UM PRA MIL - CÂMERAS

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Tendo em vista a intensificação da política de monitoramento e controle dos espaços na USP e na FAU, os estudantes fizeram esta 1:1000 - câmeras para levantar o debate dessa política entre os estudantes.

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EDITORIALTendo em vista que a política de monitoramento e controle do espaço como solução para a questão da segurança ganha cada vez mais respaldo na Universidade, a UMPRAMIL C MERAS tem o intuito de suscitar esse debate na FAU. Os rumos políticos que a USP vem adotando tem adotada cada vez mais uma posição passiva em relação as questões sociais. No entanto, quando se nega um papel crítico e transformador, sobram aos espaços universitários cotidianos apenas reproduzir as lógicas vigentes. E, nesse sentido, é essencial discutirmos as políticas de segurança e monitoramento que a USP tem adotado e quem podem ser aprovadas na FAU.Para iniciar o debate a comissão editorial escreveu três textos: o primeiro constitui uma breve leitura sobre como a política de segurança tem sido colocada na USP, o segunda trata da inserção dessa política enquanto concepção de Universidade e sua relação com a sociedade e o terceiro aborda como a questão da segurança se reverbera na escala do indivíduo e do coletivo.

Comitê Editorial

Felipe SouzaGabriele RodriguesCamila OniaHeloisa RibeiroDavi TochettoGabriel HenriqueTarsila Bianchi

GFAU. Um pra mil - Câmeras. São Paulo. 8pg. Novembro, 2014.

Os constantes furtos que vêm ocorrendo no edifício da FAU trouxeram a discussão a questão da segurança. Em resposta, foi apresentado um projeto de câmeras na última congregação. O problema e sua suposta solução são, porém, colocados destituídos de reflexão quanto a questão real.

A insegurança só é evidenciada, superficialmente, quando o indivíduo, ou o grupo no qual se insere, é afetado por roubos, furtos, ou qualquer outra ação que o toque diretamente. Restringe-se todo o problema ao caso específico no âmbito individual, não tornando esclarecida a questão real. A resposta ao furto, como a colocação de câmeras de monitoramento, é por si também superficial. A essência estrutural da questão se perde em um ciclo onde o indivíduo não se entende parte do coletivo, não afirmando assim as inter-relações que os constituem.

O âmbito individual, assim como o coletivo, são inter-dependentes e parte um do outro. Dessa forma, a ação do indivíduo, entendendo-se como parte constituinte, é determinante para o coletivo. Inserido na estrutura social vigente, a ação dos corpo político a reafirma ou nega. Essa estrutura, assim como a desigualdade necessária a sua existência, é a base que os estudantes, futuros arquitetos, urbanistas, designers, atuarão. A ação é condicionada, porém, pela função social em que se acredita. Os estudantes, enquanto inseridos na sociedade e com a crítica como instrumento, tem assim a

A RELAÇÃO INDIVÍDUO-

COLETIVO FRENTE A

POLÍTICA DE SEGURANÇA E CONTROLE DO

ESPAÇO

posição de criticar e refletir frente ao mundo, questionando a própria ordem em que se inserem.

A lógica socio-econômica já estabeleceu condomínios murados, monitorados por câmeras, com controle de entrada. A nós, foi imposto um projeto com camêras nos edifícios da FAU, conjuntamente com discursos que apresentavam a necessidade de controle de quem entrava no prédio. A nós cabe, ao menos, questionar a reprodução dessa lógica.

A colocação de câmeras, além de simulacro de segurança, tem ainda um potencial de controle e cerceamento. O domínio do que é filmado está atrelado ao poder de controle e inibição de ações contrárias a estrutura estabelecida. Atos, paralisações, piquetes, repiauers, são ações passíveis de serem filmadas e, não se enquadrando no que é permitido, condenadas. Busca-se ainda, em específico, a culpabilização de indivíduos por atos decididos coletivamente, intimidando e desmobilizando.

A superficial solução aos furtos a nós colocada é uma negação do problema real. Defendê-la, é mascarar uma questão estrutural num simulacro de segurança individual. A opção pelo controle permite ainda que não possamos, enquanto estudantes, ser agentes que reflitam e pensem uma nova proposição social.

Comitê Editorial

O CONTROLE DO ESPAÇO POLÍTICO-SOCIAL COMO UM ATUAL CONTEXTO DA UNIVERSIDADE

Não é novidade a tentativa de implantação de câmeras de monitoramento na Universidade, já há algum tempo essa solução tem feito parte das políticas de segurança da USP. Mas, que política de segurança é essa?

Um levantamento dos pontos de câmeras feito por estudantes durante a greve estudantil pela revogação do convênio com a PM em 2011/2012 aborda essa questão. Lugares conhecidos pelas ocorrências de estupro e assaltos, como por exemplo, a rua do matão, praça do relógio e saída de pedestres da CPTM praticamente não tinham câmeras, por outro lado, espaços como a Reitoria, CRUSP e o bandejão a presença de câmeras era expressivamente maior. Fica, assim, evidente o caráter do projeto de câmeras da reitoria, em um primeiro momento se colocam frente a segurança dos usuários do campus universitário, mas, na realidade, a sua estruturação se dá em relação aos espaços em que ocorrem manifestações políticas.

A intensificação de medidas de controle e monitoramento dos espaços que tem acontecido nos últimos anos não está isolada de um projeto privatizante de Universidade e, apesar

de atuarem em diferentes escalas, constituem uma unidade: a assinatura do convênio com a PM serve à repressão de manifestações, as câmeras à identificação e criminalização política e a PPUSP ao cerceamento da autonomia dos espaços estudantis. Ao se reverberar em diferentes escalas, essas medidas colocam tanto dificuldades de articulação política e autônoma dos estudantes, trabalhadores e docentes, como estabelecem um cotidiano universitário em que há menos liberdade de se apropriar de espaços de formação não oficiais. A condição de estudante passa a ser cada vez mais restrita à grade curricular, ou então, à atividades que não tem um engajamento político direto.

