“Um Sr. Talento”: trajetória, engajamento e esquecimento ... · Record de 1967, no qual o...
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“Um Sr. Talento”: trajetória, engajamento e esquecimento na obra de Sérgio Ricardo
DANIEL LOPES SARAIVA (UDESC)1
Resumo:
Nascido em 1932, na cidade de Marília, interior de São Paulo, Sérgio Ricardo é um dos artistas que
fazem parte do imaginário popular da cultura brasileira, sendo, geralmente, lembrado por quebrar o
violão durante o Segundo Festival de Record em 1967. Mas essa imagem que até hoje é relembrada é
apenas um dos momentos da extensa carreira do artista. Inicialmente vinculado ao movimento
bossanovista, o cantor foi aos poucos se aproximando do Centro Popular de Cultura, suas canções
ficaram mais engajadas e seus discos também. Além disso, foi diretor de diversos filmes, sempre
ligados à temática social, preocupação que perpassa grande parte de sua carreira. Assim, o presente
artigo tem por objetivo traçar um panorama da carreira artística do cantor, fazendo uma pequena
análise da sua obra discográfica e fílmica, relacionando o contexto vivido à época. Ao trabalhar com
sua trajetória, usamos como fonte os seus relatos. Esses depoimentos, coletados em diferentes
momentos da vida do cantor, nos possibilitará observar as permanências e rupturas da memória,
atentos aos silêncios e às ênfases, de maneira a possibilitar a reconstrução de uma trajetória,
considerando a subjetividade das fontes.
Estudos biográficos, memória e história oral
Entre as décadas de 1970 e 1980 ocorreram diversas transformações nos campos da
pesquisa histórica. Incorporou-se o uso de temáticas contemporâneas. Houve também o
retorno ao estudo biográfico, esse novo estudo biográfico não apenas focado nos “grandes
atores da história”. Portanto, surgiram biografias de cidadãos ou grupos que até então não
haviam tido a possibilidade de ter suas histórias abordadas.
Com o retorno do estudo biográfico e as temáticas contemporâneas, a memória dos
indivíduos volta a ganhar destaque na história, antes descartada por ser considerada uma fonte
tendenciosa e não fidedigna, agora ganha um destaque nos estudos históricos. A História Oral
também ganha destaque nessas mesmas décadas.
Para Bauman, os relatos biográficos só são escritos com os olhos mirados para o
presente (BAUMAN apud AVELAR, 2012:65). Alexandre Sá Avelar destaca que nas últimas
décadas houve um retorno aos estudos biográficos e uma preocupação com a narrativa, a nova
1 Doutorando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina. Bolsista
PROMOP.
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história política. Mesmo que essas temáticas não tivessem desaparecido elas foram relegadas
a segundo plano durante as primeiras gerações dos Annales, em detrimento à história das
estruturas que passavam a explicar as ações humanas. Nesta modulação cientificista do
discurso histórico, a biografia até então ocupava lugar marginal, considerado superficial
(AVELAR,2012:67). Delimitada pelas perspectivas totalizantes dos Annales, a biografia
parecia encontrar-se numa encruzilhada teórica, mesmo reconhecida sua legitimidade como
objeto de estudos dos historiadores, limitavam-se a dois modelos: a biografia representativa e
o estudo de caso:
No primeiro, o indivíduo enfocado não é digno de reconstrução biográfica pelo que
tem de singular, de excepcional, mas por sintetizar várias outras vidas; enfim, por
servir de passado para a apreensão de marcos mais amplos. (AVELAR,2012:69).
Mas na terceira geração dos Annales, a biografia volta a ganhar destaque, e passa a ser
vista como um trabalho histórico tão relevante como em outras áreas. O desenvolvimento da
história narrativa nas últimas décadas tem grande relação com o movimento de retomada da
função narrativa do discurso histórico (AVELAR,2012:70). Para Jaqques Le Goff, “a
biografia histórica deve se fazer, ao menos em certo grau, relato de narração de uma vida, ela
se articula em torno de certos acontecimentos individuais e coletivos – uma biografia não
événementielle não tem sentido”. (LE GOFF apud AVELAR,2012:71).
