UM METODO DE AN ALISE DA ATIVIDADE E OLICA UTILIZANDO...

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UM M ´ ETODO DE AN ´ ALISE DA ATIVIDADE E ´ OLICA UTILIZANDO T ´ ECNICAS DE PROCESSAMENTO DE SINAIS Gabriel de Vilhena Torres Projeto de Gradua¸c˜ ao apresentado ao Curso de Engenharia Eletrˆ onicaedeComputa¸c˜ao da Escola Polit´ ecnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necess´ arios ` aobten¸c˜ ao do t´ ıtulo de Enge- nheiro. Orientadores: Mariane Rembold Petraglia Jacques Szczupak Rio de Janeiro Abril de 2016

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UM METODO DE ANALISE DA ATIVIDADE EOLICA

UTILIZANDO TECNICAS DE PROCESSAMENTO DE SINAIS

Gabriel de Vilhena Torres

Projeto de Graduacao apresentado ao Curso

de Engenharia Eletronica e de Computacao

da Escola Politecnica, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessarios a obtencao do tıtulo de Enge-

nheiro.

Orientadores: Mariane Rembold Petraglia

Jacques Szczupak

Rio de Janeiro

Abril de 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Escola Politecnica - Departamento de Eletronica e de Computacao

Centro de Tecnologia, bloco H, sala H-217, Cidade Universitaria

Rio de Janeiro - RJ CEP 21949-900

Este exemplar e de propriedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que

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qualquer forma de arquivamento.

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otecas deste trabalho, sem modificacao de seu texto, em qualquer meio que esteja

ou venha a ser fixado, para pesquisa academica, comentarios e citacoes, desde que

sem finalidade comercial e que seja feita a referencia bibliografica completa.

Os conceitos expressos neste trabalho sao de responsabilidade do(s) autor(es).

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AGRADECIMENTO

Agradeco aos meus orientadores, Mariane e Jacques, pela disponibilidade, pela

paciencia e por terem aceitado fazer parte deste projeto de fim de curso. Agradeco

a Leontina, que junto do Jacques, disponibilizou parte dos recursos da Engenho para

a realizacao deste trabalho.

Agradeco a minha famılia, em especial aos meus pais, pelo apoio incondicional.

Agradeco a minha namorada e amiga, Aline, por ter me acompanhado em todas as

vicissitudes dos ultimos anos.

Agradeco a todos os professores que eu tive ao longo da minha formacao por terem

contribuıdo, cada um a sua maneira, para a minha formacao. Em especial agradeco

aos professores Jose Gabriel e Julio por terem aceitado o convite de participar da

banca.

Agradeco aos meus amigos, por estarem presentes sempre que necessario e por me

inspirarem a ser uma pessoa melhor.

Agradeco ao CNPq pelo apoio financeiro ao longo da minha graduacao, enquanto

aluno de iniciacao cientıfica e participante do programa Ciencia Sem Fronteiras.

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RESUMO

Em climatologia, em grande parte das aplicacoes, a analise de dados e feita

de um ponto de vista puramente estatıstico. Em situacoes em que poucos dados

estao disponıveis, essa abordagem nao consegue estimar a dinamica climatologica

presente de maneira satisfatoria.

Neste trabalho, e apresentada uma possıvel solucao para esse problema. O

metodo utiliza tecnicas de processamento de sinais para combinar dados provenientes

de reanalises globais e sintetizar um possıvel historico para o conjunto limitado de

medicoes.

Uma aplicacao pratica do metodo tambem e apresentada, onde calcula-se o

historico para uma serie de medicoes da velocidade do vento no estado da Bahia. O

resultado obtido pode entao ser utilizado para auxiliar na analise do potencial eolico

da regiao.

Palavras-Chave: Climatologia, Processamento de Sinais, Transformada de Wave-

let, Redes Neurais, Energia Eolica.

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ABSTRACT

On many applications in climate science, most of the data analysis is done

in a pure statistical way. However this approach cannot provide a proper estimate

of the climate dynamic when analysing datasets with few measurements.

In this work, we will present one possible solution for this problem. The

method combines global reanalysis data using signal processing techniques in order

to generate probable past values for the few measurements available.

We will also present one application of this method, where we calculate the

past values of a wind-speed measurements time series in the state of Bahia, Brazil.

The result can thus be used to help to analyze the wind power capacity of the region.

Key-words: Climate Science, Signal Processing, Wavelet Transform, Neural Networks,

Wind Energy.

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SIGLAS

CCEE - Camara de Comercializacao de Energia Eletrica

ANEEL - Agencia Nacional de Energia Eletrica

NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration

NCEP - National Centers for Environmental Prediction

NCAR - National Center for Atmospheric Research

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Sumario

Lista de Figuras x

1 Introducao 1

1.1 Tema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.2 Motivacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1.3 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

1.4 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

1.5 Conclusao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2 Metodologia 10

2.1 Dados Utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.1.1 Sobre o NOAA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.1.2 Sobre as variaveis escolhidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.2 Decomposicao em Sub-bandas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

2.2.1 Motivacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

2.2.2 Bancos de Filtros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2.3 Rede Neural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.4 Conclusao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

3 Resultados 25

3.1 Introducao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3.2 Parametros Utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

4 Conclusoes 32

4.1 Conclusoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

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4.2 Possıveis Melhorias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Bibliografia 34

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Lista de Figuras

1.1 Variacao Vazoes Anuais do Rio Sao Francisco com Relacao a Media. . . . 2

1.2 Geracao Eolica Anual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

1.3 Complementariedade Eolico Hıdrica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

1.4 Diagrama de Blocos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.1 Quadrıcula do NOAA com a orientacao do vento e local de estudo indicados. 12

2.2 Velocidade do Vento do NOAA e Local. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2.3 Calculo do Gradiente de Pressao Sobre as Quadrıculas do NOAA. . . . . . 14

2.4 Velocidade do Vento do NOAA e Local. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2.5 Velocidade do Vento do NOAA e Local. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.6 Velocidade do Vento do NOAA e Local. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.7 Bancos de Filtros de Analise. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.8 Bancos de Filtros de Sıntese. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.9 Resposta em frequencia combinada dos filtros. . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.10 Rede Neural Simplificada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.11 Ilustracao do overfitting. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

3.1 Ajuste da Rede Neural para as Baixas Frequencias. . . . . . . . . . . . . 28

3.2 Ajuste da Rede Neural para as Baixas Frequencias. . . . . . . . . . . . . 28

3.3 Ajuste da Rede Neural para as Altas Frequencias. . . . . . . . . . . . . . 29

3.4 Ajuste da Rede Neural para as Medias Frequencias - 2. . . . . . . . . . . 29

3.5 Ajuste da Rede Neural para Todo o Espectro. . . . . . . . . . . . . . . . 30

3.6 Histograma do Erro para Todo o Espectro. . . . . . . . . . . . . . . . . 31

3.7 Historico Sintetizado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

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Capıtulo 1

Introducao

1.1 Tema

A demanda por energia eletrica, devido a sua correlacao com o nıvel de

atividade economica, cresce a nıvel mundial, sendo cada vez maior o interesse por

fontes de geracao renovaveis e limpas. O Brasil, nesse contexto, dispoe de recursos

naturais suficientes para investir e rentabilizar investimentos em fontes de energia

renovavel [1].

