Um Pouco Da História de Barra Do Corda

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turmadabarra.com http://www.turmadabarra.com/histo6.htm Um pouco da História de Barra do Corda Dissertação "MASSACRE DO ALTO ALEGRE: BENÇÃO E DOR, FÉ E SANGUE NO SERTÃO MARANHENSE" *por Miramny Santana Guedelha 1. INTRODUÇÃO Um tema polêmico, ainda controverso no meio da história e, também, obscuro para muitos, aquilo que passou para a história como o "Massacre de Alto Alegre", ainda rende prejuízos aos Guajajaras e desperta ódios e paixões entre a população das cidades de Barra do Corda e Grajaú. Ainda criança, quando residia em Barra do Corda, minha cidade natal, sempre tive grande interesse nos rostos incrustados na fachada da Igreja Matriz. Nunca me contentei com a definição de que aqueles eram os padres mortos pelos índios no "Massacre de Alto Alegre ", sempre quis entender algo mais sobre esse acontecimento. Esse interesse aumentava sempre mais ao observar as relações conturbadas entre brancos e índios na região, que sempre estouravam em conflitos pela posse de terras indígenas, perto da área conhecida como Alto Alegre. Quando ingressei na faculdade, no curso de Licenciatura em História na Universidade Estadual do Maranhão/UEMA, vislumbrei a possibilidade de elucidar meus interesses sobre esse evento histórico. Assim, esta foi uma escolha natural para o tema de minha monografia, pois deste modo implementaria uma pesquisa que sanaria minha curiosidade, entendendo mais claramente a amplitude do fato histórico em questão e suas causas, além de homenagear minha cidade, Barra do Corda. Iniciando a pesquisa, logo me deparei com obstáculos: grande dificuldade de conseguir material, pois temos no Maranhão poucos trabalhos específicos sobre o assunto, bem como o reduzido conhecimento desse evento histórico pelos profissionais de história. Então, busquei a ajuda do professor Zanoni, grande pesquisador da cultura Tenetehara, que prontamente me forneceu várias indicações de fontes e indicou o caminho que deveria seguir em minha pesquisa. Ainda, fui em busca da professora Júlia Constança que entusiasticamente entrou nessa tarefa comigo, vindo a tornar-se minha orientadora. Para conseguir meu objetivo de adentrar nos reais motivos do dito massacre e quebrar mitos já dogmatizados na cabeça dos regionais, tive que fazer uma "reconstrução histórica" de todo o ambiente que norteia esse fato. Para tal tarefa, centrei-me na consulta de jornais da época (arquivados na Biblioteca Benedito Leite) e publicações e documentos da biblioteca do Convento do Carmo em São Luís, confrontando estas com a literatura rica, embora escassas, que trabalham baseado no tema "Massacre de Alto Alegre". Deste modo, o trabalho em questão (re)visita a província de São José da Providência perpassando toda a história do Alto Alegre e a saga dos frades Capuchinhos nessa missão. Esses desbravadores em busca de almas para o cristianismo não percebem a gravidade e as conseqüências de tentar erradicar os costumes e tentar mudar a vida do índio, que responde com as armas que tem. Com essa tarefa de reconstruir para entender, os capítulos ficaram definidos do modo disposto a seguir.

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Um pouco da História de Barra do Corda

Dissertação"MASSACRE DO ALTO ALEGRE: BENÇÃO E DOR, FÉ E SANGUE NO SERTÃO MARANHENSE"

*por Miramny Santana Guedelha

1. INTRODUÇÃO

Um tema polêmico, ainda controverso no meio da história e, também, obscuro para muitos, aquiloque passou para a história como o "Massacre de Alto Alegre", ainda rende prejuízos aosGuajajaras e desperta ódios e paixões entre a população das cidades de Barra do Corda eGrajaú.Ainda criança, quando residia em Barra do Corda, minha cidade natal, sempre tive grandeinteresse nos rostos incrustados na fachada da Igreja Matriz. Nunca me contentei com a definiçãode que aqueles eram os padres mortos pelos índios no "Massacre de Alto Alegre ", sempre quisentender algo mais sobre esse acontecimento. Esse interesse aumentava sempre mais aoobservar as relações conturbadas entre brancos e índios na região, que sempre estouravam emconflitos pela posse de terras indígenas, perto da área conhecida como Alto Alegre.Quando ingressei na faculdade, no curso de Licenciatura em História na Universidade Estadual doMaranhão/UEMA, vislumbrei a possibilidade de elucidar meus interesses sobre esse eventohistórico. Assim, esta foi uma escolha natural para o tema de minha monografia, pois deste modoimplementaria uma pesquisa que sanaria minha curiosidade, entendendo mais claramente aamplitude do fato histórico em questão e suas causas, além de homenagear minha cidade, Barrado Corda.Iniciando a pesquisa, logo me deparei com obstáculos: grande dificuldade de conseguir material,pois temos no Maranhão poucos trabalhos específicos sobre o assunto, bem como o reduzidoconhecimento desse evento histórico pelos profissionais de história. Então, busquei a ajuda doprofessor Zanoni, grande pesquisador da cultura Tenetehara, que prontamente me forneceuvárias indicações de fontes e indicou o caminho que deveria seguir em minha pesquisa. Ainda, fuiem busca da professora Júlia Constança que entusiasticamente entrou nessa tarefa comigo,vindo a tornar-se minha orientadora.Para conseguir meu objetivo de adentrar nos reais motivos do dito massacre e quebrar mitos jádogmatizados na cabeça dos regionais, tive que fazer uma "reconstrução histórica" de todo oambiente que norteia esse fato. Para tal tarefa, centrei-me na consulta de jornais da época(arquivados na Biblioteca Benedito Leite) e publicações e documentos da biblioteca do Conventodo Carmo em São Luís, confrontando estas com a literatura rica, embora escassas, quetrabalham baseado no tema "Massacre de Alto Alegre". Deste modo, o trabalho em questão(re)visita a província de São José da Providência perpassando toda a história do Alto Alegre e asaga dos frades Capuchinhos nessa missão. Esses desbravadores em busca de almas para ocristianismo não percebem a gravidade e as conseqüências de tentar erradicar os costumes etentar mudar a vida do índio, que responde com as armas que tem.Com essa tarefa de reconstruir para entender, os capítulos ficaram definidos do modo disposto aseguir.

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No primeiro capítulo senti a necessidade de um breve ensaio sobre o modo como o indígena eravisto pelo Capuchinho, este preso a um forte etnocentrismo que o fazia desconsiderar o modo devida indígena como cultura. Ainda, comentar-se-á o momento histórico que se vive no Brasil,inicio da República, de modo a contextualizar o tema no tempo.O segundo capítulo traz o início da Missão Capuchinha em Barra do Corda e a fundação dacolônia de São José da Providência, mostrando seu crescimento, modo de organização e o tratocom os índios.O capítulo posterior faz uma breve biografia sobre João Caboré, enfocando os motivos que olevaram a arquitetar e liderar o movimento indígena que resultou no "Massacre de Alto Alegre".No quarto capítulo, a partir de fragmentos de jornais e de alguns autores, faz-se uma narrativasobre o ataque a São José da Providência e as retaliações das tropas do governo, de Barra doCorda e de Grajaú.A partir de tudo que foi exposto nos outros, a quinta parte comentará as possíveis causas que,somadas, levam à revolta indígena e ao ataque da colônia.Os Jornais são o assunto discutido na sexta parte. Analisa-se o posicionamento dos dois jornaisque se destacaram na cobertura do acontecimento (O NORTE e o DIÁRIO DO MARANHÃO).Tenta-se entender o posicionamento antagônico de ambos, de modo a se perceber como asinformações eram passadas para a sociedade. Esse capítulo é construído a partir da leitura dasfontes primarias dos jornais, que em seus artigos demonstram vícios em relação ao fato.Na penúltima parte, demonstra-se a nova tentativa missionária de se abrir a missão do AltoAlegre em 1959. Esse capítulo adentra a pesquisa como um fato ilustratório, sem a intenção deum estudo mais aprofundado, fato que renderia uma nova monografia. Assim, o capítulo emquestão, apenas entra no bojo da monografia para informar aos interessados, que a saga de AltoAlegre não termina com o massacre, mas tem um novo capítulo 60 anos depois quando édefinitivamente retomado pelos índios.Por fim, na última parte, procuro discutir os reais motivos que desencadearam a revolta indígena,afirmando que o "Massacre de Alto Alegre" foi gerado por todo um somatório de desavenças,intrigas e insatisfações que desembocaram em um choque cultural entre índios e brancos,tornado-se um conflito sóciopolítico, onde o indígena reage em defesa de sua existência como tal.Assim, essa leitura adentra em um marco do sertão maranhense, um marco de benção e dor, fé esangue. Um terreno da história cheio de vícios e preconceitos, onde os papéis se misturam eheróis são vilões ou vilões são heróis. A hecatombe de Alto Alegre ainda é uma triste páginaescura na história do Maranhão.

2. A ORDEM E O OUTRO.

A ocupação da América fez-se, historicamente, como uma apropriação forçada, predatória eviolenta ao máximo, pois o indígena era considerado como uma propriedade disponível. Aquelesque chegavam da Europa, à época das grandes navegações, consideravam-se portadores deuma cultura superior, autorizados a usar e até mesmo a escravizar as pessoas, com o direito dejulgar e impor-se sobre a vida do outro.Essa era uma visão "etnocentrista" que acompanhava todos os provenientes da Europa. Estandoimbuídos dessa visão também os missionários Capuchinhos que desconsideravam a culturaindígena e se consideravam autorizados a destruir essas "supertições" e colocar conceitos decivilização nesse povo "selvagem e bárbaro".O etnocentrismo, segundo Everardo P. G. Rocha é definido como:Etnocentrismo é uma visão de mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudoe todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores (...). No plano intelectual,pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença.2

Assim, o etnocentrismo é um julgamento do valor cultural alheio, do "outro", a partir de umacomparação com a cultura do grupo do "eu", isto é, a cultura externa a de um determinado grupofechado é tida como inferior. Deste modo, os Capuchinhos definem o índio a partir de seu referencial ético condenando as