O redimensionamento dos estudos biográficos traz novas abordagens, a
individualidade fixa, coerente e unitária do espaço, a pluralidade de identidades, referenciais,
locais. Os indivíduos deixam de ser enquadrados em esquemas conceituais definidos e em
marcos teóricos pré-estabelecidos. A narração deixa de ser linear, a multiplicidade dos
indivíduos ganha destaque. Cada “personagem” biografado carrega uma gama enorme de
identidades, influências que não se esgotam com uma única representação. Portanto, é
necessário todo cuidado do historiador, para não construir uma narrativa que coloque seu
personagem em esquemas pré-definidos, construindo uma trajetória de regularidades e
permanências para seu biografado (AVELAR,2012:71).
É nesse mesmo período que a memória volta a ser valorizada na historiografia
contemporânea. Muito valorizada na Grécia antiga, a memória vai perdendo sua importância
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com a profissionalização da ciência histórica. Considerada muito subjetiva, a memória é
deixada de lado em prol de fontes “mais confiáveis” como os documentos oficiais.
Para Luisa Passerine, a memória nas histórias de vida, que incluem relatos de vida
pessoal e experiência histórica, é que são particularmente úteis para documentar
continuidades de vários tipos entre o período precedente e as escolhas feitas pelas narradoras
de sua vida(PASSERINE,2011:56).
Já para Daphne Patai, ao se trabalhar com memória e entrevistas, o passado é
inevitavelmente levado ao presente. E a história de vida de determinado individuo pode
tornar-se um componente essencial de identidade em dado momento. A memória, em seu
imenso depósito, evoca diferentes fatos, episódios e lembranças para diferentes entrevistas,
indagado por outro interlocutor, ou pelo mesmo, em momentos distintos, o entrevistado pode
evocar outras lembranças, fazendo com que cada entrevista seja única(PATAI,2011:30).
Sobre as dificuldades para realizar uma entrevista a autora diz:
Sempre existe o perigo de recriarmos o mundo que estamos tentando refazer, e é
exatamente difícil enfrentar esse desafio, precisamente porque as práticas rotineiras
nos cercam por todos os lados e a tendências de embuti-las em nossos projetos que
passam pela realidade comum, é quase irresistível. (PATAI,2011:28).
Portanto, as pesquisas biográficas contemporâneas e o as pesquisas relacionadas à
memória são fatores que ajudam na emergência da História Oral. Na medida em que seu
biografado e pessoas contemporâneas a ele estão vivos, o historiador tem a possibilidade de
realizar entrevistas com esses personagens, possibilitando assim que produza suas próprias
fontes.
Segundo Lucilia de Almeida Neves Delgado, a História Oral é um procedimento, um
meio, um caminho para a produção do conhecimento histórico. Traz duplo ensinamento, sobre
a época abordada no depoimento (passado) e sobre a época de produção do depoimento
(presente). É, então, uma produção de documentos e fontes, que é realizada com interferência
do historiador, onde se cruzam intersubjetividades e temporalidades (DELGADO, 2010:16).
A autora, tomando emprestado a interpretação de Benjamin(1994) sobre a memória:
[...] é contribuir para que as lembranças continuem vivas e atualizadas, não se
transformando em exaltação ou crítica pura e simples do que passou, mas, sim, em
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meio de vida, em procura permanente de escombros, que possam contribuir para
estimular a reativar o diálogo do presente com o passado. (DELGADO,2010:31).
Lucilia ainda destaca a mutabilidade da memória, e que ela sofre diversas influências
com o tempo. Elementos culturais, hábitos, crenças, experiências atuam nessa construção da
memória e na remodelação constante (DELGADO,2010). Mesmo com essas mudanças a
memória e as fontes orais possibilitam analisar as mudanças de fala durante a passagem de
tempo, entender o dito e o não dito, entender o porquê dos destaques e omissões durante o
depoimento.
Seguindo essa mesma linha, Ricardo Santhiago afirma que a História Oral se funda no
registro e na análise de documentação quase sempre original. É um processo interdisciplinar,
utilizado em diferentes áreas. Para ele, o olhar da História Oral é aquele que não exclui o
encantamento, o envolvimento, mas que incorpora rigor, dever, independência crítica
(SANTHIAGO,2009:28-29).
Partindo dessas três balizas aqui apresentadas – memória, biografia e História Oral –,
pretendo narrar a trajetória de Sérgio Ricardo, sua fase bossanovista, engajada e sua atuação
no cinema. Tentando, então, focar em outras imagens do artista, e não apenas à do Festival da
Record de 1967, no qual o cantor quebra o violão e lança sobre a platéia.
