UM MODELO DE ANÁLISE SÓCIO-ECONÔMICA: CONSTRUÇÃO E ...

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UM MODELO DE ANÁLISE SÓCIO-ECONÔMICA: CONSTRUÇÃO E RESULTADOS OBTIDOS Vera Lúcia S. Botta Ferrante * Valdemar Vertuan * Benedicto Egbert Correa de Toledo ** * Da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara Campus Universitário Araraquara, SP Brasil. ** Da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Araraquara Rua Expedicionários do Brasil, 1.621 Araraquara, SP — Brasil. RSPU-B/311 FERRANTE, V. L. S. B. et al. — Um modelo de análise sócio-econômica: cons- trução e resultados obtidos. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 10:177-90, 1976. RESUMO: Apresenta-se um modelo de análise sócio-econômica, construído com o objetivo de chegar a um escalonamento possível da posição de uma determinada população na estrutura da sociedade. Tal modelo foi construído a partir de um conjunto de indicadores previamente selecionados como os mais significativos para a avaliação do nível sócio-econômico da população amos- trada. Pretendeu-se, com a construção desse modelo, mostrar a interferência de fenômenos de natureza sócio-econômica na ocorrência de determinados pro- blemas bucais. A investigação mostrou a seguinte composição da população estudada: baixa inferior, 21,8%; baixa superior, 39,9%; média inferior, 26,6%; média superior, 9,1%; alta inferior, 1,7% e alta superior, 0,5%. UNITERMOS: Modelo sócio-econômico. Análise sócio-econômica. Nível só- cio-econômico. INTRODUÇÃO De maneira geral, na avaliação de clas- ses sociais, constata-se o privilegiamento de um critério de medida, ora a profis- são, ora o rendimento ou a instrução 11 . A partir de uma colocação mais globa- lizante, aceita-se que a explicitação das razões que levam os indivíduos a ocupar diferentes posições na estrutura da socie- dade, exige a não fixação de um único critério de hierarquização social. Evidentemente, a construção de uma medida de estratificação social é um pro- blema de uma certa complexidade. Co- mo construir medidas corretas das variá- veis estratificatórias, que por sua própria natureza, não são fenômenos que apre- sentam um caráter facilmente mensurá- vel, de dimensões quantificáveis? Esses problemas, de certa forma, funcionam co- mo limites que se impõem ao investiga- dor. No casso dessa pesquisa, aliado a esses limites, deve ser apontado um outro fator: não se tinha propriamente a pretensão teórica de se estudar apenas a situação sócio-econômica de escolares e de se lidar com o conceito de classe social como ins- trumento analítico de diferenciação estru- tural da sociedade. Procurava-se encon- trar uma maneira empírica, concreta, de

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UM MODELO DE ANÁLISE SÓCIO-ECONÔMICA: CONSTRUÇÃOE RESULTADOS OBTIDOS

Vera Lúcia S. Botta Ferrante *Valdemar Vertuan *Benedicto Egbert Correa de Toledo **

* Da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara — Campus Universitário —Araraquara, SP — Brasil.** Da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Araraquara — Rua Expedicionários doBrasil, 1.621 — Araraquara, SP — Brasil.

RSPU-B/311

FERRANTE, V. L. S. B. et al. — Um modelo de análise sócio-econômica: cons-trução e resultados obtidos. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 10:177-90, 1976.

RESUMO: Apresenta-se um modelo de análise sócio-econômica, construídocom o objetivo de chegar a um escalonamento possível da posição de umadeterminada população na estrutura da sociedade. Tal modelo foi construído apartir de um conjunto de indicadores previamente selecionados como os maissignificativos para a avaliação do nível sócio-econômico da população amos-trada. Pretendeu-se, com a construção desse modelo, mostrar a i n t e r f e rênc iade fenômenos de natureza sócio-econômica na ocorrência de determinados pro-blemas bucais. A investigação mostrou a seguinte composição da populaçãoestudada: baixa inferior, 21,8%; baixa superior, 39,9%; média inferior, 26,6%;média superior, 9,1%; alta inferior, 1,7% e alta superior, 0,5%.

UNITERMOS: Modelo sócio-econômico. Análise sócio-econômica. Nível só-cio-econômico.

INTRODUÇÃO

De maneira geral, na avaliação de clas-ses sociais, constata-se o privilegiamentode um critério de medida, ora a profis-são, ora o rendimento ou a instrução 11.

