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UM ESTUDO DE CASO SOBRE A GOVERNANÇA DA AGLOMERAÇÃO PRODUTIVA DE CERÂMICA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES EDSON TERRA AZEVEDO FILHO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO- UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES RJ JANEIRO 2010

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UM ESTUDO DE CASO SOBRE A GOVERNANÇA DA AGLOMERAÇÃO PRODUTIVA DE CERÂMICA DE

CAMPOS DOS GOYTACAZES

EDSON TERRA AZEVEDO FILHO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO- UENF

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ JANEIRO – 2010

UM ESTUDO DE CASO SOBRE A GOVERNANÇA DA AGLOMERAÇÃO PRODUTIVA DE CERÂMICA DE

CAMPOS DOS GOYTACAZES

EDSON TERRA AZEVEDO FILHO Dissertação apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção.

Orientador: Prof. Alcimar das Chagas Ribeiro

CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ JANEIRO - 2010

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UM ESTUDO DE CASO SOBRE A GOVERNANÇA DA AGLOMERAÇÃO PRODUTIVA DE CERÂMICA DE

CAMPOS DOS GOYTACAZES

EDSON TERRA AZEVEDO FILHO

Dissertação apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção.

Aprovada em 14 de janeiro de 2010.

Comissão Examinadora: ___________________________________________________________________

Prof. Roberto Cezar Rosendo Saraiva da Silva (D. SC., Economia) - UFF

___________________________________________________________________ Prof. Sebastião Décio Coimbra de Souza (D. Sc., Ciências de Engenharia) - UENF

_________________________________________________________________ Prof. Paulo Marcelo de Souza (D.Sc., Economia Aplicada) - UENF

___________________________________________________________________ Prof. Alcimar das Chagas Ribeiro (D. Sc., Ciências de Engenharia) - UENF

Orientador

iii

Em memória de meus Pais.

iv

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer a todos que contribuíram para a realização deste trabalho, mas de forma especial:

A DEUS, que a cada dia me mostra como a vida é maravilhosa.

Ao Professor Alcimar, meu orientador, pela sua atenção e apoio, desde o início com a sugestão do tema até os retoques finais.

Aos Professores do LEPROD, mas principalmente o Professor Manuel Molina, o Professor José Arica e o Professor André Policani, pelas orientações e troca de idéias.

Aos colegas do mestrado, mas principalmente ao Rogério, Kátia, Georgia e Poliana, pela parceria, suporte e atenção.

Ao Sr. Paulo Clébio, pela sua atenção e disponibilidade em todos os contatos e entrevistas.

Ao Sr. Rodolfo, por toda sua paciência e grandiosa participação na realização deste trabalho.

Aos amigos do CVT - Cerâmica pelo apoio, em especial aos Sr. Etevaldo Pessanha e às Srtas. Lívia, Cátia, Cristiane e Elaine.

À todas as instituições que formam a governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes, que de forma muito solícita, participaram da pesquisa.

À Lívia, pela participação intensa e apoio em todos os momentos.

Ao meu Amigo e Irmão, Rodrigo Lira, por me mostrar o mundo acadêmico.

Aos amigos Renata Faria e Cristiano Marins, por me apresentarem à UENF.

Ao meu Irmão Alexandre, por permitir que eu pudesse me dedicar intensamente a este trabalho enquanto ele, competentemente, resolvia importantes questões familiares, e à Minha cunhada Isis, pelos contatos e pelas valiosas informações.

À Bernadetti e Pinheiro, pelo incentivo, inspiração e exemplo de vida.

E quero agradecer principalmente aos ceramistas, que me receberam em suas cerâmicas com toda boa vontade. Este trabalho é dedicado a vocês.

v

"Deve-se ter em mente que não há nada mais difícil de executar, nem de processo mais duvidoso, nem mais perigoso de conduzir do que iniciar uma nova ordem de coisas.” Nicollò Machiavelli

vi

RESUMO

UM ESTUDO DE CASO SOBRE A GOVERNANÇA DA AGLOMERAÇÃO PRODUTIVA DE CERÂMICA DE

CAMPOS DOS GOYTACAZES

Edson Terra Azevedo Filho

A proposta deste trabalho se constitui na análise da estrutura de governança

adotada pela aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes,

localizada na região Norte do Estado do Rio de Janeiro. Esta iniciativa está

fundamentada na percepção de que a organização produtiva através da

aglomeração de empresas se configura como uma importante estratégia de geração

de competitividade, principalmente para as micro e pequenas empresas (MPEs) que

fazem parte do objeto deste estudo. Porém, parte-se da premissa de que a

governança é um mecanismo fundamental para que os arranjos produtivos consigam

se desenvolver e atingir os níveis de sucesso desejados. Desta forma, o presente

estudo possui como objetivo central investigar se a estrutura de governança vigente

efetivamente contribui para o desenvolvimento desta aglomeração produtiva. A

metodologia adotada para atingir o objetivo proposto consistiu em um estudo de

caso exploratório que buscou analisar elementos estruturais, ações implementadas

pela governança e a percepção dos empresários sobre o desempenho da

governança em contribuir para o desenvolvimento da aglomeração. Foram

entrevistados empresários e também representantes de todas as instituições que

formam a estrutura de governança da aglomeração. Por fim, a análise dos

resultados obtidos permitiu concluir que apesar de se tratar de um processo em

constante evolução, a estrutura de governança adotada efetivamente contribui para

o desenvolvimento da aglomeração produtiva em questão. São também

apresentadas a título de contribuição, recomendações a respeito de possíveis

intervenções que venham tornar o desempenho da governança ainda mais decisivo

para o sucesso da aglomeração produtiva em questão.

Palavras-chave: Aglomerações Produtivas, Governança, Competitividade, Setor Cerâmico.

vii

ABSTRACT

A CASE STUDY ON CERAMIC CLUSTER GOVERNANCE IN CAMPOS DOS GOYTACAZES

Edson Terra Azevedo Filho

The purpose of this work presents the analysis of the governance model adopted by

the ceramic cluster in Campos dos Goytacazes, located in the northern region of Rio

de Janeiro. This initiative is based on the perception that the productive organization

through the cluster of firms should be seen as an important strategy for generating

competitiveness, especially for micro and small enterprises (MSEs) that are part of

the object of this study. However, it starts from the premise that governance is a

fundamental mechanism for the production arrangements are able to develop and

attain the desired success. Thus, this study has as main objective to investigate

whether the current governance model effectively contributes to the development of

this cluster. The methodology adopted to achieve this purpose consisted of an

exploratory case study aimed to analyze structural elements, actions taken by the

governance and the perception of entrepreneurs on the performance of governance

contribute to the development of the cluster. Interviews were also businessmen and

representatives of all institutions that make up the governance structure of the

agglomeration. Finally, the analysis of results showed that although it is a constantly

evolving process, the governance model adopted effectively contributes to the

development of the cluster in question. Are also presented as a contribution

recommendations on possible interventions that may make the performance of

governance even more decisive for the success of this cluster.

Keywords: Clusters, Governance, Competitiveness, Ceramic Industry.

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Organizações que normalmente formam uma aglomeração produtiva

24

Figura 2: Fluxograma de Processo Produtivo da Cerâmica Vermelha 33

Figura 3: Localização do município de Campos dos Goytacazes 35

Figura 4: Representação da estrutura de governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes

46

ix

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Representação esquemática do processo para a realização dos objetivos do trabalho

50

Quadro 2: Síntese dos fatores fundamentais para a estruturação e desenvolvimento da governança em aglomerações produtivas

51

Quadro 3: Principais ações implementadas pela governança em aglomerações produtivas de reconhecido sucesso

52

Quadro 4: Principais ações implementadas pela governança em aglomerações produtivas de reconhecido sucesso

55

Quadro 5: Classificação dos indicadores resultantes do estabelecimento de relações entre os níveis de concordância e discordância e as notas atribuídas a cada indicador de desempenho

57

Quadro 6: Exemplo de cálculo do ranking médio 58

Quadro 7: Intervalos para classificação dos resultados obtidos a partir do Ranking Médio (RM)

59

Quadro 8: Classificação dos indicadores de desempenho da governança em contribuir para o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes

90

x

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANFACER Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento

ANICER Associação Nacional da Indústria Cerâmica

CEFET Centro Federal Tecnológico

CVT Centro Vocacional Tecnológico

DRM – RJ Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro

FAETEC Fundação de Apoio à Escola Técnica

FAPERJ Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

FEEMA Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente

FENORTE Fundação Estadual Norte Fluminense

FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísica

IEF Instituto Estadual de Florestas

IFF Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

INEA Instituto Estadual do Ambiente

INVESTE RIO Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro

LABCERV Laboratório de Cerâmica Vermelha

MPE Micro e Pequena Empresa

PMC Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes

PSC Programa Setorial da Qualidade

RM Ranking Médio

RCC Rede Campos Cerâmica

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

xi

SECT Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SERLA Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas

SICCC Sindicato da Indústria Cerâmica para Construção de Campos

SIGEOR Sistema de Informações da Gestão Estratégica Orientada para Resultados

UCAM Universidade Cândido Mendes

UENF Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

xii

SUMÁRIO

CAPÍTULO I

1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 16

1.1 O problema de pesquisa.................................................................... 19

1.2 Premissa.............................................................................................. 20

1.3 Objetivos.............................................................................................. 20

1.3.1 Objetivo geral........................................................................................ 20

1.3.2 Objetivos específicos............................................................................ 20

1.4 Justificativas....................................................................................... 21

1.5 Unidade de pesquisa.......................................................................... 21

1.6 Estrutura do trabalho.......................................................................... 22

CAPÍTULO II

2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................... 23

2.1 A governança em aglomerações produtivas.................................... 23

2.1.1 Fatores fundamentais para a estruturação da governança.................. 26

2.1.2 Principais ações implementadas pela governança para o sucesso das aglomerações produtivas .............................................................. 28

CAPÍTULO III

3 O SETOR CERÂMICO.......................................................................... 32

3.1 Uma visão panorâmica do setor........................................................ 32

3.2 A aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes......................................................................................... 35

3.3 A construção da estrutura de governança adotada pela aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes 36

3.3.1 A trajetória da Rede Campos Cerâmica (RCC).................................... 37

3.3.2 O processo de estruturação da governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes............................. 41

xiii

CAPÍTULO IV

4 METODOLOGIA................................................................................... 48

4.1 Tipologia da pesquisa....................................................................... 48

4.2 Estruturação teórica..................................................................... 49

4.3 Aspectos metodológicos da pesquisa ............................................. 49

4.3.1 Aspectos metodológicos para obtenção do objetivo específico 1......... 50

4.3.2 Aspectos metodológicos para obtenção do objetivo específico 2 ........ 52

4.3.3 Aspectos metodológicos para obtenção do objetivo específico 3 ........ 54

4.4 Método de análise de dados.............................................................. 56

4.5 Pré-Teste.............................................................................................. 59

4.6 Limitações da pesquisa...................................................................... 59

CAPÍTULO V

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS............................ 61

5.1 Análise do processo de estruturação da governança..................... 61

5.2 Análise das ações implementadas pela governança...................... 65

5.3 Análise da percepção dos ceramistas a respeito do nível de contribuição da governança para o desenvolvimento da aglomeração........................................................................................ 70

5.3.1 O papel da governança em evidenciar a importância da cooperação nos relacionamentos entre os empresários que fazem parte da aglomeração produtiva......................................................................... 70

5.3.2 O papel da governança em incentivar o comprometimento das empresas que fazem parte da aglomeração produtiva em relação às ações da governança............................................................................ 72

5.3.3 O papel da governança em incentivar o desenvolvimento comercial das empresas da aglomeração produtiva............................................. 74

5.3.4 O papel da governança em estabelecer parcerias com instituições que oferecem linhas de crédito e de fomento específicas para os ceramistas............................................................................................. 75

5.3.5 A ação da governança em promover ações que incentivam o desenvolvimento tecnológico das empresas da aglomeração.............. 76

5.3.6 O papel da governança em incentivar a melhoria da gestão empresarial e da qualidade nas empresas da aglomeração produtiva. 77

xiv

5.3.7 O papel da governança em incentivar o comprometimento das instituições que a compõem.................................................................. 78

5.3.8 O papel da governança em incentivar práticas de responsabilidade social e sustentabilidade nas empresas da aglomeração produtiva..... 79

5.3.9 O papel da governança em implementar ações seguindo um planejamento estratégico...................................................................... 81

5.3.10 O papel da governança em apoiar a criação de centros para a formação de mão de obra especializada.............................................. 82

5.3.11 O papel da governança em utilizar um agente coordenador da governança para mobilização dos atores que fazem parte da aglomeração produtiva.......................................................................... 83

5.3.12 O papel da governança em incentivar a entrada de novas empresas em seu Programa Cerâmica Vermelha................................................. 84

5.3.13 O papel da governança em controlar os resultados das ações planejadas............................................................................................. 85

5.3.14 O papel da governança em incentivar a cooperação somente entre as empresas que fazem parte da aglomeração produtiva.................... 86

5.3.15 O papel da governança em incentivar a cooperação entre as empresas que fazem parte da aglomeração produtiva e as instituições que compõem a governança.............................................. 86

5.3.16 O papel da governança em oferecer condições para que as empresas obtenham um maior nível de aproveitamento das ações implementadas...................................................................................... 87

5.3.17 O papel da governança em contribuir para o desenvolvimento da aglomeração produtiva.......................................................................... 88

5.4 Análise global dos resultados........................................................... 89

CAPÍTULO VI

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 92

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 97

APÊNDICE.......................................................................................................... 103

xv

16

CAPÍTULO I

1 INTRODUÇÃO

A tendência cada vez mais acentuada de um mundo sem fronteiras, dominado

por “forças de mercado incontroláveis” (LASTRES; CASSIOLATO, 1998, p. 2) em

função do constante avanço da globalização econômica, traz para o nosso cotidiano

muitas mudanças e principalmente para o mundo corporativo, que para alcançar o

almejado sucesso, necessita desenvolver diferenciais competitivos que lhe garantam a

sobrevivência e sustentabilidade.

O sucesso empresarial consiste na criação e manutenção de vantagens

competitivas que propiciem às empresas, exercerem prolongado poder no mercado, de

modo a ocuparem posições privilegiadas nos setores de atuação (FLECK, 2004). Neste

contexto, evidencia-se a importância da busca por melhores níveis de competitividade

por parte das organizações.

Dentre os diversos conceitos disponíveis, a competitividade pode ser entendida

como a capacidade de obter lucratividade e gerar valor a custos iguais ou inferiores aos

de seus concorrentes (PORTER, 1993) e estaria ligada a alguns conjuntos específicos

de fatores como: intensidade e adaptação de tecnologias ao negócio da empresa,

custos e condições de obtenção de recursos, nível de diferenciação, economias de

escala e fatores externos (HARRISON; KENNEDY, 1997).

As mudanças no ambiente competitivo têm trazido novas demandas por eficiência, qualidade e flexibilidade para as organizações e mais recentemente, algumas evidências passaram a indicar um novo requisito essencial para o sucesso: a inovação (MAXIMIANO; SBRAGIA; KRONER, 1997, P.1).

A inovação passa então a participar de forma mais consistente do ambiente

corporativo e pode ser considerada como um dos fatores básicos para o

desenvolvimento do nível de competitividade econômica sustentável (SEBRAE, 2003),

à medida que torna as empresas capazes de se diferenciarem de seus concorrentes.

A capacidade de gerar inovações tem sido identificada consensualmente como

fator chave do sucesso de empresas e nações (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2003) e em

função da emergência deste novo paradigma empresarial, o desenvolvimento das

17

capacidades inovativas se tornou necessário e dependente de consideráveis

investimentos por parte das empresas.

Porém, para a geração da inovação, são necessários maciços investimentos por

parte das empresas, além do desenvolvimento de outras competências. Os gastos

anuais em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das empresas líderes já são maiores

que seus investimentos em capital fixo. Desta forma, a tendência é que as grandes

corporações predominem no mercado, em função de uma maior capacidade de

estruturação e aplicação de recursos em desenvolvimento tecnológico, aumentado

assim, suas chances de estabelecer diferenciais competitivos e buscar seu espaço no

mercado de uma forma mais consistente (LASTRES; CASSIOLATO, 1998).

Porém, como se inserem as micro e pequenas empresas (MPEs) neste contexto

de grandes corporações, alta competição e da necessidade de elevados níveis de

investimentos?

De acordo com a análise efetuada por Pedrazzi e Vieira (2008, p. 1), 68,28% dos

trabalhadores do Brasil estão nas MPEs e 43,63% do faturamento bruto da produção

industrial são provenientes destas empresas, demonstrando assim sua importância no

âmbito econômico-social brasileiro.

As MPEs contudo, de acordo com um amplo estudo realizado pelo IBGE (2003),

apresentam certas características como: baixo volume de capital empregado, altas

taxas de mortalidade, baixo acesso a financiamentos e baixo investimento em inovação

tecnológica, que não lhes conferem condições ideais de se estruturarem para enfrentar

um mercado tão competitivo como citado anteriormente.

Desta forma, mediante ao contexto em que se encontram as MPEs, surgem

então as aglomerações produtivas como uma importante alternativa econômica e social

que vêm apresentando consistentes resultados para o sucesso, principalmente das

empresas que fazem parte destes arranjos, em muitos países e mais recentemente no

Brasil (STAINSACK, 2006).

A organização produtiva em aglomerações tem-se mostrado como importante

alternativa econômica capaz de oferecer condições para que principalmente as MPEs

consigam desenvolver melhores níveis de competitividade.

Atualmente os arranjos produtivos locais se destacam por oferecerem

principalmente às micro e pequenas empresas que o compõem, maiores chances de

18

sucesso, além de serem considerados como importante mecanismo de

desenvolvimento regional, em função da elevação do nível de emprego e renda destas

localidades onde as aglomerações se instalam (LEITE; LOPES; SILVA, 2009, p. 68).

Um fato importante a ressaltar é que nesta nova abordagem econômica, uma

das suas principais características está associada à presença de pequenas empresas,

contemplando assim as organizações que são objeto deste estudo (SANTOS; DINIZ;

BARBOSA, 2004).

Apesar da ampla discussão acadêmica sobre concentração industrial e

competitividade, desde Marshall (CHIOCHETTA; HATAKEYAMA, 2007), passando

pelos estudos de Porter (1993) com a apresentação do conceito de cluster e a

descrição da experiência italiana com seus distritos industriais, a experiência brasileira

na organização de cluster é bastante recente.

Existem inúmeros conceitos a respeito das aglomerações produtivas na literatura

mundial. Um conceito mais simples pode ser concebido como redes de empresas,

situadas em uma mesma área geográfica, que desenvolvem uma forte

interdepencência produtiva através da cooperação e da busca de objetivos coletivos

(GILSING, 2000; NICOLUCI, 2007).

Outro conceito, que é mais amplamente difundido, foi cunhado pela Rede de

Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (Redesist), coordenada pelo

Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que trata as

aglomerações produtivas como sistemas locais de produção e inovação, conceituando-

os como:

Aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, que apresentam vínculos consistentes de articulação, interação, cooperação e aprendizagem. Incluem não apenas empresas – produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de serviços, comercializadoras, clientes, etc. e suas variadas formas de representação e associação – mas também outras instituições públicas e privadas voltadas à formação e treinamento de recursos humanos, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção e financiamento (LASTRES; CASSIOLATO, 2005, p. 3).

O importante é compreender que a cooperação é a chave para a geração da

sinergia para obtenção de vantagens competitivas e que, dificilmente, estas empresas a

obteriam se estivessem atuando isoladamente.

19

Apesar destas aglomerações receberem os mais diversos nomes como: arranjos

produtivos locais (APL), segundo o SEBRAE e outros órgãos governamentais; clusters,

tipologia que ganhou muita força com os estudos de Porter (1993); sistemas produtivos

locais (SPL) de acordo com a REDESIST, entre outros, utilizaremos a denominação de

aglomerações produtivas, de modo a propositadamente não abordar as diferenças de

conceitos existentes a respeito destes arranjos, já que este não é o objetivo central do

trabalho.

Podem ser citados como exemplos de aglomerações de sucesso em todo o

Brasil: o arranjo de calçados do Vale do Rio dos Sinos (RS) e Campina Grande (PB);

móveis em Ubá (MG) e Arapongas (PR); confecções em Itajaí (SC), Nova Friburgo e

Petrópolis (RJ) e Cianorte (PR); mármore e granito (ES), frutas tropicais (NE), software

em Campinas (SP) e Joinvile (SC), entre outros.

