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UM ESTUDO DE CASO SOBRE A GOVERNANÇA DA AGLOMERAÇÃO PRODUTIVA DE CERÂMICA DE
CAMPOS DOS GOYTACAZES
EDSON TERRA AZEVEDO FILHO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO- UENF
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ JANEIRO – 2010
UM ESTUDO DE CASO SOBRE A GOVERNANÇA DA AGLOMERAÇÃO PRODUTIVA DE CERÂMICA DE
CAMPOS DOS GOYTACAZES
EDSON TERRA AZEVEDO FILHO Dissertação apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção.
Orientador: Prof. Alcimar das Chagas Ribeiro
CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ JANEIRO - 2010
ii
UM ESTUDO DE CASO SOBRE A GOVERNANÇA DA AGLOMERAÇÃO PRODUTIVA DE CERÂMICA DE
CAMPOS DOS GOYTACAZES
EDSON TERRA AZEVEDO FILHO
Dissertação apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção.
Aprovada em 14 de janeiro de 2010.
Comissão Examinadora: ___________________________________________________________________
Prof. Roberto Cezar Rosendo Saraiva da Silva (D. SC., Economia) - UFF
___________________________________________________________________ Prof. Sebastião Décio Coimbra de Souza (D. Sc., Ciências de Engenharia) - UENF
_________________________________________________________________ Prof. Paulo Marcelo de Souza (D.Sc., Economia Aplicada) - UENF
___________________________________________________________________ Prof. Alcimar das Chagas Ribeiro (D. Sc., Ciências de Engenharia) - UENF
Orientador
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AGRADECIMENTOS
Quero agradecer a todos que contribuíram para a realização deste trabalho, mas de forma especial:
A DEUS, que a cada dia me mostra como a vida é maravilhosa.
Ao Professor Alcimar, meu orientador, pela sua atenção e apoio, desde o início com a sugestão do tema até os retoques finais.
Aos Professores do LEPROD, mas principalmente o Professor Manuel Molina, o Professor José Arica e o Professor André Policani, pelas orientações e troca de idéias.
Aos colegas do mestrado, mas principalmente ao Rogério, Kátia, Georgia e Poliana, pela parceria, suporte e atenção.
Ao Sr. Paulo Clébio, pela sua atenção e disponibilidade em todos os contatos e entrevistas.
Ao Sr. Rodolfo, por toda sua paciência e grandiosa participação na realização deste trabalho.
Aos amigos do CVT - Cerâmica pelo apoio, em especial aos Sr. Etevaldo Pessanha e às Srtas. Lívia, Cátia, Cristiane e Elaine.
À todas as instituições que formam a governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes, que de forma muito solícita, participaram da pesquisa.
À Lívia, pela participação intensa e apoio em todos os momentos.
Ao meu Amigo e Irmão, Rodrigo Lira, por me mostrar o mundo acadêmico.
Aos amigos Renata Faria e Cristiano Marins, por me apresentarem à UENF.
Ao meu Irmão Alexandre, por permitir que eu pudesse me dedicar intensamente a este trabalho enquanto ele, competentemente, resolvia importantes questões familiares, e à Minha cunhada Isis, pelos contatos e pelas valiosas informações.
À Bernadetti e Pinheiro, pelo incentivo, inspiração e exemplo de vida.
E quero agradecer principalmente aos ceramistas, que me receberam em suas cerâmicas com toda boa vontade. Este trabalho é dedicado a vocês.
v
"Deve-se ter em mente que não há nada mais difícil de executar, nem de processo mais duvidoso, nem mais perigoso de conduzir do que iniciar uma nova ordem de coisas.” Nicollò Machiavelli
vi
RESUMO
UM ESTUDO DE CASO SOBRE A GOVERNANÇA DA AGLOMERAÇÃO PRODUTIVA DE CERÂMICA DE
CAMPOS DOS GOYTACAZES
Edson Terra Azevedo Filho
A proposta deste trabalho se constitui na análise da estrutura de governança
adotada pela aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes,
localizada na região Norte do Estado do Rio de Janeiro. Esta iniciativa está
fundamentada na percepção de que a organização produtiva através da
aglomeração de empresas se configura como uma importante estratégia de geração
de competitividade, principalmente para as micro e pequenas empresas (MPEs) que
fazem parte do objeto deste estudo. Porém, parte-se da premissa de que a
governança é um mecanismo fundamental para que os arranjos produtivos consigam
se desenvolver e atingir os níveis de sucesso desejados. Desta forma, o presente
estudo possui como objetivo central investigar se a estrutura de governança vigente
efetivamente contribui para o desenvolvimento desta aglomeração produtiva. A
metodologia adotada para atingir o objetivo proposto consistiu em um estudo de
caso exploratório que buscou analisar elementos estruturais, ações implementadas
pela governança e a percepção dos empresários sobre o desempenho da
governança em contribuir para o desenvolvimento da aglomeração. Foram
entrevistados empresários e também representantes de todas as instituições que
formam a estrutura de governança da aglomeração. Por fim, a análise dos
resultados obtidos permitiu concluir que apesar de se tratar de um processo em
constante evolução, a estrutura de governança adotada efetivamente contribui para
o desenvolvimento da aglomeração produtiva em questão. São também
apresentadas a título de contribuição, recomendações a respeito de possíveis
intervenções que venham tornar o desempenho da governança ainda mais decisivo
para o sucesso da aglomeração produtiva em questão.
Palavras-chave: Aglomerações Produtivas, Governança, Competitividade, Setor Cerâmico.
vii
ABSTRACT
A CASE STUDY ON CERAMIC CLUSTER GOVERNANCE IN CAMPOS DOS GOYTACAZES
Edson Terra Azevedo Filho
The purpose of this work presents the analysis of the governance model adopted by
the ceramic cluster in Campos dos Goytacazes, located in the northern region of Rio
de Janeiro. This initiative is based on the perception that the productive organization
through the cluster of firms should be seen as an important strategy for generating
competitiveness, especially for micro and small enterprises (MSEs) that are part of
the object of this study. However, it starts from the premise that governance is a
fundamental mechanism for the production arrangements are able to develop and
attain the desired success. Thus, this study has as main objective to investigate
whether the current governance model effectively contributes to the development of
this cluster. The methodology adopted to achieve this purpose consisted of an
exploratory case study aimed to analyze structural elements, actions taken by the
governance and the perception of entrepreneurs on the performance of governance
contribute to the development of the cluster. Interviews were also businessmen and
representatives of all institutions that make up the governance structure of the
agglomeration. Finally, the analysis of results showed that although it is a constantly
evolving process, the governance model adopted effectively contributes to the
development of the cluster in question. Are also presented as a contribution
recommendations on possible interventions that may make the performance of
governance even more decisive for the success of this cluster.
Keywords: Clusters, Governance, Competitiveness, Ceramic Industry.
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Organizações que normalmente formam uma aglomeração produtiva
24
Figura 2: Fluxograma de Processo Produtivo da Cerâmica Vermelha 33
Figura 3: Localização do município de Campos dos Goytacazes 35
Figura 4: Representação da estrutura de governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes
46
ix
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Representação esquemática do processo para a realização dos objetivos do trabalho
50
Quadro 2: Síntese dos fatores fundamentais para a estruturação e desenvolvimento da governança em aglomerações produtivas
51
Quadro 3: Principais ações implementadas pela governança em aglomerações produtivas de reconhecido sucesso
52
Quadro 4: Principais ações implementadas pela governança em aglomerações produtivas de reconhecido sucesso
55
Quadro 5: Classificação dos indicadores resultantes do estabelecimento de relações entre os níveis de concordância e discordância e as notas atribuídas a cada indicador de desempenho
57
Quadro 6: Exemplo de cálculo do ranking médio 58
Quadro 7: Intervalos para classificação dos resultados obtidos a partir do Ranking Médio (RM)
59
Quadro 8: Classificação dos indicadores de desempenho da governança em contribuir para o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes
90
x
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANFACER Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento
ANICER Associação Nacional da Indústria Cerâmica
CEFET Centro Federal Tecnológico
CVT Centro Vocacional Tecnológico
DRM – RJ Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro
FAETEC Fundação de Apoio à Escola Técnica
FAPERJ Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
FEEMA Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
FENORTE Fundação Estadual Norte Fluminense
FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísica
IEF Instituto Estadual de Florestas
IFF Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense
INEA Instituto Estadual do Ambiente
INVESTE RIO Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro
LABCERV Laboratório de Cerâmica Vermelha
MPE Micro e Pequena Empresa
PMC Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes
PSC Programa Setorial da Qualidade
RM Ranking Médio
RCC Rede Campos Cerâmica
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
xi
SECT Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SERLA Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas
SICCC Sindicato da Indústria Cerâmica para Construção de Campos
SIGEOR Sistema de Informações da Gestão Estratégica Orientada para Resultados
UCAM Universidade Cândido Mendes
UENF Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
xii
SUMÁRIO
CAPÍTULO I
1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 16
1.1 O problema de pesquisa.................................................................... 19
1.2 Premissa.............................................................................................. 20
1.3 Objetivos.............................................................................................. 20
1.3.1 Objetivo geral........................................................................................ 20
1.3.2 Objetivos específicos............................................................................ 20
1.4 Justificativas....................................................................................... 21
1.5 Unidade de pesquisa.......................................................................... 21
1.6 Estrutura do trabalho.......................................................................... 22
CAPÍTULO II
2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................... 23
2.1 A governança em aglomerações produtivas.................................... 23
2.1.1 Fatores fundamentais para a estruturação da governança.................. 26
2.1.2 Principais ações implementadas pela governança para o sucesso das aglomerações produtivas .............................................................. 28
CAPÍTULO III
3 O SETOR CERÂMICO.......................................................................... 32
3.1 Uma visão panorâmica do setor........................................................ 32
3.2 A aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes......................................................................................... 35
3.3 A construção da estrutura de governança adotada pela aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes 36
3.3.1 A trajetória da Rede Campos Cerâmica (RCC).................................... 37
3.3.2 O processo de estruturação da governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes............................. 41
xiii
CAPÍTULO IV
4 METODOLOGIA................................................................................... 48
4.1 Tipologia da pesquisa....................................................................... 48
4.2 Estruturação teórica..................................................................... 49
4.3 Aspectos metodológicos da pesquisa ............................................. 49
4.3.1 Aspectos metodológicos para obtenção do objetivo específico 1......... 50
4.3.2 Aspectos metodológicos para obtenção do objetivo específico 2 ........ 52
4.3.3 Aspectos metodológicos para obtenção do objetivo específico 3 ........ 54
4.4 Método de análise de dados.............................................................. 56
4.5 Pré-Teste.............................................................................................. 59
4.6 Limitações da pesquisa...................................................................... 59
CAPÍTULO V
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS............................ 61
5.1 Análise do processo de estruturação da governança..................... 61
5.2 Análise das ações implementadas pela governança...................... 65
5.3 Análise da percepção dos ceramistas a respeito do nível de contribuição da governança para o desenvolvimento da aglomeração........................................................................................ 70
5.3.1 O papel da governança em evidenciar a importância da cooperação nos relacionamentos entre os empresários que fazem parte da aglomeração produtiva......................................................................... 70
5.3.2 O papel da governança em incentivar o comprometimento das empresas que fazem parte da aglomeração produtiva em relação às ações da governança............................................................................ 72
5.3.3 O papel da governança em incentivar o desenvolvimento comercial das empresas da aglomeração produtiva............................................. 74
5.3.4 O papel da governança em estabelecer parcerias com instituições que oferecem linhas de crédito e de fomento específicas para os ceramistas............................................................................................. 75
5.3.5 A ação da governança em promover ações que incentivam o desenvolvimento tecnológico das empresas da aglomeração.............. 76
5.3.6 O papel da governança em incentivar a melhoria da gestão empresarial e da qualidade nas empresas da aglomeração produtiva. 77
xiv
5.3.7 O papel da governança em incentivar o comprometimento das instituições que a compõem.................................................................. 78
5.3.8 O papel da governança em incentivar práticas de responsabilidade social e sustentabilidade nas empresas da aglomeração produtiva..... 79
5.3.9 O papel da governança em implementar ações seguindo um planejamento estratégico...................................................................... 81
5.3.10 O papel da governança em apoiar a criação de centros para a formação de mão de obra especializada.............................................. 82
5.3.11 O papel da governança em utilizar um agente coordenador da governança para mobilização dos atores que fazem parte da aglomeração produtiva.......................................................................... 83
5.3.12 O papel da governança em incentivar a entrada de novas empresas em seu Programa Cerâmica Vermelha................................................. 84
5.3.13 O papel da governança em controlar os resultados das ações planejadas............................................................................................. 85
5.3.14 O papel da governança em incentivar a cooperação somente entre as empresas que fazem parte da aglomeração produtiva.................... 86
5.3.15 O papel da governança em incentivar a cooperação entre as empresas que fazem parte da aglomeração produtiva e as instituições que compõem a governança.............................................. 86
5.3.16 O papel da governança em oferecer condições para que as empresas obtenham um maior nível de aproveitamento das ações implementadas...................................................................................... 87
5.3.17 O papel da governança em contribuir para o desenvolvimento da aglomeração produtiva.......................................................................... 88
5.4 Análise global dos resultados........................................................... 89
CAPÍTULO VI
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 92
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 97
APÊNDICE.......................................................................................................... 103
xv
16
CAPÍTULO I
1 INTRODUÇÃO
A tendência cada vez mais acentuada de um mundo sem fronteiras, dominado
por “forças de mercado incontroláveis” (LASTRES; CASSIOLATO, 1998, p. 2) em
função do constante avanço da globalização econômica, traz para o nosso cotidiano
muitas mudanças e principalmente para o mundo corporativo, que para alcançar o
almejado sucesso, necessita desenvolver diferenciais competitivos que lhe garantam a
sobrevivência e sustentabilidade.
O sucesso empresarial consiste na criação e manutenção de vantagens
competitivas que propiciem às empresas, exercerem prolongado poder no mercado, de
modo a ocuparem posições privilegiadas nos setores de atuação (FLECK, 2004). Neste
contexto, evidencia-se a importância da busca por melhores níveis de competitividade
por parte das organizações.
Dentre os diversos conceitos disponíveis, a competitividade pode ser entendida
como a capacidade de obter lucratividade e gerar valor a custos iguais ou inferiores aos
de seus concorrentes (PORTER, 1993) e estaria ligada a alguns conjuntos específicos
de fatores como: intensidade e adaptação de tecnologias ao negócio da empresa,
custos e condições de obtenção de recursos, nível de diferenciação, economias de
escala e fatores externos (HARRISON; KENNEDY, 1997).
As mudanças no ambiente competitivo têm trazido novas demandas por eficiência, qualidade e flexibilidade para as organizações e mais recentemente, algumas evidências passaram a indicar um novo requisito essencial para o sucesso: a inovação (MAXIMIANO; SBRAGIA; KRONER, 1997, P.1).
A inovação passa então a participar de forma mais consistente do ambiente
corporativo e pode ser considerada como um dos fatores básicos para o
desenvolvimento do nível de competitividade econômica sustentável (SEBRAE, 2003),
à medida que torna as empresas capazes de se diferenciarem de seus concorrentes.
A capacidade de gerar inovações tem sido identificada consensualmente como
fator chave do sucesso de empresas e nações (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2003) e em
função da emergência deste novo paradigma empresarial, o desenvolvimento das
17
capacidades inovativas se tornou necessário e dependente de consideráveis
investimentos por parte das empresas.
Porém, para a geração da inovação, são necessários maciços investimentos por
parte das empresas, além do desenvolvimento de outras competências. Os gastos
anuais em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das empresas líderes já são maiores
que seus investimentos em capital fixo. Desta forma, a tendência é que as grandes
corporações predominem no mercado, em função de uma maior capacidade de
estruturação e aplicação de recursos em desenvolvimento tecnológico, aumentado
assim, suas chances de estabelecer diferenciais competitivos e buscar seu espaço no
mercado de uma forma mais consistente (LASTRES; CASSIOLATO, 1998).
Porém, como se inserem as micro e pequenas empresas (MPEs) neste contexto
de grandes corporações, alta competição e da necessidade de elevados níveis de
investimentos?
De acordo com a análise efetuada por Pedrazzi e Vieira (2008, p. 1), 68,28% dos
trabalhadores do Brasil estão nas MPEs e 43,63% do faturamento bruto da produção
industrial são provenientes destas empresas, demonstrando assim sua importância no
âmbito econômico-social brasileiro.
As MPEs contudo, de acordo com um amplo estudo realizado pelo IBGE (2003),
apresentam certas características como: baixo volume de capital empregado, altas
taxas de mortalidade, baixo acesso a financiamentos e baixo investimento em inovação
tecnológica, que não lhes conferem condições ideais de se estruturarem para enfrentar
um mercado tão competitivo como citado anteriormente.
Desta forma, mediante ao contexto em que se encontram as MPEs, surgem
então as aglomerações produtivas como uma importante alternativa econômica e social
que vêm apresentando consistentes resultados para o sucesso, principalmente das
empresas que fazem parte destes arranjos, em muitos países e mais recentemente no
Brasil (STAINSACK, 2006).
A organização produtiva em aglomerações tem-se mostrado como importante
alternativa econômica capaz de oferecer condições para que principalmente as MPEs
consigam desenvolver melhores níveis de competitividade.
Atualmente os arranjos produtivos locais se destacam por oferecerem
principalmente às micro e pequenas empresas que o compõem, maiores chances de
18
sucesso, além de serem considerados como importante mecanismo de
desenvolvimento regional, em função da elevação do nível de emprego e renda destas
localidades onde as aglomerações se instalam (LEITE; LOPES; SILVA, 2009, p. 68).
Um fato importante a ressaltar é que nesta nova abordagem econômica, uma
das suas principais características está associada à presença de pequenas empresas,
contemplando assim as organizações que são objeto deste estudo (SANTOS; DINIZ;
BARBOSA, 2004).
Apesar da ampla discussão acadêmica sobre concentração industrial e
competitividade, desde Marshall (CHIOCHETTA; HATAKEYAMA, 2007), passando
pelos estudos de Porter (1993) com a apresentação do conceito de cluster e a
descrição da experiência italiana com seus distritos industriais, a experiência brasileira
na organização de cluster é bastante recente.
Existem inúmeros conceitos a respeito das aglomerações produtivas na literatura
mundial. Um conceito mais simples pode ser concebido como redes de empresas,
situadas em uma mesma área geográfica, que desenvolvem uma forte
interdepencência produtiva através da cooperação e da busca de objetivos coletivos
(GILSING, 2000; NICOLUCI, 2007).
Outro conceito, que é mais amplamente difundido, foi cunhado pela Rede de
Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (Redesist), coordenada pelo
Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que trata as
aglomerações produtivas como sistemas locais de produção e inovação, conceituando-
os como:
Aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, que apresentam vínculos consistentes de articulação, interação, cooperação e aprendizagem. Incluem não apenas empresas – produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de serviços, comercializadoras, clientes, etc. e suas variadas formas de representação e associação – mas também outras instituições públicas e privadas voltadas à formação e treinamento de recursos humanos, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção e financiamento (LASTRES; CASSIOLATO, 2005, p. 3).
O importante é compreender que a cooperação é a chave para a geração da
sinergia para obtenção de vantagens competitivas e que, dificilmente, estas empresas a
obteriam se estivessem atuando isoladamente.
19
Apesar destas aglomerações receberem os mais diversos nomes como: arranjos
produtivos locais (APL), segundo o SEBRAE e outros órgãos governamentais; clusters,
tipologia que ganhou muita força com os estudos de Porter (1993); sistemas produtivos
locais (SPL) de acordo com a REDESIST, entre outros, utilizaremos a denominação de
aglomerações produtivas, de modo a propositadamente não abordar as diferenças de
conceitos existentes a respeito destes arranjos, já que este não é o objetivo central do
trabalho.
Podem ser citados como exemplos de aglomerações de sucesso em todo o
Brasil: o arranjo de calçados do Vale do Rio dos Sinos (RS) e Campina Grande (PB);
móveis em Ubá (MG) e Arapongas (PR); confecções em Itajaí (SC), Nova Friburgo e
Petrópolis (RJ) e Cianorte (PR); mármore e granito (ES), frutas tropicais (NE), software
em Campinas (SP) e Joinvile (SC), entre outros.