A bossa e o início da carreira
Na década de 1950, um novo gênero musical começa a surgir no Brasil. Essa música
moderna seria a Bossa Nova, que em 1958 estoura com o lançamento do LP de João Gilberto,
Chega de Saudade, considerado um marco na música brasileira. Marcos Napolitano atribui ao
trabalho de João Gilberto o papel de um possível sintetizador das principais influências
musicais no cenário cultural da época no Brasil. Dessa forma, figuraria como o difusor da
linha que passou a balizar aquilo que vinha sendo feito pela maioria dos integrantes da Bossa
Nova:
Dialogando com a tradição da música brasileira, João Gilberto incorporou a
bateria das escolas de samba de maneira inusitada: seu polegar reproduzia a
marcação do surdo – tangendo a primeira corda do violão –, enquanto os três
dedos médios “batucavam” as cordas inferiores como se fossem um tamborim. A
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orquestra do samba, produto de uma ancestralidade que vinha das senzalas,
passara pelo morro e chegara ao disco, transformando-se em um material de uma
performance minimalista que, a princípio, era sua negação, mas ao mesmo tempo
sua continuidade. (NAPOLITANO,2007:69).
A Bossa Nova traz para a classe média a intensificação do costume de comprar música
brasileira. Em 1959, apenas 35% dos discos vendidos eram de música brasileira; 10 anos
depois as cifras mudaram e 65% dos discos vendidos eram pertencentes à música brasileira
(NAPOLITANO,2007:68). Esse movimento de difusão engloba ainda os universitários
pertencentes à classe média, que logo assumiram grande importância, tanto no cenário
político quanto no musical. Não foram poucos os shows da Bossa Nova apresentados em
universidades, provocando cada vez mais a adesão de jovens interessados pela música
brasileira.
Segundo seus criadores, a Bossa Nova seria uma mistura de tradição e modernidade, a
junção de elementos do bolero, jazz e samba, uma mistura de gêneros com uma interpretação
mais contida, condizente com os lugares de início da bossa, apartamentos e barzinhos. A
Bossa Nova se torna, então, um movimento com todas essas características.
(NAPOLITANO,2007:67-70).
Nascido em Marília, estado de São Paulo, em 18 de junho de 1932, Sérgio Ricardo é
um dos participantes desse, então embrionário, movimento musical. Já morando no Rio de
Janeiro, o cantor foi pianista dos 18 aos 24 anos em casas noturnas. E participou assiduamente
das reuniões do movimento bossanovista na casa de Bené Nunes e no apartamento de Nara
Leão. (PACE,2010:27,53,63).
Pianista na noite, o cantor, já na RGE2, viu sua canção Bouquet de Isabel ser gravada
pala cantora Maysa, o que possibilitou uma ascensão ao artista, uma vez que Maysa era uma
das estrelas da gravadora. Para Ruy Castro, essa gravação que aproxima o cantor do
movimento bossanovista, entretanto, o autor destaca que Sérgio Ricardo já compunha de
forma moderna(CASTRO,1990:204).
Casou Maria,
2 Grava um Compacto Simples na gravadora RGE, no ano de 1957. De um lado a canção Vai Jangada(Geraldo
Serafim/Newton Castro), do outro lado Sou Igual a Você (Nazareno de Brito e Alcyr Pires Vermelho).
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Com Zé casou
Jogou o bouquet
Solteirona Isabel pegou
Isabel…
No seu quarto, sozinha e distante da gente,
Chorando,
Desfolha um bouquet.
Isabel ...
Toda vez que uma amiga casava,
Comprava um vestido se empoava pra ver
Se arranjava também casamento
Porque era um tormento viver sem ninguém
Mas o tempo passando esquecia
De dar-lhe algum dia
Um noivo também
E ela agora já sabe que a vida
Tornou-a esquecida
Por tudo e por “quem”
Isabel, diz num olhar esquisito
Num sorriso aflito :
- Pra que o bouquet
Pra que ?
E nervosa ela desce o decote
E ajusta um saiote pra forma se ver
E ajeita o cabelo pra frente
Que a faz de repente
Rejuvenescer
E ao sair olha o quarto calado
Onde fica um passado
E pelo chão
Um bouquet
Acabou Solidão De Isabel3
Essa canção, com moderna melodia, não traz a temática usual da Bossa Nova. A
canção faz uma crítica à sociedade machista, na qual a mulher só seria feliz se conseguisse um
casamento. Talvez esse seja o motivo que a canção clamou tanta atenção da cantora Maysa.
