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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA SEO DE ENGENHARIA E FORTIFICAO
CURSO DE ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA
RODRIGO BELCHIOR BERALDO
UMA ABORDAGEM QUANTITATIVA PARA A DEFINIO DA CRITICIDADE DE OCORRNCIAS FERROVIRIAS NA VALE
RIO DE JANEIRO 2008
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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA SEO DE ENGENHARIA E FORTIFICAO
CURSO DE ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA
Eng RODRIGO BELCHIOR BERALDO
UMA ABORDAGEM QUANTITATIVA PARA A DEFINIO DA CRITICIDADE DE OCORRNCIAS FERROVIRIAS NA VALE
RIO DE JANEIRO 2008
Monografia apresentada ao Curso de Especializao em Transporte Ferrovirio de Carga do Instituto Militar de Engenharia, como requisito para diplomao. Orientador: Professora Vnia Gouveia Barcelos Campos Tutor: Eng. Gustavo Mucci
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 3 -
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA Praa General Tibrcio, 80 Praia Vermelha Rio de Janeiro - RJ CEP: 22290-270
Este exemplar de propriedade do Instituto Militar de Engenharia e da Vale,
que podero inclu-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar
ou adotar qualquer forma de arquivamento.
So permitidas a meno, reproduo parcial ou integral e a transmisso
entre bibliotecas deste trabalho, sem modificao de seu texto, em qualquer meio
que esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadmica, comentrios e
citaes, desde que sem finalidade comercial e que seja feita referncia
bibliogrfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho so de responsabilidade do(s)
autor(es) e do(s) orientador(es).
Beraldo, Rodrigo Belchior Uma abordagem quantitativa para a definio da criticidade de ocorrncias ferrovirias na Vale Rodrigo Belchior Beraldo. - Rio de Janeiro : Instituto Militar de Engenharia, 2008. 99 f. Dissertao (especializao) - Instituto Militar de Engenharia, 2008.
1. Acidentes ferrovirios; 2. Gravidade; 3. Criticidade.
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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
RODRIGO BELCHIOR BERALDO
UMA ABORDAGEM QUANTITATIVA PARA A DEFINIO DA CRITICIDADE DE OCORRNCIAS FERROVIRIAS NA VALE
Monografia apresentada ao Curso de Especializao em Transportes Ferrovirio de Carga do Instituto Militar de Engenharia, como requisito para diplomao.
Orientador: Professora Vnia Gouveia Barcelos Campos Tutor: Eng. Gustavo Mucci Apresentada no dia 14 de Outubro de 2008, para a seguinte banca examinadora:
Professora Vnia Gouveia Barcelos Campos
Professora Maria Cristina de Fogliatti Sinay
RIO DE JANEIRO 2008
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Ao IME pelos conhecimentos e estrutura disponibilizados durante a especializao e Vale pela oportunidade de atuar no ramo ferrovirio.
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Lista de termos, siglas e abreviaturas utilizadas no estudo:
ALL: Amrica Latina Logstica S.A.
AMV: aparelho de mudana de via;
ANTF: Associao Nacional dos Transportadores Ferrovirios;
ANTT: Agncia Nacional de Transportes Terrestres;
Benchmarking: termo utilizado para descrever o processo de boas prticas;
CCO: Centro de Controle Operacional;
CPIA: Comisso Permanente de Investigao de Acidentes;
Commodities: termo utilizado para referncia s mercadorias e produtos negociados a preo fixo em algumas bolsas de valores no mundo, tais como o minrio de ferro, todos os tipos de minerais e produtos agrcolas;
DAC: Departamento de Aviao Civil;
EFC: Estrada de Ferro Carajs;
EFVM: Estrada de Ferro Vitria-Minas;
FCA: Ferrovia Centro Atlntica SA;
GACFA: Gerncia de Concesses e Arrendamentos;
GEDFT: Gerncia Geral de Desenvolvimento e Servios Tcnicos Ferrovirios;
GEPQT: Gerncia Geral de Sade, Segurana e Meio Ambiente;
GOFER: Sistema de Gesto de Ocorrncias Ferrovirias;
IATA: International Air Transport Association;
ICAO: International Civil Aviation Organization;
PRO: procedimento operacional da Vale;
REG: regulamento da Vale;
RFFSA: Rede Ferroviria Federal SA;
ROF: Regulamento de Operaes Ferrovirias;
SIADE: Sistema de Acompanhamento do Desempenho das Concessionrias de Servios Pblicos de Transportes Ferrovirios
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SSO: Sade e Segurana Ocupacional;
THP: Trem hora-parado;
Vale: Companhia Vale do Rio Doce SA;
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1 INTRODUO ...................................................................................................15
1.1 CONDIO INICIAL ..........................................................................................15 1.2 OBJETO DO ESTUDO .......................................................................................16 1.3 JUSTIFICATIVA ...............................................................................................17 1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA..........................................................................18
2 CONCEITOS E GESTO DO PROCESSO .......................................................19
2.1 VISO GERAL DAS FERROVIAS DA VALE ............................................................20 2.2 CONCEITOS ...................................................................................................21
2.2.1 Tipos de acidentes ferrovirios ............................................................24 2.2.1.1 Natureza dos acidentes ferrovirios .................................................24 2.2.1.2 reas de responsabilidade ...............................................................27 2.2.1.3 Outros tipos de ocorrncias ..............................................................28 2.2.1.4 Critrio de gravidade atual................................................................30
2.3 GESTO NA VALE ...........................................................................................31 2.3.1 Investigao e preveno de acidentes - CPIA....................................31 2.3.2 Estruturas auxiliares .............................................................................33 2.3.3 Sistema de gesto de informaes GOFER .....................................34 2.3.4 Seqncia de eventos (comunicao apurao fechamento) ..............36 2.3.5 Gesto dos resultados .........................................................................40
2.3.5.1 Controles internos da Vale ...............................................................40 2.3.5.2 Indicador de acompanhamento da ANTT .........................................42
3 HISTRICO GERAL ..........................................................................................43
3.1 HISTRICO DAS FERROVIAS AMERICANAS .........................................................47 3.2 DETALHAMENTO DO HISTRICO NAS FERROVIAS DA VALE ..................................48
3.2.1 Histrico da FCA de 2005 a 2007 ........................................................48 3.2.2 Histrico da EFVM de 2005 a 2007 .....................................................49 3.2.3 Histrico da EFC de 2005 a 2007 ........................................................49 3.2.4 Anlises do histrico ............................................................................50
4 FATORES DE GRAVIDADE ..............................................................................52
4.1 CONSEQNCIAS DOS ACIDENTES FERROVIRIOS .............................................52 4.2 O FATOR CUSTO DOS ACIDENTES FERROVIRIOS ..............................................53 4.3 IMPORTNCIA DOS CRITRIOS DE GRAVIDADE ...................................................55
4.3.1 Descrio dos critrios de gravidade ...................................................57 4.3.1.1 Fatores propostos para clculo da gravidade ...................................58 4.3.1.2 Descrio dos fatores Danos e extenso ......................................60 4.3.1.3 Descrio dos fatores Interrupo da via ......................................62 4.3.1.4 Descrio dos fatores Danos ao Meio Ambiente: mercadoria e rea atingida 63 4.3.1.5 Descrio dos fatores Vtimas envolvidas .....................................65
4.3.2 Frmula de clculo da gravidade .........................................................66 4.4 APLICAO ...................................................................................................67
4.4.1 Histrico de ocorrncias de 2008 .........................................................67 4.4.2 Aplicao dos critrios de pontuao no histrico ...............................70 4.4.3 Anlises comparativas .........................................................................73
4.4.3.1 FCA ..................................................................................................76 4.4.3.2 EFC ..................................................................................................77
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4.4.3.3 EFVM ...............................................................................................78 4.4.3.4 Participao dos pesos na pontuao total ......................................79 4.4.3.5 Anlise do histrico com a pontuao com grficos de disperso ...80 4.4.3.6 Anlise das ocorrncias mais crticas ...............................................83
4.4.4 Problemas na base de estudo..............................................................86
5 CONCLUSES ..................................................................................................88
5.1 PROPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE NOVOS TRABALHOS ........................91 5.1.1 Sistema de gesto de ocorrncias ferrovirias GOFER 2 .................91 5.1.2 Tratamento dos quase-acidentes ferrovirios ......................................91 5.1.3 Direcionamento de recursos e investimentos.......................................92
6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................93
7 ANEXOS ............................................................................................................95
7.1 RELAO DE PRODUTOS PERIGOSOS TRANSPORTADOS PELAS FERROVIAS DA VALE 95 7.2 RELAO DOS PRODUTOS TRANSPORTADOS PELA VALE ....................................97 7.3 BASE DE OCORRNCIAS FERROVIRIAS VALE 2008 JAN A AGO ......................99
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Lista de figuras
FIG. 2.1 Fluxograma acidente ferrovirio x ocorrncias desclassificadas. .............23 FIG 2.2 Foto de um abalroamento. .........................................................................24 FIG 2.3 Foto de um esbarro. ...................................................................................25 FIG 2.4 Foto de um descarrilamento. ......................................................................25 FIG 2.5 Foto de um tombamento. ............................................................................26 FIG. 2.6 Estrutura das Comisses Permanentes de Investigao de Acidentes. ...32 FIG. 2.7 Tela inicial do GOFER. .............................................................................36 FIG. 2.8 Estrutura organizacional de atendimento ocorrncias ferrovirias na
Vale. ...................................................................................................................38 FIG. 2.9 Tela com o controle dirio de ocorrncias ferrovirias (Alerta Mximo) ...40 FIG. 2.10 Telas do controle mensal de ocorrncias (Book Segurana Operacional)
...........................................................................................................................41 FIG. 3.1 Quantidade de ocorrncias ferrovirias na Vale. ......................................43 FIG. 3.2 Participao das ferrovias no total apurado na Vale.................................44 FIG. 3.3 Quantidade de ocorrncias nas ferrovias da Vale. ...................................45 FIG. 3.4 Evoluo do indicador acidentes por milho de trem-quilmetro nas