Porém, de modo que as aglomerações produtivas se tornem efetivos
mecanismos de geração de competitividade para as empresas que as formam, é
fundamental o estabelecimento de um sistema de governança para mobilizar os atores
e direcionar todos os esforços para a busca de objetivos coletivos de desenvolvimento
e evolução (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2002).
Na região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente na
cidade de Campos dos Goytacazes, localiza-se uma aglomeração produtiva de
cerâmica vermelha que possui um papel socioeconômico muito importante em função
do volume de empregos e receitas gerados para o município.
Porém, esta aglomeração produtiva apresenta características comuns ao setor
cerâmico brasileiro, que é composto principalmente de Micro e Pequenas Empresas
(MPEs), com gestão familiar que utilizam geralmente tecnologias rudimentares,
resultando na baixa qualidade dos produtos e menor nível de competitividade em
relação aos players do mercado mundial. (DUAILIBI FILHO, CARVALHO, 2002).
1.1 O problema de pesquisa
A identificação de deficiências na presente aglomeração tais como: baixos níveis
de qualidade, produtividade e qualificação da mão de obra, além da utilização de técnicas
20
obsoletas de produção são consideradas pelo trabalho como fatores inibidores da
competitividade setorial.
A literatura corrente tem indicado que a utilização da estratégia de governança,
poder contribuir fundamentalmente para o desenvolvimento das aglomerações produtivas
em situações similares.
Neste caso, o problema de pesquisa se configura da seguinte forma: a estrutura
de governança vigente efetivamente contribui para o desenvolvimento da
aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes?
1.2 Premissa
Este trabalho adota como premissa que o estabelecimento de uma estrutura de
governança é fundamental para o desenvolvimento e sucesso das aglomerações
produtivas. Porém, é necessário que estejam presentes nesta estrutura, determinados
elementos como os fatores fundamentais e a implementação de ações, de modo a
possibilitar que a governança efetivamente cumpra seu papel de desenvolver estas
aglomerações produtivas.
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo Geral
Como objetivo geral, busca-se neste trabalho investigar se a estrutura de
governança vigente efetivamente contribui para o desenvolvimento da aglomeração
produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.
Para a realização do objetivo geral, são propostos três objetivos específicos.
1.3.2 Objetivos Específicos
1- Verificar se no processo de estruturação da governança foram observados os fatores
considerados pela literatura como fundamentais para a estruturação e desenvolvimento
das aglomerações produtivas de sucesso.
21
2- Verificar se no conjunto das ações implementadas pela governança na aglomeração
produtiva em questão, estão presentes as principais ações implementadas em
aglomerações produtivas de sucesso.
3- Analisar as percepções dos ceramistas em relação ao nível de contribuição da
governança para o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de
Campos dos Goytacazes.
1.4 Justificativas
Como a governança é um elemento chave para o desenvolvimento das
aglomerações produtivas, desenvolver um trabalho de pesquisa nesta área pode
contribuir para a elaboração de políticas públicas para o desenvolvimento das
aglomerações produtivas e a consequente dinamização da economia local.
A escolha da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes foi
motivada principalmente pelo estudo de Britto (2004), que indicou que esta
aglomeração possui grande importância regional, em função da geração de receitas e
empregos. De acordo com o Sindicato da Indústria Cerâmica para Construção de
Campos (SICCC), estima-se que a atividade gere em torno de 5.000 empregos diretos
e outros 25.000 indiretos.
Outra importante justificativa do trabalho é buscar o resgate da importante visão
de integrar o conhecimento da universidade ao conhecimento empírico da atividade
econômica regional, visando apoiar o processo de construção de estratégias
competitivas e fomento ao desenvolvimento da região Norte Fluminense.
1.5 Unidade de Pesquisa
A unidade de pesquisa escolhida compreende a própria estrutura de governança
da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes, que contempla
quatorze instituições que atuam no apoio ao aglomerado.
22
Porém, dentre as referidas instituições, deve-se destacar uma em especial, que é
uma rede de empresas formada a partir do desenvolvimento de um programa implantado
pela governança, chamado de Programa Cerâmica Vermelha.
Esta rede de empresas é a RCC (Rede Campos Cerâmica), que é formada por
treze empresários, proprietários de empresas ceramistas que fazem parte da
aglomeração.
Desta forma, a escolha desta unidade de pesquisa se justifica, pois acredita-se
que as pesquisas efetuadas com os atores que compõem a estrutura de governança
serão suficientes para atender ao objetivo geral e aos objetivos específicos do trabalho.
1.6 Estrutura do trabalho
O CAPÍTULO I é composto pela Introdução, que se inicia com a contextualização
do assunto e os demais itens que a compõem: 1.1 Problema da Pesquisa; 1.2
Premissa; 1.3 Objetivos; 1.4 Justificativas; 1.5 Unidade de Pesquisa e 1.6 Estrutura do
Trabalho.
O CAPÍTULO II compreende a revisão da literatura, abordado as aglomerações
produtivas e a governança, assim como seus fatores estruturais e principais ações.
Logo após é apresentada no CAPÍTULO III, uma visão geral sobre o setor
cerâmico no Brasil e também sobre como se apresenta a aglomeração produtiva de
cerâmica de Campos dos Goytacazes neste contexto. Será apresentado também neste
capítulo um histórico do processo de construção da governança da aglomeração, como
também a caracterização das instituições que formam a estrutura de governança.
O CAPÍTULO IV traz a metodologia utilizada, nas seguintes subseções: tipologia
da pesquisa, estruturação teórica, aspectos metodológicos, método de análise dos
dados, pré-teste e limitações da metodologia.
O CAPÍTULO V é composto pela apresentação e análise dos resultados das
pesquisas realizadas e as considerações finais compõem o CAPÍTULO VI.
23
CAPÍTULO II
2 REVISÃO DA LITERATURA
O objetivo deste capítulo é apresentar os fundamentos da governança e
evidenciar sua importância nas diversas configurações de aglomerados produtivos.
2.1 A governança em aglomerações produtivas
Apesar da grande representatividade das aglomerações produtivas para a
sociedade, vistos como um grande agente de desenvolvimento econômico, o sucesso
do arranjo normalmente não ocorre por acaso.
É necessário que exista um forte nível de organização e coordenação das
instituições que compõem o aglomerado, para que os objetivos coletivos de
desenvolvimento e crescimento sejam alcançados.
Desta forma, um fator considerado como primordial para o sucesso destes
arranjos empresariais é a governança, tema sobre o qual se materializa o foco do
presente trabalho.
Em função do nível de complexidade das relações entre os atores que compõem
as aglomerações e da multiplicidade de interesses, é de fundamental importância que
exista um forte sistema de coordenação e liderança que direcione todos os esforços
para um objetivo comum que é o crescimento e desenvolvimento destes arranjos
(IACONO; NAGANO, 2007).
É importante ressaltar que conforme o conceito de aglomerações produtivas
estabelece, sua estrutura organizacional é formada por empresas, mas também por
outras organizações que, através da interação e criação de fortes vínculos
institucionais, oferecem suporte e apoio ao desenvolvimento da aglomeração.
Os atores que normalmente compõem as organizações produtivas podem ser
apresentados conforme a Figura 1.
24
FIGURA 1 – Organizações que normalmente formam uma aglomeração produtiva.
Fonte: elaborada pelo autor.
Desta forma, Suzigan,Garcia e Furtado (2007) consideram a governança como
um dos aspectos mais complexos dentre os que caracterizam a dimensão espacial das
atividades produtivas e inovativas.
Neste ponto é que entra em cena a importância da governança para permear o
relacionamento entre os atores que compõem o arranjo, pois como ela trata de
aspectos institucionais do sistema, o papel e o relacionamento entre as organizações e
instituições que formam a aglomeração produtiva é de fundamental importância para
seu sucesso (LIM, 2006).
Para que as aglomerações consigam obter um maior aproveitamento de suas
potencialidades, é crucial a existência de formas de governança locais que estimulem a
manutenção de relações cooperativas entre os atores, criando um ambiente propício ao
desenvolvimento e ao incremento da competitividade do conjunto de empresas
(SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2002).
Mas o que vem a ser esta governança a qual estamos nos referindo? Um
simples conceito de governança pode ser entendido como as bases institucionais pelas
quais regras são estabelecidas e executadas visando um objetivo definido (NADVI,
2008).
A governança em aglomerações produtivas também pode ser definida como:
ações coletivas dos atores que compõem o arranjo, com o objetivo de desenvolvê-lo,
25
através da construção e manutenção de vantagens competitivas sustentáveis
(GILSING, 2000).
Porém existem definições mais abrangentes que são de fundamental importância
para o entendimento do termo governança em aglomerações, como a citada a seguir.
Entende-se a governança em aglomerações produtivas como a capacidade de comando ou coordenação que certos agentes (empresas, instituições ou mesmo um agente coordenador) exercem sobre as inter-relações produtivas, comerciais, tecnológicas e outras, influenciando decisivamente o desenvolvimento do sistema ou aglomeração produtiva local. (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2007, p.1).
De acordo com Gereffi e Mayer (2006, p. 41), a governança pode se apresentar
de várias formas e se distinguem entre governança de “mercado”, “corporativa” e
“industrial”.
A governança de mercado se refere às estruturas institucionais por meio das quais os mercados operam, onde os contratos são cumpridos e os resultados são alcançados. A governança corporativa endereça a responsabilidade da empresa a seus vários stakeholders: acionistas, empregados e a comunidade na qual a empresa está situada, enquanto a governança industrial está relacionada com a organização dos relacionamentos entre os vários atores engajados em uma cadeia global de suprimento.
Apesar de existirem diversas abordagens a respeito da análise da governança
em aglomerações produtivas, este trabalho será direcionado para as formas de
governança locais como fator de desenvolvimento do sistemas produtivos com baixos
níveis de assimetrias de poder, cujos autores principais desta linha de pensamento são:
Gereffi (1994), Markusen (1995), Storper e Harrison (1991) e Humphrey e Schmitz
(2000) (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2007).
Neste sentido, Humphrey e Schmitz (2000) apontam que existem formas de
governança local, pública e privada, que desenvolvem ações visando o sucesso do
arranjo, podendo estas serem coordenadas pelo setor público, por meio de políticas
públicas, ou por agentes privados, como associações de classe. Estes autores
ressaltam ainda que na maioria das aglomerações, o sistema de governança é híbrido,
demonstrando que nestes arranjos, as articulações envolvem tanto os setores públicos
e privados para o seu desenvolvimento.
Em relação aos tipos de governança existentes, a classificação de Markussen
(1995) indica que as empresas locais podem se organizar em forma de redes ou na
forma hierárquica.
26
Na forma de redes, observa-se a existência de aglomerações de MPE’s, sem a
presença de grandes empresas localmente instaladas, que possam desempenhar o
papel de coordenação das atividades econômicas e tecnológicas. Estas formações em
redes são as que tipicamente são estudadas.
Já a organização hierárquica ocorre quando existem grandes empresas,
conhecidas também como âncoras da economia local, com real ou potencial
capacidade de coordenar as relações econômicas e tecnológicas no âmbito local.
Podem ser citados como casos clássicos deste tipo de formação, a Boieng, em
Seattle (EUA), a Toyota, em Toyota City (Japão) e algumas montadoras de automóveis
no Brasil (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2003).
Foram apresentados nesta subseção, conceitos, tipologia, funções e outras
características da governança em aglomerações produtivas. Na próxima seção serão
detalhados fatores considerados como fundamentais para a construção de uma boa
governança em aglomerações produtivas, tendo como base o referencial teórico
levantado neste trabalho.
2.1.1 Fatores fundamentais para a estruturação da governança
As aglomerações produtivas, ao almejarem o sucesso e desenvolvimento, devem
cuidar para que a governança seja norteada por determinados fatores que lhe
propiciem um ambiente de maior desempenho.
De acordo com Azevedo Filho e Ribeiro (2009), existem fundamentos essenciais
que além de permear o relacionamento entre as organizações, devem direcionar as
ações e posicionamentos estratégicos da aglomeração produtiva, de modo a favorecer
o processo de governança. Desta forma, serão apresentados a seguir importantes
fatores fundamentais para a estruturação e desenvolvimento da governança:
Antes de qualquer consideração é preciso deixar claro que a questão da
governança em aglomerações produtivas só se estabelece, quando as organizações
buscam não somente se apropriar das vantagens competitivas locais decorrentes de
economias de escala, mas também de implementar iniciativas coletivas e desenvolver
ações conjuntas, de modo a buscar a eficiência coletiva (SCHMITZ; NADVI, 1999).
27
Desta forma, é imprescindível que exista uma vontade comum dos componentes
do arranjo de iniciar esta empreitada. A estruturação da governança, além de ser uma
tarefa árdua, onde os resultados só aparecem ao longo do tempo, deve-se cuidar da
consistência desta construção, pois em muitos casos quando uma tentativa inicial
fracassa, para retomar o processo é mais difícil, devido principalmente à falta de
credibilidade e resistência a novas iniciativas (GARCIA; MOTTA; AMATO NETO, 2004).
O interesse na formação da governança normalmente surge através de
lideranças locais, que estimulam a formação de associações entre os empresários e a
própria construção da estrutura da governança local. Entende-se como estrutura, as
organizações que farão parte formalmente da governança.
A estruturação da governança ocorre normalmente com a formação de um
conselho que conta com a participação das organizações que compõem o arranjo,
“tendo como objetivos fundamentais unir as organizações de forma articulada e
cooperada, evitando assim ações divergentes e a dispersão de esforços” (STAINSACK,
2006). Desta forma, o conselho assume a função de catalisador “do processo de
desenvolvimento local por meio de ações de fomento à competitividade e de promoção
do conjunto das empresas.” (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2002, p. 10).
Após iniciada esta etapa, um fator de grande importância é que a governança
seja local, isto é, a estrutura física onde as decisões a respeito da governança são
tomadas, deve estar alocada no arranjo, em função de uma maior proximidade e
conhecimento da realidade local (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2007, p. 1).
Deve-se ressaltar que cada aglomeração pode envolver diferentes atores, além
de refletir formas diferenciadas de articulação, níveis de desenvolvimento, governança
e enraizamento, portanto não existe um modelo genérico de governança que possa ser
implantado (CASSIOLATO; LASTRES, 2003, p. 8).
Em se tratando de relacionamento entre organizações, para que a governança
tenha maiores chances de sucesso, de acordo com o conceito de aglomerações
produtivas, é fundamental a presença de diversos tipos de organizações, que sejam
capazes de mobilizar e liderar os componentes do arranjo, oferecendo o suporte
necessário para o desenvolvimento das empresas e consequentemente de toda a
aglomeração (VILLELA et al., 2004). Porém este mesmo autor ressalta que a
28
construção da governança deve ser participativa, sendo elaborada a partir do consenso
das necessidades e possibilidades de todos os atores envolvidos.
Além da exigência de um alto nível de comprometimento, um importante fator
destacado pela literatura sobre aglomerações produtivas de sucesso, é o nível de
integração das instituições e a coesão da governança, pois como esta, em sua
essência visa se articular para a promoção do desenvolvimento do arranjo é necessário
um grande envolvimento e integração das instituições para que os objetivos da
aglomeração produtiva sejam atendidos (CIANFERONI, 1993).
Por fim, considerando que cada aglomeração produtiva possui características
únicas, antes de iniciar o processo de implantação da governança em aglomerações
produtivas, devem ser efetuadas análises com o objetivo de conhecer melhor o arranjo
e levar em consideração uma série de fatores que condicionam a governança local.
Os autores que oferecem um excelente trabalho neste aspecto são Suzigan,
Garcia e Furtado (2007, p. 11), que incluem como condicionantes os seguintes fatores:
� A estrutura de produção, número e porte de empresas;
� A natureza do produto, da atividade econômica e sua base tecnológica;
� A forma de organização da produção e divisão do trabalho;
� A forma de inserção comercial das empresas locais nos mercados;
� A existência ou não de empresas dominantes;
� As instituições locais, seu grau de desenvolvimento e relacionamento com o
setor produtivo;
� O contexto social, cultural e político, suas características quanto a
associativismo, solidariedade, coesão social, confiança e capacidade de gerar
lideranças locais.
Estas avaliações têm como objetivo fornecer um maior número de informações
possíveis a respeito do arranjo, de forma a direcionar as ações de estruturação da
governança.
2.1.2 Principais ações implementadas pela governança para o sucesso das
aglomerações produtivas
29
O papel da governança é fundamental para a construção de vantagens
competitivas, troca de conhecimentos e novas formas de aprendizagem capacitadoras
para lidar com a complexidade da dinâmica de mercado (VILLELA et al., 2004).
Portanto, a partir do momento em que a estrutura da governança é formada e já
se conhece com maior profundidade o contexto no qual a aglomeração está inserida, a
mesma deve cumprir o seu papel de efetivamente conduzir o arranjo ao sucesso,
através da implementação de ações que visam cuidar dos seus interesses coletivos.
Para consolidação e desenvolvimento de uma aglomeração produtiva, é
necessário um plano de ação coletiva, com a identificação dos fatores dificultadores,
gargalos, pontos críticos, entraves e pontos de ineficiência das empresas, vislumbrando
também facilidades e ganhos resultantes destas ações (IPARDES, 2004).
Desta forma serão elencadas abaixo as principais ações que são implantadas
por estruturas de governança de aglomerações produtivas de sucesso:
Segundo Villela et al.(2004, p. 13), uma das principais funções da governança é
a elaboração de um planejamento estratégico que definirá quais ações serão
implementadas para o alcance dos objetivos da aglomeração. E neste ínterim, é
também informar aos componentes da aglomeração todos os passos que estão sendo
planejados, além do andamento dos projetos.
A governança deve ressaltar aos empresários e organizações, que toda ação
deve sempre buscar atender os objetivos comuns estipulados para desenvolvimento do
arranjo, mostrando que qualquer iniciativa individual coloca em risco todo o trabalho de
governança. Este fato pode ocorrer caso uma empresa atue de forma isolada, e assim
não aproveite as vantagens competitivas que são geradas pela formação do arranjo,
além de enfraquecer a imagem corporativa da aglomeração produtiva (DEZI;
SCHIAVONE, 2004).
De acordo com a abordagem proposta por Suzigan, Garcia e Furtado (2002), as
ações da governança devem apoiar:
� A criação e participação de novas empresas com o apoio de instituições
locais;
� O desenvolvimento tecnológico e a intensificação de atividades de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) nas empresas;
30
� A construção e desenvolvimento de centros coletivos, tecnológicos e de
formação de recursos humanos;
� O desenvolvimento comercial das empresas;
� A implantação de programas de gestão empresarial e da qualidade;
É importante também para o desenvolvimento da governança, que sejam
instituídas reuniões periódicas com o objetivo de reunir todos os atores que compõem a
aglomeração produtiva com objetivos diversos, como o de incentivar a cooperação e o
fortalecimento do relacionamento, além de ser um momento ideal para disseminar
informações entre os componentes (VILLELA et al., 2004).
Visser (2004) ressalta que a as ações da governança devem estar focadas em:
inovação (produtos, processos, organização, serviços); treinamento e formação;
incentivar a busca de mercados externos (propagação geográfica e penetração de
mercados finais); marketing e promoção (em sintonia com o mercado) e infra-estrutura.
Outra importante função da governança é buscar a adequação do arranjo a
certas normas e regras calcadas em princípios da sustentabilidade e responsabilidade
fiscal e social, de modo que o mesmo atue sob a égide de padrões internacionais de
trabalho, facilitando assim o acesso aos principais mercados regionais e globais. Pode-
se destacar o caso de uma grande empresa de material esportivo que teve sérios
problemas ao contratar os serviços de uma aglomeração produtiva do Paquistão que
não seguia normas básicas de responsabilidade socioambiental (NADVI, 2008).
Em busca do sucesso empresarial, normalmente as aglomerações produtivas
tendem a exigir forte consistência em arquitetura política, quer dizer, uma governança
inteligente e eficaz que deve estar relacionada, segundo o SEBRAE (2004):
� Ao comprometimento e qualidade das lideranças empresariais, políticas,
sindicais;
� Ao nível de responsabilidade sócio-ambiental exigido;
� À presença da solidariedade, confiança mútua e atenção nos relacionamentos
entre os atores;
� Ao incentivo do desenvolvimento técnico, tecnológico e econômico.
