes, pode-se inferir essa possibilidade de conciliação entre as três

abordagens em alguns dos momentos mais significativos do debate tipológico

Page 22: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

14

contemporâneo, bem como na utilização – implícita ou explícita – da abordagem tipológica

na atividade projetual.

Para atingir os seus objetivos instrumentais, este capítulo está estruturado em oito seções.

Na primeira delas, situa-se a emergência do debate tipológico nos anos 1960, em conexão

com a crise da Arquitetura Moderna. Os elementos e contribuições mais centrais desse

debate – que marcou significativamente a cena teórica da arquitetura por, pelo menos,

trinta anos – são escrutinados na segunda sessão. Na terceira, examinam-se as condições

objetivas em que surgiram, nos primeiros anos do século XIX, as primeiras manifestações

teóricas explicitamente concernentes à tipologia e ao tipo. As três seções seguintes estão

respectivamente dedicadas à exploração dos conceitos de tipo desenvolvidos por

Quatremère de Quincy, Durand e Viollet-le-Duc. Já a sétima seção se concentra no exame

da possibilidade de, à luz das contribuições surgidas no debate tipológico contemporâneo,

articular esses três conceitos relevantes de tipo em uma matriz de análise tipológica, a qual

será detalhada na oitava e última seção.

2.1. O conceito de tipo e a crise da Arquitetura Moderna

A partir dos primeiros anos da década de 1960, estendendo-se até quase o final do século

passado, o debate em torno dos conceitos de tipo e tipologia passou a desempenhar um

papel significativo na retomada da investigação teórica orientada pela busca de uma

essência para a Arquitetura (NESBITT, 1996a). Quase ao mesmo tempo, como observou

Moneo (1998), o conceito de tipo passou a ser explicitamente tratado no âmbito da teoria e

da prática projetual, destacadamente no caso dos neo-racionalistas italianos.

Analistas como Nesbitt (1996a) têm reivindicado para o tipo a capacidade de sintetizar os

elementos essenciais da arquitetura – significado, forma, função e tectônica –, o que alçaria

a tipologia à condição de elemento-chave da análise e/ou do processo projetual em

Arquitetura.

Por outra parte, Colquhoun (1996a) remarca que, na medida em que a tipologia tem o

caráter de instrumento de memória cultural, ela adquire uma condição de significado

arquitetônico e de mecanismo de retenção da significação cultural da arquitetura. Em

direção similar, Francescato (1994) considera que o conceito de tipo forja um vínculo entre

forma arquitetônica e precedente histórico, com tudo o que isso implica em termos do

significado social e cultural do objeto arquitetônico.

Page 23: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

15

Nesse sentido, pode-se entender o interesse pela tipologia no âmbito da busca do

significado e da identidade arquitetônicas: o recurso ao tipológico oferece “continuidade

histórica, o que confere inteligibilidade a edificações e cidades em uma dada cultura”

(NESBITT, 1996a, p. 44). Isso esclarece porque o debate tipológico emergiu, nos anos

1960, como uma das respostas tentativas à crise então vivenciada pela Arquitetura

Moderna.

Afinal, uma característica fundamental do Modernismo na arquitetura foi a ruptura com a

tradição. Essa ruptura se deu segundo dois pólos articulados que garantiram unidade e

suporte ideológico-programático ao movimento em seus primeiros tempos: a negação

estilístico-projetual-construtiva do século XIX, em prol da adesão às novas possibilidades

tecnológico-formais da Era da Máquina; e a opção ética por um conteúdo social – utópico

e transformador – para a prática da Arquitetura (PORTOGHESI, 1981; LARA, 1999). A

desarticulação entre esses pólos minou a unidade política do Movimento, com a hegemonia

tendendo para as preocupações de ordem formal-construtiva e reduzindo-se gradualmente a

importância das questões sociais.

Enquanto Lara (1999) data essa guinada em torno da Segunda Guerra Mundial (ou no

período entre os CIAMs de 1937 e 1947), Vidler (1976) situa ainda no período entre as

duas guerras mundiais (1919-1938) o surgimento de uma progressiva proeminência do

processo tecnológico de produção industrial. Para ele, a tecnologia de produção em série

passaria, já nos anos 1930, a servir de base para a projetação arquitetônica, estabelecendo-

se a máquina como tipo generalizado (a coluna, a casa e a cidade vistas analogamente à

pirâmide de produção industrial) e como elemento de contorno, restritivo à investigação

formal.

Aqueles que optaram, no início do movimento, pela investigação formal e pelas questões

endógenas da arquitetura no inicio do movimento – aqueles que Lara (1999, p. 5-6)

designa por “estilistas” –, perderam o rumo e se dispersaram em subgrupos cada vez

menores, fragmentando o “transatlântico modernista” em “balsas de identidade

arquitetônica” e, depois, em “frágeis jangadas formais”, ancoradas em estilos pessoais. Por

outro lado, os “sociologistas” – que optaram por enfatizar as transformações sociais que

seriam propiciadas pela nova arquitetura – simplesmente desapareceram após a Segunda

Guerra. Frampton (1989, p. 274) afirma que o processo se deu a partir de 1933, quando as

Page 24: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

16

“exigências políticas radicais do início do movimento tinham sido abandonadas”, até que

“o idealismo liberal triunfou completamente” no pós-guerra.

Dessa forma, a essência da arquitetura passaria a estruturar-se a partir de um elemento

externo – a tecnologia industrial da construção civil, com seus padrões inspirados pelo

objetivo da eficiência econômica3 –, ao mesmo tempo em que se deturpava ou se perdia de

vista a missão política transformadora que validaria socialmente a arquitetura dos tempos

modernos.

A esse quadro corresponde, como afirma Lara (1999, p.1), uma “profunda crise de valores,

tanto interna (referente à falta de um suporte teórico consistente), quanto externamente

(referente a seu papel nas esferas cultural e social)”. Em suma, uma crise de identidade e

autonomia, em que o elemento central é o cerne mesmo da arquitetura: o significado.

Em decorrência, o debate que se abre no âmbito dessa crise nos anos 1960 se nortearia pela

retomada de uma preocupação com a essência disciplinar da arquitetura, o que colocava a

questão de uma teoria inerente ao próprio objeto arquitetônico, mesmo quando essa teoria

se articule com o entorno social, cultural, econômico e histórico.

Colquhoun (2004, p. 92) assinala que, entre outras discussões, buscava-se então “redefinir

o racionalismo nos termos de uma tradição autônoma da arquitetura”, pois “o que é

‘racional’ em arquitetura é o que conserva a arquitetura como um discurso cultural que

perpassa toda a história”.

Assim, no âmbito da crise da arquitetura que culminou cinqüenta anos de permanência do

paradigma modernista, o esforço pela reconstrução de uma identidade e de uma autonomia

para a disciplina encontrou, entre outras alternativas, uma âncora legítima no debate

tipológico e no conceito de tipo.

2.2. O debate tipológico: uma breve reconstituição

O debate tipológico na contemporaneidade foi aberto por Giulio Carlo Argan, com seu

artigo Sobre o conceito de tipologia (ARGAN, 1996, 2001), em que sugeria a retomada

das proposições de Quatremère de Quincy, formuladas em princípios do século XIX.

3 Colquhoun (2004, p. 89-90) revela que “o progresso técnico alcançou um patamar em que era possível aproveitar o aspecto racional/construtivo do modernismo para as necessidades ideológicas do desenvolvimento imobiliário, solapando, dessa maneira, os fundamentos utópicos do modernismo”.

Page 25: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

17

Naquele artigo, Argan não explorava a fundo, em verdade, a obra de Quatremère de

Quincy. Tão somente partia da diferenciação tipo-modelo proposta por Quatremère para

elaborar um entendimento do processo de formação tipológica e uma argumentação em

defesa do papel da abordagem tipológica do processo projetual em arquitetura.

Para os propósitos de Argan, o tipo arquitetônico é um esquema vago, um princípio ou

regra geral, cujo caráter meramente nocional não pode afetar diretamente o projeto do

edifício singular, muito menos suas qualidades formais. Trata-se de uma idéia-base, capaz

de produzir infinitas variantes formais. Já um modelo seria um objeto real, concreto, a ser

copiado perfeitamente, num processo eminentemente acrítico e não-criativo.

Para Argan, um tipo arquitetônico nasce em função da existência

de uma série de edifícios que têm entre si uma evidente analogia formal e funcional. Em outras palavras, quando um ‘tipo’ se forma na prática ou na teoria da arquitetura, ele já existe, como resposta a um complexo de demandas ideológicas, religiosas ou práticas, em uma dada condição histórica de alguma cultura (ARGAN, 1996, p. 243, tradução da autora4).

Logo, o processo tem uma dinâmica implícita, pois cada vez que uma série formal tem o

incremento de uma nova variante – um novo objeto arquitetônico –, o tipo deduzido poderá

ser mais ou menos alterado, em função do impacto mais ou menos intenso que o mais

recente elemento introduzido na série possa produzir no princípio geral dedutível dessa

série. Portanto, reflete Argan, a abordagem tipológica não inibe a inventividade do

processo de projetação: há um momento tipológico, de apropriação de uma regra geral que

se deduz da tradição, e há um momento criativo, inovador, em que essa regra geral,

cotejada pelas demandas e exigências da situação presente, é traduzida em um objeto

arquitetônico singular.

A retomada das idéias de Quatremère por meio do artigo seminal de Argan foi oportuna.

Naquele momento, como assinala Colquhoun (2004), se desenvolvia na Itália uma nova

visão racionalista (o neo-racionalismo) pela qual as características da arquitetura não se

vinculariam à tecnologia ou a formas especificamente contemporâneas das relações sociais

e do comportamento em sociedade. Os neo-racionalistas, ao contrário, propunham que as

características fundamentais da arquitetura persistem com as mudanças nos campos da

4 Todas as citações presentes neste trabalho, à exceção de referências cujo idioma original seja o português, foram traduzidas do texto original pela autora.

Page 26: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

18

tecnologia e na sociedade, vinculando-se assim a uma imagem permanente do homem. Ou,

nas palavras do mesmo Argan,

os ‘tipos’ históricos [...] não pretendem satisfazer requerimentos práticos contingentes; eles se voltam a lidar com problemas mais profundos que – ao menos nos limites de uma dada sociedade – são entendidos como fundamentais e permanentes. Daí ser necessário aprender da experiência amadurecida no passado de modo a ser capaz de conceber formas que se apresentem como válidas no futuro (ARGAN, 1996, p. 244).

Assim, a interpretação arganiana do conceito de tipo em Quatremère assimilava a

preocupação de garantir uma continuidade autônoma para a arquitetura.

Entretanto, a formulação de Argan de um processo criativo em dois tempos – um

tipológico, outro de definição formal do novo objeto arquitetônico – restringia a

abordagem tipológica a exame da arquitetura precedente como informação do processo

projetual. Segundo Francescato (1994), coube a Ernesto Rogers ampliar a interpretação de

Argan e assimilar mais intensamente a proposta de Quatremère, ao entender que o processo

projetual não apenas se inicia com um momento tipológico, mas que também consiste de

operações tipológicas.

Na lógica projetual de Rogers, revela Francescato (1994), o ajuste forma-função não

poderia ser garantido por uma série de procedimentos técnicos sobre o programa de

necessidades, vez que resulta de um processo histórico em que edifícios reais são usados

por pessoas e grupos em uma cultura específica.

Por isso, questões de natureza tipológica teriam de ser conscientemente trabalhadas na fase

de definição da forma. Além disso, ressalte-se que a escolha do tipo é um processo ativo,

em que o arquiteto é levado a escolher, entre as referências tipológicas disponíveis, aquela

que ele mesmo julgue como a mais adequada para o problema projetual que tem em mãos.

Tal valoração do tipo, evidentemente, trazia implícita a necessidade de uma elaboração

sistemática para o processo de abordagem tipológica da arquitetura e do projeto. As

proposições de Rossi, tanto no campo acadêmico quanto na atividade projetual, vão nessa

direção (MONEO, 1998; BRAGHIERI, 1997).

Para Rossi (1995, p. 26-27), as idéias de Quatremère de Quincy seriam suficientes para

estabelecer que o tipo “é a regra, o modo constitutivo da arquitetura”, ou, mais

radicalmente, que o tipo “é a própria idéia da arquitetura, aquilo que está mais próximo de

Page 27: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

19

sua essência”. E, se esse tipo for uma constante, então ele “poderá ser encontrado em todos

os fatos arquitetônicos”, constituindo-se como um “elemento cultural” que, embora

determinado, conflita e articula-se com “a técnica, com as funções, com o estilo, com o

caráter coletivo e o momento individual do fato arquitetônico”.

Sobre essas bases, Rossi propunha a tipologia “como o estudo dos tipos não ulteriormente

redutíveis dos elementos urbanos, tanto de uma cidade como de uma arquitetura”,

afirmando a necessidade de seu amplo tratamento sistemático, pois se “nenhum tipo se

identifica com uma forma”, “todas as formas arquitetônicas” são redutíveis a tipos, em um

processo lógico.

Quase vinte anos depois da primeira edição, em 1966, de A Arquitetura da Cidade (Rossi,

1995), Rossi (1985, p. 100) afirmaria entender “a tipologia de um edifício como uma

coleção de dados geométricos, técnicos e históricos que estão na base de todo projeto”,

abrangendo também um componente antropológico, e cuja relevância é indubitável, seja

para a teoria da arquitetura, seja para a prática profissional.

Para Colquhoun (1975, p. 368), essa utilização da tipologia na obra de Rossi partia da idéia

de tipo em um nível tão alto de generalização que ele se tornava quase invulnerável à

interferência tecnológica e social. Decorriam daí imagens subjetivas e poéticas, mas

fortemente vinculadas a utilizações de analogias ou contrastes, com resultados que,

freqüentemente, evocavam leituras tipológicas próprias do arquiteto, e não reveladas pela

cultura. Como sugeriu Moneo (1978, p. 36), os tipos parecem ter saído da imaginação de

Rossi, resgatados de “um passado que pode não ter existido”.

Francescato (1994) entende que a noção de tipo revelada por Rossi em sua atividade

projetual parece ser fortemente prescritiva e, ao mesmo tempo, nostálgica: uma espécie de

proposição visando à recuperação de binômios forma-função do passado, de maneira

crítica ou poética. Essas observações, entretanto, não se estendem a outros representantes

do neo-racionalismo italiano, como Aymonino, Gregotti e Grassi, entre outros, todos eles

com atividade teórico-acadêmica paralela a uma, se não intensa, pelo menos significativa

produção em arquitetura e urbanismo (COLQUHOUN, 2004). Agrupados no movimento

conhecido como Tendenza, eles foram responsáveis pela qualificação do debate tipológico

em seus princípios, tanto quanto pela posta em prática de estudos tipológicos e de projetos

imbuídos de suas visões sobre tipo e tipologia (FRAMPTON, 1989).

Page 28: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

20

Oeschlin (1985, p. 67) situa o grupo mencionado como membros de um “círculo de

iniciados” que, a partir da Itália, conseguiu produzir nos anos 1960 e 1970 uma discussão

aprofundada e reveladora sobre a essência da arquitetura e sobre o processo criativo em

projetação arquitetônica.

Essa discussão, centrada na distinção tipo-modelo e nos modos de apropriação da análise

tipológica na atividade projetual, pôde estabelecer um contraponto inicial a uma

compreensão superficial do conceito de tipo. Oeschlin (1985, p. 66) identifica uma

primeira reação à valoração da abordagem tipológica, atribuindo a Bruno Zevi a afirmação

de que “a arte é anti-tipológica, toda criação arquitetônica é inevitavelmente uma

interpretação individual do artista”.

Nesse sentido, a tipologia veio a ser confundida com tipificação, e o conceito de tipo

arquitetônico aproximado ao conceito de tipo funcional de edifício, como no conhecido

trabalho de Pevsner (1976), ou ao de padrão volumétrico.

No primeiro caso, como enfatiza Lampugnani (1985), o caráter banalizante da

interpretação – tipologia assimilada a tipificação – está em sintonia com o conceito de

eficiência econômica da produção de edifícios, de que se imbuiu o processo de edificação

em massa da “casa mínima” a partir do CIAM de 1927. Aqui, o tipo não é derivado do

precedente arquitetônico, e sim definido a partir das possibilidades tecnológicas de

produção industrial de componentes padronizados.

No segundo caso, assinala Francescato (1994), a banalização do conceito de tipo se dá pelo

sentido meramente taxonômico que adquire. Um sentido que é capaz tão somente de

produzir catálogos que são, no máximo, um passo intermediário no processo de

estruturação do conhecimento, nunca um fim em si mesmo (UNGERS, 1985). Como

afirma um crítico do pensamento tipológico, essas “formulações simplistas são pouco mais

do que catálogos intermináveis e negligentes para os tímidos e os sem imaginação [...]

confundem tipo e pensamento tipológico com cenografia histórica” (BELL, 1991, p. 19).

Os muitos usos e maus usos da palavra tipo – que admite muitas acepções –, às vezes do

conceito – vago ou ambíguo –, produziram, a partir da retomada da discussão tipológica

nos anos 1960, uma certa falta de objetividade tanto nas críticas quanto nas apologias da

abordagem tipológica da arquitetura.

Page 29: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

21

Talvez o mais reiterativo e contundente crítico da abordagem tipológica, Peréz-Gómez

(1991, p. 14-15) entende as formulações de Quatremère de Quincy como uma proposição

de tipo como modelo formal, o que assimilaria a tradição arquitetônica a uma “auto-

referenciada história dos edifícios” que elude “a dimensão invisível” da arquitetura.

Kahn (1991, p. 111) retruca que essa é uma compreensão univalente do tipo em

Quatremère: ao ressaltar a natureza convencional da tipologia, confunde-se tipo e modelo e

se omite “a tensão entre convenção e inovação” que é inerente ao ato arquitetônico de

confrontar a “dimensão invisível” do tipo ao edifício material concreto.

Por outro lado, Symes (1994) tenta extrair elementos para uma análise generalizada dos

usos do tipológico na prática arquitetônica, a partir de uma caracterização de Vidler (1989,

p. 147) pela qual “a idéia de tipo na teoria arquitetônica [...] tem um significado deveras

abrangente de concepção, forma essencial, e tipo edilício”, devido ao fato de que as

múltiplas acepções do termo tipo “fizeram com que se prestasse bem a representar uma

idéia ao mesmo tempo vaga e precisa”. Symes (p. 165) propõe, então, uma nomenclatura

em que o conceito de tipo é assimilado à palavra tipo para designar tipos de prática

arquitetônica, tipos de arranjo físico e tipos de uso: tudo isso para descrever como “os

arquitetos usam o pensamento tipológico em seu trabalho profissional”.

Diante dessa profusão de leituras distintas, cabe estabelecer alguns elementos de partida

com vistas a delimitar o entendimento do pensamento tipológico que guiará este trabalho.

Admite-se a avaliação de Reichlin (1985) que, discutindo a natureza taxonômica do tipo,

afirma que ele promove um censo do conhecimento e um reordenamento da experiência

histórica em torno da disciplina arquitetônica.

Mas, o remontar ao significado histórico não se dá somente pela permanência do tipo,

como enfatiza Corona Martínez (2000), mas também por meio de processos de analogia ou

mesmo de confrontação (SOLÁ-MORALES, 1996).

Nesse sentido, a crítica de Pérez-Gómez (1991, p. 16-18), para quem o tipo “pode ser

obviamente percebido na repetição de precedentes formais na história das edificações” e o

seu uso como “banal” estratégia analítica ou projetual “nega a nossa [do arquiteto] real

capacidade para a invenção e a imaginação” é contestada por Kahn. Os termos dessa

contestação são postos pela afirmação de que, corretamente interpretado, o conceito de tipo

“é um construto crítico operativo, igualmente relevante para o discurso arquitetônico em

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22

geral quanto para temas específicos de originalidade e repetição relativos ao papel do

passado na produção arquitetônica de hoje” (KAHN, 1991, p. 113).

Em verdade, o tipo revela e consolida a norma e os valores estéticos acumulados, como

resultado de fatores socioculturais que condicionaram a formação desses valores e dessa

norma.

Mas, na mesma medida da permanente transformação dos fatores culturais da sociedade, o

tipo e a abordagem tipológica estão associados ao processo contínuo de mudanças na

norma e nos valores estéticos vigentes a cada momento (Colquhoun, 1996b).

É daí que Hinson (1991, p. 5) realça a natureza dialética do conceito de tipo, expressa na

relação conflituosa entre convenção e inovação, de modo que “o comum em arquitetura é o

atributo sem o qual o incomum não pode ser criado nem apreciado”.

A abordagem tipológica, então, traz implícita a necessidade de uma aproximação com a

história, sem deixar de revê-la criticamente, de modo que o tipo sirva de base, natural ou

social, para a constituição da forma e de referência de validação para a produção da

Arquitetura (Vidler, 1976), dê-se essa validação pela utilização criativa do tipo, pela

evolução ou pela revolução tipológica.

Nas palavras de Colquhoun, a adoção de abordagens tipológicas não equivale

a advogar uma reversão para uma arquitetura que aceite impensadamente a tradição. Isso implicaria acatar que formas e significado guardam uma relação fixa e imutável. A característica dos nossos tempos é a mudança, e é precisamente por isso que é necessário investigar o papel desempenhado por soluções-tipo com respeito a problemas e soluções que não têm precedente em qualquer tradição recebida (COLQUHOUN, 1996a, p. 257).

Munindo-se desses elementos, pode-se agora proceder a uma aproximação ao conceito de

tipo a partir de sua mesma gênese no século XIX. Tal procedimento tem o objetivo de

aportar ao trabalho a possibilidade de uma apropriação mais consistente do conceito,

revelando a essência das abordagens teóricas de Quatremère de Quincy, Durand e Viollet-

le-Duc a partir de uma compreensão contemporânea dos conceitos de tipo e tipologia, com

vistas a garantir relevância e coerência à matriz de instrumentos analíticos que é o objeto

final do trabalho apresentado neste capítulo.

Page 31: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

23

2.3. Antecedentes dos teóricos do século XIX

As primeiras explicitações teóricas do tipo e da tipologia remontam a princípios do século

XIX, quando, de acordo com Lavin (1992) e Madrazo (1995), Quatremère de Quincy

introduzira por vez primeira o termo tipo na teoria da arquitetura. Entretanto, Madrazo

(1995) assinala que a noção teórica e, mais tarde, o conceito de tipo sempre estiveram

historicamente ligados a questões teóricas fundamentais na Arquitetura: a origem da forma

e seu significado, a sistematização do conhecimento prevalente e a compreensão do

processo criativo do projeto.

Mauro (1985) informa que na filosofia grega o vocábulo typos era associado à noção de

modelo, significando então um conjunto de características obrigatoriamente presentes em

um grupo de indivíduos concretos. Madrazo (1995) fixa no século XVIII a apropriação do

vocábulo tipo para designar o significado epistemológico da noção de forma, enquanto

anteriormente o termo idéia integrava o significado epistemológico aos significados

metafísico, ético e estético, como em Platão.

No âmbito da teoria da arquitetura, as raízes do conceito de tipo podem ser rastreadas até

os tempos de Vitrúvio (Madrazo, 1995). Para Vitruvio, as origens da arquitetura estavam

na Natureza, de onde as criações humanas foram imitadas antes que se tornassem criações

intelectuais ou artificiais. Na Renascença, Leonardo da Vinci e Palladio, com seus

desenhos de igrejas de planta central e suas villas, exercitaram sua criatividade e seu

talento, de origem divina, expondo variações sobre um mesmo tema.

Para Madrazo, é nos séculos XVII e XVIII que os teóricos da Arquitetura vão por vez

primeira separar os significados da idéia, dando origem à emergência de uma leitura

epistemológica da forma que leva ao conceito de tipo em princípios do século XIX.

Ressalve-se que o esforço conceitual de Quatremère de Quincy – e de Durand, seu

contemporâneo – teve lugar, nas primeiras décadas dos 1800, quando, como nos anos

1960, a disciplina da arquitetura vivia uma crise de identidade. Entretanto, a crise que

levou aos questionamentos de Quatremère e Durand tinha razões bem distintas daquela que

sucedeu o apogeu modernista. Em finais do século XVIII, a Arquitetura ainda se apoiava

nas virtudes da tradição neoclássica e em sua formulação vitruviana: o divino e a natureza

eram os alicerces em que se apoiava a criação arquitetônica.

Page 32: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

24

O desenvolvimento científico-tecnológico ocorrido no século XVIII não havia sido

absorvido pela Arquitetura, enquanto que era rapidamente introduzido na formação

profissional seguida nas escolas politécnicas francesas (PICON, 2000). O novo profissional

egresso dessas escolas, o engenheiro, estava mais capacitado para absorver a dinâmica

científico-tecnológica de seu tempo e, em conseqüência, era mais requisitado para dar

conta das novas necessidades edilícias e urbanísticas surgidas no seio da Revolução

Industrial e intensificadas com a consolidação da burguesia.

Assim, a não-apropriação do progresso técnico vai desqualificar o arquiteto como cientista,

obrigando-o a rever os princípios teóricos de sua profissão, e fazendo a arquitetura

ingressar em uma crise que, segundo Marques (199-), só seria superada com o

Modernismo. Entretanto, ao longo do século XVIII, os paradigmas vitruvianos já vinham

sendo questionados por teóricos como o Abade Laugier, Boullée e Ledoux. Em seus

trabalhos, como mostra Vidler (1977), a noção de tipo já aparecia, embora sob distintas

óticas, como uma diretriz de reconstrução da disciplina arquitetônica que se opunha à

simples manipulação das ordens vitruvianas (MADRAZO, 1995).

A linha de investigação de Laugier nasceu como um degrau a mais na pesquisa sobre

percepção da forma arquitetônica, manifestada na distinção entre real e aparente

desenvolvida pelos escritores franceses e ingleses no inicio do século XVIII (VIDLER,

1977). Para Madrazo (1995), o Abade traduzia uma reação contrária ao excesso de

formalismo na arquitetura de seu tempo (o barroco e o rococó).

Para corrigir esses excessos, Laugier achou necessário retornar à origem da Arquitetura

para encontrar os seus princípios fundamentais, atribuindo então à “cabana primitiva” um

caráter normativo, e erigindo-a no modelo a partir do qual toda arquitetura poderia ser

criada (VIDLER, 1977). A cabana primitiva de Laugier é um construto conceitual, mais

que um protótipo físico. Trata-se de um padrão abstrato que é deixado na mente depois de

observações de similaridades entre objetos diferentes. Logo, revela um processo relacional

entre percepção e aquisição do conhecimento.

Contemporaneamente a Laugier, uma noção similar de padrão abstrato de que derivaria a

criação arquitetônica fazia parte dos trabalhos de Boullée e Ledoux (PICON, 2000).

Avessos à diretriz vitruviana, tentaram identificar componentes fundamentais da

Arquitetura, dirigindo sua investigação em duas direções: as sensações produzidas por

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25

formas elementares e os aspectos funcionais do espaço arquitetônico. A ênfase de Boullée

nas formas geométricas mais puras partia do entendimento de serem elas mais facilmente

apreendidas pelos usuários. Os estudos de Boullée e Ledoux, entretanto, não chegaram a

sintetizar as duas dimensões (sensações e funcionalidade), de modo que seus conceitos

básicos não resultaram operacionais (VIDLER, 1977).

É a partir dessas duas matrizes de investigação – Laugier, de um lado; do outro, Boullée e

Ledoux – que o conceito de tipo se desenvolveria na virada do século XVIII para o XIX.

Os trabalhos do Abade Laugier seriam redimensionados por Quatremère de Quincy,

enquanto que as investigações de Boullée e Ledoux seriam retomadas por Durand.

2.4. Tipo na visão de Quatremère de Quincy

Quatremère explicitou pela primeira vez na teoria da arquitetura o termo tipo, em 1825.

Em sua obra, as idéias neoplatônicas de Laugier sobre o caráter original da cabana vão

encontrar uma tradução culturalista (LAVIN, 1992). Tanto Laugier como Quatremère

acreditavam que a arquitetura tinha de ser regenerada, depois do excesso cometido no

passado imediato. Eles estavam certos que depois do abandono do modelo clássico, a

arquitetura se sentiria sem direção (MADRAZO, 1995). A solução que eles defendiam era

a mesma: era necessário voltar ao principio. Para Laugier, esse princípio era a cabana; para

Quatremère, era o tipo.

Pesquisando diferentes culturas, Quatremère concluiu que a cabana não era a única fonte

de toda arquitetura. Havia três fontes básicas, das quais toda arquitetura teria sido derivada.

A essas fontes ou germes, Quatremère chamou tipos – a cabana, a tenda e a caverna –, cada

um deles correspondente a uma organização social: respectivamente, comunidades

agrícolas sedentárias, tribos nômades, e caçadores. Daí, Quatremère concluiu que o tipo

estabelece uma conexão entre Arquitetura e sociedade, entre o projeto e as forças sociais

subjacentes, indicando uma dinâmica tipológica correspondente à dinâmica social

(LAVIN, 1992).

Quatremère mantém a interpretação de que esses tipos originais informam todo o processo

criativo em Arquitetura. Logo, a doutrina da imitação esta no núcleo do conceito de tipo de

Quatremère. De acordo com ele, a arquitetura seria uma arte imitativa. Por esta razão,

segundo a nomenclatura proposta por Madrazo (1995), ele diferenciou duas formas de

imitação na arte: a primeira, uma imitação literal ou real, em que o objeto de imitação é

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26

um modelo concreto (mimese direta); a segunda, uma imitação ilusória ou abstrata, na

qual o objeto de imitação é o tipo (mimese indireta).

Assim, para Quatremère (apud MADRAZO, 1995, p. 188), “... para tudo é necessário um

antecedente, nada sai do nada”. Para ele, o artista arquiteto compõe sua criação a partir da

apreensão e da compreensão de uma regra interna que estrutura a forma. Trata-se do tipo,

um elemento abstrato a partir do qual se produzem obras (modelos) diferentes. Tipo e

modelo são assim diferenciados por Quatremère:

A palavra tipo não representa tanto a imagem de uma coisa que tenha que se copiar e imitar-se perfeitamente, senão a idéia de um elemento que deve servir de regra ao modelo [...] O modelo, entendido segundo a execução prática da arte, é um objeto que deve se repetir tal qual é; o tipo, ao contrário, é um objeto de acordo com o qual cada um pode conceber obras que não se assemelham em absoluto entre si. Tudo está dado e é preciso no modelo; tudo é mais ou menos vago no tipo. Assim vemos que a imitação dos tipos não tem nada que o sentimento e o espírito não possam reconhecer (QUATREMÈRE DE QUINCY, 1985, p. 75).

Basicamente, Quatremère afirmou a necessidade de transcender a mera aparência dos

modelos e descobrir as regras e princípios a ele subjacentes, em uma atividade intelectual

criativa que captura o ponto de partida da criação a partir do modelo. As palavras de

Quatremère afirmam sua visão de que o modelo é uma forma para ser repetida, copiada e

imitada, e desta forma, é mais apropriada para o artesanato ou para tecnologias da

produção industrial do que para a arquitetura. A doutrina da imitação era válida tanto para

a arquitetura como para a pintura e a escultura. A diferença era que, em arquitetura, o

objeto de imitação – o tipo – é abstrato; nas artes figurativas, o modelo é um objeto

concreto.

Indo mais além, afirma Lavin (1992), o conceito de tipo foi a estrutura na qual Quatremère

ancorou seu entendimento da história da arquitetura. Para Quatremère, a relação entre as

arquiteturas primitiva e moderna pode ser entendida pelo estudo do processo de

transformação do tipo, uma metamorfose conceitual requerida cada vez que um edifício foi

projetado. Como resultado, o tipo arquitetônico do passado tornou-se chave para o tipo

futuro e, mais importante, para a sua legitimação pública e social.

Assim, Quatremère elaborou um argumento em que a evolução histórica da arquitetura

deixa de ser linear, em que tipos arquitetônicos oriundos de distintas culturas e momentos

históricos se cruzam, e em que o processo de imitação (mimese indireta) se caracteriza pela

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atividade intelectual criativa de conceber e reconhecer um princípio ideal que estruture a

atuação criadora do arquiteto. Esse princípio, como assinala Oeschlin (1985), pressupõe

um enfoque sistemático, não apenas descritivo, do contexto histórico das regras,

permitindo que essas sejam transpostas para a metodologia projetual.

Oechslin (1985) conclui das reflexões de Quatremère a evidência de que o tipo não é um

modelo simplificador, um padrão reduzido da descoberta arquitetônica. Ao contrário,

Oeschlin considera o conceito de tipo como uma construção teórica inteligentemente

edificada, a partir da qual se pode estabelecer uma compreensão tanto do processo

evolutivo da Arquitetura quanto do processo criativo da projetação, nas suas recíprocas

interdependências.

Entretanto, não cabe dúvida de que a formulação conceitual de Quatremère é

extremamente abstrata, de forma vaga e de difícil operacionalização. Alguns, como Pérez

Gómez (1991), a consideram com uma noção bastante confusa e, de certa forma, inútil.

Essas críticas, entretanto, segundo Francescato (1994), estão muito ligadas à idéia de que o

enfoque tipológico aprisiona a mente criadora do arquiteto nos limites da convenção, o que

seria indesejável em um campo em que deve sobressair-se a invenção.

O próprio Quatremère já entendia o tipo como algo limitante, mas ao mesmo tempo

liberalizante das energias criadoras do arquiteto (FRANCESCATO, 1994). Afinal, a

dinâmica tipológica certamente supõe a progressiva alteração dos tipos, da mesma forma

que admite tanto a permanência do precedente quanto a sua negação pela geração de um

tipo novo.

O elemento central do debate sobre a validade das formulações de Quatremère passa pela

discussão dessa natureza supostamente conservadora, anticriativa, do conceito de tipo.

Francescato (1994) considera que parte da imprecisão do debate se deve à releitura de

Argan das idéias de Quatremère. Enquanto que este dava ao tipo uma orientação

neoplatônica, pensando o tipo como uma entidade a priori, Argan (1996, 2001) viu o tipo

como resultado de uma pesquisa de coisas em comum a trabalhos reais de arquitetos, ou

seja, como um exame a posteriori objetivando o descobrimento da “estrutura interna

formal” de uma série de trabalhos. Argan, como historiador, estava primariamente

interessado nas qualidades descritivas e taxonômicas do tipo e somente incidentalmente

naquelas que devem afetar a geração de formas.

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28

Para Francescato (1994), há que se admitir que existe uma prática de utilização do conceito

de tipo, em arquitetura, meramente como um esquema taxonômico, geralmente associado a

categorias funcionais ou de construção. Mas, nesses casos de utilização do conceito, em

que se salienta o elemento funcional ou tecnológico, o atributo da forma não é central.

Para Quatremère, ao contrário, a geração da forma está no núcleo do conceito de tipo.

Portanto, essa visão meramente “classificadora” não pode ser assimilada a Quatremère.

Sua teoria tipológica, ao diferenciar claramente os conceitos de tipo e modelo e definir o

tipo como um núcleo abstrato capaz de gerar obras diferentes, ressalta o papel criativo do

arquiteto ao afirmar que a forma resulta de operações intelectuais criativas operando sobre

as idéias (o tipo) que estão por trás das formas precedentes.

2.5. O tipo na obra de Durand

Contemporâneo de Quatremère, Jean-Nicolas-Louis Durand retomou os estudos de Boullée

e Ledoux em busca de identificar fundamentos da arquitetura precedente. Boullée e

Ledoux haviam trabalhado, sem êxito, na direção de sintetizar duas vertentes da análise

dos espaços arquitetônicos: as sensações produzidas e os aspectos funcionais. Durand,

entretanto, se fixou apenas nos elementos formais da arquitetura pregressa (PICON, 2000),

com o objetivo de produzir um método operativo de análise e projetação que internalizasse

o conhecimento e a manipulação de soluções prevalentes.

Arquiteto, teórico pragmático e professor da Escola Politécnica de Paris, onde o ensino se

centrava em conhecimentos científicos e tecnológicos, Durand orientou seu esforço de

pesquisador para uma fazer arquitetônico que fosse, nas palavras de Picon (2000), tão

rigoroso quanto as ciências da observação e dedução, tão eficiente quanto a engenharia.

Durand rejeitava as teorias de Vitrúvio e de Laugier, que defendiam que o princípio

fundamental da arquitetura estava no corpo humano e na cabana, respectivamente. Para

ele, o verdadeiro princípio fundamental da arquitetura – ou seja, o tipo – devia ser buscado

na própria arquitetura. Por isso, Durand analisou os edifícios do passado, sintetizando-os

para revelar suas características comuns, representadas em formas geométricas básicas

(MADRAZO, 1995).

Seu trabalho teórico mais conhecido está recolhido em duas obras publicadas entre 1800 e

1805: o Recueil et parallèlle dês edifices de tout genre, anciens et modernes e o Précis des

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29

leçons d’architecture données à l’École Polytechnique (DURAND, 2000). Este último, um

curso básico em arquitetura para futuros engenheiros, lançava mão do material

sistematizado no primeiro para orientar a aprendizagem da projetação de edifícios. Daí

pode-se depreender uma preocupação essencial na obra de Durand: o projeto.

O Recueil tinha o objetivo de apresentar, desenhados em uma mesma escala, edifícios

relevantes de todos os gêneros, novos ou antigos, e em vários países. Os edifícios eram

comparados entre si, sugerindo, segundo Villari (1990, p. 55), a idéia de investigação em

que a arquitetura – “concebida como um modelo de organização funcional para a atividade

humana” – seria uma representação das formas da vida social e do modo de vida. Nessa

direção, o trabalho de Durand no Recueil pode ser entendido como um levantamento

sistemático de exemplares precedentes, que podem ser usados de forma a constituir-se, na

mente do estudioso arquiteto, em fonte de conhecimento e cultura.

As intenções de Durand eram as de apresentar plantas e elevações dos edifícios analisados

na forma mais limpa possível. Para ele, o desenho era apenas um instrumento de

representação da arquitetura dos edifícios, uma transcrição tecnográfica (VILLARI, 1990).

Em suma, Durand buscava uma representação o mais fiel possível da anatomia do edifício,

descartando efeitos meramente decorativos e concentrando-se nas definições mais

puramente geométricas do projeto, para ele os princípios genéricos da Arquitetura

(MADRAZO, 1995).

Vê-se que o Durand do Recueil não desmerece o Durand do Précis. Neste livro, Durand

(2000) propunha um método de projeto baseado em três etapas. A primeira, cujo objeto são

os elementos da arquitetura, está concentrada em alvenarias, colunas, arcadas etc.,

analisadas dos pontos de vista da qualidade do material e de seu uso, ou seja, a tecnologia

construtiva (VILLARI, 1990).

A segunda etapa do método de Durand se dirige à composição, a qual ele mesmo definia

como um processo de agregação ou encaixe (assamblage) dos elementos e das partes da

arquitetura. Nas palavras de Durand:

em primeiro lugar, devemos ver como os elementos da arquitetura deveriam ser combinados entre si e como deveriam se encaixar no todo, tanto no plano horizontal quanto no vertical; em segundo lugar, devemos verificar como, por meio das combinações de elementos, as partes do edifício – como pórticos, átrios, vestíbulos, escadas interiores e exteriores, cômodos em geral, pátios, fontes – são obtidas. Se julgarmos

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30

o resultado satisfatório, devemos então combinar as partes para compor o edifício (DURAND, 2000, p. 119).

Na terceira etapa do Précis, Durand examina diversos edifícios com respeito a suas

funções, como elas se combinam e como se traduzem espacialmente, para finalmente

estudar a articulação desses espaços (DURAND, 2000). Para Villari (1990), o resultado

desse processo é uma classificação tipológica que, entretanto, só tem sentido quando está

relacionada com as duas etapas anteriores. Assim, embora Vidler (1977) atribua a Durand

a paternidade do moderno conceito de tipologia, não parece ter sido a categoria do edifício,

assim definida pela função, o objeto central das preocupações de Durand.

Com efeito, Oeschlin (1985) ressalta em Durand o apego à geometria, a suas formas

básicas e à riqueza de possibilidades que se abrem mediante a articulação dessas formas

básicas em formas cada vez mais complexas. Se, lembra Oeschlin, o Précis mostra

precisamente como edifícios existentes podem ser reduzidos geometricamente até serem

“anatomicamente” dissecados em partes constituintes singelas, isso se deve a que Durand

estava realmente interessado em tornar legível na arquitetura pregressa a vinculação entre

categorias de edifícios e determinados arranjos compositivos, organizados a partir de

formas elementares da geometria plana. Ou seja, a partir das formas das figuras

geométricas, reconhecer o pensamento arquitetônico a elas subordinado.

Além disso, Picon (2000) acredita que o método proposto no Recueil representa para

Durand a formalização do material histórico através da redução para o essencial para uso

no processo projetual concreto. Assim, a relação entre a sistematização da geometria e da

história forma premissas fundamentais para uma introdução racional da tipologia.

É admissível, então, ressaltar na obra de Durand a catalogação extensiva de alternativas de

composição no plano dos elementos da arquitetura, em um primeiro nível, e de articulação

entre partes da arquitetura, no segundo. Daí pode-se depreender que o esforço tipológico

de Durand se concentra, não no edifício (ou seja, não na visão de tipo edilício de Pevsner,

1976), mas no método. Essa leitura pode ser reforçada com o uso de palavras do próprio

Durand no Précis:

Combinar diferentes elementos entre eles, e daí formar partes do edifício que, combinadas entre si, formam o todo – este é o caminho a seguir quando se deseja aprender a compor; quando se compõe, o caminho é ao contrário, começando do todo para as partes e daí para os detalhes(DURAND, 2000, p. 127).

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31

A idéia subjacente é de que uma mesma via é seguida em sentidos diferentes, um para o

processo de análise, outro para o de síntese. O processo criativo do arquiteto, propõe

Durand, deve ser iluminado pelo conhecimento das soluções de composição (o catálogo de

soluções pregressas), mas não pressupõe nem uma atitude passiva de incorporação de

formas-tipo adequadas a funções, nem a rigidez de um processo pré-definido.

O trabalho teórico de Durand carrega a marca do novo contexto técnico-científico de seu

tempo. Em muitos aspectos, tanto na definição dos elementos de arquitetura ou teorizando

o uso de tipos arquitetônicos, ele retomou e completou o trabalho inacabado de Boullée e

Ledoux. Mas, segundo Picon (2000), houve um preço a ser pago: desaparecem os aspectos

mais “poéticos” e em seu lugar está um “método”. Pérez Gómez (1983), inclusive, chegou

a chamar Durand de arquiteto “enxuto”, um possível eufemismo para “limitado” ou

“redutor” da complexidade da arquitetura a um plano puramente racional.

Para De Fusco (1990, p. 72), entretanto, Durand “elabora uma tipologia morfológica com

flexibilidade e capacidade de adaptação a demandas e usos funcionais diversos do edifício

singular”, concebendo aí um mecanismo de análise ajustável a qualquer edifício. Dessa

forma, a abordagem tipológica de Durand – embora sua técnica de projetação possa

parecer hoje ingênua ou simplista – aponta significativamente na direção do entendimento

de como o ato arquitetônico de projetar opera com elementos geométricos estruturais,

articulando-os por meio de soluções combinatórias para propor espaços arquitetônicos

complexos (MADRAZO, 1995).

2.6. O tipo na visão de Viollet-le-Duc

Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc foi um dos mais proeminentes teóricos da Arquitetura

no século XIX. Como Quatremère e Durand, Viollet-le-Duc não aceitava o paradigma

vitruviano das ordens naturais como princípio fundamental da Arquitetura. Por outro lado,

como assinala Madrazo (1995), Viollet-le-Duc compartia com outros teóricos de seu

século o sentimento de que os anos 1800 eram anos sem “estilo”, ou seja, sem uma

arquitetura peculiar que o distinguisse, como ocorria com a arquitetura grega, egípcia,

romana ou medieval.

Para Viollet-le-Duc, a palavra estilo significava “em uma obra de arte, a manifestação de

um ideal estabelecido sobre um princípio” (apud MADRAZO, 1995, p. 259). Havia, para

Viollet-le-Duc, leis naturais antecedentes à idéia criativa e, nesse sentido, pode-se assimilar

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32

o tipo de Quatremère ao estilo de Viollet-le-Duc. Ambos os conceitos invocam, segundo

Madrazo, um princípio genérico inerente à natureza que o arquiteto deve imitar (a mimese

indireta de Quatremère).

Mas, para Viollet-le-Duc, esse princípio que constitui a base da genuína criação na

Arquitetura não é necessariamente derivado da natureza. Para Viollet-le-Duc – um

racionalista e, portanto, um seguidor da idéia de que as razões do homem e da natureza são

equivalentes –, a arquitetura precedente que tinha estilo também podia ser objeto de

imitação, desde que o arquiteto não se limitasse a copiar a aparência dos estilos passados

(ou seja, suas formas aparentes), mas sim que buscasse entender os princípios essenciais

inerentes à formação desses estilos (VIOLLET-LE-DUC, 1990).

Em seu trabalho como restaurador, afirma Colquhoun (1996b), Viollet-le-Duc procurava a

essência da arquitetura gótica, reduzindo-a a um conjunto de princípios instrumentais, em

um método de trabalho que, implicitamente, revela uma tentativa de encontrar a base da

intervenção restauradora na idéia escondida dentro do edifício analisado.

Essa idéia, ou “forma oculta”, equivalente do princípio estruturador da forma visível em

Quatremère, estaria condicionada, na visão de Viollet-le-Duc, pela solução estrutural e pela

lógica ditada pelos materiais e técnica construtiva (GUBLER, 1985). Segundo Madrazo

(1995), isso significava um entendimento de que o suporte físico do edifício – a estrutura –

era inseparável do princípio interior que dá unidade à forma, o que inclui também o

desenvolvimento espacial do edifício.

Há, portanto, na teoria de Viollet-le-Duc, uma menção explícita a um trabalho de análise

que precede a elaboração criativa do projeto. Esse trabalho analítico, concretizado no

conhecimento e no estudo da arquitetura precedente, exigia, porém, uma valoração crítica,

um juízo de valor, sobre a qualidade (a existência ou não de estilo) da arquitetura estudada.

2.7. Integração dos conceitos de tipo

Para Lavin (1992), Quatremère abordou cientificamente o entorno sociocultural da

Arquitetura precedente com o objetivo de gerar um modelo operativo de projetar. Para

Picon (2000), Durand enfocou cientificamente o ato de projetar como forma de gerar

projetos adequados e convenientes para diferentes sociedades e usos. Para Madrazo (1995),

Viollet-le-Duc adotou o paradigma científico de seu tempo para defender projetos que

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33

articulassem eficientemente a forma e os fatores de contexto (materiais, técnica, função,

clima).

Ou seja, todos eles pesquisando cientificamente o ato criativo do projeto, enfatizaram as

estreitas relações entre a Arquitetura e seu contexto humano, sociopolítico e tecnológico.

Por outro lado, todos eles construíram teorias e argumentos em que, necessariamente, o

processo de projetação inclui uma fase inicial de análise da arquitetura precedente. Na

visão tipológica de Francescato (1994), a abordagem tipológica também se insinua em todo

o decorrer do processo projetual, segundo algum modelo do processo de projetação que

absorve e operacionaliza o conhecimento tipológico.

Concretamente, os três teóricos analisados orientaram seus estudos pela busca da essência

da Arquitetura. Para Quatremére, essa essência era o tipo, termo que usou explicitamente, e

que definia como uma lei geratriz interna e abstrata com poder de estruturar o trabalho do

arquiteto. Para Durand, a essência estava nas figuras geométricas básicas que sintetizavam

o edifício e que serviam como elementos fundamentais para a atuação criativa do arquiteto.

Para Viollet-le-Duc, que chamou essa essência de estilo, ela era um princípio unificador da

estrutura e da forma arquitetônica, decorrente do material e da técnica construtiva.

Essas diferentes visões acerca do que constitui a essência da arquitetura não bastam para

caracterizar as posições de Quatremère, Durand e Viollet-le-Duc como conflitivas. Na

verdade, as leituras de Quatremère e Durand foram freqüentemente consideradas como em

conflito (STROHER, 2001), embora Oeschlin (1985) defende a sua utilização combinada

como forma de aprimorar teoricamente a análise e a projetação arquitetônica.

Com relação à concepção tipológica de Viollet-le-Duc, considera-se em geral que ela é

bastante próxima da de Quatremère (MADRAZO, 1995), muito embora a “idéia

estruturadora” deste seja abstrata e invisível, enquanto que a daquele é mais concreta,

consistindo de estrutura e tecnologia construtiva.

De outra perspectiva, Durand enfatiza a geometria da planta em sua abordagem do

processo projetual. Quatremère põe a ênfase no conceito subjacente à estruturação do

objeto arquitetônico, enquanto que Viollet-le-Duc ressalta a decisão em torno dos materiais

e técnicas construtivas do edifício, embora a situe no plano da concepção do projeto.

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34

Em verdade, pode-se entender que essas três visões são complementares. Não há um claro

conflito entre elas e sua utilização simultânea pode fornecer uma compreensão mais

completa e integrada do edifício, de uma perspectiva mais contemporânea. Uma vez

definido um contexto, e considerada uma função, a integração destas visões permite

compreender, não só cada um dos elementos essenciais considerados pelos autores, mas

também as suas inter-relações e as suas relações com o contexto.

Por outro lado, essa solução responde de forma ampliada às afirmações de Francescato

(1994), para quem a vantagem principal do conceito de tipo e do pensamento tipológico,

seja na análise, seja na projetação de arquitetura, é a possibilidade de explorar os aspectos

relacionais forma-função. Nas suas próprias palavras:

Tipologias relacionais [...] são menos diretas. Relacional conota a idéia de que tipo condensa o relacionamento entre forma arquitetônica e utilidade. Essa conexão distingue a arquitetura e firma-se no núcleo do empreendimento arquitetônico, mas tem sido difícil identificar e descrever como o conceito de tipo incorpora essa conexão (FRANCESCATO, 1994, p. 255).

Pode ser conveniente também lembrar que Argan (2001, p. 69) enunciou que o seu

conceito de tipo e o conceito de tectônica podiam se aproximar mutuamente, enriquecendo

a tipologia até o ponto de ela representar o “fundamento ‘nocional’ sobre o qual se funda

necessariamente a elaboração formal do artista”.

O que se propõe aqui é considerar que o inter-relacionamento entre forma-base, função,

geometria constituinte e tectônica adquire para o instrumento tipológico uma característica

relacional que enriquece o processo analítico, bem como o de projetação orientado pela

abordagem tipológica.

Assim sendo, julga-se que o procedimento analítico que resulta da aplicação deste

instrumento tipológico composto tem consistência interna, é satisfatoriamente sustentado

pela literatura analisada e apresenta exeqüibilidade operacional com respeito tanto à

análise evolutiva da tipologia arquitetônica hospitalar no Ocidente (que se realiza com base

em informação secundária) quanto ao estudo da evolução tipológica do edifício hospitalar

em Natal, que trabalha com informação primária coletada em campo.

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35

2.8. Descrição dos instrumentos de análise

A opção metodológica desse trabalho se insere na linha de argumentação reconciliadora

das três abordagens já mencionadas do tipo (Quatremère, Durand, Viollet-le-Duc) e de

seus papéis no processo analítico em Arquitetura.

Nesta seção, explicita-se o conjunto de instrumentos que serão adotados na análise que se

procederá adiante. Esses instrumentos se derivam dos conceitos de tipo estudados, sendo

definidos de forma a que adquiram um caráter operativo, visando a seu uso posterior.

Conforme se pode deduzir das seções antecedentes deste capítulo, são os seguintes os

instrumentos a serem adotados:

(a) princípio organizador do espaço

Decorrente do conceito de tipo presente na obra de Quatremère de Quincy, o princípio

organizador do espaço é um conjunto de regras que regem a organização do espaço, na

forma de uma convenção abstrata. O princípio organizador do espaço não deve ser

confundido com (ou tomado por) um esquema gráfico, seja de planta, seja volumétrico. Ele

se exprime por palavras, não por croquis ou desenhos.

Sendo um princípio estruturador do espaço, seu enunciado define como as atividades de

um edifício vão se articular em um todo e se relacionar umas com as outras. O completo

entendimento de como essa regra foi apropriada em um projeto específico requer o

conhecimento do repertório da arquitetura e do contexto à época de elaboração e

materialização do projeto.

Logo, esse entendimento só pode se realizar verificando como ele se concretizou

posteriormente em um dado edifício, ou seja, de como um princípio abstrato revelou-se

materialmente em uma específica, dentre tantas possíveis, solução de planta, volumetria,

sistemas estruturais e tecnologia construtiva.

Neste trabalho, a aplicação do instrumento se deu, a partir do arranjo espacial de

atividades, inferindo o princípio subjacente com que foi estruturado aquele arranjo, por

meio de observação de elementos caracterizadores como:

natureza das atividades (religiosas, terapêuticas, de apoio, cuidados aos pacientes,

técnico-científicas etc.);

Page 44: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

36

nível de complexidade, observando a diversidade de áreas e arranjos para executar

cada atividade (quantidade de áreas e/ou compartimentos necessários para realizar

cada atividade);

relação de proximidade entre atividades (perto x longe, contínua x descontínua, acima

x abaixo etc.);

natureza da conexão entre atividades (direta ou indireta, de primeiro ou de segundo

nível hierárquico, condicionada ou independente, em série ou em paralelo etc.);

natureza da formação de grupos espaciais de atividades (inter-relações funcionais,

afinidade de uso, estética, ambiental etc.);

modo de distribuição dos grupos ou das atividades (funcional – processo racional,

inter-relações funcionais, visão sistêmica, zoneamento; estética – composição,

hierarquia, simetria, significado);

tratamento dos fluxos externos e internos à edificação (disciplinamento, controle,

sequenciamento, convergência, divergência e separação de fluxos);

orientação solar (insolação, ventilação, luminosidade).

(b) esquema geométrico da planta

Originária da concepção de tipo presente na obra de Durand, a planta é a concretização

gráfica do princípio organizador do espaço. Sua descrição geométrica esquemática,

portanto, se dá na forma de esquemas gráficos e de comentários textuais, os quais

permitem tentar inferir por que razão, em um caso específico de um projeto de edifício,

adotou-se uma solução geométrica (e não uma outra) para dar guarida a um conjunto de

atividades regidas por um princípio de organização do espaço. Tendo em vista o fato de

que a planta materializa as pretensões que o arquiteto recolheu no princípio organizador do

espaço, faz-se necessário que as observações nesse instrumento estejam articuladas com

aquelas feitas com respeito ao instrumento anterior. Salientar-se-ão aspectos referidos a:

síntese da planta em uma(s) figura(s) geométrica(s) básica(s);

dimensões relativas na direção dos eixos, tanto na horizontal quanto na vertical;

eixos principais e secundários de desenvolvimento;

modulação em planta e na vertical;

forma de relacionamento entre figuras geométricas básicas;

como se posicionam os compartimentos entre si;

restrições que a forma do terreno induz na forma da planta;

Page 45: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

37

natureza dos volumes resultantes;

como se relacionam esses volumes.

