UM ESTUDO SOBRE 0 SINTOMA NA...

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JUS SARA BIASI FONTANA UM ESTUDO SOBRE 0 SINTOMA NA PSICANALISE Monografia Aprcscntada como Requisito Parcial para Obtcn~ao do Titulo de Especialista em Psicaruilisc Com Criant;as. Faculdade de Cicncias Biol6gicas - Cursa de Psicoiogia da Univcrsidadc Tuiuti do Parana. Oricntadora: Profa. Zaim Antonicta Belan. Curitiba, junho de 2001.

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JUS SARA BIASI FONTANA

UM ESTUDO SOBRE 0 SINTOMA NA

PSICANALISE

Monografia Aprcscntada como Requisito Parcial para

Obtcn~ao do Titulo de Especialista em Psicaruilisc

Com Criant;as. Faculdade de Cicncias Biol6gicas -

Cursa de Psicoiogia da Univcrsidadc Tuiuti do

Parana.

Oricntadora: Profa. Zaim Antonicta Belan.

Curitiba, junho de 2001.

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SUMARIO:

Introdu4;iio .

I. 0 Sintoma para a Psic31uilise ..

1.1. Todo Sintoma Psiquico tern urna Causa ....

1.2. Os Primordios do Trabalho de Freud.

........................................ 01

. 03

. 03

. 04

1.3. Algumas Considera~5es sabre a 'Hist6ria Pessoal' de Acordo com a

Psicamilise... . 05

1.4. Sintomas Relacionados com a Realidade ou com a Fantasia. . 06

1.5. Sexualidade lnfantil . ..06

2. Sujeito e Historicidade .. . 08

2.1. Sabre a Fundamental Presen~a do Outro oa Constituiyao do Sujeito 08

2.2. A Visao de Desenvolvimento oa Psicamilise ..

2.3. Alguns Pontos Sabre a Historicidade ....

. 08

. 09

3. Sintoma. . 11

3.1. Os Impulsos Instintuais ....

J .2. Pontua~oes sobre 0 Ego e sabre 0 Id .

3.3. Algumas Pontuayoes sobre a Repressao ..

3.4. 0 Sintoma Carrega urn Sentido ...

. 11

.11

. 12

. 13

4. A Clinic a com Crian~as 17

4.1. Sobre a Funyao Materna e a Funyao Paterna. . 17

4.2.0 Sintoma do Filho e os Pais 18

4.3. Pontuayoes sobre a Separayao .. . 20

5. A Visa a de Cura oa Psicanalise 22

5.1. Pontos de Interface e Pontos de Distanciamento entre a Psicamilise e a

Psicoterapia .

5.2. Alguns Aspectos sobre 0 Trahalho do Analista .

5.3. Qual e a Ideia de Cura para a Psicanalise e para a Psicoterapia ..

5.4. Fantasrna ..

Conclusoes.

. 22

. 23

. 23

.24

. 26

Referencins Bibliograficas 29

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INTRODUC;:AO:

Neste trabalho se partini dos ensinamentos adquiridos no curso de especializac;ao, do

qual a monografia e 0 encerramento.

o tema Silltoma foi escolhido por se mQstrar de alta importancia, pois ele mOSlra que

hit alga com 0 paciente que nao vai bern, sendo assim. considera-se 0 sintoma como uma

quesHio fundamental de entendimento na teoria e na clinica psicanalitica.

Buscar-se-a desenvolver urn estudo sebre 0 sintoma a partir da busca dos parametros

de Freud em seu trabalho para formular urn modele teorico e pratico para acolher as doenc;as

de origem psiquica.

o paciente fala do seu sintoma, pois alga Ihe acantece e ele nao consegue entender.

Muitas pessoas buscam urn psicanaiista para faJar do seu sintoma, no entanla, muitos, nao se

incomodarn com seu sintoma, e a maioria destes nao chega ao analista. A grande distancia que

se estabelece, entao, esta no fato de que 0 fundamental nao esta no fate de ter ou nao urn

sintoma, mas no fato de ter urn incomodo com ele, pois somente aqueles que se incomodarn e

que chegam ou chegarao a urn analista.

No entanto, se 0 paciente chega ao analista em razao de seu sintoma, faz-se

fundamental entender: 0 que e urn sintoma?, e, em funy30 de que variaveis urn sintoma se

forma?, mesrno que nao se possa detenninar os eventos desencadeantes especiticos, pois iSlo

pertence a cada caso, e tera de ser avaliado na sua particularidade, mas, e possivel de acordo

com as e1aborayoes que os te6ricos ja fonnularam, elaborar pontos de referencial comuns aos

seres hurnanos.

Desse modo, 0 sintoma ocupando 0 estatuto que Ihe e atribuido na psicanalise - sendo

este a razi'io pe1a qual 0 paciente proeura 0 tratamento, podena se pensar que a resoluyao de

urn sintoma, durante as sessoes de analise, seria urna questao de cura. Este sena urn prirneiro

raciocinio, mas, indo urn poueo alem, poderia se pensar que 0 final do tratamento nao

estivesse relacionado a questao do sintoma; nesse caso, se a cura nao esta relacionada ao

sintoma, a que questao esta relacionada?

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Como existe fundamental importancia para 0 fato de urn sintoma existir, nao eanalitico urn trabalho que busque a elimina~ao do sintoma, ja que a existencia de urn sintoma

mostra que ele representa uma questao primordial ao sujeito, e, de nada serviria cessar urn

sintoma se 0 pr6prio sujeito nao tivesse antes tide acesso a sua causa. Faz·se necessaria

trabalhar na elucida~ao das ideias incompativeis que compoe 0 sintoma.

Faz-se muito importante evidenciar que a Psicanalise se dedica aos sinlomas que tern

causa simb61ica, sendo esta uma condiyao basica. Por este motiva e fundamental delimitar

que este e 0 campo da Psicanalise, sendo os sintomas de origem organica, a area de atua~ao da

medicina, por exemplo. Assim como, faz·se importante estabelecer as diferen9as entre as

areas, e sobretudo entre a Psicanalise e a psicologia, nas quais, psicanalisla e psic61ogo, se

posicionam de modos diferentes no momento de aoolher e tralar a pessoa que chega para

tratamento.

Buscar-se-a tambem estabelecer urn entendimento da dimensao do sintoma de uma

crian9a que se refere ao casal parental.

Ressalta-se, contudo, que este trabalho 56 atingini a dimensao da neurose.

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1. 0 SINTOMA PARA A PSICANALISE

1.1. TODO SINTOMA TEM UMA CAUSA:

As pessoas que vern ate 0 consult6rio pedir uma ajuda psicologica, come~am a dizer 0

que esta acontecendo como falariam a qua\quer autra pessoa, mas, 0 praticante, orientado pela

teoria psicanalitica, mostrani urn modo de escutar diferente, ja que 0 ponto de partida e pedir

que elas falem, que digam 0 que esta acontecendo; ao inves de oferecer respostas, 0 praticante

rara perguntas, e sua escuta estani dirigida para 0 inconsciente daquele que rala. A partir dai, 0

que esta sendo dite podera adquirir novo sentido, ou 0 mesmo sentido, 56 que compreendido.

OutTas areas (Psicologia, Medicina, Pedagogia, ... ) respondem ao niveJ do fen6meno

manifestado, do Sintoma, utilizando-se de modos de carrigir, cujo objetivo e reeducar ou a

adaptayao.

Para que se possa trabalhar com a pessoa que vern para tratamenlo faz-se necessario

escutar e pontuar 0 que ela esta dizendo, e esse escutar deve ocorrer num nlve! rnais amplo do

que 0 nivel real, se 0 profissional estiver trabalhando ernbasado na PsicanaJise, pois que, a

escuta no nivel simb61ico possibilitara urn diitlogo do que realrnente 0 sintoma esHi a

demonstrar. senao corre-se 0 risco de que esta forma de manifesta9aO sucumba, ou se

transforrne em outros modos de manifestar-se sem que possa realrnente ser escutada a sua

mensagern.

