Uma Abordagem Empreendedora

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GERENCIAR IDÉIAS: UMA ABORDAGEM EMPREENDEDORA PARA PROJETOS INTERDISCIPLINARES

Anderson Antônio Mattos Martins, M. Sc. * Andréa Martins Andujar, M. Sc. * Chames Maria Stall ivieri Gariba **

Edis Mafra Lapoll i, Dr. *** Fernando Augusto Gauthier, Dr. ***

Glaycon M ichels, Dr. *** Maurício Gariba Júnior, M. Eng. *

Paulo Roberto Weigmann * Waléria Külkamp Haeming *

* Escola Técnica Federal de Santa Catarina Av. Mauro Ramos, 950, Fpolis/SC

[email protected] ** Prefeitura Municipal de Florianópolis

[email protected] *** Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção - PPGEP

UFSC, Campus Universitário, Fpolis/SC [email protected]

RESUMO O presente artigo trata de projetos interdisciplinares numa perspectiva empreendedora, apontando a necessidade de uma educação voltada para o desenvolvimento de competências, ou seja, mais flexível, abrangente e poli valente em consonância com o mundo do trabalho em que a versatili dade e a adaptabili dade permeiam todas as ações individuais e coletivas. Parte-se de uma reflexão sobre o papel da educação no tocante às mudanças na sociedade. Em seguida, enfoca-se o que são projetos interdisciplinares e as competências que eles requerem. Na seqüência, apresenta-se uma visão de competências empreendedoras e suas implicações neste processo social de mudanças. Também, considera-se a importância de modelos de ensino pautados no desenvolvimento de competências requeridas pela cidadania, fazendo-se uma analogia àquelas exigidas para um perfil empreendedor. Por fim, conclui-se que essa articulação se evidencia como forte alternativa para uma oferta de ensino adaptado ao mundo contemporâneo.

PALAVRA S-CHAVE: Projetos Interdisciplinares, Empreendedorismo, Competências.

INTRODUÇÃO

A educação tem por finalidade contribuir para a formação do homem pleno, inteiro, uno, que alcance níveis cada vez mais competentes de integração das dimensões básicas - o eu e o mundo - a fim de que seja capaz de resolver-se, resolvendo os problemas globais e complexos que a vida lhe apresenta e que seja capaz também de, produzindo conhecimentos, contribuir para a renovação da sociedade e a resolução dos problemas com que os grupos sociais se defrontam. Essa interligação se caracteriza como fundamental na orientação do trabalho de recuperar a dinâmica das relações recíprocas do próprio sujeito do conhecimento consigo mesmo, com seus semelhantes, com o produto social do seu trabalho e com a natureza de modo que se veja como ser global e em relação.

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Há a necessidade dessa preocupação em todo processo educativo: o desenvolvimento das competências básicas tanto para o exercício da cidadania quanto para o desempenho de atividades profissionais. Assim, “a capacidade de abstração, do raciocínio, da criatividade, da curiosidade, da resolução de problemas diversos, da capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do desenvolvimento do pensamento crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimento” cada vez mais se fazem necessários na formação do aluno, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM). Concomitantemente, não há como negar: profissionais bem preparados para enfrentar os desafios de economias globalizadas e competitivas dependem da formação a que eles foram submetidos. Também a construção da cidadania implica domínio de novos códigos e linguagens, incorporação das sofisticadas ferramentas da ciência e da tecnologia, entendimento de conceitos sociológicos e apropriação da cultura traduzida em competências e habili dades específicas. No Brasil e em outros países do mundo, a partir da década de 80, o avanço científico e tecnológico fez surgir novas tecnologias que passaram a ser utili zadas com intensidade. Começou-se a eliminar empregos antes oferecidos em função dos processos de automação e produção. Ao mesmo tempo, surgem novos modelos gerencias, dando início a novas práticas administrativas nas empresas, a exemplo do “enxugamento de estruturas” o que contribuiu sobremaneira para a redução dos postos de trabalho. Características como: autoconfiança, habili dade em assumir riscos, flexibili dade, forte necessidade de realização pessoal e desejo forte de independência permeiam o perfil do indivíduo (re)desenhado para esse novo cenário social. A questão que se coloca frente a essa realidade é: de que forma a escola pode se adequar às reais necessidades deste mundo da produção e também, da ética e da cultura? Para que se vislumbrem soluções para esse desafio, é necessário analisar um aspecto crucial: as competências requeridas para o exercício da cidadania e para a sobrevivência no mundo do trabalho estão em consonância com aquelas delineadas no currículo escolar? Construir sentidos com base no conhecimento é o grande desafio para as novas modalidades de ensino e um caminho para essa construção é a pedagogia de projetos. Projetos de estudo ou de trabalho que integram várias disciplinas, tradicionalmente consideradas “extracurriculares” , deverão tornar-se mais do que nunca “curriculares” . Isso implicará uma sintonia entre currículo e conhecimento contemporâneo, em conseqüência, haverá o atrelamento da realidade à escola. A proposta do trabalho por projetos está vinculada à perspectiva do conhecimento globalizado, essa característica a remete para o enfoque empreendedor, não apenas no sentido restrito de montar um negócio próprio, mas, acima de tudo, na acepção de possibili tar ao aluno localizar-se e empreender-se a si próprio, na economia e na sociedade em permanente transformação. Para que melhor se visualize essa conexão, é mister analisar os fatores que envolvem esse atrelamento: projetos interdisciplinares e empreendedorismo e, em seguida, perceber as competências requeridas para o sucesso de ambos.