ferrovias da Vale. ...............................................................................................46 FIG. 4.1 Custos (R$ mil) e quantidade de ocorrncias ferrovirias na Vale. ..........55 FIG. 4.2 Quantidade total de acidentes ferrovirios na Vale em 2008. ..................67 FIG. 4.3 - Quantidade total de acidentes ferrovirios na FCA em 2008. ...................68 FIG. 4.4 - Quantidade total de acidentes ferrovirios na EFC em 2008. ...................68 FIG. 4.5 - Quantidade total de acidentes ferrovirios na EFVM em 2008. ................69 FIG. 4.6 Grfico com a pontuao mdia das ocorrncias por rea de
responsabilidade ................................................................................................73 FIG. 4.7 - Histrico de ocorrncias Vale e a pontuao mdia mensal. ....................74 FIG. 4.8 Grfico com a pontuao mdia mensal das ocorrncias por ferrovia. ....74 FIG. 4.9 - Histrico de ocorrncias Vale e a pontuao mensal. ..............................75 FIG. 4.10 - Histrico de ocorrncias na FCA e a pontuao mensal. ........................77 FIG. 4.11 - Histrico de ocorrncias na EFC e a pontuao mensal. ........................78 FIG. 4.12 - Histrico de ocorrncias na EFVM e a pontuao mensal. .....................79 FIG. 4.13 Distribuio dos fatores da equao no peso total das ocorrncias da
Vale. ...................................................................................................................79 FIG. 4.14 Grfico de disperso entre a pontuao e o custo das ocorrncias de
2008 na Vale. .....................................................................................................81 FIG. 4.15 Grfico de disperso entre o peso da interrupo e os custos das
ocorrncias. ........................................................................................................81 FIG. 4.16 Grfico de disperso das ocorrncias com custo menores que R$ 10.000
e o peso da interrupo. .....................................................................................82 FIG. 4.17 Grfico de disperso entre a pontuao e o peso da causa. ..................83
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Lista de tabelas
TAB. 1 - Evoluo do indicador de ocorrncias ferrovirias nos EUA no perodo de 1980 a 2005. ......................................................................................................47
TAB. 2 Histrico de ocorrncias ferrovirias da FCA de 2005 a 2007. ...................48 TAB. 3 Histrico de ocorrncias ferrovirias da EFVM. ..........................................49 TAB. 4 Histrico de ocorrncias ferrovirias da EFC. ............................................49 TAB. 5 - Principais fatores causais de ocorrncias nas ferrovias da Vale .................50 TAB. 6 Pesos das causas dos acidentes................................................................60 TAB. 7 Pesos dos danos e tipo de ativo envolvido .................................................61 TAB. 8 Pesos da extenso de via danificada por tipo de ativo envolvido ...............61 TAB. 9 Pesos dos trechos de acordo com a movimentao diria de trens ...........62 TAB. 10 Peso por grupo de mercadoria .................................................................63 TAB. 11 Peso por volume e estado da mercadoria transportado ...........................64 TAB. 12 Pesos para o tipo de rea atingida ...........................................................64 TAB. 13 Peso dos efeitos em empregados prprios ou contratados ......................65 TAB. 14 Histrico de ocorrncias por natureza em 2008. ......................................69 TAB. 15 Quantidade de ocorrncias por rea de responsabilidade. ......................70 TAB. 16 Estratificao da pontuao e quantidade de ocorrncias por natureza. .71 TAB. 17 Mdias para a pontuao de acordo com a natureza das ocorrncias
ferrovirias. .........................................................................................................72 TAB. 18 Pontuao total das ocorrncias por rea de responsabilidade. ..............72 TAB. 19 - Distribuio dos fatores da equao no peso total das ocorrncias da Vale.
...........................................................................................................................80 TAB. 20 Descrio e pontuao da ocorrncia 2296/2008 da EFC. ......................84 TAB. 21 Descrio e pontuao da ocorrncia 7930/2008 da EFVM. .......................85 TAB. 22 - Descrio e pontuao da ocorrncia 2794/2008 da FCA. .......................86 TAB. 23 - Quantidade de ocorrncias com campos sem preenchimento ..................87
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Lista de equaes
EQ. 1 Indicador Milho de Trem Quilmetro ..........................................................42 EQ 2 Frmula para clculo da gravidade das ocorrncias ferrovirias utilizada pela
ALL. ....................................................................................................................57 EQ 3 Frmula para clculo da gravidade das ocorrncias ferrovirias ..................66 EQ 4 - Frmula para clculo dos danos causados pelos ativos e a extenso ...........66 EQ 5 Frmula para clculo dos danos causados nos vages ................................66 EQ 6 Frmula para clculo dos danos causados nas locomotivas .........................66 EQ 7 Frmula para clculo dos danos causados na linha ......................................66 EQ 1 - Frmula para clculo do impacto da interrupo de trfego...................66 EQ 9 Frmula para clculo do impacto devido aos danos ambientais ...................66 EQ 10 Frmula para clculo do impacto em relao vtimas com ferimentos leves
...........................................................................................................................67
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Resumo
BERALDO, Rodrigo Belchior (2008). UMA ABORDAGEM QUANTITATIVA
PARA A DEFINIO DA CRITICIDADE DE OCORRNCIAS FERROVIRIAS
NA VALE. Rio de Janeiro RJ, 99 p. Monografia (Especializao em Transporte
Ferrovirio de Carga) Instituto Militar de Engenharia
Os riscos para a ocorrncia de um acidente ferrovirio so anomalias que
esto presentes na rotina operacional de uma ferrovia, e cabe s reas
operacionais e de engenharia trabalharem para que eles sejam mitigados,
chegando ao nvel do acidente zero.
O presente estudo vai abordar o processo de gesto de acidentes ferrovirios
na Vale, detalhando desde os conceitos bsicos do processo at as estruturas
que a empresa montou para o atendimento e preveno de acidentes.
Hoje este processo de gesto atende s premissas definidas pela ANTT,
sendo focado no processo de apurao dos quantitativos de acidentes, e tambm
na relao entre a quantidade de ocorrncias ferrovirias e a movimentao da
ferrovia.
Os processos internos da Vale so eficazes e mobilizam todas as reas das
ferrovias em aes para a constante reduo da quantidade de acidentes.
Porm, ainda falta um indicador para avaliao da gravidade destes acidentes
ferrovirios em relao ao impacto nas empregados envolvidos, ativos
danificados, local de ocorrncia, extenso dos danos e perda de mercadoria e
contaminao do meio ambiente.
Este estudo desenvolver tambm uma proposta para um novo modelo de
anlise quantitativa das ocorrncias ferrovirias, atravs de um indicador de
gravidade.
Palavras chaves: acidentes ferrovirios, criticidade, gravidade.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 14 -
Abstract
BERALDO, Rodrigo Belchior (2008). A quantitative approach for the definition
of railway accidents criticality in Vale. Rio de Janeiro RJ, 99 p. Monografia
(Especializao em Transporte Ferrovirio de Carga) Instituto Militar de
Engenharia
The risks for the occurrence of a railway accident are abnormalities that are
present in the routine operation of a railroad, and fits the areas of operational and
engineering work for which they are mixed, reaching the level of zero accidents.
This study will address the management of rail accidents in Vale`s railway,
from detailing the basics of the process until the structures that the company built
for the care and prevention of accidents.
Today this management process meets the premises set by ANTT, being
focused on the process of verification of the quantity of accidents, and also the
relationship between the quantity of events and the handling of the railroad.
Vale`s internal processes are effective and mobilize all areas of railways in
the constant action to reduce the amount of accidents. However, there isn`t still
an indicator to evaluate the severity of these accidents in relation to the impact on
employees involved, damaged assets, place of occurrence, extent of damage and
loss of products and contamination of the area affected.
And the main objective of this study is the development of a proposal for a
new model of quantitative analysis of events, through an indicator of gravity.
Key words: rail accidents, criticality, gravity.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 15 -
1 Introduo
1.1 Condio inicial
A logstica da Vale uma rea estratgica para os objetivos da companhia
em relao ao competitivo mercado transocenico de commodities. A ferrovia
parte integrante da cadeia produtiva do minrio de ferro, assim como o porto na
embarcao do produto. Os custos destes dois processos, adicionados ao custo
de extrao do minrio e ao fator qualidade do produto, fundamentam o
diferencial competitivo da Vale no mercado internacional.
Os custos de uma empresa de transporte ferrovirio podem ser
estratificados, de maneira geral, em duas principais reas, desconsiderando os
custos da sua construo: a operao e a manuteno do sistema. A operao
envolve diretamente os custos para manter os trens em circulao, provendo o
sistema com a capacidade de transporte para atendimento demanda. A
manuteno tem seus custos voltados diretamente para o suporte da operao,
direcionados para a via de circulao, os ativos envolvidos (veculos ferrovirios
em geral) e a sinalizao do sistema.
O diferencial competitivo para as ferrovias est justamente na otimizao dos
seus custos totais. Focando no custo de manuteno, temos a caracterstica
especfica do sistema ferrovirio brasileiro, onde as concessionrias so
responsveis tambm pela via de circulao (fato que no se repete em outros
modais no Brasil). As ferrovias da Vale seguem este modelo de responsabilidade
em relao ao custo de manuteno.
O aumento da utilizao dos ativos reflete na maior diluio dos custos
operacionais. Este aumento permite tambm que o retorno dos investimentos
realizados na aquisio de novos ativos, modernizao e aumento de capacidade
ocorram em menor prazo.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 16 -
Aliada a esta otimizao, a confiabilidade da via de circulao (que tambm
considerada um ativo) ponto crtico para a continuidade das operaes de uma
ferrovia, e conseqentemente, tem impacto direto na rentabilidade do negcio
ferrovia e os processos atrelados a ele.
O ponto crtico para a confiabilidade da via so as ocorrncias operacionais,
relacionadas com eventos tais como descarrilamentos, abalroamento e
atropelamentos. Eles impactam diretamente na continuidade das operaes das
empresas ferrovirias, alm de causarem um alto custo de recuperao da linha
e dos ativos envolvidos. Estes fatores, aliados aos impactos diretos na segurana
das pessoas, na segurana do meio ambiente e na produtividade da ferrovia,
caracterizam os acidentes ferrovirios como item crtico para a viabilidade do
transporte ferrovirio.