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atitudes indígenas, pois se baseiam em estruturas mentais diferentes das suas e que eles nãoaceitam. Esta visão etnocentrista dos Capuchinhos é demonstrada já na primeira missãoCapuchinha ao Maranhão, onde Claude d'Abbeville comenta "que não existe debaixo do céunação mais bárbara e cruel que a dos índios do Maranhão e circunvizinhanças... creio que tenhajamais havido nação mais bárbara, mais cruel e desumana do que essa3".Então, os costumes indígenas como a nudez, o habito de pintar a pele e a poligamia eram vistoscomo gestos brutais, deturpadores da natureza, selvagens e repugnantes.Já no fim do século XIX, essa visão puramente etnocentrista e pautada em parâmetros deavaliação cultural europeu ainda fazia parte do modo de trabalho Capuchinho. Afinal, a própriapalavra "catequese" denota aculturação, pois se emprega um processo de substituição de umacultura dita selvagem por um modo de vida próximo do europeu. O processo de catequese temcaráter pragmático aliado a uma ação de tipo manipulatório.Era essa a missão dos Capuchinhos que vêm ao Maranhão em 1893 com um ambicioso projeto,muito além da simples difusão da fé. Buscava-se um trabalho amplo que atingi-se toda a vastapopulação indígena da região. Esse projeto envolveu um colégio interno para jovens indígenasem Barra do Corda e a criação da colônia de São José da Providência onde ficava o InstitutoFeminino.Estamos vivendo, nesse momento, os primeiros anos da República. Filosoficamente, esse é umperíodo dominado pelas idéias positivistas, de grande influencia político-social e no meiointelectual, repleto de defensores do Estado laico e de outras medidas que contrariam os setoresmais conservadores da Igreja. Algumas dessas medidas são ratificadas pelo Estado que entra emum relativo choque com a Igreja. Entretanto, a Igreja era necessária para levar os valoresmoralizantes que asseguram a ordem na sociedade, tal situação fazia da Igreja uma instituição aomesmo tempo estranha, devido a sua dificuldade de se enquadrar no novo regime do país, enecessária ao sistema, pois é valioso instrumento na manutenção da ordem. Assim, a Igreja éretirada do poder central, não mais tomando corpo nas decisões do Estado. Entretanto, comoafirma José M. G. de Almeida, a Igreja Católica "beneficiada pelos favores do Estado, masexpulsa por este das benesses do poder, ela exerce sobre o conjunto da população certo tipo deautoridade não oficial, mas implicitamente reconhecida pelo regime e por ele valorizada dentro deseus limites4". O Governo Maranhense, imbuído dessa imagem da Igreja como necessária a ordem, mesmo comos positivistas não concordando com a ação da Igreja Católica junto à civilização indígena,convida os Capuchinhos e subsidia suas ações missionárias. Iniciando a missão com a instalaçãodos missionários no velho Convento do Carmo, no centro da capital maranhense, e logo depoiscontinuando suas atividades em Barra do Corda. A missão Capuchinha no Maranhão cria a colônia de São José da Providência, umestabelecimento agrícola onde poderiam melhor desenvolver seu trabalho, pois localizava-se emmeio a diversas aldeias indígenas. Essa colônia abrigava diversas famílias de brancos eindígenas e se desenvolveu com grandes empreendimentos, como a instalação de uma fabricade açúcar, plantações, bem como prédios para a escola e o convento. A colônia prospera em meio a desavenças, total inadequação do processo catequético dosmissionários e outros fatores. Os Capuchinhos não perceberam o grave erro que cometem de uminfeliz conúbio entre catequese e colonialismo, duas faces que se juntam e se confundem. Elesadotam o que o antropólogo Darcy Ribeiro chama de:(...) atitude etnocêntrica, dos que concebem os índios como seres privativos, dotados decaracterísticas biológicas, psíquicas e culturais indesejáveis que cumpre mudar, para compeli-losà pronta assimilação aos nossos moldes de vida. Esta é a atitude tradicional dos missionários quemovidos pelo desejo de salvar almas, consideram sua tarefa a erradicação de costumes, a seuver heréticos e detestáveis, como a antropofagia, a poligamia, a nudez e outros5.

Em meio a vários problemas, não somente o inadequado processo de catequese, mas questõesde disputa de terras, inimigos externos e outros, a Missão Capuchinha de Alto Alegre tem seudesfecho vitimado naquilo que entrou para a história como "Massacre de Alto Alegre". Este eventoque, segundo o jornal O ESTADO DO MARANHÃO, é o maior massacre de índios contra brancos

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do Brasil6.

3. SÃO JOSÉ DA PROVIDÊNCIA.

O ano era 1893 e, a pedido do governo republicano no Maranhão, um grupo de Capuchinhosoriundos da província Lombarda, Itália, vem ao Estado com o intuito de evangelizar o povo daregião amazônica.Então, esses missionários que consideravam os indígenas "novos pagãos" sem valoresreligiosos, propuseram-se a converte-los e se consideraram autorizados a destruir assuperstições locais e substitui-las com valores considerados evangélicos.A cidade de Barra do Corda foi, assim, escolhida para abrigar a primeira missão dos Capuchinhos,não porque era centralmente localizada, mas também porque era circundada por uma grandepopulação de índios Guajajaras e Canelas. Essa escolha de Barra do Corda devido a grandeproximidade das aldeias é confirmada por Merlatti quando afirma que "os Capuchinhos daprovíncia de Milão haviam dado inicio a uma missão em Barra do Corda, numa região ondeexistiam umas tantas aldeias indígenas7."Devido a Canelas e Guajajaras serem tradicionalmente inimigos, tornando-se difícil o trabalhocom as duas tribos em conjunto, os missionários concentraram esforços na catequização dosGuajajaras, a maior das duas tribos.Iniciado o trabalho, os Capuchinhos encontraram forte oposição por parte dos índios queresistiam à interferência nos seus hábitos, costumes e meio de vida. Deste modo, verificando-seque a tarefa de mudar a vida do índio adulto, que levam o "terço ao pescoço e seus costumesselvagens no coração", os missionários decidiram concentrar seus esforços na educação dascrianças indígenas. Sobre o trabalho com as crianças indígenas e a retirada destas do convíviocom a tribo, justifica o Frei Celso de Uboldo, em carta à Itália, afirmado que "o bem que se podeser feito a estes selvagens é batizar os adultos (...) e tirar-lhes as crianças.8" Assim, abre-se em Barra do Corda, no ano de 1895, uma escola para os meninos indígenas deaté 14 anos de idade, onde "aprendem oficio de sapateiro, alfaiate, torneiro e carpinteiro,habituam-se ao trabalho do campo e estudam elementos de letras, arithmética, deveres civis ereligiosos9". Essa Escola é o Instituto São Francisco de Assis, onde os jovens indígenas estãosujeitos a uma pesada rotina, bem diferente da vida que levavam na aldeia:Às 5:30, os estudantes deveriam levantar-se; às 6:00 assistir a missa e em seguida tomar café damanhã; às 7:00 iniciavam o trabalho; às 9:30 assistir aula; às 11:15 almoçavam e tinham tempolivre para recreação; às 13:00 voltavam às aulas; às 14:00 faziam uma refeição leve e voltavamao trabalho; às 17:30 regavam as plantas ou horta, limpavam e enchiam os recipientes de água;às 18:00 jantavam e descansavam: às 20:30 faziam reza noturna e em seguida iam dormir10.

Com o Instituto São Francisco de Assis, aberto em 1895, o Governo do Estado reconhece, umano depois, no dia 26 de fevereiro de 1896, competência aos frades Capuchinhos para cuidar daeducação dos meninos índios.Logo, com o apoio do governo Estadual e o aparente sucesso do colégio masculino, os fradesdecidem aumentar sua atuação. Para isso, compram uma gleba de terra de 36 Km² situada aigual distância de Barra do Corda e Grajaú, em meio a um grande número de aldeias, a saber:Canabrava, Altamira, Coco, Sapucaia, Colônia, São Pedro, Cachoeira, Sardinha, Mundo Novo,Farinha, Uchôa, Naru, Mussum, Jurema, São Carlos e Morcego11. Entretanto, essa terra faziaparte de um território habitualmente ocupado pelos índios, seus legítimos donos, que haviampermitido a instalação em suas terras de Raimundo Ferreira de Mello, conhecido como RaimundoCearense que, abusando da concessão que os índios lhe haviam feito, vendeu aos frades umdireito de posse inexistente, iniciando um conflito que se agravou aos nosso dias. Assim, o Pe.Carlos de S. Martino Olearo fundou, em 1896, a missão do Alto Alegre. A colônia seria chamadade São José da Providência e estaria sob os cuidados de Pe. Rinaldo Panigada da Conterico(diretor), Frei Estevão, Frei Victor, Frei Celso de Uboldo, Frei Zacarias, Frei Vicente e FreiAngélico.Sobre a criação da colônia, o Jornal O PORVIR noticia:

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Os índios da Barra do Corda e do Grajahú começavam a experimentar a benéfica influencia dacivilização que os missionários Capuchinhos procuram levar-lhes.................................................................................................................................Nos sitio 'Alto Alegre'nos exteda Barra com Grajahú, que a missão comprou, afim de que osnumerosos índios da vizinhança tomasse costumes de trabalho e honestidade12.

Nasce a colônia de São José da Providência, onde os Capuchinhos pretendiam instalar o InstitutoFeminino para as meninas indígenas sob a administração de Freiras Capuchinhas "prontas aeducar suas filhas e fazê-las tementes a Deus e civilizadas13". Deste modo, um grupo de freirasCapuchinhas, escolhidas nas comunidades já presentes no Uruguai e Argentina, tendo a frenteMadre Francisca, de Gênova, chega a São José da Providência no dia 28 de junho 1899, após 54dias de viagem, sob intensa comemoração e palavras de "benedictus qui veni in nomieDomini14". No dia 30 de junho é inaugurado o Instituto Feminino.Sobre o trabalho da colônia, o jornal O NORTE festeja:Patrióticos e illustres barra-cordenses - coube-nos hoje o grande regoujo de ver penetrar no intimodas selvas a luz do evangelho e de lá dessas paragens nos trazer os filhos das mattas àinstruírem-se na doutrina christã, nas artes, nas ciências, e na vida social da verdadeiracivilização15.

A chegada das irmãs serviu para amenizar a apreensão e as suspeitas dos índios em relação aosmissionários, fazendo renascer a confiança. É o que afirma o Pe. Celso de Uboldo quando colocaque "antes que chegassem as boas irmãs, os selvagens, desconfiados, nos viam com mausolhos16". Pois era difícil para os indígenas entender direito os motivos dessa presençamissionária tão alheia a cultura deles, cultura tão pouco conhecida e ainda menos apreciadapelos missionários.Para as madres no Instituto feminino foi estabelecido como objetivos: gravar bem na mentedessas pobres índias a noção de Deus nosso criador; Prepara-las para receberem o santobatismo e os sacramentos; Ensinar-lhes os principais deveres de boas filhas, de fiéis esposas ede ótimas mães cristãs; Ensinar-lhes as primeiras noções de letras; trabalhar com a máquina decostura, bordar etc. Ficando a Madre Superiora responsável por estabelecer os horários para otrabalho, estudo, recreação, oração e repouso17.Pode-se perceber, ao se comparar as regras do colégio masculino de Barra do Corda e doInstituto feminino, que os índios estavam sujeitos a pesadas rotinas, de modo a realmente apagarsua cultura, não reconhecida de modo algum pelos frades que definiam as aldeias como"cidadelas da barbárie", e, dentro de parâmetros puramente europeus, implantar os costumes"civilizados".Para conseguir as crianças, principalmente as meninas, os missionários iam até as aldeias eretiravam os pequenos índios, muitas vezes à força, o que gerava conflitos e uma certahostilidade em relação a eles. As crianças eram arrancadas de suas mães ainda no período deamamentação, ressalte-se que os indígenas amamentam até cerca de dois anos, e mantidasincomunicáveis no internato do Instituto feminino. Certamente não se tratava de maldade, massim de um equivoco a respeito da natureza da educação que os frades acreditavam serimportante o fazer e não o entender.Sem perda de tempo, prédios começam a ser construídos em Alto Alegre, como conventos paraos frades e para as freiras, capelas, oficinas onde os índios seriam ensinados, bem comoedifícios para escola e outro para dormitório de meninas18. Tal progresso nunca tinha sidoobservado no interior do Maranhão.A colônia cresce e passa a aceitar a instalação de famílias de brancos ao lado das famíliasindígenas, também, o Instituto passa a admitir as filhas de alguns cristãos não residentes em AltoAlegre. Essa medida tinha em vista facilitar o contato entre os frades e os índios, mostrando-osque estavam interessados apenas na educação.A aceitação das meninas filhas de cristãos estava sujeita às seguintes condições: pagar 10 milréis por mês pela alimentação e lavanderia, ficando gratuita a educação, e obrigação de seus paisprover a roupa necessária e pagar o uniforme que se usa no Instituto19.