Porém, de modo que as aglomerações produtivas se tornem efetivos

mecanismos de geração de competitividade para as empresas que as formam, é

fundamental o estabelecimento de um sistema de governança para mobilizar os atores

e direcionar todos os esforços para a busca de objetivos coletivos de desenvolvimento

e evolução (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2002).

Na região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente na

cidade de Campos dos Goytacazes, localiza-se uma aglomeração produtiva de

cerâmica vermelha que possui um papel socioeconômico muito importante em função

do volume de empregos e receitas gerados para o município.

Porém, esta aglomeração produtiva apresenta características comuns ao setor

cerâmico brasileiro, que é composto principalmente de Micro e Pequenas Empresas

(MPEs), com gestão familiar que utilizam geralmente tecnologias rudimentares,

resultando na baixa qualidade dos produtos e menor nível de competitividade em

relação aos players do mercado mundial. (DUAILIBI FILHO, CARVALHO, 2002).

1.1 O problema de pesquisa

A identificação de deficiências na presente aglomeração tais como: baixos níveis

de qualidade, produtividade e qualificação da mão de obra, além da utilização de técnicas

20

obsoletas de produção são consideradas pelo trabalho como fatores inibidores da

competitividade setorial.

A literatura corrente tem indicado que a utilização da estratégia de governança,

poder contribuir fundamentalmente para o desenvolvimento das aglomerações produtivas

em situações similares.

Neste caso, o problema de pesquisa se configura da seguinte forma: a estrutura

de governança vigente efetivamente contribui para o desenvolvimento da

aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes?

1.2 Premissa

Este trabalho adota como premissa que o estabelecimento de uma estrutura de

governança é fundamental para o desenvolvimento e sucesso das aglomerações

produtivas. Porém, é necessário que estejam presentes nesta estrutura, determinados

elementos como os fatores fundamentais e a implementação de ações, de modo a

possibilitar que a governança efetivamente cumpra seu papel de desenvolver estas

aglomerações produtivas.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Como objetivo geral, busca-se neste trabalho investigar se a estrutura de

governança vigente efetivamente contribui para o desenvolvimento da aglomeração

produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.

Para a realização do objetivo geral, são propostos três objetivos específicos.

1.3.2 Objetivos Específicos

1- Verificar se no processo de estruturação da governança foram observados os fatores

considerados pela literatura como fundamentais para a estruturação e desenvolvimento

das aglomerações produtivas de sucesso.

21

2- Verificar se no conjunto das ações implementadas pela governança na aglomeração

produtiva em questão, estão presentes as principais ações implementadas em

aglomerações produtivas de sucesso.

3- Analisar as percepções dos ceramistas em relação ao nível de contribuição da

governança para o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de

Campos dos Goytacazes.

1.4 Justificativas

Como a governança é um elemento chave para o desenvolvimento das

aglomerações produtivas, desenvolver um trabalho de pesquisa nesta área pode

contribuir para a elaboração de políticas públicas para o desenvolvimento das

aglomerações produtivas e a consequente dinamização da economia local.

A escolha da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes foi

motivada principalmente pelo estudo de Britto (2004), que indicou que esta

aglomeração possui grande importância regional, em função da geração de receitas e

empregos. De acordo com o Sindicato da Indústria Cerâmica para Construção de

Campos (SICCC), estima-se que a atividade gere em torno de 5.000 empregos diretos

e outros 25.000 indiretos.

Outra importante justificativa do trabalho é buscar o resgate da importante visão

de integrar o conhecimento da universidade ao conhecimento empírico da atividade

econômica regional, visando apoiar o processo de construção de estratégias

competitivas e fomento ao desenvolvimento da região Norte Fluminense.

1.5 Unidade de Pesquisa

A unidade de pesquisa escolhida compreende a própria estrutura de governança

da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes, que contempla

quatorze instituições que atuam no apoio ao aglomerado.

22

Porém, dentre as referidas instituições, deve-se destacar uma em especial, que é

uma rede de empresas formada a partir do desenvolvimento de um programa implantado

pela governança, chamado de Programa Cerâmica Vermelha.

Esta rede de empresas é a RCC (Rede Campos Cerâmica), que é formada por

treze empresários, proprietários de empresas ceramistas que fazem parte da

aglomeração.

Desta forma, a escolha desta unidade de pesquisa se justifica, pois acredita-se

que as pesquisas efetuadas com os atores que compõem a estrutura de governança

serão suficientes para atender ao objetivo geral e aos objetivos específicos do trabalho.

1.6 Estrutura do trabalho

O CAPÍTULO I é composto pela Introdução, que se inicia com a contextualização

do assunto e os demais itens que a compõem: 1.1 Problema da Pesquisa; 1.2

Premissa; 1.3 Objetivos; 1.4 Justificativas; 1.5 Unidade de Pesquisa e 1.6 Estrutura do

Trabalho.

O CAPÍTULO II compreende a revisão da literatura, abordado as aglomerações

produtivas e a governança, assim como seus fatores estruturais e principais ações.

Logo após é apresentada no CAPÍTULO III, uma visão geral sobre o setor

cerâmico no Brasil e também sobre como se apresenta a aglomeração produtiva de

cerâmica de Campos dos Goytacazes neste contexto. Será apresentado também neste

capítulo um histórico do processo de construção da governança da aglomeração, como

também a caracterização das instituições que formam a estrutura de governança.

O CAPÍTULO IV traz a metodologia utilizada, nas seguintes subseções: tipologia

da pesquisa, estruturação teórica, aspectos metodológicos, método de análise dos

dados, pré-teste e limitações da metodologia.

O CAPÍTULO V é composto pela apresentação e análise dos resultados das

pesquisas realizadas e as considerações finais compõem o CAPÍTULO VI.

23

CAPÍTULO II

2 REVISÃO DA LITERATURA

O objetivo deste capítulo é apresentar os fundamentos da governança e

evidenciar sua importância nas diversas configurações de aglomerados produtivos.

2.1 A governança em aglomerações produtivas

Apesar da grande representatividade das aglomerações produtivas para a

sociedade, vistos como um grande agente de desenvolvimento econômico, o sucesso

do arranjo normalmente não ocorre por acaso.

É necessário que exista um forte nível de organização e coordenação das

instituições que compõem o aglomerado, para que os objetivos coletivos de

desenvolvimento e crescimento sejam alcançados.

Desta forma, um fator considerado como primordial para o sucesso destes

arranjos empresariais é a governança, tema sobre o qual se materializa o foco do

presente trabalho.

Em função do nível de complexidade das relações entre os atores que compõem

as aglomerações e da multiplicidade de interesses, é de fundamental importância que

exista um forte sistema de coordenação e liderança que direcione todos os esforços

para um objetivo comum que é o crescimento e desenvolvimento destes arranjos

(IACONO; NAGANO, 2007).

É importante ressaltar que conforme o conceito de aglomerações produtivas

estabelece, sua estrutura organizacional é formada por empresas, mas também por

outras organizações que, através da interação e criação de fortes vínculos

institucionais, oferecem suporte e apoio ao desenvolvimento da aglomeração.

Os atores que normalmente compõem as organizações produtivas podem ser

apresentados conforme a Figura 1.

24

FIGURA 1 – Organizações que normalmente formam uma aglomeração produtiva.

Fonte: elaborada pelo autor.

Desta forma, Suzigan,Garcia e Furtado (2007) consideram a governança como

um dos aspectos mais complexos dentre os que caracterizam a dimensão espacial das

atividades produtivas e inovativas.

Neste ponto é que entra em cena a importância da governança para permear o

relacionamento entre os atores que compõem o arranjo, pois como ela trata de

aspectos institucionais do sistema, o papel e o relacionamento entre as organizações e

instituições que formam a aglomeração produtiva é de fundamental importância para

seu sucesso (LIM, 2006).

Para que as aglomerações consigam obter um maior aproveitamento de suas

potencialidades, é crucial a existência de formas de governança locais que estimulem a

manutenção de relações cooperativas entre os atores, criando um ambiente propício ao

desenvolvimento e ao incremento da competitividade do conjunto de empresas

(SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2002).

Mas o que vem a ser esta governança a qual estamos nos referindo? Um

simples conceito de governança pode ser entendido como as bases institucionais pelas

quais regras são estabelecidas e executadas visando um objetivo definido (NADVI,

2008).

A governança em aglomerações produtivas também pode ser definida como:

ações coletivas dos atores que compõem o arranjo, com o objetivo de desenvolvê-lo,

25

através da construção e manutenção de vantagens competitivas sustentáveis

(GILSING, 2000).

Porém existem definições mais abrangentes que são de fundamental importância

para o entendimento do termo governança em aglomerações, como a citada a seguir.

Entende-se a governança em aglomerações produtivas como a capacidade de comando ou coordenação que certos agentes (empresas, instituições ou mesmo um agente coordenador) exercem sobre as inter-relações produtivas, comerciais, tecnológicas e outras, influenciando decisivamente o desenvolvimento do sistema ou aglomeração produtiva local. (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2007, p.1).

De acordo com Gereffi e Mayer (2006, p. 41), a governança pode se apresentar

de várias formas e se distinguem entre governança de “mercado”, “corporativa” e

“industrial”.

A governança de mercado se refere às estruturas institucionais por meio das quais os mercados operam, onde os contratos são cumpridos e os resultados são alcançados. A governança corporativa endereça a responsabilidade da empresa a seus vários stakeholders: acionistas, empregados e a comunidade na qual a empresa está situada, enquanto a governança industrial está relacionada com a organização dos relacionamentos entre os vários atores engajados em uma cadeia global de suprimento.

Apesar de existirem diversas abordagens a respeito da análise da governança

em aglomerações produtivas, este trabalho será direcionado para as formas de

governança locais como fator de desenvolvimento do sistemas produtivos com baixos

níveis de assimetrias de poder, cujos autores principais desta linha de pensamento são:

Gereffi (1994), Markusen (1995), Storper e Harrison (1991) e Humphrey e Schmitz

(2000) (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2007).

Neste sentido, Humphrey e Schmitz (2000) apontam que existem formas de

governança local, pública e privada, que desenvolvem ações visando o sucesso do

arranjo, podendo estas serem coordenadas pelo setor público, por meio de políticas

públicas, ou por agentes privados, como associações de classe. Estes autores

ressaltam ainda que na maioria das aglomerações, o sistema de governança é híbrido,

demonstrando que nestes arranjos, as articulações envolvem tanto os setores públicos

e privados para o seu desenvolvimento.

Em relação aos tipos de governança existentes, a classificação de Markussen

(1995) indica que as empresas locais podem se organizar em forma de redes ou na

forma hierárquica.

26

Na forma de redes, observa-se a existência de aglomerações de MPE’s, sem a

presença de grandes empresas localmente instaladas, que possam desempenhar o

papel de coordenação das atividades econômicas e tecnológicas. Estas formações em

redes são as que tipicamente são estudadas.

Já a organização hierárquica ocorre quando existem grandes empresas,

conhecidas também como âncoras da economia local, com real ou potencial

capacidade de coordenar as relações econômicas e tecnológicas no âmbito local.

Podem ser citados como casos clássicos deste tipo de formação, a Boieng, em

Seattle (EUA), a Toyota, em Toyota City (Japão) e algumas montadoras de automóveis

no Brasil (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2003).

Foram apresentados nesta subseção, conceitos, tipologia, funções e outras

características da governança em aglomerações produtivas. Na próxima seção serão

detalhados fatores considerados como fundamentais para a construção de uma boa

governança em aglomerações produtivas, tendo como base o referencial teórico

levantado neste trabalho.

2.1.1 Fatores fundamentais para a estruturação da governança

As aglomerações produtivas, ao almejarem o sucesso e desenvolvimento, devem

cuidar para que a governança seja norteada por determinados fatores que lhe

propiciem um ambiente de maior desempenho.

De acordo com Azevedo Filho e Ribeiro (2009), existem fundamentos essenciais

que além de permear o relacionamento entre as organizações, devem direcionar as

ações e posicionamentos estratégicos da aglomeração produtiva, de modo a favorecer

o processo de governança. Desta forma, serão apresentados a seguir importantes

fatores fundamentais para a estruturação e desenvolvimento da governança:

Antes de qualquer consideração é preciso deixar claro que a questão da

governança em aglomerações produtivas só se estabelece, quando as organizações

buscam não somente se apropriar das vantagens competitivas locais decorrentes de

economias de escala, mas também de implementar iniciativas coletivas e desenvolver

ações conjuntas, de modo a buscar a eficiência coletiva (SCHMITZ; NADVI, 1999).

27

Desta forma, é imprescindível que exista uma vontade comum dos componentes

do arranjo de iniciar esta empreitada. A estruturação da governança, além de ser uma

tarefa árdua, onde os resultados só aparecem ao longo do tempo, deve-se cuidar da

consistência desta construção, pois em muitos casos quando uma tentativa inicial

fracassa, para retomar o processo é mais difícil, devido principalmente à falta de

credibilidade e resistência a novas iniciativas (GARCIA; MOTTA; AMATO NETO, 2004).

O interesse na formação da governança normalmente surge através de

lideranças locais, que estimulam a formação de associações entre os empresários e a

própria construção da estrutura da governança local. Entende-se como estrutura, as

organizações que farão parte formalmente da governança.

A estruturação da governança ocorre normalmente com a formação de um

conselho que conta com a participação das organizações que compõem o arranjo,

“tendo como objetivos fundamentais unir as organizações de forma articulada e

cooperada, evitando assim ações divergentes e a dispersão de esforços” (STAINSACK,

2006). Desta forma, o conselho assume a função de catalisador “do processo de

desenvolvimento local por meio de ações de fomento à competitividade e de promoção

do conjunto das empresas.” (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2002, p. 10).

Após iniciada esta etapa, um fator de grande importância é que a governança

seja local, isto é, a estrutura física onde as decisões a respeito da governança são

tomadas, deve estar alocada no arranjo, em função de uma maior proximidade e

conhecimento da realidade local (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2007, p. 1).

Deve-se ressaltar que cada aglomeração pode envolver diferentes atores, além

de refletir formas diferenciadas de articulação, níveis de desenvolvimento, governança

e enraizamento, portanto não existe um modelo genérico de governança que possa ser

implantado (CASSIOLATO; LASTRES, 2003, p. 8).

Em se tratando de relacionamento entre organizações, para que a governança

tenha maiores chances de sucesso, de acordo com o conceito de aglomerações

produtivas, é fundamental a presença de diversos tipos de organizações, que sejam

capazes de mobilizar e liderar os componentes do arranjo, oferecendo o suporte

necessário para o desenvolvimento das empresas e consequentemente de toda a

aglomeração (VILLELA et al., 2004). Porém este mesmo autor ressalta que a

28

construção da governança deve ser participativa, sendo elaborada a partir do consenso

das necessidades e possibilidades de todos os atores envolvidos.

Além da exigência de um alto nível de comprometimento, um importante fator

destacado pela literatura sobre aglomerações produtivas de sucesso, é o nível de

integração das instituições e a coesão da governança, pois como esta, em sua

essência visa se articular para a promoção do desenvolvimento do arranjo é necessário

um grande envolvimento e integração das instituições para que os objetivos da

aglomeração produtiva sejam atendidos (CIANFERONI, 1993).

Por fim, considerando que cada aglomeração produtiva possui características

únicas, antes de iniciar o processo de implantação da governança em aglomerações

produtivas, devem ser efetuadas análises com o objetivo de conhecer melhor o arranjo

e levar em consideração uma série de fatores que condicionam a governança local.

Os autores que oferecem um excelente trabalho neste aspecto são Suzigan,

Garcia e Furtado (2007, p. 11), que incluem como condicionantes os seguintes fatores:

� A estrutura de produção, número e porte de empresas;

� A natureza do produto, da atividade econômica e sua base tecnológica;

� A forma de organização da produção e divisão do trabalho;

� A forma de inserção comercial das empresas locais nos mercados;

� A existência ou não de empresas dominantes;

� As instituições locais, seu grau de desenvolvimento e relacionamento com o

setor produtivo;

� O contexto social, cultural e político, suas características quanto a

associativismo, solidariedade, coesão social, confiança e capacidade de gerar

lideranças locais.

Estas avaliações têm como objetivo fornecer um maior número de informações

possíveis a respeito do arranjo, de forma a direcionar as ações de estruturação da

governança.

2.1.2 Principais ações implementadas pela governança para o sucesso das

aglomerações produtivas

29

O papel da governança é fundamental para a construção de vantagens

competitivas, troca de conhecimentos e novas formas de aprendizagem capacitadoras

para lidar com a complexidade da dinâmica de mercado (VILLELA et al., 2004).

Portanto, a partir do momento em que a estrutura da governança é formada e já

se conhece com maior profundidade o contexto no qual a aglomeração está inserida, a

mesma deve cumprir o seu papel de efetivamente conduzir o arranjo ao sucesso,

através da implementação de ações que visam cuidar dos seus interesses coletivos.

Para consolidação e desenvolvimento de uma aglomeração produtiva, é

necessário um plano de ação coletiva, com a identificação dos fatores dificultadores,

gargalos, pontos críticos, entraves e pontos de ineficiência das empresas, vislumbrando

também facilidades e ganhos resultantes destas ações (IPARDES, 2004).

Desta forma serão elencadas abaixo as principais ações que são implantadas

por estruturas de governança de aglomerações produtivas de sucesso:

Segundo Villela et al.(2004, p. 13), uma das principais funções da governança é

a elaboração de um planejamento estratégico que definirá quais ações serão

implementadas para o alcance dos objetivos da aglomeração. E neste ínterim, é

também informar aos componentes da aglomeração todos os passos que estão sendo

planejados, além do andamento dos projetos.

A governança deve ressaltar aos empresários e organizações, que toda ação

deve sempre buscar atender os objetivos comuns estipulados para desenvolvimento do

arranjo, mostrando que qualquer iniciativa individual coloca em risco todo o trabalho de

governança. Este fato pode ocorrer caso uma empresa atue de forma isolada, e assim

não aproveite as vantagens competitivas que são geradas pela formação do arranjo,

além de enfraquecer a imagem corporativa da aglomeração produtiva (DEZI;

SCHIAVONE, 2004).

De acordo com a abordagem proposta por Suzigan, Garcia e Furtado (2002), as

ações da governança devem apoiar:

� A criação e participação de novas empresas com o apoio de instituições

locais;

� O desenvolvimento tecnológico e a intensificação de atividades de pesquisa e

desenvolvimento (P&D) nas empresas;

30

� A construção e desenvolvimento de centros coletivos, tecnológicos e de

formação de recursos humanos;

� O desenvolvimento comercial das empresas;

� A implantação de programas de gestão empresarial e da qualidade;

É importante também para o desenvolvimento da governança, que sejam

instituídas reuniões periódicas com o objetivo de reunir todos os atores que compõem a

aglomeração produtiva com objetivos diversos, como o de incentivar a cooperação e o

fortalecimento do relacionamento, além de ser um momento ideal para disseminar

informações entre os componentes (VILLELA et al., 2004).

Visser (2004) ressalta que a as ações da governança devem estar focadas em:

inovação (produtos, processos, organização, serviços); treinamento e formação;

incentivar a busca de mercados externos (propagação geográfica e penetração de

mercados finais); marketing e promoção (em sintonia com o mercado) e infra-estrutura.

Outra importante função da governança é buscar a adequação do arranjo a

certas normas e regras calcadas em princípios da sustentabilidade e responsabilidade

fiscal e social, de modo que o mesmo atue sob a égide de padrões internacionais de

trabalho, facilitando assim o acesso aos principais mercados regionais e globais. Pode-

se destacar o caso de uma grande empresa de material esportivo que teve sérios

problemas ao contratar os serviços de uma aglomeração produtiva do Paquistão que

não seguia normas básicas de responsabilidade socioambiental (NADVI, 2008).

Em busca do sucesso empresarial, normalmente as aglomerações produtivas

tendem a exigir forte consistência em arquitetura política, quer dizer, uma governança

inteligente e eficaz que deve estar relacionada, segundo o SEBRAE (2004):

� Ao comprometimento e qualidade das lideranças empresariais, políticas,

sindicais;

� Ao nível de responsabilidade sócio-ambiental exigido;

� À presença da solidariedade, confiança mútua e atenção nos relacionamentos

entre os atores;

� Ao incentivo do desenvolvimento técnico, tecnológico e econômico.

