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Um Guia para Professores Orientações para a adaptação escolar da criança com cancro

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Um Guia para Pro f e s s o re sOrientações para a adaptação escolar da criança com cancro

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A g r a d e c i m e n t o s

A A c re d i t a r agradece a todos os que contribuíram para a elaboração deste livro :

A Arminda Correia da Silva e Mercedes Pedrosa, que o traduziram.

A Maria Manuel Sampaio Borges, que adaptou o texto.

A J. Teixeira de Aguilar, que o re v i u .

A José António Coelho, que concebeu o grafismo.

À Multicom.

À PE A N U T S © United Features Syndicate, Inc.

Um guia para pro f e s s o re s

Título original espanhol:

Alumnos con Cancer – Una Guía para Pro f e s o res; Edição A.E.C.C. Junta Provincial Asociada – Va l e n c i a

Este livro é editado e distribuído por:

A c re d i t a rAssociação de Pais e Amigos de Crianças com CancroRua Professor Lima Basto, 731070-210 Lisboah t t p : / / w w w. a c re d i t a r. p tE-mail: acre d i t a r @ m a i l . t e l e p a c . p t

P rodução Gráfica:

Espaço Gráfico, Lda.

2.ª Edição – 2003 / 2000 ex.Depósito Legal N.º 159128/00I.S.B.N. 972-97965-9-9

As ilustrações e os pequenos diálogos que figuram na introdução de alguns capítulos foram extraídos do livro “Porquê, Charlie Brown, porquê?” ,editado em Junho de 2002 pelo Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Lisboa por ocasião do Dia Internacional da Criança com Cancro .

Não é permitida a re p rodução, ainda que parcial, dos textos e ilustrações sem autorização da Acre d i t a r.

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ÍN D I C E

5 IN T R O D U Ç Ã O

9 AS P E C T O S M É D I C O S

9 O que é o cancro ?1 0 P o rque aparece a doença?1 1 Pode curar- s e ?1 1 C o m o ?1 3 É importante saber

1 5 AS P E C T O S PS I C O L Ó G I C O S

1 5 Como é a criança afectada pela doença?1 8 P roblemática familiar1 9 R e p e rcussões da doença no ambiente social da criança2 0 O que pode o professor fazer?

2 3 AS P E C T O S P E D A G Ó G I C O S

2 3 P roblemas gerais no processo de ensino-aprendizagem em consequência de um diagnóstico de cancro2 5 A criança não vai à escola por estar hospitalizada2 6 A criança está em casa; não vai à escola2 7 A criança volta à escola3 2 Adaptações necessárias3 3 Necessidades Educativas Especiais (N.E.E.)

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IN T R O D U Ç Ã O

A ideia deste guia surgiu de um grupo de profissionais que trabalham diariamente com criançasoncológicas no Hospital Infantil de “La Fe” em Valência, Espanha, e recebeu desde o início o apoioda Associação Espanhola Contra o Cancro para que fosse possível a sua edição. Ao tomarconhecimento da existência deste guia, a A c re d i t a r, Associação de Pais e Amigos de Criançascom Cancro, resolveu traduzi-lo e adaptá-lo à realidade port u g u e s a .

O cancro é uma doença que se prolonga no tempo, acabando por afectar o ambiente familiare o próprio desenvolvimento pessoal da criança. Um dos aspectos menos conhecidos é o modo comoa criança ou o adolescente enfrentam o re g resso à escola, após um longo período de afastamento.

Para a criança, esse passo re p resenta a reintegração na sociedade da qual esteve afastada durantealgum tempo; mas os pro f e s s o res e os colegas têm uma mistura de sentimentos: compaixão,s u p e r p rotecção, rejeição. Para a maior parte deles, trata-se da primeira vez que vão conviver com um aluno ou colega com cancro .

Este livro pretende ser um guia de orientação para os pro f e s s o res, tanto a nível da doença como a níveldos problemas físicos e emocionais destas crianças, além de dar pistas de ajuda pedagógica que os possam auxiliar ao longo da doença da criança.

Esperamos que a sua leitura, para além de evitar erros no decurso do relacionamento com as criançascom cancro, sirva de reflexão pessoal ao leitor.

Para aqueles que tiveram de enfrentar quase desde o princípio da sua vida uma doença difícil,o re g resso à escola é um momento importante, como o é a ajuda que re c e b e rem dos pro f e s s o re se dos colegas durante a doença. Fazer-lhes ver que a sociedade nunca lhes fechou as portas, que pelo contrário fazem parte dela, constitui uma obrigação de todos nós. 5

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O cancro infantil é provavelmente menos conhecido a nível social do que o cancro nos adultos, emboraseja mais dramático, dado estar em causa uma criança, sendo, além disso, possível que tenha maiore simplicações em todos os níveis da sua vida.

O cancro na criança e adolescente é uma doença relativamente rara. Prevê-se que em Portugal surjamanualmente 300 novos casos. Felizmente, graças aos avanços da medicina, são cada vez maiores os índices de sobrevivência e cura nesta faixa etária.

