Um Livro, Um Fósforo Na Escuridão
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8/18/2019 Um Livro, Um Fósforo Na Escuridão
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21/04/2016 ..:: Momento Espírita ::..
http://www.momento.com.br/pt/imprimir.php?id=4488 1/1
UM LIVRO, UM FÓSFORO NA ESCURIDÃO
(texto do Momento Espírita impresso do site: momento.com.br)
Enquanto durou o bloco trinta e um, no campo de extermínio de Auschwitz, abrigou quinhentas crianças.
Vários prisioneiros, conhecidos comoconselheiros , apesar da estrita vigilância a que estavam submetidos, contrariando todos os prognósticos, contaram com uma biblioteca clandestina.
Era minúscula. Consistia em oito livros, entre eles,Uma breve história do mundo , de H.G. Wells, um livro didático russo e outro de geometria analítica.
Ao fim de cada dia , os livros, com ou tros tesouros, como remédios e alguns alimentos, eram confiados a uma das meninas.
Era Dita, de quatorze anos de idade.
Sua tarefa era protegê-los, escondê-los de tal forma que não pudessem ser descobertos, quando das inspeções dos prisioneiros pelos guardas nazistas.
À noite, os livros eram colocados sob uma tábua do piso, num canto. A terra fora escavada o suficiente para cri ar um espaço para depositar a pequena biblioteca.Os livros cabiam com uma exatidão tão milimétrica, que, ainda que os guardas pisassem ou batessem nas tábuas, com as juntas dos dedos, não soariam ocas.
Nada levaria a suspeitar que debaixo havia um minúsculo esconderijo.
Aqueles oito li vros eram preciosi dades. A jovem bibl iotecária os l ia. Também os acariciava.
Muito usados, com as extremidades avermelhadas de umidade, alguns mutilados, eram um tesouro.
A fragilidade os tornava ainda mais valiosos.
Dita se deu conta de que deveria cuidar daqueles livros como idosos sobreviventes de uma catástrofe.
Eles tinham uma importância sem igual.Sem eles, a sabedoria de séculos de civilização poderia se perder.
Eles registravam a técnica geográfica, que permitia saber como era o mundo; a arte da literatura, que multiplica a vida de um leitor em dúzias; a gramática que permitia tecer os fios da comunicação entre as pessoas.
Que preciosidades! Mesmo que um fosse em francês e ninguém soubesse o idioma. Ninguém, a não ser a senhora Markéta.
E ela, como outros, se tornou um livro vivo . E contou, muitas e muitas vezes, a história do Conde de Monte Cristo.
Enquanto se absorviam na leitura e releitura daqueles livros, ou ouviam histórias, narradas peloslivros vivos , as crianças esqueciam que estavam em um barracão cheio de pulgas.
Deixavam de sentir o cheiro da carne queimada, vinda dos crematórios, deixavam de ter medo.
Durante esses minutos, aquelas crianças eram felizes.
A realidade era dura demais. Por iss o, era preciso dar asas à imagi nação. Viajar no tempo, com as aventuras desse ou d aquele personagem. Imaginar q ue, um dia, voltariam a ser livres, se sentirem gente outra vez.
* * *
William Faulkner disse que o que aliteratura faz é o mesmo que acender um fósforo no campo no meio da noite. Um fósforo não ilumina quase nada, mas nos permite ver quanta escuridão existe ao redor.
De fato, a cultura não é necessária para a sobrevivência do homem. Apenas o pão e a água.
Com pão para comer e água para beber, o homem sobrevive, mas só com isso a humanidade inteira morre.
Se o homem não se emociona com a beleza, se não fecha os olhos e põe em funcionamento os mecanismos da imaginação, se não é capaz de fazer perguntas e vislumbrar os limites de sua ignorância, não é uma pessoa.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base em dados do
livro A bibliotecária de Auschwitz, de Antonio G. Iturbe,ed. AGIR.Em 10.6.2015.