A ação que também, de acordo com a literatura, traz bons resultados para a

governança em aglomerações produtivas, é a contratação de um agente coordenador

31

para auxiliar na estruturação da governança, que deve representar o arranjo e conduzir

seus interesses para o desenvolvimento, através da coordenação de ações e iniciativas

coletivas locais.

Este agente além de possuir um grande potencial profissional, deve se

enquadrar em um perfil voltado à cooperação e livre trâmite entre os componentes da

aglomeração. Deve-se ressaltar também que a escolha deste profissional deve seguir

as regras do conselho da governança (SUZIGAN, GARCIA, FURTADO, 2007).

E finalmente, após o planejamento das ações propostas pela governança, é

necessário que sejam controlados os resultados destas ações (PAGANI; RESENDE;

MARÇAL, 2009), pois apesar da difícil tarefa de tentar medir o desempenho da

governança, é de suma importância que a execução das ações planejadas seja

acompanhada e corrigida, mantendo o rumo do arranjo produtivo em busca dos

objetivos (LIM, 2006).

Foram citados diversas abordagens de renomados autores nacionais e

internacionais a respeito das principais ações que a governança deve implementar para

o sucesso das aglomerações. Apesar de existir uma infinidade de ações, todas são

voltadas à indução ou reforço dos processos de aprendizado coletivo, à criação de

condições favoráveis à instituição de networkings tecnológicos e outras formas de

cooperação entre empresas e instituições locais, além de todo um direcionamento

comercial e tecnológico, assim como o controle dos resultados obtidos pelas ações

executadas.

32

CAPÍTULO III

3 O SETOR CERÂMICO

O objetivo deste capítulo é apresentar uma visão panorâmica do setor cerâmico

nacional e regional, assim como um histórico do processo de estruturação da

governança adotada pela aglomeração produtiva em questão.

3.1 Uma visão panorâmica do setor

A cerâmica é o material artificial mais antigo produzido pelo homem. Do grego

"kéramos”, "terra queimada" ou “argila queimada” é um material de grande resistência,

sendo frequentemente encontrado em escavações arqueológicas (ANFACER, 2007).

De acordo com estudos arqueológicos recentes, têm-se conhecimento da

existência de utensílios cerâmicos a partir do período pré-neolítico (25000 a.C.) e de

materiais de construção, como tijolos, telhas e blocos, por volta de 5000 a 6000 a.C.

Foram encontradas peças cerâmicas elaboradas com argila que datam de 4000 a.C.,

elaboradas com formas bem definidas, porém não utilizando o processo tradicional de

queima das mesmas (SEBRAE, 2008).

No Brasil, antes mesmo do seu descobrimento, atividades cerâmicas já eram

desenvolvidas pelos índios, porém de forma bastante rudimentar. Com a chegada dos

portugueses, foram introduzidas mudanças com o objetivo do ganho de produtividade

como a melhoria das estruturas das olarias e uma melhor seleção da mão de obra

utilizada para a atividade, em relação principalmente à habilidade manual (BARBOSA,

2008).

De acordo com dados da ANFACER (2007), os cinco maiores players globais da

indústria cerâmica no mundo são a China, a Espanha, o Brasil aparece como o terceiro

maior produtor, seguido por Itália e Índia.

O segmento cerâmico no Brasil possui grande importância para a economia,

representando 1% do PIB e fazendo do Brasil o quarto maior exportador de produtos

cerâmicos do mundo (BUSTAMANTE; BRESSIANI, 2000). O setor cerâmico é

composto principalmente de micro e pequenas Empresas (MPEs), com gestão familiar

33

que utilizam geralmente tecnologias rudimentares (DUAILIBI FILHO; CARVALHO,

2002).

A produção cerâmica é a atividade de fabricar artefatos a partir da argila, que

através de suas propriedades de plasticidade, ao ser misturada com determinados

níveis de água, permitem a modelagem dos produtos cerâmicos. Após a modelagem,

os produtos são submetidos ao processo de secagem e posteriormente à queima, que

atribuem aos mesmos, características de resistência e rigidez (BARBOSA, 2008).

As referidas propriedades permitem que os produtos cerâmicos sejam utilizados

na construção civil e na fabricação de utensílios que remontam milhares de anos como

vasilhames, pratos, copos, entre outros. A cerâmica também é utilizada nas artes

plásticas e até mesmo em indústrias de tecnologia de ponta como a eletroeletrônica

(BARBOSA, 2008).

De acordo com Juliato (1995), o processo produtivo cerâmico é composto por

várias etapas e pode ser visualizado através da Figura 2.

Figura 2: Fluxograma de Processo Produtivo da Cerâmica Vermelha. Fonte: Juliato (1995).

34

Inicialmente a argila é retirada da jazida e armazenada para o sazonamento,

também chamado de “descanso” da argila. Após este período, a matéria-prima é levada

para o misturador que além de misturada, é moída e triturada, visando maior

padronização. Após esta fase, é direcionada para o laminador que processará a argila

de modo que esta se apresente em forma de lâminas.

A partir deste último processo, a argila é encaminhada normalmente através de

esteiras rolantes para a extrusora, tradicionalmente chamada de maromba, que possui

a função de efetuar a padronização final da matéria-prima para a fabricação dos

produtos cerâmicos. A partir desta fase os produtos passam por um processo de

secagem e de queima para finalmente poderem ser comercializados.

De acordo com dados da Associação Nacional da Indústria Cerâmica (ANICER),

no Brasil o setor cerâmico promove a geração de 400 mil empregos diretos e outros

1,25 milhões de indiretos com um faturamento anual de R$ 6 bilhões. Estima-se que

existam cerca de 11.000 unidades produtivas, com média de 25 a 30 empregados, que

movimentam cerca de 60.000.000 toneladas de matérias primas ao ano, com reflexos

diretos nos sistemas logísticos e no meio ambiente (BUSTAMANTE; BRESSIANI,

2000).

O segmento de cerâmica estrutural compreende ampla variedade de produtos

utilizados principalmente na construção civil, tais como telhas, blocos cerâmicos (tijolos

e lajotas) e tubos cerâmicos (manilhas), agregados leves, além de cerâmicas diversas

para fins ornamentais, culinários e outros.

O desenvolvimento do setor cerâmico brasileiro está diretamente relacionado

com o desempenho da construção civil, que é altamente influenciado pela economia

nacional, principalmente no que tange ao nível de disponibilidade de renda e em termos

de políticas de financiamento habitacional e de incentivos de desoneração tributária

(ROSSETO, 1998).

Entre os principais fatores que podem caracterizar o setor cerâmico brasileiro de

forma geral, podem ser citados (DUAILIBI FILHO, CARVALHO, 2002):

� Baixa qualidade dos produtos cerâmicos em relação principalmente à variação

dimensional e a baixa resistência mecânica;

� Grande impacto ambiental causado pela atividade cerâmica não-sustentável;

35

� A lenha é ainda o principal insumo energético para os fornos cerâmicos, que

além de apresentar baixa eficiência energética, incentiva o desmatamento em função

da extração ilegal de madeira;

� A baixa qualificação da mão-de-obra; e

� Baixa produtividade em relação ao padrão europeu em função de uma grande

defasagem tecnológica e gerencial.

3.2 A aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes

O setor cerâmico possui como o principal expoente no Estado do Rio de Janeiro,

a região Norte Fluminense, mais precisamente a cidade de Campos dos Goytacazes.

A unidade de pesquisa deste trabalho está localizada na região de Campos dos

Goytacazes, cidade que faz parte da região Norte do Estado do Rio de Janeiro,

conforme apresentada na Figura 3.

A cidade de Campos, como normalmente é chamada, está a aproximadamente

280 km da capital do estado, possui uma área de 4.037 km² e uma população de

426.154 habitantes (IBGE, 2009).

Figura 3: Localização do município de Campos dos Goytacazes. Fonte: Ramos, Alves e Alexandre (2006).

Esta região apresenta determinados requisitos que confirmam a existência de

uma aglomeração produtiva, pois além de suas empresas estarem geograficamente

36

próximas, suas operações são voltadas para a mesma atividade produtiva, a indústria

cerâmica.

O principal fator que possibilitou a formação desta aglomeração produtiva é a

abundância de matéria-prima para os produtos cerâmicos, que no caso específico da

região de Campos dos Goytacazes, em função de características geológicas, apresenta

sedimentos argilosos com características muito propícias à produção da cerâmica

vermelha (RAMOS; ALVES; ALEXANDRE, 2006).

A economia de Campos possui como principal destaque a exploração de

petróleo na Bacia de Campos, que é responsável por 80% da produção nacional de

petróleo e 40% de gás natural (VASCONCELLOS et al., 2008). Porém, merecem

destaque também os setores sucro-alcooleiro e o cerâmico.

De acordo com o Sindicato dos Ceramistas (SICCC), a aglomeração é formada

por cerca de 120 cerâmicas, das quais apenas 76 estão sindicalizadas.

A atividade constitui uma importante fonte de receita tributária para o município,

sendo responsável pela geração de um número expressivo de postos de trabalho,

estimados em torno de 5.000 empregos diretos e outros 25.000 indiretos (BRITTO,

2004).

Com a falência de três das cincos usinas de açúcar da região da “Baixada

Campista”, a indústria cerâmica passou a ser uma das mais importantes empregadoras

da região (RAMOS; ALVES; ALEXANDRE, 2006).

A produção da indústria cerâmica da região de Campos dos Goytacazes é

baseada em lajotas para lajes, tijolos e telhas, gerando cerca de R$ 168 milhões por

ano, com uma produção estimada de 75 milhões de peças por mês, sendo considerado

o segundo maior produtor de produtos cerâmicos do Brasil.

É estimado que sejam entregues por dia, cerca de 400 caminhões carregados de

produtos cerâmicos, que são vendidos para grandes mercados consumidores, como a

região do Grande Rio de Janeiro, Sul Fluminense, Zona da Mata Mineira e o Estado do

Espírito Santo (RAMOS; ALVES; ALEXANDRE, 2006).

.

3.3 A construção da estrutura de governança adotada pela aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes

37

Para entender de uma maneira mais abrangente o processo de estruturação da

governança da aglomeração produtiva em questão, será apresentado inicialmente o

histórico de criação da RCC, pois através das entrevistas efetuadas, pôde-se perceber

que o processo de estruturação da governança iniciou-se a partir da criação da RCC.

A RCC é uma rede de empresas formadas por empresas ceramistas da

aglomeração produtiva de Campos dos Goytacazes, que foi formada a partir de uma

metodologia de Redes Associativas do SEBRAE, que criou o Programa Cerâmica

Vermelha e que teve como fruto a formação da RCC.

Apesar de à primeira vista o fato da estruturação da governança e a criação da

RCC parecerem totalmente distintos, na verdade, como será mostrado a seguir,

possuem uma relação muito estreita.

3.3.1 A trajetória da RCC

Para se entender o histórico de formação e desenvolvimento da RCC, foi

necessária a busca de informações com pessoas que estavam envolvidas diretamente

com este processo desde as suas primeiras iniciativas. Desta forma, foi constatado que

as primeiras ações para a criação da RCC surgiram através de uma iniciativa do

Sindicato da Indústria Cerâmica para a Construção de Campos (SICCC), que reuniu um

grupo de ceramistas mais mobilizados com a questão a buscarem no SEBRAE um

apoio para a construção do que eles pensavam ser no início uma cooperativa para os

ceramistas, segundo o Representante do SEBRAE.

Apesar dos ceramistas não saberem exatamente o que queriam, eles buscavam

empreender alguma ação visando gerar um processo de mudança que oferecesse à

aglomeração produtiva um maior nível de sustentabilidade de suas operações e

literalmente garantisse ao setor uma “sobrevida”, de acordo com a opinião do

Presidente do SICCC, evidenciando a falta de perspectivas para o setor cerâmico de

Campos dos Goytacazes em relação à concorrência com outros centros produtores.

Logo nas primeiras visitas ao Sindicato, foi identificado pelo SEBRAE que em

função de seus interesses, os ceramistas necessitavam de um suporte para se

organizarem e se tornarem mais representativos e principalmente mais competitivos.

38

O SEBRAE dentro de sua proposta de apoio ao desenvolvimento de pequenos

negócios encontrou uma interessante alternativa para os ceramistas, que era a

implantação no pólo cerâmico da região, do Programa Redes Associativas, que teve

como fruto a criação da RCC.

Este programa, que é amplamente implantado pelo SEBRAE em todo Brasil, é

um programa que visa promover a competitividade e a sustentabilidade de micro e

pequenas empresas, estimulando processos locais de desenvolvimento, de acordo com

o Representante do SEBRAE, que é também o gestor deste projeto.

A partir do momento que o SEBRAE ofereceu esta possibilidade para os

ceramistas, foi proposto que fosse formado um grupo de indústrias cerâmicas, que se

comprometessem a seguir uma determinada metodologia, que faz parte da estrutura do

projeto, que passou a ser chamado de Programa Cerâmica Vermelha.

Assim que foi aceita a proposta de criação do grupo de cerâmicas alinhadas à

metodologia do SEBRAE, iniciou-se um trabalho de visitação de todas as cerâmicas

sindicalizadas da aglomeração produtiva de cerâmica da região de Campos dos

Goytacazes. Foram visitadas somente as cerâmicas sindicalizadas, pois esta era uma

das premissas do projeto, que era necessário que empresa estivesse ligada

diretamente ao Sindicato dos Ceramistas.

Nas visitas realizadas nas cerâmicas, representantes do SEBRAE

acompanhados de diretores e muitas vezes do presidente do SICCC, apresentavam o

projeto e buscavam a adesão dos empresários ao movimento, que veio a resultar na

formação da RCC. É importante ressaltar que apesar de haverem 76 cerâmicas

sindicalizadas, de acordo com o Presidente do SICCC, todas estas empresas foram

visitadas por equipes do SEBRAE e apenas 35 se interessaram formalmente em

participar do projeto. Ao final dos trabalhos o projeto contemplava a adesão de apenas

18 cerâmicas e atualmente 13 cerâmicas fazem parte da RCC.

A RCC vem se estruturando ao longo do tempo, mas teve como marco inicial o

dia 30 de abril de 2004 e contou com a participação de 35 cerâmicas que se

interessaram pelo projeto.

Desta forma, foi assinado um termo de adesão, no qual as cerâmicas se

comprometeriam a seguir as regras do projeto. Inicialmente, de acordo com a

metodologia, os ceramistas precisariam se reunir com uma equipe do SEBRAE para

39

receber uma série de treinamentos de capacitação, de acordo com o gestor do projeto,

para o estabelecimento de alianças estratégicas visando o fortalecimento do setor por

meio da busca de soluções conjuntas de problemas comuns e da identificação das

oportunidades para o grupo.

Foram planejadas seis reuniões de capacitação e de acordo com as regras

estabelecidas, se fosse ultrapassado o limite de faltas de algum dos participantes, a sua

empresa seria automaticamente excluída do projeto.

Nestes encontros realizados, além de receberem um treinamento específico a

respeito de cooperação e formação de redes de empresas, foi elaborado o

planejamento estratégico da RCC que representava os objetivos e anseios do grupo.

Entre as primeiras ações desenvolvidas nos trabalhos realizados, uma merece

um destaque especial por ter sido uma idéia surgida no grupo, que foi justamente a

criação por um dos ceramistas da marca RCC para o grupo, trazendo assim uma maior

formalização para o projeto.

Como fruto do planejamento estratégico elaborado, diversos objetivos foram

traçados e para que fossem alcançados, seriam necessárias a implantação de diversas

ações. Podem ser citados como exemplos de objetivos gerais a serem alcançados:

expansão comercial, desenvolvimento da marca RCC, campanhas para licenciamento

ambiental, ações de reflorestamento, implantação de programas de qualidade e

segurança, implantação de sistemas logísticos de pallets, a criação de uma central de

massa cerâmica, entre outros objetivos.

Após a criação do planejamento estratégico para a RCC, os ceramistas iniciaram

a implantação das ações para o alcance dos objetivos estabelecidos. E desta forma, os

ceramistas passaram a necessitar de um suporte que nem sempre o Sindicato dos

Ceramistas e o SEBRAE poderiam oferecer.

A partir deste momento é que se inicia o processo de estruturação da

governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes, que

consistiu em buscar articulações com diversas instituições que pudessem oferecer um

apoio inicialmente às cerâmicas que faziam parte da RCC e posteriormente a todas as

cerâmicas da aglomeração produtiva, mas sempre tendo a RCC como uma referência

do setor.

40

Este processo ocorreu de forma gradativa, em função das necessidades

identificadas pelos ceramistas em alcançar seus objetivos. Desta forma se justifica a

relação entre a criação da RCC e o início da estruturação da governança, citada no

início desta subseção.

Apesar da RCC ser composta de apenas 13 cerâmicas, na visão do gestor do

projeto, ter iniciado o trabalho com um grupo menor não é tão indesejável, pois desta

forma a metodologia pôde ser aplicada e absorvida de uma melhor forma e os

resultados apareceram mais rápido, contagiando e incentivando outros ceramistas que

não faziam parte do projeto a participarem por perceberem o desenvolvimento do

grupo.

A RCC, que possui cinco anos de existência, atualmente é uma rede

consolidada, que atua comercialmente oferecendo produtos cerâmicos de qualidade em

toda a região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro e também em mercados

mais distantes como a região do Grande Rio de Janeiro e também a região da Grande

Vitória no Estado do Espírito Santo.

A expansão comercial da RCC e principalmente o nível de cooperativismo

alcançado pelos ceramistas desta rede, servem de exemplo tanto para outras

cerâmicas do arranjo ceramista de Campos dos Goytacazes, quanto para outros

arranjos produtivos de todo Brasil que visitam a RCC para conhecer melhor o seu

processo de criação e desenvolvimento.

Inicialmente as reuniões da RCC eram realizadas no SICCC e depois de algum

tempo, evidenciando o desenvolvimento e independência do grupo, foi construída uma

sede para a RCC, que passou a realizar suas reuniões semanalmente, às terças-feiras.

A RCC é também uma das instituições que fazem parte da estrutura de

governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes e

desempenha um papel muito importante, pois além de estar mais próxima das outras

instituições e participar do processo decisório da governança, serve também como um

referencial para a governança em relação ao desempenho e ao aproveitamento das

ações implementadas, já que a RCC é formada por ceramistas como todos os outros

que formam o arranjo produtivo.

Um fato considerado como de extrema importância conseguido pela RCC, de

acordo com o gestor da governança, foi a construção de um ambiente propício ao

41

desenvolvimento da cooperação e da confiança entre as indústrias cerâmicas que

fazem parte desta rede, pois somente depois que este estágio é atingido é que os

objetivos começam a ser alcançados de uma forma mais natural.

Para finalizar este histórico sobre a RCC, o comentário de um ceramista da rede,

mostra de uma forma resumida a percepção dele e de outros ceramistas a respeito da

participação na “rede”.

O fato de estarmos participando da rede nos deixou mais antenados ao mercado. Não estamos em tão boas condições como gostaríamos, mas certamente se não estivéssemos na RCC, provavelmente estaríamos em piores condições do que as que estamos desfrutando atualmente (CERAMISTA FUNDADOR DA RCC).

3.3.2 O processo de estruturação da governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes

De acordo com o que foi descrito na subseção anterior, o processo de

estruturação da governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos

Goytacazes, iniciou-se a partir do momento em que os ceramistas da rede passaram a

implementar as ações estipuladas pelo planejamento estratégico elaborado na

formação da RCC.

E desta forma, os ceramistas passaram a necessitar de um suporte que nem

sempre o Sindicato dos Ceramistas e o SEBRAE, que foram as instituições que

iniciaram o processo de governança, poderiam oferecer. Assim inicia-se o processo de

configuração do que é atualmente a governança deste arranjo produtivo.

Pode-se dizer que a governança da aglomeração produtiva em questão, foi

sendo construída gradativamente, pois à medida que as cerâmicas do grupo formado

pela RCC necessitavam de algum apoio para conquistar seus objetivos, tanto o

SEBRAE quanto o Sindicato dos Ceramistas, se articulavam para buscar parceiros para

atuarem em conjunto através da governança.