A ação que também, de acordo com a literatura, traz bons resultados para a
governança em aglomerações produtivas, é a contratação de um agente coordenador
31
para auxiliar na estruturação da governança, que deve representar o arranjo e conduzir
seus interesses para o desenvolvimento, através da coordenação de ações e iniciativas
coletivas locais.
Este agente além de possuir um grande potencial profissional, deve se
enquadrar em um perfil voltado à cooperação e livre trâmite entre os componentes da
aglomeração. Deve-se ressaltar também que a escolha deste profissional deve seguir
as regras do conselho da governança (SUZIGAN, GARCIA, FURTADO, 2007).
E finalmente, após o planejamento das ações propostas pela governança, é
necessário que sejam controlados os resultados destas ações (PAGANI; RESENDE;
MARÇAL, 2009), pois apesar da difícil tarefa de tentar medir o desempenho da
governança, é de suma importância que a execução das ações planejadas seja
acompanhada e corrigida, mantendo o rumo do arranjo produtivo em busca dos
objetivos (LIM, 2006).
Foram citados diversas abordagens de renomados autores nacionais e
internacionais a respeito das principais ações que a governança deve implementar para
o sucesso das aglomerações. Apesar de existir uma infinidade de ações, todas são
voltadas à indução ou reforço dos processos de aprendizado coletivo, à criação de
condições favoráveis à instituição de networkings tecnológicos e outras formas de
cooperação entre empresas e instituições locais, além de todo um direcionamento
comercial e tecnológico, assim como o controle dos resultados obtidos pelas ações
executadas.
32
CAPÍTULO III
3 O SETOR CERÂMICO
O objetivo deste capítulo é apresentar uma visão panorâmica do setor cerâmico
nacional e regional, assim como um histórico do processo de estruturação da
governança adotada pela aglomeração produtiva em questão.
3.1 Uma visão panorâmica do setor
A cerâmica é o material artificial mais antigo produzido pelo homem. Do grego
"kéramos”, "terra queimada" ou “argila queimada” é um material de grande resistência,
sendo frequentemente encontrado em escavações arqueológicas (ANFACER, 2007).
De acordo com estudos arqueológicos recentes, têm-se conhecimento da
existência de utensílios cerâmicos a partir do período pré-neolítico (25000 a.C.) e de
materiais de construção, como tijolos, telhas e blocos, por volta de 5000 a 6000 a.C.
Foram encontradas peças cerâmicas elaboradas com argila que datam de 4000 a.C.,
elaboradas com formas bem definidas, porém não utilizando o processo tradicional de
queima das mesmas (SEBRAE, 2008).
No Brasil, antes mesmo do seu descobrimento, atividades cerâmicas já eram
desenvolvidas pelos índios, porém de forma bastante rudimentar. Com a chegada dos
portugueses, foram introduzidas mudanças com o objetivo do ganho de produtividade
como a melhoria das estruturas das olarias e uma melhor seleção da mão de obra
utilizada para a atividade, em relação principalmente à habilidade manual (BARBOSA,
2008).
De acordo com dados da ANFACER (2007), os cinco maiores players globais da
indústria cerâmica no mundo são a China, a Espanha, o Brasil aparece como o terceiro
maior produtor, seguido por Itália e Índia.
O segmento cerâmico no Brasil possui grande importância para a economia,
representando 1% do PIB e fazendo do Brasil o quarto maior exportador de produtos
cerâmicos do mundo (BUSTAMANTE; BRESSIANI, 2000). O setor cerâmico é
composto principalmente de micro e pequenas Empresas (MPEs), com gestão familiar
33
que utilizam geralmente tecnologias rudimentares (DUAILIBI FILHO; CARVALHO,
2002).
A produção cerâmica é a atividade de fabricar artefatos a partir da argila, que
através de suas propriedades de plasticidade, ao ser misturada com determinados
níveis de água, permitem a modelagem dos produtos cerâmicos. Após a modelagem,
os produtos são submetidos ao processo de secagem e posteriormente à queima, que
atribuem aos mesmos, características de resistência e rigidez (BARBOSA, 2008).
As referidas propriedades permitem que os produtos cerâmicos sejam utilizados
na construção civil e na fabricação de utensílios que remontam milhares de anos como
vasilhames, pratos, copos, entre outros. A cerâmica também é utilizada nas artes
plásticas e até mesmo em indústrias de tecnologia de ponta como a eletroeletrônica
(BARBOSA, 2008).
De acordo com Juliato (1995), o processo produtivo cerâmico é composto por
várias etapas e pode ser visualizado através da Figura 2.
Figura 2: Fluxograma de Processo Produtivo da Cerâmica Vermelha. Fonte: Juliato (1995).
34
Inicialmente a argila é retirada da jazida e armazenada para o sazonamento,
também chamado de “descanso” da argila. Após este período, a matéria-prima é levada
para o misturador que além de misturada, é moída e triturada, visando maior
padronização. Após esta fase, é direcionada para o laminador que processará a argila
de modo que esta se apresente em forma de lâminas.
A partir deste último processo, a argila é encaminhada normalmente através de
esteiras rolantes para a extrusora, tradicionalmente chamada de maromba, que possui
a função de efetuar a padronização final da matéria-prima para a fabricação dos
produtos cerâmicos. A partir desta fase os produtos passam por um processo de
secagem e de queima para finalmente poderem ser comercializados.
De acordo com dados da Associação Nacional da Indústria Cerâmica (ANICER),
no Brasil o setor cerâmico promove a geração de 400 mil empregos diretos e outros
1,25 milhões de indiretos com um faturamento anual de R$ 6 bilhões. Estima-se que
existam cerca de 11.000 unidades produtivas, com média de 25 a 30 empregados, que
movimentam cerca de 60.000.000 toneladas de matérias primas ao ano, com reflexos
diretos nos sistemas logísticos e no meio ambiente (BUSTAMANTE; BRESSIANI,
2000).
O segmento de cerâmica estrutural compreende ampla variedade de produtos
utilizados principalmente na construção civil, tais como telhas, blocos cerâmicos (tijolos
e lajotas) e tubos cerâmicos (manilhas), agregados leves, além de cerâmicas diversas
para fins ornamentais, culinários e outros.
O desenvolvimento do setor cerâmico brasileiro está diretamente relacionado
com o desempenho da construção civil, que é altamente influenciado pela economia
nacional, principalmente no que tange ao nível de disponibilidade de renda e em termos
de políticas de financiamento habitacional e de incentivos de desoneração tributária
(ROSSETO, 1998).
Entre os principais fatores que podem caracterizar o setor cerâmico brasileiro de
forma geral, podem ser citados (DUAILIBI FILHO, CARVALHO, 2002):
� Baixa qualidade dos produtos cerâmicos em relação principalmente à variação
dimensional e a baixa resistência mecânica;
� Grande impacto ambiental causado pela atividade cerâmica não-sustentável;
35
� A lenha é ainda o principal insumo energético para os fornos cerâmicos, que
além de apresentar baixa eficiência energética, incentiva o desmatamento em função
da extração ilegal de madeira;
� A baixa qualificação da mão-de-obra; e
� Baixa produtividade em relação ao padrão europeu em função de uma grande
defasagem tecnológica e gerencial.
3.2 A aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes
O setor cerâmico possui como o principal expoente no Estado do Rio de Janeiro,
a região Norte Fluminense, mais precisamente a cidade de Campos dos Goytacazes.
A unidade de pesquisa deste trabalho está localizada na região de Campos dos
Goytacazes, cidade que faz parte da região Norte do Estado do Rio de Janeiro,
conforme apresentada na Figura 3.
A cidade de Campos, como normalmente é chamada, está a aproximadamente
280 km da capital do estado, possui uma área de 4.037 km² e uma população de
426.154 habitantes (IBGE, 2009).
Figura 3: Localização do município de Campos dos Goytacazes. Fonte: Ramos, Alves e Alexandre (2006).
Esta região apresenta determinados requisitos que confirmam a existência de
uma aglomeração produtiva, pois além de suas empresas estarem geograficamente
36
próximas, suas operações são voltadas para a mesma atividade produtiva, a indústria
cerâmica.
O principal fator que possibilitou a formação desta aglomeração produtiva é a
abundância de matéria-prima para os produtos cerâmicos, que no caso específico da
região de Campos dos Goytacazes, em função de características geológicas, apresenta
sedimentos argilosos com características muito propícias à produção da cerâmica
vermelha (RAMOS; ALVES; ALEXANDRE, 2006).
A economia de Campos possui como principal destaque a exploração de
petróleo na Bacia de Campos, que é responsável por 80% da produção nacional de
petróleo e 40% de gás natural (VASCONCELLOS et al., 2008). Porém, merecem
destaque também os setores sucro-alcooleiro e o cerâmico.
De acordo com o Sindicato dos Ceramistas (SICCC), a aglomeração é formada
por cerca de 120 cerâmicas, das quais apenas 76 estão sindicalizadas.
A atividade constitui uma importante fonte de receita tributária para o município,
sendo responsável pela geração de um número expressivo de postos de trabalho,
estimados em torno de 5.000 empregos diretos e outros 25.000 indiretos (BRITTO,
2004).
Com a falência de três das cincos usinas de açúcar da região da “Baixada
Campista”, a indústria cerâmica passou a ser uma das mais importantes empregadoras
da região (RAMOS; ALVES; ALEXANDRE, 2006).
A produção da indústria cerâmica da região de Campos dos Goytacazes é
baseada em lajotas para lajes, tijolos e telhas, gerando cerca de R$ 168 milhões por
ano, com uma produção estimada de 75 milhões de peças por mês, sendo considerado
o segundo maior produtor de produtos cerâmicos do Brasil.
É estimado que sejam entregues por dia, cerca de 400 caminhões carregados de
produtos cerâmicos, que são vendidos para grandes mercados consumidores, como a
região do Grande Rio de Janeiro, Sul Fluminense, Zona da Mata Mineira e o Estado do
Espírito Santo (RAMOS; ALVES; ALEXANDRE, 2006).
.
3.3 A construção da estrutura de governança adotada pela aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes
37
Para entender de uma maneira mais abrangente o processo de estruturação da
governança da aglomeração produtiva em questão, será apresentado inicialmente o
histórico de criação da RCC, pois através das entrevistas efetuadas, pôde-se perceber
que o processo de estruturação da governança iniciou-se a partir da criação da RCC.
A RCC é uma rede de empresas formadas por empresas ceramistas da
aglomeração produtiva de Campos dos Goytacazes, que foi formada a partir de uma
metodologia de Redes Associativas do SEBRAE, que criou o Programa Cerâmica
Vermelha e que teve como fruto a formação da RCC.
Apesar de à primeira vista o fato da estruturação da governança e a criação da
RCC parecerem totalmente distintos, na verdade, como será mostrado a seguir,
possuem uma relação muito estreita.
3.3.1 A trajetória da RCC
Para se entender o histórico de formação e desenvolvimento da RCC, foi
necessária a busca de informações com pessoas que estavam envolvidas diretamente
com este processo desde as suas primeiras iniciativas. Desta forma, foi constatado que
as primeiras ações para a criação da RCC surgiram através de uma iniciativa do
Sindicato da Indústria Cerâmica para a Construção de Campos (SICCC), que reuniu um
grupo de ceramistas mais mobilizados com a questão a buscarem no SEBRAE um
apoio para a construção do que eles pensavam ser no início uma cooperativa para os
ceramistas, segundo o Representante do SEBRAE.
Apesar dos ceramistas não saberem exatamente o que queriam, eles buscavam
empreender alguma ação visando gerar um processo de mudança que oferecesse à
aglomeração produtiva um maior nível de sustentabilidade de suas operações e
literalmente garantisse ao setor uma “sobrevida”, de acordo com a opinião do
Presidente do SICCC, evidenciando a falta de perspectivas para o setor cerâmico de
Campos dos Goytacazes em relação à concorrência com outros centros produtores.
Logo nas primeiras visitas ao Sindicato, foi identificado pelo SEBRAE que em
função de seus interesses, os ceramistas necessitavam de um suporte para se
organizarem e se tornarem mais representativos e principalmente mais competitivos.
38
O SEBRAE dentro de sua proposta de apoio ao desenvolvimento de pequenos
negócios encontrou uma interessante alternativa para os ceramistas, que era a
implantação no pólo cerâmico da região, do Programa Redes Associativas, que teve
como fruto a criação da RCC.
Este programa, que é amplamente implantado pelo SEBRAE em todo Brasil, é
um programa que visa promover a competitividade e a sustentabilidade de micro e
pequenas empresas, estimulando processos locais de desenvolvimento, de acordo com
o Representante do SEBRAE, que é também o gestor deste projeto.
A partir do momento que o SEBRAE ofereceu esta possibilidade para os
ceramistas, foi proposto que fosse formado um grupo de indústrias cerâmicas, que se
comprometessem a seguir uma determinada metodologia, que faz parte da estrutura do
projeto, que passou a ser chamado de Programa Cerâmica Vermelha.
Assim que foi aceita a proposta de criação do grupo de cerâmicas alinhadas à
metodologia do SEBRAE, iniciou-se um trabalho de visitação de todas as cerâmicas
sindicalizadas da aglomeração produtiva de cerâmica da região de Campos dos
Goytacazes. Foram visitadas somente as cerâmicas sindicalizadas, pois esta era uma
das premissas do projeto, que era necessário que empresa estivesse ligada
diretamente ao Sindicato dos Ceramistas.
Nas visitas realizadas nas cerâmicas, representantes do SEBRAE
acompanhados de diretores e muitas vezes do presidente do SICCC, apresentavam o
projeto e buscavam a adesão dos empresários ao movimento, que veio a resultar na
formação da RCC. É importante ressaltar que apesar de haverem 76 cerâmicas
sindicalizadas, de acordo com o Presidente do SICCC, todas estas empresas foram
visitadas por equipes do SEBRAE e apenas 35 se interessaram formalmente em
participar do projeto. Ao final dos trabalhos o projeto contemplava a adesão de apenas
18 cerâmicas e atualmente 13 cerâmicas fazem parte da RCC.
A RCC vem se estruturando ao longo do tempo, mas teve como marco inicial o
dia 30 de abril de 2004 e contou com a participação de 35 cerâmicas que se
interessaram pelo projeto.
Desta forma, foi assinado um termo de adesão, no qual as cerâmicas se
comprometeriam a seguir as regras do projeto. Inicialmente, de acordo com a
metodologia, os ceramistas precisariam se reunir com uma equipe do SEBRAE para
39
receber uma série de treinamentos de capacitação, de acordo com o gestor do projeto,
para o estabelecimento de alianças estratégicas visando o fortalecimento do setor por
meio da busca de soluções conjuntas de problemas comuns e da identificação das
oportunidades para o grupo.
Foram planejadas seis reuniões de capacitação e de acordo com as regras
estabelecidas, se fosse ultrapassado o limite de faltas de algum dos participantes, a sua
empresa seria automaticamente excluída do projeto.
Nestes encontros realizados, além de receberem um treinamento específico a
respeito de cooperação e formação de redes de empresas, foi elaborado o
planejamento estratégico da RCC que representava os objetivos e anseios do grupo.
Entre as primeiras ações desenvolvidas nos trabalhos realizados, uma merece
um destaque especial por ter sido uma idéia surgida no grupo, que foi justamente a
criação por um dos ceramistas da marca RCC para o grupo, trazendo assim uma maior
formalização para o projeto.
Como fruto do planejamento estratégico elaborado, diversos objetivos foram
traçados e para que fossem alcançados, seriam necessárias a implantação de diversas
ações. Podem ser citados como exemplos de objetivos gerais a serem alcançados:
expansão comercial, desenvolvimento da marca RCC, campanhas para licenciamento
ambiental, ações de reflorestamento, implantação de programas de qualidade e
segurança, implantação de sistemas logísticos de pallets, a criação de uma central de
massa cerâmica, entre outros objetivos.
Após a criação do planejamento estratégico para a RCC, os ceramistas iniciaram
a implantação das ações para o alcance dos objetivos estabelecidos. E desta forma, os
ceramistas passaram a necessitar de um suporte que nem sempre o Sindicato dos
Ceramistas e o SEBRAE poderiam oferecer.
A partir deste momento é que se inicia o processo de estruturação da
governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes, que
consistiu em buscar articulações com diversas instituições que pudessem oferecer um
apoio inicialmente às cerâmicas que faziam parte da RCC e posteriormente a todas as
cerâmicas da aglomeração produtiva, mas sempre tendo a RCC como uma referência
do setor.
40
Este processo ocorreu de forma gradativa, em função das necessidades
identificadas pelos ceramistas em alcançar seus objetivos. Desta forma se justifica a
relação entre a criação da RCC e o início da estruturação da governança, citada no
início desta subseção.
Apesar da RCC ser composta de apenas 13 cerâmicas, na visão do gestor do
projeto, ter iniciado o trabalho com um grupo menor não é tão indesejável, pois desta
forma a metodologia pôde ser aplicada e absorvida de uma melhor forma e os
resultados apareceram mais rápido, contagiando e incentivando outros ceramistas que
não faziam parte do projeto a participarem por perceberem o desenvolvimento do
grupo.
A RCC, que possui cinco anos de existência, atualmente é uma rede
consolidada, que atua comercialmente oferecendo produtos cerâmicos de qualidade em
toda a região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro e também em mercados
mais distantes como a região do Grande Rio de Janeiro e também a região da Grande
Vitória no Estado do Espírito Santo.
A expansão comercial da RCC e principalmente o nível de cooperativismo
alcançado pelos ceramistas desta rede, servem de exemplo tanto para outras
cerâmicas do arranjo ceramista de Campos dos Goytacazes, quanto para outros
arranjos produtivos de todo Brasil que visitam a RCC para conhecer melhor o seu
processo de criação e desenvolvimento.
Inicialmente as reuniões da RCC eram realizadas no SICCC e depois de algum
tempo, evidenciando o desenvolvimento e independência do grupo, foi construída uma
sede para a RCC, que passou a realizar suas reuniões semanalmente, às terças-feiras.
A RCC é também uma das instituições que fazem parte da estrutura de
governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes e
desempenha um papel muito importante, pois além de estar mais próxima das outras
instituições e participar do processo decisório da governança, serve também como um
referencial para a governança em relação ao desempenho e ao aproveitamento das
ações implementadas, já que a RCC é formada por ceramistas como todos os outros
que formam o arranjo produtivo.
Um fato considerado como de extrema importância conseguido pela RCC, de
acordo com o gestor da governança, foi a construção de um ambiente propício ao
41
desenvolvimento da cooperação e da confiança entre as indústrias cerâmicas que
fazem parte desta rede, pois somente depois que este estágio é atingido é que os
objetivos começam a ser alcançados de uma forma mais natural.
Para finalizar este histórico sobre a RCC, o comentário de um ceramista da rede,
mostra de uma forma resumida a percepção dele e de outros ceramistas a respeito da
participação na “rede”.
O fato de estarmos participando da rede nos deixou mais antenados ao mercado. Não estamos em tão boas condições como gostaríamos, mas certamente se não estivéssemos na RCC, provavelmente estaríamos em piores condições do que as que estamos desfrutando atualmente (CERAMISTA FUNDADOR DA RCC).
3.3.2 O processo de estruturação da governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes
De acordo com o que foi descrito na subseção anterior, o processo de
estruturação da governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos
Goytacazes, iniciou-se a partir do momento em que os ceramistas da rede passaram a
implementar as ações estipuladas pelo planejamento estratégico elaborado na
formação da RCC.
E desta forma, os ceramistas passaram a necessitar de um suporte que nem
sempre o Sindicato dos Ceramistas e o SEBRAE, que foram as instituições que
iniciaram o processo de governança, poderiam oferecer. Assim inicia-se o processo de
configuração do que é atualmente a governança deste arranjo produtivo.
Pode-se dizer que a governança da aglomeração produtiva em questão, foi
sendo construída gradativamente, pois à medida que as cerâmicas do grupo formado
pela RCC necessitavam de algum apoio para conquistar seus objetivos, tanto o
SEBRAE quanto o Sindicato dos Ceramistas, se articulavam para buscar parceiros para
atuarem em conjunto através da governança.
Seguindo o processo descrito acima, mediante as necessidades surgidas pelas
cerâmicas da aglomeração, outras instituições eram aglutinadas formando o que é a
estrutura de governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos
Goytacazes. Atualmente a governança do arranjo produtivo é formada por 14
instituições, que serão apresentadas a seguir:
42
FAETEC – Fundação de Apoio à Escola Técnica
A FAETEC é uma fundação vinculada à Secretaria de Estado de Ciência e
Tecnologia (SECT), que possui como objetivo: oferecer educação profissional gratuita à
população do Estado do Rio de Janeiro, apoiando-se na educação técnica como pilar.