Situando-se actualmente o número de crianças que se curam entre os 60 e os 70%, é importante queelas sejam consideradas crianças com futuro .

Segundo o conceito da O.M.S. (Organização Mundial de Saúde), saúde não é só a ausência de doença,mas também a interacção de factores físicos, psicológicos e sociais, dependendo deste equilíbrioo bem-estar do indivíduo.

Graças à nossa prática social diária, verificámos a necessidade do conhecimento, por parte dos centro se s c o l a res, da problemática da criança com cancro. Até agora, a única via de informação que osp ro f e s s o res tinham residia nos pais da criança, o que muitas vezes era insuficiente. Por isso, pensámosque seria útil ao pessoal docente e não docente e aos alunos da escola ter uma ideia geral do cancroinfantil e disporem de um guia que lhes permita enfrentar uma situação part i c u l a r, caso ela ocorr a .

O nosso objectivo é facilitar a adaptação escolar da criança oncológica, evitando acima de tudo quenela se gerem sentimentos de diferença ou de menor capacidade e, ao mesmo tempo, estimulá-la parao desenvolvimento de expectativas de futuro. Com este objectivo elaborámos um documento de apoiopara pro f e s s o res, esperando que este lhes faculte informações suficientemente esclarecedoras e concisass o b re os aspectos médicos, psicológicos e pedagógicos da doença, ajudando-os a encontrar soluçõesespecíficas para as necessidades destas crianças.

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AS P E C T O S M É D I C O S

“O cancro não é contagioso – disse o Linus –. Não se apanha como uma constipação ou uma gripe.

– Deve ter apanhado cancro – disse a Lucy – por ser uma miúda esquisita.

– A Janice não apanhou cancro por ter feito algo errado. Foi apenas uma coisa que aconteceu.”

CHARLES M. SCHULZ. Porquê, Charlie Brown, porq u ê ?

O Q U E É O C A N C R O?

O cancro é uma doença que aparece quando uma célula perde o controlo e se re p roduz de form aa n á rquica, dando lugar a um número cada vez maior de células que deixaram de funcionarn o rm a l m e n t e .

Existem tantos tipos de cancro quantos os tipos de células diferentes que compõem o corpo humano:

A LEUCEMIA é o cancro das células que compõem o sangue. Representa um terço dos pro c e s s o smalignos da infância.

Os tumores do sistema nervoso central são o segundo tipo de cancro mais fre q u e n t e .

Há diversos tipos, dependendo da célula maligna que prolifera (sendo um dos mais fre q u e n t e so MEDULOBLASTOMA). 9

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Os LINFOMAS são tumores que consistem em tornar malignas as células que fazem parte dos gânglioslinfáticos. Classificam-se em dois grandes grupos: LINFOMA ou doença de HODGKIN e LINFOMA NÃOH O D G K I N .

O NEUROBLASTOMA é um tumor cuja incidência é mais frequente em crianças com menos de cincoanos. Pode localizar-se no abdómen, no tórax ou na pélvis, uma vez que é formado no sistema nerv o s osimpático e alastra a todo o corpo, formando gânglios.

O RABDOMIOSSARCOMA é um tumor que se forma no músculo e, consequentemente, pode localizar-seem qualquer local onde exista um músculo.

O TUMOR de WILMS ou NEFROBLASTOMA é o tumor renal mais frequente na idade pediátrica. To rn a - s er a ro a partir dos sete anos.

E n t re os tumores ósseos mais frequentes na criança encontram-se o OSTEOSSARCOMA e o SARCOMAde EWING.

O RETINOBLASTOMA é o tumor intra-ocular.

PO R Q U E A PA R E C E A D O E N Ç A?

As causas do cancro infantil são desconhecidas, embora haja a certeza de que não é uma doençacontagiosa. Existem muitos factores relacionados sobre os quais se têm feito intensas investigações. Na camada infantil não existem grupos de risco como no caso dos adultos e a doença é igualmented i f e rente na sua etiologia e evolução.

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PO D E C U R A R-S E?

Nas últimas décadas foram conseguidos grandes avanços no tratamento e actualmente dispomosde terapêuticas com as quais se estão a alcançar índices de sobrevivência e cura cada vez maiore s ,situando-se estes em cerca de 70%.

CO M O?

O procedimento pode variar e depende do tipo de cancro. As três armas fundamentais são:

– A ciru rg i a– A radioterapia– A quimioterapia.

É frequente combinarem-se duas ou mais destas armas para conseguir um melhor rendimento. Outrasvezes utiliza-se apenas uma delas.