Em 2014 as usinas hidreletricas produziram 67.5% de toda energia gerada no

paıs [2]. Embora as usinas hidreletricas utilizem uma fonte renovavel e nao sejam

poluentes, a quantidade de energia eletrica gerada depende das vazoes dos rios onde

se localizam. A Figura 1.1 mostra as variacoes da vazao anual do rio Sao Francisco

com relacao a sua media, calculada entre 1948 e 2015. Pode-se observar a grande

variabilidade da producao hidreletrica anual. Para comparar com o comportamento

historico da serie, destacou-se na Figura 1.1 a vazao de 2015, ano marcado por

intensa seca.

Depois das usinas hidreletricas, as usinas termeletricas produziram 32.9% da

energia eletrica no paıs para o mesmo ano [2]. Essas usinas geram energia a partir

da queima de combustıveis fosseis, biomassa ou fissao nuclear. Por utilizarem fontes

nao renovaveis, serem poluentes e possuırem um custo de geracao maior, as usinas

termeletricas so entram em operacao em perıodos de estiagem severa, quando a

producao hidreletrica nao e capaz de suprir a demanda nacional por energia. No

Brasil, em 2014, pelo terceiro ano consecutivo, houve um decrescimo da oferta de

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Figura 1.1: Variacao Vazoes Anuais do Rio Sao Francisco com Relacao a Media.

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energia hidreletrica [2], que tambem pode ser observado na Figura 1.1.

Nesse perıodo, para compensar a baixa geracao das usinas hidreletricas, as

usinas termeletricas entraram em operacao. As distribuidoras, com o objetivo de

garantir a entrega da energia eletrica contratada e cobrir o custo adicional das usinas

termeletricas, tomaram emprestado em torno de 11 bilhoes de reais [3]. O resultado

final pode ser observado, nas tarifas do consumidor, que sofreram um aumento medio

de 32% em 2015 [4].

Nesse cenario, a energia eolica destaca-se como uma alternativa mais inte-

ressante que a energia termeletrica, por possuir custo de geracao mais barato [5]

alem de utilizarem uma fonte limpa e renovavel. Como exemplo, pode-se analisar

o resultado do 22o leilao de energia nova realizado pela CCEE (Camara de Comer-

cializacao de Energia Eletrica) em 21/08/2015. Na ocasiao, a energia proveniente

das usinas termeletricas foi contratada a um preco medio de R$ 219,48 por MWh

enquanto para os parques eolicos o preco de contratacao medio foi de R$187,20 por

MWh, aproximadamente 15% menor [6].

Embora ainda nao existam instalacoes eolicas e solares suficientes para com-

petir com as usinas termeletricas, estudos, acerca do potencial energetico do paıs,

mostram que, com o devido investimento, e possıvel que no futuro as energias eolica

e solar venham a reduzir a dependencia do Brasil das usinas termeletricas [1]. Nas

proximas secoes sera tratado apenas o caso da energia eolica, suas principais carac-

terısticas e como o presente trabalho se localiza no contexto de geracao eficiente de

energia eletrica.

1.2 Motivacao

A utilizacao da energia gerada pelo vento nao e um fenomeno recente. No

seculo XVII a utilizacao de moinhos de vento para drenagem e moagem de graos ja

se encontrava em quase todo o territorio holandes [7]. Nesse exemplo em especial, a

energia cinetica contida no vento era transformada em energia mecanica atraves do

giro das helices dos moinhos. Atualmente, para se converter a energia do vento em

energia eletrica utilizam-se equipamentos chamados de turbinas eolicas. A geracao

de energia eletrica pode ser resumida em 2 etapas. Na primeira, de maneira analoga

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Figura 1.2: Geracao Eolica Anual.

aos moinhos, obtem-se energia mecanica atraves do giro das pas da turbina eolica.

Na segunda, a energia mecanica e convertida em energia eletrica por um gerador

para ser acoplada a rede eletrica.

A geracao de energia eletrica em larga escala se da atraves de parques eolicos.

Parques eolicos nada mais sao do que uma regiao onde as turbinas eolicas sao ins-

taladas. O numero de turbinas pode variar de acordo com a area do parque e com

o potencial eolico da regiao. Embora energia eolica seja um termo que abrange a

conversao da energia cinetica do vento em outra forma de energia, nesse trabalho o

termo energia eolica refere-se a energia eletrica gerada pela velocidade do vento.

No Brasil, a energia eolica correspondeu a 2% da producao energetica em

2014. Embora, essa producao nao seja significativa em valores absolutos, a potencia

eolica instalada em 2014 chegou a 4903 MW, representando um crescimento de 85.6%

da geracao eolica em relacao a 2013 [2]. Esse crescimento pode ser observado na

Figura 1.2, onde a geracao eolica esta indicada desde 2007.

Uma caracterıstica importante com relacao a producao eolica no nordeste

brasileiro e a sua complementariedade com a producao hidreletrica. Na Figura 1.3,

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Figura 1.3: Complementariedade Eolico-Hıdrica.

sao comparadas as sazonalidades da velocidade do vento tıpica da regiao e da vazao

na bacia do Sudeste. Observa-se que, os ventos sao mais intensos nos meses de

estiagem de forma que a producao eolica e naturalmente capaz de compensar a

producao hidreletrica nos meses de estiagem. Esse comportamento complementar

acentua a importancia da energia eolica no sistema brasileiro.

Embora essa fonte energetica tenha ganhado visibilidade recentemente, ainda

existem algumas dificuldades que devem ser superadas para torna-la relevante no

cenario nacional [8]. Dentre elas pode-se destacar o elevado custo, associado a com-

plexidade de se realizar o projeto de um parque eolico. Para tal, alem da aquisicao

dos aerogeradores e de outros equipamentos relacionados a producao energetica em

si, sao necessarios: monitoracao e levantamento dos recursos eolicos do local, certi-

ficacoes das medidas e licencas ambientais.

Para compensar esse investimento, o parque, depois de construıdo, deve ser

capaz de comercializar uma quantidade mınima de energia eletrica a longo prazo,

usualmente 20 anos que e o tempo de concessao do parque. Como a producao

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energetica e dependente da atividade eolica no local, e necessario um entendimento

solido do comportamento do vento para estimar a geracao futura. O estudo da

atividade eolica pode levar em consideracao diversas variaveis, cuja escolha depende

do tipo de analise a ser realizada. Como exemplo, pode-se citar, alem da velocidade

do vento, relevo, vegetacao e pressao atmosferica no local do empreendimento.