Cabe aqui ressaltar que cada atividade profissional tern seu modo especifico de exercS-

la, entao os campos da Medicina, da Pedagogia, da Psicologia e outros, baseados em

pensamentos filos6ficos e ern teorias distintas, estao cumprindo 0 seu pape\; tanto quanto no

campo da Psicamilise os profissionais vern exercendo sua atividade, campo este, tambem

distinto dos demais.

Ao rnesmo tempo, 0 analista deve estar advertido quantos aos sintomas com causas

orgiinicas, e nem sempre causas simb61icas, e isto vern a caracterizar que cada area de

trabalho tern urn campo de interven9ao limitado.

Na amilise 0 trabalho se realiza pela via da palavra, pois desse modo 0 paciente se

expressa e 0 analista trabalha as quest5es, porem tambem pela repeti~ao 0 paciente fala de si.

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A palavra e utilizada na relac;;ao terapeutica, sendo que 0 modo como a pessoa se constituiu

tambem foi pel a via da palavra.

Os sintomas analiticos sao curados pela revelac;;ao da causa. Sao sintomas que

aparecem e que se mantem no sujeito pelo fato de que a causa esta mantida no sujeito e ao

mesmo tempo e desconhecida. Nesse caso, a for~ patogenica da causa do sintoma desaparece

a partir do momento em que a causa e revel ada.

Uma vez que a causa e descoberta e enunciada explicitamente ela perde a sua forc;;a

patogenica.

1.2. OS PRIMORDIOS DO TRABALHO DE FREUD:

Freud inicialmente trabalhava com a hipnose, seguindo 0 modele proposto por

Breuer, 0 qual consistia em, pedir ao paciente que durante 0 estado de hipnose, expressasse

em paJavras 0 que Jhe oprimia a mente; Breuer observou que este procedimento aliviava os

sintomas de seu paciente.

Freud e Breuer trabalharam juntos durante algum tempo utilizando este modelo, e foi

possivel concluirem a partir deste novo metodo que enquanto em estado de vigilia a paciente

apenas falava do que era relativo ao surgimento de seus sintomas, atraves de sua expressao

peJa hipnose, era possivel estabelecer uma ligac;;ao entre seus sinlomas e suas experiencias de

vida.

"Em seu estado de vigilia a m~ (pacicnte de Breuer - Anna 0.) nao podia dcscrever mais doque outros pacientcs como seus sintomas haviam surgido, assim como n,'io podia descobrirligayao alguma entre eles e quaisquer experiencias de sua vida. Na hipnosc ela de prontodescobria a Iiga(fao que faltava. Acontcceu que lodos os seus sintomas voltavam a fatoseomovcdores que experimentara cnquanto cuidava do pai; isto c, sellS siOlomas tinham urnsignificado c eram residuos au rcminisccncias daquclas situa(foes emociollais."( Freud,1969h:32)

Entao, Freud partia do pressuposto de que urn sintorna tern urna causa e, portanto, urn

significado, e que a causa de urn sintoma psiquico e de origem emocional.

Mas Breuer nao prosseguiu em seu trabalho comurn com Freud. No entanto, Freud

continuou seus estudos, e percebeu que a hipnose colocava alguns impasses ao tratamento.

Freud lembrou-se de Bernheim, 0 qual afirrnava que 0 paciente apos 0 estado de hipnose era

capaz de lembrar-se do que tinha acontecido enquanto se encontrava neste estado. Entao,

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partindo desta ideia, inicialmente de Bernheim, Freud elabora seu proprio entendimento sobre

os pacientes, e segundo 0 qual, em suas proprias palavras,

" .. meus paeientes, refleti, devem de fato 'saber' todas as eoisas que atc entao s6 tinham sidotomadas acessiveis a eles na hipnosc." (Freud, 1969h: 41)

Freud entao abandona 0 hipnotismo e comec;a a trabalhar com seu metodo novo de

tratamento, a Psicamilise.

Entao, quando se parte do pressuposto de que os sintornas tern uma relaQao corn as

experiencias de vida da pessoa, e que a pessoa tern urn saber sobre 0 que the esta acontecendo,

este pressuposto faz com que se de uma direc;ao singular ao tratamento. Trilhar este caminho,

ou entao, trabalhar com 0 referencial da Psicanalise, por conseguinte, e detenninante no

discurso e na pratica do profissional.

1.3. ALGUMAS CONSIDERA<;:OES SOBRE A 'HISTORIA PESSOAL'

DE ACORDO COM A PSICANALISE:

Freud ao escutar urn paciente tinha 0 pressuposto que 0 paciente ao relatar urna

situacao do passado que muito the afligiu, estaria nao somente falando do seu passado, mas,

principal mente, falando de algo que ainda the acontece. Assim Freud ensina que

"". devemos tratar a doeDya mio como urn acontecimcnto do passado, mas como uma for¥latua\." (Freud, 1969c: 198)

o paciente em analise recordani os acontecimentos de sua vida atraves da recordac;ao

pela via das palavras, ou pela via do ato. Recordar peto meio da aCao pode ser chamado de

repetiQao; 0 paciente repete, no entanto nao sabe que esta repetindo.

No texto 'Recordar, Repetir e Elaborar' Freud assinala que

"Por exemplo, 0 pacicnte 030 diz que recorda que costumava ser desafiador e eritico emre1a~o a autoridade dos pais; em vcz disso, comporta-se dessa mane ira para com 0mcdico".(Frcud, I969c: 196)

A repeticao e urn dos modos do paciente recordar, e esta pode ser trabalhada em

analise pois ocorre na relavao transferencial do paciente com 0 analisla.

Desse modo, a historia de uma pessoa nao esta situada em seu passado somente, mas

esta situada no presente com extraordinario vigor.

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1.4. SINTOMAS RELACJONADOS COM A REALIDADE OU COM A

FANTASIA:

Freud trabalhando com seus pacientes ouvia com frequencia que os mesmos quando

ainda eram crianyas haviam side seduzidos por urn adulto, normal mente seu pai ou sua mae.

Inicialmente acreditou neste relata, depois colocou-o sob suspeita, e acabou por conduiT que,

muitas vezes, nao passava de fantasia. Ao descobrir que muitos pacientes tinham apenas

vivido essa fantasia, Freud nao reconheceu nenhuma importancia nessas hist6rias e as

desprestigiou, mas depois, pode reconhecer que essas fantasias tinham muito valor, e concluiu

que os sintomas podem estar relacionados tanto a fatos rerus quanta as fantasias, seoda que 0

que e importante e a realidade psiquica.

1.5. SEXUALIDADE INFANTlL:

De acordo com os ensinamentos de Freud, alem das necessidades fisiologicas que uma

crianca apresenta, como par exemplo: comer, dormir, enfim, ser cuidada, ao serem satisfeitas

estas necessidades, a crianca tambem obtera a satisfaCao pulsionaL Assim se considera, pais,

alem da comida a crianc;a recebe afeto, as palavras da mae, pais, as pais ao cuidarem da

necessidade da crianca estao, mesmo sem saber, fazendo muito mais do que isso, esHio

marcando a corpo dela.

Freud verificou que a funcao sexual existe desde muito cedo, quando ainda se e urn

bebe, entendendo sexualidade como

"uma funcao corporea mais abrangente, tendo 0 prazcr como a sua meta e s6 sccundariamcntcvindo a scrvir as finalidades da reproducao" (Freud, 1969h: 51)

e senda assim, este conceito vai alem da sexualidade dos argaos genitais.