A FAETEC, através de um processo de modernização de suas atividades,
lançou o CVT (Centro Vocacional Tecnológico), que segue a mesma linha de ensino
baseada no ensino técnico, porém se adequando melhor às potencialidades regionais.
De acordo com o Coordenador do CVT de Cerâmica, instituição que é
responsável pelo Curso Técnico de Cerâmica Vermelha, o papel do CVT é colaborar
com o desenvolvimento do setor com da formação de mão de obra especializada
através do oferecimento de cursos, palestras e seminários relacionados ao setor
cerâmico da região.
SICCC – Sindicato da Indústria Cerâmica para Construção de Campos
O SICCC é a principal instituição que congrega os ceramistas da região de
Campos dos Goytacazes, de acordo com o seu Presidente, possui a função de
organizar e coordenar esforços, promovendo em conjunto com as instituições que
compõem a governança desta aglomeração produtiva, a cooperação e a mobilização
das indústrias cerâmicas da região, visando a construção de um maior nível de
sustentabilidade para o setor através do oferecimento de informações e de
oportunidades de mudança.
ANICER – Associação Nacional da Indústria Cerâmica
A ANICER é uma associação patronal que representa cerca de 5.500 empresas
que compõem o setor cerâmico brasileiro. Apesar de estar sediada na cidade do Rio de
Janeiro, sempre que é acionada procura comparecer aos eventos e reuniões. A
ANICER busca gerar sinergia entre as indústrias cerâmicas e os setores públicos e
privados, além de parceiros, pesquisadores, técnicos, fornecedores, consumidores e
outras instituições (ANICER, 2009).
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
43
O Governo do Estado do Rio de Janeiro, com suas secretarias dentro de sua
função governamental, desempenha um importante papel no desenvolvimento da
aglomeração produtiva cerâmica de Campos dos Goytacazes.
Uma questão que deve ser ressaltada, é que de acordo com as entrevistas
realizadas, as ações do Governo do Estado estão sempre em harmonia com as
intenções da governança, tanto em relação à integração, participando de reuniões e
eventos, quanto no comprometimento e implementação de ações.
DRM – RJ – Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro
O DRM-RJ possui como objetivo institucional, fomentar e viabilizar o
desenvolvimento do setor mineral e da exploração petrolífera no Estado do Rio de
Janeiro, garantindo o uso sustentado dos recursos minerais. E desta forma, é uma das
instituições mais representativas e atuantes em conjunto com a governança, já que o
DRM-RJ é o órgão que oferece um grande apoio aos ceramistas em relação à proteção
e ao licenciamento ambiental (DRM-RJ, 2009).
INEA - Instituto Estadual do Ambiente
O INEA é um instituto criado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro que
possui a missão de proteger, conservar e recuperar o meio ambiente para promover o
desenvolvimento sustentável (INEA, 2009).
O INEA foi formado pela união de três tradicionais órgãos de fiscalização
ambiental, são eles: a FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente,
o IEF – Instituto Estadual de Florestas e a SERLA – Superintendência Estadual de Rios
e Lagoas e mais do que a fusão destas três instituições, o INEA foi criado com o
objetivo de ser um órgão ambiental de referência, (INEA, 2009).
FENORTE – Fundação Estadual Norte Fluminense
A FENORTE é uma fundação Estadual, com sede em Campos dos Goytacazes,
mas que atende além dos municípios da região Norte Fluminense, também os
municípios da Região Noroeste e da Baixada Litorânea, com o objetivo de estimular o
desenvolvimento humano e social por meio da realização de diversos projetos e
atividades.
44
São também desenvolvidos programas voltados ao setor de pesquisa e
tecnologia, gerenciados mais especificamente pela TECNORTE, que é uma entidade
parceira da FENORTE, responsável por este trabalho (FENORTE, 2009).
Desta forma, entre outros programas, o que está mais relacionado com o tema
deste trabalho é a criação e manutenção do LABCERV – Laboratório de Cerâmica
Vermelha.
PMC – PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES
A PMC, além das suas atribuições municipais, desenvolve ações de apoio ao
setor cerâmico de Campos dos Goytacazes em conjunto com a Governança da
aglomeração produtiva de cerâmica.
De acordo com o Secretário de Desenvolvimento, o papel da PMC é buscar o
desenvolvimento do setor cerâmico, através do incentivo à adoção de novas
tecnologias e práticas inovadoras de modo a agregar mais valor aos produtos
cerâmicos fabricados e também buscando oferecer aos ceramistas uma visão mais
empresarial do setor incentivando a cooperação como alternativa competitiva.
FIRJAN – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
A FIRJAN é um importante parceiro das empresas do Estado do Rio de Janeiro
na busca pelo desenvolvimento. O chamado Sistema FIRJAN é composto por cinco
instituições: a FIRJAN, o CIRJ - Centro Industrial do Rio de Janeiro, o SESI - Serviço
Social da Indústria, o SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e IEL -
Instituto Euvaldo Lodi. Desta forma, o objetivo deste sistema é oferecer soluções e
serviços capazes de multiplicar a produtividade das empresas e melhorar a qualidade
de vida dos funcionários (FIRJAN, 2009).
IFF – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense
O IFF – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense é um
dos centros educacionais criados pelo atual política de expansão do ensino do Governo
Federal, a partir dos antigos e tradicionais CEFET’s – Centros Federais Tecnológicos,
escolas agrotécnicas e algumas escolas técnicas vinculadas às universidades. O IFF
está sediado na cidade de Campos dos Goytacazes e já foi criado, direcionando seus
45
objetivos educacionais ao mercado de trabalho e com a responsabilidade de contribuir
para o desenvolvimento econômico das regiões onde está instalado (IFF, 2009).
UCAM – Universidade Cândido Mendes
A UCAM, renomada instituição de ensino, considerada a mais antiga instituição
particular de ensino superior do país, de forma a manter sua tradição na participação do
desenvolvimento regional das localidades onde está situada, participa do processo de
governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes,
desenvolvendo projetos em prol do desenvolvimento do arranjo em questão (UCAM,
2009).
UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
A UENF, sediada na cidade de Campos dos Goytacazes, cumprindo com o seu
papel de gerar desenvolvimento à sociedade, atua de forma consistente e bastante
produtiva no desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos
Goytacazes, de acordo com os pesquisadores, instituições e ceramistas entrevistados.
São desenvolvidos diversos projetos que vão desde a conscientização e
preservação ambiental, melhoria de qualidade dos produtos e produtividade das
cerâmicas, até projetos sociais que utilizam a argila da região para o artesanato.
RCC – Rede Campos Cerâmica
A RCC é uma rede de empresas formadas por indústrias cerâmicas da
aglomeração produtiva de Campos dos Goytacazes, que possui como objetivo o
crescimento e desenvolvimento através da cooperação (RCC, 2009).
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
O SEBRAE é uma entidade privada e de interesse público que possui o objetivo
de apoiar a abertura e expansão de pequenos negócios e transformar a vida de milhões
de pessoas por meio do empreendedorismo. Sua missão está focada no
desenvolvimento do Brasil através da geração de emprego e renda através da
disseminação do empreendedorismo (SEBRAE, 2009).
46
Desta forma, pode-se entender melhor a configuração da estrutura de
governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes,
através da visualização da Figura 4.
Figura 4: Representação da estrutura de governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Pode ser citado como um exemplo de articulação do SEBRAE e do Sindicato dos
Ceramistas para a estruturação da governança, o convite ao DRM-RJ para participar do
projeto, em função deste ser o órgão ligado ao Governo, que cuida do licenciamento no
Estado.
Como um dos objetivos traçados no planejamento estratégico era fazer uma
campanha entre os ceramistas da aglomeração, para que todos buscassem sua
regularização em relação à documentação de licenciamento ambiental, foi feito um
contato com o Governo do Estado do Rio de Janeiro, para informar os objetivos do
projeto e também para convidar a instituição a participar da governança.
SETOR PRODUTIVO CERÂMICO
SEBRAE
FAETEC
GOVERNO
ESTADUAL RJ
PMC
FIRJAN RCC
DRM-RJ UENF
SICCC ANICER
INEA UCAM
FENORTE IFF
GOVERNANÇA
GOVERNANÇA
47
Desta forma, o Governo do Estado aceitou prontamente o convite e se
posicionou através do DRM-RJ, para trabalhar em conjunto com os ceramistas,
buscando entender melhor o contexto regional e auxiliar no processo de licenciamento.
Apesar de apenas 13 cerâmicas de um universo de 76 empresas sindicalizadas
aderirem à metodologia proposta pelo SEBRAE e formarem RCC, é importante deixar
claro que o foco de ação da governança, são todas as empresas que compõem o setor
produtivo de cerâmica de Campos dos Goytacazes.
A RCC, que faz parte da unidade de pesquisa proposta, além de fazer parte da
estrutura de governança como descrito anteriormente, é também um dos públicos-alvo
da mesma. E de acordo com o gestor da governança, o trabalho desenvolvido em
conjunto com a RCC deve ser um modelo para as ações da governança e servir de
exemplo para as outras cerâmicas da aglomeração produtiva.
48
CAPÍTULO IV
4 METODOLOGIA
Neste capítulo serão apresentados os procedimentos metodológicos utilizados
na pesquisa para a obtenção dos objetivos propostos pelo trabalho.
4.1 Tipologia da pesquisa
Do ponto de vista da sua natureza, este estudo é considerado uma pesquisa
aplicada, pois “objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução
de problemas específicos” (SILVA e MENEZES, 2001, p. 20).
Na pesquisa aplicada, “[...] o pesquisador é estimulado pela necessidade de
contribuir para fins práticos quase que imediatos, buscando soluções para problemas
concretos.” (CERVO e BERVIAN, 2002, p. 65).
Em relação à forma de abordagem do problema, esta será uma pesquisa
qualitativa, pois segundo Silva e Menezes (2001, p. 20):
A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.
Do ponto de vista dos seus objetivos, ela é exploratória, pois além de buscar
oferecer maior familiaridade com o tema, envolve também o levantamento bibliográfico,
entrevistas com pessoas envolvidas com o fenômeno pesquisado e análise de
exemplos que estimulam a compreensão de todo o contexto (GIL, 2002).
E desta forma, do ponto de vista dos procedimentos técnicos será utilizado o
estudo de caso, pois através desta estratégia de pesquisa, é possível investigar um
fenômeno contemporâneo em seu contexto real e especialmente quando os limites
entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos (Yin, 2005).
Em relação à escolha do estudo de caso como delineamento desta pesquisa,
podem ser atribuídas as seguintes vantagens (GIL, 2009):
49
� Não separa o fenômeno estudado do seu contexto, possibilitando maior
compreensão dos eventos pesquisados;
� Considera o interrelacionamento entre todas as partes que compõem o caso
estudado;
� Por serem flexíveis os procedimentos adotados na coleta de dados são
escolhidos de forma mais livre pelos pesquisadores;
� Por não terem a exigência de serem conclusivos, podem estimular o
pesquisador a desenvolver novas pesquisas sobre o caso estudado; e
� Como investigam um fenômeno relacionado a um determinado período de
tempo, favorecem o entendimento do dinamismo do evento estudado.
4.2 Estruturação teórica
A estrutura teórica utilizada neste trabalho se insere no contexto das
aglomerações produtivas como geradoras de competitividade para as micro e pequenas
empresas (MPEs), abordando como tema central a governança como mecanismo
fundamental para o desenvolvimento destes arranjos produtivos.
Definida esta primeira etapa, procedeu-se ao levantamento de material
bibliográfico sobre o papel da governança em aglomerações produtivas, bem como
informações a respeito da evolução do setor cerâmico nacional e da região Norte do
Estado do Rio de Janeiro.
4.3 Aspectos metodológicos da pesquisa
A pesquisa bibliográfica foi utilizada como procedimento inicial com a finalidade
de levantar os conceitos mais atuais sobre o tema em estudo. Em seguida, foram
elaborados questionários e realizadas entrevistas com os atores envolvidos com o
processo de governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos
Goytacazes.
De acordo com o objetivo geral do trabalho, pretendeu-se investigar se a
estrutura de governança vigente efetivamente contribui para o desenvolvimento da
aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.
50
E para a obtenção do objetivo geral foi proposto o atendimento de três objetivos
específicos, conforme apresentado no Quadro 1.
Quadro 1: Representação esquemática do processo de obtenção dos objetivos do trabalho. Fonte: Elaborado pelo autor.
Para responder aos objetivos específicos, foram coletados dados através de
pesquisas com os atores que fazem parte da aglomeração produtiva de cerâmica de
Campos dos Goytacazes.
Estes atores se caracterizam como as indústrias cerâmicas que fazem parte da
aglomeração e também as instituições que compõem a estrutura de governança.
Porém, foram utilizados diferentes tipos de métodos de levantamento (entrevista
pessoal e eletrônica) e utilizadas análises qualitativas (objetivo 1 e objetivo 2) e
quantitativas (objetivo 3) para o atendimento de cada objetivo específico.
Desta forma, os aspectos metodológicos envolvidos para a obtenção de cada
objetivo específico serão tratados de forma independente e apresentados a seguir.
4.3.1 Aspectos metodológicos para obtenção do objetivo específico 1
De modo a atender ao primeiro objetivo específico do trabalho, buscou-se
analisar o processo de estruturação da governança da aglomeração produtiva em
questão, visando identificar se foram utilizados nesta construção, fatores considerados
OBJETIVO GERAL
Objetivo Específico 1 Processo de Estruturação da
Governança
Objetivo Específico 2 Ações Implementadas pela
Governança
Objetivo Específico 3 Percepção dos Ceramistas
51
pela literatura como fundamentais para a estruturação e desenvolvimento das
aglomerações produtivas de sucesso (AZEVEDO FILHO; RIBEIRO, 2009).
Serão apresentados no Quadro 2, os fatores analisados, assim como seus
autores:
Fatores fundamentais para a estruturação e desenvolvimento da
governança em aglomerações produtivas
Autores
Interesse dos empresários envolvidos na construção da governança Schmitz e Nadvi (1999)
Comprometimento dos atores que compõem a aglomeração produtiva
Garcia, Motta e Amato Neto (2004)
A presença cotidiana da governança na aglomeração produtiva
Suzigan, Garcia e Furtado (2007)
A existência de uma diversidade de instituições que consigam oferecer o suporte necessário às empresas que fazem parte do arranjo
Villela et al.(2004)
Integração das instituições que formam a governança
Cianferoni (1993)
Análise de fatores condicionantes para a construção da governança
Suzigan, Garcia e Furtado (2007)
Quadro 2: Síntese dos fatores fundamentais para a estruturação e desenvolvimento da governança em aglomerações produtivas.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Para a obtenção dos dados a respeito do processo de estruturação da
governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes, foi
realizada uma entrevista com o gestor da governança da aglomeração, e aplicado um
questionário não estruturado (MALHOTRA, 2006), baseado nos fatores fundamentais
citados anteriormente.
Foi oferecida ao entrevistado total liberdade para além de responder as
questões, contribuir também com comentários e quaisquer observações pertinentes à
pesquisa. É importante ressaltar que todas estas informações complementares foram
condensadas na análise efetuada sobre o processo de estruturação da governança.
O gestor da governança, que é um representante do SEBRAE, foi selecionado
para a pesquisa por ter sido considerado a pessoa mais indicada a ser entrevistada,
52
pois participou de todo o processo de estruturação da governança desta aglomeração
produtiva.
4.3.2 Aspectos metodológicos para obtenção do objetivo específico 2
Buscando levantar dados para responder ao segundo objetivo específico do
trabalho, foi efetuado um estudo sobre as ações implementadas pela governança para
o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.
A literatura corrente propõe que o processo de governança consegue
efetivamente se estabelecer através da implantação de ações que incentivam a
cooperação e visam o desenvolvimento coletivo da aglomeração produtiva.
Desta forma, buscou-se inicialmente identificar as ações implementadas pela
governança em prol do desenvolvimento da aglomeração produtiva em questão.
A partir do levantamento das ações executadas pela governança do arranjo
produtivo, foi efetuada uma análise comparativa entre as referidas ações
implementadas e as principais ações implementadas pela governança em
aglomerações produtivas de reconhecido sucesso pela literatura (AZEVEDO FILHO;
RIBEIRO, 2009), que são apresentadas no Quadro 3, assim como seus autores.
Principais ações implementadas pela governança em aglomerações produtivas
de reconhecido sucesso Autores
Evidenciar a importância da cooperação entre os empresários
Suzigan, Garcia e Furtado (2002)
Elaborar o planejamento estratégico Villela et al.(2004)
Apoiar a criação de centros para a formação de mão de obra especializada
Suzigan, Garcia e Furtado (2002)
Incentivar o desenvolvimento tecnológico Suzigan, Garcia e Furtado (2002)
Estimular a melhoria da gestão empresarial e da qualidade das empresas
Suzigan, Garcia e Furtado (2002)
Buscar estabelecer parcerias com instituições financeiras e de fomento
Suzigan, Garcia e Furtado (2007)
Fomentar práticas de responsabilidade socioambiental
Nadvi (2008)
53
Fomentar o desenvolvimento comercial Suzigan, Garcia e Furtado (2002)
Utilizar um agente coordenador para mobilização dos atores
Suzigan, Garcia e Furtado (2007)
Incentivar a entrada de novas empresas nos programas desenvolvidos pela governança
Suzigan, Garcia e Furtado (2002)
Controlar os resultados das ações planejadas LIM (2006)
Quadro 3: Principais ações implementadas pela governança em aglomerações produtivas de reconhecido sucesso.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Como se tratavam de ações implementadas pela governança, para a obtenção
dos dados a respeito destas ações, foram realizadas entrevistas com representantes
das quatorze instituições que formam a governança, utilizando um questionário não
estruturado, onde era perguntado aos representantes, quais eram as ações
implementadas por suas instituições em prol do desenvolvimento da aglomeração
produtiva de cerâmica Campos dos Goytacazes.
É importante ressaltar que através das entrevistas buscou-se identificar quais
eram as ações implementadas por cada instituição, mas somente em conjunto com a
governança, não importando as ações normalmente desenvolvidas pelas instituições
em seu cotidiano.
Desta forma, buscou-se identificar a real contribuição de cada instituição para o
desenvolvimento da aglomeração produtiva em questão, porém em consonância com a
governança do arranjo.
Em relação aos métodos de levantamento das informações, foi utilizada a
entrevista pessoal para os representantes das instituições mais acessíveis por estarem
sediadas em Campos dos Goytacazes, que foi realizada em sua respectiva sede na
região.
E para as instituições que não estão localizadas geograficamente na região
Norte Fluminense, foi enviado por email um questionário não estruturado (MALHOTRA,
2006).
Foram realizadas entrevistas pessoais com os representantes das seguintes
instituições: FAETEC, SICCC, Prefeitura Municipal de Campos, Governo do Estado do
Rio de Janeiro, FENORTE, IFF, UENF, UCAM, FIRJAN, RCC e SEBRAE.
54
E foram realizadas entrevistas eletrônicas com representantes das instituições
citadas a seguir: ANICER, DRM-RJ e INEA.
Deve-se ressaltar que tanto na entrevista pessoal quanto na eletrônica, os
entrevistados foram informados que poderiam, além de citar as ações implementadas
pelas instituições que representam, também poderiam tecer comentários e ressaltar
qualquer aspecto que pudesse contribuir com a pesquisa.
Todas as informações complementares foram incorporadas na apresentação e
análise dos resultados.
4.3.3 Aspectos metodológicos para obtenção do objetivo específico 3
Visando atender ao terceiro objetivo específico do trabalho, buscou-se analisar
as percepções dos entrevistados, de modo a identificar se na opinião dos mais
interessados no processo, a governança está efetivamente cumprindo o seu papel de
gerar desenvolvimento para a aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos
Goytacazes.
De modo a obter a opinião dos ceramistas, foram definidos dezessete
indicadores, que representam tanto fatores estruturais quanto ações da governança,
que foram pesquisados para responder ao primeiro e ao segundo objetivo específico do
trabalho, respectivamente.
