UM VETERINÁRIO

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Um Veterinário, 50 anos com muitos animais na selva de gente Uma seleção de histórias e imagens

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Ser Veterinário é ouvir miados, mugidos, balidos, relinchos e latidos. Mas, principalmente, entendê-los e amenizá-los. É gostar de terra molhada, de mato fechado, de luas e chuvas. Ser Veterinário é não se importar se os animais pensam, mas sim se sofrem...

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Um Veterinário, 50 anos com

muitos animais na selva de gente

Uma seleção de histórias e imagens

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São Paulo 2012

Um Veterinário, 50 anos com

muitos animais na selva de gente

Uma seleção de histórias e imagens

Carlos Alberto Ferreira Andre

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Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________A573v Andre, Carlos Alberto Ferreira Um veterinário, 50 anos com muitos animais na selva de gente : uma seleção de histórias e imagens / Carlos Alberto Ferreira Andre. - São Paulo : Baraúna, 2011. ISBN 978-85-7923-395-1 1. Andre, Carlos Alberto Ferreira. 2. Veterinários - Brasil. 3. Crônica brasileira. I. Título: Um veterinário, cinquenta anos com muitos animais na selva de gente. II. Título.

11-8098. CDD: 869.98 CDU: 821.134.3(81)-8

30.11.11 07.12.11 031818 ________________________________________________________________

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Agradecimentos

Esta coletânea só pôde ser feita com a colaboração dos meus pacientes, os amigos ditos irracionais. A todos eles, eu dedico este pequeno conjunto de histórias e fotos. Especialmente aos cativos por captura e aos que nascendo em cativeiro, no Zoo, e em criadores, nunca conheceram a liberdade, coisa tão exigida pelos humanos, a espécie da-ninha da natureza.

Muito obrigado também aos humanos, que não quiseram ajudar, ou não puderam, e aos que não conseguiram atrapalhar.

É impossível não fazer o agradecimento que se segue: num dia que não me lembro qual, certamente num mês an-tes das festas juninas em 1944, quando eu tinha seis anos de idade, acordei e não consegui ficar de pé. Cai no chão do quarto. Não conseguia entender o que estava ocorrendo, mas logo que o médico da família me examinou, fui acordando para a verdade. Nos comentários sussurrados vazou a expres-são que passou ser minha companheira: “paralisia infantil” (depois, poliomielite).

Felizmente essa palavra terrível, recebeu uma expres-são fabulosa que também me acompanha até hoje, aparen-

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temente sem pé nem cabeça — “PÉ NÃO É CABEÇA!”, que sobrepujou aquela terrível doença, na época sem vacinas. Quem teve esta iluminada frase foi minha inesquecível mãe, repetida por meu pai, e que eu assimilei, por sua repetição e principalmente por sua incontestável verdade. Por isso tudo estou aqui podendo dizer, também por isso, obrigado, meu pai, obrigado, minha mãe.

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Introdução — O Livro

Este livro não tem a pretensão de ser uma autobiogra-fia. Ele é uma coletânea aleatória de narrativas seleciona-das. Crônicas de casos ocorridos na minha vida acadêmica e profissional até a aposentadoria. São relatos, fotos, dese-nhos ilustrando as minhas lembranças.

Alguns casos são dramáticos (felizmente poucos), ou-tros engraçados e até sem graça, mas todo deixaram marcas impressionantemente vivas em minhas lembranças, como se tivessem ocorrido na véspera de quando foram escritas e agora na revisão dos textos.

Por sugestão de alguns amigos, mesclei alguns textos, como os “destaques “, e o “você sabia”, e” notas sobre algu-mas espécies”, e “curiosidades animais”, e sobre casos ocor-ridos no Zoo. Os casos anotados na “selva de gente” têm alguma relação com pessoas que se ligaram ao meu traba-lho, e que se mostraram por alguma razão, com um padrão particular, sendo “verdadeiras feras”.

Não pude fugir de colocar alguns dados técnicos, ne-cessários, mas estão dissolvidos nos textos gerais para me-lhor compreensão do que tento contar, procurando não ser

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enfadonho. O dia a dia destes 50 anos de lida com animais, e seus donos, com muita saudade é o que pretendo com esta singela obra.