Casada com empresário de família rica paulista, a cantora deixou o casamento para seguir a
vida artística, carreira que seu então marido era contrário. O cantor afirma ainda que essa
canção é anterior à sua relação com o movimento bossanovista, e que essa música não
agradava a juventude Zona Sul, que fazia parte do movimento:
Olha, a importância é que eu passei a ser um sujeito conhecido, porque a música fez
sucesso, tocava muito no rádio e também era outra coisa... coisa social. Quer dizer,
diferenciava da bossa nova, mas surgiu antes da bossa nova. E então o pessoal não
3 Composição de Sérgio Ricardo. Gravado a primeira vez pela cantora Maysa, no disco Convite para ouvir
Maysa Nº2. RGE,1958.
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dava muita bola...O pessoal da bossa nova não dava muita bola para Bouquet de
Isabel não. Eles queriam eram Pernas, O Nosso Olhar, as minhas músicas mais
românticas, mais zona sul do Rio de Janeiro.(SÉRGIO RICARDO,2014).
Essa música possibilitou que Sérgio Ricardo ficasse mais conhecido, um ano mais
tarde é contratado pela gravadora Todamérica, onde lança seu primeiro Long Play Dançante
Nº1(1959) – disco apenas instrumental. Nos dois anos seguintes, contratado pela Odeon, lança
mais dois discos, esses já com música e letra. A Bossa Romântica de Sérgio Ricardo(1960) e
Depois do Amor(1961). O repertório dos discos deixa claro que a gravadora queria evidenciar
um artista vinculado ao movimento bossanovista, o disco de 1960 é autoral e inclui a já
sucesso na voz de Maysa, Bouquet de Isabel, e indica uma vertente engajada do artista com
destaque para a canção Zelão4, mas com modo de cantar e instrumental que marcam as obras
bossanovistas, já o LP de 1961 traz canção de outras artistas, muitos vinculados à Bossa
Nova, são eles: Roberto Menescal,Carlos Lyra, Johnny Alf, Vinicius de Moraes, Tom Jobim,
entre outros.
A Bossa Nova galgava cada vez mais espaço, mas em 1960 houve um racha no
movimento, uma briga entre Ronaldo Bôscoli e Carlos Lyra dividiu o movimento. Com Lyra
ficaram os irmãos Castro Neves, Alaíde Costa e Silvinha Telles, já com Bôscoli ficaram Nara
Leão, Roberto Menescal e Sérgio Ricardo, entre outros(CASTRO,1990:257).
Mesmo com o racha, artistas dos dois grupos participam do emblemático show no
Carnegie Hall, ocorrido em 21 de novembro de 1962, show que projetou a Bossa Nova para o
mundo, no qual Sérgio Ricardo cantou Zelão e Nosso Olhar. O cantor havia sido convidado
pela cônsul em Nova York, Dora Vasconcellos. Além de apresentar no Carnegie Hall, Sérgio
Ricardo exibiu seu curta Menino da Calça Branca no Festival de Cinema de São Francisco
(PACE,2010:64).
Sérgio Ricardo estava cada vez mais engajado em suas letras e trabalhos no cinema. O
artista frequentava reuniões no CPC(Centro Popular de Cultura), era próximo dos cineastas do
Cinema Novo, do teatro engajado, e foi um dos primeiros artistas da música a gravar canções
que tinham relação com o ideal do CPC. Esse engajamento do artista é o próximo tema
abordado.
4 O engajamento do artista será tratado posteriormente nesse artigo.
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CPC, engajamento
Em depoimento para sua biografa, Sergio Ricardo conta que foi a música Zelão que o
aproximou do CPC, o cantor, que na época trabalhava na TV Tupi como ator, foi levado pelo
colega Chico de Assis em reuniões do movimento cultural que vinha surgindo
(PACE,2010:67).
Todo morro entendeu quando o Zelão chorou
Ninguém riu, ninguém brincou, e era Carnaval
No fogo de um barracão
Só se cozinha ilusão
Restos que a feira deixou
E ainda é pouco só
Mas assim mesmo o Zelão
Dizia sempre a sorrir
Que um pobre ajuda outro pobre até melhorar
Choveu, choveu
A chuva jogou seu barraco no chão
Nem foi possível salvar violão
Que acompanhou morro abaixo a canção
Das coisas todas que a chuva levou
Pedaços tristes do seu coração.