Pode-se citar como exemplo de definição do indicador, o fato de que uma
importante ação implementada pela governança em aglomerações produtivas de
sucesso, é evidenciar para os atores envolvidos a importância da cooperação para o
sucesso do arranjo.
Assim, foi definido como um indicador da atuação da governança na
aglomeração produtiva, o processo de evidenciar a cooperação.
Desta forma, buscou-se identificar qual o nível de concordância ou discordância
dos ceramistas a respeito do desempenho da governança em relação aos indicadores
estipulados.
Para a obtenção dos resultados relacionados com a percepção dos ceramistas,
foram realizadas entrevistas pessoais com todos os treze ceramistas que fazem parte
da RCC, que faz parte da unidade de pesquisa do trabalho.
55
Nas entrevistas foram utilizados questionários baseados em uma escala tipo
Likert (MALHOTRA, 2006), nos quais os ceramistas emitiam sua opinião na forma do
grau de concordância em relação aos questionamentos relacionados ao desempenho
da governança, representados pelos indicadores propostos, que são apresentados no
Quadro 4.
Fatores relacionados ao nível de desempenho da governança da aglomeração produtiva
1. Evidenciação da importância da cooperação nos relacionamentos entre os empresários
10. Apoio à criação de centros para a formação de mão de obra especializada
2.Implementação de ações seguindo um planejamento
11. Utilização de um agente coordenador da governança
3. O comprometimento dos atores com as ações propostas pela governança
12. Incentivo à entrada de novas empresas em seu Programa Redes Associativas
4. Incentivo ao desenvolvimento comercial das empresas
13. Controle dos resultados das ações planejadas
5. Promoção de ações que incentivem o desenvolvimento tecnológico
14. O nível de cooperação nos relacionamentos entre as empresas
6. Incentivo à melhoria da gestão empresarial e da qualidade
15. O nível de interação entre as empresas as instituições que compõem a governança
7. Incentivo à responsabilidade socioambiental
16. O nível de aproveitamento por parte das empresas das ações da governança
8. Formar parceiras com instituições que oferecem linhas de crédito e de fomento específicas para os ceramistas
17. O nível de contribuição da governança para o desenvolvimento da aglomeração produtiva
9. O comprometimento das instituições que formam a governança
Quadro 4: Principais ações implementadas pela governança em aglomerações produtivas de reconhecido sucesso.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nos questionários utilizados, além de responder em relação ao grau de
concordância com cada questionamento, variando dos níveis de concordância total à
discordância total, passando pela neutralidade e pela concordância e discordância
parcial, o entrevistado também possuía a liberdade de comentar e justificar sua opinião,
atribuindo à pesquisa uma grande riqueza de fatos, valorizando ainda mais o aspecto
qualitativo da mesma.
56
É importante ressaltar que todos os comentários feitos pelos treze ceramistas
entrevistados em relação às afirmações propostas, foram condensados e apresentados
na análise dos resultados.
A pesquisa foi iniciada com a abordagem sobre o entendimento do ceramista a
respeito do termo governança, visando obter uma resposta dissertativa, oferecendo a
oportunidade para que o entrevistado discursasse livremente sobre o tema.
O objetivo de fazer esta pergunta no começo da entrevista foi de buscar
identificar o nível de conhecimento do ceramista em relação ao papel da governança
nas aglomerações produtivas e também intervir, quando necessário, explicando melhor
o conceito, de forma que fosse estabelecido um parâmetro conceitual para que a
entrevista pudesse efetivamente colher informações precisas sobre a ação da
governança nesta aglomeração produtiva.
A partir do momento que era percebido que o entrevistado estabelecia um
referencial a respeito do conceito de governança, era iniciada a entrevista, buscando
identificar a percepção dos ceramistas sobre as questões relacionadas ao desempenho
da governança em seu papel de gerar desenvolvimento para a aglomeração produtiva
de cerâmica de Campos dos Goytacazes.
4.4 Método de análise de dados
Como foram empregados diferentes procedimentos para a coleta dos dados
utilizados para responder os objetivos específicos propostos, serão adotados também
métodos de análise de dados específicos para os dados coletados.
O método de análise dos dados obtidos para responder o objetivo específico 1 e
o objetivo específico 2 possui características de análise mais qualitativas.
Já o método de análise utilizado para responder o objetivo específico 3
corresponde a uma análise mais quantitativa.
Através da metodologia utilizada para responder o objetivo específico 1, buscou-
se analisar o processo de estruturação da governança em questão, visando identificar
se foram utilizados nesta construção, fatores considerados pela literatura como
fundamentais para a estruturação e desenvolvimento das aglomerações produtivas.
57
Desta forma, o método de análise de dados utilizado para responder o objetivo
específico 1, consistiu em relatar se foram ou não foram identificados no processo de
estruturação da governança os fatores fundamentais, assim como apresentar possíveis
justificativas e considerações.
Para responder o objetivo específico 2, foram analisadas as ações
implementadas pela governança, buscando identificar se no conjunto destas ações,
estavam presentes as principais ações implementadas pela governança em
aglomerações produtivas de sucesso.
Portanto, o método de análise de dados utilizado para responder o objetivo
específico 2, consistiu em relatar se foram ou não foram identificados nas ações
implementadas pela governança, as consideradas principais ações, assim como
apresentar possíveis justificativas e considerações.
Já o método de análise de dados utilizado para responder o objetivo específico 3,
apresenta um maior nível de complexidade, em função de possuir características mais
quantitativas.
Como descrito anteriormente nos aspectos metodológicos, foi elaborado para a
pesquisa um questionário baseados em uma escala tipo Likert de cinco pontos,
variando de discordo plenamente, que receberia a nota um (1) até concordo
plenamente que receberia nota cinco (5), de modo a representar o grau de
concordância ou discordância dos entrevistados.
Níveis de Concordância e Discordância
Nota Classificação do indicador em relação ao desempenho
da governança
Concordo Totalmente 5 Muito Alto
Concordo Parcialmente 4 Alto
Não Concordo nem Discordo 3 Médio
Discordo Parcialmente 2 Baixo
Discordo Totalmente 1 Muito Baixo
Quadro 5: Classificação dos indicadores resultantes do estabelecimento de relações entre os níveis de concordância e discordância e as notas atribuídas a cada indicador
de desempenho. Fonte: Elaborado pelo autor.
58
Foram estabelecidas relações entre os níveis de concordância e discordância e
as notas atribuídas, buscando criar uma classificação dos indicadores de modo a
verificarmos quais eram os níveis de desempenho de cada indicador avaliado conforme
pode ser mostrado no Quadro 5.
Para a análise dos resultados foi utilizado o ranking médio, que pode ser obtido
através de uma média ponderada das respostas de todos os entrevistados a respeito
de cada indicador.
Desta forma, pode-se caracterizar a obtenção do ranking médio de cada
indicador através do exemplo mostrado no Quadro 6 a seguir:
Questionamentos
Frequência de Respostas
Discordo totalmente
(1)
Discordo parcialmente
(2)
Não concordo
nem discordo
(3)
Concordo parcialmente
(4)
Concordo totalmente
(5)
A governança incentiva a
responsabilidade socioambiental?
2 3 1
Média Ponderada= (3 X 2) + (4 X 3) + (5 X 1)= 23 / (2 + 3 +1) = 23 / 6
Rankig médio = 3,8
Quadro 6: Exemplo de cálculo do ranking médio. Fonte: Elaborado pelo autor.
Foram estabelecidos intervalos para a classificação dos resultados obtidos
através dos ranking médios de cada indicador de desempenho avaliado de acordo com
o Quadro 7.
Desta forma, os resultados de cada indicador (ranking médio) podem ser
classificados em relação ao nível de desempenho da governança.
Ao final deve-se calcular a média ponderada geral, somando-se todos os ranking
médios obtidos de cada indicador e dividindo-se pelo número de respostas obtidas na
pesquisa.
59
A partir da obtenção do ranking médio geral, pode-se verificar em que
classificação pode ser enquadrado o nível de desempenho global da governança em
contribuir para o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos
dos Goytacazes.
Intervalo
Considerado
Classificação do Nível de
Desempenho da
Governança
1,0 ≤ p
x ≤ 1,5 Muito Baixo
1,5 < p
x ≤ 2,5 Baixo
2,5 < p
x ≤ 3,5 Médio
3,5 < p
x ≤ 4,5 Alto
4,5 < p
x ≤ 5,0 Muito Alto
Quadro 7: Intervalos para classificação dos resultados obtidos a partir do Ranking Médio (RM).
Fonte: elaborado pelo autor.
4.5 Pré-Teste
Para validar o instrumento de coleta de dados, foi realizado o pré-teste somente
com o questionário utilizado na pesquisa de percepção dos ceramistas, já que se
tratava de um questionário mais complexo e estruturado.
Foram realizadas duas entrevistas e o tempo utilizado pelos entrevistados para
responder ao questionário foi em média de vinte minutos.
Durante o preenchimento dos questionários, surgiram algumas dúvidas em
relação a algumas perguntas.
Portanto, a partir deste teste, foram feitas as modificações no questionário para
torná-lo adequado para a realização da pesquisa.
4.6 Limitações da metodologia
60
A utilização de pesquisas exploratórias através do estudo de caso traz limitações
para a generalização dos resultados obtidos, em função das características próprias
que cada unidade de pesquisa possui. São de difícil replicação em função da
impossibilidade de padronizar os instrumentos de coleta de dados e possui um
processo de análise complexo por se tratar como neste caso de uma pesquisa
qualitativa (GIL, 2009).
No entanto, apesar das limitações existentes, acredita-se que o caráter
exploratório se justifica, pois é capaz de trazer informações relevantes do contexto no
qual ocorre o fenômeno estudado.
61
CAPÍTULO V
5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este capítulo apresenta os resultados da pesquisa efetuada com os atores que
fazem parte do grupo de interesse do processo de governança da aglomeração
produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.
Partindo-se da premissa que a governança é crucial para o desenvolvimento das
aglomerações produtivas, foi analisado um conjunto de fundamentos, segundo a
literatura, buscando-se verificar a presença dos mesmos no sistema de governança em
questão.
Visando atender aos objetivos específicos do trabalho, a pesquisa baseou-se na
análise de três fundamentos: o processo de estruturação da governança, o conjunto de
ações implementadas pela governança e a percepção dos empresários em relação ao
desempenho da governança em contribuir para o desenvolvimento competitivo da
aglomeração.
5.1 Análise do processo de estruturação da governança
Visando responder ao primeiro objetivo específico, buscou-se analisar o
processo de estruturação da governança, identificando se foram respeitados nesta
construção os fatores considerados pela literatura corrente como fundamentais para a
estruturação e desenvolvimento de uma estrutura de governança.
Na pesquisa efetuada com o gestor da governança, este se sentiu muito à
vontade em relação aos questionamentos e demonstrou muito conhecimento sobre o
assunto. Desta forma, foram citadas diversas considerações sobre a estruturação da
governança em relação aos fatores fundamentais:
De acordo com a literatura corrente sobre aglomerações produtivas, é de
fundamental importância que as empresas que fazem parte do setor produtivo possuam
o efetivo interesse em estruturar o processo de governança, pois o sucesso deste
processo dependerá em grande parte do esforço destas empresas (SCHMITZ & NADVI,
1999).
62
Em relação ao interesse dos empresários que compõem a aglomeração
produtiva, de acordo com o gestor da governança, a própria iniciativa dos ceramistas
em buscar alternativas ao desenvolvimento do setor e a criação da RCC, já demonstra
o interesse suficiente dos empresários em relação à estruturação e desenvolvimento da
governança.
Verificou-se que em função da seriedade e do interesse demonstrado pelos
ceramistas na procura pelo SEBRAE que todo o processo de estruturação da
governança pôde ser iniciado.
Em se tratando do comprometimento dos atores que compõem a aglomeração
produtiva em questão, considera-se que o empenho das instituições e empresas que
formam a governança refletiu positivamente para o alcance dos objetivos coletivos
propostos pela governança.
Desta forma, em relação às instituições, o gestor da governança evidencia que
as mesmas possuem um alto nível de comprometimento com a governança, tanto na
participação das reuniões e eventos, quanto efetivamente na implantação das ações
destinadas a cada uma delas presentes no planejamento estratégico.
Porém o mesmo não pode ser dito a respeito dos ceramistas, pois nem todos
apresentam níveis de comprometimento desejáveis. Verificou-se que apesar dos
ceramistas assumirem inicialmente o compromisso de execução, algumas ações do
planejamento estratégico elaborado pela governança ainda não foram implementadas.
Como exemplos destas ações, podem ser citadas: a construção da central de
massa cerâmica, o reflorestamento das áreas desmatadas para a atividade cerâmica, a
obtenção da certificação no programa de qualidade (PSQ) gerenciado pela ANICER e a
implantação dos sistemas logísticos de “pallets”.
Estas questões indicam a necessidade do uso de mecanismos que gerem nos
ceramistas um maior nível de compreensão sobre a importância de sua cooperação e
comprometimento com os objetivos coletivos, de forma a melhorar o processo de
implementação da governança.
Quando questionado a respeito da presença da governança no cotidiano da
aglomeração produtiva, o gestor informou que esse conceito está presente no dia a dia
dos ceramistas e que apesar de nem todas as instituições que formam a governança
63
estarem sediadas na cidade de Campos dos Goytacazes, todas são constantemente
informadas sobre os acontecimentos e andamentos das ações planejadas.
A comunicação é conseguida, pois as informações relacionadas ao andamento
das ações da governança são lançadas no SIGEOR (Sistema de Informação da Gestão
Estratégica Orientada para Resultados), pelo qual todos os atores podem ter acesso.
Além disso, foi ressaltado que quando é necessária a participação de alguma instituição
para reuniões ou eventos, é sempre feito um grande esforço para viabilizar a sua
presença.
Atualmente a governança da aglomeração produtiva em questão é formada por
quatorze instituições responsáveis por diversas funções em prol do desenvolvimento do
arranjo, tais como: inovações tecnológicas, expansão comercial, implantação de
programas de qualidade, utilização do laboratório para melhoria da qualidade dos
produtos, oferecimento de cursos e palestras, formação de mão de obra especializada,
licenciamento ambiental, entre outras.
Assim, de acordo com o planejamento estratégico elaborado com a participação
de todas as instituições, define-se as ações e os interesses que cada uma deve
defender.
Desta forma cabe a cada uma das instituições que formam a governança, a
responsabilidade de cumprir bem o seu papel para que o sucesso da aglomeração seja
alcançado pela sinergia gerada pelos relacionamentos entre os atores que compõem a
governança.
Quando surge alguma necessidade das empresas da aglomeração produtiva e
percebe-se que não existe no grupo uma instituição que possa oferecer apoio,
imediatamente a governança busca novos parceiros para ajudar os ceramistas a
conquistarem seus objetivos.
De acordo com o gestor da governança, um importante trabalho a ser executado,
é estruturar muito claramente os papéis que cada instituição deve cumprir, para que
seja gerada a necessária sinergia, otimizando os recursos ao invés da sobreposição
dos esforços.
Nas palavras do gestor da governança, um dos pontos fortes da governança é
justamente o nível de integração das instituições que formam a governança e o poder
de mobilização que o grupo está conseguindo criar. Uma possível justificativa a respeito
64
desta união está no fato de que para a governança fomentar o desenvolvimento da
aglomeração é necessária a integração das instituições, desta forma, as instituições
acabam necessitando se conhecerem mais profundamente.
Este conhecimento é importante, pois ao ser acessada para oferecer suporte a
alguma cerâmica, cada instituição automaticamente analisa que tipo de apoio
complementar aquela empresa necessita, indicando a instituição com qualificação
pertinente no contexto da governança. Desta maneira, com o conhecimento do papel
que cada instituição executa, a governança consegue oferecer o suporte adequado ao
desenvolvimento desta aglomeração produtiva.
De acordo com a literatura corrente, antes da estruturação da governança, deve
ser efetuada uma análise de fatores condicionantes, que consiste no entendimento de
fatores que influenciam a formação e o desenvolvimento da aglomeração produtiva.
Desta forma, para que a estruturação da governança tenha sucesso, deve-se levar em
consideração os referidos fatores.
Dentre os fatores condicionantes, pode-se enfatizar os seguintes: a estrutura de
produção, a forma de inserção comercial das empresas, a existência ou não de
empresas dominantes, o grau de desenvolvimento e envolvimento das instituições
locais e o contexto socio cultural e político no qual se inserem as aglomerações
produtivas (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2007).
O gestor da governança afirma que o SEBRAE em 2004, através de um trabalho
de Britto (2004), efetuou um mapeamento das aglomerações produtivas existentes no
Estado do Rio de Janeiro, indicando a existência deste arranjo de cerâmica na região
de Campos dos Goytacazes. Desta forma, pôde-se obter importantes informações
sobre a aglomeração em questão.
O início do trabalho de estruturação da governança e o estreito relacionamento
com o Sindicato dos Ceramistas possibilitou um grande conhecimento das fases que
aquela aglomeração produtiva havia passado até buscar um suporte para sua
sustentabilidade. Desta forma, foi constatado que não houve formalmente um estudo
dos condicionantes, mas sim um aproveitamento do conhecimento acumulado pelos
ceramistas sindicalizados envolvidos no projeto.
Em resumo, a partir das entrevistas e comentários, pôde-se perceber que
mesmo não seguindo especificamente o que a literatura corrente propõe, pode-se
65
afirmar que de uma forma geral, no processo de estruturação da governança, foram
considerados os fatores fundamentais para a estruturação e desenvolvimento da
governança.
No entanto, como foi detectado, é importante que a governança consiga
desenvolver ações específicas voltadas para sensibilizar os atores envolvidos,
principalmente os ceramistas, no sentido de obter um maior nível de comprometimento
por parte dos mesmos, de modo que o desenvolvimento da aglomeração produtiva não
fique comprometido.
5.2 Análise das ações implementadas pela governança
Buscando responder ao segundo objetivo específico do trabalho, foi efetuada
uma análise sobre as ações implementadas pela governança da aglomeração produtiva
em questão.
Através deste estudo, buscou-se verificar se são praticadas as principais ações
implementadas pela governança em aglomerações produtivas de reconhecido sucesso
e quais instituições são responsáveis por sua execução.
Foram realizadas entrevistas com representantes das quatorze instituições que
formam a governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos
Goytacazes.
Foram identificadas ações que evidenciam a importância da cooperação entre os
empresários que fazem parte da aglomeração produtiva em questão promovidas por
especificamente três instituições, o Sindicato dos Ceramistas, a RCC e o SEBRAE.
O SICCC através da sua proposta de representatividade e de união dos
ceramistas que fazem parte da aglomeração promove eventos e reuniões regulares,
nas quais principalmente após a criação da RCC, a cooperação é um assunto
obrigatório em função da percepção do desenvolvimento alcançado por esta rede de
empresas.
A RCC, que pode ser considerada como um fruto da cooperação entre
ceramistas, busca em suas reuniões regulares continuar incentivando e mantendo o
foco do grupo na cooperação. De acordo com o Presidente da RCC, é importante
sempre colocar em pauta a importância da cooperação para a geração de diferenciais
66
competitivos, pois em todas as decisões tomadas pela rede deve ser ressaltada a
importância do alcance dos objetivos coletivos. E desta forma, evidenciar que a
cooperação é uma importante ferramenta para o desenvolvimento da aglomeração.
O SEBRAE incentiva a formação de grupos para a participação em feiras, visitas
técnicas, congressos e eventos específicos da área de cerâmica, aglomerações
produtivas e outros assuntos relacionados ao setor. São incentivadas também por esta
instituição visitas a outras cerâmicas que fazem parte do arranjo produtivo. Assim,
espera-se criar e fortalecer relacionamentos entre os ceramistas, promovendo um maior
nível de cooperação entre os mesmos.
A elaboração do planejamento estratégico, conforme citado anteriormente na
subseção que tratava da estruturação do processo de governança, é realizada com a
participação de todas as instituições que fazem parte da estrutura de governança,
podendo ser considerada como uma ação de execução global da governança.
O processo de elaboração do planejamento estratégico segue uma metodologia
própria na qual todos os atores que fazem parte da governança debatem necessidades
e problemas identificados e planejam ações para a busca de soluções.
Como o processo de implementação destas ações é lançado no SIGEOR, todos
os interessados podem acompanhar como está o andamento das ações e se os
objetivos estão sendo efetivamente alcançados.