Espero que gostem e que possa servir para a preser-vação do meio ambiente, e dos nossos irmãos chamados irracionais e de nós mesmos.

Carlos Alberto Ferreira AndréVeterinário CRMV-RJ-0598

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Meu currículo informal

Para quem não me conhece, ou pensa que conhece, aí vai o currículo organizado ao meu jeito.

Sou Carlos Alberto Ferreira André, conhecido nas lides profissionais como Doutor André, um Carioca, Tijucano, hoje com 73 aninhos vividos de forma plena, que só acredito por-que sou a única testemunha.

A rua onde nasci, na Tijuca, bairro do Rio de Janeiro, fica aos pés do Morro do Salgueiro. Meu saudoso pai era um peque-no comerciante do lugar, numa loja denominada Mercadinho Brasil, e a minha mãe, não menos saudosa, era professora Mu-nicipal numa escola denominada Escola Heitor Lira, numa rua chamada Rua Junquilhos, acesso principal do morro, continua-ção da Rua General Roca que, atravessa a Praça Saens Pena, e a Rua dos Araujos, onde nasci.

Na Escola onde a mãe trabalhava, estudaram grandes sam-bistas. Naquele tempo, no morro havia três Escolas de Samba, onde eu era figurinha fácil, que ficou difícil, quando fui morar na Universidade Rural, para estudar Veterinária, e nesta época, é que foi criada a Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, pela união de membros das três que existiam, e que depois terminaram.

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Aprendi a ler em casa com minha mãe, porque tinha di-ficuldades para ir para a escola, por causa da poliomielite que adquiri com 6 anos de idade, mas no segundo ano, minha mãe, forçou a barra e eu fui para uma escola Municipal, próxima à rua Enes de Souza, a Escola Prudente de Moraes, onde fiquei até 1950, quando prestei provas de admissão ao ginásio, no Colégio Batista,a Rua José Higino.

Neste colégio, fiquei até o terceiro ano científico, quando na formatura fui orador de turma, e ai então prestei vestibular para a Escola Nacional de Veterinária. Logo no primeiro ano fui con-vidado para estagiar e depois ser monitor da Cadeira de Zoologia Médica e Parasitologia, até quando parei para poder fazer estágios fora da Universidade.

Fui diplomado em 17 de dezembro de 1961, achando que já era Veterinário. Aí sim começou a minha vida, porque fui convidado para ficar trabalhando no Hospital Veterinário da Escola, um verdadeiro prêmio. Minha ação era no aten-dimento dos pacientes e como responsável pelo serviço de radiologia. Trabalhei e estudei muito, e aprendi mais ainda com os professores verdadeiros luminares da Veterinária. De-pois de alguns anos fui chefe deste hospital, e após concurso de títulos e provas fui Instrutor de Ensino Superior, primeiro cargo da carreira de magistério. Substitui o Catedrático, que eleito Reitor da Universidade, não dispunha de condição de gerir o curso de Clinica Médica para o terceiro ano da Escola, mas aparecia de surpresa para ver se tudo ia como ele deter-minara e sempre fiscalizava.

Fora da Rural, ainda quando estava no terceiro ano esta-giei no Hospital Humano do Iaserj, da Prefeitura do RJ onde aprendi a essência da técnica e diagnostico e aprimorei e apli-quei no Hospital Veterinário Octavio Dupont do Jockey Clu-be Brasileiro. Com esta experiência prestei provas no Serviço

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de fiscalização da Medicina e Profissões afins, onde aprovado, obtive o Certificado de Operador de Raios X.

Ainda encontrava tempo para viver, e exercer a clíni-ca particular, em domicílio e no consultório que mantive numa loja agropecuária e depois no meu primeiro consul-tório particular, em Campo Grande e bairro daqui do RJ. Lá além dos domésticos clássicos, atendia propriedades ru-rais onde criavam animais de interesse econômico.

Fiz concurso para Veterinário da prefeitura do RJ duas ve-zes, ambas aprovado. No primeiro não pude tomar posse por não poder acumular cargo com o que tinha na Rural. Depois de um tempo fiz o segundo, e ai, fiz a opção exaustivamente pensada de deixar saudosamente a Rural, e vir para onde eu queria o Jar-dim Zoológico do Rio de Janeiro. A dificuldade é que na Rural, trabalhando e estudando foram quase dezoito anos, uma vida, e onde deixei muitos amigos, onde aprendi a ser Veterinário.