A CIRURGIA consiste na extirpação do tumor. Por vezes não é possível retirá-lo totalmente, pelo que,neste caso, será necessário combinar outras formas de tratamento, como a quimioterapia e a radioterapia. Às vezes, para retirar o tumor é necessário extirpar ou amputar a parte do corpo onde ele está localizado, como um rim, um braço ou uma pern a .A RADIOTERAPIA destrói as células cancerígenas por meio de radiações de elevada energ i a .É administrada por uma máquina, em várias sessões de poucos minutos, com uma fre q u ê n c i an o rmalmente diária. É totalmente indolor. A área da pele sobre a qual é administrada pode ficar

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inflamada. É frequente a ocorrência de efeitos secundários como perda de apetite, náuseas e vómitos e queda de cabelo.

A QUIMIOTERAPIA consiste na administração de medicamentos que visam destruir as células malignas.Pode ser aplicada por via oral, através de uma injecção endovenosa ou intramuscular. A combinação de vários medicamentos é mais eficaz; durante a sua administração podem sentir-se náuseas e vómitos.

Uns dias após ter recebido o tratamento, podem ocorrer outros efeitos negativos, produzidos porq u ea quimioterapia também prejudica as células normais, especialmente as que se dividem rapidamente.E n t re estas células destacam-se as da medula óssea, cuja missão é produzir glóbulos verm e l h o s ,glóbulos brancos e plaquetas.

A quimioterapia é administrada em ciclos, a fim de permitir que o organismo re c u p e re dos re f e r i d o sefeitos adversos. Os ciclos de quimioterapia são programados caso a caso e a sua tolerância é muitov a r i á v e l .

Após ter recebido quimioterapia, a criança poderá ir à escola, embora a assistência às aulas possa seri n t e rrompida devido às consequências do tratamento, como, por exemplo, anemia, infecções ou perd a sde sangue.

Alguns medicamentos podem causar a perda de cabelo (alopecia), o qual depois voltará a cre s c e r.

Não existe nenhum padrão único de actuação, sendo portanto impossível fornecer directrizes gerais.Na maioria dos casos o processo é longo e implica períodos de hospitalização e controlos clínicosf re q u e n t e s .

Quando a criança recebe alta, não é porque esteja curada, mas porque se considera que tem condiçõespara receber tratamento ambulatório.

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É I M P O RTA N T E S A B E R

NUNCA SE DEVE ADMINISTRAR ASPIRINA OU QUALQUER OUTRO MEDICAMENTO.

Se a criança com cancro tiver febre ou se encontrar adoentada, não deve em caso algum ser- l h eadministrada aspirina ou qualquer outro medicamento, importando que os pais sejam imediatamentea v i s a d o s .

Quando a criança tiver poucos glóbulos brancos (defesas), permanecerá em casa, mas, mesmo assim,poderá realizar normalmente tarefas escolare s .

Quando tiver uma diminuição de glóbulos vermelhos, poderá observ a r-se um cansaço anormal, palidezou dificuldade em respirar após um esforço.

Quando a criança tiver poucas plaquetas, poderá assistir à escola, evitando, porém, actividadesou desportos violentos que impliquem risco de hemorr a g i a s .

A VARICELA e o SARAMPO merecem uma especial atenção. Perante um caso conhecido destasdoenças, é importante evitar o contágio com uma criança com cancro. Em caso de contacto, os paisdeverão ser avisados IMEDIATAMENTE a fim de comunicarem este facto ao médico.

Muitas destas crianças têm um Catéter Venoso Central (CVC) para facilitar o tratamento. Existem doistipos: interno e externo. Ambos consistem num tubo de silicone, introduzido numa veia, destinado aevitar constantes picadas; o CVC interno fica por baixo da pele, formando uma proeminência, e o CVCe x t e rno sai através da pele.

A actividade da criança não deverá ficar reduzida pelo facto de ter um catéter. Ao pegar na criançaao colo, haverá que fazê-lo tendo em conta que nunca se deverá pegar-lhe debaixo dos braços, mas simamparando-a com uma mão por baixo do rabinho. Caso o catéter externo sofra um puxão, deveráe x e rc e r-se pressão sobre a zona e levar a criança ao hospital.

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AS P E C T O S PS I C O L Ó G I C O S

– Oh não! – disse Linus – Deve ter doído imenso.

– Sim – disse Janice. – Acho eu, porque me anestesiaram e não demorou muito. Agora estou ligadaa este soro intravenoso. É uma maneira de fazer quimioterapia. Este remédio deve ajudar-me, mas talvez me faça cair o cabelo. Não se preocupem, sei que vou ficar boa porque quero voltar paraa escola e andar de baloiço.

– Vais ficar boa, Janice – disse Linus –, e vou empurr a r-te nos baloiços para sempre .

CHARLES M. SCHULZ. Porquê, Charlie Brown, Porq u ê ?

CO M O É A C R I A N Ç A A F E C TA D A P E L A D O E N Ç A?