Seguindo o processo descrito acima, mediante as necessidades surgidas pelas

cerâmicas da aglomeração, outras instituições eram aglutinadas formando o que é a

estrutura de governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos

Goytacazes. Atualmente a governança do arranjo produtivo é formada por 14

instituições, que serão apresentadas a seguir:

42

FAETEC – Fundação de Apoio à Escola Técnica

A FAETEC é uma fundação vinculada à Secretaria de Estado de Ciência e

Tecnologia (SECT), que possui como objetivo: oferecer educação profissional gratuita à

população do Estado do Rio de Janeiro, apoiando-se na educação técnica como pilar.

A FAETEC, através de um processo de modernização de suas atividades,

lançou o CVT (Centro Vocacional Tecnológico), que segue a mesma linha de ensino

baseada no ensino técnico, porém se adequando melhor às potencialidades regionais.

De acordo com o Coordenador do CVT de Cerâmica, instituição que é

responsável pelo Curso Técnico de Cerâmica Vermelha, o papel do CVT é colaborar

com o desenvolvimento do setor com da formação de mão de obra especializada

através do oferecimento de cursos, palestras e seminários relacionados ao setor

cerâmico da região.

SICCC – Sindicato da Indústria Cerâmica para Construção de Campos

O SICCC é a principal instituição que congrega os ceramistas da região de

Campos dos Goytacazes, de acordo com o seu Presidente, possui a função de

organizar e coordenar esforços, promovendo em conjunto com as instituições que

compõem a governança desta aglomeração produtiva, a cooperação e a mobilização

das indústrias cerâmicas da região, visando a construção de um maior nível de

sustentabilidade para o setor através do oferecimento de informações e de

oportunidades de mudança.

ANICER – Associação Nacional da Indústria Cerâmica

A ANICER é uma associação patronal que representa cerca de 5.500 empresas

que compõem o setor cerâmico brasileiro. Apesar de estar sediada na cidade do Rio de

Janeiro, sempre que é acionada procura comparecer aos eventos e reuniões. A

ANICER busca gerar sinergia entre as indústrias cerâmicas e os setores públicos e

privados, além de parceiros, pesquisadores, técnicos, fornecedores, consumidores e

outras instituições (ANICER, 2009).

GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

43

O Governo do Estado do Rio de Janeiro, com suas secretarias dentro de sua

função governamental, desempenha um importante papel no desenvolvimento da

aglomeração produtiva cerâmica de Campos dos Goytacazes.

Uma questão que deve ser ressaltada, é que de acordo com as entrevistas

realizadas, as ações do Governo do Estado estão sempre em harmonia com as

intenções da governança, tanto em relação à integração, participando de reuniões e

eventos, quanto no comprometimento e implementação de ações.

DRM – RJ – Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro

O DRM-RJ possui como objetivo institucional, fomentar e viabilizar o

desenvolvimento do setor mineral e da exploração petrolífera no Estado do Rio de

Janeiro, garantindo o uso sustentado dos recursos minerais. E desta forma, é uma das

instituições mais representativas e atuantes em conjunto com a governança, já que o

DRM-RJ é o órgão que oferece um grande apoio aos ceramistas em relação à proteção

e ao licenciamento ambiental (DRM-RJ, 2009).

INEA - Instituto Estadual do Ambiente

O INEA é um instituto criado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro que

possui a missão de proteger, conservar e recuperar o meio ambiente para promover o

desenvolvimento sustentável (INEA, 2009).

O INEA foi formado pela união de três tradicionais órgãos de fiscalização

ambiental, são eles: a FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente,

o IEF – Instituto Estadual de Florestas e a SERLA – Superintendência Estadual de Rios

e Lagoas e mais do que a fusão destas três instituições, o INEA foi criado com o

objetivo de ser um órgão ambiental de referência, (INEA, 2009).

FENORTE – Fundação Estadual Norte Fluminense

A FENORTE é uma fundação Estadual, com sede em Campos dos Goytacazes,

mas que atende além dos municípios da região Norte Fluminense, também os

municípios da Região Noroeste e da Baixada Litorânea, com o objetivo de estimular o

desenvolvimento humano e social por meio da realização de diversos projetos e

atividades.

44

São também desenvolvidos programas voltados ao setor de pesquisa e

tecnologia, gerenciados mais especificamente pela TECNORTE, que é uma entidade

parceira da FENORTE, responsável por este trabalho (FENORTE, 2009).

Desta forma, entre outros programas, o que está mais relacionado com o tema

deste trabalho é a criação e manutenção do LABCERV – Laboratório de Cerâmica

Vermelha.

PMC – PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES

A PMC, além das suas atribuições municipais, desenvolve ações de apoio ao

setor cerâmico de Campos dos Goytacazes em conjunto com a Governança da

aglomeração produtiva de cerâmica.

De acordo com o Secretário de Desenvolvimento, o papel da PMC é buscar o

desenvolvimento do setor cerâmico, através do incentivo à adoção de novas

tecnologias e práticas inovadoras de modo a agregar mais valor aos produtos

cerâmicos fabricados e também buscando oferecer aos ceramistas uma visão mais

empresarial do setor incentivando a cooperação como alternativa competitiva.

FIRJAN – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

A FIRJAN é um importante parceiro das empresas do Estado do Rio de Janeiro

na busca pelo desenvolvimento. O chamado Sistema FIRJAN é composto por cinco

instituições: a FIRJAN, o CIRJ - Centro Industrial do Rio de Janeiro, o SESI - Serviço

Social da Indústria, o SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e IEL -

Instituto Euvaldo Lodi. Desta forma, o objetivo deste sistema é oferecer soluções e

serviços capazes de multiplicar a produtividade das empresas e melhorar a qualidade

de vida dos funcionários (FIRJAN, 2009).

IFF – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

O IFF – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense é um

dos centros educacionais criados pelo atual política de expansão do ensino do Governo

Federal, a partir dos antigos e tradicionais CEFET’s – Centros Federais Tecnológicos,

escolas agrotécnicas e algumas escolas técnicas vinculadas às universidades. O IFF

está sediado na cidade de Campos dos Goytacazes e já foi criado, direcionando seus

45

objetivos educacionais ao mercado de trabalho e com a responsabilidade de contribuir

para o desenvolvimento econômico das regiões onde está instalado (IFF, 2009).

UCAM – Universidade Cândido Mendes

A UCAM, renomada instituição de ensino, considerada a mais antiga instituição

particular de ensino superior do país, de forma a manter sua tradição na participação do

desenvolvimento regional das localidades onde está situada, participa do processo de

governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes,

desenvolvendo projetos em prol do desenvolvimento do arranjo em questão (UCAM,

2009).

UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

A UENF, sediada na cidade de Campos dos Goytacazes, cumprindo com o seu

papel de gerar desenvolvimento à sociedade, atua de forma consistente e bastante

produtiva no desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos

Goytacazes, de acordo com os pesquisadores, instituições e ceramistas entrevistados.

São desenvolvidos diversos projetos que vão desde a conscientização e

preservação ambiental, melhoria de qualidade dos produtos e produtividade das

cerâmicas, até projetos sociais que utilizam a argila da região para o artesanato.

RCC – Rede Campos Cerâmica

A RCC é uma rede de empresas formadas por indústrias cerâmicas da

aglomeração produtiva de Campos dos Goytacazes, que possui como objetivo o

crescimento e desenvolvimento através da cooperação (RCC, 2009).

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

O SEBRAE é uma entidade privada e de interesse público que possui o objetivo

de apoiar a abertura e expansão de pequenos negócios e transformar a vida de milhões

de pessoas por meio do empreendedorismo. Sua missão está focada no

desenvolvimento do Brasil através da geração de emprego e renda através da

disseminação do empreendedorismo (SEBRAE, 2009).

46

Desta forma, pode-se entender melhor a configuração da estrutura de

governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes,

através da visualização da Figura 4.

Figura 4: Representação da estrutura de governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Pode ser citado como um exemplo de articulação do SEBRAE e do Sindicato dos

Ceramistas para a estruturação da governança, o convite ao DRM-RJ para participar do

projeto, em função deste ser o órgão ligado ao Governo, que cuida do licenciamento no

Estado.

Como um dos objetivos traçados no planejamento estratégico era fazer uma

campanha entre os ceramistas da aglomeração, para que todos buscassem sua

regularização em relação à documentação de licenciamento ambiental, foi feito um

contato com o Governo do Estado do Rio de Janeiro, para informar os objetivos do

projeto e também para convidar a instituição a participar da governança.

SETOR PRODUTIVO CERÂMICO

SEBRAE

FAETEC

GOVERNO

ESTADUAL RJ

PMC

FIRJAN RCC

DRM-RJ UENF

SICCC ANICER

INEA UCAM

FENORTE IFF

GOVERNANÇA

GOVERNANÇA

47

Desta forma, o Governo do Estado aceitou prontamente o convite e se

posicionou através do DRM-RJ, para trabalhar em conjunto com os ceramistas,

buscando entender melhor o contexto regional e auxiliar no processo de licenciamento.

Apesar de apenas 13 cerâmicas de um universo de 76 empresas sindicalizadas

aderirem à metodologia proposta pelo SEBRAE e formarem RCC, é importante deixar

claro que o foco de ação da governança, são todas as empresas que compõem o setor

produtivo de cerâmica de Campos dos Goytacazes.

A RCC, que faz parte da unidade de pesquisa proposta, além de fazer parte da

estrutura de governança como descrito anteriormente, é também um dos públicos-alvo

da mesma. E de acordo com o gestor da governança, o trabalho desenvolvido em

conjunto com a RCC deve ser um modelo para as ações da governança e servir de

exemplo para as outras cerâmicas da aglomeração produtiva.

48

CAPÍTULO IV

4 METODOLOGIA

Neste capítulo serão apresentados os procedimentos metodológicos utilizados

na pesquisa para a obtenção dos objetivos propostos pelo trabalho.

4.1 Tipologia da pesquisa

Do ponto de vista da sua natureza, este estudo é considerado uma pesquisa

aplicada, pois “objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução

de problemas específicos” (SILVA e MENEZES, 2001, p. 20).

Na pesquisa aplicada, “[...] o pesquisador é estimulado pela necessidade de

contribuir para fins práticos quase que imediatos, buscando soluções para problemas

concretos.” (CERVO e BERVIAN, 2002, p. 65).

Em relação à forma de abordagem do problema, esta será uma pesquisa

qualitativa, pois segundo Silva e Menezes (2001, p. 20):

A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.

Do ponto de vista dos seus objetivos, ela é exploratória, pois além de buscar

oferecer maior familiaridade com o tema, envolve também o levantamento bibliográfico,

entrevistas com pessoas envolvidas com o fenômeno pesquisado e análise de

exemplos que estimulam a compreensão de todo o contexto (GIL, 2002).

E desta forma, do ponto de vista dos procedimentos técnicos será utilizado o

estudo de caso, pois através desta estratégia de pesquisa, é possível investigar um

fenômeno contemporâneo em seu contexto real e especialmente quando os limites

entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos (Yin, 2005).

Em relação à escolha do estudo de caso como delineamento desta pesquisa,

podem ser atribuídas as seguintes vantagens (GIL, 2009):

49

� Não separa o fenômeno estudado do seu contexto, possibilitando maior

compreensão dos eventos pesquisados;

� Considera o interrelacionamento entre todas as partes que compõem o caso

estudado;

� Por serem flexíveis os procedimentos adotados na coleta de dados são

escolhidos de forma mais livre pelos pesquisadores;

� Por não terem a exigência de serem conclusivos, podem estimular o

pesquisador a desenvolver novas pesquisas sobre o caso estudado; e

� Como investigam um fenômeno relacionado a um determinado período de

tempo, favorecem o entendimento do dinamismo do evento estudado.

4.2 Estruturação teórica

A estrutura teórica utilizada neste trabalho se insere no contexto das

aglomerações produtivas como geradoras de competitividade para as micro e pequenas

empresas (MPEs), abordando como tema central a governança como mecanismo

fundamental para o desenvolvimento destes arranjos produtivos.

Definida esta primeira etapa, procedeu-se ao levantamento de material

bibliográfico sobre o papel da governança em aglomerações produtivas, bem como

informações a respeito da evolução do setor cerâmico nacional e da região Norte do

Estado do Rio de Janeiro.

4.3 Aspectos metodológicos da pesquisa

A pesquisa bibliográfica foi utilizada como procedimento inicial com a finalidade

de levantar os conceitos mais atuais sobre o tema em estudo. Em seguida, foram

elaborados questionários e realizadas entrevistas com os atores envolvidos com o

processo de governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos

Goytacazes.

De acordo com o objetivo geral do trabalho, pretendeu-se investigar se a

estrutura de governança vigente efetivamente contribui para o desenvolvimento da

aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.

50

E para a obtenção do objetivo geral foi proposto o atendimento de três objetivos

específicos, conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1: Representação esquemática do processo de obtenção dos objetivos do trabalho. Fonte: Elaborado pelo autor.

Para responder aos objetivos específicos, foram coletados dados através de

pesquisas com os atores que fazem parte da aglomeração produtiva de cerâmica de

Campos dos Goytacazes.

Estes atores se caracterizam como as indústrias cerâmicas que fazem parte da

aglomeração e também as instituições que compõem a estrutura de governança.

Porém, foram utilizados diferentes tipos de métodos de levantamento (entrevista

pessoal e eletrônica) e utilizadas análises qualitativas (objetivo 1 e objetivo 2) e

quantitativas (objetivo 3) para o atendimento de cada objetivo específico.

Desta forma, os aspectos metodológicos envolvidos para a obtenção de cada

objetivo específico serão tratados de forma independente e apresentados a seguir.

4.3.1 Aspectos metodológicos para obtenção do objetivo específico 1

De modo a atender ao primeiro objetivo específico do trabalho, buscou-se

analisar o processo de estruturação da governança da aglomeração produtiva em

questão, visando identificar se foram utilizados nesta construção, fatores considerados

OBJETIVO GERAL

Objetivo Específico 1 Processo de Estruturação da

Governança

Objetivo Específico 2 Ações Implementadas pela

Governança

Objetivo Específico 3 Percepção dos Ceramistas

51

pela literatura como fundamentais para a estruturação e desenvolvimento das

aglomerações produtivas de sucesso (AZEVEDO FILHO; RIBEIRO, 2009).

Serão apresentados no Quadro 2, os fatores analisados, assim como seus

autores:

Fatores fundamentais para a estruturação e desenvolvimento da

governança em aglomerações produtivas

Autores

Interesse dos empresários envolvidos na construção da governança Schmitz e Nadvi (1999)

Comprometimento dos atores que compõem a aglomeração produtiva

Garcia, Motta e Amato Neto (2004)

A presença cotidiana da governança na aglomeração produtiva

Suzigan, Garcia e Furtado (2007)

A existência de uma diversidade de instituições que consigam oferecer o suporte necessário às empresas que fazem parte do arranjo

Villela et al.(2004)

Integração das instituições que formam a governança

Cianferoni (1993)

Análise de fatores condicionantes para a construção da governança

Suzigan, Garcia e Furtado (2007)

Quadro 2: Síntese dos fatores fundamentais para a estruturação e desenvolvimento da governança em aglomerações produtivas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para a obtenção dos dados a respeito do processo de estruturação da

governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes, foi

realizada uma entrevista com o gestor da governança da aglomeração, e aplicado um

questionário não estruturado (MALHOTRA, 2006), baseado nos fatores fundamentais

citados anteriormente.

Foi oferecida ao entrevistado total liberdade para além de responder as

questões, contribuir também com comentários e quaisquer observações pertinentes à

pesquisa. É importante ressaltar que todas estas informações complementares foram

condensadas na análise efetuada sobre o processo de estruturação da governança.

O gestor da governança, que é um representante do SEBRAE, foi selecionado

para a pesquisa por ter sido considerado a pessoa mais indicada a ser entrevistada,

52

pois participou de todo o processo de estruturação da governança desta aglomeração

produtiva.

4.3.2 Aspectos metodológicos para obtenção do objetivo específico 2

Buscando levantar dados para responder ao segundo objetivo específico do

trabalho, foi efetuado um estudo sobre as ações implementadas pela governança para

o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.

A literatura corrente propõe que o processo de governança consegue

efetivamente se estabelecer através da implantação de ações que incentivam a

cooperação e visam o desenvolvimento coletivo da aglomeração produtiva.

Desta forma, buscou-se inicialmente identificar as ações implementadas pela

governança em prol do desenvolvimento da aglomeração produtiva em questão.

A partir do levantamento das ações executadas pela governança do arranjo

produtivo, foi efetuada uma análise comparativa entre as referidas ações

implementadas e as principais ações implementadas pela governança em

aglomerações produtivas de reconhecido sucesso pela literatura (AZEVEDO FILHO;

RIBEIRO, 2009), que são apresentadas no Quadro 3, assim como seus autores.

Principais ações implementadas pela governança em aglomerações produtivas

de reconhecido sucesso Autores

Evidenciar a importância da cooperação entre os empresários

Suzigan, Garcia e Furtado (2002)

Elaborar o planejamento estratégico Villela et al.(2004)

Apoiar a criação de centros para a formação de mão de obra especializada

Suzigan, Garcia e Furtado (2002)

Incentivar o desenvolvimento tecnológico Suzigan, Garcia e Furtado (2002)

Estimular a melhoria da gestão empresarial e da qualidade das empresas

Suzigan, Garcia e Furtado (2002)

Buscar estabelecer parcerias com instituições financeiras e de fomento

Suzigan, Garcia e Furtado (2007)

Fomentar práticas de responsabilidade socioambiental

Nadvi (2008)

53

Fomentar o desenvolvimento comercial Suzigan, Garcia e Furtado (2002)

Utilizar um agente coordenador para mobilização dos atores

Suzigan, Garcia e Furtado (2007)

Incentivar a entrada de novas empresas nos programas desenvolvidos pela governança

Suzigan, Garcia e Furtado (2002)

Controlar os resultados das ações planejadas LIM (2006)

Quadro 3: Principais ações implementadas pela governança em aglomerações produtivas de reconhecido sucesso.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Como se tratavam de ações implementadas pela governança, para a obtenção

dos dados a respeito destas ações, foram realizadas entrevistas com representantes

das quatorze instituições que formam a governança, utilizando um questionário não

estruturado, onde era perguntado aos representantes, quais eram as ações

implementadas por suas instituições em prol do desenvolvimento da aglomeração

produtiva de cerâmica Campos dos Goytacazes.

É importante ressaltar que através das entrevistas buscou-se identificar quais

eram as ações implementadas por cada instituição, mas somente em conjunto com a

governança, não importando as ações normalmente desenvolvidas pelas instituições

em seu cotidiano.

Desta forma, buscou-se identificar a real contribuição de cada instituição para o

desenvolvimento da aglomeração produtiva em questão, porém em consonância com a

governança do arranjo.

Em relação aos métodos de levantamento das informações, foi utilizada a

entrevista pessoal para os representantes das instituições mais acessíveis por estarem

sediadas em Campos dos Goytacazes, que foi realizada em sua respectiva sede na

região.

E para as instituições que não estão localizadas geograficamente na região

Norte Fluminense, foi enviado por email um questionário não estruturado (MALHOTRA,

2006).

Foram realizadas entrevistas pessoais com os representantes das seguintes

instituições: FAETEC, SICCC, Prefeitura Municipal de Campos, Governo do Estado do

Rio de Janeiro, FENORTE, IFF, UENF, UCAM, FIRJAN, RCC e SEBRAE.

54

E foram realizadas entrevistas eletrônicas com representantes das instituições

citadas a seguir: ANICER, DRM-RJ e INEA.

Deve-se ressaltar que tanto na entrevista pessoal quanto na eletrônica, os

entrevistados foram informados que poderiam, além de citar as ações implementadas

pelas instituições que representam, também poderiam tecer comentários e ressaltar

qualquer aspecto que pudesse contribuir com a pesquisa.

Todas as informações complementares foram incorporadas na apresentação e

análise dos resultados.

4.3.3 Aspectos metodológicos para obtenção do objetivo específico 3

Visando atender ao terceiro objetivo específico do trabalho, buscou-se analisar

as percepções dos entrevistados, de modo a identificar se na opinião dos mais

interessados no processo, a governança está efetivamente cumprindo o seu papel de

gerar desenvolvimento para a aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos

Goytacazes.

De modo a obter a opinião dos ceramistas, foram definidos dezessete

indicadores, que representam tanto fatores estruturais quanto ações da governança,

que foram pesquisados para responder ao primeiro e ao segundo objetivo específico do

trabalho, respectivamente.