Todo morro entendeu quando o Zelão chorou
Ninguém riu, ninguém brincou, e era Carnaval5
A música evoca explicitamente uma mazela social, a vida no morro, o barracão, o
drama do morador do morro que perde a casa durante uma chuva. Segundo o compositor,
Chico de Assis achava que Zelão tinha os mesmos ingredientes das propostas do CPC –
moderno com o social, e estimulou o artista a seguir outros rumos nas composições (até então
não tão vinculadas ao social) (PACE,2010:67).
Em A Canção no Tempo, Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello elegem as canções
que tiveram grande importância na música brasileira. Zelão é uma das sete músicas
destacadas por eles no ano de 1960. A canção foi feita inspirada em dois momentos, Zelão era
um negro forte de uns dois metros de altura, que trabalhava para seu tio como chofer de
5 Composição de Sérgio Ricardo. Gravada pela primeira vez no disco Não gosto mais de mim: a bossa romântica
de Sérgio Ricardo. Odeon, 1960.
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caminhão em Marília(SP). O segundo momento é, já no Rio de Janeiro, Sérgio Ricardo
impressionado com uma forte chuva que deixou muitos desabrigados, então resolve compor a
música. O cantor então transporta seu herói do interior para a favela carioca. Zelão, mesmo
sendo uma música de cunho social, foi inicialmente vinculada à Bossa Nova. O sucesso do
cantor na Bossa Nova possibilitou que ele financiasse seu primeiro Curta, Menino da Calça
Branca, que também tinha forte temática social (MELLO;SEVERIANO,2006:42). Cabe,
então, fazer uma explicação sobre o que seria o Centro Popular de Cultura (CPC).
Fomentando essa efervescência cultural do final da década de 1950, a UNE (União
Nacional dos Estudantes) criou o CPC (Centro Popular de Cultura). O grupo contava com
dezenas de artistas engajados (músicos, atores, poetas, cineastas, dentre outros), que optavam
pelo caminho de “ser povo”, o conceito usado por eles era de “arte popular revolucionária”.
Baseando-se nesse conceito, o artista e o intelectual deveriam assumir um compromisso de
“clareza” com o público, ou seja, falar do “povo” para o “povo”. Segundo Heloísa Buarque de
Hollanda, esse esforço poderia ser visto como uma forma de “adestramento”, a linguagem
intelectual travestida de povo teria aspecto ficcional. (HOLLANDA,1980:19).
Os CPCs rapidamente se espalharam pelo Brasil nos diretórios das universidades.
Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, entre outras cidades tinham seus grupos,
o que facilitava uma interação entre os estados e a difusão da cultura. Além disso, havia
unidades móveis do CPC, que viajavam pelo país, o que facilitava a divulgação dos trabalhos
realizados pelo grupo (RIDENTI,2000:108-110).
O artista popular revolucionário podia ser o indivíduo que morava na Zona Sul,
trabalhava, ganhava dinheiro, tinha família; mas, que via as mazelas sociais, como a vida na
favela. Sua ação política seria doutrinária por questão de honra. A ideia seria comover e
culpar: comover pela denúncia de miséria, narrando a vida do trabalhador; e culpar o sistema
desigual em que se vivia (HOLLANDA,1980:25-26). Mesmo considerado contraditório por
alguns setores, o CPC conseguiu um alto nível de mobilização nas camadas jovens artísticas e
intelectuais. Foram produzidos pelo grupo cadernos poéticos chamados violão de rua, nos
quais eram publicados poemas engajados, assim como o filme Cinco vezes favela que também
é uma produção do grupo, em que foram revelados os diretores Cacá Diegues, Joaquim Pedro
de Andrade, entre outros(NAPOLITANO,2014:22).
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Em o “Novo é o Povo”, um dos manifestos do CPC, ao afirmar que os artistas optaram
por ser “povo”, propõe eliminar barreiras entre artista e público. A arte cepecista partia, então,
da cultura popular a qual daria novos contornos e teria maior apropriação do público.
(COSTA,2014:35).
Sérgio Ricardo, que antes era ligado à Bossa Nova, fala da sua aproximação com o
grupo cepecista:
No CPC eu era sempre só convidado, eu era sempre convidado para show para cá e
show para lá. Eu nunca participei de discussões, não participei de nada. Na
verdade, eu participava mesmo era das discussões com o Cinema Novo. Tinha
uma certa diferença com o CPC porque o CPC era muito radical. E por exemplo, o
meu filme o Menino da Calça Branca que é uma temática social só porque tem um
lirismo de um garoto que ganha uma calça e não sei o que ele foi considerado
romântico, e o CPC não colocou o meu filme no Cinco Vezes Favela que eram
filmes “radicais”.