F a c t o res contextuais– Ambiente estranho– Afastamento do lar– Sujeição a procedimentos invasivos (dor)– Ausência da escola

R e p e rcussões emocionais– Medo– Ansiedade– Privação: s e n s o r i a l

s o c i a l

O aparecimento do cancro na criança tem um efeito diversificado que gera alterações, tanto nos hábitose costumes como a nível pessoal. Em primeiro lugar, aparecem elevados índices de stress, comoa reacção no momento do diagnóstico. Esta situação é vivida com uma intensidade que varia com a idade da criança e a consciência que possa ter do problema. As crianças mais novas (entre os 0 e os 3/4 anos) têm medo principalmente da dor física e da separação dos pais, embora, por vezes,

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as crianças de 4 anos possuam uma surpreendente consciência do que se está a passar. Assim, surg e mreacções de ansiedade, enquanto nos mais velhos, para além da ansiedade, são frequentes sintomasd e p re s s i v o s .

Estas emoções psicopatológicas surgem em consequência da própria doença e dos longos e complexostratamentos, bem como dos seus efeitos secundários. São normais no início e têm pro c e s s o sde adaptação, desde que não excedam certos limites e possam derivar em patológicos.

A doença implica também longos períodos de hospitalização e, portanto, um stress adicional.

Fases da doença– Diagnóstico– Início do tratamento– Efeitos secundários do tratamento– Fim do tratamento– Possibilidade de re c a í d a– Possibilidade de fase term i n a l

Efeitos psicopatológicos da doença– Insegurança – Incapacidade– Deterioração da imagem de si próprio– Desamparo – Indefesa– Medo – Te m o r– Depressão – Ansiedade– Isolamento social– Alterações de carácter e de comport a m e n t o– Desenvolvimento de psicopatologias específicas.

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À medida que as diferentes etapas se vão sucedendo, os níveis de ansiedade diminuem, em funçãoda informação e da aceitação que a criança tenha da sua doença. Devido ao carácter de mudançacontínua, existe a possibilidade de ocorre rem complicações relacionadas com os tratamentos e coma própria patologia (infecções, recaídas, etc.), que podem voltar a fazer aumentar estes níveisde ansiedade. Convém dar à criança uma explicação adaptada ao seu nível de compreensão, de acord ocom as suas necessidades de conhecer aspectos da doença, com o objectivo de que a ela se adapte à situação, ou seja, aprenda a viver com esta.

Em muitos casos o diagnóstico é ocultado, o que dificulta em grande medida a adaptação, dado queessa ocultação é mais uma forma de superpro t e c ç ã o .

Para a criança, a doença implica uma menor capacidade de resolução de problemas e uma re l a ç ã ode dependência e diminuição da autonomia pessoal, que é mais acentuada no caso dos adolescentes.Isto gera sentimentos de insegurança, indefesa e desamparo, que, aliados aos estigmas físicosp roduzidos em consequência dos tratamentos, como a alopecia (especialmente traumáticanos adolescentes), amputações ou palidez, deterioram notavelmente a imagem de si própria.

Em resumo, todos estes aspectos contribuem para a criação de uma baixa auto-estima, o que pre d i s p õ enegativamente para alcançar objectivos.

É também frequente o isolamento social. A criança fica em casa e não vai à escola, devido ao medode ser recusada pelo seu aspecto ou por receio de infecções. Desta forma, verifica-se um entraveao desenvolvimento da sua maturidade e personalidade, uma vez que não cria capacidades sociaisfundamentais na infância, que determinarão a sua própria personalidade e relacionamento social na idade adulta.

É importante considerarmos que as crianças possuem uma maior capacidade de adaptação queos adultos e, portanto, podem desenvolver mecanismos de adaptação desde que lhes seja dado o apoioadequado a nível familiar, social e académico.

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PR O B L E M Á T I C A FA M I L I A R

Alteração dos hábitos de vida familiar– Estadias no hospital– Deslocações– Necessidade de abandonar o empre g o– Custos económicos– Procura de pessoas alternativas para cuidar dos outros filhos– Mudança de hábitos familiare s– Quebra de relações sociais

Quando se comunica um diagnóstico de cancro, produz-se um grande impacto emocional na família,onde são frequentes reacções de angústia, medo, raiva e impotência. A situação é especialmentedramática quando se trata de uma criança. Os pais costumam ter sentimentos de culpa e,em determinadas ocasiões, conceitos errados em relação à doença, que se acentuam ainda maiscom estas emoções negativas.

O padrão da vida familiar altera-se bruscamente; é interrompido pelos longos e contínuos períodosde hospitalização. Os irmãos têm de ficar ao cuidado de outras pessoas, apercebendo-se desta form ade uma situação confusa. Ficam por vezes com sentimentos de culpa pela doença do irmão e atribuema sua causa a alguma briga entre ambos. Outras vezes sentem-se simplesmente culpados por estare ms a u d á v e i s .

N o rmalmente são marginalizados em consequência da doença, motivo pelo qual manifestam ciúmee alterações de comportamento, fraco aproveitamento escolar, enurese secundária e patologiasc o n c retas, devidas a falta de atenção.

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Em qualquer caso, a perda da estrutura familiar é determinada pela prévia adaptação à doença,uma vez que, se anteriormente já existiam problemas familiares, estes se vão acentuar neste momento.São disto exemplo a dificuldade de comunicação, os problemas conjugais, os problemas de ciúme entreos irmãos, etc.