Os pais ao falarem com a crianya, ao tocarem nela, estao marcando 0 seu corpo, e a

isso denominamos erogeinizac;:ao. Sob este prisma tern-se a impressao de que a sexualidade e

causada pel a pessoa que cuida da crianc;:a, no sentido de que e despertada pelo outro, mas a

sexualidade e original da propria crianca, ista e, do proprio corpa.

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A crianya sente esta erogeinizacao como estranha, pais e urna sensacao que ela nao

tern como dar conta, ja que ocorre quando ela e muito nova, e nao pode se utilizar das

palavras para enlender 0 que se passa em seu corpo. A crianya ainda nao tern os recursos da

linguagem para falar ou entender 0 que esta se passando consigo, e por isso, e traurnatico.

Assim, a sexualidade e traumMica, e nao ha como entrar na sexualidade sem urn trauma.

A maneira como sao realizados pelos pais as cuidados e atenyao a crianca, e 0 modo

como ela sente e recebe esta rnarea e que e traurnatica.

"La c:.:periencia traumalica se sirna prccisamente alii: d6nde el sujcto qucda sin recursos anteel deseo del Otro" (Miller, 1983: 79)

Freud ao tralar de seus pacientes observou que par tnis dos fenamenos da neurose

existe urna excitaCao de natureza sexual, e analisando seus paeientes pade concluir, que hit.

sexualidade infantil.

No texto de Freud' A Sexualidade na Etiologia das Neuroses', Freud afirma que

"Sua vcrdadcira etioiogia (das neuroses) deve ser cncontrada nas expcricDcias infantis, e maisuma vez - exclusivamente - em impressoes referentes it vida sexual". (Freud, I969a 307)

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2. SUJEITO E H1STORIClDADE

2.1. SOBRE A FUNDAMENTAL PRESEN<;:A DO OUTRO NA

CONSTITUI<;:AO DO SUJEITO:

Pensando na constitui<;RO da historia do ser humano, sabe-se que a mae au a pessoa

que assume a funyao materna e urn agente fundamental para 0 bebe, ja que e ela quem came98

a dar sentido as manifest8<;oes dele, pais ao interpretar suas rea<;oes (choro, movimentos, .... ),

e ao dizer para ele: "Voce esta com fome, com frio, com dor, .... " , ela esta supondo oele urn

sujeito, e ista e fundamental para a introduyao do hebe no mundo da linguagem, dos

significantes.

E nesta relavao da mae com 0 bebe, que vai come<;ar a se dar a hist6ria desta crianya.

Eo pai, ao exercer a funyao paterna, possibilita que haja a quebra da relayao dual mae-filho; 0

pai tambem orienta ao filho, atraves de perguntas, como por exemplo: 0 que voce gosta de

fazer? Qual sera sua profissao? etc.

Seguindo 0 caminho deste pensamento teorico, pode-se supor que cada componente do

casal dani seu proprio modo de resposta, ou, teni sua propria maneira de exercer a funyao

materna e paterna. Desse modo, pode-se pensar, que de acordo com 0 modo de resposta da

mae e do pai (biologicos) ou de seus representantes a seu filho, e de acordo com 0 modo de

resposta da crianca, se dara a construeao daquela pessoa. Entao, cada pessoa tera uma historia

singular e urn modo particular de dar sentido ao que viveu; uma vez que tanto 0 sentido

quanta a historia sao singulares a cada sujeito.

De acordo com Birman (1994), em Psicanalise e fundamental que se considere como

inseparaveis as noeces de sujeito, sentido e historicidade.

2.2. A VISAO DE DESENVOLVIMENTO NA PSICANALlSE:As teorias psicologicas ao falarem de Desenvolvimento delimitam-no em tennos de

divisao em etapas, as quais se baseiam na idade cronol6gica; ao utilizar-se desta categorizaeao

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o profissional avalia e delimita se a pessoa esta atrasadaldentro do esperad%u adiantada em

relayao a maioria, isto e, uma classificar;:ao em termos de normal ou anormal.

A Psicanalise considera a questiio do Desenvolvimento Cronologico e reconhece a sua

irnportancia, mas propoe uma escuta da pessoa que vern em busca de tratarnento. Sendo cada

pessoa urn ser humane singular, a perspectiva de Desenvolvimento e considerada no nivel

Logico, isto e, de acordo com a hist6ria de cada urn. Entao, nesta perspectiva de estudo e de

trabalho nao cabern comparayoes ou c1assificayoes cronol6gicas.

2.3. ALGUMAS PONTUAI;:OES SOBRE A H1STORICIDADE:

"0 discurso freudiano formulou. desde seus prim6rdios. e de maneira ineontestavel, que asneuroses se insereveriam na ordem do sentido e na ordem da hist6ria, ista e, que os sinlomasdas neuroses revelavam uma significa~o que poderia ser deseoberla pelo procedimento dapsicamilise, e que este scntido se insereveria no campo da histeria do sujeito." (Birman, 1994:33)

Desse modo, cabe ao anaJista pedir ao seu paciente que fale, e que tambem, escute 0

que diz, uma vez que e na sua historia que se ira buscar as motivos pelo qual adoeceu. E,

como cada pessoa tern e teve sua propria historia, ha de se escutar cada urn, na particularidade

do caso a caso, para que seja possivel se tec acesso ao sentido do sintoma, isto e, ao sentido

que tern aquele sintoma para aquele que tern urn saber sobre ele, mas nao consegue saber qual

e, nao consegue dizer; este saber pode ser denominado como indizivel.

"A loucura sc fimdaria entao na histeria do sujeito, nao seudo portanto em cfeito depcrturbayOcs no psiquisma produzidas no registro do corpo bioI6gico." (Binnan, 1994: 33)

Se a loucura se fundaria na hist6ria do sujeito. como pode ser entendido este

pressuposto?, partindo da consciencia au do inconsciente?

Freud situou que havia urn outro campo alem da consciencia, alem do eu, e a este

campo denominou inconsciente. Percebeu tambem, que 0 in~9ctente e muifl':l tnais amplo e

mais deterrninante na vida da pessoa do que a consciencia.

"Assim, em sua rela~o com aid, ele (0 ego) c como um eavaleiro que tern de mantereantrolada a for~a superior do cavalo... A analogia pode ser levada urn poueo alcm. Comfreqticncia urn cavaleiro, se nilo descja ver-se separado do cavalo, c obrigado a conduzi-Io

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onde csle quer if; da mcsma mancira, 0 ego tern hahito de transformar em a~o a vontadc doid, como sc fosse sua propria. (Freud, J969g: 39).

Soh este prisma. 0 sentido dos sintomas nao estaria no campo da consciencia, mas

presente no campo do inconsciente e se revel aria peJa fala.

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II

3. SINTOMA

3.1. OS IMPULSOS INSTINTUAIS:

Existem perigos extemos ao ser humano assim como perigos internos. Os perigos

externos podem seT exemplificados como aqueles que a maioria das pessoas sente (como:

medo de cobra), ou por urn temor singular a uma pessoa (por ex.: medo de dirigir urn

automovel). Quanta aDs perigos internos, estes se caracterizam por serem muito mais dificeis

de seT identificado 0 motivo de tal temar. Alem do mais, por mais dificil que seja a fuga de

urn perigo extemo, isla pode acontecer, mas a fuga de urn perigo interno, ou a fuga de uma

exigencia instintual, pode ser dita como da ordem do impassive!.

o impulso instintual busca a satisfac;ao. Se 0 impulso instintual na~ pode encontrar

satisfa~ao porque encontrou uma barreira, ele encontrara outro modo de se satisfazer, ja que,

sempre lera de alcanltar a satisfa~ao. Quando ha algurna irnpossibilidade para que 0 impulso

instintual possa atingir seu objetivo, e no caso de haver a formaltao de urn sintorna, e possivel

que ocorram altera~5es das fun~5es do corpo dessa pessoa.

