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UMA ABORDAGEM SOBRE RISCO AMBIENTAL: PRINCIPAIS TRECHOS DE RODOVIAS FEDERAIS BRASILEIRAS EM NÚMERO DE ACIDENTES COM PRODUTOS PERIGOSOS Emmanuel Aldano de F. Monteiro José Soares Pires Marcos Aurélio Antunes Rosana Barbosa Fabiana Serra de Arruda Universidade de Brasília Faculdade de Tecnologia e Departamento de Engenharia Civil e Ambiental Programa de Pós Graduação em Transportes RESUMO O processo logístico de manuseio e de transporte de produtos perigosos constitui atividade risco na medida em que a ocorrência de acidentes podem causar impactos ao meio ambiente. Com objetivo de mapear os principais trechos de acidentes envolvendo transporte de produtos perigosos nas rodovias federais do Brasil, procurou-se analisar a base de dados coletada na Polícia Rodoviária Federal no período entre de janeiro de 2009 a dezembro de 2012. O risco envolvendo acidentes com substâncias perigosas é influenciado por diversos fatores, incluindo o transporte. A probabilidade de ocorrer acidente com produto perigoso nas rodovias é muito baixa, mas quando da ocorrência, os impactos são catastróficos. Os trechos das rodovias BR 316 em Belém-PA, e da BR 101 na região metropolitana de Recife-PE apresentaram elevado grau de risco, sobretudo para impactos à saúde humana. O trecho da BR 319 em Rondônia e a BR 376 no Paraná apresentaram elevado risco ambiental. ABSTRACT The logistical process of handling and transportation of dangerous goods is a risk activity in that the occurrence of accidents can cause environmental impacts. Aiming to map the main parts of accidents involving the transport of dangerous goods on federal highways in Brazil, it was tried to analyze the collected data base of the Federal Highway Police for the period January 2009 to December 2012. The risk is configured the way the dangerous substance is related to other factors, including transportation. The probability of an accident involving dangerous goods on the roads is very low, but when the occurrence, the impacts are catastrophic. The stretch of highway BR-316 in Belém-PA and BR 101 in the metropolitan region of Recife-PE showed a high degree of risk, especially for health impacts. Excerpts from BR 319 in Rondônia and BR 376 in Paraná showed a high environmental risk. 1. INTRODUÇÃO No Brasil, grande parte do transporte de cargas é feito pelo modo rodoviário, inclusive o transporte de produtos perigosos. O transporte de produto perigoso constitui uma atividade de elevado grau de risco, podendo ocorrer diversos incidentes ou mesmo acidentes que venham afetar o meio ambiente ou a saúde das pessoas. Eventuais ocorrências indesejadas podem acontecer durante o carregamento, armazenagem e, principalmente, no transporte desses produtos. Segundo o Departamento de Transportes dos Estados Unidos (DOT EUA), materiais perigosos são definidos como qualquer substância ou material capaz de causar danos à saúde humana, bens e ao meio ambiente. A dependência de substâncias perigosas é um fato da vida nas sociedades industrializadas, sendo que milhares de produtos perigosos ainda estão em uso atualmente (Erkut et al., 2007). Vivenciam-se nas últimas décadas preocupações com a preservação do meio ambiente, sobretudo nas localidades de preservação permanente. A grande atenção que vem sendo dada aos impactos em decorrência do extravasamento de produtos perigosos nos ecossistemas nos

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UMA ABORDAGEM SOBRE RISCO AMBIENTAL: PRINCIPAIS TRECHOS DE

RODOVIAS FEDERAIS BRASILEIRAS EM NÚMERO DE ACIDENTES COM

PRODUTOS PERIGOSOS

Emmanuel Aldano de F. Monteiro

José Soares Pires

Marcos Aurélio Antunes

Rosana Barbosa

Fabiana Serra de Arruda Universidade de Brasília

Faculdade de Tecnologia e

Departamento de Engenharia Civil e Ambiental

Programa de Pós Graduação em Transportes

RESUMO

O processo logístico de manuseio e de transporte de produtos perigosos constitui atividade risco na medida em