1.2 Objeto do estudo
Este estudo abordar o processo de gesto das ocorrncias ferrovirias na
Vale e o modelo de acompanhamento do indicador destes acidentes, com o
objetivo especfico de propor um novo modelo de anlise qualitativa dos eventos,
atravs de um indicador de gravidade, que contemple os diversos tipos de
conseqncias que um acidente causa e tambm o peso de cada uma delas.
Porm nesta proposta sero consideradas apenas os eventos definidos como
ocorrncias ferrovirias ou acidentes ferrovirios dentro da viso da Agncia
Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A delimitao para este estudo
necessria, pois dentro do ambiente ferrovirio existem diversos tipos de
eventos, desde incidentes, quase-acidentes, ocorrncias que acontecem devido
falhas de terceiros na operao dos ativos, at os acidentes ferrovirios. Como
se trata de um novo modelo de anlise, o estudo ser focado nos eventos que
realmente so contabilizados para a performance das ferrovias, tais como os
descarrilamentos, tombamentos, abalroamentos, atropelamentos (eles sero
descritos no captulo 2.2.1.1). Os outros tipos de eventos, que so tambm so
tratados pelas empresas, sero abordados e direcionados para propostas de
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 17 -
novos estudos a partir da fundamentao e validao desta proposta a ser
apresentada.
1.3 Justificativa
A segurana dos empregados e das operaes premissa bsica dentro da
Vale. A busca por ndices de excelncia em segurana um dos objetivos da
companhia. A Diretoria de Logstica possui uma lista de prioridades que os
empregados devem observar antes de executarem qualquer atividade. Estas
orientaes esto includas no ROF (Regulamento de Operaes Ferrovirias):
a) Segurana e Sade Ocupacional; b) Segurana Ambiental; c) Segurana Operacional; d) Produo e Produtividade.
Ou seja, clara a orientao da companhia em relao s questes de
segurana, e especificamente na segurana operacional, j que os efeitos
causados pelos acidentes nas ferrovias so inmeros: perda de produtividade,
com a descontinuidade das operaes e gerao de trens hora parados (THP),
custos envolvidos com pessoal, com possibilidade de vidas perdidas, devido
questo de segurana, e em relao ao impacto ambiental, como conseqncia
direta das restries ambientais existentes hoje (multas e compensaes
ambientais), alm do custo para restabelecimento do trfego e ativos.
Dessa forma, de extrema importncia o entendimento dos fatores causais
de cada tipo de acidente (que os sistemas utilizados e a gesto atual dos
acidentes j fornecem com qualidade) e das conseqncias envolvidas em cada
um desses tipos, permitindo assim aes para que essas ocorrncias sejam
evitadas ou com conseqncias com ndice de gravidade menor.
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1.4 Estrutura da monografia
O estudo ser elaborado a partir de uma estrutura de cinco captulos, sendo
o primeiro captulo abordando a introduo ao assunto, objetivos e justificativa do
tema definido e a estrutura do trabalho.
O segundo captulo inicia com uma viso geral das ferrovias da Vale,
abordando os conceitos envolvidos no processo de gesto dos acidentes
ferrovirios, a estrutura e regras definidas pela ANTT e toda a estruturao que a
Vale montou para suportar este processo em suas ferrovias, desde a parte de
atendimento aos acidentes, at a gesto efetiva do indicador.
O terceiro captulo apresentar o estudo do problema, mostrando um breve
histrico do indicador de ocorrncias ferrovirias e algumas anlises do
comportamento histrico em cada ferrovia, mostrando os fatores de gesto atual
do processo.
O captulo quatro mostrar todos os aspectos de gravidade de cada item a
ser considerado no clculo da pontuao dos acidentes. Ele tambm descrever
e a aplicao dos fatores propostos em um determinado perodo histrico, e as
anlises comparativas frente aos resultados apurados na gesto existente do
indicador de ocorrncias ferrovirias na Vale.
O quinto captulo mostrar as concluses apuradas pelo estudo e tambm
propostas de continuidade para novos projetos envolvendo o indicador de
gravidade para acidentes ferrovirios.
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2 Conceitos e Gesto do Processo
Dentro do processo de concesso dos direitos de transporte ferrovirio, uma
das grandes preocupaes do governo foi garantia de investimentos na malha
para aumento da capacidade de transporte.
Remetendo dcada de 80, a recente gesto da Rede Ferroviria Federal,
os recursos empregados para a manuteno da malha brasileira estavam em
declnio constante, devido reduo gradativa de aportes financeiros com este
objetivo.
Aliado a outros motivos estratgicos, a melhoria do nvel de servio das
ferrovias brasileiras foi um dos impulsionadores para o movimento de concesso
dos direitos de transporte para a iniciativa privada. E diretamente ligado ao nvel
de servio est a regularidade do servio prestado.
O nvel de servio diretamente afetado por um acidente ferrovirio.
Segundo Walter Vidon Jr (2008) , o acidente a manifestao pblica do
fracasso da ferrovia. Ou seja, a percepo do cliente e da comunidade
diretamente impactada pela imagem do trem parado devido um descarrilamento,
esbarro ou abalroamento. E os resultados tambm: o ciclo de vages
diretamente impactado devido o aumento do tempo de trnsito das composies
em caso de retenes da circulao causadas por acidentes ferrovirios.
necessrio um estudo mais profundo das ocorrncias ferrovirias, indo
mais alm da simples contabilidade numrica e relao com a movimentao da
ferrovia, que so os indicadores monitorados pela ANTT. Assim, as empresas
ferrovirias estaro com o foco real para a garantia da reduo constante de
acidentes ferrovirios e o aumento da confiabilidade do servio de transporte
prestado.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 20 -
2.1 Viso geral das ferrovias da Vale
A Vale a maior operadora ferroviria nacional em movimentao de carga.
Ela a responsvel pela operao da Estrada de Ferro Carajs (EFC), a Estrada
de Ferro Vitria-Minas e pela concesso e operao da Ferrovia Centro-Atlntica
(FCA).
A Estrada de Ferro Vitria a Minas (EFVM), com 905 quilmetros de
extenso, uma das mais modernas e produtivas ferrovias do Brasil. Transporta
37% de toda a carga ferroviria nacional.
A Ferrovia Centro-Atlntica (FCA), com 8.066 km de extenso, percorre os
estados de Minas Gerais, Gois, Rio de Janeiro, Esprito Santo, Bahia e Sergipe,
alm do Distrito Federal.
A Estrada de Ferro Carajs (EFC), com 892 km de extenso, liga o interior do
Par ao principal porto martimo da Regio Nordeste, em So Lus, no Maranho.
Transporta principalmente minrio e carga geral, alm de passageiros.
Alm do transporte de minrio de ferro e carga geral a Vale ainda possui o
transporte de passageiros na EFC e EFVM. Na EFVM o trem dirio,
movimentando um total de trs mil pessoas por dia. Na EFC o trem tem a
freqncia de sada a cada dois dias, sendo um importante instrumento
integrador das comunidades do interior do Maranho e Par. A FCA possui duas
concesses para o transporte de passageiros na modalidade de trem turstico: a
linha So Joo Del Rei Tiradentes e Ouro Preto Mariana. Estas duas rotas
so pontos tursticos movimentados, reconhecidos internacionalmente, que
alavancam o potencial atrativo das comunidades que ele abrange.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 21 -
2.2 Conceitos
Sendo uma anomalia especfica do processo da ferrovia, as ocorrncias
ferrovirias possuem uma gama de conceitos que devem ser esclarecidos e
nivelados, principalmente em relao sua aplicabilidade dentro da Vale.
Quando uma anomalia em qualquer processo acontece, denotada uma
situao de emergncia. Esta situao uma combinao de fatos, decorrente
de defeitos em equipamentos, falhas no controle do processo, fenmenos
naturais (tempestades, enchentes, raios), ou falhas humanas, que podem resultar
em incndio, exploso, derramamento ou vazamento de produtos qumicos,
emisso atmosfrica acidental, descarga acidental na gua e no solo, ou
qualquer acidente com leso, dano a propriedade, ao meio ambiente e at
mesmo comunidade.
Uma situao de emergncia pode ser elevada a uma situao crtica, que
uma ocorrncia que foge do controle ou extrapola os limites da empresa. Esta
situao envolve prejuzos financeiros e pode causar danos ao meio ambiente,
sociedade, aos empregados, aos clientes, aos acionistas, ao mercado e,
conseqentemente, ao seu negcio como um todo. Alem disso, caracteriza-se
por atrair a ateno da mdia, de polticos, das autoridades governamentais e de
ONGs (organizaes no-governamentais), alm de ganhar visibilidade local,
regional, nacional e.ou internacional, dependendo de sua abrangncia. Quando
ocorre, a imagem da empresa perante a opinio pblica que est em jogo.
Assim, um acidente ferrovirio pode ser simples, dependendo apenas de um
tratamento interno para correo de suas conseqncias. Mas tambm pode ser
caracterizado como uma situao de emergncia e at mesmo uma situao de
crtica, cuja atuao da ferrovia vai extrapolar os limites tcnicos operacionais,
atingindo tambm aes para conter os prejuzos causados rea atingida e
tambm os efeitos colaterais que o evento causou.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 22 -
A ANTT fornece uma conceituao bsica para o acidente ferrovirio
conforme o Artigo 2o da Resoluo no 1431 ANTT:
Art. 2 Para efeito desta Resoluo, considera-se acidente ferrovirio a ocorrncia que, com a participao direta de veculo ferrovirio, provocar danos a este, a pessoas, a outros veculos, a instalaes, a obras-de-arte, via permanente, ao meio ambiente e, desde que ocorra paralisao do trfego, a animais.
Acidente uma ocorrncia inesperada que interfere ou interrompe os
processos normais de uma atividade, ocasionando perda de tempo til, leses
nos trabalhadores, perda materiais, danos propriedade e ao meio ambiente.
Segundo a VOC- Vernalha & Oliveira Consultoria de Investigao Bsica de
Acidente e Incidente Ferrovirio (Oliveira, 2007), um acidente "geralmente o
resultado de um contato com uma fonte de energia superior resistncia das
estruturas envolvidas.