Em relação ao fomento ao desenvolvimento comercial, foram identificadas ações
implementadas pelo SEBRAE, RCC, Governo do Estado do Rio de Janeiro e UCAM.
O SEBRAE, além de promover cursos e organizar participações em feiras e
visitas técnicas com o objetivo de expandir os horizontes comerciais dos ceramistas,
desenvolveu todo o processo de comercialização da RCC.
Nesta parceria entre SEBRAE e RCC, foi desenvolvido o sistema de compras
cooperativadas e o processo de vendas, que é efetuado em forma de rodízio de
vendas, conforme citado na subseção referente à criação da RCC.
A participação da RCC é importante, pois além de principal interessada, serve
também como um modelo de referência para a própria governança, quanto para os
outros ceramistas do arranjo produtivo.
O Governo do Estado, em parceria com a UCAM, está desenvolvendo um projeto
de análise de viabilidade da utilização do transporte ferroviário para o escoamento dos
67
produtos cerâmicos para os seus principais mercados consumidores, que são a região
do Grande Rio e da Grande Vitória no Estado do Espírito Santo.
Esta ação, se efetivamente for concretizada, pode trazer grandes benefícios
comerciais para os ceramistas da região, já que representará uma grande possibilidade
de expansão comercial em função da otimização logística e ganho de competitividade.
Acontece uma situação inusitada em relação ao incentivo ao desenvolvimento
tecnológico.
Apesar da governança incentivar os ceramistas a procurarem a UENF
(Universidade Estadual do Norte Fluminense) para o suporte relacionado ao
desenvolvimento tecnológico de seus processos produtivos, nas entrevistas realizadas
com os pesquisadores da UENF, não foram identificadas ações que são implementadas
em conjunto com a governança.
De acordo com os pesquisadores da UENF, eles já desenvolvem projetos
relacionados ao tema em questão desde muito tempo antes da estruturação da
governança. Desta forma, foi detectado que apesar de existir o apoio ao
desenvolvimento tecnológico aos ceramistas desta aglomeração produtiva, este não é
fruto de mobilização da governança do arranjo.
Foram identificadas ações relacionadas ao estímulo à melhoria da gestão
empresarial e da qualidade das empresas, que são implantadas principalmente pela
ANICER, FENORTE, FIRJAN e SEBRAE.
A ANICER, além de ser a gestora do PSQ (Programa Setorial de Qualidade), que
é o principal programa de qualidade para o setor cerâmico nacional, é também a
instituição que certifica o laboratório de cerâmica que atende os ceramistas da
aglomeração produtiva de Campos dos Goytacazes, o LABCERV (Laboratório de
Cerâmica Vermelha).
O LABCERV foi construído e é mantido pela FENORTE (Fundação Estadual
Norte Fluminense). Este laboratório é de fundamental importância para a elevação do
nível de qualidade dos produtos cerâmicos da região, em função dos testes e ensaios
que são realizados.
O Sistema FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro)
desempenha um papel importante, pois através do SENAI (Serviço Nacional de
68
Aprendizagem Industrial), oferece capacitação às cerâmicas do arranjo para
conseguirem a certificação do PSQ.
O SEBRAE busca sempre oferecer cursos e palestras relacionados à gestão e à
qualidade. Como exemplo, pode ser citado o curso de qualidade D’OLHO na qualidade,
além de cursos voltados à melhoria de práticas gerenciais, como: planejamento, análise
financeira, gerenciamento de recursos humanos, entre outros.
A governança, além de contar com o Governo do Estado do Rio de Janeiro como
parceiro de financiamento de projetos desenvolvidos pelos ceramistas do arranjo,
através da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado
do Rio de Janeiro) e do INVESTE RIO (Agência de Fomento do Estado do Rio de
Janeiro), oferecendo linhas de financiamento, possui também parcerias com instituições
bancárias estatais, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, que
oferecem linhas de crédito específicas para os ceramistas.
O apoio à criação de centros para a formação de mão de obra especializada, se
concretizou neste ano de 2009 com a construção do CVT – Cerâmica (Centro
Vocacional Tecnológico), através de uma ação executada pela FAETEC (Fundação de
Apoio à Escola Técnica).
O CVT – Cerâmica, oferecerá a partir de 2010 o curso técnico de cerâmica
vermelha e atualmente oferece cursos de curta duração voltados ao setor cerâmico,
como: metrologia, manutenção de máquinas, logística e administração de custos.
A governança promove ações de fomento às práticas de responsabilidade
socioambiental através da determinação de diversas exigências para que as cerâmicas
participem do Programa Cerâmica Vermelha, que é o principal projeto da governança
voltado ao desenvolvimento da aglomeração produtiva.
Entre estas exigências, além da empresa ser sindicalizada, é necessário que as
empresas se comprometam a seguir uma série de exigências de responsabilidade
fiscal, social e ambiental, visando a sustentabilidade do setor. Como exemplos destas
exigências podem ser citados: a formalização das empresas e dos funcionários, as
licenças ambientais devem estar em dia, não pode haver trabalho infantil, é necessária
a disseminação de uma cultura da qualidade, da segurança e da preservação do meio
ambiente, entre outros.
69
Normalmente, a implementação das ações que são planejadas de forma global
pela governança é executada por um agente coordenador. Este agente coordenador
representa a “personificação” da governança, tanto na representatividade, mobilização
e articulação dos atores. No caso da governança da aglomeração produtiva em
questão, que faz o papel de agente coordenador é o próprio gestor da governança, que
também é representante do SEBRAE.
A governança incentiva que outras cerâmicas que fazem parte desta
aglomeração produtiva, venham a participar do Programa Cerâmica Vermelha, e mais
precisamente a se associar à RCC.
Como muitas empresas do arranjo, na ocasião da formação desta rede, não
haviam entendido a proposta do programa, atualmente quando percebem o
desenvolvimento alcançado pelas cerâmicas que fazem parte da RCC, se interessam
em também participar deste movimento.
O controle dos resultados das ações planejadas é realizado sistematicamente
pela governança e por todas as instituições que fazem parte da mesma, através da
visualização do andamento das referidas ações, que é lançado no SIGEOR.
Caso seja feita uma avaliação e seja percebido que determinadas ações não
estejam seguindo o planejamento estipulado, cabe ao gestor da governança entrar em
contato com o ator responsável por aquela determinada ação, averiguar e buscar
formas de superar os obstáculos para o alcance dos objetivos.
Este planejamento é revisado totalmente de quatro em quatro anos, com o
objetivo de avaliar os rumos que a aglomeração produtiva está tomando. Porém, pelo
menos duas ou três vezes por ano, dependendo da necessidade, os membros da
governança se reúnem para verificar se as ações estão sendo implementadas e se os
objetivos estão sendo alcançados conforme o planejado.
A análise comparativa das ações consistiu em verificar se efetivamente são
implementadas pela governança as principais ações indicadas pela literatura e quais as
instituições responsáveis por esta execução.
De acordo com a análise efetuada, a única ação que não é implementada
legitimamente em conjunto com a governança é o incentivo ao desenvolvimento
tecnológico.
70
Porém, todas as outras ações identificadas fazem parte do conjunto de ações
consideradas como as principais a serem implementadas em aglomerações produtivas
de reconhecido sucesso pela literatura.
5.3 Análise da percepção dos ceramistas a respeito do nível de contribuição da governança para o desenvolvimento da aglomeração
Visando atender ao terceiro objetivo específico do trabalho, buscou-se analisar a
percepção dos ceramistas de modo a identificar se na opinião dos mais interessados no
processo, a governança está efetivamente conseguindo cumprir o seu papel de gerar
desenvolvimento.
Foram estabelecidos indicadores que representam tanto os fatores estruturais
quanto o conjunto de ações implementadas pela governança, que se referem aos
fundamentos pesquisados para responder ao primeiro e ao segundo objetivo específico
do trabalho, respectivamente.
Através da realização de entrevistas com um grupo de ceramistas que faz parte
da unidade de pesquisa do trabalho, buscou-se verificar a opinião dos mesmos a
respeito dos indicadores propostos.
É importante ressaltar que todos os comentários feitos pelos entrevistados em
relação às afirmações propostas, foram condensados e apresentados na análise dos
resultados.
5.3.1 O papel da governança em evidenciar a importância da cooperação nos relacionamentos entre os empresários que fazem parte da aglomeração produtiva
De acordo com os entrevistados, a governança implementa diversas ações
visando a evidenciação da importância da cooperação entre os empresários, podendo
ser citadas as seguintes:
Existe um calendário definido de reuniões periódicas nas quais, entre diversos
assuntos, é tratada a importância da cooperação e do fortalecimento do relacionamento
entre os ceramistas e também é incentivada a integração dos mesmos com as
instituições que formam a governança.
71
Foi citado que quando foi implantado o Programa Cerâmica Vermelha, que teve
como fruto a RCC, os ceramistas receberam um treinamento específico sobre
cooperativismo, que segundo o entendimento dos mesmos, é a chave para o sucesso
das aglomerações produtivas. Assim, nestas reuniões é sempre reforçada a importância
da integração entre os atores, trazendo à tona o conceito e as vantagens das empresas
se aglomerarem e buscarem objetivos de forma coletiva.
Nestas reuniões os ceramistas também recebem informações sobre feiras,
congressos e eventos específicos da área de cerâmica, aglomerações produtivas e
outros assuntos relacionados ao setor. Desta forma, além da proveitosa participação
nos eventos que sempre ressaltam a importância da cooperação, é incentivada a
formação de grupos para este tipo de participação, fazendo com que as relações entre
os ceramistas se fortaleçam.
É incentivada a realização de visitas técnicas, nas quais cada ceramista tenha a
liberdade de visitar outras cerâmicas do arranjo, de modo a conhecer novos processos,
buscar a solução de problemas empresariais ou até mesmo para trocar idéias a respeito
do setor. Desta forma, a governança busca evidenciar a importância da integração,
criando a cultura do cooperativismo entre os ceramistas, pois quando um ceramista
deseja visitar outra empresa, este fato “abre” uma via de mão-dupla entre os ceramistas
envolvidos, quer dizer, quando um ceramista visita outras cerâmicas ele cria canais de
relacionamento entre as mesmas.
Assim, este processo de integração ao ser multiplicado entre os ceramistas do
arranjo, gera um importante elemento de sucesso para a aglomeração produtiva, que é
a sinergia e a construção de um conhecimento coletivo que surge com o fato de que
cada ceramista quando visita outra empresa, o mesmo busca informações, mas
também as leva para o outro ceramista, propiciando assim a criação de diferenciais
competitivos.
São incentivadas as visitas de grupos de ceramistas da região a outras
aglomerações produtivas e também a visita de ceramistas ao arranjo produtivo de
cerâmica de Campos dos Goytacazes, de forma a expandir o nível de integração do
arranjo.
72
De acordo com a opinião dos ceramistas, o indicador em questão obteve um
ranking médio (RM) de 4,4, que de acordo com a metodologia estabelecida, representa
um alto nível de desempenho da governança para este indicador.
Com a pesquisa, pôde-se perceber que são implementadas ações que visam
incentivar a cooperação e a integração entre os ceramistas que compõem a
governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes,
evidenciando a importância da criação de um ambiente propício ao fortalecimento dos
relacionamentos e da geração de vantagens competitivas.
5.3.2 O papel da governança em incentivar o comprometimento dos empresários que fazem parte da aglomeração produtiva em relação às ações da governança
Foi explicado que nesta afirmativa buscava-se identificar a opinião dos
ceramistas a respeito do comprometimento dos mesmos, em relação às ações
implementadas pela governança e toda sua proposta de mobilização e ação.
De acordo com a opinião dos ceramistas, nem todos os empresários são
totalmente comprometidas com as ações da governança. Haja vista as importantes
ações que foram propostas no planejamento estratégico elaborado, que contou com a
participação dos ceramistas e até hoje muitos dos objetivos traçados ainda não foram
alcançados.
Inclusive muitos ceramistas assumiram que realmente não estão conseguindo
seguir o que foi proposto pela governança, apesar de saberem que a implementação
das ações propostas poderia ser importante para eles. Justificativas como: “não tenho
tempo para isso” e “não tenho dinheiro para investir”, são comuns.
Podem ser citadas como ações planejadas que ainda não foram executadas por
falta de comprometimento, principalmente dos ceramistas:
a) A construção de uma central coletiva de massa cerâmica, que visa a
padronização da matéria-prima utilizada nas cerâmicas, que apesar de necessitar de
grandes investimentos, foram desenvolvidos projetos e estabelecidas parceiras para um
possível financiamento, mas o projeto até hoje não foi adiante;
b) A implantação do processo de “palletização”, como dizem os ceramistas, que
é a adequação de seus sistemas logísticos à utilização de estrados normalmente de
madeira, chamados de pallets, que são utilizados para movimentação de cargas e
73
otimização logística (FERNANDES, 1981). Com a implantação desta ação, seria
possível o ganho de competitividade e a expansão dos horizontes comerciais, já que as
grandes construtoras e redes de varejo que compram produtos cerâmicos,
frequentemente exigem que os produtos sejam entregues utilizando os pallets;
c) A implantação de ações de reflorestamento, que foi desenvolvida por apenas
alguns ceramistas, que representa uma atividade compensatória à natureza por anos e
anos de extração da argila de forma não sustentável;
d) A implantação de um programa de qualidade, criado e gerenciado pela
ANICER (Associação Nacional das Indústrias Cerâmicas), chamado de Programa
Setorial da Qualidade (PSQ), que busca oferecer aos participantes condições de
padronização de seus processos e produtos de forma a atender as exigências do
mercado, representando ganhos de competitividade e produtividade.
De acordo com os ceramistas, infelizmente a procura para a participação no
programa foi muito baixa, apesar da FIRJAN através do SENAI oferecer um treinamento
específico para preparar as empresas para a certificação, poucas empresas se
interessaram e até o momento nenhuma empresa da aglomeração produtiva conseguiu
a certificação.
Porém, foi colocado pelos ceramistas, que existe um grupo de empresários, que
possuem um grande nível de comprometimento em relação às ações da governança.
Estes ceramistas são mais atuantes, envolvidos e os que “dão os primeiros passos”, em
relação ao cumprimento das ações propostas.
Como a pesquisa busca identificar a influência da atuação da governança, o
índice obtido para este indicador foi de 3,4, que representa um nível médio de
desempenho da governança em criar ações que incentivem o comprometimento dos
ceramistas em relação às iniciativas propostas por ela.
Eles realmente acreditam na governança como meio de obtenção de
competitividade e desenvolvimento que se apóia na cooperação e no coletivismo, mas
infelizmente é um grupo ainda pequeno, mas que segundo os ceramistas, eles “fazem
muita diferença”, pois em função de sua liderança, motivam e mobilizam muitos
ceramistas para buscarem os objetivos de forma conjunta visando o desenvolvimento
de toda a aglomeração produtiva.
74
5.3.3 O papel da governança em incentivar o desenvolvimento comercial das empresas da aglomeração produtiva
Na pesquisa deste indicador, buscava-se identificar a opinião dos entrevistados
em relação ao incentivo por parte da governança de ações que desenvolvessem as
relações comerciais das cerâmicas da aglomeração produtiva. Entre as ações
promovidas pela governança, podem ser citadas:
a) A organização de eventos e incentivo para a participação em feiras,
congressos e visitas a outras aglomerações produtivas do setor, com o objetivo de
expansão comercial e de realizar o benchmarking de práticas comerciais;
b) O fomento à criação da central de massa que além de representar a
padronização e melhoria da qualidade dos produtos, possui um interessante objetivo,
que é a comercialização da massa cerâmica padronizada para outras cerâmicas da
aglomeração;
c) O desenvolvimento de um projeto que conta com a participação conjunta do
Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Transportes, a UCAM e
de ceramistas da RCC, que visa efetuar a análise de viabilidade da utilização do
transporte ferroviário para o escoamento dos produtos cerâmicos das indústrias de
Campos dos Goytacazes para importantes mercados consumidores como a região do
Grande Rio de Janeiro e também a região da Grande Vitória no Espírito Santo.
A expectativa dos ceramistas é grande em relação ao sucesso deste projeto,
pois esta iniciativa pode gerar grandes benefícios para os ceramistas da região em
função da possibilidade de expansão comercial, além do ganho de competitividade
decorrido da otimização logística proporcionada pela utilização do transporte ferroviário;
d) A introdução e desenvolvimento de conceitos de compra e venda
cooperativadas, que possibilitou ganhos de escala às cerâmicas e também um melhor
desempenho comercial.
O RM (Ranking Médio) para o indicador pesquisado obteve o índice de 4,6,
representando um nível muito alto de desempenho da governança na percepção dos
ceramistas, que pode ser justificado em função da grande atuação e sucesso nas ações
implementadas.
75
5.3.4 O papel da governança em estabelecer parcerias com instituições que oferecem linhas de crédito e de fomento específicas para os ceramistas
É de responsabilidade da governança, buscar instituições parceiras que
possuam este perfil e que ofereçam um acesso privilegiado dos ceramistas ao crédito e
ao financiamento. Em contrapartida, os ceramistas representam também um novo
segmento de mercado a ser atendido por estas instituições.
Os ceramistas se apresentaram satisfeitos com as ações da governança neste
sentido, pois relataram que um banco estatal abriu uma linha de crédito específica para
os ceramistas, com condições especiais e atendimento personalizado. Os ceramistas
estão confiantes com as novas perspectivas, já que anteriormente não existiam
oportunidades como esta. Porém, como esta linha de crédito foi aberta recentemente,
não foram citados casos em que os ceramistas se utilizaram destes recursos
oferecidos.
Além de instituições bancárias, os entrevistados relataram que alguns projetos
estão sendo desenvolvidos com o apoio da FAPERJ, que é uma instituição ligada ao
Governo do Estado do Rio de Janeiro.
Entre os projetos desenvolvidos com o apoio da FAPERJ, podem ser citados
como exemplo uma análise de viabilidade da utilização do capim elefante como
combustível para o funcionamento dos fornos cerâmicos, representando uma
alternativa à utilização da lenha e do gás natural.
Outro projeto, que é um desejo antigo de alguns ceramistas, é a construção de
uma central de produção de massa cerâmica, que visa a padronização da massa
cerâmica utilizadas pelas indústrias, visando além da qualidade do produto final, a
possibilidade de comercialização desta massa para outras cerâmicas que estiverem
não fizerem parte do consórcio de empresas que estão envolvidas no projeto.
Os entrevistados também comentaram que quando necessitam de apoio para a
elaboração de projetos para a obtenção de financiamentos ou empréstimos, procuram
diretamente o SEBRAE para este suporte, e caso esta tenha condições de oferecer o
auxílio adequado, os ceramistas são direcionados para outras instituições da
governança.
Neste indicador pesquisado, a opinião dos entrevistados apresentou um ranking
médio de 4,2, representando um alto nível de desempenho da governança em buscar
76
agregar ao arranjo empresas que possibilitem o desenvolvimento através do
oferecimento de crédito e financiamentos.
De acordo com os comentários colhidos nas entrevistas, acredita-se que o
ranking médio obtido para este indicador só não foi maior por que o oferecimento, pelo
menos das linhas de crédito bancário é recente, não oferecendo ainda resultados mais
consistentes.
5.3.5 A ação da governança em promover ações que incentivam o desenvolvimento tecnológico das empresas da aglomeração produtiva
A inovação tecnológica é considerada como um dos principais geradores de
diferenciais competitivos para as empresas (CAMPOS et al., 2002). E desta forma, o
desenvolvimento tecnológico passa a ser um fator de grande importância para as
aglomerações produtivas e consequentemente se torna também parte da
responsabilidade da governança em incentivar as empresas a buscarem alternativas de
desenvolvimento.
Foi percebido através das entrevistas, que existe um grande incentivo por parte
da governança para que os ceramistas busquem o desenvolvimento tecnológico de
suas empresas.
E para este fim, os ceramistas são direcionados a buscarem especialmente a
UENF, que mesmo antes da formação da estrutura governança, já desenvolvia projetos
de melhoria e inovação tecnológica das cerâmicas da região.
De acordo com os ceramistas, eles são sempre muito bem recebidos pelos
pesquisadores e quem busca o desenvolvimento sempre consegue obter resultados em
parceria com a UENF. Porém, os próprios ceramistas ressaltam que a procura pelo
suporte tecnológico ainda é muito pequena.