A partir de uma colocação mais globa-lizante, aceita-se que a explicitação dasrazões que levam os indivíduos a ocupardiferentes posições na estrutura da socie-dade, exige a não fixação de um únicocritério de hierarquização social.

Evidentemente, a construção de umamedida de estratificação social é um pro-blema de uma certa complexidade. Co-mo construir medidas corretas das variá-veis estratificatórias, que por sua própria

natureza, não são fenômenos que apre-sentam um caráter facilmente mensurá-vel, de dimensões quantificáveis? Essesproblemas, de certa forma, funcionam co-mo limites que se impõem ao investiga-dor.

No casso dessa pesquisa, aliado a esseslimites, deve ser apontado um outro fator :não se tinha propriamente a pretensãoteórica de se estudar apenas a situaçãosócio-econômica de escolares e de se lidarcom o conceito de classe social como ins-trumento analítico de diferenciação estru-tural da sociedade. Procurava-se encon-trar uma maneira empírica, concreta, de

acesso a uma escala de hierarquização so-cial.

Diante disso, deixou-se de lado os pro-blemas teóricos existentes nas tentativasde se analisar a situação sócio-econômica.através da operacionalização do conceitoclasse social e optou-se por uma maneirapossível — a que se apresentava maisacessível diante dos instrumentos de aná-lise de que se dispunha — para avaliaro nível sócio-econômico da população in-vestigada, embora houvesse consciência deque essa solução poderia apresentar defi-ciências e uma certa precariedade.

Procurou-se atender a uma solicitaçãode ordem prática e se construir um mo-delo de análise sócio-econômica suficien-temente flexível, passível de ser emprega-do juntamente com outros elementos deestudo epidemiológico, em trabalhos derelacionamento das condições bucais —objetivo da pesquisa onde se empregouo modelo que será apresentado 12 — oude outros problemas, com a posição só-cio-econômica dos indivíduos.

* Ver em anexo parte do questionário u t i l i z a d o .

MATERIAL E MÉTODOS

Material

Foram relacionados 1.753 escolares dos14 estabelecimentos da rede estadual deensino do 1.° grau de Araraquara. cor-respondendo a 20.5% do universo. Co-mo este trabalho incluía também os paisou responsáveis dos escolares, uma amos-tra relativamente grande foi empregada,diante da expectativa de ocorrer uma per-da parcial, o que realmente se verificoupois, o estudo foi concluído com a colabo-ração de 70.3% dos indivíduos sortea-dos, reduzindo-se a amostra a 1.233 ele-mentos, ou seja, 14.4% do universo.

Métodos

Após o exame clínico bucal, como partedos objetivos da pesquisa, com cada um

dos escolares era realizada uma entrevistapara verificação de suas aspirações, modode vida, hábitos e cuidados orais.

Em outra etapa, era enviado um ques-tionário aos pais ou responsáveis de cadaescolar examinado, destinado a qualificara família dentro de um nível sócio-econô-mico *.

Embora tivesse sido elaborado um ro-teiro, em princípio, adequado à capacida-de de compreensão da população, no diada devolução, entrevistava-se o portador,geralmente os pais, para uma confirmaçãodas respostas obtidas.

O modelo proposto

Partiu-se da consideração de que ummodelo de análise sócio-econômica deve-ria ser decorrência da composição hierár-quica de um conjunto de indicadores querevelassem de que determinados fatoressão responsáveis, em maior ou menorgrau. pela fixação dos indivíduos em dife-rentes posições na estrutura da sociedade.

Não se pretendeu na construção dessemodelo uma simples adequação aos ins-trumentos teóricos de análise utilizadospelos sociólogos americanos 11, 13.

Evidentemente, esses instrumentos foramtomados como referência inicial, mas parafazer do modelo proposto, não um esque-ma teórico-abstrato, mas um elementoflexível de captação da realidade empíri-ca, foi realizada uma pesquisa piloto comalguns pais de escolares, na qual foramlevantados os dados significativos para aconstrução dos indicadores componentesdo modelo.

