Um guia destinado aos gestores de sítios e …e propõe orientações concretas para a gestão e...

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Um guia destinado aos gestores de sítios e itinerários de memória Uma realização do projeto da UNESCO « A Rota do Escravo: Resistência, Liberdade, Herança » 2018 Arco do Retorno, Sede da Organização das Nações Unidas (ONU), Nova York © Rodney Leon Architects

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Um guia destinado aos gestores

de sítios e itinerários de memória

Uma realização do projeto da UNESCO

« A Rota do Escravo: Resistência, Liberdade, Herança » 2018

Arco do Retorno, Sede da Organização das Nações Unidas (ONU), Nova York

© Rodney Leon Architects

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Consciente do fato de que ignorar ou ocultar eventos históricos de grande importância constitui em si um obstáculo à compreensão mútua, à reconciliação e à cooperação internacional, a UNESCO decidiu colocar em pauta a questão do tráfico de africanos escravizados e da escravidão, com o intuito de contribuir com a a construção da paz.

O tráfico de africanos escravizados, pelo sufocante silêncio universal, a violência extrema que o acompanhou, a consciência perturbadora provocada nos discursos que o justificaram e, também, pelos sistemas paradoxais e desigualdades dos quais foi a causa, interpela as sociedades contemporâneas. De fato, esta tragédia suscita algumas das questões mais polêmicas do mundo atual, como o racismo e a discriminação, a construção de novas identidades e cidadanias, o pluralismo cultural e o diálogo intercultural.

Para romper o silêncio em torno do tráfico de africanos escravizados, da escravidão e das abolições em diferentes regiões do mundo, a UNESCO lançou em setembro de 1994 o projeto A Rota do Escravo, na cidade de Ouidah no Bénim, por meio de uma proposta do Haiti e de países africanos. Desde sua criação, o projeto tem promovido uma melhor compreensão dos modos operação e das atuais consequências desta tragédia humana, mas também das transformações duradouras, das interações férteis e das heranças culturais originárias destes processos históricos. A ação do projeto concentra-se em torno de cinco áreas: a pesquisa científica, o desenvolvimento de materiais pedagógicos, a preservação de documentos escritos e tradições orais, a valorização das manifestações culturais e das contribuições da diáspora africana e, finalmente, a preservação de sítios e lugares de memória.

O projeto A Rota do Escravo: Resistência, Liberdade, Herança tem contribuído ativamente para o reconhecimento do tráfico de africanos escravizados e da escravidão como crimes contra a humanidade – Realização da Conferência Mundial das Nações Unidas contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância correlata, em Durban na África do Sul (2001); Proclamação da Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024) com o tema: "Afrodescendentes : Reconhecimento, Justiça e Desenvolvimento”.

Imagem aérea da Citadela « La Ferrière », Haiti

© Gibran Torres

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Este guia foi pensado para auxiliar os gestores de sítios e itinerários de memória relacionados à história do tráfico de africanos escravizados e da escravidão. Ele apresenta diferentes exemplos de preservação, promoção e propõe orientações concretas para a gestão e desenvolvimento destes locais, tomando em consideração o caráter sensível dessa memória dolorosa.

“Legados da escravidão” é o primeiro livro sobre este assunto publicado por uma Agência da ONU. Além de conter informações conceituais e práticas, ele apresenta exemplos concretos de sítios, itinerários e museus que implementam estratégias específicas para a preservação, promoção e interpretação do patrimônio relacionado à essa história. Ele oferece ainda diversas recomendações para o desenvolvimento de um turismo de memória que atenda tanto às exigências éticas quanto às crescentes demandas do público.

Seu objetivo principal é contribuir para o fortalecimento das capacidades dos gestores de sítios e itinerários de memória e, deste modo, aumentar a conscientização em torno das questões éticas e sócio-culturais que estes espaços carregados de história suscitam. Além disso, este guia serve de base para o desenvolvimento de módulos de treinamento para todos aqueles que desejam se profissionalizar nesta área.