As funltoes do corpo de cada individuo podem ser descritas como: Funltao de

locomo~ao, Fun~ao de alimenta~ao, etc, sendo que, quando estas se mostram alteradas, seja

para 0 excesso ou diminui~ao de atividade, pode-se supor que algo nao vai bern com aquela

pessoa.

Freud define urn sintoma como

"quando uma funcao passou por uma modificacao inusitada ou quando uma novamanifcsta.;ao surgiu desta" (Freud, 1969i: 107)

3.2. PONTUA<;:OESSOBRE 0 EGO E SOBRE 0 10:

De acordo com Freud, no texto 0 ego e 0 id, pode-se dizer que nurn individuo a

instancia organizadora dos processos mentais e denominada de ego. Esta instancia mental

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supervisiona seus pr6prios proceSSDs; e a ele que a consciencia se acha Jigada, e e dele que

procedem as repressoes.

o ego esta freqUentemente sob a influencia da percep~ao, isto e, dos estimulos

ext cmos, e ao mesma tempo, e influenciado pelos instintos, do mesma modo que 0 id.

No entanta Freud diz de urna primazia dos processos mentais inconscientes sabre os

processos conscientes, ja que afirma que,

"na Psicamilisc nao tcmos cutra opeao senao afinnar que as processos mcnlais saoinconscientcs em si mcsmos, e asscmelhar a pcrcep~o delcs por meio da consciencia itpcrccpca,o do mundo cxtcmos por mcio dos arguos scnsoriais" (Freud, 196ge: 197)

J3 0 id tern caracteristicas pr6prias, as Quais de acordo com Freud, podem ser assirndescritas:

"a isen~o da contradi~o mutua, 0 proccsso primario (mobilidade das catexias), aintemporalidadc e a substitui~ao da realidadc extema peta psiquiea - mis sao as caraeteristicasque podemos csperar eneontrar nos proccssos pertenccntcs ao sistema inconsciente". (Freud,1969d: 215)

Segundo Freud (1969g), a ego e regido pelo Principio da Realidade, enquanto que 0 id

e regido pelo Principio do Prazer.

3.3. ALGUMAS PONTUACOES SOBRE AREPRESSAO:

Com rela~ao a repressao, sabe-se que existe uma distinc;ao entre ideias e afetos. Urn

instinto e sempre representado par uma id6ia, as quais podem ser conscientes au

inconscientes, mas urn afeta e sempre consciente. As emo~oes podem se apresentar de outras

formas, mas nunca sao recalcadas. Assim, uma id6ia pode ser recalcada.

Pode-se dizer que, ao se falar da repressao de uma ideia, este processo, nao ocorre

apenas uma vez, ja que para manter a ideia lange da consciencia, faz-se necessaria que a

repressao se mantenha sempre.

o processo de repressao nao tern a finalidade de destruir au fazer desaparecer uma

id6ia, mas de afastar esta id6ia da consciencia, e desse modo, a repressao, ao afastar a ideia do

ego, a deixa fora de seu contrale, e, esta ideia continua a existir no inconsciente, e assim, esta

agora sob a dominio de suas leis, e desse modo pode se organizar ainda mais e dar origens a

derivados.

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Pode-se pensar que quando ha duas ideias incompativeis, existe urn conflito, e esse

conflito fica inacessivei it consciencia, devido a repressao. Mas agora, este processo menta)

reprimido, esta fora do ego, e manlem sua existencia independentemente dele.

Freud no texto 'Repressao' afirma que nao e pelo processo de Repressao que se da a

origem dos sintomas e das forma~5es substitutas, mas estas manifestayoes rnostram 0 retorno

do reprimido.

Na instancia psiquica denominada como id, pode-se falar sobre a libido, a qual e uma

energia psiquica que busca incessantemente a satisfayao. No caso de nao ser passive!

satisfazer-se pelo caminho direto, buscara urn outro modo de encontrar a satisfay30, isto e,

usara urn carninho indireto, sendo que, este modo de encontrar a satisfayao se mostra ao

proprio individuo como algo obscuro. Vma maneira que 0 impulso instintual se utiliza para

encontrar a satisfayao denomina-se de Sintoma, pois nao e mais reconhecivel como satisfayao,

e e urn substitute deslocado, inibido, reduzido. (Freud, 1969i: 116)

Por que razao urn impulso instintual deve ser reprimido, au, na mesma linha de

pensamento, qual e entao 0 motivo peto qual 0 impulso instintual nao pede enconlrar a

satisfayao pelo modo direlo? Freud, em seu texto 'Repressao' (1969), afirma que a condiyao

necessaria seja que, ao inves de prazer 0 instinto produza desprazer.

"Nao cxistem tais instintos: a sa[isfa~ao de urn instinto C scmprc agmdavcl. Tcriamos quesupor que a existencia de certas circunstancias peculiarcs, a1guma espccie de processo atravcsdo qual 0 prazcr da satisfa~o se transforma em desprazcr" (Freud, I969d: 169).

3.4. 0 SINTOMACARREGAUMSENTIDO:

A pessoa que vern a tratamento, geralmente, se queixa de seus sintomas, os quais na

maior parte das vezes trazem sofrimentos.

o sintoma existe mas a pessoa nao consegue entende-Io. Mas, simplesrnente nao

entender alga que se passa consigo pode ser algo corriqueiro e sem maior importancia, pais

pode apenas consistir em uma queixa; uma queixa s6 adquire importancia no trabalho

analitico se a pessoa for procurar urn analista para se queixar. Mas, no decorrer do trabalho

analitico, au mesmo, para alguns pacientes, desde sua chegada, alem de uma queixa a pessoa

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pode ler uma questao sobre 0 que Ihe esta acontecendo, iSlO e, ela mesma esta

tocadalimplicada com 0 que the acontece.

No entanto, ler uma questao nao eqi..iivale a ler urn sintoma. Assim, para que seja

possivel se pensar no processo de amilise faz-se fundamental que a pessoa tenha uma questao.

e nao necessaria mente urn sintoma.

Freud, no texto '0 Caminho da Formac;ao dos Sintomas', afirma que 0 sintoma eresultado de duas foryas que entraram em luta, e que apos urn conflito (psiquico), surgira 0

sinlo01a, 0 qual se mostra Hi.o distorcido que aparentemente nao e possivel pensar que tenha

uma significaCao, de Hio estranho que se tomou a propria pessoa, inclusive. Assim, conclui-se

que 0 sintoma e uma forma de conciliayao de ideias que apresentam completa contradiyao,

porem elas se mantem no sintoma lad a a lado, sem que uma negue ou diminua a fon;a da

outra. Entao se ambas ideias se mantem, a revelacao de urn sintoma, e a revelaC;ao dessas duas

ideias contradilorias.

Ao falar de sintoma, e fundamental que se possa fazer algumas pontuacoes sobre 0

trauma. Uma vez que, quando urn sujeito tern urn sintoma, este fato remele a condic;ao de que

ele viveu urn trauma. 0 trauma se caracteriza, segundo Freud, pelo fato de que uma pessoa ao

viver uma situac;ao traurnatica para si, neste momento, nao sente este falo como traumatico, e,

somente quando vive uma outra situac;ao, sentida como traumatica, confere it primeira cena

urn novo significado. Esta segunda cena, pode ser urna a vivencia de uma situacao com muita

ou pouca gravidade para a pessoa, e isso nao e 0 ceme desta questao; a principal caracteristica

e a que que, esta segunda cena resignifica a primeira.

Porern, 0 paciente diz ern seu relato que foi a partir de tal acontecimenlo que tais

reacoes comeyaram a aparecer. .... No entanlo, sabe-se de antemao, que seus problemas

tiveram data de inicio muilo anterior a essa que consegue dizer neste momenta.