Um acidente ferrovirio raramente o resultado de nico evento. Ele
causado por uma combinao de eventos no relacionados que ocorrem
simultaneamente ou em seqncia. O elemento humano , na maioria dos casos,
o responsvel ou parte ativa destes eventos. Um levantamento em relao s
ocorrncias ferrovirias na Vale em 2008, que ser detalhado no captulo 4.4.1,
mostra que dos 182 acidentes registrados, temos um total de 97 que tm
influncia direta com o fator humano, seja no motivo causador (33 falhas
funcionais), ou seja no fator de participao (30 atropelamentos e 34
abalroamentos). A descrio destes eventos ser detalhado no captulo 2.2.1.1.
Porm nem todo evento pode ser considerado uma ocorrncia ferroviria ou
um acidente ferrovirio, sob a tica do rgo regulador. A ANTT define alguns
quesitos que o evento deve atender, para que ela seja considerada um acidente
ferrovirio, e classificado para constar no resultado da empresa responsvel. O
nico evento que diretamente classificado como acidente ferrovirio aquele
causado por falha funcional de qualquer empregado prprio ou a servio da
ferrovia que tenha provocado danos, paralisao da circulao ou atrasos na
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 23 -
partida de trens. A FIG. 2.1 retirada do Procedimento de Investigao e Gesto
dos Acidentes Ferrovirios PRO 0801 GEDFT, contm todas as etapas e
consideraes a serem analisadas para a classificao ou desclassificao do
evento.
FIG. 2.1 Fluxograma acidente ferrovirio x ocorrncias desclassificadas.
Fonte: PRO 0801 GEDFT Procedimento de Investigao e Gesto de Acidentes Ferrovirios.
Todas os eventos classificados como acidentes ferrovirios so informados
mensalmente a ANTT, atravs do SIADE Sistema de Acompanhamento do
Desempenho das Concessionrias de Servios Pblicos de Transportes
Ferrovirios -, a fim de apurar o cumprimento da meta contratual de reduo do
indicador de segurana.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 24 -
2.2.1 Tipos de acidentes ferrovirios
So diversos tipos de eventos que podem ser classificados como acidentes
ferrovirios. Existem dois grandes grupos de eventos em relao ao local de
ocorrncia: ptio ou circulao. Ocorrncias de ptios so todos os eventos que
o veculo ferrovirio envolvido esteja manobrando, independente do local que ele
esteja fisicamente (por exemplo, pegar e deixar vages, trocar locomotivas,
formar e desmembrar trens, carga e descarga, estacionar material rodante, etc.).
Ocorrncias de circulao so todos os eventos em que o veculo ferrovirio est
circulando ou com caractersticas de circulao, ou seja, se o ativo envolvido est
em trem formado circulando ou parado em ptio.
2.2.1.1 Natureza dos acidentes ferrovirios
Os acidentes ferrovirios tambm so classificados quanto sua natureza. A
Vale segue a conceituao definida no Artigo 3o da Resoluo 1431, que
estabelece os procedimentos para a comunicao de acidentes ferrovirios a
ANTT pelas concessionrias e autorizatrias de servio pblico de transporte
ferrovirio. Para um melhor esclarecimento, segue abaixo a classificao de
acidentes ferrovirios utilizada internamente na Vale, contida no PRO 0801
GEDFT:
Abalroamento: coliso de veculos ferrovirios ou trens, circulando ou manobrando, com qualquer veculo, exceto outro veculo ferrovirio;
FIG 2.2 Foto de um abalroamento. Fonte: PRO 0801 GEDFT Procedimento de
Investigao e Gesto de Acidentes Ferrovirios.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 25 -
Atropelamento: acidente ferrovirio que ocorre, quando um trem ou veculo ferrovirio colide com pessoas e/ou animal, provocando leso ou morte;
Coliso: ocorrncia ferroviria resultante de impacto indevido de veculos ferrovirios contra um obstculo sua livre circulao;
Choque: coliso de veculos ferrovirios ou trens circulando no mesmo sentido, na mesma via, podendo um deles estar parado;
Encontro: coliso de veculos ferrovirios ou trens circulando em sentidos opostos na mesma via, podendo um deles estar parado;
Esbarro: coliso de veculos ferrovirios ou trens circulando ou manobrando em vias distintas, podendo um deles estar parado;
FIG 2.3 Foto de um esbarro.
Fonte: Arquivo pessoal
Descarrilamento: ocorrncias ferrovirias em que uma ou mais rodas do veculo ferrovirio saltam do boleto (parte interna do topo) do trilho;
FIG 2.4 Foto de um descarrilamento. Fonte: Arquivo pessoal
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 26 -
Tombamento: descarrilamento que resulte na inclinao lateral total do veculo ferrovirio;
FIG 2.5 Foto de um tombamento.
Fonte: PRO 0801 GEDFT Procedimento de Investigao e Gesto de Acidentes Ferrovirios.
Semi-tombamento (adernamento): descarrilamento que resulte na inclinao lateral parcial do veculo ferrovirio;
Exploso: acidente ferrovirio ocorrido por exploso, em trem ou veculo ferrovirio;
Incndio: acidente ferrovirio ocorrido por incndio em trem ou veculo ferrovirio.
O fator causal dos acidentes ferrovirios definido a partir da sua causa raiz.
Segundo Walter Vidon Jr (2008), a causa raiz aquele fator causal do acidente
que se for eliminado, jamais e em tempo algum o acidente ocorreria. Ou seja, o
fator alavancador do acidente, sendo o ltimo desvio que ocorre no processo
antes do seu acontecimento.
Em alguns processos de apurao de acidentes ferrovirios, a definio da
causa raiz um trabalho complexo, pois um evento pode ter sido causado por
diversos fatores. Estes fatores recebem a denominao de causas
contribuitrias, ou seja, so causas atuantes para o acontecimento do acidente,
porm se o fator de alavancagem no tivesse atuado (causa raiz), provavelmente
o acidente no teria ocorrido. A apurao e estudo destas causas so
fundamentais para a definio de aes preventivas e recomendaes que tm o
objetivo fim deste processo: evitar a recorrncia de acidentes ferrovirios. Caso
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 27 -
uma ocorrncia tenha sido causada por duas falhas crticas acontecendo
simultaneamente, denomina-se como causa combinada o fator acionador do
acidente. Porm, na maioria dos processos de apurao possvel definir a falha
ou anomalia de maior magnitude, chegando assim causa raiz do acidente.
2.2.1.2 reas de responsabilidade
O Artigo 3o da Resoluo 1431 tambm define o grupo de causas para os
acidentes ferrovirios quanto ao fator causal: falha humana, via permanente,
material rodante, sistemas de telecomunicao, sinalizao e energia, atos de
vandalismo e casos fortuitos ou de fora maior. Internamente a Vale atende esta
classificao, porm, para uma melhor estratificao das informaes e maior
aprofundamento na gesto das ocorrncias junto s reas responsveis, os
fatores causais dos acidentes so definidos pelos motivos a seguir:
Falha Funcional: acidente causado por falha direta de um empregado, geralmente atrelado ao descumprimento de alguma regra operacional da ferrovia;
Operao (falha gerencial): acidente causado por falha de descumprimento, originada em falta de treinamento, no alinhamento de informaes a partir da superviso/gesto da rea para o empregado envolvido;
Mecnica Locomotiva: acidente causado por alguma falha da locomotiva ou algum dispositivo diretamente ligado a ela;
Mecnica Vago: acidente causado por alguma falha do vago ou algum componente diretamente ligado a ele;
Via Permanente: causa do acidente diretamente ligado a um problema na infra-estrutura, super-estrutura e equipamentos diretamente ligados rea de via permanente;
Sinalizao/Eletroeletrnica: causa do acidente ligado problemas nos equipamentos da sinalizao ferroviria ou equipamentos da eletroeletrnica de campo ou embarcados nas locomotivas;
Abalroamento: o acidente causado quando algum veculo rodovirio atinge a locomotiva ou algum vago da composio.
Vandalismo: acidente causado por algum motivo diretamente ligado a ao de terceiros sobre a composio ou ativo da ferrovia;
Atropelamento: causa devido o atropelamento de pessoas pela locomotiva ou por algum vago;
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 28 -
Atropelamento Animais: causa devido o atropelamento de animais pelo ativo ferrovirio envolvido;
Casos fortuitos / Fora maior: so os acidentes causados por qualquer motivo no listado anteriormente.
2.2.1.3 Outros tipos de ocorrncias
Quando um evento no classificado como ocorrncia ferroviria de acordo
com o fluxograma mostrado na FIG. 2.1, a Vale definiu duas classificaes
bsicas: os quase-acidentes e incidentes.
2.2.1.3.1 Quase-acidentes
Os quase-acidentes so todos os fatos ou acontecimentos no desejados
que por questo de espao e/ou tempo no resultou em leses pessoais ou
danos materiais aos recursos ferrovirios. Classificam-se tambm como quase-
acidentes as ocorrncias que no constituem um acidente ferrovirio, causado
pela transgresso das normas e regulamentos da ferrovia, contidas no
Regulamento de Operaes Ferrovirias ROF, tais como:
Avano de Sinal;
Desrespeito sinalizao;
Excesso de velocidade;
Licenciamento irregular;
Erro de macro;
Circulao irregular;
Transposio de aparelho de mudana de via (AMV) com chave ao contrrio sem descarrilamento;
Carregamento irregular;
Disparo de Trem;
Corrida de veculo;
Manobra seca (sem ar no sistema de freio dos vages movimentados);
Manobra solta (sem o completo engate dos vages);
Anormalidade na descarga;
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Choque com cancela;
Deseixamento de Rodas sem Descarrilamento;
Fracionamento de Trem;
Invaso de faixa de segurana;
Perturbao do trfego;
Vandalismo;
Quebra de trilho detectada pelo trem;
Iminncia de abalroamento/atropelamento/coliso;
Defeito no AMV detectado pelo trem;
2.2.1.3.2 Incidentes
Os incidentes podem ser definidos como ocorrncias no desejadas ou no
programadas que venham a deteriorar ou diminuir a eficincia operacional. So
eventos que no so classificados como acidente ferrovirio, avaria ou quase
acidente, acarretando ou no danos pessoais e/ou materiais. A classificao dos
incidentes utilizada na Vale ocorre pela rea responsvel, facilitando a
organizao e tratamento. Abaixo alguns exemplos de incidentes:
Incidente Operao: acionamento indevido dos freios de emergncia do trem sem descarrilamento;
Incidente - Via permanente: obstruo da via por intemprie, quebra de trilho detectada pelo auto / ronda, defeito no AMV detectada pelo auto / ronda;
Incidente Vago: vazamento de carga/combustvel sem danos ambientais;
Incidente Terceiros: incndio nas margens da linha, falta de energia de origem externa, animal a beira da linha, pessoa a beira da linha, encontro de cadveres;
Alm destes citados acima, temos tambm os incidentes causados pelos Clientes, devido a Eletroeletrnica, Equipamentos de Via e Locomotivas.