[...] É mas eu entendo que o CPC teve muita importância, porque ele pode espalhar
pelo Brasil através das universidades uma preocupação com a cultura brasileira
pelo lado social e tal que eu acho uma coisa muito importante o papel que ele
desempenhava. Só não gosto daquela radicalização. (SÉRGIO RICARDO,2014).
Nos dois trechos apresentados, podemos observar que os artistas eram convidados a
participar das discussões pelo CPC, entretanto, concordavam em maior ou menor grau com as
ideias do movimento. Exemplo disso é que Sérgio Ricardo, mesmo não concordando com o
radicalismo do movimento, participa de diversas ações promovidas pelo grupo. Há também de
destacar o processo da memória, o depoimento do cantor, gravado mais de cinco décadas
depois, passa por um processo de reedificação. O passado é espelhado no presente, e a
reconstrução dessa memória inclui ênfases, lapsos, omissões, esquecimento,contribuído pelo
que passou sob olhar do depoente (DELGADO,2010:16). Ao mesmo tempo, o artista destaca
o papel central do CPC, ao difundir pelo país a preocupação com a cultura brasileira, a
preocupação com falar para o povo e do povo. E essa preocupação com a cultura nacional
fazia com que os artistas, mesmo não pertencendo ao ambiente acadêmico, participassem dos
eventos promovidos em favor da difusão da cultura. Essa memória reconstruída passa por
diversos pontos, o artista teve seu curta-metragem excluído da produção do Cinco Vezes
Favela o que pode ter contribuído para um afastamento do movimento, entretanto, o nome do
artista está, por diversas vezes, citado em obras sobre o CPC.
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Como já ressaltado anteriormente, no início da década de 1960, Sérgio Ricardo
começa a frequentar as reuniões do CPC, o que colabora em um maior engajamento do seu
trabalho. Entre 1963 e 1964 ele compõe a trilha sonora do filme Deus e o Diabo na Terra do
Sol, de Glauber Rocha. As letras feitas por Glauber, baseado em um cordel, foram todas
musicadas por Sérgio Ricardo. Glauber Rocha ainda trouxe umas fitas do Nordeste para que
Sérgio Ricardo pudesse inspirar na hora das composições. Sérgio, ainda muito associado ao
gênero bossanovista, tinha uma interpretação contida, mesmo nas músicas de temática social,
o modo de cantar do gênero musical predominava.
Sobre a interpretação de Sérgio Ricardo na trilha do filma Glauber Rocha
diz:“Transformei o Sérgio em ator – gritei, ele ficou nervoso, deixou os preconceitos e soltou
a voz e os dedos no violão” (RICARDO;ROCHA,1963). O cantor ressalta a importância da
trilha do filme em sua carreira “A partir do filme de Glauber Rocha, Deus e o Diabo na Terra
do Sol, de uma pesquisa com uma série de discos que ele mandava e fitas que ele gravava no
sertão, fui tomando conhecimento dessa música Nordestina” (TERRA; CALIL,2013:179).
Ainda em 1964, Sérgio Ricardo recebe convite de Aloysio de Oliveira para gravar na
recém-lançada Elenco. A gravadora teve quase todos os nomes vinculados ao gênero
bossanovista, Vinícius de Moraes, Nara Leão, João Donato, Tom Jobim, Dick Farney, entre
outros passaram pelo quadro de artistas ligados ao selo Elenco (CASTRO,1990:337).
Mesmo estando dentro de uma gravadora predominantemente constituída de Bossa
Nova, o LP Sérgio Ricardo Um Senhor de Talento tem grande engajamento em suas letras, é
explicita a relação com temáticas populares, como pregava os manuais cepecistas. O disco,
então, aumenta a distância entre Sérgio Ricardo e a Bossa Nova.
Em entrevista ao jornal O Globo, o cantor renega a Bossa Nova, mesmo caminho feito
por Nara Leão quando rompe com o movimento. O cantor que havia feito pesquisas pelo
Nordeste brasileiro, fala de sua nova fase. O subtítulo desse trecho da reportagem é Negação,
e vem acompanhado do seguinte texto:
Sérgio Ricardo é, cada vez mais intensivo. Trabalha mais da metade do seu dia nas
músicas que apresenta, tendo viajado muito por esse Brasil afora, recolhendo
material com gravador de fita a tira-colo[sic] – Iniciei com uma fase romântica,
que alcançou algum sucesso artístico. Hoje nego essa fase como meio de
comunicação com o público. Mas, não nego: foi uma fase preparatória para a fase
na qual eu me encontro agora. E é negando essa minha fase romântica que eu nego,
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também, todo o movimento da Bossa Nova e seus símbolos mais representativos,
mesmo respeitando relativamente seus valores estéticos. Faço uma exceção: João
Gilberto. E só.(O GLOBO, 1966).