Quando a pessoa chega ate 0 consu1torio, ela normal mente vai se referir a sehlUnda

cena; comec;a dizendo que a cena traumatica ocolTeu no passado, Freud, em seu texto

'Recordar, Repetir e Elaborar', adverte, que nao se deve tratar a doenc;a como alga que

aconteceu no passado, ela deve ser tratada como algo forte, que se perdura desde quando teve

inicio ate hoje.

De acordo corn Freud no texto 'A Sexualidade na Etiologia das Neuroses', 0 trauma se

caracteriza por ler urn cfeilo adiado.

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"Urna considcra<;ao dessa esp6cic toma·se possivel porquc as experiencias sexuais na infanciacstao dcstinadas a ter um o;feitQpatogcnico. Mas, no momento em que ocorrcm, 0 cfciloproduzido Ii:apcnas leve; muito mais importante (: sell efcito adiada, que s6 pode vir it tona empcriodos postcriorcs da matura~o. Esse cfcite adiada sc origina - como nao paderia ser deQulro modo - nos tracos psiquicos dcixados pelns cxpcriencias inf.lntis" (Freud, 1969 a: 308)

Somente apcs uma pessoa ler vivido 0 trauma e que podera ter inlcio a formayao dos

sintomas.

o silltama mostra-se como urn texto enigmatico ao proprio sujeito que se queixa dele.

Este texto, antes pertencia ao terreno do complete desconhecimento pela humanidade, apcs

Freud foi descoberto e denominado como Ineonsciente, e podendo ter acesso as leis que

regem 0 inconsciente, Deslocamento e Condensayao, este texto pode ser deeifrado durante 0

percurso de amilise.

Freud no atendimento a Hans, urn menino de 5 anos, enteode que na fobia de Hans:

"0 que a transfonnou em uma neurose foi apcnas uma coisa: a substituir;iio do pai por umcavalo. E cste deslocamento, portanto, que tern 0 direito dc scr dcnominado de sintoma".(Frcud, 1969i: 125)

Quando urn substituto nao traz uma questAo, urn sofrirnento, nao ha urn sintoma

analitieo, mas ha urn sintoma. Urn sintoma analltieo tern a caracteristiea de que a propria

pessoa se question a, atraves dele.

"EI sintoma aparece a los ojos del rnismo sujcto como una opacidad subjetiva, como unenigma. EI paciente no sabe que hacer corn csa irrupcion, y por eso demanda intrcrprctacion"(Miller, 1983: 31)

No entanto urn sintorna, 0 qual pode ser sentido como indesejado pela pessoa,

comporta via de regra uma satisfayao. E quando, uma satisfayao nao pode ser obtida

diretamenle, ela in! ser aJcanyada, mesmo que de outro modo, per exemplo, at raves do

sintoma e possive! obter satisfacao. Porern esta satisfayao pode nem ser reconhecida, pelo

sujeito, como satisfacao, de tao distorcida que se mostra. A essa satisfacao da pulsao,

denornina-se gozo.

"0 sinloma comporta, nelc mcsmo, urn gozo que satisfaz, mcsmo sc clc 1150 da prazer ...Gra/i4s ao trabalho de amilisc, elc Oliopode mais gozarde nao saber". (Lacadec, 1997: 10)

Nonnalmente, seu sintoma, quer dizer de algo, que em urn individuo particular, nao

vai bern, e que ele proprio nao consegue entender ou explicar, isto e, ele carece de

entendimento sabre 0 que Ihe esta acontecendo.

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o sintoma, nesta medida, pede ser definido, de acordo com Lacan,

"como alguma caisa que sc faz signa, como urn sujeito que sabc que aquila Ihe concernc masque nao sabe 0 que e" (Lacadce, 1997: 3)

o sintorna e uma manifesta~ao do inconsciente, assim com tambem, 0 ato falho, 0

chiste, eo sonho. Tern a mesma caracteristica das demais manifesta~6es do inconsciente, ja

que e uma gramatica, porem, 0 sintoma e muita duradouro, e as sonhos, chistes e ato falhos

sao fulgazes.

o inconsciente e urn saber que age na pessoa, rnesmo que cia nao saiba disso. E, nao

esta nas profundezas da mente, mas, na superficie, no entanto, como se mostra distorcido, edificil saber seu sentido.

Atraves da tecnica da Associa~ao Livre, durante as sessoes de ami.lise, e passivel ao

analisanle saber 0 senlido do que Ihe acontece, e possivel saber de seu desejo e da sua

identidade. Durante a analise 0 analisante vai lendo 0 seu inconsciente, pois tern-se 0

pressuposto de que este e urn texto, e que pelo metodo analitico pode ser decifrado. E neste

texto que agia no sujeito sem que ele 0 soubesse, pode advir urn sujeito.

No decorrer de uma analise 0 analisante faz varias leituras do inconscienle, e a partir

de suas palavras e possive! ao analista recompor 0 que ha de indizivel para 0 analisante; e, no

momenta em que isso e dito a ele, islo e, interpretado, no momento em que a causa e revel ada,

o sintoma desaparece.

No entanto, Freud, em seu texto 'Sobre 0 inicio do tratamento', adverte que, mesmo

quando a analise ja esui avanQada, 0 analista deve ter 0 cuidado de nao fomecer a soluQao de

urn sintoma ate que 0 analisante esteja muito proximo de consegui-Ia, pois fora do tempo,

poderia provocar urn desinteresse au descredito para 0 tratamento.

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4. A CLINICA COM CRIAN<;AS

4.1. SOBRE A FUN<;:Ao MATERNA E A FUN<;:Ao PATERNA:

Sabe~se que para que se constitua urn sujeito, uma pessoa passa per duas operac;6es:

alienac;:ao e separac;:ao.

A mae ao cuidar do seu bebe e ao falar com ele enquanto 0 atende ou simplesmente

enquanto esta com seu filho, esta supondo nele urn sujeito e introduzindo-o no mundo da

Iinguagem; ista possibilitara que este bebe saiba do que Ihe esta acontecendo, podendo vir a

nomear as sensac;oes, os sentimentos, ... que acontecem consigo.

Ao mesmo tempo, ao tratar da sua higiene e da sua alimentac;ao, a mae se apresenta

para este bebe como alguem que satisfaz suas necessidades. Desse modo, a mae se faz

representar para 0 filho como todo-potencia, pais deste maneira ela se coloca e deste modo ele

ave, construindo assim, esta fantasia a respeito dela. A crian<;a esta numa relayao de

dependencia com a mae, a meree do outro, e a isso denomina-se de Alienavao, operayao que a

erian<;a nao escolhe, mas que precisa, precisa se alienar. Em troca desta alienayao a pessoa

recebe amor, oeupa urn lugar.

Considera-se, entao, que alienar-se ao outro e fundamental, e e 0 modo pelo qual 0 ser

humano se estrutura. Mas, se 0 Outro da demanda, au tambem chamado 0 Outro materno, ao

responder a essa crian<;a de modo a manter a reiayao dual (mae-filho), faz com que e1a

permaneya alienada. Desse modo, 0 filho nao podera fazer a separa<;ao; e, no entanto, se 0

OutfO da demand a responder de modo a nao permitir que a crianya (0 filho) fique numa

relayao de eompletude a ela (a mae), isto possibilita que a crian<;a faca a separa<;ao.

No que diz respeito ao pai, de aeordo com Nomine, "0 pai so e a conseqiiencia do

oriellfa9iio do desejo de 11m hOll/em para lima lilli/her" (Nomine, 17).