Obtidos tais dados, procedeu-se a umaavaliação e posterior hierarquização dosindicadores, e como produto desse proce-dimento lógico, chegou-se à composiçãof i n a l do modelo, que foi ampliado em re-lação aos utilizados pelos sociólogos ame-ricanos 11,13, visando justamente maior

adequação à realidade investigada. Pro-curou-se com a proposição de um modelocombinado de vários indicadores sócio-eco-nômicos, obter um controle mais diretodas variáveis subjetivas (esperado por seter utilizado como técnica de pesquisa, oquestionário) e uma maneira de evitar asfalhas constatadas nas análises estratifica-tórias baseadas num único índice de me-dida de ''status".

Componentes do modelo

Reconhecendo a validade "relativa" dascolocações de classes sociais definidas porCosta Pinto 2, Ossowski10 e Stavenha-gen 11, embora as mesmas incidam sobreum rumo teórico não objetivado neste tra-balho, procurou-se elaborar uma escala deindicadores semelhante à proposta porGuidi & Duarte 5, que envolvesse ummaior número de critérios, dispostos demaneira tal, que se pudesse, o mais obje-tivamente possível, dimensionar o "'status"total do indivíduo.

O modelo proposto baseia-se fundamen-talmente em 7 indicadores:

A — área de habitação;B — nível ocupacional;C — rendimento mensal da família;D — nível de instrução;E — características da moradia;F — tipo de residência;G — conforto doméstico.

Este modelo aceita como princípio dehierarquização, a divisão da comunidadeem 6 estratos sociais: alto superior, altoinferior, médio superior, médio inferior,baixo superior e baixo inferior.

A família, considerada como um sub-sistema social, foi tomada como unidadeglobal de referência. Apesar do proble-ma bucal focalizado neste estudo ter sidocientificamente pesquisado em escolares,em vista da exigência de equacioná-lo em

função de variáveis sócio-econômicas, osdados coletados foram centralizados sobreas situações de existência social do grupofamiliar em que o mesmo estava inserido.

Para a aplicação deste modelo, a cadaum dos indicadores eram atribuídos pesosque variavam de 1 a 7 de acordo comuma estratificação hirerárquica de situa-ções, para que. no final do inquérito, suasoma representasse a classificação do in-divíduo na escala social. Os pesos foramatribuídos em ordem decrescente de pres-tígio social. A escala de hierarquizaçãosocial utilizada foi a seguinte:

Para a construção dessa hierarquia, fo-ram observadas situações peculiares dacomunidade de Araraquara e outros es-tudos de estratificação social referentesao mesmo problema. Assim, serão des-critos os critérios utilizados na determi-nação de cada um dos indicadores.

A — Área de habitação

Critério específico da comunidade deAraraquara — evidentemente, deverá seradaptado às situações de outras, no casode sua utilização — fixado a partir dolocal de habitação do indivíduo.

A hierarquização foi fruto de uma ve-rificação empírica — fase do plano pilo-to — na qual mostrou ser pertinente acorrelação entre a posição sócio-econômi-ca e o local de moradia. Verificou-seque as áreas de habitação fixadas apre-sentavam, diante da própria populaçãolocal, um consenso a respeito do respecti-vo prestígio social e status dos seus mo-radores.

O estabelecimento dos pesos neste indi-cador veio de observações — a respeitodo estilo de vida, meio de transporte, umcerto grau de padronização no nível dasresidências — colhidas entre os morado-res dos diferentes bairros e decorrentesdo próprio conhecimento dos investiga-dores da diferenciação de prestígio exis-tente entre os bairros da cidade.

Fixou-se a seguinte distribuição:

Peso 1 — Bairro da Fonte Luminosa;Peso 2 — Centro;Peso 3 — Bairro do Carmo;Peso 4 — Bairro de São Geraldo e San-

tana;Peso 5 — Bairro da Vila Xavier e São

José;Peso 6 — Vilas Populares e assemelha-

das;Peso 7 — Outros bairros da periferia,

de localização mais distante ereputação duvidosa.

B — Nível ocupacional do pai ou pessoaresponsável

Objetivou-se, com esta variável, obterdados sobre a ocupação principal do che-fe da família, isto é, aquela que lhe ab-sorvesse maior tempo e que contribuíssecomo fonte prioritária da renda familiar.Para os inativos (inválidos — permanen-tes ou temporários, aposentados, desem-pregados), foram coletados dados sobre aúltima ocupação.