Tudo isto pode derivar num estado de sofrimento psicológico e de tensões crónicas, sobretudo quandoa família não se adapta à situação, ou seja, não aprende a viver com a doença da melhor form apossível, ou não dispõe de recursos para a enfre n t a r.

Em muitos casos, a criança doente pode ter uma vida praticamente normal, mas é possível que se gerem atitudes de superprotecção por parte dos pais. Estas derivam dos seus próprios medos, quese manifestam através da falta de informação dada à criança relativamente ao seu diagnóstico, não a levando à escola, impedindo-a de efectuar determinadas actividades, etc. Tudo isto re t a rda o seudesenvolvimento e a sua personalidade, podendo simultaneamente desencadear as alteraçõesa n t e r i o rmente descritas.

RE P E R C U S S Õ E S D A D O E N Ç A N O A M B I E N T E S O C I A L D A C R I A N Ç A

Ao cancro associa-se a ideia de sofrimento e morte, bem como outras noções erradas e distorc i d a scomo o castigo, o contágio, etc. É óbvio que se trata de uma doença grave, mas é import a n t edesmistificar o seu significado, dado que conceitos tão fatalistas não ajudam as pessoas que delapadecem, e pelo contrário estigmatizam e produzem recusa social.

Em alguns casos esta é uma das causas que favorece o isolamento da criança e que a faz sentir- s ed i f e rente e não aceite pelo seu meio social. Ao deixar de ir à escola e de ver os amigos, pode serafectada por importantes desajustes e atrasos de aprendizagem. Mesmo depois de fisicamenteultrapassada a doença, as consequências deste processo podem persistir até à idade adulta.

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As crianças encontram-se num contínuo período de formação e de aprendizagem. Um aspectoi m p o rtante do desenvolvimento evolutivo é a socialização, sendo a escola a principal fonte de re l a ç õ e ssociais na infância e na adolescência, para além da sua dimensão académica e de apoio social. Istojustifica a necessidade de pro p o rcionar à criança com cancro tão rapidamente quanto possível umamaior ligação e continuidade com a escola.

O Q U E P O D E O P R O F E S S O R FA Z E R?

– Pro p o rcionar apoio positivo, evitando atitudes de superprotecção; deixar o aluno fazer por si própriotudo o que puder, o que o ajudará a conseguir a sua autonomia e aumentará a sua autoconfiança.Caso necessite de ajuda, será ele próprio a pedi-la.

– Tentar exigir-lhe o mesmo rendimento que aos colegas (desde que a sua situação o permita), poisde outra forma pode pensar que "se o Professor/a Professora não se importa com o que faço, é porq u edevo estar muito doente".

– Ter sempre presente que, por vezes, um baixo rendimento escolar pode dever-se a alteraçõesemocionais ou a dificuldades de adaptação e não à falta de capacidade intelectual. Por isso,é importante que a criança se sinta bem na escola.

– Tentar não estabelecer definições, limites ou rótulos, já que infelizmente estes se concretizam pelosimples facto de serem estabelecidos.

– Incentivar a criança a participar em todas as actividades escolares. (Se não puder participar num jogo,pelo menos que controle os tempos, por exemplo).

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– Compreender e apoiar a criança quando nela se observ a rem comportamentos de apatia e debilidade,pois podem ser justificados pela doença (neutropenia e outros efeitos da quimioterapia); valorizar o seuesforço concretizado na assistência: o simples facto de assistir já é muito import a n t e .

– Valorizar e dar ênfase aos esforços da criança doente, por muito pequenos que sejam, pois isto vaip redispor positivamente o aluno e fará com que se sinta capaz de atingir os seus objectivos.

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AS P E C T O S P E D A G Ó G I C O S

“Quando chegaram à escola, um rapaz com ar irritante foi até eles e gritou:

– Olha que lindo chapéu! Muito giro! Será que voa? Acho que precisa de uma hélice. – E tirou o bonéc o r- d e - rosa da cabeça de Janice. Ela ainda tentou cobrir a cabeça com as mãos, mas era tarde de mais.Toda a gente no re c reio, incluindo Linus, viu que ela não tinha cabelo.

– Eh pá, olhem para isto! – gritou o miúdo irritante. – Vejam! Uma care c a ! ” .

CHARLES M. SCHULZ. Porquê, Charlie Brown, porq u ê ?