Se 0 pai exercer sua fun<;ao (Fun<;ao Paterna), colocando lei no desejo, a rela<;ao dual

(mae-filho) pode ser quebrada. Mas, pode ocorrer que a mae nao permita que 0 pai entre na

relavao dela com os filhos, ou mesmo na reia<;ao dela com urn filho especificamente. A mae

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acaba fazendo urn casal com 0 filho, e 0 pai fica excluido desta rela~ao; a mae, neste case, sO

exerce a funyao materna, naD respondendo como mulher; pais, conforme Miller,

"a funyUo do pai nao e suficientc, e preciso, ainda, que a mac n50 estcja dissuadida decncontrar 0 significanlc do seu dcscjo no corpo de urn homcm" (MiJler, 1996: 7)

4.2. 0 SINTOMADO FILHO E OS PAIS:

A crianya faz seu sintoma de uma quesHio dos pais, as pontos obscuros para as pais,

ela ira perguntar.

Como cad a urn escolheu ao outro e 0 modo como essa crianc;;a vai se constituir; e 0

que padenl ser sintomatico na estrutura do filho. A crianc;;a mostra com seu sintorna como 0

interpretou 0 sintoma dos pais. Toda a busca da crianya em saber sabre seus pais, no que diz

respeito it razao de urn tcr escolhido ao outro, se faz porque ela quer sobre sua propria origem,

e por isso que essa quesHio e Hio crucial e fundamental.

De acordo com Miller no texto 'A Crianr;a entre a Mulher e a Mae', 0 objeto crianr;a

pode completar como tam bern pode dividir. Oesse modo, ha. dois grandes tipos de sintoma:

"os quc dizcm rcspeito, vcrdadciramcntc, ao par familiar e os que sc atem •antes de tudo, itreJayao dual da erianr;a e cia mac." (Miller, 1996: 8)

Se a mae esta. numa Relar;ao dual com seu filho, 0 sintoma desta sera direcionado it

mae. Quando 0 sintoma se direciona para 0 casal, ele e sebrundo Lacan (Miller,1996), mais

complexo, mas tam bern mais aberto a intervenyao do analista ja. que a funr;ao paterna incidiu

sobre 0 filho.

No case do sintoma que se dirige a relar;ao dual mae-filho, ele e mais dificH de

intervir, e na maior parte das vezes ele e ego-sintonico com a mae, e entao, a crianr;a com seu

sintoma nao produz urna questao para as pais; este e 0 caso mais grave destes dois tipos de

sintornas; a crianr;a, neste caso, fica na relayao com a mae, no lugar de objeto.

"$e 0 objelo erianca nao divide (no sujcito feminino, a mac c a mulhcr), ou clc sucumbc comodejelo do par genitor, ou, enmo, cntra, com a mac numa rclacao dual que 0 alicia" (Miller1996: 8)

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Quando a mae que fica reduzida a ser mae, nao ha. funyao mUlher, e iSla ocorre porque

a mae esui privada de desejar. Quando nao ha nada mais importante que 0 filho - como se ele

a completasse, a criany3 nao pode ser sujeito porque responde como objeto da mae,

Nao e a mae quem cria 0 sintoma na crianya, mas 0 modo como a mae responde ao

filho e que vai determinar se ista vai ser uma questao para a crianya au se isso vai completar a

mae. Com relay30 ao filho, para ele e alga extremarnente dificil perceber que a mae naa e tada

poderosa, e perceber que ela deseja urn homern, que deseja outro tilho, enfim, que a mae edividida. Mas, par mais ardua que essa descoberta seja, quando a mae consegue ser uma

mulher tambem, ela possibilitanl a crianya que esta a divida (entre mae e mulher), no entanto,

se a mae nao pode ser mulher, a crian(\:a nao podeni dividir.

Para que mae e crian(\:a nao permane(\:am numa reia(\:ao dual, nao e somente necessaria

a fun~ao do pai para quebrar essa reciprocidade, mas tambem, que para a mae, a crianya nao

represente tudo. Isso significa que a mae e a crjan~a nao terao a condi(\:ao do todo; para a mae

esta condi(\:ao nao suplantani sua condi~ao de mulher, e 0 pai, este orientani 0 desejo de sua

mulher. Faz-se fundamental, que haja uma mulher e urn homem. (Miller, 1996: 7)

Esle sintoma vai falar do que os pais rrno quiserarn saber, daquilo que neles ficou

recalcado, e entao conclui-se que 0 sintoma do filho esta relacionado a historia dos pais,

aquilo que ha de sintomatico no par familiar, enfim, aquilo que diz que eles nao conseguirarn

formar urn casal.

No entanto, 0 sintoma do filho mostra-se tambem como urn presente que ele esta

oferecendo aos pais. Ao fazer 0 sintoma, 0 qual e urn modo de resposta do sujeito, 0 filho

mostra a forma como se afiliou a seus pais; pois nao basta ter nascido numa familia para

considerar-se filho daqueles pais, mas faz-se necessario urn trabalho de afilia~ao a eJes.

Tambem os pais fazem seu trabalho de adotarern urn filho como seu por mais que este Ihes

seja filho biologico; e no modo de receber este bebe, e no desejo destes pais de assumirem

este filho que se faz ou nao essa ado~ao. 0 sintoma da crian~a vern falar entao, do modo

como foi rei to 0 seu la~o afetivo com seus pais.

No trabalho clinico com crian~as e salutar lemhrar que a!t~rn do entendimento do

sintorna da crian~a, 0 qual compreende 0 nlvel da estrutura~ao dela na sua rela~ao com seus

pais, ha urn outro universo a ser trabalhado. De acordo com Udenio (1998), durante 0

processo de analise de uma crian~a e possivel ao analista distinguir entre 0 sintoma da crian~a

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que se refere ao casal parental, e 0 sintoma deja mesma, iS10 e, 0 sintoma singular daquela

crian~a/ sujeito.

4.3. PONTUA<;:OESSOBRE A SEPARA<;:AO:

A crianQa basta inicialmente existir para os pais, mesma que como objeto; diz-se entaD

que a crian~a esta alienada ao desejo do Dutro. Parem, com 0 passar do tempo, a crianc;a quer

fazer valer suas vontades, e busca separar-se, para pader ser alguem, cia mesma. Esta busca

por ser alguem tambem pode ser dita da seguinte forma, que atraves da separayao da crianya

de seus pais, e passivel a cia ser sujeito. A separayao da criam;:ados seus pais, pode ser

entendida tambem, como a separa9ao da crianya do lugar que cia mesma ocupava; nessa

tentativa de separayao, pode advir urn sintoma, urna neurose.

Na neurose, hi a busca da resposta a pergunta fundamental: Quem sou eu para 0

outro?

"Ponto de revelacao do enigma do dcscjo do Dutro, que a erianya vai relomar a nivel de umaposta it prova do Dutro, a aduito, sabre 0 modo do 'par que?' 0 que Ihe permite colocar tudo aprova, sua pr6pria falta e colocar at a razao, em causa, seu proprio dcsejo. 0 que 0 Dutro querde mim? ... A partir dela mcsmo como objeto e que a crianva demanda ra.zao ao Dutro. Arazao da interpretay3.o da sua propria existcncia e a que ela se propoe colocar em questiio parao Dutro. Porque voce me fez'! 0 que sou para voce?" (Laeadec, 1996: 4)

Porem para saber de si, a crianya em sua pergunta intima se deparari com uma outra

pergunta que se refere aos pais, e com a qual tenlani saber sobre qual foi 0 desejo dos pais

para que se casassem equal foi 0 desejo deles para que e\a nascesse. Na separayao 0 filho

partin\. dessas questoes, e, tent que lidar com 0 que ha de sintomitico nos pais, e se tiver urn

sintoma, e este for esculado pelos pais e levado it tratamento psicol6gico, iSlo pod era permitir

ao filho ser sujeito.

Islo significa que quando 0 paciente vern para tratamento com urn sintoma, ele ja teve

que fazer urn trabalho enorme.