Este indicador era analisado pelo em-prego de uma escala de hierarquia deprestígio das ocupações de Glass 4, queaponta uma correlação positiva entreocupação usada como índice de "status"social e níveis de instrução e renda. Estaescala tem sido empregada na Inglater-ra 6, sendo também aplicada primeira-mente no Brasil, em São Paulo por Hut-chinson8 e, posteriormente, por outrosatravés do Centro Brasileiro de PesquisasEducacionais l, 5.

Uma pesquisa efetuada por Dias3, emSão Paulo, apresentou uma modificaçãoda escala original de Hutchinson, quan-do subdividiu as faixas de ocupação e adi-cionou uma escala para ocupações rurais.

Optou-se pela aplicação da escala pro-posta por Dias, por se adaptar melhoràs situações de nossa região e aos interes-ses do estudo.

A escala é a seguinte:

Peso 1 — Altos cargos políticos e admi-nistrativos ; proprietários degrandes empresas e assemelha-lhadas; proprietário com gran-de extensão de terra e grandenúmero de empregados.

Peso 2 — Profissões liberais; cargos degerência ou direção; proprie-tários de empresa de tamanhomédio; proprietário de áreamenor, porém ainda um gran-de fazendeiro.

Peso 3 — Posições mais baixas de su-pervisão ou inspeção de ocupa-ções não manuais; proprietá-rios de pequenas empresas co-merciais e industriais; proprie-tário rural, fazendo todo o tra-balho com maquinaria ou ten-do pequeno número de em-pregados.

Peso 4 — Ocupações não manuais derotina e assemelhados; peque-no proprietário rural.

Peso 5 — Supervisor de trabalho ma-nual e ocupações assemelha-das; proprietário de área mui-to pequena, fazendo todo otrabalho manual com um ounenhum empregado.

Peso 6 — Ocupações manuais especiali-zadas e assemelhadas; agri-cultor que trabalha em terraalheia, dividindo os lucroscom o proprietário.

* A referida descrição das ocupações poderá ser observada no trabalho de tese de douto-ramento do Prof. Valdemar Vertuan12, da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Ara-raquara.

Peso 7 — Ocupações manuais não espe-cializadas; trabalhador ruralassalariado.

Existe uma descrição pormenorizadadas ocupações distribuídas em cada ca-tegoria e isso, de certa forma, veio con-tornar a possível arbitrariedade que seteria na distribuição das ocupações *.

C — Rendimento mensal da família

Considerou-se o salário mínimo comounidade básica de medida e em funçãoda informação obtida, o rendimento men-sal familiar foi equacionado pelas seguin-tes faixas salariais:

Peso 1 — mais de 20 salários mínimos;

Peso 2 — de 15 a 20 salários mínimos;

Peso 3 — de 10 a 15 exclusive saláriosmínimos;

Peso 4 — de 6 a 10 exclusive saláriosmínimos;

Peso 5 — de 3 a 6 exclusive saláriosmínimos;

Peso 6 — de 1 a 3 exclusive saláriosmínimos;

Peso 7 — menos de 1 salário mínimo.

Este indicador foi resultado da somade rendas individuais de cada membroda família, desde que o mesmo contri-buísse, parcial ou integralmente, para acobertura das despesas do orçamento do-méstico. Quando um elemento percebiauma certa renda, mas não colaborava emnada com a despesa familiar, esta não foicomputada para a análise do indicador,

D — Grau de escolarização

Este indicador leva em consideração ograu de escolarização do pai, da mãe oupessoa responsável pela criança.

Tem-se então a seguinte escala:

Peso 1 — curso superior (completo ouincompleto) ;

Peso 2 — II ciclo (completo ou incom-pleto) ;

Peso 3 — I ciclo (completo ou incom-pleto) ;

Peso 4 — primário completo;Peso 5 — primário incompleto;Peso 6 — sabe ler e escrever;Peso 7 — analfabeto.

Os critérios 5 e 6 são bastante dife-renciados, pois foi usada como norma,para sua interpretação, o fato de que osindivíduos do peso 5 seriam aqueles que,mesmo não tendo completado os primei-ros quatro anos do curso do 1.° ciclo(ex-curso primário), receberam, emmaior ou menor escala, uma forma deeducação sistemática.

Já os de peso 6 seriam aqueles semi-alfabetizados, que. mesmo apresentandodificuldades no desempenho da leitura eredação, tenham aprendido a ler e a es-crever assistematicamente.