Pode-se citar como exemplo de definição do indicador, o fato de que uma

importante ação implementada pela governança em aglomerações produtivas de

sucesso, é evidenciar para os atores envolvidos a importância da cooperação para o

sucesso do arranjo.

Assim, foi definido como um indicador da atuação da governança na

aglomeração produtiva, o processo de evidenciar a cooperação.

Desta forma, buscou-se identificar qual o nível de concordância ou discordância

dos ceramistas a respeito do desempenho da governança em relação aos indicadores

estipulados.

Para a obtenção dos resultados relacionados com a percepção dos ceramistas,

foram realizadas entrevistas pessoais com todos os treze ceramistas que fazem parte

da RCC, que faz parte da unidade de pesquisa do trabalho.

55

Nas entrevistas foram utilizados questionários baseados em uma escala tipo

Likert (MALHOTRA, 2006), nos quais os ceramistas emitiam sua opinião na forma do

grau de concordância em relação aos questionamentos relacionados ao desempenho

da governança, representados pelos indicadores propostos, que são apresentados no

Quadro 4.

Fatores relacionados ao nível de desempenho da governança da aglomeração produtiva

1. Evidenciação da importância da cooperação nos relacionamentos entre os empresários

10. Apoio à criação de centros para a formação de mão de obra especializada

2.Implementação de ações seguindo um planejamento

11. Utilização de um agente coordenador da governança

3. O comprometimento dos atores com as ações propostas pela governança

12. Incentivo à entrada de novas empresas em seu Programa Redes Associativas

4. Incentivo ao desenvolvimento comercial das empresas

13. Controle dos resultados das ações planejadas

5. Promoção de ações que incentivem o desenvolvimento tecnológico

14. O nível de cooperação nos relacionamentos entre as empresas

6. Incentivo à melhoria da gestão empresarial e da qualidade

15. O nível de interação entre as empresas as instituições que compõem a governança

7. Incentivo à responsabilidade socioambiental

16. O nível de aproveitamento por parte das empresas das ações da governança

8. Formar parceiras com instituições que oferecem linhas de crédito e de fomento específicas para os ceramistas

17. O nível de contribuição da governança para o desenvolvimento da aglomeração produtiva

9. O comprometimento das instituições que formam a governança

Quadro 4: Principais ações implementadas pela governança em aglomerações produtivas de reconhecido sucesso.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Nos questionários utilizados, além de responder em relação ao grau de

concordância com cada questionamento, variando dos níveis de concordância total à

discordância total, passando pela neutralidade e pela concordância e discordância

parcial, o entrevistado também possuía a liberdade de comentar e justificar sua opinião,

atribuindo à pesquisa uma grande riqueza de fatos, valorizando ainda mais o aspecto

qualitativo da mesma.

56

É importante ressaltar que todos os comentários feitos pelos treze ceramistas

entrevistados em relação às afirmações propostas, foram condensados e apresentados

na análise dos resultados.

A pesquisa foi iniciada com a abordagem sobre o entendimento do ceramista a

respeito do termo governança, visando obter uma resposta dissertativa, oferecendo a

oportunidade para que o entrevistado discursasse livremente sobre o tema.

O objetivo de fazer esta pergunta no começo da entrevista foi de buscar

identificar o nível de conhecimento do ceramista em relação ao papel da governança

nas aglomerações produtivas e também intervir, quando necessário, explicando melhor

o conceito, de forma que fosse estabelecido um parâmetro conceitual para que a

entrevista pudesse efetivamente colher informações precisas sobre a ação da

governança nesta aglomeração produtiva.

A partir do momento que era percebido que o entrevistado estabelecia um

referencial a respeito do conceito de governança, era iniciada a entrevista, buscando

identificar a percepção dos ceramistas sobre as questões relacionadas ao desempenho

da governança em seu papel de gerar desenvolvimento para a aglomeração produtiva

de cerâmica de Campos dos Goytacazes.

4.4 Método de análise de dados

Como foram empregados diferentes procedimentos para a coleta dos dados

utilizados para responder os objetivos específicos propostos, serão adotados também

métodos de análise de dados específicos para os dados coletados.

O método de análise dos dados obtidos para responder o objetivo específico 1 e

o objetivo específico 2 possui características de análise mais qualitativas.

Já o método de análise utilizado para responder o objetivo específico 3

corresponde a uma análise mais quantitativa.

Através da metodologia utilizada para responder o objetivo específico 1, buscou-

se analisar o processo de estruturação da governança em questão, visando identificar

se foram utilizados nesta construção, fatores considerados pela literatura como

fundamentais para a estruturação e desenvolvimento das aglomerações produtivas.

57

Desta forma, o método de análise de dados utilizado para responder o objetivo

específico 1, consistiu em relatar se foram ou não foram identificados no processo de

estruturação da governança os fatores fundamentais, assim como apresentar possíveis

justificativas e considerações.

Para responder o objetivo específico 2, foram analisadas as ações

implementadas pela governança, buscando identificar se no conjunto destas ações,

estavam presentes as principais ações implementadas pela governança em

aglomerações produtivas de sucesso.

Portanto, o método de análise de dados utilizado para responder o objetivo

específico 2, consistiu em relatar se foram ou não foram identificados nas ações

implementadas pela governança, as consideradas principais ações, assim como

apresentar possíveis justificativas e considerações.

Já o método de análise de dados utilizado para responder o objetivo específico 3,

apresenta um maior nível de complexidade, em função de possuir características mais

quantitativas.

Como descrito anteriormente nos aspectos metodológicos, foi elaborado para a

pesquisa um questionário baseados em uma escala tipo Likert de cinco pontos,

variando de discordo plenamente, que receberia a nota um (1) até concordo

plenamente que receberia nota cinco (5), de modo a representar o grau de

concordância ou discordância dos entrevistados.

Níveis de Concordância e Discordância

Nota Classificação do indicador em relação ao desempenho

da governança

Concordo Totalmente 5 Muito Alto

Concordo Parcialmente 4 Alto

Não Concordo nem Discordo 3 Médio

Discordo Parcialmente 2 Baixo

Discordo Totalmente 1 Muito Baixo

Quadro 5: Classificação dos indicadores resultantes do estabelecimento de relações entre os níveis de concordância e discordância e as notas atribuídas a cada indicador

de desempenho. Fonte: Elaborado pelo autor.

58

Foram estabelecidas relações entre os níveis de concordância e discordância e

as notas atribuídas, buscando criar uma classificação dos indicadores de modo a

verificarmos quais eram os níveis de desempenho de cada indicador avaliado conforme

pode ser mostrado no Quadro 5.

Para a análise dos resultados foi utilizado o ranking médio, que pode ser obtido

através de uma média ponderada das respostas de todos os entrevistados a respeito

de cada indicador.

Desta forma, pode-se caracterizar a obtenção do ranking médio de cada

indicador através do exemplo mostrado no Quadro 6 a seguir:

Questionamentos

Frequência de Respostas

Discordo totalmente

(1)

Discordo parcialmente

(2)

Não concordo

nem discordo

(3)

Concordo parcialmente

(4)

Concordo totalmente

(5)

A governança incentiva a

responsabilidade socioambiental?

2 3 1

Média Ponderada= (3 X 2) + (4 X 3) + (5 X 1)= 23 / (2 + 3 +1) = 23 / 6

Rankig médio = 3,8

Quadro 6: Exemplo de cálculo do ranking médio. Fonte: Elaborado pelo autor.

Foram estabelecidos intervalos para a classificação dos resultados obtidos

através dos ranking médios de cada indicador de desempenho avaliado de acordo com

o Quadro 7.

Desta forma, os resultados de cada indicador (ranking médio) podem ser

classificados em relação ao nível de desempenho da governança.

Ao final deve-se calcular a média ponderada geral, somando-se todos os ranking

médios obtidos de cada indicador e dividindo-se pelo número de respostas obtidas na

pesquisa.

59

A partir da obtenção do ranking médio geral, pode-se verificar em que

classificação pode ser enquadrado o nível de desempenho global da governança em

contribuir para o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos

dos Goytacazes.

Intervalo

Considerado

Classificação do Nível de

Desempenho da

Governança

1,0 ≤ p

x ≤ 1,5 Muito Baixo

1,5 < p

x ≤ 2,5 Baixo

2,5 < p

x ≤ 3,5 Médio

3,5 < p

x ≤ 4,5 Alto

4,5 < p

x ≤ 5,0 Muito Alto

Quadro 7: Intervalos para classificação dos resultados obtidos a partir do Ranking Médio (RM).

Fonte: elaborado pelo autor.

4.5 Pré-Teste

Para validar o instrumento de coleta de dados, foi realizado o pré-teste somente

com o questionário utilizado na pesquisa de percepção dos ceramistas, já que se

tratava de um questionário mais complexo e estruturado.

Foram realizadas duas entrevistas e o tempo utilizado pelos entrevistados para

responder ao questionário foi em média de vinte minutos.

Durante o preenchimento dos questionários, surgiram algumas dúvidas em

relação a algumas perguntas.

Portanto, a partir deste teste, foram feitas as modificações no questionário para

torná-lo adequado para a realização da pesquisa.

4.6 Limitações da metodologia

60

A utilização de pesquisas exploratórias através do estudo de caso traz limitações

para a generalização dos resultados obtidos, em função das características próprias

que cada unidade de pesquisa possui. São de difícil replicação em função da

impossibilidade de padronizar os instrumentos de coleta de dados e possui um

processo de análise complexo por se tratar como neste caso de uma pesquisa

qualitativa (GIL, 2009).

No entanto, apesar das limitações existentes, acredita-se que o caráter

exploratório se justifica, pois é capaz de trazer informações relevantes do contexto no

qual ocorre o fenômeno estudado.

61

CAPÍTULO V

5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este capítulo apresenta os resultados da pesquisa efetuada com os atores que

fazem parte do grupo de interesse do processo de governança da aglomeração

produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.

Partindo-se da premissa que a governança é crucial para o desenvolvimento das

aglomerações produtivas, foi analisado um conjunto de fundamentos, segundo a

literatura, buscando-se verificar a presença dos mesmos no sistema de governança em

questão.

Visando atender aos objetivos específicos do trabalho, a pesquisa baseou-se na

análise de três fundamentos: o processo de estruturação da governança, o conjunto de

ações implementadas pela governança e a percepção dos empresários em relação ao

desempenho da governança em contribuir para o desenvolvimento competitivo da

aglomeração.

5.1 Análise do processo de estruturação da governança

Visando responder ao primeiro objetivo específico, buscou-se analisar o

processo de estruturação da governança, identificando se foram respeitados nesta

construção os fatores considerados pela literatura corrente como fundamentais para a

estruturação e desenvolvimento de uma estrutura de governança.

Na pesquisa efetuada com o gestor da governança, este se sentiu muito à

vontade em relação aos questionamentos e demonstrou muito conhecimento sobre o

assunto. Desta forma, foram citadas diversas considerações sobre a estruturação da

governança em relação aos fatores fundamentais:

De acordo com a literatura corrente sobre aglomerações produtivas, é de

fundamental importância que as empresas que fazem parte do setor produtivo possuam

o efetivo interesse em estruturar o processo de governança, pois o sucesso deste

processo dependerá em grande parte do esforço destas empresas (SCHMITZ & NADVI,

1999).

62

Em relação ao interesse dos empresários que compõem a aglomeração

produtiva, de acordo com o gestor da governança, a própria iniciativa dos ceramistas

em buscar alternativas ao desenvolvimento do setor e a criação da RCC, já demonstra

o interesse suficiente dos empresários em relação à estruturação e desenvolvimento da

governança.

Verificou-se que em função da seriedade e do interesse demonstrado pelos

ceramistas na procura pelo SEBRAE que todo o processo de estruturação da

governança pôde ser iniciado.

Em se tratando do comprometimento dos atores que compõem a aglomeração

produtiva em questão, considera-se que o empenho das instituições e empresas que

formam a governança refletiu positivamente para o alcance dos objetivos coletivos

propostos pela governança.

Desta forma, em relação às instituições, o gestor da governança evidencia que

as mesmas possuem um alto nível de comprometimento com a governança, tanto na

participação das reuniões e eventos, quanto efetivamente na implantação das ações

destinadas a cada uma delas presentes no planejamento estratégico.

Porém o mesmo não pode ser dito a respeito dos ceramistas, pois nem todos

apresentam níveis de comprometimento desejáveis. Verificou-se que apesar dos

ceramistas assumirem inicialmente o compromisso de execução, algumas ações do

planejamento estratégico elaborado pela governança ainda não foram implementadas.

Como exemplos destas ações, podem ser citadas: a construção da central de

massa cerâmica, o reflorestamento das áreas desmatadas para a atividade cerâmica, a

obtenção da certificação no programa de qualidade (PSQ) gerenciado pela ANICER e a

implantação dos sistemas logísticos de “pallets”.

Estas questões indicam a necessidade do uso de mecanismos que gerem nos

ceramistas um maior nível de compreensão sobre a importância de sua cooperação e

comprometimento com os objetivos coletivos, de forma a melhorar o processo de

implementação da governança.

Quando questionado a respeito da presença da governança no cotidiano da

aglomeração produtiva, o gestor informou que esse conceito está presente no dia a dia

dos ceramistas e que apesar de nem todas as instituições que formam a governança

63

estarem sediadas na cidade de Campos dos Goytacazes, todas são constantemente

informadas sobre os acontecimentos e andamentos das ações planejadas.

A comunicação é conseguida, pois as informações relacionadas ao andamento

das ações da governança são lançadas no SIGEOR (Sistema de Informação da Gestão

Estratégica Orientada para Resultados), pelo qual todos os atores podem ter acesso.

Além disso, foi ressaltado que quando é necessária a participação de alguma instituição

para reuniões ou eventos, é sempre feito um grande esforço para viabilizar a sua

presença.

Atualmente a governança da aglomeração produtiva em questão é formada por

quatorze instituições responsáveis por diversas funções em prol do desenvolvimento do

arranjo, tais como: inovações tecnológicas, expansão comercial, implantação de

programas de qualidade, utilização do laboratório para melhoria da qualidade dos

produtos, oferecimento de cursos e palestras, formação de mão de obra especializada,

licenciamento ambiental, entre outras.

Assim, de acordo com o planejamento estratégico elaborado com a participação

de todas as instituições, define-se as ações e os interesses que cada uma deve

defender.

Desta forma cabe a cada uma das instituições que formam a governança, a

responsabilidade de cumprir bem o seu papel para que o sucesso da aglomeração seja

alcançado pela sinergia gerada pelos relacionamentos entre os atores que compõem a

governança.

Quando surge alguma necessidade das empresas da aglomeração produtiva e

percebe-se que não existe no grupo uma instituição que possa oferecer apoio,

imediatamente a governança busca novos parceiros para ajudar os ceramistas a

conquistarem seus objetivos.

De acordo com o gestor da governança, um importante trabalho a ser executado,

é estruturar muito claramente os papéis que cada instituição deve cumprir, para que

seja gerada a necessária sinergia, otimizando os recursos ao invés da sobreposição

dos esforços.

Nas palavras do gestor da governança, um dos pontos fortes da governança é

justamente o nível de integração das instituições que formam a governança e o poder

de mobilização que o grupo está conseguindo criar. Uma possível justificativa a respeito

64

desta união está no fato de que para a governança fomentar o desenvolvimento da

aglomeração é necessária a integração das instituições, desta forma, as instituições

acabam necessitando se conhecerem mais profundamente.

Este conhecimento é importante, pois ao ser acessada para oferecer suporte a

alguma cerâmica, cada instituição automaticamente analisa que tipo de apoio

complementar aquela empresa necessita, indicando a instituição com qualificação

pertinente no contexto da governança. Desta maneira, com o conhecimento do papel

que cada instituição executa, a governança consegue oferecer o suporte adequado ao

desenvolvimento desta aglomeração produtiva.

De acordo com a literatura corrente, antes da estruturação da governança, deve

ser efetuada uma análise de fatores condicionantes, que consiste no entendimento de

fatores que influenciam a formação e o desenvolvimento da aglomeração produtiva.

Desta forma, para que a estruturação da governança tenha sucesso, deve-se levar em

consideração os referidos fatores.

Dentre os fatores condicionantes, pode-se enfatizar os seguintes: a estrutura de

produção, a forma de inserção comercial das empresas, a existência ou não de

empresas dominantes, o grau de desenvolvimento e envolvimento das instituições

locais e o contexto socio cultural e político no qual se inserem as aglomerações

produtivas (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2007).

O gestor da governança afirma que o SEBRAE em 2004, através de um trabalho

de Britto (2004), efetuou um mapeamento das aglomerações produtivas existentes no

Estado do Rio de Janeiro, indicando a existência deste arranjo de cerâmica na região

de Campos dos Goytacazes. Desta forma, pôde-se obter importantes informações

sobre a aglomeração em questão.

O início do trabalho de estruturação da governança e o estreito relacionamento

com o Sindicato dos Ceramistas possibilitou um grande conhecimento das fases que

aquela aglomeração produtiva havia passado até buscar um suporte para sua

sustentabilidade. Desta forma, foi constatado que não houve formalmente um estudo

dos condicionantes, mas sim um aproveitamento do conhecimento acumulado pelos

ceramistas sindicalizados envolvidos no projeto.

Em resumo, a partir das entrevistas e comentários, pôde-se perceber que

mesmo não seguindo especificamente o que a literatura corrente propõe, pode-se

65

afirmar que de uma forma geral, no processo de estruturação da governança, foram

considerados os fatores fundamentais para a estruturação e desenvolvimento da

governança.

No entanto, como foi detectado, é importante que a governança consiga

desenvolver ações específicas voltadas para sensibilizar os atores envolvidos,

principalmente os ceramistas, no sentido de obter um maior nível de comprometimento

por parte dos mesmos, de modo que o desenvolvimento da aglomeração produtiva não

fique comprometido.

5.2 Análise das ações implementadas pela governança

Buscando responder ao segundo objetivo específico do trabalho, foi efetuada

uma análise sobre as ações implementadas pela governança da aglomeração produtiva

em questão.

Através deste estudo, buscou-se verificar se são praticadas as principais ações

implementadas pela governança em aglomerações produtivas de reconhecido sucesso

e quais instituições são responsáveis por sua execução.

Foram realizadas entrevistas com representantes das quatorze instituições que

formam a governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos

Goytacazes.

Foram identificadas ações que evidenciam a importância da cooperação entre os

empresários que fazem parte da aglomeração produtiva em questão promovidas por

especificamente três instituições, o Sindicato dos Ceramistas, a RCC e o SEBRAE.

O SICCC através da sua proposta de representatividade e de união dos

ceramistas que fazem parte da aglomeração promove eventos e reuniões regulares,

nas quais principalmente após a criação da RCC, a cooperação é um assunto

obrigatório em função da percepção do desenvolvimento alcançado por esta rede de

empresas.

A RCC, que pode ser considerada como um fruto da cooperação entre

ceramistas, busca em suas reuniões regulares continuar incentivando e mantendo o

foco do grupo na cooperação. De acordo com o Presidente da RCC, é importante

sempre colocar em pauta a importância da cooperação para a geração de diferenciais

66

competitivos, pois em todas as decisões tomadas pela rede deve ser ressaltada a

importância do alcance dos objetivos coletivos. E desta forma, evidenciar que a

cooperação é uma importante ferramenta para o desenvolvimento da aglomeração.

O SEBRAE incentiva a formação de grupos para a participação em feiras, visitas

técnicas, congressos e eventos específicos da área de cerâmica, aglomerações

produtivas e outros assuntos relacionados ao setor. São incentivadas também por esta

instituição visitas a outras cerâmicas que fazem parte do arranjo produtivo. Assim,

espera-se criar e fortalecer relacionamentos entre os ceramistas, promovendo um maior

nível de cooperação entre os mesmos.

A elaboração do planejamento estratégico, conforme citado anteriormente na

subseção que tratava da estruturação do processo de governança, é realizada com a

participação de todas as instituições que fazem parte da estrutura de governança,

podendo ser considerada como uma ação de execução global da governança.

O processo de elaboração do planejamento estratégico segue uma metodologia

própria na qual todos os atores que fazem parte da governança debatem necessidades

e problemas identificados e planejam ações para a busca de soluções.