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2.2.1.4 Critrio de gravidade atual
O rgo regulador tambm define alguns critrios para a gravidade da
ocorrncia ferroviria conforme o Art 4 da Resoluo n 1431 ANTT. Aps a
ocorrncia de um acidente ferrovirio, e a verificao do atendimento de uma das
condies de gravidade, a ferrovia responsvel tem que comunicar o rgo
regulatrio em no mximo duas horas. Aps esta primeira comunicao, a
ferrovia dever formalizar o Formulrio de Comunicao de Acidente Ferrovirio
Grave em at vinte e quatro horas da ocorrncia. Todos os detalhes do processo
de comunicao esto descritos no documento Comunicao de Acidentes
Graves a ANTT PRO-0003 GACFA. O conceito de gravidade atual est descrito
a seguir.
Art 4 Considera-se acidente ferrovirio grave aquele que envolve o transporte ferrovirio de passageiros, de produtos perigosos, conforme Decreto n 98.973/90 e Resoluo ANTT n 420/04, ou acarrete uma das seguintes conseqncias:
I - morte ou leso corporal grave que cause incapacidade temporria ou permanente ocupao habitual de qualquer pessoa.
II - interrupo do trfego ferrovirio: a) por mais de 2 (duas) horas em linhas compartilhadas com o servio de transporte ferrovirio urbano de passageiros; b) por mais de 6 (seis) horas no servio de transporte ferrovirio de passageiros de longo percurso ou turstico; c) por mais de 24 (vinte e quatro) horas em linhas exclusivas para o transporte de cargas;
III - prejuzo igual ou superior a R$ 1.000.000,00 (um milho de reais);
IV - dano ambiental; e
V - outros danos de impacto populao atingida.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 31 -
2.3 Gesto na Vale
Conforme j mostrado neste trabalho, o processo de gesto de ocorrncias
ferrovirias ponto essencial na agenda de qualquer empresa ferroviria que
preze pela qualidade e aumento contnuo na sua capacidade de transporte.
Esta gesto compreende os processos desde o acionamento de equipes
para atendimento ao acidente, passando pelos procedimentos durante o
atendimento para liberao do trecho ou ativo envolvido, pelo processo de
investigao da ocorrncia, at o processo de gesto dos indicadores
operacionais envolvidos.
Na Vale, o processo de gesto das ocorrncias era descentralizado entre as
trs ferrovias, e internamente tambm se encontravam diferenas em relao aos
procedimentos de caracterizao e principalmente, nos processos de apurao e
gesto do indicador. Entende-se como apurao de uma ocorrncia ferroviria o
processo de verificao das causas raiz e contribuintes, definio da rea
responsvel pelo evento, e gerao de aes organizadas em um plano, com
prazo e responsveis, a fim de corrigir o problema, e tambm aes com carter
preventivo. O processo de gesto se refere ao indicador de quantidade de
ocorrncias ferrovirias nas trs ferrovias, cujas condies para considerao ou
no de determinado evento variavam de acordo com a gesto local.
2.3.1 Investigao e preveno de acidentes - CPIA
Tendo em vista a necessidade de implantao de uma equipe especializada
em tratamento e investigao de ocorrncias ferrovirias na Vale, e tambm um
processo nico para a gesto do indicador, foi criado em 2001 o conceito da
CPIA Comisso Permanente de Investigao de Acidentes. Esta comisso
formada por uma equipe corporativa, dentro da rea de Desenvolvimento Tcnico
Ferrovirio (GEDFT), que coordena as atividades das comisses de cada
ferrovia. Internamente nas reas operacionais, tambm temos uma estrutura
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 32 -
responsvel pela coordenao das comisses regionais em cada Diretoria (EFC,
EFVM e FCA). A sua estrutura por ser observada na FIG. 2.6.
Membros
CPIA - EFVM CPIA EFC
CPIA - FCA
GEDFT CPIA Corporativa
Membros Membros
Coordenao e acompanhamento de prazos e qualidade tcnica das
apuraes
Execuo das aes de bloqueio
Coordenao das atividades de campo e
acompanhamento detalhado de cada
apurao.
FIG. 2.6 Estrutura das Comisses Permanentes de Investigao de Acidentes.
Fonte: Plano Diretor de Operaes da EFVM, 2007.
O objetivo macro desta estrutura estabelecer as diretrizes para
constituio, organizao e funcionamento das CPIA`s, orientando os usurios
que analisam as informaes cadastradas no sistema de registro de ocorrncias
ferrovirias (GOFER Gesto de Ocorrncias Ferrovirias).
A CPIA regional estabelece a funcionalidade e operao destas comisses
em relao composio (garantindo que todas as reas operacionais estejam
presentes), s responsabilidades dos integrantes, prazos para execuo das
atividades de rotina (reunies semanais, mensais e reunies para apurao de
eventuais ocorrncias) e garante a gesto das aes propostas, cobrana de
prazos e a disseminao dos indicadores envolvidos. Ela atua como interface
entre as reas operacionais e a gesto corporativa da CPIA, no que tange a
verificao da qualidade das apuraes, planos gerados, considerao e
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 33 -
desconsideraes de ocorrncias, alm de outros. O Gerente Geral define o
coordenador da CPIA da unidade operacional (EFC, EFVM e FCA), delegando a
ele autonomia para acompanhar as atividades de preveno de acidentes
ferrovirios, quase acidentes e incidentes. O coordenador da CPIA, em conjunto
com os Gerentes de rea, definem os membros da equipe de CPIA de cada
rea.
A CPIA corporativa, alm das funcionalidades de gesto e uniformizao do
processo, promove a constante mobilizao das diretorias para o assunto
segurana, servindo como agente de incentivo para campanhas de sensibilizao
(envolvendo a rea de comunicao, segurana patrimonial e tambm agentes
externos, tais como as comunidades ao longo das linhas).
A composio tpica de uma CPIA possui representantes de todas as reas
que tm interferncia direta com a operao de uma ferrovia:
01 integrante da Operao + Suplente
01 integrante da rea de Vages + Suplente
01 integrante da rea de Via Permanente + Suplente
01 integrante da rea de Eletroeletrnica + Suplente
01 integrante da rea de Locomotiva + Suplente
01 integrante da rea de Equipamentos de Via + Suplente
01 integrante do Centro de Controle Operacional (CCO)
01 integrante da rea de Comunicao
01 integrante da rea de Segurana Empresarial
01 integrante da rea de Sade e Segurana Ocupacional (SSO)
desejvel ter um integrante da rea de implantao de projetos, nas reas aplicveis.
2.3.2 Estruturas auxiliares
Alm da CPIA, as reas operacionais contam com outras estruturas para
garantir o atendimento s ocorrncias ferrovirias com foco corretivo e tambm
preventivo:
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 34 -
Bases de atendimento a emergncias: so locais pr-definidos ao longo da malha, que possuem equipamentos de pronto atendimento para minimizao dos efeitos do acidente. Elas esto distribudas ao longo da malha das trs ferrovias, agilizando a mobilizao e reduzindo o tempo de atendimento aos acidentes;
Equipes de Socorro Ferrovirio: so equipes multidisciplinares que atuam corretivamente, provendo o atendimento imediato s ocorrncias ferrovirias, possibilitando a liberao da via para a circulao dos trens. Alm das equipes, o socorro possui equipamentos especializados para o atendimento aos acidentes e retirada dos ativos envolvidos (guindastes, aparelhos de encarrilamento, macacos hidrulicos, etc).
Brigada de atendimento a emergncias: atua no atendimento a emergncias qumicas, combate a incndio e primeiros socorros, em conjunto com a empresa contratada para atendimento a emergncia qumica. Os empregados que dela participam recebem um treinamento especfico para a mobilizao referente a acidentes com produtos qumicos e potencial contaminao. Todas as rotinas de funcionamento destas equipes so regidas pelo Plano de Atendimento de Emergncia (PAE), programa interno da Vale, conduzido pela rea de Meio Ambiente.
Os processos e estruturas acima descritos no sero abordados neste
estudo.
2.3.3 Sistema de gesto de informaes GOFER
At o final da dcada de 90, o processo de gesto das ocorrncias
ferrovirias na Vale no eram padronizados, e dependiam da gesto de cada
ferrovia. No havia automao nos processos, pois todos os registros eram feitos
em planilhas de Excel, processo que acarretava muita digitao e passvel de
erros de consolidao. O controle de prazos de apurao e aes geradas era
falho, o que impactava diretamente na qualidade das apuraes.
Com esta estrutura frgil, a cultura de tratamento das anomalias e problemas
identificados nos processos de apurao no era disseminada, ficando restritos
ao processo de investigao e em algumas poucas iniciativas isoladas para
estudos preventivos.
Estes desvios estruturais acarretavam problemas internos e tambm
ameaavam a Vale frente aos rgos regulatrios em suas rotinas de inspeo,
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 35 -
que acontecem periodicamente junto s concessionrias. A vulnerabilidade de
um processo no uniforme e sem a proteo de um sistema para consolidao
das informaes e dos nmeros referentes s ocorrncias, se constitua em
ponto de risco nas auditorias da ANTT e Ministrios dos Transportes.