Nesse trabalho sera proposto um metodo de analise da atividade eolica uti-

lizando tecnicas de processamento de sinais, de maneira a auxiliar outros estudos

de viabilidade do projeto. O metodo a ser desenvolvido utilizara diversas variaveis

climatologicas para estudar o comportamento do vento, sendo flexıvel o suficiente

para ser aplicado na analise de outras variaveis, como por exemplo vazoes dos rios

e irradiacao solar. Nesse contexto, o presente trabalho limita-se a estudar apenas a

velocidade do vento, principalmente devido ao potencial que o paıs apresenta para

essa fonte e ao crescente numero de empreendimentos previstos.

1.3 Objetivos

Como exposto na secao anterior, para viabilizar a construcao de um parque

eolico e necessario que o mesmo seja capaz de produzir uma quantidade mınima de

energia eletrica a longo prazo de modo a compensar o investimento inicial. Assim,

e importante definir qual deve ser o perıodo de monitoramento da atividade eolica

para se estimar a dinamica climatologica do local.

A solucao mais simples, a princıpio, seria medir a velocidade do vento durante

um perıodo muito maior que o tempo de concessao e, a partir da analise dos dados,

determinar o seu comportamento futuro. Tal procedimento, basicamente, busca

obter a maior quantidade possıvel de dados a fim de estimar a atividade eolica com

o menor erro possıvel. Apesar de sua simplicidade, na pratica, a sua execucao e

muito difıcil devido ao tempo necessario - de no mınimo algumas decadas - para se

obter medicoes suficientes.

O principal objetivo deste trabalho e propor um metodo que seja capaz de re-

duzir o perıodo de monitoramento necessario para estimar a dinamica climatologica

local de maneira satisfatoria. Para alcancar tal objetivo, sera desenvolvido um mo-

delo matematico que permita calcular os valores de intensidade do vento no local

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de interesse. O modelo, como sera visto em maiores detalhes, utiliza tecnicas de

processamento de sinais para exprimir a velocidade do vento em funcao de outras

variaveis, denominadas variaveis explicativas, como temperatura e pressao.

Assim, desde que as variaveis explicativas estejam disponıveis no perıodo

desejado, pode-se usar o modelo para estender o conjunto de medicoes da velocidade

do vento, calculando os seus provaveis valores passados. Em outras palavras, sera

sintetizado um historico dos dados medidos a partir dessas variaveis. O metodo

desenvolvido aumenta a quantidade de dados disponıveis para analise tal qual a

solucao ingenua. A sua principal vantagem, entretanto, e a capacidade de realizar

tal tarefa sem a necessidade de se estender o perıodo de monitoramento inicial,

permitindo a aplicacao do metodo na pratica.

1.4 Metodologia

Em climatologia e usual a utilizacao de metodos puramente estatısticos para

modelar a atividade eolica de um determinado local [9] [10]. Tais metodos, porem,

devido ao numero limitado de dados disponıveis para analise, dificilmente detectam

as componentes de baixa frequencia contidas no sinal de interesse. Essas compo-

nentes estao associadas a dinamica climatologica do local, e sao muito importantes

para se determinar o comportamento do vento a longo prazo [11]. Um modelo que

seja capaz de identifica-las nos dados medidos e reproduzi-las no historico, alcancara

uma aproximacao melhor do processo fısico estudado.

Considerando esse fenomeno, propoe-se um modelo para a atividade eolica

que utilize tecnicas de processamento de sinais, ao inves de tecnicas puramente es-

tatısticas, em sua formulacao. A area de processamento de sinais, de uma maneira

geral, lida com a matematica utilizada para representar e manipular informacoes

contidas nos sinais e sistemas analisados. Alem da solida teoria desenvolvida, a

area conta com algoritmos e metodos computacionais eficientes, amplamente utili-

zados em diversas areas como processamento de audio, processamento de voz, co-

municacoes digitais e sismologia [12].

Esse cenario e consequencia do avanco dos computadores digitais nas ultimas

decadas e da integracao dessa tecnologia com a area de processamento de sinais, de

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Decomposição em Sub-bandas

Rede Neural

Rede Neural

Rede Neural

Baixas frequências

Médias frequências

Altas frequências

Variável 1

Variável N

Histórico Sintetizado

Figura 1.4: Diagrama de Blocos.

maneira que, atualmente e possıvel analisar sinais e sistemas complexos utilizando

apenas um computador pessoal e um bom pacote de computacao cientıfica [13] [14].

Basicamente, o modelo proposto para a atividade eolica utilizara a trans-

formada de Wavelet e uma rede neural. Primeiramente decompoem-se as variaveis

explicativas e a velocidade do vento local em sub-bandas aplicando a transformada,

como resultado, tem-se as componentes de baixa, media e alta frequencia dos si-

nais originais. Essa divisao permite que cada faixa de frequencia seja tratada em

maiores detalhes na proxima etapa. Em seguida, o mapeamento das variaveis ex-

plicativas nos dados medidos e feito para os sinais de cada sub-banda, utilizando-se

uma rede neural. Ao somar o historico de cada sub-banda tem-se o historico dos

dados medidos. A Figura 1.4 ilustra todo o processo.

Por fim, e importante mencionar que as variaveis explicativas serao retiradas

da base de dados do NOAA (do ingles, National Oceanic and Atmospheric Admi-

nistration) [15]. O NOAA e uma agencia do governo norte-americano que oferece

diversos servicos ligados a ciencias e ao meio ambiente, dentre eles, o monitoramento

climatico global via satelite. A base de dados disponıvel contem medidas de diver-

sos indicadores climaticos como, por exemplo, temperatura, pressao atmosferica,

irradiacao solar e taxa de precipitacao, para citar alguns.

De posse dos dados do NOAA, os quais sao livres e publicos, e com o metodo

desenvolvido, pode-se sintetizar o historico das medicoes locais da velocidade do

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vento desde 1948, buscando reproduzir no historico a dinamica climatologica do

local analisado. Ao final do processo, consegue-se gerar quase 7 decadas de dados

a partir dos 3 anos iniciais. Esse resultado entao pode ser utilizado em analises do

comportamento futuro do vento, e consequentemente na previsao da energia eletrica

gerada pelo parque.

1.5 Conclusao

Nessa secao introdutoria foi feita uma breve apresentacao do sistema eletrico

brasileiro e da crescente importancia da energia eolica. Por se tratar de um assunto

muito extenso, foram destacados apenas os aspecto necessarios para o desenvolvi-

mento desse trabalho. Para um estudo mais aprofundado desse tema recomenda-se

[16],[17].

Uma dificuldade presente na construcao de parques eolicos e o seu elevado

custo, sendo necessario garantir uma geracao mınima de energia eletrica a longo

prazo para viabilizar o projeto. De modo a estimar a geracao futura deve-se analisar

cuidadosamente a atividade eolica do local.