Fortes de São Jorge da Mina, Gana

© Dave Ley, CC-BY-SA 3.0

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Os sítios aos quais fazemos referência nese guia são dotados de uma forte carga emocional e simbólica, eles transmitem memórias e imagens geradas por um passado doloroso cujas conseqüências perduram até hoje. Essa carga emocional exige uma abordagem cautelosa por parte dos organismos estatais (organizações culturais, organizações de turismo), dos parceiros locais (populações locais, autoridades públicas) e visitantes (turistas nacionais e internacionais, público escolar). Como muitos destes sítios históricos e memoriais refletem um fenômeno que transcende as atuais fronteiras nacionais, redes foram formadas com o intuito de destacar a dimensão transnacional do tráfico de africanos escravizados, da escravidão e das abolições.

No entanto, vários sítios e lugares de memória são indissociáveis da história, identidade, e cultura locais, o que lhes confere uma singularidade favorável a certos usos específicos.

Deste modo, “Legados da escravidão” apresenta uma série de precauções a serem tomadas, assim como exemplos de abordagens e metodologias de pesquisa histórica, de gerenciamento técnico, de animação de eventos culturais, de financiamento, de organização de encontros culturais e de módulos de treinamento que tomem em consideração a sensibilidade deste tema.

Memorial do Caminho de Ferro Clandestino (Underground Railroad), Windsor,

Canada

©Jodelli, CC-BY- 2.0

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Outra razão para que o projeto A Rota do Escravo: Resistência, Liberdade, Herança lance este guia advém da necessidade de responder ao imperativo: " [...] vincular intimamente a exigência ética de preservar a memória do tráfico de escravos, que os historiadores consideram agora como a maior tragédia da história humana, pela sua magnitude e duração, com as necessidades de desenvolvimento econômico e social [...] " (Declaração de Accra, Gana, sobre o programa de cooperação entre a Organização Mundial de Turismo e a UNESCO, 1995).

Embora todos esses sítios e itinerários de memória sejam testemunhas de uma história global, alguns foram incluídos na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. O projeto A Rota do Escravo encoraja os Estados Membros a, não apenas, identificar, avaliar, restaurar, preservar e promover seus sítios e itinerários de memória, mas também identificar os sítios que possuem um valor universal excepcional a serem inscritos na Lista do Patrimônio Mundial. O projeto também atribui o título « Lugar de memória associado à Rota do escravo», que visa encorajar a identificação e valorização desses sítios.

A Paisagem Cultural do Morne, Ilha Maurícia

© Jasmina Sopova/ UNESCO

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Nas últimas décadas, a emergência de novas necessidades exigiu uma adaptção das respostas às reinvindicações memoriais:

o aumento da busca pelas origens, especialmente os testes genéticos de ancestralidade;

um forte desejo de envolver as comunidades e populações locais na interpretação, proteção e valorização

desse patrimônio;

o envolvimento das comunidades e populações locais na interpretação, proteção e valorização desse

patrimônio;

o desenvolvimento de um turismo cultural centrado na descoberta da história e cultura de um país, o que

por sua vez encoraja o estabelecimento de uma oferta turística radicalmente diferente do turismo de

massa e recreativo;

a descoberta de novos tipos de sítios apresentando aspectos específicos dessa história.

A ampliação do campo memorial e sua adaptação aos novos espaços e dinâmicas não podem ser realizadas se não houver aprofundamento das pesquisas históricas, extensão das zonas geográficas pesquisadas, reapropriação da história e mobilização de novos públicos. Contudo, estes novos espaços de memória devem ser apreendidos com cautela. Para tal, precisamos rever os conceitos utilizados atualmente, redefinir as questões éticas e culturais relacionadas à gestão desta memória, fortalecer as capacidades dos gestores, desenvolvolver novas redes de cooperação profissional, promover iniciativas interativas e fazer um balanço das experiências e práticas implementadas.

Estes são os principais objetivos deste guia, desenvolvido pela UNESCO após ampla consulta de especialistas e profissionais envolvidos no estudo, preservação, promoção e gestão de sítios e itinerários de memória.

Pelourinho, Salvador, Bahia

© Shutterstock.com / ESB Professionnal

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A Rota do Escravo Resistência, Liberdade, Herança

https://en.unesco.org/slave-route-project

#slaveroute

UNESCO

Seção História e Memória para o Diálogo

Tel.: +33 (0) 1 45 68 16 98

[email protected]