E — Características da moradia

A referência às características da mo-radia como índice de estratificação socialapresenta suporte teórico principalmentenas análises realizadas a esse respeito porsociólogos americanos 13. Os critérios pa-ra o seu escalonamento contém um certograu de arbitrariedade, exteriorizado namaneira como foram combinados o fatode se tratar de uma casa própria ou alu-gada, o montante do aluguel e o tama-nho da mesma.

Entretanto, a análise feita não se res-tringiu às informações pessoais dadaspelos sujeitos da amostra, falha consta-tada nos estudos acima referidos. Hou-

ve uma observação cuidadosa por partedos investigadores, das condições de mo-radia do entrevistado.

A aceitação desse critério justifica-se,em última instância, por se considerarque a propriedade ou não de um beme a situação em que o mesmo se apresen-ta (tamanho e montante do aluguel pa-go) são elementos auxiliares significati-vos para a apreensão das diferenças es-tratificatórias existentes em uma comuni-dade.

Utilizou-se a seguinte escala:

Peso 1 — casa própria com mais de 7cômodos;

Peso 2 — casa própria de 5 a 7 cômodos;Peso 3 — casa própria de 3 a 5 cômodos;Peso 4 — Casa própria com menos de 3

cômodos;Peso 5 — casa alugada pagando mais de

1,3 salários;Peso 6 — casa alugada pagando de 0,4

a 1,3 salários;Peso 7 — casa alugada pagando menos

de 0,4 salários.

Para computação, não foram conside-rados cômodos o terraço, área e corre-dores.

As considerações teóricas e empíricasfeitas para este indicador são válidas pa-ra os seguintes F e G.

F — Tipo de residência

Os critérios utilizados para este indi-cador foram: condições de paredes, piso,cobertura (material com que era construí-da) e número de cômodos.

A combinação dos mesmos deu origemà seguinte escala:

Peso 1 — casa forrada, com piso de ta-co ou assoalho, paredes de ti-jolos, cobertura de telha oulajota, jardim, com 10 cômo-dos ou mais;

Peso 2 — casa forrada, com piso de ta-co ou assoalho, paredes de ti-jolos, cobertura de telha ou la-jota, jardim, de 7 a 10 cô-modos;

Peso 3 — casa forrada, piso de taco ouassoalho, paredes de tijolos,cobertura de telha ou lajota,sem jardim, de 5 a 7 cômo-dos;

Peso 4 — casa forrada ou parcialmenteforraja, piso de taco ou as-soalho ou ladrinhos, paredesde tijolos, cobertura de telha,sem jardim, com menos de 5cômodos;

Peso 5 — casa sem forro, piso de as-soalho, paredes de tijolos, tetode telha, sem jardim, com maisde 5 cômodos;

Peso 6 — casa sem forro, piso de la-drilhos ou cimentado, paredesde tijolos, teto de telha, de 3a 5 cômodos;

Peso 7 — casa sem forro, piso de chãobatido, paredes de madeira oubarro, teto sem ser de telha,com menos de 3 cômodos.

G — Conforto doméstico

Para análise deste indicador, foram em-pregados, como critérios, a existência nahabitação da família, de: luz elétrica,água encanada, tipo de mobília e númerode aparelhos eletrodomésticos.

Construiu-se a seguinte escala:

Peso 1 — luz elétrica, água encanada,mobiliada luxuosamente, pos-suindo de 6 para mais apare-lhos eletro-domésticos;

Peso 2 — luz elétrica, água encanada,mobiliada regularmente (pou-

co luxo), possuindo de 6 paramais aparelhos eletro-domésti-cos;

Peso 3 — luz elétrica, água encanada,mobiliada regularmente (semluxo) , possuindo de 4 a 6 apa-relhos eletro-domésticos;

Peso 4 — luz elétrica, água encanada,mobiliada regularmente, pos-suindo 4 aparelhos eletro-do-mésticos;

Peso 5 — luz elétrica, água encanada,mobiliada abaixo de regular-mente (simplesmente), poucosmóveis, nada de consumo su-pérfluo, possuindo de 2 a 4aparelhos eletro-domésticos;

Peso 6 — luz elétrica, água encanada,poucos móveis, mobiliada bemsimples, possuindo menos de 2aparelhos eletro-domésticos;

Peso 7 — sem luz elétrica ou sem água,podendo ter ou não água en-canada, praticamente sem mo-bília (pobre), possuindo me-nos de 2 aparelhos eletro-do-mésticos.