que a ocorrência de acidentes podem causar impactos ao meio ambiente. Com objetivo de mapear os principais

trechos de acidentes envolvendo transporte de produtos perigosos nas rodovias federais do Brasil, procurou-se

analisar a base de dados coletada na Polícia Rodoviária Federal no período entre de janeiro de 2009 a dezembro

de 2012. O risco envolvendo acidentes com substâncias perigosas é influenciado por diversos fatores, incluindo

o transporte. A probabilidade de ocorrer acidente com produto perigoso nas rodovias é muito baixa, mas quando

da ocorrência, os impactos são catastróficos. Os trechos das rodovias BR 316 em Belém-PA, e da BR 101 na

região metropolitana de Recife-PE apresentaram elevado grau de risco, sobretudo para impactos à saúde

humana. O trecho da BR 319 em Rondônia e a BR 376 no Paraná apresentaram elevado risco ambiental.

ABSTRACT

The logistical process of handling and transportation of dangerous goods is a risk activity in that the occurrence

of accidents can cause environmental impacts. Aiming to map the main parts of accidents involving the transport

of dangerous goods on federal highways in Brazil, it was tried to analyze the collected data base of the Federal

Highway Police for the period January 2009 to December 2012. The risk is configured the way the dangerous

substance is related to other factors, including transportation. The probability of an accident involving dangerous

goods on the roads is very low, but when the occurrence, the impacts are catastrophic. The stretch of highway

BR-316 in Belém-PA and BR 101 in the metropolitan region of Recife-PE showed a high degree of risk,

especially for health impacts. Excerpts from BR 319 in Rondônia and BR 376 in Paraná showed a high

environmental risk.

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, grande parte do transporte de cargas é feito pelo modo rodoviário, inclusive o

transporte de produtos perigosos. O transporte de produto perigoso constitui uma atividade de

elevado grau de risco, podendo ocorrer diversos incidentes ou mesmo acidentes que venham

afetar o meio ambiente ou a saúde das pessoas. Eventuais ocorrências indesejadas podem

acontecer durante o carregamento, armazenagem e, principalmente, no transporte desses

produtos. Segundo o Departamento de Transportes dos Estados Unidos (DOT EUA),

materiais perigosos são definidos como qualquer substância ou material capaz de causar

danos à saúde humana, bens e ao meio ambiente. A dependência de substâncias perigosas é

um fato da vida nas sociedades industrializadas, sendo que milhares de produtos perigosos

ainda estão em uso atualmente (Erkut et al., 2007).

Vivenciam-se nas últimas décadas preocupações com a preservação do meio ambiente,

sobretudo nas localidades de preservação permanente. A grande atenção que vem sendo dada

aos impactos em decorrência do extravasamento de produtos perigosos nos ecossistemas nos

últimos anos está relacionada com a industrialização global, bem como com a crescente

utilização dos derivados do petróleo, este que constitui a principal fonte energética global

desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, o acelerado crescimento dos países

em desenvolvimento, caso do Brasil, fez com que o fluxo de cargas transportadas em suas

rodovias crescesse de forma abrupta.

Aliada à situação precária das rodovias no país, ocorre uma potencialização dos acidentes nas

rodovias brasileiras, inclusive com veículos transportadores de produtos perigosos, atividade

esta essencial para a indústria nacional, sobretudo para os setores de energia, petroquímica,

farmacológica, plástica dentre outras. Essa realidade vem trazendo enormes prejuízos, não

somente ao meio ambiente exposto aos eventuais acidentes com esse tipo de carga, mas

também à saúde humana, por meio de um processo cumulativo de exposição aos agentes

químicos.

O presente artigo tem como objetivo mapear os principais trechos de acidentes envolvendo

veículos transportadores de produtos perigosos no Brasil e seus possíveis riscos ambientais

por classificação de carga. Através de análise investigativa dos acidentes no período de

janeiro de 2009 a dezembro de 2012, bem como traçar uma abordagem geral acerca dos

acidentes com esse tipo de carga nas rodovias federais brasileira.