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Também, as famílias cristãs estavam sujeitas às regras dispostas abaixo:1º) Todos os cristãos que obtiverem a permissão dos R.R. Missionários de morar na área de S.José da Providência têm a obrigação de colaborar com os Missionários na grande tarefa decivilização dos índios e, portanto, como bons cristãos, têm que dar bom exemplo no trabalho enas praticas devotas. Deverão confessar-se com freqüência, participar da Missa todos osdomingos e dias de guarda. Os que moram em S. José, cuidarão de assistir a Missa todos os diase participar na reza di terço. Além disso, terão que ajudar os Missionários em caso denecessidade.2º) O lugar para construir a casa onde morar será indicado pelos R.R. Missionários, assim como oterreno para o trabalho de cada ano.3º) Os moradores podem fazer qualquer trabalho. A respeito da cana, os R.R. Missionários estãodispostos a abandona-la para cedê-la aos que trabalham na fábrica:4º) Os que moram perto dos açudes têm a obrigação de cercá-los. Da mesma forma, têm aobrigação de limpar, duas vezes por ano, nos tempos estabelecidos pela lei, o trecho de estradaque lhes for indicado pelos Missionários.5º) Os habitantes de S. José têm a obrigação de ajudar os Missionários nos serviços de utilidadepública na lagoa artificial, como também em manter limpas a estrada e a praça que pertença a S.José da Providência.6º) Nenhum morador poderá criar, soltos, vacas, cavalos, porcos, cabras e ovelhas. Estandoperto dos açudes, poderão criar porcos soltos desde que não prejudiquem a outros moradores.7º) Todos os que plantam roças terão que dar cem dias de trabalho para a Casa dos Missionários,recebendo o salário correspondente.8º) os moradores devem permanecer durante dez anos. Se alguém quiser sair antes dovencimento deste prazo, terá que se justificar diante da autoridade. Se as razões forem julgadaspertinentes, poderão vender as suas benfeitorias aos R.R. Missionários, ou a outra pessoa deacordo com os Missionários. Quando os motivos forem julgados inadequados e, mesmo assim,quiser sair, perderá tudo.9º) Se alguém não respeitar as condições estabelecidas, não proceder corretamente ou for deescândalo ou de prejuízo á Missão, os Missionários apresentarão queixa à competenteautoridade; se esta considerar justa a queixa, aquele será imediatamente afastado sem direito aindenização.10º) Os Missionários abrirão uma escola publica em favor dos moradores. Os pais, porém, têm aobrigação de pagar os livros e tudo mais que for necessário para a aprendizagem20.

Assim, a Missão crescia aos poucos, tendo cada vez mais a presença de famílias indígenas queaceitavam, contemporaneamente, o batismo e o engajamento no trabalho de uma comunidadedisciplinada e fraterna, mas alienante para os seus ritmos de vida. Lá já havia além da habitaçãodos padres, o instituto feminino, as casa dos residentes e as plantações de alguns produtos,como de café, da cana, do milho, do algodão, do arroz e de outros produtos, bem como umafábrica de açúcar21.Essa evolução da colônia de São José da Providência, no entanto, não era pacífica e os padrespareciam prever o que o futuro lhes reservava, como se pode observar neste trecho da carta dePe. Celso de Uboldo à Itália:Mais de uma vez corri risco de ser flechado. (...) Já deve estar ciente da perigosa situação e dagrande luta que diariamente devemos sustentar contra os falsos profetas, os caciques e osmandões desta selva......................................................................................................................A nossa vida esta sempre em perigo (...)22.

Também, o Pe. Carlos, superior local, em visita à colônia, informa ao superior provincial:Fiz bem em não ir agora para a Itália. Os regatões modernos usam de todas as artes paracaluniar e perseguir os meus missionários de Barra do Corda e de Alto Alegre. Um (...) inominadoquaisquer, embebedando os índios poderia aprontar alguma coisa contra nós23.

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Os "regatões modernos" a que os padres fazem alusão são os comerciantes e grandesfazendeiros locais que não estariam contentes com a atividade missionária. Isso será tratado emum capítulo mais a frente.Como se pôde timidamente perceber nesse capítulo e como se observará no decorrer destapesquisa, a colônia de São José da Providência, em Alto Alegre, esse aparente bem praticado emnome de Deus, na verdade mascara uma realidade onde as faces da catequese e do colonialismose juntam e se confundem.

4. CABORÉ.

João Manoel Pereira dos Santos, o Caboré24, ao qual Olimpio Cruz se refere, em sua linguagemépica e romântica, como "Cauiré Imana25 - o cacique rebelde, o diabo das aldeias", era um astutoindígena. Esperto, audacioso e inteligente, criado por uma família de brancos, posteriormentepassa a viver entre os seus e a habitar a colônia de São José da Providência, ele lidera o bemplanejado ataque à colônia, após algumas desavenças com os frades.O Caboré nasceu nas grandes florestas da Serra Branca, mais precisamente na aldeia do Jacaré.Ainda criança foi recolhido por uma distinta família de Barra do Corda, os Rodrigues. Desdejovem mostrava-se ativo e inteligente, despertando cedo o desejo pela vida errante nas florestas,partindo para junto dos seus aos doze anos de idade26.Tornou-se em pouco tempo um dos mais bravos guerreiros da tribo Guajajara, sendo admirado erespeitado por todos.É assim descrito fisicamente por Olimpio Cruz:(...) à época do massacre, apresentava mais ou menos quarenta anos. Como os demais de suaraça, era de estatura mediana, de ombros largos, músculos rígidos e divididos. Possuía oabdômen um pouco avolumado, já demonstrando tendência para a obesidade, o que lheprejudicava o porte atlético.Só tinha o olho direito. O esquerdo havia sido vasado por um espinho de tucunzeiro (...). Suaboca era pequena, e os lábios, mais grossos do que finos, eram sombreados sobre o ladosuperior, por uma meia dúzia de curtos cabelos aconchegados e caídos nas extremidades.................................................................................................................................Durante as viagens costumava usar sobre a cabeça um gorro feito de couro cabeludo de macacocuxiú ou de guariba27.Tornou-se um chefe de autoridade e influencia indiscutível entre os Guajajaras. Quando a missãode Alto Alegre foi aberta, ele foi um dos primeiros a vir morar na colônia, junto com os seussubalternos.Ele mostrava-se católico praticante, sempre freqüentando a igreja. Sobre isso, comenta Merlattique "seu lugar era sempre perto do altar, parecia rezar com a maior devoção e era semprerespeitoso com os missionários28".Os missionários estavam satisfeitos com o senso e liderança que Caboré exercia sobre osdemais indígenas e, como ele era "fiel" aos frades, por extensão conseguiam melhor controlesobre os outros. Assim, para inspirar os outros ao sacramento e dar exemplo, os missionáriosdecidem celebrar o matrimônio canônico de Caboré na igreja de Alto Alegre. Deste modo, elecasa-se em uma grande solenidade com a mulher que era sua esposa segundo as leis da tribo, aíndia Gujã. A cerimônia de casamento de Caboré teve a participação de várias autoridades locais,desde o juiz da comarca local de Barra do Corda até a presença do governador. A grandiosidadedo casamento de Caboré contribuiu para acender nele um sentimento de superioridade que ofará, mais adiante, não submeter-se mais aos desmandos dos frades como um reles capacho.Presume-se que Caboré se mostrava homem de fé, temente a Deus, mas na verdade era umhomem fiel aos seus próprios interesses, pois nunca perdera os traços de sua cultura indígena.Apesar de casado nas leis católicas, ele pratica a poligamia29, mantendo relações com uma índiade nome Lúcia. Isso desagrada os frades, afinal o catolicismo defende o casamento monogâmico.Durante sua ausência, em uma de suas viagens, os frades, atendendo ao pedido de sua esposa,expulsam a amante de Caboré da colônia. Ao regressar, Caboré acata a decisão, reconhecendoque como cristão não lhe era licito ter duas mulheres. Entretanto, passados três dias, ele repudia

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a esposa, abandona a colônia e passa a viver com a concubina. Afastado da colônia, Caborépassa a tentar tirar da missão outros índios subordinados a ele e, também, passa a praticar atosde insubordinação contra a colônia.Os frades, descontentes com a atitude de Caboré, que agora era visto como uma ameaça àmissão, mandam prendê-lo. Ele foi capturado nas proximidades da aldeia Canabrava e conduzidoà Alto Alegre onde ficou detido por quatro semanas "em um quarto, acorrentado ora pelos pés, orapelos braços, ora pelo pescoço30". Após, Pe. Rinaldo na qualidade de superior da missão, libertaCaboré que parte sem mais reclamações, porém o projeto de vingança começava a se esboçar.Lembre-se que Caboré era um grande chefe entre os Guajajaras, muito respeitado por todos, e ofato de ficar um mês detido como repressão e castigo desencadeou certamente nele umincontrolável desejo de vingança contra todos os brancos.Com o plano já arquitetado, Caboré com alguns de sua tribo parte para São Luís com o intuito deencontrar-se com o governador do Maranhão a época, João Gualberto Torreão da Costa. Noencontro, após longa conversa, o Caboré é agraciado com um título de nomeação para o cargode chefe supremo da tribo Guajajara, ainda recebe armas, como "espingardas, rifles e muniçãode pólvora, chumbo e espoleta, inclusive uma pequena máquina de fazer balas e cartuchos, alémde tesouras, facas, canivetes, facões e serrotes pequenos; ele recebeu também algumasferramentas de lavoura, roupas feitas e outras coisas do agrado dos índios31".Cabe frisar que não é pacifica entre os historiadores do assunto o exato momento em que ocorreesse encontro entre Caboré e o governador do Estado do Maranhão, João Gualberto Torreão.Alguns estudiosos, como Graziella Merlatti, dizem que Caboré foi agraciado com o título de chefesupremo dos Guajajaras por intermédio dos frades, ainda quando habitava São José daProvidência. No entanto, outros estudiosos do assunto, como Olimpio Cruz, defendem queCaboré procurou o governador após a sua saída de São José da Providência. Nóscompartilhamos dessa segunda leitura, visto que é desse encontro que Caboré consegue asarmas que usaria no massacre e também o título que o ajudaria a persuadir os outros índios aacompanhá-lo no ataque, tudo parecendo claramente já parte de seu plano.Ao retornar da capital maranhense, Caboré e seus subalternos passam a visitar várias aldeias econvocar estas para tomar parte em seu plano de atacar e destruir o Alto Alegre. Todos os chefesforam convidados a uma grande festa na aldeia de Caboré, onde seriam informados sobre oplano de rebelião contra os catequistas. Assim, Caboré consegue arregimentar índios das aldeiasdo vale do baixo e médio Mearim, Grajaú e do Pindaré, que não tinham ou tinham poucos filhosno Instituto de Alto Alegre. Entre os caciques destacam-se: Jaurauhu, Menerumam, Izanemana,Tataíu, Tuitina, Itanema, Arapuá, Manoel Justino (braço direito de Caboré no ataque e ex-residente de Alto Alegre), Uirahu (também conhecido como Gavião Real) e outros, ditos 'semi-civilizados', Luizão, Antonio Correia, Parica, Antonio Carlos e Pedro Velho, todos chefes degrandes aldeias32.Às vésperas do ataque à colônia, 12 de março de 1901, grupos e mais grupos de índioschegavam a aldeia de Caboré para uma grande festa e aguardar a palavra do grande chefe.Logo, o Caboré, com o título que lhe fora concedido pelo governador em mãos, conclama a todospara a rebelião.O discurso de Caboré é assim reproduzido por Olimpio Cruz:Não era mais possível, disse Cauiré, aturar tanto abuso praticado pelo pessoal da missãoestrangeira que queria escravizar a todos, (...) enfim, todos os residentes ali, que não os de suaraça, queriam encaixar nas cabeças dos índios que deviam levar a vida de outra maneira e nãocom eram ou deveriam ser. Eles queriam tudo ao contrario do que a tribo queria. Não podiammais possuir três ou quatro mulheres, queriam mudar a língua, mediante a obrigação da leiturados livros deles que só tinham de bonito algumas figuras. Além disso, ainda pretendiam mudar oscostumes. Diziam que os índios não eram mais os legítimos donos das terras em que moravam.Certas pessoas constavam que as indiazinhas que adoeceram no Internato, teriam morridoenvenenadas (sarampo). As mesmas foram sepultadas sem a presença dos pais, privadas doritual das tradições e crenças. O perigo (...) não se estendia somente à sua taba e outrasvizinhas; também ameaçava todas as que ficavam ao longo do Mearim, Grajaú e Pindaré ou até

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mesmo para as mais distantes33.