Algumas crianyas podem entrar e sair da separayao, de tal modo, que nao

desenvolverao uma neurose, nao terao urn sintoma. Outras, no entanto, por mais graves que se

mostrem seus sintomas, estes nao cnam nenhuma inquietayao em seus pais, e portanto, tern a

conseqOencia de que a crianya nao sera levada para tratamento.

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o analista ao feceber urna crian~a para tratamenlo estara tambem, a partir da

perspectiva acima apresentada, se deparando com a hist6ria familiar, e com os pais, os quais

estao diretamente envolvidos nas quest5es da crianva.

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5. A VISAO DE CURA NA PSICANALISE

5.1. PONTOS DE INTERFACE E PONTOS DE DISTANCIAMENTO

ENTRE A PSICANALISE E A PSICOTERAPIA:

Tanto a Psicoterapia quanta a Psicanalise se utilizam do trabalho com palavras em seu

modo de tratamento, iSla e, que a pessoa que procura 0 tratamento, fale, eoloque em palavras

o que Ihe acantece. Nao incluidas nestas terapias estao aquelas que se utilizarn do carpo como

modo de expressao e tratamento. 0 texto de Miller, Psicoterapia e Psicamilise (1997) diz de

urn ponto comum, de interface entre as duas, ista e, elas partem do pressuposto de uma

causalidade psiquica.

Para 0 psicoterapeuta, profissional praticante da Psicoterapia, a pessoa que busca

tratamento esta carecendo de adaptac;ao, OU, de urn Dutro que Ihe de respostas do melhor modo

de viver a sua realidade, au, orienta~oes de como mudar seu meio ou a si.

Mas, e esta mesma pessoa, com 0 rnesmo pedido, que vern ate 0 consult6rio do

analista, se queixando de alga que nao vai bern e solicitando ajuda. 0 analista pede que ela

fale, na posi~ao de alguem que esta na ignorancia do que esta acontecendo com este sujeito. 0

terapeuta tambem pede que 0 paciente fale, mas responde do lugar de quem sabe 0 que e

mel hor para aquela pessoa.

Sabe-se que 0 psicoterapeuta ocupa 0 lugar de Mestre, e ao psicanalista cabe recusar 0

lugar de maestria, do poder de ensinar. E fato que 0 analista em certas circunstancias se utiliza

da sugestao, ocupando 0 lugar de SSS, porem, sem estar identificado.

Quando se pensa no que 0 paciente traz para ser trabalhado, seja de uma nao-

adapta~ao, de urn sofrimento, ou outro motivo, sabe-se que e a partir dos parametros, da

forma~ao te6rica do praticante, que se dani de maneira absolutamente diferenciada 0 modo de

cscuta c de trabalho. Para a Psicoterapia se trata entao de e1iminar este sofrimento orientando-

se ao paciente uma outra forma de lidar com este. Para a Psicanalise, no que 0 paciente se

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qucixa, no que e1e reclama existe alga que esta a1em do prazer-dcsprazer, algo que por maior

sofrimento que provoque, produz uma satisfa~ao, 0 gazo.

Quando 0 praticante responde que sabe, tem-se uma Psicoterapia; se responder que

nao sabe, isla impossibilita 0 tTabalha pois nao e passivel 0 nivel da identifica~ao. Entao 0

procedimento do analista deve estar ao nivel de nao responder a demanda, para que a questao

do sujeito seja sllscitada, e, interpretada.

5.2. ALGUNS ASPECTOS SOBRE 0 TRABALHO DO ANALISTA:

o analista, partindo do referencial da historicidade e do sentido poe-se a escutar a

pessoa que vern para 0 tratamcnto.

E na hisleria da pessoa que aconteceu a forma~ao do sintoma, e atraves do tratamento

analitico, 0 paciente, pela repeti~a.o e pelas palavra5 u5adas para falar de 5i, a partir das

interpreta95es e pontuayoes feitas pelo analista, torna-5e possivel que 0 sintoma adquira

sentido uma vez que a causa foi revelada.

Esta maneira de entender e trabalhar com 0 sintoma e com a doenya considerando os

registros da significar;ao e da hist6ria, e propria do discurso e do trabalho analitico.

Cabe ao analista seu interesse pelo caso que esta. trabalhando, porem devera estar

advertido que as avan90S do analisante aconteceriam tambem se este estivesse se analisando

com outro analista, assim, ° merilo esta mais relacionado ao trabalho de analise do que apessoa do analista. Cabe ao analista tambem escutar e trabalhar com a analisante de tal modo

que, na maior parte do trabalho, nao se eoloque como sujeito em causa, pais senao estaria

respondendo no nlvel lmaginario, poft!m, com relaeao a questoes reJativas ao horario da

consulta, ou quanto ao pagamento, por exemplo, respondeni. como sujeito. Na maior parte das

questoes do analisante, 0 analista fani semblante, responderil e perguntara ao analisanle de

modo que neste possa aparecer urn sujeito.

5.3. QUAL E A IDEIA DE CURA PARA A PSICANAuSE E PARA A

PSICOTERAPIA?

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Para a Psicoterapia seria 0 restabelecimento das potencialidades do individua, isto e, 0allvio de seu sofrimento, daquilo que se queixava,

Mas para a Psicamilise, campo que se ocupa do inconsciente "citra,. nao lem sentido"

(Miller, 1997: 16), como bern adverte Miller, no texto 'Psicoterapia e Psicanaiise'. Assim, 0

efcito terapeutico e apenas urn subproduto deste trabalho, 0 qual tern como objetivo que, no

lugar em que havia urn saber sem sujeito possa aparecer 0 sujeito do desejo.

Esta diferenva de resposta dada pelos dais campos, Psicoterapia e Psicamilise, esta

Jigada a que cada urn destes campos tern objeto de estudo diferenciado; ao primeiro cabe 0

estudo do psiquismo, e ao segundo cabe 0 estudo do inconsciente.

Para a Psicamilise 0 campo do sintoma 6 fundamental, e existem varias publica~oes

sobre este tema, e tambem sobre as demais manifesta~oes do inconsciente, mas 0 final da

analise esta para mais al6m do sintoma, ou da cura. Situa-se ao nivel do fantasma, 0 qual nao

faz questao ao analisantc pois the pareee transparente a si proprio, porem, e tao fundamental

que determina a sua existeneia.

A Psieanalise, ao situar 0 final da analise na dimensao do fantasma, c1arifiea que a

questao da eura nao e primordial, ja que a eura dos sintomas sera dada por acrescimo.

5.4. FANTASMA:

o paeiente em analise it prop6sito do seu sintoma fala, e se queixa, uma vez que 0

sintoma e algo que apareee, esta a vista dele, e muitas vczes, dos que estao a sua volta

"Me pareee que la expericneia analitica nos ensina que el paciente, a proposito de su sintoma,habla y habla mucho. Digo que habla de su sintoma, en singular, en razon de su formacion a1empezar cI amilisis. Y habla para lamentarse de 61. Es la raz6n por la que sc analiza" (Miller,1983: 18)

o analisante, nao fala do fantasma, pois quando se diz que pelo seu sintoma 0 paciente

sente urn desprazer (0 sofrimcnto), ao lado do fantasma situa-se algo do nivel do prazer.

Tambern nao fala deste porque este esta no nivel de algo muito seereto.

o autor Miller em seu texto 'Sintoma & Fantasma', de acordo com os ensinamentos

de Lacan, diz que no toeante ao inicio da analise, esta se inicia pelo sintoma, e, 0 final da

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analise e 0 termino da travessia do fantasma. Na analise a quesUio do fantasma se situa com

relaQao a sua travessia. e nao com 0 desaparecimento; e a travessia do fantasma fundamental.

Entao 0 final da analise nao tern reiacrao nenhuma com 0 sintoma. ou com a cura.