O principal objetivo desse trabalho e propor um metodo que permita traba-

lhar com conjuntos limitados de medicoes do vento, que a princıpio nao poderiam

ser utilizados para realizar previsoes acerca da geracao eletrica do parque. Para

expandir as medicoes disponıveis utiliza-se tecnicas de processamento de sinais para

modelar a intensidade do vento a partir de variaveis explicativas, obtidas da base

de dados do NOAA. Ao sintetizar o historico das medicoes locais, considerando a

dinamica climatologica existente, obtem-se uma serie resultante com amostras sufi-

cientes para auxiliar na analise da atividade eolica local.

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Capıtulo 2

Metodologia

2.1 Dados Utilizados

2.1.1 Sobre o NOAA

As variaveis explicativas utilizadas no calculo do historico da velocidade do

vento local sao obtidas da base de dados do NOAA. O NOAA e uma agencia do

governo norte-americano que foi estabelecida em 10 de Fevereiro de 1970, resultado

da fusao de outras agencias mais antigas, a saber, United States Coast Survey, United

States Weather Bureau e United States Commission of Fish and Fisheries.

O NOAA conta com diferentes linhas de atuacao e entre os seus principais

objetivos pode-se destacar: o entendimento e previsao de mudancas climaticas, di-

vulgacao desse conhecimento para o publico, industria, comunidade academica e

outras agencias governamentais e, por fim, conservacao e gerencia de ecossistemas e

recursos costeiros e oceanicos.

Os dados utilizados nesse trabalho sao o resultado de um projeto da divisao de

ciencias fısicas do NOAA em conjunto com o NCEP (do ingles, National Centers for

Environmental Prediction) e o NCAR (do ingles, National Center for Atmospheric

Research). Esse projeto, chamado de reanalise, consiste na aquisicao de dados a nıvel

global e posterior aplicacao de diferentes modelos meteorologicos sobre esses dados

“crus”. A aquisicao de dados e realizada via satelite e abrange todo o planeta, com

resolucao espacial variando de 870 km2 a 1100 km2, aproximadamente. A aplicacao

dos modelos meteorologicos e feita para se obter as variaveis climaticas a partir das

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medicoes via satelite.

Com a grande quantidade de variaveis disponıveis, quase 200, e possıvel rea-

lizar estudos complexos acerca da dinamica climatologica a nıvel global [18]. Como

o objetivo principal desse trabalho consiste em analisar a atividade eolica de uma

regiao em particular, as variaveis explicativas sao retiradas de uma area do NOAA

que contenha a regiao de interesse.

Cada variavel explicativa retirada do NOAA pode ser entendida como uma

funcao de 3 parametros, a saber: latitude, longitude e tempo. Fixando a latitude e

a longitude correspondentes a uma determinada regiao tem-se, como resultado, uma

serie temporal x(t). Essa serie correspondente aos valores historicos da variavel ex-

plicativa analisada para aquela regiao escolhida. Seja X(t) = {x1(t), · · · , xn(t)} um

conjunto composto de n variaveis explicativas e com os mesmos valores de latitude

e longitude entre si, deseja-se encontrar uma funcao f tal que:

y(t) = f(X(t)) (2.1)

onde y(t) e a velocidade do vento medida localmente que, assim como as variaveis

explicativas, tambem pode ser entendida como uma serie temporal.

Sobre (2.1), e importante notar que, na pratica, e pouco provavel que a

igualdade se mantenha, assim, a funcao f(X(t)) fornecera uma estimativa, y(t),

para a velocidade do vento local.

2.1.2 Sobre as variaveis escolhidas

Dessa oferta de variaveis disponıveis, escolheu-se: pressao atmosferica, gradi-

ente da pressao atmosferica, temperatura do ar e componentes U e V do vento como

variaveis explicativas para a atividade eolica local. Todas as variaveis utilizadas pos-

suem resolucao espacial de 2.5o de latitude por 2.5o de longitude (aproximadamente

1100 km2) e valores diarios a partir de 1 de Janeiro de 1948.

A escolha das variaveis explicativas nao se deu de maneira arbitraria. A tem-

peratura e a pressao estao ligadas ao comportamento do vento [7] [19], alem disso

e natural que o comportamento do vento na quadrıcula do NOAA tenha alguma

relacao com o ventos no local de interesse. Vale notar que outras variaveis, como

umidade relativa ou taxa de precipitacao, podem ser incluıdas no estudo se houver

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Quadrícula do NOAA

Local de Estudo

Componente U

Componente VResultante

Fase

Figura 2.1: Quadrıcula do NOAA com a orientacao do vento e local de estudo indicados.

motivos para tal. Para o metodo desenvolvido e essencial que as variaveis escolhi-

das sejam representativas da atividade eolica, caso contrario serao apenas ruıdo na

entrada do modelo que podem afetar a qualidade dos resultados.

A velocidade do vento, nesse caso, pode ser entendida como um vetor munido

de modulo e fase, indicando o quao forte e em que direcao ele sopra. Assumindo que

o vento se propaga em um plano, as componentes U e V seriam as decomposicoes

ortogonais da velocidade do vento nesse plano. Por convencao a componente U

esta orientada no sentido latitudinal, assumindo valores positivos quando o vento

sopra para o Leste. De maneira analoga, a componente V esta orientada no sentido

longitudinal, assumindo valores positivos quando o vento sopra para o Norte. A

velocidade resultante do vento, e entao o modulo do vetor cuja decomposicao resulta

nas componentes U e V, dado por:|v| =√

(v2u + v2v). A Figura 2.1 a seguir ilustra a

convencao adotada.

De posse dos dados da velocidade do vento do NOAA, e importante menci-

onar que esses valores, por si so, nao sao capazes de substituir as medicoes locais

da velocidade do vento. Existem diversos fatores, como vegetacao e relevo, que in-

fluenciam o comportamento do vento local de maneira que o NOAA, devido a sua

resolucao, nao consegue capta-los.

Alem da resolucao espacial, a resolucao temporal das medicoes locais e maior

do que a resolucao encontrada nas variaveis explicativas. Ou seja, existem certas

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Figura 2.2: Velocidade do Vento do NOAA e Local.

variacoes na velocidade do vento local que, novamente, nao conseguem ser observadas

na velocidade do vento do NOAA calculada a partir de suas componentes U e V

da base de dados. Dessa forma, uma substituicao ingenua da velocidade do vento

medida localmente pela velocidade do vento do NOAA nao seria capaz de descrever

a atividade eolica local de maneira satisfatoria. Na Figura 2.2 observa-se o efeito

dos dois fenomenos mencionados.

O gradiente da pressao atmosferica, embora nao esteja disponıvel na base de

dados do NOAA, e facilmente calculado a partir da pressao atmosferica. O calculo e

feito tomando-se a diferenca entre o valor da pressao atmosferica da quadrıcula que

engloba o local de estudo com as quadrıculas vizinhas, como indicado na Figura 2.3.

Como resultado tem-se mais 8 sinais de entrada, um para cada quadrıcula adjacente.