Com esse discurso, Caboré convoca todos a marchar contra a povoação de Alto Alegre e suasredondezas e matar a gente que não pertencia à tribo Guajajara.Como visto, no discurso de Caboré, ele utiliza de elementos de falha dos frades no seu processode catequização, o sentimento etnocêntrico destes, toca na questão da invasão das terras após achegada dos missionários, também cita outros problemas que estavam a desagradar váriasaldeias, tudo para instigar a animosidade já existente dos índios em relação aos frades. Ele, seutilizando da renegação da cultura indígena pelos frades, vem a favor da proteção aos costumesGuajajaras conclamando todos a se levantarem contra os brancos.Naquela noite os índios cantam e dançam ao redor da fogueira, excitados pelo som dos maracás,sons típicos de uma vigília de guerra, alcoolizados, os índios preparam-se para o ataque a SãoJosé da Providência.

5. O TEMPO DE ALTO ALEGRE.5.1. O MASSACRE DE ALTO ALEGRE.

Era o dia 13 de março de 1901, os índios aproximam-se furtivamente de São José da Providênciasem serem notados, pois todos os cachorros do local haviam sido envenenados dias antes paraque não denunciassem o grande movimento de índios. Às cinco horas da manhã, quando todo opovo estava na missa, os índios armados de espingardas, arcos e flechas, foices, facas ebordunas atacam a colônia.O primeiro local atacado foi a capela onde estava sendo realizada a missa. O Pe. Zacarias, quecelebrava esta, foi a primeira vítima a tombar alvejado por um tiro de espingarda. Naquele dia, aeucaristia não seria celebrada com pão e vinho, mas com uma mistura de sangue e fé.Nas palavras de Graziella Merlatti, o massacre é assim narrado:Repentinamente, o terror tomou conta de todos. Tiros, flechas lançadas contra os fiéis presentes,facadas, gritos selvagens e gritos de dor ressoaram na igreja e nos locais próximos, ouvidossomente pela frieza da mata. Estertores de morte, mãos juntas em orações de piedade: tudo deveter-se fundido no breve tempo da violenta carnificina. Aos poucos, todos caíam por terra:capuchinhos, irmãs, meninas e fiéis. Os índios arrombam as portas do colégio e ali é consumadaa carnificina, continuando depois entre os cristãos da vila34.

Também, o Jornal O Norte, em visita feita ao Alto Alegre após a retomada pelas forças dogoverno, faz a seguinte descrição do ataque:Na Igreja, junto altar, foram assassinados Frei Victor e seu acolyto.Os vestígios da lucta estão alli bem patentes.Nos assoalhos da igreja e convento notam-se largas manchas de sangue, ora circunscritas a umsó ponto, ora seguindo o movimento das victimas em fuga as mãos dos algozes.Muito deve ter sofrido uma senhora a quem os índios não conseguiram matar na igreja, levaramde rojo até ao terreiro do convento, onde consumaram seu nefando crime.O rastro de um pé de mulher impresso com o próprio sangue em muitos pontos visíveis da terríveltrajectoria, dá perfeitamente a idéia dessa horrorosa scena.Na igreja e convento, os moveis em desalinho e quebrados, leitos revolvidos, o sangue por todaparte, - traços terrivelmente sinistros do esforço supremo de victimas inertes, em busca desalvação da vida, - de encontro ao assassino, numeroso e armado, dão a copia fiel do que deveter sido esse tormento lento, essa agonia de horas e dias de martyrio.......................................................................................................................A todos esses atos de nefando canibalismo, associaram os a mais perversa devastação.Todos os instrumentos agrários do estabelecimento foram quebrados ou inutilizados; as casasarruinadas; roubados os trastes e objectos de valor, inutilizados os que puderam conduzir.Esses mesmos atos foram repetidos em todos os pontos que foram pelos índios atacados......................................................................................................................Antes de terem os índios assaltado o Alto Alegre, haviam já preparado em ponto próximo destelugar, na estrada que se dirige a esta cidade, uma espécie de trincheira, formada de grossos

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madeiros derrubados um sobre os outros. Nessa emboscada iam caindo todas as pessoas queião ou vinhão para o Alto Alegre35.

Com tais descrições feitas do massacre, já dá para imaginar o sofrimento e agonia consumadosnaquele dia de morte. Não obstante, observa-se que ocorreu literalmente a destruição da colôniade São José da Providência, pois todos os objetos e maquinas foram saqueados e destruídos etoda a população assassinada. Restaram de pé apenas algumas casas, talvez para servir deabrigo e fronte para os índios rebelados.Os corpos dos mortos no massacre foram jogados em uma vala comum, sepultados no fundo deum barreiro antigo que havia por trás do Convento. Entre os mortos da população destacam-se:Frei Rinaldo de Paulo, Frei Victor de Bergamo, Frei Zacarias de Malenho, Frei Salvador, irmãoPedro Paulo, as irmãs Inês, Leonora, Maria Benedita, Natália, Epifêmia, Maria Ana e a senhora D.Carlota Bezerra, colaboradora do Instituto feminino.Para evitar que as noticias do acontecimento chegassem às cidades de Barra do Corda e Grajaú,as estradas que davam acesso a essas cidades foram fechadas pelos índios que matavam todo equalquer viajante cristão que tentasse cruzá-la. Durante dias, vários viajantes desapareciam naestrada sem chegar ao seu destino. Essa era uma estrada muito movimentada, transitada naépoca por comerciantes e fazendeiros que iam entre uma e outra cidade fazer negócios, tambémfamílias inteiras de migrantes sucumbiram ante a fúria indígena ao tentar cruzá-la. Após a destruição de São José da Providência os índios passaram a atacar as fazendas vizinhase a elas levavam morte e destruição. Entre as fazendas atacadas cite-se a de RaimundoCearense e a de André Maranhão que escaparam, mas tiveram as famílias mortas nesse ataque.Note-se que Raimundo Cearense dizia-se amigos dos índios, com quem mantinha relaçõescomerciais, no entanto, teve suas terras atacadas, fato que somente reforça a hipótese de que osíndios estavam determinados no seu objetivo de retirar todos os brancos de suas terras, nãopoupando nem mesmo supostos aliados. Percebe-se que o plano de Caboré foi muito bem arquitetado: aproveitou-se do medo geradopelas noticias, nas aldeias, de que os frades atacavam as aldeias e raptavam as criançasindígenas, o que havia criado uma animosidade em relação aos frades; utilizou-se de um discursomuito bem proferido, onde citou todos os problemas gerados pela presença dos missionários;conseguiu armas, manipulando o governador do Estado, com a desculpa de que esses"presentes" serviriam para a proteção de sua tribo, de fato serviram, além do título degeneralíssimo; os cachorros da região foram envenenados dias antes para que nãodenunciassem o fluxo de índios perto de Alto Alegre; o ataque foi realizado no horário da missa,onde praticamente todo o povo estaria reunido devido a obrigatoriedade de assistir a celebraçãotodos os dias; também, o povo estaria desarmado, pois não se levava armas de espécie algumaà celebração; fechado todas as entradas e saídas da colônia para que ninguém escapasse;ainda, fechou a estrada que ligava Barra do Corda a Grajaú, passando por Alto Alegre, de modoque as notícias não chegassem a essas cidades, evitando possíveis retaliações por parte dapopulação destas. Assim, nota-se que Caboré mostrava-se um bom estrategista. Sobre ele, Galeno E. Brandes,exaltando sua figura, comenta:Que a ele não se negue, dentro dos parâmetros de sua cultura e índole, pelo menos a glória deum estrategista, a coragem de um intrépido, que, lutando contra as instruções, os ensinamentosque civilizados diferentes da sua quisera passar para ele e para os seus, preferiu romper comtudo e todos36.

Interessante faz-se ressaltar que os frades tiveram avisos sobre o ataque eminente, dias antes.Os índios que não aderiram à rebelião de Caboré e até alguns que faziam parte do movimento,mas que queriam livrar pessoas de que gostavam, chegaram a procurar os frades e algunsmoradores para contar do ataque. Um desses casos, contam os regionais, foi o da figura lendáriada região, a velha índia Cuzozo, que por várias vezes avisou Frei Vítor e Dona Carlota, mas estesdesconsideraram o aviso acusando a velha de inventar mentiras para conseguir comida, tambémos frades não acreditavam que os indígenas seriam capazes de um ato tão traiçoeiro, se eles

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apenas estavam a fazer o "bem" para esses pobres "selvagens". Ao contrario, Pedro Freitas,residente na colônia acreditou nos avisos e deixou a localidade com sua família às vésperas doataque. Ele, Pedro Freitas, foi um dos que confirmou para as autoridades o ataque a São José daProvidência quando chegaram as noticia a Barra do Corda trazidas por dois sobreviventes37.

5.2. A GUERRA DO ALTO ALEGRE.

As noticias do ataque a São José da Providência chegam à cidade de Barra do Corda na noite dodia 16 de março, trazidas por dois fugitivos do cerco. Os fugitivos, assim que chegam à cidade,logo dirigem-se ao delegado de polícia , ao intendente, ao Frei Estevão e outros que logo cuidamdas providências. Este é tido como o primeiro momento de conhecimento do massacre pelapopulação de Barra do Corda. No entanto, cabe fazermos um adendo neste ponto de modo afazer justiça, pois a primeira noticia do ataque a São José da Providência foi dado, no dia 15 demarço, pelo índio José Viana, que se negou a participar do ataque e retirou-se para Barra doCorda, aqui chegando avisou o delegado Sabino Câmara, mas foi preso e, posteriormente, soltoapós a chegada dos sobreviventes38. Mas, ainda assim, foi arrolado no processo quando dojulgamento dos índios presos ao fim da revolta. No dia 24 de março, o jornal O NORTE acorda o povo barracordense com a manchete:HECATOMBE! SITUAÇÃO AFFLICTISSIMA. Assustando e acirrando os ânimos da população. Informa, o jornal O NORTE:Sob a dolorosa impressão destas trágicas palavras acordou esta cidade da sua habitualserenidade na noite de 16 do corrente mez. Eram 8 horas da noite quando dois cavalheiros,residentes no logar Catete, correndo à toda brida, vieram trazer a lúgubre noticia de que umaimensa horda de índios, atacando o logar Alto Alegre, estabelecimento agrícola dos padres alliresidentes.O acontecimento era tão original entre nós que, não obstante o estado de selvageria dos índiosrepugnava acredital-o......................................................................................................................Os pequenos índios eram entregues sem a expontaneidade dos que não reconhecem asvantagens da civilização......................................................................................................................Ultimamente, porém, as considerações dos indígenas para com os frades ião desaparecendo eas ameaças de tomada dos pequenos índios corriam das aldeias ao estabelecimento dos fradesque confiantes de mais nessas feras com caracter humano, não ligavão importância a ellas.Infelizmente essas ameaças tornaram-se em triste realidade e o modo assombroso com quenesta transformaram há de emocionar o mundo inteiro39.