Fica evidente que, para o engajamento do cantor, o rompimento com a Bossa Nova
teria de ser explicito. Nascido na Zona Sul carioca, o movimento era tudo que o CPC
rechaçava, elitista, com melodias elaboradas e letras que falavam de sol, amor, céu, que não
trariam nenhuma mensagem política, nem identificação com as camadas populares. Portanto,
romper com o movimento pela imprensa é deixar claro de que lado estava, é uma atitude
política, em um momento que a ditadura cerceava as liberdades no país.
O engajamento de Sérgio Ricardo não ocorreu apenas na área musical, o artista
produziu filmes com temáticas e estéticas bem similares às pregadas pelo CPC. Suas películas
cinematográficas são bem próximas com as produzidas por cineastas ligados ao Cinema
Novo, mesmo produzindo no mesmo período que esses cineastas, tendo ideal estético e
engajamento semelhante, e ainda produzindo trilhas para outros cineastas. O cantor, por
muitas vezes, não é citado em obras que falam sobre o Cinema Novo.
Sérgio Ricardo e o Cinema
Durante sua carreira Sérgio Ricardo transitou por várias áreas da cultura, o cinema é
uma delas. Como destacado anteriormente, sua primeira incursão no cinema, como diretor, foi
dirigindo e produzindo o curta Menino da Calça Branca(1961). O filme fala de um menino
morador da favela, que tem como sonho ganhar uma calça branca. Além da pureza infantil em
um ambiente hostil, o filme aborda a vida na favela, com o realismo do cinema novo, focando
nas construções de barracões da favela, e nas mazelas na vida do menino e de outros
moradores da favela.
Já em 1964, Sérgio Ricardo lança a película Esse Mundo é Meu. O longa-metragem
aborda a vida de dois trabalhadores moradores do morro carioca. De um lado um engraxate
que sonha em comprar uma bicicleta, do outro um operário que luta por melhores condições
de trabalho, enquanto tenta dissuadir a mulher de abortar, pois não tem dinheiro para dar boa
vida ao filho.
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Juliana do Amor Perdido foi lançado no ano de 1970, o filme aborda a vida dos
pescadores do litoral, explorados por um estrangeiro que paga pouco pelo produto obtido por
eles. Aborda ainda o trem como forma de circulação de informação (consciência). E ainda a
santificação da filha do chefe dos pescadores, que serviria para afastar os homens do assedio à
sua filha.
O filme de 1974 é A Noite do Espantalho, um cordel que mistura o realismo fantástico
com elementos do cotidiano do camponês. Um dragão quer comprar as terras do coronel, mas
sem os camponeses, esses, por não ter para onde ir, organizam uma resistência e são atacados
pelos jagunços6.
A discussão sobre esses filmes não será aprofundada nesse artigo, as sinopses
apresentadas têm como objetivo explicitar que o engajamento de Sérgio Ricardo se deu em
outras frentes, não apenas nas músicas, mas no cinema, em trilhas de filmes de outros
diretores, trilhas de teatro e atuação em teatro.
Como observado no pequeno resumo sobre os filmes, todos tratam de temáticas
sociais, mesmo após a extinção do CPC (pela ditadura militar), em 1964, os seus ex-
integrantes, ou simpatizantes, continuaram levando adiante seus ideais.
Em todos os filmes os protagonistas fazem parte da camada popular brasileira, são
trabalhadores explorados, vivem em condições simples, muitas vezes de forma desumana. As
locações das filmagens são também em locais onde habitam pessoas simples. O filme A Noite
do Espantalho foi gravado em Nova Jerusalém, interior de Pernambuco. Sérgio Ricardo fez
questão de trabalhar com atores oriundos da região nordeste, que muitas vezes não tinham
destaque nas produções do eixo Rio-São Paulo. Ainda contou com a população do lugar como
figurante (O GLOBO, 1973). Fica evidente então que seu trabalho, em diferentes vertentes
das artes é permeado pelo engajamento e crítica social.