Obtêm-se as figuras geométricas básicas representantes da planta, bem como o modo de

composição dessas formas para a definição progressiva de pavimentos do edifício e do

todo edificado, ressaltando-se a solução volumétrica final. Leva-se em conta o contexto

social e político, bem como outros condicionantes, do empreendimento e da planta, que

sejam inerentes à função do edifício.

(c) tecnologia construtiva

Devida à visão de tipo propiciada por Viollet-le-Duc, a tecnologia construtiva engloba

sistema estrutural, materiais e técnica construtiva. Constitui um instrumento que analisa

como a idéia estruturadora do espaço (de Quatremère), graficamente concretizada na planta

(de Durand), se converte em espaço edificado concreto. Naturalmente, sua definição é

dependente do contexto histórico, diretamente – dados os condicionantes tecnológicos e

econômicos das decisões neste instrumento – ou indiretamente, em razão de fatos e

limitações econômicas, culturais e sociais. Por outro lado, vincula-se fortemente à eleição

da planta, de modo que as considerações aqui feitas devem forçosamente articular-se com

as que se fizerem com respeito a esse outro instrumento de análise. Inclusive, soma-se à

planta para influir na volumetria predial.

Observar-se-ão, nos edifícios concretamente construídos a solução estrutural e construtiva,

sua adequação e ajustamento aos espaços projetados, em termos geométricos e

volumétricos, tecnológicos e simbólicos. Por fim, há que ressaltar a necessidade de uma

articulação interna no que concerne aos comentários feitos nos sub-instrumentos (estrutura,

materiais, técnica de construção), uma vez que as decisões de projeto a esse respeito são

necessariamente interdependentes.

Assim definido, esse conjunto de instrumentos será aplicado neste trabalho em duas

instâncias distintas. Em primeiro lugar, serão utilizados para analisar a evolução dos

edifícios hospitalares no mundo ocidental. Nessa instância, o material objeto da aplicação

provém de informação secundária, na forma de informação bibliográfica, documental,

fotográfica, iconográfica ou literária a respeito de edifícios hospitalares representativos das

mais diversas épocas. É evidente que, nessa primeira instância de aplicação, haverá de

simplificar o modo de aplicação dos instrumentos, uma vez que haverá casos de

Page 46: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

38

informações faltantes e, ao mesmo tempo, casos em que a informação obtida só

parcialmente será adequada à análise. Os resultados dessa aplicação estão apresentados no

capítulo seguinte, o terceiro do documento.

Em segundo lugar, o instrumental de análise será aplicado a edifícios hospitalares de Natal,

Rio Grande do Norte, com vistas a analisar a evolução tipológica por eles apresentada vis-

à-vis a evolução tipológica da arquitetura hospitalar no mundo ocidental. Nessa instância, a

aplicação dos instrumentos se dará diretamente sobre projetos de arquitetura e sobre

edifícios construídos, nas condições de método que, junto com os resultados, são

apresentadas no capítulo 5 deste documento.

Cabe, nesse momento, relacionar esses instrumentos e esse detalhamento operacional às

perguntas formuladas na seção primeira do capítulo 1 deste trabalho. Com efeito, se a

análise tipológica é um instrumento metodológico capaz de endereçar respostas àquelas

perguntas, como ali se supôs, então não haverá dificuldades em perceber como a aplicação

dos instrumentos analíticos acima especificados pode responder às perguntas colocadas

inicialmente a este trabalho.

A primeira daquelas perguntas indaga sobre o porque de uma dada configuração geral do

edifício se considerar mais adequada para atender as necessidades em um dado momento e

em um dado contexto. Ora, a configuração geral é determinada pela planta organizada com

base na lei geratriz da forma e efetivamente materializada pela incidência do sistema

estrutural e construtivo. Mas tudo isso está relacionado, conforme se apontou na

especificação acima, a fatores determinantes de contexto.

As demais perguntas ali colocadas podem ser respondidas com a afirmação de que, na

medida em que configuração geral e contexto estão vinculados, mudanças de contexto

produzirão, necessariamente, alteração nas configurações gerais. Desse modo, transladar

experiências tipológicas de um a outro contexto, sem as necessárias adaptações, não é uma

alternativa adequada. Da mesma forma, se o arquiteto for capaz de intuir as mudanças

futuras no contexto, poderá antecipar, ao menos na forma de projetos mais flexíveis e

adaptáveis, as configurações gerais que mais se adequarão às necessidades por vir.

Page 47: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Capítulo 3

Evolução das t ipologias arqui te tônicas

do edi f íc io hospi ta lar

Page 48: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

40

3. Evolução das tipologias arquitetônicas do edifício hospitalar

Neste capítulo, tem-se por finalidade estabelecer, com base no instrumental de análise

definido no capítulo anterior, uma compreensão de como as tipologias arquitetônicas do

edifício hospitalar se sucederam ao longo do tempo, sobre o pano de fundo de

transformações institucionais, culturais, sociais, políticas e do desenvolvimento histórico

da Medicina e da tecnologia médica. A análise está delimitada por um recorte geográfico-

temporal que circunscreve as tipologias estudadas à arquitetura hospitalar ocidental, da

Idade Média até a contemporaneidade.

Justifica-se ajustar o foco à arquitetura hospitalar do Ocidente pelo fato de que as hipóteses

e questões-chave deste trabalho enfatizam o tema da assimilação, por uma arquitetura

local, da evolução tipológica da arquitetura hospitalar em plano mundial. Como a

assimilação supõe laços de intercâmbio ou influência cultural e profissional, e na medida

em que os laços entre a arquitetura local estudada e o Oriente são pouco significativos,

excluiu-se do escopo do trabalho a arquitetura hospitalar oriental.

O recorte temporal adotado estabeleceu a Idade Média como ponto de partida para o

estudo. Tal decisão, em primeiro lugar, se ancora no fato de que é na Idade Média que vai

se firmar, no Ocidente, o conceito de hospital enquanto espaço de atenção ao enfermo ou,

na definição aqui adotada, unidade de saúde com atendimento em regime de internação.

Por outra parte, desde as primeiras observações empíricas feitas neste trabalho, pôde-se

perceber que a arquitetura hospitalar em Natal registra exemplares com definições

tipológicas que remontam à Idade Média. Assim, seja para apreender a atuação dos fatores

de transformação tipológica do edifício hospitalar, seja para realizar a análise comparativa

das evoluções tipológicas estudadas, julgou-se metodologicamente necessário adotar o

hospital medieval como marco inicial do processo.

O trabalho apresentado neste capítulo tem por base uma pesquisa bibliográfico-

documental. Nela, buscou-se caracterizar o contexto em que se projetaram e construíram

hospitais e as séries tipológicas de edifícios que mais significativamente marcaram os

períodos estudados. Foi seguida uma periodização corrente em estudos históricos de

distintas naturezas: o período medieval, a Renascença, o Iluminismo, a Era Moderna e o

período contemporâneo da pós-modernidade.

Page 49: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

41

Cabe ressaltar que muitas das referências bibliográficas utilizadas já apontam resultados de

estudos anteriores no campo da tipologia do edifício hospitalar, até mesmo quando tal

objetivo não é diretamente perseguido. Julgou-se consistente levar em conta essas

considerações tipológicas presentes na literatura consultada, adotando-as inicialmente

como sugestões a serem confrontadas e eventualmente adaptadas ao instrumental analítico

que se elegeu como marco referencial do trabalho.

Assim, o procedimento metodológico seguido foi o de apoiar-se em algumas dessas obras

de referência (C. H. BOEHRINGER SOHN, 198-; THOMPSON; GOLDIN, 1975;

IMBERT, 1982; JAMES; TATTON-BROWN, 1986; GOLDIN, 1994; VERDERBER;

FINE, 2000) para elaborar uma interpretação preliminar da evolução das tipologias

arquitetônicas hospitalares no Ocidente. Posteriormente, essa interpretação foi ajustada em

função de análises específicas feitas de hospitais representativos de cada período adotado,

conforme apresentados – por meio de descrições literárias, esquemas gráficos, gravuras,

fotografias etc. – nas fontes documentais utilizadas.

A estruturação deste capítulo foi definida pela periodização adotada no estudo

bibliográfico. Assim, a primeira seção concentra-se no hospital do período medieval. As

demais enfocam, sucessivamente: o hospital renascentista; o iluminista; o modernista; e,

finalmente, o hospital do período pós-modernista. Uma seção final apresenta um quadro-

síntese da evolução tipológica estudada, que condensa os resultados obtidos na análise das

transformações sofridas pelo edifício hospitalar ao longo de todo o período analisado.

3.1. O hospital no período medieval

Nos dez séculos que compõem a Idade Média, a evolução do hospital esteve fortemente

vinculada à Igreja Católica. Com a expansão do Cristianismo, a partir de fins do século IV,

a prestação de ajuda material e espiritual aos necessitados veio a se constituir no principal

objetivo das instituições religiosas, principalmente os mosteiros – a mais importante

representação arquitetônica do poder do Catolicismo (GOMBRICH, 1979) –, e de seus

membros.

Ante aqueles necessitados que não estavam em condições de prover seu próprio sustento, a

atitude de caridade cristã estava organizada em sete tarefas (THOMPSON; GOLDIN,

1975): dar de comer, de beber e de vestir; falar com estranhos; oferecer consolo espiritual,

cuidar os enfermos e enterrar os mortos. Aos desamparados, se somavam peregrinos e

Page 50: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

42

viajantes (ROSEN, 1994): estes, cansados, carentes de alimentação e repouso; aqueles,

depauperados pelas condições duras dos caminhos e das dietas, requerendo cuidados e

descanso. No princípio, a instituição hospitalar era, portanto, uma espécie de albergue, que

oferecia proteção, guarida, cuidados e, sobretudo, consolo espiritual aos necessitados. Esse

caráter inicial de albergue e esse vínculo estreito com a religião viriam a sedimentar,

segundo Imbert (1982), as bases das tipologias arquitetônicas hospitalares ao longo de toda

a Era Medieval.

Três tipos – e aqui se usa a palavra na acepção firmada no capítulo anterior – podem ser

encontrados na arquitetura hospitalar ocidental dos séculos V a XV (THOMPSON;

GOLDIN, 1975; IMBERT, 1982; CARLIN, 1989; BINET, 1996). O primeiro deles, ao

qual se denomina neste trabalho de claustral, corresponde à Alta Idade Média, sendo

contemporâneo do feudalismo. O segundo, aqui denominado basilical, surge e se consolida

a partir do século XI, na Baixa Idade Média, período em que a expansão territorial, o

surgimento de novas e o crescimento de antigas cidades, bem como o florescimento do

comércio, caracterizam o desenvolvimento do capitalismo mercantil (C. H.

BOEHRINGER SOHN, 198-). Por fim, tem-se o tipo colônia, cuja presença é notada desde

o século IV e que, tendo se firmado com a edificação de leprosários, foi posteriormente

usado em outras situações, transcendendo a arquitetura hospitalar e a Idade Média.

Os três tipos são examinados nas subseções seguintes, adotando-se a estrutura de

abordagem orientada pelo conceito de tipologia desenvolvido no Capítulo 2. Nesse sentido,

ressaltam-se para cada um deles: o contexto interveniente na formação do tipo, a idéia

subjacente à organização dos espaços, as definições de planta e volumetria, bem como as

soluções tectônicas empregadas, mais atentamente as referentes à estrutura.

3.1.1. O tipo claustral

Sob a proteção do Cristianismo e da Igreja, o hospital se converteu em uma instituição

firme. Era instituído, edificado e administrado pelas autoridades eclesiásticas, sustentando-

se a sua construção e manutenção por meio de doações financeiras espontâneas e de

recursos deixados em testamento por leigos (THOMPSON; GOLDIN, 1975). Esses

legados não eram totalmente desinteressados, pois a Igreja da época filiava parte desses

recursos à absolvição dos pecados ou aos pagamentos por graças alcançadas.

Page 51: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

43

Assim é que, na Alta Idade Média, em volta das catedrais nas instituições monásticas,

foram erguidos edifícios para abrigar atividades que se constituíam como próprias dos

hospitais (ROSEN, 1994). Em geral, os mosteiros se localizavam fora das muralhas das

cidades medievais, nos cruzamentos das estradas (LABASSE, 1982). Neles é que se

estabeleceu mais significativamente a atividade hospitalar medieval.

O Monastério Beneditino de St.

Gall, na Suíça, é considerada como

o mais representativo dos edifícios

hospitalares medievais (C. H.

BOEHRINGER SOHN, 198-;

IMBERT, 1982). Alguns desenhos

datados do ano de 820, e

encontrados por pesquisadores em

trabalhos de campo, serviram como

base para reconstituição do

conjunto edificado do monastério

em um modelo tridimensional (ver

FIG.1). Ao redor da catedral, foram

erguidos outros quarenta edifícios

necessários para o desenvolvimento

das atividades da vida dos monges,

incluindo aquelas de albergar os

hóspedes e de cuidar dos enfermos

(ver FIG.2). Thompson e Goldin

(1975) depõem que a maioria

desses edifícios tinha sistema

construtivo rudimentar, em

madeira, bastante comum na época

para a construção de estábulos e

celeiros. Do total, somente nove

edifícios utilizavam arcadas e

abóbadas – o sistema construtivo

mais desenvolvido da época –, cujo

Figura 1 – Modelo tridimensional do Monastério de St. Gall, com destaque para a enfermaria. Fonte: http://vandyck.anu.edu.au

Figura 2 – Planta geral do Monastério de St. Gall.

A

B

C

Legenda: (A) Igreja; (B) Clausura dos monges; (C) Enfermarias. Fonte: htpp://lib.utexas.edu

Page 52: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

44

principal material de construção era a pedra. Entre os nove, provavelmente os que gozavam

de maior prestigio no mundo religioso do monastério, estavam a Catedral – uma basílica

que se destacava do conjunto por suas dimensões – e, lançando mão do tipo claustral, a

clausura dos monges e a enfermaria, designação do edifício destinado aos cuidados dos

enfermos (IMBERT, 1982).

O tipo claustral era uma derivação do tipo átrio, utilizado na arquitetura romana residencial

clássica – um pátio interno descoberto para onde se voltavam as residências com suas

aberturas como janelas e portas. No clima mediterrâneo, funcionava como uma espécie de

proteção à hostilidade do clima seco. Nesse tipo, as relações entre os ambientes e entre as

edificações são estabelecidas a partir de um espaço interno comum. O vínculo com o

espaço interno é mais valorizado do que com o externo. Essa disposição favorece tanto a

integração das atividades, quanto as relações sociais interiores ao grupo de usuários, ao

mesmo tempo em que propicia um distanciamento com respeito ao ambiente externo e

proteção das hostilidades climáticas.

O esquema da clausura se diferenciava do átrio romano pelo acréscimo de uma circulação

arqueada em redor do pátio, por onde os monges caminhavam fazendo suas orações e

através do qual se faziam as comunicações dos aposentos dos monges com a capela e com

o refeitório. Era também através do pátio que se dava a comunicação com o exterior do

edifício, de modo que o pátio funcionava também como uma espécie de ante-sala. Para o

pátio, em cujo centro se destacava a fonte em meio aos jardins internos, se voltavam as

aberturas dos ambientes, pelas quais eles recebiam iluminação e ventilação. Em segundo

grau de importância, as instalações para cozinha e banhos se situavam no exterior do

edifício e se comunicavam aos aposentos através de circulações cobertas.

Page 53: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

45

Figura 3 – Planta da enfermaria do Monastério de St. Gall. Legenda: (1) Pátio interno; (2) Claustro; (3) Enfermarias; (4) Latrinas; (5) Refeitório; (6) Capela.

O edifício da enfermaria de St. Gall era uma

reprodução do esquema da clausura (ver FIG. 3). Ao

redor de um pátio interno retangular, encontravam-se

quatro aposentos destinados à estadia dos enfermos, a

capela e um refeitório, que se ligavam uns aos outros

pelo interior do edifício, através de uma circulação com

arcadas. Esta organização dos espaços parece bem

adequada à vida de isolamento e meditação dos

monges. No entanto, não havia nenhuma relação direta

com as atividades de cuidados dos enfermos.Obs: adaptado de htpp://lib.utexas.edu

O perímetro retangular do pátio estava estruturado em colunas (ou pares de colunas)

igualmente espaçadas, erigidas em pedra, as quais apoiavam arcos e abóbadas

semicirculares que cobriam o claustro, com coberta em água única. As paredes em pedra

dos compartimentos garantiam a estrutura para a cobertura em duas águas e eventuais tetos

abobados. Essa estrutura dá forma a uma volumetria assimilada a um prisma de base

retangular – próxima do quadrado –, vazado no centro pelo pátio, com altura da ordem de

metade das dimensões da planta, destacando-se (ver FIG. 1) a capela por exibir linha de

cumeeira acima das outras alas, embora bem abaixo da altura da igreja. A simplicidade dos

materiais e da solução estrutural condiz com a natureza religiosa de recolhimento, inerente

ao tipo.

A adoção da tipologia claustral para as enfermarias nos monastérios se deve provavelmente

a dois motivos. O primeiro se liga ao fato de que cuidar dos enfermos ocupava uma

posição elevada na hierarquia das regras da vida monacal da época (BINET, 1996;

THOMPSON; GOLDIN, 1975): logo, tratava-se de uma atividade prestigiada e o edifício

em que se realizava deveria adotar um tipo mais sofisticado que aquele tipo vernacular

mais rudimentar. O segundo motivo deve derivar do fato de que o isolamento

proporcionado pelo tipo claustral era adequado à vida de orações, cânticos, missas e

comunhões à qual se obrigavam os enfermos ali internados (C. H. BOEHRINGER SOHN,

198-).

Page 54: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

46

3.1.2. O tipo basilical

A partir do Século XII, quando as cruzadas e a abertura de novas rotas de comércio

contribuíram para o surgimento e enriquecimento das cidades, e para o florescimento da

classe dos mercadores, a Igreja passou a contar com novas fontes de doações muito mais

vultosas (GOMBRICH, 1979). A nobreza de origem feudal, reis e príncipes, mas também

os novos ricos comerciantes, aportavam recursos para a construção de novos hospitais,

motivados pela compra de indultos e indulgências (THOMPSON; GOLDIN, 1975).

Por outro lado, o crescimento das cidades ocasionou o aumento da demanda por leitos.

Com mais recursos, sob pressão pelo aumento de leitos, as entidades religiosas passaram a

expandir, adequar, e construir hospitais. Essa época de crescimento econômico se refletiu,

sobretudo, na arquitetura religiosa, o que se demonstra pela construção de monumentais

catedrais e monastérios, os verdadeiros representantes da arquitetura gótica (GOMBRICH,

1979).

Do ponto de vista da atenção ao enfermo pouca coisa mudara com respeito ao período da

Alta Idade Média: o aspecto mais importante dos cuidados aos enfermos ainda era o

consolo espiritual oferecido pela assistência dos monges e obtido nos rituais religiosos; os

enfermos eram desconectados da vida em sociedade e submetidos a um especial

regulamento religioso (THOMPSON; GOLDIN, 1975; ROSEN, 1994).

Entretanto, mesmo que as facilidades hospitalares continuassem sendo disponibilizadas nos

mosteiros, o tipo claustral não mais se ajustava às novas necessidades da sociedade. De

fato, o retângulo fechado não satisfazia os novos requerimentos de expansão dos espaços

das enfermarias para colocação de mais leitos. Além disso, a grandiosidade institucional da

Igreja Católica na Baixa Idade Média havia de ser comunicada cotidianamente aos que a

ela se arrimavam em busca de guarida e apoio espiritual (GOMBRICH, 1979). Um tipo

adequado à suntuosidade e à grandiosidade parecia, então, mais adaptado ao novo contexto

do edifício hospitalar. E a solução buscada se originava em um tipo clássico da construção

religiosa: a basílica.

A idéia central que ancora a tipologia arquitetônica basilical é a de acolher, com um

sentido de coletividade (C. H. BOEHRINGER SOHN, 198-), todas as atividades

indispensáveis à vida dos enfermos sob o mesmo teto: alimentação, repouso, banhos e,

Page 55: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

47

sobretudo, a ritualística religiosa. Com esse requerimento básico, e visando tornar mais

toleráveis as condições de vida, faz-se necessário um ambiente de grandes dimensões, não

só em planta, mas também em termos de pé direito, sem quaisquer divisões entre os leitos.

O representante mais significativo do hospital de tipo basilical é o que integrava o

Monastério de Cluny, na França. Desenhos encontrados e escavações propiciaram a

reconstituição do conjunto, inclusive das duas enfermarias, destacando-se a maior delas,

edificada ao redor de 1135 (THOMPSON; GOLDIN, 1975; C. H. BOEHRINGER SOHN,

198-). Tinha ela planta retangular, semelhante a de uma basílica de três naves (ver FIG. 4).

As naves laterais dessa enfermaria eram organizadas em dois pisos, de forma que os leitos

de internação se situavam em um mezanino, uns ao lado dos outros, perpendicularmente às

paredes laterais, sem divisões entre eles (CARLIN, 1989; THOMPSON; GOLDIN, 1975).

Os banhos e latrinas estavam no nível desse mezanino, em um anexo adjunto ao edifício

principal e a eles se acedia por meio de uma circulação. A capela estava situada em uma

extremidade, e podia ser vista de todos os leitos; na outra extremidade, a cozinha. Ou seja,

todas as atividades necessárias à vida dos enfermos estavam debaixo do mesmo teto. A

reconstituição feita por Kenneth Conant (THOMPSON; GOLDIN, 1975) não chegou a

definir qual seria o uso do pavimento inferior ao mezanino, mas levantou a possibilidade

de ser usado para atendimento ambulatorial e triagem de enfermos.

BA

Figura 4 – (A) Modelo tridimensional do Monastério de Cluny, com destaque para o edifício da grande enfermaria; (B) Planta esquemática da grande enfermaria do Cluny. Fonte: Thompson e Goldin, 1975

A magnificência do edifício requeria uma solução estrutural arrojada. Os doze pilares do

perímetro da nave central eram em pedra e ascendiam a cerca de 20 metros, com arcadas

ao nível do mezanino e na parte superior. O teto da nave central em abóbada semicircular,

em pedra, se elevava a 26,5 metros do nível do piso (C. H. BOEHRINGER SOHN, 198-).

Page 56: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

48

As paredes laterais completavam a estrutura e eram dotadas de janelas em dois níveis: no

mais baixo, para ventilação ao nível dos leitos; no outro, para iluminação natural.

No extremo da nave central, a capela abobada recebia iluminação zenital, o que,

contrastado com a parca iluminação do interior, ampliava a sensação de grandeza religiosa

do edifício. A volumetria do edifício, com cobertura em duas águas, é assimilável do

exterior a um prisma de seção trapezoidal, discorrendo horizontalmente, em que a altura se

destaca com respeito à largura.

3.1.3. O tipo colônia

Vigente ao longo de toda a Idade Média, a estrutura hospitalar de tipo colônia vincula-se à

disseminação da lepra pelo Ocidente, a partir do século V, e à ameaça cotidiana que essa

enfermidade fez pairar sobre a sociedade medieval (MARKHAM, 1997). Para Rosen

(1994: p. 59), a lepra “representou a grande praga, a sombra sobre a vida diária da

humanidade medieval”, mais que qualquer outra doença ou peste.

Não sendo conhecida cura ou tratamento para a doença, e aceita a idéia de contágio por

contacto social, a indicação de isolamento dos leprosos foi a solução adotada na Europa

desde os primeiros registros significativos de sua presença. Na medida em que esse

fenômeno coincide historicamente com o crescimento do Cristianismo e com a difusão

entre os católicos das sete tarefas da caridade cristã, já mencionadas anteriormente, não é

de se estranhar que, também com respeito aos leprosos, a Igreja Católica tenha assumido

papel primordial no atendimento e guarida dos enfermos. E, de modo generalizado, o tipo

colônia foi o que serviu aos hospitais para leprosos, e de forma tão marcante que vigoraria

com essa função até meados do século XX.

O tipo colônia tem origens nas comunidades de cristãos ascetas que, antes da oficialização

do Cristianismo como religião de Estado – por Constantino, em 313 –, se rebelavam contra

a licenciosidade da vida na Roma pagã (THOMPSON; GOLDIN, 1975). Afastando-se do

convívio social, esses grupos passavam a viver como eremitas em aldeias nas florestas:

choupanas isoladas ou grupadas em blocos se distribuíam em torno a uma capela e,

eventualmente, a outro espaço de atividade comunitária, como cozinhas ou refeitórios.

C. H. Boehringer Sohn (198-) assinala como essa forma de pequena organização

comunitária rural foi adotada pelos leprosos e se designou à época com a expressão latina

Page 57: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

49

“leprosi in campo”, tendo posteriormente evoluído, sob financiamento e tutela de

instituições da Igreja, para construções mais sólidas, embora mantendo a estruturação

espacial do conjunto. Destaque-se que, diferentemente dos tipos claustral e basilical,

formados sem a interveniência de razões de ordem médica e sim, apenas, religiosa, a

apropriação do tipo colônia para a arquitetura hospitalar medieval esteve diretamente

relacionada ao fato de que os enfermos de lepra deveriam ser isolados das pessoas sãs

(ROSEN, 1994). Assim, a colônia de leprosos deveria resumir as facilidades da vida das

cidades, instando os internos a resolverem, parcamente, suas necessidades no espaço da

instituição.

É certo que motivações religiosas influíram na estruturação e conformação dos espaços

desses hospitais-colônia, mas também é certo que há motivações práticas no fato de que os

leprosários se estabelecessem em áreas que dispusessem de fontes de água – para os

banhos, único procedimento terapêutico então adotado –, fossem atendidas por estrada,

seja para facilitar o acesso de novos internos, seja para possibilitar a coleta de esmolas dos

passantes (LABASSE, 1982; C. H. BOEHRINGER SOHN, 198-). O mesmo se pode dizer

do fato de que o isolamento fosse garantido por um muro de contorno e um ou dois portões

de acesso, controlados pela administração do leprosário (CARLIN, 1989; THOMPSON;

GOLDIN, 1975).

Assim, o tipo colônia se apresenta com uma idéia central que se pode resumir na

disponibilização, em um espaço fisicamente segregado, de condições de vida comunal, em

contato direto com a natureza – especialmente as fontes de água –, ao grupo de internos do

hospital. A organização interior do espaço, normalmente limitado por um muro construído

segundo um retângulo ou uma elipse, priorizava a liberação da área central, de modo que

as celas individuais ou as casas isoladas ocupavam os espaços mais exteriores

(THOMPSON; GOLDIN, 1975). No centro, ou num lado do perímetro não ocupado pelas

acomodações dos enfermos, erguia-se a capela ou igreja, ladeada ou confrontando com

galpões de atividades comunitárias e os aposentos de monges ou freiras.

A individualização dos aposentos, mesmo quando se tratasse de celas contíguas, permitia a

manutenção eventual da vida em família ou em pequenos grupos. Uma capela privativa do

leprosário, um cemitério, um espaço de administração e alguma outra construção para

abrigar atividades comuns – cozinha e refeitório, p.ex. – são também componentes da

Page 58: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

50

definição tipológica, que se completa com a modesta tecnologia de edificação das casas

(inicialmente de madeira) em face de uma presença magnificente da igreja (em pedra).

Na FIG. 5, exibe-se um exemplo de conjunto

hospitalar do tipo colônia: a “Beguinage” de

Amsterdam, fundada no século XIII como

instituição de atendimento a enfermos,

amparada pela Igreja Católica. É possível

observar a prevalência do conceito espacial

de agrupamento de unidades – no exemplo,

casas contíguas – em torno da capela e do

bloco de atividades comuns. Na época de

construção, a Beguinage se situava no

“waterfront”, hoje já avançado pelas obras de

Figura 5 – Gravura da Beguinage de Amsterdam. Fonte: http://www.begijnhofamsterdam.nl

contenção hidráulica por barragens e aterros, tecnologia tão usada no desenvolvimento

territorial dos Países Baixos. O cemitério era interior à capela e o único acesso ao interior

do pátio também se dava pelo portão que a ela se dirigia.

É importante observar que o tipo colônia não teve sua utilização interrompida após o

Período Medieval. De um lado, a persistência da lepra como enfermidade preocupante em

várias partes do mundo, de outro, apropriações do tipo para outras funções (p.ex.: asilos,

prisões), puderam em conjunto manter a vigência desse tipo até o século XX.

3.2. O hospital renascentista

Depois de muitos séculos na Idade Média em que a Igreja hegemonizou a assistência

hospitalar, no Renascimento, ela deixaria de ser a principal entidade de assistência aos

pobres e enfermos. Segundo Binet (1996), é conseqüência direta do surgimento de outras

forças e organizações sociais o fato de que o hospital tenha começado a perder o vínculo de

exclusividade que lhe relacionava a monastérios e ordens religiosas.

Com a emergência, a partir do século XV, de uma burguesia laica de origem mercantil,

com presença política e influência social, a responsabilidade de construir hospitais –

outrora assumida totalmente pela Igreja – foi também assimilada por nobres e ricos

cidadãos. Em face do crescimento populacional e econômico das cidades, afirma Labasse

Page 59: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

51

(1982), os novos hospitais passaram a ter uma implantação mais urbana e a se descolarem,

também no sentido físico, dos monastérios e das instituições religiosas.

As motivações religiosas iam, portanto, perdendo força ante as motivações corporativas.

Gombrich (1979) define as corporações como organizações criadas por artesãos e outras

categorias de trabalhadores com a finalidade de ampliar seus direitos e defender seu

mercado de trabalho. Eram organizações ricas, que possuíam voz e voto junto aos

governos locais e aos cidadãos, e que não só faziam proposições de atuação, como se

esforçavam por pô-las em prática, executando diretamente atividades de seu interesse. Se,

na época medieval, o serviço de atendimento aos enfermos e o aporte de recursos

financeiros para manter ou construir hospitais era feito em nome da salvação, no período

renascentista, é o caráter cívico do serviço à sociedade que, segundo Thompson e Goldin

(1975), vai mover a disposição de cidadãos para assumir o financiamento e garantir o

funcionamento dos hospitais. Assim, como sugere Rosen (1994), o que era tido no hospital

medieval como obrigação religiosa, foi pouco a pouco se convertendo em um dever cívico

de assistência aos membros desvalidos da sociedade.

Nesse contexto, Labasse (1982) e Imbert (1982) detectam o surgimento do hospital civil –

ou seja, da instituição hospitalar como entidade civil – e observam que, progressivamente,

a administração dos hospitais foi sendo assumida por instituições municipais que, para

assegurar a manutenção dos edifícios e dos serviços, contavam com doações das

comunidades (C. H. BOEHRINGER SOHN, 198-). Essas mudanças aconteceram de forma

gradual e, durante o período que vai do século XV ao XVIII, duas tipologias passariam a

marcar a arquitetura hospitalar.

O primeiro tipo, denominado aqui enfermaria cruzada, surgiu e se consolidou na Itália

renascentista, como uma manifestação definitiva da proeminência das grandes cidades. O

segundo, o tipo que, neste trabalho, se denomina casa de campo, surgiu na Inglaterra após

a dissolução dos mosteiros ordenada por Henrique VIII, no século XVI, sedimentando-se

até o final do Renascimento e avançando por todo o período iluminista (THOMPSON;

GOLDIN, 1975). Esses dois tipos hospitalares renascentistas, de acordo com Binet (1996),

consagraram o fim da influência da arquitetura religiosa sobre os hospitais.

Page 60: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

52

3.2.1. A enfermaria cruzada

No período que se segue à Idade Média, mantêm-se os princípios fundamentais da missão

e os objetivos do hospital: apenas a Igreja cedeu lugar à nascente burguesia mercantil

(IMBERT, 1982). O princípio norteador do hospital continua sendo o consolo espiritual

dos enfermos e o posicionamento da capela em relação aos leitos continua sendo o ponto

de partida para a distribuição dos espaços. Com o crescimento da demanda por leitos nos

hospitais, a planta basilical, teoricamente sem limites de expansão, ocasionava um

problema: os pacientes mais ao fundo não escutavam e não viam a missa. Foi aí, segundo

C. H. Boehringer Sohn (198-), que surgiu o cruzamento das enfermarias a partir do altar.

O exame de plantas de hospitais baseados nesse tipo (ver FIG. 6) revela um outro aspecto

importante na organização dos espaços do edifício, qual seja a predominância da simetria e dos

traçados geométricos simples. Os serviços de apoio, instalados antes em anexos, agora se

posicionavam de maneira a compor o traçado geométrico induzido na planta a partir do

cruzamento de enfermarias. Cabia aos serviços, e às vezes a meras circulações, a função de

encerrar os oito pátios menores do edifício, dispostos de maneira a formar um grande pátio

central – em torno de cujos eixos se desenvolve o prédio simetricamente –, o qual é, por

sua vez, encerrado entre a logia de entrada e a igreja, no lado oposto.

Nesse primeiro momento do hospital do período renascentista, uma outra distinção com

respeito ao hospital medieval se nota no exterior do edifício. O retorno aos modelos gregos

conduz as fachadas a que se apresentem como simétricas, em estilo neoclássico. No

entanto, no interior do edifício, permanecem as enfermarias como grandes espaços abertos

dispostos em forma de cruz, com o posicionamento do altar no cruzamento dos pavilhões.

Tal solução espacial buscava principalmente possibilitar que mais enfermos pudessem ver

e ouvir a missa. No entanto, outras qualidades foram depois percebidas (THOMPSON;

GOLDIN, 1975). Por exemplo, o fato de que a forma cruzada ajuda a supervisão dos leitos

desde a capela central. Por outro lado, o tipo enfermaria cruzada apresentava a vantagem

de ajudar a ventilação do ambiente das enfermarias e propiciava atender a questão

colocada de separar enfermos de diferentes gêneros em diferentes alas. Esse tipo hospitalar

é o embrião do tipo “pavilhonar”, o qual se desenvolveria e se consolidaria posteriormente,

ao longo dos séculos XVIII a XIX.

Page 61: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

53

Figura 6 – Elevação e planta do Ospedale Maggiore, Milão Legenda: (1) pátio central; (2) pátios laterais; (3) igreja; (4) capela; (5) enfermarias Fonte: C. H. BOEHRINGER SOHN, 198-.

Figura 7 – Vista aérea do Ospedale Maggiore. Fonte: http://vandyck.anu.edu.au

O grande exemplo do tipo enfermaria cruzada foi o Ospedale Maggiore, em Milão.

Projetado por Filarete, o Maggiore teve sua construção iniciada em 1456, demorando cerca

de 350 anos para ser considerado totalmente construído (C. H. BOEHRINGER SOHN,

198-). O conjunto edificado (ver FIG. 7) apresenta as inovações que seriam adotadas nos

hospitais da época: as enfermarias em forma de cruz, com a capela no cruzamento, estão

dispostas formando quatro pátios com claustros de cada lado, tipologia já adotada pelas

enfermarias dos hospitais medievais (HENDERSON, 1989).

No entanto, nos hospitais renascentistas, a presença do pátio é magnificada, como se sua

existência se devesse mais à necessidade de realçar as formas elegantes da arquitetura

neoclássica do que às exigências de intimidade e reclusão dos hospitais medievais. Para dar

uma idéia dessa questão, vale salientar que o pátio interior de um hospital de tipo claustral

– o St. Gall, por exemplo – tem cerca de metade da área de cada um dos oito pátios do

Maggiore.

A adoção de fachadas e de ambientes, que valorizavam as proporções em vez da escala

grandiloquente dos hospitais basilicais, reflete o caráter laico das instituições financiadoras

e mantenedoras – impondo, por certo, uma certa racionalidade na elaboração do projeto –

e, por outro, as tendências neoclássicas de substituir suntuosidade e grandiloqüência pela

simplicidade estética das harmonias geométricas gregas. Lembra Gombrich (1979) que a

beleza das proporções, no ideal renascentista, homenageia o homem e suas organizações;

Page 62: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

54

no ideal medieval, o espaço espetacular da basílica reduz o homem e o leva ao culto

divino.

Tudo isso resultaria em uma solução estrutural mais simples. A estrutura repetitiva é

simétrica, com uso de pedra, tijolos e madeira. Os tetos nas enfermarias são planos, em

madeira, apoiados em terças horizontais. As alvenarias em tijolos ou pedra são estruturais

e, muitas vezes, arcos e abóbadas são usados por razões somente estéticas. A exceção é a

abóbada estrutural que serve de teto ao porão e de piso ao único pavimento das

enfermarias, um pavimento com duplo pé-direito, abrandado no pátio interior por um

anexo de arcos e abóbadas em dois níveis – o claustro.

A volumetria do conjunto é definida pela série de interseções de paralelogramos de baixa

altura relativa, com larga predominância das dimensões da planta e destaque para os

espaços abertos. Da perspectiva interior, entretanto, ainda se sente a presença da

religiosidade no cotidiano dos enfermos na ordenação do desenvolvimento da planta a

partir do altar no centro do edifício cruciforme, que ainda recebe iluminação zenital

enfatizadora por sua cúpula destacada da coberta, eventualmente em domo, única inovação

estrutural da Renascença (FLETCHER, 1987).

3.2.2. O tipo casa de campo

A outra tipologia hospitalar renascentista – a casa de campo – teve seus primeiros

desenvolvimentos a partir da Reforma luterana, no século XVI. Com o crescimento, na

Europa central e na Grã-Bretanha, de movimentos de independência dos cristãos com

respeito ao poder do Papa de Roma, a Igreja Católica diminuiu sua presença institucional,

inclusive na área de atenção aos enfermos. O financiamento dos hospitais passou a ser feito

efetivamente pela burguesia mercantil, de modo que se concentravam nas cidades. Para a

manutenção dos hospitais, passou-se a ter financiamento fiscal, na medida em que as

autoridades municipais cobravam taxas da comunidade com esse fim (THOMPSON;

GOLDIN, 1975).

Já havia uma certa pressão por privacidade dos leitos, o que descartava o sentido

coletivista da oração e do rito religioso. Daí que a idéia de colocar os enfermos em contato

direto com as dependências destinadas à atuação direta da Igreja foi sendo abandonada. Ao

contrário, essa idéia é substituída por uma separação bem nítida entre o hospital, agora

civil, e a hierarquia religiosa.

Page 63: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

55

Os novos financiadores dos hospitais passarão a adotar, para os edifícios hospitalares, tipos

mais familiares para eles: os palacetes ou casas de campo, os quais propiciariam também a

adoção de uma maior privacidade na internação de pessoas. A solução espacial se libera do

andar único e o hospital do tipo casa de campo, em geral, se define em dois ou três

pavimentos, com plantas em formato H, C, U ou E. A repartição das enfermarias em

quartos com um menor número de leitos era também uma marca distintiva desses hospitais

dos fins da Renascença, o que reforça a origem residencial (casas de campo) do tipo.

Figura 8 – Elevação e plantas do térreo (abaixo, esquerda) e do primeiro piso do London Hospital Legenda: (1) enfermaria; (2) posto de enfermagem; (3) capela; (4) hall de entrada

Pode-se citar o London Hospital,

construído em 1752, como

representativo do período, (ver

FIG. 8). Tinha forma de U,

convexo para a fachada, com

planta perfeitamente simétrica.

Observa-se no exame da planta

que a distribuição dos ambientes

se orienta pelo formato da planta,

pela simetria e pela conveniência

de privacidade dos enfermos. Fonte: desenho próprio a partir de Thompson e Goldin, 1975

Os três pavimentos, articulados por uma circulação vertical central, têm o mesmo formato, e

a privacidade é crescente do primeiro piso para o terceiro: serviços de apoio no térreo,

enfermarias no segundo andar e quartos simples no terceiro. Também cabe destacar que, da

planta, se pode depreender um diálogo entre a visão de conjunto do edifício e a

concatenação das partes, objetivando a manutenção de uma rigorosa simetria e a singeleza

das formas geométricas. Por outro lado, ressalte-se que a hierarquização dos espaços, em

função da conveniência da privacidade, surge como fator de organização das partes do

edifício, o que vai demonstrar a entrada em cena de uma postura de racionalização e de

zoneamento dos espaços e atividades hospitalares.

Em conseqüência dessa associação entre simetria, singeleza geométrica e organização

espacial, os hospitais do tipo casa de campo possuem estrutura e sistema construtivo

bastante simples. As alvenarias autoportantes de pedra ou tijolos se sucedem verticalmente,

grandes vãos são vencidos com apoio de vigas planas de madeira; eventuais arcos e

abóbadas seqüenciais podem surgir com função estético-decorativa. Exceção é feita para o

Page 64: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

56

hall de entrada, cujo destaque no conjunto responde ao caráter civil da instituição

hospitalar no período pela valorização do acesso. Nesse ponto, a estrutura e os volumes do

saguão são diferenciados, com o uso de colunas em pedra e de vãos abobados em pé-

direito duplo, sobre arcos de contorno.

Os hospitais do tipo casa de campo seguem a estratégia de distribuição espacial das

enfermarias em paralelo (uma ao lado da outra) ou em seqüência (uma após a outra). Tal

estratégia se materializa no projeto, notam Thompson e Goldin (1975), na forma de

“enfermaria-corredor”, uma vez que se incorpora ao espaço da enfermaria o espaço de

circulação que permite o acesso à enfermaria seguinte. Além do mais, a disposição em

paralelo das enfermarias dificulta a ventilação cruzada (ver FIG. 9).

Figura 9 – Planta de uma enfermaria do London Hospital Legenda: (1) enfermaria; (2) posto de enfermagem; (3) banhos Fonte: desenho próprio baseado em Goldin, 1994

3.3. O hospital iluminista

Segundo Thompson e Goldin (1975: p. 35), o ambiente hospitalar prevalente a princípios

do século XVIII podia ser descrito pela frase seguinte: “... leitos com enfermos que não se

limpavam, colchões úmidos serviam como viveiros de bactérias, pisos mal limpos, água

transportada em baldes desde o pátio, fumaça de óleo das lâmpadas, odores da cozinha

combatidos a salpique de água perfumada”. Às baixas condições de higiene, somava-se a

superlotação, alcançada pela prática generalizada de exceder a capacidade das enfermarias

pela simples instalação de mais leitos (C. H. BOEHRINGER SOHN, 198-).

No entanto, nas últimas décadas do período renascentista, a difusão dos avanços graduais

das ciências médicas, como a Anatomia e a Fisiologia, permitiu que esses hospitais

Page 65: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

57

congestionados fossem incorporando elementos técnicos novos e até o ensino “ao pé do

leito” (ROSEN, 1994). A prática cirúrgica desenvolvida principalmente nos hospitais

militares foi definitivamente incorporada aos hospitais civis, junto com o surgimento da

Anatomia Patológica, que embasou o conhecimento médico dos órgãos humanos internos.

Por outra parte, na segunda metade do século XVIII, com Lavoisier, e depois com Pasteur

no século seguinte, o progresso científico na química e na microbiologia possibilitou a

compreensão dos processos de infecção cruzada e de propagação de infecções por

microorganismos vivos (JAMES; TATTON-BROWN, 1986).

Para Foucault (1998: p. 39), “... até finais do século XVIII, a medicina referiu-se muito

mais à saúde do que à normalidade”, no sentido em que o indivíduo enfermo era

identificado por contraposição à pessoa sã. No século XIX, continua Foucault, a medicina

“... regula-se mais (...) pela normalidade do que pela saúde”, ou seja, a enfermidade passa a

ser entendida como um desvio com respeito a uma condição “normal” da estrutura e do

funcionamento do organismo humano, conhecida em seus detalhes anatômico-fisiológicos.

Assim, a doença pode ser diagnosticada no plano do órgão com funcionamento imperfeito

e a esse órgão se dirigem as prescrições restauradoras. O exercício dessa intervenção

clínica, diz Foucault (1998: p. 226), requereu “uma reorganização do campo hospitalar

(...); foi preciso situar o doente em um espaço coletivo e homogêneo”.

Esse novo espaço hospitalar requer tratamento urbanístico e arquitetônico. Será estudada

cautelosamente a inserção do edifício hospitalar no espaço urbano (FOUCAULT, 2002), a

partir de uma lógica sanitária. Passa-se a avaliar disposições alternativas para a

implantação do edifício no terreno, para a organização dos fluxos e espaços internos e para

a distribuição dos leitos (LABASSE, 1982: p. 132), tendo em vista assegurar “... a

renovação do ar, a destruição dos miasmas, a circulação das pessoas e a manutenção da

ordem”. Estabelecem-se regras de registro e cadastro, códigos de conduta e rotinas,

destinadas a ordenar os comportamentos e obter informações sobre os enfermos e suas

enfermidades. Enfim, institui-se, sobre o quadro do hospital confuso e desorganizado de

princípios do século XVIII, a disciplina e o espírito de supervisão que vai garantir a

“medicalização” do hospital (FOUCAULT, 2002).

Nesse processo, o hospital tornou-se um espaço sob o poder do médico, o profissional

preparado para intervir sobre os enfermos, dirigir o pessoal e decidir sobre as instalações

hospitalares. Sob o poder do médico, crescem de significado a supervisão incisiva, o

Page 66: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

58

controle e o monitoramento dos internos e dos fatos hospitalares. Para atender a essas

proposições, surgiram esquemas especiais de caráter panótico, seguindo as idéias de

Jeremy Bentham (THOMPSON; GOLDIN, 1975), para quem a essência da definição

espacial do edifício (prisões, escolas, asilos, hospitais, indústrias) residia na capacidade de

observação direta feita a partir de uma posição central.

Embora as idéias de ordenamento espacial de Bentham não tenham tido influência direta

nas tipologias relevantes do edifício hospitalar do Iluminismo, o certo é que o princípio

básico de que o espaço hospitalar fosse tratado de forma a permitir a supervisão de cada

paciente foi fundamental para a transformação que atingiria o hospital no século XVIII.

Para tanto, tratava-se de enfocar o espaço e as atividades hospitalares, suas dinâmicas e

interrelações, com o objetivo de traçar um “diagnóstico” e estabelecer uma “terapêutica”

(SILVA, 2001): a essência dessa abordagem é a classificação e a observação atenta e

estruturada.

Não se trata apenas de uma descrição, mas sim de observação sistemática, destinada a

produzir material para a análise detalhada que permitirá as sínteses propositivas de atuação

reformadora no hospital. Foucault (2002) ressalta o fato de que o estudo mais significativo

sobre a reorganização dos hospitais no século XVIII teve como responsável o médico

francês Jacques Tenon, estudo que resultou em um conjunto de normas e recomendações

para orientar na concepção e organização dos espaços hospitalares. Dirigidas tanto a

arquitetos como a engenheiros e administradores, as recomendações de Tenon foram

publicadas numa obra intitulada Mémoires sur lês hôpitaux de Paris, que obteve grande

repercussão em vários paises (THOMPSON; GOLDIN, 1975; C. H. BOEHRINGER

SOHN, 198-; SILVA, 2001; IMBERT, 1982).

Tenon, a pretexto de realizar trabalhos vinculados à reconstrução do Hotel-Dieu de Paris,

destruído em um incêndio, deteve-se em analisar e estudar vários hospitais franceses e

estrangeiros. Surgiam, nos trabalhos de Tenon, as primeiras idéias funcionalistas na

arquitetura hospitalar (SILVA, 2001). Em suas pesquisas feitas através de observação

direta, Tenon tentou explicar o hospital pelo viés da utilidade, colocando as relações entre

o desenvolvimento das atividades e o uso do espaço, do ponto de vista simultâneo de todos

usuários, ou seja, o staff e o paciente. A estruturação dos serviços e dos espaços

hospitalares, segundo a orientação de Tenon, seria feita através de pequenas unidades

Page 67: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

59

funcionais organizadas a partir de eixos de circulação, tendo como base as relações entre

fluxos e usos (SILVA, 2001).

A partir do estudo detalhado dos gestos e dos movimentos, do mobiliário e dos

equipamentos relacionados a todo usuário do hospital, Tenon, segundo Silva (2001)

estabeleceu uma quantidade máxima de leitos por enfermaria, uma disposição modelar do

mobiliário e dos equipamentos, as dimensões e a volumetria dos ambientes a fim de

proporcionar eficiência e boas condições sanitárias (controle de temperatura, renovação do

ar e iluminação natural) ao edifício. Sobre a obra de Tenon, Foucault é incisivo:

O que Tenon projeta é um espaço hospitalar diferenciado. E diferenciado segundo dois princípios: o da ‘formação’, que destinaria cada hospital a uma categoria de doentes ou a uma família de doenças; e o da ‘distribuição’, que define, no interior de um mesmo hospital, a ordem a seguir, ‘para nele dispor as espécies de doentes que se tiver achado oportuno receber” (FOUCAULT, 1998: p. 46).

Para Silva (2001), Thompson e Goldin (1975) e C. H. Boehringer Sohn (198-), o resultado

das pesquisas de Tenon e suas recomendações levariam à adoção do tipo pavilhonar, em

certa medida antecipado pelos tipos renascentistas (enfermaria cruzada, casa de campo),

para edifícios hospitalares.

Já no século XIX, trabalhando sobre sua própria experiência como enfermeira na Guerra da

Criméia, Florence Nightingale se dedicou a visitar importantes hospitais no mundo e a

analisá-los do ponto de vista de suas preocupações em torno do funcionamento hospitalar,

especialmente das enfermarias. Os apontamentos de Nightingale sobre o projeto

arquitetônico de hospitais foram publicados em dois livros, lançados em 1858 e 1859, com

os títulos de, respectivamente, Notes on Hospitals e Notes on Nursing. Esses livros,

segundo James e Tatton-Brown (1986), exerceram significativa influência no que restava

de século XIX e em boa parte, ainda, do século XX, gerando novas soluções espaciais para

o projeto das enfermarias.

3.3.1. O tipo pavilhonar

A estruturação do espaço do tipo pavilhonar surgido no século XVIII era baseada nas

exigências de salubridade ambiental (ou seja, espaços naturalmente bem ventilados e

iluminados), nas necessidades funcionais de suas atividades (ou seja, de fluxos, dimensões,

e supervisão dos enfermos) e na articulação desses espaços por meio de uma circulação ou

“sistema” de circulações.

Page 68: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

60

O hospital pavilhonar foi o tipo consagrado como aquele que se ajusta bem a esses

requisitos, na medida em que o pavilhão, como edifício independente e de laterais livres,

permite obter ventilação cruzada e iluminação natural. Assim, resolve-se o que era tido

como maior produtor de insalubridade hospitalar: a estagnação do ar e a umidade. Além

disso, há que considerar a flexibilidade de posicionar convenientemente os pavilhões, uns

em relação a outros, estruturando os serviços e os compartimentos através dos eixos de

circulação.

Em que pese o fato de os estudos de Tenon terem sido orientados para a reconstrução do

Hotel Dieu, tal projeto nunca foi edificado. No entanto, ele influenciou toda a arquitetura

hospitalar do século XIX. O Hospital Lariboisière, construído no centro de Paris em 1854,

é considerado como sendo um dos principais exemplos de aplicação das idéias de Tenon

(THOMPSON; GOLDIN, 1975; SILVA, 2001). A planta (ver FIG. 10) é formada por um

conjunto de pavilhões, ligados por uma grande circulação e dispostos em volta de um

jardim retangular. O conjunto foi organizado a partir de eixos principais: um longitudinal e

cinco transversais. Esses eixos costuram o “sistema de circulação” de todo edifício

comunicando os pavilhões entre si e com todo o conjunto. Também foi levado em

consideração na distribuição dos pavilhões, a própria organização interna de cada um deles

assim como sua hierarquia funcional.

Figura 10 – Planta do Hospital Lariboisiére, Paris Legenda: (1) enfermarias; (2) refeitórios; (3) escritórios; (4) capela; (5) aposentos das religiosas; (6) cirurgias; (7) posto de enfermagem; (8) cozinha; (9) farmácia; (10) pátio Fonte: desenho próprio a partir de C. H. Boehringer Sohn, 198-

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61

Cada pavilhão tinha três pavimentos e sua altura foi calculada a partir da relação com a

largura do pátio entre dois pavilhões, de modo que se garantia o recebimento de insolação

em todos eles e se evitava umidade tanto nos pátios como no interior dos pavilhões. As

enfermarias, por sua vez, eram grandes halls abertos dentro de blocos independentes

retangulares, podendo haver mais de uma por pavilhão. Os serviços de apoio estavam

distribuídos nos diversos pavilhões, construídos em alvenarias externas autoportantes de

pedra e tijolo, as quais davam suporte aos pisos e tetos planos em madeira.

A organização estrutural é repetida em todos os pavilhões, de modo que a disposição de

alvenarias de fechamento no interior do pavilhão depende de que a mesma disposição

ocorra nos pavimentos inferiores. Assim, a volumetria do conjunto é hegemonizada pelas

dimensões da planta do conjunto e pelo arranjo das sucessivas interseções entre pavilhões

prismáticos, mais altos que largos, e o corredor de circulação.

3.3.2. A influência de Florence Nightingale

A vivência como enfermeira em hospitais de campanha, certamente, trouxe a Florence

Nightingale um grande conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento de enfermarias.

Suas viagens de estudos em hospitais de toda a Europa, na primeira metade do século XIX,

dariam origem à análise de elementos sanitários do edifício hospitalar, sempre com ênfase

no posicionamento relativo e na qualidade funcional das enfermarias (JAMES; TATTON-

BROWN, 1985). Seu trabalho analisava problemas relativos à higiene, aeração, altura e

orientação dos edifícios hospitalares (PANUNZIO, 1983). Também valorizou o trabalho de

supervisão dos pacientes pela enfermagem, com reflexos na organização espacial das

unidades de internação, mas também com resultados em termos da profissionalização das

enfermeiras.

O espaço da enfermaria proposta por Nightingale era retangular, como no tipo pavilhão

(ver FIG. 11). Na entrada, deveriam estar localizados o posto de enfermagem e uma copa.

Em seguida, estava um grande espaço aberto para disposição dos leitos e, no lado contrário

ao posto de supervisão, por trás de uma parede e com ventilação independente, estavam os

lavatórios e banhos. O posto de enfermagem teria um visor para supervisionar os leitos. Os

leitos seriam posicionados lado a lado, perpendiculares a janelas colocadas de ambos os

lados das paredes, uma a cada dois leitos, e com altura de 90 centímetros do piso, para

possibilitar a ventilação cruzada.