Entre os projetos relacionados à inovação e ao desenvolvimento tecnológico,
foram citados os seguintes:
a) Pesquisas a respeito da utilização do capim-elefante como combustível para
os fornos cerâmicos, que além de ser mais barato, polui menos o ambiente;
b) A utilização de resíduos de outras indústrias, como a de celulose e a de
pedras ornamentais, na composição da massa cerâmica, que além de contribuir com o
77
aumento do volume sem a perda de qualidade, ainda contribui para que estes resíduos
não poluam o ambiente;
c) A elaboração do projeto para a criação da central de massa cerâmica, descrita
anteriormente, entre outros.
O indicador medido buscava identificar o desempenho da governança em prol do
desenvolvimento tecnológico das cerâmicas, e desta forma, obteve o índice de 4,2,
representando um alto nível de influência da governança neste quesito, apesar dos
fatos descritos anteriormente.
5.3.6 O papel da governança em incentivar a melhoria da gestão empresarial e da qualidade nas empresas da aglomeração produtiva
Ao pesquisar este indicador, buscou-se identificar a percepção dos entrevistados
no que diz respeito à governança incentivar esta busca pela melhoria da gestão
empresarial e da qualidade em suas empresas.
Podem ser citadas como ações específicas da governança em relação a este
incentivo, as seguintes, de acordo com os ceramistas entrevistados:
a) O incentivo e suporte à certificação do PSQ (Programa Setorial da Qualidade),
que é um programa de qualidade oferecido pela ANICER, que visa a padronização de
processos e produtos. De acordo com os ceramistas, esta certificação representa um
grande nível de diferenciação para as cerâmicas do Brasil, porém, ainda não existem
cerâmicas que conseguiram obter esta certificação na aglomeração produtiva em
questão.
É oferecido pelo Sistema FIRJAN, através do SENAI, um suporte às cerâmicas
que se interessam em obter esta certificação, que consiste em visitas às empresas e
diagnósticos e treinamentos sobre a adequação das cerâmicas às normas de
qualidade.
b) Foi percebido através das entrevistas, que uma ação que representou um
grande avanço qualitativo para as cerâmicas da região, foi a construção do LABCERV
(Laboratório de Cerâmica Vermelha).
O LABCERV atua como um importante parceiro pois possui o objetivo de
disseminar a cultura da qualidade dos produtos para as cerâmicas da região,
78
oferecendo possibilidades de ganhos competitivos através de uma melhor padronização
e qualidade do produto final.
O laboratório atende gratuitamente a todas as cerâmicas da região, realizando
ensaios físicos e mecânicos em peças cerâmicas industriais tais como blocos de
vedação, telhas, lajotas e revestimentos. Entre os ensaios realizados, podem ser
citados como mais importantes os de análise dimensional, resistência mecânica,
absorção de água e de impermeabilidade de telhas.
De acordo com os ceramistas, o LABCERV é imprescindível para que as
cerâmicas consigam acessar mercados mais exigentes em relação a padrões de
qualidade e que o desenvolvimento econômico da RCC pode ser em grande parte
atribuído ao nível de qualidade obtido com o suporte deste laboratório.
c) Os ceramistas também ressaltaram a importância do oferecimento de cursos,
treinamentos e palestras sobre os mais diversos temas relacionados à gestão
empresarial, como: planejamento, qualidade, finanças, controle de estoque e outros,
que são normalmente oferecidos pelo SEBRAE.
Os entrevistados se mostraram muito satisfeitos com o incentivo da governança
à qualificação e à melhoria da gestão e da qualidade de suas empresas, desta forma
pode-se justificar que este indicador pesquisado obteve uma pontuação considerável de
4,7, que representa um nível muito alto de desempenho da governança em incentivar
os ceramistas.
5.3.7 O papel da governança em incentivar o comprometimento das instituições que a compõem
O indicador pesquisado nesta questão refere-se principalmente à percepção dos
ceramistas em relação ao comprometimento das instituições que formam a estrutura de
governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.
De acordo como os ceramistas, esta percepção é baseada na disponibilidade,
agilidade e qualidade da solução oferecida pela instituição que está oferecendo o
suporte aos ceramistas quando necessitam.
Este índice pode ser justificado pelo fato de que, em se tratando da governança,
o contato mais direto que possuem é com o SEBRAE, e este funciona como uma ponte
para o contato com as outras instituições.
79
Assim, foi percebido que quando existe alguma demanda por parte dos
ceramistas, o contato é feito com o SEBRAE, que entra em contato com as instituições
e posteriormente é repassado ao ceramista um retorno. Desta forma, o processo pode
demorar e tangibilizar negativamente a instituição solicitada.
Não houve comentários negativos em relação ao nível de qualidade das
soluções oferecidas, pois de acordo com os ceramistas, as instituições os atendem da
melhor forma.
Inclusive, muitos ceramistas elogiaram a coesão e parceria que as instituições
que formam a governança demonstram e disseram que esta integração os beneficia
muito, pois quando uma instituição não consegue uma solução para determinado
problema, rapidamente outras instituições com melhores condições de oferecer apoio
são mobilizadas.
De acordo com os ceramistas, o que traz algum transtorno está relacionado à
acessibilidade de algumas instituições e ao tempo de retorno a respeito de alguma
solicitação. Aspecto que está intimamente ligado à percepção dos mesmos em relação
ao comprometimento e contribuição da governança ao desenvolvimento da
aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.
Desta forma, o ranking médio (RM) obtido foi de 3,2, que indica um nível médio
de desempenho por parte da governança da aglomeração.
5.3.8 O papel da governança em incentivar práticas de responsabilidade social e sustentabilidade nas empresas da aglomeração produtiva
Foi explicado aos entrevistados que nesta afirmação, buscava-se identificar a
opinião dos mesmos a respeito da ação da governança em ressaltar a importância da
consciência socioambiental e da aplicação destes princípios em seu cotidiano.
De acordo com os entrevistados, a questão da responsabilidade socioambiental
é muito debatida pela governança e uma questão que deve ser evidenciada é que para
fazer parte da “rede” como os ceramistas costumam chamar, além da cerâmica que faz
parte da aglomeração produtiva ser sindicalizada, é necessário que estas empresas se
comprometam a seguir uma série de exigências de responsabilidade fiscal, social e
ambiental, impostas pela governança. Podem ser citadas como exemplos destas
exigências, de acordo com os ceramistas entrevistados, as seguintes:
80
a) A empresa precisa ser formalizada; b) todos os funcionários devem estar
registrados; c) não pode haver a utilização de trabalho infantil; d) a empresa precisa
estar com seu licenciamento ambiental em dia; e) é necessário criar a cultura da
qualidade, da segurança e da proteção ao meio ambiente na empresa, contando com o
envolvimento dos funcionários; f) o oferecimento de equipamentos de proteção
individual e coletiva aos funcionários e a cobrança pela sua utilização por parte da
empresa; g) entre outras relacionadas ao desenvolvimento da responsabilidade
socioambiental da empresa.
Apesar dos aspectos exigidos fazerem parte da legislação normal, no caso da
aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes, pôde-se perceber
pelas entrevistas que algumas empresas do arranjo desrespeitam as mais simples
regras de responsabilidade socioambiental, como ausência de segurança para os
funcionários, funcionários informais, utilização de mão de obra infantil, além de grande
degradação ao meio ambiente.
Uma questão importante a ser abordada é que apesar da elevada pontuação
obtida em relação a este indicador e das exigências impostas pela governança às
cerâmicas, foi ressaltado por alguns ceramistas que não existe uma fiscalização para
verificar se realmente as empresas estão cumprindo efetivamente estas normas. Desta
forma caso a governança não desempenhe seu papel de evidenciar a importância e
cobrar a postura da responsabilidade socioambiental das cerâmicas da aglomeração
produtiva, todo o trabalho desenvolvido pode estar sendo comprometido, caso surja
alguma evidência contrária aos padrões desejados.
Outra ação em prol da responsabilidade socioambiental foi desenvolvida pelo
DRM – RJ (Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro) em
conjunto com a governança, que desenvolveu um manual de apoio ao ceramista para o
uso sustentável dos recursos naturais de modo a minimizar o impacto ambiental da
atividade cerâmica na região.
O INEA (Instituto Estadual do Ambiente) em conjunto com o DRM-RJ, incentiva o
reflorestamento da região, também com o objetivo de amenizar o impacto da
exploração e desmatamento causado pela atividade cerâmica.
Outra instituição que desenvolve uma ação voltada à responsabilidade
socioambiental da aglomeração é o IFF (Instituto Federal de Educação, Ciência e
81
Tecnologia Fluminense), que desenvolve um projeto com o SEBRAE, para a
implantação de um programa que visa a conscientização e adequação das cerâmicas
para o uso mais racional de energia. Desta forma, é aberta às cerâmicas, a
oportunidade de participar do programa, no qual suas empresas são visitadas e é
efetuado um diagnóstico por parte de uma equipe formada por técnicos e alunos do
IFF. Após o diagnóstico são propostas melhorias relacionadas à troca ou manutenção
de equipamentos e instalações e também é feito um trabalho de conscientização da
economia de recursos.
Desta forma, foi detectado através dos relatos dos entrevistados, que a
governança atua efetivamente na conscientização e na proposição de ações em prol da
conscientização e do desenvolvimento de práticas de responsabilidade social e
ambiental desta aglomeração produtiva.
O ranking médio obtido para este indicador foi de 4,7, indicando um nível muito
alto de desempenho da governança neste sentido.
5.3.9 O papel da governança em implementar ações seguindo um planejamento estratégico
O indicador pesquisado diz respeito ao fato da governança seguir um
planejamento ao implementar suas ações em prol da aglomeração produtiva de
cerâmica de Campos dos Goytacazes.
Desta forma, os ceramistas concordam que as ações implementadas pela
governança são direcionadas por um planejamento, podendo ser citadas como as mais
importantes as seguintes:
Quando foi estabelecido o planejamento estratégico, uma das primeiras ações foi
uma campanha em conjunto com o DRM-RJ e o INEA, para o licenciamento ambiental
de todas as cerâmicas, obtendo um grande sucesso com 100% de adesão por parte
das cerâmicas.
O processo de expansão comercial da RCC foi fruto do planejamento que
direcionou as cerâmicas para desenvolverem os sistemas de compra e venda de forma
coletiva. Esta ação foi desenvolvida particularmente pelo SEBRAE, que em função da
experiência em outras aglomerações, implementou este sistema no arranjo em questão.
82
O desenvolvimento de práticas de responsabilidade socioambiental, que foram
uma exigência para a entrada das empresas na “rede”, é também fruto do planejamento
visando a sustentabilidade da atividade cerâmica na região.
E por fim, uma importante conquista proporcionada pelo planejamento da
governança foi a construção do CVT – Cerâmica, que era um desejo antigo dos
ceramistas e que foi conseguida em função de muita articulação e mobilização da maior
parte das instituições que formam a governança, como o SEBRAE, o SICCC, a
FAETEC e o Governo do Esatdo do Rio de Janeiro.
Desta forma, o ranking médio (RM) para este indicador foi de 4,2, evidenciando
de acordo com a metodologia proposta, um alto nível de desempenho da governança
em seguir um planejamento ao implantar ações em prol da aglomeração.
5.3.10 O papel da governança em apoiar a criação de centros para a formação de mão de obra especializada
Na pesquisa deste indicador, buscou-se identificar a percepção dos
entrevistados a respeito das ações que a governança por ventura desempenhe em
apoiar a criação destes centros de formação de mão de obra.
De acordo com os ceramistas, a construção de um centro de formação de mão
de obra especializada para trabalhar nas cerâmicas da aglomeração era um desejo
antigo dos ceramistas e a representatividade e mobilização da governança foi
fundamental para que este objetivo fosse alcançado.
Apesar de algumas das instituições que formam a governança oferecerem
cursos e sobre gestão, qualidade, produção e até algumas palestras mais específicas
sobre cerâmica, o setor ressentia-se de um nível maior de preparação e
desenvolvimento, já que o nível técnico da mão de obra local é muito fraco, de acordo
com os ceramistas.
Desta forma que através de grande articulação com diversas instituições,
atendendo à demanda local, foi inaugurado pela FAETEC (Fundação de Apoio à Escola
Técnica) em Campos dos Goytacazes, no dia 06 de abril de 2009 o CVT (Centro
Vocacional Tecnológico) – Cerâmica, uma instituição direcionada especificamente ao
treinamento e desenvolvimento de profissionais especializados em atuar nas cerâmicas
83
da região, agregando valor aos produtos e serviços e assim contribuindo com o
desenvolvimento do setor.
Apesar de já estar em funcionamento, o CVT – Cerâmica passará a oferecer o
curso técnico em cerâmica vermelha somente a partir de fevereiro de 2010. Atualmente
são oferecidos cursos de curta duração em áreas correlatas à cerâmica, como:
tecnologia em cerâmica vermelha, manutenção de máquinas, logística, metrologia e
administração de custos.
A criação do CVT – Cerâmica, foi muito elogiada pelos ceramistas que aguardam
ansiosamente pelo início do curso técnico. Desta forma, pode-se perceber a ação direta
da governança para a criação deste centro. Este indicador obteve a pontuação de 4,8,
indicando um nível muito alto de desempenho da governança.
5.3.11 O papel da governança em utilizar um agente coordenador da governança para mobilização dos atores que fazem parte da aglomeração produtiva
Foi questionado aos entrevistados qual era a opinião dos mesmos a respeito da
existência de um agente coordenador da governança, isto é, uma pessoa que cuidasse
efetivamente da coordenação e mobilização das empresas em conjunto com as
instituições para o sucesso do arranjo.
Os entrevistados foram praticamente unânimes ao responder esta questão,
indicando o gestor da governança assumindo o papel deste agente coordenador.
De acordo com os ceramistas, sempre que surge alguma necessidade por parte
dos mesmos, automaticamente eles entram em contato com o gestor da governança
para que este consiga atendê-los. Seja através do SEBRAE, seja através de qualquer
outra instituição que faz parte da governança ou mesmo qualquer outra instituição.
Foi demonstrado através das entrevistas que os ceramistas apresentam um
elevado nível de confiança no gestor da governança e que estão muito satisfeitos com o
seu papel no desenvolvimento da aglomeração.
Uma questão que deve ser ressaltada é que a literatura normalmente considera
que o agente coordenador deve ser contratado independente de qualquer instituição de
faça parte da governança, sendo este um profissional com capacidade técnica e
gerencial para coordenar os atores da aglomeração produtiva (SUZIGAN, GARCIA &
FURTADO, 2007).
84
Porém, como no caso deste arranjo, o gestor que assume o papel do agente
coordenador é um representante do SEBRAE, é importante perceber se a sua atuação
está realmente trazendo benefícios à aglomeração produtiva. Em princípio os
ceramistas estão muito satisfeitos com o desempenho do gestor, mas é importante
avaliar se o mesmo está sendo efetivo para o sucesso da aglomeração.
De acordo com as respostas obtidas, o indicador pesquisado obteve o ranking
médio de 4,6, representado um nível muito alto de desempenho da governança em
promover esta ação.
5.3.12 O papel da governança em incentivar a entrada de novas empresas em seu Programa Cerâmica Vermelha
O indicador pesquisado nesta questão baseia-se no fato de que a literatura
considera como uma importante ação da governança que é o incentivo para que as
empresas venham a fazer parte da aglomeração produtiva.
No caso específico desta aglomeração produtiva, o questionamento era a
respeito do incentivo por parte da governança, para que outras cerâmicas do arranjo
viessem a fazer parte do Programa Cerâmica Vermelha, que culminou na criação da
RCC.
De acordo com os ceramistas, a governança, principalmente através do SEBRAE
nas reuniões promovidas pela governança, busca convidar outras cerâmicas do arranjo
a fazerem parte deste programa de rede de empresas, porém alguns problemas foram
detectados. Além de não haver muito interesse por parte dos ceramistas em fazer parte
da “rede”, foi identificada uma grande barreira imposta pelos próprios participantes para
que outras empresas venham a ingressar na mesma.
A RCC é uma associação formal, que possui um estatuto e que permite que
qualquer empresa se associe, porém deve cumprir algumas exigências. Em primeiro
lugar, para que uma empresa venha a fazer parte da RCC, deve ser unanimidade para
todos os ceramistas da RCC a entrada desta nova cerâmica.
Além disso, como foi citado na subseção que tratava da criação da RCC, a
cerâmica que quiser se associar à “rede”, precisará também pagar uma cota, relativa ao
expertise comercial agregado pela RCC e também por conta dos bens de uso coletivo
adquiridos ao longo do tempo, como caminhões, carros e outros.
85
Desta forma apesar da governança incentivar a entrada de novas empresas na
“rede”, algumas exigências feitas pelos membros da RCC, podem estar desmotivando
outros ceramistas a se associarem, se tornando verdadeiras barreiras ao
desenvolvimento coletivo da aglomeração produtiva.
Este indicador obteve o ranking médio de 3,8, representando um alto nível de
desempenho da governança neste quesito.
5.3.13 O papel da governança em controlar os resultados das ações planejadas
Com a pesquisa deste indicador, buscou-se perceber a opinião dos entrevistados
a respeito da realização de um controle sobre os resultados das ações que foram
estabelecidas no planejamento estratégico.
De acordo com os ceramistas, quando a RCC foi formada, o nível de cobrança
por resultados e de controle da governança era mais rígido. Porém, conforme citado
anteriormente na pesquisa do índice relacionado ao planejamento estratégico, muitos
ceramistas não conseguiam cumprir o que havia sido acordado em relação à
implantação das ações de sua responsabilidade e desta forma, a governança efetuava
a cobrança de resultados, mas não havia a contrapartida por parte de alguns
ceramistas. Desta forma, com o passar do tempo, após inúmeras cobranças, a
governança “relaxou” na cobrança de resultados.
Entre as ações que foram propostas e não houve a execução por parte dos
ceramistas, como já citado anteriormente, podem ser citadas como principais exemplos:
a construção da central de massa, o reflorestamento das áreas, a certificação no
programa de qualidade (PSQ) gerenciado pela ANICER, a implantação dos sistemas
logísticos de pallets e a verificação se as cerâmicas estão cumprindo as exigências
socioambientais estipuladas.
Um grupo de ceramistas inclusive, reclamou da falta de controle por parte da
governança, pois os resultados dos esforços coletivos ficam comprometidos com o fato
de que algumas cerâmicas não cumprem o que foi acordado.
Os ceramistas reivindicam até punições ou até mesmo a exclusão da empresa
do grupo, para o ceramista que não cumprir com as suas responsabilidades de
implantação das ações.
86
Desta forma, este indicador foi o que representou o menor ranking médio de
todos os quesitos pesquisados, alcançando uma pontuação de 3,2, que representa um
nível médio de desempenho da governança.
5.3.14 O papel da governança em incentivar a cooperação somente entre as empresas que fazem parte da aglomeração produtiva
Para a pesquisa deste indicador, especificamente, buscou-se identificar a opinião
dos entrevistados em relação ao nível de cooperação apenas entre os ceramistas que
fazem parte da aglomeração produtiva.
Conforme citado anteriormente na pesquisa do primeiro indicador, referente às
ações da governança em incentivar a cooperação entre os atores, pode-se considerar
que a pesquisa deste 14º indicador, busca identificar se os resultados das ações
implementadas pela governança em gerar cooperação estão obtendo sucesso.
O resultado de um elevado ranking médio pode ser justificado pelas ações da
governança de promoção de reuniões onde a cooperação é incentivada; a organização
de grupos de ceramistas para a realização de visitas técnicas e participação em feiras,
cursos e congressos; além da ação específica da governança em incentivar que cada
ceramista visite as empresas dos outros ceramistas, para o fortalecimento dos
relacionamentos entre os mesmos.
Desta forma, pôde-se perceber que em relação à cooperação entre os
ceramistas, a governança está conseguindo obter sucesso em função do elevado
ranking médio que este indicador apresentou, além das percepções obtidas pelos
relatos dos ceramistas a respeito do bom relacionamento entre eles.
E pelo resultado da pesquisa, este indicador apresentou um ranking médio de
4,6, que representa um nível muito alto de desempenho da governança em relação à
criação de um ambiente propício ao desenvolvimento da cooperação e integração entre
os ceramistas.