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Os acidentes no modo rodoviário envolvendo veículos que transportam produtos perigosos

adquirem uma importância especial. Por um lado esses eventos possuem uma intensidade de

risco associada à periculosidade e quantidade do material transportado, com potencialidade

para causar múltiplos danos ao meio ambiente e a saúde dos seres humanos expostos às

eventuais ocorrências. Por outro lado, de acordo com o Departamento Nacional de

Infraestrutura de Transportes (DNIT, 2005), o contínuo desenvolvimento de novas

substâncias no mercado torna cada vez mais frequente os acidentes com produtos

classificados como perigosos, principalmente nas operações de transportes. Conforme Lei no

6938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, em seu artigo 3 traz o

conceito de dano ambiental tal como

“degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente

prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população, criem condições adversas às

atividades sociais e econômicas, afetem desfavoravelmente a biota, afetem as condições

estéticas ou sanitárias do meio ambiente, lancem matérias ou energia em desacordo com os

padrões ambientais estabelecidos.”

Admite-se que a atividade de maior vulnerabilidade de ocorrência de eventos indesejáveis na

cadeia produtiva, que envolva produtos perigosos como insumo, é justamente a de transporte.

Esta atividade está sujeita a uma infinidade de fatores externos que podem acontecer em todo

o trajeto, desde o ponto de partida até seu destino. Corroborando com o exposto acima, DNIT

(2005) afirma que a principal atividade responsável pelos atendimentos relacionados a

acidentes envolvendo produtos perigosos é justamente a de transporte rodoviário de cargas.

A Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT, 2012) considera produto perigoso todo

aquele que representa risco à saúde das pessoas, ao meio ambiente ou à segurança pública,

seja ele encontrado na natureza ou produzido por qualquer processo. Já o risco é configurado

à maneira como a substância perigosa se relaciona com outro fator que pode ser: a exposição,

transporte, contato, etc.

De acordo com o DNIT (2005) a probabilidade de ocorrência de um evento acidental

envolvendo veículos transportadores de produto perigoso é muito baixa, mas quando da

ocorrência, os impactos geralmente são catastróficos, provocando impactos sociais,

ambientais e econômicos. No entanto, a infraestrutura das nossas rodovias e a precariedade da

frota de veículos transportadores de cargas e diversos outros problemas, favorecem

significativamente para o aumento do número de acidentes, constituindo-se em um sério

problema para a saúde pública.

A infraestrutura da malha rodoviária brasileira deve ser considerada de forma especial, pois a

matriz de transporte de produtos perigosos assim como a de transporte em geral está

concentrada substancialmente no modo rodoviário. De acordo com o Plano Nacional de

Logística e Transportes (PNLT, 2007), o modo rodoviário de cargas corresponde a 58% do

transporte de cargas. Não considerado o minério de ferro, esse valor chega a 68% para o

modo rodoviário.

Conforme o DNIT (2005), nas estradas brasileiras coabitam trechos em excelente estado com

trechos totalmente destruídos, tornando as viagens inseguras para os usuários e promovendo

riscos de acidentes. Apesar de haver utilização distinta das rodovias em decorrência das

condições viárias, o transporte de produtos perigosos se dá primordialmente por rodovias

federais, pois estas funcionam como corredores que integram os principais polos industriais

do país. Como o transporte de produtos perigosos é de difícil mensuração por parâmetros de

toneladas transportadas devido a grande variedade dos tipos de produtos em geral

transportados na malha rodoviária brasileira, uma forma de avaliar a participação por tipo de

carga transportada é uma análise da receita por segmento (Figura 1).

Figura 1: Percentual da receita operacional líquida das atividades de transporte em 2005.