A partir deste cenrio, era clara a necessidade da padronizao do
tratamento dos acidentes ferrovirios nas ferrovias da Vale. Assim, a partir de
2001, a rea corporativa responsvel pelo processo de segurana operacional
das ferrovias iniciou um projeto pioneiro para a construo de um sistema nico
para registro, apurao e tratamento das informaes e apurao das
ocorrncias ferrovirias. Ele foi denominado Gesto de Ocorrncias Ferrovirias
(GOFER), sendo desenvolvido por uma empresa especializada em sistemas a
partir dos conhecimentos de diversos especialistas da Vale, e foi implantado em
2002.
O GOFER tem o objetivo de unificar e padronizar os processos de
investigao de ocorrncias ferrovirias, controlar os planos de ao e
automatizar todo processo, evitando acompanhamentos paralelos e extravio de
informaes. A partir da padronizao dos dados de entrada referentes
ocorrncia em apurao, atravs de campos de preenchimento obrigatrios
(informaes essenciais, tais como o local, data, hora, tipo, prefixo do trem,
quantidade de vages, locomotivas, tipo de mercadoria transportada, volume,
etc) e outros no-obrigatrios (informaes complementares, tais como a
quantidade de rodeiros descarrilada, posio final dos vages aps o acidente,
tipo, condio da infra-estrutura do local do acidente, e outras informaes mais
detalhadas), consegue-se a uniformidade nos dados coletados em campo, no
local da ocorrncia. A partir desta uniformidade dos dados de entrada, as
concluses, estudos decorrentes e necessrios para a apurao da causa raiz e
causas complementares so mais bem direcionados para as equipes de campo.
A partir da implantao do GOFER o processo de gesto da segurana
operacional ganhou robustez e a prioridade necessria para mobilizao geral
das lideranas e todo o corpo de empregados.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 36 -
FIG. 2.7 Tela inicial do GOFER.
2.3.4 Seqncia de eventos (comunicao apurao fechamento)
Para melhor ilustrar o objeto deste estudo, a seguir ser descrito a seqncia
de eventos que compe o processo de gerenciamento do acidente ferrovirio
dentro da Vale. Todo este processo est descrito no Regulamento para
Atendimento as Ocorrncias Ferrovirias REG 0500 GEDFT.
A primeira comunicao do evento ocorre a partir do operador de campo para
o Centro de Controle Operacional (CCO) da ferrovia. A partir do nivelamento
desta rea, o processo direcionado para o Centro de Controle de Emergncia
(CCE), rea do CCO responsvel pelo registro da comunicao no GOFER,
acionamento gerencial dos responsveis no campo e das equipes de
atendimento para o evento (socorro ferrovirio). O REG 0500 GEDFT define a
classificao do evento em relao prioridade de atendimento, o grupo de
empregados cuja presena no atendimento obrigatria, define a figura do dono
da ocorrncia (empregado que ser o responsvel pela conduo do
atendimento ao acidente), caracterizao dos empregados no local de
atendimento, orientaes em relao postura frente imprensa e comunidades
afetadas e aborda todos os quesitos e passos a serem seguidos para que o
atendimento ocorrncia seja realizado de maneira segura, sem riscos para os
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 37 -
empregados e equipamentos utilizados, e garantindo todos os recursos para a
efetividade da liberao do local e ativos envolvidos.
Como cada acidente ferrovirio um evento que pode ser considerado nico,
as atividades necessrias para a normalizao e retirada dos ativos envolvidos
varia de acordo com o cenrio. O PRO 0500 GEDFT possui uma srie de
orientaes para garantir a segurana destas atividades, compreendendo desde
a postura do empregado na rea do acidente, at atividades mais complexas tais
como operao com o guindaste, remoo de lastro, soldagem de trilhos e
tambm uma descrio detalhada do atendimento em acidentes com vages
carregados com todos os produtos perigosos movimentados pelas ferrovias, de
acordo com a tabela da ONU, mostrada no captulo 7.1.
A partir do registro da ocorrncia no GOFER, uma mensagem automtica
enviada via e-mail: esta mensagem direcionada para uma extensa lista de
empregados que esto direta ou indiretamente envolvidos com a operao da
ferrovia onde aconteceu o evento. Um outro formato de aviso o envio
automtico da primeira comunicao do acidente via mensagem de celular, que
funciona como um timo sinalizador para as ocorrncias que ocorrem de
madrugada ou nos finais de semana. Assim os gestores entram em contato com
as reas operacionais a fim de um melhor nivelamento e direcionamento de
recursos para garantir o atendimento ocorrncia.
O atendimento ocorrncia responsabilidade das equipes de socorro
ferrovirio. De acordo com o grau de complexidade do acidente, o atendimento
pode ser conduzido por um Coordenador Local, que o representante direto do
Dono do Acidente. Ambos so definidos de acordo com o REG 0500 GEDFT. A
estrutura organizacional de um atendimento pode ser vista na figura abaixo, onde
se busca representar todas as reas presentes e as interfaces presentes,
garantindo o alinhamento de responsabilidades no processo.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 38 -
FIG. 2.8 Estrutura organizacional de atendimento ocorrncias ferrovirias na
Vale. Fonte: Regulamento para atendimento a acidentes ferrovirios (RAOF), REG 0500
GEDFT
Durante o atendimento ao acidente, um outro processo muito importante
tambm iniciado: a investigao do acidente. Segundo Walter Vidon Jr (2008),
a investigao de uma causa de acidente exige uma abordagem multidisciplinar.
Isso explica a composio das equipes da CPIA, que em conjunto com as
equipes do Socorro Ferrovirio, so os agentes que conduzem o processo de
definio da causa raiz e contribuintes. A investigao deve ser apoiada em fatos
e dados, que devem ser coletados no local da ocorrncia, evitando que possveis
evidncias das causas possam desaparecer, aps a descaracterizao da cena
com a retirada dos veculos envolvidos. O processo tambm deve ser rpido e
possuir efeito imediato, pois se for lento e moroso, ele perde o impacto e tambm
oportunidades de esclarecimentos e estudos mais focados (Vidon, 2008).
Todas as etapas do processo investigatrio esto descritas no Procedimento
de Investigao e Gesto de Acidentes Ferrovirios PRO - 0801 GEDFT. Ele foi
elaborado por especialistas das diversas reas que compes a ferrovia, sendo
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 39 -
utilizado no treinamento dos investigadores e material obrigatrio para consulta
durante o processo de investigao das ocorrncias.
Em relao metodologia de investigao, o setor ferrovirio segue as
diretrizes da rea considerada benchmarking: o setor aeronutico sempre
desenvolveu conhecimento e tecnologia aplicados para garantir que todas as
investigaes sejam assertivas, gerando aes corretivas eficientes, e o principal,
gerando aes preventivas e preditivas. Isto essencial neste setor, pois o
impacto de um acidente areo sempre coloca em risco a vida dos tripulantes e
passageiros, alm dos prejuzos com a perda de ativos e a imagem da empresa
envolvida. Este setor formulou algumas premissas para atuao focada nos
acidentes, que pode ser totalmente aplicada no setor ferrovirio, exemplificando a
importncia que o processo possui em ambos os modais de transporte.
Os Mandamentos de Segurana (Vidon, 2008) IATA (International Air Transport Association), ICAO (Iternational Civil Aviation Organization) e DAC (Departamento de Aviao Civil):
Todo acidente pode e deve ser evitado;
Todo acidente resulta de uma seqncia de eventos e quase nunca de uma causa isolada;
Preveno de acidentes uma tarefa que requer mobilizao geral;
O propsito da preveno de acidentes no restringir o transporte e sim estimular o seu crescimento;
Todo acidente tem um precedente;
Diretores, gerentes e supervisores so os principais responsveis pela segurana;
Em preveno de acidentes no h segredos nem bandeiras;
Acusaes e punies agem diretamente contra os interesses da preveno de acidentes.
Todas estas premissas mostram que o processo de gesto de acidentes da
Vale est alinhado com as melhores prticas mundiais.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 40 -
2.3.5 Gesto dos resultados
Uma parte essencial do processo das ocorrncias ferrovirias est na gesto
do indicador, o que garante que os resultados estejam em constante divulgao,
reiterando o foco das ferrovias em garantir a segurana operacional. Para isso,
foram definidos alguns informes padronizados, que garantem a uniformidade da
informao e tambm o alcance do indicador para todos os nveis hierrquicos da
companhia.
2.3.5.1 Controles internos da Vale
O principal informativo o Alerta Dirio, no formato de um grfico mensal,
com atualizao diria, mostrando a quantidade de ocorrncias ferrovirias
mensais, e o detalhamento destas ocorrncias no ms corrente. Anexado ao
controle de ocorrncias, temos tambm o grfico que mostra a situao das
comunicaes dos quase-acidentes nas ferrovias. Este instrumento essencial
para o acompanhamento dos acidentes e ferramenta comumente utilizada pelos
Diretores e Gerentes na mobilizao de determinada rea.
FIG. 2.9 Tela com o controle dirio de ocorrncias ferrovirias (Alerta Mximo)
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 41 -
A consolidao mensal das informaes realizada em um relatrio que
contm diversas anlises do comportamento do ms em relao s ocorrncias
ferrovirias, o histrico e as metas de cada rea envolvida, alm das mtricas
enviadas para a ANTT. O Book de Segurana Mensal disponibilizado para
todas as reas, e a fonte oficial dos dados referentes a acidentes ferrovirios
na Vale.
FIG. 2.10 Telas do controle mensal de ocorrncias (Book
Segurana Operacional)
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 42 -
2.3.5.2 Indicador de acompanhamento da ANTT
O indicador oficial para mensurar a mtrica referente aos acidentes
ferrovirios uma relao entre a quantidade de acidentes considerados pela
ANTT e o total de movimentao de trens apurado em determinado perodo. Ele
conhecido como Milho de Trem Quilmetro, sendo determinado a partir da
equao abaixo:
)(
)(
percorridatotalgemQuilometraxTrensdeQuantidadequilmetrotremdeMilho
QuantidadeosferroviriacidentesdeTotalIndicador=
EQ. 2 Indicador Milho de Trem Quilmetro
Este um indicador utilizado no mundo inteiro para avaliao da segurana
nas operaes de uma ferrovia.