Observações finais a respeitodo modelo proposto

Mesmo considerando que a orientaçãoda sociologia americana deixa a desejarna explicação do fenômeno classe social,principalmente porque a apreensão dasvariáveis sócio-comunitárias é geralmen-te expressão de critérios subjetivos nomi-nais, optou-se por esta linha teórica, porter este trabalho se desenvolvido numacomunidade e por apresentar a mesma,maiores recursos técnicos para se ter umavisão senão inteiramente explicativa, pelomenos ilustrativa do fenômeno classe so-cial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a aplicação das entrevistas ava-liadoras das condições sócio-econômicas,a amostra estudada apresentou-se distri-buída dentro das várias classes sociaissegundo as tabelas que se seguem:

Pelos resultados obtidos neste estudo,observou-se que teve sentido a hierarqui-zação da população em 6 estratos e quea mesma obedeceu a padrões definidosde diferenciação.

O modelo de análise sócio-econômicaproposto mostrou-se com boa aplicabili-dade, pois os resultados obtidos no seuemprego na região pesquisada (Tabelas1 e 2), estão bem próximos dos encontra-dos por outros pesquisadores diante deestudos globais.

Observem-se a respeito, comparativa-mente, os dados obtidos e os citados porHavighurst 7, para os EUA, Grã-Breta-nha, Austrália e Brasil e, os de Warnere Lunt 13 também para os EUA.

Acrescente-se poder complementar ahierarquização proposta, com dados sobreconsumo alimentar, nível de vida, vivên-cia sócio-cultural (participação em ativi-dades religiosas, culturais, clubes recrea-tivos, sindicatos de classe, etc.), condiçõesda educação dos filhos e aspirações só-cio-profissionais dos mesmos, além de in-dicações de cuidados dentais, condiçõesassistenciais, dados esses que vieram com-provar a hipótese inicial deste estudo deque o projeto de vida dos seis estratosda população investigada é diferenciadaeconômica, social e culturalmente por sera mesma estruturalmente estratificada.

Esse instrumento de medida da situa-ção sócio-econômica que foi empregadopode ser usado em outras análises que seproponham correlações do tipo da que foiestudada.

Como elemento comprobatório podemser citados os resultados de problemas bu-cais obtidos paralelamente aos dados

apresentados, pela aplicação de índicesespecíficos.

Quanto ao índice de doenças periodon-tais, os níveis sociais influíram diferen-temente, com uma tendência das classesmais inferiores mostrarem resultadosmais elevados (Tabela 4).

Através da Tabela 5, vê-se que: aclasse baixa inferior apresentou média dedoenças periodontais (IP) igual à da bai-xa superior e diferente das apresentadaspelas média inferior, média superior ealta; a classe baixa superior apresentoumédia de IP diferente das apresentadaspelas média inferior, média superior e al-ta; a classe média inferior apresentoumédia de IP diferente das apresentadaspelas média superior e alta e a média su-

perior e alta apresentaram médias de IPiguais.

Tais valores significam que os proble-mas periodontais tendiam a maior severi-dade nas pessoas de classes sociais infe-riores, mostrando que referidas alteraçõesestão associadas aos fatores sócio-econômi-cos, condicionantes da sua origem e de-senvolvimento.

Na verificação das condições de higie-ne oral, as classes sociais inferiores apre-sentaram os piores resultados, com as mé-dias mais altas (Tabela 4).

Pela Tabela 6 vê-e que as classes so-ciais apresentaram, duas a duas, efeitosdiferentes para o índice de higiene oral,pois comparando as suas respectivas mé-dias vê-se que elas são diferentes duas aduas.

Já para o índice de cárie, apesar dasclasses sociais diferentes terem apresen-tado comportamentos distintos, não se ob-servou uma acentuada tendência à di-minuição desse índice paralelamente àelevação do nível sócio-econômico (Tabe-la 4). Entretanto, a influência do nívelsócio-econômico ainda foi significativa,com o estudo mostrando uma percenta-gem maior de indivíduos sem cáries paraas classes superiores e também, um per-centual maior da amostra com um oumais dentes atacados pela cárie àquelespertencentes às classes sociais inferiores(Tabela 7).

C O N C L U S Õ E S

Pelos resultados obtidos e metodologiaaplicada, conclui-se que:

1) O emprego do sistema propostopara avaliação de classe social, mostrouque os escolares do 1.° grau da rede es-

tadual de ensino de Araraquara perten-cem, na sua maioria, às classes sociaisinferiores.