Fonte: Adaptado de Lopes (2008)

Lopes (2008) afirma que transporte de cargas envolvendo produtos perigosos, como

explosivos e fertilizantes (denominados Outros Produtos Perigosos), é responsável por 5,5%

do volume transportado por empresas com vinte ou mais empregados. Se somados com 5,1%

de transportes de combustível e GLP (aqui considerado como produto perigoso), tem-se a

terceira principal atividade econômica transportada para o ano de 2005, se analisarmos a

receita operacional líquida das operações (ROL), conforme Figura 1.

3. METODOLOGIA

Para analisar os acidentes envolvendo produtos perigosos nas rodovias federais, foi utilizada

base de dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) contendo a quantidade e as características

de acidentes envolvendo produtos perigosos nas rodovias federais brasileiras no período entre

janeiro de 2009 a dezembro de 2012.

Os impactos ambientais causados pelos acidentes com produtos perigosos foram avaliados em

trechos de rodovias. Para tanto, os dados foram tratados com intuito de identificar e selecionar

os trechos com extensão de 10 km com maior número de acidentes, a fim de retratar a

probabilidade de ocorrência por meio de distribuição de probabilidade de Poisson, uma vez

que esse tipo de evento é considerado aleatório, explicado no item 4 deste artigo.

A partir da definição desses trechos, iniciou-se o processo de cruzamento de dados a fim de

investigar as características das ocorrências de acidentes em geral. Logo, foi realizada uma

abordagem sobre as causas destes acidentes, relacionando-os com a condição externa de fase

do dia.

Em seguida, foi realizada uma análise temporal e de frequência dos acidentes, separando os

dados de acordo com a Unidade Federativa, resultando em uma variação anual (2009 a 2012).

Os produtos perigosos envolvidos nos acidentes foram agrupados por classe de risco adotada

pela Organização das Nações Unidas (ONU), sob consulta à tabela de impactos da Associação

Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM), por meio de uma abordagem sobre o perigo

envolvendo os acidentes por Unidades da Federação e os trechos que apresentaram maior

probabilidade de ocorrência, trazendo os possíveis riscos de impactos ambientais e a saúde

humana, dado o tipo de ambiente ser predominantemente florestal.

4. ANALISE DOS DADOS

4.1. Estatísticas gerais por trecho e unidade da federação

Considerando que os acidentes de trânsito são como variáveis aleatórias, mesmo admitindo

que esses eventos resultem de aspectos comportamentais humanos, caso os acidentes

pudessem ser antecipados provavelmente não ocorreriam. Assim, ao observar tal fenômeno,

espera-se um número aproximado. Por esse motivo, a modelagem de previsão deve respeitar a

lei de Poisson (Equação 1), disposição binomial para números muito grandes de tentativas,

eventos raros e independentes para ocorrência ou não em um determinado evento. Logo, para

os acidentes de trânsito os eventos são estatisticamente independentes (BASTOS apud

ELVIK et al., 2011).

(1)

em que:

x - valor que se quer calcular;

λ - média esperada;

e - base logaritmo natural (e = 2.71828...);

P - probabilidade que se quer calcular.

Assim, procurou-se levantar a probabilidade (P) de ocorrência de acidente envolvendo

produtos perigosos em um mês qualquer, no trecho de 10km determinado, utilizando a

distribuição de Poisson, sendo x igual a no mínimo 1 e λ igual a média histórica do referido

trecho (janeiro de 2009 a dezembro de 2012).

Nota-se, por meio da Figura 2, que o trecho com maior probabilidade de ocorrência de pelo

menos 1 acidente com produto perigoso em um mês qualquer é a Rodovia BR 316 no Estado

do Pará, do km 0 ao 9, com probabilidade de 28%. A Rodovia BR 376 no Estado do Paraná,

do km 670 ao 679 apresentou 19% de probabilidade de ocorrência, seguido da Rodovia BR

101, em Pernambuco, do km 80 ao 89, com a mesma probabilidade de 19%. De todos os

trechos com 10 km que tiveram acidentes nos 48 meses avaliados, 1.121 apresentaram

probabilidade menor de 10% de ocorrência de pelo menos 1 acidente. Os acidentes de

trânsito, em especial os com produtos perigosos, resultam de um somatório de fatores e causas

dos mais variados, podendo acontecer em qualquer parte do trajeto.