Page 70: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

62

As novas idéias de

Nightingale acerca do

ambiente sanitarizado e de

fácil supervisão pela

enfermagem significavam a

rejeição, em base técnico-

científica, da “enfermaria-

corredor” (ver FIG. 9) do

século XVIII. O principal

fator de rejeição era

exatamente o fato de que as

paredes colocadas lado a lado

impediam a ventilação

cruzada, além de reduzirem o

campo visual de supervisão a

partir do posto de enfermagem

(GOLDIN, 1994).

Figura 11 – Enfermaria Nightingale Legenda: (1) posto de enfermagem; (2) área dos leitos; (3) BWCs; (4) material sujo; (5) copa; (6) escada Fonte: James e Tatton-Brown. 1986

3.3.3. O legado do Iluminismo para a arquitetura hospitalar

Do exposto acima, pode-se concluir que, no período iluminista, a arquitetura hospitalar

deixará de trabalhar com plantas derivadas de outros usos – tipos advindos da arquitetura

religiosa ou palaciana – para, por vez primeira, trabalhar com plantas projetadas a partir de

estudos feitos sobre as atividades e necessidades hospitalares. Se as plantas derivadas dos

hospitais medievais e renascentistas se apropriavam de tipos disponíveis, e assim faziam

mais por motivos simbólicos que funcionais, as plantas projetadas dos hospitais iluministas

adotavam uma tipologia nova. Esse tipo pavilhonar se formava em função das novas

atividades hospitalares que, naquele momento, eram já muito mais voltadas à supervisão e

ao cuidado médico dos pacientes de que ao consolo espiritual dos enfermos ou ao

sentimento cívico de comunidade.

Por outro lado, ao contrário do que aconteceu na Idade Média, quando os tipos

arquitetônicos dos hospitais permaneceram quase imutáveis, a tipologia arquitetônica

pavilhonar se desenvolveu e se diversificou fortemente a partir do século XVIII. A

Page 71: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

63

preocupação com a ventilação e higiene, respaldada cientificamente por Lavoisier; a

descentralização impulsionada pelas descobertas de Pasteur; a segregação dos trajetos de

enfermos e de pessoal, sugeridas por Tenon; e, a vigilância acentuada proposta por

Nightingale, todas essas contribuições técnico-científicas deram origem a sucessivas

mudanças e a diferentes alternativas na maneira de dispor os pavilhões.

No período iluminista, os pavilhões se liberaram do edifício e seu posicionamento relativo

passou a constituir uma variável do projeto: primeiramente, a solução foi a de dispor os

pavilhões um ao lado do outro; mais tarde, assumiram-se várias soluções, unicamente

restringidas pela necessidade de interligar os pavilhões por meio de um sistema de

circulação. A arquitetura hospitalar tentava colocar em prática as novas idéias e os

descobrimentos científicos, na busca de uma organização espacial adequada a uma

atividade hospitalar que, pouco a pouco, ganhava contornos técnicos e bases científicas,

afastando-se do caráter eclesiástico ou cívico anteriormente dominante. Formava-se o

conceito de hospital “terapêutico”.

Em paralelo, principalmente na segunda metade do século XIX, fatores técnico-científicos

(o conhecimento do processo de contaminação por microorganismos, principalmente) e

socioeconômicos (a busca do hospital terapêutico pelas classes médias e abastadas)

trouxeram à tona a discussão entre supervisão coletiva e privacidade do enfermo, no

âmbito das enfermarias (GOLDIN, 1994).

Assim, o hospital que chega ao século XX, está fortemente marcado pela ênfase na boa

ventilação e na boa insolação, no isolamento de doenças infecto-contagiosas, na higiene

das enfermarias e dos procedimentos, nos sistemas de abastecimento de água potável, de

coleta e tratamento de esgotos, nos laboratórios de análises clínicas, na medicina legal, nas

enfermarias cada vez menores, tendentes à privacidade, e nos postos de enfermagem. Sua

planta é estruturada em zonas funcionais, segundo seus diversos departamentos ou

unidades, comunicadas por um sistema de circulação cuja definição se orienta pelos fluxos

de pessoal, enfermos e materiais.

3.4. O hospital modernista

Os avanços ocorridos na medicina nos séculos XVIII e XIX tinham transformado o perfil

da atenção hospitalar, no sentido de estabelecer progressivamente o hospital como o lugar

da prática médica, do tratamento de enfermos e do restabelecimento da saúde. James e

Page 72: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

64

Tatton-Brown (1986: p. 3) descrevem como, na segunda metade do século XIX, foi se

consolidando a “idéia de que os hospitais tinham mais relação com a vida do que com a

morte”. Para tanto, diversas razões se acumularam: o desenvolvimento da anestesia, o

surgimento das técnicas e práticas de assepsia, a formação médica “ao pé do leito” e o

desenvolvimento da profissão da enfermeira laica. Esse processo seria intensificado no

século XX, com o maior acesso a novas tecnologias de apoio ao diagnóstico e o

desenvolvimento da industria farmacêutica.

Em conjunto, tantas razões compõem a força motriz do movimento na direção do hospital

moderno, que oferecia a perspectiva real de recuperação, propunha um certo nível de

privacidade – com as pequenas enfermarias e os apartamentos individuais – e garantia um

grau aceitável de segurança, com a redução das taxas de mortalidade por infecção intra-

hospitalar. Em decorrência, assinala Vogel (1989), a instituição hospitalar passa a ser

gerida mais profissionalmente e a revelar alguma atratividade, inclusive para as camadas

mais abastadas da população, pelo fato de que superava o conforto e a perspectiva de cura

disponíveis em casa.

Entretanto, do ponto de vista arquitetônico, o edifício hospitalar no século XX tardou em

apresentar novidades. As soluções iluministas, já incorporando certa lógica funcionalista,

puderam absorver sem maiores problemas as tendências de valorização do apoio ao

diagnóstico e do procedimento médico. Daí que, embora o Movimento Modernista na

arquitetura possa ser datado com início nas primeiras décadas do século XX, não foi antes

dos anos 1950 que ele se firmou na Arquitetura Hospitalar. Stone (1980: p. 1) afirma que

somente no final dos anos 1950 é que novos conceitos de projetação arquitetônica

hospitalar iriam se materializar em novos edifícios que, uma vez concluídos na década

seguinte, fariam com que a sociedade percebesse que “suas necessidades de saúde

poderiam ser cuidadas em um ambiente moderno”.

O fato é que, depois da Segunda Guerra Mundial, havia uma demanda social e política por

mais leitos hospitalares, tanto na Europa em reconstrução, quanto nos Estados Unidos.

Assim, os serviços de atenção à saúde entrariam em expansão, se ajustando às pressões

políticas e às novas dimensões das políticas de Estado para a saúde (MILLER;

SWENSSON, 2002; JAMES; TATTON-BROWN, 1986). O hospital era então projetado e

construído de modo que a área dedicada a leitos de internação crescia mais que

proporcionalmente às demais áreas. Quando passíveis de reconstrução com ampliação,

Page 73: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

65

hospitais já existentes ganhavam ampliação de número de leitos. Esse crescimento do

hospital foi tornando progressivamente mais complexa sua organização e administração,

complexidade agravada na medida em que o avanço da tecnologia médica foi permitindo, e

mais que isso, incentivando um aumento da especialização médica (VERDERBER; FINE,

2000).

O crescimento do hospital se deu de forma mais especializada, contendo novas agrupações

departamentais ou “zonas”, cada uma planejada com requerimentos baseados nas suas

funções precípuas e nas inter-relações com as demais “zonas”. Eram três as principais

“zonas” em que estava então organizado o hospital (JAMES; TATTON-BROWN, 1986):

a zona de internação, onde estavam os pacientes durante a sua estadia no hospital

recebendo cuidados médicos, alimentação e higiene;

a zona clínica, em geral ventilada artificialmente, estava constituída por serviços de

diagnóstico e tratamento, logo associada com equipamentos de alta tecnologia

requeridos para procedimentos em pacientes;

a zona de suporte, que compreende os serviços de administração, nutrição e dietética,

lavanderia, estoque de material, farmácia, esterilização de materiais, áreas de

instalações especiais (gases medicinais, subestação de energia, central de ar

condicionado etc.), tratamento e descarte de resíduos, e todos outros serviços de apoio

necessários para colocar em funcionamento o hospital.

A chave do planejamento hospitalar era a manipulação dessas zonas e suas inter-relações

para produzir um hospital integrado e funcional, em um contexto em que as zonas iam

crescendo em tamanho e complexidade (JAMES; TATTON-BROWN, 1986). Para fazer

frente a esse novo desafio, planejadores e administradores copiaram modelos

organizacionais do mundo dos negócios (MILLER; SWENSSON, 2002): para a

organização e administração do hospital modernista, “eficiência, racionalidade,

produtividade e conformidade tornaram-se conceitos chaves” (DILANI, 2000, p. 20).

Para Dilani (2000), o hospital tornou-se um exemplo ilustrativo da eficiência industrial, de

acordo com as condições e formas de pensar nos anos 1950, caracterizado por uma

racionalização firmemente dirigida e uma conseqüente centralização das funções. O

hospital, concentrado e especializado, passou a ser visto como uma unidade fabril; e a

arquitetura hospitalar refletiu a evolução dos cuidados de saúde na direção da tecnocracia e

da despersonalização. Verderber e Fine (2000: p. 13) apontam como a convergência entre a

Page 74: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

66

rigidez dos programas, fluxos e prescrições, de um lado, e os princípios funcionalistas e as

soluções universais, de outro, serviu para consagrar o hospital modernista como a “perfeita

expressão arquitetônica nesse período da medicina de alta tecnologia”, o “contêiner da

volumétrica máquina de curar”.

A partir de então, e por algum tempo, o hospital será alterado somente em sua volumetria,

com base na discussão das vantagens e desvantagens de produzir grandes superfícies

predominantemente horizontais ou verticais, sob o impacto da necessidade de procurar

soluções para abrigar a crescente intensidade de equipamentos no edifício, prever

expansões e aumentos de complexidade e prevenir a obsolescência dos espaços edificados.

Como afirmou Lindheim (1979: p. 71),

Na medida em que os hospitais e a tecnologia médica do pós-Guerra cresceram, o tema arquitetônico mais relevante não era a forma mais cuidadosa de acomodar as necessidades do enfermo mas como construir formas flexíveis para hospedar a constantemente cambiante tecnologia médica (...) Em todo o mundo, o trabalho dos arquitetos foi o de desenvolver sistemas para planejar esses hospitais.

Três tipos podem ser decantados desse esforço de adaptação do edifício hospitalar ao

contexto da segunda metade do século XX, marcada por necessidade de expansão,

aumento de complexidade e risco de obsolescência: torre sobre pódio, rua hospitalar e

sanduíche.

3.4.1. O tipo torre sobre pódio

Com ênfase nas questões da concentração e da eficiência, uma maneira de organizá-las no

edifício hospitalar foi expressa no tipo torre sobre pódio, um T invertido, ou seja, uma torre

de pavimentos que crescia desde uma base. A volumetria do conjunto destaca o

paralelogramo vertical da torre interceptando o horizontal que forma o pódio. Essa

diferenciação correspondia a uma distinção de uso: como regra (JAMES; TATTON-

BROWN, 1986), a zona de internação situava-se na torre, em cuja periferia estavam as

enfermarias; a base, que em geral tinha um ou dois pavimentos, abrigava a zona clínica –

com acesso fácil desde a rua – e a zona de suporte, esta normalmente em andar inferior.

Concentrado e de grandes dimensões, o edifício dependia quase totalmente de

equipamentos mecânicos: utilizavam-se sofisticados sistemas de ventilação e ar

condicionado; elevadores e monta-cargas respondiam pela circulação vertical.

Page 75: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

67

A incorporação de uma dimensão vertical importante criava novas possibilidades de

zoneamento e de segmentação funcional dos espaços hospitalares, possibilitada em última

análise pelos progressos no campo dos materiais de construção para estruturas. Se as

paredes autoportantes exigiam, para ganhar altura, consumir grandes áreas nas plantas dos

pavimentos, as estruturas de esqueleto metálico (surgidas com o desenvolvimento

siderúrgico do século XIX) ou de concreto armado (já no século XX) permitiam acúmulo

vertical de pavimentos com poucas repercussões horizontais produzidas por estruturas

relativamente esbeltas. Por outro lado, os novos materiais de vedação, revestimento ou

pavimentação reduziam na mesma velocidade as cargas verticais das edificações,

diminuindo os esforços solicitantes da estrutura e das fundações.

Um bom exemplo do tipo torre sobre pódio é o Hospital Geral Etobicoke, em Toronto,

Canadá (ver FIG. 12). Concluído em 1972, o edifício continha 500 leitos e possuía 38.000

m2 de área construída. A torre abrigava (REDSTONE, 1978) a zona de internação,

enquanto o pódio hospedava, em seus dois andares, as zonas de suporte (no andar mais

baixo) e clínica. Verticalmente, os leitos de internação eram distribuídos nos pavimentos,

separados por especialidade médica. A interseção entre torre e pódio abrigava a

administração e os arquivos médicos.

Todo o hospital era servido por sistemas automatizados de transporte de bens, documentos,

imagens. A zona de suporte centralizava o sistema mecânico de distribuição de materiais e

alimentos em carrinhos que se deslocavam horizontalmente (em monotrilhos) e

verticalmente (em montacargas), segundo um sistema automático de roteamento. Um

sistema pneumático de correio interconectava todos os departamentos e andares. Todos os

pacientes eram acompanhados em seus leitos por um sistema de imagens centralizado, que

coordenava a atividade de enfermagem estruturada em quatro áreas para cada pavimento

de internação. Por fim, o contato entre enfermagem e paciente era minimizado pelo uso de

um armário de porta dupla e compartimentos específicos para entrada e saída de materiais.

A estrutura da torre foi projetada em concreto armado, enquanto que no pódio foi usada

uma trama de vigas metálicas, capaz de prover maiores vãos livres. Destacam-se nos

materiais de vedação e acabamento o alumínio anodizado e o vidro fumê. Todo o edifício

depende de ventilação, acondicionamento de ar e calefação, garantidas mecanicamente,

sendo as instalações distribuídas através de colunas verticais (shafts).

Page 76: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

68

Figura 12 –Hospital Etobicoke, no alto; abaixo, plantas esquemáticas do pavimento do pódio (direita) e da torre (esquerda). Fonte: REDSTONE, 1987; JAMES; TATTON-BROWN, 1986.

Observadas conjuntamente, as soluções de estrutura e instalações foram capazes de possibilitar

uma grande concentração de espaços, com uma flexibilidade no uso em face dos grandes

vãos.A verticalização permitiu separar funções, o que favoreceu um tratamento adequado

das relações entre zonas e departamentos. Em contrapartida, essa solução estipulava sérias

restrições a mudanças ou ampliações nas zonas de internação e clínica, enrijecendo o

hospital em face de mudanças tecnológicas nos campos da atenção ao enfermo e do apoio

ao diagnóstico e ameaçando-lhe com forte rico de obsolescência.

3.4.2. O tipo “rua hospitalar”.

O tipo torre sobre pódio não respondia a questões colocadas pelas necessidades de

contínuo crescimento, transformação de funções e incorporação de mudanças tecnológicas

cada vez mais aceleradas. Se as diferentes zonas cresciam a diferentes taxas, alterando-se

suas participações relativas na área total de construção (MILLER; SWENSSON, 2000), a

disposição das zonas em camadas verticais sucessivas, sendo impossível a expansão das

Page 77: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

69

áreas de cada pavimento, estabelecia limites claros para a ampliação dos hospitais com

essa tipologia.

Para equacionar essas questões, com ênfase

na possibilidade de expansão para absorver

novas tecnológicas, desenvolver-se-ia um

outro tipo arquitetônico de hospital: a rua

hospitalar. Em fins dos anos 1940, um

projeto (nunca executado) para um hospital

em Hertfordshire, Reino Unido (ver FIG.

13), firmou as bases da estruturação

espacial segundo o princípio de uma coluna

de circulação que vertebrasse blocos

independentes, contendo diferentes

atividades (COX; GROVES, 1981).

Figura 13 – Modelo esquemático em 3D de hospital com base no tipo rua hospitalar Fonte: COX; GROVES, 1981

Esse tipo rua hospitalar, por conseguinte, se adequaria bem a uma época em que, como

afirmou Weeks (1973, p. 464),

funções mudam tão rapidamente que os projetistas não deveriam mais buscar um ótimo ajuste entre edifício e função. O que é realmente requerido é que se projete o edifício que iniba minimamente as mudanças de função, e não que se ajuste melhor a uma função específica.

Nesse sentido, esse tipo era bastante vantajoso. Tanto cada bloco do conjunto já edificado

poderia ser transformado ou expandido, sem que isso provocasse grandes transtornos à

utilização dos demais blocos, como a conexão de novos blocos poderia ser feita segundo

um curso de desenvolvimento reprogramável a cada momento (MONK, 2004). Assim, o

potencial de crescimento da quantidade de leitos, ou do número de espaços clínicos, ou

ainda a introdução de novos espaços com novas funções, e a minimização dos riscos de

obsolescência constituíam os pontos fortes do tipo rua hospitalar.

Toda essa flexibilidade e adaptabilidade provinha, não só do modo de estruturação do

espaço, mas também do uso de um sistema estrutural modulado em grandes vãos, que

aportava – no plano de cada edifício adicionado ao conjunto – a possibilidade de adotar os

arranjos físicos mais condizentes com a futura ocupação. A disponibilidade de novos

materiais para as estruturas, como o concreto armado e o aço, também se ajustavam bem

Page 78: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

70

ao tipo “rua hospitalar”. No caso, não é a associação entre leveza e alta resistência o que

importa, dado que os edifícios deste tipo não são necessariamente altos; a característica

importante aqui é a flexibilidade e a possibilidade de projetos modulados, com o uso de

pórticos ou peças pré-usinadas, que se possam edificar por etapas.

Um exemplo paradigmático do tipo

rua hospitalar é encontrado no

hospital geral do Parque Northwick,

em Londres (REDSTONE, 1978;

ver FIG. 14). Ali, foram plenamente

especificados, como primeira fase

do empreendimento concluída em

1969, os projetos da espinha dorsal

– ou seja, da rua hospitalar, eixo de

Figura 14 – Vista geral da 1ª fase do Northwick General Hospital, Londres. Fonte: COX; GROVES, 1982

concentração de circulação e comunicação – e de dois conjuntos de blocos correspondentes

ao extremo leste da “rua” e à área central, em que se situavam instalações hospitalares para

300 leitos.

Figura 15 – 2ª e 3ª etapas previstas para o Northwick General Hospital. Fonte: REDSTONE, 1982

Figura 16 – Vista do interior do Northwick General Hospital.Fonte: REDSTONE, 1982

Segundo Stone (1980), a implantação progressiva do empreendimento foi prevista para

acontecer em três etapas (ver FIG. 15), configurando-se ao final um conjunto de edifícios

de distintas dimensões, implantados de forma ordenada, mas sem excessivo rigor previsto

Page 79: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

71

com respeito à exata realização do que se projetou inicialmente. Um detalhe fotográfico do

edifício, na FIG. 16, mostra à direita a rua hospitalar, no nível destinado para a circulação

de pedestres e paciente. Abaixo deste nível há uma rua similar para o tráfego de materiais e

a rede de serviços, que poderiam ser verticalmente separados em determinados trechos,

gerando então três pavimentos. Ao fundo e à esquerda, podem ser vistas fachadas de

edifícios independentes em que se destaca o sistema modular da estrutura de concreto do

exterior, formado por elementos verticais cujo espaçamento se amplia na medida em que se

alcançam andares mais elevados.

No interior de cada edifício, colunas estruturais de concreto moldadas in situ poderiam ser

dispostas mais ou menos livremente, apoiando em pontos estratégicos a laje pré-moldada

em grelha. De modo similar que o estrutural, o projeto de instalações foi desenvolvido em

módulos, usando-se um dos níveis da rua hospitalar para sua distribuição. Assim, no

projeto do Parque Northwick, a modulação estrutural contribuía para a padronização

construtiva e a conseqüente pré-fabricação. Por outro lado, apoiava as intenções do

projetista de obter grandes vãos interiores que permitissem a variabilidade de definição de

usos e espaços internos.

O tipo rua hospitalar apresentava alguns problemas. Os mais evidentes deles prendem-se à

limitação do tamanho dos terrenos e aos longos percursos a serem seguidos por pessoas e

por materiais. Mas também se apresentavam questões ligadas ao alto custo relativo de criar

condições para expansões e adaptações que talvez nem venham a ser necessárias ou

realizadas. Diante desses problemas, esses empreendimentos passaram a ser considerados

caros para construir e manter. A crise econômica dos anos 1970 impulsionou a busca de

alternativas para reduzir custos, mantendo algumas vantagens dessa tipologia.

Novas formas de organização da

planta, utilizadas até os anos 1990,

reduziriam os graus de liberdade

das futuras expansões. Essas seriam

planejadas como módulos prediais

articulados em torno de espinhas

dorsais não mais lineares. É o caso

da solução em malha ou em cruzes

sucessivas (ver FIG. 17).

Figura 17 – Esquema em 3D de solução derivada do tipo rua hospitalar. Fonte: JAMES; TATTON-BROWN, 1986

Page 80: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

72

Nessas soluções, portanto, radicaliza-se a repetição e a padronização, favorecendo um uso

mais intenso da pré-usinagem redutora de custos, mas ocasionando menor flexibilidade e

mais regularidade ao desenvolvimento do hospital.

3.4.3. O tipo “sanduíche”

No século XX, o hospital esteve sempre crescendo e mudando. Os diferenciais de

crescimento entre as zonas foram aumentando na medida em que, a partir dos anos 1970, a

pressão por mais leitos diminuiu (MILLER; SWENSSON, 2002). Naquela década, a maior

taxa de crescimento era a da zona clínica, ou seja, a que abrigava a tecnologia médica. Para

suportar mais equipamentos, os espaços requeridos para dutos de ar condicionado e outras

instalações especiais também cresciam. Esses avanços aconteciam com tamanha rapidez

que novas unidades construídas tornavam-se obsoletas antes mesmo de começar a

funcionar. Planejadores e arquitetos eram pressionados a adotar uma posição proativa para

o dilema da rápida obsolescência das unidades. Para Verderber e Fine (2000: p. 118), por

causa dessas rápidas mudanças no campo da medicina, “o hospital máquina (...) tinha se

tornado o mais complexo e imprevisível de todas as categorias de edifícios”.

Uma resposta a esses problemas foi proposta na forma do que se chamou de “espaço

intersticial”, solução que está na base do desenvolvimento do tipo sanduíche. Trata-se de

uma espécie de pavimento técnico, com até 2 metros de pé-direito, intercalado entre dois

pavimentos dedicados às outras funções do edifício. A existência desse semipavimento

dedicado ao caminhamento horizontal das instalações, funcionando como suporte dos

demais andares, viria a possibilitar que os pavimentos normais fossem indiferenciados.

Com o uso de estruturas modulares,

metálicas ou em concreto pré-

fabricado, era possível alcançar

grandes vãos, de maneira que

facilmente se poderiam adaptar os

mesmos espaços a novas

utilizações. Assim (ver FIG. 18), se

distribuíam os dutos e instalações

especiais horizontalmente, e se

poderia caminhar para realizar os

Figura 18 – Esquema do pavimento intersticial. Fonte: VERDERBER; FINE, 2000

Page 81: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

73

serviços de manutenção sem interferir no funcionamento do hospital. A conexão vertical

entre os pavimentos se daria através de poços ou “shafts”, pelos quais os dutos das

instalações passavam de um pavimento a outro.

Este novo sistema produzia um aumento no custo do edifício, compensado pela

flexibilidade que o sistema construtivo proporcionava, como também pela vantagem que

aportava à manutenção das instalações. Estas, localizadas entre pavimentos,

completamente separadas do resto do edifício, poderiam ser consertadas ou mantidas sem

interferir nas atividades do hospital. Outra vantagem obtida pela adoção dessa tipologia era

a facilidade com que se podiam reagrupar horizontalmente os diferentes departamentos,

alterar as relações função-espaço, alternar verticalmente localizações: daí a designação de

“espaço universal” que acompanha essa tipologia (REDSTONE, 1978).

O objetivo principal do “espaço universal” era que o hospital não ficasse obsoleto frente

aos avanços das Ciências Medicas, tão rápidos que o tempo da construção do hospital, em

alguns casos, era suficiente para produzir a perda da atualidade do projeto. A adoção do

tipo sanduíche permitia que se construísse o “esqueleto” do edifício, bem como as

instalações dos principais serviços na interplanta de instalações. O espaço resultante

poderia depois ser adaptado a futuras demandas. Paralelamente, eram escolhidos os

equipamentos, dando-se oportunidade de instalar os modelos de tecnologia mais recentes

disponíveis no mercado. Como as perspectivas buscadas eram as de integrar e condensar, a

volumetria resultante para o tipo “sanduíche” é a do bloco, um paralelogramo em que as

dimensões de planta são comparáveis entre si e superiores à altura.

Um bom exemplo deste tipo é o

Hospital Distrital de Greenwich, em

Londres, concluído em 1969. Trata-

se de um edifício que abrigava 800

leitos de internação. Possuía quatro

andares, com pé direito médio de 2,7

metros, um deles subterrâneo (ver

FIG. 19). Acima e abaixo de cada um

dos três pisos superiores, o edifício

tem pavimentos intersticiais para

serviços e instalações mecânicas, com

instalações

Figura 19 – Fachada principal do Hospital Distrital de Greenwich (destaque para os pavimentos intersticiais) Fonte: STONE,1980.

Page 82: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

74

1,2 a 1,8 metros de pé direito, interconectados por quatro colunas (shafts) verticais que

também incluem escadas e elevadores. A zona de suporte se completa pela existência de

departamentos de serviços no andar subterrâneo, enquanto que as zonas clínica e de

internação se distribuem entre os demais andares.

A estrutura em concreto pré-

fabricado, mais peças metálicas

servindo de tirantes para suportar o

piso dos pavimentos intersticiais,

apresenta largos vãos livres,

conforme se pode observar na FIG.

20. Todo o edifício é servido por ar-

condicionado e é possível dotar de

acesso, a qualquer tipo de

instalação, qualquer espaço de um Figura 20 – Construção do Hospital Greenwich. Fonte: STONE, 1980.

pavimento. Também não se diferenciam quanto a isto os diferentes pavimentos, de modo

que há, no Greenwich, uma total flexibilidade quanto à distribuição do espaço

arquitetônico para distintas atividades. Tão somente se restringe essa possibilidade com

respeito ao fato de que atividades com forte inter-relacionamento devessem localizar-se em

um mesmo pavimento, evitando-se o transporte vertical nesses casos.

Como se vê, essa tipologia se endereça principalmente para equacionar os problemas da

complexidade e da obsolescência do edifício em face de avanços tecnológicos. Em geral, a

expansão de uma zona em detrimento da outra é possível, mas não há facilidades de

expansão absoluta da área construída total.

3.5. O hospital do período pós-modernista

As soluções modernistas para lidar com os problemas de eficiência, crescimento,

complexidade e rápidas mudanças que se apresentavam no projeto de hospitais foram as

regras adotadas nos anos 1950 e 1960, um período de grandes investimentos em infra-

estrutura de saúde. No entanto, já naquele momento, essas soluções passaram a ser

fortemente criticadas. Adicionalmente à questão dos altos custos, o hospital do período

modernista era então visto como excessivamente concentrado e padronizado (LINDHEIM,

1979). Para Verderber e Fine (2000), a crítica aos hospitais modernos também realçava o

distanciamento entre o hospital e as efetivas necessidades dos seus usuários, na mesma

Page 83: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

75

medida do tratamento privilegiado conferido à tecnologia e aos procedimentos médicos nas

decisões arquitetônicas.

Essa afirmação podia ser decomposta em dois planos de análise. No plano mais individual

e familiar do usuário, o hospital moderno podia ser criticado em face da despersonalização

do atendimento ao paciente e da pouca consideração às suas necessidades individuais

(CARPMAN et al., 1986). Já no plano das relações entre o edifício hospitalar e a

comunidade urbana que o abrigava, Verderber e Fine (2000) ressaltam o fato de que,

concebidos para a atenção à saúde em larga escala populacional, os grandes edifícios ou

complexos hospitalares produziam impactos significativos – tráfego, ruído, perda do

caráter de vizinhança por intrusão de edifícios e fluxos não integrados ao bairro,

dificuldades de acesso, entre outros –, sobre a área urbana mais imediata, desproporcionais

aos benefícios diretos e indiretos que para ela produziam.

Por outro lado, a primeira crise do petróleo nos anos 1970, acelerando a inflação e trazendo

recessão econômica, influenciou nos aumentos dos custos da construção hospitalar, quase

provocando sua paralisação. Para Monk (2004), o acirramento e a generalização da crise

fiscal nos países ocidentais também apontava claros limites para a continuidade das

políticas de investimento público e, em todas as áreas de infra-estrutura técnica e social,

viria a fomentar uma tendência mundial à participação de investidores privados na

provisão de serviços hospitalares.

Naquele momento, por todas essas razões, a palavra chave passaria a ser a redução de

custos. O custo dos serviços também se tornara insustentável: a alta tecnologia utilizada

nos serviços de apoio ao diagnóstico e tratamento tornava excessivamente dispendiosa a

atenção à saúde para os seguros, para os institutos públicos e para a sociedade. Foi nesse

sentido que mudaram as políticas governamentais para a saúde. Para Valins et al. (1996), a

nova política enfatizava a prevenção e procedimentos menos sofisticados ou invasivos. A

intenção era, sem redução da qualidade de atendimento, evitar o recurso desnecessário à

alta tecnologia e a intervenções que redundassem em longas estadias do paciente no

hospital.

No caso da arquitetura hospitalar, analogamente, várias propostas surgiam no sentido de

tornar os hospitais mais apropriados à escala humana, ao mesmo tempo em que se

reduzissem os custos de construção e manutenção. As experiências com a planificação e o

Page 84: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

76

projeto de hospitais com essas novas idéias só começaram a aparecer a partir dos anos 80,

e vieram essencialmente de dois distintos grupos (VERDERBER; FINE, 2000).

O primeiro – composto por profissionais militando na área da saúde e acadêmicos –

defendia a atenção à saúde centrada no paciente; o segundo, composto principalmente por

provedores públicos ou privados de serviços, se preocupava com os aspectos econômicos

do atendimento hospitalar. Convergiam ambos, a despeito de seus distintos interesses e

objetivos, em que um edifício hospitalar atrativo e convidativo teria um impacto positivo

sobre os clientes. Para os primeiros, em função do bem-estar propiciado aos pacientes e

familiares; para os demais, em função do que aquilo representava para o negócio do

hospital (VERDERBER; FINE, 2000).

A convergência dessas opiniões influiu sobremaneira no hospital a partir dos anos 1980.

As mudanças, no princípio, foram essencialmente de natureza organizacional. Mais tarde,

entretanto, foram imbuídas de imperativo arquitetônico (VERDERBER; FINE, 2000). Em

fins daquela década, foram surgindo resultados de pesquisas que identificavam o ambiente

hospitalar como causa de stress ambiental (MALKIN, 1992). Por outro lado, estudos sobre

os efeitos do ambiente do hospital moderno no usuário obtiveram resultados que

mostravam relações de causa-efeito entre ambiente e stress ou redução de bem-estar dos

pacientes (CARPMAN et al., 1986).

Embora de porte limitado, essas pesquisas iniciais sobre a percepção do usuário do

ambiente do hospital moderno tiveram algum impacto sobre os projetistas e

empreendedores. Tratava-se de um impacto discreto, se comparado com aquele produzido

pelas análises de mercado as quais, em um contexto de competição entre hospitais,

apontavam a necessidade de reformulação dos ambientes hospitalares como diferencial

competitivo no negócio. Produziu-se, então, a necessidade de soluções arquitetônicas

distintas das modernas, principalmente por serem centradas no paciente e não nos

procedimentos e na tecnologia. De acordo com Miller e Swensson (2002), o conceito de

familiaridade surgiu como chave para atender os requisitos desse hospital pós-moderno, ou

seja, para tornar atrativo, humanizar e diminuir o stress nos edifícios hospitalares. Essa

idéia de familiaridade foi formulada segundo duas vertentes.

Na primeira, tratou-se a complexidade hospitalar e a possibilidade de sua expansão como

uma questão de implantação territorial, não mais – como no caso modernista –

Page 85: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

77

concentrando-se todos os serviços em um mesmo edifício ou complexo de edifícios

contíguos (VALINS et al., 1996). Assim, a instituição hospitalar passava a se implantar

segundo a lógica de serviços hierarquizados, com unidades articuladas que eram

distribuídas no território, integrando-se de forma mais adequada à comunidade, na qual se

posicionavam de forma menos impactante.

Na segunda vertente, mantinha-se um hospital de referência para os serviços de maior

complexidade, mas esse edifício seria relativamente menos concentrado e menos oneroso

que seus análogos da fase modernista. Ademais, passaria a ser concebido de modo a evitar

a padronização, a rigidez das prescrições e a presença ostensiva da tecnologia médica,

buscando-se espaços mais humanizados, mais atrativos e que viessem a colaborar com o

processo de recuperação dos pacientes (HOSKING; HAGGARD, 1999).

3.5.1. O tipo “shopping / hotel / residência”

Para fazer frente aos novos conceitos e paradigmas diretrizes do ambiente hospitalar, os

arquitetos, nas últimas duas décadas, lançaram mão de três tipos básicos que se

encaixavam em seus objetivos de transformar o hospital em um espaço familiar para

pacientes e para visitantes. Esses tipos foram o shopping center, o hotel e a casa.

O shopping center tornou-se familiar na cultura ocidental como lugar de compras, de lazer

e interação social (MONK, 2004). De acordo com Miller e Swensson (2002), a origem da

idéia de apropriar o conceito do shopping mall em edifícios hospitalares pode ser rastreada

até os longos corredores interligando os edifícios de consultórios aos hospitais em

complexos de serviços médicos. Esses corredores, devido ao grande volume de tráfego de

pessoas neles circulando, passaram a ser usados para abrigar pequenos locais: farmácias,

lanchonetes, floristas, lojas de presentes, entre outros.

À parte o fato de que essa solução agrega valor ao empreendimento hospitalar, é

importante ressaltar que ela possui características outras que são úteis para a organização

do hospital. Por um lado, oferece conforto e segurança a pacientes e visitantes. Por outro,

organiza e facilita a distribuição das circulações e dá flexibilidade aos serviços de

pacientes internos e externos.

Associando esta tipologia contemporânea do shopping center – com significação de lazer e

consumo – às tipologias hoteleiras, o hospital do período pós-moderno visa atingir dois

Page 86: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

78

objetivos ao mesmo tempo (VERDERBER; FINE, 2000): por um lado, consolidar-se como

estrutura agradável ao paciente e a visitantes; por outro, oferecer ao paciente interno,

tratado como hóspede, uma atenção mais personalizada.

As repercussões mais propriamente arquitetônicas dessa tendência aparecem de forma

direta, por certo, nas áreas de internação. Mas vão além disso, como lembram Miller e

Swensson (2002), influenciando na oferta de espaços internos desfrutáveis e humanizados

(jardins, áreas de espera, descanso e convivência), mas também nas áreas de lobbies, átrios

e balcões de check-in, estruturas de cozinha e lavanderia. No caso dos apartamentos de

internação, é possível observar que a arquitetura hospitalar tem primado pelo

residencialismo, seja na projetação de quartos com caráter mais pessoal, flexíveis, de

decoração mais próxima àquela que o tipo de cliente tem em seu próprio lar, seja na

possibilidade de que os clientes possam internar-se com bens pessoais (MALKIN, 1992).

Esse tipo de hospital quer se desvencilhar da imagem institucional do hospital impessoal,

associado a doenças, stress, ansiedade. Por isso, segundo Miller e Swensson (2002),

partem da convicção de que ambientes familiares ao paciente e a sua família podem

promover, mais que ambientes não-familiares, a sua recuperação. Daí que, em interiores,

esse tipo de hospital se caracterize pelo uso de texturas, cores, iluminação, mobiliário,

vegetação, todos eles manipulados com conhecimentos oriundos de estudos relativos ao

papel do ambiente no comportamento humano (HOSKING; HAGGARD, 1999). O intuito

é o de conseguir um ambiente confortável, seguro e acolhedor para o usuário dos serviços,

inclusive por interesse de mercado: esses são valores apreciados pelos clientes, e atender

essas expectativas pode ser um diferencial do negócio, em um ambiente competitivo.

Em síntese, as idéias de escala humana e os conceitos de humanização que foram

introduzidos na arquitetura hospitalar mais recente deram origem a um novo tipo

arquitetônico. Embora a consolidação desse tipo seja muito recente, pode-se afirmar que as

diretrizes que ele aponta para a estruturação de forma e as definições espaciais e tectônicas

do edifício hospitalar têm sido seguidas em todo o mundo ocidental (MONK, 2004).

Um exemplo que bem ilustra esse novo tipo arquitetônico pode ser apreciado no caso do

Pine Lake Medical Center, em Mayfield, Kentucky (FIG. 21). O edifício, concluído em

1993, foi concebido para substituir um antigo hospital, de princípios dos anos 1950. O

Centro Médico dispõe de 107 leitos de internação, em 21.000 m2 de área construída. Os

Page 87: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

79

serviços da instituição são dirigidos para uma comunidade específica. Para ela, foram

planejados consultórios médicos, serviços de apoio ao diagnóstico, serviço de emergência,

cirurgias de média e baixa complexidade, além de serviços de atendimento a pacientes

externos.

Figura 21 – Reprodução fotográfica, fachada do Pine Lake Medical Center. Fonte: MILLER; SWENSSON, 2002

Esses serviços foram distribuídos em um

pavimento térreo. Acima desse pavimento

foram erguidos dois volumes. O primeiro,

em forma de cruz, com três pavimentos,

onde estão localizados os leitos de

internação. O segundo, retangular, de quatro

pavimentos, onde estão os consultórios

médicos.

No pavimento térreo (ver FIG. 22),

há um lobby circular – na entrada

principal do edifício – que se

interliga a um pátio interno, ao qual

se tem acesso também pela entrada

da torre de consultórios médicos.

Desse contínuo formado pelo lobby,

pátio e acessos parte todo o sistema

de circulação horizontal e vertical

do complexo.

Figura 22 – Planta do térreo do Pine Lake Medical Center.Fonte: MILLER; SWENSSON, 2002

O pátio interno tem um pé direito equivalente a quatro pavimentos, com um teto

envidraçado que cria um fluxo de luz natural que, juntamente com alguma vegetação e

revestimentos, dá ao pátio o aspecto de um átrio utilizado em shopping centers ou hotéis. É

em torno do lobby e do átrio que estão dispostos os serviços administrativos – para todos

os pacientes –, os serviços de atenção e suporte aos pacientes externos, bem como as

unidades comerciais, como a farmácia, um restaurante e a loja de presentes. O centro

cirúrgico e os serviços de apoio, que necessitam de privacidade ou acesso restrito aos

pacientes, são ligados com o átrio através de circulações. Ou seja, o átrio assume um peso

importante na organização dos espaços. É através dele que o usuário entra no edifício e tem

Page 88: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

80

acesso aos seus serviços. É valorizado pelo aspecto estético, com grande pé direito,

iluminação zenital, vegetação e outras amenidades ambientais.

No centro do bloco de internação (ver

FIG. 23) em forma de cruz se localiza

o posto de enfermagem, de onde é

mais fácil supervisionar os leitos

distribuídos nas quatro alas. O espaço

de interseção das alas coincide com o

lobby circular do pavimento térreo,

onde estão situados os elevadores que

lhe dão acesso. Como a tendência é

que esse tipo de unidade hospitalar

seja cada vez mais dedicado a

pacientes agudos, a forma de cruz que

se deu ao bloco da internação

também se justifica pela adaptação

Figura 23 – Planta do pavimento tipo da torre de internação, Pine Lake Medical Center.Fonte: MILLER; SWENSSON, 2002

fácil do espaço a uma unidade de terapia intensiva. O outro volume retangular de quatro

pavimentos está acima dos serviços de apoio ao diagnóstico do térreo e complementa esse

serviço. Seu acesso é através de elevadores que estão no átrio.

As instalações estão concentradas em um único pavimento técnico e são distribuídas

através de shafts e forros falsos, não interferindo de forma significativa na configuração

final da edificação. A estrutura de concreto e metal proporciona grandes vãos facilitando

flexibilidade ao layout. Embora seja modulada, a marcação dos pilares ou módulos não é

percebida nas fachadas. Os blocos que se conectam ao átrio não formam volumes

padronizados pela modulação da estrutura, como acontecia no hospital tipo rua. Nem se

pode saber, através do volume externo, onde está cada zona funcional do hospital, como no

tipo torre sobre pódio. Mesmo as fachadas do bloco da internação não têm o mesmo

tratamento externo, como não quisesse ser identificada cada ala da cruz como tendo o

mesmo uso.

No entanto, o átrio assume funções dentro da organização dos espaços semelhantes ao

pátio interno do tipo claustral. Os espaços são organizados a partir dele, são voltados para

ele, dele recebem luz natural e é a ele que recorrem para comunicar-se. Entretanto, sua

Page 89: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

81

função é de facilitar o acesso desde o exterior, comunicar, fomentar convívio, ao contrário

do claustro medieval, voltado para o interior, propiciador de isolamento. Assim, o átrio

assume uma preponderância significativa para os hospitais pós-modernos.

Apesar de não haver ainda muitos estudos para avaliar esses projetos, eles já recebem

algumas críticas. Miller e Swensson (2002: p. 74 e 75) dão espaço às palavras do arquiteto

Henry Stolzman, para quem é um equívoco disfarçar um hospital como um “lugar que

associemos a conforto”. Para Stolzman, no pior caso, a tendência tem sido “produzir

hospitais tão estéreis e confusos como sempre, com um pouco de acessórios cosméticos”.

Mas, no melhor caso, os novos hospitais, bem ambientados e planejados com inteligência,

seriam vítimas de um erro de princípio: seguir os protótipos errados. Para Stolzman, um

hospital não pode ser como uma casa; eles têm de ser espaços que reflitam um

conhecimento tecnológico. Da mesma forma, não é um shopping center, no sentido de que

este é um ambiente impessoal, incapaz de dotar os cuidados médicos de dignidade e calor

humano.

Em que pese o fato de este debate conceitual ainda não estar suficientemente amadurecido;

e apesar de que as experiências e suas avaliações é que deverão fazer emergir mais

claramente uma tendência tipológica, o momento da produção arquitetônica no campo da

atenção à saúde indica firmemente neste início de século a consolidação de um tipo

arquitetônico híbrido, com raízes no shopping center, no hotel e na residência.

3.6. Um quadro-síntese da evolução tipológica do hospital ocidental

Neste capítulo, buscou-se estudar a evolução da arquitetura hospitalar no Ocidente,

abarcando-se um período que vai da Idade Média até a contemporaneidade, com a

finalidade de construir uma matriz de referência para a análise da evolução tipológica de

arquiteturas hospitalares locais, ou regionais.

Tendo em vista sintetizar os elementos mais essenciais da análise realizada, esta seção

apresenta um quadro-resumo das conclusões obtidas no capítulo (Quadro 1A a 1J, a

seguir).

Page 90: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

82

Quadro 1A – Síntese da evolução tipológica da arquitetura hospitalar no Ocidente

MedievalPeríodo

Tipo ClaustralIn

stru

men

to 1

Espaços organizados a partir de um pátio interno, por meio do qual são estabelecidas as

inter-relações entre os compartimentos e as relações destes com o exterior da edificação.

Através do pátio, os espaços interiores recebem iluminação, servindo ele também para

preservar a intimidade do edifício com respeito à área externa. O consolo espiritual é

exercido a semelhança dos ritos religiosos dos monges, privilegiando a relação dos

enfermos com a religião. A disposição dos espaços segue uma hierarquia em que o

conjunto pátio-claustro é o elemento mais valorizado, seguido pelas quatro enfermarias,

o refeitório e a capela, e por fim, as latrinas e a cozinha.

Palavras-chave: religião; introspecção; intimidade; simplicidade.

Inst

rum

ento

2

Retângulos concêntricos formados por pátio e claustro, na parte mais central, e por

enfermarias, refeitório e capela na parte mais externa. Cozinha e latrinas estão anexadas

ao retângulo, formando uma espécie de edícula. Como os aposentos não são de grandes

dimensões, nem em grande quantidade, a altura do volume é igual à metade dos lados.

Logo, a volumetria assemelha-se a um cubo cortado na metade da altura, sendo a parte

interna vazada pelo pátio. Apesar de que os espaços são organizados a partir do pátio, a

volumetria destaca a capela, com pé direito mais alto que o do conjunto.

Palavra-chave: retângulos concêntricos; simetria; cubo vazado.

Inst

rum

ento

3 A estrutura do claustro é resolvida em colunas lançadas no perímetro do pátio,

igualmente espaçadas, encimadas por arcos semicirculares, tudo em pedra, que suportam

abóbadas em pedra. O resto do conjunto é estruturado sobre paredes de pedra, os

cômodos tendo ou não tetos abobadados. O uso da madeira se restringe à estrutura da

coberta, apoiada nas paredes de pedra dos compartimentos.

Palavras-chave: arcos sucessivos, abóbadas, pedra.

Con

figu

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Page 91: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

83

Quadro 1B – Síntese da evolução tipológica da arquitetura hospitalar no Ocidente

MedievalPeríodo

Tipo BasilicalIn

stru

men

to 1

O principio norteador da organização dos espaços é o de garantir que a missa celebrada

no altar possa ser vista e ouvida desde uma grande quantidade de leitos. Por outra parte,

cumpre também que todas as atividades dos enfermos, religiosas ou não, possam ser

realizadas dentro do mesmo espaço. Logo, a configuração resultante é fortemente

influenciada pela relação entre os leitos e a capela, à qual se segue a necessidade de

abrigar, no mesmo espaço dos leitos, as atividades não-religiosas como beber, comer e

dormir, exercidas coletivamente. Um anexo ao edifício provê latrinas e banhos.

Palavras-chave: Igreja, ambiente coletivo, grandiosidade, magnificência.

Inst

rum

ento

2

Planta retangular, com três naves, dotadas as laterais de mezanino. O altar é colocado em

lugar de destaque, na extremidade do retângulo; o espaço reservado para a disposição –

perpendicularmente às paredes – de grande quantidade de leitos alonga um dos lados do

retângulo. A planta é desenvolvida em uma só direção, a do eixo longitudinal que passa

pelo altar. Cozinha e latrinas ocupam anexos longitudinais, incorporados à edificação por

circulações e acessos. A volumetria do conjunto, com coberta em duas águas de grande

inclinação, justapõe um paralelogramo de seção trapezoidal do hall aberto, discorrendo

horizontalmente, e um prisma de altura destacada, correspondente ao volume da capela.

Palavras-chave: retângulo, paralelogramos, hall aberto, dimensão vertical destacada.

Inst

rum

ento

3

A estrutura tinha linhas de colunas, de grande altura, no perímetro da nave central e com

as paredes laterais de fechamento, tudo em pedra. O teto da nave central era em abóbada

semicircular, em pedra ou madeira, culminando com a capela, abobadada a uma altura

superior e coberta em cúpula. Nas naves laterais, um piso intermediário em madeira se

apoiava em abóbadas que ligavam a série de colunas às paredes externas do hall, e cujo

teto podia ser igualmente abobadado ou simplesmente revelar a cobertura estruturada em

madeira. Assim, a estrutura acompanha a hierarquia tipológica, exibindo magnificência

crescente das naves laterais para a central, e desta para a capela.

Palavras-chave: arcos, grandes abóbadas, pedra, madeira.

Con

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84

Quadro 1C – Síntese da evolução tipológica da arquitetura hospitalar no Ocidente

MedievalPeríodo

Tipo ColôniaIn

stru

men

to 1

Perseguia-se a reprodução de uma estrutura física segregada, que disponibilizasse aos

usuários os espaços e atividades necessárias para a vida de uma comunidade isolada, em

contato direto com a natureza e que buscasse a autosuficiência, exceto pela dependência

de doações e esmolas. Atividades comunitárias – como cozinha, alimentação, banhos – e

as religiosas deveriam ser destacadas, pela centralidade, da vida das famílias, em

acomodações simples, com certo grau de privacidade.

Palavras-chave: coletividade, segregação espacial, natureza, religiosidade

Inst

rum

ento

2

A segregação espacial da comunidade induzia a uma planta fechada, em formato

retangular ou elipsóide, reservando-se o perímetro da área para as acomodações

individuais ou familiares, articuladas em torno de uma área central ocupada por espaços

propícios às atividades coletivas – religiosas ou não. Da volumetria resultante destaca-se

uma coroa perimetral continuamente construída, em pequena altura, ao redor de um

grande pátio onde pontificam as estruturas da capela e as áreas dedicadas a outras

atividades coletivas.

Palavras-chave: perímetro retangular, centralidade, coroa perimetral, pequena dimensão

vertical.

Inst

rum

ento

3 As estruturas singelas e vernaculares das acomodações familiares e dos ambientas de uso

coletivo se resolviam em madeira e alvenarias de pedra brutas, reservando-se as soluções

mais sofisticadas, em pedra e madeira trabalhada, para a capela, eventualmente com o

uso de arcos e abóbadas.

Palavras-chave: simplicidade, pedra bruta, madeira rústica.

Con

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Page 93: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

85

Quadro 1D – Síntese da evolução tipológica da arquitetura hospitalar no Ocidente

Renascença Período

Tipo Enfermarias cruzadas In

stru

men

to 1

A organização dos espaços deve propiciar que um maior número de enfermos, desde seu

leito, possam ver e ouvir a missa na capela. A relação entre esta e os leitos exerce ainda

muito influência na configuração geral, mas há uma preocupação voltada para maximizar

a área de leitos. Apesar do consolo espiritual ainda ser a atividade mais valorizada,

aparecem outras atividades de caráter terapêutico, como farmácia e serviços de apoio. Na

distribuição desses espaços são utilizadas regras de composição geométricas, simetrias,

proporções da arquitetura clássica, bem como a separação dos pacientes por gênero.

Palavras-chave: capela, ambiente coletivo, composição, proporção, harmonia, hierarquia

Inst

rum

ento

2

A planta é formada por dois retângulos cruzados na área onde seria localizada a capela.

Estes retângulos cruzados estão localizados em cada lado de um grande pátio central

onde no final localizava-se uma igreja. Os compartimentos de apoio são posicionados de

maneira que completassem pátios quadrados, com claustros, com as pernas da cruz das

enfermarias, em ambos os lados do grande pátio. Há semelhanças geométricas com o tipo

claustral, mas os pátios são maiores e sua justaposição produz conjuntos bem grandes

com respeito às enfermarias do tipo claustral. Comparadas ao tipo basilical, as

enfermarias são halls abertos cruzados, com proporcionalidade e harmonia entre as

dimensões de planta e a altura. A volumetria do conjunto resulta, entretanto, em larga

hegemonia das dimensões no plano horizontal, em função da justaposição de

paralelogramos de baixa altura relativa, e no destaque para os grandes espaços abertos.

Palavras-chave: paralelogramos cruzados, planta cruciforme, espaços abertos.

Inst

rum

ento

3

A estrutura é repetitiva, simétrica, com uso de pedras, tijolos e madeira. Alvenarias

estruturais suportam tetos planos apoiados em terças de madeira. O piso do primeiro

pavimento é apoiado em abóbada que serve de teto para o porão. Com essa exceção,

arcos e abóbadas de pedras já não mais se sobressaíam na configuração final do edifício,

aparecendo eventualmente com funções estéticas, tendo em vista principalmente a

harmonia das fachadas.

Palavras-chave: madeira selecionada e trabalhada, alvenaria estrutural de pedra.

Con

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Page 94: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

86

Quadro 1E – Síntese da evolução tipológica da arquitetura hospitalar no Ocidente

Renascença Período

Tipo Casa de campo In

stru

men

to 1

A relação leito-capela dos tipos anteriores é substituída pelo sentimento de privacidade

na orientação da organização dos espaços. As enfermarias são menores e contém menor

quantidade de leitos. Os enfermos são separados por gênero. São utilizadas regras de

composição por hierarquia e simetria. A atividade religiosa ainda é importante, com a

capela integrada ao edifício, mas as atividades de caráter terapêutico e de serviços

ganham maior relevância. A preocupação com os custos, a busca de simplicidade e uma

certa racionalidade também influenciam na organização dos espaços. O caráter civil do

edifício confere importância ao acesso e hall de entrada, a partir de que aumenta, na

horizontal e na vertical, o grau de privacidade da atividade.

Palavras-chave: privacidade, austeridade, simplicidade, composição, hierarquia, simetria.

Inst

rum

ento

2

Planta retangular com desenvolvimento axial e simétrico, em forma de H, U, E ou C. A

planta se desenvolve a partir de um eixo longitudinal linear, cortado no final e/ou no

meio do corpo do edifício por eixos transversais. Os compartimentos de apoio e

enfermarias estão distribuídos ao longo desses eixos, ora através de circulações, ora

através de compartimentos sucessivos (enfermaria–corredor). A capela e a escada são

localizadas no centro da planta. Nos três pavimentos, pode-se observar uma ligeira

concentração dos primeiros no térreo e das enfermarias no último. A volumetria resulta

da interseção entre paralelepípedos secundários e o paralelepípedo maior, segundo eixos

ortogonais. A dimensão horizontal da fachada principal se destaca das demais.

Palavras-chave: retângulo, eixos principal e secundário, interseção de paralelepípedos.

Inst

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ento

3

A estrutura da entrada é mais portentosa e aparente, valorizando o saguão com vãos

amplos apoiados em colunas de pedra, arcos e eventuais abóbadas. No resto do edifício,

o usual é a utilização de alvenarias autoportantes em pedras e tijolos como apoio a tetos e

pisos planos, preferencialmente em madeira, mesmo material da estrutura da coberta.

Arcos podem ser usados, mas sua presença é mais estético-decorativa que propriamente

justificada por necessidades estruturais: os vãos não são grandes e as tecnologias de

estruturas de madeira estavam suficientemente evoluídas.

Palavras-chave: madeira selecionada e trabalhada, alvenaria estrutural de pedra.