Em diversas unidades da USP essas propostas têm sido cada vez mais adotadas, inclusive, muitas já possuem câmeras e/ou catracas. Recentemente, dois casos chamam mais atenção: a proposta de catracas na FEA, também para as portas das salas de aula e a proposta de fechamento do vão do edifício da História e Geografia. Ambas as propostas se colocam no sentido de restringir o acesso público aos espaços de conhecimento da Universidade e de propor uma gestão controlada

desses espaços. Além disso, o fechamento do vão do edifício da História e Geografia claramente coloca entraves para a realização de assembleias e festas.

Na FAU, temos notícia que a proposta de monitoramento de câmeras surgiu há cerca de 6 ou 7 anos, mas acabou não sendo implantada. Depois disso, no início de 2012, em meio às férias, a Congregação aprovou um relatório de segurança para FAU, realizado por uma comissão formada por docentes dos três departamentos, que sinalizava a instalação de meios eletrônicos de identificação, entre outras medidas. Neste ano, a Diretoria da FAU recolocou a proposta de câmeras de monitoramento para os edifícios na última Congregação sem aviso prévio durante a própria reunião. Diante dessa situação, encaminhou-se o adiamento da pauta para a Congregação do dia 17 de dezembro de 2014, em pleno fim de semestre.

AUH e AUT já tiraram suas posições: sinalizaram ser favoráveis a instalação de câmeras e, no momento, sugerem a criação de uma comissão para estudar uma política de segurança para a FAU. Em relação aos órgãos colegiados faltam

os posicionamentos do AUP e Conselho Curador.

De fato, a ocorrência de furtos no edifício da FAU tem sido recorrente, mas não podemos compreender a solução de câmeras de monitoramento como uma saída meramente técnica e inevitável. Frente ao contexto da Universidade existe, sim, um peso político a FAU incorporar esse tipo de solução, ainda mais em um momento que se tornam práticas comuns da Diretoria da coibir os repiauers com Sindicâncias, chamar a polícia científica para averiguar piquete e até mesmo cercear colagens de cartazes e lambes.

O debate sobre políticas de segurança se desdobra muito além desses pontos, mas ao fazê-lo não podemos desconsiderar o contexto político em que vivemos na USP: intensificam-se as medidas de segurança e controle, ao mesmo tempo em que os casos de violência não diminuem e os casos de criminalização e repressão política aumentam.

Comissão Editorial

Ilustração por Walter Rego

CONTROLE E ABERTURA DO CAMPUS, UMA CONCEPÇÃO

Ao se instalar câmeras de monitoramento, adota-se uma política que reitera a hostilidade com “os de fora” ou com os que não têm “o perfil adequado” ao ambiente universitário. Essa medida não é isolada, a instalação de catracas restringindo o acesso ou a restrição de festas são outras formas adotadas para, supostamente, trazer segurança ao campus universitário. Além disso, é comum a posição de culpabilizar os externos à comunidade universitária pelos roubos: é essa a relação com a sociedade que temos em vista?

Ao adotarmos o monitoramento para solucionar ou amenizar a segurança dentro da universidade temos que ter claro o que isso propõe e reproduz enquanto relações sociais. Essa medida é utilizada principalmente em espaços privados e carregam junto de si princípios segregadores e paliativos frente a questão da segurança.

Em contraposição ao controle do monitoramento, há entre muitos o desejo de se retirar os muros que circundam o campus, aproximando-o fisicamente da sociedade. Segundo tal proposta, "ir para a cidade" ou “trazer a cidade para dentro do campus” possibilitaria um contato com os problemas existentes e faria com que a comunidade externa pudesse utilizar o campus para fins de lazer e cultura.

Aparentemente há uma incoerência entre uma visão do campus controlado por câmeras e catracas e a retirada de seus muros para a abertura e inserção física na cidade. O

que isso revela enquanto concepção da relação entre a universidade e a sociedade? À primeira vista cria-se esse conflito, entre a defesa do controle dos prédios e da abertura do campus; contudo, pode-se entender essa concepção enquanto a defesa da utilização da universidade sob a manutenção de uma ordem estabelecida, seja pela própria comunidade universitária ou os externos a ela. Disso, limita-se também a atuação dos indivíduos que a constrõem, ou seja, não há a possibilidade de livre pensamento. Entender a USP como um parque, vai no mesmo sentido: não é entendê-la enquanto espaço de formação crítica

Sob essa ótica não há, portanto, contradição. A universidade que se defende é a passiva de demandas colocadas e que produz conhecimento segregador. Os indivíduos que a constrõem, dentre eles os estudantes, não tem compromisso com a crítica, com as questões sociais.

A defesa de políticas de monitoramento para a solução de roubos e furtos vai no sentido da reprodução automática e acrítica das estruturas sociais consolidadas. Essa é justamente a expressão de como a USP abre mão, enquanto universidade, de revisar o que já está posto, optando por um papel passivo que de nada ou pouco serve como benefício à sociedade, além de ir de encontro à naturalização da realidade construída - não se busca a crítica, e portanto, a mudança das estruturas existentes.

Comite Editorial

diagramação por geovana, estudante questionandoa atual condição que tenta impedir qualquer vislumbre de transformar nossos espaços

ASSEMBLEIA DOS ESTUDANTES DA FAUQUI 27 NOV17H30