Figura 2: Trechos com maiores probabilidades de ocorrência de pelo menos 1 acidente em um mês qualquer

com transporte de produtos perigosos nas rodovias federais.

Fonte: Dados da PRF (2013)

De acordo com Almeida (2010), os eventos indesejados durante o transportes de produtos

perigosos estão relacionados ao condutor, à via, ao meio ambiente, ao veículo, à ação de

terceiros, à ação ou omissão do poder público e demais elementos, não obstante os acidentes

serem precedidos de uma combinação de mais de uma causa contribuinte. Dessa forma, ao

analisar a base de dados fornecida pela PRF para os anos de 2009 a 2012, tem-se a relação

entre a causa principal apontada pelo agente de polícia com a fase do dia, conforme Figura 3.

Figura 3: Maiores causas apontadas por fase do dia.

Fonte: Dados da PRF (2013)

Ao analisar as informações expostas na Figura 3, destaca-se o fato de a causa “Animais na

Pista” ser fortemente representada no período “Plena Noite”. Pode-se então deduzir que a

falta de iluminação natural e a possível falta de sinalização alertando para animais na pista,

contribuem significativamente para tal relação. Devem ser considerados, além disso, aspectos

comportamentais de espécies com hábitos noturnos, que podem ser atraídas pela luz dos faróis

ou mesmo pela retenção de calor da pista. Para as demais causas apresentadas, a distribuição

para fase do dia é relativamente similar entre elas.

Ao partir dos dados por Unidade da Federação (Figura 4), verifica-se que o Estado de Minas

Gerais corresponde ao maior número de acidentes com produtos perigosos no período

avaliado. Esse número pode estar correlacionado com sua extensa malha rodoviária federal

quando comparado aos demais estados, conforme Gráfico 4, admitindo-se que o transporte de

produtos perigosos é substancialmente operado por malhas pavimentadas dado a

especificidade e risco da atividade.

UF 2009 2010 2011 2012 Variação Ano Total Geral

AC 1 1

DF 1 1

RR 2 2

AP 2 1 3

AM 2 2 1 5

AL 1 2 2 3 8

PI 5 6 3 2 16

RN 5 8 3 2 18

SE 10 8 4 1 23

TO 5 4 11 4 24

PB 10 6 3 6 25

SC 17 11 4 8 40

PE 16 12 10 2 40

CE 12 14 11 6 43

ES 9 20 17 3 49

RO 20 19 8 3 50

MA 19 16 10 12 57

RJ 15 23 12 8 58

PA 15 21 10 16 62

GO 17 22 15 11 65

RS 23 37 22 12 94

MS 29 37 33 18 117

BA 58 41 26 19 144

MT 42 44 33 30 149

SP 44 40 43 27 154

PR 26 76 50 28 180

MG 102 82 80 46 310

Total Geral 504 552 414 268 1738 Figura 4: Volume e variação de acidentes por unidade federativa e ano.

Fonte: Dados da PRF (2013)

O Estado do Rio Grande do Sul, apesar de apresentar a segunda malha federal rodoviária

pavimentada, exibe apenas o sétimo índice geral de acidentes com produto perigoso. Já o

Estado do Paraná, embora sendo a oitava malha federal em termos de extensão, detém o

segundo posto no ranking de acidentes com produto perigoso transportados nas rodovias

federais, conforme pode ser analisado nas Figuras 4 5. Uma das razões para determinado

antagonismo pode ser a diferença de fluxo de transporte de produto perigoso nos dois estados,

ou a geografia e o relevo nas vias, questões estas que podem ser avaliadas em trabalhos

posteriores.

Figura 5: Malha rodoviária federal pavimentada.

Fonte: DNIT, 2013.