Como o processo de implementação destas ações é lançado no SIGEOR, todos

os interessados podem acompanhar como está o andamento das ações e se os

objetivos estão sendo efetivamente alcançados.

Em relação ao fomento ao desenvolvimento comercial, foram identificadas ações

implementadas pelo SEBRAE, RCC, Governo do Estado do Rio de Janeiro e UCAM.

O SEBRAE, além de promover cursos e organizar participações em feiras e

visitas técnicas com o objetivo de expandir os horizontes comerciais dos ceramistas,

desenvolveu todo o processo de comercialização da RCC.

Nesta parceria entre SEBRAE e RCC, foi desenvolvido o sistema de compras

cooperativadas e o processo de vendas, que é efetuado em forma de rodízio de

vendas, conforme citado na subseção referente à criação da RCC.

A participação da RCC é importante, pois além de principal interessada, serve

também como um modelo de referência para a própria governança, quanto para os

outros ceramistas do arranjo produtivo.

O Governo do Estado, em parceria com a UCAM, está desenvolvendo um projeto

de análise de viabilidade da utilização do transporte ferroviário para o escoamento dos

67

produtos cerâmicos para os seus principais mercados consumidores, que são a região

do Grande Rio e da Grande Vitória no Estado do Espírito Santo.

Esta ação, se efetivamente for concretizada, pode trazer grandes benefícios

comerciais para os ceramistas da região, já que representará uma grande possibilidade

de expansão comercial em função da otimização logística e ganho de competitividade.

Acontece uma situação inusitada em relação ao incentivo ao desenvolvimento

tecnológico.

Apesar da governança incentivar os ceramistas a procurarem a UENF

(Universidade Estadual do Norte Fluminense) para o suporte relacionado ao

desenvolvimento tecnológico de seus processos produtivos, nas entrevistas realizadas

com os pesquisadores da UENF, não foram identificadas ações que são implementadas

em conjunto com a governança.

De acordo com os pesquisadores da UENF, eles já desenvolvem projetos

relacionados ao tema em questão desde muito tempo antes da estruturação da

governança. Desta forma, foi detectado que apesar de existir o apoio ao

desenvolvimento tecnológico aos ceramistas desta aglomeração produtiva, este não é

fruto de mobilização da governança do arranjo.

Foram identificadas ações relacionadas ao estímulo à melhoria da gestão

empresarial e da qualidade das empresas, que são implantadas principalmente pela

ANICER, FENORTE, FIRJAN e SEBRAE.

A ANICER, além de ser a gestora do PSQ (Programa Setorial de Qualidade), que

é o principal programa de qualidade para o setor cerâmico nacional, é também a

instituição que certifica o laboratório de cerâmica que atende os ceramistas da

aglomeração produtiva de Campos dos Goytacazes, o LABCERV (Laboratório de

Cerâmica Vermelha).

O LABCERV foi construído e é mantido pela FENORTE (Fundação Estadual

Norte Fluminense). Este laboratório é de fundamental importância para a elevação do

nível de qualidade dos produtos cerâmicos da região, em função dos testes e ensaios

que são realizados.

O Sistema FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro)

desempenha um papel importante, pois através do SENAI (Serviço Nacional de

68

Aprendizagem Industrial), oferece capacitação às cerâmicas do arranjo para

conseguirem a certificação do PSQ.

O SEBRAE busca sempre oferecer cursos e palestras relacionados à gestão e à

qualidade. Como exemplo, pode ser citado o curso de qualidade D’OLHO na qualidade,

além de cursos voltados à melhoria de práticas gerenciais, como: planejamento, análise

financeira, gerenciamento de recursos humanos, entre outros.

A governança, além de contar com o Governo do Estado do Rio de Janeiro como

parceiro de financiamento de projetos desenvolvidos pelos ceramistas do arranjo,

através da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado

do Rio de Janeiro) e do INVESTE RIO (Agência de Fomento do Estado do Rio de

Janeiro), oferecendo linhas de financiamento, possui também parcerias com instituições

bancárias estatais, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, que

oferecem linhas de crédito específicas para os ceramistas.

O apoio à criação de centros para a formação de mão de obra especializada, se

concretizou neste ano de 2009 com a construção do CVT – Cerâmica (Centro

Vocacional Tecnológico), através de uma ação executada pela FAETEC (Fundação de

Apoio à Escola Técnica).

O CVT – Cerâmica, oferecerá a partir de 2010 o curso técnico de cerâmica

vermelha e atualmente oferece cursos de curta duração voltados ao setor cerâmico,

como: metrologia, manutenção de máquinas, logística e administração de custos.

A governança promove ações de fomento às práticas de responsabilidade

socioambiental através da determinação de diversas exigências para que as cerâmicas

participem do Programa Cerâmica Vermelha, que é o principal projeto da governança

voltado ao desenvolvimento da aglomeração produtiva.

Entre estas exigências, além da empresa ser sindicalizada, é necessário que as

empresas se comprometam a seguir uma série de exigências de responsabilidade

fiscal, social e ambiental, visando a sustentabilidade do setor. Como exemplos destas

exigências podem ser citados: a formalização das empresas e dos funcionários, as

licenças ambientais devem estar em dia, não pode haver trabalho infantil, é necessária

a disseminação de uma cultura da qualidade, da segurança e da preservação do meio

ambiente, entre outros.

69

Normalmente, a implementação das ações que são planejadas de forma global

pela governança é executada por um agente coordenador. Este agente coordenador

representa a “personificação” da governança, tanto na representatividade, mobilização

e articulação dos atores. No caso da governança da aglomeração produtiva em

questão, que faz o papel de agente coordenador é o próprio gestor da governança, que

também é representante do SEBRAE.

A governança incentiva que outras cerâmicas que fazem parte desta

aglomeração produtiva, venham a participar do Programa Cerâmica Vermelha, e mais

precisamente a se associar à RCC.

Como muitas empresas do arranjo, na ocasião da formação desta rede, não

haviam entendido a proposta do programa, atualmente quando percebem o

desenvolvimento alcançado pelas cerâmicas que fazem parte da RCC, se interessam

em também participar deste movimento.

O controle dos resultados das ações planejadas é realizado sistematicamente

pela governança e por todas as instituições que fazem parte da mesma, através da

visualização do andamento das referidas ações, que é lançado no SIGEOR.

Caso seja feita uma avaliação e seja percebido que determinadas ações não

estejam seguindo o planejamento estipulado, cabe ao gestor da governança entrar em

contato com o ator responsável por aquela determinada ação, averiguar e buscar

formas de superar os obstáculos para o alcance dos objetivos.

Este planejamento é revisado totalmente de quatro em quatro anos, com o

objetivo de avaliar os rumos que a aglomeração produtiva está tomando. Porém, pelo

menos duas ou três vezes por ano, dependendo da necessidade, os membros da

governança se reúnem para verificar se as ações estão sendo implementadas e se os

objetivos estão sendo alcançados conforme o planejado.

A análise comparativa das ações consistiu em verificar se efetivamente são

implementadas pela governança as principais ações indicadas pela literatura e quais as

instituições responsáveis por esta execução.

De acordo com a análise efetuada, a única ação que não é implementada

legitimamente em conjunto com a governança é o incentivo ao desenvolvimento

tecnológico.

70

Porém, todas as outras ações identificadas fazem parte do conjunto de ações

consideradas como as principais a serem implementadas em aglomerações produtivas

de reconhecido sucesso pela literatura.

5.3 Análise da percepção dos ceramistas a respeito do nível de contribuição da governança para o desenvolvimento da aglomeração

Visando atender ao terceiro objetivo específico do trabalho, buscou-se analisar a

percepção dos ceramistas de modo a identificar se na opinião dos mais interessados no

processo, a governança está efetivamente conseguindo cumprir o seu papel de gerar

desenvolvimento.

Foram estabelecidos indicadores que representam tanto os fatores estruturais

quanto o conjunto de ações implementadas pela governança, que se referem aos

fundamentos pesquisados para responder ao primeiro e ao segundo objetivo específico

do trabalho, respectivamente.

Através da realização de entrevistas com um grupo de ceramistas que faz parte

da unidade de pesquisa do trabalho, buscou-se verificar a opinião dos mesmos a

respeito dos indicadores propostos.

É importante ressaltar que todos os comentários feitos pelos entrevistados em

relação às afirmações propostas, foram condensados e apresentados na análise dos

resultados.

5.3.1 O papel da governança em evidenciar a importância da cooperação nos relacionamentos entre os empresários que fazem parte da aglomeração produtiva

De acordo com os entrevistados, a governança implementa diversas ações

visando a evidenciação da importância da cooperação entre os empresários, podendo

ser citadas as seguintes:

Existe um calendário definido de reuniões periódicas nas quais, entre diversos

assuntos, é tratada a importância da cooperação e do fortalecimento do relacionamento

entre os ceramistas e também é incentivada a integração dos mesmos com as

instituições que formam a governança.

71

Foi citado que quando foi implantado o Programa Cerâmica Vermelha, que teve

como fruto a RCC, os ceramistas receberam um treinamento específico sobre

cooperativismo, que segundo o entendimento dos mesmos, é a chave para o sucesso

das aglomerações produtivas. Assim, nestas reuniões é sempre reforçada a importância

da integração entre os atores, trazendo à tona o conceito e as vantagens das empresas

se aglomerarem e buscarem objetivos de forma coletiva.

Nestas reuniões os ceramistas também recebem informações sobre feiras,

congressos e eventos específicos da área de cerâmica, aglomerações produtivas e

outros assuntos relacionados ao setor. Desta forma, além da proveitosa participação

nos eventos que sempre ressaltam a importância da cooperação, é incentivada a

formação de grupos para este tipo de participação, fazendo com que as relações entre

os ceramistas se fortaleçam.

É incentivada a realização de visitas técnicas, nas quais cada ceramista tenha a

liberdade de visitar outras cerâmicas do arranjo, de modo a conhecer novos processos,

buscar a solução de problemas empresariais ou até mesmo para trocar idéias a respeito

do setor. Desta forma, a governança busca evidenciar a importância da integração,

criando a cultura do cooperativismo entre os ceramistas, pois quando um ceramista

deseja visitar outra empresa, este fato “abre” uma via de mão-dupla entre os ceramistas

envolvidos, quer dizer, quando um ceramista visita outras cerâmicas ele cria canais de

relacionamento entre as mesmas.

Assim, este processo de integração ao ser multiplicado entre os ceramistas do

arranjo, gera um importante elemento de sucesso para a aglomeração produtiva, que é

a sinergia e a construção de um conhecimento coletivo que surge com o fato de que

cada ceramista quando visita outra empresa, o mesmo busca informações, mas

também as leva para o outro ceramista, propiciando assim a criação de diferenciais

competitivos.

São incentivadas as visitas de grupos de ceramistas da região a outras

aglomerações produtivas e também a visita de ceramistas ao arranjo produtivo de

cerâmica de Campos dos Goytacazes, de forma a expandir o nível de integração do

arranjo.

72

De acordo com a opinião dos ceramistas, o indicador em questão obteve um

ranking médio (RM) de 4,4, que de acordo com a metodologia estabelecida, representa

um alto nível de desempenho da governança para este indicador.

Com a pesquisa, pôde-se perceber que são implementadas ações que visam

incentivar a cooperação e a integração entre os ceramistas que compõem a

governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes,

evidenciando a importância da criação de um ambiente propício ao fortalecimento dos

relacionamentos e da geração de vantagens competitivas.

5.3.2 O papel da governança em incentivar o comprometimento dos empresários que fazem parte da aglomeração produtiva em relação às ações da governança

Foi explicado que nesta afirmativa buscava-se identificar a opinião dos

ceramistas a respeito do comprometimento dos mesmos, em relação às ações

implementadas pela governança e toda sua proposta de mobilização e ação.

De acordo com a opinião dos ceramistas, nem todos os empresários são

totalmente comprometidas com as ações da governança. Haja vista as importantes

ações que foram propostas no planejamento estratégico elaborado, que contou com a

participação dos ceramistas e até hoje muitos dos objetivos traçados ainda não foram

alcançados.

Inclusive muitos ceramistas assumiram que realmente não estão conseguindo

seguir o que foi proposto pela governança, apesar de saberem que a implementação

das ações propostas poderia ser importante para eles. Justificativas como: “não tenho

tempo para isso” e “não tenho dinheiro para investir”, são comuns.

Podem ser citadas como ações planejadas que ainda não foram executadas por

falta de comprometimento, principalmente dos ceramistas:

a) A construção de uma central coletiva de massa cerâmica, que visa a

padronização da matéria-prima utilizada nas cerâmicas, que apesar de necessitar de

grandes investimentos, foram desenvolvidos projetos e estabelecidas parceiras para um

possível financiamento, mas o projeto até hoje não foi adiante;

b) A implantação do processo de “palletização”, como dizem os ceramistas, que

é a adequação de seus sistemas logísticos à utilização de estrados normalmente de

madeira, chamados de pallets, que são utilizados para movimentação de cargas e

73

otimização logística (FERNANDES, 1981). Com a implantação desta ação, seria

possível o ganho de competitividade e a expansão dos horizontes comerciais, já que as

grandes construtoras e redes de varejo que compram produtos cerâmicos,

frequentemente exigem que os produtos sejam entregues utilizando os pallets;

c) A implantação de ações de reflorestamento, que foi desenvolvida por apenas

alguns ceramistas, que representa uma atividade compensatória à natureza por anos e

anos de extração da argila de forma não sustentável;

d) A implantação de um programa de qualidade, criado e gerenciado pela

ANICER (Associação Nacional das Indústrias Cerâmicas), chamado de Programa

Setorial da Qualidade (PSQ), que busca oferecer aos participantes condições de

padronização de seus processos e produtos de forma a atender as exigências do

mercado, representando ganhos de competitividade e produtividade.

De acordo com os ceramistas, infelizmente a procura para a participação no

programa foi muito baixa, apesar da FIRJAN através do SENAI oferecer um treinamento

específico para preparar as empresas para a certificação, poucas empresas se

interessaram e até o momento nenhuma empresa da aglomeração produtiva conseguiu

a certificação.

Porém, foi colocado pelos ceramistas, que existe um grupo de empresários, que

possuem um grande nível de comprometimento em relação às ações da governança.

Estes ceramistas são mais atuantes, envolvidos e os que “dão os primeiros passos”, em

relação ao cumprimento das ações propostas.

Como a pesquisa busca identificar a influência da atuação da governança, o

índice obtido para este indicador foi de 3,4, que representa um nível médio de

desempenho da governança em criar ações que incentivem o comprometimento dos

ceramistas em relação às iniciativas propostas por ela.

Eles realmente acreditam na governança como meio de obtenção de

competitividade e desenvolvimento que se apóia na cooperação e no coletivismo, mas

infelizmente é um grupo ainda pequeno, mas que segundo os ceramistas, eles “fazem

muita diferença”, pois em função de sua liderança, motivam e mobilizam muitos

ceramistas para buscarem os objetivos de forma conjunta visando o desenvolvimento

de toda a aglomeração produtiva.

74

5.3.3 O papel da governança em incentivar o desenvolvimento comercial das empresas da aglomeração produtiva

Na pesquisa deste indicador, buscava-se identificar a opinião dos entrevistados

em relação ao incentivo por parte da governança de ações que desenvolvessem as

relações comerciais das cerâmicas da aglomeração produtiva. Entre as ações

promovidas pela governança, podem ser citadas:

a) A organização de eventos e incentivo para a participação em feiras,

congressos e visitas a outras aglomerações produtivas do setor, com o objetivo de

expansão comercial e de realizar o benchmarking de práticas comerciais;

b) O fomento à criação da central de massa que além de representar a

padronização e melhoria da qualidade dos produtos, possui um interessante objetivo,

que é a comercialização da massa cerâmica padronizada para outras cerâmicas da

aglomeração;

c) O desenvolvimento de um projeto que conta com a participação conjunta do

Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Transportes, a UCAM e

de ceramistas da RCC, que visa efetuar a análise de viabilidade da utilização do

transporte ferroviário para o escoamento dos produtos cerâmicos das indústrias de

Campos dos Goytacazes para importantes mercados consumidores como a região do

Grande Rio de Janeiro e também a região da Grande Vitória no Espírito Santo.

A expectativa dos ceramistas é grande em relação ao sucesso deste projeto,

pois esta iniciativa pode gerar grandes benefícios para os ceramistas da região em

função da possibilidade de expansão comercial, além do ganho de competitividade

decorrido da otimização logística proporcionada pela utilização do transporte ferroviário;

d) A introdução e desenvolvimento de conceitos de compra e venda

cooperativadas, que possibilitou ganhos de escala às cerâmicas e também um melhor

desempenho comercial.

O RM (Ranking Médio) para o indicador pesquisado obteve o índice de 4,6,

representando um nível muito alto de desempenho da governança na percepção dos

ceramistas, que pode ser justificado em função da grande atuação e sucesso nas ações

implementadas.

75

5.3.4 O papel da governança em estabelecer parcerias com instituições que oferecem linhas de crédito e de fomento específicas para os ceramistas

É de responsabilidade da governança, buscar instituições parceiras que

possuam este perfil e que ofereçam um acesso privilegiado dos ceramistas ao crédito e

ao financiamento. Em contrapartida, os ceramistas representam também um novo

segmento de mercado a ser atendido por estas instituições.

Os ceramistas se apresentaram satisfeitos com as ações da governança neste

sentido, pois relataram que um banco estatal abriu uma linha de crédito específica para

os ceramistas, com condições especiais e atendimento personalizado. Os ceramistas

estão confiantes com as novas perspectivas, já que anteriormente não existiam

oportunidades como esta. Porém, como esta linha de crédito foi aberta recentemente,

não foram citados casos em que os ceramistas se utilizaram destes recursos

oferecidos.

Além de instituições bancárias, os entrevistados relataram que alguns projetos

estão sendo desenvolvidos com o apoio da FAPERJ, que é uma instituição ligada ao

Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Entre os projetos desenvolvidos com o apoio da FAPERJ, podem ser citados

como exemplo uma análise de viabilidade da utilização do capim elefante como

combustível para o funcionamento dos fornos cerâmicos, representando uma

alternativa à utilização da lenha e do gás natural.

Outro projeto, que é um desejo antigo de alguns ceramistas, é a construção de

uma central de produção de massa cerâmica, que visa a padronização da massa

cerâmica utilizadas pelas indústrias, visando além da qualidade do produto final, a

possibilidade de comercialização desta massa para outras cerâmicas que estiverem

não fizerem parte do consórcio de empresas que estão envolvidas no projeto.

Os entrevistados também comentaram que quando necessitam de apoio para a

elaboração de projetos para a obtenção de financiamentos ou empréstimos, procuram

diretamente o SEBRAE para este suporte, e caso esta tenha condições de oferecer o

auxílio adequado, os ceramistas são direcionados para outras instituições da

governança.

Neste indicador pesquisado, a opinião dos entrevistados apresentou um ranking

médio de 4,2, representando um alto nível de desempenho da governança em buscar

76

agregar ao arranjo empresas que possibilitem o desenvolvimento através do

oferecimento de crédito e financiamentos.

De acordo com os comentários colhidos nas entrevistas, acredita-se que o

ranking médio obtido para este indicador só não foi maior por que o oferecimento, pelo

menos das linhas de crédito bancário é recente, não oferecendo ainda resultados mais

consistentes.

5.3.5 A ação da governança em promover ações que incentivam o desenvolvimento tecnológico das empresas da aglomeração produtiva

A inovação tecnológica é considerada como um dos principais geradores de

diferenciais competitivos para as empresas (CAMPOS et al., 2002). E desta forma, o

desenvolvimento tecnológico passa a ser um fator de grande importância para as

aglomerações produtivas e consequentemente se torna também parte da

responsabilidade da governança em incentivar as empresas a buscarem alternativas de

desenvolvimento.

Foi percebido através das entrevistas, que existe um grande incentivo por parte

da governança para que os ceramistas busquem o desenvolvimento tecnológico de

suas empresas.

E para este fim, os ceramistas são direcionados a buscarem especialmente a

UENF, que mesmo antes da formação da estrutura governança, já desenvolvia projetos

de melhoria e inovação tecnológica das cerâmicas da região.

De acordo com os ceramistas, eles são sempre muito bem recebidos pelos

pesquisadores e quem busca o desenvolvimento sempre consegue obter resultados em

parceria com a UENF. Porém, os próprios ceramistas ressaltam que a procura pelo

suporte tecnológico ainda é muito pequena.