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Page 95: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

87

Quadro 1F – Síntese da evolução tipológica da arquitetura hospitalar no Ocidente

IluminismoPeríodo

Tipo Pavilhonar In

stru

men

to 1

Espaços organizados a partir das prescrições de um código sanitário, em que ventilação e

insolação são os principais aspectos tratados. O arranjo do mobiliário e a ergonomia dos

espaços também são considerados. As atividades terapêuticas são as mais importantes e o

espaço mais valorizado é a enfermaria, estruturada de modo a facilitar a supervisão dos

enfermos. As circulações assumem importância na distribuição de espaços e na disciplina

dos fluxos. Ao longo da vigência do tipo, há uma crescente valorização da privacidade e

uma crescente absorção das idéias funcionalistas. Uma noção preliminar de zoneamento

funcional é utilizada.

Palavras-chave: sanitarização ambiental, disciplina, supervisão x privacidade.

Inst

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2

Os pavilhões se resolvem em plantas retangulares, e se conectam a um extenso hall de

circulação. A orientação vigente na conexão é usualmente a 90º, mas o tipo contempla

soluções radiais ou a 45º. O espaço interior da enfermaria é semelhante a um grande hall

aberto, em que os leitos são colocados lado a lado sem divisórias, para facilitar a

supervisão de enfermos desde o posto de enfermagem. Com o tempo, diminui-se a

quantidade de leitos, devido ao sentimento crescente de privacidade. O posto se situa

numa extremidade do pavilhão; na extremidade oposta estão os banhos e latrinas.

Algumas atividades, como salas de cirurgias, refeitórios, salas dos médicos, podem estar

descentralizadas. A volumetria do conjunto é dada pela interseção entre os pavilhões

prismáticos (cobertos em duas águas), com até três pavimentos, e o contínuo corredor de

interconexão, em um pavimento, sendo também marcada pelos espaços abertos.

Palavras-chave: retângulos, paralelos, regularmente espaçados, grandes circulações.

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3

A estrutura é organizada de forma repetitiva, reincindindo sobre alvenarias autoportantes

de pedra e tijolo. Essa solução implica que os arranjos espaciais em cada piso de um

dado pavilhão requerem que as alvenarias de fechamento dos compartimentos recaiam

sobre alvenarias no pavimento inferior. As exceções devem ainda ser equacionadas com

recurso ao arco de pedra facejada ou tijolos. Em geral, entretanto, os tetos são planos, em

madeira, com apoio em peças de madeira. A partir da segunda metade do século XIX,

entram em cena as estruturas metálicas e, posteriormente, o concreto armado.

Palavras-chave: alvenaria estrutural, madeira, pedra e tijolos.

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Quadro 1G – Síntese da evolução tipológica da arquitetura hospitalar no Ocidente

Modernismo Período

Tipo Torre sobre pódio In

stru

men

to 1

O principio organizador do espaço é o de produzir um conjunto eficiente, racional e

produtivo. A organização segue uma hierarquização funcional em unidades, que depois

se reúnem em zonas – internação, clinica e apoio. Estas zonas são distribuídas, segundo

suas inter-relações funcionais, formando um todo concentrado. Usam-se equipamentos

mecânicos para climatização e circulações verticais. A internação é a principal zona e

contém enfermarias com pequena quantidade de leitos e apartamentos individuais. Os

fluxos de pacientes externos e internos, funcionários, resíduos, material, são separados e

hierarquizados, tudo isso de uma maneira sistêmica. São considerados aspectos como

lote e relação com o entorno.

Palavras-chave: concentração espacial, sistêmico, funcional, eficiente, fluxos

hierarquizados

Inst

rum

ento

2

Planta retangular, com vários pavimentos conectados através de circulação vertical,

escadas ou elevadores, posicionados estes no centro da planta. As circulações horizontais

formam uma espécie de anel que inscreve as circulações verticais. Externamente ao anel,

ficam os compartimentos que, por sua vez, estão na parte mais externa do retângulo,

recebendo iluminação natural. Observada a volumetria, pode-se identificar a localização

das zonas, uma torre em forma de paralelogramo vertical onde se localiza a internação. O

eixo da torre é ortogonal com respeito à base, em forma de paralelogramo horizontal

(pódio), onde estão localizadas as zonas de apoio e clinica. A zona de internação se

destaca na volumetria final.

Palavras-chave: base, paralelogramos, torre, prismas, pavimento-tipo, circulação vertical

Inst

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ento

3 O avanço dos materiais e tecnologias de estrutura, com o uso de treliçados metálicos e

pórticos em concreto, tridimensionais em ambos os casos, possibilita que o pódio seja

tratado de forma a garantir grandes vãos livres, necessários principalmente na zona de

apoio, e que a torre seja de grande altura pelo uso de peças verticais em concreto armado.

Palavras-chave: concreto armado, treliças metálicas, torre

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Page 97: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

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Quadro 1H – Síntese da evolução tipológica da arquitetura hospitalar no Ocidente

Modernismo Período

Tipo Rua hospitalar In

stru

men

to 1

O principio organizador do espaço é o de produzir um conjunto que possa expandir suas

partes, em tempo e intensidades diferentes, sem afetar o conjunto. Atividades são

grupadas em unidades que, por sua vez, são organizadas em zonas funcionais e

distribuídas segundo suas inter-relações em áreas espalhadas e independentes. Uma

circulação principal faz a ligação entre as unidades e zonas, fazendo um itinerário que

segue o fluxo e sequenciamento de procedimentos. Há preocupação com os acessos e

com a ocupação do lote. Não há zona principal, todas podem crescer segundo seu ritmo.

Palavras-chave: expansível, sistêmico, funcional, fluxos, sequenciamento.

Inst

rum

ento

2

Plantas retangulares se conectam a uma via de circulação troncal. As plantas são

posicionadas paralelamente e se desenvolvem segundo um eixo longitudinal que se cruza

ortogonalmente com o eixo da circulação principal. As extremidades das plantas ficam

livres para crescer, podendo cada uma delas ter um tamanho diferente. O espaço interno

de cada edifício é desenvolvido a partir de um módulo tridimensional. O tamanho final

varia de acordo com os requerimentos funcionais de cada unidade ou zona, mas tendo

como base um módulo básico de crescimento. A volumetria configurada no tipo é dada

por uma série de paralelogramos, de pouca altura, que se conectam a uma circulação

aberta nos extremos. O conjunto é hegemonizado pela extensão da rua hospitalar de

conexão entre os edifícios.

Palavras-chave: modulação, padronização, volumes paralelepipedais.

Inst

rum

ento

3 Em geral, a estrutura é o fator de uniformização arquitetônica, na medida em que o

sistema estrutural é modular e tem seus componentes singulares padronizados. A solução

é viabilizada pela tecnologia de concreto armado ou protendido, pré-usinado, para

pilares, vigas e lajes. Soluções baseadas em tecnologia de estruturas metálicas também

são passíveis de aproveitamento.

Palavras-chave: estrutura modular, pré-fabricação, padronização de componentes.

Con

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Quadro 1I – Síntese da evolução tipológica da arquitetura hospitalar no Ocidente

Modernismo Período

Tipo SanduícheIn

stru

men

to 1

A organização espacial é fortemente influenciada pelos requerimentos ambientais dos

equipamentos médicos de tecnologia avançada e o combate à obsolescência provocada

pelo rápido avanço tecnológico. Esse combate se dá principalmente através da disciplina

das instalações e utilidades em pavimentos técnicos e da estrutura independente modular.

As distintas atividades são grupadas hierarquicamente em unidades e zonas funcionais,

sendo posicionadas de acordo com suas inter-relações. A zona clínica é a mais

importante e nela se concentra a presença das atividades que utilizam os equipamentos de

alta tecnologia.

Palavras-chave: flexibilidade, instalações disciplinadas, funcional, combate à obsolescência

Inst

rum

ento

2

As plantas são retangulares, ordenadas umas sobre outras segundo um eixo vertical.

Intercaladas entre duas plantas dedicadas às atividades hospitalares está uma planta

técnica, usada para circulação horizontal e distribuição das instalações e utilidades. A

circulação vertical das instalações se faz por shafts que ocupam espaços nos extremos do

volume edificado. A volumetria resultante é a do bloco monolítico, de altura

relativamente baixa e de dimensões de planta comparáveis entre si.

Palavras-chave: espaços técnicos, espaço universal, bloco monolítico.

Inst

rum

ento

3 Estrutura em concreto armado, com lajes colméia ou protendidas, com o fim de garantir

grandes vãos livres, pisos e tetos planos em todos os pavimentos, mesmo os intersticiais.

O contorno do edifício é marcado pela presença de colunas e vigas periféricas de grande

porte.

Palavras-chave: grandes vãos, estrutura aparente, estrutura modular independente

Con

figu

raçõ

es c

orre

spon

dent

es

Page 99: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

91

Quadro 1J – Síntese da evolução tipológica da arquitetura hospitalar no Ocidente

Pós-modernismo Período

Tipo Shopping center/hotel/residência In

stru

men

to 1

Os espaços são organizados em torno de um pátio interno, considerando a idéia de

familiaridade, atendimento menos impessoal e humanizado. As atividades são agrupadas

por função e seu posicionamento relativo leva em conta, além das rotinas médicas e das

necessidades de fluxo e tecnologia, as necessidades dos pacientes internos. O pátio

interno ou átrio é o espaço mais valorizado da edificação, responsável por consolidar um

ambiente agradável para pacientes e visitantes, ambiente esse reforçado pelo caráter

residencial das acomodações de quartos e enfermarias.

Palavras-chave: foco no paciente, humanização, familiaridade

Inst

rum

ento

2 A planta se desenvolve a partir do átrio, ao qual se conectam compartimentos ou grupos

de compartimentos, seja diretamente ou por meio de circulações. O átrio tem altura de

mais de um pé direito, encerrado em teto que permite iluminação zenital. Os grupos de

compartimentos formam volumes diferentes entre si, não havendo um volume

predominante no conjunto, exceção feita ao destaque do átrio.

Palavras-chave: diferenciação interior, átrio,

Inst

rum

ento

3

As soluções estruturais são diversificadas mesmo no âmbito de cada projeto, com uso de

concreto, madeira ou metal segundo indique a situação. Salienta-se a solução usual para

átrios e lobbies, estruturados mediante vigas e pilares de contorno e panos de coberta em

treliçados metálicos tridimensionais. Nas áreas de internação, a estrutura é menos

evidenciada, embutindo-se pilares e vigas em alvenarias e disfarçando-se as lajes colméia

ou planas por forros falsos em pvc, madeira ou gesso.

Palavras-chave: diversificação, flexibilidade

Con

figu

raçõ

es c

orre

spon

dent

es

Page 100: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Capítulo 4

Implantação de hospi ta is em Natal

ao longo do século XX

Page 101: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

93

4. Implantação de hospitais em Natal ao longo do século XX

Este capítulo visa a caracterizar o conjunto de edificações hospitalares implantadas em

Natal desde fins do século XIX, conjunto que constitui o objeto empírico da dissertação.

Por certo, a caracterização dos hospitais de Natal requer a elaboração de um pano de

fundo, definido, para os fins desse trabalho, com base nas políticas de saúde adotadas no

país e nas demandas sociais advindas do desenvolvimento da cidade, no período enfocado.

A periodização adotada na análise se impõe, ante outras opções, em face de dois

elementos: a evolução das políticas de saúde no Brasil, segundo indicam análises históricas

do tema; por outro, os recortes temporais correntes na literatura dedicada ao

desenvolvimento urbano de Natal no século XX. Desses fatores, resultou uma proposta de

tratamento do tema em cinco períodos consecutivos, a saber:

a Primeira República (1889 – 1930);

dos anos 1930 até o imediato pós-Guerra (1930 – 1945);

da redemocratização ao golpe militar de 1964 (1945 – 1964);

a ditadura militar (1964 –1985);

de 1985 ao presente (1985 – 2004).

Os limites desses períodos não devem ser entendidos como rígidos, pois é usual que

políticas públicas revelem uma certa inércia em momentos de transição, além de que a

elaboração, a maturação e a execução de projetos de edifícios hospitalares têm prazos

médios a longos, em função de seu porte e de sua complexidade técnica e financeira.

A estrutura do texto segue a periodização adotada, de modo que cada período da

enumeração acima é analisado em uma das cinco seções centrais (da 4.2 até a 4.6) do

capítulo. Esse núcleo central é antecedido por uma seção (4.1) que caracteriza a situação

hospitalar de Natal na época pré-republicana, e sucedido por uma seção conclusiva (4.7),

em que se apresenta uma síntese das conclusões mais relevantes do capítulo.

Cabe mencionar também que uma síntese das informações apresentadas neste capítulo

sobre cada hospital é incluída no Anexo II, segundo os períodos de análise, para os quais se

destacam os elementos mais relevantes do contexto.

Page 102: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

94

4.1. Política de saúde pública e a situação do hospital em Natal no Brasil Imperial

Até já avançado o século XIX, embora fossem preocupantes as altas taxas de mortalidade,

o Brasil ainda não contava com uma política de saúde pública identificável como tal

(IYDA, 1993). O processo de urbanização brasileira ainda era incipiente em meados do

século XIX e só ganharia feição mais significativa já em fins dos anos 1800 (COSTA,

1986). Por outra parte, o Estado brasileiro era então fragilizado pela presença de instâncias

subnacionais que embargavam seu funcionamento efetivo (FAUSTO, 2000). Portanto, nem

o problema urbano se alçava a alturas preocupantes, nem a contrapartida pública de

organização de serviços de saúde era fornecida por um Estado-nação ainda se formando.

Nesse quadro, Costa (1986) assinala que as autoridades locais atuavam apenas com uma

abordagem urbano-higienista da saúde pública, tomando medidas de limpeza pública e de

aterramento de corpos d’água estagnada. Scliar (1987) assinala a presença de hospitais

filantrópicos e beneficentes, implantados por personalidades da vida social e econômica ou

pela Igreja Católica, contando com trabalho voluntário e com a presença de membros de

ordens religiosas. Pequenos auxílios financeiros das autoridades provinciais, entretanto,

não tinham a necessária continuidade e sua efetiva consecução era dependente do esforço

de lideranças políticas ou do prestígio de associações comunitárias. Saliente-se o caráter

segregacionista desses primeiros hospitais, mais assemelhados a “depósitos” para isolar da

sociedade os enfermos, com o objetivo de barrar eventuais processos de contágio em larga

escala. O caso típico é o das “Misericórdias”, cujo primeiro exemplar no Brasil é o

Hospital da Santa Cruz da Misericórdia de Santos, de 1543. Esse tipo de instituição, de

origem ibérica, se estenderia pelo Brasil afora em capitais provinciais e até por cidades do

interior (CAMPOS, 1952), constituindo-se em uma rede de instituições autônomas entre si,

mas guardando sempre o modelo básico de espaço para guarida a enfermos desvalidos.

A situação de Natal repete o quadro com maior ênfase. Fundada em 1599, a cidade teve um

crescimento irrelevante até a segunda metade do século XIX. Segundo Oliveira (2000), por

essa época, a ocupação do território natalense concentrava-se nos bairros da Cidade Alta e

da Ribeira, expandindo-se até o bairro das Rocas de forma rarefeita5. Nas últimas décadas

do século XIX, principalmente com a inauguração do porto em 1872, o bairro da Ribeira

destacou-se como localização preferencial de atividades econômicas comerciais ligadas ou

5 Todas as menções feitas neste capítulo à localização dos hospitais e a bairros de Natal podem ser vistas em sua representação cartográfica no Mapa 1, em anexo.

Page 103: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

95

não à exportação (CASCUDO, 1999). A atividade industrial era então incipiente, pouco

mais que pequenas fábricas de tecido, óleo comestível e sabão. Com essa base econômica,

não é de estranhar que as estimativas de população registrem pouco mais de 16.000

habitantes em Natal, no ano de 1900 (CLEMENTINO, 1995).

Até 1856, a pequena população da cidade não contava com atenção hospitalar: não há, até

então, qualquer registro de hospital em Natal. Os relatos dos Governadores de Província ao

Governo Imperial (FUNDAÇÃO VINGT-UN ROSADO, 2001) apontam para epidemias

de varíola, sarampo e febres, histerias e epilepsia. No entanto, não havia médico residente

na Província nem qualquer forma de tratamento ou atenção especializada aos enfermos. Na

ausência de uma política nacional de saúde, e face aos parcos recursos provinciais, a única

medida que se registra na vida da Província até meados do século XIX, na área da infra-

estrutura edificada da saúde pública, é a aquisição de uma palhoça “acanhada (...), tão

arruinada que pouco poderá durar” (FUNDAÇÃO VINGT-UN ROSADO, 2001, p. ), em

que o Governo da Província depositava as pessoas pobres vítimas de moléstias.

Em face desta situação, entre 1822 e 1856, os relatórios anuais da província solicitavam

recursos ao Imperador para a construção de uma Casa de Caridade. Em meados da década

de 1850, uma forte epidemia de cólera e sarampo obrigou o governador provincial a

adquirir, ampliar e reformar uma casa para abrigar os enfermos indigentes, à qual

denominou de Hospital da Caridade, implantado em 1856 (OLIVEIRA, 2000).

Localizado na Rua da Salgadeira, na encosta da Cidade Alta em direção ao Rio Potengi, no

que era então o limite Noroeste da área urbanizada da cidade, o Hospital da Caridade era

mantido pelo Governo provincial e por doações de instituições de caridade, com recursos

insuficientes para dotá-lo de pessoal especializado. Tratava-se, de fato, de um galpão

anexado a uma

casa de oitões, aonde deviam ser recolhidos doentes escravos, presos e pobres [...] 176 palmos e 53 de largura, sem forração, em que foram acomodados os repartimentos necessários ao hospital (FUNDAÇÃO VINGT-UN ROSADO, 2001, p. 634).

A próxima implantação hospitalar em Natal, de acordo com Araújo (197-) foi o Lazareto

da Piedade, depois Hospital de Alienados, inaugurado em 1882. Repetia-se o mesmo

esquema de financiamento do Hospital da Caridade, tanto para construção quanto para

manutenção. Tratava-se de uma simples casa reformada, destinada a abrigar loucos e

Page 104: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

96

furiosos – até 1911, quando foi renomeado Asilo de Alienados, também recebia vítimas de

epidemias – sem recursos para receber atenção particular. Informa Silva (1989) que a

entidade localizava-se além dos limites construídos da cidade, em terreno onde hoje se

situa o Centro de Saúde do Alecrim. Até 1916, não havia atuação médica na instituição, o

que confere ao Lazareto um caráter exclusivo de segregação de enfermos.

Por fim, já nos primeiros anos da República, em 1892, o governo estadual implantava o

Hospital São João de Deus, a ser mantido por verbas provinciais e doações de filantropos,

dedicado a receber tuberculosos pobres, incapazes de custear tratamentos da doença em

suas residências. Localizado no bairro das Quintas, era uma casa simples, bastante apartada

dos limites urbanizados de Natal (ARAÚJO, 197-).

Assim, chega Natal ao século XX com uma precária infra-estrutura física de saúde pública.

Observe-se que as instituições hospitalares implantadas na segunda metade do século XIX

têm alguns pontos em comum, a saber: o governo provincial arca com o investimento

inicial e reparte com a caridade, associada ou particular, os encargos de custeio; têm

caráter de guarida a enfermos e desvalidos que não podem ser atendidos em seu lar; por

fim, são instituições segregacionistas, sendo seu objetivo principal o de proteger a

sociedade de enfermidades contagiosas ou mentais. Além disso, a estrutura física é um

galpão ou casa, adaptada ao acolhimento de enfermos, sem preocupações de ordem

sanitária, situada nos limites da cidade ou além deles.

4.2. A Primeira República: a construção das políticas públicas de saúde e suas

repercussões nos hospitais de Natal

Durante a Primeira República (1889-1930), os fatores inibidores da posta em prática de

políticas públicas de saúde — fragilidade do Estado nacional e urbanização incipiente —

foram sendo superados (FAUSTO, 2000). Com o crescimento da população urbana e das

cidades, foi se problematizando a saúde pública em bases técnicas. Era um processo de

construção que, antecipando-se e depois se deixando moldar, absorvia idéias do

movimento sanitarista da década de 1910 (a Liga Pró-Saneamento do Brasil), ressaltando-

se aí a conscientização acerca da interdependência sanitária, ou seja, da ineficiência de

circunscrever espacial ou socialmente enfermidades transmissíveis (HOCHMAN, 1998).

Outro elemento de convencimento coletivo, de interesse para a compreensão do

comportamento das elites regionais, é apontado por Scliar (1987): as epidemias nas cidades

Page 105: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

97

portuárias inibiam o comércio exterior, que era vital para a acumulação do capital

mercantil naquele momento do desenvolvimento nacional. Nesse sentido, o papel de

Oswaldo Cruz na chefia da Direção Geral de Saúde Pública (DGSP, repartição do Governo

Federal para a Capital do país) foi vital para o período por seu efeito demonstrativo.

Encarregado de sanear a Capital do país, Cruz obteve êxitos no combate às epidemias,

evidenciados pela expansão de suas medidas a outras sedes portuárias importantes. Mas, a

generalização dessas políticas encontrava resistência no modelo federativo então vigente, e

seriam necessários esforços substanciais para que as elites locais abrissem mão de suas

atribuições em prol de uma atuação centralizada (HOCHMAN, 1998).

Concretamente, uma investida na direção de uma política nacional de saúde pública pôde

ser contemplada (PERES, s/d) com a criação da Justiça Sanitária, a obrigatoriedade da

vacinação antivaríola e da notificação de certas doenças, o estabelecimento dos serviços de

saneamento e profilaxia rural — na década de 1910 —, atingindo-se o clímax com a

criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) em 1920, ainda subordinado

à Pasta da Justiça e Negócios Interiores.

O DNSP, inspirado no DGSP de Oswaldo Cruz e dirigido por Carlos Chagas, nascia para

coordenar as ações de saúde pública no país (SANGLARD; COSTA, 2004, p. 109), “de

forma mais direta no Distrito Federal e, por meio de convênios, nos estados”. Hochman

(1998, p. 84) informa que o decreto de criação do DNSP estabelecia “ [...] uma inspetoria

específica vinculada diretamente à Diretoria Geral” dedicada ao combate à hanseníase e as

doenças venéreas. Para Rocha e Veiga (2004), esse fato – associado à compreensão de

que o tratamento e isolamento dos hansenianos era atribuição estatal e não uma questão de

caridade pública – revela como o Estado brasileiro de princípios do século XX assumia a

implantação de políticas sanitaristas, à revelia das críticas e até de revoltas sociais, como a

Revolta da Vacina.

Uma outra inovação importante surgida na Primeira República são as CAPs – Caixas de

Aposentadorias e Pensões, instituídas em 1923 com o objetivo de criar, nas empresas

ferroviárias, uma entidade previdenciária para os empregados, a ser administrada por estes

e pela empresa, sem interveniência estatal direta. Sobre o modelo CAP, que dominaria a

cena até 1931, Oliveira e Teixeira (1989) informam que as Caixas asseguravam a prestação

de serviços médicos de duas distintas formas: no princípio, as CAPs contratavam a

Page 106: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

98

assistência junto a profissionais médicos; em 1926, foram autorizadas a organizar seus

próprios serviços médico-hospitalares.

No campo das edificações hospitalares, cabe mencionar os projetos de Luiz de Morais

Júnior para o DGSP e para o Instituto Soroterápico de Manguinhos, ambos dirigidos por

Oswaldo Cruz. Nesses projetos, afirma Benchimol (1990), Morais Júnior associava as

regras da arquitetura hospitalar pavilhonar de fins do século XVIII com o enfoque

científico do edifício oriundo das descobertas de Pasteur. Sanglard e Costa (2004, p. 108)

também destacam nos projetos de A. Porto d’Ave na década de 1920 – que fazem desse

profissional “uma das maiores referências em arquitetura hospitalar da década de 1920 até

meados da década de 1930” – a presença de elementos dos hospitais pavilhonares

europeus. Daí poder-se afirmar que ainda na Primeira República foram introduzidos

princípios curativos e terapêuticos nos edifícios hospitalares do país.

Vale observar que esses edifícios “terapêuticos” estavam direta ou indiretamente à ação

governamental na área de saúde, em bases técnico-científicas. Se os projetos de Morais

Júnior se vinculam diretamente à atuação em organismos públicos do cientista Oswaldo

Cruz, os de Porto d’Ave se articulam com fundações privadas filantrópicas ligadas à causa

do combate a males que afligiam a sociedade: o Hospital da Fundação Gaffré e Guinle,

para portadores de doenças venéreas, foi resultado de ação pessoal de Carlos Chagas junto

às famílias Gaffré e Guinle (CHAGAS FILHO, 1993); o Hospital do Câncer da Fundação

Oswaldo Cruz, financiado pela família Guinle sob os auspícios de uma entidade – a

Fundação, instituída por iniciativa de um grupo de médicos – criada para cultivar a

memória de Oswaldo Cruz, teve seu projeto analisado e aprovado por uma Comissão

Técnica em que figurava o mesmo Carlos Chagas (SANGLARD; COSTA, 2004).

Assim, na Primeira República, ganha corpo no Brasil a idéia de uma ação mais incisiva do

Estado, científica e tecnicamente lastreada, com respeito à saúde pública. Tal processo,

desenhado e posto em marcha nos grandes centros urbanos do país, especialmente na

capital federal, reflete-se parcialmente em Natal.

Nas três primeiras décadas do século XX, a cidade registrava um acentuado crescimento

populacional, praticamente dobrando a população entre 1900 e 1920. Nesse período,

registra Santos (1998), a cidade teve seu crescimento planejado, com o projeto da Cidade

Nova (Plano Polidrelli, de 1904) e o Plano de Sistematização Geral da Cidade, coordenado

Page 107: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

99

por Palumbo em fins dos anos 1920. Oliveira (2000) destaca esses fatos como parte de uma

ampla ação das elites dirigentes locais no sentido da modernização da capital, cujo escopo

também incluía atuações na área do saneamento ambiental e da saúde pública.

Essa marca do período analisado em Natal pode ser observada na implantação do Hospital

da Caridade Juvino Barreto, em 1909. A decisão de criar a instituição foi tomada com

posterioridade ao fato de que os primeiros profissionais médicos da cidade houvessem

condenado, por sua alta insalubridade, o antigo Hospital da Caridade, fechado em 1906. O

local escolhido para o novo Hospital da Caridade foi o Monte Petrópolis, onde se situava a

casa de veraneio do Governador Alberto Maranhão, que foi cedida para as devidas

reformas. Tratava-se de um sítio, um pouco afastado da mancha urbana, e próximo ao mar:

“com melhores condições por conta dos bons ares do mar” (ARAÚJO, 2000, p. 15).

A casa doada por Alberto Maranhão foi reformada, com recursos do Tesouro estadual,

visando abrigar, principalmente, pacientes sem recursos. Concebido como hospital geral

com 18 leitos, o Juvino Barreto funcionou nos anos 1910 com apenas um médico

(SARINHO, 1988). Mas, ao redor de 1926, já havia médicos residentes, serviços

ambulatoriais, laboratório de análises clínicas, cuidados de enfermagem por irmãs

religiosas treinadas, e clínica cirúrgica. Depois, passou a dispor também de apartamentos

para eventuais clientes particulares, advindo daí uma receita para a instituição. O custeio,

entretanto, dependia em larga escala de verbas do governo do estado e de doações

individuais.

Por outro lado, um primeiro movimento de atuação integrada entre governos federal e

estadual seria registrada na implantação do Hospital Colônia São Francisco, em 1929,

realizada no âmbito do programa federal de construção de hospitais para combater as

endemias, especificamente, a hanseníase, em todo o país, através da Inspetoria de

Profilaxia da Lepra e das Doenças Venéreas (SANGLARD; COSTA, 2004; ROCHA;

VEIGA, 2004). Dedicado ao confinamento e segregação de pacientes pobres com

hanseníase, o “Leprosário” se localizava na hoje Avenida Capitão-Mor Gouveia, em sítio

bem afastado da área urbanizada de então. No terreno de cerca de 20.000 m2, a área

construída totalizava quase 2.000 m2, distribuídos em três blocos (administrativo,

internação, tratamento), pequenas casas de dois cômodos para enfermos casados e aptos

para cuidar-se, uma sala de cine-teatro, biblioteca, delegacia e uma pequena igreja.

Page 108: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

100

Ressalte-se que, no período da 1ª República, permanece o governo estadual como principal

provedor de serviços hospitalares, embora ainda haja dependência tanto de doações quanto

do esforço voluntário de membros de ordens religiosas, e surjam os primeiros efeitos de

políticas federais no financiamento de ações de saúde pública. No período, inaugura-se em

Natal, ainda que precariamente, o edifício hospitalar com preocupações sanitárias. A

presença de médicos e do laboratório de análises clínicas no ambiente hospitalar configura

uma tendência de introdução de elementos científicos ao espaço do hospital, embora os

cuidados de enfermagem ainda sejam feitos por irmãs de ordens religiosas.

4.3. Estado Novo, política nacional de saúde e desenvolvimento hospitalar em Natal

Entre 1930 e 1945, o projeto nacional de desenvolvimento que orientaria a ação do

Governo Federal reforçava a necessidade de políticas nacionais, diminuídas as objeções

das oligarquias regionais, então com poder político reduzido (FAUSTO, 2000). Na direção

de um presumido Estado de Bem Estar Social, intelectuais e militares nacionalistas

pugnavam pela posta em marcha de uma política nacional de saúde e educação, o que

levou à criação do Ministério de Educação e Saúde, deslocando-se essa da sombra da

Justiça e dos Negócios Interiores e alçando-se à condição de variável central para a

equação desenvolvimentista (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989).

A criação, nos anos 1930, dos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) representou um

marco na história da medicina previdenciária no Brasil. Os IAPs se referiam a categorias

profissionais organizadas, reconhecidas pelo Estado, que indicava a administração

profissional do Instituto. O financiamento da atuação dos IAPs se baseava em

contribuições dos trabalhadores, das empresas e do Estado, gerando recursos para cobrir os

custos de atendimento à saúde dos sindicalizados e familiares, além de permitir a

construção de unidades de saúde e até hospitais. Diferentemente das CAPs na Primeira

República, os recursos dos IAPs eram geridos de modo centralizado. Tomavam-se decisões

de dispêndios no plano nacional das categorias, não no plano geográfico das empresas.

Assim, comentam Oliveira e Teixeira (1989), os IAPs, instituições verticais, centralizadas

e controladas pelo Estado, assumiam o financiamento da face mais visível da política

nacional de saúde: a assistência médica curativa, preferentemente contratada junto a

clínicas e hospitais de terceiros.

Em paralelo aos serviços dos IAPs, havia uma ação direta dos Governos, principalmente o

federal, na formação de serviços especializados e na construção de hospitais. É, entretanto,

Page 109: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

101

relevante observar que, segundo Oliveira e Teixeira (1989), existiam apenas quatro

hospitais da Previdência Social – ou seja, hospitais gerais abertos ao atendimento dos

contribuintes da Previdência – no país, em 1945, o que mostra o direcionamento dos

investimentos públicos diretos para a construção de unidades hospitalares especializadas

em hanseníase, tuberculose, doenças mentais, doenças infecto-contagiosas tropicais etc,

vinculados a programas do Governo Federal de combate às endemias.

Por outro lado, a emergência da II Guerra Mundial e a mobilização de tropas deu origem à

construção de hospitais militares por arma (Marinha, Aeronáutica e Exército), que tinham

o Estado como financiador, mas que não ofereciam atendimento ao público em geral. Por

fim, a ação preventiva de natureza universal seria articulada nacionalmente pelo

Ministério, executada em associação entre este e os Serviços Estaduais de Saúde Pública,

na forma das campanhas idealizadas por Oswaldo Cruz e Carlos Chagas.

Esse modelo de financiamento levou os IAPs a se constituírem em fonte de recursos para

hospitais organizados liberalmente por médicos que se associavam para – com apoio de

instituições sociais beneficentes, dos estados e dos municípios, e até mesmo com recursos

próprios – implantar unidades hospitalares que dispunham de alas e quartos especiais para

o atendimento de pacientes particulares e dos Institutos. Assim, as categorias organizadas

nacionalmente e seus IAPs funcionaram como uma base ampliada de consumo de serviços

médico-hospitalares, de certa forma disseminada pelo país, permitindo que a edificação de

hospitais fosse quantitativamente ampliada e que cada edifício implantado pudesse

apresentar mais atividades de atenção à saúde dos usuários.

Com efeito, se até a década de 1920 os projetos de Morais Júnior e Porto d’Ave tinham

por base a arquitetura do hospital pavilhonar europeu, em suas obras nos anos 30 e 40 eles

passariam a adotar a verticalização que caracterizara a edificação hospitalar nos Estados

Unidos de princípios de século XX. A solução vertical permitia, ainda que sem grande

altura, a diferenciação social e técnica dos espaços que caracteriza a segregação de

atendimento e o zoneamento do espaço hospitalar por diferentes funções (GOLDIN, 1994).

Nessa fase, ocorre uma primeira onda de extensão ao conjunto do território nacional da

implantação de hospitais de cura, já com uma significativa tecnicidade de projeto e uma

incipiente organização administrativo-financeira.

Page 110: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

102

Essas tendências se registrarão parcialmente em Natal. A expansão territorial do

adensamento urbano se consolidou na década de 1940, nas direções Sul/Sudoeste (Alecrim

e Quintas) e Leste (Rocas e Petrópolis). Tal movimento foi em muito influenciado pelo

envolvimento da cidade na Segunda Guerra Mundial. A vinda de grande contingente

militar para Natal, somada aos estímulos à migração campo-cidade do governo Vargas

(políticas compensatórias de auxílio ao trabalhador urbano, criação do salário mínimo),

produziu alterações significativas na dinâmica econômica da cidade, especificamente no

trajeto da implantação hospitalar na Natal desse período.

Como se verá adiante, os hospitais implantados entre 1930 e 1945, em Natal, apresentam

características bem distintas dos implantados nos períodos anteriores. Nesse sentido, vale

salientar que, em 1931, surgia em Natal a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio Grande

do Norte, dedicada a disseminar o conhecimento médico e a aproximar os profissionais

(SARINHO, 1991). A atividade dessa instituição é fundamental para compreender o

processo de modernização técnico-tecnológica dos hospitais de Natal, a partir dos anos

1930 (DAVIM, 1999). Destaque similar deve ser dado à criação, em 1934, da Escola de

Enfermeiras e Parteiras, idealizada para prover pessoal qualificado para as atividades

hospitalares (IDANÉSIA, 199-).

Em 1935, o antigo Hospital da Caridade Juvino Barreto já estava profundamente

reformado, tanto em termos físicos, quanto no que refere ao padrão de serviços. A antiga

casa de veraneio do Monte Petrópolis, adaptada para Hospital de Caridade em 1909, havia

sido ampliada durante os anos 1910 e 1920. Dos dezoito leitos iniciais, nos primeiros anos

da década de 1930 se chegava a uma capacidade de atendimento de cem pacientes internos.

Renomeado Miguel Couto, o hospital ganhara, uma intervenção reestruturadora com

recursos do Governo estadual, cujo erário também subvencionava a manutenção e o

custeio da instituição, dedicada principalmente ao atendimento de pobres e indigentes

(SARINHO, 1988)

Havia, é certo, uma pequena receita advinda do atendimento clínico e da internação de

pacientes particulares, cabendo a gestão de todos os recursos do Hospital à Sociedade de

Assistência Hospitalar, criada pelo médico Januário Cicco, um personagem de alta

significação na trajetória da medicina e dos hospitais em Natal (ARAÚJO, 1985). Das

primeiras cirurgias e procedimentos terapêuticos dos anos 1910 e 1920, chegara-se a um

hospital geral, com um pouco menos que cem leitos (DAVIM, 1999), que contava com

Page 111: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

103

médicos em diversas especialidades: clínica médica e cirúrgica, ginecologia e obstetrícia,

dermatologia, radiologia, oftalmologia e urologia (SARINHO, 1991). Essa especialização

apontava claramente o aumento de tecnicidade e da sofisticação do atendimento, ao tempo

em que diferenciava espaços e introduzia equipamentos dedicados a cada clínica.

Entretanto, ainda faltava um corpo profissionalizado de enfermagem, continuando os

cuidados aos pacientes a cargo de membros de irmandades religiosas.

Em 1936, também estava sendo inaugurado, na Avenida Deodoro, limite entre a Cidade

Alta e Petrópolis, o Hospital Infantil, renomeado Varela Santiago nos anos 1950 (DAVIM,

1999). A construção fora iniciada em 1923, coordenada pelo Instituto de Proteção e

Assistência à Infância do Rio Grande do Norte, em terreno doado pelo Governo estadual.

O Instituto inaugurou o edifício completo em 1936: era um hospital pediátrico, equipado

com ambulatório, raios-X, laboratório de análises clínicas, centro cirúrgico, internação, e

serviços de apoio como nutrição (SARINHO, 1988). Voltava-se ao atendimento de

crianças pobres, com custeio coberto por recursos públicos estaduais e apoio de

filantropos.

Depois do Hospital Colônia São Francisco, no período anterior, o Varela Santiago foi o

primeiro edifício hospitalar mais complexo da cidade a ter um projeto arquitetônico

desenvolvido a partir de terreno nu, sem qualquer construção prévia a reformar ou ampliar.

Com uma área construída de cerca de 950 m2, o Varela Santiago apresentava, como o

Miguel Couto, um certo grau de sofisticação tecnológica.

A existência de programa específico do Governo federal para o combate às doenças

infecto-contagiosas conduziria a nova ação associada dos governos estadual e federal

(como no caso do Hospital Colônia São Francisco). Surgia, em 1943, o Hospital Evandro

Chagas, especializado no tratamento de casos de enfermidades infecto-contagiosas

tipicamente tropicais. Localizado no bairro das Quintas, à época já quase integrado ao

perímetro urbanizado da cidade, o hospital contava com internação e serviços de apoio à

nutrição dos pacientes, além de uma área administrativa, prestando assistência em um

prédio de dois pavimentos, projetado e edificado para esse fim, em terreno vizinho àquele

que continha a casa de abrigo em que funcionava o antigo Hospital São João de Deus

(ARAÚJO, 197-).

Page 112: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

104

Este, por sua parte, foi ligeiramente reformado e ampliado, sendo reinaugurado no mesmo

ano de 1943, com a denominação alterada para Hospital Getúlio Vargas, mantendo-se

como hospital especializado em tratamento de tuberculosos indigentes. Os recursos para a

reforma, segundo Davim (1999), advieram do Governo federal, no âmbito de programa de

construção de sanatórios para tuberculosos.

Por outro lado, ao final do período do Estado Novo, em 1944, o bairro do Alecrim, com

população crescente de camadas médias em função da atividade comercial ali instalada,

receberia a implantação de um hospital geral, a Policlínica do Alecrim. Originalmente, a

Policlínica fora fundada em 1939 por um grupo de médicos e dentistas, recém-formados

em sua maioria (SARINHO, 1988), sob os auspícios do Professor Luiz Soares e da

Associação dos Escoteiros do Alecrim que ele dirigia. O êxito do empreendimento e a

necessidade da população, cuja alternativa seria o Hospital Miguel Couto, do outro lado da

cidade, criou as condições para que o conjunto de clínicas fosse transformado em hospital

geral, com as obras iniciadas em 1942.

Implantado em um lote de 5.000 m2, o hospital Policlínica do Alecrim (o nome só seria

mudado para Hospital Professor Luiz Soares em 1967) teve seu projeto original de 1.297

m2 de área totalmente construído em dois anos. O financiamento da construção, sobre

terreno doado pela Associação dos Escoteiros e situado na Avenida Alexandrino de

Alencar, foi feito com recursos próprios dos médicos, com empréstimos, liquidados estes

com a receita geral dos serviços – diárias e consultas –, e com a receita advinda dos sócios

contribuintes que, em troca de pagamentos mensais da contribuição, ganhavam o direito de

atendimento nas clínicas da Policlínica (SARINHO, 1988, 1991).

Havia clínicas – médica, cirúrgica, ginecológica, urológica, pediátrica, entre outras –,

raios-X, laboratório de análises clínicas, centro cirúrgico e serviços de apoio, como

nutrição e lavanderia, e até, durante algum tempo, serviço de Pronto Socorro (SARINHO,

1988). Observe-se que a Policlínica do Alecrim já apresentava, à época de sua inauguração

como hospital, uma incipiente visão privada do negócio hospitalar, na medida em que o

grupo de médicos que liderava a sua implantação não se identificava como filantrópico.

Também, a administração financeira do empreendimento lançou mão de inovações (a

evolução de clínica para hospital, o sócio contribuinte, o administrador profissional etc)

que o configuram como representante de uma nova cepa de instituições médicas.

Page 113: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

105

Pode-se verificar que os três novos hospitais implantados no período 1930/45 – o Hospital

Infantil, o Evandro Chagas e a Policlínica – já registram um certo patamar de tecnicidade

médica (clínicas especializadas, aparelho de raios-X, laboratório de análises clínicas e, em

alguns, centro cirúrgico). Excetuando o Evandro Chagas, edificado nos então limites da

cidade, a localização se inclina para espaços mais centrais da área urbanizada,

respectivamente na Cidade Alta e no Alecrim, porque os novos hospitais tinham ação

curativa e não eram mais “depósitos” de pacientes a serem isolados da sociedade. Essas

três instituições, além disso, foram projetadas como hospitais desde a sua primeira

concepção, salientando suas diferenças com respeito ao caso de casas readaptadas.

Ressalte-se, entretanto, que o Miguel Couto, instalado originalmente em uma casa

brevemente reformada, já se apresentava como radicalmente transformados em infra-

estrutura e facilidades disponíveis. Novos hospitais, tanto quanto hospitais existentes e

reformados, requeriam então mais espaço, fosse para receber as especialidades médicas,

fosse para incorporar o crescente aparato tecnológico. Por outro lado, o crescimento da

cidade incorporou as antigas localizações remotas à mancha urbana, integrando esses

hospitais ao cotidiano da cidade.

4.4. Da redemocratização ao Golpe Militar de 1964

A partir de 1945 e até 1964, intensificou-se o modelo de saúde pública do período anterior.

Dois fatores principais podem ser enumerados como razões para tal. Por um lado, com

maior solvência devido ao crescimento dos salários nas categorias organizadas, os IAPs

foram progressivamente estimulados pelo Governo Federal a ampliar seu papel na

assistência à saúde dos beneficiários (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989). Por outra parte, o

processo de industrialização iniciado no período getulista passava a criar também uma

classe média, liberal ou assalariada, vinculada ao crescimento econômico.

Assim, ficavam mais claras as possibilidades de empreendimentos hospitalares. Os IAPs,

ainda que aplicassem recursos à construção de hospitais próprios, constituíam um grande

comprador de serviços médico-hospitalares (CAMPOS et al., 1979). Por sua vez, a nova

classe média, com renda suficiente para pagar planos de saúde, fez nascer a medicina de

grupo (convênios) no país (DUARTE, 2001). Tratava-se de companhias organizadas, por

médicos ou por profissionais de outras áreas, para vender seguros-saúde aos empregados

de empresas, com intermediação destas. Capitalizadas, essas companhias puderam lastrear

Page 114: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

106

a construção de hospitais privados, pois a receita que elas proporcionavam se somava às

provenientes de serviços contratados pelos IAPs (POLIGNANO, 1992).

Essa possibilidade de financiamento no longo prazo permitiu que se investisse em hospitais

ainda maiores, verticais pela superposição de pavimentos de enfermarias, capazes de

concentrar o atendimento de uma grande área urbana. Essa mesma tendência vai ser

encontrada nas políticas públicas federal e estaduais, até porque ela respondia ao

desenvolvimento inicial de um tipo de medicina curativa muito amparada por diagnóstico

de base tecnológica e técnicas cirúrgicas mais seguras e precisas. No caso dos hospitais

públicos, os esforços desenvolvimentistas dos últimos anos 1950 e a existência de recursos

orçamentários darão origem aos grandes projetos de hospitais verticalizados, que

permitiam aprofundar o processo de especialização da unidade hospitalar, incorporando ao

edifício equipamentos de suporte técnico e de transporte requeridos por suas dimensão e

sofisticação tecnológica. Da mesma forma, permitia segmentar serviços e atividades

diferenciadas que se articulavam na concepção de “máquina de curar”. Nesse processo,

surgem os sinais de abertura, às parcelas menos abastadas da sociedade, do atendimento

hospitalar terapêutico, incorporando às políticas de saúde pública – por vez primeira e

ainda sem generalização – procedimentos de atenção ao enfermo pobre em hospitais de

porte e qualidade de serviço. Como o crescimento populacional do período se deu

especialmente nas grandes cidades e nas metrópoles brasileiras, estas passaram a requerer

mais áreas hospitalares para atendimento e internação.

Próximo ao fim do período, em 1960, Campos et al. (1979) estimam que a iniciativa

privada respondia por mais de 80% dos hospitais brasileiros. Naquele ano, promulgava-se

a Lei Orgânica da Previdência Social (Lei n. 3.807, de 27/8), pela qual os benefícios

providos pelos IAPs seriam uniformizados. O aumento das prestações de serviços

contratadas junto a terceiros fez com que alguns IAPs tratassem de estabelecer regras para

a contratação de serviços médico-hospitalares. A partir de um primeiro documento “Padrão

de elementos mínimos a serem considerados numa concorrência para a prestação de

serviços hospitalares”, formalizado em 1961 pelo IAPC, dos comerciários, outros IAPs

foram tratando de instituir padrões de avaliação da “assistência hospitalar, em termos de

planta física, equipamento e organização” (CAMPOS et al., 1979, p. 49), um embrião da

normativa edilícia hospitalar que se firmaria nos anos 1960 e 70. Esse movimento

culminaria, já no período seguinte, em 1967, com as tabelas de classificação de hospitais,

classificação nacionalmente usada para definir valores de serviços.

Page 115: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

107

Em Natal, a população de 55 mil habitantes de 1940 quase triplicara para atingir os cerca

de 162.000 habitantes em 1960. A economia urbana mudou amplamente e, após a Segunda

Guerra, havia capital acumulado para financiar uma expansão territorial sem precedentes,

para sul e para oeste, levando os limites urbanos até a Av. Bernardo Vieira e ao bairro das

Quintas. Assim, a meados dos anos 1960, Natal já se constituía como um núcleo urbano

economicamente significativo, concentrando cerca de 15% da população estadual e

apresentando uma razoável diversificação de sua base produtiva (CLEMENTINO, 1995).

A nova dinâmica econômica se refletiria nas relações entre os hospitais e a cidade. A

emergência de categorias organizadas de renda média mais elevada, principalmente devido

ao crescimento da presença estatal na economia ao longo do Estado Novo, capazes de

articular seus IAPs ou de propiciar um mercado para medicina de grupo (ainda que em

bases pioneiras, como no caso dos sócios contribuintes da Policlínica), vai fundamentar

uma maior velocidade de surgimento de hospitais.

Os hospitais já implantados continuaram sofrendo ampliações. De outra parte, o esforço de

guerra e o caráter estratégico que Natal teve no conflito fez necessário prover instalações

hospitalares para os militares aqui sediados: a Marinha ampliou significativamente seu

antigo hospital na Base Ary Parreiras; a Aeronáutica fez construir seu próprio hospital em

Parnamirim (SARINHO, 1988). Só em 1946, era inaugurado o prédio do Hospital da

Guarnição de Natal, do Exército, sediado no bairro do Tirol, o que fez Natal atravessar

toda a Segunda Guerra usando como hospital militar um edifício projetado e construído

para ser a primeira maternidade da cidade.

Desde 1928, Januário Cicco animava um movimento social em apoio à fundação da

Maternidade de Natal. Festas, quermesses, rifas, sorteios, chás beneficentes, entre outras

formas de promoção, iam sendo realizadas com o objetivo de, somando-se as receitas a

doações de comerciantes, em dinheiro ou em materiais, edificar a Maternidade da capital.

O terreno em Petrópolis, ao pé do monte em que se situava o então Hospital Juvino

Barreto, foi doado pelo Prefeito Omar O’Grady e as obras puderam ser iniciadas em

princípios de 1932 (ARAÚJO, 2000).

Cuidava da administração das obras e do empreendimento a Sociedade de Assistência

Hospitalar. Uma vez concluída a obra, em 1941, a Sociedade alugou o prédio ao Ministério

da Guerra para servir de hospital de campanha e de quartel general (TAVARES, 1964).

Page 116: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

108

Provavelmente, além de atender ao esforço de guerra, o adiamento da abertura da

Maternidade se prendeu à necessidade de fundos para equipá-la convenientemente. Talvez

não se contasse, por um lado, com mais quase cinco anos de guerra; ou, talvez, não se

esperasse a demora e a relutância do Ministério em cumprir o preceito contratual de

devolução do prédio, uma vez cessassem as hostilidades (ARAÚJO, 2000).

O certo é que a Maternidade Escola Januário Cicco só veio a ser inaugurada em 1950,

quase dez anos após a conclusão da obra e 22 anos depois dos primeiros passos para a sua

construção. Com especialidade em obstetrícia e ginecologia, a Maternidade dispunha de

enfermarias e apartamentos para particulares, centro cirúrgico, serviços de apoio como

nutrição, lavanderia, laboratório de análises clínicas e farmácia. O edifício, de três

pavimentos, abrigava enfermarias e apartamentos para clientes particulares, sendo de

propriedade da Sociedade de Assistência Hospitalar e mantido em função de convênio com

o Governo estadual, do qual provinham os recursos básicos de custeio. A Sociedade, por

meio de um centro de estudos, também diplomava pessoal de nível médio para seus

próprios quadros e para as cidades do interior (ARAÚJO, 2000)

Um pouco antes da inauguração da Maternidade Escola, em 1949, um albergue para

acolher pacientes com câncer foi transformado no primeiro Hospital da recém-fundada

Liga Norte-rio-grandense de Combate ao Câncer, um grupo de filantropia formado

basicamente por médicos dedicados a esta especialidade. Tratava-se do embrião do hoje

Hospital Dr. Luiz Antônio, e era dedicado a cuidados e tratamentos a pacientes com câncer

que não pudessem ter acesso a outros hospitais. O albergue estava localizado nas Quintas,

um bairro pobre e relativamente afastado do núcleo urbano em que se implantavam os

novos hospitais da cidade. A estrutura física do hospital foi conformada pela sucessiva

incorporação de casas vizinhas ao antigo albergue, que foram adquiridas por meio de

receitas de doações e de alguns recursos próprios obtidos em convênios com institutos ou

com o Governo estadual.

Mostrando a diversidade do empreendedorismo hospitalar do período, deve-se por em

contraste com as experiências da Maternidade Escola (ainda considerando que o início do

empreendimento remonta ao período anterior) e do Hospital Dr. Luiz Antônio o caso da

Casa de Saúde São Lucas. O grupo iniciador da Casa de Saúde era composto por

profissionais médicos com atuação em clínicas e hospitais da cidade. Sarinho (1981)

discorre sobre as razões pelas quais esse grupo se dispôs a empreender o projeto de um

Page 117: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

109

novo hospital na cidade, salientando, por um lado, o fato de a cidade estar mal dotada de

instituições de atendimento médico, principalmente de urgência e, por outro, a dificuldade

encontrada por jovens profissionais em ingressar nas equipes dos hospitais existentes.

Nas palavras de Sarinho (1981, p. 7), ele mesmo um componente do grupo iniciador,

“...não nos movia a preocupação do lucro, mas um local onde o nosso trabalho pudesse ser

feito com maior liberdade”. Sendo a Casa de Saúde um empreendimento de iniciativa

particular, a preocupação da sustentabilidade econômico-financeira do negócio estava

presente, e se manifestou claramente na escolha do local. O bairro do Tirol ainda não havia

sido plenamente ocupado ao fim da Segunda Guerra, quando se fundou a Sociedade Casa

de Saúde e seus membros decidiam sobre onde implantar o hospital que pretendiam

edificar. Parte dos sócios do empreendimento julgava o bairro um tanto distante do centro

da cidade, mas a decisão pelo Tirol se revelaria logo um grande acerto em função do

rápido crescimento que a área experimentaria nos anos 50. O terreno foi adquirido com

recursos próprios da sociedade e um projeto foi elaborado “de acordo com os nossos

planos e sugestões oferecidas pelo engenheiro” (SARINHO, 1981, p. 27). A Casa de Saúde

seria inaugurada em princípios de 1952, contando com corpo médico, enfermagem

profissional de nível médio e irmãs religiosas que faziam as vezes de enfermeiras

diplomadas e administradoras do cotidiano do hospital.

O custeio básico do hospital era garantido pelo atendimento aos IAPs existentes em Natal,

dos quais apenas o IAPI (dos industriários) não teve convênio com a Casa de Saúde. Mas

não era insignificante o aporte de pacientes particulares, em função principalmente das

atividades da clínica cirúrgica (SARINHO, 1981). A estrutura de atendimento da Casa de

Saúde consistia, em dois pavimentos, de enfermarias e apartamentos para internação,

centro cirúrgico, laboratório de análises clínicas, raios-X e serviços de apoio como nutrição

e lavanderia.

De caráter estritamente privado, assim como a Casa de Saúde de São Lucas, surge em 1959

o Hospital Médico-Cirúrgico, em Petrópolis, a poucos metros da Maternidade e do Miguel

Couto. Tratou-se de iniciativa de um grupo de pessoas com atuação profissional na área

médica, endereçada ao veio de mercado aberto pela existência em Natal de IAPs bem

estruturados e por uma classe média emergente, que garantia alguma clientela particular. O

Hospital Médico-Cirúrgico ocupou uma casa reformada, com área de 455 m2, contando

com doze leitos de internação, centro cirúrgico, laboratório de análises clínicas, raios-X,

Page 118: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

110

quatro consultórios e serviços de apoio como nutrição. Foram investidos recursos próprios

do grupo empreendedor, sendo o seu custeio coberto por clientela particular e de

convênios.

Por fim, o período ora estudado ainda registrou a segunda transferência de sede, em 1957,

do Hospital de Alienados (antes Lazareto da Piedade), que deixou o edifício situado na

esquina da Av. Alexandrino de Alencar com a Rua Mário Negócio – em frente ao qual se

implantara em 1944 a Policlínica do Alecrim – e se instalou na mesma Avenida

Alexandrino, mas em sua extremidade oposta, no bairro de Morro Branco, trocando-se sua

denominação para Hospital Colônia João Machado (SILVA, 1989). O novo prédio fora

construído com recursos dos Governos estadual e federal, os quais também assumiam a sua

manutenção e custeamento de atividades. Mantinha-se a natureza da instituição – doentes

mentais –, mas foram introduzidos cuidados terapêuticos, corpo médico e irmãs de ordens

religiosas para prestar assistência e conforto aos pacientes. O edifício possuía dois

pavimentos, espaço de internação e serviços de apoio como nutrição, administração e

lavanderia, reservando-se também acomodações especiais para as irmãs.