4.2. Análise de prováveis impactos ambientais e humanos dos acidentes

De acordo com o DNIT (2005), os principais impactos ambientais em consequência de

acidentes com produtos perigosos nas áreas de influência de rodovias são:

contaminação de água de rios, afluentes, lençóis subterrâneos, lagos e mar;

contaminação do ar atmosférico;

contaminação dos solos;

prejuízos a saúde humana;

destruição patrimonial publica e privada;

prejuízos às atividades econômicas direta e indiretamente envolvidas.

Ao ocorrer um acidente com veículo transportador de produto perigoso, havendo

extravasamento do conteúdo transportado, os impactos sociais e ao meio ambiente podem ser

imprevisíveis. Entretanto, podem-se agrupar os tipos de produtos perigosos em classes que

representam determinado risco.

A ANTT (2012) apresenta as propriedades dos produtos perigosos relacionado-as com seus

respectivos graus de risco, que são alocados pelas classes apresentadas na Figura 6 e Tabela 1,

para fins de transporte. Essas classes possuem padrão numérico internacional, também

conhecido como Rótulo de Risco, definido pela ONU, que representam as classes por meio de

valores numéricos (1 a 9). Esses números, relativos às classes, representam os diversificados

riscos à segurança, à saúde humana e ao meio ambiente, principalmente pela vulnerabilidade e

sensibilidade das áreas onde ocorrem os acidentes.

Depois de agrupados os produtos perigosos que foram analisados pela base de dados

fornecida pela PRF para este estudo, utilizando o manual da ABIQUIM (2011), foram

analisados os dados estatísticos por classe de risco e Unidade da Federação, bem como os

principais trechos com número de acidentes para uma possível análise de impacto ambiental e

social.

A partir dos dados expostos na Figura 6, percebe-se que existe certo padrão quanto às

proporções por Unidades da Federação acerca das Classes 2 e 3, quando observado o período

da pesquisa. Não obstante, o Estado de Minas Gerais apresentou um descolamento

significativo para Classe 4, o que indica a necessidade de um sistema de gestão de prevenção

e atendimento a sinistros que envolvam os riscos associados a tal classe, de modo a prevenir

os severos impactos ao meio ambiente e a saúde humana.

Figura 6: Classificação classe de risco ONU falta a fonte

Fonte: Dados da PRF (2013)

De acordo com o DNIT (2005) são três os grupos especializados para atendimento e resposta

de emergência de acidentes envolvendo produto perigoso, são eles:

SAMU – são equipes de socorro com equipamentos móveis para

atendimento pré-hospitalar, formadas por profissionais da saúde e institucionalizadas por

meio do SUS;

Equipe de Combate aos Produtos Perigosos (Hasmat) – consiste em

equipe profissionais especializadas na mitigação e combate ao derramamento de produtos

perigosos, não são institucionalizadas;

Equipe de Resgate e Combate a Incêndios – Composta por dois órgãos a

nível estadual, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros Estadual, especializadas em

atendimento e resgate de sinistros naturais e tecnológicos, e combate a incêndios.

Estes entes devem estar preparados para todos os tipos de acidentes com produto perigoso,

mas, sobretudo àquelas classes que apresentam historicamente maior frequência de

ocorrências, no intuito de prevenir possíveis impactos (Quadro 2).

Tabela 1: Quadro de impactos ambientais e à saúde por classe.

CLASSES DESCRIÇÃO

Classe 1 Explosivos

Classe 2 Gases

Classe 3 Líquidos inflamáveis

Classe 4

Sólidos inflamáveis,

substâncias sujeitas a

combustão espontânea e

em contato com água,

emitem gases inflamáveis.

Classe 5Substâncias oxidantes e

peróxidos orgânico.

Classe 6Substâncias tóxicas e

substâncias infectantes.

Classe 8 Corrosivos

Classe 9Substancias Perigosas

Diversas

A alta pressão gerada a partir de da explosão, pode

provocar danos destrutivos às edificações e às pessoas,

inclusive a morte.

Possibilidade de ocorrência de incêndios ou explosões, lançamento a

longas distâncias de partes.

Expostos a sob certas condições, podem representar

riscos de morte ao homem. Todos os gases, exceto o

oxigênio, são asfixiantes.