A ANTT definiu metas para este indicador, com o objetivo de garantir o
aumento de produo de maneira sustentvel para as concessionrias. Ou seja,
as concessionrias tm o objetivo e metas para aumentar a capacidade de
transporte, mas tambm devem priorizar os investimentos para garantir a
segurana operacional. E existem penalidades para as concessionrias em
casos de descumprimento destas metas. A Resoluo No 288 da ANTT de 10 de
setembro de 2003 regulamenta a aplicao de penalidades em face do
descumprimento das Metas de Produo e de Reduo de Acidentes, no mbito
dos Contratos de Concesso.
Porm, insustentvel se pensar em crescimento real e constante, se a
pauta da segurana no for prioridade nos projetos das ferrovias.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 43 -
3 Histrico geral
A Vale prioriza a segurana de suas operaes em todos os setores que
atua. Este fato confirmado pelo comportamento de suas ferrovias, se
analisarmos o perodo de 1998 a 2007 em relao ao total de ocorrncias
ferrovirias. Este perodo importante, pois marca o incio do processo de
concesso das ferrovias da antiga RFFSA, onde a Vale participa atravs da
concesso na operao da malha da Ferrovia Centro-Atlntica, principalmente
aps o ano de 1999, onde ela sua aumentou a participao societria, e
efetivamente passou a gerir esta ferrovia.
A anlise da FIG. 2.1, mostra a efetividade da gesto da Vale na diminuio
da quantidade dos acidentes ferrovirios nas malhas das ferrovias por ela
operadas. Nota-se uma reduo significativa na quantidade de ocorrncias:
comparando-se o ano de 2007 com 1998, tem-se uma diminuio de 75% no
total de acidentes ferrovirios registrados.
1089 1155 1188 1009 947800
662524
358 277
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
FIG. 3.1 Quantidade de ocorrncias ferrovirias na Vale. Fonte: Book Mensal de Ocorrncias Ferrovirias GEDFT - 2008
A distribuio da participao de cada ferrovia no total de acidentes da Vale,
mostra algumas informaes interessantes: a FCA se mantm como a maior
contribuinte para este total, mantendo a mdia de 67% do total; a participao da
EFVM neste total caiu ao longo do perodo analisado, saindo de um patamar de
29% para 20%; j a EFC aumentou a sua participao, saindo de 6% em 1998
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 44 -
para um total de 16% em 2007. Este comportamento mostra que na EFC o
aumento do volume transportado impactou tambm na questo do risco
operacional.
Participao das ferrovias no total de ocorrncias ferrovirias da Vale
65% 65% 62%70% 68%
78% 78%
60%68%
29% 29%25% 25%
18% 16% 19% 20%
6% 6% 6%
61%
32%25%
7%6% 8% 4%18% 16%6%
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
% FCA %EFVM %EFC
FIG. 3.2 Participao das ferrovias no total apurado na Vale.
Fonte: Book Mensal de Ocorrncias Ferrovirias GEDFT - 2008
A anlise do comportamento da FCA em relao ao quantitativo de
ocorrncias ferrovirias mostra uma reduo forte no total apurado, saindo de
uma mdia de 705 ocorrncias em 98, quase dois acidentes por dia, para um
total de 189 ocorrncias em 2007. Este comportamento se repete na EFVM, onde
a reduo alcanou 83% comparando-se 2007 com 1998. J na EFC, a queda no
total de acidentes no foi to significativa quanto s outras duas ferrovias da
Vale, atingindo um fator de reduo de 37%. Um fator que prejudicou a efetiva
reduo naquela ferrovia, foi o comportamento crescente das ocorrncias
ferrovirias totais desde 2003, principalmente em relao aos atropelamentos e
acidentes devido causa via permanente.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 45 -
Quantidade de ocorrncias ferroviriasFCA
705 755 735 705 640 620 514321 215 189
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Quantidade de ocorrncias ferroviriasEFVM
316 334377
248 234146 107 133 5567
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Quantidade de ocorrncias ferroviriasEFC
68 66 76 5673
34 41 3863
43
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
FIG. 3.3 Quantidade de ocorrncias nas ferrovias da Vale.
Fonte: Book Mensal de Ocorrncias Ferrovirias GEDFT - 2008
Analisando as trs ferrovias em relao ao indicador Milho de Trem
Quilmetro, item de performance diretamente acompanhado pela ANTT, nota-se
a reduo efetiva das ocorrncias frente ao aumento gradativo na produo e
volumes transportados. Assim, pode-se concluir que os investimentos da Vale
para garantia da segurana operacional foram realmente eficazes, destacando-se
a recuperao da infra-estrutura da via permanente, reforma e aumento da
capacidade de pontes e tneis, instalao de equipamentos preventivos para
sinalizao e indicao de descarrilamentos instalados na linha e tambm nos
vages, e principalmente o foco na segurana operacional dos processos e
pessoas.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 46 -
92,0 86,0 82,5 80,068,0 62,5 57,5
49,0
83,9 91,0 91,6 82,662,1 59,5
44,829,6 20,1
88,0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Acidentes/MTkm - FCA
Meta ANTT
27,933,8
22,4
31,8
24,6 23,7 23,0 22,1
27,9 32,033,8
22,5 21,912,6 8,4 9,3
32,0
5,3
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Acidentes/MTkm - EFVM
Meta ANTT
11,513,4
9,1
13,312,2 12,2 12,2 12,2
11,5 12,6 12,99,1
11,7
5,2 5,5 4,87,4
12,6
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Acidentes/MTkm - EFCMeta ANTT
FIG. 3.4 Evoluo do indicador acidentes por milho de
trem-quilmetro nas ferrovias da Vale. Fonte: Book Mensal de Ocorrncias Ferrovirias GEDFT
- 2008
Uma anlise mais detalhada e estratificada, a partir de um estudo no
comportamento das ocorrncias ferrovirias por natureza no perodo de 2005 a
2007, revela alguns pontos de ateno em relao ao aumento de determinados
acidentes de acordo com a sua causa, mesmo com o total geral em ritmo
decrescente.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 47 -
3.1 Histrico das ferrovias americanas
Porm, primeiramente, o estudo far uma comparao com ferrovias norte-
americanas, para verificar se o comportamento da EFC e EFVM est dentro de
parmetros mundiais de benchmarking. A comparao com outras ferrovias
uma ferramenta usual para avaliao da evoluo de indicadores da indstria. Na
Amrica do Norte, anualmente editado e publicado um reporte da evoluo da
indstria ferroviria, englobando diversos indicadores. O texto, intitulado de
Railroad Facts, aborda entre esses muitos indicadores, um de ocorrncias
operacionais, representado pelo indicador ocorrncias por milho de trem milhas.
TAB. 1 - Evoluo do indicador de ocorrncias ferrovirias nos EUA no perodo de 1980 a 2005.
Fonte: Rail Road Facts Magazine, 2005.
Importante salientar que as ferrovias EFVM e EFC, devido s caractersticas
intrnsecas (so ferrovias do tipo heavy haul, com alta carga transportada por
eixo de transporte), no devem ser comparadas com ferrovias que fazem
transporte de carga geral, que sofrem uma menor solicitao. Para essas
ferrovias mais adequada a comparao com outras ferrovias do tipo heavy
haul.
Em relao a EFVM foi utilizada como comparao a empresa Norfolk
Southern Corporation. Em 2007 o indicador observado de ocorrncias
operacionais para essa ferrovia foi de 3,6 ocorrncias/milho de trem.km.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 48 -
Em relao a EFC foi utilizada como parmetro para comparao a empresa
CSX Transportation. Em 2007 o indicador observado de ocorrncias operacionais
para essa ferrovia foi de 4,4 ocorrncias/milho de trem.km.
3.2 Detalhamento do histrico nas ferrovias da Vale
Embora nas trs ferrovias da Vale o indicador de milho de trem-quilmetro
tenha, nos ltimos trs anos, cado, nota-se que alguns tipos de ocorrncia no
tiveram uma melhoria sistemtica numa avaliao percentual dessas ocorrncias.
Segue abaixo o histrico das ocorrncias em cada uma das ferrovias.
3.2.1 Histrico da FCA de 2005 a 2007
TAB. 2 Histrico de ocorrncias ferrovirias da FCA de 2005 a 2007. 2005 2006 2007 Status Natureza N N/Tr.km % N N/Tr.km % N N/Tr.km % Descarrilamento 201 16,38 62,6% 112 10,69 52,1% 107 10,43 56,6% 2 Abalroamento 51 4,16 15,9% 47 4,49 21,9% 36 3,51 19,0% 2 Atropelamento pessoas 43 3,50 13,4% 39 3,72 18,1% 30 2,92 15,9% 2 Descarrilamento com Tombamento 16 1,30 5,0% 10 0,95 4,7% 10 0,97 5,3% 1 Descarrilamento com Tombamento - Parcial 6 0,49 1,9% 5 0,48 2,3% 5 0,49 2,6% 1 Encontro 0 0,00 0,0% 0 0,00 0,0% 1 0,10 0,5% 1 Esbarro 2 0,16 0,6% 1 0,10 0,5% 0 0,00 0,0% 3 Incndio 0 0,00 0,0% 1 0,10 0,5% 0 0,00 0,0% 3 Choque 2 0,16 0,6% 0 0,00 0,0% 0 0,00 0,0% 3 Total 321 26,16 100% 215 20,53 100% 189 18,42 100%
Fonte: Book Mensal de Ocorrncias Ferrovirias GEDFT 2008
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 49 -
3.2.2 Histrico da EFVM de 2005 a 2007
TAB. 3 Histrico de ocorrncias ferrovirias da EFVM. 2005 2006 2007 Status Natureza N N/Tr.km % N N/Tr.km % N N/Tr.km % Descarrilamento 92 6,96 69,2% 44 3,50 62,0% 24 1,79 43,6% 3 Atropelamento pessoas 15 1,13 11,3% 14 1,11 19,7% 12 0,89 21,8% 1 Abalroamento 8 0,61 6,0% 6 0,48 8,5% 11 0,82 20,0% 1 Esbarro 4 0,30 3,0% 2 0,16 2,8% 3 0,22 5,5% 1 Descarrilamento com Tombamento 5 0,38 3,8% 4 0,32 5,6% 2 0,15 3,6% 2 Descarrilamento com Tombamento - Parcial 3 0,23 2,3% 0 0,00 0,0% 1 0,07 1,8% 2 Encontro 0 0,00 0,0% 0 0,00 0,0% 1 0,07 1,8% 1 Incndio 0 0,00 0,0% 0 0,00 0,0% 1 0,07 1,8% 1 Coliso 1 0,08 0,8% 0 0,00 0,0% 0 0,00 0,0% 3 Choque 5 0,38 3,8% 1 0,08 1,4% 0 0,00 0,0% 3 Total 133 10,06 100% 71 5,65 100% 55 4,10 100%
Fonte: Book Mensal de Ocorrncias Ferrovirias GEDFT 2008
3.2.3 Histrico da EFC de 2005 a 2007
TAB. 4 Histrico de ocorrncias ferrovirias da EFC.