PR O B L E M A S G E R A I S N O P R O C E S S O D E E N S I N O-A P R E N D I Z A G E M

E M C O N S E Q U Ê N C I A D E U M D I A G N Ó S T I C O D E C A N C R O

C o m u n s :

– Perda momentânea do esquema de apre n d i z a g e m

– Perda de hábitos de trabalho

– Quebra no re n d i m e n t o

– Falta de motivação para o estudo

– Perigo de não passar de ano 2 3

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Devidos à idade especialmente pro b l e m á t i c a

I n f a n t i l :– falta de estímulos sistematizados

– falta de estrutura nos conceitos básicos

A d o l e s c ê n c i a :– aumento das exigências curr i c u l a re s– começa a desenvolver um sentido de independência

– começa a orientar o seu futuro

Devidos ao tratamento

– Amputações (braço dominante, dificuldades de mobilidade)

– Possíveis efeitos de radiação craniana na concentração e na memória

– Tu m o res cerebrais com necessidades visíveis:

• motoras• de linguagem• de visão

– Tu m o res cerebrais com necessidades não visíveis:

• problemas no esquema corporal• problemas de memória (rapidez mental, socialização)

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A C R I A N Ç A N Ã O VA I À E S C O L A P O R E S TA R H O S P I TA L I Z A D A

Que pode o professor fazer?

– Falar com os pais a fim de conhecer a situação da criança e estabelecer uma organização de trabalho,já que é conveniente que os pais funcionem como elo de ligação com a escola.

– Adoptar as medidas complementares ou de adaptação curricular que sejam necessárias, para ajustaras actividades à situação do aluno e realizar um seguimento das mesmas, com a colaboraçãodos pro f e s s o res do hospital, se necessário. No início, esta adaptação curricular não será muitosignificativa. Consistirá simplesmente em seleccionar a matéria de ensino, mantendo, se possível,o conteúdo mínimo das disciplinas básicas ou daquelas nas quais a criança tenha mais dificuldades,pois nesta fase de hospitalização há que ter em conta que a criança não vai estar nas melhore sc o n d i ç õ e s .

– Caso vários pro f e s s o res tenham aulas com a criança, o director da turma fomentará o envolvimentode todos eles e actuará como coordenador no pro c e s s o .

– Manter um contacto contínuo com o aluno (apontamentos no caderno, telefonemas…); motivá-lo para que estabeleça relações positivas, evitando assim comportamentos de afastamento( e s c rever cartas aos colegas da escola, por exemplo); incentivar os colegas a re l a c i o n a rem-se com ele(visitas, telefonemas…).

– Tendo em conta os conhecimentos que a criança possui da doença, convém começar a preparar a turma sobre a situação da criança (mudanças físicas, etc.), com o prévio consentimento dos pais e com a sua colaboração.

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A C R I A N Ç A E S T Á E M C A S A; N Ã O VA I À E S C O L A

Que pode o professor fazer?

– Continuar a comunicação com os pais e prosseguir a preparação dos colegas em função da doença,ou iniciá-la caso este procedimento ainda não tenha sido efectuado.

– Fazer visitas a casa, sempre que a situação médica da criança o permita, tanto por parte do pro f e s s o rcomo dos colegas, e incentivá-la a restabelecer o contacto com os seus amigos, com as coisas que gostade fazer, desejos, preocupações, medos…

– Facilitar a relação com os colegas através de:

• Cassetes gravadas na aula• Cart a s• Te l e f o n e m a s• Jornal da escola• Amigo inseparável• Acontecimentos, novidades• Vídeos de excursões, festas• Actividades extracurr i c u l a re s

– Org a n i z a r, se possível, uma curta visita à escola ou participação em alguma actividade extracurr i c u l a r.

– Rever o percurso curricular da criança antes da doença, com a finalidade de que, quando voltar à escola, possam ser avaliados os problemas resultantes, ou não, da doença.

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– Conforme tenha sido adoptado algum plano curricular ou não, durante a hospitalização, continuarcom o desenvolvimento, ajustando-o às novas circunstancias e realizando um seguimento em casa,através de:

• Pro f e s s o res de apoio• Visitas dos pro f e s s o res da escola• Contacto através dos pais e/ou colegas.

– Tentar que a criança não se sinta em atraso no plano escolar: dar-lhe trabalhos para casa, contro l a n d oe revendo-os periodicamente, não com o objectivo de a manter entretida, mas para potenciaruma reintegração escolar positiva, f a c i l i t a r-lhe, sempre que seja conveniente, uma avaliação no domicilio, elaborada de tal maneira que possa ser realizada por qualquer dos pro f e s s o re sa n t e r i o rmente re f e r i d o s .

– Não podemos esquecer que nas mãos do professor reside a possibilidade de adaptar os critérios e procedimentos de avaliação adequados à situação e às características da criança.

A C R I A N Ç A V O LTA À E S C O L A

Que pode o professor fazer?

Compilar inform a ç ã o

– Deverá já ter compilado pelo menos as informações que se seguem:

• Tudo o que a criança sabe acerca da doença;• Tudo o que a criança ou os pais querem que se saiba;• Os medos e as preocupações da criança e dos pais;

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• Se poderá voltar à escola com re g u l a r i d a d e ;• Se necessitará de ser levada ou se poderá ser ela própria a deslocar- s e ;• Se poderá participar integralmente nas actividades de Educação Física;• Se poderá assistir dias inteiros ou só meios dias;• Quaisquer outras informações que o professor considere relevantes e que os pais queiram forn e c e r,

já que não podemos esquecer o direito à privacidade dos pais e da criança.