Perigo de fogo inclusive para os vapores inflamáveis. Materiais

comuns como ceras, tintas, combustíveis, produtos de limpeza,

solventes são exemplos de líquidos inflamáveis.

MEIO AMBIENTE SER HUMANO

-

RISCO IMPACTO

São substancias instáveis, e podem reagir com uma grande variedade

de produtos e gerar incêndios. Liberam oxigênio aumentando a

propriedade do incêndio. Em contato com água liberam gases

corrosivos e tóxicos ao ambiente. O escoamento do produto para a

rede de esgotos pode criar risco de fogo ou explosão.

Altamente oxidante, sendo a maioria irritante aos olhos,

pele, mucosas e garganta. Se ocasionar fogo produz gases

irritantes, corrosivos e/ou tóxicos.

O fogo pode produzir gases irritantes ou tóxicos, o contato

com o material pode provocar queimaduras na pelo e

olhos.

São produtos que podem incendiar em contato com o ar ou água e

causar incêndios, sendo alguns desses gases com queimam rápida

ocasionando o fogo brilhante são altamente destrutivos ao meio.

As águas de diluição residuais ou do controle do fogo podem

causar poluição inclusive em redes de esgotos.

A inalação de vapores de líquidos inflamáveis pode

afetar adversamente a saúde de várias maneiras,

irritação respiratórias , aos olhos, dores de cabeça e

náusea, desorientação, falta de coordenação e

inconsciência. Alguns líquidos inflamáveis são

corrosivos, ou seja, que causam danos ao tecido

cutâneo se entrarem em contato com ele. Se ingeridos

mesmo que diluídos causam pneumonite química.

São substâncias que, por ação química, causam severos

danos quando em contato com tecidos vivos, provocando

visíveis necroses da pele.

Apresentam elevada toxicidade para a vida aquática. Os gases

inflamáveis/tóxicos podem acumular-se em áreas confinadas (porões,

bueiros, etc.).

Pode danificar ou destruir tudo que estiver em contato com a

substância extravasada, incluindo o ambienta natural exposto.

Pode provocar a morte ou sérios danos à saúde humana

inclusive queimaduras, se ingeridas, inaladas ou por

contato com a pele, mesmo em pequenas quantidades.

Devido ao calor, os gases liberados, tais como nitrogênio, oxigênio,

expandem-se a altíssimas velocidades, provocando o deslocamento

do ar e gerando alta pressão, com possibilidade de destruição total da

região próxima ao acidente.

Fonte: Adaptado Abiquim (2011)

4.2.1. Análise de impacto social

Ao analisar de forma mais detalhada os trechos que apresentaram maior frequência de

acidentes por tipo de produto e classe, pode-se concluir que os órgãos de gestão de risco e de

atendimento emergencial devem dar prioridade às instalações mais próximas a esses trechos,

favorecendo o rápido atendimento aos sinistros.

Um exemplo à necessidade de atendimento emergencial rápido e eficiente é o caso de

extravasamento de uma substância com classe de risco 2, que pode provocar asfixia e em um

certo raio de propagação podendo inclusive atingir centros urbanos densamente povoados.

Caso da análise da Figura 7 abaixo, para os dois trechos a citar:

km 0 a 9 da BR 316 no Pará em primeiro lugar nos acidentes gerais (16 ocorrências) e

segundo lugar para a classe de risco 2 (3 ocorrências);

km 80 a 89 na BR 101 em Pernambuco segundo lugar em acidentes envolvendo produtos

perigosos em geral (10 observações) e primeiro lugar para a classe de risco 2 aqui

analisada (4 observações).

Em ambos os casos, apresenta-se elevada densidade populacional urbana às margens dos

referidos trechos.

Figura 7: Classificação dos trechos de 10 km com maiores números de acidentes com produto perigoso, por

classe e tipo de carga.