Entre os projetos relacionados à inovação e ao desenvolvimento tecnológico,

foram citados os seguintes:

a) Pesquisas a respeito da utilização do capim-elefante como combustível para

os fornos cerâmicos, que além de ser mais barato, polui menos o ambiente;

b) A utilização de resíduos de outras indústrias, como a de celulose e a de

pedras ornamentais, na composição da massa cerâmica, que além de contribuir com o

77

aumento do volume sem a perda de qualidade, ainda contribui para que estes resíduos

não poluam o ambiente;

c) A elaboração do projeto para a criação da central de massa cerâmica, descrita

anteriormente, entre outros.

O indicador medido buscava identificar o desempenho da governança em prol do

desenvolvimento tecnológico das cerâmicas, e desta forma, obteve o índice de 4,2,

representando um alto nível de influência da governança neste quesito, apesar dos

fatos descritos anteriormente.

5.3.6 O papel da governança em incentivar a melhoria da gestão empresarial e da qualidade nas empresas da aglomeração produtiva

Ao pesquisar este indicador, buscou-se identificar a percepção dos entrevistados

no que diz respeito à governança incentivar esta busca pela melhoria da gestão

empresarial e da qualidade em suas empresas.

Podem ser citadas como ações específicas da governança em relação a este

incentivo, as seguintes, de acordo com os ceramistas entrevistados:

a) O incentivo e suporte à certificação do PSQ (Programa Setorial da Qualidade),

que é um programa de qualidade oferecido pela ANICER, que visa a padronização de

processos e produtos. De acordo com os ceramistas, esta certificação representa um

grande nível de diferenciação para as cerâmicas do Brasil, porém, ainda não existem

cerâmicas que conseguiram obter esta certificação na aglomeração produtiva em

questão.

É oferecido pelo Sistema FIRJAN, através do SENAI, um suporte às cerâmicas

que se interessam em obter esta certificação, que consiste em visitas às empresas e

diagnósticos e treinamentos sobre a adequação das cerâmicas às normas de

qualidade.

b) Foi percebido através das entrevistas, que uma ação que representou um

grande avanço qualitativo para as cerâmicas da região, foi a construção do LABCERV

(Laboratório de Cerâmica Vermelha).

O LABCERV atua como um importante parceiro pois possui o objetivo de

disseminar a cultura da qualidade dos produtos para as cerâmicas da região,

78

oferecendo possibilidades de ganhos competitivos através de uma melhor padronização

e qualidade do produto final.

O laboratório atende gratuitamente a todas as cerâmicas da região, realizando

ensaios físicos e mecânicos em peças cerâmicas industriais tais como blocos de

vedação, telhas, lajotas e revestimentos. Entre os ensaios realizados, podem ser

citados como mais importantes os de análise dimensional, resistência mecânica,

absorção de água e de impermeabilidade de telhas.

De acordo com os ceramistas, o LABCERV é imprescindível para que as

cerâmicas consigam acessar mercados mais exigentes em relação a padrões de

qualidade e que o desenvolvimento econômico da RCC pode ser em grande parte

atribuído ao nível de qualidade obtido com o suporte deste laboratório.

c) Os ceramistas também ressaltaram a importância do oferecimento de cursos,

treinamentos e palestras sobre os mais diversos temas relacionados à gestão

empresarial, como: planejamento, qualidade, finanças, controle de estoque e outros,

que são normalmente oferecidos pelo SEBRAE.

Os entrevistados se mostraram muito satisfeitos com o incentivo da governança

à qualificação e à melhoria da gestão e da qualidade de suas empresas, desta forma

pode-se justificar que este indicador pesquisado obteve uma pontuação considerável de

4,7, que representa um nível muito alto de desempenho da governança em incentivar

os ceramistas.

5.3.7 O papel da governança em incentivar o comprometimento das instituições que a compõem

O indicador pesquisado nesta questão refere-se principalmente à percepção dos

ceramistas em relação ao comprometimento das instituições que formam a estrutura de

governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.

De acordo como os ceramistas, esta percepção é baseada na disponibilidade,

agilidade e qualidade da solução oferecida pela instituição que está oferecendo o

suporte aos ceramistas quando necessitam.

Este índice pode ser justificado pelo fato de que, em se tratando da governança,

o contato mais direto que possuem é com o SEBRAE, e este funciona como uma ponte

para o contato com as outras instituições.

79

Assim, foi percebido que quando existe alguma demanda por parte dos

ceramistas, o contato é feito com o SEBRAE, que entra em contato com as instituições

e posteriormente é repassado ao ceramista um retorno. Desta forma, o processo pode

demorar e tangibilizar negativamente a instituição solicitada.

Não houve comentários negativos em relação ao nível de qualidade das

soluções oferecidas, pois de acordo com os ceramistas, as instituições os atendem da

melhor forma.

Inclusive, muitos ceramistas elogiaram a coesão e parceria que as instituições

que formam a governança demonstram e disseram que esta integração os beneficia

muito, pois quando uma instituição não consegue uma solução para determinado

problema, rapidamente outras instituições com melhores condições de oferecer apoio

são mobilizadas.

De acordo com os ceramistas, o que traz algum transtorno está relacionado à

acessibilidade de algumas instituições e ao tempo de retorno a respeito de alguma

solicitação. Aspecto que está intimamente ligado à percepção dos mesmos em relação

ao comprometimento e contribuição da governança ao desenvolvimento da

aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.

Desta forma, o ranking médio (RM) obtido foi de 3,2, que indica um nível médio

de desempenho por parte da governança da aglomeração.

5.3.8 O papel da governança em incentivar práticas de responsabilidade social e sustentabilidade nas empresas da aglomeração produtiva

Foi explicado aos entrevistados que nesta afirmação, buscava-se identificar a

opinião dos mesmos a respeito da ação da governança em ressaltar a importância da

consciência socioambiental e da aplicação destes princípios em seu cotidiano.

De acordo com os entrevistados, a questão da responsabilidade socioambiental

é muito debatida pela governança e uma questão que deve ser evidenciada é que para

fazer parte da “rede” como os ceramistas costumam chamar, além da cerâmica que faz

parte da aglomeração produtiva ser sindicalizada, é necessário que estas empresas se

comprometam a seguir uma série de exigências de responsabilidade fiscal, social e

ambiental, impostas pela governança. Podem ser citadas como exemplos destas

exigências, de acordo com os ceramistas entrevistados, as seguintes:

80

a) A empresa precisa ser formalizada; b) todos os funcionários devem estar

registrados; c) não pode haver a utilização de trabalho infantil; d) a empresa precisa

estar com seu licenciamento ambiental em dia; e) é necessário criar a cultura da

qualidade, da segurança e da proteção ao meio ambiente na empresa, contando com o

envolvimento dos funcionários; f) o oferecimento de equipamentos de proteção

individual e coletiva aos funcionários e a cobrança pela sua utilização por parte da

empresa; g) entre outras relacionadas ao desenvolvimento da responsabilidade

socioambiental da empresa.

Apesar dos aspectos exigidos fazerem parte da legislação normal, no caso da

aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes, pôde-se perceber

pelas entrevistas que algumas empresas do arranjo desrespeitam as mais simples

regras de responsabilidade socioambiental, como ausência de segurança para os

funcionários, funcionários informais, utilização de mão de obra infantil, além de grande

degradação ao meio ambiente.

Uma questão importante a ser abordada é que apesar da elevada pontuação

obtida em relação a este indicador e das exigências impostas pela governança às

cerâmicas, foi ressaltado por alguns ceramistas que não existe uma fiscalização para

verificar se realmente as empresas estão cumprindo efetivamente estas normas. Desta

forma caso a governança não desempenhe seu papel de evidenciar a importância e

cobrar a postura da responsabilidade socioambiental das cerâmicas da aglomeração

produtiva, todo o trabalho desenvolvido pode estar sendo comprometido, caso surja

alguma evidência contrária aos padrões desejados.

Outra ação em prol da responsabilidade socioambiental foi desenvolvida pelo

DRM – RJ (Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro) em

conjunto com a governança, que desenvolveu um manual de apoio ao ceramista para o

uso sustentável dos recursos naturais de modo a minimizar o impacto ambiental da

atividade cerâmica na região.

O INEA (Instituto Estadual do Ambiente) em conjunto com o DRM-RJ, incentiva o

reflorestamento da região, também com o objetivo de amenizar o impacto da

exploração e desmatamento causado pela atividade cerâmica.

Outra instituição que desenvolve uma ação voltada à responsabilidade

socioambiental da aglomeração é o IFF (Instituto Federal de Educação, Ciência e

81

Tecnologia Fluminense), que desenvolve um projeto com o SEBRAE, para a

implantação de um programa que visa a conscientização e adequação das cerâmicas

para o uso mais racional de energia. Desta forma, é aberta às cerâmicas, a

oportunidade de participar do programa, no qual suas empresas são visitadas e é

efetuado um diagnóstico por parte de uma equipe formada por técnicos e alunos do

IFF. Após o diagnóstico são propostas melhorias relacionadas à troca ou manutenção

de equipamentos e instalações e também é feito um trabalho de conscientização da

economia de recursos.

Desta forma, foi detectado através dos relatos dos entrevistados, que a

governança atua efetivamente na conscientização e na proposição de ações em prol da

conscientização e do desenvolvimento de práticas de responsabilidade social e

ambiental desta aglomeração produtiva.

O ranking médio obtido para este indicador foi de 4,7, indicando um nível muito

alto de desempenho da governança neste sentido.

5.3.9 O papel da governança em implementar ações seguindo um planejamento estratégico

O indicador pesquisado diz respeito ao fato da governança seguir um

planejamento ao implementar suas ações em prol da aglomeração produtiva de

cerâmica de Campos dos Goytacazes.

Desta forma, os ceramistas concordam que as ações implementadas pela

governança são direcionadas por um planejamento, podendo ser citadas como as mais

importantes as seguintes:

Quando foi estabelecido o planejamento estratégico, uma das primeiras ações foi

uma campanha em conjunto com o DRM-RJ e o INEA, para o licenciamento ambiental

de todas as cerâmicas, obtendo um grande sucesso com 100% de adesão por parte

das cerâmicas.

O processo de expansão comercial da RCC foi fruto do planejamento que

direcionou as cerâmicas para desenvolverem os sistemas de compra e venda de forma

coletiva. Esta ação foi desenvolvida particularmente pelo SEBRAE, que em função da

experiência em outras aglomerações, implementou este sistema no arranjo em questão.

82

O desenvolvimento de práticas de responsabilidade socioambiental, que foram

uma exigência para a entrada das empresas na “rede”, é também fruto do planejamento

visando a sustentabilidade da atividade cerâmica na região.

E por fim, uma importante conquista proporcionada pelo planejamento da

governança foi a construção do CVT – Cerâmica, que era um desejo antigo dos

ceramistas e que foi conseguida em função de muita articulação e mobilização da maior

parte das instituições que formam a governança, como o SEBRAE, o SICCC, a

FAETEC e o Governo do Esatdo do Rio de Janeiro.

Desta forma, o ranking médio (RM) para este indicador foi de 4,2, evidenciando

de acordo com a metodologia proposta, um alto nível de desempenho da governança

em seguir um planejamento ao implantar ações em prol da aglomeração.

5.3.10 O papel da governança em apoiar a criação de centros para a formação de mão de obra especializada

Na pesquisa deste indicador, buscou-se identificar a percepção dos

entrevistados a respeito das ações que a governança por ventura desempenhe em

apoiar a criação destes centros de formação de mão de obra.

De acordo com os ceramistas, a construção de um centro de formação de mão

de obra especializada para trabalhar nas cerâmicas da aglomeração era um desejo

antigo dos ceramistas e a representatividade e mobilização da governança foi

fundamental para que este objetivo fosse alcançado.

Apesar de algumas das instituições que formam a governança oferecerem

cursos e sobre gestão, qualidade, produção e até algumas palestras mais específicas

sobre cerâmica, o setor ressentia-se de um nível maior de preparação e

desenvolvimento, já que o nível técnico da mão de obra local é muito fraco, de acordo

com os ceramistas.

Desta forma que através de grande articulação com diversas instituições,

atendendo à demanda local, foi inaugurado pela FAETEC (Fundação de Apoio à Escola

Técnica) em Campos dos Goytacazes, no dia 06 de abril de 2009 o CVT (Centro

Vocacional Tecnológico) – Cerâmica, uma instituição direcionada especificamente ao

treinamento e desenvolvimento de profissionais especializados em atuar nas cerâmicas

83

da região, agregando valor aos produtos e serviços e assim contribuindo com o

desenvolvimento do setor.

Apesar de já estar em funcionamento, o CVT – Cerâmica passará a oferecer o

curso técnico em cerâmica vermelha somente a partir de fevereiro de 2010. Atualmente

são oferecidos cursos de curta duração em áreas correlatas à cerâmica, como:

tecnologia em cerâmica vermelha, manutenção de máquinas, logística, metrologia e

administração de custos.

A criação do CVT – Cerâmica, foi muito elogiada pelos ceramistas que aguardam

ansiosamente pelo início do curso técnico. Desta forma, pode-se perceber a ação direta

da governança para a criação deste centro. Este indicador obteve a pontuação de 4,8,

indicando um nível muito alto de desempenho da governança.

5.3.11 O papel da governança em utilizar um agente coordenador da governança para mobilização dos atores que fazem parte da aglomeração produtiva

Foi questionado aos entrevistados qual era a opinião dos mesmos a respeito da

existência de um agente coordenador da governança, isto é, uma pessoa que cuidasse

efetivamente da coordenação e mobilização das empresas em conjunto com as

instituições para o sucesso do arranjo.

Os entrevistados foram praticamente unânimes ao responder esta questão,

indicando o gestor da governança assumindo o papel deste agente coordenador.

De acordo com os ceramistas, sempre que surge alguma necessidade por parte

dos mesmos, automaticamente eles entram em contato com o gestor da governança

para que este consiga atendê-los. Seja através do SEBRAE, seja através de qualquer

outra instituição que faz parte da governança ou mesmo qualquer outra instituição.

Foi demonstrado através das entrevistas que os ceramistas apresentam um

elevado nível de confiança no gestor da governança e que estão muito satisfeitos com o

seu papel no desenvolvimento da aglomeração.

Uma questão que deve ser ressaltada é que a literatura normalmente considera

que o agente coordenador deve ser contratado independente de qualquer instituição de

faça parte da governança, sendo este um profissional com capacidade técnica e

gerencial para coordenar os atores da aglomeração produtiva (SUZIGAN, GARCIA &

FURTADO, 2007).

84

Porém, como no caso deste arranjo, o gestor que assume o papel do agente

coordenador é um representante do SEBRAE, é importante perceber se a sua atuação

está realmente trazendo benefícios à aglomeração produtiva. Em princípio os

ceramistas estão muito satisfeitos com o desempenho do gestor, mas é importante

avaliar se o mesmo está sendo efetivo para o sucesso da aglomeração.

De acordo com as respostas obtidas, o indicador pesquisado obteve o ranking

médio de 4,6, representado um nível muito alto de desempenho da governança em

promover esta ação.

5.3.12 O papel da governança em incentivar a entrada de novas empresas em seu Programa Cerâmica Vermelha

O indicador pesquisado nesta questão baseia-se no fato de que a literatura

considera como uma importante ação da governança que é o incentivo para que as

empresas venham a fazer parte da aglomeração produtiva.

No caso específico desta aglomeração produtiva, o questionamento era a

respeito do incentivo por parte da governança, para que outras cerâmicas do arranjo

viessem a fazer parte do Programa Cerâmica Vermelha, que culminou na criação da

RCC.

De acordo com os ceramistas, a governança, principalmente através do SEBRAE

nas reuniões promovidas pela governança, busca convidar outras cerâmicas do arranjo

a fazerem parte deste programa de rede de empresas, porém alguns problemas foram

detectados. Além de não haver muito interesse por parte dos ceramistas em fazer parte

da “rede”, foi identificada uma grande barreira imposta pelos próprios participantes para

que outras empresas venham a ingressar na mesma.

A RCC é uma associação formal, que possui um estatuto e que permite que

qualquer empresa se associe, porém deve cumprir algumas exigências. Em primeiro

lugar, para que uma empresa venha a fazer parte da RCC, deve ser unanimidade para

todos os ceramistas da RCC a entrada desta nova cerâmica.

Além disso, como foi citado na subseção que tratava da criação da RCC, a

cerâmica que quiser se associar à “rede”, precisará também pagar uma cota, relativa ao

expertise comercial agregado pela RCC e também por conta dos bens de uso coletivo

adquiridos ao longo do tempo, como caminhões, carros e outros.

85

Desta forma apesar da governança incentivar a entrada de novas empresas na

“rede”, algumas exigências feitas pelos membros da RCC, podem estar desmotivando

outros ceramistas a se associarem, se tornando verdadeiras barreiras ao

desenvolvimento coletivo da aglomeração produtiva.

Este indicador obteve o ranking médio de 3,8, representando um alto nível de

desempenho da governança neste quesito.

5.3.13 O papel da governança em controlar os resultados das ações planejadas

Com a pesquisa deste indicador, buscou-se perceber a opinião dos entrevistados

a respeito da realização de um controle sobre os resultados das ações que foram

estabelecidas no planejamento estratégico.

De acordo com os ceramistas, quando a RCC foi formada, o nível de cobrança

por resultados e de controle da governança era mais rígido. Porém, conforme citado

anteriormente na pesquisa do índice relacionado ao planejamento estratégico, muitos

ceramistas não conseguiam cumprir o que havia sido acordado em relação à

implantação das ações de sua responsabilidade e desta forma, a governança efetuava

a cobrança de resultados, mas não havia a contrapartida por parte de alguns

ceramistas. Desta forma, com o passar do tempo, após inúmeras cobranças, a

governança “relaxou” na cobrança de resultados.

Entre as ações que foram propostas e não houve a execução por parte dos

ceramistas, como já citado anteriormente, podem ser citadas como principais exemplos:

a construção da central de massa, o reflorestamento das áreas, a certificação no

programa de qualidade (PSQ) gerenciado pela ANICER, a implantação dos sistemas

logísticos de pallets e a verificação se as cerâmicas estão cumprindo as exigências

socioambientais estipuladas.

Um grupo de ceramistas inclusive, reclamou da falta de controle por parte da

governança, pois os resultados dos esforços coletivos ficam comprometidos com o fato

de que algumas cerâmicas não cumprem o que foi acordado.

Os ceramistas reivindicam até punições ou até mesmo a exclusão da empresa

do grupo, para o ceramista que não cumprir com as suas responsabilidades de

implantação das ações.

86

Desta forma, este indicador foi o que representou o menor ranking médio de

todos os quesitos pesquisados, alcançando uma pontuação de 3,2, que representa um

nível médio de desempenho da governança.

5.3.14 O papel da governança em incentivar a cooperação somente entre as empresas que fazem parte da aglomeração produtiva

Para a pesquisa deste indicador, especificamente, buscou-se identificar a opinião

dos entrevistados em relação ao nível de cooperação apenas entre os ceramistas que

fazem parte da aglomeração produtiva.

Conforme citado anteriormente na pesquisa do primeiro indicador, referente às

ações da governança em incentivar a cooperação entre os atores, pode-se considerar

que a pesquisa deste 14º indicador, busca identificar se os resultados das ações

implementadas pela governança em gerar cooperação estão obtendo sucesso.

O resultado de um elevado ranking médio pode ser justificado pelas ações da

governança de promoção de reuniões onde a cooperação é incentivada; a organização

de grupos de ceramistas para a realização de visitas técnicas e participação em feiras,

cursos e congressos; além da ação específica da governança em incentivar que cada

ceramista visite as empresas dos outros ceramistas, para o fortalecimento dos

relacionamentos entre os mesmos.

Desta forma, pôde-se perceber que em relação à cooperação entre os

ceramistas, a governança está conseguindo obter sucesso em função do elevado

ranking médio que este indicador apresentou, além das percepções obtidas pelos

relatos dos ceramistas a respeito do bom relacionamento entre eles.

E pelo resultado da pesquisa, este indicador apresentou um ranking médio de

4,6, que representa um nível muito alto de desempenho da governança em relação à

criação de um ambiente propício ao desenvolvimento da cooperação e integração entre

os ceramistas.