Por fim, nos primeiros anos da década de 1960, iniciava-se a construção do Hospital da

Polícia Militar do Rio Grande do Norte, sediado na Avenida Prudente de Moraes, no Tirol

(ARAÚJO, 2000).

Ponha-se em destaque, no período, a implantação de um hospital especializado de grande

porte – a Maternidade –, bem como a consolidação da iniciativa privada no setor

hospitalar, com a Casa de Saúde São Lucas e o Médico-Cirúrgico sucedendo, com uma

estrutura de empreendimento totalmente definida pela lógica privada, a experiência

anterior da Policlínica do Alecrim, em que ainda se encontravam traços de filantropia e de

atuação articulada socialmente.

Ponha-se em realce o fato de que esses hospitais de iniciativa privada são, até este período

ora em foco, sempre hospitais gerais, cabendo a primazia dos especializados ao

investimento público e filantrópico. Por outro lado, cabe ressaltar que o período

estabeleceu definitivamente a presença da tecnicidade e da tecnologia médica nos hospitais

como elemento fundamental da organização do serviço e da assistência, um movimento

que, fomentado pela Sociedade de Medicina e Cirurgia estadual a partir dos anos 1930,

ganhou contornos definitivos em fins da década de 1950.

Page 119: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

111

A importância da Sociedade de Assistência Hospitalar cresceria em 1952, quando a Lei

estadual 693, de 7 de novembro, transferiu por doação para a Sociedade o Hospital Miguel

Couto, pedindo em contrapartida tão somente que se mantivesse um certo número de leitos

gratuitos para os funcionários do estado, conforme contrato que se firmaria posteriormente.

Proprietária da Maternidade Escola e agora do Miguel Couto, a Sociedade de Assistência

Hospitalar proporia em 1955 a criação da Faculdade de Medicina de Natal, recebendo

apoio imediato do Presidente da República (o potiguar Café Filho). Antes de formar sua

primeira turma, a Faculdade, com todo o seu patrimônio, seria incorporada à Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, em fins de 1960.

4.5. O período da ditadura militar (1964-1985)

No período pós-64, vão-se agravar os problemas de saúde pública no Brasil. A urbanização

crescente e o crescimento sem distribuição de renda exauriam as condições sanitárias das

cidades de maior porte e faziam com que as doenças epidêmicas e derivadas de subnutrição

se somassem ao crescimento dos acidentes de trabalho, pressionando as precárias

condições de universalização da atenção à saúde curativa e reduzindo a eficiência dos

programas preventivos (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989). Em 1967, os IAPs foram

unificados no INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), que passava assim a gerir as

contribuições previdenciárias de todas as categorias de trabalhadores.

Se a primeira concepção dos IAPs no Estado Novo era centralizada em comando estatal

mas descentralizada por categoria, e sua evolução na redemocratização após a Segunda

Guerra Mundial levou a um controle mais descentralizado e flexível, a política

previdenciária da ditadura militar ia na direção de uma hiperinstituição nacional, com um

orçamento gigantesco, incapaz de ser gerida adequadamente no plano da produção dos

serviços diretos à sociedade.

O modelo assistencial adotado no período enfatizava o hospital como unidade mais

importante de uma rede hierarquizada de atendimento (não-universalizado) à saúde, em

que a prevenção, precária, era desvalorizada (LUZ, 1986). O modelo priorizava o

atendimento curativo, enquanto a piora das condições sanitárias e o aumento da miséria

repercutiam negativamente na eficiência-custo deste atendimento.

O modelo (centralizado, com contratação de serviços remunerados de terceiros) era

claramente vulnerável a fraudes (LUZ, 1986), e a redução na qualidade média do

Page 120: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

112

atendimento voltou a estimular a construção de sociedades de medicina de grupo, desta vez

contando com a presença de cooperativas médicas regionais e locais articuladas

nacionalmente na sigla UNIMED (DUARTE, 2001). Segundo Akamine (1987), a primeira

UNIMED singular surgiu em Santos, em 1967: dez anos depois, mais de 60 cooperativas

de trabalho médico com a mesma denominação já existiam em todo o país.

A expansão do número de leitos privados se sustentou inicialmente nas mesmas bases do

período anterior, ou seja, pela remuneração aos hospitais privados por serviços prestados

(LUZ, 1986), mas ganharia uma estruturação mais sofisticada com a criação do FAS –

Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social, em fins de 1974. Os recursos do FAS,

aplicáveis em apoio a projetos públicos e privados, beneficiariam especialmente, com

juros subsidiados, os investimentos em construção, ampliação, readequação e

(re)aparelhamento de hospitais privados, depois mantidos pelo INPS à conta de pagamento

por serviços unitários prestados aos beneficiários da Previdência Social (OLIVEIRA;

TEIXEIRA, 1989), sem desprezar as possibilidades abertas pela expansão dos planos de

saúde privados.

O empenho na obtenção de alta produtividade do investimento em unidades hospitalares

reforçaria o caráter concentrado e vertical dos hospitais edificados nesse período,

consolidando de vez a tendência pela volumetria do tipo torre sobre pódio, mesmo quando

outros elementos constitutivos do tipo – funcionalidade, eficiência, por exemplo – não

tivessem sido tomados em consideração. Sobretudo, a preocupação era com a concentração

em unidades hospitalares maiores e “a implantação de hospitais com pequeno número de

leitos não deve ser estimulada, tendo em vista a dificuldade de manutenção (sic)”

(BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1978, p. 7). A visão hegemônica era a de que para

obter equilíbrio “econômico e financeiro” o hospital deveria ser proposto com uma

capacidade não inferior a 150 leitos, ainda que as normas admitissem e apresentassem

estudos para hospitais de 50 leitos, “considerando as nossas condições”, certamente as

demográficas.

Com o objetivo de garantir que essas unidades de saúde tivessem as mínimas condições

sanitárias e operacionais, foi criado pelo Ministério da Saúde um conjunto de normas e

padrões para construção e instalações de estabelecimentos de serviços de saúde: a Portaria

n. 400, de 1977 (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1977). A Portaria vinha coroar um

processo que se iniciara com o “Padrão de elementos mínimos a serem considerados numa

Page 121: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

113

concorrência para a prestação de serviços hospitalares”, do IAPC, em 1961, e que originara

uma atividade de elaboração de normativas de projeto e tabelas de classificação de

hospitais e prescrições sobre o tema, ainda na era IAPs (CAMPOS et al., 1979)

O Governo militar de 1964 tratou o tema com mesma intensidade, envolvendo nele o

Conselho Interministerial de Preços e o INPS. Em 1965, saia a luz um primeiro conjunto

articulado de normas disciplinadoras da construção hospitalar (BRASIL. MINISTÉRIO

DA SAÚDE, 1965), que persistiu vigente até a emissão de novas normas de construção e

instalação do hospital geral (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1974), cujo

aprimoramento e generalização levaram à já citada Portaria n. 400. Válida para todo

território nacional, essa Portaria estabelecia o programa de necessidades das unidades de

saúde, dimensões mínimas por ambiente e outras recomendações como segregação de

fluxos, acessos e implantação do hospital, localização, e escolhas de terrenos. As unidades

estavam categorizadas de acordo com o nível de complexidade e a área de cobertura da

população. O modelo centralizador vigente influenciou diretamente nas diretrizes adotadas

pelo documento, em que se utilizavam tipologias pré-determinadas, programas

arquitetônicos pré-definidos e parâmetros de abrangência nacional calcados unicamente em

dados demográficos.

A estratégia governamental para a área de infra-estrutura construída de saúde tomaria

feições definitivas com a Resolução n. 3 – CIPLAN, de 25 de março de 1981 (BRASIL.

MINISTÉRIO DA SAÚDE E MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA

SOCIAL, 1981) que estabelecia critérios e normas para a adequação e expansão da rede de

unidades físicas de atenção à saúde, com o objetivo de alcançar a sua integração e

hierarquização.

Em Natal, a população crescia com taxas mais altas que a média nacional. Os Censos do

IBGE para 1960 e 1980 indicam, respectivamente, números de 162.000 e 416.000

habitantes, ascendendo o peso da capital na população do estado de cerca de 14% em 1960

para 22% em 1980. Nesse período, a cidade testemunhou a ocupação da periferia urbana

pelos conjuntos habitacionais, financiados pelo Sistema Financeiro de Habitação por meio

do Banco Nacional de Habitação (BNH).

Inicialmente, logo em 1966, com verbas do Governo Federal, o Hospital Getúlio Vargas é

amplamente reformado e ampliado, para funcionar com capacidade para 180 leitos de

Page 122: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

114

internação dedicados a pacientes com tuberculose. Tinha raios-X, laboratório de análises

clínicas, pronto socorro, serviços de apoio como lavanderia, nutrição, almoxarifado,

farmácia, além de salas de aula para atividades didático-pedagógicas ligadas ao Curso de

Medicina da Universidade Federal. A área total construída era de 6.180 m2, em três

pavimentos.

A demanda por serviços hospitalares, agora unificados os institutos no INPS, vai requerer a

implantação de grandes hospitais gerais públicos dirigidos às populações de menor renda.

O primeiro exemplar natalense desta nova política de infra-estrutura hospitalar foi o

Hospital Walfredo Gurgel, inaugurado em 1971. Tratava-se de um hospital geral, com

ênfase no atendimento de urgências e emergências, mas contando com centro cirúrgico,

ambulatório, laboratório de análises clínicas, 150 leitos de internação (não por

coincidência), serviços de nutrição e de lavanderia integrados ao edifício. A área total

implantada era superior a 6.900 m2, em três blocos variando entre um e sete pavimentos. A

edificação, localizada na Avenida Hermes da Fonseca, quase no limite sul do bairro do

Tirol, era de fácil acesso à época desde as entradas rodoviárias de Natal, o que consolidava

o hospital como de referência regional. Os recursos aplicados na construção, na equipagem

e no custeio do Walfredo Gurgel provinham dos Tesouros estadual e federal.

Dos anos 1970 é também o Hospital Santa Helena, uma instituição materno-infantil de

iniciativa privada, com área construída de 3.337 m2, distribuída por três pavimentos. O

Santa Helena foi projetado com centro cirúrgico e obstétrico, berçário, raios-X, laboratório

de análises clínicas e serviços de apoio – lavanderia, nutrição e administração – integrados

ao corpo do edifício. Os recursos para a construção – com aporte do FAS – foram

arregimentados pelo grupo de médicos que constituiu a sociedade mantenedora, cujo alvo

eram os clientes particulares, os de convênio e, também, os da Previdência Social. O

hospital dirigia seus serviços para a população de classe média e média baixa de seu

entorno, localizando-se no Alecrim em uma área residencial de alta densidade.

Esse modelo de atuação da iniciativa privada no setor hospitalar traria para Natal mais dois

exemplares nos anos 1980. O primeiro deles, em 1982, foi o PAPI, um hospital

especializado em pediatria, com 120 leitos de internação, ambulatório, centro cirúrgico,

urgência, raios-X, laboratório de análises clínicas e serviços de apoio – nutrição e

lavanderia, integrados ao edifício. A área construída era de 3.625 m2 e o hospital, objeto de

investimento exclusivamente privado, por meio de empréstimos bancários e com apoio do

Page 123: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

115

FAS, era mantido com receitas provenientes de clientela particular e de convênios. A

localização do PAPI é central, no bairro do Tirol: logo, direcionado a um público de renda

mais elevada.

O segundo hospital privado do período foi a Maternidade Santa Isabel, com ênfase em

ginecologia e obstetrícia, contando com 54 leitos de internação, ambulatórios, centro

cirúrgico e obstétrico, laboratório de análises clínicas e serviços de apoio de nutrição e

lavanderia. Aqui, também se financiou com recursos privados a implantação do hospital e

se buscava garantir o custeio com receitas provenientes de clientela particular e de

convênios, característica da demanda potencial da população de renda média e médio-alta

residente em seu entorno.

Concluindo o período, registra-se o Hospital Santa Catarina. Trata-se de um hospital geral

público, construído, equipado e custeado com verbas dos Tesouros estadual e da União.

Inaugurado em 1985, sua localização revela a preocupação de fazer chegar aos bairros

periféricos, no caso os da Zona Norte, o atendimento médico-hospitalar. Faz parte da

primeira tentativa de implantar efetivamente a rede de saúde hierarquizada e regionalizada

prevista pela Resolução n. 3 – CIPLAN, em Natal e no Rio Grande do Norte. O terreno

escolhido está no Conjunto Santa Catarina, aproximadamente no centro do território além-

Potengi do município de Natal. Assim, o Santa Catarina se apresenta como o primeiro

hospital público de Natal cujo público alvo não é toda a população municipal, mas sim a de

uma certa área do município. O edifício do Santa Catarina resolve-se em um único

pavimento, com área total de 3.500 m2, nos quais se enfatizam clínicas pediátrica,

cirúrgica, obstétrica e ginecológica. Possui ainda serviços de urgência, ambulatórios,

centro cirúrgico, laboratório de análises clínicas, raios-X, nutrição, lavanderia e farmácia.

Do exposto, pode-se concluir que o período correspondente à ditadura militar representou,

para os hospitais de Natal, uma época de expansão relativamente acelerada, com respeito

aos períodos anteriores, tanto no que tange aos empreendimentos privados, quanto aos

hospitais de iniciativa pública. Somente a área construída de hospitais novos no período

(sem contar ampliações dos existentes) ascendeu a mais de 20.000 m2, mais ou menos

distribuídos por igual entre hospitais públicos e privados. Tal fato deve ser vinculado às

facilidades de financiamento bancário e da transferência de recursos federais através do

FAS. Observa-se também a presença do serviço de urgência na maioria dos hospitais

surgidos no período, revelando um avanço na assistência à saúde da população. Há

Page 124: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

116

destaque para o Hospital Walfredo Gurgel, único do período com serviço de emergência e

capacidade para executar cirurgias de maior complexidade. Quanto à tecnologia médica

não há diferenciação para o período anterior: permanecem o aparelho de raios-X e o

laboratório de análises clinicas como representantes deste segmento. Entretanto, as áreas

da nutrição e lavanderia passam a ser incorporadas ao edifício como atividades

hospitalares, merecendo o mesmo grau de exigência de assepsia de outros setores.

Observa-se também uma nova “divisão do trabalho” entre o provedor público e o

investidor privado, na forma de uma presença maior da especialidade (materno-infantil,

pediátrico, ambas de média complexidade) no setor privado, e da ênfase em hospitais

gerais públicos, de média e alta complexidade, revelando um direcionamento dos

investimentos privados para os segmentos de oferta com menores custos e garantia de

mercado.

4.6. De 1985 ao presente

O processo de repolitização do país vai de encontro ao desastre previdenciário promovido

pelas políticas da ditadura militar. A questão do direito à saúde e ao saneamento básico vai

ser tratada, a partir de 1983, no âmbito da luta pela redemocratização nacional. Passa-se a

entender a questão como uma questão de cidadania: saúde e meio ambiente saudável são

traduzidos na pauta dos deveres de Estado e dos direitos universais do cidadão.

Contrariamente à idéia de centralização burocrática, os movimentos sociais adquirem

sotaque municipalista, advogando por um sistema nacional com poder de decisão

descentralizada, garantindo-se a universalização dos serviços pela via do financiamento

federal, mas com gestão compartilhada com estados e municípios na forma de Conselhos

de Saúde, requeridos estes e seu funcionamento adequado como exigência para as

transferências de recursos (COHN; ELIAS, 1996).

A Constituição de 1988 aprovou em linhas gerais esses princípios, concretizando-os no

Sistema Único de Saúde (SUS) que deve enfatizar a atuação preventiva (COHN; ELIAS,

1996). Efetiva-se-se aí uma mudança paradigmática. No modelo assistencial anteriormente

vigente, a organização do sistema nacional de saúde implicava na valorização do hospital e

da atenção curativa, era centralmente planejado e não buscava a universalização dos

serviços. No modelo vigente a partir de 1988, os elementos fundamentais são a

descentralização coordenada, o acesso universal e a ênfase na prevenção (BICALHO;

ABDALLA, 2003).

Page 125: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

117

O Sistema Único de Saúde se rebate fisicamente em uma rede de serviços de atenção à

saúde territorialmente regionalizada e hierarquizada do ponto de vista da resolutividade das

unidades (do posto de saúde ao hospital de base), ainda nos termos da já mencionada

Resolução n. 3 – CIPLAN. O sistema conta com a participação do setor privado, que provê

mediante pagamento aqueles serviços que inexistam na rede pública ou que, aí existindo,

não tenham capacidade de atendimento aos clientes.

A hierarquização do sistema de atendimento à população, adotado como norma para a

saúde pública, tem rendido bons frutos em parte dos municípios aderidos, mas esses

resultados não podem ser generalizados na medida em que, em muitos municípios, as

unidades descentralizadas funcionam mal, são mal aparelhadas e seu custeio enfrenta

diversos problemas (TEIXEIRA; VILASBÔAS, 2002). Assim, formalmente o sistema está

universalizado e homogeneizado, mas sua concretização é, em função do caráter local das

decisões, extremamente dependente da ação de cada município (COHN; ELIAS, 1996).

Tais problemas dão origem, mais uma vez, ao crescimento do negócio privado de atenção

hospitalar, com base em financiamentos subsidiados (via BNDES) e sustentado pela

potencialidade de geração de renda dos convênios e planos de saúde complementar. As

classes médias e a elite urbana, na busca de serviços mais qualificados e eficientes,

compõem a massa de conveniados que se omitem do atendimento universal e viabilizam

uma nova explosão dos hospitais particulares, ao mesmo tempo em que a falência fiscal e a

falta de prioridade política para a saúde pública condenam as unidades hospitalares do

Estado a um mau funcionamento crônico.

Mais competitiva, essa oferta de serviços privados de medicina privilegia a segmentação

de mercados e a diferenciação arquitetônica do edifício, parcialmente ancorada por uma

difusão um tanto imprecisa e vaga dos conceitos de humanização do ambiente hospitalar

(LOPES; LUCIANA, 2004). Entretanto, na esteira da ausência de crescimento econômico

sustentado, as bases de financiamento privado do custeio hospitalar e, também, da

remuneração dos altos investimentos não se apresentam estáveis, provocando crises

reiteradas nas relações entre convênios e planos de saúde, de um lado, e instituições

hospitalares, de outro.

Com a nova Constituição, foi elaborada pelo Ministério da Saúde em 1994 a Portaria n.

1.884/1994 (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1994), que define normas para projetos

Page 126: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

118

físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde, substituindo a Portaria n. 400/1977.

Depois, em 2002 a ANVISA atualizou esse documento, substituindo-o pela RDC n.

50/2002 (BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2002),

alterada pelas RDCs n. 307/2002 e n. 189/2003. Essa versão, de acordo com o espírito da

Lei Orgânica da Saúde, de 1988, contém diretrizes que procuram descentralizar as decisões

de planejamento e projeto, e permitir a projetação de qualquer unidade de saúde, sem

estabelecer programas arquitetônicos padronizados, com a disponibilização de regras

flexíveis (BICALHO; ABDALLA, 2003).

Como houve uma concentração da população em algumas áreas da cidade houve também

uma concentração da demanda por hospitais privados. Essa demanda veio a ser

intensificada com a ampliação do número de segurados por planos ou seguros privados de

saúde, na esteira da deterioração acentuada dos hospitais públicos. Com efeito, em Natal, a

geração atual dos planos de saúde nasceu com a Unimed-Natal, em 1977. Sua

massificação, entretanto, data dos primeiros anos 1990, a partir de quando surgem grupos

privados com interesse em investir em hospitais particulares, com interesse empresarial.

Até então, mesmo nos casos de hospitais privados, não havia estrutura organizacional

claramente voltada para a comercialização dos serviços e a rentabilidade. Havia, sobretudo,

um caráter que, se não era de empreendimento familiar, produzia comportamentos

próximos aos de empresas familiares (falta de profissionais na gestão, decisões de

racionalidade discutível) ou de organizações filantrópicas subvencionadas

(desconsideração de ineficiências desde que os custos sejam cobertos, por exemplo).

Em sua maioria, os grupos de investidores eram formados por médicos, dedicados a suas

clínicas e que, em que pese sua motivação empresarial, não detinham suficientes

conhecimentos ou vivências empresariais, mas também não sentiram a necessidade de

buscar o assessoramento profissional necessário para os seus investimentos. Era com base

nas experiências individuais que eles buscavam gerir o negócio. Mas, não havia claramente

uma proposta assistencial definida, nem um estudo de viabilidade econômica,

concretamente. As decisões sobre perfil e dimensionamento dos hospitais eram tomadas

pelos proprietários, da perspectiva de suas especialidades médicas, de forma meio intuitiva

e com base nas possibilidades que percebiam desde suas experiências individuais.

Assim, não há uma integração das unidades privadas do período a um modelo assistencial,

recaindo a preocupação dos empreendedores sobre os recursos próprios e bancários que

Page 127: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

119

lastreariam o investimento, bem como sobre a garantia de acesso aos beneficiários de

seguros e planos de saúde, que deveriam ser suficientes para custear a manutenção das

unidades, bancar as amortizações do financiamento e recompor o capital próprio aplicado.

Só posteriormente, já em fins dos anos 1990, com o acirramento da competição por

clientes de seguros e planos, é que gradativamente se impuseram as idéias da

administração e do assessoramento profissionais. Por outro lado, houve que reorientar o

perfil hospitalar na direção de serviços de maior complexidade, aqueles que são os mais

bens remunerados pelas tabelas de aquisição de serviços do SUS.

O primeiro hospital implantado no período é o Hospital Memorial, de 1990. Hospital geral,

com ênfase em ortopedia e traumatologia, o Memorial contava então com 17 leitos de

internação, serviços de urgência, raios-X, laboratórios de análises clínicas, centro

cirúrgico, UTI e serviços de apoio, em seus três pavimentos. Sua localização na Cidade

Alta, quase no limite com o Tirol, já aponta uma certa tendência dos hospitais privados a

buscar áreas mais centrais.

Mas a maturação do novo ambiente de negócios, especialmente no que se refere à

necessária consolidação dos seguros privados, adiou até 1996 o surgimento de um segundo

hospital privado no período. Desta vez, foi a PROMATER, um hospital materno-infantil

com 80 leitos de internação, centro cirúrgico, consultórios, UTI neo-natal, raios-X,

laboratório de análises clínicas, mamografia, ultrassonografia e serviços de apoio (nutrição,

lavanderia e farmácia), com estacionamento interior ao lote. Em seus 7.500 m2 de área

construída em quatro pavimentos, como se vê, a PROMATER é o primeiro hospital de

Natal a internalizar, ao edifício hospitalar, o apoio ao diagnóstico de maneira extensiva. A

localização, no bairro de Lagoa Nova, busca tirar partido da nova centralidade urbana que

Natal adquirira com a valorização dos bairros a Sul, destino de muitos investimentos

imobiliários nos anos 90. Os recursos de construção foram de iniciativa privada, sendo o

principal público alvo os planos de saúde garantidores de custeio e recuperação de capital.

O único hospital público implantado no período se situa na Zona Norte, no Conjunto

Parque dos Coqueiros. Iniciado no final dos anos 1980, o Hospital Maria Alice Fernandes

teve sua construção paralisada por cerca de dez anos. Nesse período, alterou-se o perfil do

projeto original, de hospital geral, para o de hospital especializado em pediatria voltado

para a demanda identificada pelos técnicos estaduais na Zona Norte de Natal. Trata-se de

investimento público estadual, contando também com recursos federais para implantação e

Page 128: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

120

para custeio, sendo seu objeto principal a clientela do SUS. É um hospital com 70 leitos de

internação, seis de UTI, urgência, raios-X, laboratório de análises clínicas, ultrassonografia

e serviços de apoio. Com área de 3.755 m2, o Maria Alice Fernandes tem um só pavimento.

Os primeiros anos do século XXI presenciam um forte ritmo de expansão dos

investimentos privados em hospitais em Natal. Nota-se nos hospitais implantados nesta

fase a incorporação de tecnologia médica de ponta, na área de apoio ao diagnóstico.

Já em 2000, é inaugurado o Hospital do Coração, hospital geral com ênfase em

cardiologia. Três pavimentos e 11000 m2 de área construída abrigam 58 leitos de

internação, 25 consultórios, 13 leitos de UTI, urgência e emergência, centro cirúrgico,

laboratórios de análises clínicas, raios-X, tomografia computadorizada, hemodinâmica,

ultrassonografia. Possui estacionamento interno e se localiza no bairro de Lagoa Nova,

como a PROMATER. O financiamento da construção se deu por recursos próprios,

tomados ao BNDES, enquanto que o custeio e a recuperação do capital busca seus recursos

na receita de planos de saúde. Também no Hospital do Coração verifica-se a tendência de

apropriar ao hospital capacidade de resolução em termos de consultórios, de um lado, e de

apoio ao diagnóstico, de outro.

Definido de modo similar à PROMATER, o Hospital Femina é uma instituição materno-

infantil com 54 leitos de internação. Tendo 5700 m2 de área construída nos seus dois

pavimentos, a Femina conta com centro cirúrgico, UTI neo-natal, urgência em pediatria,

raios-X, laboratório de análises clínicas e serviços de apoio. Há estacionamento interno ao

lote. Localiza-se no mesmo bairro de Lagoa Nova, como o Hospital do Coração e a

PROMATER, e pelos mesmos motivos.

Por fim, o Natal Hospital Center, implantado em 2002, conta com 6 pavimentos e 14000

m2 de área. O Hospital é geral, mas tem ênfase em cardiologia e oncologia, com 77 leitos

de internação, centro cirúrgico, UTI, urgência e emergência, hemodinâmica, raios-X,

laboratório de análises clínicas e serviços de apoio. O financiamento foi feito pelos

proprietários, tomando-se os recursos financeiros em bancos (linhas de financiamento

BNDES), enquanto custeio e recuperação de capital devem ser cobertos por arrecadação

de pacientes de convênio. Localiza-se no bairro do Tirol, ao lado do PAPI: com o Natal

Center, uma área que começa a consolidar-se como um outro pólo de atenção à saúde.

Page 129: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

121

Observe-se que, no período, os hospitais são relativamente bem maiores e mais altos que a

média do período anterior. Por outro lado, há uma incorporação ao edifício de atividades

de diagnóstico mais sofisticadas, antes processadas em clínicas, e – definitivamente – dos

consultórios, isso em larga escala. Uma outra constatação a ser feita é a baixa significação

relativa do único hospital público implantado nesse último período.

4.7. Uma visão geral do hospital em Natal

A caracterização dos hospitais implantados em Natal ao longo do século XX, ainda que

realizada como objetivo instrumental, permite inferir algumas conclusões relevantes para o

entendimento do objeto empírico do trabalho.

Tendo em vista os elementos de caracterização trabalhados neste capítulo, e mesmo

considerando o fato de ser Natal ainda hoje uma cidade média, pode-se verificar que o

conjunto dos hospitais implantados em Natal – desde o primeiro Hospital da Caridade, de

1856, até o Natal Center, de 2002 – apresenta toda uma variedade institucional que

sintetiza quase completamente a história dos hospitais.

É certo que não há registro em Natal de hospitais patrocinados pela Igreja, mas a trajetória

examinada neste capítulo revela uma gama variada de empreendimentos hospitalares:

públicos, privados e filantrópicos; gerais e especializados; de pequeno e grande porte. Essa

variedade é o reflexo, principalmente, das transformações pelas quais passou a cidade, no

período estudado. São essas transformações, juntamente com as alterações da política

pública de saúde no Brasil, que parecem direcionar os caminhos da evolução do hospital

natalense, em resposta a necessidades e demandas interpostas pela sociedade.

Nesse sentido, cabe ressaltar que a periodização aqui utilizada permitiu perceber como, no

âmbito local, os movimentos nacionais exercem influência significativa no comportamento

dos agentes locais, no que se refere ao desenvolvimento da infra-estrutura hospitalar.

Assim, mesmo quando a cidade dava, nas três primeiras décadas do século XX, os

primeiros passos em seu crescimento populacional e econômico, seu cenário no campo

hospitalar registrava as primeiras incursões no rumo da internalização ao hospital de

preocupações sanitárias com fundamentos técnicos e científicos, com âncora no

investimento público, mas com significativa participação da sociedade civil pela via da

filantropia.

Page 130: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

122

Depois, durante o Estado Novo, intensifica-se a tecnicidade dos hospitais e, ao mesmo

tempo, a iniciativa privada – ainda associada a um viés filantrópico – começa a se insinuar

mais decididamente no terreno. O aumento de tecnicidade não se dá apenas pela inserção

ao hospital de elementos tecnológicos, com clínicas especializadas, tecnologia de apoio ao

diagnóstico e espaços diferenciados para a cirurgia; também se verifica pelo abandono da

idéia de edificar hospitais reformando casas e galpões em prol da escolha de localizações

adequadas e do desenvolvimento de projetos para o edifício hospitalar.

No período seguinte, entre 1945 e 1964, a incipiente tecnicidade se converteria em um

dado marcante na estruturação hospitalar e, por outro lado, o viés filantrópico das

instituições privadas deu lugar à lógica do investimento privado nas decisões de

localização, porte e perfil assistencial, com vistas a assegurar rentabilidade ao capital

investido. É interessante ressaltar que nesse período de vinte anos apenas se registra uma

implantação hospitalar nova com recursos públicos, mesmo assim na área de sanidade

mental.

Uma retomada do investimento público em novos hospitais ocorre no período seguinte,

entre 1964 e 1985. É um período de expansão da capacidade hospitalar, em termos de

número de leitos, com equilíbrios entre as presenças privada e pública.

Enquanto não há novidades na tecnologia, crescem de importância, até em função de um

maior porte médio dos hospitais, as atividades de suporte como nutrição, farmácia,

lavanderia etc, o que revela maior estruturação e organização da unidade hospitalar como

ambiente de produção de cuidados ao paciente. É marcante o fato de que o setor privado,

neste período, migra para os hospitais especializados de média complexidade, enquanto o

setor público atua mais na direção de ampliar a capacidade de atendimento em hospitais

gerais.

A partir de 1985, passa a ser mais evidente uma orientação comercial para o investimento

privado, na esteira da expansão dos beneficiários de seguros e planos de saúde. A oferta de

leitos e serviços em novos hospitais privados é francamente maior que a dos hospitais

públicos, alterando-se a postura do investidor privado que passa a perseguir serviços

diferenciados. Os novos hospitais do período são bem mais supridos de tecnologia médica

avançada, investem em publicidade e disputam usuários em um mercado bastante

competitivo.

Page 131: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

123

Pelo exposto, os hospitais mudaram com a evolução da cidade e com as alterações da

política pública para o setor saúde. Essas mudanças institucionais, gerenciais e

organizacionais certamente repercutiram sobre suas definições arquitetônicas: são essas

redefinições e suas correlações com o entorno o foco do próximo capítulo.

Page 132: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Capítulo 5

Anál i se t ipológica dos hospi ta is de Nata l

Page 133: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

125

5. Análise tipológica dos hospitais de Natal

O objetivo deste capítulo é a apresentação dos resultados da aplicação, a um subconjunto

formado por dezoito hospitais de Natal–RN, do instrumento de análise tipológica que foi

especificado no capítulo 3. Embora o trabalho tenha seguido uma diretriz censitária, no

esforço de submeter à análise todos os vinte e nove hospitais implantados em Natal a partir

de meados do século XIX, não foi possível aplicar o instrumental desenvolvido em todos

esses casos, mencionados no capítulo 4.

Assim, não se pôde incluir entre os hospitais analisados o primeiro Hospital da Caridade

(implantado em 1856, desativado em 1906), o Hospital São João de Deus (operativo em

1892 e reconstruído totalmente em 1966) e o Asilo de Alienados (de 1911, desativado em

1957), pela impossibilidade de obter, primária ou secundariamente, quaisquer elementos

gráficos indispensáveis à análise.

Em função da impossibilidade ou da dificuldade de acesso aos edifícios e aos projetos

originais, concluiu-se que os hospitais pertencentes às Forças Armadas (Exército, Marinha

e Aeronáutica) e à Polícia Militar não poderiam fazer parte do conjunto de hospitais

analisados.

Por outras razões, também foram excluídos do conjunto analisado os Hospitais Luís

Antônio, Médico-Cirúrgico, Miguel Couto (hoje Hospital Universitário Onofre Lopes) e a

Maternidade Santa Izabel (hoje ITORN). Nesses casos, embora tenha sido possível realizar

levantamentos e registros arquitetônicos de suas atuais situações, não havia disponibilidade

de informações suficientes e de qualidade para reconstituir o projeto tal qual inicialmente

implementado. Essa dificuldade se prende ao fato de que esses hospitais foram objeto de

reiteradas reformas e adequações, sem que tivesse sido possível obter registros dessas

incidências.

A restrição na quantidade de hospitais analisados se dá em função de uma definição de

método, uma vez que a base metodológica aplicada no trabalho indica a necessidade de

apreender o projeto no momento da primeira implantação do hospital, com vistas a

entendê-lo em um contexto socioeconômico, cultural e político específico.

Page 134: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

126

Feita a ressalva, foram analisados todos os demais dezoito hospitais, para os quais foi

possível dispor dos elementos documentais necessários para suportar o trabalho empírico.

A relação desses hospitais, com a indicação das correspondentes figuras que os apresentam

e que compõem o Anexo III deste documento, é a seguinte:

Hospital Colônia São Francisco (FIG. 24);

Maternidade Escola Januário Cicco (FIG. 25);

Hospital Evandro Chagas (FIG. 26);

Hospital Policlínica do Alecrim (FIG. 27);

Casa de Saúde São Lucas (FIG. 28);

Hospital Colônia João Machado (FIG. 29);

Hospital Getúlio Vargas (FIG. 30);

Hospital Infantil (Varela Santiago) (FIG. 31);

Hospital Natal Center (FIG. 32)

Hospital Walfredo Gurgel (FIG. 33);

Maternidade Santa Helena (FIG. 34);

Hospital PAPI (FIG. 35);

Hospital Memorial (FIG. 36);

Hospital Santa Catarina (FIG. 37);

Hospital Maria Alice Fernandes (FIG. 38);

Hospital Promater (FIG. 39);

Hospital Femina (FIG. 40);

Hospital do Coração (FIG. 41).

Para apresentar os resultados da análise realizada, estruturou-se este capítulo em nove

seções. A primeira delas está dedicada a comunicar os procedimentos de método adotados

para preparar o material empírico, nos dezoito casos já mencionados.

Em cada uma das sete seções centrais, apresentam-se os resultados da análise empírica

concernentes a grupos de hospitais reunidos por afiliação tipológica. A exceção a esse

procedimento é a do Hospital Infantil Varela Santiago, tratado como um caso especial em

função de singularidades tipológicas evidenciadas por sua análise. Assim, a ele dedicou-se

uma das sete seções mencionadas. Por fim, a última seção sintetiza os principais resultados

da análise.

Page 135: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

127

5.1. Preparação do material para análise

Para construir a análise que se apresenta nas diversas seções deste capítulo, foram

levantadas informações em vários suportes a respeito de cada um dos dezoito hospitais

analisados. Tais informações dizem respeito às definições arquitetônicas do hospital no

momento em que ele foi implantado. Dois tipos de situação podem ser detalhados aqui

para dar a conhecer o processo de investigação que resulta nas plantas anexadas ao

capítulo.

Em primeiro lugar, há o caso dos hospitais mais recentes, com mínimas modificações

desde sua construção. Nesse caso, o projeto arquitetônico original foi obtido com os

proprietários ou autor, verificado em visitas in loco e em diálogos com administradores,

médicos, pessoal de enfermagem etc.

Em segundo lugar, há o caso em que se dispunha de planta do hospital tal como hoje se

encontra, obtida em levantamento de campo. Nesse segundo caso, procedeu-se a um

processo de regressão da planta atual à original, utilizando-se para tanto de informações

obtidas em:

visitas ao edifício, com observação de diferenciais de aspectos técnico-construtivos –

tais como espessura de alvenarias e lajes, tipos de acabamento superficial, entre

outros –;

entrevistas com pessoas que tiveram contato com o hospital na época de sua

implantação;

fotografias e croquis de época;

descrições literárias do projeto e do edifício.

Em todos os casos, se fez uma checagem das informações, por meio de verificação e

conferência de eventuais conflitos entre elas. Por outra parte, em alguns casos, esse esforço

de reconstituição do projeto implantado não resultou em uma definição completa do

material. Nessas ocorrências, houve que avaliar se as informações faltantes ou não-

verificadas eram ou não relevantes para a análise. Quando essa avaliação de relevância foi

positiva, optou-se por retirar o caso do rol de hospitais analisados, conforme já relatado

neste capítulo a respeito dos Hospitais Luís Antônio, Médico-Cirúrgico, Miguel Couto e da

Maternidade Santa Izabel.

Page 136: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

128

5.2. O tipo colônia e o Hospital Colônia São Francisco

O Hospital Colônia São Francisco (FIG. 24), implantado em 1929 e só desativado nos anos

1990, era uma instituição dedicada à segregação de portadores de hanseníase. Não há

registro ou testemunho de que o hospital contasse com atendimento médico ou de

enfermagem, nem mesmo com a presença de irmãs religiosas. O elemento mais

significativo na definição da instituição era o isolamento da sociedade, conduzindo a uma

preocupação em possibilitar aos internos as condições mínimas necessárias para a vida em

comunidade.

Dispunham os internos de três diferentes arranjos residenciais, para contemplar diferentes

tamanhos de família, além de acomodações individuais para solteiros. Como equipamento

comunitário, havia uma pequena capela, cine-teatro, biblioteca, cozinha comunitária, além

de delegacia e dependências administrativas para o exercício da autogestão.

A localização do hospital proporcionava o isolamento do grupo de enfermos com respeito

ao meio urbano, reforçando-se esse isolamento com a presença de um muro que

contornava toda a área do terreno, exceto para os limites com o Rio Potengi, fonte de água

para os banhos e alimentação. No único portão de acesso ao interior, localizava-se um

parlatório, de modo que os contatos entre internos e pessoas externas pudessem ser

realizados sem que o visitante entrasse no hospital.

A forma geométrica dominante no arranjo do hospital é o retângulo. Trata-se de retângulos

independentes, representando as plantas dos cinco blocos de residência e dos equipamentos

comunitários.

A implantação das unidades construídas no terreno se deu compondo uma forma

assimilável a um semicírculo, com centro na posição ocupada pela capela e,

secundariamente, pela biblioteca. Nesse semicírculo, pode-se identificar uma posição mais

central para os blocos de residências familiares e uma mais periférica para os pavilhões de

doentes individuais.

Havia três blocos de residências geminadas, cada um deles correspondendo a um arranjo

residencial distinto. As unidades residenciais desses blocos continham compartimentos de

estar, dormitório, banheiro, cozinha e varanda, esta na parte da frente da unidade

residencial. Além dessas construções dedicadas a famílias de enfermos, dois pavilhões –

Page 137: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

129

um para mulheres, outro para homens – estavam divididos em pequenos quartos

individuais.

Os edifícios dedicados à vida em família e em comunidade compõem um núcleo que evoca

o tipo colônia. Ainda mais porque a implantação não se refere ao portão de entrada,

indicando que o isolamento era o ponto central para organizar todo o hospital. É na

verdade a capela, apesar de ser uma construção modesta, que serve de referencial para a

disposição espacial das unidades. Para ela se voltam as residências, valorizando

sobremaneira o espaço comunitário interior ao semicírculo.

A volumetria do conjunto se obtém pela soma de paralelepípedos de pouca altura, com

destaque para os blocos de residências, devido ao fato de ser baixo o adensamento das

construções. Esse fato, decorrente de implantação em terreno que evoque a vila rural, se

registra da mesma forma na tecnologia estrutural e construtiva. Alvenarias estruturais de

tijolos, cobertura de telhas francesas de cerâmica, estrutura de telhado em madeira,

soluções técnicas e materiais rústicos correntes na região ajudam a compor o quadro

reconhecível da pequena comunidade rural.

A vida comunitária em isolamento social e em contato com a natureza, o princípio

ordenador do espaço, o muro segregador e o rio, as residências familiares geminadas e a

tectônica do Hospital Colônia São Francisco são indicadores claros de sua afiliação ao tipo

colônia.

5.3. O tipo casa de campo

O empreendimento que resultou na Maternidade (FIG. 25) foi de iniciativa de um médico

de Natal, Januário Cicco, que liderou um movimento da sociedade para chegar a construí-

la. Com rifas, quermesses e festas beneficentes, a construção se fez entre 1932 e 1940. A

idéia subjacente ao empreendimento era prover assistência médica a parturientes sem

condições de pagar por serviço médico privado. O perfil assistencial definido no projeto

era de assistência médica especializada em ginecologia e obstetrícia, em regime

ambulatorial e de internação.

Observando a totalidade das atividades previstas na planta, nota-se que os cuidados

terapêuticos prevalecem sobre os religiosos. Esses estão representados apenas pelos

aposentos das irmãs e pela presença da capela, representando cerca de 10% da área total da

Page 138: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

130

planta. As atividades terapêuticas marcam a presença das ciências médicas no hospital, não

somente pela presença de atividades diretamente ligadas aos cuidados dos pacientes, mas

também por atividades de natureza técnico-científica, como demonstra a existência de um

anfiteatro em que seriam apresentados e discutidos casos médicos.

O esquema geométrico é formado por vários retângulos que se conectam face a face, sem a

intermediação de uma circulação, formando um só corpo. Assim, a um retângulo principal

mais alongado se conectam ortogonalmente, segundo seus eixos longitudinais, outros

retângulos menores, secundários, regularmente espaçados. Essas conexões se dão de forma

a que o conjunto apresenta simetria com relação a um eixo transversal, dando como

resultado uma figura semelhante a um “E”. Esse esquema geométrico da planta se repete

nos primeiros pavimentos – térreo e primeiro –; no segundo pavimento são subtraídos os

retângulos das extremidades. A implantação do edifício é solta no centro do terreno, de

modo que não há implicações da forma irregular do lote sobre a geometria externa do

edifício. Quanto aos acessos ao prédio, há dois deles: um acesso social pela frente do lote e

um acesso de serviços, pela lateral sul.

Podem ser observados três princípios na maneira com que se organizam as atividades na

planta. O primeiro princípio é o da organização de grupos funcionais de atividades, ou seja,

grupos de atividades, por natureza funcional, que foram reunidas espacialmente. Entre os

grupos funcionais claramente formados estão: o da internação, o centro cirúrgico, o centro

obstétrico, a central de esterilização e o de atividades de apoio (cozinha, lavanderia,

almoxarifado), exceto as administrativas. Essas atividades administrativas estão

posicionadas de maneira descontínua, em todos os três pavimentos, sem que transpareça

um princípio de como foi orientada a alocação de atividades pelos distintos espaços.

O segundo princípio observado é o de composição por hierarquia. Como o esquema

geométrico da planta é definido a priori, então a distribuição dos distintos grupos espaciais

de atividades obedece a uma regra pela qual os grupos mais importantes ocupam as

posições frontais e centrais da planta, enquanto os menos importantes são alocados na parte

posterior do edifício.

A capela posicionada centralmente na planta traduz ainda uma certa importância simbólica

da religião na organização hospitalar, embora as atividades terapêuticas sejam mais

importantes. Por outro lado, os compartimentos dedicados ao conforto médico estão

Page 139: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

131

posicionados na parte central da planta com varandas, refletindo o fato de que os médicos

são a autoridade máxima na organização hospitalar, como nos hospitais iluministas. O hall

de entrada – associado à escada e aos elevadores –, também está posicionado centralmente

na planta, enfatizando a importância simbólica do acesso ao hospital de caráter civil, aberto

à sociedade, como nos hospitais renascentistas.

Os leitos de internação estão colocados, sejam em enfermarias ou apartamentos

individuais, na face anterior do retângulo, exceto no último pavimento que é todo dedicado

à internação. A opção de colocar preferencialmente os espaços de internação na face

frontal do edifício é uma indicação de que a internação constituiu um outro grupo

importante na hierarquia dos compartimentos.

Por outro lado, os grupos funcionais de cuidados de pacientes – centro cirúrgico, centro

obstétrico, consultórios, entre outros – ou de serviços de apoio, tais como central de

esterilização, cozinha e refeitório, considerados em segundo nível da hierarquia, foram

posicionados nos retângulos secundários, compondo ou preenchendo os espaços da figura

geométrica.

Um terceiro e último princípio é o da distribuição por níveis de privacidade. Pode-se notar

a valorização da privacidade dos leitos nos arranjos espaciais internos das enfermarias, que

são feitos de três maneiras distintas: enfermarias coletivas com leitos separados por uma

parede divisória; apartamentos com dois leitos e banheiros coletivos; e, por fim,

apartamentos individuais com banheiros privativos.

A distribuição desses compartimentos no edifício é feita de maneira que, à medida que se

sobe nos pavimentos, a privacidade aumenta. Assim no pavimento térreo estão as

enfermarias, no primeiro pavimento estão os apartamentos com dois leitos e os

apartamentos individuais com banheiros anexos estão no terceiro pavimento.

As circulações internas têm apenas dois níveis de hierarquia. No primeiro nível estão as

circulações coincidentes com os eixos longitudinais do retângulo maior e que fazem a

conexão entre os grupos funcionais de um mesmo pavimento. No segundo nível estão as

circulações coincidentes aos eixos longitudinais dos retângulos menores que fazem a

conexão dentro de cada grupo funcional.

Page 140: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

132

Não há diversificação de traçados da circulação, sugerindo a intenção mais de distribuir os

compartimentos do que de disciplinar os fluxos. A circulação vertical pode ser considerada

como estando no primeiro nível, pois exerce função de prover conectividade e acesso entre

grupos funcionais de distintos pavimentos.

É importante também ressaltar que a circulação vertical (escada e elevadores) localizada

centralmente na planta reforça a simetria do conjunto. Com respeito às circulações externas

ao edifício, também estão estruturadas de maneira simples visando apenas à separação de

fluxos social e de serviço e vinculando-se espacialmente, de forma direta, aos acessos do

prédio.

A volumetria consiste de uma série de quatro interseções de um paralelepípedo de

dimensão horizontal alongada com paralelepípedos menores, iguais dois a dois, que se

desenvolvem na ortogonal do eixo principal do paralelepípedo maior. Destaca-se na

volumetria a largura do edifício, mais de quatro vezes maior que a altura, e cerca de duas

vezes maior que a profundidade máxima do prédio. Na frontal do edifício, ressalta-se um

volume central de maior altura que marca a entrada, a qual também funciona como eixo de

simetria do conjunto.

A solução volumétrica está articulada com a estrutural, mediante o uso predominante de

alvenarias autoportantes e vigamento de contorno para os panos de laje plana, em concreto

armado. Pode-se verificar no contorno do edifício, quase como regra, o uso da alvenaria

estrutural, configurando sempre volumes maciços. Excetua-se desse padrão o acesso

principal e o saguão, em que pilares e vigas, bem como arcos, configuram um espaço mais

vazado.

Pode-se apontar que o projeto da Maternidade revela marcos de diferentes tipos

arquitetônicos hospitalares. Com respeito ao esquema geométrico de sua planta e à

volumetria, apresenta soluções que equivalem ao tipo casa de campo. No entanto, na

definição programática das atividades e na organização de seus compartimentos, foram

utilizados princípios organizadores do funcionalismo utilizado no hospital de tipo

pavilhonar em suas vertentes do início do século XX – a agrupação de atividades segundo

a natureza funcional.

No que concerne à distribuição dos grupos no interior do edifício segundo as relações entre

eles, pode-se notar que o projeto não mostra o resultado de uma análise sistêmica, na qual

Page 141: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

133

os grupos sejam localizados relativamente de forma a otimizar o funcionamento do

conjunto. Em verdade, o projeto denota que esse posicionamento relativo se deu por

principio de composição da forma geométrica, hierarquizando os compartimentos mais

importantes em locais centrais da planta e considerando uma privacidade crescente do

centro para as laterais e do térreo para o último pavimento. Nesse sentido, a solução

organizadora dos espaços bebe na fonte do tipo casa de campo.

Reitere-se que também aponta nessa direção a presença da capela em posição ainda

relevante no corpo mesmo do edifício, ainda que a importância da religiosidade na

atividade hospitalar seja minimizada. Cabe destacar também, uma vez mais, o fato de o

Hospital Maternidade ter sua gênese relacionada a uma atuação organizada da sociedade

civil – o que é caracteristicamente de inspiração renascentista.

Decorre da análise que o Hospital Maternidade Januário Cicco apresenta mais fortemente

características do tipo casa de campo, a que se somam algumas soluções tipológicas que

remontam ao tipo pavilhonar em sua variante do final do período iluminista.

5.4. A presença do tipo pavilhonar

O emprego do instrumental de análise levou a concluir que cinco dos dezoito hospitais

considerados neste trabalho são afiliados ao tipo pavilhonar. São eles: o Evandro Chagas,

a Policlínica, a Casa de Saúde São Lucas, o João Machado e o Getúlio Vargas. Nesta

seção, apresentam-se os principais elementos obtidos no estudo desses cinco hospitais,

tendo sido integradas – pela semelhança dos resultados – as análises de três deles.

5.4.1. O Hospital Evandro Chagas

Hospital especializado em tratamento de doenças infecto-contagiosas tropicais, o Evandro

Chagas (FIG. 26) teve sua implantação em 1943. Hoje esse prédio encontra-se

abandonado, tendo em sua estrutura física as marcas das diversas reformas sofridas,

incluindo a da década de 1980, quando mudou de uso e foi adaptado para funcionar como

um centro de formação de profissionais da área da saúde.

Não foi possível encontrar o projeto arquitetônico utilizado para a construção. Portanto, foi

necessário reconstituir a planta correspondente ao momento da inauguração a partir de

levantamento do edifício hoje existente. Contou-se para isso com observações no local que

permitiram averiguar e levantar hipóteses sobre a evolução do edifício, bem como com

Page 142: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

134

informações obtidas em entrevistas com pessoas que tiveram contacto com o hospital

quando de sua inauguração.

O hospital tinha as atividades terapêuticas como as mais importantes. Dos 1.200 m2 de área

construída, 70% eram dedicados aos serviços de internação. É certo que havia dois

consultórios médicos, mas nenhum entrevistado mencionou a existência de qualquer outro

serviço de apoio ao diagnóstico. As atividades de apoio eram ainda pouco estruturadas,

pois a cada atividade – salas administrativas, lavanderia, farmácia, cozinha e refeitório –

correspondia apenas um compartimento.

O esquema geométrico da planta era muito simples e repetido nos dois pavimentos que

constituíam o edifício. Corresponde a dois retângulos que se cruzam ortogonalmente,

formando na interseção uma figura próxima a um quadrado.

Há uma divisão clara na distribuição das atividades nas plantas dos pavimentos. Nos

retângulos perpendiculares à frente do lote estão distribuídos todas as atividades de apoio

do hospital, em compartimentos situados de um lado e de outro da circulação central. Já os

retângulos paralelos à testada do lote estão ocupados apenas pelas enfermarias, grandes

halls abertos onde estavam dispostos os leitos de internação. No final de cada hall estavam

posicionados os banheiros coletivos; no quadrado resultante do cruzamento dos retângulos

estavam os postos de enfermagem.

Esse arranjo espacial assemelha cada uma das quatro enfermarias do Hospital Evandro

Chagas à “enfermaria Nightingale”. Como nesta, a supervisão dos leitos desde o posto de

enfermagem é garantida pela ampla visão do ambiente sem divisórias. Além disso, a

insolação natural e a ventilação cruzada são garantidas através das janelas colocadas em

paredes longitudinais opostas. No caso estudado, ressalve-se ainda que a importância da

ventilação é reforçada também pela colocação de um terraço na lateral longitudinal das

enfermarias por onde entram os ventos dominantes.

Pode-se observar também a semelhança com o esquema geométrico das enfermarias

cruzadas do Renascimento. No entanto, há uma diferença fundamental: enquanto no tipo

enfermaria cruzada as enfermarias se cruzavam na capela, que podia ser vista pelos

enfermos do leito realçando a relação leito/missa, no Hospital Evandro Chagas as plantas

se cruzam para reforçar a supervisão dos leitos desde o posto de enfermagem, ou seja, é a

relação leito/enfermagem que importa.

Page 143: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

135

O edifício tem sua implantação solta no terreno e não guarda nenhuma relação formal com

o mesmo. Foram previstos dois acessos ao hospital, um para o público externo, visitas e

familiares, situado na parte frontal do edifício, e outro na lateral próxima ao final do

edifício, para o público interno e abastecimento. Não há indícios de que houve influência

da orientação do sol na configuração da planta.

O traçado das circulações é muito simples. Nos retângulos paralelos à rua, onde estão

localizadas as enfermarias, não há circulações. Existe assim apenas uma circulação em

cada pavimento: ela discorre perpendicularmente à rua, nos retângulos em que estão

distribuídas as atividades de apoio. A circulação coincide em grande parte, com o eixo

longitudinal da planta. No pavimento térreo, ela liga o acesso principal do edifício,

localizado na parte frontal, ao acesso de serviço localizado na parte posterior.

Na medida em que a circulação percorre toda planta, vão sendo distribuídas as atividades:

as atividades de apoio dedicadas às visitas e familiares dos pacientes estão localizadas na

parte frontal, perto do acesso externo; as atividades de apoio para os pacientes internos

estão localizadas na parte posterior da planta. As circulações verticais também reforçam

esse princípio, tendo sido previstas duas escadas, uma na parte frontal, para uso do público

externo e outra na parte posterior, para serviços internos.

A organização e a distribuição dos espaços nas plantas foram orientadas por quatro

princípios, revelando uma lógica funcionalista ainda pouco desenvolvida. Em primeiro

lugar, adotou-se a separação espacial das atividades de internação e de apoio. Enquanto

estas foram posicionadas nos retângulos perpendiculares à rua, as atividades de internação

foram alocadas nos retângulos paralelos à rua. Em segundo lugar, as atividades de apoio

foram distribuídas de modo a colocar na parte frontal do edifício as relacionadas ao público

externo, enquanto que as dedicadas ao publico interno foram alocadas na parte posterior.

Os outros dois princípios utilizados foram os de sanitarização e de supervisão das

enfermarias.

A configuração volumétrica geral resultante é a de dois paralelepípedos que se interceptam

para formar um volume cruciforme cujas dimensões no plano horizontal são

predominantes em face da altura. A regularidade dessa volumetria está refletida na

estrutura, definida por um sistema composto de alvenarias portantes e concreto armado. A

existência de terraços anexados ao prédio principal, cobertos por lajes de piso em concreto,

Page 144: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

136

ressalta a esbeltez dos pilares sobre o fundo dos panos contínuos de alvenaria dobrada que

fazem o contorno do edifício.