Fonte: Própria com dados da PRF (2013)

4.2.2. Análise de impacto ambiental

Os elementos da natureza impactados diretamente por vazamento de produtos perigosos são:

o solo, as matas, as capoeiras, os cursos d’água e lagos (PEDRO, 2006). Estes impactos

podem estar relacionados com o tipo de produto transportado bem como a classe de risco

associada a tal produto conforme Tabela 1.

Para uma análise de impacto ambiental, pode-se exemplificar os seguintes casos:

A Rodovia BR 319 em Rondônia, do km 20 ao 29 é uma região com elevada densidade de

floresta amazônica, trecho este que vem sendo castigado por sucessivos acidentes

envolvendo produtos perigosos, sobretudo no período avaliado, com 9 ocorrências

registradas para todos os produtos perigosos, sendo que 7 delas com produtos de classe 3,

conforme Figura 7. Relacionando essa informação com o exposto na Tabela 1, verifica-se

que o risco ambiental a que este trecho está exposto, especialmente para o risco de fogo,

pode ser potencializado pela característica do ambiente local, uma região de floresta

conforme a Figura 8;

A Rodovia BR 376 no Estado do Paraná, do km 670 ao 679, apresentou no período avaliado elevado número de acidentes compreendendo a classe de risco 8 (4 eventos), que de acordo com Tabela 1, pode destruir tudo que estiver em seu contato pelo processo de corrosão, incluindo a vegetação natural, inclusive aos efeitos potencializados na fauna e na flora de uma região caso seja difundido por rios e afluentes.

Figura 8: À esquerda trecho da BR 319 em Rondônia, do km 20 ao 29; à direita trecho da BR 376 no Estado do

Paraná, do km 670 ao 679.

Fonte: Google Maps (2013)

5. CONCLUSÃO

Com base nos dados apresentados, pôde-se demonstrar um panorama acerca dos riscos

envolvendo produtos perigosos nas Rodovias Federais e os possíveis impactos ao meio

ambiente e à população adjacente às margens das rodovias ou que nela trafegue. Por ser um

tipo de atividade com certo grau de risco, o transporte de produtos perigosos é essencialmente

realizado em Rodovias Federais que cortam os diversos pólos industriais do país. Uma vez

que o universo populacional de dados fornecido pela PRF foi composto por 1.789

observações de acidentes, distribuídos em todos os estados da federação, oportunamente

foram agrupados os acidentes em trechos de 10 km para melhor compreensão das

características de cada segmento das rodovias analisadas.

Chama-se atenção ao fato de haver certa proporcionalidade entre os eventos de acidentes

analisados por Unidade da Federação por classe de risco que em suma apresentam maiores

valores para as classes 2 e 3 (gases e líquidos inflamáveis como a gasolina e o gás liquefeito

de petróleo). Contudo, a classe de risco 4 (sólidos inflamáveis, substancias sujeitas a

combustão instantâneas que em contato com água emitem gases inflamáveis) para o Estado de

Minas Gerais apresenta descolamento com elevados números se comparados a outros Estados

da Federação. Embora os trechos da Rodovia BR 316 no Pará, do km 0 ao 9, da Rodovia BR

376, do km 670 ao 679 no Paraná, e da Rodovia BR 101 em Pernambuco, do km 80 ao 89,

apresentarem maiores probabilidades de ocorrência de acidentes com produtos perigosos,

esses não são os respectivos estados que mais impactaram quando analisadas as estatísticas

por Unidade da Federação. O Estado de Minas Gerais ficou em primeiro lugar, seguido dos

Estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso.

Atenção especial deve ser dada ao risco associado ao transporte de produto perigoso, pois

representa perigo constante à preservação do meio ambiente bem como o bem estar da

população. A malha rodoviária brasileira soma cerca de 1,7 milhão de quilômetros entre

estradas federais, estaduais, municipais e concessionadas, sendo o modo rodoviário

responsável por 60% da movimentação de cargas no país. Desta forma, as rodovias federais

representam papel crucial, não somente no transporte dos insumos fundamentais ao

dinamismo da indústria como vetor à economia nacional.

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