Sobre a resolucao temporal do sinais utilizados vale mencionar que, para as

variaveis explicativas a maior discretizacao possıvel e de 6 horas, enquanto que para

as medicoes locais esse valor pode chegar a 10 minutos. Na sıntese do historico, o

principal objetivo e identificar e replicar as caracterısticas de longo prazo da ati-

vidade eolica, sendo assim, o comportamento intra-diario pouco acrescentaria na

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Local de Estudo

gradiente 1 gradiente 2 gradiente 3

gradiente 4 gradiente 5

gradiente 6 gradiente 7 gradiente 8

Quadrículas do NOAA

Figura 2.3: Calculo do Gradiente de Pressao Sobre as Quadrıculas do NOAA.

identificacao de tendencias de longo prazo. Por outro lado, como o intervalo de

monitoramento e limitado, entre 3 e 5 anos, ao utilizar medias mensais ou anuais,

ha o risco de nao haver dados suficientes para calcular um modelo representativo

da atividade eolica. Levando em consideracao essas restricoes, de maneira a obter o

melhor compromisso entre o numero de amostras e a presenca de altas frequencias,

neste trabalho, optou-se por trabalhar com a media diaria dos sinais escolhidos.

2.2 Decomposicao em Sub-bandas

2.2.1 Motivacao

Uma vez escolhidas as variaveis explicativas da atividade eolica local, a

proxima etapa do metodo consiste em decompor os sinais de interesse em sub-

bandas. A decomposicao em sub-bandas e feita atraves de filtros lineares com faixas

de passagem bem determinadas.

O principal objetivo desse processo e destacar as componentes de baixa

frequencia dos sinais estudados, uma vez que essas componentes estao relaciona-

das com a dinamica climatologica do local [11]. Para ilustrar esse comportamento,

tem-se na Figura 2.4 uma serie tıpica de valores mensais da velocidade do vento

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Figura 2.4: Velocidade do Vento no Nordeste - NOAA.

no nordeste brasileiro, obtida da base de dados do NOAA com inıcio em janeiro de

1948 e fim em fevereiro de 2016. Ao analisar o espectro de potencia dessa serie na

Figura 2.5, observa-se que 61% de toda a energia do sinal esta contida em 20% da

faixa de frequencia do espectro, como indicado na Figura 2.6. A decomposicao em

sub-bandas permite explorar essa caracterıstica uma vez que, o modelo da atividade

eolica desenvolvido pode ser ajustado de maneira independente para cada faixa de

frequencia. Assim, tem-se uma maneira mais precisa de se avaliar a qualidade do

modelo desenvolvido.

2.2.2 Bancos de Filtros

Neste trabalho, para implementar a decomposicao em sub-bandas escolheu-

se uma estrutura de bancos de filtros hierarquicos. Nessa estrutura, a disposicao

dos filtros lineares se da como indicado na Figura 2.7 e na Figura 2.8, chamadas

de bancos de filtros de analise e sıntese, respectivamente. Devido a extensa teoria

existente sobre bancos de filtros [20],[21], nessa secao serao apresentados apenas os

principais conceitos necessarios para o desenvolvimento do metodo.

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Figura 2.5: Espectro de Potencia da Velocidade do Vento - NOAA.

Figura 2.6: Potencia em Funcao da Faixa do Espectro.

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x[n] b

H0(z) ↓2 b

H1(z) ↓2 b

H0(z) ↓2

H1(z) ↓2

H0(z) ↓2

H1(z) ↓2

x0[n]

x1[n]

x2[n]

x3[n]

Figura 2.7: Bancos de Filtros de Analise.

x0[n]

x1[n]

x2[n]

x3[n]

↑2 G0(z)

↑2 G1(z)

↑2 G0(z)

↑2 G1(z)

↑2 G0(z)

↑2 G1(z)

x[n]

Figura 2.8: Bancos de Filtros de Sıntese.

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Na Figura 2.7 alem da filtragem do sinal, feita pelos blocos Hi(z), realiza-se

tambem a operacao de decimacao por um fator 2, como indicado nos blocos por

↓ 2. A decimacao e feita para eliminar redundancia presente na saıda dos filtros,

por exemplo, ao separar um sinal de N amostras em 4 sub-bandas, tem-se, ao final

do processo, um total de 4N amostras, um numero 4 vezes maior do que o mınimo

necessario para representar a mesma informacao. Pode-se definir a decimacao por

um fator M , como uma operacao nao linear em que a relacao entre o sinal decimado,

xd[n], e o sinal original, x[n] e dada por xd[n] = x[Mn]. Como esse processo consiste

em retirar amostras do sinal de entrada, e necessario que o sinal decimado possua

um numero mınimo de informacao (amostras) que permitam a sua reconstrucao ao

final do processo.

Na Figura 2.8, esta representado o processo inverso do banco de filtros de

analise, onde, sob certas condicoes [20], e possıvel reconstruir o sinal original. Os

blocos indicados com ↑ 2, indicam a operacao de interpolacao por um fator 2. Na

interpolacao por um fator M , M − 1 amostras de valor 0 sao inseridas entre amostras

consecutivas do sinal de entrada do bloco. A interpolacao pode ser entendida como

o processo inverso da decimacao, onde sao inseridas amostras redundantes em cada

sub-banda que em conjunto com os filtros Gi(z) permitem a reconstrucao do sinal

original.

O projeto dos filtros Hi(z) e Gi(z), pode ser realizado de diversas formas.

Neste trabalho optou-se por utilizar a transformada Wavelet, tendo como base a

funcao “Daubechies 18” [22] [23] [24] [25]. Os filtros assim obtidos, sao chamados

de filtros espelhados em quadratura (em ingles, Quadrature Mirror Filter) [20] [22].

E usual que o processamento de cada sub-banda seja realizado entre a saıda

do banco de filtros de analise e a entrada do banco de filtros de sıntese, etapa em

que o sinal original esta dividido em sub-bandas e sem redundancia. Neste trabalho,

divide-se o sinal original em 4 sub-bandas como nas Figuras 2.7 e 2.8, porem, a

reconstrucao e feita para cada sub-banda de maneira que ao final do processo tem-se

4 sinais ocupando diferentes faixas de frequencia e com o mesmo numero de amostras

do sinal original. Realiza-se esse processo alterando-se ligeiramente a estrutura do

banco de filtros de sıntese da seguinte forma: basta reconstruir a saıda dos filtros

Gi(z) individualmente ao inves de soma-las. A resposta combinada dos filtros de

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Figura 2.9: Resposta em frequencia dos filtros de analise/sıntese.

analise e sıntese pode ser observada na Figura 2.9.

Por fim, e importante notar que o numero de sub-bandas escolhidos nao e

fixo e pode variar de acordo com os dados utilizados desde que existam amostras

suficientes para tal. Optou-se por trabalhar com os sinais de cada sub-banda re-

construıdos visando utilizar um numero maior de amostras para o ajuste do modelo

da atividade eolica. Por ser tratar de um modelo ajustado de maneira empırica o

numero de amostras disponıveis pode influenciar na qualidade dos resultados.