2) Pode ser aceita a hierarquizaçãoda população em seis estratos sociais, apartir do conjunto de indicadores apli-cados.

RSPU-B/311

FERRANTE, V. L. S. B. et al. — [A model of socio-economic analysiss its con-struction and obtained results]. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 10:177-90, 1976.

SUMMARY: A model of socio-economic analysis is here presented with thepurpose of constructing a possible scale of society's structure and de-terminating the position of a certain population in it. The model was constructedfrom a group of indicators, previously selected as being the most significativefor further evaluation of the socio-economic level of the sample. The objectiveof the construction of this particular model is to demonstrate the interferenceof socio-economic variables in the occurrence of certain oral pro-blems. The investigation showed the following composition for the studiedpopulation: inferior low, 21.8%; superior low, 39.9%; inferior middle, 26.6%;superior middle, 9.1%; inferior high, 1.7%; superior high, 0.5%.

UNITERMS: Socio-economic analysis. Socio-economic level. Socio-economicmodel.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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10. OSSOWSKI, S. — Estrutura de classesna consciência social. Rio de Janei-ro, Zahar Edit., 1964.

11. STAVENHAGEN, R. — Estratificaçãosocial e estrutura de classes. In:LUKÁCS, G. et al. — Estrutura declasses e estratificação social. Rio deJaneiro, Zahar Edit., 1966. p. 120.

12. VERTUAN, V. — Contribuição ao es-tudo da prevalência da cárie den-tal, doença periodontal e higieneoral em escolares de diferentes clas-ses sociais. Relações com a raça,sexo e idade. Araraquara, 1973. Te-se — Faculdade de Farmácia eOdontologia de Araraquara.

13. WARNER, W. L. & LUNT, P. S. — So-cial l i f e of a modern community.New Haven, 1941 apud KOENIG, S.— Elementos de sociologia. Rio deJaneiro, Zahar Edit., 1967. p. 263-5.

Recebido para publicação em 01/12/1975Aprovado para publicação em 05/01/1976

NECROLOGIO/OBITUARY

HERBERT MARTIN ALBERT STETTINER

1903 - 1976

Em dezembro de 1976 a Faculdade de Saúde Pública perdeu um deseus grandes mestres. Nascido em 1903, na Alemanha, HERBERT MAR-TIN ALBERT STETTINER, após concluir seus estudos de doutoramentoe especialização tranferiu-se para o Brasil em 1933 a convite da Univer-sidade de São Paulo, que iniciava a instalação da Faculdade de FilosofiaCiências e Letras, e, como Assistente Técnico, juntamente com o Prof.Heinrich Rheinbolt, participou da estruturação dos Laboratórios e cur-sos da Cadeira de Química daquela Faculdade.

Em 1952 transferiu-se para a Faculdade de Saúde Pública, ondeinstalou o Laboratório de Higiene do Trabalho, desenvolvendo pesquisaspioneiras no Brasil, de grande aplicação em Saúde Ocupacional, exer-cendo com brilhantismo suas atividades mesmo após a aposentadoriacompulsória quando continuou a dar sua preciosa colaboração a estaFaculdade.

NECROLOGIO/OBITUARY

HERBERT MARTIN ALBERT STETTINER

1903 - 1976

Em dezembro de 1976 a Faculdade de Saúde Pública perdeu um deseus grandes mestres. Nascido em 1903, na Alemanha, HERBERT MAR-TIN ALBERT STETTINER, após concluir seus estudos de doutoramentoe especialização tranferiu-se para o Brasil em 1933 a convite da Univer-sidade de São Paulo, que iniciava a instalação da Faculdade de FilosofiaCiências e Letras, e, como Assistente Técnico, juntamente com o Prof.Heinrich Rheinbolt, participou da estruturação dos Laboratórios e cur-sos da Cadeira de Química daquela Faculdade.

Em 1952 transferiu-se para a Faculdade de Saúde Pública, ondeinstalou o Laboratório de Higiene do Trabalho, desenvolvendo pesquisaspioneiras no Brasil, de grande aplicação em Saúde Ocupacional, exer-cendo com brilhantismo suas atividades mesmo após a aposentadoriacompulsória quando continuou a dar sua preciosa colaboração a estaFaculdade.