2005 2006 2007 Status
Natureza N N/Tr.km % N N/Tr.km % N
N/Tr.km %
Descarrilamento 15 1,87 39,5% 37 4,35 58,7% 23 2,45 53,5% 2 Atropelamento pessoas 15 1,87 39,5% 18 2,12 28,6% 9 0,96 20,9% 3 Descarrilamento com Tombamento 2 0,25 5,3% 0 0,00 0,0% 4 0,43 9,3% 1 Abalroamento 4 0,50 10,5% 3 0,35 4,8% 4 0,43 9,3% 2 Choque 0 0,00 0,0% 0 0,00 0,0% 2 0,21 4,7% 1 Incndio 0 0,00 0,0% 0 0,00 0,0% 1 0,11 2,3% 1 Descarrilamento com Tombamento - Parcial 0 0,00 0,0% 0 0,00 0,0% 0 0,00 0,0% 3 Encontro 0 0,00 0,0% 0 0,00 0,0% 0 0,00 0,0% 3 Esbarro 2 0,25 5,3% 5 0,59 7,9% 0 0,00 0,0% 3 Total 38 4,75 100% 63 7,41 100% 43 4,58 100%
Fonte: Book Mensal de Ocorrncias Ferrovirias GEDFT 2008
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 50 -
3.2.4 Anlises do histrico
As tabelas anteriores apresentam uma coluna de status, onde so
apresentadas as seguintes classificaes:
Vermelho - Piora % sistemtica devido causa operacional correspondente;
Amarelo - Comportamento % aleatrio devido a essa causa operacional correspondente;
Verde - Melhoria % sistemtica devido causa operacional correspondente.
Verifica-se que alguns poucos itens so os grandes responsveis pelos
indicadores de ocorrncias operacionais. A tabela abaixo resumo esses itens,
que embora tenham tido melhorias nos ltimos anos, continuam sendo
impactantes no total de ocorrncias.
TAB. 5 - Principais fatores causais de ocorrncias nas ferrovias da Vale Ferrovia Principais fatores causais
EFVM Descarrilamento Atropelamento de pessoas Abalroamento
EFC
Descarrilamento Atropelamento de pessoas Descarrilamento com Tombamento Abalroamento
FCA Descarrilamento Abalroamento Atropelamento de pessoas
Em relao s ocorrncias ferrovirias, a EFVM apresentou em 2007 um
ndice de pouco mais de 4 acidentes por milho de trens quilmetro. Embora em
2005 esse ndice tenha sido de mais de 10 acidentes por milho de trem
quilmetro, a EFVM ainda est longe de equiparar-se com a mdia das ferrovias
americanas, tendo sido observado, para essas ferrovias, tal ndice apenas no
incio dos anos 80.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 51 -
Para a EFC foi observado, em 2007, um ndice de 4,58 acidentes por milho
de trem.km. Esse ndice teve como conseqncia principal trs fatores bsicos,
descritos na tabela acima. Destaca-se como causa o descarrilamento, com
influncia direta de problemas estruturais no trilho utilizado em Carajs. Em 2007
foi iniciado um processo de rastreamento e troca de trilhos que j estavam
assentados na linha. Outro importante fator causal na EFC relacionado com o
atropelamento de pessoas.
Para a FCA, a matriz de causas e natureza assemelha-se a EFVM,
principalmente em relao s ocorrncias ferrovirias com terceiros, devido
extensa malha e quantidade de cidades atravessadas.
Destaca-se assim a necessidade de se aprofundar nas naturezas das
ocorrncias ferrovirias de determinada rea, para um melhor entendimento dos
fatores causais. Porm esta anlise ainda superficial, no que tange apenas aos
quantitativos de acidentes ferrovirios. Um melhor estudo das apuraes das
ocorrncias ferrovirias necessrio para ter o total entendimento do processo
de segurana operacional, e principalmente, o impacto daquele quantitativo nas
operaes da ferrovia, na matriz de custos, e principalmente, no esforo
necessrio para a correo dos seus impactos e consequncias.
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 52 -
4 Fatores de gravidade
Todos os acidentes ferrovirios analisados anteriormente tm como
conseqncia direta danos econmicos, sejam pela gerao de custos, que so
associados com indenizaes, multas, recomposio de via permanente, entre
outros; ou sejam pela diminuio da receita gerada, diretamente associada com
gerao de trem hora parado (THP), que tem reflexo direto na descontinuidade
do transporte na ferrovia.
4.1 Conseqncias dos acidentes ferrovirios
Porm, as conseqncias de um acidente ferrovirio so diversas, sendo que
podemos agrup-los em quatro pilares:
Conseqncias de um acidente ferrovirio: Danos + Imobilizao da linha + Impactos no Meio Ambiente + Custos de
Atendimento
Entende-se por dano, a todo conjunto de efeitos causados pela ocorrncia
ferroviria, em relao linha, as pessoas e ativos envolvidos.
A imobilizao reflete o principal efeito para a continuidade das operaes da
linha, pois o bloqueio do local impede a circulao dos outros trens, at que a
linha e toda a estrutura sejam recompostas. A este parmetro est diretamente
correlacionado o total de horas de imobilizao devido s ocorrncias
ferrovirias.
Os impactos no meio ambiente compreendem todas as possveis aes
poluidoras que a ocorrncia ferroviria pode trazer para a rea de entorno do
evento, focando principalmente no vazamento de mercadorias transportadas ou o
diesel dos tanques das locomotivas. A estas aes poluidoras da ocorrncia
ferroviria esto ligadas desde as multas ambientais definidas pelos rgo
regulatrios de meio ambiente at os termos de ajuste de conduta, que so
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 53 -
avaliados a partir dos nveis de impacto e conseqncias dos efeitos poluidores
da ocorrncia ferroviria.
4.2 O fator custo dos acidentes ferrovirios
O custo de atendimento uma varivel importante para mensurar o impacto
da ocorrncia. Ela consolida em termos financeiros todo o esforo realizado para
devolver a integridade da estrutura do local do acidente e viabilizar o retorno das
operaes. Existem acidentes cujo custo se resume ao atendimento,
contabilizando o homem-hora total gasto nas operaes de encarrilamento. So
geralmente ocorrncias simples, que no dependem de mobilizao de grande
estrutura de pessoal, j que todo o processo de correo depende apenas do
retorno do ativo (locomotiva ou vago) linha, sem necessitar de servios de
correo da estrutura da via permanente ou dos equipamentos ferrovirios
envolvidos. Porm, existem acidentes cujos impactos operacionais so grandes,
envolvendo a mobilizao de equipes completas de socorro e todos os
equipamentos de grande porte necessrios para o encarrilamento dos ativos, ou
mesmo a retirada dos mesmos do leito da linha, servios de correo completa
da via permanente atingida, aes para retirada do material contaminante do
local e das reas atingidas e diversos outros processos. Como os impactos
operacionais, os custos destas ocorrncias crescem medida que a
complexidade dos servios de recomposio aumentam.
Estes custos de atendimento so diretamente proporcionais aos impactos
que os acidentes causaram. Ainda no h uma padronizao para o processo de
levantamento de custos das ocorrncias ferrovirias na Vale. Os dados
registrados no GOFER se referem aos custos apurados a partir do total de
homem-hora gasto na liberao do local, total de horas de equipamentos
utilizados e os recursos em geral utilizados para corrigir os defeitos causados.
Algumas ocorrncias possuem os custos de recuperao dos ativos envolvidos,
englobando o custo mdio de reparao de alguns defeitos, at mesmo o custo
mdio de ativos considerados como perda total. Em outros eventos temos
apurados at mesmo os custos envolvidos com indenizaes, termos de ajuste
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ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE FERROVIRIO DE CARGA IME VALE MRS - 54 -
de conduta (TAC) e outros pagamentos efetuados pela ferrovia devido s
conseqncias do acidente.
A FIG. 4.1 mostra o comportamento anual da curva de reduo do total de
ocorrncias na Vale e o comportamento dos custos totais apurados nos
respectivos anos. A falta de correlao entre a quantidade e os gastos totais com
os acidentes uma das conseqncias desta falta de padronizao. O esperado
seria a curva de custos acompanhando a tendncia de queda da quantidade de
acidentes.
Um dos motivos para este comportamento anmalo o no apontamento
dos custos referentes receita cessante dos trechos, devido s interrupes dos
acidentes. Receita cessante um conceito utilizado para apontamento de perda
de capacidade momentneo devido uma interrupo em uma linha de produo.
Na ferrovia, este conceito utilizado para o apontamento da receita referente aos
fretes dos fluxos de transportes (leia-se, vages carregados) que no circularam
devido uma interrupo da linha. Ele calculado a partir da receita total gerada
pelos fluxos que circularam em um determinado trecho, dividido pelo total de
horas do perodo (geralmente utiliza-se o ano). Porm no h uma metodologia
na Vale definida para este clculo da receita cessante e o seu apontamento nos
relatrios de apurao de acidentes, o que prejudica a correlao entre a
quantidade total de ocorrncias, o tempo total de interrupo causado e o custo