5.3.15 O papel da governança em incentivar a cooperação entre as empresas que fazem parte da aglomeração produtiva e as instituições que compõem a governança

87

Seguindo a mesma linha de raciocínio da pesquisa do indicador anterior que

buscava identificar o nível de cooperação entre os ceramistas, temos para a pesquisa

deste indicador, a análise do nível de cooperação entre os ceramistas e as instituições

que formam a estrutura de governança da aglomeração produtiva de cerâmica de

Campos dos Goytacazes.

Porém, foi detectado na pesquisa deste indicador que o nível de relacionamento

entre os ceramistas e as instituições não apresenta a mesma força que apresenta o

relacionamento dos ceramistas.

De acordo com os ceramistas, quando se trata de relacionamento com as

instituições que formam a governança, eles possuem um forte nível de relacionamento

com o SEBRAE, que realiza a articulação com as outras instituições quando

necessário.

Quando os ceramistas necessitam de algum suporte, o contato é estabelecido

pelo SEBRAE com esta instituição e de acordo com os ceramistas, quando as

instituições e os ceramistas trabalham em conjunto, o relacionamento é o melhor

possível.

Porém, eles afirmam que se ressentem em ter um contato mais direto com as

outras instituições que formam a governança, no momento que necessitam de um

apoio, de modo a não precisarem entrar em contato com o SEBRAE, para que este

faça a ponte entre o ceramista e a instituição.

Desta forma, torna-se necessário por parte da governança, buscar aumentar o

nível de integração entre os ceramistas e todas as instituições em função das

vantagens que a cooperação entre os atores pode proporcionar ao desenvolvimento da

aglomeração produtiva.

O ranking médio deste indicador apresentou o resultado de 3,4, indicando um

nível médio de desempenho da governança em relação ao incentivo à cooperação

entre estes atores.

5.3.16 O papel da governança em oferecer condições para que as empresas obtenham um maior nível de aproveitamento das ações implementadas

O objetivo de buscar identificar a opinião dos entrevistados em relação ao

indicador de aproveitamento das ações da governança, deve-se ao fato de perceber se

88

na opinião dos ceramistas, está havendo um aproveitamento satisfatório por parte das

empresas das ações implementadas pela governança.

De acordo com os ceramistas, eles conseguem se aproveitar das ações que a

governança implementa, mas poderiam se aproveitar mais ainda se houvesse um maior

nível de visão gerencial e comprometimento por parte dos gestores em cumprir com as

responsabilidades assumidas.

Desta forma, muitos ceramistas estão buscando se capacitar, participando dos

cursos oferecidos pela governança e até mesmo fazendo graduação em faculdades da

região, cursando normalmente administração e varejo.

De acordo com os ceramistas, a governança busca oferecer as melhores

condições de desenvolvimento para as empresas da aglomeração produtiva de

cerâmica de Campos dos Goytacazes. Assim, cabe aos ceramistas, buscarem também

a capacitação e o desenvolvimento para que consigam se aproveitar ainda mais das

ações implementadas pela governança em prol do arranjo.

O indicador pesquisado obteve o ranking médio de 4,1, representando um alto

nível de desempenho da governança em oferecer um ambiente propício ao

aproveitamento das ações implementadas.

5.3.17 O papel da governança em contribuir para o desenvolvimento da aglomeração produtiva

Neste último indicador pesquisado, buscou-se identificar de uma forma geral,

qual a opinião dos entrevistados a respeito do papel da governança em influenciar

positivamente a aglomeração produtiva através da mobilização de atores e a

implementação de ações que privilegiem o desenvolvimento coletivo e a cooperação.

De acordo com os ceramistas, entre os fatores que mais contribuíram

negativamente com o índice, não permitindo que a avaliação fosse melhor podem ser

citados: a falta de comprometimento “de alguns” ceramistas, deficiências na

acessibilidade a algumas instituições, a falta de controle dos resultados das ações e a

falta de um melhor nível de interação entre as empresas e as instituições que formam a

governança, excetuando-se o SEBRAE.

Já entre os fatores mais positivos citados pelos ceramistas estão: o

desenvolvimento comercial, a melhoria da gestão empresarial e da qualidade, a

89

elevação do nível de consciência socioambiental e da sustentabilidade dos negócios e

a criação de um centro para formação de mão de obra especializada, que foi a

construção do CVT – Cerâmica.

Porém um fator citado pelos ceramistas como de primordial importância é o nível

de cooperação entre eles, desenvolvido muito em função dos incentivos e da ação da

governança. Este nível de cooperação alcançado entre os ceramistas permitiu que todo

o processo se desenvolvesse e que fossem alcançassem os atuais níveis de sucesso.

Apesar disso, os ceramistas acreditam que ainda tem muito a melhorar e se

desenvolver.

De acordo com os ceramistas, com a governança eles passaram a ter um melhor

direcionamento das ações e o fato de atuarem de forma cooperativa traz muitos

benefícios, os quais eles não tinham “nem idéia”.

Eles consideram que a governança concedeu ao setor uma nova dinâmica, que

os impulsionou para o desenvolvimento, abrindo seus olhos para a qualidade, a

segurança, a responsabilidade socioambiental, a competitividade e a sustentabilidade.

O indicador pesquisado obteve um ranking médio de 4,3, que representa um alto

nível de desempenho da governança em direcionar o arranjo produtivo para o

desenvolvimento e para o sucesso.

Para encerrar esta subseção será apresentado o comentário de um ceramista,

que mostra de forma resumida a percepção dele e de outros ceramistas a respeito do

desempenho da governança em prol do desenvolvimento da aglomeração produtiva de

cerâmica de Campos dos Goytacazes.

O fato de estarmos comprometidos com as ações da governança nos deixou mais antenados ao mercado. Não estamos em tão boas condições como gostaríamos, mas certamente se não tivéssemos o apoio da governança, provavelmente estaríamos em piores condições do que as que estamos desfrutando atualmente (Ceramista Fundador da RCC- Rede Campos Cerâmica).

5.4 Análise global dos resultados

Buscando-se atender o objetivo principal deste trabalho de acordo com a

metodologia proposta, que é verificar se a estrutura de governança aplicada,

efetivamente contribui para o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica

90

de Campos dos Goytacazes, foram analisados os resultados obtidos pelas pesquisas

efetuadas, visando responder aos objetivos específicos propostos.

Em relação ao atendimento do objetivo específico 1, que trata da análise do

processo de estruturação da governança, pôde-se perceber que de forma geral, foram

efetivamente considerados os fatores fundamentais para a estruturação e

desenvolvimento da governança nesta aglomeração produtiva. O único fator detectado

como incongruente ao desenvolvimento do arranjo, é a necessidade de uma maior

mobilização dos ceramistas na busca de um maior nível de comprometimento.

Em se tratando da obtenção do objetivo específico 2, que se relaciona com a

análise das ações implementadas pela governança na aglomeração em questão, foi

possível identificar que a única ação que não é implementada legitimamente em

conjunto com a governança, é o incentivo ao desenvolvimento tecnológico. Desta forma

é importante que a governança busque uma maior integração com instituições que

oferecem este tipo de suporte, de modo que as ações sejam implementadas em um

contexto de maior cooperação.

Considerando o atendimento do objetivo específico 3, foi obtido um ranking

médio geral de 4,2, indicando um nível alto de desempenho da governança em

contribuir para o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos

dos Goytacazes.

Os resultados consolidados, de acordo com a percepção dos entrevistados,

serão apresentados no Quadro 8 a classificação dos indicadores em relação ao

desempenho da governança em prol do desenvolvimento da aglomeração produtiva em

tela.

Fatores relacionados ao nível de desempenho da governança da aglomeração produtiva

Classificação dos indicadores de nível de desempenho da governança

• Incentivo ao desenvolvimento comercial das empresas

• Incentivo à melhoria da gestão empresarial e da qualidade

• Incentivo à responsabilidade socioambiental

• Apoio a criação de centros para a formação de mão de obra especializada

• Utilização de um agente coordenador da governança

• Incentivo à cooperação entre os empresários

Muito Alto

91

• Evidenciação da importância da cooperação nos relacionamentos entre os empresários

• Implementação das ações seguindo um planejamento

• Promoção de ações que incentivam o desenvolvimento tecnológico

• Formação de parceiras com instituições que oferecem linhas de crédito e de fomento específicas para os ceramistas

• Incentivo à entrada de novas empresas em seu Programa Redes Associativas

• Oferecimento de melhores condições às empresas para obterem um melhor nível de aproveitamento das ações implementadas

• Contribuição da governança para o desenvolvimento da aglomeração produtiva

Alto

• Comprometimento dos atores com as ações propostas pela governança

• Comprometimento das instituições que formam a governança

• Controle dos resultados das ações planejadas

• Incentivo da cooperação entre as empresas as instituições que compõem a governança

Médio

Quadro 8: Classificação dos indicadores de desempenho da governança em contribuir para o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.

Fonte: Elaborado pelo autor.

92

CAPÍTULO VI

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste trabalho consistiu em analisar a estrutura de governança

adotada pela aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes, visando

investigar se o referido modelo efetivamente contribui para o desenvolvimento desta

aglomeração produtiva.

Para alcançar este objetivo, buscou-se analisar elementos estruturais, ações

implementadas pela governança e a percepção dos empresários sobre o desempenho

da governança em contribuir para o desenvolvimento da aglomeração.

Ao investigar o processo de estruturação da governança, buscou-se identificar

se foram contemplados neste processo os fatores considerados como fundamentais

para a estruturação e desenvolvimento de uma estrutura de governança de sucesso.

Constatou-se que, de forma geral, efetivamente foram considerados os referidos

fatores. Porém, a única inconsistência encontrada se trata da percepção de um baixo

nível de comprometimento por parte dos ceramistas em seguir as orientações de

implementação de ações propostas pela governança. Este é um fator preocupante, pois

de acordo com o referencial teórico levantado, o comprometimento dos atores é de

fundamental importância para o desenvolvimento e sucesso das aglomerações

produtivas.

Como alternativa a este problema, pode-se recomendar que a governança

implemente mais ações que busquem elevar o nível de conscientização dos ceramistas

a respeito da importância do comprometimento para o alcance dos objetivos coletivos e

do consequente sucesso da aglomeração produtiva como um todo.

No que diz respeito às ações implementadas pela governança, efetuou-se uma

análise comparativa entre estas ações e as ações normalmente implementadas em

aglomerações produtivas de sucesso disponíveis na literatura.

Através da análise dos resultados obtidos, foi possível identificar que a única

ação não implementada legitimamente em conjunto com a governança, é o incentivo ao

desenvolvimento tecnológico.

93

Este fato ocorre, pois apesar da UENF figurar como uma instituição participante

da governança que deve oferecer suporte tecnológico, pôde-se constatar que as ações

desenvolvidas por esta instituição em prol do desenvolvimento da aglomeração

produtiva em questão, não estão em harmonia com o planejamento realizado pela

governança.

De acordo com os pesquisadores da UENF, a justificativa para esta

incongruência está no fato de que já são desenvolvidas ações direcionadas ao pólo

cerâmico da região há tempos antes da estruturação da governança e que estas ações

não possuem qualquer vínculo com a governança do arranjo.

Em função desta situação, pode-se recomendar à governança que busque uma

maior integração com instituições que oferecem este tipo de suporte, principalmente a

UENF, de modo que as ações sejam implementadas em um contexto de maior

cooperação e sinergia, já que o objetivo final das instituições envolvidas com a

governança é o desenvolvimento regional.

No que diz respeito às percepções dos ceramistas em relação ao desempenho

da governança, este trabalho ouviu e analisou a opinião dos mais interessados no

processo, de forma a observar se a governança está efetivamente cumprindo o seu

papel.

Através da análise dos resultados, foi possível classificar os indicadores de

desempenho da governança e constatar que em função da metodologia adotada, a

estrutura de governança investigada apresenta um alto nível de desempenho em gerar

desenvolvimento para a aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos

Goytacazes.

Os indicadores classificados com um nível muito alto de desempenho são:

incentivo ao desenvolvimento comercial das empresas, o incentivo à melhoria da

gestão empresarial e da qualidade, apoio à criação de centros para a formação de mão

de obra especializada, utilização de um agente coordenador da governança e nível de

cooperação nos relacionamentos entre as empresas.

Já os indicadores que obtiveram a classificação de alto nível de desempenho

são: evidenciar a importância da cooperação nos relacionamentos entre os atores,

implementação das ações seguindo um planejamento, promoção de ações que

incentivam o desenvolvimento tecnológico, formação de parceiras com instituições que

94

oferecem linhas de crédito e de fomento específicas para os ceramistas, incentivo à

entrada de novas empresas em seu Programa Redes Associativas, o nível de

aproveitamento por parte das empresas das ações da governança e o nível de

contribuição da governança para o desenvolvimento da aglomeração produtiva.

E finalmente, como indicadores classificados com um nível médio de

desempenho, podem ser citados: o comprometimento dos atores com as ações

propostas pela governança, o comprometimento das instituições que formam a

governança, incentivo e cobrança de práticas de responsabilidade socioambiental,

controle dos resultados das ações planejadas e o nível de interação entre as empresas

as instituições que compõem a governança.

Conclusivamente, serão destacadas análises de determinados indicadores de

desempenho, que podem gerar futuras intervenções por parte da governança da

aglomeração produtiva em questão, em função das recomendações apresentadas.

Em relação ao indicador de desempenho da governança em incentivar práticas

de responsabilidade socioambiental, apesar de ter sido muito bem avaliado, foram

detectadas falhas no processo de controle sobre o cumprimento de certas exigências.

Conforme citado anteriormente, para que as empresas passem a fazer parte do

Programa Cerâmica Vermelha, é necessário que as mesmas se comprometam em

cumprir diversas exigências relacionadas à responsabilidade socioambiental. Porém

identificou-se que apesar do comprometimento inicial das empresas, não está havendo

por parte da governança um controle sobre o cumprimento destas exigências.

Desta forma, pode-se recomendar à governança a implementação de ações que

permitam um maior controle sobre o cumprimento das exigências socioambientais.

Outro indicador de desempenho importante a ser analisado é o que trata do

papel da governança em evidenciar a importância da cooperação entre os atores, que

apesar de ter sido classificado com um nível alto de desempenho, não tem surtido o

efeito desejado, haja vista que foi detectado que o nível de integração entre as

empresas e as instituições que formam a governança, excetuando-se o SEBRAE, foi

avaliado como médio.

Em contrapartida, foi detectada uma grande dependência das empresas que

fazem parte da aglomeração produtiva ao SEBRAE. De acordo com a literatura

corrente, a interdependência é primordial para o sucesso da aglomeração, pois desta

95

forma, a possibilidade de geração de sinergias é muito maior. Desta forma, quando se

configuram casos de dependências entre os atores, devem ser tomadas medidas para

que a interdependência e a cooperação entre todos os atores envolvidos tornem a

reinar.

Assim, recomenda-se que a governança busque implementar ações que gerem

maior integração entre os atores que compõem a aglomeração produtiva, de modo que

os resultados coletivos esperados não sejam comprometidos.

O trabalho também faz uma importante recomendação à governança a respeito

da ação de incentivar a entrada de novas empresas no Programa Cerâmica Vermelha,

que foi o gerador da RCC.

Este fato merece destaque, pois conforme detectado na pesquisa, atualmente

cogita-se por parte dos ceramistas que fazem parte da RCC, que seja cobrada uma

cota para a entrada de novos associados, a título de compensação pelo

desenvolvimento e pelos bens materiais adquiridos pela RCC desde a sua fundação.

Desta forma, o pagamento desta cota pode configurar-se em uma barreira aos

novos entrantes, contrariando o que a literatura propõe como desejável.

Assim, recomenda-se à governança que analise os procedimentos adotados pela

RCC em relação à participação de novas cerâmicas, pois ao invés de estar

contribuindo, pode na verdade estar impedindo o desenvolvimento da aglomeração

produtiva, em função de não permitir que outras empresas se beneficiem do

cooperativismo e da sinergia gerada por este grupo.

Visando contribuir nessa questão, o trabalho apresentou algumas

recomendações para o fortalecimento da governança e a garantia de continuar o seu

papel de agente de desenvolvimento da aglomeração produtiva em questão:

� Implementar ações que elevem o nível de conscientização dos ceramistas em

relação à importância do comprometimento para o alcance dos objetivos coletivos;

� Implementar ações que incentivem maior integração com instituições que

oferecem apoio ao desenvolvimento tecnológico, principalmente a UENF;

� Implementar ações que permitam um maior controle sobre o cumprimento das

exigências socioambientais;

� Implementar ações que gerem maior integração entre os atores que compõem

a aglomeração produtiva;

96

� Analisar os procedimentos de incentivo à entrada de novas empresas no

Programa Cerâmica Vermelha.

Com base na investigação presente, este trabalho procurou mostrar a

importância da estrutura de governança vigente para o desenvolvimento da

aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.

Deve-se ressaltar que o estabelecimento da governança é essencial ao

desenvolvimento das aglomerações produtivas, tendo em vista que a manutenção e

evolução dos projetos e ações planejadas não dependem unilateralmente dos atores

que fazem parte da aglomeração, mas de um esforço mútuo de cooperação em busca

do objetivo final.

Desta forma, a governança possui como atribuição liderar o arranjo produtivo,

direcionando-o para o crescimento através de ações que visam o envolvimento,

mobilização e coordenação das lideranças empresariais e sua articulação com as

instituições de apoio.

E finalmente, é de responsabilidade da governança que o seu desempenho seja

norteado pelos fatores de sucesso apresentados pela literatura, de modo a estimular a

geração da competitividade necessária para a evolução e desenvolvimento das

aglomerações produtivas, solidificando-as como efetivos mecanismos de

desenvolvimento regional.

97

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103

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIOS

Questionário 1:

A GOVERNANÇA NO APL DE CERÂMICA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES (RCC)

QUESTIONÁRIO ESTRUTURAÇÃO DA GOVERNANÇA

1. Como se iniciou o processo de estruturação da governança?

2. Faça um breve histórico sobre a RCC.

3. Quais as instituições que fazem parte da governança? (Contatos)

4. Quais são os objetivos da governança do APL de cerâmica de Campos dos Goytacazes?

5. Existe algum tipo de formalização da governança?

6. A governança é local?

7. A governança (instituições) é sempre acessível e comprometida?

8. Foi realizada algum tipo de análise (condicionantes) antes de se iniciar a estruturação da governança?

9. Você nota que possam existir assimetrias de poder entre as empresas em relação à participação nas

ações da governança?

10. Em que consiste e como é elaborado o planejamento estratégico? Existe um controle sobre as ações

planejadas?

11. Qual é o nível de consistência da governança?

12. Como é gerida a governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos?

13. Qual é a sua avaliação a respeito do nível de desenvolvimento deste arranjo?

14. Qual o nível de dependência da governança em relação à instituição coordenadora da rede?

15. Qual é a sua avaliação a respeito do número de cerâmicas que participam da RCC? Por que,

proporcionalmente o número de empresas é baixo? Que tipo de ações são implementadas para

incentivar novas adesões?

16. Os ceramistas, de uma forma geral, conseguem se aproveitar das ações promovidas pela governança

para seu desenvolvimento? Justifique.

17. Quais são os principais desafios ao desenvolvimento do apl?

18. Qual o nível de contribuição da governança para o arranjo?

104

Questionário 2:

PESQUISA SOBRE A GOVERNANÇA NO PÓLO CERÂMICO DE CAMPOS

DOS GOYTACAZES

QUESTIONÁRIO INSTITUCIONAL

Prezado(a) Senhor (a),

Gostaria de contar com sua colaboração nesta pesquisa para a construção de uma

dissertação de mestrado sobre a Governança no Pólo Cerâmico de Campos dos Goytacazes.

Este trabalho busca contribuir para o desenvolvimento deste arranjo produtivo e está

vinculado ao Curso de Mestrado em Engenharia de Produção da UENF.

Responda-o da forma que melhor represente sua opinião e concordância sobre cada item

apresentando.

1. Qual é o objetivo da participação da instituição que você representa na governança do Pólo Cerâmico

de Campos dos Goytacazes?

2. Que ações foram ou estão sendo implementadas, com a participação da sua instituição para melhorar

o nível de desenvolvimento do arranjo?

3. Gostaria finalmente de agradecer sua atenção e deixá-lo (a) à vontade para fazer qualquer

comentário, sugestão ou crítica a respeito do assunto tratado:

RESPONSÁVEL INSTITUIÇÃO

105

Questionário 3: