Um “Império Latino” Contra a Híper Potência Alemã _ Blog Da Boitempo

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12/15/13 Um “Império latino” contra a híper potência alemã | Blog da Boitempo blogdaboitempo.com.br/2013/03/28/um-imperio-latino-contra-a-hiper-potencia-alema/ 1/4 Um “Império latino” contra a híper potência alemã Publicado em 28/03/2013 | 2 Comentários Por Giorgio Agamben . Leia o comentário de Giorgio Agamben a respeito da repercussão deste artigo, em: A crise infindável como instrumento de poder . Em 1945, Alexandre Kojève, um filósofo que também desempenhava a função de alto funcionário no seio do Estado francês, publicou um ensaio intitulado L’Empire latin [O Império latino], com o subtítulo Esboço de uma doutrina da política francesa . É um memorando dirigido ao general de Gaulle. Este ensaio corresponde de tal a forma à nossa atualidade que é do nosso interesse analisá-lo. Com uma presciência rara, Kojève defende categoricamente que a Alemanha se tornará num futuro

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Um “Império latino” contra a híper potência alemãPublicado em 28/03/2013 | 2 Comentários

Por Giorgio Agamben.

Leia o comentário de Giorgio Agamben a respeito da repercussão deste artigo, em: A crise infindável

como instrumento de poder.

Em 1945, Alexandre Kojève, um filósofo que também desempenhava a função de alto funcionário no

seio do Estado francês, publicou um ensaio intitulado L’Empire latin [O Império latino], com o

subtítulo Esboço de uma doutrina da política francesa. É um memorando dirigido ao general de Gaulle.

Este ensaio corresponde de tal a forma à nossa atualidade que é do nosso interesse analisá-lo.

Com uma presciência rara, Kojève defende categoricamente que a Alemanha se tornará num futuro

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próximo a principal potência econômica europeia e deixará a França ocupar o segundo lugar no seio da

Europa Ocidental. Kojève v ia com lucidez o fim dos Estados-nações que tinham até a data determinado

a história da Europa: tal como o Estado moderno veio em resposta ao declínio das formações políticas

feudais e ao nasc imento dos Estados nacionais, os Estados-nações também tiveram inexoravelmente de

ceder o lugar a formações políticas que superavam as fronteiras nacionais e que este qualificou de

“impérios”.

Urgência em regressar às ligações culturais

Segundo Kojève, na base destes impérios deixaria de haver uma unidade abstrata, indiferente às

ligações reais de cultura, língua, modo de v ida e religião: os impérios – os que prevaleciam nessa altura,

o Império anglo-saxônico (Estados Unidos e Inglaterra) ou o Império sov iético – deveriam ser

“unidades políticas transnacionais, mas formadas por nações aliadas”. É a razão pela qual Kojève

propunha à França que se colocasse à frente de um “Império latino” que teria unido econômica e

politicamente as três grandes nações latinas (isto é, a França, a Espanha e a Itália), com o apoio da

Igreja católica e abrindo-se ao Mediterrâneo.

Segundo Kojève, a Alemanha protestante que se tornaria a nação mais rica e poderosa da Europa (o que

de fato aconteceu), ficaria inexoravelmente atraída pela sua vocação extra europeia, voltando-se para

as formas do Império anglo-saxão. Mas, nesta hipótese, a França e as nações latinas ficariam mais ou

menos afastadas, reduzidas necessariamente a um papel secundário.

Hoje em dia, enquanto a União Europeia se formou ignorando as ligações culturais concretas que

possam existir entre certas nações, pode ser útil e urgente refletir na proposta de Kojève. O que este

tinha prev isto acabou por se verificar. Uma Europa que pretende existir numa base rigorosamente

econômica, deixando de lado as ligações entre as formas de v ida, de cultura e de religião, ainda está

longe de ter revelado todas as suas fraquezas, sobretudo no plano econômico.

Um grego não é um alem ão

No caso presente, a suposta união denunciou as diferenças e limita-se a impor à maioria dos mais

pobres os interesses da minoria dos mais ricos, que coincide muitas vezes com os de uma única nação,

que nada, na história moderna, permite considerar exemplar. Não tem lógica pedir a um grego ou

italiano que v iva como um alemão; mas mesmo que fosse possível, isto levaria ao desaparecimento de

um patrimônio cultural e de uma forma de v ida. E uma política que prefere ignorar as formas de v ida

não está apenas condenada à extinção, mas, como a Europa demonstra de forma eloquente, nem sequer

é capaz de se constituir como tal.

Se não queremos que a Europa se dissolva definitivamente, como é possível prever através da análise

de vários sinais, convinha nos questionarmos o mais rapidamente possível como é que a Constituição

Europeia (que, lembremos, não é uma constituição do ponto de v ista do direito público, porque não foi

submetida a um voto popular, e nos casos em que foi – na França, por exemplo – foi claramente

rejeitada [por 54,67 % dos votos]) poderia ser novamente alterada.

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Gosto

Desta forma, poderíamos tentar fazer com que a nossa realidade política se assemelhe um pouco ao que

Kojève qualificou de Império latino.

* Publicado em Italiano no jornal La republica em 15/03/2013. Traduzido para o português pelo

Presseurop.

***

Próxim o lançam ento de Giorgio Agam ben no Brasil

Boitempo Editorial lança Opus dei: arqueologia do ofício em junho de 2013

Opus Dei, “a obra de Deus”, é a definição da liturgia de acordo com a doutrina da Igreja Católica. Nesta

nova obra que integra a série Homo Sacer, o instigante pensador italiano Giorgio Agamben volta sua

arqueologia filosófica ao universo sacerdotal – a quem compete o “ministério do mistério” – para

desfazer o mito de seu exercício como o da máxima separação em relação às demais esferas da v ida

social. Refazendo sua genealogia desde as origens do cristianismo, o livro nos mostra como o

paradigma que o Opus Dei tem oferecido à ação humana provou ser uma cultura secular do ocidente. O

trabalho inovador de Agamben aponta a liturgia como a tentativa mais radical de montar uma prática

totalmente efetiva. Identificando o mistério da liturgia com aquele da efetiv idade, o filósofo revela seu

enorme impacto na gênese das categorias fundamentais da modernidade desde a ética e política até a

ontologia e economia.

***

Giorgio Agam ben nasceu em Roma em 1942. Considerado um dos principais intelectuais de sua

geração, deu cursos em várias universidades europeias e norte-americanas, recusando-se a prosseguir

lecionando na New Y ork University em protesto à política de segurança dos Estados Unidos.

Responsável pela edição italiana das obras de Walter Benjamin, é autor, entre outros, de Estado de

exceção (2005), Profanações (2007 ), O que resta de Auschwitz (2008), O reino e a glória (2011) e

Opus dei, que a Boitempo lançará em junho de 2013. Colabora com o Blog da Boitem po

esporadicamente.

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