Um poema para Luísa

Texto: Assuero GomesImagens: WebMúsica: Au clair de la lune

Peregrino que aqui chegais, o que procurais?

Uma madre superiora?

Mas as madres superioras estão

enclausuradas nos conventos...

Que procurais? Uma santa? Mas as santas estão

nos altares, adornadas e com

auréolas reluzentes...

A que procurais então?

Responde-me oh peregrino errante...Um consolo, um momento de meditação, uma prece milagrosa?

Mas a tudo isto achareis nos mosteiros ou nas catedrais.

Que viestes ver no meio destes pobres inválidos, esfarrapados, deserdados da sociedade? Acaso procurais tranqüilidade? Refrigério da alma? Um santuário de pedra? Um rei ou uma rainha? Eles estão nos palácios...

Mas olhai bem, peregrino e vede uma pobre no meio dos pobres. Uma sofredora no meio das sofredoras. Uma irmã no meio de irmãs e irmãos. Pensai que aquilo é um hábito de clausura e

distinção social? Oh peregrino, como estais enganado. Aquela veste é a veste do serviço, da justiça, da misericórdia. Poucas a podem vestir, no entanto é só com essa veste que poderíeis vos

apresentar ao Pai.

Olhai e vede, como não estão ajoelhadas, nem rezando ladainhas, nem mesmo olhando para alguma imagem, nem

fazendo penitência, nem jejum.

Elas escolheram a melhor parte, estão servindo ao próprio Jesus, na pessoa do órfão, da doente, do faminto, do idoso.

Olhai peregrino, pois prece maior que esta não há, consolo maior que este não há, bênção maior que esta não há.

Um momento, um instante silencioso de reflexão, pois isto é onde estareis mais perto de Deus e do paraíso ainda aqui na terra.

Vai agora e, doravante, fazei desta a vossa verdadeira religião: o serviço amoroso,

anônimo e feliz ao mais necessitado. E ao cair da tarde, talvez cansado, rezai um poema para

Luísa e suas irmãs, pois elas vos mostraram um caminho seguro de se chegar até Ele.