Do artigo acima citado, atente-se que a descrição segue com clara bajulação à civilizaçãoocidental; também, para o fato de que logo começam a se buscar motivos para o ataque,escolhido dentre os muitos, o pretexto dos meninos indígenas, pretexto esse popularmenteconhecido nos dias atuais como o movente principal da revolta. Uma comissão das autoridades locais havia sido formada para decidir as providências contra osindígenas, entre os membros: Fortunato Ribeiro Fialho (chefe político conservador), ArãoAraruama do Rego Brito (juiz de Direito da Comarca), Temístocles Bogéa (intendente doMunicípio), Frei Estevão Maria (vigário da paróquia), Major Sabino Câmara (delegado de polícia),Tenente Tomé Vieira Passos (comandante adjunto da Guarda Nacional), José Narciso CarneiroLeão (subdelegado e escrivão), Coronel Manoel Ferreira de Melo Falcão (líder político da alaliberal republicana), Coronel Epifânio Moreira de Sousa (líder político republicano), Coronel JoséLeonildo da Cunha Nava (ex-intendente e líder político de centro), Major Gerôncio RaimundoNava (líder político local), Otávio Lobão (conceituado prático de medicina), Major Luiz Rodriguesde Miranda Leda (egresso das lutas de Grajaú dos Ledas e Moreiras contra Araújo Costa), eFrederico Pereira de Sá Figueira (diretor e redator do jornal O NORTE)40. Essa junta deliberativadecide pela proteção da cidade através de patrulhas noturnas e da instalação de um velho canhãosobre a ponte do rio Corda e Mearim, e uma expedição liderada pelo Tenente Tomé Vieira

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Passos41 para atacar e retomar o Alto da Alegre das mãos dos indígenas.A essa expedição, vários civis aderem tomados pelo excitado desejo de desforra contra osindígenas. O número de adesão é muito grande e isso é demonstrado pelo comentário de Smith,colocando que "se possível fosse atender a quantas pessoas se apresentaram, a cidade teriaficado entregue à vigilância apenas das mulheres42".A precipitada expedição parte de Barra do Corda no dia 18 de março com 80 homens43. Umatropa de paisanos desorganizados, uns montados e outros a pés e mal armados. Todosconfiantes em encontrar um grupo de índios armados apenas de facas e arco e flecha. Ledoengano, pois os índios tinham armas de fogo e muita munição, como visto, era o material cedidopelo governador João Gualberto Torreão a Caboré em um gesto de amizade.A defesa da cidade foi organizada repartindo-a em zonas, de modo a melhor defendê-la, entregueà vigilância de grupos de cidadãos liderados por integrantes da junta deliberativa. Os gruposforam assim definidos:Rua Formosa, sob o comando do coronel Epifânio Moreira de Souza, 40 cidadãos.Rua Aarão Britto, sob o comando do Tenente-coronel José Leonil da Cunha Nava, 38 cidadãos.Rua Laranjeira, sob o comando do Capitão Octavio Lobão, 40 cidadãos.Rua Gonçalves Dias e Largo da Igreja Matriz, sob o comando do Capitão Sabino Camara,delegado de polícia, 36 cidadãos44.

Várias pessoas chegavam a Barra do Corda vindas das localidades vizinhas, tomadas pelo medo,em fuga, abandonando suas casas em busca de proteção para suas famílias contra possíveisataques dos indígenas. Essas localidades eram as regiões vizinhas a Barra do Corda, comoCateté, Santa Maria, Seridó, Serrinha e outras45. Assim, as ruas da cidade se enchem depessoas em fuga, pois estas, sem terem onde ficar, acampam nas ruas e praças transformandoBarra do Corda em um campo de refugiados.A expedição do Tenente Tomé, ao chegar a localidade conhecida como Fazenda Descanso,sofreu uma emboscada. Tomé e seus homens são obrigados a retornar a Barra do Corda comquatro mortos e quatorze feridos. Aqui, eles percebem que o número de indígenas rebelados émuito grande, em torno de quinhentos ou seiscentos, e que estão muito bem armados.As noticias do ataque a São José da Providência chegam à cidade de Grajaú gerando pavor econfusão, e o Capitão Raimundo Ângelo Goiabeira reúne um grupamento de homens paratambém dar combate aos indígenas. O Capitão Goiabeira ficou conhecido por sua impiedade ecrueldade nos combates contra os indígenas. Ele comete o mesmo erro do Tenente Tomé e naprimeira expedição a Alto Alegre leva apenas 25 homens, sendo emboscado antes de chegar aoseu destino pelos índios liderados por Manoel Justino, retornando a Grajaú com um morto evários feridos. Comenta-se que foi desse ataque que acendeu no Capitão Goiabeira o ódio e aimpiedade contra os índios; pois nos combates contra os rebelados, apenas os lideres que eramcapturados ficavam vivos, todos os outros eram mortos e, daí, sua fama de "matador de índios"se espalhava entre os indígenas gerando o medo destes de encontrar com a guarnição lideradapor ele46.Na capital do Estado, São Luís, e em outras grandes cidades do Brasil, bem como na Itália, anoticia chegava causando consternação, indignação e luto pela morte dos missionários.O governo envia para Barra do Corda, no dia 26 de março de 1901, o Tenente-coronel Pedro JoséPinto, proveniente da cidade de Picos47, para liderar e ordenar os ataques ao Alto Alegre. Ele éescolhido porque é conhecido pela moderação, bom senso e estima sendo o homem ideal parafazer cumprir as ordens do governo do Estado de que não se use de violência extrema contra osindígenas, pois estes voltarão pacificamente para suas aldeias.Chega, também, de São Luís, a 09 de Abril, um reforço de soldados liderados pelo Alferes ManoelGonçalves. Além deste reforço, ainda, a tropa de ataque teve a adesão de índios da tribo Canela,inimigos tradicionais dos Guajajaras, liderados pelos chefes Pahi e Delfino Oropo-ká. Essa ajudados Canelas é importante, pois eles conheciam as matas e podiam melhor guiar os soldados pordentro delas.Sobre o auxilio dos índios da tribo Canela, o jornal O NORTE de 13 de abril afirma:O auxilio dos Canellas é muito importante em tal emergência porque habituados à vida das

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mattas perseguem e combatem com grande valor os seus irreconciliáveis inimigos48.

Assim, uma tropa composta de 111 combatentes, sob o comando do Tenente-coronel Pinto, partiude Barra do Corda para retomar o Alto Alegre, no dia 14 de Abril49.O Alto Alegre servia de quartel-general para os rebelados. O ataque e a retomada de São José daProvidência obrigou Caboré e os seus a fugirem para outras aldeias. O Alto Alegre torna-se agorasede das tropas do governo. No dia 03 de maio, apresenta-se em Alto Alegre, ao Tenente-coronelPinto, o Capitão Goiabeira. Por fim, a tropa de combate aos indígenas estava fechada: Tenente-coronel Pedro José Pinto, Alferes Manoel Gonçalves, Tenente Tomé e Capitão Raimundo ÂngeloGoiabeira.Os índios sob o comando de Caboré foram sofrendo cada vez mais derrotas e os ataques àsaldeias eram cada vez mais violentos apesar das ordens do comandante Pinto para quematassem o mínimo possível de índios.Caboré começa a perder aliados, pois vários caciques deixam o movimento. Essa debanda foimotivada devido ao fato de que não havia mais munições e os diversos ataques dos soldadosfazia com que os indígenas abandonassem as aldeias e suas plantações, perdendo toda a safrado ano50, o que estava gerando fome. Outro motivo foi o fato da liderança de Caboré estarafetando a de outros chefes, gerando um conflito de lideranças. Sobre esse ultimo fato, comenta Zanoni:O movimento se dividiu e cada qual voltou para seu grupo familiar (...). A liderança de Cauiréhavia se projetado além dos limites culturais permitidos (...), havia se desencadeado um conflitode lideranças dentro do movimento51.

Continua, Zanoni:O conflito de lideranças voltou novamente após a união contra o inimigo comum. Restabelecer oequilíbrio interno que significava o nivelamento político-econômico entre famílias extensas, entrelideres52.

Um dos primeiros líderes a deixar o movimento foi o cacique Jauarauhu, que após raptarPerpetinha, retirou-se em direção a Monção. O diálogo de ruptura entre Caboré e Jauarauhu,retratado por Olimpio Cruz em sua linguagem épica e poética, demonstra bem esse conflito delideranças, o fato de um cacique não aceitar as imposições de outro que possuía sua mesma"posição social":Cauiré fica sabendo, sou um chefe igual a ti. Também, sou forte e tenho muitos guerreirosvalentes, tantos de minha taba, como de outras que tu não conheces. Os tembés são meusamigos! Ajudei-te e quero levar comigo, e meus companheiros, as três moças brancas. Por tuavontade, ontem fui onça suçuarana, mas posso virar canguçu desvairado para não acontecermais do que já aconteceu!Chega, Jauarauhu! Parte para bem longe de mim. E somente muito distante, vai semeiar a tuamistura de gente branca com a nossa; porém, não te esqueças de que os teus descendentesdeverão sempre usar a mesma língua, e guardar os nossos usos, costumes e crenças. Docontrário, virão dias em que haverá muito de sofrer na ponta das flechas dos guerreirosdescendentes deste Cauiré Imana que está te dizendo a verdade frente a frente53.

As três moças brancas citadas eram internas do Instituto feminino e estavam sob o poder eguarda do cacique Jauarauhu. Eram elas: Perpetua Moreira, Úrsula Ribeiro e Isabel. Das três,Ursula e Isabel foram salvas pelo Capitão Goiabeira e apenas Perpetua, conhecida comoPerpetinha54, filha do Coronel Francisco José Moreira e Dona Eva Moreira, residentes emGrajaú, ficou em poder dos índios55, não se sabendo ao certo o destino dela. Vários índios que deixavam o movimento ou fugiam em direção as matas de Monção, em aldeiaspróximas ao Pará, ou procuravam o Alto Alegre e se entregavam pacificamente ao ComandantePinto, pois estavam desgastados pela desenfreada caçada que se seguiu nas florestas.A zona da estrada de Barra do Corda e Grajaú durante os combates ficou totalmente despovoada,pois os indígenas estavam em fuga para outras regiões e os brancos haviam se retirado paracidades vizinhas em busca de proteção. Despovoamento que perdurou até cinco ou dez anos

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após o fim do ocorrido em Alto Alegre, quando os índios começam a retornar. Após vários combates, estando Caboré enfraquecido, isolado, com poucos aliados, perseguidoem todos os pontos da floresta e com pouca munição, ele é capturado pelo Capitão Goiabeira naaldeia Canabrava e levado a Alto Alegre no mês de Agosto. Afinal estava preso e algemado ogeneral da selva, ou diabo das aldeias. Também, já havia sido preso, em 12 de junho, ManoelJustino, tido como o braço direito de Caboré no Ataque.A prisão de João Caboré é noticiada pelo Jornal O Norte, trazendo satisfação a sociedadecordina, no dia 31 de Agosto de 1901:Os resultados da grande catástrofe que tanto abalou a população da Barra do Corda e Grajahú,acham-se mais serenados com a prisão de Caboré.Esse grande fascinora, terror das selvas, entregou-se a prisão no Alto Alegre, ao tenente-coronelPinto, em dias deste mez.Tiveram o mesmo procedimento Manoel Paiva, Serafim, Miguel e Trajano, chefes terríveis esanguinários e que no dia da hecatombe e seus subseqüentes commetteram toda sorte deatrocidades56.