Ilustração 1

Foto para formatura, quando achava que já era veterinário

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Na Prefeitura do Rio de Janeiro, consegui ser locali-zado no Jardim Zoológico da Quinta da Boa Vista, porque ninguém entre os aprovados queria ir para lá, porque eu achava um prêmio, e os outros um desafio, e era, mas era o que eu queria.

A experiência que trouxe da Rural, mostrava-se peque-na, diante das peculiaridades dos serviços desenvolvidos lá, face à diversidade dos habitantes. Felizmente me adaptei rá-pido e pude estudando muito, cumprir o que eu creio que os animais esperavam de meu desempenho profissional e huma-no. Lá no ZOO, fui subchefe do Serviço de Veterinária, ra-diologista, clínico, cirurgião, diretor-geral, superintendente, e diretor-técnico, quando o Zoo foi transformado em Funda-ção. Foi um período de intensos e emocionantes momentos profissionais, e lá fiquei por vinte anos.

Neste período, concomitantemente, fui veterinário na TV Globo, como responsável pelos animais artistas da novela infantil denominada Sítio do Pica-Pau Amarelo, baseada na obra de Monteiro Lobato, e onde também produzia algumas sinopse sobre animais, a pedido da produção para apoio do redatores dos scripts. Além de manter um plantel de Rabicós, a vaca Mocha, o Burro falante etc., assessorava algumas cenas onde eles trabalhavam, a pedido do diretor.

Ainda sobrava um tempinho nesta época para ser consul-tor para assuntos de Fauna para a Companhia Sondotécnica de Engenharia, que estava construindo duas usinas Hidrelétri-cas no Brasil Central, a de Manso e a de Samuel.

Um dia, no Zoo deixaram a jaula que eu ocupava, aberta, e eu sai para me aposentar, a e após por motivos de saúde, fechar o Consultório em Vargem Pequena, contando coisas de uma vida profissional que considero plena, com dever cumprido.

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Verdadeiramente se tivesse menos idade, mais saúde, fa-ria tudo outra vez, porque tempo eu tenho, e faria, corrigindo alguma falha.

Trabalhei em todos os bairros do RJ e em alguns Estados, onde deixei grandes amigos que me induziram a escrever estes artigos e publicá-los.

Aqui estão, antes porém lembro a seguir das imagens dos logotipos que me acompanharam, participando dos cabeça-lhos de meus receituários e demais impressos dos locais de tra-balho. Foram criados por mim, e as legendas contarão as ideias que levaram até sua criação:

1— Escudo da Medicina 2— Logo da Veterinária São Jerônimo 3— Logo do Consultório

Veterinária Jerônimo

O logo 2, adapta o escudo profissional, as letras, envolto no hexágono do escudo original, e o do consultório, o hexágo-no, forma o C de consultório. A constante é sempre a cobra, formando o S de São.

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Abaixo o logo que usamos em cartões de visita e em demais documentos de divulgação, uma caricatura do nosso inesquecível Bochecha, desenhado para ser lustração de um cartão natalino.

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Ser Veterinário

Ser Veterinário não é só cuidar de animais.É, sobretudo, amá-los, não ficando somente nos padrões

de uma ciência médica.Ser Veterinário é acreditar na imortalidade da natureza.É querer preservá-la sempre mais bela.Ser Veterinário é ouvir miados, mugidos, balidos, relin-

chos e latidos. Mas, principalmente, entendê-los e amenizá-los.É gostar de terra molhada, de mato fechado, de luas e chuvas.Ser Veterinário é não se importar se os animais pensam,

mas sim se sofrem.É dedicar parte de seu ser à arte de salvar vidas.Ser Veterinário é aproximar-se de instintos.É perder medos.É ganhar amigos de pelos, penas e *escamas, que jamais

irão decepcioná-lo.Ser Veterinário é ter ódio de gaiolas, jaulas e correntes.É passar um tempo enorme apreciando rebanhos e voos

de gaivotas.É permanecer descobrindo, através dos animais, a si mesmo.