– Com estes dados já pode começar a pre p a r a r-se o re g resso à escola. Insistimos sempre na colaboraçãocom os pais.

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I n f o rmar os outros pro f e s s o re s

1.º – Caso a criança tenha mais do que um professor e os restantes ainda não estejam inform a d o s ,convém fazê-lo e avaliar a necessidade de comunicar a situação aos outros pro f e s s o res da escola, a fimde eles pre p a r a rem os seus alunos para as actividades comuns (re c reio, saídas…).

P reparar a turma, se isso ainda não tiver sido feito

2.º – Informar a turma do re g resso e da situação do colega, se esse procedimento ainda não tiver sidoefectuado, podendo associar-se este ponto com actividades curr i c u l a res de atitudes (auto-estima,solidariedade, aceitação, re s p e i t o … ) :

• Alguns pais, pre f e rem tratar do assunto pessoalmente, através de uma conversa ou enviandouma carta aos colegas e pais.

• Se a criança for adolescente, é possível que queira ser ela a comentar o facto.

* Uma boa desculpa para preparar o re g resso pode ser um conto para os mais pequeninos e um debatepara os mais velhos; perguntas do estilo: “Como gostavas de ser tratado se estivesses doente?” ou “Como te sentes ao pé de uma pessoa doente?” podem dar lugar a uma discussão sobre o tema,onde se deverão referir aspectos como os seguintes:

• O que é o cancro ;• Salientar que não é contagioso;• Que as causas são desconhecidas;• As mudanças que podem ocorre r.

* A A c re d i t a r editou alguns livros que podem servir de suporte para a conversa a ter com a turma. Ve rpáginas 35 e 36.

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Relativamente à informação a dar aos pais dos colegas de aula da criança ou adolescente, apre s e n t a m o sseguidamente uma minuta na qual se poderão inspirar:

C a ros Pais:

O/A ..................................................... pertence à turma que o seu/sua filho/a frequenta nesta Escola.

Recentemente foi-lhe diagnosticado um cancro, que neste momento se encontra em fase de re m i s s ã o .

O nosso objectivo é, evidentemente, que a sua recuperação se efectue da melhor forma, como temacontecido até agora.

Como sabem, o cancro não apresenta qualquer risco de contágio.

O tratamento está a ser realizado tendo como base a quimioterapia, tratamento que destrói as célulasmalignas mas que também ataca as células normais. Quando as células normais morrem, podem surg i rp roblemas de imunidade, o que significa que há mais dificuldade no combate às infecções, em especialas infecções virais como a varicela ou o sarampo.

Como o/a .............................................. nunca teve nenhuma destas doenças e corre neste momentoum risco acrescido se as contrair, muito agradeceria que me contactasse imediatamente no caso de o/a seu/sua filho/a ter alguma delas ou poder ter estado em contacto com alguém que lhe tenhaeventualmente transmitido a infecção. Poderemos assim mais facilmente avisar a família do/a ................. e, através de medicamentos, atenuar o efeito do contágio.

Agradeço sinceramente a vossa colaboração.

Fico ao vosso dispor para alguma questão que queiram colocar-me (ou: Proponho a data de ...... parauma reunião com todos os Pais que eventualmente desejem ter mais informações sobre este assunto).

Com os melhores cumprimentos,

O/A Pro f e s s o r / a ,

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Avaliação do aproveitamento escolar em casa e no hospital

3.º – Neste momento, será preciso avaliar o aproveitamento que a criança teve durante a hospitalizaçãoe em casa enquanto não podia assistir às aulas. Caso este trabalho tenha sido coordenado a partir da escola, a avaliação ficará bastante facilitada.

Avaliação do estado físico e intelectual

4.º – Também deve ser avaliado o estado físico e intelectual, procurando-se, caso necessário, ajudade especialistas.

AD A P TA Ç Õ E S N E C E S S Á R I A S

Com estas informações e com aquelas que os pais possam facultar acerca do futuro imediato da criança, o professor estará em condições de tomar as decisões convenientes para que o aluno possavoltar à aprendizagem correspondente à sua idade e plano curr i c u l a r. Assim, provavelmente a criançaque está a ser tratada de um cancro apenas necessitará de um reajustamento dos objectivos derivadosdas disciplinas curr i c u l a res mínimas, de uma ajuda suplementar e de uma flexibilidade na calendarizaçãoe nos métodos de avaliação, não nos critérios fundamentais da mesma.

É importante não esquecer que o conceito de ciclo tem um carácter temporário suficientemente amplopara perm i t i r, sem problemas de aproveitamento, a recuperação da parte curricular que o aluno nãopôde re c e b e r. Desta forma, pode elaborar-se um calendário para avaliar as matérias que já foramestudadas pelos colegas e estabelecer um programa de aulas de recuperação, o que pode ser feitoatravés de um colega que, em casa e sob a orientação do pro f e s s o r, o ajude com as matérias que nãoteve a possibilidade de acompanhar dire c t a m e n t e .