Com a prisão de Caboré, chega ao fim a revolta dos indígenas. Ele foi conduzido por tropas dogoverno à cidade de Barra do Corda, no final do mês de agosto. Como prisioneiro de guerra,adentrou a cidade em meio a comemoração da população local e execução do Hino Nacional,logo conduzido ao local que para ele havia sido reservado, a Cadeia Pública.É estabelecido inquérito policial. Tem-se inicio o processo no dia 18 de Outubro de 1901 e ojulgamento dos réus ocorre em 27 de Julho de 1905, findando o processo com a absolvição dosindígenas. Dos trinta e seis índios presos, vinte e um morrem na cadeia e apenas quinze índiosforam julgados e absolvidos. Na defesa dos indígenas estavam Othelo Franco, Antonio Fialho eEnéas Franco; na acusação, o Promotor Osório Anchieta e, como assistente, o nobre jurista ejornalista Frederico Figueira.O Jornal O NORTE atribui a absolvição dos indígenas à influencia da MaçonariaOs Selvagens foram absolvidos somente depois que a Maçonaria excluiu do voto 24 jurados quehaviam declarado que não dariam o veredicto favorável aos selvagens e que não cederiam aopoder de um governo que os privava da liberdade.O veredicto em favor dos índios foi dado somente por 12 jurados partidários do governo; (...)[Absolveram-nos em base do principio pelo qual] os selvagens, sendo imbecis e cretinos, deviamser considerados menores incapazes e, portanto, não responsáveis por suas ações! Declaradosimbecis e cretinos, foram colocados em liberdade, não porque inocentes, mas por que, pelaMaçonaria, os selvagens que destroem Missões e Colônias não são gente, mas bichosirresponsáveis pelos seu atos57.

Deste modo, percebe-se que os índios são absolvidos com base em seu caráter de semi-inimputabilidade dado a estes pelo Código Penal Brasileiro que os considera isentos de pena,pois ao tempo da ação praticada são incapazes de distinguir entre o certo e o erradoequiparando-os ao estágio mental de imbecis e cretinos.O Jornal O NORTE, não satisfeito com o resultado proferido pelo Tribunal do Júri, publica:(...) o lucto, a desolação, o terror, a afflição de duas cidades - Grajahú e Barra do Corda - presaspela dor que o infortúnio de entes queridos levou à sanha dos canibaes; tudo quanto de maishorropilates pode offender a sensibilidade humana foi esquecido n'um momento de calmadecisão do Tribunal do Jury desta cidade absolvendo todos os índios envolvidos n'aquelemonstruoso atentado!!!Respeitamos a decisão do Tribunal do Povo, mas aqui a registramos como triste remate desselongo e sanguinolento martyrio que impressionou dolorosamente o coração das populações atéonde chegaram as peripécias da lúgubre tragédia58.

João Caboré morre antes do fim do processo. Ele morre a 13 de Novembro de 1901, oficialmentevitimado pelas febres paludes59. Entretanto, há polêmica sobre sua morte, pois suspeita-se queele morreu pelos maus tratos sofridos na cadeia pública de Barra do Corda. No entanto, isso é

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apenas uma suspeita que foi levantada pelo Jornal AVANTE! na época, nunca foi provado ou seencontrou indícios reais de que teria morrido por motivo diverso da febre. Antes de morrer, elerecebe absolvição sacramental e a Unção dos Enfermos pelo Padre Roberto de Castellanzza,após se arrepender de seus atos.Sobre a morte de Caboré, o Jornal AVANTE! levanta o questionamento:Caboré era acusado ser o chefe principal do assalto e morticínio no estabelecimento dos fradesCapuchinhos no Alto Alegre. Preso no local onde o crime foi cometido, onde os ânimos nãopodem estar livres de ódios e rancores, a morte de Caboré desperta fundadas suspeitas.(...) não teria sido ella o resultado de um novo crime?60.

De fato, desperta fundadas suspeitadas compartilhadas pelos regionais e estudiosos do assuntonos dias atuais. Afinal, dos 36 índios presos, apenas 15 foram levados a julgamento, tendo 21morrido na cadeia; é uma questão que merece nossa atenção, pois houve um morticínioconsideravelmente alto em quatro anos de espera pelo julgamento. Entretanto, como foi colocadoanteriormente, não há nenhuma prova cabal de que realmente Caboré ou os outros tenhammorrido por motivo diverso da febre paludes, que havia se alastrado na região naqueles anos. Talquestionamento, então, fica apenas na base da especulação se constituindo como uma infundadasuspeita.Com o fim deste evento histórico, os números oficiais registrados pelo Jornal O NORTE afirmamque foram um total de duzentos mortos vitimados em São José da Providência. Já o número deíndios mortos é impreciso, mas sabe-se que foi altíssimo.As conseqüências, para os indígenas, que adviriam do confronto perpetrado em Alto Alegreseriam vários, podendo-se citar: despopulação, pois mais de 300 índios foram trucidados;deterioração das relações com os regionais, daquele momento em diante os Guajajarascomeçaram a ser isolados e evitados, ou até perseguidos nos seus relacionamentos comerciaiscom os regionais; degradação da imagem do índio que passou a ser considerado como violento,incivil, "bárbaro"; entre outras61. Já os frades mortos no confronto em Alto Alegre ganharamstatus de mártires, ou como a Igreja Católica os chama, "mártires da fé"; eles foramhomenageados com os retratos de seus rostos incrustados na fachada da Igreja Matriz de Barrado Corda e ainda nos dias atuais, em comentários dos regionais, são lembrados como vítimas deum ataque cruel de selvagens mau agradecidos e sedentos de sangue.Assim, fica na luz da glória e eternizados na fachada da Igreja Matriz de Barra do Corda estesfrades mártires que não perceberam o infeliz conúbio entre catequese e colonialismo. E, seatribuir aos indígenas um caráter intrinsecamente falso e outras qualidades semelhantes é umaconseqüência, viva ainda nos dias atuais, desse conúbio.

6. CAUSAS DO MASSACRE DO ALTO ALEGRE.

As causas que levaram a eclosão do ataque dos indígenas a São José da Providência e aoassassinato de toda a população foram várias. Não se pode tentar entender esse evento históricoa partir de um único movente, mas de todo um conjunto, um somatório de fatores canalizadosatravés da figura de João Caboré que manipula as emoções indígenas em ebulição a favor desua vingança pessoal, o que resulta no "Massacre de Alto Alegre".A relação entre os índios e os missionários nunca foi pacífica, pois estes nunca tiverampreocupação alguma em entender a cultura do outro, provavelmente, por considerar os indígenasinferiores, bárbaros e incivilizados. Os missionários em nenhum momento classificam oscostumes indígenas como cultura. Tal situação fez com que os missionários tentassem acatequese baseado em princípios exclusivamente europeus, tentando sobrepor a sua culturasobre a indígena, apagando qualquer traço da "vida animalesca" do índio.Com o intuito de implementar seus objetivos, os missionários visam trabalhar com a catequese dacriança indígena. Assim, passam a ir às aldeias em expedições que pareciam militares, poissempre se faziam acompanhar por quatro ou cinco moradores da colônia, e retirar as crianças desuas mães, às vezes com o uso de força e a leva -las para o Instituto onde permaneciam isoladasem regime de internato. Esse isolamento era tão intenso, que nem quando as crianças estavam

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doentes era permitido aos pais vê-las.A dificuldade em conseguir as crianças é relatada por Irmã Eleonora Tassone em carta escrita em13 de novembro de 1899 à Itália:(...) a coisa mais difícil para os missionários é conseguir as meninas: é preciso oferecer presentese caminhar dias inteiros a cavalo pelas florestas. Muitas vezes, a vida do missionário correperigos porque os caciques das aldeias não querem que as famílias as dêem. Um caso dessesaconteceu, faz um mês, [quando Pe. Celso] havia reunido algumas meninas; já de volta para casatodo satisfeito, tentaram matá-lo e lhe levaram quatro meninas. Esteve muito doente a ponto demorrer, mas está melhor62.

Para entendermos como a separação das crianças afetava a sociedade indígena temos que terem vista que a organização dos Guajajaras tem como alicerce a família extensa. Maravilhosa é a lição de Zanoni sobre a relação familiar Guajajara:Esta constitui-se de famílias nucleares, cujo chefe tem sob seu domínio suas filhas e sobrinhas.Isto porque a mulher na sociedade Guajajara tem um papel fundamental na manutenção dacultura. É a mulher que atrai para dentro do grupo familiar homens, os quais passam a fazer parteda família do pai pelo casamento, uma vez que o marido passa a residir na casa de sua esposa ea prestar serviços ao seu sogro. Dessa maneira, quanto mais genros tiver um chefe de famíliaextensa, mais forte será economicamente e conseqüentemente, será uma família politicamentepoderosa63.

Assim, a prática dos missionários de retirarem da aldeia e manterem em regime de internato asmeninas índias resultaria na completa desestruturação da organização social dos Guajajaras,uma vez que essas meninas acabariam por aprender novos valores e novas técnicas estranhas àsua cultura. Também, ao se retirarem os meninos do convívio com a tribo, estariam privando-osde importante braço no trabalho agrícola.Também, outro fator de desagrado aos indígenas foi a morte de vários internos vitimados pelosarampo. Epidemia mantida em segredo pelos missionários para evitar alarde da populaçãoindígena. Mas ao descobrirem a morte de alguns internos, os indígenas pressionaram para queas madres permitissem às mães destes passarem um período no Instituto cuidando ao modoindígena de seus filhos, uma situação que os missionários foram obrigados a aceitar, mas quenão os estava agradando. Sobre a epidemia de Sarampo, Merlatti comenta:A paz não devia durar muito. Lá pelos meados de fevereiro de 1.900, apareceu uma doençacontagiosa (...). Já havia aparecido a alguns tempos, nas barrancas do rio Mearim e do Grajaú;chegou em Alto Alegre e se espalhou pelas aldeias; chegou também no colégio masculino deBarra do Corda e, em seguida, no feminino, trazendo desolação e morte. Adoeceram oitomeninas. Logo em seguida, mais seis e, no passar de poucos dias, mais que a metade dasalunas estava em condições lastimáveis. Durante um mês e meio, a epidemia enfureceu e foram22 as vitimas entre as pequenas internas e cinco entre meninos e meninas da colônia. Nasaldeias vizinhas, morreu um número impreciso de pequenos e adultos. Entre os alunos de Barrado Corda, os mortos foram 28. A nada valeram as despesas para o tratamento e os sacrifícios.Entre os indígenas, nasceu e cresceu a desconfiança64.

Logo que a epidemia espalhou-se, surgiu entre os indígenas a acusação, plantada pelos inimigosda missão, de que os missionários estavam interessados em matar os filhos dos índios eplanejavam secretamente a destruição de todas as sua tribos65. No entanto, controlada aepidemia, a situação na colônia volta a normalidade.Os "inimigos da missão" citados são os comerciantes locais, a que os missionáriosconstantemente se referem como "regatões" ou "mandões da selva". É uma questão polêmica. Amão-de-obra indígena e os seus produtos eram oferecidas de forma barata para os fazendeiros ecomerciantes da região. Mas com a chegada dos missionários, estes passam a ter o controle daprodução e da mão-de-obra dos índios não mais oferecida barata. Isso desagrada oscomerciantes que passam a insuflar os índios contra a missão.

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Conta Regina Helena Faria que:O índio Luís Costa ao prestar depoimento no processo aberto (...) fez referências a constantesvisitas que alguns comerciantes faziam às aldeias, aproveitando os horários do meio dia ou danoite, quando diminuía a vigilância dos frades, para negociar o produto das roças dos índios66.