5.4.2. Policlínica, Casa de Saúde São Lucas, Hospital Colônia João Machado

Observando a totalidade das atividades de cuidados aos pacientes nos hospitais gerais

Policlínica (inaugurado em 1944, FIG. 27) e Casa de Saúde São Lucas (em 1952, FIG. 28),

verifica-se que são cirúrgicas, de internação e de diagnóstico (neste caso: alguns

consultórios, laboratório de análises clínicas e raios–X). Ambas as instituições são

resultado do interesse de profissionais médicos, principalmente os cirurgiões, em dispor de

um local de trabalho que pudessem conceber e organizar. Nos dois hospitais, as atividades

de internação ocupavam aproximadamente metade da área construída total, e eram

constituídas por apartamentos de um leito (com banheiro anexo) ou dois leitos, com

banheiros coletivos.

O Hospital Colônia João Machado (FIG. 29), por seu turno, era especializado em

tratamento de doenças mentais. Inaugurado em 1957, tinha a assistência prestada aos

pacientes em regime de internação. As atividades de internação eram, portanto, as que

ocupavam a maior parte da área do hospital, chegando essa porcentagem a cerca de 70%.

A quantidade de leitos em cada enfermaria variava, sendo definida segundo critério

médico. As enfermarias, separadas as de homens e mulheres, eram classificadas segundo o

tipo de paciente: calmos, sórdidos, menores, delinqüentes, agitados, além de cômodos para

isolamento. Logo, havia quartos com leito individual para pacientes mais agitados e

isolados. Os banheiros, por sua vez, eram coletivos.

Em todos os três hospitais, as atividades de apoio eram representadas por cozinha,

lavanderia, farmácia e algumas salas administrativas, mostrando-se pouco estruturadas e,

da mesma forma que no caso do Evandro Chagas, a cada atividade correspondia um e só

um compartimento.

Os cuidados de enfermagem nos três hospitais estavam sob a responsabilidade de irmãs

religiosas, que moravam e tinham seus aposentos no corpo do hospital. No entanto, era o

médico a maior autoridade, acumulando as direções administrativa e clínica.

O esquema geométrico das plantas dos três hospitais tem como principal figura a do

retângulo. Os retângulos são paralelos e conectados entre si através de uma circulação

Page 145: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

137

perpendicular ou de um outro retângulo, também perpendicular, o que confere um certo

grau de simetria no conjunto, característica do hospital tipo pavilhonar.

No caso da Policlínica, a forma da planta pode ser sintetizada como equivalendo a um “H”:

dois retângulos paralelos conectados por uma circulação perpendicular aos seus eixos

longitudinais. Os retângulos frontal e posterior estão divididos em duas alas iguais pela

interseção feita com a circulação: no primeiro, uma ala é ocupada pelas atividades de

centro cirúrgico e a outra pelas ambulatoriais; no segundo, uma ala é ocupada pelas

atividades de internação e outra pelas de apoio. Existe ainda de um lado, entre a ala das

atividades de apoio e a do ambulatório, um pátio retangular, com circulação arqueada em

forma de “L”, onde havia bancos e jardins para uso dos pacientes.

Na Casa de Saúde São Lucas, a planta era mais simples. Formava-se por dois retângulos

paralelos, um principal e um de pequenas dimensões. Esses retângulos se repetiam na

planta de outro pavimento: no retângulo principal, um pavimento superior; no retângulo

secundário, um pavimento inferior semi-enterrado. Esses retângulos eram interligados por

uma circulação disposta ortogonalmente aos seus eixos longitudinais. O retângulo

principal, no pavimento térreo, está dividido por essa circulação em duas alas iguais, uma

ocupada pelas atividades de centro cirúrgico, outra por atividades de internação. As duas

alas da planta retangular do pavimento superior correspondem a atividades de internação.

No retângulo secundário, a cozinha ocupa o térreo e a lavanderia ocupa o pavimento semi-

enterrado.

No caso do Hospital João Machado, o esquema geométrico era mais complexo. O centro

da planta era marcado por um retângulo principal com sua dimensão longitudinal bastante

alongada, posicionado perpendicularmente à rua principal. A extremidade desse retângulo

é cortada por dois retângulos menores, sem, entretanto, tirar a predominância da forma

resultante do primeiro. Nesses retângulos menores estão localizadas as atividades

administrativas, parte dos consultórios e os aposentos das irmãs religiosas.

No retângulo principal, em seu início, estavam posicionados os consultórios restantes;

depois, todas as atividades de apoio do hospital: cozinha, lavanderia, farmácia e

almoxarifado. Simetricamente posicionados em relação ao retângulo principal, havia dois

conjuntos de retângulos paralelos, regularmente espaçados, conectados por uma circulação

cujo eixo fazia 45 com o retângulo principal, um dedicado aos pacientes do gênero

Page 146: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

138

masculino e outro aos do gênero feminino. Cada um desses retângulos secundários

correspondia a uma enfermaria, que variava de tamanho conforme a quantidade de

pacientes instalados. Entre os retângulos paralelos das enfermarias havia pátios com jardins

murados, onde os pacientes tomavam banho de sol.

Embora os esquemas geométricos das plantas sejam diferentes, podem ser encontrados

princípios ou regras semelhantes de organização dos espaços.

A forma geométrica das plantas dos hospitais não guarda relação com a forma dos

respectivos lotes. Nos três casos, a implantação do edifício é solta no centro do lote,

observando apenas uma maior proximidade com o lado do terreno correspondente à via

principal. Há dois acessos ao edifício: um principal, na sua parte mais frontal, junto aos

serviços aos pacientes externos (recepção, ambulatório, entre outros) do hospital; e um de

serviços, localizado na parte mais posterior, próximo à área ocupada pelas atividades de

apoio (cozinha, lavanderia etc.). Não há também qualquer preocupação com a orientação

solar dos compartimentos.

Nos três hospitais, as circulações têm dois níveis de hierarquização. Nos casos da Casa de

Saúde São Lucas e da Policlínica havia duas únicas circulações. A circulação principal era

coincidente com o eixo transversal do conjunto e responsável pelo acesso do exterior ao

edifício e pela ligação entre os pavilhões paralelos. A circulação secundária coincidia com

o eixo longitudinal dos pavilhões e era responsável pela conexão entre os compartimentos

de cada ala.

No caso do Hospital João Machado, a circulação de primeiro nível coincide com o eixo

longitudinal do conjunto e é responsável pela ligação entre os pavilhões. A circulação

secundária coincide com o eixo longitudinal no caso dos pavilhões secundários, ligando os

compartimentos interiores a esses pavilhões. Outras duas circulações secundárias estão

posicionadas a 45o com respeito ao eixo da circulação principal, servindo de interligação

para os dois conjuntos de enfermarias.

O princípio organizador dos espaços nos três hospitais está pautado, primeiramente, na

agrupação espacial de atividades de mesma natureza funcional. A distribuição desses

grupos funcionais é feita de modo que aqueles grupos relacionados ao público externo

(ambulatório, raios-X, laboratório de análises clínicas) se posicionam em uma das alas

situadas na frente dos edifícios, enquanto em uma ala da parte posterior dos edifícios estão

Page 147: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

139

as atividades de apoio. As demais alas do hospital são ocupadas pelas atividades de

cuidados aos pacientes internos.

O esquema de circulação reforça essa organização espacial, na medida em que separa

claramente os grupos funcionais – os fluxos internos a esses grupos se definem no nível

secundário de circulação – e também os fluxos entre grupos pela natureza desses fluxos, se

internos ou externos. No caso do João Machado, inclusive, a circulação principal se bifurca

em dois corredores paralelos na metade do retângulo principal com vistas a separar os

fluxos relacionados às alas masculina e feminina da internação.

Em termos de volumetria, a Casa de Saúde São Lucas e a Policlínica se resolvem de

maneira similar, apresentando um conjunto de interseções de paralelepípedos sempre a 90o.

As diferenças entre elas se resumem ao fato de a Casa de Saúde registrar uma maior

significação da dimensão vertical na parte frontal, enquanto que a Policlínica exibe nítida

predominância das dimensões horizontais.

Já o Hospital Colônia João Machado tem uma definição volumétrica um pouco mais

complexa, ainda que predominem as dimensões horizontais. Como as interseções dos

paralelepípedos são a 90o e a 45o e as dimensões horizontais variam muito em todo o

edifício, o contorno do volume é definido de modo recortado e irregular.

A solução estrutural não se diferencia entre os três hospitais, sempre com predomínio das

alvenarias estruturais dobradas, com a presença do concreto armado mais significativa

acontecendo nas lajes planas. A não utilização de pilares isolados indica uma volumetria

maciça, sem recortes.

5.4.3. Hospital Sanatório Getulio Vargas

O Hospital Sanatório Getulio Vargas (FIG. 30) foi inaugurado em 1966 como instituição

especializada em tratamento de tuberculose, contando com atividades de cuidados aos

pacientes, de apoio e também de formação.

Entre as atividades de cuidados aos pacientes, a que ocupa maior área na planta é a de

internação. Há uma diversificação na maneira como os leitos são distribuídos nas

enfermarias coletivas, que são a maioria: enfermarias de quatro leitos e de dois leitos, com

banheiros coletivos, representam 90% do total dos leitos; os 10% restantes são

apartamentos com leitos individuais e banheiros anexos.

Page 148: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

140

Quanto ao serviço de apoio ao diagnóstico, o hospital contava com um aparelho de raios-X

e um laboratório de análises clínicas, facilidades presentes na maioria dos hospitais da

época. O destaque neste caso é o atendimento de urgência no pronto socorro, pelo fato de

constituir serviço de um certo grau de complexidade, no qual são requeridos

procedimentos mais especializados.

As atividades de suporte presentes no Getúlio Vargas já tinham uma boa diversificação,

demonstrando um nível de estruturação que se reflete em uma repartição do espaço

segundo tarefas necessárias à boa execução da atividade. Apresentam-se assim estruturadas

as atividades de nutrição, almoxarifado, central de esterilização, farmácia, lavanderia,

vestiários para funcionários e arquivo médico.

Com respeito à atividade de formação, registra-se no Getúlio Vargas a presença de um

setor vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, além de salas de aula, o

que mostra que o hospital também serviu como hospital de ensino.

O esquema geométrico da planta é formado por dois retângulos secundários, iguais e

paralelos entre si, conectados ortogonalmente a um terceiro retângulo principal, maior que

os anteriores. Esse esquema se repete em três pavimentos, e equivale ao do hospital de tipo

pavilhonar, em que cada retângulo corresponde a um pavilhão e a conexão entre eles se dá

através de uma circulação.

As atividades estão espacialmente reunidas em grupos, segundo sua natureza funcional. Na

distribuição desses grupos no edifício, pode-se perceber que foi levado em conta, ainda que

de forma parcial, o princípio das inter-relações funcionais entre grupos, aplicado nos casos

da internação e do pronto-socorro. O grupo da internação, localizado no primeiro e no

segundo pavimento dos pavilhões secundários, está posicionado estrategicamente para

receber o suporte das atividades de apoio (cozinha, lavanderia, farmácia). Já o grupo do

pronto socorro está posicionado de forma a ter um acesso independente desde o exterior do

edifício e acesso fácil a atividades de apoio ao diagnóstico, tais como o laboratório de

análises clínicas e raios-X.

No pavilhão principal dos três pavimentos encontram-se distribuídas as atividades de

apoio, as atividades terapêuticas restantes (exames e consultórios) e as atividades de ensino

e pesquisa. Estão localizadas no pavimento térreo as atividades de apoio, raios-X e

laboratório de análises clínicas. No primeiro pavimento, concentram-se atividades

Page 149: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

141

administrativas e consultórios. No terceiro pavimento, estão as atividades de ensino e

pesquisa.

A delimitação do perímetro exterior do edifício não tem relação direta com a forma

aproximadamente trapezoidal do lote. No entanto, podemos observar que dois aspectos

foram levados em consideração na implantação dos pavilhões: a garantia da ventilação e

insolação natural dos leitos da internação, espaçando os pavilhões e orientando sua face

longitudinal para o sudeste; e o disciplinamento dos acessos prevendo três vias

independentes, uma para pacientes externos e visitas no pavilhão principal, uma para o

pronto socorro, e outra para abastecimento e funcionários nos pavilhões secundários.

Dentro do edifício as atividades estão distribuídas ao longo de um sistema circulatório –

um enlaçado de vias que interligam os três pavilhões entre si e os compartimentos dentro

de cada pavilhão, tanto no sentido horizontal como no vertical. Um exame em detalhe da

planta permite verificar que na solução adotada, há uma grande quantidade de áreas

dedicadas a circulações, inclusive, registram-se circulações paralelas e duplicação de

rampas.

Diante do grande espaçamento entre os pavilhões da internação, gerou-se uma grande

extensão a ser vencida pelos movimentos e fluxos que interligam quaisquer dois dos blocos

do conjunto. Dadas a quantidade e a extensão das circulações, pressupõe-se que houve uma

preocupação fundamental com a distribuição das atividades, como era de se esperar em um

hospital de tipo pavilhonar. As preocupações com a sanitarização do ambiente e com a

distribuição dos fluxos prevaleceram.

A volumetria resultante consiste de um conjunto de três paralelepípedos interconectados,

sobressaindo-se a dimensão horizontal, posicionados paralelamente ou em ângulo reto.

Esse volume foi desenvolvido a partir de uma modulação da estrutura tanto no sentido

horizontal como vertical, que deve ter sido definida pela largura das enfermarias que se

repetem. Inclusive, nos espaços de enfermaria dos blocos secundários, pode-se observar

como o arranjo enfermaria/enfermaria+circulação reflete perfeitamente a simetria da

estrutura em relação ao eixo central de desenvolvimento do bloco.

O sistema estrutural do edifício está composto por vigas e pilares em concreto armado, e a

modulação dos espaços entre vigas e entre pilares se dá tanto sobre o eixo frontal de

desdobramento, quanto nos dois eixos transversais que organizam os blocos secundários.

Page 150: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

142

O uso de tal solução implica em um encaixe de vigas e pilares em cubos, os quais se

repetem por todo edifício, tanto no sentido horizontal como vertical. Essa modulação e

regularidade da estrutura transparecem claramente na volumetria do edifício. Nas fachadas,

inclusive, são acentuadas pela reiteração do módulo de esquadria ao longo de todo o bloco.

A organização do espaço interno do edifício do Getúlio Vargas segue, então, os princípios

da ventilação cruzada e da insolação natural nos blocos da internação, nos quais também se

pode perceber uma redução na quantidade de leitos por apartamento, o que indica uma

preocupação com a privacidade. A separação das atividades por grupo funcional orienta a

disposição em planta e já se pode verificar uma incipiente experiência na localização

relativa dos grupos de atividade, tendo em conta requerimentos funcionais.

Uma terceira observação quanto à organização dos espaços é a tentativa mais decisiva de

separação de fluxos originários do exterior. Externamente, as vias de acesso ao edifício

servem de suporte para distinguir quatro tipos de fluxo; entretanto, e apesar da grande

quantidade de circulações internas ao prédio, só se pode distinguir duas classes de fluxos:

os que se vinculam ao público externo e os que se vinculam ao público e aos serviços

internos do hospital.

5.4.4. Considerações gerais a respeito dos hospitais pavilhonares de Natal

Os cinco hospitais comentados nesta seção apresentam características, de acordo com o

instrumental de análise tipológico usado, que mostram sua afiliação ao tipo pavilhonar.

A figura geométrica básica é o retângulo de dimensão longitudinal bem maior em relação à

dimensão transversal. O esquema geométrico da planta, em geral, consiste em retângulos

paralelos, regularmente espaçados, que se conectam diretamente (face a face, como no

Getúlio Vargas, ou de modo cruciforme, como no Evandro Chagas) ou através de uma

circulação ou de outro retângulo, de eixo ortogonal ou oblíquo ao eixo dos primeiros

(casos da Casa de Saúde, da Policlínica e do João Machado). Ao menos uma das

extremidades da planta retangular é livre.

O número de pavimentos varia de um a três. A implantação do edifício no lote é solta e não

há relação entre a geometria do lote e a geometria da planta do edifício.

Entre os princípios de organização do espaço, foi possível observar os seguintes:

sanitarização do ambiente hospitalar (Evandro Chagas e Getúlio Vargas); supervisão dos

Page 151: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

143

leitos de enfermaria (Evandro Chagas); maior privacidade dos leitos (São Lucas e

Policlínica apresentam a maior percentagem de apartamentos individuais); agrupação

espacial das atividades segundo sua natureza funcional (em todos os casos verifica-se a

formação de grupos funcionais); distribuição dos grupos funcionais na planta segundo o

grau de contato com o público externo (em todos os casos). No caso do Getúlio Vargas, a

distribuição espacial das atividades também leva em conta, ainda que parcialmente, as

relações funcionais entre grupos.

Com exceção do Getúlio Vargas, em que há quatro acessos ao edifício, todos os demais

casos possuem apenas dois, que se dedicam a fluxos de serviço e a fluxos para o público

externo. As circulações internas são usadas como instrumento para separar e disciplinar os

fluxos. Nos cinco hospitais analisados há apenas dois níveis de hierarquização. O primeiro

nível conecta entre si os grupos funcionais; o segundo é responsável pelo suporte aos

fluxos internos a um grupo de atividades.

Em termos de volumetria, pode-se verificar que os cinco hospitais apresentam poucas

diferenças entre eles, tendendo para um volume composto por paralelepípedos que se

interceptam, com baixa altura relativa com respeito às dimensões horizontais e

regularidade de contorno. Pode-se mencionar a exceção do João Machado que, por suas

características de planta, dá lugar a uma volumetria com contorno mais recortado e

irregular. Estruturalmente, apenas o Getúlio Vargas faz uso mais intensivo do concreto

armado com fins de estrutura vertical. Os demais são basicamente resolvidos pelo uso de

alvenarias estruturais dobradas, com lajes planas em concreto armado.

Cabe destacar que o projeto do Hospital Getúlio Vargas apresenta, em alguns aspectos,

maior sofisticação de que os demais hospitais pavilhonares. Essa distinção se dá, por

exemplo, na introdução – ainda incipiente – do princípio de zoneamento na distribuição

espacial dos grupos funcionais, na presença de serviços mais estruturados de apoio, no uso

da circulação como instrumento de separação e disciplina dos fluxos internos, no

aprofundamento da separação de fluxos externos, e no uso de modulação como base para o

desenvolvimento estrutural do edifício.

5.5. Hospital Infantil Varela Santiago

Trata-se de hospital especializado em pediatria, com operação iniciada em 1936. Os

principais serviços assistenciais do Hospital Infantil (FIG. 31) eram cirurgia, internação,

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144

além de serviços ambulatoriais como raios-x, laboratório de análises clínicas, consultas

médicas e vacinação. Apresentava atividades de apoio – cozinha, lavanderia, refeitório e

almoxarifado – que somavam quase um terço da área total construída, revelando um nível

de organização e estruturação avançado para a época de sua implantação. A internação se

compunha de várias enfermarias de poucos leitos, com banheiro coletivo, e apartamentos

individuais, com banheiro anexo.

A configuração da planta é composta por três figuras geométricas diferentes e conectadas

por uma circulação que coincide com o eixo longitudinal do conjunto. Em que pese a

variação das figuras geométricas, o modo como elas são conectadas remete ao hospital do

tipo pavilhonar, no qual essas figuras geométricas correspondem a retângulos

regularmente espaçados. Para efeito da análise apresentada nesta seção, admitiu-se que

cada uma dessas figuras geométricas, ainda que nem todas sejam retângulos, corresponde a

um pavilhão.

Analisando a organização espacial do conjunto, verifica-se que foram utilizados princípios

similares àqueles adotados no hospital do tipo pavilhonar. As atividades são reunidas

espacialmente em grupos segundo sua natureza funcional. Os grupos de atividades são

posicionados em edifícios independentes (pavilhões) interconectados, segundo seu maior

ou menor relacionamento com o público externo. Assim, no primeiro pavilhão do Hospital

Infantil, estão posicionadas as atividades dedicadas aos cuidados de pacientes externos: o

grupo funcional de atividades ambulatoriais. No segundo pavilhão estão posicionadas as

atividades dedicadas aos cuidados dos pacientes internos – grupos do centro cirúrgico e da

internação. No último pavilhão estão posicionadas as atividades do grupo de apoio, a

saber: cozinha, lavanderia, almoxarifado e farmácia.

A assimilação da configuração geométrica e da organização espacial do conjunto do

Hospital Infantil ao hospital de tipo pavilhonar, entretanto, deve ser discutida mais

detalhadamente em função do fato de que, no caso, cada pavilhão apresenta um esquema

geométrico próprio e uma lógica própria na sua organização espacial interna.

A primeira figura geométrica, correspondente à planta do primeiro pavilhão, pode ser

sintetizada em dois círculos concêntricos de onde partem, segundo dez eixos radiais, dez

retângulos. Essa forma geométrica assemelha-se a uma das variações do hospital tipo

pavilhonar – o formato de estrela –, com uma diferença. Aqui, cada retângulo corresponde

Page 153: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

145

a apenas um compartimento em vez de corresponder a um pavilhão inteiro. Em cada um

desses compartimentos, está posicionada uma das atividades de cuidados aos pacientes

externos, como consultórios, recepção, vacinação, pequenas cirurgias, laboratório de

análises clínicas, raios-X.

No núcleo da figura, o circulo mais interior corresponde a um pátio interno, sem cobertura

e com vegetação. A coroa circular corresponde a uma circulação que interliga os

compartimentos desse pavilhão, serve de acesso do exterior ao interior do edifício e se

conecta à grande circulação do conjunto. Os compartimentos foram organizados de modo a

convergir para um mesmo espaço, o pátio, que serve de área de estar e espera para

acompanhantes e pacientes que estão sendo atendidos no ambulatório. Esse pátio interno,

embora esteja presente também no tipo claustral, não tem aqui o mesmo uso. Ao invés de

servir como lugar para introspecção e isolamento do exterior, serve como ponto de

confluência e socialização dos pacientes externos, além de ser uma espécie de hall de

entrada para todo o hospital.

A segunda figura geométrica é um retângulo e corresponde à planta do segundo pavilhão.

O retângulo é cortado em partes iguais pela circulação principal do prédio, ficando

dividido em duas alas. Cada uma delas recebe um grupo de atividades de mesma natureza

funcional: as atividades do centro cirúrgico e as atividades da internação. Nesse pavilhão,

tanto a figura geométrica da planta, o retângulo, como o principio organizador dos espaços

– reunião funcional –, remetem ao tipo pavilhonar em suas vertentes de finais do século

XIX.

Note-se que não há uma hierarquização das circulações determinando um controle dos

fluxos, nem um sequenciamento na execução das tarefas, o que indicaria um uso mais

aprofundado dos princípios funcionalistas. Por outro lado, já pode ser notada uma

tendência a valorizar mais a privacidade do que a supervisão dos leitos. Essa tendência é

refletida na existência de quartos com poucos leitos e até de quartos individuais com

banheiro anexo.

A terceira figura geométrica, representando a planta do terceiro pavilhão, tem o formato

aproximado a um “E”, ou seja, um retângulo maior no qual são conectados, nas suas

extremidades e no centro, retângulos menores. Nota-se que o traçado dos compartimentos

desse pavilhão resulta em perfeita igualdade e simetria em relação ao seu eixo transversal.

Page 154: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

146

As atividades posicionadas nesse pavilhão são as do grupo de serviços de apoio; não há

uma lógica funcional na distribuição e a organização na planta segue o princípio da

composição por hierarquia. A principal atividade de apoio é a cozinha, que está

posicionada no centro do pavilhão. Do centro para as extremidades foram sendo

posicionadas as outras atividades (refeitório, copa, depósitos, sanitários), as menos

importantes mais longe do centro. Assim, a forma geométrica da planta desse pavilhão e a

lógica de organização dos compartimentos em seu interior se assemelham às do hospital

tipo casa de campo.

Voltando ao conjunto, vê-se que o edifício hospitalar tem sua implantação solta no centro

do terreno não guardando nenhuma relação formal com este. Há dois acessos ao edifício,

um no pavilhão mais próximo da rua principal – para pacientes externos e visitas – e outro

localizado no terceiro pavilhão, nos fundos do edifício, para serviços de apoio.

As circulações internas também se organizam de maneira simples, só havendo dois níveis

de hierarquização. No primeiro nível está a circulação que corta todos os pavilhões

perpendicularmente, fazendo a conexão entre eles, desde a parte frontal do edifício até o

acesso de serviços na parte mais posterior. No segundo nível estão as circulações que

ligam os compartimentos do mesmo pavilhão.

A volumetria do conjunto apresenta-se de forma irregular, com predomínio das dimensões

horizontais e destaque para os interstícios entre os três volumes básicos que constituem o

edifício. Assim, tem-se uma percepção de paralelepípedos interceptados, no caso dos

pavilhões central e posterior, culminados frontalmente com um volume cilíndrico muito

recortado e o destaque da cúpula que anuncia a entrada do edifício. Evidentemente, a

solução estrutural é muito simples, adaptada aos volumes pavilhonares, centrando-se em

alvenarias estruturais dobradas, lajes planas, com a exceção da estrutura esbelta que

suporta a cúpula, em pilares de granito.

Embora vários elementos da análise tipológica convirjam para que o Hospital Infantil

possa ser enquadrado como um hospital de tipo pavilhonar, as observações feitas sobre a

singularidade desse projeto quando se analisam mais detidamente suas partes componentes

levaram a que se optasse por mantê-lo como um hospital não assimilado a apenas um tipo

dos estudados.

Page 155: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

147

Isso não significa que se trate de um hospital sem tipo identificável. Ao contrário, o não

enquadramento a um tipo deriva do fato de que ele constitui um caso em que vários tipos

hospitalares parecem ter sido apropriados, como se a projetação do hospital tivesse feito

uso de uma abordagem tipológica.

Tal hipótese pode ser sustentada pelo fato de que o projetista do Hospital Infantil buscou

no repertório da arquitetura hospitalar de sua época não apenas a solução tipológica então

hegemônica (o pavilhonar, em rota de transição para o empilhamento vertical de

enfermarias que configura os primeiros desenvolvimentos do tipo torre sobre pódio na

volumetria monobloco).

Lançou ele mão de diversos recursos tipológicos, compondo soluções do tipo pavilhonar

em suas distintas vertentes (o pavilhão em estrela, por exemplo) com elementos do tipo

casa de campo e do tipo claustral. Nesse processo, o projetista assumiu uma

racionalidade explícita uma vez que, definidos por ele os grupos funcionais ocupantes de

cada pavilhão, cada caso foi trabalhado de modo a apropriar o tipo que ele julgou mais

adequado para abrigar aquela função.

5.6. Os hospitais do tipo torre sobre pódio

Cinco dos dezoito hospitais analisados foram enquadrados como afiliados ao tipo

arquitetônico hospitalar torre sobre pódio. São eles: o Natal Center, o Walfredo Gurgel, o

PAPI, o Memorial e o Santa Helena. Nesta seção, são apresentados os resultados da

análise tipológica desses hospitais, sendo que três deles são integrados em uma única

subseção.

5.6.1. Hospital Natal Center

Trata-se de um hospital geral, inaugurado em 2002, com ênfase em cardiologia e

oncologia. O Natal Center (FIG. 32) apresenta serviços de alta complexidade – como

cirurgia cardiológica, neurocirurgia e transplantes. A clientela alvo é a portadora de seguro

ou plano de saúde, mas também há serviços para pacientes SUS. Conta com serviço de

apoio ao diagnóstico e tratamento, utilizando equipamentos de tecnologia avançada.

As atividades de apoio – serviços de farmácia, de nutrição e dietética, de processamento de

roupa, central de administração de material e equipamentos, conforto e higiene para

funcionários, limpeza e zeladoria, central de esterilização e serviços de engenharia clínica

Page 156: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

148

– são diversificadas e bem estruturadas, de acordo com os processos e rotinas para

execução das tarefas. A internação é composta, em sua totalidade, por apartamentos

individuais com banheiro anexo.

O programa espacial, o dimensionamento e a organização espacial seguem as

recomendações das Normas Técnicas do Ministério da Saúde. Além dos ambientes

recomendados como mínimos nessas normas, o hospital conta com snack bar, auditório,

restaurante e livraria.

O esquema geométrico da planta é de dois retângulos aproximadamente concêntricos, de

dimensões diferentes. O retângulo maior representa os três pavimentos mais baixos –

subsolo, térreo e primeiro pavimento. O retângulo menor representa os pavimentos-tipo,

empilhados a partir do segundo e até o sétimo pavimento. Visto o edifício de perfil, a

configuração geométrica é semelhante ao do tipo torre sobre pódio, um “T” invertido.

O lote de forma geométrica retangular é ocupado quase inteiramente pela edificação,

também de planta retangular, sobrando apenas no seu perímetro as vias de acessos e os

recuos obrigatórios pela legislação. Todas os acessos se dão através da parte frontal do

edifício. Apesar de serem apenas duas as vias de acesso ao edifício, elas conduzem os

diversos tipos de fluxos a quatro entradas separadas no edifício, seja no subsolo, seja no

pavimento térreo.

As atividades são agrupadas em unidades, de acordo com sua natureza funcional. As

unidades, posteriormente, se agrupam em três zonas – clínica, internação e apoio – de

acordo também com sua natureza funcional. A organização espacial dessas zonas se dá

segundo suas inter-relações funcionais. As circulações são hierarquizadas em até quatro

níveis e têm a finalidade de separar, controlar e disciplinar os fluxos. Tudo isso é feito de

forma sistêmica, ou seja, considerando que cada atividade é parte de um todo integrado

cujo funcionamento depende do funcionamento de cada uma delas. Este princípio está

presente em todos os tipos do período modernista.

No pavimento térreo, logo na entrada principal do edifício, há um grande ambiente onde

estão localizados a recepção, o snack bar, a livraria, áreas de estar e os elevadores que

fazem as conexões verticais entre os pavimentos. Esse ambiente funciona como um hall de

entrada de um hotel: além de receber e acolher o público externo, ele controla e distribui os

fluxos para dentro do edifício.

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149

As circulações horizontais estão hierarquizadas em vários níveis. Em cada pavimento, há

uma circulação primária, mais importante, que faz as ligações entre as unidades funcionais.

Essas são as circulações mais extensas e coincidem em cada pavimento com o eixo

longitudinal da planta retangular. As outras circulações são ramificações posicionadas fora

do eixo longitudinal, com extensões menores, e que separam e disciplinam os fluxos dentro

das unidades funcionais.

A circulação vertical é feita por elevadores e escadas, concentrados no núcleo da planta e

que atingem os distintos pavimentos em um ponto da circulação principal. A separação dos

fluxos no sentido vertical se dá pelo uso de elevadores destinados especificamente para

cada fluxo, uns vizinhos dos outros. Isso é uma solução que reflete o fato de a planta ser

concentrada, a dimensão vertical sendo mais relevante que as horizontais, característica do

tipo torre sobre pódio.

A volumetria final do edifício corresponde a um paralelogramo horizontal, formando uma

base sobre o qual está posicionado ortogonalmente um prisma vertical de base retangular.

No paralelogramo horizontal, que corresponde a sub-solo, térreo e primeiro pavimento,

estão posicionadas as zonas clínicas e de apoio. No prisma vertical, estão empilhadas as

unidades que formam a zona de internação.

Essa volumetria corresponde a uma estrutura em concreto armado, modulada na horizontal

e na vertical, com destaque para as vigas e pilares aparentes que marcam o contorno do

volume. As lajes em concreto armado são em colméia, reduzindo-se a marcação dos

espaços interiores pela diminuição da densidade de vigas de maior altura.

Assim, observa-se que o Natal Center apresenta-se como um edifício afiliado ao tipo torre

sobre pódio, na absoluta maioria dos elementos de observação: o princípio estruturador, a

disposição das zonas, a solução geométrica da planta, a volumetria e a estrutura

correspondem a esse tipo.

5.6.2. Hospital Walfredo Gurgel

O Hospital Walfredo Gurgel (FIG. 33) é um hospital geral de referência regional,

inaugurado em 1971, com a população em geral como clientela. Conta com internação,

atendimento de urgência e emergência, centro cirúrgico, raios-x, laboratório de análises

clínicas, ambulatório e serviços de apoio. Esses já são bastante estruturados e

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150

diversificados: farmácia, serviço de nutrição, serviço de lavanderia, almoxarifado,

vestiários para funcionários, central de esterilização, manutenção e administração.

O esquema geométrico da planta é formado por três retângulos paralelos de dimensões

aproximadamente iguais, conectados por uma circulação. O retângulo do meio representa a

planta de um bloco de seis pavimentos. As plantas do primeiro pavimento e do térreo

conformam uma base por possuírem dimensões maiores do que os pavimentos restantes,

que são menores e se repetem até o último pavimento. O retângulo mais próximo da rua

representa um bloco de três pavimentos de mesmas dimensões. O último retângulo

representa um bloco de um só pavimento.

O terreno apresenta um desnível no sentido do eixo transversal dos blocos: as cotas vão

diminuindo na medida em que se vai aproximando da rua. Em função disso, o teto do bloco

frontal de três pavimentos está no mesmo nível que o teto do segundo pavimento da base

do bloco do meio. Este é também o nível do teto do terceiro bloco. Vistos de perfil,

portanto, o conjunto dos três blocos – pouco afastados um do outro – tem a aparência de

um “T” invertido, semelhante ao esquema geométrico do hospital tipo torre sobre pódio.

O terreno tem forma estreita e alongada nos primeiros dois terços a partir da rua que são

dedicados ao estacionamento e vias de acessos. No ultimo terço, o terreno se alarga e aí são

implantados os três blocos. Entre os três blocos e entre eles e as divisas do terreno, há um

enlaçado de vias que dão acesso a cada bloco, sempre separando os fluxos por tipo de

acesso como abastecimento, urgência e emergência, paciente externo e admissão de

pacientes internos. Observando o desenho da implantação pode-se perceber que o formato

do terreno interferiu nas dimensões e posicionamento dos blocos, no traçado das vias de

acessos e estacionamentos.

O principio organizador dos espaços é funcionalista e sistêmico. As atividades são

agrupadas em unidades segundo sua natureza funcional e, depois, posicionadas

obedecendo a um zoneamento onde são observadas as inter-relações entre as unidades e

também a de cada unidade com o conjunto total das unidades.

Comparativamente ao tipo torre sobre pódio, não se usou radicalmente no Walfredo o

principio da concentração na organização de seus espaços. A base, ou pódio, está dividida

em três partes, conectadas entre si por uma circulação. Por outro lado, o formato da base da

torre se aproxima mais a um retângulo alongado do que a um quadrado, sendo possível

Page 159: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

151

posicionar quase a totalidade dos leitos de um mesmo lado da circulação – aquele que

recebe os ventos dominantes. Do outro lado da circulação, são posicionadas as atividades

de apoio. Assim, a dependência da climatização artificial fica minimizada, tanto na

internação quanto nos ambientes localizados na base. Outro efeito dessa “concentração

moderada” na organização dos espaços é no alcance da eficiência na execução das tarefas:

menos concentrado o arranjo espacial, as distancias percorridas serão maiores.

Os leitos de internação são organizados de três maneiras diferentes. A maioria das

enfermarias contém dois ou seis leitos, mas há também um apartamento individual em cada

pavimento de internação. Em todos os três casos, os banheiros são anexos ao espaço da

enfermaria.

As circulações internas dão seqüência aos fluxos que chegam das vias externas de acesso, e

distribuem esses fluxos no interior do edifício. As circulações internas têm três níveis de

hierarquização. As circulações principais fazem a ligação entre os blocos e as circulações

secundárias fazem as ligações entre atividades dentro de cada unidade funcional. Há um

nível terciário de circulação, ainda pouco desenvolvido, que corresponde à estrutura de

fluxos no interior da área destinada a algumas atividades de rotinas mais complexas – o

centro cirúrgico, por exemplo.

As escadas e elevadores fazem as ligações entre os pavimentos. Há dois conjuntos de

elevadores com funções distintas. Um deles vincula-se às circulações horizontais entre os

blocos, ou seja, as de nível primário, sendo associado principalmente a movimentos de

público externo. O outro está vinculado ao nível secundário de circulação nos pavimentos

do bloco central, servindo então principalmente aos fluxos relacionados a serviços internos

do hospital.

Observando a volumetria do conjunto verifica-se que ela corresponde à volumetria do tipo

torre sobre pódio, onde o pódio é conformado pelos pavimentos semi-enterrado, térreo, e

primeiro dos três blocos. Nesses pavimentos é que estão localizadas as zonas clínica e de

suporte. A torre corresponde aos pavimentos-tipo das enfermarias do bloco do meio. A

estrutura é modulada em concreto armado, com vãos modulados em paralelepípedos

elementares que se repetem em todo o edifício, e que correspondem a um pórtico estrutural

básico em três dimensões.

Page 160: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

152

O esquema geométrico da planta, o princípio organizador dos espaços e a solução

volumétrica correspondem ao hospital tipo torre sobre pódio. Entretanto, há elementos a

destacar que, no Walfredo, divergem das características centrais do tipo. A principal delas

é o fato de o Walfredo apresentar uma “concentração moderada”. Por outro lado, há que

destacar o fato de que a solução estrutural indiferenciada entre base e torre não coaduna

com a solução típica em que o pódio é estruturado de forma a garantir vãos mais amplos

que na torre, uma vez que as zonas instaladas no pódio requerem maior flexibilidade nos

espaços.

5.6.3. Hospital Santa Helena, Hospital PAPI, Hospital Memorial

O Hospital Maternidade Santa Helena (FIG. 34) presta atendimento à população em clínica

ginecológica e obstétrica, tendi sido aberto ao público em 1976. O PAPI (FIG. 35) é

especializado em pediatria, atuando nas clínicas médica e cirúrgica desde 1982. Os dois

hospitais têm seus programas espaciais semelhantes quanto aos serviços de atendimento

aos pacientes, ambos apresentando centro cirúrgico, laboratório de análises clínicas, raios-

x e consultas médicas.

No caso do Santa Helena as atividades de apoio apresentavam-se de modo estruturado,

com farmácia, serviço de nutrição, lavanderia, vestiários para funcionários, central de

esterilização, almoxarifado e atividades administrativas. No PAPI, as atividades de apoio

eram menos estruturadas pois não contava com lavanderia ou com vestiários para

funcionários.

Os dois hospitais têm como principal figura dos seus esquemas geométricos o retângulo.

No Santa Helena são dois retângulos que se interceptam segundo um ângulo de 45o. O

retângulo paralelo à rua representa três pavimentos iguais superpostos, enquanto o oblíquo

representa apenas dois.

No PAPI são dois retângulos próximos, de tamanhos distintos, que estão posicionados

paralelamente. Esses dois retângulos se tocam na parte da frente por meio de aproximação

de suas faces longitudinais; na parte de trás do retângulo menor eles estão interligados por

meio de uma circulação perpendicular a seus eixos. Entre as duas ligações, forma-se uma

espécie de poço de iluminação. Ambos os retângulos da planta do PAPI representam três

pavimentos iguais superpostos.

Page 161: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

153

Em que pese o fato de, em ambos os casos, ser possível verificar um afastamento entre os

retângulos formadores da planta, a aproximação entre eles coaduna com a observação de

que podem ser entendidos como um bloco contínuo. Na verdade, podem ser aproximados

ao tipo torre sobre pódio: no Santa Helena, a linha vertical é pouco expressiva; no PAPI a

horizontal que destaca o pódio da torre é inexistente.

Isso é resultado do porte pequeno que têm esses hospitais. No caso do Santa Helena, que

apresenta proporcionalmente poucos leitos, não foi necessário empilhar tantos pavimentos

de internação para abrigá-los, de modo que a “torre” não se destaca da base. No PAPI, o

“pódio” é reduzido porque o hospital não conta com tantos serviços de apoio (faltam-lhe a

lavanderia e os vestiários de funcionários, por exemplo) que requeressem espaço em planta

para posicioná-los.

Observando as plantas de locação dos dois hospitais verifica-se que os esquemas

geométricos das plantas foram condicionados pelas formas dos terrenos, pois os edifícios

se encaixam perfeitamente aos lotes, salvo pelos recuos obrigatórios e estacionamentos. Os

dois hospitais possuem duas vias de acesso, uma localizada na parte frontal (para pacientes

e visitas), e outra na parte posterior do edifício, para funcionários e abastecimento.

Eles também apresentam esquemas circulatórios internos semelhantes. Em cada

pavimento, na área de encontro dos dois retângulos, estão posicionadas as circulações

verticais, escadas e elevadores. No eixo longitudinal de cada pavimento retangular foram

posicionadas as circulações que fazem a comunicação horizontal. No centro cirúrgico, há

uma ramificação de circulações para segregar áreas e disciplinar os fluxos de entrada nos

ambientes mais críticos. No Santa Helena também acontecem soluções dessa natureza nos

serviços de apoio como lavanderia e cozinha.

O principio organizador dos espaços é funcional e sistêmico. As atividades estão reunidas

em unidades segundo sua natureza funcional. No entanto, nem todas as unidades foram

organizadas espacialmente seguindo o rígido esquema de zoneamento dos hospitais tipo do

período modernista. As unidades de centro cirúrgico foram deslocadas da zona clínica,

localizada no térreo, e foram posicionadas no último (caso do Santa Helena) ou no

penúltimo (caso do PAPI) pavimento. No Santa Helena, parte dos leitos de internação foi

retirada dos pavimentos superiores e posicionada no térreo.

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154

No PAPI, os leitos estão distribuídos em apartamentos individuais, com dois, três e seis

leitos, todos com banheiro anexo. No Santa Helena, apenas há apartamentos individuais e

enfermarias de quatro leitos, sempre com banheiro anexo.

Outro caso é o do Hospital Memorial (FIG. 36), operativo desde 1990. Especializado em

ortopedia, com internação, serviço de pronto socorro, raios-x e laboratórios de análises

clínicas, centro cirúrgico atendimento de fisioterapia, o Memorial é dedicado à clientela

particular e de convênios, sendo todos os apartamentos de internação de apenas um leito,

com banheiro anexo. As atividades de apoio não registram a lavanderia, nem se

apresentam bem estruturadas.

O esquema geométrico da planta é aproximado à figura de um quadrado. No interior desse

quadrado há um vazio retangular, conformando uma espécie de poço de iluminação. As

pequenas dimensões desse poço são insuficientes para garantir ventilação para toda área da

planta, o que faz com que o edifício dependa quase completamente de climatização

artificial.

Aproximadamente no centro do quadrado passa um eixo transversal de distribuição de

quatro escadas e dois elevadores. Esse eixo divide a planta em dois retângulos,

desnivelados entre si em meio pé-direito. De um lado do eixo, na direção do acesso

principal, estão distribuídas as atividades administrativas e ambulatoriais. Do outro lado do

eixo, na direção do acesso de serviço, meio pé-direito acima, estão as atividades de pronto

socorro e de apoio. Esse desnivelamento segue por mais duas plantas, uma com as

atividades de internação, e outra com centro cirúrgico e salas de exames para diagnósticos.

Esses desnivelamentos, associados à distribuição das escadas e elevadores ao longo de um

eixo, espalha os fluxos do hospital de modo indisciplinado e descontrolado.

A implantação do edifício no terreno foi influenciada pelo formato deste e pela relação

com as vias do entorno. A forma da planta se encaixa no terreno, com a ressalva do recuo,

das vias de acessos e dos estacionamentos.

Nos três casos, o princípio organizador dos espaços é similar. Seguiu-se a regra de reunir

espacialmente as unidades funcionais, mas ao organizá-las no interior do edifício não foi

seguido por completo o princípio de observar as inter-relações funcionais entre as

unidades. Em conseqüência, foi gerada uma maior dificuldade para que houvesse uma

Page 163: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

155

eficiente separação e controle de fluxos, o que se agrava pelo fato de que a hierarquização

desses fluxos não foi tão aprofundada.

A volumetria do Memorial é de um bloco compacto, aproximadamente um prisma de base

trapezoidal com pouca significação da altura relativamente às dimensões da base. A

volumetria do Santa Helena corresponde a dois paralelogramos que se interceptam a 45o,

sendo que um deles possui a dimensão vertical maior. O PAPI tem sua volumetria

aproximada a um prisma vertical de base retangular. Em todos eles, o centro cirúrgico foi

deslocado de sua posição na base para ser posicionado nos andares superiores.

Assim, as volumetrias dos dois hospitais podem ser comparadas às do tipo torre sobre

pódio, levando em conta que a mudança de posição do centro cirúrgico, ausência de

elementos da zona de apoio e até o porte do hospital se refletiram na desconficguração do

volume e sua assimilação a um bloco sem torre e sem pódio. Assim, essas volumetrias dos

três hospitais são uma variação simplificada, onde a torre o pódio se unificam em um só

volume. Essa simplificação é evidentemente sentida também na estrutura, em que a

característica comum aos três hospitais vai ser uma solução de modulação em planta, com

pilares igualmente espaçados, mas com vigas de contorno salientes e lajes com pequenos

vãos.

5.6.4. Considerações sobre o tipo torre sobre pódio

De acordo com o instrumental de análise tipológico utilizado neste trabalho, os cinco

hospitais analisados nesta seção são afiliados ao tipo torre sobre pódio.

A figura geométrica básica é um retângulo de dimensões aproximadas, tendendo a um

quadrado. O esquema geral da planta é o de dois quadrados aproximadamente

concêntricos, o menor sendo a projeção horizontal da torre. O esquema geométrico do

perfil, então, consiste em um “T” invertido, com base e pódio bem caracterizados (casos do

Natal Center e do Walfredo Gurgel, em que a altura é a dimensão predominante do

conjunto) ou com base e pódio indiferenciados entre si (casos do Santa Helena, do

Memorial e do PAPI, de baixa altura relativa).

Na medida da concentração espacial desses cinco hospitais, implantados em lotes urbanos

de dimensões limitadas, a forma geométrica da planta do edifício é muito influenciada pela

forma geométrica do lote. Em geral, aquela se encaixa perfeitamente nesta, a exceção da

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156

obediência a recuos e afastamentos prescritos pela norma urbanística, ou pela existência de

acessos viários e de estacionamentos.

Os princípios de organização do espaço são funcionalistas e sistêmicos, assumidos

integralmente nos casos do Natal Center e do Walfredo Gurgel, que exibem programas

espaciais mais complexos. Os demais têm esses princípios como guia geral, mas eles não

são totalmente assumidos, em parte pelo pequeno porte dos hospitais, em parte pela sua

baixa complexidade.

Nos casos do Walfredo e do Natal Center, os fluxos são separados e disciplinados por meio

de uso de circulações hierarquizadas. O mesmo não acontece nos demais, reflexo também

do fato de os princípios funcionalistas não terem sido completamente absorvidos. Da

mesma forma, o Walfredo e o Natal Center exibem separação dos fluxos externos ao

edifício em quatro categorias, enquanto os demais o fazem em apenas duas.

Em termos de volumetria, pode-se verificar que, dos cinco hospitais analisados, dois

apresentam a volumetria esperada – o Walfredo e o Natal Center – enquanto os demais

apresentam uma volumetria em monobloco. Por fim, no que tange à estrutura, destaca-se o

Natal Center por apresentar uma solução perfeitamente integrada à volumetria e à idéia

organizadora dos espaços, qual seja a estrutura de concreto armado modulada em grandes

vãos livres, com lajes colméia e vigamento de contorno. Os demais, embora usando

largamente o concreto armado, trazem uma proposta mais convencional, com módulos

espaciais de pequenas dimensões e, portanto, maior densidade de vigas e pilares.

5.7. Santa Catarina e Maria Alice Fernandes: hospitais rua

Os dois hospitais enquadrados no tipo hospital rua foram frutos de iniciativa do Governo

estadual e financiados com recursos públicos. Os projetos levaram em consideração um

modelo assistencial de saúde para o estado, em sintonia com a então política do Ministério

da Saúde. Esse modelo era baseado em um sistema de unidades hierarquizadas e

regionalizadas.

Quando inaugurado em 1986, o Hospital Santa Catarina (FIG. 37) prestava assistência nas

especialidades médicas de ginecologia e obstetrícia, pediatria, clínica médica e clinica

cirúrgica. Já o Hospital Maria Alice Fernandes (FIG. 38), aberto ao público em 1998,

Page 165: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

157

prestava atendimento à população infantil, nas clinicas médica e cirúrgica. O nível de

resolutividade desses hospitais na rede estadual era de média complexidade.

Em ambos os casos, o programa espacial correspondia ao previsto nas normas do

Ministério da Saúde para hospitais de média complexidade. A organização dos espaços em

unidades ou departamentos que formam zonas funcionais, as áreas dos ambientes e o

dimensionamento dos serviços seguiram os parâmetros daquelas normas.

A organização espacial das atividades seguia, nos dois hospitais, princípios rígidos. As

atividades de uma mesma natureza funcional eram reunidas em unidades (unidades de

internação, de centro cirúrgico e obstétrico, de ambulatório etc). As unidades, por sua vez,

estavam organizadas espacialmente em zonas, segundo a sua relação com os cuidados dos

pacientes: unidades com atividades diretamente ligadas aos cuidados dos pacientes

externos (ambulatório, diagnóstico, urgência); as ligadas diretamente aos pacientes

internos (internação, centro cirúrgico e obstétrico); e as que dão suporte logístico-técnico

ao funcionamento das duas primeiras zonas e não guardam relação direta com os cuidados

dos pacientes (lavanderia, nutrição, central de esterilização, administração etc).

Essa organização funcional das atividades em unidades, das unidades em zonas, e das

zonas em um todo integrado considera as relações e interdependências internamente a cada

zona e de cada uma delas com o todo, refletindo uma visão sistêmica do edifício. Os fluxos

de pessoas e materiais entre zonas e atividades são controlados no intuito de executar

eficientemente os procedimentos e rotinas estabelecidas.

Nos dois casos, as atividades do hospital foram distribuídas em varias plantas retangulares

independentes, de diferentes tamanhos e posicionadas ora paralelamente ora

ortogonalmente entre si. Essas plantas são conectadas através de circulações

perpendiculares ao seu eixo longitudinal. As plantas e circulações formam um conjunto de

figuras geométricas retangulares desenvolvidas através de uma malha reticular ortogonal

que regula tanto seus limites como seus afastamentos.

Tanto no Santa Catarina quanto no Maria Alice Fernandes, os leitos são distribuídos em

quartos de um, dois e quatro leitos, sempre com banheiro anexo.

A implantação dos edifícios é solta no meio do terreno, guardando alguma relação de

proximidade apenas com o limite frontal do lote onde estão os acessos dos pacientes

Page 166: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

158

externos. Os acessos são disciplinados, havendo entradas específicas para pacientes

externos, para pacientes em processo de internação e visitas, para funcionários e para

abastecimento. O desenho das circulações dentro dos edifícios segue disciplinando estes

fluxos, ora conduzindo os pacientes a áreas de atendimento, ora criando barreiras ao acesso

a setores mais reservados. Nas unidades funcionais onde há exigências mais severas no

sequenciamento de tarefas, as circulações se diversificam em vias menores e traçam rotas

operacionais, disciplinando passo a passo a execução de tarefas. As circulações formam

assim um sistema hierarquizado que determina o itinerário seqüencial de pacientes e de

rotinas.

Ainda quanto ao posicionamento dos blocos no terreno, temos no caso do Hospital Santa

Catarina, uma variação importante em relação ao tipo rua hospitalar. Nesse tipo, os

blocos são posicionados paralelamente entre si, com um lado conectado a uma circulação e

outro solto para permitir a expansão do bloco sem afetar os demais. O espaçamento entre

blocos é apenas o necessário para iluminar naturalmente os ambientes. Em muitos

ambientes, inclusive, é prevista a utilização de equipamentos mecânicos para ventilação e

climatização.

Os princípios seguidos para o posicionamento dos blocos são o de racionalização funcional

do hospital e o de proporcionar a expansibilidade do edifício. No Santa Catarina, o bloco

onde está localizada a unidade de internação se posiciona ortogonalmente em relação aos

outros, provavelmente para aproveitar melhor a ventilação sudeste em seus leitos. Nesse

caso, a sanitarização do ambiente foi o princípio mais forte. No entanto, os princípios de

posicionamento funcional e expansibilidades não foram desrespeitados.

Os espaços são desenvolvidos em módulos tridimensionais elementares de 1,20 x 1,20 x

1,20 m3. As dimensões de cada compartimento são definidas pelo layout e requerimentos

ambientais dos equipamentos e procedimentos, conformando-se pelo módulo que regula e

define os espaços.

Observando a volumetria dos edifícios, verifica-se que ela é marcada por paralelepípedos

de expressiva horizontalidade, posicionados paralelamente ou ortogonalmente (caso da

internação no Santa Catarina), que se interconectam por uma circulação de eixo

perpendicular aos blocos. Não há um volume que se sobressaia em relação ao outro, apesar

Page 167: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

159

de terem tamanhos diferentes, em ambos os caso dando origem a um conjunto com

regularidade de contorno.

As soluções estruturais dos edifícios são idênticas e adaptadas à diversificação de

tamanhos dos blocos: estrutura modular em concreto armado, projetada em módulos

tridimensionais. No Santa Catarina, os dois tipos de vigas e pilares foram usinados no

canteiro e manipulados por grua; as lajes eram em nervuras pré-fabricadas fora do canteiro.

No Maria Alice Fernandes, a estrutura foi moldada convencionalmente in loco, apenas as

nervuras das lajes sendo pré-fabricadas.

As semelhanças entre os dois hospitais analisados nesta seção dão realce ao fato de que

ambos foram projetados sob a vigência de normas técnicas estritamente prescritivas.

5.8. Promater, Femina e Coração: uma incursão em um novo tipo?

Os hospitais Promater (de 1996, FIG. 39), Femina (2001, FIG. 40) e do Coração (2000,

FIG. 41) foram concebidos por iniciativa de três grupos diferentes de médicos de Natal,

com o intuito de prestar assistência médica especializada em ginecologia, obstetrícia e

pediatria (nos dois primeiros casos) e em cardiologia (no terceiro), sempre tendo como

clientela-alvo os portadores de seguro ou plano de saúde privado. As atividades de

cuidados aos pacientes nos três hospitais envolvem centro cirúrgico, raios-X, laboratório

de análises clínicas, ultra-som, mamografia. No Hospital do Coração, adiciona-se

tomografia computadorizada, ecocardiografia e hemodinâmica.

Nos três casos, os serviços de apoio são diversificados e bem estruturados, de acordo com

os processos e rotinas para execução das tarefas, constando de: serviços de farmácia, de

nutrição e dietética, de processamento de roupa, central de administração de material e

equipamentos, conforto e higiene para funcionários, limpeza e zeladoria, central de

esterilização e serviços de engenharia clínico-hospitalar.