PROJETOS INTERDISCIPLINARES: UMA EDUCAÇÃO DINÂMICA E DIALÉT ICA

É preciso pensar as questões do ensino considerando as conseqüências graves da fragmentação dos saberes e da incapacidade de articulá-los uns aos outros. Torna-se fundamental também problematizar a aptidão para contextualizar esses saberes e integrá-los a uma concepção global.

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Segundo MORAN (2000), “há inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os saberes separados, fragmentados, compartimentados entre as disciplinas e, por outro lado, realidades ou problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais, planetários.” Convém considerar, além disso, que todas as tentativas de inovar em estratégias de ensino mostram que o princípio norteador para uma (re)organização deve ser aquele que liga os saberes e lhes dá sentido. Nesse contexto desponta a organização curricular através de Projetos de Trabalho, que buscam a estrutura cogniscitiva, o problema eixo; que veiculam os diferentes saberes os quais confluem num tema para facili tar o estudo e a compreensão por parte dos alunos. Essa estratégia de ensino abre as portas para a aprendizagem significativa, contextualizada em que a criação, administração e compartilhamento de idéias dão respostas inéditas, criativas e eficazes ao ato de aprender. Os projetos desencadeiam um novo olhar para o fazer pedagógico. Isso se constata em HERNANDEZ (1998), define projeto como: “a denominação de uma prática educacional que está sendo associada a algumas propostas de reforma no Brasil. Tais reformas pretendem favorecer mudanças nas concepções e no modo de atuar dos professores, na gestão das instituições de ensino e nas próprias funções da escola. Os projetos aparecem como veículo para melhorar o ensino e como distintivo de uma escola que opta pela atualização de seus conteúdos e pela adequação às necessidades dos alunos e dos setores da sociedade aos quais cada instituição se vincula”. Quanto a projetos interdisciplinares HERNANDEZ (1998) sustenta que: “existem muitos caminhos para o pensamento complexo e , por isso, modos de organizar e estudar os conteúdos (que não são “ objetos” , e sim modelos de significado). O que leva a considerar que o melhor para ensinar seja através da pesquisa, observando os diferentes contextos sociais de procedência dos estudantes e os caminhos ou estratégias que podem usar para questioná-los, estabelecer relações e criar novas perguntas” Quando se fala em projetos a primeira questão que vem à tona é “ inovação” e vem o questionamento: os projetos são uma novidade ou uma adaptação? No início do século XX, mais precisamente em 1918, Dewey , Kilpatrick e Elisabeth Parkhurst já enfrentavam esse desafio. Já Bruner nos anos 60, tinha a proposta de que o ensino deveria preocupar-se em facili tar para os alunos conceitos-chave vinculados às estruturas dos conhecimentos. Stenhouse nos anos 70, tomou como importante a aprendizagem a partir de situações- problemas, vinculada ao contexto da aprendizagem, situando os alunos para que aprendessem em relação à(s) cultura(s) nas quais os conhecimentos tiveram origem. Das linhas educativas da década de 80, temos a visão construtivista sobre a aprendizagem em que o aluno exerce uma influência na forma como ele adquiri um novo conhecimento. Em 1993 McClintock considerou que a educação precisaria ser repensada, em relação a valores sociais e conhecimentos disciplinares - aspectos que cada vez mais vêm sofrendo modificações - e que a escola de hoje é reflexo do século XIX com alternativas enraizadas no século XVII . Da tradição do início do século, HERNANDEZ (1998), compartilha a importância de partir de uma situação problemática, favorecendo um processo de aprendizagem que esteja vinculada ao mundo de fora da escola oferecendo uma alternativa para a fragmentação das disciplinas. De qualquer forma, é necessário reiterar que os projetos supõem, em debates e experiências, uma abordagem do ensino que procura redefinir concepções e práticas educativas, dando respostas às mudanças sociais, vivenciadas pelos alunos e não uma proposta do passado atualizada. A função do projeto, segundo HERNANDEZ (1998), “é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação ao tratamento da informação e os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses” . Este mundo emite sinais de que um colecionador de informações, alguém que decora, memoriza, copia tende a ter baixa aceitação,