2.3 Rede Neural

Como visto na secao anterior, as medicoes de velocidade do vento do NOAA,

por si so, nao sao representativas da atividade eolica de um determinado local. Isso

ocorre devido a baixa resolucao pela qual os dados do NOAA sao obtidos, que nao

capta o efeito de certas caracterısticas (relevo e vegetacao de uma maneira geral)

na atividade eolica local. Para lidar com esse impedimento, o modelo matematico

desenvolvido utilizara outras variaveis do NOAA, alem da velocidade do vento, para

estimar a atividade eolica local.

Identificar os efeitos da vegetacao e do relevo na velocidade do vento local

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nao e tarefa simples, uma vez que na maioria dos casos esses efeitos contem nao li-

nearidades e parametros cujas medicoes nem sempre estao disponıveis. Para mitigar

essa dificuldade, utiliza-se o modelo da rede neural que permite estimar os efeitos

desejados a partir das medicoes locais e das variaveis explicativas disponıveis no

perıodo de monitoramento.

A rede neural pode ser entendida como um sistema nao linear cuja relacao

entre a entrada e a saıda e calculada empiricamente a partir de valores conhecidos

para esses 2 grupos. Essa abordagem e particularmente util para identificar sistemas

complexos ou com poucas informacoes disponıveis sobre a sua dinamica, ja que o

calculo da rede nao envolve conhecimentos previos acerca do fenomeno estudado.

O calculo da rede neural, tambem chamado de treinamento, e usualmente

feito de maneira iterativa utilizando valores conhecidos de entrada e saıda do sistema

estudado. A cada iteracao, aplicam-se os dados de entrada na rede e mede-se o erro

entre o resultado dessa aplicacao e a saıda conhecida, ajusta-se a rede e repete-se o

processo ate que algum criterio de parada seja satisfeito. Esse criterio, por exemplo,

pode ser um valor mınimo admissıvel para o erro ou ainda um numero maximo de

iteracoes permitidas caso o valor do erro nao atinja esse patamar.

Antes de tratar dos aspectos praticos e das desvantagens das redes neurais vale

apresentar uma formulacao matematica dos conceitos apresentados. Existem dife-

rentes abordagens para se analisar as redes neurais [26] e, para evitar uma apre-

sentacao exaustiva do tema, a analise sera feita de modo a destacar os conceitos

utilizados neste trabalho. Assim, seja uma funcao f : Rn → R, a princıpio desco-

nhecida, e x = {x1 · · ·xn} o conjunto de variaveis de entrada, o sinal de saıda da

rede neural e definido da seguinte forma:

y(x,w) =M∑j=1

w(2)j h

(D∑i=1

w(1)ij xi + w

(1)0j

)+ w

(2)0 (2.2)

onde h(·) e uma funcao nao linear chamada de funcao de ativacao. Neste trabalho

utilizou-se a funcao h(·) = tanh(·). Os sobre escritos (1) e (2) das variaveis w,

indicam a etapa da rede a qual esses pesos pertencem, como indicado na Figura

2.10, onde, todos os elementos de (2.2), com excecao dos pesos de ındice 0, estao

representados em uma rede com 3 neuronios. O vetor w e o vetor de pesos da rede

20

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cujo valor e dado pela solucao do problema:

arg minw

E(w) (2.3)

A funcao E(w) pode ser interpretada como a qualidade da aproximacao que a rede

neural fornece para os dados de treinamento. Na literatura de otimizacao, E(w) e

chamada de funcao objetivo, podendo ser definida de diversas maneiras. Nesse

trabalho, para medir a performance da rede, utiliza-se o erro quadratico medio,

definido como:

E(w) =1

N

N∑i=1

(f(xi)− y(xi,w))2 (2.4)

Onde f(xi) e xi sao, respectivamente, os valores de entrada e saıda conhecidos.

De acordo com (2.3), o treinamento da rede e feito minimizando o erro quadratico

medio entre a sua saıda os valores de referencia. Devido a nao linearidade de E(w),

na maioria dos casos nao ha uma solucao analıtica para (2.3), logo, para resolve-la

deve-se empregar metodos iterativos, tambem chamados de algoritmos de otimizacao

[27]

Grande parte dos metodos iterativos utilizam informacao do gradiente de E(w)

para atualizar a solucao encontrada e interromper a execucao do algoritmo quando

|∇E(w)| < δ, onde δ e quase sempre uma constante muito pequena. Sendo wo o

mınimo global de E(w), ou seja E(wo) ≤ E(w) ∀w ∈ RM , nao ha como garan-

tir que a solucao encontrada iterativamente satisfaca essa condicao. Para amenizar

esse problema, recomenda-se treinar a rede algumas vezes utilizando diferentes al-

goritmos de otimizacao e monitorar os resultados ao fim de cada treinamento [26].

Espera-se que apos um numero suficiente de treinamentos tenha-se uma estimativa

da melhor performance possıvel para a rede neural.

Na Figura 2.10, em que a estrutura de uma rede neural tıpica e ilustrada, observa-

se que para se definir uma rede neural e realizar todo o processo descrito, e necessario

determinar o numero de neuronios do modelo. Pode-se dizer que quanto maior esse

numero mais complexo sera o modelo da rede neural que contara com mais pesos

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Saída

Entrada 1

Entrada N

Neurônios

1

2

3

Figura 2.10: Rede Neural Simplificada.

e, consequentemente, um processo de treinamento mais custoso. Como, na maioria

das aplicacoes, nao ha como saber de antemao o numero de neuronios necessario

para se conseguir a melhor aproximacao do fenomeno analisado, e usual que essa

grandeza seja escolhida empiricamente. Por exemplo, pode-se treinar redes neurais

com numeros de neuronios diferentes entre si, porem utilizando o mesmo algoritmo

de otimizacao. Ao final do processo aquela que apresentar o menor erro quadratico

medio e escolhida.

Com a rede neural devidamente treinada, deve-se investigar se ha overfitting. O

problema de overfitting ocorre quando a rede neural se adapta muito bem somente

aos valores de treinamento, apresentando um erro praticamente nulo nesses pontos,

mas fornece saıdas espurias quando novos valores de entrada estao disponıveis. Na

Figura 2.11 pode-se observar esse efeito. No grafico estao mostrados a relacao entre

a entrada e a saıda do sistema, os pontos utilizados no treinamento da rede neural

e a sua saıda. Observa-se que para os dados disponıveis no treinamento o erro

e praticamente nulo, porem, a saıda da rede, calculada a partir de novos valores

de entrada, nao se assemelha a funcao que se deseja aproximar. Nesse exemplo

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Figura 2.11: Ilustracao do overfitting.

ilustrativo, a ocorrencia de overfitting e facilmente identificada porque a relacao

entre a entrada e a saıda e conhecida. Na pratica, quando essa relacao nao esta

disponıvel treina-se a rede apenas com uma parte dos dados disponıveis, usualmente

escolhidos de maneira aleatoria. A seguir, valida-se a rede encontrada com o restante

dos dados disponıveis da seguinte forma: calcula-se o erro quadratico medio entre a

saıda da rede e a referencia para os valores que nao foram utilizados no treinamento.