Essa questão de comerciantes versus religiosos é um problema comum ao longo da história doBrasil. Sempre estes em seu trabalho reivindicaram a mão-de-obra indígena condenando aquelesque a exploravam em favor do lucro e isso desagradava os comerciantes que entram em conflitocom eles. No Maranhão, tais atritos resultaram na expulsão dos religiosos Jesuítas do Estadodurante a Revolta de Beckman no século XVII. A colônia de São José da Providência cresceu e passou a atrair muitas famílias de brancos parasuas redondezas, invadindo cada vez mais o território indígena. Lembre-se que o próprio SãoJosé da Providência era uma invasão. A comunidade indígena sentia-se sempre mais isolada emseu território invadido, pois para essas populações a terra é um fator de sobrevivênciafundamental, não somente econômica, mas cultural. Sobre essa questão comenta Zanoni:A ocupação do território por parte dos Capuchinhos, com sua presença e trazendo brancos para oestabelecimento, com o impulso significativo à produção agrícola do estabelecimento e,certamente, com a construção de vias de acesso, fez com que a ocupação do território indígenaaumentasse sempre mais. De fato, pelos artigos, podemos ver que havia muitas fazendasinstaladas na região. Provavelmente muitos acorriam para lá atraídos pelos benefícios que amissão oferecia no campo da saúde, ou educação, ou até pela presença religiosa67.

Então, como já foi explicitado, a terra sendo um fator de fundamental importância e necessidadepara os indígenas, estes não poderiam ficar sofrendo a redução destas ante a constante invasãogerada pelo atrativo do desenvolvimento de São José da Providência e a conseqüente aberturade estradas para dar maior acesso a colônia.Deste modo, todos esses acontecimentos funcionam como moventes para o desencadeamentoda revolta contra os missionários. Esses fatores plantados aos poucos e aumentando o medo e arevolta dos índios foram muito bem explorados por Caboré que soube utiliza-los contra a missãode Alto Alegre. Os frades Capuchinhos criaram as situações que levaram a sua própriadestruição.

7. O OLHAR DOS JORNAIS.

A história da Missão Capuchinha nessa região pode ser vista nas páginas dos jornais. Estessempre noticiaram a ação dos missionários, desde o começo do empreendimento em Barra doCorda até a destruição de São José da Providência e os efeitos posteriores. Procuraremos, nestecapítulo, mostrar um pouco da visão que estes tinham sobre os acontecimentos do Massacre deAlto Alegre. Para tal assertiva, pautamo-nos em comentar o papel dos dois jornais que sedestacam na cobertura jornalística do acontecimento em questão: O NORTE e o DIÁRIO DOMARANHÃO.O jornal O NORTE que se considerava órgão de imprensa defensor das idéias republicanas, depropriedade de Isaac Martins e Dunshee de Abranches, era de Barra do Corda. O jornal DIÁRIODO MARANHÃO, órgão ligado ao governo republicano da época, era de São Luís. O semanárioO NORTE relata em primeira mão os fatos, trazendo boletins diários sobre o combate aos índios.Já o DIÁRIO DO MARANHÃO, principalmente, transcreve os telegramas de comunicação entreas autoridades da região do conflito, o governo de São Luís e a tropa enviada para a área doscombates.Antes de prosseguirmos, cabe frisar que O NORTE sempre fez fartos elogios ao trabalho dosCapuchinhos. Desde o começo da missão, este órgão acreditou piamente que os missionárioseram o melhor caminho para libertar os índios de seus "maus hábitos e levar-los a civilização".Deste modo, O NORTE, como defensor da prática catequética dos frades, quando ocorre oataque a Alto Alegre exige uma intervenção mais enérgica do governo para a repressão contra osindígenas, pregando que "se a repressão tivesse sido à altura do grande crime, a população não

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estaria imigrando receosa de novos ataques e confiaria na segurança da lei68".Ainda, continua O NORTE:O que aconteceu é tão execrável que nem as medidas mais rigorosas que poderão ser adotadasirão satisfazer a indignação pública.O governo do Estado, avaliando a enormidade do atentado e considerando as notáveisproporções da sua criminalidade, reprima com todas as normas do direito e da justiça este ato devandalismo que vem a encharcar de sangue amigo o solo pátrio e arruinar completamente umregião digna de sua atenção. Assim esperamos!69.

Por fim, critica dizendo que "essa complacência que o governo do Brasil dispensa a essa raçaperigosa, armando-os dos melhores elementos para hoje combater-nos70". Sendo, então, o Jornal O NORTE, partidário de uma nova matança desenfreada, mas desta vezcontra os índios; não admitindo a posição do governo, que eles chamavam de passiva, de tentar amelhor solução para o problema tentando evitar que mais mortes ocorressem. O NORTEdefendia que se seguisse, assim, pela Lei de Talião, "olho por olho e dente por dente", e queriamque os índios pagassem com o seu sangue o que haviam derramado.Do contrário, o DIÁRIO DO MARANHÃO é partidário da posição do governo de que não se usede violência contra os indígenas a fim de que, pacificamente, voltem para suas aldeias e, que osfrades devolvam os filhos dos índios que estavam no internato em Barra do Corda.O DIÁRIO DO MARANHÃO era contrario à intervenção aos índios pelos missionários, àcatequese, defendia idéias positivistas em voga na época através de uma série de reportagensdando idéia de que:O elemento índio será eliminado com o tempo pela seleção natural e a lei da concorrência vital,sendo então absorvido pelas raças superiores que, hoje o cercam71.Tal posicionamento faz o DIÁRIO DO MARANHÃO comentar a revolta indígena justificando esta:Gritos de angustia erguem-se nos sertões maranhenses (...). De um lado a cohorte de aborigenessob o impulso do desespero e o amor da liberdade, de outro, o grupo de alienígenas aprovadopor grande parte dos naturaes civilizados. Uns defendem do guante férreo do ideal catholico,quiçá do cilico e das torturas inquisitoriaes, os seres fracos que procrearam; outros luctam por simesmos, querendo sujeitar aquelles a crença de um torquemada - a fera do catholicismo que,com o auxilio de seus colaboradores, queimára, no espaço de 18 annos apenas 10.220 pessoasvivas, aplicando outras atrozes a 97.321 outras, pelo único crime de pensarem livremente ou porque o phanatismo religioso tivesse para elles inventado a heresia.São dois partidos que jamais poderão conciliar-se um, cuja religião não quer a liberdade, o outroaffeito a campeiar com absoluta idependencia.O problema das relações entre ambos, por conseguinte, deve offerecer bem mais complicaçõesdo que a primeira vista é dado supor. É simples julgal-os em abstrato; é difícil julgal-os, tendo emjusta consideração dos factores do levantamento - o instinto, a índole, os preconceitos72.

Pode-se perceber que os jornais citados tinham claramente visões diferentes sobre oacontecimento de Alto Alegre e as medidas que se deveriam tomar contra os indígenas. Énecessário ter em mente, para se entender o posicionamento dos dois, a localização geográficade cada um. O NORTE, defensor dos Capuchinhos e de uma retaliação aos índios estavalocalizado em Barra do Corda, diretamente afetado e em contato com os acirrados ânimos dapopulação e, talvez isso, o tenha feito adotar esse posicionamento, que era o da maioria dosregionais. O DIÁRIO DO MARANHÃO, por sua vez, localizado em São Luís, ligado ao governo, épartidário das idéias deste e não é afetado por um sentimento revanchista de desforra.

8. O SEGUNDO ALTO ALEGRE.

Este capítulo foge do escopo do trabalho, afinal não temos a pretensão de esgotar o assunto,mas faz-se interessante para se delinear uma noção de que os conflitos entre indígenas eregionais estão vivos ainda hoje. Também, mostrar que a saga de Alto Alegre não finaliza com omassacre, mas prosseguiu anos depois quando os Capuchinhos tentaram retomar o trabalho

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missionário em Alto Alegre, no final dos anos 50, mas desistiram duas décadas depoispressionados pelos indígenas e pela ala da Igreja partidária dos índios.Assim, após algum tempo de findado a revolta dos indígenas, algumas famílias retornaram aoAlto Alegre, no entanto, a missão Capuchinha havia sido fechada pelos Superiores que temiampela vida dos frades. Os capuchinhos só retornavam a Alto Alegre em romaria para homenagearos mortos na triste aventura de São José da Providência.Mas no ano de 1959, o Superior da Custódia Provincial do Maranhão, Frei Cosme de Borno, abrenovamente a missão do Alto Alegre73. Os dois primeiros frades escolhidos para essa novamissão foram Frei Aniceto de Tavernola e Frei Henrique de Mantova, com o objetivo de cuidar daassistência religiosa dos moradores de Alto Alegre e dos povoados vizinhos, como São Pedro dosCacetes, Jacaré, Genipapo dos Vieiras, bem como novamente começar o trabalho deevangelização dos índios da região. Com a chegada dos frades, varias famílias provenientes doPiauí, Ceará e outros municípios do Maranhão passaram a morar em Alto Alegre. Novamente aterra indígena volta a ser invadida.No local é erguida uma escola para a instrução das crianças, a igreja e o convento para os fradesCapuchinhos. As irmãs Capuchinhas também voltam a Alto Alegre, lá abrindo a Casa deNoviciado (um convento) e um posto médico74.No ano de 197875, a FUNAI procede com a demarcação da reserva indígena de Canabrava e, oAlto Alegre é incluindo dentro dela. Os frades e os moradores se negavam a deixar o lugar.Para negociar sobre a situação, o novo Superior da Província do Maranhão, Frei Martírio Bertolini,convoca uma comissão formada por um representante do CIMI (Conselho IndigenistaMissionário) - órgão ligado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) que não apoiavaa nova missão em Alto Alegre - , um representante do CPT (Comissão Pastoral da Terra), umadvogado e um religioso Capuchinho. Ela acabou definindo uma reunião em Barra do Corda.Em Barra do Corda, na reunião, estavam presentes: Dr. Paulo, superintendente da Funai deBrasília; Dom Tomás Balduino, bispo de Goiás e presidente do CIMI, Dom Valentim Lazzari, bispode Grajaú; Frei Oswaldo Coronini, representante dos Capuchinhos; um grupo de índios; algunsmoradores de Alto Alegre; além de jornalistas e moradores de Barra do Corda. Dessa reuniãoficaria decidido que os Capuchinhos e os moradores deveriam deixar as terras dos índios.Os Capuchinhos, então, recorrem, no ano de 1980, à Justiça Federal de São Luís, no processo nº1794/80. Decide-se, assim, pela condenação da Funai ao pagamento de uma indenização aosmoradores do Alto Alegre, para que estes deixem o lugar76.

Os padres não concordando com a decisão de deixar o lugar comentam que:Era impossível lutar contra as pressões da opinião pública, contra a força das armas do GovernoFederal e contra a ganância dos índios de tornar-se donos de tudo o que havia em Alto Alegre(...)77.

Ao deixarem o lugar, os prédios de Alto Alegre foram todos destruídos, constituindo um verdadeiroatentado à história. No local, da lembrança da passagem Capuchinha apenas resta em pé umaparede do velho convento que abrigou os missionários.