Esses hospitais não estavam integrados à rede do Sistema Único de Saúde, nem mesmo

como assistência conveniada. O nível de resolutividade nos dois primeiros hospitais

corresponde ao nível médio de complexidade; no terceiro é de alta complexidade. A

distribuição de leitos de internação nos três hospitais privilegia os apartamentos individuais

com banheiro anexo, de modo que apenas cerca de 10% dos apartamentos são de dois

leitos, mantendo-se aí o banheiro anexo.

Page 168: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

160

5.8.1. Hospital Promater

A configuração geral da planta pode ser sintetizada por três figuras geométricas: um

quadrado e dois retângulos iguais e paralelos, todos alinhados segundo um eixo paralelo ao

comprimento do terreno.

A primeira figura, o quadrado, representa a forma geométrica da planta do bloco

posicionado na parte mais frontal do edifício. Nele, preenchendo dois terços de sua área,

está presente um grande hall de entrada, ocupado por ambientes dedicados ao conforto de

pacientes e familiares – tais como áreas de espera, snack bar, jardim interno – e algumas

atividades administrativas com contato direto com os pacientes externos, tais como

recepção e admissão.

No terço restante do quadrado, distribuídos no térreo e em um mezanino, estão todas as

salas de espera dos cuidados aos pacientes externos, como consultórios médicos, raios-x,

mamografia, ultrassonografia e pronto socorro. As salas de espera estão voltadas para o

átrio mas posicionadas de maneira contígua aos serviços.

Esse bloco conta com 500 m2 de área construída, com altura de 7,2 m. Ele ganha destaque

em relação ao conjunto em função de que o hall de entrada foi dotado de grandes

dimensões e porque foram utilizadas soluções que valorizam o seu espaço interno. A

iluminação zenital e os jardins internos proporcionam luz natural no núcleo da planta

quadrada. No limite entre o quadrado e o primeiro dos retângulos, estão posicionados

elevador e escada, que distribuem todos os fluxos dos pacientes externos e familiares.

As outras duas figuras são dois retângulos iguais e paralelos conectados por uma

circulação, que representam as plantas de blocos de quatro pavimentos. Nos dois blocos, o

subsolo é destinado a garagem. Nos pavimentos térreos, estão posicionados serviços de

apoio e centro cirúrgico. Nos demais pavimentos estão posicionados os apartamentos da

internação. Embora plantas com forma retangular facilitem a ventilação e a insolação

natural dos ambientes internos (como no tipo pavilhonar), nesse hospital só a insolação foi

aproveitada, já que o edifício é dotado de ar condicionado em todos os ambientes.

A volumetria do edifício é dominada pelas dimensões no plano horizontal. Frontalmente,

um prisma de seção quadrada, se apresenta como um volume mais compacto, fechado.

Page 169: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

161

Lateralmente, somando-se ao prisma frontal os paralelogramos correspondentes aos dois

blocos retangulares, o volume se apresenta com um contorno bastante recortado.

A solução estrutural modular em concreto armado tem comportamento convencional em

todo o edifício, a menos do átrio frontal em que se combinam panos estruturais planos de

concreto e a estrutura metálica da cobertura translúcida, com efeitos sobre as dimensões

das vigas e pilares que marcam a fachada e o interior do átrio.

5.8.2. Hospital Femina

O esquema geométrico da planta é representado por três retângulos aproximadamente

concêntricos. O retângulo maior representa os pavimentos do subsolo e do térreo, onde

estão localizados os serviços de apoio e de cuidados aos pacientes externos. O retângulo de

tamanho intermediário representa o primeiro e o segundo pavimentos, onde estão

localizados os apartamentos de internação. O terceiro e menor retângulo representa um

pátio interno ajardinado que vaza as plantas de todos os pavimentos e recebe e distribui luz

natural através de uma cobertura translúcida.

Em torno desse pátio há uma circulação avarandada em todos os pavimentos. No subsolo e

no térreo, onde estão localizados os serviços de consultório e de diagnóstico, o contorno do

pátio é ocupado por salas de espera e recepção. No térreo, além dessas, o contorno do pátio

conta com o snack bar para pacientes e visitantes e o hall de entrada do edifício.

Essa circulação em torno do pátio se repete em todos os pavimentos e faz a ligação entre os

compartimentos de um mesmo andar. A ligação no sentido vertical se faz através de

elevadores e escadas posicionados em um dos lados do pátio.

Os esquemas geométricos da planta e do perfil guardam semelhança com o tipo torre sobre

pódio. Entretanto, há dois elementos de divergência com respeito a este tipo. Por um lado,

a existência, no núcleo do bloco, de um pátio avarandado de grandes dimensões

horizontais e verticais traz grandes repercussões na conformação espacial do hospital. Por

outro lado, na Femina, a área dedicada a internação é inferior à que se dedica aos serviços

de diagnóstico, relação inversa da que se verifica no tipo torre sobre pódio.

A volumetria é aproximada à do tipo torre sobre pódio, embora a altura da torre não seja

marcante e o pátio, vazando torre e pódio, retire o caráter de maciço que o volume aparenta

Page 170: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

162

quando observado do exterior. Por outro lado, embora as dimensões relativas sejam

diferentes, a volumetria revela alguma semelhança com aquela do tipo claustral.

Pode-se assimilar, então, o volume do edifício a um prisma reto de seção retangular,

perfurado segundo o seu eixo vertical por um outro prisma reto de seção retangular, o

pátio, com menores dimensões horizontais. A solução estrutural adotada é o pórtico

tridimensional de concreto armado, regularmente repetido, e que se associa, no pátio

vazado, a uma estrutura metálica para a cobertura em policarbonato.

5.8.3. Hospital do Coração

O esquema geométrico da planta é formado por três retângulos de tamanhos distintos e um

círculo, todos arranjados de maneira a conformar um “U“. Cada figura geométrica

representa a planta de um bloco com cinco pavimentos. No primeiro retângulo

perpendicular à via principal, estão distribuídos em quatro pavimentos os consultórios

médicos. No segundo retângulo, paralelo à via principal, o pronto socorro e o centro

cirúrgico estão posicionados no térreo e no primeiro pavimento; nos dois últimos

pavimentos, estão os apartamentos de internação. No terceiro retângulo estão posicionadas

nos quatro pavimentos as atividades de apoio ao diagnóstico. No círculo, o pavimento

térreo foi destinado às atividades de apoio ao diagnóstico e o primeiro pavimento à UTI.

Os demais foram reservados para futuras ampliações. O subsolo está todo ocupado por

atividades de serviços de apoio.

Na área central, em continuação ao hall de entrada, está posicionado um átrio com pé-

direito de quatro pavimentos, iluminado naturalmente através de uma cobertura translúcida

de policarbonato. Na planta do átrio, estão posicionados elevadores e escadas que fazem a

comunicação vertical das atividades de cuidados aos pacientes externos. Em volta do átrio,

em todos pavimentos, há uma circulação que faz a comunicação horizontal entre esses

serviços. Para o átrio se voltam todas as esperas dos serviços aos pacientes externos. Ou

seja, o átrio polariza todos os fluxos e áreas de espera dos serviços dedicados aos pacientes

externos.

A volumetria do edifício pode ser aproximada à de um paralelogramo com dimensões

comparáveis, apresentando um destaque para o formato curvo do contorno em que a planta

adquire formato circular. A solução estrutural é simples, pois se trata de estrutura modular

Page 171: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

163

em concreto armado, repetida em todo o edifício à exceção do átrio, em que se compõe

com a estrutura metálica da cobertura.

5.8.4. Considerações gerais

Os três edifícios apresentados nesta seção são implantados em áreas urbanas residenciais

adensadas. São volumetrias predominantemente verticais, que buscam ocupar o terreno na

máxima possibilidade. Logo, as formas dos edifícios são contingenciadas pelos formatos

dos lotes.

Observando a configuração geométrica das plantas dos três hospitais verifica-se que elas

conformam esquemas geométricos diferentes, mas sempre formados por figuras

geométricas que se juntam, colando faces sem usar a intermediação de circulações. A

volumetria se torna aparentemente maciça e concentrada, mas isso é descaracterizado pela

presença de átrios ou pátios que vazam verticalmente o edifício.

Esse é um ponto em comum entre os três hospitais: a existência de um elemento com altura

de vários pés-direitos, que traz iluminação natural ao interior do edifício. Esse elemento,

pátio ou átrio, tem grande importância na organização dos espaços dos três hospitais.

O fato é que, nos três casos analisados nesta seção, a natureza funcional das atividades e

suas inter-relações para atender as rotinas estabelecidas no hospital são consideradas de

maneira sistêmica. As atividades são agrupadas, segundo sua natureza funcional, em

unidades, e estas em três zonas (de internação, clínica e de apoio).

A organização das zonas segue o principio das inter-relações funcionais, mas com uma

diferença. O átrio aglutina todos os fluxos de pacientes que se dirigem aos serviços

externos e internos do hospital e distribui esses fluxos através de salas de espera. Em

conseqüência, atividades de algumas zonas, em função de terem contato direto com o

público externo, são deslocadas do espaço de suas zonas para o átrio.

Por exemplo: da zona de apoio são deslocadas as atividades de admissão, registro e

tesouraria; da zona clínica são deslocadas as atividades de recepção e as esperas das salas

de exames e dos consultórios. Logo, o átrio assume um papel importante na organização

dos espaços, recebendo e distribuindo fluxos através de elevador e escadas sociais, bem

como proporcionando estar, conforto e acolhida aos pacientes externos e visitantes. Essas

características refletem também a necessidade de esses hospitais trabalharem suas

Page 172: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

164

respectivas imagens junto aos clientes, o que revela a natureza também comercial do

empreendimento.

É, portanto, o foco no paciente, ou no cliente, que orientou esses hospitais a adotar um

programa espacial em que novas atividades se integram ao edifício. Essas atividades,

“amenidades” no caso dos hospitais de Natal, se concentram no átrio, cujas características

tipológicas (no conceito de tipo utilizado neste trabalho) foram apropriadas das soluções de

átrios em shopping centers e adaptadas a áreas do hall de entrada do hospital.

É aí que se dá o primeiro contato dos pacientes com a organização hospitalar: o tratamento

adotado para esse espaço visa a incorporar um atendimento ao cliente que seja mais

personalizado, aconchegante e impactante, como em uma recepção de hotel.

Verifica-se no caso desses hospitais de Natal que as repercussões arquitetônicas do

conceito de foco no paciente (ou no cliente) são quase que totalmente limitadas à

requalificação desse espaço do átrio. Essa estratégia é diferente daquela que configura um

tipo hospitalar pós-modernista, no qual a idéia de foco no paciente vai imprimir sua marca

em todo o hospital.

Assim, pode-se observar, nas análises desses hospitais, que eles mostram um certo

descolamento do tipo modernista, por meio de uma pretensão de focar o desenvolvimento

da planta na atenção ao cliente, com considerações relativas a seu bem-estar. Entretanto,

nos três casos esse esforço se concentra no espaço do átrio e seu entorno. A ordenação

espacial do restante do hospital ainda segue a solução tipo do hospital modernista –

unidades e zonas funcionalmente organizadas para atender rotinas estabelecidas em função

dos procedimentos.

Ponderadas essas razões, pode-se considerar que a Promater, a Femina e o Hospital do

Coração estão mais vinculados ao tipo hospitalar shopping center/hotel/residência,

embora ainda estejam de certa forma arraigados ao tipo modernista. Constituem, assim,

exemplares de transição entre um tipo em desuso – o modernista – e seu desafiante.

5.9. Agrupamentos tipológicos e aderência ao contexto

Da análise realizada, pode-se verificar que os agrupamentos tipológicos resultantes

correspondem aproximadamente a períodos histórico-contextuais definidos e estudados no

capítulo 4. No Quadro 2 a seguir, essa característica da evolução da tipologia arquitetônica

Page 173: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

165

dos hospitais em Natal é explicitada, tendo em conta os dezoito hospitais estudados neste

capítulo.

Em verdade, considerando os dezoito hospitais analisados, pode-se falar em grupos

tipológicos para quatro tipos: pavilhonar (com cinco exemplares e mais o caso especial do

Hospital Infantil), torre sobre pódio (cinco exemplares), rua hospitalar (dois

exemplares) e shopping center/hotel/residência (três). Os outros dois tipos registrados na

análise, colônia e casa de campo, registram um exemplar para cada.

QUADRO 2

Agrupamentos tipológicos por período histórico-contextual

PeríodosTipos

1889-1930 1930-1945 1945-1964 1964-1985 Depois de 1985

Colônia São Francisco - - - -

Casa de campo - Maternidade - - -

Pavilhonar Infantil Evandro Chagas

Policlínica São Lucas

João Machado Getúlio Vargas -

Torre sobre pódio - - -Walfredo

Sta. Helena PAPI

Memorial Natal Center

Rua hospitalar - - - -Santa Catarina M.A.Fernandes

Shopping/ hotel/ residência

- - - -Promater Femina Coração

Nota: Para o caso do Hospital Infantil, o enquadramento no grupo tipológico pavilhonar é preliminar. Como se verá adiante, a análise desse hospital irá entendê-lo como um exemplar isolado, por suas características tipológicas inovadoras.

Observe-se que o exemplar que fixa a presença do tipo colônia entre os hospitais de Natal,

o Hospital Colônia São Francisco, é o primeiro dos dezoito hospitais analisados a ser

implantado, em 1929. Nesse período da Primeira República, a ação consorciada dos

Governos federal e estadual tinha entre seus principais objetivos o financiamento de

políticas de combate à hanseníase. Tal combate era feito principalmente por meio da

segregação dos enfermos com respeito à vida social urbana, com implantação e

Page 174: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

166

custeamento (este também apoiado por organizações de caridade e filantrópicas) de infra-

estrutura hospitalar.

A localização do Hospital Colônia São Francisco corresponde a esse modelo

segregacionista que é uma marca importante do tipo colônia. Mas o São Francisco não foi

financiado ou gerido pela Igreja Católica, presença que está na base da formação do tipo na

Idade Média, conforme se pode ver no capítulo 3.

Ressalte-se que, de acordo com os dados e informações levantados neste trabalho, a

presença da Igreja Católica na implantação ou apoio a hospitais em Natal não é tão

significativa quanto pode ser em outras cidades, o que pode explicar a inexistência na

cidade de hospitais afiliados aos tipos claustral, basilical e enfermaria cruzada, de todos os

que mais intensamente registram a presença da religião. Além disso, é importante salientar

que Natal nunca contou com uma Casa de Misericórdia, uma instituição que se espalhou

pelo Brasil desde o século XVI, em geral vinculada à Igreja Católica.

Por sua parte, entretanto, a sociedade civil local destaca-se nas primeiras décadas do século

XX por sua organização e por iniciativas vinculadas ao processo de modernização da

cidade. A Maternidade Escola Januário Cicco foi, como se detalhou no capítulo 4,

resultado de uma ação da sociedade civil organizada. A Maternidade representa, dentre os

hospitais de Natal, o tipo casa de campo, cuja formação remonta ao período renascentista.

Como o projeto de arquitetura pode ser datado no período entre 1928, ano em que se

divulgou a intenção do empreendimento, e 1932, quando tiveram início as obras de

construção civil (ver capítulo 4), pode-se considerar que a Maternidade – finalmente aberta

ao público em 1950 – é um exemplar que reflete as condições contextuais da década de

1920.

Essas condições, em que a sociedade civil desempenhava um papel importante na

modernização da cidade, podem estabelecer um nexo com o tipo casa de campo. Embora

fosse sendo suplantada ao longo dos séculos XVIII e XIX pela pavilhonar, a solução

tipológica da casa de campo ainda continuou a se fazer presente em muitos edifícios

hospitalares no mundo ocidental até próximo do século XX.

Assim, a apropriação ao projeto arquitetônico da Maternidade Escola do tipo casa de

campo pode ser entendida como simples resultado da permanência e da fixação deste tipo,

Page 175: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

167

mas, não se pode deixar de levantar a possibilidade de que a decisão arquitetônica tenha se

dado em conexão com a natureza cívica do empreendimento que levou à implantação do

hospital.

Em que pese o fato de a configuração geométrica do projeto da Maternidade Escola

vincular-se claramente à casa de campo, a análise tipológica revelou a presença, na

organização dos espaços, de princípios funcionalistas que compõem o tipo pavilhonar em

sua vertente de final do século XIX.

Isso demonstra que o projeto, embora tenha lançado mão de uma forma do passado, pôde

incorporar soluções funcionais dele contemporâneas, em uma clara demonstração de que o

projetista fez a opção de adotar o tipo casa de campo – talvez por seu valor simbólico para

a iniciativa cívica – ante a possibilidade de usar o tipo pavilhonar, mais ajustado ao modo

de organização interior dos espaços em um hospital com as características da Maternidade.

Esse exercício da opção do arquiteto, revelador de um determinado grau de conhecimento

tipológico, pode ser mais bem apreciada no caso do Hospital Infantil. Inaugurado em 1936,

o Hospital Infantil teve suas obras iniciadas em 1923, o que situa o seu projeto

arquitetônico ao redor do início daquela década. A natureza do empreendimento, como no

caso da Maternidade, era de uma entidade civil da sociedade, igualmente liderada por um

médico.

A análise tipológica do projeto mostrou que o Hospital Infantil pode, a princípio, ser

afiliado ao tipo pavilhonar, mas constitui de fato um caso de hospital em que o arquiteto

se aprofundou nas possibilidades tipológicas do edifício. Para diferentes grupos funcionais

de atividades, o projetista adotou distintas configurações geométricas e princípios

organizadores dos espaços da arquitetura hospitalar precedente, buscando apropriar e

mesclar, de forma racional, soluções tipológicas de diferentes períodos do passado.

Os demais exemplares locais que testemunham a presença em Natal do tipo pavilhonar

aparecem entre princípios da década de 1940 e meados da década de 1960, praticamente

coincidindo com o período posterior à Segunda Guerra (1945-1964).

Suas implantações derivam de duas diferentes iniciativas. De um lado, os hospitais

públicos que se constroem no âmbito de programas do Governo federal na área da saúde

pública, voltados para o combate às enfermidades infecto-contagiosas e para o tratamento

Page 176: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

168

de doenças mentais. Na primeira linha estão o Evandro Chagas – de 1943, especializado

em doenças tropicais – e o Getúlio Vargas – de 1966, especializado em tuberculose. No

caso das doenças mentais, tem-se o João Machado, 1958.

De outra parte, estão as iniciativas conducentes à Policlínica, de 1944, e à Casa de Saúde

São Lucas, de 1952. Nestes casos, o empreendimento era dirigido por grupos de médicos

locais que financiavam com recursos próprios a construção do hospital, cuja clientela-alvo

era a população beneficiária dos IAPs. Observa-se que esses hospitais estão direcionados a

serviços de cirurgia geral e clínica médica, diferentemente dos hospitais públicos

especializados do mesmo período.

Nesses hospitais privados, de caráter terapêutico, está presente o conhecimento técnico-

científico e o médico é a principal autoridade. Como se pode ver na análise deles realizada,

as atividades terapêuticas já apresentam um certo nível de estruturação, organizando-se em

vários espaços de acordo com rotinas e procedimentos. Também está presente a tecnologia

de diagnóstico, por meio dos exames de raios-x e laboratório de analises clínicas.

Distinguem-se claramente os hospitais privados dos públicos pelo que revelam de interesse

por privacidade na internação. Os hospitais pavilhonares públicos vão do grande hall

aberto de enfermaria do Evandro Chagas até o Getúlio Vargas, em que os leitos são

distribuídos por enfermarias menores. Enquanto isso, nos hospitais privados do período

pavilhonar (Policlínica e São Lucas) já se nota a presença mais significativa de

apartamentos individuais e de dois leitos. Em que pese essa distinção, vale salientar que a

opção pelo tipo pavilhonar é consistente no setor privado e no setor público, em todo o

período que vai de final dos anos 1920 até os anos 1960.

Em geral, os hospitais pavilhonares de Natal se informam tipologicamente das variantes

mais recentes do tipo, normalmente com uma organização espacial que remonta aos

princípios funcionalistas de fins do século XIX. Essa persistência do tipo pavilhonar em

Natal está provavelmente vinculada ao fato de que esses hospitais do período, tanto os

privados como os públicos, eram ainda de pequeno porte, de baixo nível de resolutividade

e com incorporação de um pequeno grau de tecnologia nos equipamentos de diagnóstico. É

só final do período 1945-1964 que, no Getúlio Vargas, vão se aplicar princípios

funcionalistas mais abrangentes na organização espacial, embora ainda se adote a solução

pavilhonar.

Page 177: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

169

Uma mudança tipológica só vai ocorrer no fim dos anos 1960, quando do projeto do

Walfredo Gurgel, hospital público inaugurado em 1971, na onda do financiamento pelo

Governo Federal de hospitais de grande porte de natureza curativa. O Walfredo é, em

Natal, o primeiro hospital de grande porte (150 leitos), de grande resolutividade e com seus

serviços estruturados de acordo com as primeiras normas para planejamento e construção

de hospitais, estabelecidas pelo Ministério da Saúde, normas que ainda não refletiam

totalmente os princípios da organização espacial pertencentes aos tipos do período

modernista.

Como hospital de grande porte, o Walfredo é uma resposta hospitalar ao crescimento

urbano experimentado por Natal nos anos que sucederam à Segunda Guerra. A solução

tipológica adotada é a do hospital concentrado, com uso intensivo de pavimentos

empilhados, configurando a torre sobre pódio.

Também afiliados a essa mesma tipologia, vieram na seqüência do Walfredo, o Santa

Helena e o PAPI, ainda no período 1964-1985, e o Memorial, no ano de 1990. Todos eles

eram de iniciativa privada, financiados com recursos bancários intermediados pelo FAS, e

se dirigiam a uma clientela de classe média emergente na cidade, pagante com recursos

próprios ou dos primeiros planos ou seguros de saúde, bem como a prestar serviços

contratados pelo INPS.

Todos eles seguem parcialmente as normas e os princípios de funcionalidade vigentes na

época foram, também parcialmente, incorporados. Em função de seu pequeno porte e de

terem média resolutividade, com serviços não totalmente estruturados, sua afiliação ao tipo

torre sobre pódio não é integral.

Como último componente desse grupo tipológico, tem-se o Natal Center, inaugurado em

2002. Esse hospital é, dentre todos os analisados, o que mais bem se enquadra nas

definições tipológicas. A iniciativa privada de um grupo de médicos, com financiamento

bancário, tocou o empreendimento com objetivos de lucratividade. A clientela-alvo é

constituída de portadores de seguro ou plano de saúde privado. Construído, como os

demais desse grupo tipológico, em áreas urbanas de alto adensamento, a verticalização é

necessária para abrigar uma grande quantidade de leitos, o alto nível de resolutividade e os

serviços complexos e bem estruturados.

Page 178: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

170

O projeto do Natal Center adotou princípios funcionalistas dos tipos hospitalares do

período modernista, embora trabalhando com as normas vigentes, mais flexíveis, da RDC-

50. Trata-se de caso que chama a atenção, uma vez que apropria uma solução tipológica

que não guarda coerência com o contexto do período recente de sua implantação,

estendendo a vigência do tipo torre sobre pódio em Natal.

Um outro tipo modernista presente entre os hospitais analisados é o rua hospitalar, ou

hospital rua. Dois exemplares de hospitais públicos edificados em áreas periféricas na

Zona Norte de Natal, que à época de suas implantações registravam, como ainda hoje, um

processo acelerado de crescimento populacional, são nitidamente afiliados a essa tipologia.

Trata-se de hospitais – o Santa Catarina, de 1986, e o Maria Alice Fernandes, de 1998 mas

com obras iniciadas dez anos antes – que foram planejados para integrar-se a uma rede de

serviços hierarquizada, com a necessidade de guardar possibilidades de expansão e

diversificação de serviços. Seus princípios de organização espacial são absolutamente

funcionalistas, ressaltando o caráter sistêmico do hospital, com foco principal na eficiência

de rotinas e procedimentos. Também correspondiam a um período ainda marcado pela

rigidez das normas ministeriais (Portaria 400) e respondem a preocupações construtivas de

redução de custo, pela via da modulação e da padronização de componentes.

É essa rigidez que vai ser quebrada pela presença de exemplares afiliados parcialmente ao

tipo shopping/hotel/residência, um grupo tipológico cuja implantação se concentra no

período entre 1995 e o presente. Dele constam três hospitais – Promater, Femina e do

Coração –, todos eles construídos por grupos de médicos, organizados economicamente de

maneira empresarial, e irrompem no cenário de uma saúde pública marcada pelo

crescimento dos planos e seguros de saúde, em que a competição pelo cliente é uma

preocupação do empreendimento hospitalar.

Os três hospitais têm em comum a presença de um átrio ou pátio, cuja função é receber e

dar conforto aos pacientes, além de distribuir os fluxos que se originam fora do edifício.

Como já se comentou, esses hospitais seguem, nas outras áreas interiores do edifício, os

princípios funcionalistas de organização do espaço, de modo que a apropriação dessa nova

tipologia – que se caracteriza por transferir ao cliente e ao paciente a sensação de

familiaridade e exclusividade de atendimento –, se atém àqueles elementos vinculados ao

Page 179: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

171

entorno do átrio, o que pode ser explicado em função da expressividade desses espaços no

aspecto comercial.

Observa-se que os resultados da análise tipológica, em síntese, apontam que, em geral, os

agrupamentos dos hospitais analisados pelos diferentes tipos revelam coerência com as

condições contextuais estudadas no capítulo 4. Há que reiterar a ausência dos tipos mais

ligados às origens católicas do hospital (o claustral, o basilical e o enfermaria cruzada), ao

mesmo tempo em que salientar que a ausência do tipo sanduíche pode ser explicada pelo

fato de que Natal não apresentava, à época da sua vigência, as condições de grande

demanda por serviços de altíssima tecnologia que se impõem como necessárias à

implantações de hospitais deste tipo.

No que concerne à sucessão dos grupos tipológicos identificados na arquitetura hospitalar

de Natal, cabe verificar em que medida ela reflete ou se distingue da evolução verificada

no capítulo 3 para a arquitetura hospitalar ocidental.

Recolocando os tipos ocidentais, pode-se estabelecer que eles evoluíram dos tipos

medievais identificados como claustral e basilical, mais ligados à noção católica do

hospital, para os tipos renascentistas da enfermaria cruzada e, posteriormente, da casa de

campo. A exceção a esse processo de substituição tipológica diz respeito ao tipo colônia, o

mais longevo dos tipos hospitalares, que foi largamente usado em todo o mundo até o

século XX.

Os tipos renascentistas foram suplantados, no Iluminismo, pelo tipo pavilhonar, cuja

vigência por cerca de dois séculos possibilitou que fosse sendo adaptado para exibir

distintas vertentes – umas referidas a variações nos princípios de organização espacial

(diminuição progressiva da quantidade de leitos por enfermaria, incorporação progressiva

de elementos funcionalistas, por exemplo), outras a novas disposições relativas entre

pavilhões e circulação, outras ainda para incorporar soluções tectônicas surgidas no século

XIX.

Só ao redor da metade do século XX é que os tipos modernistas ganharam proeminência,

para serem logo contestados nos anos 1980 pelo tipo híbrido de shopping, hotel e

residência que se qualifica hoje como dominante.

Page 180: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

172

Ao comparar essa evolução com o caso de Natal, pode-se verificar que os tipos claustral e

basilical não marcaram presença hospitalar em Natal, pelas razões já expostas

anteriormente. A análise feita em dezoito hospitais constatou, tão somente, que o Hospital

Infantil e a Femina fazem referência ao claustro, mas redefinindo-o e requalificando-o,

tanto espacialmente quanto funcionalmente. Por sua vez, o tipo colônia esteve presente já

em princípios do século XX, através do Hospital Colônia São Francisco.

Já mencionada e discutida em detalhe a experiência do Hospital Infantil, o próximo

apontamento tipológico em Natal é a casa de campo, representado na Maternidade. Já se

expôs anteriormente uma série de razões pelas quais pode-se considerar que a Maternidade

é tipologicamente assimilável à casa de campo, mas que isso se deveu a uma decisão

projetual, uma vez que a solução pavilhonar já era reconhecida e disponível. De toda a

forma, pode-se registrar aqui um desvio do sequenciamento tipológico natalense com

relação ao ocidental.

Feitos esses comentários sobre os primeiros hospitais da cidade, há que salientar que, em

verdade, a primeira onda mais sistemática de construção de hospitais em Natal já nasce

com a vinculação ao tipo pavilhonar, que se fez presente na arquitetura hospitalar da

cidade por cerca de quarenta anos, a partir de finais da década de 1920.

Da mesma forma que no processo evolutivo geral o pavilhonar foi sendo desenvolvido

tipologicamente ao longo de sua vigência, em Natal o uso desse tipo vai se aperfeiçoando

do início (Evandro Chagas) para o fim (Getúlio Vargas) do período de sua vigência. Esses

desenvolvimentos também são similares aos que se verifica em termos ocidentais:

enfermarias menores, maior abrangência da noção de funcionalismo, soluções de planta

geometricamente mais elaboradas, passagem progressiva da alvenaria portante para o

concreto armado.

Da mesma forma que no caso geral, em Natal o tipo pavilhonar é substituído pelos tipos

modernistas, que depois dão lugar ao tipo contemporâneo, híbrido de shopping center,

hotel e residência. O intervalo modernista dos anos 1960 a 1980, em que os tipos torre

sobre pódio e hospital rua fizeram presença em Natal, é bastante próximo, historicamente

falando, do intervalo de vigência desses tipos – e mais o tipo sanduíche – em todo o

mundo.

Page 181: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

173

O único elemento discordante é a ausência, pelos motivos já mencionados anteriormente,

do tipo sanduíche em Natal. Pode-se observar também que a introdução do tipo rua

hospitalar em Natal é posterior à do tipo torre sobre pódio, da mesma maneira que no

quadro ocidental estudado. Enfatize-se outra vez o fato de que um exemplar do tipo torre

sobre pódio é implantado em Natal já neste século XXI, constituindo isso um elemento de

desconformidade entre os sequenciamentos tipológicos ora comparados.

Por fim, a substituição dos hospitais modernistas pelos pós-modernistas também reflete

uma tendência mundial. A diferença no caso de Natal é que essa substituição aparenta ser,

hoje, apenas um movimento de transição, na medida em que resulta de apropriar elementos

tipológicos dos hospitais modernistas no âmbito de uma visão humanizada e, ao mesmo

tempo, comercial do hospital. Assim, ainda não se verifica em Natal a presença de um

hospital que haja absorvido totalmente as características do tipo shopping

center/hotel/residência.

Uma vez verificado esse sequenciamento, cabe discutir os fatores que, em Natal, induzem

a suplantação ou substituição de um tipo por outro. Nessa discussão, há que definir a priori

os momentos em que se procede a evolução de um para outro tipo, bem como estabelecer

previamente uma sistematização dos fatores relevantes para a indução de mudanças.

Examinando o quadro, já exposto e discutido, dos movimentos tipológicos no itinerário da

arquitetura hospitalar de Natal, pode-se por em destaque cinco grandes momentos, a saber:

a entrada em cena do tipo pavilhonar, em finais da década de 1920;

a incorporação progressiva de vertentes mais desenvolvidas do tipo pavilhonar, ao

longo do período 1945-1964;

a substituição do tipo pavilhonar pelo tipo torre sobre pódio, na década de 1960;

a introdução do tipo rua hospitalar, na década de 1980;

a emergência, nos anos 1990, do tipo shopping/hotel/residência.

Por outro lado, com base na análise realizada no capítulo 3, é possível elencar os potenciais

fatores indutores de mudança para verificar seu papel em cada um dos movimentos acima

detalhados, quais sejam:

natureza e intensidade das necessidades e demandas sociais;

políticas públicas de saúde;

Page 182: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

174

natureza e objetivos da iniciativa do empreendimento;

conhecimento científico e padrão tecnológico;

tecnologia construtiva.

A emergência do tipo pavilhonar na arquitetura hospitalar em Natal se dá de forma a

refletir a atuação conjugada desses fatores. Nas décadas de 1910 e 1920, como já se expôs

no capítulo 4, a cidade registrara a duplicação de sua população, ao mesmo tempo em que

um processo modernizador se implantava, com base em ações públicas e da sociedade civil

no campo do planejamento urbano, da construção de infra-estruturas, da implantação de

serviços públicos etc.

Um elemento central desse processo era a questão da higiene e da saúde pública e, nesse

âmbito, o problema da carência de infra-estrutura hospitalar na cidade. Ao mesmo tempo,

forjavam-se no Governo Federal as primeiras políticas nacionais de combate a

enfermidades infecto-contagiosas e a doenças mentais, cujo escopo incluía a implantação

de hospitais especializados nas principais cidades do país.

Nesse quadro, a demanda da sociedade local vai se articular com uma ação federal

organizada, com base técnico-científica, em que o projeto do edifício hospitalar se dá de

modo a incorporar conhecimento médico e a buscar um certo padrão de eficiência

funcional (higienização e sanitarização ambiental, organização das tarefas na enfermaria,

entre outras). O tipo pavilhonar havia sido desenvolvido na Europa, e continuava ainda

sendo adotado em princípios do século XX em todo o mundo, porque dava respostas de

caráter médico a essas necessidades, respostas mais precisas e eficazes que os tipos

anteriores, uns mais ligados ao caráter religioso do hospital, outros ao seu caráter cívico-

institucional.

Assim, tanto se prestava o tipo pavilhonar para materializar-se em edifícios hospitalares

públicos, vinculados a políticas federais tecnicamente definidas, quanto permitia sua

apropriação ao projeto de hospitais de iniciativa privada de grupos de médicos, uma vez

que incorpora a noção de autoridade científica do profissional de medicina e realça a sua

importância na sociedade (a “medicalização” do hospital terapêutico, instituição

responsável pela cura das enfermidades).

Entretanto, ao longo do período de cerca de 40 anos em que dominou o cenário tipológico

do edifício hospitalar em Natal, a análise realizada pode detectar que o tipo pavilhonar

Page 183: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

175

apropriado nos projetos foi progressivamente incorporando novidades e avanços, o que se

denominou neste trabalho por vertentes tipológicas.

Esse segundo movimento na evolução tipológica dos hospitais de Natal vai se processar na

medida em que crescem as exigências quanto ao padrão tecnológico dos serviços prestados

pelo hospital e quanto a sua organização, mas também pelo crescimento de demandas

sociais por maior privacidade na internação. Tal mudança, entretanto, vai requerer a

incorporação em larga escala da tecnologia construtiva do concreto armado, liberando a

organização dos espaços da rigidez das alvenarias portantes e flexibilizando o uso de vãos

mais livres para o posicionamento de atividades.

O domínio local das possibilidades do concreto armado e das vedações cerâmicas leves é

um fator imprescindível para viabilizar o seguinte movimento tipológico, de superação do

tipo pavilhonar pela torre sobre pódio, na década de 1960. O cenário para essa substituição

de tipos, entretanto, é multifacetado.

A cidade havia crescido, em população e em território urbanizado, e se desenvolvido

economicamente no período posterior à Segunda Guerra, requerendo um número bem

maior de leitos de hospital geral para atenção à saúde. A política pública nacional de saúde

estava centrada no edifício hospitalar, disponibilizando-se recursos públicos – recursos do

FAS a partir de 1974 – para sua construção, tanto por iniciativa pública, quanto pela

iniciativa privada.

Ademais, enfatizava-se o caráter curativo do hospital por meio de incorporação ao edifício

hospitalar de maior tecnologia de apoio ao diagnóstico, o que requeria um edifício mais

vertical, mais concentrado, projetado segundo estritas normas técnicas, para garantir maior

número de leitos de internação, maiores espaços técnicos e de suporte, além de maior

eficiência nas rotinas e procedimentos.

Paralelamente à vigência do tipo torre sobre pódio, na primeira metade dos anos 1980 vai

se agregar ao cenário tipológico do hospital natalense um outro tipo modernista: a rua

hospitalar. O hospital rua surge como opção em Natal em face do crescimento periférico

urbano das duas décadas anteriores. Na medida em que a cidade adquiria uma dinâmica de

crescimento na Zona Norte, havia que, em consonância com a política nacional de

hierarquização da rede de saúde pública, implantar hospitais flexíveis, aptos a serem

Page 184: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

176

posteriormente expandidos, o inverso do hospital concentrado e acabado do tipo torre

sobre pódio.

Um último movimento tipológico registrado é a emergência nos anos 1990 de uma vertente

de apropriação do tipo hospitalar pós-modernista, um tipo híbrido de shopping center, hotel

e residência. Como já se demonstrou na análise dos três hospitais de Natal afiliados a esse

tipo, essa apropriação do tipo não tem sido integral, mantendo-se elementos tipológicos

dos tipos modernistas (principalmente do torre sobre pódio) e absorvendo elementos do

novo tipo.

Os fatores intervenientes nesse movimento são principalmente derivados das necessidades

e demandas interpostas aos hospitais por uma sociedade, e Natal não é uma exceção, que

nas últimas décadas passou a ter uma abordagem comercial da atenção à saúde. Nesse

processo, em muito alimentado pela falência da atenção pública à saúde da população,

originou-se uma demanda de mercado por serviços hospitalares, ancorada nos planos e

seguros de saúde, pelas quais os hospitais passam a competir. Nesse sentido, a política

pública tem sido orientada à flexibilização das normas técnicas de projeto, orientando-se o

financiamento ao setor privado para as linhas de atuação do BNDES.

Mas, em Natal, essa competição ainda não amadureceu a ponto de os novos conceitos de

foco no cliente, foco no paciente, humanização, personalização, entre outros terem sido

completamente assimilados na concepção de empreendimentos hospitalares, menos ainda

na dos edifícios hospitalares correspondentes.

Page 185: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Capítulo 6

Conclusões

Page 186: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

178

6. Conclusões

A origem dos questionamentos que motivaram o trabalho de pesquisa que redundou nesta

dissertação remonta aos anos 1980. Ante as prescrições rígidas da normativa então vigente

no Brasil para o projeto e construção de unidades de atenção à saúde (a Portaria n. 400, do

Ministério da Saúde), em especial ante a definição prévia de configurações gerais para o

edifício hospitalar, cabia questionar-se em que medida tal definição era correta, desde

quando era assim e até quando seria.

No caminho buscado para responder àquelas indagações, pôde-se vislumbrar que a base

para entendê-las melhor guardava uma relação com a História da Arquitetura. Não uma

história dos edifícios – em que, como diz Pérez-Gómez (1991, p. 15), a história da

arquitetura é sintetizada em algo parecido com uma “coleção de borboletas” –, mas uma

história interpretativa da arquitetura como produto de um diálogo entre o ato criativo do

projeto, o precedente arquitetônico e o contexto físico-social, com suas necessidades e

demandas socioeconômicas e políticas, mas também com sua cultura, seu conhecimento e

sua tecnologia.

Essa ampla interpretação da história da arquitetura foi sistematizada por Sir Banister

Fletcher (1987) em fins do século XIX e, como afirma Newton (1991, p. 47), “oferece uma

compreensiva análise tipológica” ao entender que cada solução arquitetônica surgiu em

resposta a exigências formuladas por um contexto específico, fixou-se e depois foi

suplantada por outras soluções que mais bem respondiam a contextos novos, surgidos de

transformações da sociedade.

O trabalho de investigação cujo resultado material concreto é esta dissertação fundou sua

plataforma teórico-conceitual naquela “história tipológica” de Fletcher, que também

forneceu as raízes mais fundamentais da estrutura metodológica aqui adotada. Entretanto,

há duas considerações relevantes a serem feitas neste capítulo conclusivo.

Em primeiro lugar, na medida em que o foco do trabalho de pesquisa se dirigia para uma

arquitetura setorial específica e singular como a arquitetura de hospitais, houve que

promover adaptações significativas no conceito de contexto. Enquanto no procedimento

historiográfico de Fletcher o contexto é um entorno geoeconômico e político geral, aqui o

Page 187: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

179

conceito de contexto foi redefinido de forma menos geral e mais precisa (ver capítulos 3 e

4, respectivamente para os casos dos contextos referentes às evoluções tipológicas do

hospital ocidental e do hospital em Natal). Enfatizaram-se principalmente os aspectos

culturais, socioeconômicos e políticos mais diretamente ligados à saúde pública e aos

hospitais, na intenção de abarcar um contexto capaz de influir mais diretamente nas

configurações arquitetônicas, seja para fixá-las, seja para transformá-las.

Em segundo lugar, tendo em vista todo o debate acumulado nos últimos quarenta anos em

torno da noção e do conceito de tipo, não havia sentido em fixar-se nas definições

tipológicas que Fletcher, implicitamente, adotou para descrever as arquiteturas dos seus

distintos contextos histórico-geográficos. Buscou-se então internalizar ao trabalho de

investigação a construção conceitual requerida para constituir uma matriz de análise

tipológica operativa com vistas a sua aplicação à arquitetura hospitalar.

A pesquisa referida à construção do conceito operativo de tipo, e de sua correspondente

matriz de análise, teve como resultado o capítulo 2 desta dissertação. Ali, pode-se observar

que a compreensão do debate pós-moderno em torno do tipo e da tipologia resultou no

entendimento de que haveria que buscar as raízes teóricas do conceito em sua formulação

inicial, no século XIX.

A razão para tanto consiste em que o uso do conceito de tipo trabalhado por seus

estudiosos contemporâneos está contaminado por entendimentos e interpretações

divergentes e conflituosas, na mesma medida em que esses estudiosos reiteram a

importância de Quatremère de Quincy, Durand e Viollet-le-Duc para a formulação do

conceito e remetem às suas obras para lastrear apologias ou restrições ao tipo e à tipologia.

Resolveu-se, então, na impossibilidade de uma leitura crítica de toda a obra desses

teóricos, centrar o foco da pesquisa naqueles autores contemporâneos que se dedicaram à

interpretação do conjunto de suas obras – Lavin (1992), para Quatremère; Picon (2000) e

Villari (1990), para Durand; os comentários de Hearn em Viollet-le-Duc (1990), para o

mesmo –, independentemente da valoração relativa que esses intérpretes deram ao papel do

conceito de tipo nas respectivas produções daqueles teóricos.

Sem embargo, foram incluídos na revisão bibliográfica os textos mais nucleares das obras

dos três teóricos com respeito aos conceitos de tipo e tipologia, conforme indicaram as

listas de referências da literatura que, neste trabalho, representou a parte mais relevante da

Page 188: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

180

discussão contemporânea. Esses textos centrais – Quatremère de Quincy (1985, 1998),

Durand (2000) e Viollet-le-Duc (1990) – serviram, quando da reflexão conceitual e da

análise do debate sobre tipo na contemporaneidade, para demarcar os elementos de partida

sobre os quais se desenrola, em cada um deles, a discussão tipológica. Por outra parte, os

trabalhos dos já referidos analistas de Quatremère, Durand e Viollet-le-Duc vieram

contribuir para a compreensão do papel desempenhado pelo tipo no conjunto das

respectivas obras e de qual o significado que o conceito adquiria para os três teóricos no

contexto de seus trabalhos.

Dessa forma, procedeu-se a uma tentativa de aproximação entre os três teóricos, lançando

mão de seus conceitos de tipo, mas privilegiando as suas abordagens tipológicas, por

entender que suas formulações sobre o tema são compatíveis e reconciliáveis. A matriz de

instrumentos de análise proposta ao final do capítulo 2 é o resultado material e operativo

dessa tentativa. Pode-se concluir, em sua estruturação mesma, que a hipótese de trabalho

da reconciliação entre as visões de Quatremère, Durand e Viollet-le-Duc foi validada, na

medida em que a complementaridade entre as três abordagens se confirma na própria

definição dos instrumentos.

Evidentemente, como ela é definida com um propósito claro de aplicação neste estudo,

esse caráter operativo da matriz faz com que ela se deixe influenciar pelas características

singulares do projeto de arquitetura hospitalar, principalmente em termos da concepção

idealizada do espaço. Isso não implica, entretanto, na impossibilidade de adaptação da

matriz de análise para outras arquiteturas setoriais ou na sua generalização.

Nesses termos, pode-se concluir que a tentativa de desenvolver um instrumental de análise

a partir da leitura integrada de conceitos distintos, embora reconciliáveis, obteve êxito, ao

menos formal, no estágio atual dessa discussão neste capítulo.

No capítulo 3, a tarefa proposta era de dupla face. Por um lado, havia que aplicar o

instrumental definido anteriormente para elaborar uma análise tipológica da evolução da

arquitetura hospitalar ocidental em um período de quinze séculos, da Idade Média à

contemporaneidade. Por outro, essa análise tipológica havia que estar referida aos

diferentes contextos históricos que deram suporte e validaram soluções arquitetônicas que

prevaleceram durante largos, uns mais outros menos, períodos históricos.

Page 189: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

181

A complicação básica da primeira faceta dessa dupla tarefa era a expectativa de que um

instrumental desenvolvido para a análise de projetos pudesse ser aplicado a descrições

literárias, fotográficas, pictóricas ou arquitetônicas de séries de hospitais ou de hospitais

isolados que se consagraram por representar períodos históricos nos quais condições

contextuais relevantes se mantivessem constantes.

Nesse sentido, há que ressaltar a importância da extensa bibliografia utilizada, tanto no

campo da arquitetura hospitalar, quanto no da história da saúde pública e das instituições

hospitalares. Por outro lado, há que registrar que parte importante desse material

bibliográfico foi escrita com intenções tipológicas, mesmo quando não se explicitam

conceitos de tipo, porque buscam mostrar como os edifícios hospitalares nas diversas

épocas revelavam interesses e necessidades do contexto, analisando também edifícios

singulares que representavam as soluções utilizadas em uma série de hospitais da época.

O fato é que a matriz pôde ser aplicada, não sem dificuldades ou necessidade de

aproximações, juntamente com os contextos elaborados, para evidenciar de maneira

consistente a evolução dos hospitais no Ocidente. Produziu-se aí uma narrativa analítica de

que emerge um quadro do itinerário tipológico da arquitetura hospitalar em que a

permanência ou a substituição de tipos, e mesmo a coexistência de alguns deles, podem ser

compreendidas de maneira articulada com as transformações sociais e econômicas.

Esse quadro, apresentado também de forma sinóptica na última seção do capítulo 3,

permite concluir que o objeto arquitetônico hospital, para além dos diferenciais devidos ao

gênio criador de projetistas ou a condições locais específicas, evoluiu historicamente

segundo uma rota bem definida: o hospital medieval “da religião” deu lugar ao hospital

“cívico” da Renascença; este cedeu espaço ao hospital “medicalizado” do Iluminismo que,

por sua vez, foi suplantado pelo hospital “sistêmico” do período modernista; e este é

superado pelo hospital “comercial”, do cliente e do mercado, das últimas décadas.

O rebatimento dessa evolução no espaço da arquitetura hospitalar pode ser observado no

capítulo 3, em que se mostra que apenas um tipo permaneceu vigente desde a Idade Média

até o século XX: a colônia dos hansenianos resistiu, com sua formulação básica recuperada

da aldeia rural isolada e autárquica, à retirada da Igreja da posição de patrocinadora,

substituída pela filantropia cívica renascentista, depois pelo financiamento estatal. A

substituição progressiva dos demais tipos apenas reforça a condição de exceção da colônia

Page 190: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

182

e de sua permanência em quinze séculos de transformações sociais, econômicas e políticas,

o que se deve provavelmente a um fator exorbitante: o temor da sociedade, em todos os

tempos e latitudes, à lepra e aos leprosos. A colônia resistiu até mesmo à evolução da

medicina: persistiu ainda depois que se tornaram consagrados o tratamento ambulatorial e

o não-isolamento para os enfermos de hanseníase.

Para cada transformação tipológica por que passou o hospital ocidental em seu percurso

histórico, transformações essas avaliadas pelos diferenciais tipológicos evidenciados pelo

instrumental analítico adotado, a abordagem utilizada permitiu compreender quais fatores

de contexto foram relevantes e decisivos. Esse resultado permite afirmar a validade da

matriz de análise e a consistência do conceito de tipo que a instrui.

A aplicabilidade da matriz de análise, associada à abordagem de contextos, ao objeto

empírico do trabalho pôde então ser exercitada. O problema neste ponto era de natureza

bem distinta. Enquanto que na etapa de trabalho relatada no capítulo 3 o objeto da análise

eram séries ou hospitais representativos de períodos históricos, passava-se agora a lidar

com um objeto empírico composto pelos hospitais implantados em Natal nos últimos cem

anos, aproximadamente. Na verdade, o objeto se definia como sendo o conjunto de

hospitais implantados em Natal, vez que nada havia de mais relevante quando se

examinava o ocorrido nesse campo no século XIX.

Nessa etapa, então, havia que aplicar o instrumental a projetos e edifícios concretos, de

variadas naturezas. Para uma aplicação consistente da metodologia, havia também de

elaborar, mediante uma periodização daqueles cem anos, os correspondentes quadros

contextuais na cidade de Natal. Tratava-se de estabelecer, com base na exploração histórica

do capítulo 3, um conjunto de elementos contextuais que poderiam ser considerados como

os fatores potencialmente determinantes da evolução tipológica do hospital em Natal.

Entre esses elementos contextuais havia alguns endógenos à cidade, tais como base

demográfica e territorial, estágio de desenvolvimento econômico e social, ação política

local, organização da sociedade civil, conhecimento e tecnologia médica incorporada, entre

outros. Mas havia também que considerar elementos exógenos relevantes, tais como a

política pública federal para a saúde em todas as suas dimensões.

Assim, dedicou-se neste documento o capítulo 4 para apresentar os resultados desse

esforço de construção contextual, ao mesmo tempo em que iam sendo registrados, ao longo

Page 191: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

183

do percurso histórico da cidade, os hospitais que se implantavam e suas principais

características como empreendimento: locacionais, organizacionais, de perfil assistencial,

de tecnologia, de financiamento, de clientela-alvo etc.

As conclusões a que se chega no capítulo 4 realçam o fato de que, na medida em que a

cidade cresce e se desenvolve, observa-se, além de uma óbvia intensificação da construção

de hospitais, uma maior diversificação dos perfis assistenciais. Por outro lado, pode-se

constatar naquele capítulo, como também no Anexo 2 – em que se disponibilizam quadros

sinópticos da implantação de hospitais em Natal, por período, e uma definição sumária do

contexto relevante –, uma variação significativa na intensidade da presença de iniciativa

pública e da iniciativa privada na implantação de hospitais.

Essa variação é só em parte explicada pelas variações da política nacional de

financiamento à instalação de unidades hospitalares. A realização dessa política, no caso

do empreendimento privado, depende da intensidade e das formas com que a sociedade

(em verdade, parte dela, a que constitui a demanda em um mercado de saúde) satisfaz suas

necessidades de atendimento por meio de desembolso privado, de planos ou seguros de

saúde.

Outra conclusão interessante do capítulo 4 diz respeito ao elemento locacional dos

hospitais implantados com respeito à mancha urbana. Observa-se claramente, e isso

também pode ser observado no mapa apresentado no Anexo 1, que a implantação

hospitalar em Natal seguiu uma lógica de proximidade ou de distanciamento da área mais

urbanizada da cidade em função das características do hospital implantado. Além da

constatação da evidência de que os hospitais dedicados a segregar buscam áreas mais

remotas, pode-se perceber claramente uma distinção na lógica locacional dos hospitais

privados com respeito aos públicos. Enquanto estes têm localização mais direcionada pela

proximidade da população alvo, os hospitais privados buscam geralmente áreas com

facilidade de acesso motorizado para as camadas de renda média e alta da população.

Ao todo, no capítulo 4, recupera-se informação básica sobre 29 hospitais implantados em

Natal. Para esse efeito, definiu-se hospital como uma unidade de atenção à saúde em

regime de internação. Com base na literatura consultada, pode-se afirmar que nenhum

hospital implantado em Natal deixou de ser mencionado no capítulo 4, ainda que alguns

tenham sido pouco mais que mencionados, por absoluta falta de informação disponível. É

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184

o caso do Asilo de Alienados, implantado em 1911, como também do Hospital da

Aeronáutica, de que não foi possível obter qualquer registro.

Constituía intenção metodológica da pesquisa um levantamento censitário de informações

arquitetônicas, considerando todos os hospitais já implantados em Natal. Como se comenta

na introdução ao capítulo 5, não foi possível realizar essa intenção, por motivos variados.

Assim, só foi possível completar a base necessária de informações para 18 hospitais.

Entretanto, dos onze não analisados, para três é possível afirmar que sua exclusão não

interpõe problemas para os resultados da análise. São eles: o primeiro Hospital da Caridade

(implantado em 1856), o São João de Deus (de 1892) e o Asilo de Alienados (de 1911).

Pelas informações que se conseguiu obter com respeito a esses hospitais, eram eles pouco

mais que casas reformadas funcionando como albergues destinados a dar guarida a doentes

pobres e enfermos mentais.

Dessa forma, analisaram-se 18 dentre 26 hospitais significativos, restando ainda a

possibilidade de – exceto nos casos dos hospitais das três armas e da Polícia Militar –

averiguar, a partir da informação disponível, embora não completa, a possibilidade de que

a introdução de mais algum(ns) deles no conjunto analisado viesse a implicar em alteração

significativa de resultados.

A primeira conclusão relevante a que se chegou na elaboração da etapa da pesquisa

referente ao capítulo 5 foi a de que o processo seguido para a reconstituição das plantas do

projeto original foi bastante satisfatório, conforme se pode observar no Anexo 3, em que

estão dispostas as informações gráficas obtidas para todos os hospitais analisados.

Pode-se avaliar como positiva a experiência de aplicar o instrumental analítico aos dezoito

hospitais trabalhados. O enquadramento desses dezoito hospitais em grupos tipológicos

baseados nos tipos arquitetônicos definidos no capítulo 3 se deu sem grandes dificuldades.

Inclusive, o caso do Hospital Infantil, o qual foi tratado em separado, foi de grande

importância para demonstrar que a abordagem tipológica da projetação não tem porque ser

entendida como limitante da criatividade do arquiteto.

Concluiu-se da primeira fase da análise tipológica que Natal, nos cem anos analisados,

registrou a presença de quase todos os tipos hospitalares revelados no capítulo 3, com

exceção de tipos mais diretamente ligados à presença da Igreja como provedora ou peça

Page 193: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

185

importante na manutenção de hospitais (claustral, basilical e enfermaria cruzada) e do tipo

sanduíche, aplicado a situações de altíssima tecnologia, que a cidade em sua dimensão

atual ainda não requereu.