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ocupando posições subalternas. O trabalhador dever ter um perfil de quem sabe lidar com imprevistos, aprender com rapidez, ser autônomo e flexível. Essa realidade faz repensar o papel do educador na relação com seu aluno e a construção de conhecimentos, na transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio. Segundo LÜCK (1999), “ a educação, enquanto se propõe a formar o cidadão para viver uma vida em sentido mais pleno possível, de modo que possa conhecer e transformar sua situação social e existencial marcada pela complexidade e globalidade, mostra a necessidade de adotar o paradigma da interdisciplinaridade”, que é a base da pedagogia de projetos aqui enfatizada. A interdisciplinaridade vem cada vez mais ao encontro de modelos educacionais voltados aos novos formatos das relações de trabalho. A superação da fragmentação no contexto de ensino provoca ações educativas que contribuem para a formação de jovens e adultos, de modo que possam enfrentar os problemas das mais diversas ordens, com se defrontam e defrontarão como cidadãos em uma sociedade cada vez mais polivalente e globalizada. Isso porque a aquisição de conhecimentos e habili dades não pode acontecer de forma isolada e descontextualizada. A falta de contato do conhecimento com a realidade faz com que se produzam verdadeiros mosaicos de informações, de conhecimentos paralelos, desagregados uns dos outros e, até mesmo, antagônicos. A interdisciplinaridade surge como uma ferramenta para a reorganização do modo de produção e elaboração do conhecimento, de forma que se diminuam as distâncias estabelecidas entre o homem e o conhecimento que produz, dessa forma estabelecendo a unidade entre todo o conhecimento produzido, com vistas a uma necessária contextualização. Assim, problematiza-se o fazer pedagógico e contribui-se para a formação de pessoas capazes de se defrontarem com problemas no seu ambiente cultural e natural, ou seja, transforma-se o educar em ação dinâmica e dialética, visando desenvolver entre seus participantes a consciência da realidade humana e social, da qual a escola faz parte na perspectiva globalizadora. O problema assim posto ratifica a adoção do enfoque interdisciplinar para orientar a prática pedagógica, o que implica romper hábitos e acomodações, implica buscar algo novo e desconhecido. É, certamente o grande desafio. A prática interdisciplinar centra-se no construir o conhecimento em estreita e íntima interconexão com a vida e intercomunhão com seres. As representações que os indivíduos fazem de sua realidade, e como sobre ela agem, tornam-se o foco e a práxis do trabalho. Nessa perspectiva, os projetos interdisciplinares segundo NOGUEIRA (1998), “surgem como fontes de criação que passam por processos de pesquisa, aprofundamento, análise depuração e criação de novas hipóteses, colocando em evidência as potencialidades dos elementos de uma equipe” e, portanto, fazendo com que a escola rompa com as barreiras que a alienam do cenário social. O trabalhar por projetos insere-se num contexto de flexibili dade e dinamismo, já que propicia riqueza de estímulo no processo de elaboração, permite diversas formas de aprendizagem, lida com o erro de forma construtiva, enfim, possibili ta ampliar muitas competências necessárias às exigências do mercado e da sociedade como um todo. A metodologia de projetos interdiscplinares desencadeia no aluno atitudes que o prepararão para o enfrentamento da vida e para a intercomunhão com os seres. Além disso, a autonomia, perpassa as atividades dessa estratégia de ensino, na medida em que o professor passa a ter uma nova figura. É aquele que mostra, facili ta os caminhos corretos, fazendo com que os alunos se interessem pela pesquisa e pelo saber, ou seja, ele é o intermediário entre o estudante e o conhecimento. Dessa forma, vê-se nitidamente uma quebra de paradigmas no fazer pedagógico em que o saber passa a ser conseqüência do ser. Professor e aluno revêem conceitos que regem a realidade nas relações de trabalho, bem como