9. CONCLUSÃO.

Neste retorno ao Alto Alegre, onde se perpassou por toda a história da colônia de São José daProvidência, notamos que o movimento que se deflagra em 1901 foi uma revolta de proporçõesque não ficou restrita apenas a região de Barra do Corda, mas que atingiu como um aríete toda apopulação Guajajara e gerou conseqüências para esse povo que ainda hoje se perpetuam. Maisde um século já se passou, mas as feridas do conflito ainda continuam abertas. Os Guajajarassão vistos com desconfiança e desprezo por grande parte da população de Barra do Corda eGrajaú. Esse difícil relacionamento tem marcado os conflitos entre brancos e índios, que seagravou nas décadas de 1970 e 1980, pela disputa do vasto território entre os rios Grajaú eMearim78. As lembranças do evento são mantidas vivas pela Igreja que elevou seus mortos àcondição de mártires do Cristianismo e, desde os anos 50, exibe na fachada da Igreja Matriz deBarra do Corda, em mármore de carrara, as esfinges dos missionários Capuchinhos e irmãos

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mortos no conflito de Alto Alegre. A revolta do Alto Alegre, enquanto que para os frades e a população branca em geral teve umcaráter de massacre, para os indígenas é considerada como uma defesa dos costumes e daterra.Partidário dessa posição, comenta Zanoni:Eles reagiram como se o conflito fosse um conflito cultural. Isto é, os padres que estavam ali setornaram o inimigo a combater e a tirar do meio deles se quisessem continuar Tenetehara. Assim,após vários momentos de tensão, o que fez deflagrar o conflito foi a interferência dos religiososna ordem social e o desrespeito à liderança. Isto uniu todos os lideres da região, sendo que odesrespeito a uma família extensa poderia levar ao desrespeito a todas as outras e, portanto, aperda de autoridade por parte dos Tenetehara79.

Portanto, a destruição de São José da Providência foi uma maneira de retaliação que osindígenas acharam para combater uma ofensa direta contra seu modo de vida e costumes. Essecaráter de "massacre" atribuído à revolta indígena é fruto, sob o ponto de vista antropológico, deum preconceito latente de uma população atingida diretamente no confronto e que considera oindígena como dessemelhante, ao passo que o Capuchinho é um igual e ostenta uma posiçãoprivilegiada dentro da sociedade, misturando humanidade e santidade, sendo inadmissível talcrime contra ele. Mas como condenar a intolerância indígena aos moradores de Alto Alegre, se aIgreja estava sendo intolerante com o modo de vida e os costumes dos índios? A sociedadecritica a atitude assassina dos índios, mas se esquece que a Igreja Católica durante a IdadeMédia cometeu os mesmos atos assassinos contra aqueles que discordavam do seu modo depensar. O Tribunal da Inquisição condenou à morte os que não compartilhavam das suas idéias.Os indígenas apenas se insurgem em defesa de sua própria existência como tais. Contesto, ainda, a tentativa de resumir o acontecimento a um conflito entre Capuchinhos eGuajajaras, devido a linha catequética daqueles, pois essa explicação parece um pouco simplista.Pois se o problema fosse apenas os Capuchinhos, como se explicariam os ataques às fazendasvizinhas após a destruição da colônia? Presume-se, aqui, que os indígenas também estavam embusca de reaver e responder à continua invasão de suas terras. Ainda, em depoimento de um dosíndios arrolados no processo do massacre, ele afirma que "a vontade de arrancar com força osseus filhos do colégio dos missionários só era uma bobagem inventada pelos jornalistas parapassar poeira nos olhos dos tolos80". Tais colocações, principalmente esta última, contribuempara se quebrar o mito de que o único movente para a revolta indígena tenha sido a atuaçãoCapuchinha. Pode-se, entretanto, considerar a missão Capuchinha como o catalisador paradeflagrar a revolta indígena.Claro está, que a presença Capuchinha acaba gerando ou agravando todos os problemas quelevam ao ataque a São José da Providência. Os missionários haviam invadido o territórioindígena, sem permissão, e lá agora queriam mandar sobre os índios e impedir que elesvivessem segundo seus costumes, esse comentário se espalhou por todas as aldeias, inclusiveas distantes; além de a criação da colônia e a abertura de vias de acesso terem aumentado onível de invasões ao território indígena; e, também, o fato de os indígenas não poderem tecerlivremente suas relações com a sociedade regional visto que a produção passava toda pelasmãos dos missionários.Os Capuchinhos erram em face da história, pois praticam atos de um processo catequético jáfracassado em missões anteriores; erram em fade da ciência, pois a natureza não dá saltos, nãose pode sobrepor uma cultura a outra, ainda mais em processos instantâneos como tenta o modocatequético; erram em face da lei, pois ao retirarem os meninos indígenas forçadamente de suasfamílias cometem, segundo a lei penal, o crime de rapto.Então resta-nos reafirmar que o "Massacre de Alto Alegre" foi gerado por todo um somatório dedesavenças, intrigas, medo e insatisfações que levam a um choque de cultura entre indígenas ebrancos que se desenvolve em conflito sociopolítico. E, não apenas fruto de um errôneo processocatequético. Esse choque de culturas é mascarado pela vingança pessoal de João Caboré contraos Capuchinhos, mas olhos atentos percebem que isto é produto do meio, fruto da conjuntura daépoca, de uma situação maior, de todo um contexto histórico que traz conseqüências ainda nos

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dias atuais.Por fim, ressalte-se, a valiosa lição de Zanoni, que o choque cultural que desencadeou conflitosentre bancos e índios ao longo da história constitui-se como condição fundamental para que oindígena continua-se a viver como tal, pois não permitiu a sua total integração a outro modo devida permitindo-lhe, em contrapartida, sobreviver, diante de fortes pressões, sem deixar de serculturalmente índio81.

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A HECATOMBE - as providências. O Norte, Barra do Corda, 13 abr. 1901. n. 465, p. 1-2.

A HECATOMBE - Situação Afflictissina. O Norte, Barra do Corda, 24 de março de 1901, n. 465, p.1.

A HECATOMBE. O Norte, Barra do Corda, 06 abr. 1901. n. 487, p. 1-2.

A HECATOMBE. O Norte, Barra do Corda, 23 março 1901, n. 643, p.1.

A HECATOMBE. O Norte, Barra do Corda, 30 março 1901, n. 644, p.2

A MENINA Ursula livre dos índios. Diário do Maranhão, São Luís, 3 jun. 1901. n. 8331, p. 2.

ATO PÚBLICO. Diário do Maranhão, São Luís, 6 abr. 1901. n. 8282, p. 2.

AS CAPTIVAS. O Norte, Barra do Corda, 13 jul. 1901. n. 476, p. 1.

ATAQUE dos índios. Diário do Maranhão, 3 maio 1901. n. 8305, p. 2.

ATAQUE dos índios. O Norte, Barra do Corda, 5 ago. 1901. n. 656, p. 2.

COLLABORAÇÃO - índios e frades. O Norte, Barra do Corda, 18 maio 1901. n. 469, p. 1-2.

COLLABORAÇÃO - índios e frades. O Norte, Barra do Corda, 25 maio 1901. n. 470, p. 1-2.

CONTIGENTE militar. O Norte, Barra do Corda, 15 jun. 1901. n. 473, p. 2.

EFEITOS da expedição. O Norte, Barra do Corda, 27 abr. 1901. n. 466, p. 1-2.

HORROROSO! Hecatombe!. O Norte, Barra do Corda, 24 mar. 1901. n. 461. p. 1-6.

ÍNDIO caboré. Avante!, São Luís, 7 dez. 1901.

ÍNDIOS - depoimento do pequeno Romão. O Norte, Barra do Corda, 12 out. 1901. n. 487, p. 2.

ÍNDIOS do Instituto. O Norte, Barra do Corda, 2 nov. 1901. n. 490, p. 2.

ÍNDIOS e frades. Diário do Maranhão, São Luís, 1 abr. 1901. n. 8279, p. 2.

ÍNDIOS e frades. Diário do Maranhão, São Luís, 6 abr. 1901. n. 8282, p. 1.

ÍNDIOS e frades. O Norte, Barra do Corda, 4 maio 1901. nº 467, p. 1-3.

ÍNDIOS. O Norte, Barra do Corda, 1 jun. 1901. n. 471, p. 1.

ÍNDIOS. O Norte, Barra do Corda, 13 ago. 1901. n. 479, p. 2.

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ÍNDIOS. O Norte, Barra do Corda, 19 out. 1901. n. 488, p. 2.

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ÍNDIOS. O Norte, Barra do Corda, 5 out. 1901. n. 486, p. 2.

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ÍNDIOS. O Norte, Barra do Corda, 9 nov. 1901. n. 491, p. 2.INTERROGATÓRIO a índios. Diário do Maranhão, São Luís, 23 jul. 1901. n. 8373, p. 2.

O ATAQUE dos índios. Diário do Maranhão, São Luís, 22 abr. 1901. n. 8295, p. 2.

OFFICIAL - governo do Estado. Diário do Maranhão, São Luís, 6 maio 1901. n. 984, p. 1.

OS ACONTECIMENTOS do Alto Alegre - A carnificina pelos índios. Diário do Maranhão, São Luís,10 abr. 1901. n. 8285, p. 3.

OS ACONTECIMENTOS do Alto Alegre. Diário do Maranhão, São Luís, 26 abr. 1901. n. 8289, p.2.

OS ÍNDIOS - formação de culpa. Diário do Maranhão, São Luís, 9 out. 1901. n. 8440, p. 2.

OS ÍNDIOS - prisão e morte. Diário do Maranhão, São Luís, 4 dez. 1901. n. 8487, p. 2.

OS ÍNDIOS do Monte Alegre. Diário do Maranhão, São Luís, 13 jun. 1901. n. 8340, p. 2.

OS ÍNDIOS. Diário do Maranhão, São Luís, 11 set. 1901. n. 8416, p. 2-3.

OS ÍNDIOS. Diário do Maranhão, São Luís, 12 ago. 1901. n. 8390, p. 2.

OS ÍNDIOS. Diário do Maranhão, São Luís, 25 set. 1901. n. 8428, p. 2-3.

OS ÍNDIOS. Diário do Maranhão, São Luís, 5 nov. 1901. n. 8462, p. 2.

OS ÍNDIOS. O Norte, Barra do Corda, 11 maio 1901. n. 468, p. 1-2.

OS ÍNDIOS. O Norte, Barra do Corda, 29 jun. 1901. n. 475, p. 1.

OS ÍNDIOS. O Norte, Barra do Corda, 07 dez 1901. n. 634,. p. 2.OS PEQUENOS índios. O Norte, Barra do Corda, 20 jul. 1901. n. 477, p. 1-2.

1902

ÍNDIOS. O Norte, Barra do Corda, 8 fev. 1902. n. 504, p. 2-3.

ÍNDIOS caboré. O Norte, Barra do Corda, 25 jan. 1902. n. 502. p. 2.

AGRADECIMENTO. O Norte, Barra do Corda, 15 mar. 1902. n. 509, p. 3.

1903 CUMPRIMENTOS. O Norte, Barra do Corda, 3 jan. 1903. n. 539, p. 2.

HECATOMBE de Alto Alegre. O Norte, Barra do Corda, 24 jan. 1903. n. 542, p. 3.

1904 HECATOMBE de Alto Alegre. O Norte, Barra do Corda, 12 mar. 1904. n. 586, p. 3.

ÍNDIOS do Instituo. O Norte, Barra do Corda, 7 maio 1904. n. 593, p. 2.

1905 ÍNDIOS. O Norte, Barra do Corda, 12 ago. 1905. n. 657, p. 2.

ALTO Alegre - Julgamento dos índios. O Norte, Barra do Corda, 29 jul. 1905. n. 655, p. 2.AVISO sacro. O Norte, Barra do Corda, 18 mar. 1905. n. 636, p. 3.

1906PRISIONEIRA dos índios. O Norte, Barra do Corda, 03 fev. 1906. n. 680, p. 1.

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1907HECATOMBE de Alto Alegre. O Norte, Barra do Corda, 16 mar. 1907. n. 737, p. 2.

1915A HECATOMBE de Alto Alegre. O Norte, Barra do Corda, 13 mar. 1915. n. 1145, p. 2.

1959CARTA de Frei Celso de Uboldo. A Voz de São Francisco, Fortaleza , março 1951. v.13, n.14, p.34 - 35.

2001O MASSACRE de Alto Alegre. O Estado do Maranhão, São Luís, 13 mar. 2001. p. 1-4.