No entanto, identificam-se quatro grupos tipológicos mais relevantes, quais sejam os

referidos aos tipos pavilhonar, torre sobre pódio, hospital rua e shopping/hotel/residência,

os quais se sucederam entre os anos 1930 e os dias correntes. O grupo pavilhonar teve

prevalência por 40 anos, aproximadamente, enquanto que os tipos modernistas – torre

sobre pódio e hospital rua – dominaram a cena por 20 anos, no período 1964-1985. O tipo

shopping/hotel/residência, na verdade uma variante dele, tem sido dominante no período

de 1995 até os dias correntes, embora se registre a presença de um hospital afiliado ao tipo

torre sobre pódio como o último exemplar de hospital implantado em Natal.

Com respeito à hipótese lançada no capítulo 1, de que a evolução tipológica do hospital em

Natal reproduz, ressalvadas singularidades locais, a evolução tipológica do hospital

ocidental, pode-se afirmar que ela foi validada.

A singularidade mais evidente se prende à inexistência de tipos de início da evolução

tipológica do hospital, explicáveis pelo fato de que o início da história hospitalar em Natal

já encontra um poder civil razoavelmente constituído e independente da Igreja Católica

para atuar como organizador e financiador de políticas de saúde. Em Natal, com efeito, a

presença da Igreja Católica na história dos hospitais vai pouco além da presença reiterada

das irmãs religiosas responsáveis por serviços de enfermagem, uma situação que não se

repete como regra no Brasil, haja vista a rede de Casas de Misericórdia implantadas em

cidades brasileiras de vários portes e idades.

É importante ressalvar que a pequena Natal de início do século XX já contava com uma

perspectiva de modernização, ancorada na ação do Estado e na participação cívica da

sociedade, principalmente das elites. Ao mesmo tempo em que isso ajuda a explicar a

ausência da Igreja Católica na história hospitalar de Natal, também propõe uma resposta ao

fato de que a cidade tenha contado, no século XX, com um tipo hospitalar firmado na

Europa dos séculos XVI a XVIII, de inspiração renascentista.

Cumpre ressaltar que a arquitetura hospitalar norte-americana, conforme assinalam

Thompson e Goldin (1975), fez uso significativo do tipo casa de campo até princípios do

século XX, ressaltando seu valor cívico simbólico, mesmo quando inoculava na solução

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186

formal os princípios organizativos dos pavilhões “medicalizados” do final do século XIX.

Essa informação contribui para a interpretação da Maternidade Escola como um exemplar

híbrido do edifício hospitalar, embora mais marcante seja a presença tipológica da casa de

campo.

Uma última singularidade relevante para a análise é aquela que fixa, no processo de

superação dos tipos modernistas ao longo dos anos 1990 e 2000, um tipo de transição que

apenas apreende de forma superficial a sinalização das mudanças. Nesse mesmo período, a

arquitetura hospitalar ocidental buscava internalizar ao hospital a integralidade da herança

tipológica do shopping center, do hotel e da residência, em uma hibridação capaz de forjar

um novo tipo arquitetônico em que o foco no paciente constitui o aspecto mais central da

organização e da definição dos espaços hospitalares.

Em Natal, a pouca maturidade do empreendedorismo hospitalar privado produziu

exemplares que guardam desse novo tipo apenas os aspectos mais evidentes e imediatos. A

ponto de o hospital mais recentemente edificado em Natal poder ser identificado como o

exemplar mais radicalmente próximo ao tipo torre sobre pódio entre todos os estudados,

apenas recebendo um tratamento cenográfico “hoteleiro” em suas dependências

organizadas sob os mais rígidos ditames funcionalistas.

Por fim, cabe salientar que os resultados obtidos da análise dos fatores indutores de

mudança revelam que, no caso de Natal, os mais significativos são as políticas públicas

nacionais de saúde, as condições de mercado, dadas pelas demandas sociais em

transformação, e as alterações na natureza e nos objetivos do empreendimento hospitalar.

Esses elementos se mostraram suficientes para explicar os movimentos de alteração do tipo

dominante, no caso de Natal.

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Oppositions, n. 8, p. 95-115. 1977

VIDLER, Anthony. The third tipology. Oppositions, n. 7, p 1-4, 1976.

VIDLER, Anthony. The writing of the walls. Londres: Butterworth, 1989.

VILLARI, Sergio. J.N.L. Durand (1760-1834). Art and science of architecture. New York: Rizzoli,

1990.

VIOLLET-LE-DUC, Eugène-Emmanuel. The architectural theory of Viollet-le-Duc: readings and

commentary. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1990.

VOGEL, Morris. Managing medicine: creating a profession of hospital administration in the United

States, 1895-1915. In: GRANDSHAW, Lindsay; PORTER, Roy (Ed.) The hospital in history.

Londres: Routledge, 1989. p. 243-253.

WEEKS, J. AD Briefing: Hospitals. Architectural Design, v. 42, jul. 1973, p. 463-473.

Page 204: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

196

Anexos

Page 205: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Anexo I

Page 206: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal
Page 207: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Anexo II

Page 208: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Per

íod

o p

ré-r

epu

bli

can

o

Cen

ári

o

na

cio

na

l

rele

va

nte

O p

roce

sso

de u

rban

izaç

ão d

o pa

ís a

inda

não

est

ava

cons

olid

ado;

o E

stad

o na

cion

al e

ra f

rági

l em

fac

e de

oli

garq

uias

reg

iona

is, n

ão p

erm

itin

do

seu

func

iona

men

to in

stit

ucio

nal e

feti

vo. E

m c

onse

qüên

cia,

a p

olít

ica

naci

onal

de

saúd

e er

a in

cipi

ente

e a

s aç

ões

loca

is e

ram

ape

nas

de c

arát

er

urba

no-h

igie

nist

a. O

s po

ucos

hos

pita

is d

a ép

oca

eram

fil

antr

ópic

os o

u be

nefi

cent

es, c

onst

ruíd

os c

om r

ecur

sos

de p

arti

cula

res

ou d

a Ig

reja

C

atól

ica,

e ti

nham

nat

urez

a se

greg

acio

nist

a: e

ram

dep

ósit

os d

e pa

cien

tes

com

o f

im d

e pr

oteg

er o

s qu

e es

tava

m f

ora

da in

stit

uiçã

o.

Co

nte

xto

loca

l

Peq

ueno

cre

scim

ento

urb

ano.

Não

hav

ia a

ssis

tênc

ia à

saú

de d

a po

pula

ção,

ape

nas

med

idas

de

higi

ene

urba

na. F

oram

adq

uiri

das,

com

rec

urso

s pr

ovin

ciai

s, e

difi

caçõ

es p

recá

rias

par

a ab

riga

r en

ferm

os in

dige

ntes

, lou

cos

e fu

rios

os.E

m g

eral

, a m

anut

ençã

o er

a fe

ita

com

rec

urso

s do

go

vern

o pr

ovin

cial

, de

inst

itui

ções

de

cari

dade

e d

e fi

lant

ropo

s.

Inst

itu

içã

o

ho

spit

ala

rH

osp

ita

l d

a C

ari

da

de

La

zare

to d

a P

ied

ad

eH

osp

ita

l S

ão

Jo

ão

de

Deu

s

An

o b

ase

O

pera

tivo

em

185

6 (d

esat

ivad

o em

190

6)

Ope

rati

vo e

m 1

882

(des

ativ

ado

em 1

957)

O

pera

tivo

em

189

2 (r

enom

eado

em

194

3)

Ob

serv

açõ

es

Des

ativ

ado

em 1

906;

sub

stit

uído

pel

o H

ospi

tal d

a C

arid

ade

Juvi

no B

arre

to,

impl

anta

do e

m 1

909

em o

utra

áre

a.

Em

191

1, A

silo

de

Ali

enad

os; e

m 1

921,

H

ospí

cio

de A

lien

ados

; em

193

3, H

ospi

tal d

e A

lien

ados

. Des

ativ

ado

em 1

957;

sub

stitu

ído

pelo

Hos

pita

l Col

ônia

Joã

o M

acha

do, e

m

outr

o lo

cal.

Lig

eira

men

te r

efor

mad

o em

194

3, p

asso

u a

deno

min

ar-s

e H

ospi

tal G

etúl

io V

arga

s. F

oi

obje

to d

e am

pla

refo

rma

e am

plia

ção

em

1966

.

Per

fil

da

ass

istê

nci

a

Abr

igo

de in

dige

ntes

(po

bres

, esc

ravo

s,

pres

os)

sem

con

diçõ

es p

ara

trat

amen

to n

a re

sidê

ncia

. Não

hav

ia p

esso

al e

spec

iali

zado

.

Seg

rega

ção

dos

“lou

cos

e fu

rios

os”

para

pr

oteç

ão d

a so

cied

ade.

Não

hav

ia p

esso

al

espe

cial

izad

o.

Loc

al p

ara

acol

him

ento

de

tube

rcul

osos

po

bres

, seg

rega

dos

para

pro

teçã

o da

so

cied

ade.

Não

hav

ia p

esso

al e

spec

iali

zado

. R

ecu

rso

s

fin

an

ceir

os

Con

stru

ção:

Gov

erno

da

prov

ínci

a C

uste

io: G

over

no p

rovi

ncia

l e c

arid

ade

Con

stru

ção:

Gov

erno

da

prov

ínci

a C

uste

io: G

over

no p

rovi

ncia

l e c

arid

ade

Con

stru

ção:

Gov

erno

est

adua

l C

uste

io: G

over

no d

o es

tado

e c

arid

ade

Lo

cali

zaçã

o

Bai

rro

da C

idad

e A

lta,

Rua

da

Sal

gade

ira,

na

enco

sta

do R

io P

oten

gi.

Bai

rro

do A

lecr

im, n

o te

rren

o qu

e ho

je r

eceb

e o

Cen

tro

de S

aúde

do

Ale

crim

. B

airr

o da

s Q

uint

as.

Tip

olo

gia

Cas

a re

form

ada

sem

reg

istr

o gr

áfic

o

Cas

a re

form

ada

sem

reg

istr

o gr

áfic

o C

asa

refo

rmad

a se

m r

egis

tro

gráf

ico

Page 209: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Rep

úb

lica

: 1889 a

1930

Cen

ári

o

na

cio

na

l

rele

va

nte

For

am s

endo

sup

lant

ados

os

fato

res

inib

idor

es d

a im

plan

taçã

o de

um

a po

líti

ca n

acio

nal d

e sa

úde,

con

stru

ída

com

bas

e na

s id

éias

e a

tuaç

ões

do

mov

imen

to s

anit

aris

ta, c

uja

ênfa

se e

stav

a na

con

scie

ntiz

ação

col

etiv

a ac

erca

da

inte

rdep

endê

ncia

san

itár

ia. A

ções

são

con

cent

rada

s na

cap

ital

na

cion

al e

em

cid

ades

por

tuár

ias.

cam

panh

as s

anit

ária

s de

com

bate

às

epid

emia

s ur

bana

s e

ende

mia

s ru

rais

. For

am c

riad

as a

s C

AP

s, q

ue

fina

ncia

vam

a a

ssis

tênc

ia m

édic

o-ho

spit

alar

. Int

rodu

zem

-se

enfo

ques

cur

ativ

os e

tera

pêut

icos

nos

hos

pita

is, q

ue a

inda

dep

ende

m d

a ca

rida

de e

do

esf

orço

das

com

unid

ades

rel

igio

sas.

Cri

ação

do

DN

SP

com

cri

ação

de

prog

ram

as n

acio

nais

de

com

bate

s a

doen

ças

infe

cto-

cont

agio

sas.

Co

nte

xto

loca

l

Ace

ntua

do c

resc

imen

to p

opul

acio

nal;

gra

nde

esfo

rço

da e

lite

dir

igen

te p

ara

a m

oder

niza

ção

urba

na, c

om a

tuaç

ões

na á

rea

de s

anea

men

toam

bien

tal e

saú

de p

ubli

ca. O

gov

erno

est

adua

l é o

pri

ncip

al m

ante

nedo

r do

s se

rviç

os h

ospi

tala

res.

For

am in

trod

uzid

os c

uida

dos

tera

pêut

icos

na a

ssis

tênc

ia h

ospi

tala

r, c

om p

rese

nça

perm

anen

te d

e m

édic

os, r

elig

iosa

s tr

eina

das,

labo

rató

rio

de a

náli

ses

clin

icas

e p

ráti

ca d

e ci

rurg

ias.

Inst

itu

içã

o

ho

spit

ala

rH

osp

ita

l d

a C

ari

da

de

Ju

vin

o B

arr

eto

H

osp

ita

l C

olô

nia

o F

ran

cisc

o

An

o b

ase

O

pera

tivo

em

190

9 (r

enom

eado

em

193

5)

Ope

rati

vo e

m 1

929

(des

ativ

ado

nos

anos

199

0)

Ob

serv

açõ

esS

uces

siva

s re

form

as e

am

plia

ções

; em

193

5, é

rei

naug

urad

o co

mo

Hos

pita

l Mig

uel C

outo

. S

ó fo

i des

ativ

ado

com

o ho

spit

al e

m f

inai

s do

séc

ulo

XX

, com

as

mud

ança

s na

pol

ític

a de

saú

de p

ara

enfe

rmos

de

hans

enía

se.

Per

fil

da

ass

istê

nci

a

Hos

pita

l ger

al, c

om in

trod

ução

de

cuid

ados

tera

pêut

icos

e r

eali

zaçã

o da

s pr

imei

ras

ciru

rgia

s; la

bora

tóri

o de

aná

lise

s cl

ínic

as. H

avia

irm

ãs

reli

gios

as tr

eina

das

para

cui

dado

s de

enf

erm

agem

.

Con

fina

men

to d

e pa

cien

tes

com

han

sení

ase.

Não

hav

ia p

esso

al

espe

cial

izad

o.

Rec

urs

os

fin

an

ceir

os

Con

stru

ção:

Gov

erno

est

adua

l C

uste

io: G

over

no e

stad

ual,

fila

ntro

pia,

rec

eita

de

clie

ntes

par

ticu

lare

s.

Con

stru

ção:

Gov

erno

est

adua

l e f

eder

al

Cus

teio

: Gov

erno

fed

eral

, gov

erno

est

adua

l, fi

lant

ropi

a L

oca

liza

ção

A

v. N

ilo

Peç

anha

, bai

rro

de P

etró

poli

s.

Av.

Cap

itão

-Mor

Gou

veia

, bai

rro

das

Qui

ntas

.

Tip

olo

gia

Cas

a re

form

ada

sem

reg

istr

o gr

áfic

o.

Col

ônia

.

Page 210: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Est

ad

o N

ovo:

1930 a

1945 (

part

e I)

Cen

ári

o

na

cio

na

l

rele

va

nte

Ten

tati

va d

e fo

rmul

ação

de

uma

polí

tica

nac

iona

l de

saúd

e un

ific

ada.

A a

ção

prev

enti

va e

ra a

rtic

ulad

a na

cion

alm

ente

pel

o m

inis

téri

o e

exec

utad

a em

ass

ocia

ção

entr

e es

te e

os

serv

iços

est

adua

is. C

riaç

ão d

os I

AP

s de

stin

ados

a f

inan

ciar

ass

istê

ncia

a s

aúde

cur

ativ

a a

cate

gori

as

prof

issi

onai

s or

gani

zada

s. S

urgi

ram

nov

os h

ospi

tais

de

part

icul

ares

e d

o es

tado

com

ênf

ase

na a

ção

cura

tiva

. O

edi

fíci

o ho

spita

lar

pass

ou a

in

corp

orar

a v

erti

cali

zaçã

o e

o zo

neam

ento

do

espa

ço p

or d

ifer

ente

s fu

nçõe

s.

Co

nte

xto

loca

l

Cre

scim

ento

dem

ográ

fico

e d

esen

volv

imen

to u

rban

ísti

co; a

ssun

ção

pelo

Est

ado

de f

unçõ

es d

e co

ntro

le u

rban

ísti

co e

de

prov

isão

de

infr

a-es

trut

uras

e s

ervi

ços

públ

icos

. Im

plan

taçã

o de

nov

os h

ospi

tais

, am

plia

ção

e/ou

ref

orm

a de

exi

sten

tes,

sem

pre

com

nov

as c

arac

terí

stic

as c

omo:

au

men

to d

a es

peci

aliz

ação

dos

ser

viço

s m

édic

os, i

nten

sifi

caçã

o do

car

áter

tera

pêut

ico

da a

ssis

tênc

ia h

ospi

tala

r, n

ovas

tecn

olog

ias

de

diag

nóst

icos

. Pre

senç

a m

ais

inte

nsiv

a de

méd

icos

. Cri

ação

da

Soc

ieda

de d

e M

edic

ina

e C

irur

gia,

ele

men

to d

e di

fusã

o de

nov

os c

onhe

cim

ento

s e

tecn

olog

ias.

Tam

bém

apa

rece

por

pri

mei

ra v

ez o

hos

pita

l con

stru

ído

com

rec

urso

s an

gari

ados

por

um

gru

po d

e m

édic

os.

Inst

itu

içã

o

ho

spit

ala

rH

osp

ital

Mig

uel

Co

uto

H

osp

ital

Infa

nti

l

An

o b

ase

O

pera

tivo

em

193

5 O

pera

tivo

em

193

6 (i

níci

o da

con

stru

ção:

192

3)

Ob

serv

açõ

es

Suc

ede

o H

ospi

tal d

e C

arid

ade

Juvi

no B

arre

to, c

om m

oder

niza

ção

e re

form

as d

e po

rte.

Ren

omea

do p

ara

Hos

pita

l das

Clí

nica

s qu

ando

en

cam

pado

pel

a U

FR

N e

m 1

960;

em

198

4, p

asso

u a

cham

ar-s

e H

ospi

tal U

nive

rsit

ário

Ono

fre

Lop

es.

Ren

omea

do p

ara

Hos

pita

l Inf

anti

l Var

ela

San

tiag

o em

196

7.

Per

fil

da

ass

istê

nci

a

Hos

pita

l ger

al, a

mpl

amen

te r

efor

mad

o pa

ra a

brig

ar d

ifer

ente

s es

peci

alid

ades

com

o: c

líni

cas

méd

ica,

cir

úrgi

ca, g

inec

ológ

ica,

ob

stét

rica

, der

mat

ológ

ica,

rad

ioló

gica

, oft

alm

ológ

ica

e ur

ológ

ica.

C

orpo

méd

ico

pres

ente

na

assi

stên

cia

aos

paci

ente

s, e

m g

eral

in

dige

ntes

, mas

tam

bém

par

ticu

lare

s.

Hos

pita

l esp

ecia

liza

do e

m p

acie

ntes

infa

ntis

, con

tand

o co

m

ambu

lató

rio,

rai

os-x

, lab

orat

ório

de

anál

ises

clí

nica

s, c

entr

o ci

rúrg

ico

e in

tern

ação

.

Rec

urs

os

fin

an

ceir

os

Con

stru

ção:

Gov

erno

do

esta

do

Cus

teio

: Sub

venç

ões

do G

over

no e

stad

ual e

rec

eita

pró

pria

, ger

idos

pe

la S

ocie

dade

de

Ass

istê

ncia

Hos

pita

lar

Con

stru

ção:

Gov

erno

do

Est

ado

e do

açõe

s de

par

ticu

lare

s C

uste

io: S

ubve

nçõe

s do

Gov

erno

est

adua

l e d

oaçõ

es d

e pa

rtic

ular

es,

geri

dos

pela

man

tene

dora

Lo

cali

zaçã

o

Bai

rro

de P

etró

poli

s A

v. D

eodo

ro d

a F

onse

ca, l

imit

e en

tre

os b

airr

os d

e P

etró

poli

s e

Cid

ade

Alt

a.

Tip

olo

gia

Cas

a re

form

ada

sem

reg

istr

o gr

áfic

o.

Vár

ias

apro

pria

ções

das

ver

tent

es d

o ti

po p

avil

hona

r.

Page 211: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Est

ad

o N

ovo:

1930 a

1945 (

part

e II

)

Cen

ári

o

na

cio

na

l

rele

va

nte

Ten

tati

va d

e fo

rmul

ação

de

uma

polí

tica

nac

iona

l de

saúd

e un

ific

ada.

A a

ção

prev

enti

va e

ra a

rtic

ulad

a na

cion

alm

ente

pel

o m

inis

téri

o e

exec

utad

a em

ass

ocia

ção

entr

e es

te e

os

serv

iços

est

adua

is. C

riaç

ão d

os I

AP

s de

stin

ados

a f

inan

ciar

ass

istê

ncia

a s

aúde

cur

ativ

a a

cate

gori

as

prof

issi

onai

s or

gani

zada

s. S

urgi

ram

nov

os h

ospi

tais

de

part

icul

ares

e d

o es

tado

com

ênf

ase

na a

ção

cura

tiva

. O

edi

fíci

o ho

spita

lar

pass

ou a

in

corp

orar

a v

erti

cali

zaçã

o e

o zo

neam

ento

do

espa

ço p

or d

ifer

ente

s fu

nçõe

s.

Co

nte

xto

loca

l

Cre

scim

ento

dem

ográ

fico

e d

esen

volv

imen

to u

rban

ísti

co; a

ssun

ção

pelo

Est

ado

de f

unçõ

es d

e co

ntro

le u

rban

ísti

co e

de

prov

isão

de

infr

a-es

trut

uras

e s

ervi

ços

públ

icos

. Im

plan

taçã

o de

nov

os h

ospi

tais

, am

plia

ção

e/ou

ref

orm

a de

exi

sten

tes,

sem

pre

com

nov

as c

arac

terí

stic

as c

omo:

au

men

to d

a es

peci

aliz

ação

dos

ser

viço

s m

édic

os, i

nten

sifi

caçã

o do

car

áter

tera

pêut

ico

da a

ssis

tênc

ia h

ospi

tala

r, n

ovas

tecn

olog

ias

de

diag

nóst

icos

. Pre

senç

a m

ais

inte

nsiv

a de

méd

icos

. Cri

ação

da

Soc

ieda

de d

e M

edic

ina

e C

irur

gia,

ele

men

to d

e di

fusã

o de

nov

os c

onhe

cim

ento

s e

tecn

olog

ias.

Tam

bém

apa

rece

por

pri

mei

ra v

ez o

hos

pita

l con

stru

ído

com

rec

urso

s an

gari

ados

por

um

gru

po d

e m

édic

os.

Inst

itu

içã

o

ho

spit

ala

rH

osp

ita

l E

va

nd

ro C

ha

ga

s (H

osp

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l) P

oli

clín

ica

do

Ale

crim

An

o b

ase

O

pera

tivo

em

194

3, d

esat

ivad

o em

198

2 O

pera

tivo

em

194

4 (i

níci

o da

s ob

ras:

194

2)

Ob

serv

açõ

esS

ervi

ços

fora

m tr

ansf

erid

os p

ara

o H

ospi

tal G

etúl

io V

arga

s, e

m 1

982.

R

enom

eado

Hos

pita

l Pro

fess

or L

uiz

Soa

res

em 1

967

Per

fil

da

ass

istê

nci

a

Hos

pita

l esp

ecia

liza

do e

m d

oenç

as in

fect

o-co

ntag

iosa

s, a

tend

endo

pr

efer

enci

alm

ente

enf

erm

os p

obre

s.

Hos

pita

l ger

al. A

ssis

tênc

ia a

os p

acie

ntes

era

pre

stad

a po

r m

édic

os e

ir

mãs

de

orde

ns r

elig

iosa

s. H

avia

apa

relh

o de

rai

os-X

, lab

orat

ório

de

anál

ises

clí

nica

s, f

arm

ácia

, pro

nto

soco

rro.

Vol

tava

-se

aos

indi

gent

es,

mas

hav

ia in

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ação

com

enf

erm

aria

s e

apar

tam

ento

s pa

ra p

acie

ntes

pa

rtic

ular

es.

Rec

urs

os

fin

an

ceir

os

Con

stru

ção:

Gov

erno

fed

eral

C

uste

io: G

over

nos

esta

dual

e f

eder

al

Con

stru

ção:

rec

urso

s pr

ópri

os d

e m

édic

os, a

poio

dos

Gov

erno

s es

tadu

al e

fed

eral

C

uste

io: c

ontr

ibui

ção

de a

ssoc

iado

s, r

ecei

tas

de p

arti

cula

res,

su

bven

ções

do

Gov

erno

est

adua

l, IA

Ps

Lo

cali

zaçã

o

Bai

rro

das

Qui

ntas

B

airr

o do

Ale

crim

Tip

olo

gia

Pav

ilho

nar.

Pav

ilho

nar.

Page 212: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Red

emocr

ati

zaçã

o a

o g

olp

e m

ilit

ar:

1945 a

1964 (

part

e I)

Cen

ári

o

na

cio

na

l

rele

va

nte

O p

erío

do é

mar

cado

pel

a aç

ão d

os I

AP

s, q

ue a

dqui

rira

m m

aior

sol

vênc

ia f

inan

ceir

a, e

pel

o su

rgim

ento

da

med

icin

a de

gru

po c

omo

os p

lano

s de

sa

úde

priv

ados

.Ess

es d

ois

segm

ento

s ca

pita

liza

dos

para

o c

onsu

mo,

som

ados

a r

ecur

sos

fede

rais

e e

stad

uais

, pro

pici

aram

sup

orte

fin

ance

iro

para

am

plia

ção

dos

serv

iços

de

saúd

e de

tipo

cur

ativ

o, c

om a

poio

em

tecn

olog

ia d

iagn

ósti

ca e

técn

icas

cir

úrgi

cas.

Apa

rece

ram

os

prim

eiro

s si

nais

de

aber

tura

par

a ac

esso

de

parc

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men

os a

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adas

da

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laçã

o ao

s se

rviç

os te

rapê

utic

os e

m h

ospi

tais

de

gran

de p

orte

e q

uali

dade

do

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iço.

Co

nte

xto

loca

l

For

te c

resc

imen

to p

opul

acio

nal d

a ci

dade

e d

inam

izaç

ão d

a ec

onom

ia u

rban

a. H

á fo

rtal

ecim

ento

s do

s IA

Ps

e su

rgem

ser

viço

s de

med

icin

a de

gr

upo.

Am

plia

ções

de

hosp

itai

s ex

iste

ntes

e c

onst

ruçõ

es d

e no

vos

hosp

itai

s pe

la in

icia

tiva

pri

vada

. Con

soli

daçã

o da

pre

senç

a do

con

heci

men

to

méd

ico-

tera

pêut

ico

nos

hosp

itai

s, in

flue

ncia

ndo

na s

ua o

rgan

izaç

ão.

Inst

itu

içã

o

ho

spit

ala

rH

osp

ital

Dr.

Lu

iz A

ntô

nio

M

ate

rnid

ad

e E

scola

Jan

uári

o C

icco

An

o b

ase

O

pera

tivo

em

194

9 O

pera

tivo

em

195

0 (i

níci

o da

s ob

ras:

193

2)

Ob

serv

açõ

esIn

icia

tiva

da

Lig

a N

orte

-rio

-gra

nden

se d

e C

omba

te a

o C

ânce

r (L

NC

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Adm

inis

trad

a pe

la S

ocie

dade

de

Ass

istê

ncia

Hos

pita

lar,

de

iníc

io. F

oi

inco

rpor

ada

à U

FR

N e

m 1

960.

Per

fil

da

ass

istê

nci

a

A p

rinc

ípio

, um

alb

ergu

e pa

ra s

ervi

r de

abr

igo

para

pac

ient

es d

e câ

ncer

. A

os p

ouco

s, f

oram

sen

do in

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uzid

os o

s se

rviç

os d

e in

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ação

e

trat

amen

to.

Hos

pita

l esp

ecia

liza

do e

m o

bste

tríc

ia e

gin

ecol

ogia

. Hav

ia e

nfer

mar

ias

e ap

arta

men

tos

para

par

ticu

lare

s, e

ser

viço

s de

apo

io c

omo

nutr

ição

, la

vand

eria

, c. c

irúr

gico

, lab

orat

ório

de

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ises

cli

nica

s e

farm

ácia

. C

onta

va c

om m

édic

os e

irm

ãs p

ara

ajud

a no

s cu

idad

os d

e pa

cien

tes.

R

ecu

rso

s

fin

an

ceir

os

Con

stru

ção:

rec

urso

s pr

ópri

os d

a L

NC

C e

don

ativ

os

Cus

teio

: Gov

erno

est

adua

l, re

curs

os d

a L

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C e

doa

ções

C

onst

ruçã

o: d

oaçõ

es d

a so

cied

ade

Cus

teio

: Gov

erno

est

adua

l L

oca

liza

ção

B

airr

o da

s Q

uint

as

Bai

rro

de P

etró

poli

s

Tip

olo

gia

Cas

a re

form

ada

sem

reg

istr

o gr

áfic

o.

Cas

a de

cam

po.

Page 213: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Red

emocr

ati

zaçã

o a

o g

olp

e m

ilit

ar:

1945 a

1964 (

part

e II

)

Cen

ári

o

na

cio

na

l

rele

va

nte

O p

erío

do é

mar

cado

pel

a aç

ão d

os I

AP

s, q

ue a

dqui

rira

m m

aior

sol

vênc

ia f

inan

ceir

a, e

pel

o su

rgim

ento

da

med

icin

a de

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po c

omo

os p

lano

s de

sa

úde

priv

ados

.Ess

es d

ois

segm

ento

s ca

pita

liza

dos

para

o c

onsu

mo,

som

ados

a r

ecur

sos

fede

rais

e e

stad

uais

, pro

pici

aram

sup

orte

fin

ance

iro

para

am

plia

ção

dos

serv

iços

de

saúd

e de

tipo

cur

ativ

o, c

om a

poio

em

tecn

olog

ia d

iagn

ósti

ca e

técn

icas

cir

úrgi

cas.

Apa

rece

ram

os

prim

eiro

s si

nais

de

aber

tura

par

a ac

esso

de

parc

elas

men

os a

bast

adas

da

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laçã

o ao

s se

rviç

os te

rapê

utic

os e

m h

ospi

tais

de

gran

de p

orte

e q

uali

dade

do

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iço.

Co

nte

xto

loca

l

For

te c

resc

imen

to p

opul

acio

nal d

a ci

dade

e d

inam

izaç

ão d

a ec

onom

ia u

rban

a. H

á fo

rtal

ecim

ento

s do

s IA

Ps

e su

rgem

ser

viço

s de

med

icin

a de

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upo.

Am

plia

ções

de

hosp

itai

s ex

iste

ntes

e c

onst

ruçõ

es d

e no

vos

hosp

itai

s pe

la in

icia

tiva

pri

vada

. Con

soli

daçã

o da

pre

senç

a do

con

heci

men

to

méd

ico-

tera

pêut

ico

nos

hosp

itai

s, in

flue

ncia

ndo

na s

ua o

rgan

izaç

ão.

Inst

itu

içã

o

ho

spit

ala

rC

asa

de

Saú

de

São L

uca

s H

osp

ital

João M

ach

ad

o

Hosp

ital

Méd

ico-C

irú

rgic

o

An

o b

ase

O

pera

tivo

em

195

2 (i

níci

o da

s ob

ras:

194

8)

Ope

rati

voem

195

7 (i

níci

o da

s ob

ras:

194

7)

Ope

rati

vo e

m 1

959

Ob

serv

açõ

esS

uced

eu o

ant

igo

Hos

pita

l de

Ali

enad

os, c

om

mud

ança

de

sede

. In

icia

lmen

te u

ma

casa

ref

orm

ada.

Nos

ano

s 19

60, u

m e

difí

cio

de d

ois

pavi

men

tos.

Per

fil

da

ass

istê

nci

a

Hos

pita

l ger

al c

om e

nfer

mar

ias

e ap

arta

men

tos

para

inte

rnaç

ão. C

om c

entr

o ci

rúrg

ico,

la

bora

tóri

o de

aná

lise

s cl

ínic

as, r

aios

-x,

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iços

de

apoi

o co

mo

nutr

ição

e la

vand

eria

.

Hos

pita

l esp

ecia

liza

do e

m d

oenç

a m

enta

l. In

trod

uzid

os c

uida

dos

tera

pêut

icos

. H

avia

méd

icos

e ir

mãs

de

orde

ns r

elig

iosa

s pa

ra p

rest

ar a

ssis

tênc

ia a

os p

acie

ntes

.

Hos

pita

l ger

al, c

om 1

2 le

itos

de

inte

rnaç

ão,

cent

ro c

irúr

gico

, lab

orat

ório

de

anal

ises

cl

inic

as, r

aios

-x, a

mbu

lató

rio,

e s

ervi

ço d

e ap

oio

com

o nu

triç

ão.

Rec

urs

os

fin

an

ceir

os

Con

stru

ção:

rec

urso

s do

s em

pree

nded

ores

e

empr

ésti

mos

C

uste

io: I

AP

s e

paci

ente

s pa

rtic

ular

es

Con

stru

ção

e cu

stei

o: G

over

nos

esta

dual

e

fede

ral

Con

stru

ção:

rec

urso

s do

s em

pree

nded

ores

C

uste

io: I

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s, c

lien

tes

part

icul

ares

, con

vêni

os

Lo

cali

zaçã

o

Bai

rro

do T

irol

B

airr

o de

Mor

ro B

ranc

o B

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o de

Pet

rópo

lis

Tip

olo

gia

Pav

ilho

nar.

Pav

ilho

nar.

Cas

a re

form

ada

sem

reg

istr

o gr

áfic

o.

Page 214: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Dit

ad

ura

mil

itar:

de

1964 a

1985 (

part

e I)

Cen

ári

o

na

cio

na

l

rele

va

nte

Urb

aniz

ação

ace

lera

da e

con

cent

raçã

o de

ren

da a

grav

am a

s co

ndiç

ões

de s

aúde

púb

lica

do

país

. Em

bora

o m

odel

o as

sist

enci

al p

revi

sse

um

sist

ema

regi

onal

izad

o e

hier

arqu

izad

o de

uni

dade

s de

saú

de, e

le f

unci

onav

a pr

ecar

iam

ente

e c

om ê

nfas

e em

ate

ndim

ento

cur

ativ

o. O

s IA

Ps s

ão

unif

icad

os n

o IN

PS

, um

a hi

peri

nsti

tuiç

ão n

acio

nal,

com

um

orç

amen

to g

igan

tesc

o, g

erid

a in

efic

azm

ente

. Hou

ve e

xpan

são

de le

itos

hos

pita

lare

s pr

ivad

os, f

inan

ciad

os e

man

tido

s co

m r

ecur

sos

do I

NP

S. O

Min

isté

rio

da S

aúde

pro

mul

ga n

orm

as e

pad

rões

par

a pr

ojet

o e

cons

truç

ão d

e un

idad

es f

ísic

as d

e sa

úde.

Co

nte

xto

loca

l

Cre

scim

ento

ace

ntua

do d

a po

pula

ção

com

ocu

paçã

o pr

edom

inan

te d

a pe

rife

ria

da c

idad

e. C

onst

ruçã

o do

s pr

imei

ros

hosp

itai

s pú

blic

osco

nceb

idos

com

o pa

rtes

de

um s

iste

ma

de a

tend

imen

to r

egio

nali

zado

e h

iera

rqui

zado

. Con

stru

ção

de h

ospi

tais

pri

vado

s es

peci

aliz

ados

, ten

do n

o IN

PS

com

o m

aior

fin

anci

ador

da

pres

taçã

o de

ser

viço

s.

Inst

itu

içã

o

ho

spit

ala

rH

osp

ital

Get

úli

o V

arg

as

Ho

spit

al

Wa

lfre

do

Gu

rgel

H

osp

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Sa

nta

Hel

ena

An

o b

ase

A

mpl

iado

e r

efor

mad

o em

196

6 O

pera

tivo

em

197

1 O

pera

tivo

em

197

6

Ob

serv

açõ

es

Inic

ialm

ente

Hos

pita

l São

Joã

o de

Deu

s,

pass

ou a

Get

úlio

Var

gas

em 1

943.

Em

196

6,

houv

e m

oder

niza

ção,

am

plia

ção

e re

form

a de

po

rte.

Ren

omea

do G

isel

da T

rigu

eiro

em

199

0.

Ren

omea

do

nos

anos

19

90

para

H

ospi

tal

Ant

ônio

Pru

dent

e

Per

fil

da

ass

istê

nci

a

Hos

pita

l esp

ecia

liza

do e

m tu

berc

ulos

e.

Ass

istê

ncia

pre

stad

a a

tube

rcul

osos

indi

gent

es

por

méd

icos

e ir

mãs

de

orde

ns r

elig

iosa

s.

Hav

ia 1

80 le

itos

, apa

relh

o de

rai

os-X

, la

bora

tóri

o de

aná

lise

s cl

ínic

as, s

ervi

ços

de

apoi

o co

mo

nutr

ição

, lav

ande

ria

e ad

min

istr

ativ

os.

Hos

pita

l ger

al c

om ê

nfas

e no

ate

ndim

ento

de

urg

ênci

a e

emer

gênc

ia, 1

50 le

itos

de

inte

rnaç

ão,

cent

ro c

irúr

gico

, am

bula

tóri

o,

labo

rató

rio

de a

nali

ses

clin

icas

e u

nida

des

de a

poio

com

o nu

triç

ão, l

avan

deri

a e

adm

inis

trat

iva.

Hos

pita

l mat

erno

-inf

anti

l com

60

leit

os,

cent

ro c

irúr

gico

e o

bsté

tric

o, b

erçá

rio,

ra

ios-

X, l

abor

atór

io d

e an

ális

es c

lini

cas

e un

idad

es d

e ap

oio

com

o nu

triç

ão,

lava

nder

ia e

adm

inis

traç

ão.

Rec

urs

os

fin

an

ceir

os

Con

stru

ção

e cu

stei

o: G

over

nos

fede

ral e

es

tadu

alC

onst

ruçã

o e

cust

eio:

Gov

erno

do

Est

ado

e F

eder

alC

onst

ruçã

o: R

ecur

sos

próp

rios

, FA

S e

ba

ncár

ios

Cus

teio

: Par

ticu

lar

e co

nvên

ios,

IN

PS

L

oca

liza

ção

B

airr

o da

s Q

uint

as

Bai

rro

do T

irol

B

airr

o do

Ale

crim

Tip

olo

gia

Pav

ilho

nar

Tor

re s

obre

pód

io.

Tor

re s

obre

pód

io.

Page 215: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Dit

ad

ura

mil

itar:

de

1964 a

1985 (

part

e II

)

Cen

ári

o

na

cio

na

l

rele

va

nte

Urb

aniz

ação

ace

lera

da e

con

cent

raçã

o de

ren

da a

grav

am a

s co

ndiç

ões

de s

aúde

púb

lica

do

país

. Em

bora

o m

odel

o as

sist

enci

al p

revi

sse

um

sist

ema

regi

onal

izad

o e

hier

arqu

izad

o de

uni

dade

s de

saú

de, e

le f

unci

onav

a pr

ecar

iam

ente

e c

om ê

nfas

e em

ate

ndim

ento

cur

ativ

o. O

s IA

Ps s

ão

unif

icad

os n

o IN

PS

, um

a hi

peri

nsti

tuiç

ão n

acio

nal,

com

um

orç

amen

to g

igan

tesc

o, g

erid

a in

efic

azm

ente

. Hou

ve e

xpan

são

de le

itos

hos

pita

lare

s pr

ivad

os, f

inan

ciad

os e

man

tido

s co

m r

ecur

sos

do I

NP

S. O

Min

isté

rio

da S

aúde

pro

mul

ga n

orm

as e

pad

rões

par

a pr

ojet

o e

cons

truç

ão d

e un

idad

es f

ísic

as d

e sa

úde.

Co

nte

xto

loca

l

Cre

scim

ento

ace

ntua

do d

a po

pula

ção

com

ocu

paçã

o pr

edom

inan

te d

a pe

rife

ria

da c

idad

e. C

onst

ruçã

o do

s pr

imei

ros

hosp

itai

s pú

blic

osco

nceb

idos

com

o pa

rtes

de

um s

iste

ma

de a

tend

imen

to r

egio

nali

zado

e h

iera

rqui

zado

. Con

stru

ção

de h

ospi

tais

pri

vado

s es

peci

aliz

ados

, ten

do n

o IN

PS

com

o m

aior

fin

anci

ador

da

pres

taçã

o de

ser

viço

s.

Inst

itu

içã

o

ho

spit

ala

rH

osp

ital

PA

PI

Ma

tern

ida

de

Sa

nta

Isa

bel

H

osp

ital

Sa

nta

Ca

tari

na

An

o b

ase

O

pera

tivo

em

198

2 O

pera

tivo

em 1

984

Ope

rati

vo e

m 1

985

Ob

serv

açõ

es

Tra

nsfo

rmad

o em

ho

spit

al

de

orto

pedi

a e

trau

mat

olog

ia,

reno

mea

do

ITO

RN

no

s an

os

1980

Per

fil

da

ass

istê

nci

a

Hos

pita

l esp

ecia

liza

do e

m p

edia

tria

, com

120

le

itos

, am

bula

tóri

o, c

entr

o ci

rúrg

ico,

urg

ênci

a,

raio

s-x,

labo

rató

rio

de a

náli

ses

clin

icas

e

unid

ades

de

apoi

o co

mo

nutr

ição

e

adm

inis

trat

iva.

Hos

pita

l mat

erni

dade

com

54

leit

os,

ambu

lató

rio,

cen

tro

cirú

rgic

o, r

aios

-x,

labo

rató

rio

de a

náli

ses

clín

icas

e u

nida

des

de

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o co

mo

nutr

ição

, lav

ande

ria

e se

rviç

os

adm

inis

trat

ivos

.

Hos

pita

l Ger

al, c

om 5

0 le

itos

, ênf

ase

em

clín

icas

de

aten

dim

ento

bás

ico

com

o pe

diat

ria,

ci

rurg

ia, o

bste

tríc

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gin

ecol

ogia

. Con

ta c

om

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iços

de

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ncia

, am

bula

tori

al, l

abor

atór

io

de a

náli

ses

clín

icas

, rai

os-x

e u

nida

des

de

apoi

o co

mo

nutr

ição

, lav

ande

ria

e se

rviç

os

adm

inis

trat

ivos

. Hos

pita

l de

refe

rênc

ia lo

cal e

de

méd

ia c

ompl

exid

ade.

Rec

urs

os

fin

an

ceir

os

Con

stru

ção:

rec

urso

s pr

ópri

os, F

AS

e

empr

ésti

mos

ban

cári

os

Cus

teio

: rec

eita

de

clie

ntes

par

ticu

lare

s e

de

conv

ênio

s

Con

stru

ção:

rec

urso

s pr

ópri

os e

ban

cári

os

Cus

teio

: rec

eita

de

clie

ntes

par

ticu

lare

s e

de

conv

ênio

s

Con

stru

ção:

Gov

erno

s es

tadu

al e

fed

eral

C

uste

io: S

US

Lo

cali

zaçã

o

Bai

rro

do T

irol

B

airr

o de

Pet

rópo

lis

Zon

a N

orte

Tip

olo

gia

Tor

re s

obre

pód

ioP

rédi

o re

form

ado

sem

reg

istr

o gr

áfic

o de

sua

im

plan

taçã

o in

icia

l. R

ua h

ospi

tala

r.

Page 216: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

De

1985 a

o p

rese

nte

(p

art

e I)

Cen

ári

o

na

cio

na

l

rele

va

nte

A p

olít

ica

de s

aúde

trat

a a

ques

tão

da s

aúde

e d

o m

eio

ambi

ente

sau

dáve

l com

o de

ver

de E

stad

o e

dire

ito

univ

ersa

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cida

dão.

O f

inan

ciam

ento

é

gara

ntid

o pe

lo G

over

no f

eder

al, m

as a

ges

tão

é re

part

ida

entr

e U

nião

, est

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, mun

icíp

ios

e so

cied

ade.

Ess

es p

rinc

ípio

s sã

o co

ncre

tiza

dos

no

Sis

tem

a N

acio

nal d

e sa

úde

(SU

S),

que

dev

e en

fati

zar

a aç

ão p

reve

ntiv

a. F

orm

alm

ente

o s

iste

ma

esta

uni

vers

aliz

ado

e ho

mog

enei

zado

, mas

sua

co

ncre

tiza

ção

esta

com

prom

etid

a pe

la d

epre

ciaç

ão d

a re

de e

fal

ênci

a fi

scal

do

gove

rno

fede

ral.

Tai

s p

robl

emas

dão

ori

gem

ao

cres

cim

ento

do

negó

cio

priv

ado

de a

tenç

ão à

saú

de, c

om b

ase

em f

inan

ciam

ento

sub

sidi

ados

(vi

a B

ND

ES

) e

sust

enta

do p

elos

con

vêni

os e

pla

nos

de s

aúde

com

plem

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r, e

tam

bém

pel

o S

US

.

Co

nte

xto

loca

l

A v

erti

cali

zaçã

o po

ssib

ilit

ou q

ue a

pop

ulaç

ão s

e co

ncen

tras

se e

m a

lgum

as á

reas

cen

trai

s; o

cre

scim

ento

per

ifér

ico

adqu

ire

cará

ter

met

ropo

lita

no.

Na

ausê

ncia

de

inve

stim

ento

s em

nov

os h

ospi

tais

púb

lico

s, a

brem

-se

poss

ibil

idad

es d

e m

erca

do p

ara

as in

stit

uiçõ

es p

riva

das,

pri

ncip

alm

ente

pe

la a

mpl

iaçã

o do

núm

ero

de s

egur

ados

por

pla

nos

ou s

egur

os p

riva

dos

de s

aúde

. A in

stau

raçã

o da

con

corr

ênci

a pe

la c

lien

tela

de

segu

ros

e pl

anos

deu

ori

gem

a c

rise

s qu

e le

vara

m o

s ho

spit

ais

priv

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a r

eenf

ocar

em o

s se

rviç

os d

e al

ta c

ompl

exid

ade,

bem

rem

uner

ados

pel

o S

US

.

Inst

itu

içã

o

ho

spit

ala

rH

osp

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Pro

ma

ter

Ho

spit

al

Ma

ria

Ali

ce F

ern

an

des

H

osp

ital

Mem

ori

al

An

o b

ase

O

pera

tivo

em

199

6 O

pera

tivo

em

199

8 (i

níci

o da

s ob

ras:

198

8)

Ope

rati

vo e

m 1

990

Ob

serv

açõ

es

Per

fil

da

ass

istê

nci

a

Hos

pita

l mat

erno

-inf

anti

l, co

m 8

0 le

itos

, ce

ntro

cir

úrgi

co, U

TI

neo

Nat

al, r

aios

-x,

labo

rató

rio

de a

náli

ses

clín

icas

, mam

ogra

fia,

ul

tras

sono

graf

ia e

ser

viço

s de

apo

io c

omo

nutr

ição

, lav

ande

ria

e fa

rmác

ia.

Hos

pita

l esp

ecia

liza

do e

m p

edia

tria

, com

70

leit

os, 6

leit

os d

e U

TI,

urg

ênci

a, r

aios

-x,

labo

rató

rio

de a

náli

ses

clín

icas

, ul

tras

sono

graf

ia, s

ervi

ços

de a

poio

com

o nu

triç

ão, l

avan

deri

a, f

arm

ácia

.

Hos

pita

l ger

al c

om ê

nfas

e em

ort

oped

ia. C

om 1

7 le

itos

, ser

viço

s de

urg

ênci

a, r

aios

-x, l

abor

atór

io

de a

nali

ses

clin

icas

, cen

tro

cirú

rgic

o, n

utri

ção,

la

vand

eria

, far

mác

ia e

UT

I.

Rec

urs

os

fin

an

ceir

os

Con

stru

ção:

rec

urso

s pr

ópri

os e

ban

cári

os

Cus

teio

: rec

eita

de

clie

ntes

par

ticu

lare

s e

de

conv

ênio

s

Con

stru

ção:

Gov

erno

s es

tadu

al e

fed

eral

C

uste

io: S

US

C

onst

ruçã

o: r

ecur

sos

próp

rios

, BN

DE

S

Cus

teio

: rec

eita

de

clie

ntes

par

ticu

lare

s e

de

conv

ênio

s

Lo

cali

zaçã

o

Av.

São

Jos

é, b

airr

o de

Lag

oa N

ova

Zon

a N

orte

, Con

junt

o P

arqu

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s C

oque

iros

A

v. B

eira

Can

al, n

o li

mit

e en

tre

os b

airr

os d

e B

arro

Ver

mel

ho, d

a C

idad

e A

lta

e do

Tir

ol

Tip

olo

gia

Sho

ppin

g ce

nter

/hot

el/r

esid

ênci

a

Rua

hos

pita

lar

Tor

re s

obre

pód

io

Page 217: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

De

1985 a

o p

rese

nte

(p

art

e II

)

Cen

ári

o

na

cio

na

l

rele

va

nte

A p

olít

ica

de s

aúde

trat

a a

ques

tão

da s

aúde

e m

eio

ambi

ente

sau

dáve

l com

o de

ver

de E

stad

o e

dire

itos

uni

vers

ais

do c

idad

ão. O

fin

anci

amen

to é

ga

rant

ido

pelo

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anci

amen

to f

eder

al, m

as a

ges

tão

é re

part

ida

entr

e es

tado

e m

unic

ípio

s e

soci

edad

e. E

sses

pri

ncíp

ios

são

conc

reti

zado

s no

S

iste

ma

Nac

iona

l de

saúd

e (S

US

) qu

e de

ve e

nfat

izar

a a

ção

prev

enti

va. F

orm

alm

ente

o s

iste

ma

esta

uni

vers

aliz

ado

e ho

mog

enei

zado

, mas

sua

co

ncre

tiza

ção

esta

com

prom

etid

a pe

la d

epre

ciaç

ão f

ísic

a e

étic

a da

red

e e

fal

ênci

a fi

scal

do

gove

rno

fede

ral.

Tai

s p

robl

emas

dão

ori

gem

ao

cres

cim

ento

do

nego

cio

priv

ado

de a

tenç

ão à

saú

de, c

om b

ase

em f

inan

ciam

ento

sub

sidi

ados

(vi

a B

ND

ES

) e

sust

enta

do p

ela

pote

ncia

lida

de d

e ge

raçã

o de

ren

da d

os c

onvê

nios

e p

lano

s de

saú

de c

ompl

emen

tar.

Co

nte

xto

loca

l

A v

erti

cali

zaçã

o po

ssib

ilit

ou q

ue a

pop

ulaç

ão s

e co

ncen

tras

se e

m a

lgum

as á

reas

cen

trai

s; o

cre

scim

ento

per

ifér

ico

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ropo

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no.

Na

ausê

ncia

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inve

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ento

s em

nov

os h

ospi

tais

púb

lico

s, a

brem

-se

poss

ibil

idad

es d

e m

erca

do p

ara

as in

stit

uiçõ

es p

riva

das,

pri

ncip

alm

ente

pe

la a

mpl

iaçã

o do

núm

ero

de s

egur

ados

por

pla

nos

ou s

egur

os p

riva

dos

de s

aúde

. A in

stau

raçã

o da

con

corr

ênci

a pe

la c

lien

tela

de

segu

ros

e pl

anos

deu

ori

gem

a c

rise

s qu

e le

vara

m o

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a r

eenf

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uner

ados

pel

o S

US

.

Inst

itu

içã

o

ho

spit

ala

rH

osp

ita

l d

o C

ora

ção

H

osp

ita

l F

emin

a

Na

tal

Ho

spit

al

Cen

ter

An

o b

ase

O

pera

tivo

em

200

0 O

pera

tivo

em 2

001

Ope

rati

vo e

m 2

002

Ob

serv

açõ

esR

enom

eado

em

200

4 pa

ra H

ospi

tal U

NIM

ED

Per

fil

da

ass

istê

nci

a

Hos

pita

l ger

al c

om ê

nfas

e em

car

diol

ogia

. C

om 5

8 le

itos

de

inte

rnaç

ão, 1

3 le

itos

de

UT

I,

urgê

ncia

, cen

tro

cirú

rgic

o, 2

5 co

nsul

tóri

os,

raio

s-X

, lab

orat

ório

de

anál

ises

clí

nica

s,

tom

ogra

fia

com

puta

dori

zada

, hem

odin

âmic

a,

ultr

asso

nogr

afia

, ser

viço

s de

apo

io c

omo

lava

nder

ia, n

utri

ção

farm

ácia

, alm

oxar

ifad

o e

adm

inis

trat

ivo.

Hos

pita

l mat

erno

-inf

anti

l, co

m 5

4 le

itos

de

inte

rnaç

ão, c

entr

o ci

rúrg

ico,

UT

I ne

o-na

tal,

urgê

ncia

em

ped

iatr

ia, r

aios

-x, l

abor

atór

io d

e an

ális

es c

líni

cas,

e s

ervi

ços

de a

poio

de

nutr

ição

, lav

ande

ria,

far

mác

ia, a

dmin

istr

ativ

os

e al

mox

arif

ado.

Hos

pita

l ger

al, c

om ê

nfas

e em

car

diol

ogia

e

onco

logi

a, c

om 1

50 le

itos

de

inte

rnaç

ão, c

entr

o ci

rúrg

ico,

UT

I, u

rgên

cia,

hem

odin

âmic

a, r

aios

-x,

labo

rató

rio

de a

náli

ses

clín

icas

, ul

tras

sono

graf

ia, s

ervi

ços

de a

poio

com

o nu

triç

ão, l

avan

deri

a, f

arm

ácia

, alm

oxar

ifad

o e

adm

inis

trat

ivos

.

Rec

urs

os

fin

an

ceir

os

Con

stru

ção:

rec

urso

s pr

ópri

os e

BN

DE

S

Cus

teio

: rec

eita

de

clie

ntes

par

ticu

lare

s, d

e co

nvên

ios

e S

US

Con

stru

ção:

rec

urso

s pr

ópri

os e

BN

DE

S

Cus

teio

: rec

eita

de

clie

ntes

par

ticu

lare

s, d

e co

nvên

ios

e S

US

Con

stru

ção:

rec

urso

s pr

ópri

os e

BN

DE

S

Cus

teio

: rec

eita

de

clie

ntes

par

ticu

lare

s, d

e co

nvên

ios

e S

US

L

oca

liza

ção

B

airr

o de

Lag

oa N

ova

Bai

rro

de L

agoa

Nov

a B

airr

o do

Tir

ol

Tip

olo

gia

Sho

ppin

g ce

nter

/hot

el/r

esid

ênci

a S

hopp

ing

cent

er/h

otel

/res

idên

cia

Tor

re s

obre

pód

io.

Page 218: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal

Anexo III

Page 219: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal
Page 220: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal
Page 221: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal
Page 222: um estudo da evolu§£o tipol³gica da arquitetura hospitalar em Natal
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