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(re)lidam com fatores de natureza cultural, tais como: valores, atitudes, comportamentos e visão do mundo. Assim sendo, o sucesso da aprendizagem está atrelado ao comportamento, os alunos geram seu conhecimento mobili zados pelo professor, na construção de seus métodos próprios de aprendizado, na tomada de decisões, no traçar planos, no desencadear da proposta delineada. Assim concretizada, educação e sociedade estão imbricadas, na medida em que a primeira impulsiona o desenvolvimento das competências cognitivas e culturais exigidas pela segunda, decorrentes da revolução “sócio-tecnológica” e seus desdobramentos. Ainda mais, segundo os PCNEM (1999), essa estratégia é “uma circunstância histórica inédita, na qual as capacidades para o desenvolvimento produtivo seriam idênticas para o papel do cidadão e para o desenvolvimento social.”

PARADIGMA EMPREENDEDOR E COMPETÊNCIAS PARA A CIDADANIA: UM BINÔMIO POSSÍVEL

Cada vez mais experiências comprovam que o que se aprende na escola é superado rapidamente por aquilo que se aprende fora dela. O acúmulo de informações torna-se cada vez mais descartável. É preciso saber aprender fazendo, errando, corrigindo rumos, criando. Vive-se a era da educação entendida como desenvolvimento de todo potencial humano. Segundo DOLABELA (1999), “não só a razão, mas a emoção, o sonho, a auto-imagem como substrato de atitudes e comportamentos criativos, inovadores que provoquem mudanças” devem permear a formação do indivíduo. Também as relações de trabalho mudaram, o emprego cede lugar à empregabili dade. Em processos de contratação, são valorizadas, além das habili dades técnicas, capacidades como: trabalhar em equipe, comunicação verbal e escrita, apresentação de idéias, dimensionamento do tempo, autonomia para aprender entre outras competências pessoais. A análise desse contexto nos remete a considerações sobre o paradigma empreendedor permeando a formação de novos cidadãos. Segundo LAPOLLI e outros, (1998) “ Empreendedorismo é um processo que ocorr e em diferentes ambientes e situações empresariais. Provoca mudanças através da inovação feita por pessoas que geram ou aproveitam oportunidades econômicas, que criam valor tanto para si próprios como para a sociedade" . Ser empreendedor é, conforme VÉRAS ( apud URIARTE, 2000): transformar idéias recentes e inovadoras em negócios reais, e conseguir obter lucro com isso; definir prioridade e objetivos; conhecer e compreender as necessidades e anseios dos clientes, criando e adaptando produtos para satisfazê-los; buscar sempre a qualidade total, inclusive na perfeição do produto. Reduzir custos e melhorar o atendimento; estar atento para o desempenho dos concorrentes; agir com rapidez e eficácia na hora de resolver um problema; admitir erros, pois ninguém é infalível; estar consciente de seus limites; concentrar energias onde for mais importante; investir em treinamento pessoal e respeitar o jeito de ser do outro; estar atento para o que acontece no mundo e não esquecer de que é um agente de desenvolvimento da sociedade; conversar, ler, discutir e aceitar sugestões. A abordagem aqui feita enfatiza que ser empreendedor hoje não significa necessariamente ser um empresário com grandes meios de produção. A palavra empreendedor, de sentido bastante amplo, no contexto aqui delineado ressalta a introjeção de valores, atitudes, comportamentos, formas de percepção do mundo e de si mesmo, voltados para atividades em que o risco, a capacidade de inovar, perseverar e de conviver com a incerteza são elementos indispensáveis. Em BARRETO (1998), a palavra empreender deriva do latim “imprehendere”, sendo incorporada à língua portuguesa no século XV. No entanto, a expressão “empreendedor” ,