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NE C E S S I D A D E S E D U C AT I VA S E S P E C I A I S

– Também é possível que as sequelas da doença e do tratamento tenham gerado NecessidadesEducativas Especiais. Neste caso, como já foi referido antes, as necessidades devem ser avaliadas porespecialistas, juntamente com o pro f e s s o r, que deverá receber dos serviços escolares e psicológicos do hospital, caso existam, um relatório completo sobre o assunto. Nesta circunstância, as adaptaçõesnecessárias para chegar ao ensino do plano curricular têm de ser re e s t ru t u r a d a s .

Estas podem ser:

a ) De acesso: modificações de recursos especiais, materiais ou de comunicação para poder apre s e n t a rum curriculum habitual ou adaptado, envolvendo o resto da escola, se necessário (por exemplo:mudar a ordem de uma sala, mudar o percurso até à sala, etc.);

b ) Adaptações curr i c u l a res significativas: modificação no ensino básico do plano curricular oficial(objectivos, matérias, actividades, metodologia, procedimentos e critérios de avaliação);

c ) Acompanhamento: uma vez reiniciada com maior ou menor continuidade a actividade escolarda criança, deverá ser atentamente seguida a sua evolução escolar, a fim de se detectarem eventuaisp roblemas de aprendizagem (dificuldades de concentração e diminuição de memória devidasà radioterapia, problemas de relacionamento social, etc.), a fim de neles se poder interv i rc o rrectivamente o mais rapidamente possível.

Por todas as razões que atrás enunciámos, o ideal é, sempre que possível e sendo essa a vontade da criança ou adolescente, adaptar a escola à situação concreta do aluno, permitindo-lhe a re s p e c t i v af requência e a avaliação curricular e facilitando a passagem de ano, a fim de que ele possa acompanhara turma, sentindo-se um entre os outros apesar das suas limitações. 3 3

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Este aspecto é importante não só a nível académico, mas também e sobretudo nos planos psicológico e afectivo, uma vez que, funcionando como um factor de incentivo e integração, contraria o isolamentoe o sentimento de exclusão e alheamento da realidade a que tantas vezes as crianças ou adolescentesestão sujeitos.

Isto só será possível através de uma boa articulação entre a escola de origem, a escola no hospital e o acompanhamento domiciliário.

O Ministério da Educação está disponível para acompanhar estes casos, devendo a situação ser expostapor carta dirigida à D i recção Regional de Educação da zona de residência do aluno pela E s c o l ae pelos Pais do aluno, de forma que, nos termos do Decreto-Lei n.º 319/91, de 23 de Agosto, do Despacho conjunto n.º 402/98 e do Decreto-Lei n.º 6/2001, de 18 de Janeiro (art. 10.º), ou de outromodo que se entenda necessário, sejam accionados os apoios julgados convenientes.

A p resentamos seguidamente parte de uma composição do José Manuel, de 17 anos, feitacinco anos após ter recebido um transplante de medula óssea.

… “Naquele dia, quando regressei a casa depois do transplante, comecei a compreender o quesignificava a leucemia. Percebi que a leucemia não podia ser uma desculpa para não estudar, nem ser a responsável pelos meus problemas. Era apenas um movimento num jogo de xadrez. Era apenas um diamau. Por isso, comecei a compreender que só significava uma mudança na minha vida, não o seu fim”…

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LI V R O D O S AD O L E S C E N T E S

Auxilia os adolescentes, através de váriostestemunhos recolhidos, a viver melhor este período difícil das suas vidas.

UM LI V R O PA R A O S PA I S

I n f o rma os Pais sobre o cancro infantilem geral, os exames e os tratamentos a que a criança é submetida.

OU T R A S PU B L I C A Ç Õ E S D A AC R E D I TA R

PI N TA-M E U M DE S E N H O

L i v ro para colorir, que conta a história do urso Barnabé, visando dar às criançasi n f o rmações sobre o tratamento.

QU A N D O O S N O S S O S F I L H O S T Ê M C A N C R O

Testemunhos de pais, relatando a suaexperiência pessoal a partir do momento em que foi diagnosticado cancro a um filho.

O M E U F I L H O T E M L E U C E M I A

I n f o rma os pais sobre o tratamentoespecífico de transplante de medula e o apoio que podem dar e re c e b e r.

BO L E T I M

J o rnal semestral que dá conta das actividades dos diferentes núcleosda Acre d i t a r.

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PO R Q U Ê, CH A R L I E BR O W N, PO R Q U Ê?

Embora não se trate de uma publicação daAcreditar, recomendamos também este livro,em que Charlie Brown é confrontado com a doença através de uma colega da escola.

O livro pode ser adquirido junto da A c re d i t a r.

GA S PA R- QU Í M I O

A história de Gaspar-Químio ajudaas crianças a compreender todo o pro c e s s oque envolve a quimioterapia.

RU I- RÁ D I O

Dá informações, de uma maneira muito simples, sobre a radioterapia.