"Cuando se haec una tcoria de la cxpcriencia analitica fundada unilatcralmcntc en ladimension del sintoma - 0 sea cxelusivamcntc sobre cl fundamcnto de la demanda inicial delpacicntc - ,e1 analisis aparccc unicamcnte como su tcrapcutica. Su problematica sc limita acOmo curarlo. Es asi, sin duda. Tambien en laean. S610 que en Lacan no sc trata de curar alpaeiente de su fantasma fundamental, y de que situa la problcmatica del fin del amilisis dellado del fanrasma y no dellado del sintoma" (Miller: 1983: 29)

Ao se pensar em razao de que ha fonnacrao do fantasma, pode-se pensar que 0

fantasma se estrutura como resposta ao desejo do Outro, resposta frente ao desejo materna

enigmatico.

Segundo Miller (1983), a fantasma nao esta em harmonia com a neurose do paciente.

geralmenle 0 fanlasma envergonha ao neur6tico, pais vai contra it sua moralidade.

No entanlo, pade-se dizer que, nurn sujeito durante 0 processo da analise apareceraa

varios fantasmas, porque nao ha 56 urn, mas muitos; tambem deve ser situado que ha urn

fantasma fundamental.

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CONCLUSOES:

ConcJui-se com este estudo que cahe ao analista nao visar 0 desaparecimento do

sintoma, uma vez que este existe porque e necessaria a pessoa, existe porque tern uma funcao,equilibra 0 sujeito.

"E cssa rclay50 mUlto particular de urn sujcito a seu saber sabre ele mcsmo, que Freud noscnsinoll a chamar urn sintoma" (Lacadec, 1997:8)

o sintoma e urn conciliador. pois quando hit duas ideias impossiveis de se conciiiarem,

o sintoma as concilia. Porem, quando 0 sintoma vai se tamando cada vez mais serio, mais

grave, e quando a angustia vai se tamando cada vez maior, a pessoa, geraimente, procura urn

psic61ogo ou urn psicanalista.

o sintoma pode ser urn dos meios para se obter satisfa~ao. Quando nao se pode alcancar

a satisfacao pelos meios diretos, a pulsao nao cessanl e alcan~anl satisfayao por meio indireto,

isto e, pelo gozo. Sendo que 0 gozo, e urna forma de satisfayao tao distorcida que ja nao se

reconhece como satisfayao, e do qual 0 proprio analisante pod era se queixar dizendo que Ihe

causa sotTimento.

Ao se falar sobre 0 sintoma, e fundamental situar 0 trauma, urna vez que quando a1guem

fala em urn sintoma, pode-se concJuir que houve urn trauma. Assim, 0 sintoma vern dar

noticias do trauma.

Segundo Freud, a etiologia da neurase, assim por consequencia, a origem da formaQao

dos sintomas, esta na sexualidade. Sendo que a sexualidade e propria do ser, mas a

sexualidade e despertada pelo modo pelo qual a crianQa e tocadalcuidada por seus pais e 0

modo como ela seote este toque.

A mae ao dar 0 seio para a crianQa mamar ou ao receber as fezes do seu filho esta

marcando 0 corpo da criaoQa; desse modo a estimulayao pode se dar atraves do encontro com

o outro, oeste exemplo, a mae. Ou tambem, a estimuiaQao pode ser alcanyada pel a crianya

com seu proprio corpo, atraves por exemplo, da crianya sugar seu polegar, ou da masturbayao,

e, a isto denomina-se auto-erotismo.

No entanto, como a crianya nao tern recursos simbolicos para dar conta desta

estimuiayao feita par seus pais, isl0 the e traum<i.tico, assim, para todos, a entrada na

sexualidade e traumatica, pois a crianya e marcada num pcriodo muito precoce para ela

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A neurose se instala pelo modo como a c.;:a vai responder a sexualidade.

registradas as mareas feitas no corpo da crian.;:a, e como foi feita a resposta ao desejo do outro

e que 0 que ira causar uma neurose ou nao.

De acordo com Lacan em seu artigo 'Duas notas sobre a crian.;:a', 0 sintorna pode ser

definido como

"fato fundamental da expericncia analitiea, e se define neste contexto como represcntantc davcrdade" (Lacan, 1969: I)

A crianc;:a busca saber sobre si, mas para alcanyar esta rcsposta, cia perguntara sobre

seus pais, sabre a desejo de seus pais ao se unirem e ao terern tido ele(a) como filho(a).

Assim, 0 sintoma de uma crian.;:a se refere ao casal parental. No entanto, ah!m deste, e

possivel que se chegue durante a processo analitico ao sintoma da crianya que e pr6prio deJa,

ao seu sintoma singular.

Quando se pensa sobre a separayao, a qual e urn dos processos pelo qual a pessoa

passa para poder se constituir como sujeito, sabe-se que, a angustia, a qual e urn afeto e

tam bern urn sinal de desamparo psiquieo, esta relacionada diretamente a separayao da crianya

de seus pais. la a sintoma nao tern urna relaCao direta com a separa.;:ao, porem pode se formar

urn sintorna como modo de saida da separayao. Assirn, afirma-se que nao hit separa.;:ao sem

angustia, mas ha separacao sem sintoma.

Um sujeito se estrutura pelos processos de alienacao e separa.;:ao, e pade se valer do

sintoma para fazer a separa.;:ao de seu pai e sua mae. Assim, ao escrever urn trabalho sobre a

formacao do sintorna, tarnbem se escreveu, ao lade disso, sobre a estrutura.;:ao do sujeito.

No que diz respeito a algumas espeeificidades clinicas da Psicanalise, ela se diferencia

dos demais ramos de conhecimento porque parte do pressuposto de que 0 analisante tern urn

saber sobre a que Ihe acontece, e por isso, ao inves dar respostas, pede a ele que [ale, e entao

o analista interpreta. Considera-se que 0 analisante tern urn saber ja que seu sintoma se

formou na sua historia, e entao, ao falar de si e possivel que seu sintoma adquira urn sentido;

pois, por mais estranho que 0 sintoma pareCa ao sujeito, seu sintoma representa algo muito

particular que esta em conexao intima com a sua subjetividade.

Ha diferentes modos de lidar com 0 sintoma, respondendo a ele no nivel do real, isto e,educando, ensinando, ou, ao nivel do simbolico, perguntando e pennitindo que 0 sujeito, no

qual supoe-se urn saber, ele mesmo fale. No entanto, alem das palavras, 0 analisante se

expressa pela sua repeti.;:ao; repeti.;:ao que alem de ocorrer na sua analise tambem ocorre na

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sua vida, mas, na analise atraves da transferencia poderil saberi entender 0 conteudo de sua

repetic:;:ao.Esta forma de trabalho do analista permite e promove que 0 proprio analisante

apar~a. que seu desejo se mestre. pOTque 0 analista supce uma causa no sintoma, e que, desta

causa seu paciente tern urn saber, pOTque esta causa situa-se na historia do seu paciente; e,

durante 0 processo de analise esta causa podenl ser revelada.

Pode-se pensar que numa pessoa nao ha apenas urn sintoma, mas uma serie deles.

Assim como urn sujeito em analise lidarfl com varios fantasrnas, seodo que, ha a primazia de

urn, este e 0 fantasma fundamental.

A fi.m<;:aodo fanta5ma e tida como uma estrutura<;:ao frente ao desejo do Dutro, frente ao

desejo materna, que e para 0 sujeito urn enigma, urn buraeo.

Quando se pensa no inieio da analise, se fala da dimensao do sintoma, porem ao final da

analise, e fundamental que se situe a dimensao do fantasma fundamental. Quanto ao sintoma

pode se pensar no seu desapareeimento e quanta ao fantasrna pode~se pensar na sua travessia,

e, segundo Miller (1983), a travessia do fantasma se relaciona, a obtenyao de urn saber sobre 0

modo singular de eada urn de responder ao desejo do Outro.

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