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conforme a literatura pertinente, teria surgido na língua portuguesa apenas no século seguinte. Já a expressão empreendedorismo parece ter sido originada da expressão “entrepreneurship” , do francês “entrepreneur” e do inglês “ship” , cujo significado indica posição, relação, grau, estado, qualidade, perícia ou habili dade Por definição, em DEGEN (1989), lê-se que o empreendedor, é aquele que assume riscos e cujo sucesso está relacionado à capacidade de conviver com eles e a eles sobreviver. Ser empreendedor significa ter a necessidade de realizar coisas novas, pôr em prática idéias próprias, além de possuir características de personalidade e comportamento que nem sempre é fácil de encontrar. Conforme CUNHA e FERLA (1997), empreendedor é alguém que define metas, busca informações e é obstinado. SHAPERO (1977) considera o empreendedor como sendo alguém decidido, que toma iniciativa de reunir recursos de modo inovador, gerando uma organização relativamente independente, na qual o sucesso é incerto. Segundo GERBER (1996), o empreendedor é um grande estrategista, criador de novos métodos para penetrar e/ou criar novos mercados; lida bem com o desconhecido, transformando possibili dades em probabili dades e caos em harmonia. Desse modo, o empreendedor é um portador do mecanismo de mudança. Para KIRZNER (1997), o elemento fundamental de um empreendedor é o seu estado de alerta. PENROSE (1995) considera alguns aspectos importantes num empreendedor: versatili dade, que estaria relacionada com a capacidade de imaginação e visão pessoal; Ambição; e capacidade de julgamento. De acordo com DOLABELA (1999), “o empreendedor evolui através de um processo interativo de tentativa e erro, avança em virtude das descobertas que faz, as quais podem se referir a uma infinidade de elementos, como novas oportunidades, novas formas de comercialização, vendas, tecnologia, gestão etc.” Conforme AZEVEDO (1994), o empreendedor é, sobretudo, aquele indivíduo que tem necessidade de desenvolver novos projetos. Feitas essas ponderações, observa-se que o paradigma empreendedor considera competências básicas que podem ser contempladas na formação escolar, quais sejam: tradução do pensamento em ações, iniciativa, autonomia, autoconfiança, necessidade de realização, otimismo, método próprio de aprendizagem, criatividade e espírito desafiador. No contexto educacional - qualquer que seja o nível - a formação escolar, dentro de um paradigma inovador, busca (re)significar os conteúdos escolares como meios para constituição de competências e valores e não como objetivos de ensino em si mesmos, bem como enfatiza também a adoção de estratégias que mobili zem menos a memória e mais o raciocínio e outras competências cognitivas tais como deduzir, tirar inferências ou fazer previsões a partir do fato observado, entre outras. BERGER FILHO (1998) define competências como “esquemas mentais, ou seja, as ações e operações mentais de caráter cognitivo, sócio-afetivo ou psicomotor que mobili zadas e associadas a saberes teóricos ou experiências geram habili dades, ou seja, um saber fazer” . PERRENOUD (1999), em consonância, atesta que competência significa mobili zar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, habili dades, informações) para solucionar com eficácia uma série de situações. Na visão do autor, a competência abrange conhecimentos e esquemas de percepção, pensamento, avaliação e ação, com vistas a desenvolver respostas inéditas, criativas e eficazes. A descrição das competências deve partir da análise de situações, da ação, e daí resultar em conhecimento. Portanto, devem estar associadas a contextos culturais, profissionais e sociais, visto que os indivíduos não vivenciam as mesmas situações e tão pouco se defrontam com os mesmos problemas. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: “a lei reconhece que nas sociedades contemporâneas todos, independentemente de sua origem ou destino sócio-profissional, devem ser educados na perspectiva do trabalho enquanto uma das principais atividades humanas, enquanto campo de preparação para escolhas profissionais