Se o erro observado na validacao for aceitavel, e bem provavel que a rede nao sofra

de overfitting. Com o intuito de a aumentar a eficacia do processo, pode-se repeti-lo

utilizando grupos diferentes dos dados disponıveis. Existem outros metodos para

lidar com esse problema [26], como por exemplo limitar o valor dos pesos da rede

neural (usualmente utiliza-se uma combinacao de 2 ou 3) de acordo com a aplicacao

ou com os dados disponıveis, para alcancar melhores resultados.

Tendo em vista os conceitos apresentados, as variaveis explicativas, retiradas do

NOAA, serao a entrada da rede neural, enquanto que a velocidade do vento no local

de estudo sera a saıda. O treinamento e feito utilizando os valores de entrada e saıda

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correspondentes ao perıodo de monitoramento (de 3 a 5 anos). Intuitivamente, a

rede esta sendo utilizada para calcular a modificacao que as condicoes do local de

estudo impoem aos sinais do NOAA, resultando na velocidade do vento medida

localmente.

2.4 Conclusao

Nesta secao foram apresentados os principais conceitos teoricos empregados nas

tecnicas utilizadas para a geracao do historico virtual das medicoes locais. Existe

uma extensa literatura sobre esses assuntos e para um abordagem com maiores deta-

lhes recomenda-se [26], [23] e [20]. O historico e gerado a partir dos dados do NOAA

que embora correspondam a um perıodo de monitoramento satisfatorio (algumas

decadas), nao possuem resolucao espacial e temporal suficientes para substituir as

medicoes locais. Devido a dificuldade de se obter um modelo analıtico para o efeito

que as caracterısticas do local exercem nos dados do NOAA, utiliza-se uma rede

neural para estima-lo empiricamente, tomando o cuidado de se evitar o overfitting.

No estudo de longo prazo da atividade eolica, as componentes de baixa frequencia

exercem um papel fundamental no seu comportamento. Com o objetivo de realizar

um ajuste mais preciso para essas componentes em particular, os sinais de inte-

resse sao decompostos em sub-bandas utilizando uma estrutura de bancos de filtros

hierarquicos. Para cada sub-banda, entao, treina-se uma rede neural correspondente.

Por fim, os dados do NOAA sao utilizados como entrada das redes neurais para

criar o historico de cada sub-banda. O historico final e obtido somando a saıda de

cada rede.

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Capıtulo 3

Resultados

3.1 Introducao

Nesta secao, de maneira a fornecer um exemplo pratico do metodo proposto,

sera apresentado o historico de cada sub-banda para um conjunto de medicoes locais

realizadas na Bahia por um perıodo de 5 anos. Todas as etapas do metodo estao

indicadas, de maneira simplificada, na Figura 1.4. Alem de simplesmente apresentar

os resultados obtidos, esta secao tem como objetivo ilustrar a ligacao presente entre

os conceitos teoricos apresentados no Capıtulo 2 e o metodo desenvolvido.

Serao apresentados tambem os valores escolhidos dos parametros ajustaveis

do metodo para esse conjunto de dados em especial. Dessa forma, ao trabalhar com

tipos diferentes de dados, o interessado em implementar o metodo sera capaz de

realizar o “ajuste fino”.

3.2 Parametros Utilizados

O primeiro passo do metodo consiste em escolher as variaveis explicativas

da velocidade do vento local, como visto na Secao 2.1. Neste trabalho as variaveis

escolhidas do NOAA foram: as componentes U e V da velocidade do vento, pressao,

temperatura do ar e gradiente de pressao totalizando 12 variaveis explicativas -

lembrando que ha 8 sinais de gradiente de pressao, como indicado em 2.3. Na

Secao 2.1, observou-se que as variaveis explicativas e as medicoes locais podem ser

interpretadas, de maneira geral, como series temporais. Nesse caso, em especial,

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elas sao series temporais discretas com amostragem diaria, ou seja, para cada dia

tem-se 1 valor correspondente de cada variavel explicativa - ou velocidade do vento

local. A diferenca entre as variaveis explicativas e as medicoes locais esta no numero

de amostras disponıvel para cada grupo. No exemplo considerado, a velocidade do

vento local consta com 1095 amostras, abrangendo o perıodo de 21/03/2010 ate

06/06/2015, enquanto que as variaveis explicativas possuem 24629 amostras com

inıcio em 01/01/1948 e fim em 06/06/2015.

Em seguida, deve-se escolher o numero de sub-bandas em que os sinais serao

decompostos bem como os filtros empregados. A decomposicao e feita filtrando os

sinais de interesse com um banco de filtros hierarquicos, de maneira semelhante ao

indicado nas Figuras 2.7 e 2.8. A diferenca e que na etapa de sıntese as saıdas dos

filtros sao reconstruıdas individualmente e nao somadas. Os filtros foram projeta-

dos utilizando a transformada de Wavelet “Daubechies 18” [24] e dessa forma sao

classificados como filtros espelhados em quadratura.

Com as variaveis explicativas e as medicoes locais separadas em 4 faixas de

frequencia distintas, treina-se uma rede neural para cada uma delas. O treinamento

e realizado da mesma maneira para as 4 redes e o algoritmo de otimizacao escolhido

e o back-propagation [28]. Para se evitar o overfitting dividiu-se de maneira aleatoria

os 1095 pontos disponıveis entre treinamento (85%), validacao(11%) e teste (4%).

O grupo de treinamento e utilizado pelo algoritmo de otimizacao na busca dos

pesos, o conjunto de validacao e utilizado como um dos criterios de parada. Caso

o erro para esse conjunto aumente durante 50 iteracoes seguidas, o algoritmo e

interrompido e a solucao escolhida e a que forneceu o menor erro. Os outros criterios

de parada do treinamento sao o valor maximo do gradiente da funcao objetivo, no

caso |∇E| ≤ 10−5, e o proprio valor da funcao objetivo, no caso E(w) = 0. Onde,

caso uma dessas variaveis atinja o valor pre-determinado, o treinamento tambem e

finalizado. O conjunto de teste e utilizado somente para validar a rede. Se, ao fim do

treinamento, o erro para esse conjunto nao estiver aceitavel, mesmo que esteja para

os outros 2 conjuntos, e possıvel que tenha ocorrido overfitting e entao repete-se o

treinamento. Outra tecnica utilizada para evitar overfitting e restringir a norma do

vetor de pesos da rede neural, o que pode ser feito adicionando-se um termo λ||w||

a funcao objetivo [26]. neste trabalho escolheu-se λ = 0.105.