Sérgio Ricardo Hoje
6 As sinopses dos filmes citados, têm como referência os DVDs com a obra cinematográfica de Sérgio Ricardo.
Lançados pela Lume Filmes, em 2013.
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A imagem cristalizada do cantor Sérgio Ricardo pela grande mídia, é a do artista
quebrando o violão no palco e arremessando na platéia, no terceiro Festival da Record, em
1967. Entretanto, esse é apenas um aspecto entre tantos dentro da carreira do artista. Mesmo
depois desse episódio o artista continuou participando de outros festivais(MELLO,2003).
Essa imagem cristalizada do cantor pode ter ocorrido, pois o audiovisual altera
também a memória social. Muitas vezes “forçando” a lembrar de determinado
ato/acontecimento(HAGEMEYER,2012:55). A cena dos festivais é uma das poucas que
sobreviveu ao incêndio no arquivo da Record. Ao fazer uma pesquisa no YouTube7, apenas
dois vídeos antigos (entre 1960 e 1980) de apresentações de Sérgio Ricardo na televisão são
encontrados. O primeiro do festival já citado, e o segundo é do Festival da Record de 1968,
cantando a canção Dia da Graça. Dois fatores podem ter colaborado para a ausência de
imagens antigas do artista, a primeira é a falta de conservação dos arquivos das emissoras,
muitos sofreram severas avarias, como o da Record que já sofreu com incêndios algumas
vezes; além disso, esses arquivos são, muitas vezes, inacessíveis ao público e pesquisadores,
ficando nos acervos das emissoras, o que inviabiliza a circulação e difusão. O segundo motivo
foi à censura que o artista sofreu, por ser um cantor engajado, que expunha suas posições
políticas. O artista então acabou em uma “lista negra”, que relacionava o nome de alguns
artistas que deviam ser evitados.
E aí é complicado você conseguir uma gravadora. Porque como é que é? Você não
vai tocar no rádio e se você não vai tocar no rádio você não serve para a gente. E aí
também não procurei muito não, como eu vi que tinha esta proibição eu fiquei na
minha.
Inclusive na televisão. E aí eles com medo não reformularam aquilo e está até hoje.
Você não me vê na televisão, você nunca me vê na televisão, é raro. Você pode me
ver na TV Brasil, Canal Brasil e estas coisas.(SÉRGIO RICARDO, 2014).
Na entrevista, em um primeiro momento fala da dificuldade de conseguir uma
gravadora entre 1967 e 1971, e depois que essa proibição tem resquícios até os dias de hoje,
uma vez que não houve ainda uma abertura para o artista na grande mídia.
Mesmo sem muito espaço na grande mídia, grande parte dos discos do cantor foi
relançada em CD nos últimos anos pela gravadora Discobertas. Os quatro filmes mencionados
7 As pesquisas no YouTube foram realizadas entre os meses de março e abril de 2016.
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saíram em DVD. Possibilitando uma maior circulação dos produtos feitos pelo cantor durante
sua carreira.
Sérgio Ricardo continua na ativa, fazendo shows, produzindo filmes. Sempre
trabalhando de forma engajada, de maneira que exponha as mazelas sociais. O cantor, que há
três décadas mora no morro do Vidigal, fez da sua carreira uma forma de expor para o mundo
o drama dos menos favorecidos.
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Jornais e Revistas
Sérgio Ricardo: Compositor Nega a Bossa Nova. Jornal O Globo. Rio de Janeiro, 19 de agosto de
1966.
Sérgio Ricardo filma um musical trágico em Nova Jerusalém. Jornal O Globo, 03 de agosto de 1973.
Entrevistas
Entrevista concedida pelo cantor e compositor Sérgio Ricardo a Daniel Saraiva, na cidade do Rio de
Janeiro, em 20 de agosto de 2014.
Filmes
RICARDO, Sérgio. Menino da calça branca, 1961.
RICARDO, Sérgio. Esse mundo é meu,1964.
RICARDO, Sérgio.Juliana do amor perdido, 1970.
RICARDO, Sérgio.A noite do espantalho, 1974.
Fontes discográficas
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RICARDO, Sérgio. Não gosto mais de mim- A Bossa romântica de Sérgio Ricardo. Odeon, 1960.
RICARDO, Sérgio. Depois do Amor. Odeon, 1960
RICARDO, Sérgio. Sérgio Ricardo um SR. talento. Elenco, 1967.
RICARDO, Sérgio; ROCHA, Glauber. Deus e o Diabo na Terra do Sol. Forma, 1963.