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futuras, enquanto espaço de exercício da cidadania, enquanto processo de produção de bens, serviços e conhecimentos com as tarefas laborais que lhes são próprias.” Assim concebida, a educação abre-se para o desenvolvimento das competências básicas à formação pessoal, à autonomia intelectual, à criatividade, à solução de problemas, à análise e prospecção, entre outras. Nessa perspectiva, educar transforma-se num processo permanente de aprendizagem. Educar, de acordo com MORAN e outros (2000), “é ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento de habili dades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e tornar-se cidadãos realizados e produtivos” . Com base nessas deferências, a formulação de competências afasta-se das abstrações e respalda-se no trabalho por resolução de problemas e por projetos e na proposição de desafios, pressupondo uma pedagogia ativa, cooperativa e contextualizada. Vê-se enfatizada essa idéia também em BERGER FILHO (1998), que afirma, ao se referir à necessidade de repensar a educação: “Está-se falando de uma outra escola menos voltada para o interior do próprio sistema de ensino, diferente daquela na qual cada objeto de ensino esteja referido apenas no momento seguinte da escolarização; menos centrada no acúmulo de informações para consumo no próprio sistema escolar; menos orientada para uma falsa erudição enciclopédica; menos referida ao tempo futuro” Pensar um ensino que responda aos três eixos básicos: flexibili dade, diversidade e contextualização é remetê-lo para fora dos muros da escola, em que a produção interna integra-se à produção da prática social e ao desenvolvimento pessoal. Segundo BERGER FILHO (1998): “que reconhece a multiplicidade de agentes e fontes de informação e apropria-se deles integrando-os ao seu fazer; que tem como centro da sua produção s construção de busca, identificação, seleção, articulação e produção de conhecimentos para agir no e sobre o mundo; que integre os tempos, apropriando-se do passado para articular o futuro no presente.” Em MORAN (2000), encontramos a afirmação de que ensinar e aprender exigem hoje flexibili dade espaço-temporal, pessoal e de grupo. Deparamo-nos hoje, com muitas informações e das mais variadas, e a dificuldade está em escolher quais são significativas e como integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. Frente a tal realidade, a aquisição da informação dependerá cada vez menos do professor, cujo papel principal será o de ajudar o aluno a desenvolver suas próprias competências. Para desenvolver competências, enfatiza PERRENOUD (1999), é necessário trabalhar por resolução de problemas e por projetos, propor tarefas complexas e desafios que estimulem os alunos a mobili zar seus conhecimentos, o que pressupõe uma pedagogia ativa , cooperativa e aberta à realidade de quem aprende. Neste sentido, ressalta MORAN (2000) que enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal(intelectual e emocional) do educando, esta não se tornará verdadeiramente significativa. Para PERRENOUD (1999), a abordagem por competência redimensiona a figura do educador, instigando-o a: considerar os conhecimentos como recursos a serem mobili zados; trabalhar regularmente por problemas; criar ou utili zar outros meios de ensino; negociar e conduzir projetos com seus alunos; adotar um planejamento flexível e indicativo e improvisar; praticar uma avaliação fornecedora em situação de trabalho; dirigir-se para uma menor compartimentalização disciplinar; implementar e explicitar um novo contrato didático; Nessa perspectiva, ao educando cabe construir seu conhecimento , sendo capaz de raciocinar abstrata e significativamente sobre várias fontes, analisando e interpretando fenômenos, selecionando informações relevantes, combinando e sintetizando conceitos apreendidos. Também , deve o aluno ser criativo, inovador, questionador, buscar alternativas e soluções para os problemas apresentados. Pelo que se constatou, as competências para a cidadania são

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enfatizadas pela escola que leva seu fazer pedagógico para fora dela, ou seja, que integra o conhecimento adquirido à possibili dade de instrumentalizá-lo para uma aprendizagem ao longo da vida. As mudanças na sociedade, de uma forma geral, exigem novas posturas na educação, não só por parte dos alunos, mas, principalmente, do professor e da Instituição que precisam (re)significar seu fazer pedagógico sobre essas questões para, indubitavelmente, serem tomados pela pergunta inevitável e óbvia: que tipo de estudante deve sair da escola para sobreviver no mundo do trabalho? As empresas dizem aos educadores que a formação exclusivamente especializada está condenada pela velocidade tecnológica. Portanto, o aluno e futuro trabalhador deve ter uma sólida formação geral que o habili te a lidar com necessidades específicas. Segundo BELLONI (1999), “a educação deve preparar os jovens aprendentes para adquirir autonomia suficiente - capacidade de aprender - que lhes permita continuar sua própria formação ao longo da vida profissional.”