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Com relacao ao numero de neuronios de cada rede neural, para a faixa de

frequencia mais baixa, utilizou-se 25 neuronios enquanto que para as outras fai-

xas de frequencia utilizou-se 55. Devido ao comportamento quase que ruidoso das

medias e altas frequencias, inicialmente, a rede neural apresentou resultados insa-

tisfatorios para essas faixas em especial. Uma possıvel solucao encontrada para esse

problema foi de aumentar a taxa de amostragem dos sinais considerados para essas

faixas. Implementa-se o aumento da taxa de amostragem atraves das operacoes

de interpolacao seguida de filtragem empregando um filtro passa-baixas. Intuitiva-

mente, esse procedimento e responsavel por mapear as medias e altas frequencias

em baixas frequencias e melhorar o desempenho da rede. As saıdas das redes assim

treinadas estarao com uma taxa de amostragem superior a taxa de amostragem ori-

ginal, que e diaria. Para ajustar esse inconveniente decimam-se as saıdas das redes

neurais, correspondentes as medias e altas frequencias. Neste trabalho, os fatores de

interpolacao utilizados foram: 9, 15 e 16 - em ordem crescente de faixa de frequencia.

3.3 Resultados

Primeiramente, nas Figuras 3.1, 3.2, 3.3 e 3.4 sao apresentados os resultados

do treinamento da rede para cada sub-banda. Destaca-se a dificuldade da rede

neural de se ajustar para as componentes de medias e altas frequencias. Felizmente

essas componentes possuem baixa energia se comparadas as de baixas frequencias

para as quais o erro do ajuste e muito menor.

Observa-se tambem que ao calcular um modelo para diferentes faixas de

frequencia, pode-se determinar a qualidade da aproximacao de cada uma delas e

tirar proveito de algum comportamento existente no sinal estudado. Por exemplo,

no caso da velocidade do vento, sabe-se que a maior parte de sua energia esta contida

nas baixas frequencias. Dessa forma, e justificavel realizar o melhor ajuste possıvel

para essa faixa em especial do que para as outras.

Na Figura 3.5 compara-se o resultado de todas as sub-bandas combinadas

com os dados medidos localmente. nota-se uma diferenca maior entre os dois sinais

quando a velocidade do vento se aproxima dos valores extremos. De posse dos

resultados do treinamento para cada sub-banda, observa-se que esses valores estao

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Figura 3.1: Ajuste da Rede Neural para as Baixas Frequencias.

Figura 3.2: Ajuste da Rede Neural para as Medias Frequencias - 1.

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Figura 3.3: Ajuste da Rede Neural para as Altas Frequencias.

Figura 3.4: Ajuste da Rede Neural para as Medias Frequencias - 2.

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Figura 3.5: Ajuste da Rede Neural para Todo o Espectro.

associados as altas frequencias do sinal. O erro dessa aproximacao pode ser definido

como a diferenca entre os dados medidos e a saıda da rede neural. Assim, na Figura

3.6 encontra-se o histograma do sinal do erro, para que se tenha uma ideia geral da

qualidade do ajuste. Vale notar que na Figura 3.6 encontra-se o histograma do erro

combinado de todas as faixas de frequencia. Para uma analise mais precisa deve-se

analisar o sinal de erro de cada faixa de frequencia separadamente.

Por fim, na Figura 3.7 encontra-se o resultado final do metodo proposto. Com

as redes devidamente treinadas os valores do historico foram sintetizados a partir dos

dados do NOAA disponıveis antes do perıodo de monitoramento. Observa-se que os

valores de maximo e mınimo do historico estao proximos dos maximos e mınimos do

perıodo de treinamento, o que, a princıpio, indica que nao houve overfitting. Dessa

forma, mostrou-se que e possıvel, a partir do metodo proposto, aumentar a janela

de dados disponıvel sem aumentar o tempo de monitoramento inicial da atividade

eolica.

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Figura 3.6: Histograma do Erro para Todo o Espectro.

Figura 3.7: Historico Sintetizado.

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Capıtulo 4

Conclusoes

4.1 Conclusoes

Tradicionalmente, utilizam-se modelos puramente estatısticos para os sinais

encontrados em problemas da area de climatologia. Essa abordagem funciona bem,

quando uma quantidade relativamente grande de dados esta disponıvel para analise,

caso contrario, o modelo estatıstico nao e capaz de descrever o comportamento dos

sinais analisados de maneira apropriada.

Para lidar com a falta de dados disponıveis, neste trabalho, desenvolveu-se um

metodo que emprega tecnicas de processamento de sinais com o objetivo de estender

o conjunto de dados. A partir dos dados estendidos pode-se realizar estudos mais

complexos, que nao seriam possıveis com o conjunto original.

A viabilidade do metodo foi verificada ao sintetizar os provaveis valores pas-

sados de um conjunto de medicoes reais da velocidade do vento no estado da Bahia.

O historico virtual das medicoes, foi reconstruıdo partir dos dados do NOAA e de

um modelo matematico da velocidade do vento. Esse modelo foi obtido em duas

etapas: primeiro utilizando metodos de analise em frequencia (bancos de filtros)

e em seguida redes neurais. O primeiro passo foi feito para que o resultado fi-

nal estivesse o mais proximo possıvel do fenomeno fısico estudado, uma vez que,

uma parcela consideravel da energia dos sinais estudados encontra-se nas baixas

frequencias do espectro. Essas componentes em baixa frequencia estao relacionadas

com a dinamica climatologica do local de estudo, logo, tanto melhor sera o modelo

encontrado quanto melhor for a aproximacao para essa faixa de frequencia em es-

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pecial. Daı a importancia de se decompor os sinais em sub-bandas, pois permite

um ajuste mais preciso do modelo para as faixas de frequencia mais significativas.

Utilizam-se as redes neurais para mapear diferentes variaveis da base de dados do

NOAA nas medicoes locais de velocidade do vento. O mapeamento e feito calcu-

lando, de maneira empırica, o efeito que o local do estudo - a partir da vegetacao

e relevo por exemplo - exerce nos dados do NOAA, ou seja, o local do estudo e

modelado como um sistema nao-linear a ser aproximado pela rede neural. Como os

sinais estao contidos em diferentes sub-bandas, calcula-se uma rede neural para cada

uma delas. Com as redes devidamente calculadas, pode-se entao obter o historico

dos dados medidos somando a saıda de cada rede neural.

4.2 Possıveis Melhorias

Na Secao 3.2 foram listados todos os parametros cujo ajuste e necessario

para se alcancar resultados aceitaveis. A principal limitacao do metodo proposto

e a dependencia que esses parametros tem dos dados de entrada. Ao implementar

o modelo via software, essa dependencia dificultaria a reutilizacao do codigo desen-

volvido, sendo necessario reescreve-lo toda vez que os dados de entrada mudarem.

Levando isso em consideracao, pode-se desenvolver uma maneira de automatizar a

escolha dos parametros do modelo a partir de testes pre-definidos sobre os sinais de

entrada.

Outra possıvel melhoria seria permitir que o modelo encontrado pela rede

neural possa ser variante no tempo, sendo necessario treinar a rede neural quando

houver evidencias de que o modelo nao serve para o intervalo de tempo analisado.

Isso aumentaria a complexidade do metodo desenvolvido devido ao treinamento

repetitivo das redes neurais, porem, tornaria o metodo mais robusto a sinais que

apresentem mudancas bruscas de comportamento.

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