5.3.15 O papel da governança em incentivar a cooperação entre as empresas que fazem parte da aglomeração produtiva e as instituições que compõem a governança
87
Seguindo a mesma linha de raciocínio da pesquisa do indicador anterior que
buscava identificar o nível de cooperação entre os ceramistas, temos para a pesquisa
deste indicador, a análise do nível de cooperação entre os ceramistas e as instituições
que formam a estrutura de governança da aglomeração produtiva de cerâmica de
Campos dos Goytacazes.
Porém, foi detectado na pesquisa deste indicador que o nível de relacionamento
entre os ceramistas e as instituições não apresenta a mesma força que apresenta o
relacionamento dos ceramistas.
De acordo com os ceramistas, quando se trata de relacionamento com as
instituições que formam a governança, eles possuem um forte nível de relacionamento
com o SEBRAE, que realiza a articulação com as outras instituições quando
necessário.
Quando os ceramistas necessitam de algum suporte, o contato é estabelecido
pelo SEBRAE com esta instituição e de acordo com os ceramistas, quando as
instituições e os ceramistas trabalham em conjunto, o relacionamento é o melhor
possível.
Porém, eles afirmam que se ressentem em ter um contato mais direto com as
outras instituições que formam a governança, no momento que necessitam de um
apoio, de modo a não precisarem entrar em contato com o SEBRAE, para que este
faça a ponte entre o ceramista e a instituição.
Desta forma, torna-se necessário por parte da governança, buscar aumentar o
nível de integração entre os ceramistas e todas as instituições em função das
vantagens que a cooperação entre os atores pode proporcionar ao desenvolvimento da
aglomeração produtiva.
O ranking médio deste indicador apresentou o resultado de 3,4, indicando um
nível médio de desempenho da governança em relação ao incentivo à cooperação
entre estes atores.
5.3.16 O papel da governança em oferecer condições para que as empresas obtenham um maior nível de aproveitamento das ações implementadas
O objetivo de buscar identificar a opinião dos entrevistados em relação ao
indicador de aproveitamento das ações da governança, deve-se ao fato de perceber se
88
na opinião dos ceramistas, está havendo um aproveitamento satisfatório por parte das
empresas das ações implementadas pela governança.
De acordo com os ceramistas, eles conseguem se aproveitar das ações que a
governança implementa, mas poderiam se aproveitar mais ainda se houvesse um maior
nível de visão gerencial e comprometimento por parte dos gestores em cumprir com as
responsabilidades assumidas.
Desta forma, muitos ceramistas estão buscando se capacitar, participando dos
cursos oferecidos pela governança e até mesmo fazendo graduação em faculdades da
região, cursando normalmente administração e varejo.
De acordo com os ceramistas, a governança busca oferecer as melhores
condições de desenvolvimento para as empresas da aglomeração produtiva de
cerâmica de Campos dos Goytacazes. Assim, cabe aos ceramistas, buscarem também
a capacitação e o desenvolvimento para que consigam se aproveitar ainda mais das
ações implementadas pela governança em prol do arranjo.
O indicador pesquisado obteve o ranking médio de 4,1, representando um alto
nível de desempenho da governança em oferecer um ambiente propício ao
aproveitamento das ações implementadas.
5.3.17 O papel da governança em contribuir para o desenvolvimento da aglomeração produtiva
Neste último indicador pesquisado, buscou-se identificar de uma forma geral,
qual a opinião dos entrevistados a respeito do papel da governança em influenciar
positivamente a aglomeração produtiva através da mobilização de atores e a
implementação de ações que privilegiem o desenvolvimento coletivo e a cooperação.
De acordo com os ceramistas, entre os fatores que mais contribuíram
negativamente com o índice, não permitindo que a avaliação fosse melhor podem ser
citados: a falta de comprometimento “de alguns” ceramistas, deficiências na
acessibilidade a algumas instituições, a falta de controle dos resultados das ações e a
falta de um melhor nível de interação entre as empresas e as instituições que formam a
governança, excetuando-se o SEBRAE.
Já entre os fatores mais positivos citados pelos ceramistas estão: o
desenvolvimento comercial, a melhoria da gestão empresarial e da qualidade, a
89
elevação do nível de consciência socioambiental e da sustentabilidade dos negócios e
a criação de um centro para formação de mão de obra especializada, que foi a
construção do CVT – Cerâmica.
Porém um fator citado pelos ceramistas como de primordial importância é o nível
de cooperação entre eles, desenvolvido muito em função dos incentivos e da ação da
governança. Este nível de cooperação alcançado entre os ceramistas permitiu que todo
o processo se desenvolvesse e que fossem alcançassem os atuais níveis de sucesso.
Apesar disso, os ceramistas acreditam que ainda tem muito a melhorar e se
desenvolver.
De acordo com os ceramistas, com a governança eles passaram a ter um melhor
direcionamento das ações e o fato de atuarem de forma cooperativa traz muitos
benefícios, os quais eles não tinham “nem idéia”.
Eles consideram que a governança concedeu ao setor uma nova dinâmica, que
os impulsionou para o desenvolvimento, abrindo seus olhos para a qualidade, a
segurança, a responsabilidade socioambiental, a competitividade e a sustentabilidade.
O indicador pesquisado obteve um ranking médio de 4,3, que representa um alto
nível de desempenho da governança em direcionar o arranjo produtivo para o
desenvolvimento e para o sucesso.
Para encerrar esta subseção será apresentado o comentário de um ceramista,
que mostra de forma resumida a percepção dele e de outros ceramistas a respeito do
desempenho da governança em prol do desenvolvimento da aglomeração produtiva de
cerâmica de Campos dos Goytacazes.
O fato de estarmos comprometidos com as ações da governança nos deixou mais antenados ao mercado. Não estamos em tão boas condições como gostaríamos, mas certamente se não tivéssemos o apoio da governança, provavelmente estaríamos em piores condições do que as que estamos desfrutando atualmente (Ceramista Fundador da RCC- Rede Campos Cerâmica).
5.4 Análise global dos resultados
Buscando-se atender o objetivo principal deste trabalho de acordo com a
metodologia proposta, que é verificar se a estrutura de governança aplicada,
efetivamente contribui para o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica
90
de Campos dos Goytacazes, foram analisados os resultados obtidos pelas pesquisas
efetuadas, visando responder aos objetivos específicos propostos.
Em relação ao atendimento do objetivo específico 1, que trata da análise do
processo de estruturação da governança, pôde-se perceber que de forma geral, foram
efetivamente considerados os fatores fundamentais para a estruturação e
desenvolvimento da governança nesta aglomeração produtiva. O único fator detectado
como incongruente ao desenvolvimento do arranjo, é a necessidade de uma maior
mobilização dos ceramistas na busca de um maior nível de comprometimento.
Em se tratando da obtenção do objetivo específico 2, que se relaciona com a
análise das ações implementadas pela governança na aglomeração em questão, foi
possível identificar que a única ação que não é implementada legitimamente em
conjunto com a governança, é o incentivo ao desenvolvimento tecnológico. Desta forma
é importante que a governança busque uma maior integração com instituições que
oferecem este tipo de suporte, de modo que as ações sejam implementadas em um
contexto de maior cooperação.
Considerando o atendimento do objetivo específico 3, foi obtido um ranking
médio geral de 4,2, indicando um nível alto de desempenho da governança em
contribuir para o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos
dos Goytacazes.
Os resultados consolidados, de acordo com a percepção dos entrevistados,
serão apresentados no Quadro 8 a classificação dos indicadores em relação ao
desempenho da governança em prol do desenvolvimento da aglomeração produtiva em
tela.
Fatores relacionados ao nível de desempenho da governança da aglomeração produtiva
Classificação dos indicadores de nível de desempenho da governança
• Incentivo ao desenvolvimento comercial das empresas
• Incentivo à melhoria da gestão empresarial e da qualidade
• Incentivo à responsabilidade socioambiental
• Apoio a criação de centros para a formação de mão de obra especializada
• Utilização de um agente coordenador da governança
• Incentivo à cooperação entre os empresários
Muito Alto
91
• Evidenciação da importância da cooperação nos relacionamentos entre os empresários
• Implementação das ações seguindo um planejamento
• Promoção de ações que incentivam o desenvolvimento tecnológico
• Formação de parceiras com instituições que oferecem linhas de crédito e de fomento específicas para os ceramistas
• Incentivo à entrada de novas empresas em seu Programa Redes Associativas
• Oferecimento de melhores condições às empresas para obterem um melhor nível de aproveitamento das ações implementadas
• Contribuição da governança para o desenvolvimento da aglomeração produtiva
Alto
• Comprometimento dos atores com as ações propostas pela governança
• Comprometimento das instituições que formam a governança
• Controle dos resultados das ações planejadas
• Incentivo da cooperação entre as empresas as instituições que compõem a governança
Médio
Quadro 8: Classificação dos indicadores de desempenho da governança em contribuir para o desenvolvimento da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.
Fonte: Elaborado pelo autor.
92
CAPÍTULO VI
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta deste trabalho consistiu em analisar a estrutura de governança
adotada pela aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes, visando
investigar se o referido modelo efetivamente contribui para o desenvolvimento desta
aglomeração produtiva.
Para alcançar este objetivo, buscou-se analisar elementos estruturais, ações
implementadas pela governança e a percepção dos empresários sobre o desempenho
da governança em contribuir para o desenvolvimento da aglomeração.
Ao investigar o processo de estruturação da governança, buscou-se identificar
se foram contemplados neste processo os fatores considerados como fundamentais
para a estruturação e desenvolvimento de uma estrutura de governança de sucesso.
Constatou-se que, de forma geral, efetivamente foram considerados os referidos
fatores. Porém, a única inconsistência encontrada se trata da percepção de um baixo
nível de comprometimento por parte dos ceramistas em seguir as orientações de
implementação de ações propostas pela governança. Este é um fator preocupante, pois
de acordo com o referencial teórico levantado, o comprometimento dos atores é de
fundamental importância para o desenvolvimento e sucesso das aglomerações
produtivas.
Como alternativa a este problema, pode-se recomendar que a governança
implemente mais ações que busquem elevar o nível de conscientização dos ceramistas
a respeito da importância do comprometimento para o alcance dos objetivos coletivos e
do consequente sucesso da aglomeração produtiva como um todo.
No que diz respeito às ações implementadas pela governança, efetuou-se uma
análise comparativa entre estas ações e as ações normalmente implementadas em
aglomerações produtivas de sucesso disponíveis na literatura.
Através da análise dos resultados obtidos, foi possível identificar que a única
ação não implementada legitimamente em conjunto com a governança, é o incentivo ao
desenvolvimento tecnológico.
93
Este fato ocorre, pois apesar da UENF figurar como uma instituição participante
da governança que deve oferecer suporte tecnológico, pôde-se constatar que as ações
desenvolvidas por esta instituição em prol do desenvolvimento da aglomeração
produtiva em questão, não estão em harmonia com o planejamento realizado pela
governança.
De acordo com os pesquisadores da UENF, a justificativa para esta
incongruência está no fato de que já são desenvolvidas ações direcionadas ao pólo
cerâmico da região há tempos antes da estruturação da governança e que estas ações
não possuem qualquer vínculo com a governança do arranjo.
Em função desta situação, pode-se recomendar à governança que busque uma
maior integração com instituições que oferecem este tipo de suporte, principalmente a
UENF, de modo que as ações sejam implementadas em um contexto de maior
cooperação e sinergia, já que o objetivo final das instituições envolvidas com a
governança é o desenvolvimento regional.
No que diz respeito às percepções dos ceramistas em relação ao desempenho
da governança, este trabalho ouviu e analisou a opinião dos mais interessados no
processo, de forma a observar se a governança está efetivamente cumprindo o seu
papel.
Através da análise dos resultados, foi possível classificar os indicadores de
desempenho da governança e constatar que em função da metodologia adotada, a
estrutura de governança investigada apresenta um alto nível de desempenho em gerar
desenvolvimento para a aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos
Goytacazes.
Os indicadores classificados com um nível muito alto de desempenho são:
incentivo ao desenvolvimento comercial das empresas, o incentivo à melhoria da
gestão empresarial e da qualidade, apoio à criação de centros para a formação de mão
de obra especializada, utilização de um agente coordenador da governança e nível de
cooperação nos relacionamentos entre as empresas.
Já os indicadores que obtiveram a classificação de alto nível de desempenho
são: evidenciar a importância da cooperação nos relacionamentos entre os atores,
implementação das ações seguindo um planejamento, promoção de ações que
incentivam o desenvolvimento tecnológico, formação de parceiras com instituições que
94
oferecem linhas de crédito e de fomento específicas para os ceramistas, incentivo à
entrada de novas empresas em seu Programa Redes Associativas, o nível de
aproveitamento por parte das empresas das ações da governança e o nível de
contribuição da governança para o desenvolvimento da aglomeração produtiva.
E finalmente, como indicadores classificados com um nível médio de
desempenho, podem ser citados: o comprometimento dos atores com as ações
propostas pela governança, o comprometimento das instituições que formam a
governança, incentivo e cobrança de práticas de responsabilidade socioambiental,
controle dos resultados das ações planejadas e o nível de interação entre as empresas
as instituições que compõem a governança.
Conclusivamente, serão destacadas análises de determinados indicadores de
desempenho, que podem gerar futuras intervenções por parte da governança da
aglomeração produtiva em questão, em função das recomendações apresentadas.
Em relação ao indicador de desempenho da governança em incentivar práticas
de responsabilidade socioambiental, apesar de ter sido muito bem avaliado, foram
detectadas falhas no processo de controle sobre o cumprimento de certas exigências.
Conforme citado anteriormente, para que as empresas passem a fazer parte do
Programa Cerâmica Vermelha, é necessário que as mesmas se comprometam em
cumprir diversas exigências relacionadas à responsabilidade socioambiental. Porém
identificou-se que apesar do comprometimento inicial das empresas, não está havendo
por parte da governança um controle sobre o cumprimento destas exigências.
Desta forma, pode-se recomendar à governança a implementação de ações que
permitam um maior controle sobre o cumprimento das exigências socioambientais.
Outro indicador de desempenho importante a ser analisado é o que trata do
papel da governança em evidenciar a importância da cooperação entre os atores, que
apesar de ter sido classificado com um nível alto de desempenho, não tem surtido o
efeito desejado, haja vista que foi detectado que o nível de integração entre as
empresas e as instituições que formam a governança, excetuando-se o SEBRAE, foi
avaliado como médio.
Em contrapartida, foi detectada uma grande dependência das empresas que
fazem parte da aglomeração produtiva ao SEBRAE. De acordo com a literatura
corrente, a interdependência é primordial para o sucesso da aglomeração, pois desta
95
forma, a possibilidade de geração de sinergias é muito maior. Desta forma, quando se
configuram casos de dependências entre os atores, devem ser tomadas medidas para
que a interdependência e a cooperação entre todos os atores envolvidos tornem a
reinar.
Assim, recomenda-se que a governança busque implementar ações que gerem
maior integração entre os atores que compõem a aglomeração produtiva, de modo que
os resultados coletivos esperados não sejam comprometidos.
O trabalho também faz uma importante recomendação à governança a respeito
da ação de incentivar a entrada de novas empresas no Programa Cerâmica Vermelha,
que foi o gerador da RCC.
Este fato merece destaque, pois conforme detectado na pesquisa, atualmente
cogita-se por parte dos ceramistas que fazem parte da RCC, que seja cobrada uma
cota para a entrada de novos associados, a título de compensação pelo
desenvolvimento e pelos bens materiais adquiridos pela RCC desde a sua fundação.
Desta forma, o pagamento desta cota pode configurar-se em uma barreira aos
novos entrantes, contrariando o que a literatura propõe como desejável.
Assim, recomenda-se à governança que analise os procedimentos adotados pela
RCC em relação à participação de novas cerâmicas, pois ao invés de estar
contribuindo, pode na verdade estar impedindo o desenvolvimento da aglomeração
produtiva, em função de não permitir que outras empresas se beneficiem do
cooperativismo e da sinergia gerada por este grupo.
Visando contribuir nessa questão, o trabalho apresentou algumas
recomendações para o fortalecimento da governança e a garantia de continuar o seu
papel de agente de desenvolvimento da aglomeração produtiva em questão:
� Implementar ações que elevem o nível de conscientização dos ceramistas em
relação à importância do comprometimento para o alcance dos objetivos coletivos;
� Implementar ações que incentivem maior integração com instituições que
oferecem apoio ao desenvolvimento tecnológico, principalmente a UENF;
� Implementar ações que permitam um maior controle sobre o cumprimento das
exigências socioambientais;
� Implementar ações que gerem maior integração entre os atores que compõem
a aglomeração produtiva;
96
� Analisar os procedimentos de incentivo à entrada de novas empresas no
Programa Cerâmica Vermelha.
Com base na investigação presente, este trabalho procurou mostrar a
importância da estrutura de governança vigente para o desenvolvimento da
aglomeração produtiva de cerâmica de Campos dos Goytacazes.
Deve-se ressaltar que o estabelecimento da governança é essencial ao
desenvolvimento das aglomerações produtivas, tendo em vista que a manutenção e
evolução dos projetos e ações planejadas não dependem unilateralmente dos atores
que fazem parte da aglomeração, mas de um esforço mútuo de cooperação em busca
do objetivo final.
Desta forma, a governança possui como atribuição liderar o arranjo produtivo,
direcionando-o para o crescimento através de ações que visam o envolvimento,
mobilização e coordenação das lideranças empresariais e sua articulação com as
instituições de apoio.
E finalmente, é de responsabilidade da governança que o seu desempenho seja
norteado pelos fatores de sucesso apresentados pela literatura, de modo a estimular a
geração da competitividade necessária para a evolução e desenvolvimento das
aglomerações produtivas, solidificando-as como efetivos mecanismos de
desenvolvimento regional.
97
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103
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIOS
Questionário 1:
A GOVERNANÇA NO APL DE CERÂMICA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES (RCC)
QUESTIONÁRIO ESTRUTURAÇÃO DA GOVERNANÇA
1. Como se iniciou o processo de estruturação da governança?
2. Faça um breve histórico sobre a RCC.
3. Quais as instituições que fazem parte da governança? (Contatos)
4. Quais são os objetivos da governança do APL de cerâmica de Campos dos Goytacazes?
5. Existe algum tipo de formalização da governança?
6. A governança é local?
7. A governança (instituições) é sempre acessível e comprometida?
8. Foi realizada algum tipo de análise (condicionantes) antes de se iniciar a estruturação da governança?
9. Você nota que possam existir assimetrias de poder entre as empresas em relação à participação nas
ações da governança?
10. Em que consiste e como é elaborado o planejamento estratégico? Existe um controle sobre as ações
planejadas?
11. Qual é o nível de consistência da governança?
12. Como é gerida a governança da aglomeração produtiva de cerâmica de Campos?
13. Qual é a sua avaliação a respeito do nível de desenvolvimento deste arranjo?
14. Qual o nível de dependência da governança em relação à instituição coordenadora da rede?
15. Qual é a sua avaliação a respeito do número de cerâmicas que participam da RCC? Por que,
proporcionalmente o número de empresas é baixo? Que tipo de ações são implementadas para
incentivar novas adesões?
16. Os ceramistas, de uma forma geral, conseguem se aproveitar das ações promovidas pela governança
para seu desenvolvimento? Justifique.
17. Quais são os principais desafios ao desenvolvimento do apl?
18. Qual o nível de contribuição da governança para o arranjo?
104
Questionário 2:
PESQUISA SOBRE A GOVERNANÇA NO PÓLO CERÂMICO DE CAMPOS
DOS GOYTACAZES
QUESTIONÁRIO INSTITUCIONAL
Prezado(a) Senhor (a),
Gostaria de contar com sua colaboração nesta pesquisa para a construção de uma
dissertação de mestrado sobre a Governança no Pólo Cerâmico de Campos dos Goytacazes.
Este trabalho busca contribuir para o desenvolvimento deste arranjo produtivo e está
vinculado ao Curso de Mestrado em Engenharia de Produção da UENF.
Responda-o da forma que melhor represente sua opinião e concordância sobre cada item
apresentando.
1. Qual é o objetivo da participação da instituição que você representa na governança do Pólo Cerâmico
de Campos dos Goytacazes?
2. Que ações foram ou estão sendo implementadas, com a participação da sua instituição para melhorar
o nível de desenvolvimento do arranjo?
3. Gostaria finalmente de agradecer sua atenção e deixá-lo (a) à vontade para fazer qualquer
comentário, sugestão ou crítica a respeito do assunto tratado:
RESPONSÁVEL INSTITUIÇÃO