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em uma sociedade tão dinâmica e complexa, a Escola passou a assumir novas responsabili dades e funções. As rápidas e freqüentes modificações da vida atual, causadas, em parte, pelos grandes acontecimentos de repercussão mundial, criaram a necessidade de um novo tipo de ensino. Embora muito se tem avançado rumo aos verdadeiros caminhos da Educação, estamos em um período de transição entre o ensino clássico tradicional e o ensino moderno. Apesar de várias experimentações realizadas no campo da Educação, com ótimos resultados, muitos professores mostram-se céticos em relação à eficácia desse e de outros novos métodos de ensino e continuam a reproduzir aquele modelo de aprendizagem que servia ao tempo de seus pais, avós e, quem sabe, ao seu próprio. Sai-se da transmissão, às vezes caótica do conhecimento, para a construção do pensar, tão necessário a qualquer cidadão. O professor muda sua concepção pedagógica e conscientiza-se de que a informação o aluno encontra a sua volta. A ele - professor- cabe o papel de articulador, orientador no processo ensino-aprendizagem. Somado a isso, verifica-se que o papel do professor neste novo século, é o de “formador” . Este sim será cada vez mais importante. Mais do que nunca o professor deverá levar para a sala de aula um espírito empreendedor, gerando muita energia e criatividade, sugerindo situações experimentais para facili tar a invenção de seu aluno, dando a ele condições para que possa lidar com situações novas. Evidencia-se o caráter autônomo e flexível da construção do conhecimento. O professor que surge como auxili ador do fazer sentido desencadeia o saber fazer do aluno, o que implica a união mental de atitudes, procedimentos e da ação do re-fazer. Dessa forma, são concebidos os projetos interdisciplinares que desencadeiam também competências empreendedoras na medida em que desenvolvem: a versatilidade, a adaptabilidade na articulação da informação necessária para tratar o problema objeto de estudo; a busca de procedimentos adequados para desenvolver, ordenar, compreender e aplicar; a intervenção argumentativa com pontos de vista alternativos, de forma a interferir na realidade e propor alternativas de solução. Ora, flexibili dade, articulação, busca, aplicação, intervenção são pilares do espírito empreendedor tão necessário a qualquer ação humana. Percebe-se mais claramente ainda essa articulação entre pedagogia de projetos interdisciplinares e paradigma empreendedor quando se observam as características deste último, elencadas por CUNHA e FERLA (1997): visão: busca de conceitos e idéias que possibili tam caminhar segundo uma direção pré-estabelecida; energia: possui disposição para alcançar objetivos; comprometimento: despende esforços

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pessoais para concretizar projetos; liderança: capacidade de agregar pessoas em torno de si e movê-las em direção aos objetivos; obstinação: usa de estratégias alternativas para enfrentar desafios e superar obstáculos; capacidade de decisão/concentração: possui senso de prioridade; criatividade: apresenta personalidade criativa; independência: busca de autonomia; entusiasmo: tem paixão pelo que faz. Todas essas características permeiam o trabalho com projetos, na medida em que o processo de conhecimento está integrado às práticas. Os alunos deixam de ser apenas um “aprendiz” do conteúdo de uma área de conhecimento qualquer. São seres humanos que estão desenvolvendo uma atividade complexa e que nesse processo estão se apropriando , ao mesmo tempo, de um determinado objeto de conhecimento cultural e se formando como sujeito cultural. A partir dessas características, podemos situar os projetos como uma proposta de intervenção pedagógica que dá à atividade de aprender um sentido novo, em que as necessidades de aprendizagem afloram nas tentativas de se resolver situações problemáticas, ou desafiantes, como diriam os empreendedores.Um projeto gera situações de aprendizagem, ao mesmo tempo, reais e diversificadas, ou novo olhar para o objeto, como diriam os empreendedores. Possibili ta, assim, que os educandos, ao decidirem, opinarem, debaterem, construam sua autonomia e seu compromisso com o social, formando-se como sujeitos culturais, ou como sujeitos capazes de gerar novas e boas idéias, como diriam os empreendedores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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